Revista do Núcleo de Estudos das Américas
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Revista do Núcleo de Estudos das Américas
ISSN 1983-5086 Revista do Núcleo de Estudos das Américas Edição Especial 2012 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitor Ricardo Vieiralves de Castro Vice-reitor Paulo Roberto Volpato Dias Sub-reitora de Graduação – SR1 Lená Medeiros de Menezes Sub-reitora de Pós-graduação e Pesquisa – SR2 Monica da Costa Pereira Lavalle Heilbron Sub-reitora de Extensão e Cultura – SR3 Regina Lúcia Monteiro Henriques Centro de Ciências Sociais - CCS Diretor Léo da Rocha Ferreira Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH Diretora Dirce Eleonora Nigro Solis Faculdade de Direito Diretor Carlos Eduardo Guerra de Moraes Núcleo de Estudos das Américas - NUCLEAS Coordenadores Maria Teresa Toribio B. Lemos Alexis T. Dantas Paulo Roberto Gomes Seda CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/CCS/A L357 Latinidade. - Edição Especial (2012) . – Rio de Janeiro : UERJ. IFCH. Nucleas, 2009 . v. : il. 258p. Semestral. Inclui bibliografia. ISSN 1983-5086 1. América Latina - Periódicos. 2. Ciências sociais – Periódicos. I. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Núcleo de Estudos das Américas. CDU 3(05) Linha Editorial A Revista Latinidade se norteia para os estudos das sociedades americanas, priorizando as linhas de pesquisa política e cultura, política e sociedade e economia e relações internacionais. Entende que os estudos sobre cultura política atendem aos Gts do Núcleo de Estudos das Américas/ Nucleas e dos latinoamericanistas do país e do exterior. A Revista Latinidade é assessorada por parecerista, professores da UERJ e colaboradores de outras universidades do estado do Rio de Janeiro e do pais, como professores da USS, UFRJ, UNIRIO, UFSM entre outras instituições de ensino superior. Destacam-se entre os parecerista os professores Helenice Sardenberg (Univ. Maria Thereza/Niterói), Eduardo Parga(UGF), Nilson Moraes (UNIRIO) ,Luiz Carlos Borges (MAST),Sulbrasil Pinto Rodrigues (UFRJ), entre outros professores. Também devem constar nos artigos entregues para publicação as datas de recebimento e aprovação dos textos. Os volumes da Revista Latinidade publicados a partir de 2012 apresentam alterações em sua estrutura. Foram acrescentados à publicação: dossiê, resenha , comunicações e estudos de caso, além do Sistema de Editoração Eletrônica. 4 Editor Responsável: Maria Teresa Toribio Brittes Lemos Conselho Editorial: Alexis T.Dantas –UERJ Carlos Juárez Centeno-Universidad Nacional de Córdoba/AR Dejan Mihailovic –TEC/Monterrey/ México Katarzyna Dembicz – CESLA/ Universidad de Varsóvia/Polonia Lená Medeiros de Menezes-UERJ Maria Luzia Landim-UESB/Jequié Mauricio Mota-UERJ Nilson Alves de Moraes-UNIRIO Tatyana de A. Maia-USS Zdzislaw Malczewskis-Scr. – Paraná Conselho Consultivo: Raimundo Lopes Matos – UESB/ Jequié Paulo Roberto Gomes Seda – UERJ Eduardo Antonio Parga – UGF Fernando Rodrigues - USS Renata Siuda-Ambroziak - CESLA, Universidad de Varsóvia Maria Medianeira Padoin – UFSM Marianna Abramova – Academia Financeira /Governo de Moscou/UR Sergey V. Ryazantsev, Institute SocioPolitic Research RAS, Moscou Adalberto Santana – UNAM/ME Irina Vershinina – Academia Financeira /Governo de Moscou/UR Henrique Shaw – Universidad Nacional de Córdoba/AR Programação Visual: Ramon Moraes Revisão: A revisão dos textos é de responsabilidade dos autores. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Beneficiário de auxílio financeiro da CAPES – Brasil. Programa de Apoio a Projetos Institucionais com a Participação de Recém-Doutores (PRODOC) 5 Sumário Apresentação ................................................................................... 7 DÔSSIE Cultura, Identidade e Diferença ..................................................... 9 Maria Teresa Toribio Brittes Lemos RESENHA El desarrollo inclusivo en América Latinay el Caribe: Ensayos sobre políticas de convergencia productiva para la igualdad ........................................................................... 21 Alexis Toribio Dantas ARTIGOS Confluência cultural nas crônicas das Índias .............................. 25 Ana Raquel Portugal América Latina - Economia da droga – crime e pobreza .......... 39 André Luís T. Dantas Educação – Ética e Políticas Públicas Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira .................................................................. 63 Célia F. Linhares, Maria Cristina Leal Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno ......................................................................... 79 Dejan Mihailovic Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura ............................................................................ 99 Luiz Carlos Borges Los países BRICS y la formación de un nuevo orden jurídico internacional ................................................................... 117 Marianna Abrámova 6 Amazônia: uma terra sem História? ............................................ 125 Mariluci Guberman O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX ........................................... 139 Milton Moura Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas ............................... 151 Milton Reyes Herrera O museu como história e como produção de sentidos ............. 163 Nilson Alves de Moraes Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance ................................................. 181 Popova Liudmila V. Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización ..................................................................... 203 Renata Siuda-Ambroziak Demographic development of the Arab States: trends and prospects .................................................................... 225 Al Hassan Mohamed, Riazantsev Sergey Vasilyevich Post Crisis Imperatives of Global Finance ................................ 235 Viacheslav M. Shavshukov Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI ................................................................... 245 Víctor Ml. Vargas González Normas Editorias ........................................................................ 257 7 Apresentação A Edição Especial da Revista Latinidade 2012 apresenta textos dos conferencistas convidados para participar do III Congresso Internacional do Núcleo de Estudos das Américas América Latina: Processos civilizatórios e crises do capitalismo contemporâneo, realizado na UERJ. O III Congresso do NUCLEAS reuniu na UERJ professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros vinculados aos programas de intercâmbio cultural e convênios acadêmicos com o Nucleas e outras áreas da Universidade. A participação desses estudiosos latinoamericanistas foi relevante devido à interdisciplinaridade acadêmica nas discussões sobre os processos sociais, econômicos, políticos e culturais das Américas. Realizado nos espaços acadêmicos do campus Maracanã da UERJ, o Congresso e visou a ampliar os diálogos sobre temas pertinentes à sociedade americana e suas relações com o mundo globalizado. Questões pontuais se destacaram, como a construção da cidadania, direitos humanos, economia e globalização, cultura e religião, sociedade e meio ambiente, liberdade de expressão, tolerância e solidariedade entre as diversas culturas. Esta Edição Especial inclui o Dossiê Cultura, Identidade e Diferença de autoria de Maria Teresa Toribio Brittes Lemos, com destaque para os principais conceitos sobre os processos identitários tratados pela historiografia, com a complexidade que envolve o tema. Também são apresentados estudos de diversos autores preocupados em discutir questões relevantes sobre a sociedade latinoamericana. A resenha do livro “El desarrollo inclusivo en América Latina y el Caribe: Ensayos sobre políticas de convergencia productiva para la igualdad”, do professor Alexis T. Dantas, também integra esta Edição Especial. É um estudo organizado por Ricardo Infante, consultor da CEPAL, com a participação de vários autores de diferentes países da América Latina, destacando-se entre eles Gabriel Porcile, Víctor Godínez, Guillermo Rozenwurcel, Carlos Eduardo F. Young, Darío Milesi, Gonzalo Durán, Roxana Maurizio, além do próprio editor Ricardo Infante. A idéia central do livro é resgatar o debate sobre o desenvolvimento econômico da região em um contexto de persistente heterogeneidade estrutural, conceito chave para o pensamento cepalino. Os textos desta Edição Especial atenderam à temática proposta e enriqueceram os estudos latinoamericanos e o III Congresso do NUCLEAS. A todos os autores nosso muito obrigado. Maria Teresa Toribio Brittes Lemos 9 Dôssie Cultura, Identidade e Diferença Profª Dra. Maria Teresa Toribio Brittes Lemos - Coordenadora do Laboratório de Estudos Políticos das Américas - LEPAS/PPGH/UERJ Nesse número Especial da Revista Latinidade o Dossiê se refere à Cultura, Identidade e Diferença, destacando os principais conceitos sobre os processos identitários tratados pela historiografia, com a complexidade que envolve o tema. Deve-se assinalar que a identidade começa a se manifestar no momento em que se percebe a diferença. No Dossiê são apresentados conceitos de diversos autores preocupados em discutir questões relevantes sobre a sociedade latinoamericana. Assim, a Revista Latinidade destaca estudos e discussões de teóricos e estudiosos sobre o tema. Sobre identidade fixa e imutável destaca-se o conceito construído por Michael Ignatieff e aplicado por Kathryn Woodward , cujo Estudo, identidade e diferença :uma introdução teórica e conceitual (Silva.2000)1 contribuiu significativamente para a apresentação desse Dossiê. A identidade, segundo Ignatieff (1993), envolve reivindicações [...] essencialistas sobre quem pertence e quem não pertence e se identificam com elas a um determinado grupo identitário, nas quais a identidade é vista como fixa e imutável [...]. Esse conceito remete à versão essencialista da história, na qual é construída como verdade imutável. No entanto, apesar daquela construção, a identidade se vincula às condições sociais e materiais. Dessa forma, compreende-se que o social e o simbólico referem-se a dois processos diferentes, mas cada um deles é necessário para a manutenção das identidades. Apesar dessas condições, as identidades não são unificadas, pois trazem em seu interior contradições que precisam ser negociadas, além da possibilidade das pessoas assumirem suas posições de identitárias. Enquanto a identidade é relacional, a diferença é estabelecida por uma marcação simbólica relativamente a outras identidades, como identidade nacional, por exemplo. Nesse caso, pode omitir diferenças de classe e de gênero, afirma Ignatieff. O conceito exposto por de Henrique Ubieta avança para o campo simbólico . O autor entende que “La identidad es un término que no sólo reconoce algo que existe en sí. Sino como lo sentimos y lo asumimos colectivamente” (2009). 10 Entre as diversas abordagens destacam-se os conceitos de Manuel Castells (2001), que focalizam a questão da identidade como um “processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, que prevalecem sobre outras fontes de significado”.2 Esse conceito permite compreender porque um indivíduo pode adotar identidades múltiplas, bem como essa pluralidade, que consiste numa [...] fonte de tensão e contradição tanto na auto-representação quanto na ação social[...] (idem, p.22). Também alerta para a necessidade de se estabelecer distinção entre identidade, papéis e conjunto de papéis. Para Castells, as [...] identidades constituem fontes de significado para os próprios indivíduos ou grupos sociais originadas por eles, e construídas por meio de um processo de individuação[...] (ibidem). Outro aspecto assinalado consiste na construção de identidades formadas a partir de instituições dominantes, especialmente quando os grupos sociais as internalizam, construindo seu significado com base nessa internalização. Assim, as identidades são fontes significativas para esclarecer o significado dos papéis e o processo de autoconstrução e individualização que as envolvem (ibidem). Donde se conclui que as identidades organizam significados, enquanto os papéis organizam funções. Castells define significado como identificação simbólica, por parte do indivíduo ou grupo social, da finalidade da ação praticada por ele, enquanto o significado se organiza em torno de uma identidade primária (uma identidade que estrutura as demais) autossustentável ao longo do tempo e do espaço (ibidem). Por esse enfoque teórico, o fenômeno da identidade é compreendido por uma série de operações e não se reduz a um conjunto de traços fixos, como essência de uma etnia, de uma nação ou pelas maneiras que grupos e religiões estáveis se imaginam e constroem relatos sobre a sua origem e desenvolvimento, como cada membro ou grupo se apropria, modifica e expressa os repertórios de bens e mensagens disponíveis nos circuitos e relações transnacionais e regionais, gerando novas formas de segmentação. Sobre práticas e representações, os estudos de Roger Chartier são significativos para compreendermos a realidade do “outro”, abordando assim a alteridade. O autor também tem como relevante considerar como “simbólicos” todos os signos, atos ou objetos, todas as figuras intelectuais ou representações coletivas graças aos quais os grupos fornecem uma organização conceitual ao mundo social ou natural, construindo assim a sua 11 realidade apreendida e comunicada “3. Nesse sentido, ele se identifica com Ernest Cassirer. Posteriormente, tanto a antropologia simbólica americana como Erwin Panofsky definiram a função simbólica - simbolização ou de representação - como uma função mediadora que informa as diferentes modalidades de apreensão do real4. Em seu livro Identidade , Zigmunt Bauman trata identidade como um processo de transformação que provoca fenômenos como a crise do multiculturalismo, o fundamentalismo islâmico ou as comunidades virtuais . Assim, o autor explica que a identidade não deve mais ser discutida pelos instrumentos tradicionais de entendimento, mas sim por uma reflexão mais adaptada à dinâmica do transitório, que se impões sobre o perene5. A partir desses pressupostos, Bauman afirma que somos [...] conscientes de que o pertencimento e a identidade não têm solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, sendo portanto as decisões dos indivíduos fatores cruciais tanto para o pertencimento quanto para a identidade[...]( Idem, p.17). Em A Nova História Cultural, Lyn Hunt(1995) destaca os conceitos de História , Cultura e Texto. Para aprofundar sua análise recorre a E.H. Carr e sua tese sobre a influencia da Sociologia sobre a História e vice-versa. Para Carr “quanto mais sociológica a história se torna, e quanto mais histórica a sociologia se torna, tanto melhor para ambas” (Carr,1961, p.84). Aquelas declarações causaram espanto aos historiadores, pois admitia a possibilidade desse abrir uma nova de uma história de orientação social. No entanto, tudo indicava, segundo Hunt, que Carra estava com razão, pois os dois campos convergiam para o sócio-histórico. Na história, Hunt destaca que o avanço para o social foi estimulado pela influência de dois paradigmas dominantes: o Marxismo e a Escola dos Annales (Hunt, p.2). O autor destaca também o uso do termo historicismo como revelador da ênfase na história cultural. Sobre hibridismo, identidade e nação, os estudos teóricos de Homi K.Bhabha (2003) são fundamentais. Esses conceitos são analisados em sua obra O Local da Cultura. Nesse estudo, Bhabha propõe o local da cultura como “[...]o entre-lugar deslizante, marginal e estranho, que por resultar do confronto de dois ou mais sistemas culturais que dialogam de modo agonístico, é capaz de desestabilizar essencialismos e de estabelecer uma mediação entre teoria crítica e prática política[...] (apresentação). Bhabha se preocupa também colocar a questão da cultura na esfera do além, que para 12 ele significa que inícios e fins podem ser considerados mitos de sustentação dos anos no meio do século. Isso porque há uma sensação de desorientação, um distúrbio de direção, no “além”: um movimento exploratório incessante (Idem, p. 19). Os estudos sobre cultura popular de Mikhail Bakhtin oferecem maiores possibilidades para a compreensão da visão de mundo representada pela multiplicidade das manifestações da cultura popular que reproduzem, em certa medida, as permanências das representações simbólicas praticadas pelos seus antepassados. Tanto Bakhtin quanto Peter Burke advertem que a cultura popular ou a dos “povos dominados” chegou até nós através de uma elite que não representa os anseios desses povos. Por isso, as práticas culturais e as representações simbólicas, quando analisadas historicamente, expressam as formas de poder e controle das sociedades. Burke também observa que “se todas as pessoas numa determinada sociedade partilhassem da mesma cultura, não haveria a mínima necessidade de se usar a expressão ‘cultura popular”6. E salienta que “os grupos partilham de valores básicos e dos mitos e símbolos que expressam esses valores”7. Carlo Ginzburg, Bakhtin e Burke representam os autores básicos para os estudos sobre cultura popular, especialmente por assinalarem que os estudos da história das mentalidades e de uma certa visão de “história cultural” resultam da insistência em se conhecer os elementos inertes, obscuros e inconscientes da visão de mundo de um povo. As sobrevivências, os arcaísmos, a afetividade e a irracionalidade delimitam o campo específico da história das mentalidades, distinguindo-a com clareza de disciplinas paralelas e hoje consolidadas como “história das idéias”. Sobre praticas culturais e Representações como festas e rituais , além de Pierre Caillois e Mircea Eliade, também os aportes teóricos de Jean Duvignaud são significativos. Os autores fazem distinção entre Festas de Participação e Festas de Representação, devido às transformações sociais que tornaram as sociedades mais complexas com as diferenças de classes e atividades econômicas. Segundo Duvignaud, o papel da festa se modificou: [...] seu caráter de representação tornou-se mais evidente, pois uma classe muitas vezes se “representa” para a outra. O sentido da festa parece ter mudado no momento em que as festas encontraram uma consciência coletiva ativa que se acreditava capaz de modificar suas próprias estruturas e que, em conseqüência, “descobriu” a história [...]8. 13 A Antropologia abre mais um leque de interpretação. Os estudos de Rita Amaral ( 2002) contribuem nesse sentido. Para a autora, [...] as cerimônias comemorativas só aparecem no momento em que as civilizações ou as sociedades estão muito fortemente constituídas para saber aquilo que elas adquiriram e, conseqüentemente, se definir em função de um passado [...]9. O que é, segundo Lévi-Strauss, “a consciência da História”10. Toda comemoração “é um retorno às origens, uma ucronia11, isto é, que vivifica a história”12, mas que não se situa e nem pode se situar em nenhum tempo. A partir dos estudos de Marshall Sahlins (2003) sobre o conceito de significado, como propriedade da Antropologia e posterior objeto da História, foi possível reconstruir representações e práticas culturais realizadas pelas sociedades ocidentais. O “significado” , para o autor, é “uma propriedade específica do objeto antropológico […] e as culturas são ordens de significado de pessoas e coisas. Uma vez que essas ordens são sistemáticas, elas não podem ser livre invenção do espírito”13. Quando amplia sua dimensão, o significado também é objeto da história e se torna elemento determinante da superestrutura, momento em que alcança sua dimensão histórica. As práticas culturais e representações simbólicas, quando analisadas historicamente, explicam as formas de poder e controle das sociedades. As sociedades ocidentais respondem às transformações dos acontecimentos e incorporam as perturbações históricas como permutações estruturais de acordo com um código geral de significação, observa Sahlins, que também estabelece diferenças entre sociedades históricas e tradicionais, exemplificando com as sociedades tribais. Sahlins acentua que o modo da produção simbólica, mais elaborado e menos sujeito a controle, é o que substancialmente distingue a civilização ocidental das sociedades tradicionais . É mais elaborado porque encoraja todas as formas de manipulação simbólica dentro de uma mesma ordem social, gerando a partir daí um enorme crescimento cultural14, o que o leva a concluir que as sociedades ocidentais se aproximam das sociedades tradicionais ao confiar na razão simbólica, que não é radicalmente diferente da elaborada pelo “pensamento selvagem”, pois é tão lógica, significativa e filosófica quanto aquelas, embora os mecanismos e formas mais ou menos dinâmicos da construção histórica das sociedades modernas diferem das sociedades tradicionais. Sahlins explica que , para a construção de seus mitos e história, os povos tribais são capazes das mesmas transposições e reformulações do código simbólico da geração de novas oposições a partir das velhas. 14 Nas sociedades tradicionais a história acontece na intersecção das sociedades, de tal forma que toda a área de uma cultura pode apresentar tanto na base como na superestrutura um conjunto de variações. Para as sociedades ocidentais, em virtude de um modo institucional diferente do processo simbólico, a história é feita basicamente da mesma maneira, mas com a complicação de uma única sociedade15. Outro aspecto fundamental da religião, como parte da superestrutura, é a capacidade de atuar de acordo com as necessidades e interesses do poder dos grupos que têm o controle político e econômico da sociedade. Essa característica se explicita, por exemplo, quando trata da questão mítica para justificar o sacrifício humano como uma maneira de retribuir ao deus o sacrifício que ele fizera pelos homens, ainda que o ato sacrificial derivasse da guerra como meio de aprisionar e impor tributos ao povo conquistado. Além da história cultural, as novas abordagens introduzidas pela História Oral destacam o valor dos relatos orais na construção de novos temas. Elas se tornam estratégias inovadoras quando aplicadas para análise e interpretação das narrativas, como fundamento de um sistema relacional de estruturas. Essa estratégia possibilita relacionar fenômenos sociais como práticas culturais e representações simbólicas no tempo e no espaço, bem como relacionar as práticas do presente com as representações do passado, construindo dessa forma uma história cultural para o epifenômeno apresentado. As cerimônias realizadas durante as festividades consistem em tradições populares e fazem parte dos mitos de fundação ou origem das comunidades. Elas passam de geração em geração através das narrativas orais e dos relatos de memória, geralmente dos mais velhos, que se incumbem da transmissão das práticas culturais e representações simbólicas de seus antepassados. As narrativas orais recuperam as práticas culturais e a forma como foram registradas e reproduzidas pelo imaginário do grupo. Essa recuperação pela memória coletiva é uma construção do imaginário, uma versão do fenômeno original, que se imagina ser o real. E nunca irá recuperar os fatos como eram em sua originalidade. No entanto, as lembranças rememoradas traduzirão uma realidade construída sobre fatos imaginados e que irá produzir uma nova prática cultural, com apropriações naturais do novo contexto em que se encontra. A construção dos relatos orais, mesclando o passado e o presente, cristaliza e torna emblemática essa festividade, pois narram e interpretam o 15 passado em um momento particular que é o presente. Os rituais, como práticas culturais, realizam-se num tempo e espaço definidos, constituindo assim um fato social marcante, pois representam o mito do encontro entre mortos e vivos. E é nesse tempo e espaço que as hierofanias se realizam e que diferenciarão o sagrado do profano. O sagrado da morte (espiritual) e o profano da vida (material). Nesse sentido, a contribuição de Eduardo Kingman Garcez, com o estudo Cultura Popular e Modernidade, assinala as características fundamentais da estrutura da cultura popular na modernidade e enfatiza as diferenças entre a cultura artesanal e as outras práticas culturais da sociedade, ressaltando os processos de educação como fatores intervenientes para o avanço da capacitação técnica entre os setores subalternos da sociedade. Além de discutir a sociabilidade comum e os espaços, onde se expressam as práticas de intercâmbio e consumos culturais comuns, portanto onde as identidades se fortalecem. Durante a realização de práticas culturais como rituais e manifestações religiosas, o processo identitário é apresentado por Maria Teresa Toribio B. Lemos como marcas de coesão de um grupo social. Também acentua como as representações simbólicas que permeiam as festividades populares contribuem para construção e manutenção da identidade da comunidade e integram a cosmovisão de grande parte da população. A construção de novas identidades na América Latina e os processos de mestiçagens de Mariluci Guberman são discutidos pela autora a partir da questão do canibalismo. Guberman assinala essa questão na paródia de Rubén Darío, que aborda o tema como parecendo ser a decadência do Canibal . Guberman destaca, no Brasil, como o canibalismo pode ser satírico, através da ironia, contida em uma crônica de Machado de Assis. Também assinala a perda da tradição devoradora do Canibal , uma das marcas da cultura indígena, ao integrar-se às cultura européia e africana, transformando-se na Mestiça, o elemento primordial da diversidade latinoamericana. Em relação à integração e construção das identidades, Nilson Alves de Moraes apresenta a colonização na América Latina como um empreendimento complexo e diferenciado nas diferentes regiões, segundo os objetivos imediatos a serem desenvolvidos. Moraes trata a colonização como um sistema fundado na unidade integradora dos setores articulados ao centro de poder e desintegradora do ponto de vista das classes subalternas. Tal relação promove uma integração onde as identidades se definem. O autor 16 demonstra que essa análise só é possível quando ela enfatiza a sua identidade cultural e suas relações com o sistema e o mercado simbólico mundial formado ou articulado pelo capitalismo. Em relação ao enfoque sobre o Estado, a autora russa Marianna Grigorievna Abramova exemplifica com a história do movimento de libertação revolucionário cubano e sua experiência de construção de uma sociedade baseada nos princípios da autêntica independência e justiça social. Assinala que o modelo de socialismo escolhido por Cuba é uma tentativa de levar à prática a idéia nacional, adequada às realidades internas e externas e à construção da identidade nacional baseada no Socialismo.E ressalta que a dignidade mencionada por Jose Martí, destacado pensador, jurista e filósofo cubano, concretizou-se no modelo nacional de Estado Socialista de Fidel Castro. Pensar o tema através dos conflitos agrários e a violência foi como Luiz Henrique Nunes Bahia16 e Maria Cristina Leal analisaram as questões sobre identidade e diferença. Para aqueles estudiosos as questões se imbricam e decorrem de um processo historicamente determinado, cujas marcas vêm do período colonial. Para eles esse processo resulta em um modelo de desenvolvimento calcado na elevada concentração da terra, na exclusão social, no desemprego, na fome, na miséria, na desigualdade de distribuição de renda e no êxodo rural de populações camponesas pobres e trabalhadores rurais sem terra, portanto os excluídos , os diferentes . E assinalam que se antes eram expulsos recorrentemente do campo, hoje com o MST, estão organizados para reagir e lutar pela reforma agrária. Por outro lado, é inquestionável a importância das ocupações pelos trabalhadores rurais sem terra no sentido de fazer andar a reforma agrária do governo federal. Esses grupos unidos procuram reconstruir novas identidades para obterem o reconhecimento necessário para sua sobrevivência. Estudos recentes de Fernando Báez sobre a destruição cultural da América Latina destacam a construção de novos conceitos para explicar a trajetória da destruição da cultura latinoamericana. O autor historiciza o saque da cultura americana, apontando as causas do etnocídio, desde o assassinato da memória, exemplificando com a estátua da deusa Coatlicue, detentora da vida e da morte dos homens. Essa estátua foi encontrada em 1790 e levada para o pátio da Universidade do México. Naquela ocasião, após uma rápida análise, sugeriu-se que deveria ser novamente enterrada para que sua presença não despertasse a recordação da religião antiga entre os indígenas insensíveis à bondade do cristianismo. 