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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
DO
R IO DE J ANEIRO
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610662/CA
Cleide Maria de Oliveira
Por um Deus que seja noite, abismo e deserto:
Considerações sobre a linguagem apofática
Tese de Doutorado
Tese de doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Letras da PUC-Rio como requisito parcial
para a obtenção do grau de Doutor em Letras.
Orientador: Eliana Lúcia Madureira Yunes Garcia
Rio de Janeiro
Março de 2010
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução
total ou parcial do trabalho sem autorização do autor, do
orientador e da universidade.
Cleide Maria de Oliveira
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610662/CA
Graduada em Letras pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ) e Mestre em Estudos de Literatura pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Atualmente é professora de Literatura Brasileira do
Deptº de Letras Vernáculas da UFRJ.
Ficha Catalográfica
Oliveira, Cleide Maria de
Por um Deus que seja noite, abismo e
deserto: considerações sobre a linguagem
apofática / Cleide Maria de Oliveira;
orientadora: Eliana Lúcia Madureira Yunes
Garcia. – 2010.
206 f. ; 30 cm
Tese (Doutorado)–Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Departamento de
Letras, 2010.
Inclui bibliografia
1. Letras – Teses. 2. Bataille , Georges.
3. Linguagem poética. 4. Mística apofática. 5.
Teologia negativa. 6. Eckhart, Meister. 7. San
Juan de la Cruz. 8. Angelus Silesius. I.
Yunes, Eliana. II. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Departamento de
Letras. III. Título.
CDD: 800
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À minha filha Rebeca.
Pequeno sol a iluminar as noites escuras.
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Agradecimentos
A elaboração da tese foi um exercício que, embora muitas vezes tenha parecido
extremamente solitário, não pôde prescindir do apoio, estímulo, colaboração e
troca intelectual de diversas pessoas.
Agradeço inicialmente à minha orientadora, Eliana Yunes, que se empenhou
verdadeiramente para que eu tivesse as condições de possibilidade para o
desenvolvimento da tese. Sem sua presença e preciosas intervenções esse percurso
não teria sido possível.
À minha irmã, Rosemeire, cujo apoio no cuidado de minha filha Rebeca, ainda
um bebê, foi essencial em todas as etapas de desenvolvimento desse trabalho.
Á minha irmã Vilma, por mesmo distante zelar por mim.
Ao amigo Josias, pela leitura atenta e os comentários preciosos.
Á Adriana, Guire e Letícia, “mães do Catete”, lindas amigas que a vida me deu e
sem as quais não poderia garantir minha sanidade mental nesses últimos dois
anos.
Á PUC e ao Departamento de Letras, por terem acolhido essa pesquisa.
Aos funcionários e colaboradores da PUC, pela gentileza, pela competência.
Ao PROLIC, que financiou essa pesquisa.
A meu marido Roberto, pelo cotidiano, pelo afeto, pela alegria que sua presença
me dá.
Resumo
Oliveira, Cleide Maria de; Garcia, Eliana Lúcia Madureira Yunes. Por um
Deus que seja noite, abismo e deserto: reflexões sobre a linguagem
apofática. Rio de Janeiro, 2010, 206 p.Tese de Doutorado. Departamento de
Letras — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
A tese se constitui tendo como premissa fundadora a afirmação de Georges
Bataille de que mística e poesia são experiências (de) limite, eróticas, no sentido
em que pressupõem a destruição da relação sujeito-objeto na qual se alicerça a
linguagem produtiva. A tese defende que mística e poesia se aproximam enquanto
tentativas de “dizer” o real a partir de uma desconfiança em relação ao discurso da
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razão, e tem como objetivo principal investigar possíveis aproximações entre as
linguagens mística e poética enquanto palavras que se sustentam como uma
terceira margem da linguagem. Se há no discurso a pretensão de que possa não
apenas “dizer essencialmente” o real, como também “esgotá-lo”, mística e poesia
desconfiam dessa pretensão do discurso, e demandam da linguagem uma “conduta
soberana” que a põe no âmbito do sagrado. Entenda-se aqui sagrado como os
próprios limites da linguagem quando em colisão. Para cumprir tal objetivo a tese
se concentrou na análise e discussão de discursos poéticos e místicos, com ênfase
na chamada mística apofática ou negativa, tomando fio condutor as metáforas
noite, abismo e deserto, freqüentes na mística apofática. Buscou-se perceber as
convergências entre mística e poesia na articulação de um certo modo de pensar
marcado pela negatividade, pensamento que é caracterizado pela tradição mística
como não-saber. A tese chega á conclusão que mística e poesia são linguagens
que se empenham no próprio fracasso pois, ainda que regidas pelos princípios da
discursividade (do mundo do trabalho, dirá Bataille), se aproximam na exata
medida em que intentam inserir dentro da descontinuidade do discurso o máximo
de continuidade (de sacralidade) que nossa linguagem possa suportar.
