3061 Aspectos fonéticos nas produções orais de alunos brasileiros

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3061 Aspectos fonéticos nas produções orais de alunos brasileiros
Aspectos fonéticos nas produções orais de alunos brasileiros aprendizes
de espanhol
Maria Sílvia Barbosa (UNESP/ UNIFRAN/ Uni-FACEF)
Ucy Soto (UNESP)
Em nossa prática docente percebemos, muitas vezes, que alunos
brasileiros, aprendizes de espanhol como língua estrangeira, demonstram algumas
dificuldades no que diz respeito à pronúncia da língua espanhola.
Essa dificuldade pode ser acarretada por diversos fatores. A partir da teoria
da análise contrastiva, podemos dizer que existe uma previsão dos “erros” na
aprendizagem de uma segunda língua (espanhol) a partir do conhecimento da primeira
língua (português). Nesse sentido podemos citar:
Suponemos que el estudiante que se enfrenta a un idioma extranjero encuentra
que algunos aspectos del nuevo idioma son muy fáciles, mientras que otros
ofrecen gran dificultad. Aquellos rasgos que se parezcan a los de su propia lengua
le resultarán fáciles y por el contrario los que sean diferentes le serán difíciles. El
profesor que haya hecho una comparación de la lengua extranjera con la lengua
nativa de los estudiantes tiene más probabilidad de saber qué problemas van a
surgir y puede prepararse para resolverlos (LADO, 1957, p. 2-3).
Assim, podemos dizer que existem os sons idênticos nas duas línguas que
não criarão dificuldades na aprendizagem. Teríamos também os novos sons na língua
estrangeira, sem equivalência na língua materna, em que é muito possível alcançar
uma produção muito próxima. E, por último, há os sons similares nas duas línguas que
são os mais passíveis de interferência e que, possivelmente, são os que provocarão
mais problemas na aprendizagem.
Com vistas ao ensino da língua espanhola em contexto brasileiro devemos
considerar três conceitos preliminares, de acordo com Listerri (2003), para que a
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conscientização e o ensino de pronúncia sejam abarcados nesse contexto. São eles: o
ensino da fonética, o ensino da pronúncia e a correção fonética.
O ensino de fonética consiste em uma reflexão explícita sobre o sistema e
deve ser considerado para a formação de um especialista para que adquira um
conhecimento formal e detalhado das características articulatórias, acústicas e
perceptivas dos elementos segmentais e supra-segmentais da língua.
Já o ensino de pronúncia, ao contrário, é uma das destrezas que todo aluno
necessita dominar quando aprende uma língua estrangeira. Por isso deveria fazer
parte dos conteúdos de qualquer plano curricular e o professor teria que incorporar às
suas atividades em aula.
E a correção fonética é necessária quando na produção oral se detectam
erros que é preciso corrigir. O professor deverá, em algum momento, enfrentar a
correção da pronúncia com cautela.
Considerando, ainda, que no ensino de pronúncia é necessário que haja o
apontamento de alguns objetivos. A variedade geográfica em língua espanhola é muito
importante, assim, é preciso que sejam oferecidos modelos das variedades utilizando
materiais autênticos. Ainda é necessário que o professor tenha consciência do grau de
“precisão fonética”, ou seja, o grau que se deseja alcançar na produção oral dos
estudantes.
Pensando em todas as considerações acima, realizamos uma pesquisa
com alunos brasileiros, nível intermediário, aprendizes de espanhol como língua
estrangeira. Para tentar observar algumas ocorrências próprias desse público,
optamos por gravar (em áudio) as produções orais desses estudantes.
Assim, muitas considerações foram feitas sobre alguns aspectos passíveis
de observação nessas produções. Tentaremos, a seguir, apontar alguns deles,
sabendo que nossas observações foram no nível fonético e, que outros casos e
ocorrências podem existir, dependendo da medida que se tome para a observação.
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Salientamos que não usaremos a fonte contemplada pelo Alfabeto Fonético
Internacional. Dessa forma descreveremos de forma sintética cada um dos aspectos e
tendências dos brasileiros:
•
Abrir “e” e pronunciar como “é”
•
Abrir “o” e pronunciar como “ó”
•
Prolongar as vogais tônicas
•
Introduzir “i” depois de “p” ao final de sílaba
•
Introduzir “i” depois de “c” ao final de sílaba
•
Introduzir “i” depois de “g” ao final de sílaba
•
Pronunciar “s” como “z” entre vogais
São apenas alguns aspectos, que consideramos importantes no ensino de
pronúncia da língua espanhola como língua estrangeira e que formam parte de um
notável conjunto de fatores para a produção oral. Sabemos, no entanto, que outros
preceitos
devem
ser
considerados,
como
os
aspectos
prosódicos,
mais
especificamente a entoação e o ritmo e que muito colaboram para uma produção
próxima à do nativo falante. Entretanto, esses não são fatores considerados no
presente estudo.
A título de conclusão, acreditamos que a correção e consideração da
pronúncia devam ser abarcadas no planejamento de cursos de espanhol como língua
estrangeira, uma vez que a produção oral é uma importante destreza na
aprendizagem de uma língua estrangeira.
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