17 Em 1804, o barão alemão Alexander von Humboldt, após examinar aquela arte indígena, mandou que a enterrassem. Apenas em 1982 o governo mexicano permitiu que fosse exposta ao público. O mesmo ocorreu com a descoberta da Pedra do Sol, um gigantesco monolito com um calendário asteca, encontrada na Plaza Mayor, e guardada na Catedral Metropolitana. Só a pressão popular conseguiu que a Pedra do Sol fosse levada para o Museu. Assim como a estátua de Coatlicue e a Pedra do Sol, a memória coletiva e os imaginários astecas foram arrancados da história dos antigos mexicanos. A História da destruição cultural das sociedades americanas estava apenas no início, a Igreja prossegue com o processo de dessacralização da religião nativa, empenhando-se em ressacralizar a vida espiritual através da evangelização e da força da Inquisição. A destruição continua com a violência exemplificada com os butins ao longo dos séculos e culminando com o saque nazista no século XX. Baez aponta o horror do Holocausto, a aniquilação sistêmica de milhares de judeus e , sobretudo, o memoricídio, quando milhões de bens culturais tangíveis e intangíveis foram destruídos em expurgos inimagináveis. A destruição cultural da América Latina pode ser entendida como um etnocídio e memoricídio premeditados para mutilar a memória histórica e atacar a base fundamental da identidade das populações. Com essa estratégia perderam-se 60% do patrimônio tangível e intangível da região, além da transculturação que produziu uma operação bem sucedida de alienação. A identidade cultural latinoamericana não é uma unicidade, mas um conjunto das diversas identidades culturais existentes e produzidas numa dada região, em que o sentimento de pertencimento do mesmo espaço geográfico, socioeconômico, linguístico e de cultura denominado de América Latina é um elemento integrador. Um sentimento de riqueza e afeto diante da consciência de que cada país desse vasto continente é a um só tempo multiétnico e pluricultural. A identidade cultural latino-americana produz uma unidade na diversidade, uma integração tanto das identidades como das sociedades, mas não permite a existência de uma cultura única. A identidade social deve ser compreendida pela capacidade de compreensão, de atuação, e pela percepção que as pessoas de um determinado grupo social têm a respeito de si mesmas, de seus grupos de referência e pelas orientações que ela imprime à sua vida. A identidade social envolve também as experiências e a consciência do pertencimento a um determinado coletivo humano. Dessa forma, compartilha e manipula um referen- 18 cial social e humano comum. A identidade social ou individual está profundamente imbricada. O estudo da identidade ganha sentido estratégico numa conjuntura de intensas mudanças sociais. O debate sobre identidade só será compreendido em sua complexidade quando considerado como parte de mudanças nos conceitos e modos de produzir e sentir a nação e o território. O processo de exclusão produzido pelo modelo social e produtivo de colonização permitiu que a questão da identidade cultural ressurgisse, na segunda metade do século XX, como estratégia discursiva e social de resistência à globalização, revelando possibilidades e a capacidade de organização e mobilização dos grupos locais. Essa identidade constitui instrumento de coesão e mobilização dos diferentes grupos sociais. Em uma conjuntura orientada pelos valores e interesses dos projetos identificados com a lógica da globalização, a identidade cultural aponta um novo contexto, que se expressa na idéia de um mundo sem fronteiras. Contribuição recente a esse dossiê refere-se ao conceito de imigração no Brasil apresentado por Alexandre Belmonte 17. O autor aborda a questão da imigração como processo histórico que possibilita a formação de novas identidades no Brasil e na América Latina, a partir da experiência desses imigrantes, dos conflitos, tensões e dinâmicas que constituem o processo de construção das identidades culturais. Nesse sentido, a imigração se insere num contexto maior de construção de identidades e representações da alteridade na América Latina, processo que vem se ocorrendo desde os tempos coloniais. Belmonte discute o conceito a partir da experiência daqueles estrangeiros em suas venturas e desventuras para se fixarem em solo brasileiro, relacionando-se e compondo o processo de formação da própria história e identidade brasileiras. A identidade cultural na América Latina também pode ser analisada a partir dos movimentos sociais e contexto internacional que modificam as forças internas. Os processos sociais e culturais regional enfatizam a resistência à dominação externa e a imposição dos seus valores, hábitos e modos de ser. A importância da diferença e do pluralismo faz de processos sociais, como a mestiçagem e o hibridismo, condição essencial dessa identidade que se recusa a ser subordinada. A América Latina é um lugar social, que produz espaços identidários preenchidos por símbolos e significados diferentes entre os povos locais, que demonstram a “domesticação” simbólica, relacional e produtiva de um continente que desconsiderava a lógica histórica e cultural européia, permi- 19 tindo que fossem produzidas marcas para constituir e reconstituir o novo continente para os locais, para aqueles que estavam em outros continentes ou falavam de um lugar diferente do latino-americano. NOTAS 1 SILVA, Tomaz Tadeu (org,) Identidade e Diferença. Silva, Tomaz Tadeu(org,) Identidade e Diferença., (Ignatieff, M., 1993)Vozes, 1997, p. 13:15 2 CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. Rio de Janeiro: Paz Terra, 2001, p. 22. 3 CHARTIER, Roger. A Historia Cultura. Lisboa, Difel, 1988, p. 19 4 Idem, op. cit., p. 19 5 BAUMAN, Z - RJ, Jorge Zahar Ed., 2005, 4ª página. 6 BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. S.P., Companhia das Letras, 1989, p.50. 7 Idem, op. cit., p. 51 8 DUVIGNAUD, 1976; Balandier 1971, 1982 - In, Festa – Rita Amaral Nucleo de Antropologia Urbana da USP Trabalhos de Antropologia e Etnologia -Revista inter e intradisciplinar de Ciências Sociais, vol. 40 (1-2). Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, Porto, 2000 b. 9 Idem, op. cit., p.1/2 10 Lévi-Strauss, 1983 11 UCRONIA - aquilo que não se situa e nem pode se situar em nenhum tempo. 12 Roger Caillois e Mircea Eliade 13 SAHLINS, Marshall. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003, p.8 14 SAHLINS, M. – op. cit., p.217:218 15 ídem, op. cit.218/19 16 Uma homenagem ao grande cientista político e incentivador da Revista Latinidade, falecido recentemente. 17 BELMONTE, A- tese de Doutorado –PPGH/UERJ/ 2010 21 Resenha Resenha do livro “El desarrollo inclusivo en América Latinay el Caribe: Ensayos sobre políticas de convergencia productiva para la igualdad” Alexis Toríbio Dantas* O livro “El desarrollo inclusivo en América Latinayel Caribe: Ensayos sobre políticas deconvergenciaproductivapara laigualdad”, organizado por Ricardo Infante, consultor da CEPAL, envolveu a participação de vários autores de diferentes países da América Latina, sendo eles Gabriel Porcile, Víctor Godínez, Guillermo Rozenwurcel, Carlos Eduardo F. Young, DaríoMilesi, Gonzalo Durán, Roxana Maurizio, além do próprio editor Ricardo Infante. A ideia central é resgatar o debate sobre o desenvolvimento econômico da região em um contexto de persistente heterogeneidade estrutural, conceito chave para o pensamento cepalino. Nesse sentido, procura-se assinalar a importância da convergência produtiva, a partir de políticas públicas específicas, para a formação das bases de um modelo de desenvolvimento econômico com níveis mais elevados de igualdade socioeconômica. Este ponto é fortemente destacado por Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL, logo no primeiro parágrafo de seu prólogo (p.15): El presente libro es una iniciativa que responde especificamente a la propuesta presentada por la Comision Economica para America Latina y el Caribe (CEPAL), en su trigesimo tercer periodo de sesiones, con el titulo La hora de la igualdad: brechas por cerrar, caminos por abrir. En ella se senala que, para avanzar en materia de crecimiento con mayores niveles de igualdad, es preciso impulsar una decidida aplicacion de politicas de convergencia productiva. Dichas politicas se orientan, por un lado, a cerrar la brecha externa y reducir asi el rezago relativo de productividad de las economias * Professor Associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Doutor em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ); Pós-doutorado pelo Centro de Estudios Latinoamericanos (CESLA) da Universidade de Varsóvia. 22 de la region con respecto a las desarrolladas y, por otro, a reducir las brechas internas de productividad que existen entre los sectores productivos y dentro de ellos, asi como entre las empresas, segun su tamano, y entre las distintas regiones de los países”. Percebe-se, portanto, que o objetivo da obra é pensar alternativas para efetivar o processo de convergência produtiva a fim de definir um horizonte de desenvolvimento econômico mais inclusivo e sustentável. O livro dividese, então, em três partes principais. Na primeira, busca-se definir o marco teórico fundamental da abordagem cepalina de desenvolvimento, com foco nas implicações do conceito heterogeneidade estrutural para a construção de uma teoria estruturalista de desenvolvimento, destacando as várias formas de heterogeneidade que historicamente se apresentam na região (e sua evolução a partir de indicadores de desenvolvimentoeconômico). A segunda parte é dedicada às políticas de convergência produtiva mais especificamente, de acordo com suas diretrizes básicas e as possibilidades de implementação de uma espécie de “pacto” para o desenvolvimento inclusivo na região (o que envolve também uma proposta de maior homogeneização setorial e territorial). Ademais disso, os autores tratam de um possível modelo de desenvolvimento mais estável para a região (menos volátil, no sentido proposto) e sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental. A adoção de um padrão “verde” de desenvolvimento, com ênfase em setores menos degradantes do meio ambiente, é também uma aposta forte para uma convergência produtiva mais inclusiva, pois se supõe que um crescimento fundado nesses setores tem como resultado uma maior geração de empregos e salários, com consequente melhora na distribuição de renda – certamente um ponto chave para o desenvolvimento econômico nas bases propostas.Ainda nesse enredo, destaca-se o papel a ser cumprido pelas empresas médias e pequenas no processo de convergência produtiva a partir, fundamentalmente, de um melhor preparo para exportar, com medidas de incremento de produtividade deste segmento empresarial. A terceira parte explora as medidas necessárias para criar uma institucionalidade para o trabalho que permita uma maior inserção produtiva e social da massa de trabalhadores, o que inclui questões associadas à segmentação do mercado de trabalho, ao processo de definição dos salários (em especial do salário mínimo) e da participação das associações de classe no processo, sobretudo no que se refere aos sindicatos e às negociações coletivas. 23 Em suma, o livro está orientado para uma análise que, em última instância, permita a definição de um marco propositivo para um novo padrão de desenvolvimento econômico na América Latina e no Caribe, com base no conceito de convergência. Como destacam os autores na página 365 dolivro: La propuesta consiste en invertir en lacreacion de nuevos sectores sociales para reducir tanto la heterogeneidade productiva como el deficit social de los sectores mas vulnerables.Con la creacion de estos nuevos sectores sociales se estará invirtiendo en igualdad. La politica propuesta contribuiria, por un lado, alproceso de convergencia productiva, pues al aumentar la productividad delos sectores rezagados se reduce la “brecha interna”. Por otro lado, suponeun aporte a las tareas de la proteccion social, dado que la mayor provisionde servicios sociales permitiria aliviar las necesidades de los grupos que seencuentran en condiciones de pobreza relativa. A su vez, el mayor nivel deactividad estimularia la generacion de nuevos empleos y mejores salarios,lo que supondria una distribucion del ingreso mas equitativa.(p. 365). Confluência cultural nas crônicas das Índias Confluência cultural nas crônicas das Índias Ana Raquel Portugal - Professora de História da América – UNESP RESUMO As Crônicas das Índias são fontes importantes para analisar a história do Novo Mundo colonial e nesse texto explicaremos suas principais características e finalidades. Analisamos, especificamente, algumas crônicas produzidas por espanhóis e indígenas dos séculos XVI e XVII para conhecer as práticas culturais vividas por esses homens e que podiam expressar processos de adaptação cultural e resistência. Palavras-chave: Documentos; Novo Mundo; espanhóis; indígenas; práticas culturais. Os diversos documentos que tratam do processo de descobrimento, exploração, conquista e colonização do Novo Mundo são conhecidos pela denominação de Crônicas das Índias e existem diversos tipos de texto, entre eles: cartas relatórios, relações geográficas e crônicas (MIGNOLO, 1982, p.57-116). Geralmente foram produzidas por europeus, especialmente, espanhóis e também por índios e mestiços. As crônicas produzidas pelos espanhóis possuem uma dimensão literária e também ideológica e são reflexo do pensamento renascentista, mesclado a traços medievais em que os cronistas tentam assimilar mentalmente a realidade do Novo Mundo (ELLIOTT, 1984). As expedições marítimas, que foram em sua grande maioria, financiadas pelo setor privado, foram responsáveis também pela produção de milhares de documentos. Grande parte das crônicas foi gerada como uma obrigação, visto que o capitão da expedição tinha que descrever para o rei suas atividades e como eram as novas terras descobertas. Havia outros motivos para a preparação desse tipo de documentação. Poderiam ser gerados documentos pela vontade própria de entender e dar a conhecer esse Novo Mundo, bem como, com o intuito de mudar a situação pessoal, se defendendo de algum processo judicial ou mostrando seus feitos na esperança de conseguir méritos da coroa1. A honra era algo importante para o espanhol desse período, sendo relacionada à reputação, ou seja, a aparência importava mais do que a realidade. E essa honra faria alcançar a fama, almejada pela maioria que queria imortalizar o próprio 25 26 LATINIDADE nome (FAZIO FERNÁNDEZ, 2005, p.134). Para tal, os conquistadores redigiam a “probanza de mérito”, que era um gênero de escrita que tinha por finalidade enaltecer os próprios feitos. Exemplo disso, são as obras de Hernán Cortés (1519-1526) e Bernal Díaz (1552), que legitimam a busca por recompensas (RESTALL, 2006, p.40-41). Dentre esses documentos, havia aqueles de ordem etnográfica, que foram produzidos por cronistas que dominavam uma ou várias línguas indígenas, como por exemplo, Toríbio Motolínia (1536), Diego de Landa (1566), Bernardino de Sahagún (1577), Juan de Betanzos (1551), Cristóbal de Molina, el cuzqueño (1552) e outros. Estes foram os fundadores da etnografia americana e contribuíram indiretamente para preservar a memória autóctone, visto que a grande motivação era identificar as “idolatrias” para extirpá-las. Algo sempre presente nas crônicas e que reflete a tentativa de compreensão do outro, é o processo de alteridade2. Todorov, pesquisador búlgaro, procura mostrar em sua obra que os espanhóis descobriram, conquistaram e depois procuraram conhecer para poder dominar. Cortez foi um dos que mais buscou informações sobre o povo que ele almejava subjugar política e economicamente. Já Las Casas, segundo o autor, tratou de compreender os povos indígenas para poder assimilá-los culturalmente (1983). Os cronistas possuíam diversos fins, mas todos descreveram e propagaram dados sobre o Novo Mundo, numa tentativa de integração intelectual desse mundo à mentalidade ocidental. Poucos realmente são os que chegam a entender o mundo indígena, pois para tal, era necessário pelo menos conhecer a língua desses povos. A maioria dos cronistas eram homens de poucas letras, havendo inclusive, grandes conquistadores que eram analfabetos, como é o caso de Francisco Pizarro e Diego de Almagro. No entanto, os cronistas liam muito ou pelo menos aquilo a que tinham acesso na América e tentavam fazer o melhor que podiam em suas obras. Apesar de terem motivos variados para realizar suas obras, todos tinham consciência que essa atividade requeria retórica (VALCÁRCEL MARTÍNEZ, 1997, p.429), ou seja, que os livros de história deveriam ser redigidos em linguagem culta, elegante e respeitar a verdade dos fatos. Para alcançar essa verdade faziam uso do “testigo de vista”, valiosa contribuição para persuadir e legitimar seu argumento (HARTOG, 1999, p.276). Confluência cultural nas crônicas das Índias As Crônicas das Índias são um testemunho vivo do encontro/ desencontro da cultura européia, neste caso, a espanhola, com as culturas indígenas que habitavam o Novo Mundo. Quando nos referimos ao encontro desses mundos diferentes e que mudaram o curso de suas histórias devido a essa aproximação cultural, não podemos deixar de mencionar os resultados desse cruzamento cultural ocorrido no início do século XVI. Para os povos conquistados, a conquista espanhola significou o despojo de seus meios de produção e a impossibilidade de voltar a organizá-los ao seu modo. Significou também a desarticulação das estruturas e, por vezes, a formação de costumes sincréticos. Os espanhóis ao descreverem o mundo americano, tinham uma visão etnocêntrica, pois tinham valores e juízos pré-estabelecidos, dessa forma era difícil captar o caráter social das instituições locais. Os povos por eles dominados, por sua vez, passam a integrar-se ao mecanismo da “aculturação”, entendido aqui como um processo de adaptações e resistência. Segundo os historiadores Simon e Cooper que estudaram áreas conquistadas pelos romanos, o processo vivido pelos grupos autóctones foi de continuidade do que havia sido desenvolvido no período pré-romano e quando da chegada dos romanos houve a adoção e adaptação de seus traços culturais dentro da cultura nativa (WEBSTER; COOPER, 1996, p.83 e 86). O mesmo aconteceu em relação aos grupos étnicos americanos, que viveram um processo de interação recíproca com os europeus com continuísmos e rupturas, visto que esse processo se deu num contexto de conquista e imposição política e cultural. Quando examinamos contatos entre culturas diferentes, percebemos que o mais usual é a fusão cultural e o predomínio de uma cultura sobre a outra, depois de um processo sempre complicado em que a recepção de elementos culturais implica seleção de uns, o repúdio a outros e ainda a modificação dos demais. O resultado é uma mescla sempre complexa e às vezes difícil de interpretar. Ocorrem também fenômenos de resistência, que podem ser de cunho seletivo em relação a determinados elementos culturais ou de resistência total (CÉSPEDES DEL CASTILLO, 1999, p.10 e 11). O que podemos perceber é que se faz necessário entender de que modo os grupos étnicos americanos modificaram seus valores e tradições frente aos ocidentais e isso é possível através da análise de algumas crônicas produzidas no período colonial, como por exemplo, de Cieza de León e Juan de Matienzo, onde poderemos perceber, entre outras mudanças, a representação de alterações no significado de estruturas primordiais do 27 28 LATINIDADE mundo indígena. É o caso do ayllu, sistema de parentesco andino, que foi transformado em uma estrutura com conotação territorial após a chegada dos espanhóis. O cronista Cieza de León é fundamental para a compreensão do ayllu, mesmo sendo um soldado que vivenciou o período inicial da conquista e, como se sabe, eram raros aqueles que dominavam a língua quechua. Ele, diferentemente de seus companheiros, tinha uma curiosidade aguçada, que o fez tentar transpor esses limites lingüísticos. A obra de Juan de Matienzo 3 é de grande importância para apreendermos o momento histórico em que o ayllu se transforma em um espaço territorial, pois este cronista foi o mentor das reduções toledanas. De cunho jurídico, esta crônica representou o discurso de legitimação do poder espanhol sobre o povo inca. Em sua crônica, Cieza de León tratou da genealogia dos incas sendo que a sociedade incaica era fundada em linhagens, que tinham relação com parentesco. Essa genealogia teve valores políticos e ideológicos,4 já que justificou a organização social estabelecida e o poder assumido por determinada camada social ou grupo étnico, tido como superior. As informações coletadas por Cieza não obedeceram a uma seqüência cronológica, pois faziam parte de uma memória coletiva. Pease coloca que “no es posible atribuir a las tradiciones orales las precisiones cronológicas ni las identificaciones personales a que el pensamiento histórico europeo nos ha acostumbrado” (1978, p.81). Nos primeiros capítulos de sua crônica, Cieza de León procurou descrever o período pré-incaico. Segundo ele, houve um dilúvio e depois da tormenta apareceu Viracocha, o “Hacedor de todas las cosas” (1553, p.5), que criou inclusive o Sol. No capítulo VI, relatou o mito dos irmãos Ayar e prosseguiu mostrando como Manco Capac chegou e fundou Cuzco. Baseado em suas categorias, contou a história dos chefes incas em seqüência dinástica e dentro de um sistema monárquico. “...savemos que ovo así en lo del govierno como en sojuzgar las tierras y naçiones para que debaxo de una monarquía obedeçiesen a un señor que solo fuese soberano y dino para reynar en el imperio que los Yngas tuvieron” (CIEZA DE LEÓN, 1553, p.23). Na descrição sobre o casamento do Inca com uma irmã, a Coya, ficou explícita a admiração de Cieza diante de tal fato, que em realidade era de Confluência cultural nas crônicas das Índias grande significado, pois comprovava a importância do ayllu real, que era endogâmico e matrilinear. “...Y fue por ellos hordenado que el que oviese de ser rey tomase a su hermana, hija ligítima de su padre y madre, por mujer para que la çuseçión del reyno fuese por esta vía confirmada en la casa real, pareçiéndoles por esta manera que, aunque la tal mujer y ermana del rey de su cuerpo no fuese casta y usando con algúnd onbre, dél quedase preñada, era el hijo que naçiese della y no de muger estraña...” (Idem, 1553, p.25). Os quiposcamayos eram responsáveis pela memorização de todos os feitos de seus soberanos e assim que um Inca morria eles começavam a contar suas conquistas e faziam-se cantos para sempre relembrá-lo. Porém, se fosse um Inca covarde, tratavam de não recordá-lo. Os Incas eram tão temidos que “de la sonbra que su persona hazía no osavan dezir mal” (Idem, 1553, p.34). Porém, “...como siempre los Yngas hiziesen buenas obras a los questavan puestos en su señorio sin consentir que fuesen agraviados ni que les llevasen tributos demasiados ni les fuesen hechos otros desafueros, sin lo qual, muchos que tenían províncias estériles y que en ellas sus pasados avían bivido con neçesidad, les davan tal horden que las hazían fértiles y abundantes, proveyéndoles de las cosas que en ellas avía neçesidad; y en otras donde avía falta de ropa por no tener ganados, se los mandava dar con gran liberalidad” (Idem, 1553, p.35). Essa imagem de redistribuição estatal como obra humanitária persuadiu os cronistas espanhóis de que o Estado Inca detinha o controle da economia e sociedade com o objetivo de beneficiar todo o povo; como Murra conceituou, tratar-se-ia de uma “generosidad institucionalizada” (1975, p.42). Cieza prosseguiu sua obra descrevendo a riqueza que essas terras possuíam, pois ouro e prata abundavam. A grandeza dos caminhos incaicos também foi alvo de admiração do cronista. Ele escreveu sobre o gado e as caçadas reais, quando o Inca saía com muitos homens para realizar essa tarefa e o produto de tal atividade era repassado para os depósitos estatais. As conquistas efetuadas pelos incas seguiam um método, que tinha por princípio a reciprocidade. 29 30 LATINIDADE “...embiava presentes a los señores naturales. Y con esto y con otras buenas maneras que tenía, entraron en muchas tierras sin guerra (...) y si en la tal provinçia no avía mantenimiento, mandava que de otras partes se proveyese...” (CIEZA DE LEÓN, 1553, p.46). Através de uma passagem da crônica de Cieza de León, constatamos que os ayllus prosseguiram com suas terras e seus costumes durante o período incaico. “Los señorios nunca los tiravan a los naturales. A todos mandavam unos y otros que por Dios adorasen al Sol; sus demás religiones y costumbres no se las proyvían...” (Idem, 1553, p.47). Cieza descreveu como eram feitos os censos através dos quipus, escreveu sobre os tributos, sobre os mitmaqs e de como estes não perdiam as características de seus ayllus, apesar de serem deslocados. Ele percebeu que cada povo se vestia de um modo, o que demonstra que os hábitos de cada ayllu eram respeitados. Cieza de León não se referiu em sua crônica à palavra ayllu, até porque seu desconhecimento da língua quechua o fez necessitar da ajuda de intérpretes. Partimos do pressuposto de que essa dificuldade e também o fato de ser um dos primeiros cronistas a tomar contato com a história dos incas, fez com que não utilizasse diretamente o vocábulo ayllu. Porém, ao longo de sua obra, pudemos perceber as diversas características que aparecem em povos organizados em ayllus. O desconhecimento do cronista do vocábulo ayllu não impediu que contribuísse com dados sobre essa estrutura. Em sua crônica, Cieza de León, não deixou de abordar nenhum dos aspectos organizativos do Tahuantinsuyu. Ele discorreu sobre o sistema decimal, sobre a formação dos exércitos, a questão da língua oficial ser o quechua, sobre os sacrifícios, as festas, os nobres, os casamentos por interesse de reciprocidade, enfim, sua obra é das mais completas que se pode consultar para obter informações sobre os incas. Quando Cieza de León quer referir-se a outras etnias, usa o termo “linhagem”. “...estava un varrio çerca de la çibdad donde bivían un lináje de jente a quien llamavan Alcaviquiça...” (Idem, 1553, p.100). Nesse período, entre os cronistas, era comum referirem-se a povos ligados por laços de parentesco com o termo linhagem. Podemos dizer Confluência cultural nas crônicas das Índias que Cieza entendeu, desse modo, o ayllu como sendo uma linhagem, que tinha suas terras, seus costumes e crenças. Mais da metade da crônica foi consagrada à descrição das conquistas e derrotas, poucas, dos Incas. Os últimos capítulos foram dedicados aos confrontos entre Huascar e Atahualpa e, seguindo a tradição espanhola, Cieza mostrou-se favorável a Huascar, por ser este filho “legítimo” e herdeiro da mascapaicha (uma espécie de coroa real). Ao longo da crônica de Cieza de León, percebemos como os vínculos de parentesco, as solidariedades étnicas e os princípios de reciprocidade e redistribuição foram utilizados ideologicamente para favorecer e justificar novas relações sociais. Cieza de León pode não ter tratado o conceito de ayllu diretamente, mas fornece as principais características de tal estrutura. Linhagem, genealogia foram conotações que no século XVI estiveram ligadas ao conceito de ayllu. Mesmo que não significassem a acepção correta dessa estrutura, pelo menos, correspondiam ao que a maioria dos cronistas concebiam por ayllu. Tinha relação com a idéia de família, assim como a teve outra palavra quechua, panaca, que segundo os cronistas eram os descendentes dos Incas. Cieza de León também referiu-se a esses ayllus reais, apresentando-os como grupos ordenados dinasticamente, segundo sua idéia de genealogia. Cieza de León percebeu o ayllu enquanto linhagem e genealogia e descreveu os hábitos inerentes a agrupamentos indígenas organizados em ayllus, porém não indicou o vocábulo ayllu, visivelmente devido à deficiência no recolhimento das informações. Não conceituar o ayllu, por sua vez, teve sentido, pois a preocupação da época era saber quais os chefes e os povoados existentes e não que tipo de laços os ligava. Os povos organizados em ayllus não tinham significado enquanto grupo de parentesco para os encomendeiros, e sim, enquanto força de trabalho. Mais tarde, com Juan de Mantienzo (1567) passou-se a procurar informações sobre “pueblos”, “caciques” e índios, pois este tinha a intenção de reagrupá-los para que produzissem mais e fossem doutrinados. Matienzo foi um jurista espanhol que escreveu sua crônica na sétima década do século XVI, depois de ter ocupado o cargo de Ouvidor na Chancelaria da cidade de La Plata. Homem, de grandes conhecimentos e experiência, dominava a legislação castelhana e tornou-se um observador perspicaz. Sua obra é um acúmulo de julgamentos pessoais. 31 32 LATINIDADE Juan de Matienzo iniciou sua crônica acusando os Incas de serem tiranos, começando pelo Inca Manco Capac, que, segundo ele, “hizo leyes a su gusto y provecho, y no al de sus súbditos” (1567, p.6) Deu como provas de tirania a crueldade dos Incas que exploraram o povo e lhes retiravam até as mulheres. Sacrificavam animais e crianças e retiravam gente de um local para passála a outro, os mitmaq. Com isso, quis legitimar a conquista espanhola, pois se os Incas eram tiranos, Pizarro veio libertá-los por um desígnio divino. Matienzo considerou os índios “pusilánimes y tímidos” (1567, p.16) sem responsabilidades, nem honra e, por isso, teriam nascido para servirem e não para pensarem. Para que não ficassem na ociosidade, recomendou algumas leis que permitiam a contratação de índios mediante o pagamento de salário. Desse modo, também começou a preocupação de Matienzo em propôr o reagrupamento de índios que viviam nas parcialidades, compostas de ayllus. Segundo María Rostworowski, alguns cronistas do século XVI usaram o termo parcialidade referindo-se aos ayllus, sendo que a palavra “parcialidad corresponde a una mitad socio-política de un curacazgo o de un señorio, que a su vez compreendía a varios ayllus” (1981, p.38). Matienzo utilizou essa concepção: “En cada repartimiento o provincia hay dos parcialidades: una que se dice de hanansaya, y otra de hurinsaya. Cada parcialidad tiene un cacique principal que manda a los prencipales e indios de su parcialidad, y no se entremete a mandar a los de la otra” (MATIENZO, 1567, p.20). O equivalente em quechua para o vocábulo parcialidad era suyu. “Suyu. Parcialidad. Hanan suyu. El de arriba. Hurin suyu. El de abaxo.” (HOLGUIN, 1608, p.333). No entanto, o próprio Diego Gonzalez Holguín incorreu numa interpretação errônea da palavra ayllu, pois a tornou equivalente a parcialidade, genealogia, linhagem de uma nação (1608, p.39), demonstrando a confusão que os espanhóis fizeram entre as palavras ayllu e parcialidade. Juan de Matienzo usou o termo parcialidade ao referir-se ao conjunto de ayllus existentes em uma determinada região. Porém, ao longo da primeira parte de sua crônica, na qual tratou de como viviam os índios, sempre usou o termo ayllu no sentido de aldeia ou povoado, sem descrever como se organizava a população. O importante para ele foi a existência de Confluência cultural nas crônicas das Índias parcialidades com diversos ayllus, os quais tinham seus chefes locais a quem o povo pagava tributo. “Estos caciques y principales no entienden en otra cosa más de lo que está dicho, porque ni ellos labran heredades, ni se alquilan para trabaxar, antes se mantienen del tributo que les dan los indios de su ayllo” (MATIENZO, 1567, p.21). Argumentando que os índios eram explorados por seus chefes e que estes também deviam trabalhar, engendrou a idéia das reduções, pois agrupar diversos ayllus debaixo da tutela de um administrador espanhol faria com que os índios trabalhassem, inclusive seus curacas, em prol da Coroa espanhola. “...que los indios se reduzgan a pueblos; que se hagan alcaldes y regidores y alquaciles y otros oficiales de Consexo, para que hagan justicia en pleitos civiles...” (Idem, 1567, p.48). Matienzo propôs diversas leis que defendiam os índios de seus curacas e também dos encomendeiros, pois, como funcionário da coroa, que era, colocava os interesses do rei espanhol acima de tudo. Os índios deveriam ser pagos diretamente, não poderiam receber por intermédio dos curacas, que os poderiam enganar. Os encomendeiros tinham que cuidar dos índios, sem lhes fazer nenhuma injúria, senão seriam punidos. Os índios que não estavam encomendados foram reduzidos. Na primeira parte de Gobierno del Perú, Matienzo mostrou que os Incas eram tiranos e, por isso, não tinham direito àquelas terras. Os espanhóis que vieram salvar os índios do jugo Inca tiveram legitimada sua conquista. Também descreveu alguns traços da organização política, econômica e social derivados do período incaico e que permaneceram durante a época colonial. Mas, sua grande preocupação de jurista, foi elaborar leis que visavam a “proteção” dos índios contra seus senhores, curacas ou encomendeiros, e também, leis que tirassem tais índios da ociosidade e os fizessem trabalhar e pagar tributo à administração espanhola. Na segunda parte da crônica, descreveu a administração colonial, propondo leis que indicariam as funções de todos os oficiais que trabalhassem para a coroa. Enquanto Cieza de León (1553) entendeu os ayllus como linhagens, genealogias, ou seja, de certo modo mais próximo à idéia de parentesco, 33 34 LATINIDADE Juan de Matienzo (1567) os descreveu como partes integrantes das parcialidades, dando-lhes uma conotação de territorialidade. Essas interpretações, apesar de não estarem de todo erradas, não dão o significado mais