Palavras-chave
Georges Bataille; Linguagem poética; Mística apofática; Teologia Negativa;
Meister Eckhart; San Juan de la Cruz; Angelus Silesius.
Resumen
Oliveira, Cleide Maria de; Garcia, Eliana Lúcia Madureira Yunes. Por un
Dios que sea noche, abismo y desierto: consideraciones sobre el lenguaje
apofatica (director/tutor). Rio de Janeiro, 2010, 206 p. Tesis. Departamento
de Letras — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
La tesis se constituyó teniendo como basa la afirmación de Georges Bataille
de que mística y poesía son experiencias (de) límite, eróticas, en el sentido en que
se presuponen la destrucción de la relación sujeto-objeto en la cual se basa la
producción del lenguaje. La tesis defiende que mística y poesía se aproximan
como intento de “decir” lo real partir de una desconfianza en relación al discurso
de la razón, y tiene como objetivo principal investigar las posibles similitudes
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entre el lenguaje místico y poético como palabras que se sustentan como un tercer
margen del lenguaje. Si hay en el discurso la pretensión de que se pueda no apenar
decir esencialmente lo real, como también agotarlo, la mística y la poesía
desconfían de esa pretensión del discurso y demandan del lenguaje una conducta
soberana que la pone en el ámbito de lo sagrado. Se entiende aquí como sagrado,
los propios límites del leguaje, cuando en colisión. Para lograr este objetivo, la
tesis se centró en el análisis y discusión del discurso poético y místico, con énfasis
en la llamada mística apofatica o negativa, teniendo como fondo las metáforas
noche, abismo y desierto, a menudo en la mística apofatica. Se buscó percibir las
similitudes entre mística y poesía para expresar una forma de pensar marcada por
la negatividad, pensamiento que es caracterizado por la tradición mística como no
saber. La tesis llega a la conclusión que la mística y la poesía son lenguajes que se
empeñan en el propio fracaso, ya que, a pesar de regirse por los principios del
discurso (el mundo del trabajo, dice Bataille) se aproximan en la exacta medida en
que intentan insertar en el interior del discurso discontinuo lo máximo de
continuidad (de la santidad) que nuestro lenguaje puede soportar.
Palabras-clave
Georges Bataille; Mística; Poesía; Apofatica; Meister Eckhart; San Juan de
la Cruz; Angelus Silesius.
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Sumário
INTRODUÇÃO
09
2 A LINGUAGEM ÀS MARGENS DO ORDINÁRIO
2.1 Da imagem poética
2.2 O rio-linguagem
2.3 Margens terceiras da fabulação roseana
15
15
29
35
3 QUANDO A LINGUAGEM CALA: A LINGUAGEM COMO EXPERIENCIA
ERÓTICA
41
3.1 O escuro da linguagem
41
3.2 Literatura e mística: o caso G.H
56
4 DO DISCURSO MÍSTICO
4.1 Questões iniciais
4.2 A experiência mística
4.3 O que a mística pode nos dizer sobre a realidade?
4.4 Um pensamento que incomoda como andar na chuva
67
67
75
88
99
5 MODOS DE APAGAMENTO DO DISCURSO
5.1 O discurso negativo e o não-saber
115
115
5.2 Ir além de Deus: o imperativo eckhartiano
5.2.1 Heranças beguinas em Meister Eckhart
5.2.2 Indeterminação divina e supra-existência
5.2.3 Desapropriação apropriante, transcendência e deificação
127
127
132
141
5.3 O pathos amoroso no itinerario espiritual de San Juan de la Cruz
5.3.1 Cântico spiritual
5.3.2 Noche oscura
150
152
160
5.4 Voltar a ser o que se é: a necessária aporia da mística de
Angelus Silesius
5.4.1 Angelus Silesius: um inquieto peregrino
5.4.2 O difícil aprendizado do não-saber
170
172
172
6 A CINTILÂNCIA DOS ESCUROS
181
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
192
8 ANEXOS
204
Só o obscuro nos cintila.
Manoel de Barros
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