amplo do que foi um ayllu, gerando dúvidas que até hoje permanecem. A idéia proposta por Matienzo de reagrupar os povos indígenas foi aproveitada nas reduções do vice-rei Toledo. Desse modo, com o ayllu inserido num novo âmbito, seu conceito foi confundido com redução ou comunidade devido à expressão de territorialidade que estas estruturas representaram. Como pudemos perceber, as crônicas são textos resultantes do processo de alteridade vivido entre culturas distintas e representam as práticas culturais do século XVI em que grupos étnicos locais foram forçados a alterar seu modo de vida diante do novo, o que não significa que se submeteram aos espanhóis. Quando mencionamos que os cronistas indígenas possuíam um discurso “aculturado”, temos em mente a representação discursiva de seu mundo de acordo com suas necessidades de sobrevivência (STERN, 1987). Prova disso, são as crônicas de Titu Cusi (1570), Garcilaso de la Vega (1609) e Guaman Poma de Ayala (1615) que, no caso andino, alertam para os danos causados pelos conquistadores espanhóis manipulando o discurso de modo a alcançar seus interesses, que podiam ser pessoais ou coletivos. Conforme Gruzinski demonstrou, as mudanças culturais ocorridas nesse período propiciaram possibilidades de reorganização dos grupos indígenas diante da desestruturação cultural provocada pelo sistema colonial (1986, p.415). Percebemos então, que no caso de algumas etnias dominadas pelos espanhóis, não houve a passagem da cultura indígena à cultura ocidental, e sim, o processo inverso, em que a cultura indígena integrou os elementos europeus. Os grupos que estavam acostumados a produzir excedente econômico e a pagar tributo foram administrados pelos espanhóis de modo a aproveitar o sistema preexistente para controlar a mão-de-obra. Para isso, contavam com a ajuda de chefes locais, que mantinham como antes, a ligação entre senhores e súditos. Foi essa administração indireta que favoreceu a manutenção das tradições indígenas, apesar da ação espanhola em sentido contrário através da evangelização e das reduções (WACHTEL, 1976, p.114-115), que em verdade desde o momento inicial da conquista, eram um instrumento para justificar suas pretensões políticas (PIETSCHMANN, 1992, p.16). Confluência cultural nas crônicas das Índias Os documentos indígenas são resultantes dessa mescla, em que por um lado há a influência dessa “aculturação”, pois os cronistas retratam sua cultura com visão ocidentalizada, mas por outro, fazem uma apologia ao seu próprio mundo. Tais relatos originam-se da confluência de discursos representativos de culturas distintas. A utensilagem mental5 do espanhol, só lhe permitia reproduzir aquilo que via de acordo com seus próprios traços culturais. O indígena que passou pelo processo de ocidentalização6, não apagou de sua memória a própria cultura, apenas passou a filtrá-la sob influência dos modelos europeus. Ao analisarmos documentos do século XVI e XVII, que tratam a história das etnias americanas sob controle dos espanhóis, estamos lidando com um conjunto de informações que são a representação desse mundo indígena, aos olhos de europeus e de mestiços e autóctones influenciados por traços culturais espanhóis. Representação essa entendida como registro de três realidades: “as representações coletivas que incorporam nos indivíduos as divisões do mundo social e organizam os esquemas de percepção a partir dos quais eles classificam, julgam e agem; (...) as formas de exibição e de estilização da identidade que pretendem ver reconhecida; (...) a delegação a representantes (...) da coerência e da estabilidade da identidade assim afirmada” (CHARTIER, 2002, p.11). Os textos resultantes dessa confluência cultural representam uma nova realidade, que acabará por ser assimilada e sociabilizada. Para Yukitaba Inoue Okubo, os conjuntos de obras classificados como “indígena”, “espanhol” ou “mestiço” não existiram separadamente, pois houve influência e inter-relação entre as obras ou entre os cronistas (2007, p.79). Isso corrobora a idéia de confluência cultural desses escritos. As Crônicas de Índias resultam dessas práticas culturais vividas no período colonial, que expressam distintos processos adaptativos e até de resistência. As crônicas fornecem-nos representações da história do descobrimento e conquista da América, bem como, todo o período de colonização. Estas refletem discursos distintos de grupos que se encontraram numa fronteira intercultural7, que permite sua transposição, mas em que estes dificilmente perdem suas próprias características. Os processos de alteridade e de ocidentalização, bem como, as representações do mundo indígena se originam nessas fronteiras discursivas8, onde o discurso espanhol e autóctone se encontra ou diverge, mostrando as imagens desses dois mundos em contato. 35 36 LATINIDADE NOTAS 1 Como exemplo, podemos citar Diego de Landa, que sofreu um processo judicial na Espanha, em virtude das arbitrariedades praticadas contra os índios e espanhóis em Yucatán. Para tal, redige a Relación de las cosas de Yucatán (1566). 2 Embora trate do mundo grego, François Hartog em sua obra O Espelho de Heródoto, tece reflexões sobre alteridade e os processos de percepção e enunciação do Outro, tornandose indispensável na análise do encontro/desencontro de espanhóis e indígenas na América (1999). 3 Juan de Matienzo, Gobierno del Perú, Lima, IFEA, 1967[1567]. 4 Ideologia - “...o conjunto de idéias acerca do mundo e da sociedade, que correspondem a interesses, aspirações ou ideais de uma classe num contexto social dado, que guia e justifica o comportamento dos homens de acordo com estes interesses, aspirações ou idéias” (Vásquez Apud Martins, 1988, p.6). 5 Utensilagem mental (FEVBRE, 1988). 6 Para ocidentalização ver (GRUZINSKI, 2001). 7 Sobre interculturalidade ver (FORNET-BETANCOURT, 2001, p.47); (LEVIN ROJO, NAVARRETE, 2007). 8 Para o conceito de fronteiras discursivas (PORTUGAL, 2009). FONTES BETANZOS, Juan de. Suma y narración de los Incas. 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Específicamente, se analizan algunas crónicas producidas por indígenas y españoles de los siglos XVI y XVII para entender las prácticas culturales experimentadas por estos hombres y podían expresar procesos de resistencia y adaptación cultural. Palabras claves: documentos; Nuevo mundo; Españoles; indígenas; prácticas culturales. ABSTRACT The Indies Chronicles are important sources to examine the history of colonial New World and this paper will explain the main characteristics and purposes. Analyzed, specifically, chronicles produced by Spanish and indigenous of de sixteenth and seventeenth centuries to know the cultural practices experienced by these men and could that processes of cultural adaptation and resistance. Keywords: Documents; New World; Spanish; indigenous; cultural practices. América Latina - Economia da droga – crime e pobreza América Latina - Economia da droga – crime e pobreza Prof. Dr. André Luís T. Dantas - Nucleo de Estudos das Américas/Nucleas/UERJ/Col.PedroII RESUMO O estudo trata da Economia das Drogas. A demanda por drogas consideradas ilegais representa um dos pontos principais para a problematizações de Políticas Públicas em Segurança Pública. O reajuste no preço das drogas implica em ‘redução do consumo e uma reação do consumidor. Como a repressão provoca a alta do preço, quando essa situação ocorre, os consumidores de droga se rearticulam. O aumento dos índices de criminalidade no Brasil e a atuação de organizações criminosas transnacionais colocaram a Segurança Pública como uma das políticas prioritárias no governo do ex-presidente Lula (20022010). A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Governo Lula apresentou o Projeto de Segurança Pública que associava o aumento da criminalidade ao tráfico de drogas e de armas, considerando que articulação entre esses dois ilícitos potencializa e diversifica as atividades criminosas. Palavras-chave: Economia da droga – Criminalidade – Segurança Pública Este artigo trata de questões sobre economia da droga, aumento do consumo e da criminalidade, além de discutir problemas referentes às Políticas Públicas implementadas e à necessidade de maior reflexão sobre o tema. O aumento do consumo de entorpecentes, associado mecanicamente à expansão da criminalidade, é um tema polêmico que tem despertado o interesse de amplos setores da sociedade brasileira para combater tanto o consumo como o tráfico de drogas, além das conseqüências danosas causadas pelo seu uso excessivo. Identificar os motivos que pressionam o Estado a construir uma política de combate às drogas pode ser uma questão, assim como a economia da droga influenciando e determinando os rumos de uma mentalidade que persegue uma eficácia questionável de consumo zero de drogas nas sociedades. A demanda por drogas consideradas ilegais representa um dos pontos principais para a problematizações de Políticas Públicas em Segurança Pública. O reajuste no preço das drogas implica em redução do consumo e uma reação do consumidor. Como a repressão provoca a alta do preço, quando essa situação ocorre, os consumidores de droga se rearticulam. 39 40 LATINIDADE Percebe-se que valores arraigados através dos imaginários moralistas e positivistas, quando se propõem a sustentar uma Política de Segurança Pública, traduzem a reafirmação das fragmentações humanas e sociais, mantendo, portanto, a ideologia produtora das desigualdades de distribuição e controle da riqueza social. O aumento dos índices de criminalidade no Brasil e a atuação de organizações criminosas transnacionais colocaram a Segurança Pública como uma das políticas prioritárias no governo do ex-presidente Lula (2002-2010). A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Governo Lula apresentou o Projeto de Segurança Pública que associava o aumento da criminalidade ao tráfico de drogas e de armas, considerando que articulação entre esses dois ilícitos potencializa e diversifica as atividades criminosas. Naquele período, política de Segurança Pública brasileira, confrontou – se com traficantes, principalmente no Rio de Janeiro. O governo carioca se destacava como um dos principais aliados das políticas implementadas no pais.1Além, de se revelar genocida e se destacar pelos confrontos armados, especialmente em favelas2- varejo de drogas e não central do narcotráfico. As ações bélicas contínuas contra o consumo de drogas ilícitas produzem consequências incontroláveis. Ao invés de reduzir o tráfico, ampliam a demanda, oferta , consumo das drogas e acirram a repressão policial. Assim, geram a intolerância da população atingida com a invasão dos seus espaços sociais, em geral os mais miseráveis da cidade. Para fundamentar teoricamente esta questão foi essencial o suporte teórico da corrente estruturalista marxista de Poulantzas que contribui com reflexões jurídica-política sobre o Estado capitalista na categoria trabalho. Além de investigar a função que o Estado brasileiro desempenha no atomismo da classe dominante através da sua constituição enquanto bloco no poder hegemonizado por uma fração dessa classe. Nicos Poulantzas (1980), a partir de Marx e Lênin e da teoria da luta de classes, chama de poder a capacidade de uma classe social de realizar os seus interesses objetivos específicos. É uma definição corrente entre os adeptos da teoria política marxista. De acordo com o autor, todo poder do Estado capitalista é um poder de classe na medida em que [...] é a base fundamental do poder em uma formação social dividida em classes cujo motor é a luta de classes [...] (Poulantzas, p. 50). Assim, a contradição fundamental do conjunto da aparelhagem econômica consiste em ter de dar respostas aos interesses da América Latina - Economia da droga – crime e pobreza classe dominante, em especial de sua fração hegemônica e, concomitantemente, responder às demandas polarizadas pela luta das classes exploradas. Outro aspecto realçado se refere à natureza da intervenção do Estado monopolista na economia é o que ajuda a entender a intervenção na “área social” . Por essa perspectiva ações rentáveis e não rentáveis podem ser desenvolvidas para o capital, desde que favoreçam a reprodução do conjunto do capital social, incluindo-se nesse universo a reprodução e gestão ampliada da força de trabalho. A partir de uma visão teórica poulantziana, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) podem ser consideradas uma exemplificação da privatização das políticas sociais, o que não se configura numa desobrigação do Estado pela questão social, mas numa ação do Estado capitalista neoliberal de reprodução ampliada do capital. Assim, [...] A privatização, consubstanciada em empresariamento dos serviços sociais, se constitui concomitantemente em contra tendência à queda da taxa de lucro, no que tange à desvalorização de parcela do capital, e em aumento da produtividade do trabalho pelo incremento da superexploração da força de trabalho [...](Neves, 2010)3. Em um possível processo de ruptura com a política de combate as drogas, [...]a função dos organismos paralelos será a de polarizar uma larga fração do aparelho de Estado pelo movimento popular, e estes em aliança, enfrentarão os setores reacionários do aparelho do Estado apoiados pelas classes dominantes contra-revolucionárias. As posições de poder no âmbito do Estado existem enquanto dispositivo de resistência, como elemento de corrosão, ou de acentuação das contradições internas do Estado [...] (Poulantzas, 1982, p. 133: 136). De acordo com Neves, o Estado no modo de produção capitalista só terá um caráter científico quando for capaz de explicar tanto a reprodução quanto as transformações de seu objeto nos lugares em que elas efetivamente ocorrem, isto é, nas formações sociais concretas, lugares da luta de classes. Assim, afirma a autora, [...] essa distinção entre modo de produção e formação social concreta apresenta-se como fundamental na construção teórica de 41 42 LATINIDADE Poulantzas, dado que ‘as formas sociais são o lugar real de existência e de reprodução, portanto do Estado em suas formas diversas, as quais não podem ser deduzidas do modelo capitalista de Estado que designa um objeto abstrato-formal [...] (Neves, 2010, p.104). Assim, conclui a autora, entre estrutura e superestrutura existe um nexo e que a relação de reciprocidade entre forças materiais e ideologias aponta para uma possibilidade concreta de o desenvolvimento histórico das formações sociais capitalistas ser uma resultante da simultaneidade entre instrumentos de coerção, persuasão das forças político-sociais em disputa pela hegemonia e alterações concretas nas forças materiais de produção social. Nesse mesmo sentido, o empresariamento dos serviços sociais em geral responde a importantes determinações político-ideológicas, inclusive nas ações políticas de governo em Segurança Pública, no caso das UPPs, onde ela conclui que: [...] para consolidar a ideologia neoliberal de liberdade de escolha dos consumidores dos serviços; sedimenta a hierarquização e a desigualdade na prestação de serviços, diante dos novos imperativos técnicos e ético-políticos de expansão da cobertura; reforça a ideologia do individualismo como valor moral radical; prepara novos intelectuais orgânicos da nova sociabilidade do capital; auxilia decisivamente para concentrar a ação estatal nas políticas sociais focais [...] (Idem, p.105). A discussão esse tema sugere refletir sobre como organização dos trabalhadores romperá com os limites da colaboração, com o ideário do ajustamento social, exigindo participação substantiva da produção da riqueza e na participação das decisões do Estado. Sob a perspectiva poulantziana conclui-se que a natureza do Estado capitalista e das políticas sociais possam certamente se configurar em ferramentas teórico-metodológicas eficazes para se formular uma nova práxis política da categoria trabalho, objetivando transformações nas significações sociais deste Estado. Segundo Walter Benjamin (1986) outros poderes estão presentes em instituições do Estado moderno: como a polícia, por exemplo, numa relação muito mais contrária à natureza que a pena de morte, numa mistura por assim dizer espectral. É verdade que a polícia é um poder para fins jurídicos (com direito de executar medidas), mas ao mesmo tempo com a autorização de ela própria, dentro de amplos limites, instituir tais fins jurídicos (através do direito de baixar decretos). América Latina - Economia da droga – crime e pobreza O equívoco dessa instituição consiste na aplicação do poder instituinte e poder mantenedor do direito. Do primeiro se exige a legitimação pela vitória, do segundo, a restrição de não se proporem a novos fins. O poder da polícia se emancipou dessas duas condições. É um poder instituinte do direito – cuja função característica não é promulgar leis, mas baixar decretos com expectativa de direito – e um poder mantenedor do direito, uma vez que se põe à disposição de tais fins. A afirmação de que os fins do poder policial seriam sempre idênticos aos do direito restante ou pelo menos ligados a eles, é falsa. Na verdade o direito da polícia é o ponto em que o estado – ou por impotência ou devido às inter- relações imanentes a qualquer ordem judiciária – não pode mais garantir, através da ordem jurídica, seus fins empíricos, que deseja atingir a qualquer preço. Por isso, a polícia intervém em casos em que não existe situação jurídica definida, sem falar dos casos em que a polícia acompanha ou simplesmente controla o cidadão, sem qualquer referência a fins jurídicos, como um aborrecimento brutal ao longo de uma vida regulamentada por decretos. Ao contrário do direito que, na [...] decisão fixada no espaço e no tempo, reconhece uma categoria metafísica, graças à qual ele faz jus à crítica, a observação da instituição da polícia não encontra nenhuma essência [...] (Benjamin, p. 18.),Assim, todo poder enquanto meio é, ou instituinte ou mantenedor de direito. Pierre Kopp (1998) , em A Economia da Droga, afirma a demanda pelo produto representa o ponto principal de análise para uma formulação de política de Estado. O autor também aborda a questão do aumento do preço da droga. Para ele, é importante discutir se esse reajuste implica em redução do consumo e qual a reação do usuário. E acrescenta que o problema se acentua quando a repressão provoca a alta do preço. Quando essa situação ocorre, os usuários de droga se rearticulam, [...] eles reorganizam seus planos de consumo, passam de um produto para outro, combinam seus ganhos legais e o fruto da delinqüência para se adaptar às modificações de sua vizinhança[...] (idem, p. 10). A proposição de Kopp é corroborada por Mark Kleiman (1998), segundo o qual a criminalidade funciona como um oligopólio com certo viés de concorrência e não como um monopólio. Kleiman acentua que a política do Estado contra as drogas não é um combate moralista, sendo mais numa forma de influenciar o preço, a disponibilidade e o consumo, enquanto uma mercadoria especial, por meio da aplicação de políti-cas públicas. E para a aplicação de políticas eficazes é preciso conhecer o 43 44 LATINIDADE comportamento dos usuários de drogas e a organização dos traficantes. A produção mundial de droga é superior ao consumo. Por isso, incentivase a expansão do número de usuários.4 Kopp assinala que esse mercado representa um alvo interessante para os traficantes e apresenta os Estados Unidos como o terceiro produtor mundial, depois do México e da Colômbia. Por isso, o consumo de drogas nos Estados Unidos se tornou um verdadeiro problema de política interna. Em relação ao Brasil, a demanda referente ao aumento do consumo de drogas cresceu, assim como assim como também se expandiu o tráfico de droga. Por esse motivo, o consumo global da droga no Brasil tende a crescer quando o usuário ultrapassa excessivamente o seu consumo. Ele constata que um ligeiro aumento do consumo em certos países não altera o número de consumidores de drogas pesadas. Para o autor, os ditos dependentes representam apenas uma fração da demanda. E para captar a de-manda total é necessário analisar o comportamento do consumidor prestes a se vincular ao consumo esporádico da droga. A freqüência com que tais consumidores, denominados usuários ocasionais, compram droga não tem rela-ção com as flutuações cíclicas do consumi-dor dito dependente. Os usuários ocasionais ou regulares e os de-pendentes reagem de forma diferente às mudanças do ambiente institu-cional e à variável preço, em particular. Segundo Kopp, a aplicação do mesmo modelo de política não apresenta resultados idênticos quando empregada a diferentes tipos de usuários (p. 84), pois as reações são diferentes entre a população de consumidores. Outro aspecto destacado se refere ao preço da droga. Há um imaginário que a droga está associada à delinqüência. Quando o preço aumenta, os toxicômanos podem cometer delitos para ampliar sua capacidade de compra do produto. Kopp considera essa afirmação suscetível de discussão. É uma concepção que se baseia na idéia de que a toxicomania escraviza o usuário e que este estaria disposto até a cometer atos criminosos para conseguir dinheiro para adquirir o produto de sua satisfação. Como se observa, entre uma concepção de que o usuário de droga, o toxicômano, optaria pelo crime para não diminuir seus recursos econômicos, e a outra, a do consumidor clássico que respeita seus limites de poder aquisitivo, existe uma barreira de preconceito e discriminação. Sobre essa questão há varias formulações. Uma delas se refere à concepção de que a vida do delinqüente leva à droga. Outra afirma que a droga América Latina - Economia da droga – crime e pobreza conduz à criminalidade, e a terceira acredita que não são as substâncias consumidas pelos usuários que são criminosas em si, mas a ilegais, devido a proibição. Além da delinquência gerada pela interdição associada aos preços elevados. Benson (1991) aponta a prisão dos usuários como consequência perversa da política repressiva de combate às drogas. Da mesma maneira essa questão é analisada por analisada por Kopp. O nível elevado do preço da droga e o pouco conhecimento sobre seus custos de produção se concentram na ilegalidade da transação, na fraca concorrência que predomina em certos níveis do mercado da droga e na pouca transparência das transações. O risco constitui um dos parâmetros essenciais da atividade dos traficantes e faz parte do cotidiano das organizações criminais que coor-denam suas atividades referenciadas pela repressão. 55 A simples observação dos preços é insufi-ciente, pois é preciso explicar o meca-nismo pelo qual eles se formam. O autor aponta três etapas como determinantes, destacando-se a primeira como o momento em que a droga é exportada do país produtor para o país consumidor. A segunda corresponde à venda da droga bruta e da semi-refinada aos revendedores, que fornecem aos varejistas. A venda aos consumidores finais constitui a terceira e última etapa. Nos países pro-dutores, segundo os economistas colom-bianos Ciro Krauthausen e Luis Sarmiento (1991), os traficantes de droga [...] constituem um oligopólio cartelizado, isto é, os trafi-cantes se ajustam e respeitam um acordo informal destinado a evitar a guerra de pre-ços e o desmoronamento das cotações. En-tretanto, nos limites do oligopólio, observa-se a atividade dos traficantes menores, em concorrência uns com os outros, que divi-dem menos de 20% do mercado [...] (Idem, p. 239). Essa tese é contestada por Kopp que afirma que a queda do preço da droga pode ser detida se o oligopó-lio for suficientemente cartelizado, pois a concorrência nos países produtores é acir-rada e a capacidade dos traficantes de impedir a alta dos custos é limitada. Assim, o autor também se opões contrariamente aos que sustentam a hipótese do cartel como Michael Kennedy, Kevin Riley e Peter Reuter (1993) que consideram que reina uma forte concorrência entre os gran-des traficantes. Eles concluíram que o aumento do custo de produção da cocaína na Co-lômbia incide muito pouco sobre o preço do varejo da 45 46 LATINIDADE cocaína nos Estados Unidos. Kopp concorda com essa abordagem. Ele também afirma que os trafi-cantes constituem um oligopólio pouco cartelizado nos países produtores e que o mercado da droga funciona como um oli-gopólio constituído por bandos rivais oriun-dos da “criminalidade organizada”, subme-tido a uma forte pressão de “traficantes marginais” desejosos de derrubar a barreira da entrada para aproveitar as oportunidades de lucro desse mercado. Essas considerações explicam a formação do preço da droga, pois quando os traficantes pertencem à “criminalidade organizada” se prote-gem da repressão pela corrupção, violência e astúcia. Nessas condições, o risco de ser preso diminui e os preços aumentados geram um enorme lucro. Em contrapartida, os “pequenos traficantes” estão efetivamente ex-postos ao risco de prisão, o que constitui um custo real para eles, pois o preço não é suficientemente alto para que eles se mantenham estáveis no mercado. Essa questão é assinalada por Kopp quando afirma que o mercado atacadista da droga não é invadido por uma multidão de candidatos a lucros opulentos. Os pequenos trafi-cantes, habilidade específica de se bene-ficiar de boas relações, não encontram lugar no mercado. Essa exposição desigual ao risco é a explicação do caráter permanentemente oligopolista do mercado da droga. O autor afirma que o pre-ço da droga vendida no varejo é alto por-que o coeficiente de margem dos revendedores é tanto maior quanto mais próximos eles estão do consumidor final. Isto quer dizer que eles fixam o preço de venda da droga multiplicando o preço pago por um alto coeficiente de margem. Os revendedores no final da corrente só podem partilhar o risco de uma pequena quantidade de droga. Essa afirmação se refere à [...] grande dife-rença entre o preço pelo qual os revende-dores finais compram a droga e aquele pelo qual a revendem não corresponde, integral-mente, a um lucro. Uma parte da margem de lucro deve cobrir o custo do risco. Diversos analistas “esquecem” de tratar o risco como um custo e supervalorizam, as-sim, o lucro [...] (idem, p. 99). Essa visão ganhou uma importância decisiva quando muitos autores criticaram os fundamentos da política de repressão. Segundo Kopp (1998), autores liberais como Milton Friedman (1984; 1991), ou radicais, como CharlesHenri de Choiseul-Praslin (1991), contrários à proibi-ção da droga, consideram que a repressão aos traficantes viria dinamizar os seus lucros, pelo fato de que América Latina - Economia da droga – crime e pobreza estes últimos iriam se aproveitar da repressão policial para justificar o aumento do preço da droga. Ele discorda de Friedman e Choiseul-Praslin (1984), segundo os quais a repressão faz a felicidade dos traficantes, permitindo-lhes aumentar seu preço e seu lucro. Para o autor, essa visão é ultrapassada e consiste em afirmar que não há elasticidade total da demanda em relação ao preço, bem como igualmente negligencia a ameaça da en-trada dos pequenos traficantes, desencadeada pela alta de preços. Para Kopp, a distinção entre usuários-revendedores mais ou menos profissionalizados e os traficantes de droga consiste no fato dos primeiros não enri-quecerem com o comércio de droga (p.115). Como mercado, a economia da droga recebe tratamento distinto, assim os procedimentos repressi-vos recebem mais atenção do que os processos de tratamento e recuperação, na maioria dos países que atuam com políticas antidrogas. A principal contradição nas fundamentações de uma política de Estado no combate ao aumento do consumo de drogas consiste no questionamento sobre se ele tem o direito de impor à sociedade a interdição das drogas consideradas ilegais. Isto, levando-se em conta que as medidas da economia do “bem-estar” ou “teoria normativa do Estado” são normativas (por oposição à positiva), porque não buscam abranger o funcionamento efetivo do Estado, mas formular juízos de valor, sob a forma de recomendações, sobre o que e como deveriam ser instituições e ações do Estado. Assim, Kopp conclui que [...]a economia do bem-estar representa uma moral de natureza política que põe a tônica sobre o papel que o Estado deve desempenhar na realização do estado ideal da sociedade[...](Kopp, 1998.p. 131).E a redução do custo social determinado pelo consumo e tráfico de drogas, em um campo em que a ideolo-gia e os julgamentos morais são onipre-sentes, permite o aparecimento de visões conflitantes. Nesse caso, fundamentações como o princípio de “soberania do consumidor”, de acordo com o autor, significariam que não se pode questionar a utilidade (de um bem) em função do valor que pode lhe ser atribuída. No entanto, há bens sob tutela, cujo acesso, direta ou indiretamente, é controlado pelo poder público. Esses bens apresentam característi-cas que, segundo o autor, parece pouco apropriado con-fiar no mercado para assegurar sua apli-cação. A intervenção pública consiste, então, em impor aos indivíduos escolhas diferentes daquelas que eles fariam sem obrigação. A intervenção força o 47 48 LATINIDADE consumo de bens aos quais os agentes não consagrariam, espontaneamente, recursos sufi-cientes como vacinas, seguros e educação. Apesar de essa intervenção provocar consequências positivas como frear o con-sumo de produtos cujos prejuízos ficam mais evidentes com os desvios dos indivíduos com comportamentos abusivos de drogas, a tutela do Estado sobre a droga pode ser justificada com a teoria normativa do Estado. Assim, o consumo de droga investe contra uma das duas hipóteses básicas dessa teo-ria: a primeira “na racionalidade” (os indivíduos fazem o que preferem), e a outra na soberania do consumidor (o indivíduo é o melhor juiz de seu bem-estar). Pela teoria normativa do Estado, os consu-midores de droga seriam irracionais ou igno-rantes, e uma resposta positiva a essa questão penderia em favor da intervenção pública e da interdição das drogas. Segundo as teses liberais desenvolvidas por Buchanan (1996), a hipótese de irracionalidade dos consumidores de droga é, propriamente, absurda. Para ele, ninguém pode saber melhor que o próprio indivíduo o que é bom para ele. Essa posição é contestada por Kopp que afirma se afastar da economia paretiana normativa excluindo o fato de que o Estado possa ser justificado enquanto referência do que os indivíduos escolheriam livremente. A economia do bem-estar não se fun-damenta no respeito à liberdade, mas sobre o “bem-estar” aparente dos indivíduos. Também pode se justificar pela teo-ria de otimização. A intervenção obrigatória do Estado que protege o consumidor contra ele mesmo. O custo social da droga é constituído pela soma dos danos provocados na sociedade. Alguns estão diretamente ligados à utilização da droga e, especialmente, ao uso abusivo. Outros, os mais graves, não estão dire-tamente ligados ao uso da dose, mas acompanham esse consumo. Trata-se, em particular, da violência das atividades cri-minosas conectadas com a distribuição da droga. Ele afirma que, por mais paradoxal que possa pare-cer, a violência associada à venda da droga e o desenvolvimento de uma economia criminal não estão ligados às características psicofarmacêuticas dos produtos concernentes, mas sim à intervenção pública repressiva, que acompanha a decisão de interditar as drogas. Por isso, a interdição pura e simples da droga tem sua justificativa normativa na desinformação do consumidor, antes que sua pretensa irracionalidade venha se manifestar. E tomando como referência a proibição do álcool nos Estados Unidos, Kopp explica que naquele país ocorreu uma incidência da alta de preços durante o América Latina - Economia da droga – crime e pobreza impedimento do consumo e, por outro lado, observou-se uma discre-ta baixa do consumo, em comparação com o aumento do preço (entre 20% e 30%). Dessa forma, a proibição da droga torna-a rara e cara, suscitando um tráfico lucrativo, uma significativa economia criminal e um alto grau de delinquência. O tema da lega-lização da droga reúne pensadores como Nadelman (1994), que se preocu-pa com os direitos dos indivíduos, Ostrowski (1990), hostil à intervenção pública, e o prêmio Nobel de economia Milton Friedman (1984). Segundo esses autores, os partidários da proibição deveriam provar que o consumo de droga vai crescer depois da legalização do comércio de droga. Por esse motivo, o dano causado por este consumo acrescido não será compensado pelo aparecimento de substitutos e de drogas legais mais seguras e sem efeitos secundários sobre a saúde. Este mesmo dano provocado pelo consumo acrescido não será compensado por uma redução do uso de outros produtos perigosos para a saúde, como o álcool e o tabaco. Eles também questionam se o dano cau-sado pelo consumo acrescido e não com-pensado ultrapassa o que é causado hoje pelos efeitos perversos da proibição. No entanto, Kopp afirma que seria importante que os partidários da liberação do consumo de drogas ilegais demonstrassem que não existe impacto negativo sobre o consumo da droga, se efetivada uma política de liberdade de consumo. Os partidários da liberação enfatizam que a proibição favorece o desenvolvimen-to de atividades ilegais. Em caso de conflito, os participantes da economia criminal não poderiam recorrer ao sistema judiciário para se defender. A partir de certo grau de atividade criminosa, um indivíduo sabe que é inútil moderar sua atitude, pois esse comportamento não viria reduzir substancialmente as penas em que incorre. Para Milton Friedman [...] a lei tem, pois, um efeito incitador sobre os agentes, que os leva a recorrer à violência para evitar ser preso e não a limitar o número de infrações cometidas. Assim, a violência resultaria da interdição da droga e não do consumo do produto [...] (p.131). A proibição incita os agentes a se agru-parem em organizações criminais, afirma Kopp. Essas organizações utilizam a violência para desencorajar os 49 50 LATINIDADE pequenos traficantes. Nos mercados ilegais, a concorrência é regulada pela violência. O pequeno traficante torna-se frágil a essa situação. Portanto, no mercado ilegal, a organização restaura sua supremacia pelo menor custo, o que não ocorre num mercado livre. Kopp conclui que é forçoso reconhecer que a proibição da droga gera violência e dinamiza a atividade do crime organizado. Os autores que defendem a liberação do consumo de drogas ilegais alegam que o efeito de uma eventual legalização da droga seria a baixa de preços. Bertrand Lemennicier (1992) pensa igualmente que a liberação teria pouco impacto sobre a demanda. Ele considera que os consumidores de droga se dividem em três grupos: o primeiro, composto por indivíduos que nunca consumirão droga, qualquer que seja o preço. Portanto, eles são insensíveis ao regime legal ao qual a droga é submetida. Proibição ou legaliza-ção, seu consumo é nulo. O segundo grupo abrange os indiví-duos que já consomem droga, apesar da interdição. Suas preferências são côncavas; eles não distribuem sua renda por uma aquisição de bens diversificados. Ao con-trário, eles preferem concentrar suas despesas sobre um único bem, a ocorrên-cia da droga. Em caso de liberação, eles aproveitarão a baixa de preços para aumentar o consumo. E o terceiro é formado por aqueles que não consomem droga, mas não pensam num interdito absoluto sobre ela. Para Kopp , é vital saber se esse grupo se voltará para a droga, em caso de liberação e de baixa dos preços. Para Lemennicier, independente da proibição do consumo de drogas ilegais, os revendedores de droga distribuem gratuitamente a droga para atrair novos clientes, sabendo que, uma vez agarrados, eles pagarão o preço mais alto. Portanto, o “efeito de participação” é integralmente captado pela estratégia de marketing dos traficantes. Aqueles que podem ser tentados para o consumo o farão necessariamente, apesar da proibição, no dia em que cruzarem com um revendedor. A estratégia dos revende-dores explicaria, então, por que a demanda da droga aumenta, apesar da proibição. Conforme o autor, a liberação da droga determina o aumento da quantidade da droga con-sumida, mas não o do número dos con-sumidores. Os consumidores atuais de droga aproveitariam mais, mas ninguém aproveitaria a baixa de preços para se iniciar na droga porque isso já teria acontecido, no tempo da proibição, pelo viés da dis-tribuição gratuita da droga. O autor discute também uma questão de grande relevância que se refere à divergência entre o custo privado e o custo social sofrido pela sociedade América Latina - Economia da droga – crime e pobreza com o aumento do consumo de drogas ilegais. O modelo econômico que analisa a diferença entre o custo privado e o custo social da sociedade com o consumo de drogas denomina-se pigoviano. Esse modelo propõe trazer o consumo da droga para um nível otimizado. O consumo socialmente otimizado de droga seria aquele em que o custo social da droga fosse igual ao preço pago pelos consumi-dores. O nível otimizado não corresponde ao con-sumo zero. Para ele, o custo social é, portanto, muito superior ao benefício priva-do dos consumidores. A política pública combina geralmente três tipos de medidas clássicas: a adoção de programas educativos antidrogas; a repressão (que age como uma taxa ao consu-mo) e a redução forçada da oferta. Para o autor, a ação antidroga tanto possibilita reduzir o consumo como aumenta o custo social da droga. Por isso, a política repressiva acaba por incrementar o custo externo (delinquência e aumento de doenças transmissí-veis). A taxa imposta aos consumidores pela repressão provoca uma alta dos delitos e do pequeno tráfico que sustentam o autoconsumo. Em conseqüência, a taxa não é paga pelo consumidor de droga, mas pela sociedade como um todo, o que aumenta o custo social. A intervenção pública é, pois, um fator de crescimento do custo social, apesar da diminuição das quantidades consumidas que provoca. Por isso, afirma ser [...] impossível determinar o montante dos recursos necessários à repressão do consumo e do tráfico de droga pela regra de nivelamento do benefício marginal da redução do consumo e do custo marginal das medidas adotadas. Portanto, não parece sensato reduzir o consumo da droga aumentando a severidade das penas que inci-dem sobre os consumidores ou os traficantes, ou ambos.” (Kopp, 1998, p. 164.) A análise do conceito de custo social total, que afeta os consumido-res de droga tanto quanto o resto da socie-dade, percebe-se que ele é entendido pelo produto do consumo total e do custo social médio por unidade de consumo. Esse custo social total pode, portanto, ser reduzido, agindo-se sobre um ou outro de seus dois componentes. Para Kopp, a redução do consumo não constitui um princípio satisfatório para orientar a política antidroga, pois “tal objetivo não considera o fato de que a coletividade é afetada de maneira diferente pelo consumo de diferentes dro-gas, tanto como pelas modalidades segun-do as quais os consumidores 51 52 LATINIDADE as utilizam. Por exemplo, persuadir um consumidor de heroína por via intravenosa a abandonar as injeções substituindo-as pela via nasal é mais benéfico para a sociedade do que convencer um utilizador ocasional de ma-conha a romper definitivamente com este hábito. Da mesma forma, a redução do consumo ocasional de droga é praticamen-te sem efeito sobre o montante global dos danos gerados pela droga.” (Kopp, 1998. p. 179). Também enfatiza que fazer da redução do consumo o único objetivo da política antidroga leva à aloca-ção ineficiente dos recursos destinados a esta luta. O autor realça que a conseqüência desse objetivo se concentra sobre os usuários ocasionais, que são os mais fáceis de desestimular e cuja mudança de atitude em relação à droga afeta positiva-mente, com menos custo, o número de consumidores de drogas. Contudo, essa po-lítica negligencia o fato de que os consumidores com usos abusivos provo-cam custos bem superiores. Para o autor, o número de consumidores de droga não deve desempe-nhar um papel independente do custo social quanto à definição da política pública. A política antidroga deve ter por obje-tivo reduzir o custo social determinado pela droga e sustentado pela sociedade. Assim, cada política, ou programa, deve ser avaliado segundo sua capacidade de reduzir os efeitos negativos da droga sobre a socieda-de. Se uma política permite limitar o mon-tante dos prejuízos da droga, ela deve ser mantida, senão é preciso rejeitá-la. À me-dida que a intervenção pública, em par-ticular a repressão ao tráfico e ao consumo, afeta de maneira determinante o preço da droga, devemos nos interrogar sobre o preço otimizado da droga, isto é, aquele que minimiza o custo social. Os estudos do autor sobre A economia da droga demonstrar que, em muitos casos, o número de consumidores de droga e o custo social não estão, necessariamente, positivamente correlacionados, pois existem circunstâncias em que as autoridades públicas não devem procurar diminuir o número de consumido-res, por exemplo, quando os programas de políticas públicas que permitem tal dimi-nuição contribuem para aumentar o custo social da droga (Idem, op.cit). Assim, a política repressiva pode contribuir a levar o preço da droga a um nível tão elevado que causa mais pro-blemas do que resolve, pelo freio do consu-mo, por meio do preço elevado (p. 181). Michel Misse6 propõe alguns operadores analíticos que procuram especificar os processos sociais que materializam a criminalização, isto é, a construção social do crime. Assim, as dimensões desses processos são América Latina - Economia da droga – crime e pobreza compreendidas em quatro níveis interconectados, a saber: a) criminalização de um curso de ação típico idealmente definido como “crime” (através da reação moral à generalidade que define tal curso de ação e o põe nos códigos, institucionalizando sua sanção); b) a criminação de um evento, pelas sucessivas interpretações que encaixam um curso de ação local e singular na classificação criminalizadora; c) a incriminação do suposto sujeito autor do evento, em virtude de testemunhos ou evidências intersubjetivamente partilhadas e d) a sujeição criminal, através da qual são selecionados preventivamente os supostos sujeitos cujo caráter é socialmente considerado como “propenso a cometer um crime.” (Misse, 2008).7 Ellen Wood afirma em seu livro “Democracia contra capitalismo” que o referencial teórico que habilita a crítica do capitalismo é o materialismo histórico. A autora identifica a especificidade do capitalismo como um sistema de relações sociais de poder político. A percepção de democracia avança sobre a dita “democracia” das representações políticas contextualizadas no sufrágio universal que operam o Sistema Capitalista. Demonstra que hoje o conceito de democracia foi esvaziado de seu conteúdo social, nada mais tendo a ver com a distribuição de poder social ou econômico entre as classes. A democracia passou a ser entendida em termos de cidadania passiva, ou na melhor das hipóteses, como os direitos dos indivíduos de assegurar algumas proteções contra o poder de outros. Para Wood, o processo de “pacificação” ou neutralização da democracia, que a transforma em uma democracia formal, é uma responsabilidade do modo de produção capitalista. Assim como o capitalismo criou uma esfera econômica autônoma, também criou uma esfera política separada, a que corresponde um tipo de democracia que não atinge os outros domínios da realidade social. No livro organizado por Sader e Garcia, “Brasil entre o passado e o futuro”, Pochmann, Sader e Garcia abordam as transformações e avanços das Políticas Públicas no Brasil, possibilitando uma reflexão indicativa das alternativas contemporâneas na Segurança Pública brasileira. De acordo com Sader, convivem no Estado brasileiro diversos modos de produção e plurais formas de relacionamento onde o futuro constróise por vários caminhos porque o presente se resolve de várias maneiras concomitantes e divergentes. Sader no livro “A Nova Topeira – Os Caminhos da Esquerda Latino-Americana” apresenta que “a produção das condições materiais de existência gera as formas de consciência e de alienação no homem; a objetividade e subjetividade são duas expressões projetadas desse 53 54 LATINIDADE homem que, ao transformar o mundo, transforma a si mesmo.” (Sader, 2009. p 19). Essas perspectivas são trabalhadas e analisadas na conjuntura contemporânea brasileira e na construção estrutural do Estado Nacional nos artigos “A sociedade pela qual se luta” e “O lugar do Brasil no Mundo - A Política Externa em um Momento de Transição dos autores Pochmann e Garcia respectivamente. A historiadora, pesquisadora do CNPq, professora aposentada da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora visitante na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da FIOCRUZ, no Rio de Janeiro, Profa. Dra. Virgínia Fontes analisa o Estado, a democracia e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Os objetos de estudos prioritários de Fontes são as formas contemporâneas do modo de produção capitalista, o sistema internacional da dominação do capital, a dinâmica da luta de classes no Brasil contemporâneo, as manifestações do inconformismo e do amoldamento da classe trabalhadora além, assim como a Profa. Dra. Ellen Wood, das questões sobre democracia. Virgínia Fontes nos apresenta uma reflexão na qual articula todas estas dimensões na perspectiva de uma totalidade político-econômica daquilo que denomina “capital-imperialismo”. Fontes procura articular as dimensões da determinação econômica próprias da essencialidade do capital e de seu processo de ‘valorização do valor’, com as diversas manifestações que passam a incidir em todo o tecido da vida social, cultural, ideológica e política da sociabilidade submetida ao capital. A análise de Fontes pretende mostrar os elementos essenciais do momento do modo de produção capitalista, com um trabalho que constrói paralelidades com Lênin, onde o desenvolvimento aponta para uma nova fase contemporânea, que seria o capital-imperialismo. O essencial no conceito apresentado é a possibilidade de compreender o fenômeno não apenas como uma dominação de um centro sobre uma periferia, mas como uma relação na qual é possível que a subordinação das economias de ‘capitalismo tardio’ não impeça o protagonismo de países nas diferentes frentes de valorização deste denominado “capital-imperialismo”. Fontes realça que capital-imperialismo não é apenas uma expressão da forma atual da dominação dos monopólios e da partilha do mundo, formando áreas de exportação de capitais, mas um sistema que tem que equacionar os meios e formas de dominação. Lênin em seu livro “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, escrito em 1916, analisa as América Latina - Economia da droga – crime e pobreza relações existentes entre o imperialismo e a guerra e estabelece as bases teóricas para a compreensão da fundamentação econômica do período Imperialista. A visão de mundo apresentada por Virginia Fontes contribuirá de forma decisiva para a nossa análise sobre o Plano Colômbia e a determinação da noção de “Segurança” que os EUA procuram impor para a América Latina e particularmente para o Brasil. Aprofundamos na análise da obra de Ruy Mauro Marini as temáticas mais relevantes para o nosso projeto, como os conceitos de desenvolvimento, dependência e redução da função do Estado. Ao trabalhar o modelo de acumulação capitalista nos países da América Latina, Marini “fornece fatores de produção que permitem a reprodução de capital nas economias centrais do capitalismo e, ao mesmo tempo, condiciona as burguesias da periferia, inferiorizadas na competição pelo mercado internacional, a induzir em nossas formações o processo de superexploração do trabalho” (apud SADER, 2009, p. 31). O estudo de Marini sobre os Estados na América Latina explicita que a emergência de uma nova ordem estatal na América Latina está relacionada a três questões: a primeira está associada com as formas de participação da sociedade e as estruturas do exercício do poder na democracia. A segunda analisa a capacidade da sociedade para formular e programar políticas de interesses sociais que diferencie autonomia e dependência e a terceira vislumbra a perspectiva de transformação mundial e o futuro da América Latina neste contexto. Consideramos como os autores apresentados e, sobretudo Marini, que o poder popular e os movimentos sociais, autonomia e dependência caracterizam a atual situação que se circunscreve a temática do Estado latino-americano para Marini. Marini coloca que o movimento social se orienta para a proposta de uma área social regida pelo princípio da autogestão e da subordinação dos instrumentos estatais de regulação as organizações populares. Pois, La experiencia de los pueblos latinoamericanos les ha enseñado que la concentración de poderes en manos del Estado, cuando éste no es suyo, apenas lo refuerza en tanto que máquina de opresión de la burguesía. Debilitarlo hoy, restarle fuerza económica y política interesa, pues, al movimiento popular, siempre que ello implique transferencia de atribuciones y riqueza no a la burguesía, sino al pueblo (MARINI, 1991, p. 3). 55 56 LATINIDADE A caracterização dos países em “atrasados” na obra de Marini decorre da relação do capitalismo mundial de dependência entre países “centrais” e países “periféricos”. Países “centrais”, como centro da economia mundial será identificado nos espaços em que ocorrem a manifestação do meio técnico científico informacional em escala ampliada e os fluxos igualmente fluam com mais intensidade. A periferia mundial (países periféricos) se apresente como aqueles espaços onde os fluxos, o desenvolvimento da ciência, da técnica e da informação ocorram em menor escala e as interações em relação ao centro se dêem gradativamente. O Plano Colômbia, entrada da estratégia de interesse em Segurança Pública dos EUA na América Latina, é analisado sob as referências conceituais das pesquisas sobre a “dialética da dependência” de Marini. NOTAS 1 A policia do Rio de Janeiro matou entre 2006 a 2010, mais pessoas em “confronto” do que todas as 21 mil corporações dos Estados Unidos, segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. Em 2010 o Estado do Rio contabilizou 30% de aumento de jovens e adolescentes mortos nas comunidades pobres em relação a 2006. 2 Onde o número de pessoas portando fuzis não chega a 1% dos moradores. 3 NEVES, Lúcia & PRONKO, Marcela. A Atualidade das Idéias de Nico Poulantzas no Entendimento das Políticas Sociais no Século XXI. In: Germinal: Marxismo e Educação em Debate. Londrina, v.1.n.2.p.97-111. Janeiro. 2010. 4 Tanto a cocaína quanto a heroína tiveram sua produção ampliada, considerando-se que, das 400 toneladas de heroína produzidas anualmente, somente os Estados Unidos consomem cerca de 20 toneladas a cada ano. A heroína, a cocaína e a maconha, três drogas ilegais, abrangem um mercado de 1,2 bilhões de dólares, segundo dados do órgão norte-americano Internacional Narcotic Control Strategy Report (NCIS). 5 Kopp, op. cit. 1998, p.93 apresenta percentuais dos custos que os riscos implementam na comercialização ilegal das drogas e assinala [...]quando a co-caína está prestes a ser exportada, este cus-to sempre representa 1,5% do preço final. Enquanto que o custo do risco do contrabando para transportar a droga para os Estados Unidos representa 10% do preço final [...]. 6 Coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana do IFCS/ UFRJ, pesquisador Segurança Pública no Brasil contemporâneo 7 Esses estudos e pesquisas se justificam devido à situação brasileira, que atualmente ocupa o ranking dos países com os mais altos índices de homicídios. A taxa de assassinatos por 100 mil habitantes é de 25,2%%, conforme o Mapa da Violência do Instituto Sangari. Esses números colocam o Brasil entre os seis países mais violentos do mundo. O ranking é liderado por El Salvador, Colômbia, Ilhas Virgens e Venezuela. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMADO, Luiz Antonio Saléh Amado. A Educação e a Formação Profissional nas Sociedades Contemporâneas: Problematizando Algumas Questões. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Rio de Janeiro, 2007. América Latina - Economia da droga – crime e pobreza ANDERSON, Perry. 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Rio de Janeiro. 1999. 61 62 LATINIDADE RESUMEN El estudio aborda la droga economía.La demanda de drogas considerado ilegal representa uno de los puntos principales para la problematizações de la política pública en seguridad pública. El aumento en el precio de los medicamentos implica ‘ reduce la reacción de consumo y de los consumidores. Como la represión provoca el precio alto, cuando se produce esta situación, el consumidores drogas a auge. El aumento de las tasas de criminalidad en Brasil y las actividades de las organizaciones delictivas transnacionales han puesto la seguridad pública como una de las políticas de prioridad en el Gobierno del ex Presidente Lula (2002-2010). La Secretaría Nacional de ofrecer una seguridad pública del gobierno Lula presentó el proyecto de seguridad pública de aumento de la delincuencia creciente tráfico de drogas y armas, mientras que la articulación entre estos dos ilícitos aumenta y diversifica las actividades delictivas. Palabrasclave: Drogas Economía – Criminalidad – Segurança Pública ABSTRACT The study deals with the drug Economy. The demand for Drugs considered illegal represents one of the main points for the problematizações of public policy in public safety. The increase in the price of drugs involves ‘ reduced consumption and consumer reaction. As the repression provokes the high price, when this situation occurs, the drug should re-articulate. The increase in crime rates in Brazil and the activities of transnational criminal organizations have put public safety as one of the priority policies in the Government of former President Lula (2002-2010). The National Secretariat of Public Security of the Government Lula presented the Public Safety project of increasing the rising crime trafficking in drugs and weapons, whereas articulation between these two illicit enhances and diversifies the criminal activitie. Keywords: Drug economy – Criminality – Public Safety. Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira Educação – Ética e Políticas Públicas Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira Célia F. Linhares - Prof.ª Emérita da Uff Maria Cristina Leal - Consultora de Política Social RESUMO Este artigo busca contribuir, com um debate, que, como ação, potencialize o campo da educação, atualmente invadido por modelos de especulação financeira globalizados, procurando, simultaneamente, assinalar as tensões entre essa invasão e as múltiplas resistências criadoras (movimentos instituintes), que sempre percorreram a história e que vimos estudando, principalmente, nas instituições escolares e universitárias. Nessa direção, as autoras selecionam algumas políticas públicas de educação – gestão educacional, formação de professores e avaliação educacional – para demonstrar de que modo a transposição de padrões de planejamento, ação e avaliação do capital financeiro têm agravado e impactado essas políticas educacionais, comprometendo suas bases éticas. Isso porque impõem um estilo fastfood aos processos educacionais, que se espalha e contamina os percursos de aprendizagem-ensinagem, confinando-os, não só às lógicas de um tipo de custo/benefício, mas à corrida vertiginosa por sucesso, onde são valorizadas espertezas e ganâncias sem limites, que se “validam” em hastes de compra e venda de papéis. Tudo isso tem sido altamente vantajoso para os que vendem a ilusão de treinamento/capacitação rápidos, com imediatas aplicações, garantindo sucessos e expansão do modelo, altas posições nos rankings. Essas transposições ao campo escolar e universitário, ainda que hegemônicas, se embatem com a insurgência de movimentos de reinvenção da cultura acadêmica e escolar, que se entrelaçam, ética e esteticamente, com as forças sociais. A pesquisa, ora apresentada, cotejou depoimentos e entrevistas de gestores, professores e agentes em suas análises do campo educacional. Palavras-chave: Educação – Ética – Políticas Públicas. 1. INTRODUÇÃO “No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato dá erro contra a gente. Não se queira” João Guimarães Rosa O dever de um homem é ser justo e honrado ou enriquecer? Raul Brandão 63 64 LATINIDADE Enquanto os bancos públicos e privados fecham seus respectivos balanços com lucros altíssimos (o exemplo brasileiro pode ser dado pelo lucro de quatorze bilhões e seiscentos mil reais de um banco privado, marcando o maior lucro bancário da história do país e, de cerca de 38% a mais no ano de 2011 de um banco público), o gargalo na educação se mantém forte (há cerca de 3, 8 milhões de crianças e jovens fora da escola no Brasil), isso para não falar nos níveis de evasão e fracasso que vêm marcando os processos de aprendizagens e ensinagens escolares Para dar conta desses contrapontos, ou seja, lucros e esquemas de proteção máxima para o capital financeiro e a conciliação de problemas crônicos e graves, com alguns avanços sociais nas políticas públicas educacionais, vamos buscar dados semelhantes aos brasileiros, na América Latina e em alguns países de outro continente (casos da Grécia e de Portugal que sofrem pressões para reduzir os gastos públicos, enquanto instrumentos focados na salvação do euro). Vivemos, assim, tempos nos quais os valores da moeda, do capital se sobrepõem, como nunca, ao valor do humano. A valorização do capital financeiro no mercado brasileiro se alimenta dos sinais positivos, ou não, da situação da Grécia. Diferente disso o capital industrial sofre com a falta de estímulo à produção dada a disputa acirrada de produtos vindos de outros países a preços bem mais baixos. O setor de serviços, como o das portas de entrada e saída, seja de produtos, seja de pessoas, também lidera empreendimentos lucrativos (caso da privatização ou concessões de uso de espaços públicos, meios de comunicação, etc., por meio de leilões de aeroportos em tempos de grandes eventos mundiais sediados em alguns países) em oposição à possibilidade de se garantir direitos básicos a população como educação. Assim, um aeroporto com possibilidade de grande fluxo de passageiros e mercadorias torna-se mais importante em termos de se buscar gestão e qualidade de oferta de serviços do que a educação do povo. O que nos leva a estabelecer esse contraste entre a política educacional e o capital financeiro é a hipótese que mesmo em crise ou, melhor como vem sendo dito, passando por tormentas, há sempre possibilidade de lucro e negociação (jogo de soma zero, no qual uns perdem, mas outros ganham). No caso da educação, apesar das resistências criadoras e do empenho popular e, em especial dos movimentos dos educadores para reverter essa situação, é fácil constatar como a especulação financeira vem se impondo como uma inversão do ethos social e, assim, se espalha na sociedade e penetra na escola. Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira Então, a cultura fica permeada por um sistema de travas e obstáculos à democracia, não só atrofiando os processos decisórios, mas a própria escola passa a ser atravessada por caminhos pré-fabricados, onde o conformismo e a ausência de questões nutrindo uma pressa que só facilita o fortalecimento de um pensamento único que, com frequência, é apresentado como um portal de êxitos e sucessos aos que o incorporam e o expressam nos testes homogeneizados. Mas, importa reconhecer como essa globalização financeira, que vem destruindo as instituições escolares, estreitando-lhes os territórios de vida, onde poderiam vicejar curiosidades, elaborações de conhecimentos vivos e contextualizados, a alimentar subjetivações criadoras e compartilhamentos democráticos, tem uma disseminação global. Por exemplo, na literatura histórico-sociológica anglo-saxã, alguns investigadores, como Labaree (2005, p.186-195), constatam que as práticas pedagógicas tem se afastado dos empenhos progressistas que as caracterizaram a décadas atrás. Esse mesmo antagonismo vem sendo assinalado no Brasil. em que nos discursos pedagógicos prevalecem posições de autonomia e criação, enquanto na prática as tendências enfatizam uma maior força reprodutora e continuísta (LINHARES, 1997, p. 201-233), mesmo sob o glamour de novidades, como uma aparente volatização de controles que na escola não escondem os processos de centralização e as marchas dos recorrências e mesmices. Como tudo isso tem correspondências, diretas ou indiretas, com as lógicas da globalização financeira, um tipo de “vale tudo” vem sendo explorado no sistema escolar e universitário. Assim, a pirataria eletrônica, que se expande desde as pesquisas escolares, vai se ampliando e se sofisticando nas universidades em alta escala. Há exemplos emblemáticos como o do Presidente da Hungria, Pal Schmitt e o do ministro alemão de defesa, Kar Theodor zu Guttenberg.1 O primeiro, que havia feito plágios em sua tese doutoral, com o que invallidou seu título acadêmico, anos atrás, acaba de perder, como consequência daquele delito, a presidência do seu país. O segundo também provocou amplas discussões e escândalos com a suspeita, no ano passado, de plagiar sua tese acadêmica o que lhe valeu a queda de sua posição ministerial. Mas, ainda poderíamos destacar os títulos vazios, que empresas educacionais oferecem como formas de promover currículos e, recorrendo ao cotidiano, atestar a velocidade das cópias e colagens com que, desde 65 66 LATINIDADE cedo até os altos níveis universitários, se processam esses trabalhos ditos de pesquisa. Todas essas constatações mostram seu caráter agressivo quando o nosso foco recai nas perdas que vêm se acumulando nos processos de formação da autonomia institucional, professoral, estudantil que vem sendo mantida quase asfixiada nos limites dos direitos do consumidor, ao invés de um empenho público em prol de uma educação, como formação humana, social e vital para todas e todos. Mas, muito teríamos que escrever, trazendo a vitalidade dos movimentos instituintes que vêm se enfrentando com velhas contradições dos sistemas educativos, Um dos mais amuralhados esquemas que impedem o fluxo criador da democracia educacional reside em conjunções entre desigualdades hierarquizadas com massificações, umas e outras, com alta dose de reprodução social e busca de ratificação de modelos padronizados de afirmação política, cultural e educativa. Para consolidar essa equação funcional entram sempre as reformas inovadoras, propondo novos arranjos, miraculosos e apressados, que só reiteram excludências e elitismo, embora sob promessas veiculadas em fascinantes embalagens dos procedimentos novos, como o são as da globalização financeira. Como vimos, um dos nutrientes da especulação financeira é a ausência de responsabilidade social e o descolamento da problemática histórica, enquanto são debilitadas as decisões compartilhadas que atentam para as urgências comuns, que têm suas histórias reforçadas na autonomia coletiva e no empenho de includências éticas e estéticas. Entre tantas experiências que se alastraram no Brasil, vamos mencionar algumas fontes onde elas são apresentadas, como resultado de pesquisas nacionais que vimos desenvolvendo (LINHARES, 2007, p.139-160). Nesses livros e artigos, elas aparecem com diferentes formas de ressonâncias e desdobramentos, mostrando ser possível que a escola contemporânea brasileira assuma, como fontes inspiradoras, a autonomia docente e discente para a condução de processos que se revigorem pelo empenho de sustentabilidade da própria vida, com suas multiplicidades de pensar, como ação. 2. A FORÇA DO CONTRASTE DOS DADOS Vejamos os indicadores que a seguir apresentamos, pois eles quantificam, aterializando dimensões de alta gravidade que trazemos ao debate. Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira TABELA I – PIB PAÍSES DA AMÉRICA LATINA (2010) Posição 8º 11º 23º País PIB Data da informação Brasil $ 2,172,000,000,000 2010 est. México $ 1,567,000,000,000 2010 est. Argentina $ 596,000,000,000 2010 est. 28º Colômbia $ 435,400,000,000 2010 est. 34º Venezuela $ 345,200,000,000 2010 est. 42º Peru $ 275,700,000,000 2010 est. 45º Chile $ 257,900,000,000 2010 est. 63º Equador $ 115,000,000,000 2010 est. 74º República Dominicana $ 87,250,000,000 2010 est. 81º Guatemala $ 70,150,000,000 2010 est. 90º Costa Rica $ 51,170,000,000 2010 est. 91º Uruguai $ 47,990,000,000 2010 est. 92º Bolívia $ 47,880,000,000 2010 est. 93º Panamá $ 44,360,000,000 2010 est. 95º El Salvador $ 43,570,000,000 2010 est. 103º Honduras $ 33,630,000,000 2010 est. 104º Paraguai $ 33,310,000,000 2010 est. 111º Trinidade e Tobago $ 26,100,000,000 2010 est. 129º Nicarágua $ 17,710,000,000 2010 est. 145º Haiti $ 11,480,000,000 2010 est. 159º Guiana $ 5,379,000,000 2010 est. 164º Suriname $ 4,711,000,000 2010 est. 67 68 LATINIDADE TABELA II – IDH PAÍSES DA AMÉRICA LATINA (2010) Posição País Valor do IDH 2010 42º Barbados 0.788 43º Bahamas 0.784 45º Chile 0.783 46º Argentina 0.775 52º Uruguai 0.765 54º Panamá 0.755 56º México 0.750 59º Trinidade e Tobago 0.736 62º Costa Rica 0.725 63º Peru 0.723 73º Brasil 0.699 75º Venezuela 0.696 77º Equador 0.695 79º Colômbia 0.689 80º Jamaica 0.688 88º República Dominicana 0.663 90º El Salvador 0.659 95º Bolívia 0.643 96º Paraguai 0.640 106º Honduras 0.604 115º Nicarágua 0.565 116º Guatemala 0.560 145º Haiti 0.404 O contraste entre os indicadores é claro e revela que mesmo com grande crescimento (Brasil é a 8ª economia) os compromissos dos países com o desenvolvimento humano (Brasil ocupa o 73º lugar) não apresentam sinergia, ou seja, o valor dos bens econômicos se sobrepõe ao valor do ser humano. Quando comparamos os mesmos indicadores para países em crise, na zona do euro, temos os seguintes dados e comentários: Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira GRÁFICO I - GRÉCIA VS. PORTUGAL: PIB Melhor desempenho...(PIB, variação (%) Melhores rendimentos (R ‘per capita', EUR27=100) Nos últimos dez anos, a economia grega cresceu ao ritmo de 3,5% ao ano; o ritmo português não chegou a 1%. Não admira que, no mesmo período, e para uma EU=100, a Grécia tenha pulado 10 pontos para 94, enquanto Portugal caía dois pontos para 76. Junte-se a tudo isto os salários e teremos o quadro completo: a Grécia tem condições para se recuperar melhor do que nós.4 69 70 LATINIDADE TABELA III – PAÍSES COM DESENVOLVIMENTO HUMANO MUITO ALTO Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira Especialmente os dados sobre Grécia e Portugal revelam que a crise econômica e a pressão pela aprovação interna de planos que impõem aos cidadãos desses países sacrifícios e perdas irreparáveis, indicam à necessidade de se repensar a sociedade globalizada de consumismo exacerbado. A esse respeito vale mencionar as reflexões de Baumann em recente entrevista ao programa Sem Fronteiras (exibido na Globonews em 11/2/ 2012) sobre a necessidade de se reorientar os valores que regem a sociedade, o que nos leva a dirigir nosso debate para problemas das políticas de educação, com foco na formação dos professores e nos padrões de avaliação vigentes. 3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SISTEMAS DE AVALIAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA UMA NOVA LÓGICA DE FORMAÇÃO HUMANA As avaliações são contestadas como mecanismo capaz de retratar o desempenho do sistema de ensino e meio de legitimar a bonificação de escolas e pessoal do magistério. A esse respeito vale o comentário a seguir: Daria uma dissertação de estatística mostrar como a validade das informações de testes padronizados só são válidas se certos prérequisitos forem satisfeitos. Daria uma dissertação explicar para burocratas que medições tem domínios de validade muito estreitos e que testes padronizados dizem muito pouco sobre o desempenho de uma rede!6 A questão da formação de professores é alvo de críticas por alguns gestores, oriundos de agências públicas ou privadas e, muitas vezes, estranhos a história e lutas da educação, por ser considerada muito acadêmica. A formação que o professor recebe é muita academicista. Talvez fosse mais adequada para formar pesquisadores - ainda assim tenho as minhas dúvidas -, mas não para formar professores... . O professor precisa aprender o que de fato o instrumentalize para atuação em sala de aula. A especialista da consultoria Mackinsey Mona Mourshed analisou redes de ensino em todo mundo e concluiu que as de melhor desempenho atraem os 20% melhores alunos de 2º grau. No Brasil, no entanto, atrai os 20% piores. Temos de mudar esse quadro. O professor precisa ser valorizado não porque é um coitadinho. Ele tem de ser visto como um profissional competente, preparado (Costin, 2010). 71 72 LATINIDADE Na opinião dos professores e demais profissionais do magistério, quando se agrega gente sem experiência na educação, seguidores de manuais de gestão, calcados em lógicas empresariais, pautados por normas e critérios estranhos ao campo educacional, para assumir os rumos da educação pública, o resultado, além de inexpressivo (como apontam as avaliações formais), demonstra que mesmo com um tipo de validação, tão linear como o custo/benefício, os resultados ficam longe de um nível satisfatório. 4. PADRÃO DE GESTÃO ESCOLAR NOS MOLDES DO CAPITAL FINANCEIRO Assim, como na era do capital industrial, quando a educação escolar tinha a sua organização regulada pelo mesmas lógicas da fábrica e da indústria, atualmente, é pelo padrão de organização do sistema financeiro, que se planeja, executa e avalia o sistema escolar. Algumas críticas a esse padrão podem ser encontradas em reprodução de notícias de jornais e depoimentos de professores nas redes sociais. Selecionamos alguns flashes, tais como: Assim, como na administração financeira se multiplicam vínculos, de alta fragilidade, nas escolas, os professores também narram que não somente mantém cargos docentes com apenas 12 horas de trabalho semanal, com um agravante de terem sido concursados para esse trabalho, mas, além disso, são obrigados a migrar para outra escola, para completar as horas previstas de sua carga docente. Outros relatam que além de cumprir as tarefas contratuais em sua instituição escolar de lotação, quando o sua carga contratual não for preenchida, os professores deverão complementá-la com trabalhos a seren desenvolvidos em outra unidade escolar e, para isto recebem vale transporte. No processo de seleção de diretores, mais das vezes, os critérios já são os mesmos de qualquer empresa (avaliação de currículo, entrevistas com psicólogos, provas objetivas) e, se ao final de algumas avaliações, o diretor não cumprir as metas, está despedido. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como já recorrentemente assinalado, seja na literatura das ciências sociais (como em Marx), seja na literatura clássica do século XIX (Dickens), quanto mais o capital preserva e cria mecanismos de aumento de seus lucros, mais se agravam as perdas das classes subalternizadas (trabalho, garantias sociais, etc.). Com a hegemonia do capital financeiro, as perdas do trabalho e dos Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira que destituídos do acesso a empregos formais, ficam sujeitos a prestação de serviços terceirizados, biscates, acesso a renda mínima, etc., tendem a crescer e se agravar no sistema de funcionamento do mundo globalizado no qual dominam a valorização da moeda a qualquer custo e especulações de toda ordem para se produzir e se reproduzir prosperidade para poucos. Um dos aspectos mais assustadores diz respeito às perdas de direitos sociais e garantias a certos grupos de trabalhadores (como no caso dos servidores públicos, cujos salários estão sendo cada vez mais reduzidos e, sob a justificativa de que podem ter acréscimos de rendimentos com bônus em dinheiro decorrentes de avaliações positivas, desde que aceitem cumprir metas determinadas pelos superiores hierárquicos). “Um decreto do governador ... publicado nesta segunda-feira muda regras para o pagamento da gratificação de desempenho aos servidores da Secretaria estadual de Educação. Os docentes que não lançarem no sistema as notas de seus alunos dentro do prazo, por exemplo, não vão receber o adicional. Também será preciso ter frequência de, pelo menos, 70% no ano letivo. Diretores que deixarem professores com carga horária livre por mais de 72 horas sem justificativa também poderão perder o bônus.(...) As novas regras valem para este ano letivo, cuja gratificação será paga em 2013. Para a avaliação do ano passado, o dinheiro deve sair em abril para cerca de 48 mil professores da ativa. Serão pagos até R$ 140 milhões em bônus. Os professores poderão receber entre um e três salários a mais” Fonte: http://extra.globo.com/emprego/ servidor-publico/professor-estadual-que-nao-lancar-notas-dentrodo-prazo-nao-vai-receber-gratificacao-de-desempenho3899011.html#ixzz1m4eiefSN, Acesso em 11/2/2012. “Em muitas vezes quando se lança notas o famigerado sistema não informa as verdadeiras turmas, É LENTO quase parando, o prazo é pequeno, o modem não funciona em minha região, notebook está totalmente OBSOLETO, sem falar que a cada ano se inventa pretexto para não dignificar o verdadeiro salário de um dos principais profissionais deste estado e país! “ Fonte: http:// extra.globo.com/emprego/servidor-publico/professor-estadualque-nao-lancar-notas-dentro-do-prazo-nao-vai-receber-gratificacaode-desempenho-3899011.html#ixzz1m4fVR3ZS, Acesso em 11/ 2/2012. 73 74 LATINIDADE “Não aceitamos ser tratados como COISAS, como produtos em fim de feira a serem mudados de barraca porque não damos lucro ao feirante” (http://oglobo.globo.com/educacao/osecretario-estadual-de-educacao-do-rio-wilson-risolia-recebeestudantes-da-rede-publica-responde-sobre-passe-livre-o-plano-demetas-para-melhorar-ensino-2790255#ixzz1nfeaWlEv.Acesso, acesso em fevereiro de 2012). Projetamos uma meta para 2023, e sabemos onde queremos chegar daqui a 11 anos. O Rio está passando por um momento virtuoso, com a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas, em 2016. Cinco anos depois a economia ainda estará dinâmica. Temos que comparar a meta com a situação de cada escola. Vamos olhar para cada unidade. O Saerj retrata a situação de cada escola, com ou sem carências. Fizemos ajuste na meta. A cada dois meses medimos “temperatura e pressão” com o Saerjinho.(Risola, 2011). Vale a respeito mencionar alguns dos princípios elementares que orientam o filme Inside Job (Charles Ferguson, 2010), para caracterizar mais uma das crise do capital ,iniciada em 2008: desregulamentação dos mercados financeiros em escala mundial, explosão de derivativos, temerosa alavancagem das instituições financeira, a bolha mobiliária dos Estados Unidos (hoje se reproduzindo em outros países, como a Espanha), a cumplicidade das seguradoras (criando seguros para setores e produtos os mais diversos) e agências de avaliação de risco (camuflando e maqueando a situação de países e agências financeiras com notas que não correspondem a sua situação efetiva) e o suporte ideológico da ciência econômica (especialmente representada pelos doutores e pós-doutores/consultores de grandes instituições acadêmicas norte-americanas levados a atuar como “espadachins do capital”, expressão de Marx ). Para Medeiros (2012), o significado do título do filme, “Trabalho Interno” diz muito de sua temática (a prioridade do capital financeiro sobre a produção), pois trata-se de “um crime cometido por, ou com ajuda de uma pessoa empregada ou de confiança da vítima” (p.63). Quando exercitamos uma transposição desses elementos que caracterizam a faceta atual do capital financeiro, desde a crise de 2008, para o campo da educação, verificamos indícios sérios de precarização do trabalho, quando professores, por exemplo, são submetidos a acréscimos de carga horária com inexpressivos ganhos para se evitar contratações no serviço público Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira por concurso; quando se oferece vale transporte para que o professor cumpra a sua carga horária em mais de uma escola. Outros indícios significativos dizem respeito ao modismo das avaliações para se premiar ou punir escolas e trabalhadores da educação, a critérios para selecionar e demitir diretores de escolas e mesmo secretários de educação (geralmente prepostos de instituições privadas com poder para indicação no setor público). As grandes vítimas dessa estrutura gerida aos moldes do capital financeiro continuam a ser os trabalhadores e, no caso da educação, os estudantes do sistema público de educação submetidos a condições de ensino maqueadas de eficientes, mas cada vez mais acometidas por crises, descontinuidades e sem condições de garantir o direito efetivo a uma educação cidadã. NOTAS 1 Sem diploma e sem cargo. O Globo, dia 3 de abril de 2012. 2 https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2001rank.html 3 Pnud Brasil 4 Eurostat. http://ooraculo.economico.sapo.pt/4302.html 5 http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_ %C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano. (Acesso 11/2/2012). 6 http://sergioflima.pro.br/blogs/index.php/sergio-blog/3-equivocos-que-gestores-cometemna-educacao, acesso em fevereiro de 2012). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARTA AO SR. WILSON RISOLIA E AOS DEPUTADOS DA COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DA ALERJ. Posted by Escola em luta Å” 12/06/2011Å” 1 Comentário Filed Under Depoimentos de professores. Em: http:// oglobo.globo.com/educacao/o-secretario-estadual-de-educacao-do-rio-wilson-risoliarecebe-estudantes-da-rede-publica-responde-sobre-passe-livre-o-plano-de-metaspara-melhorar-ensino-2790255#ixzz1nfeaWlEv. Acesso em 22/2/2012. COSTIN, C. Para Claudia Costin, é preciso injetar mais recursos na Educação e gastar melhor. 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En este sentido, los autores seleccionan algunas de las políticas de educación pública - gestión de la educación, la formación docente y la evaluación educativa - para demostrar cómo la aplicación de las normas de planificación, acción y evaluación del capital financiero han exacerbado estas políticas educativas y afectados, comprometiendo su bases éticas. Esto se debe imponer a los procesos de comida rápida estilo de educación, que se propaga y contamina el aprendizaje de las vías-ensinagem, confinando a ellos, no sólo la lógica de un tipo de costo / beneficio, pero la carrera vertiginosa para el éxito, en el que se valoran Políticas públicas em educação e as tormentas da especulação financeira y astucia la codicia sin límites, que “validar” las barras en la compra y venta de valores. Todo esto ha sido muy beneficioso para los que venden la ilusión de rápido la capacitación / capacidad, con aplicaciones inmediatas, lo que garantiza el éxito y la expansión del modelo, altas posiciones en la clasificación. Estas transposiciones a la escuela de campo y la universidad, aún hegemónica, si chocan con los movimientos insurgentes reinvención de la cultura escolar y académica, que se entrelazan, ética y estéticamente, con las fuerzas sociales. La investigación, que se presenta aquí, vuelve a leer los testimonios y entrevistas a directivos, docentes y personal en su análisis del campo educativo. Palabrasclave: Educación – Ética – Políticas Públicas ABSTRACT This article seeks to contribute to a debate that, as action, potentiates the field of education, currently invaded by models of globalized financial speculation, looking simultaneously noted the tensions between this invasion and multiple resistances creators (instituting movements) that always ran the story and that we have been studying mainly in schools and universities. In this direction, the authors select some public education policies - education management, teacher training and educational assessment - to demonstrate how the implementation of standards of planning, action and evaluation of financial capital have exacerbated these educational policies and impacted, compromising their ethical bases. That’s because impose a style fastfood education processes, which spreads and contaminates the learning pathways-ensinagem, confining them, not only the logic of one type of cost / benefit, but the dizzying race for success, where they are valued and cunning greed without limits, that “validate” rods in the purchase and sale of securities. All this has been highly beneficial to those who sell the illusion of training / capacity building fast, with immediate applications, ensuring success and expansion of the model, high positions in the rankings. These transpositions to the field school and college, even hegemonic, if impinge with insurgency movements reinvention of culture and academic school, which intertwine, ethically and aesthetically, with social forces. The research, presented here, read back testimony and interviews of managers, teachers and staff in their analysis of the educational field. Keywords: Education – Ethics – Public Policy 77 Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno Dejan Mihailovic - Instituto Tecnológico de Monterrey-Mexico RESUMEN El interés por la geopolítica aumenta súbitamente en la primera mitad del siglo XX a raíz de las Guerras Mundiales pero, sobre todo, al terminar la Guerra Fría y las implicaciones que la misma tuvo con respecto a una nueva configuración planetaria. La instauración del proyecto moderno sustentado por la consolidación del sistema-mundo capitalista ha tenido una dinámica cíclica cuyos elementos decisivos fueron un modelo hegemónico de la potencia en turno, una guerra con repercusiones mundiales resguardando la hegemonía, y dos periodos que marcan el auge y el declive del modelo hegemónico en cuestión. Palabrasclave: Sistema-mundo capitalista – Hegemonía - Geopolítica 1. MUNDO CAPITALISTA El interés por la geopolítica aumenta súbitamente en la primera mitad del siglo XX a raíz de las Guerras Mundiales pero, sobre todo, al terminar la Guerra Fría y las implicaciones que la misma tuvo con respecto a una nueva configuración planetaria. En los múltiples casos en los que hoy se utiliza este término, se trata de hecho, de rivalidades de poder sobre territorios y sobre las personas que los habitan. En estos choques entre fuerzas políticas, cada una de éstas utiliza medios diversos y, en particular, argumentos que demuestren las razones para una dominación justificada y moralmente legitima. Cualquiera que sea su extensión territorial (planetaria, estatal, regional, local) y la complejidad de los datos geográficos (relieve, clima, vegetación, repartición de la población etc.), una situación geopolítica se define, en un momento dado de evolución histórica transgredida, a través de las rivalidades en poder de mayor o menor momento, y a través de las relaciones entre fuerzas que ocupan partes diversas del territorio en cuestión (Lacoste, 1995). En el periodo conocido como “clásico”, los principales teóricos de la geopolítica establecidos en las sociedades geográficas y las universidades de las capitales coloniales se empeñaron en describir y analizar las condiciones 79 80 LATINIDADE geográficas del orden mundial y sus repercusiones relativas a los Grandes Poderes de los Estados imperiales. El alemán Friedrich Ratzel1, estudiaba el espacio global bajo el enfoque del biologismo social, el norteamericano Alfred Mahan2 lo hacia introduciendo el concepto de la “mirada estratégica”, el sueco Rudolf Kjellen3 aplicando la categoría del territorio como un elemento decisivo para los estudios del Estado, otro alemán, Kart Haushofer4 insistía en una especie de espacialización del deseo imperialista mientras que el emigrante holandés Nicholas J. Spykman5 escribía en Estados Unidos su tesis sobre la (im)posibilidad de una mirada geopolítica. Todos ellos, de alguna manera influenciaron las ideas de Halford Mackinder6, hoy nuevamente citado con gran frecuencia, sobre todo por la enorme importancia que este autor británico atribuye al control estratégico del heatland, una especie del pivote que permite el control absoluto de la gran isla mundial. Mackinder observa los desafíos que enfrenta el Impero Británico ante los acelerados cambios sociales y económicos acompañados por las grandes transformaciones en la materia del transporte. Su planteamiento responde a la inevitable necesidad de reformar y reestructurar un imperio que, a principios del siglo XX, empieza a sufrir un acoso creciente de las potencias rivales. El desvanecimiento del modelo hegemónico que encarnaba el imperio británico no afectó la validez teórica y la vigencia histórica de la idea de “heartland” que, en el cruce del tercer mileno, a partir de la guerra por Kosovo, la invasión de Afganistán y la segunda guerra del Golfo Pérsico, cobró una importancia de grandes proporciones en la estructura actual del orden global. La instauración del proyecto moderno sustentado por la consolidación del sistema-mundo capitalista ha tenido una dinámica cíclica cuyos elementos decisivos fueron un modelo hegemónico de la potencia en turno, una guerra con repercusiones mundiales resguardando la hegemonía, y dos periodos que marcan el auge y el declive del modelo hegemónico en cuestión. La mayoría de los autores identificados con la geopolítica “clásica” coincidía en la necesidad de definir un orden global y una política internacional a partir de los componentes que, posteriormente, fueron expuestos por Wallerstein para sustentar su teoría del capitalismo como sistema-mundo. Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno Hegemonía Guerra mundial asegurando la hegemonía Periodo de dominación Periodo de declive Holandesa Guerra de treinta años 1618-48 1620-50 1650-72 Británica Guerras napoleónicas 1792-1815 1815-73 1873-96 Estadounidense Guerras mundiales 1914-1945 1945-67 1967- Fuente: Wallerstein 1984:41-2. La sucesión de los órdenes geopolíticos a través de los modelos hegemónicos suponía también un ciclo histórico de variable duración, dependiendo de las circunstancias que favorecían o amenazaban a una determinada hegemonía. El ritmo de cada ciclo dependía de un tipo particular de acumulación correspondiente a los intereses imperiales de la potencia en cuestión. De esta manera, en el esquema que maneja Giovanni Arrigí, la acumulación de “tipo genovés” que sustentaba el domino de los mares por parte de Portugal, fue sustituida por la acumulación centrada en “altas finanzas” que permitió a Holanda desplegar su modelo hegemónico y dominar la economía internacional a finales del siglo XVI y una buena parte del signo XVII (Arrigí, 1999). Por su parte, Modelski también elabora un esquema de sucesión de ciclos históricos en los que se observa que cada hegemonía lograba su preponderancia y sufría un declive definitivo en medio de una guerra global detrás de la cual siempre nacía un orden nuevo. Ciclo Guerra global Preponderancia Declive 1495-1580 1494-1516 Portugal, 1516-40 1540-80 1580-1688 1580-1609 Holanda, 1609-40 1640-88 1688-1792 1688-1713 Gran Bretaña 1714-40 1740-92 1792-1914 1792-1815 Gran Bretaña 1815-50 1850-1914 1914- 1914-1945 Estados Unidos 1945-73 1973- Fuente. Modelski 1987:40-44. Con la caída del Muro de Berlín, la desintegración del bloque soviético y la finalización de la Guerra fría surge una nueva corriente teórica llamada neo-geopolítica o geopolítica posmoderna que rápidamente se adjudica la complicada tarea de establecer un análisis general sobre la cuestión geopolítica mundial de la posguerra fría. Los autores como Gearoid O´ Tauthail, John 81 82 LATINIDADE Agnew o Simon Dalby7 cuestionan abiertamente el monopolio del Estado en la definición de la seguridad nacional. Ellos buscan una síntesis entre la geopolítica tradicional y la geo-economía para crear una nueva comprensión de las configuraciones geográficas que cambian con el tiempo, dependiendo de las alteraciones políticas, económicas y tecnológicas. Su argumento parte de la idea que el espacio global no solamente está dividido entre Estados nacionales, sino que aparecen y actúan en él, un amplio y heterogéneo espectro de protagonistas que incluye las empresas transnacionales, grupos terroristas, movimientos pacifistas, activistas de derechos humanos u organizaciones ambientales. Los teóricos de la geopolítica posmoderna están concientes que las aproximaciones geopolíticas a la política mundial forman parte de un conjunto más amplio de presupuestos conceptuales y metodológicos sobre el mundo. Esta nueva geopolítica se inscribe en las “prácticas espaciales reales”, pero también contempla las modalidades en las que estas prácticas son representadas y contestadas. A su vez, esto implica que los políticos, administradores o gestores de diversos perfiles, se vean involucrados en una red internacional de negociaciones y acuerdos sobre todo tipo de asuntos. El mundo de la publicidad, los negocios y los discursos políticos demuestra que el espacio global actual carece de fronteras fijas. A grandes rasgos, el análisis de la geopolítica posmoderna sobre la historia de la geopolítica en general, se basa es los siguientes cuatro conceptos: 1) el orden geopolítico mundial que implica el modo de distribución del poder y las alianzas formadas con base en esta distribución; 2) modelos técnico-territoriales que derivan de los factores combinados de las tecnologías de las comunicaciones de transporte y de la guerra que, a su vez, condicionan las prácticas y modelan el espacio estratégico mundial; 3) la economía geopolítica que se sustenta con el control de la producción económica, con el comercio y con el consumo de los bienes en el mundo, así como a sus consecuencias ecológicas; 4) el discurso geopolítico como forma de expresión y de justificación de las alianzas de estados poderosos y como medio para que los lideres políticos legitimen sus acciones (Agnew, 1995). Ahora bien, el asenso de Estados Unidos a la condición de potencia global transformó la tradición europea de la geopolítica, que pasó de las nociones de las fronteras permanentes y los espacios finitos a las de un exterior indefinido y las fronteras abiertas, centrándose en flujos y líneas móviles de conflicto, al modo de las corrientes oceánicas y las Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno fallas sísmicas. La geopolítica en sentido americano sobrepasa el horizonte espacial fijo para convertirse en una alternancia o una dialéctica entre la apertura y el cierre, entre el expansionismo y el aislacionismo. Y esa es, en efecto, la noción de geopolítica que encontramos hoy. Quizá la geopolítica continúe considerando que las fronteras son límites prefijados, pero al mismo tiempo las ve como umbrales o lugares de paso. Las guerras, desde esa perspectiva, comienzan cuando uno cruza la frontera portando armas. El progreso se concibe como cruzar esa misma frontera desarmados. El comercio cruza fronteras con armas y sin ellas. Las fronteras geopolíticas no tienen nada que ver con una frontera natural entendida en términos geográficos, étnicos o demográficos. Cuando la geopolítica se enfrenta a fronteras planteadas como naturales, lo hace para utilizarlas instrumentalmente o para menoscabarlas, poniendo en marcha un movimiento expansivo, transgrediéndolas. Para entender la geopolítica en su forma actual (y cuestionarlas en su debido tiempo), debemos pues prescindir de las concepciones naturalista, determinista o economicista de las fronteras y de las delimitaciones que caracterizaron la vieja geopolítica europea. Es preciso asumir la noción de fronteras y umbrales flexibles que se cruzan continuamente, algo típico de la ideología estadounidense. En efecto es necesario comprender que la geopolítica contemporánea se basa en la crisis de sus propios conceptos tradicionales. Cuando hablamos de crisis no queremos decir que la geopolítica esté a punto de derrumbarse, sino que funciona con base en fronteras, identidades y delimitaciones que son inestables y cuyo significado varia con frecuencia. La geopolítica no puede funcionar sin tales fronteras, pero está obligada a desplazarlas y rebasarlas constantemente, creando la dialéctica entre expansionismo y aislacionismo. Es la crisis de la geopolítica. Por lo tanto, la geopolítica contemporánea se revela sometida al mismo esquema lógico que define la teoría contemporánea de la soberanía y la realidad de la actividad económica: tiene dos lados, que además están en permanente contradicción y conflicto. Esa crisis interna, como decimos no es el anuncio de un derrumbe, sino el motor de un desarrollo. El análisis geopolítico asume la crisis como fundamento, y abre el sistema al conflicto entre las diversas fuerzas políticas, que determinan los espacios abiertos, los límites fronterizos y los espacios cerrados. Nuestra hipótesis, indudablemente reduccionista pero no por ellos menos eficaz, es que estos conflictos internos o contradicciones del concepto de geopolítica 83 84 LATINIDADE deberían reconocerse como el conflicto entre la multitud (es decir, las fuerzas de la producción social) y la soberanía imperial (esto es, el orden global del poder y de la explotación), entre la biopolítica y el biopoder. Esta hipótesis nos lleva a considerar los paradigmas cambiantes de la geopolítica como respuestas a los desafíos que plantean las luchas de la multitud. En otros trabajos hemos afirmado, por ejemplo, que la trasformación del marco de referencia político a finales del siglo XX, tras las crisis del petróleo y las crisis monetarias del decenio de 1970 y el hundimiento del sistema de Bretón Woods, fue una respuesta a las luchas anticoloniales y antiimperialistas en Asia, África y América Latina, así como las multitudinarias luchas sociales en Europa y Norteamérica. Creemos que hoy la crisis de la geopolítica sólo puede ser entendida en términos de las luchas contra el orden global que homos esbozado en el capítulo anterior, desde los movimientos contra el neoliberalismo en la India, Brasil, México, Seattle y Génova, hasta movimiento contra la guerra en Irak. Los elementos de esta crisis pueden determinar la evolución futura de la geopolítica. Y aún está por ver qué utilización estratégica puede hacer la multitud de la crisis de la geopolítica. (Hardt y Negri, 2002). 2. LA CRISIS SISTÉMICA DEL CAPITALISMO CONTEMPORÁNEO El capitalismo de la modernidad clásica centrado en la valorización de las grandes masas del capital material fijo queda sustituido, cada vez con una mayor velocidad, por un capitalismo posmoderno anclado en la valorización del trabajo inmaterial también llamado “capital humano” o capital de conocimiento”. Este cambio fue acompañado por una serie de metamorfosis del trabajo en las que el trabajo de la producción material medido en unidades de productos por unidades del tiempo fue reemplazado por el trabajo inmaterial al cual los padrones clásicos de medida resultaron prácticamente inaplicables (Gorz, 1996). Cada vez resulta más obvia la facilidad con la que se cuestiona la idea de que el capitalismo representaría un proyecto histórico insuperable, y por consiguiente, infinito, en donde todo nuestro futuro se inscribiría en un modo de civilización cuyos principios de base rigen la (re)producción capitalista. En otras palabras, la aparente flexibilidad que el capitalismo tiene para adaptarse a todas las transformaciones y cambios modificándolos y sometiéndolos a la lógica fundamental del capital, no parece que sea algo suficiente para mantener un sistema cuyas contradicciones Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno se agudizan al extremo del absurdo. He aquí algunos elementos que alimentan la idea sobre una profunda modificación del sistema-mundo capitalista o, en caso más extremo sobre “el fin del capitalismo tal y como lo conocimos” (Altvater, 2002). He aquí una serie de consideraciones sobre la inviabilidad del sistemamundo capitalista que, en gran parte jugarán un papel decisivo en la creación de un proyecto alternativo, abierto, inclusivo y respetuoso con el futuro de la humanidad. El modelo poco creíble de producir y consolidar el bienestar material en todo el mundo a través de una ampliación de la acumulación de capital fue abandonado incluso por los más fervorosos defensores del capitalismo, su lógica y su bagaje sistémico. La pretensión de universalizar el modelo de la democracia liberal mediante la promesa de establecer derechos y libertades individuales insertos en un marco institucional (a menudo impuesto), favoreció el egoísmo frente al bien común e individualismo posesivo (Macpherson) frente a la autonomía. En el plano internacional, la constante disposición de ejercer la autoridad recurriendo a medios de violencia y represión para imponer una especie de “ilustración posmoderna” en los lugares donde fuera necesario, prácticamente convirtió la guerra en una condición permanente y necesaria para la restauración del sistema capitalista mundial. La libre expansión de las fuerzas del mercado no sólo ocasionó un debilitamiento progresivo de las estructuras y los poderes territoriales fijos, sino también transformó significativamente las formas culturales tradicionales. La invasión de la lógica del capital a aquellas zonas de la vida histórica moderna que no tienen como objetivo la persecución de la plusvalía generó un amplio abanico de dificultades sociales, políticas y económicas. Una de ellas, es el uso indiscriminado de recursos naturales que abrió una nueva frente geopolítica. Las consideraciones aquí expuestas nos obligan recordar que, el imperialismo capitalista fue una fusión contradictoria de “la política estato-imperial (el imperialismo como proyecto político específico, propio de agentes cuyo poder se basa en el control sobre un territorio y la capacidad de movilizar sus recursos humanos y naturales con finalidades políticas, económicas y militares) con “los procesos moleculares 85 86 LATINIDADE de acumulación de capital en el espacio y en el tiempo” (el imperialismo como proceso político-económico difuso en el que lo primordial es el control sobre el capital y su uso) (Harvey, 2004:39). El primer vector de la definición de imperialismo se refiere a las estrategias políticas, diplomáticas y militares empleadas por un Estado (o una coalición de los Estados que operan como bloque de poder político) en defensa de sus intereses y para alcanzar sus objetivos en el conjunto del planeta. El segundo vector atiende a los flujos del poder económico que atraviesan un espacio continuo y, por ende, entidades territoriales (como los Estados o los bloques de poder regionales) mediante las prácticas cotidianas de la producción, el comercio, los movimientos de capital, las transferencias monetarias, la migración de la fuerza de trabajo, las transferencias tecnológicas, la especulación monetaria, los flujos de información, los estímulos culturales y otros procesos similares. En suma, las lógicas del poder denominadas “territorial” y “capitalista” son muy diferentes entre sí. Esta diferencia se remonta a los inicios del capitalismo sistema mundo cuando a principios del siglo XVI la división internacional del trabajo resultó mucho más amplia que las áreas de producción locales. En esta perspectiva, el capitalismo se distinguía de las demás formas sociales en cuanto a su capacidad de extender la dominación más allá de los límites de la autoridad política a través de los medios puramente “económicos”. El impulso capitalista hacia una auto-expansión dependía de la capacidad que se expresaba en la dominación de la clase capitalista por un lado, y en el imperialismo capitalista por el otro. Una vez comprobado esto, resulta obvio constatar que el capitalismo ha sido, desde sus inicios, un sistema polarizante por naturaleza y que dicha polarización le ha otorgado un carácter imperialista desde sus orígenes (Amin, 1999). Ahora bien, existe una parte de la crisis sistémica del capitalismo contemporáneo que se irá agudizando a raíz de las múltiples contradicciones entre la economía la ecología. La dinámica de la economía capitalista en la actualidad opera conforme a la lógica de un proceso de incremento cuantitativo del valor. Por otro lado, en el sistema ecológico la evolución se refleja en el despliegue de cambios cualitativos o reagrupamientos de energía y de materia. Otra contradicción hace referencia a la oposición entre los binomios espacio-tiempo y eternidadinfinito. El desprecio del espacio y del tiempo promovido por las tendencias globalizadotas no sólo aleja los seres humanos de la naturaleza, sino que banaliza estas dos dimensiones de la existencia que aparentemente acaban siendo reducidas a cero. En la siguiente contradicción se observa Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno que en el sistema económico, la lógica del cálculo mercantil implica que el capital debe completar un proceso de circulación en expansión para realizar la valorización. De ahí que todos los procesos económicos deber ser circulares o reversibles. En contraste, en la naturaleza, procesos completos de transformación de materia y energía se caracterizan por la irreversibilidad. Siguiendo la misma pauta, surge una nueva contradicción que nos permite ver que en el sistema económico, la ganancia constituye la medida del éxito de procesos macroeconómicos y -en forma mediada macroeconómicosmientras, en cambio, la medida ecológica de los procesos cualitativos de transformación de la materia y la energía la ofrece el cambio en la entropía. Por último, la lógica del desarrollo económico -que demanda a su vez regulación social- exige un incremento de las ganancias para alcanzar elevadas tasas de beneficio y de crecimiento en el sistema económico. Por ejemplo, el empleo y la prosperidad creciente dependen de ese resultado efectivo. Al mismo tiempo los procesos naturales de transformación se organizan de tal forma que mantienen un equilibrio dinámico entre una especie del consumo entrópico y la descarga entrópica. Indudablemente, la disponibilidad de los recursos energéticos fósiles está en el centro del conflicto global ecológico de distribución, porque su alcance demuestra una tendencia negativa y ya no sube como en el pasado. Esto ha reforzado programas de “seguridad energética” dentro de los bloques regionales hegemónicos, pero también ha obligado a los países del centro capitalista redefinir sus aspiraciones geopolíticas ante la periferia. El dominio de la geopolítica en las estrategias de la “seguridad energética” ya es un hecho. El caso de Irak no sólo es tan importante porque se trata del más de 11% de las reservas petroleras globales de alta calidad. Lo es también porque su territorio es un puente estratégico entre las áreas geopolíticas de Asia Central y Medio Oriente. Además, la ocupación de este país permite ejercer la influencia sobre la política de precios de la OPEP y los volúmenes de producción. En el fondo, existe un esquema operante que parte de las consideraciones geoestratégicas y cuya tarea es asegurar la provisión de los recursos naturales a largo plazo. En el caso del petróleo dicho esquema incluye: el control de las regiones donde se extraen los recursos petroleros, el control de la cantidad ofertada en los mercados energéticos, el control de la logística de transporte y de las rutas del transporte del petróleo de los países productores a los países consumidores vía oleoductos o buques petroleros y la influencia sobre el precio y la determinación de 87 88 LATINIDADE la moneda utilizada para la facturación. Las guerras por los recursos se realizan con el objetivo de garantizar, a largo plazo, el abastecimiento de los países industrializados a precios aceptables (Klare, 2003). 3. EL (DES)ORDEN GLOBAL GEOPOLITICO Como concepto, el orden se refiere a las reglas rutinarias, instituciones, actividades y estrategias con las cuales la economía política internacional opera en diferentes periodos históricos. El término calificativo de “geopolítico” dibuja atención a los elementos geográficos de un orden mundial. Esta no es una característica especial o adicional de un orden abstracto. Es algo intrínseco a él. Los órdenes necesariamente poseen características geográficas. Eso incluye el grado relativo de centralidad de la territorialidad del Estado a las actividades sociales y económicas, la naturaleza de la jerarquía de los estados (dominados por uno o varios estados, el grado de igualdad del Estado), el alcance espacial de las actividades de diversos estados y otros actores, por ejemplo, organizaciones internacionales y de negocios. Desde este punto de vista, el orden no implica un mundo basado en el consenso o la cooperación. El concepto normativo del orden como sinónimo de un mundo ordenado y sin conflicto puede inspirar la critica de arreglos ya existentes. En realidad, cualquier orden global es una mezcla de cohesión y de conflicto entre los actores. Lo que siempre es requerido para su existencia es un sistema organizado de gobernanza que, a su vez, implica definir a los actores, reglas de operación, principios de interacción y asunciones extensamente compartidas sobre el comercio, la fuerza y la diplomacia. Éstos incluyen a las organizaciones internacionales formales y regimenes, cubriendo el comportamiento del gobierno en áreas especificas de acción tales como el comercio, el dinero o la seguridad, por ejemplo. Pero un orden mundial también requiere de un sistema de asunciones ínter subjetivas y de orientaciones del comportamiento compartidas conduciendo a agentes principales. John Agnew y Stuart Corbridge diseñaron un marco referencial para analizar a un orden geopolítico tomando en cuenta los criterios cuya naturaleza es multicausal (Agnew & Corbridge, 1995: 21). Estos criterios son la estructura económica mundial, la regulación político-económica, las formas político-institucionales, los mecanismos que ayudan a establecer y mantener el orden, la escala geográfica de la acumulación económica y, Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno finalmente, el especio de la regulación política. Todos ellos se mueven entre un nivel global y otro estatal conformando así un espacio definido básicamente por dos dimensiones geográficas: la primera es la escala dominante de la acumulación económica y la segunda es el espacio dominante de la regulación política. Este marco permite, según Agnew y Corbridge, discernir entre, por lo menos, tres ordenes geopolíticos en los últimos dos siglos. El primer orden abarca el periodo entre 1815 y 1875 y descansa sobre los conceptos de la economía territorial y estados nacionales en Europa bajo del domino del Marco referencial para analizar un orden geopolítico Nivel Global 1. Estructura económica mundial Nivel estatal División internacional del trabajo (DIT) Paradigmas tecnológicos (TP) 2. Regulación políticoeconómica 3. Formas políticoInstitucionales Posición en DIT Desarrollo de TP Sistema financiero Relaciones entre empresas Relaciones laborales del salario Regimenes internacionales: comercio, dinero, sistemas de seguridad Sistema político: legal, militar, movilización política gobierno, sistemas educativos 4. Mecanismos de Establecimiento y Mantenimiento del orden Aprendizaje endógeno Emulación Legitimación, coerción 5. Escala geográfica de la acumulación económica Territorial Internacional 6. Espacio de la regulación Política Estado nacional Estado imperial Estado internacional Imperio Británico que, en esta perspectiva, aparece como el primer estado internacional. El segundo orden inicia en 1875 y termina con la finalización de la Segunda Guerra Mundial en 1945. Se trata de una explosión de la rivalidad inter-imperial protagonizada por algunos estados europeos, Estados Unidos y Japón que, en su papel de potencias hegemónicas, disputan el control absoluto de la economía mundial. El tercer orden geopolítico 89 90 LATINIDADE conocido simbólicamente como el periodo de Guerra Fría, se refiere a una combinación de dos estados imperiales (Estados Unidos y la Unión Soviética) involucrados en la competencia militar, política e ideológica disputando el espacio de la economía internacional del resto del mundo y con un énfasis especial en los Estados que conformaron el así llamado Tercer Mundo. Con la caída del Muro de Berlín y la desintegración del bloque soviético se abre un nuevo escenario en el cual la bipolaridad del orden anterior es reemplazada por una distribución del poder global que va desde la teoría de una potencia única e indiscutible (Estados Unidos) a la conformación de un espacio multipolar y, en cierto sentido, hasta entrópico. La condición entrópica del orden global actual se inscribe en un alto grado de incertidumbre con respecto a los actores y sus movimientos de carácter estratégico que permiten la creación y disolución rápida de alianzas motivadas por los intereses cambiantes y sujetos a los procesos coyunturales locales regionales o globales. 4. EL NUEVO MERIDIONALISMO COMO FACTOR EQULIBRANTE DEL PODER GLOBAL Orígenes del Nuevo Regionalismo El fenómeno del nuevo regionalismo es propio del periodo de la segunda posguerra. Existen numerosas condiciones que posibilitaron su desarrollo. Entre ellas destacan: 1. La globalización y la cambiante función de la soberanía del Estado. La nueva lectura del mapa político mundial fue elaborada por la tesis, particularmente defendida por los economistas, sobre el fin del Estadonación y la idea del mundo como un solo conglomerado corporativo. Esta interpretación ignora el proceso del nuevo reordenamiento territorial en el cual los grupos tradicionales buscan nuevas formas de identidad en los niveles regional y local, señalando así el carácter dual de un nuevo fenómeno llamado glocalización (Beck, 1998). 2. La desterritorialización del Estado y el consiguiente cambio del papel de las funciones de las fronteras internacionales. Es posible identificar, por lo menos tres perspectivas en las que ocurre este proceso. La primera es económica. En un sentido más amplio la desterritorialización es vista como sinónimo de la globalización económica o, por lo menos, como uno de sus vectores o características fundamentales, en la medida en que ocurre la formación de un mercado mundial con flujos comerciales, Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno financieros y de información, cada vez más independientes de las bases territoriales definidas, tales como Estados-nación. En otro sentido, más estricto, el énfasis está puesto en uno de los momentos más típicos del proceso de globalización, llamado por algunos, capitalismo posfordista o de acumulación flexible. Dicha flexibilidad es responsable por el enriquecimiento de las bases territoriales o, más ampliamente, espaciales, en la estructuración general de la economía y, en especial, en la lógica localista de las empresas en el ámbito de las relaciones de trabajo (aquí el ejemplo más ilustrativo es la relación precaria entre los trabajadores y la empresa). De aquí surge la propuesta de ver la desterritorialización como sinónimo de “deslocalización”, enfatizando el carácter multinacional de las empresas cada vez más autónomas en relación a las condiciones locales/territoriales de su instalación. Por último, la desterritorialización se podría interpretar como un proceso notoriamente vinculado a un sector específico de la economía globalizada. Se trata aquí del sector financiero, donde la tecnología de información pone cada vez más en evidencia el carácter inmaterial e instantáneo de las transacciones, permitiendo así la circulación del capital puramente especulativo en un tiempo real. La segunda perspectiva es política. Para una mejor comprensión de esta perspectiva, tal vez lo más recomendable sería revisar la propuesta teórica de Gerard Ó Tauthail y su diferenciación entre una geopolítica moderna y otra posmoderna (Ó Tautail, 1996:28). La primera se caracteriza por las visualizaciones cartográficas materializadas en los mapas, la división tradicional del mundo entre el Este y Oeste, los conceptos binarios dentro/fuera y lo doméstico/lo internacional, la idea del poder territorial, los enemigos territoriales, una postura rígida y fija, el Estado y el hombre geopolítico para terminar en la noción de un espacio centrado en el Estado que implica la soberanía y límites territoriales. La segunda tiene por atributos las visualizaciones telemáticas, redes globales y la glocalización, la metáfora del enfrentamiento Jihad/McWorld (Barber), una especie del poder telemático, peligros desterritorializados, una respuesta flexible y rápida, terminado por una condición sin frontera y de apertura. En suma, la política territorial del Estado de los principios del siglo XX queda sustituida por los eventos estructurados por la información y los flujos de alta velocidad del siglo XXI. La distinción entre una “política territorial del Estado” y el “poder extraterritorial de las fuerzas del mercado” significa, en última instancia distinguir entre la política territorial del Estado y la economía no-territorial de las 91 92 LATINIDADE corporaciones transnacionales. En las palabras de Hardt y Negri, esto no es más que todo un Imperio, un espacio ilimitado y universal en el cual la forma básica de organización es la red, sin importar si se trata de una estructura económica o de una distribución del poder político (Hardt y Negri, 2002). La tercera perspectiva es cultural. Como siempre, aquí la referencia inicial es el clásico discurso de Tóennis y su propuesta de sustituir la Gemeinschaft es decir, la comunidad (étnica o de grupo) por la Gesselschaft, o sea, la sociedad (nacional, en su forma más desarrollada). Sobra decir que la sociología moderna retomó los conceptos de Töennis como modelos que operan conforme su propia forma de asociación e idea de autoridad. En este sentido el modelo de la Gesselschaft resulta mucho más desterritorializador si tomamos en cuenta los siguientes cuadros: Naturaleza de Asociación Idea de Autoridad Gemeinschaft (Comunidad) Vida Real y orgánica Organismo vivo De Personal, (más rural) Antigua, (como denominación y fenómeno) Gesselschaft (Sociedad) Estructura imaginaria y mecánica Agregado mecánico y artefacto De Estado (más urbana), nueva Paternidad, por sangre, de lugar espiritual (parentesco, vecindad, amistad Construcción afectiva “natural” u “original”, los individuos se mantienen esencialmente unidos a pesar de todos los factores disyuntivos Relaciones contractuales Construcciones artificial, racional, los individuos se mantienes esencialmente separados a pesar de todos los factores unificadores En las épocas recientes la desterritorialización se hace presente en los discursos posmodernos que propagan una especie de “desprendimiento” cultural en relación a los lugares específicos causando la existencia de culturas híbridas (Canclini) y una especie de “no-lugares” sin identidad y sin historia. En el fondo de esta propuesta el acento está puesto en los cambios socioculturales que, primero son relativos a la reformulación de los padrones de asentamiento y convivencia urbanos y, segundo, a la redefinición del sentido de pertenencia y de identidad que vulnera las lealtades locales y nacionales ante las comunidades transnacionales o desterritorializadas de consumidores. En última instancia la idea de un territorio estable, unido y fijo es sustituida por inestabilidad, fragmentación y mutación territorial permanente. 3. Por último, está la cuestión del estudio detallado de los textos, narrativas y tradiciones geopolíticos, acompañadas con la importancia de la imaginación geopolítica y la idea de reterritorialización del Estado y la emergencia de las nuevas identidades étnicas, nacionales y territoriales. Por razones del espacio, este punto será desarrollado en otra ocasión. Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno La idea de un mundo regional y jerarquizado se basa en el desenmascaramiento del “mito de la unidad”. No hay una unidad espacial desde un punto de vista estratégico, sino que hay diferentes escenarios en un mundo esencialmente dividido. Se introduce el concepto geográfico tradicional de región para describir esta división. Comúnmente, se entiende por una región a las configuraciones geográficas relativamente estables que, a su vez, permiten la creación de economías regionales capaces de conseguir durante un tiempo cierto grado de coherencia estructural en la producción. Hay dos tipos de región: 1) regiones geoestratégicas, de ámbito global y, 2) regiones geopolíticas de ámbito regional. Las primeras se definen funcionalmente y son la expresión de las interrelaciones existentes entre una gran parte del mundo. Las segundas son las subdivisiones de las anteriores y tienden a ser relativamente homogéneas cultural, económica o políticamente. El Nuevo Meridionalismo: más allá de la globalización y la regionalización Llegamos ahora al orden global y la política internacional actuales. En este escenario aparece un fenómeno que llamaré “nuevo meridionalismo” y cuya existencia rompe con todos los esquemas de los órdenes geopolíticos que han existido hasta hora. El “nuevo meridionalismo” no es un concepto estrictamente geográfico (dado que la distribución geográfica de sus integrantes no se asume como un espacio homogéneo) sino un fenómeno reciente que posee elementos ideológicos, culturales y civilizatorios diferenciados. Se trata de una alianza heterogénea compuesta por varios países que tienen un propósito común, esto es, buscar un equilibrio en la estructura actual del poder global limitando los poderes tradicionales de los bloques regionales hegemónicos. La primera concretización del nuevo meridionalismo obtuvo su verificación empírica mediante la creación del grupo conocido como G-208 y sus iniciativas y acciones dentro de las actividades de la Organización Mundial del Comercio (OMC). Es importante destacar que la tendencia de ampliar y consolidar al nuevo meridionalismo rebasa a este grupo aunque resulta obvio que dicho grupo juega un papel detonador del fenómeno en cuestión. El grupo integrado por una veintena de países está liderado por Brasil, India y Chica y con una cada vez más destacada actuación de Argentina y Sudáfrica. En esta perspectiva la característica dominante del nuevo meridionalismo es que se trata de un modelo que va más allá de toda regionalización y globalización. Su estructura es interregional y prácticamente ilimitada. Es posible 93 94 LATINIDADE que sean precisamente Brasil, China e India los poderes dominantes, pero suficientemente flexibles para no desarrollar hábitos imperiales con respecto al resto del grupo y aceptar la paulatina ampliación de los nuevos estados cada vez más fuertes. No sorprendería que, en un futuro no tan lejano, sean México y Rusia dos potencias nuevas dentro del nuevo meridionalismo, debido a su particular posición geopolítica y geoestratégica que contempla dos grandes puertas con respecto a su desarrollo e integración a la economía política internacional. Rusia por su relación con la Unión Europea y su “segunda puerta” que la acerca a través de China e India al resto del continente asiático. México por su relación con Estados Unidos y su “segunda puerta” que le ha conseguido un papel privilegiado de puente integrador de la “gran familia de los pueblos latinoamericanos”. De esta manera, México, Brasil, Argentina, Sudáfrica, India, China y Rusia formarían el “núcleo duro” del nuevo meridionalismo dibujando una línea en forma de “media luna” que recorre el hemisferio sur (ver el mapa abajo). Este nuevo meridionalismo ofrecería diferentes modelos de integración en distintos niveles: convencionales, por medio de tratados y acuerdos multilaterales (el propio ejemplo de G-20 y su alianza estratégica dentro del la OMC o bilaterales (ejemplo: acuerdo de cooperación militar entre China e India), pero también no convencionales, representado por el flujo libre de patrones culturales, intercambio de conocimiento e información. Una vez lograda su consolidación el nuevo meridionalismo rompe con la geopolítica imperial, va más allá de la globalización y la regionalización, promueve la integración interregional y el desarrollo endógeno, autocentrado y, finalmente, crea una nueva configuración del poder global. En este momento el proyecto goza de varias condiciones a su favor que podrían acelerarlo e intensificarlo, entre ellas destacan: la descentralización del sistema mundial; los cambios económicos; las nuevas actitudes en la cooperación internacional; el fin del tercermundismo; la regulación de las tendencias globales y la promoción de los procesos de democratización. Sin embargo, existen también algunos aspectos y condiciones que podrían obstruir su fortalecimiento y hasta provocar su desaparición, tales como la presión y condicionamiento estratégico de los bloques hegemónicos del poder global (Unión Europea y Estados Unidos, principalmente), la competencia interna, los derechos humanos, la diversidad cultural, y problemas del medioambiente, por solo mencionar algunos. En suma, de realizarse en su plenitud el nuevo meridionalismo supondría el fin de la geopolítica clásica, un nuevo sistema internacional: descentralizado, multilateral, solidario y entrópico. Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno Algunos datos importantes para visualizar alcances límites del nuevo meridionalismo País Superficie Población PIB per cápita China 9.596.961 1.306.313,812 5.600 USD India 3.287.590 1.080.264.388 3.100 USD Sudáfrica 1.221.040 44.344.136 11.100 USD Brasil 8.511.965 186.112.794 8.100 USD Argentina 2.780.104 39.573.943 12.400 USD Mexico 1.967.183 103.202.903 9.600 USD 144.664.000 9.800 USD Rusia 17.075.400 Principales recursos estratégicos Minerales, metales, productos manufacturados Industria de Software, productos químicos, minerales Oro, diamantes, uranio , metales pesados Agua, recursos forestales, acero, químicos Agua, productos agrícolas, maquinaria, químicos Petróleo, gas natural, biodiversidad Agua, gas natural, petróleo, recursos forestales, oro, metales PAISES DEL GRUPO G - 20 Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, China, Cuba Egipto, Filipinas Guatemala, India, Indonesia, México, Nigeria, Paquistán, Paraguay Sudáfrica, Tailandia, Tanzania, Venezuela y Zimbabwe. PIB TOTAL G- 20 Unión Europea Estados Unidos Restos del mundo Total/mundo Indicador PIB Agrícola Población Población agrícola Exportaciones agrícolas G-20 549 mmd 3.588 mm 1.811 mm 101.710mm Fuente. Informe geopolítico 2006. 4. 324 trillones 10.505 trillones 10.949 trillones 10.683 trillones 36.460 trillones UE 235 mmd 380 millones 15 millones 62.649 mmd EE.UU Resto del Mundo 175 294 millones 6 millones 62.305 mmd 1.884 trillones 2.039 mm 763 millones 295.515 mmd Total del mundo 2.844 trillones 6.301 mm 2.595 mm 522.179 mmd 95 96 LATINIDADE Pretender que la globalización diera marcha atrás no sería un proyecto orientado al futuro. Dejar que la globalización, es cu calidad de capitalización absoluta del mundo, quedará en sus propios manos, es decir, en las de las grandes potencias económicas de las empresas transnacionales y las de los banqueros que actúan en el nivel global, como lo demandan el fundamentalismo del mercado y sus adeptos neoliberales, haría posiblemente que las transformaciones globales se convirtieran en catástrofes sociales y ecológicas. Entonces, solo queda la perspectiva de la regulación social de los procesos globales en la política y la economía. El nuevo meridionalismo podría encargarse de esta tarea tan difícil pero no imposible. De esta manera, el nuevo meridionalismo podría convertirse en un factor equilibrante del poder global. NOTAS 1 La obra del teórico alemán Friedrich Ratzel (1844-1904) posee un signo emblemático respecto al nacimiento de la geopolítica y su entrada a un selecto circulo de la familia de las ciencias modernas. Sus principales contribuciones se dirigen al desplazamiento del foco central de las investigaciones geográficas del “paisaje natural” hacia la relación “hombre-medio”, tesis que Ratzel plantea en su libro Anthropogeographie, escrito en 1882; y a la fundación de la Geografía Política, cuyo propósito fue elaborado en otros dos textos no menos importantes, Politische Geographie editado por primera vez en 1897, y El mar como fuente de la grandeza de las naciones” libro que apareció en 1903. 2 Hijo de un catedrático de la famosa escuela militar West Point, este oficial de la marina estadounidense reunía en su personalidad intelectual elementos de la teología, darvinismo social y egoísmo, combinándolos con su postura imperialista, activismo político y el amor a la cultura anglófona, un amalgama tan particular que le permitió convertirse en un verdadero experto de la geopolítica y las relaciones internacionales de su época. La gran parte de sus ideas mayores está reunida en el libro La influencia del poder marítimo sobre la historia, escrito en 1890, 3 A este estudioso de la política sueco, se le atribuye el primer uso del término geopolítica como uno de los cinco conceptos fundamentales para el estudio territorial del Estado. Otros cuatro, demopolítica, ecopolítica, políticas sociales y kratopolítica forman parte de un discurso que le permitió analizar las estructuras y formas de funcionamiento de los “grandes poderes mundiales” terminó central de su libro Grandes poderes del presente. 4 Oficial durante la Primera Guerra Mundial, este teórico alemán anticipa en su obra la necesidad de regionalizar el mundo a través de lo que él bautizó como pan-regiones, una especie de unidades espaciales en interacción, cada una con su carácter predominante y tarea especifica para lograr tan anhelada paz mundial. 5 Como emigrante holandés, Spykman se establece en Estos Unidos y rápidamente se convierte en un idealista willsoniano que destaca por su habilidad de observador y analista político durante la Segunda Guerra Mundial sobre todo a través de sus textos Estrategia americana en las políticas mundiales (1942) y la Geografía de la paz (1944). En ambos, Spykman declara que la geografía, debido a su permanencia, es la condición más fundamental en la formulación de una política nacional. 6 Indiscutiblemente, el clásico de la geopolítica más citado el día de hoy. A partir del 1887 enseña la geografía en la universidad de Oxford, para convertirse en los años Sistema-mundo capitalista- La instauración del proyecto moderno siguientes en uno de los más famosos miembros de la prestigiada Royal Geographical Society. El texto, El pivote geográfico de la historia, publicado en 1904 en el Geographcal Journal, se tornara uno de las obras más influyentes y novedosas de la época cuya actualidad y vigencia histórica permanecerá hasta nuestros días. 7 Gearóid O´ Tuathail expone en forma sintética el paradigma de las geopolítica crítica en su libro Critical Geopolitics (O´ Tauthail, 1996) y en Geoplitical Reader, un libro de texto, junto con Simon Dalby reafirma la importancia de una geopolítica crítica a la altura del nuevo orden global (O´ Tauthail, Dalby, 1998). Por otro lado, en geógrafo norteamericano John Agnew reintroduce a los conceptos de hegemonía, territorio y la economía política internacional en la discusión sobre el poder global (Agenw, 1995, 2002, 2005). 8 Este grupo fue creado por la iniciativa de Brasil, poco antes de la Conferencia Ministerial de la Organización Mundial del Comercio en Cancún, en septiembre del 2003. Todos los miembros de este grupo aparecen en el espacio de la economía política internacional como países en “vías del desarrollo”, todos rechazan las jerarquías existentes dentro del comercio mundial y mantienen una línea “dura” en las negociaciones con respecto a lo que consideran como puntos vitales para alcanzar sus metas de desarrollo (subsidios agrícolas, propiedad intelectual, patentes y temas abiertos de la industria farmacéutica, como ejemplos. REFERENCIAS: Agnew, J. Corbridge, S. (1995). Mastering Space. Hegemony, Territory and Internacional Political Economy. London Routledge. Agnew, J. (2002). Making Political Geography. New York: Oxford University Press. Agnew, J. (2005). Hegemony. The New Shape of Global Power. Philadelphia: Temple University Press. Altvater, E., Mankopf, B. (2002) Las limitaciones de la globalización. México: Siglo XXI. Amin, S. (1999) El capitalismo en la era de la globalización. Barcelona: Paidós. Arrighi, G. (1999). El largo siglo XX. Madrid: AKAL. Beck, U. (1998) ¿Qué es la globalización? Barcelona: Paidós. Fawcett, L. Hurrell, A. (1996). Regionalism in World Politics. Regional Organization and International Order. Oxford: Oxford University Press. Informe geopolítico 2006. Madrid: Tecnos. Gorz, A. (1996). Metamorfosis del trabajo, Madrid: Sistema. Hardt, M., Negri, T. (2002) Imperio. Barcelona: Paidós. Klare, M. 2003. Guerras por los recursos. El futuro escenario del conflicto global. Barcelona: Ediciones Urano. Kliot, N. Newman D. (2000). Geopolitics an the End of the Twentieth Century. The Changing World Political Map. London: Frank Cass Publishers. Lacoste, Y. (1995). Dictionnaire de géopolitique. Paris: Flammarion. 97 98 LATINIDADE Lacoste, Y. (2006). Géopolitique, la longue histoire d´aujourd´hui. Paris: Larousse. Shultz, M. Söderbaum, F. Öjendal, J. (2001). Regionalization in a Globalizing World. London: Zed Books. Modelski, G. (1987). Long Cycles in World Politics. Seatle: University of Washington Press. Newman, D. (2002). Boundaries Territorry and Postmodernity. London: Frank Cass. Ó Tuathail, G. (1996). Critical Geopolitics. Minneapolis: University of Minnesota Press. O Tauthail, G. Dalby, S., Routledge, P. (2006) The Geopolitical Reader. London: Routledge. Wallerstein, I. (1984). The Politics of World-Economy. Cambridge: Cambridge University Press. RESUMO O interesse na geopolítica aumenta de repente na primeira metade do século XX, devido à Guerra Mundial, mas acima de tudo, no final da Guerra Fria e as implicações que teve em relação a uma nova configuração planetária. A criação do projeto moderno apoiado pela consolidação do sistema capitalista mundial tem tido uma dinâmica cíclica cuja chave elementos eram um modelo hegemônico de mudança de poder, uma guerra com repercussões globais guardando hegemonia, e dois períodos que marcam a ascensão e modelo declínio hegemônico em questão. Palavras-chave: Sistema-mundo capitalista – Hegemonia - Geopolítica ABSTRACT The interest in geopolitics suddenly increases in the first half of the twentieth century due to the World War, but above all, at the end of the Cold War and the implications it had in relation to a new planetary configuration. The creation of the modern project supported by the consolidation of the capitalist world system has had a cyclical dynamics whose key elements were a hegemonic model of power shift, a war with global repercussions guarding hegemony, and two periods that mark the rise and decline hegemonic model in question. Keywords: Capitalist world system – Hegemony - Geopolitics Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura Luiz Carlos Borges RESUMO Conhecidos, na literatura, como capazes de se adaptarem às mais diversas situações de tensão intercultural, os Guarani continuam na atualidade a resistir às diversas pressões e, dessa forma, recorrendo a estratégias de adaptação, logram manter sua identidade étnica. Esta comunicação objetiva, com base no pressuposto de que a sobrevivência física e cultural dessa etnia se deve à sua capacidade adaptativa, a analisar o significado político e cultural da construção de uma Casa de Cultura, inaugurada recentemente na Aldeia Três Palmeiras (Tekoa Mboapy Pindó), no Espírito Santo. Devemos entender que a Casa de Cultura guarani, para além de ser um espaço de memória, musealização e, enfim, de produção e ordenamento de sentido, constitui o resultado de uma estratégia que supõe um processo cultural de apropriação de aparatos desenvolvidos pela sociedade envolvente, ressignificados para que possam ser absorvidos e utilizados segundo os interesses da sociedade guarani. Palavras-Chave: Cultura, Guarani , Memória, Musealização, Patrimônio 1. UMA BREVE APRESENTAÇÃO DOS GUARANI Os Guarani fazem parte do grupo étnico da família lingüística TupiGuarani, a maior família de línguas do Tronco Tupi. Historicamente, tratase de um ramo de uma horda prehistórica, genericamente denominada de Proto-Tupi, que emigrou a partir do sul do atual estado de Rondônia há cerca de 3.500 anos. Assim, os Guarani e os Tupinambá (o segundo e, certamente, o mais extenso ramo dessa horda Proto-Tupi) têm a mesma origem e, por conseguinte, partilham as mesmas raízes históricas, linguísticas e culturais. É somente após a separação em duas correntes migratórias que esses dois subgrupos começam a diferenciar-se. A partir de então, são observadas diferenças na língua, na organização e social e, principalmente, no trato com o colonizador foram-se explicitando, fazendo com que esses dois subgrupos se distinguissem entre si. O grupo, que mais tarde viria a ser conhecido como Guarani, avançou rumo ao sul do Brasil (passando pelos atuais estados de São Paulo, Paraná, 99 100 LATINIDADE Santa Catarina e Rio Grande do Sul) adentram o Uruguai, Argentina e, finalmente, têm sua expansão territorial interrompida pela empresa colonial luso-espanhola na altura do Paraguai. A partir do Paraguai, alguns grupos migram de volta para o Brasil, indo fixar-se no Mato Grosso do Sul (os atuais Guarani Kayová). Já os Tupinambá avançam até o norte de São Paulo, de onde seguem pelo litoral até Recife, região onde se defrontam com os portugueses. A partir desse contato, os Tupinambá se dividem. Pequenos grupos seguiram para o interior, a fim de escapar do processo colonizador, enquanto outros avançando até o Maranhão e daí chegaram ao Pará. Deve ser entendido que todo esse processo de expansão territorial, tanto de Guarani quanto de Tupinambá, não se deu em pouco tempo e nem tampouco foi pacífico. Em sua longa caminhada, esses dois subgrupos Tupi entraram em choque com vários outros grupos, em geral expulsandoos de seus territórios. Ao mesmo tempo, foram deixando aldeamentos ao longo de sua caminhada, o que, de certa forma, explica a existência de inúmeros grupos étnicos geneticamente filiados aos Guarani e aos Tupinambá. Correntemente, os Tupinambá, ao contrário dos Guarani, não podem mais falar por si mesmos. Embora tenham dominado a costa brasileira do norte de São Paulo ao litoral paraense, e sua língua e cultura tenham sido proeminentes na literatura de missionários e viajantes do século XVI aos meados do XVIII – como a representação, por excelência, do índio brasileiro -, quando foram considerados extintos. A presença memorial desses índios marca decisivamente o imaginário social e a cultura brasileira, seja no léxico (incluindo-se aí expressões idomáticas, etnônimos, nomes de cidade, de plantas, animais e acidentes geográficos são de origem Tupinambá), seja no hábito alimentar (uso da mandioca, do inhame e de outros alimentos) e comportamental (o uso da rede de dormir etc.). Distribuindo-se por um vasto território, esses índios se dividiam em aldeias que formavam «grupos tribais distintos, espacialmente segregados e solidariamente diferenciados» (FERNANDES, 1989, p. 17). Apesar de estarem territorial e sócio-politicamente bastante segmentados, e do fato de localmente serem chamados por diversos nomes (Tupi, Tamoio, Caeté, Tupiniquim, Tupinambá, Potiguar, Tobajara), eles, efetivamente, formavam uma unidade linguística e cultural. Contudo, essa unidade linguística não significava unidade política, uma vez que reinava entre as diversas aldeias tupinambá (que funcionavam como unidades autônomas) um pernanente estado de competição e de guerra ritual, de que resultavam conquistas territoriais e, mais importante, prisioneiros que eram ritualisticamente Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura executados e consumidos. Eventualmente, podiam ocorrer associações entre diversas aldeias que, desse modo e para determinados fins, passavam a constituir conjuntos multicomunitários (FAUSTO, 1998). Os Tupinambá encontravam-se à época em que foram interrompidos pela colonização lusitana, em estado de franca conquista e expansão. É possível supor, apartir dos dados históricos, que eles poderiam vir a formar um tipo de organização sócio-política e militar conhecida como cacicado (MACHADO, 2006). Apesar de não ser possível afirmar acuradamente o número de Tupinambá que perambulavam pelo litoral brasileiro, eles eram certamente numerosos, podendo ter chegado, no início do contato com os europeus, a um total de 1 milhão de indivíduos. As aldeias tupinambá eram fortificadas e bastante populosas, se levarmos em conta que, pelos registros da época, podiam chegar a abrigar cerca de 3 mil indivíduos. Se pensarmos que esses índios constituíam uma nação indígena hegemônica, a sua depopulação e o seu desaparecimento como grupo étnico em meados do XVIII foram relativamente rápidos. Apesar da decretação de sua extinção, são ainda encontrados remanescentes ou descendentes Tupinambá no Brasil: os Tupiniquim da Bahia e do Espírito Santo e os atuais Caeté de Alagoas. Alguns desses remanescentes, em consequência do processo histórico de dispersão, deculturação e de miscigenação, tornaram-se falantes de Português1. Obviamente, a perda do traço cultural língua, por mais importante que seja, não os descredencia enquanto índios, uma vez que a indianidade não se define por esse ou aquele diacrítico cultural (tangível ou intangível), mas por um conjunto de elementos dentre os quais a memória de uma história comum (e a herança mítica é um fator determinante nesse processo de auto e alter identificação) e a auto-afirmação. Por sua vez, o termo Guarani refere-se a uma diversidade de grupos e aldeamentos que se espalham pela América do Sul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), com exo e autodenominações específicas. A população geral é estimada em cerca de 98.000, sendo que, no Brasil, somam perto de 51.000 (em dados de 2008, de acordo com a Funasa/Funai, disponíveis em www.pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-geral, acessado em 23 fev. 2012). Os Guarani dividem-se em 3 subgrupos: os Nhandeva, os Mbyá e os Kayová, cujas aldeias são encontradas em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Pará, provavelmente como resultado de levas migratórias que se deslocam (oguatá porá – literalmente ‘caminhar sagrado’) em busca da 101 102 LATINIDADE Terra Sem Mal (Yvy Marã Ey – literalmente ‘terra sem doenças’, logo livre de todo mal e que, por isso mesmo, aquela que desconhece a decadência e a morte)2. Este grupo étnico vem mantendo contatos intensos com representantes da sociedade envolvente desde o século XVI, tendo passado, como outros grupos indígenas latinoamericanos, por processos de redução e conversão ao cristianismo e, por conseguinte, ao modo de produção e civilização patrocinados pelas nações colonizadoras europeias. Sua importância linguística e cultural nos países em que habitam vem sendo cada vez mais acentuada, especialmente porque são vistos como um exemplo de resistência física e étnica, além de detentores de um complexo sistema de conhecimento, notadamente no campo filosófico e astronômico. Este trabalho objetiva tratar dos modos e estratégias utilizados atualmente pelos Guarani para a afirmação e manutenção de sua identidade étnica, no contexto político e sociocultural brasileiro, vis a vis às políticas indigenistas instituídas e/ou patrocinadas pelo Estado e às novas condições das relações interétnicas mantidas, em diversos níveis, com a sociedade brasileira. Em particular, propomo-nos a analisar como, a partir da experiência no contato com a sociedade envolvente, os Guarani vêm desenvolvendo mudanças significativas nas relações políticas e sociais, cujo propósito consiste em, através da adaptabilidade, sustentar sua especificidade e alteridade cultural; e apontar algumas consequências dessas mudanças. Enfim, face à tradição e à novidade, observar com esses Guarani se reportam à sua identidade (constitutiva e mostrada), seja aquela que representam para si mesmo (autoimagem), seja a que representam para os outros (alter-imagem). 2. PENSAMENTO E PRAXIS GUARANI Entre os Guarani, uma formação utópica, tal como se institui a Terra Sem Mal ou Yvy Marã E’ù, constitui um dos elementos chave para a compreensão do pensamento e do modo de ser (teko ou ethos/eidos) desse grupo étnico, dado o papel histórico e ideológico que essa entidade mítica e utópica desempenha na instituição do mundo e do vir-a-ser desse grupo indígena. Para compreender melhor esse papel fundador da Terra Sem Males, devemos considerar, com Jean-Paul Sartre que “a temporalidade é evidentemente uma estrutura organizada; [...], uma totalidade que domina suas estruturas secundárias e que lhes confere significação” (SARTRE, 2001, p. 158), e na qual categorias operativas como “presente”, “passado” e Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura “futuro” devem ser entendidas na condição de instantes estruturados de uma síntese, para a qual contribuem significativamente o imaginário e a memória sociais. Conquanto o termo imaginário seja polissêmico, trata-se de uma noção importante para compreendermos o papel preponderante que a memória atualizante das belas palavras (nheen porã, como as denominam os Guarani) desempenham na constituição da sociedade guarani. Neste sentido, compreendemos o imaginário como a faculdade originária de afirmar ou se dar, sob a forma de representação, uma coisa e uma relação cuja materialidade é sócio-histórica. Trata-se da capacidade de deslocar e propor sentidos para a realidade circundante, sendo, por conseguinte, um fator que permeia e cimenta qualquer sociedade humana, justamente pelo fato de, na condição de seres sociais, sermos interpelados pelo simbólico e, por conseguinte, termo-nos descolados do real. Por isso, é possível dizer que o imaginário desempenha um papel de elemento instituinte da sociedade, ao permear, tecer e manter coesa a realidade social, especialmente no que tange à afirmação de identidade (CASTORIADIS, 1992). Na concepção metafísica Guarani, encontramos uma série de disjunções que se expressam em diversas oposições dicotômicas, o que leva a considerar que o mundo guarani resulta de um descompasso tempo-espacial, ou de um presente que se encontra permanentemente fora dos eixos3. Devemos atentar, contudo, para o fato de que, na dinâmica organizacional e representacional da sociedade guarani, essas oposições não são inconciliáveis, mas complementares. Isto é, conformam uma unidade dialética que, em síntese, estrutura a identidade étnica e filosófica dos Guarani. Essas disjunções são encontradas tanto na geografia, quanto na história desse povo. Diante desse investimento libidinal na busca da Terra Sem Mal, cabe perguntar pela finalidade dessa procura: será que “ela vem unicamente reparar a injustiça (...) ou, ao justo, rearticular como é preciso a disjunção do tempo presente (...)?” (DERRIDA, 1994, p. 43 - grifos do autor). Esses dois eixos fundacionais levam a considerar que a sociedade guarani se estrutura em uma dupla ocorrência de externalidades: a) a heteronomia, uma vez que a fonte da qual se origina a ordem social, por pertencer à ordem divina, encontram-se externa à sociedade guarani: “Oh, nosso primeiro Pai! Foste tu quem concebeu antes do princípio as normas para nossa conduta; foste tu quem concebeu a origem da futura linguagem humana antes de haver criado a morada terrenal” (canto do pajé Laureano Escobar, apud CADOGAN, 1959, p. 95); 103 104 LATINIDADE b) a heterotelia, pois o fim a que se destinam lhes foi legado e, simultaneamente, interditado de fora, isto é, por uma razão cosmocêntrica. Assim sendo, Yvy Marã E’ù e Yvy Mba’e Meguã são duas manifestações míticas dessa ordem cosmocêntrica e que, no cotidiano da sociedade guarani, se reproduzem como recordação atualizada: “eis porque temos lembrança de sua bela morada inacessível” (CLASTRES, 1990, p.122) e, desse tempoespaço essencialmente divino, o que lhes resta como herança é esta lembrança insistentemente reordenada pelos preceitos ético-religiosos e reencenada nas narrativas e, em especial, nos ritos e nos mitos. Essas duas externalidades constituintes da ordem social guarani (o seu nomos) apontam para uma heterotelia instituinte, aquela que leva os Guarani a sair em busca da Yvy Marã E’ù e, durante o tempo em que essa busca durar, a manter o êxtase religioso que os arrebata e os conduz ao caminho que deve levá-los a ultrapassar a condição humana (para eles, a condição de ser homem ou humano é símbolo da imperfeição: falibilidade, morte etc.). Esta última se anuncia através da declaração segundo a qual não desejam ser/continuar homens, mas almejam a ser, ou voltar a ser, deuses (CADOGAN, 1959; CLASTRES, 1990). Essa busca dos Guarani não se caracteriza por uma simples volta a um tempo originário e/ou utópico, mas, ao contrário, visa recolocar a existência nos eixos, reajustá-la, visto que a presença fantásmica da Terra Sem Mal atravessa a história Guarani como o espectro espaciotemporal de um porvir já anunciado num tempo imemorial e real. Ao mesmo tempo, porvir da promessa messiânica e legado divino, a Terra Sem Mal configura-se, então, como uma procura incessante, uma vez que não há como tomar posse da herança a não ser caminhando em sua direção, isto é, urge ir buscá-la nesse espaço-tempo mítico de onde ela irradia sua espectralidade e sua potência instituinte: “para todos os destinados à terra indestrutível/ à terra eterna que nenhuma pequenez altera”; “somente assim vocês atingirão o termo que lhes foi indicado”; “faça com que produzam belamente/aqueles que sabem, aqueles que estão à espera,/todos eles, todos”; “os inúmeros destinados a se levantarem sobre o leito da terra” (CLASTRES, 1990: 143; 121; 44; 42). De acordo com os relatos míticos guarani (cf. CADOGAN, 1959 e CLASTRES, 1990), Nhamandu (a entidade criadora) participa da arché, pois ele se encontra na origem do movimento e da vida. No antes do tempo (pyti yma – literalmente ‘noite primeva’ -, yvytu yma – literalmente ‘vento originário’) não há movimento, existe apenas uma massa indistinta e igual a si mesma. É a manifestação corpórea de Nhamandu que, se de um lado, Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura provoca a ruptura desse estado de inércia e, por conseguinte, a emergência do novo; de outro, instala-se como o tempo-zero de um evento primigênio, aquele que é movimento, diferenciação e criação da vida; mas, igualmente, criação do devir. Não se trata, porém, apenas de uma forma abstrata de estar no mundo. A concepção cosmológica guarani tem a função de um princípio organizador e instituidor da sociedade e das relações contraídas, seja internamente, seja externamente (contato com outros Guarani e com não-guarani). O centro da cena histórico-cosmológica localiza-se “fora”, relativamente aos aspectos estruturais propriamente sociais. A atribuição de identidade (forma-sujeito guarani) se processa, nessa perspectiva, externamente ao espaço geográfico e ritual da aldeia. Aliás, o território histórico e geográfico guarani, em sua totalidade, é considerado como sendo apenas uma representação ou cópia. Um duplo cronológico-social do território verdadeiro (o tempo-espaço mítico e cosmológico) do qual, no tempo-espaço do presente, o ser social guarani encontra-se apartado, ainda que permanentemente conectado a ele pela memória (as belas palavras que foram legadas pelos pais e mães verdadeiros). O pensamento metafísico guarani é, ao mesmo tempo, de ordem institucional e individual (porque, de acordo com a ética guarani, cabe exclusivamente ao indivíduo ir em busca de sua felicidade), e exteriorizase discursivamente na forma de preces e elucubrações e mitopoemas, visto que “é no território do mito em si que tal discurso floresce, e à luz da inquietação religiosa se esclarece” (CLASTRES, 1990, p. 125). Do discurso mítico-religioso guarani participam interlocutores que são, entre si e constitutivamente, dissimétricos, dispostos em um espaço enunciativo marcado pela presença da ordem do sagrado, em um lugar situado no entremeio e, por essa razão, em estado de disjunção. De um lado, encontra-se um interlocutor sujeito humano-humano; de outro, um interlocutor sujeito humano-divino; de um lado, o autor imemorial e, de outro, o autor histórico. Esse cenário dialógico deve ser compreendido como a historicidade de uma errância constitutiva, representada pela relação fundante entre a terra (como representação do estar aqui, na terra-que-perece) e a Terra (como representação da terra-que-não-perece). É por essa razão que podemos dizer a concepção guarani de tempo expressa-se em sua tekologia4, uma vez que a universalidade do tempo guarani é assumidamente local. É a partir da cosmologia da aldeia que esse tempo se configura. Dessa maneira, podemos afirmar que o ser-no-mundo 105 106 LATINIDADE guarani não se assume como um estar-diante-de-deus como, por exemplo, na tradição judaico-cristã. De acordo com a tekologia guarani, ser-nomundo significa estar-com-deus, compartilhando o mesmo tempo e o mesmo espaço divinos. Em relação a esse ponto, é preciso lembrar que, na concepção guarani, o tempo-espaço do sagrado é justamente o lugar a que, de direito, pertence o homem. A memória fundadora da sociedade Guarani imbrica-se à noção de tempo – do tempo de ontem e da fundação, com o caminhar sagrado (oguatá porã) como co-extensão desse complexo tempo-memorial fundador, relacionado à utopia e à heteronomia da Terra-sem-Males, sobretudo pela necessidade de continuar caminhando e, no decorrer desse caminhar, ser capaz de ir re/encontrando, re/conhecendo e decodificando os sinais deixados por Nhanderu (literalmente ‘nosso pai’, essa expressão indica uma forma coloquial e/ou familiar pela qual os Guarani se referem ao ser criador da sua história e de sua memória5, Nhamandu). Para os Guarani, o mundo é constituído de lugares e imagens (marcas ou sinais mnemônicos) de memórias, cujos dêiticos devem ser reconhecidos, lidos e interpretados e, finalmente, integrados à sociedade, formando uma longa cadeia de eventos discursivos que, devido à sua constante rememoração, formam uma unidade identitária. Para melhor viver e realizar a união com o tempo das origens, os Guarani têm o dever sagrado de reconhecer, interpretar ou lembrar os signos inscritos em sua memória. Assim, o tempo sagrado Guarani é antes de tudo, um tempo de recordação e da (re)união com o divino (gráfico 1). Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura GRÁFICO 1: ESTRUTURA DA CONCEPÇÃO MITOCOSMOLÓGICA DOS GUARANI Noite/Ventos Originários Nhamandu animais vegetais (metáfora ambiental) Terra Original Seres Originais [ corporificação expansão ] sol (metáfora celeste) Nhamandu Ru / Xy Ete [ Jakaira Karai Tupã ] Nhamandu Py’a Guaxu [ Jakaira Ja Karai Ja Tupã ] s o ir e d a d r e V s n e m o H Terra Homens Seres Imperfeitos Imperfeitos Tempo - Ventos (novos) = Renascimento Fonte: Borges, 1999. Afinal, o objetivo do caminhar sagrado é realizar uma ultrapassagem, pela qual intentam retornar à origem, ao tempo de antes da vida limitada pela dissociação primeva entre um tempo/mundo imperfeito e perecível e seu contrário complementar, o tempo/mundo da perfeição e da não morte. Aliás, é justamente isso que se encontra explícito no ciclo temporal guarani, no qual aos ventos antigos sucedem-se os ventos novos, e que isso se realiza em um contexto de contínua e incessante expansão universal (oguerojerá), a qual, por sua vez, leva ao amadurecimento das coisas e do espírito (aguyje) 107 108 LATINIDADE e à renovação ou manutenção da vida (onhemokandire – literalmente ‘manter os ossos frescos’). 3. ESTRATÉGIAS IDENTITÁRIAS E MUSEALIZAÇÃO DA MEMÓRIA Na história dos Guarani destaca-se um traço que, por sua persistência e função, configura-se como uma característica que distingue os Guarani da maioria dos demais povos indígenas brasileiros: a adaptabilidade. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência (de permanência, de reprodução e de manutenção do ser social nas condições que lhes são oferecidas) que tem marcado a relação desse grupo étnico com os não-guarani, desde os mais remotos relatos que dispomos sobre eles6. De um lado, é possível detectar na cultura guarani elementos absorvidos de outras culturas, em especial de elementos culturais da sociedade envolvente; por outro, essa estratégia temse provado bem sucedida, se levarmos em consideração o conjunto da sociedade guarani – na qual encontramos um núcleo duro, especificamente guarani, em torno do qual agregam-se traços culturais e diacríticos híbridos – e o fato de ter podido manter-se física e simbolicamente guarani a despeito dos 500 anos de intenso e extensivo contato. E é justamente essa estratégia que, atualmente, vemos em ação sempre que os Guarani encontram-se, no vis a vis com a sociedade envolvente, em situação de tensão na qual é preciso repensar ou ressignificar seus diacríticos identitários. Devemos lembrar que a relação entre a sociedade guarani e a não-guarani se dá na forma de temporalidades disjuntas e sobre-encaixadas. Disjuntas porque tanto endogenamente quanto exogenamente a temporalidade guarani e não guarani não se correspondem; e sobreencaixadas porque as diferentes temporalidades co-ocorrem produzindo efeitos de maior ou menor intensidade. Por fim e resumidamente, essa estratégia de adaptabilidade consiste na seguinte fórmula: ressignificar diacríticos, absorver elementos culturais exógenos a fim de manter a identidade de Guarani. Comparados aos Tupinambá, os Guarani se distinguiram por desenvolver, desde o período colonial e durante o processo de conversão ao cristianismo (empresa catequética levada a cabo especialmente pelos Jesuítas), uma tática da resistência passiva. Esta foi, em geral, entendida pelos missionários como conformismo. Desse modo, embora, de um lado, tivessem sido levados a modificar as suas relações sociais (regras de casamento, distribuição familiar etc.) e tenham “perdido” diversas práticas cerimoniais e rituais por conta Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura de sua permanência em reduções jesuíticas; de outro, mediante o contato cultural, enriqueceram o núcleo duro que sustenta a sua identidade, qual seja, a língua e o sistema cosmológico-religioso, com elementos que adaptaram à sua própria conveniência7. Um dos poucos rituais mantidos até hoje pelos Guarani é o de nominação: quando as crianças com cerca de 1 ano ou mais (quando já podem manter-se em posição vertical) recebem seus nomes. Os Guarani dispõem de 5 classes de nomes masculinos e femininos, cada classe refere-se ao domínio celeste de uma divindade (ambá). Cabe ao oficiante da cerimônia escutar qual é o nome e de que região do céu, ou ambá, esse nome procede. No que tange à distribuição dos nomes, essas classes, ou famílias cosmológicas e suas linhas de descendência de nomes assemelhamse a uma estrutura clânica. Desse modo, a linha de descendência, ou famílias, dos nomes próprios afigura-se como único indício de clã que encontramos entre os Guarani8. Para todos os efeitos, a religião guarani é, ao mesmo tempo, o lugar da resistência e de adaptação, bem como um espaço de hibridismo cultural, especialmente no que respeita à liturgia. Embora tenha sido o aspecto da cultura guarani que mais sofreu ataques - afinal, o processo de redução significava, antes de tudo, substituir a religião “pagã” pela cristã – é na religião que se torna mais perceptível a “resistência nativa e uma criativa incorporação de temas e sujeitos do cristianismo” (BRANDÃO, 1990). Este é também o caso da música guarani, cuja estrutura musical (instrumental e vocal) se aproxima do cantochão e na qual pontificam instrumentos que, claramente, foram tomados de empréstimo aos religiosos cristãos: o violão (significativamente chamado de mbaraká9, ‘maracá’) e a rabeca (ou ravé, em Guarani). Outra importante instituição da sociedade guarani é a opy ou ‘casa de reza’, construção que simboliza o centro identitário de uma aldeia, e onde todas as noites os Guarani se reúnem para cantar/rezar, fazer rituais de cura e discutir e tomar decisões concernentes aos problemas da aldeia. Em termos de função, a opy não se diferencia do que, há algum tempo, os templos religiosos representavam para as cidades. No interior da opy há um “altar” (ambá), onde estão dispostos os instrumentos sagrados, velas e cachimbos. Vemos aqui dois exemplos já tradicionais de objetos e elementos intangíveis que, emprestados ao cristianismo, se incorporaram à cultura guarani e, hoje, são partes integrantes e inalienáveis do ethos guarani. Além do vestuário, encontramos atualmente entre os Guarani três outros aparatos sociais que, vindo do mundo do juruá (denominação usada para referirem-se aos não-índios), foram incorporados ao mundo guarani: a 109 110 LATINIDADE escola, a enfermaria e, mais recentemente, a casa de cultura - um espaço museológico com narrativa em primeira pessoa (cf. ABREU, 2012). Em dezembro de 2011, na Tekoá Mboapy Pindó (Aldeia Três Palmeiras), no município de Aracruz, Espírito Santo, foi inaugurada a primeira Casa de Cultura Guarani. À semelhança de outras experiências comunitárias (indígenas e não indígenas) a função da Casa de Cultura é a de preservar a memória dos Guarani, especialmente a saga concernente à migração (o oguatá porã) que os levou a se estabelecerem no Espírito Santo. E embora possa servir de atração para turistas, ela foi precipuamente pensada para ser visitada e atualizada pelos próprios Guarani. Ali uma parte da história recente dos Guarani está exposta, ao lado de vários objetos culturais. Tratando-se de uma aldeia urbana, a arquitetura da Casa de Cultura Guarani não se distingue das demais existentes, seja na aldeia, seja em seu entorno. Contudo, em termos guarani, isso não tem a menor importância, uma vez que não é o diacrítico “casa indígena” que é relevante, mas o fato de que ela, no espaço físico e simbólico da aldeia, torna-se guarani e, inversamente, por aquilo que contém e por sua função de casa de memória, passa a desempenhar um papel importante no jogo do imaginário social, mediante o qual a identidade guarani permanentemente se constrói. Assim, os Guarani utilizaram-se e continuam se utilizando de uma estratégia político-cultural que foi, em nossa sociedade, deflagrada e popularizada pela chamada Geração de 22 da literatura brasileira: a antropofagia. O irônico dessa coincidência estratégica reside no fato de que a antropofagia, em sua versão cultural modernista, constituía uma valorização estético-política daquilo que, aos europeus do período colonial e aos brasileiros pós-independência causara tanto horror: a antropofagia, que era regularmente praticada por alguns grupos indígenas brasileiros (os Tupinambá, os Aimoré, por exemplo). Há, ainda, outra ironia – essa mais sutil – os Guarani, louvados pelos colonizadores como não antropófagos, tornaram-se, em virtude de sua estratégia adaptativa, antropófagos culturais, tal qual propugnavam os intelectuais da Semana de Arte de 1922, em seu Manifesto Antropofágico, publicado em 1928. Em sua versão guarani atual, a antropofagia cultural consiste em apropriarse de aparatos sociais e comunicacionais da sociedade envolvente, traduzilos em termos especificamente guarani e devolvê-los e utilizá-los frente às pressões deculturantes que a sociedade envolvente continuamente exerce sobre os povos indígenas em geral. A antropofagia cultural permite aos Guarani, ao fazer uso da tática de combater fogo com contrafogo, enfrentar Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura o aparato discursivo da sociedade envolvente, fazendo uso, em seu benefício, de alguns desses aparatos ideológicos (a escola, a internet, os lugares de memória...) Nesta perspectiva, a musealização da memória guarani, tal qual se encontra representada na Casa de Cultura e em sua expografia, é um modo dos próprios Guarani apossarem-se de recursos museográficos a fim de poderem contar, de outro modo, a sua história. E, assim como qualquer outra casa de cultura, museu ou centro de memória, a dos Guarani também tem uma função político-simbólica: a de (re)construir, a partir da memória social, um sentido ordenado segundo as razões e as estratégias de sobrevivência desse grupo. A iniciativa guarani de construir uma Casa de Cultura assemelha-se a outras ações indígenas na mesma direção (tal como os Tikuna e os Wayampi) e possui os mesmos significados históricos e políticos. Neste sentido, concordamos com Regina Abreu quando diz que: “se, outrora, os grupos indígenas eram representados nos museus etnográficos a partir de práticas de colecionamento de etnólogos-colecionadores”, essas iniciativas indígenas expressam uma vontade de autorrepresentação. A Casa de Cultura guarani, tal qual o Museu Magüta dos Tikuna, representa “um lugar de construção e de afirmação de uma identidade étnica na primeira pessoa, ou seja, implementada pelo próprio grupo interessado” (ABREU, 2012, p. 293). Desse modo, a função da Casa de Cultura e dos objetos ali expostos não se volta ao culto do passado, mas, ao contrário, visa à afirmação do presente e, certamente, à possibilidade de um futuro no qual o ethos guarani não seja descontinuado. A Casa de Cultura guarani é uma explicitação, no universo discursivo desse grupo étnico, do que efetivamente significa musealizar: afirmar a existência dos artefatos, recolocá-los na vida cotidiana usando como instrumento o processo museológico. Musealizar para não apagar, para não esquecer. Musealizar para que o grupo pudesse ser visto e, sobretudo, reconhecido. Musealizar para garantir conquistas sociais, políticas e jurídicas, avançando cada vez mais nesta direção. Musealizar para fortalecer o sentido do todo, do coletivo (ABREU, 2012, p. 296). Como vemos, a estratégia de incorporação e adaptação não perdeu sua atualidade. Cada um desses aparatos importados da sociedade envolvente (o que inclui também a tecnologia e a informática) é ressignificado e passa 111 112 LATINIDADE a contribuir para o reordenamento da identidade guarani. Como já afirmamos anteriormente, os Guarani não abrem mão de seu núcleo duro: sua cosmologia e sua língua, uma vez que uma remete a outra. Seus mitos/ discursos fundadores, reforçados pelos rituais diários na opy e pela anual cerimônia de nominação – e que também marca o fim/início do ciclo temporal desse grupo -, continuam operando e constituindo a memória e a matriz da identidade guarani. Mas, em torno desse núcleo gravita uma multiplicidade de elementos resultante, em diversas temporalidades, do contato intercultural e das transformações causadas, dentre outros fatores, pela influência dos diferentes ecossistemas nos quais ergueram suas aldeias – em especial aquelas encravadas em área urbana ou semi-urbana-, os quais vão-se adaptando e incorporando-se ao modo de ser e de viver dos Guarani. NOTAS 1 Os Tupiniquim do Espírito Santo são um bom exemplo de resistência e de adaptação cultural. Mantêm sua língua e apresentam traços marcantes de hibridismo cultural. 2 Para maiores informações consultar: Borges, 1999; Borges; Gondim, 2003; Cadogan, 1959; Chamorro, 1999; Clastres, 1978; Clastres, 1990; Garlet, 1997; Ladeira, 2001; Litaif, 1996; Meliá, 2010; Meliá, 1992; Meliá, 2010; Meliá, Grünberg e Grünberg, 2008; Oliveira, 2002; Rodrigues, 1986 e 2000; Schaden, 1974, além de Instituto Sócio-Ambiental (www.pib.socioambiental.org). 3 Essa mesma disjunção temporal e sócio-cultural opera na relação que os Guarani estabelecem com os outros. 4 Foi o antropólogo Aldo Litaif (quem cunhou esse neologismo para referir-se à especificidade do pensamento metafísico guarani. A palavra é formada pelo léxico guarani teko (modo se ser e de viver, cultura e também remete à religião) e o grego logia (estudo, reflexão, saber, pensamento). A palavra guarani que podemos traduzir como aldeia é tekoa, formada por um prefixo que indica posse [t-], o radical [-eko] e um sufixo agentivo [-a]. Desse modo, em guarani, aldeia que dizer “aquilo que [lugar] que propicia a existência da vida, do modo de ser. 5 Além de se referir ao genitor, essa expressão respeitosa e honorífica é dirigida aos pajés e aos grandes lideres espirituais. 6 É bem significativa, por exemplo, a diferenciação que Gabriel Soares de Sousa faz ao descrever os Carijó (uma das denominações atribuídas aos Guarani), comparando-os aos Tupinambá: estes, ferozes, inimigos dos portugueses e canibais; aqueles, mansos, cooperativos e não canibais (SOUSA, [1585]1987). 7 Podemos, rapidamente, arrolar algumas outras perdas: a casa comunal, a cerâmica, o uso do arco-e-flecha, a pintura corporal, as habilidades marítimas, a plumária. Há atualmente várias tentativas de recuperar, por exemplo, a pintura corporal, o uso do tembetá, e rituais de iniciação. O artesanato, no qual se destaca a cestaria, é modernamente uma atividade bastante desenvolvida entre os Guarani e uma de suas fontes de renda. Ou seja, fruto da adaptação face ao contato com a sociedade envolvente e à necessidade de produzir renda. 8 Embora isso não constitua efetivamente um indício de que a estrutura social e política dos Guarani fosse clânica, é, não obstante, uma característica singularmente marcante dos Guarani. Estruturas clânicas ou similares também ocorrem entre outros grupos tupi, como os Parakanã, por exemplo. A sociedade parakanã é composta por três patrigrupos exogâmicos, Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura os Apyterewa, os Tapi´ipya e os Wyrapina, cada um deles com diacríticos identificadores próprios. 9 O maracá tradicional (que passou a chamar-se mbaraká mirim, ‘maracá pequeno’) não foi abandonado, continua com a mesma função, sendo usado junto com o violão ou isoladamente em cerimônias religiosas e/ou xamânicas. REFERÊNCIAS ABREU, Regina. Museus indígenas no Brasil: notas sobre as experiências Ticuna, Wajãpi, Karipuna, Palikur, Galibi Marworno e Galibi Kali´na. 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Memória e antropofagia cultural: os Guarani e a Casa de Cultura ABSTRACT Well known in literature as capable of adapting to a diversity of situations in face of intercultural tensions, the Guarani are now a days still resisting to a series of pression and, thus, recorring to different strategies of adaption they succeeded to maintain their ethnic identity. The aim of this paper is, based on the supposition that the physical and cultural survival of this ethnic group is due to their adapting capability, to analyze the political and cultural meaning of building a House of Culture which of was recently inaugurated in the Village Three Palm Trees (Tekoa Mboapy Pindó), in the State of Espírito Santo, Brazil. It should be understood that the Guarani House of Culture, besides being a space of memory, musealization and, finally, production and ordainment of meaning, is an outcome of a strategy that presupposes a cultural process of appropriation of apparatuses developed by the surrounding society, investing them of news meanings so that they may be absorbed and used according to the purposes of the Guarani society. Key words: Culture, Guarani, Heritage, Memory, Musealization. RESUMEN Conocida en la literatura como ser capaz de adaptarse a las más diversas situaciones de tensión intercultural, los guaraníes continúan hoy para resistir las presiones de diversos y por lo tanto utilizando estrategias de adaptación, capaces de mantener su identidad étnica. Esta comunicación, basada en la suposición de que la supervivencia física y cultural de esta etnia es debido a su capacidad de adaptación, examinar la importancia política y cultural de la construcción de una casa de la cultura, que se inauguró recientemente en las palmeras tres pueblo (Tekoa Mboapy Pindó), en el estado de Espírito Santo. Debemos entender que la casa de la cultura guaraní, así como un museo y espacio, de todas formas, para la producción y la mejora de sentido, es el resultado de una estrategia que asume un proceso cultural de apropiación de los dispositivos de memoria desarrollado por la sociedad que lo rodea, redefinida para que puedan ser absorbidos y utiliza de acuerdo con los intereses de la sociedad. Palabras clave: Cultura, guaraní, memoria, Museo, patrimonio. 115 Los países BRICS y la formación de un nuevo orden jurídico internacional Los países BRICS y la formación de un nuevo orden jurídico internacional Marianna Abrámova - Docente de la cátedra «Teoría e historia del estado y derecho». Universidad de Finanzas adjunta al Gobierno de la FR. Ph.D. (Historia) RESUMEN Uno de los papeles rector en este cambio juega el bloque de Brasil, Rusia, India, China, Sudáfrica - BRICS. El término BRIC apareció por primera vez en 2001 en la publicación del Grupo de economía global que pertenecía al banco “Goldman & Sachs”». En 2009 al entrar en el bloque Sudáfrica éste se transformó en BRIC-S, que ahora puede ser considerado como una de las estructuras principales en que encuentra su expresión el movimiento del mundo hacia la multipolaridad. La última puede ser diferente: económica, política, cultural y jurídica. Palabrasclave: Orden Internacional – BRICS - Economia Me gustaría comenzar mi intervención con una cita del famoso multimillonario indio Azim Premzhdi, presidente de una importante empresa india que produce el software Wipro. Hablando en la conferencia en Davos al principio de 2012, dijo: “Hay una desaceleración económica del mundo occidental y el crecimiento de los países en desarrollo. Esto es un cambio completo en el equilibrio de las fuerzas”. Uno de los papeles rector en este cambio juega el bloque de Brasil, Rusia, India, China, Sudáfrica - BRICS. El término BRIC apareció por primera vez en 2001 en la publicación del Grupo de economía global que pertenecía al banco “Goldman & Sachs”».1 En 2009 al entrar en el bloque Sudáfrica éste se transformó en BRIC-S, que ahora puede ser considerado como una de las estructuras principales en que encuentra su expresión el movimiento del mundo hacia la multipolaridad. La última puede ser diferente: económica, política, cultural y jurídica. En estos 10 años llegaron a formarse varias opiniones respecto a los resultados de su actividad. Los críticos radiculizan este bloque diciendo que es un club huero de discusiones y que los países tan distintos nunca pueden elaborar una ideología común. Los partidarios afirman que el bloque tiene gran futuro y que los participantes poseen más similitudes que diferencias. 117 118 LATINIDADE Es muy importante de entender que se trata de una cierta cadenita de potenciales supergrandes y grandes que están cambiando la imagen del mundo ya formada. Los expertos coinciden en que el BRICS con la mitad de la población mundial y una quinta parte de la economía global es un reto real y verdadero para el orden mundial existente. Sin embargo este cuatro no puede ser considerado como una exclusión del contexto internacional. Las oportunidades para emerger pueden obtener otros países grandes. Por ejemplo, hace poco los especialistas comenzaron a hablar en serio sobre México, se oyen voces desde Correa de Sur, Indonesia, Malasia, Pakistán, Vietnam, Nigeria. Los investigadores rusos hasta pusieron en circulación un nuevo término para definir esta vanguardia - «gigantesascendentes». Entretanto en el BRICS las cosas no pasan sin obstáculos. En muchos sectores clave los países de este grupo en el fondo son competidores. India y Rusia son obstáculo potencial y real para el dominio regional de China en Asia. A nivel internacional Rusia, Brasil e India abogan por la creación del sistema mundial multipolar en que sean actores principales. Con eso dos últimas pretenden entrar en el Consejo de Seguridad ampliado de la ONU a lo cual opone China. De otro lado, ésta sueña con el mundo bipolar en que interprete un papel de contrapeso a los EE.UU. La tensión política interna es un factor limitativopara la infuencia de Sudáfrica a nivel mundial. Pués de este modo podemos ver que, de un lado el bloque tiene gran potencial, y de otro — está limitado por serios problemas internos por la competencia. Es lçógico hacer una pregunta: ¿Si se puede tal bloque económica, política e ideológicamente enfrentar a la hegemonía de los EE.UU. en este mundo actual desequilibrado? Tratamos de responder a esta pregunta desde el punto de vista no muy común es decir el júridico. Y aquí, me parece, el BRICS tiene mucho más potencial que en la economía, finanzas y política. Nos referimos a que precisamente estos países pueden ganar la discusión global sobre «la fuerza del derecho o el derecho de la fuerza» y contribuir a formar un nuevo orden mundial. «La globalización está aquiriendo incluso una dimensión cultural civilizacional».2 «En la estrategia de Seguridad Nacional de la FR hasta 2020» se dice que «los valores y modelos del desarrollo se convirtieron en un objeto de la competencia global».3 «Los esfuerzos colectivos para establecer un diálogo intercultural adquiere una importancia especial ante las amenazas de la escisión entre las Los países BRICS y la formación de un nuevo orden jurídico internacional civilizaciones».4 Esta escisión y la competencia global se basa ante todo en las diferencias entre los sistemas jurídicos de cada civilización. Esto significa que la coincidencia de las opiniones respecto a existir el problema (por ejemplo, «el terrorismo es un mal», «hay que luchar contra la piraterìa», etc.) no garantiza el consenso en escoger los medios de combatirlo. Por lo tanto, algunos países están dispuestos a elaborar las normas capaces de dar una solución judicial clara, mientras que otros trataò de ver este problema a través del prisma de sus intereses políticos a corto plazo, lo que en gran parte se debe a las diferencias en sus sistemas jurídicos. Me parece, pues, que el potencial de interacción de Rusia con sus socios del BRICS en el ámbito de derecho internacional, así como con otros países de América Latina y algunos países de Europa Occidental es objetivamente mayor que, por ejemplo, con los países que pertenecen al arquetipo civilizacional anglosajón. La razón está en las diferencias histórica y culturalmente determinadas entre los dos sistemas jurídicos más importantes de la actualidad: el romanogermánico (a que pertenecen Rusia, China, los países latinoamericanos, asi como los estados de la Europa Continental) y el de fuero común (“common law”) a que se atienen los países de habla inglesa. El “common law” inglés basado sobre una sentencia (precedente), “no es el derecho de los principios sino el derecho de los practicos”5, el derecho de los jueces. En los Estados Unidos “la percepción de la doctrina de derecho es lo más probable una cuestión de psicología jurídica que la de la ley”. Se cree que “la filosofía de Norteamérica es la filosofía del pragmatismo”. En el sistema anglosajón el derecho es más dinámico, mejor adaptado a la realidad. Sin embargo, en el fuero internacional, que, como sabemos, no conoce la voluntad de un solo legislador, ni un mecanismo claramente definido y obligatorio de sanciones, este enfoque basado en “el precedente” lleva a la tentación de crear un “juez” en la persona de algún estado más poderoso y de sustituir el derecho internacional por el nacional. Transferiendo el sistema de precedentes de su fuero interno a nivel internacional, los EE.UU. crean “precedentes” que les dan “derecho” de bombardear Yugoslavia e intervenir en Irak sin sanciones de la ONU; de capturar al dictador panameño Noriega sobre la sentencia de un juez norteamericano; de minar los puertos de Nicaragua en 1986, etc. El año pasado fuimos los testigos de la ejecución de Saddam Hussein, de la represión salvaje contra Muammar Gaddafi, del peligro de la guerra contra Siria e 119 120 LATINIDADE Irán. Para todo eso es suficiente tener “un precedente” - la decisión de que en este territorio no hay democracia. En los EE.UU. el fuero internacional no tiene prioridad sobre el fuero interno. Por lo tanto las leyes y reglamentos de carácter internacional (por ejemplo, los contratos) no son para ellos una fuente de derecho, es decir, la creación de otro precedente legal o tomar el juez o el legislador de EE.UU. no tiene que tener en cuenta la actual norma jurídica internacional. Por eso las normas jurídicas del alcance internacional (por ejemplo, los tratados) para ellos no son fuente del derecho, es decir, al crear un precedente jurídico más o aprobar la ley un juez o legislador norteamericano no tienen que tomat en consideración las normas jurídicas internacionales ya existentes. Las normas jurídicas europeas, señaló David R., para una familia anglosajona “parecen ser muy a menudo los principios generales que expresan algunos anhelos morales o más bien un programa político y no las normas del derecho”. En este sentido es muy relevante la actitud de algunos jurístas estadounidenses hacia las normas del fuero internacional que fija el principio de la soberanía. Según Charles Maier, el principio de la soberanía “es sólo una metáfora, un canal de comunicación”. Por lo tanto no es casual que los principios y normas del fuero internacional en la práctica legal de los EE.UU. pueden variar en dependencia directa de sus intereses específicos en el ámbito internacional en un momento dado. Así que el menosprecio por parte de Washington del fuero internacional durante la administración de George Bush-hijo no es de ningún modo un fenómeno temporal y subjetivo. En su fundamento está el carácter civilizacional y cultural asociado con el tipo anglosajón del fuero. De manera muy diferente podemos caracterizar el sistema jurídico romano-germánico. En su base fueron sentados los principios de la justicia, moralidad y ética desarrollados en las doctrinas de los juristas romanos y medievales, pero de una manera u otra, remontados a lo Absoluto, a la revelación divina, etc. Por lo tanto, el juez en este sistema sólo interpreta una norma jurídica, y no crea una nueva. Para enmendar la ley o abolirla, o crear una nueva representa un proceso claramente definido y de mucho hueso (de mucho trabajo). La desventaja de este sistema es la movilidad menor de la norma jurídica, su conservadurismo. Aquí están las raíces del “relativismo jurídico” del cual hablan tanto en los últimos años y que es propio de Rusia, igual de los países de América Latina, en particular de Brasil. Ni el ruso tampoco Los países BRICS y la formación de un nuevo orden jurídico internacional el brasileño no van a correlacionar cada su paso con la ley pidiendo justicia en el tribunal cada vez que se viole. ¿En qué consiste la percepción particular del derecho en los países romano-germánicos como del sistema de normas? ¿Si el derecho se basa sobre “los principios eternos” y es sólo el “mediador” entre éstos y la realidad cotidiana, no es mejor rechazar totalmente a este “mediador” y tratar de construir la vida según los principios de la justicia, ética y moral? De esta manera filosofaron muchos, en particular San Agustín, cuya doctrina sigue siendo popular en varios países católicos, y el escritor y filósofo ruso León Tolstoi, que abogaba por abolir la ley en general. En segundo lugar, la constancia y la rigidez de la ley escrita a veces empuja a la gente a burlarla y no siempre vía legal. En Brasil, hay incluso un especial, única característica de este país la palabra viveza, que el idioma ruso tiene una contrapartida - “truco”, “excusa”. La rigidez de la ley escrita es a veces empuja a la gente que, para conseguir alrededor de él, a veces no del todo legal. En Brasil, existe una palabra muy especial, característica sólo para este país - jeitinho, lo que en ruso significa truquillo, regate. Sin embargo, con todas las deficiencias evidentes del “relativismo jurídico” y reconociendo la necesidad de lucharlo continuamente, mencionamos que el fuerte del sistema jurídico romano-germánico es que la norma no puede ser abolida en un abrir y cerrar de ojos, creando fácilmente en su lugar el precedente que sea adecuado a la cuestión de actualidad. En primer lugar esto se refiere al derecho internacional. Hablando sobre las perspectivas de la cooperación entre Rusia y otros países-miembros del BRIC, nos basamos en el hecho de que en estos países el respeto por el derecho internacional es una cosa natural. En la nueva Constitución rusa de 1993 está fijado el principio de supremacía del derecho internacional sobre el interno. Para todos los países de América Latina, incluso Brasil, la norma jurídica internacional es también una fuente del derecho interno y se aplica paralelo a la legislación nacional. Por lo tanto, la similitud o coincidencia de las posiciones entre Rusia y Brasil por los problemas más palpitantes de nuestro tiempo, se basa en nuestro respeto, civilizacionalmente determinado, de los principios de derecho internacional, de las costumbres y normas. Justamente por eso los países latinoamericanos rechazan a las iniciativas de política exterior de EE.UU. que se oponen al derecho internacional. Así, en 1999, el abogado ecuatoriano y politólogo K. Fuentes, comentando los acontecimientos en Yugoslavia, señaló que el “interés específico”, de que 121 122 LATINIDADE Estados Unidos hizo el absoluto, “pudo obtener la formalización legal sólo en el sistema jurídico anglo-americano, lo que sería muy inaceptable en el iberoamericano basado sobre la norma escrita y los “principios eternos” claramente definidos. Vamos a comparar esta visión con las palabras del entonces jefe de la Casa Blanca E. Karda acerca de los acontecimientos en Irak, “la ONU puede reunirse y discutir cualquier cosa, y nosotros vamos a hacer lo que queramos.” Esta misma lógica el mundo anglosajón la sigue al resolver los problemas de Libia, Siria e Irán. Unas palabras sobre China... En China también se reconoció el principio de la supremacía del derecho internacional. La Constitución de la República Popular China de 1999 define el país como un “estado de derecho basado sobre las normas de la moral”, y la ética de Confucio que se encuentra en el fundamento de ésta parte de la idea que el “deber de cada uno es buscar un consenso y la armonía”. La situación un poco más complicada podemos ver en India. El dominio colonial británico ha traído a este país el sistema de “common law” (derecho común), y los “abogados ingleses daban a la sentencia de tal autoridad que nunca reconocía la tradición hindú”. Una vez declarada la Independencia de India en 1947, volvieron a los principios tradicionales. Ahora la característica más importante del derecho indio es la primacia de la ley sobre el precedente, y el respeto del derecho internacional que está puesto al mismo nivel que el derecho interno. Por ejemplo, India, desde los primeros pasos de su independencia defendía la necesidad de elaborar y aprobar en la ONU una definición del terrorismo internacionalmente reconocido lo que no quieren hacer Estados Unidos. El nuevo miembro del BRICS -Sudáfrica- tiene un sistema jurídico mixto que combina elementos de derecho romano-holandés, inglés y el consuetudinario. Cabe mencionar que precisamente en Sudáfrica el derecho romano continúa manteniendo su vitalidad. Los textos del famoso Código de Justiniano (Corpus Juris Civilis) del siglo VI todavía se reconocen como una fuente del derecho y se interpretan sobre la base de obras del filósofo y jurista holandés Hugo Grocio. En las sentencias de los tribunales sudáfricanos la continuidad del derecho romano es mucho más evidente que en el Continente europeo donde ésta, gracias a la mediación de los códigos civiles, casi desapareció de la conciencia de los juristas. El Derecho inglés penetró en Sudáfrica vía indirecta. Si los tribunales se enfrentaban en el derecho romano-holandés con las cosas no muy claras, problemas y normas obsoletas estaban dispuestos a buscar la ayuda del Los países BRICS y la formación de un nuevo orden jurídico internacional derecho precedente inglés que los jueces instruidos en su mayoría en Londres conocían mucho mejor que las obras de abogados holandeses. Así que en la actualidad hay dos fuentes principales del derecho sudafricano - legislación y derecho casuístico. La legislación incluye la Constitución y los decretos del Parlamento (leyes), constituciones y actas legislativas de las provincias, así como los reglamentos jurídicos. Los fundamentos del nuevo sistema estatal democrático y jurídico están fijados en la nueva Constitución de 1996. El Catálogo de derechos y libertades humanos que es una parte de la Constitución, no sólo corresponde totalmente a los estándares internacionales, sino se caracteriza por ciertas innovaciones en comparación con otros países democráticos. Los acuerdos internacionales ratificados por Sudáfrica, no se convierten automáticamente en una parte de su legislación y no gozan de la prioridad. Según la Constitución, todo acuerdo internacional pasa a ser obligatorio en la República por aprobar la ley nacional correspondiente. En los tribunales reina el derecho casuístico, y cada uno de aquellos es guiado por la sentencia del tribunal superior. Paralelmente con este sistema “europeo” en Sudáfrica coexiste el derecho consuetudinario africano. Hasta la fecha, sólo el 16% de la población sudáfricana son descendientes de los inmigrantes europeos. Las causas entre la población de piel negra se resuelven por los tribunales especiales locales (tribunales nativos) sobre la base del derecho consuetudinario de la tribu bantú. Al mismo tiempo, con la caída del Apartheid cada vez más africanos negros aceptan la cultura jurídica europea e se integran en la sociedad moderna. De este modo India y Sudáfrica, estando relacionadas con el sistema jurídico tanto anglosajón como romano-germánico, al mismo tiempo han perdido su derecho tradicional indígena. Esto los convierte en los actores eficaces del derecho internacional público que al tener tales sistemas mixtos son menos vulnerables a los desafíos globales en el espacio mundial jurídico, ellos a un tiempo pueden ser flexibles y firmes. COMCLUSIONES: 1. Las diferencias sistémico civilizacionales respecto al derecho internacional que existen entre Rusia y el mundo anglosajón, dificultan objetivamente la cooperación con éste. En este contexto Rusia puede considerar sus socios en el BRIC (sobre todo Brasil) como socios más comprensibles con los cuales ella tiene valores jurídicos comunes. 123 124 LATINIDADE Defendiendolos firmemente los países BRICS pueden construir un nuevo orden mundial jurídico. Él debe ser justo, multipolar y sostenible. 2. Comunidad creada sobre la base de similitudes en los sistemas jurídicos, doctrinas y ejecuciones entre los estados BRICS puede favorecer a: a) fortalecer los principios jurídicos en la política mundial; b) garantizar la primacía de la ONU y el derecho internacional paralelmente con la reforma adecuada de esta organización y actualización de todo el cuerpo de leyes, principios y tradiciones internacionales; c) oponer a los retos de la seguridad internacional sobre la base de reconocimiento del principio de indivisibilidad de ésta y de su carácter integral. NOTAS 1 Building Better Global Economic BRIC’s. // GS Global Economic Paper. November 30, 2001. 2 http://www.mid.ru/Ns-osndoc.nsf/arh/45E54C90F9E14EE0C3257845002804F3 3 http://www.scrf.gov.ru/documents/99.html 4 http://www.mid.ru/Ns-osndoc.nsf/arh/45E54C90F9E14EE0C3257845002804F3 5 Äàâèä Ð., Æîôôðå-Ñïèíîçè Ê. Îñíîâíûå ïðàâîâûå ñèñòåìû ñîâðåìåííîñòè. Ì., 1999, Ñ.15. RESUMO Um dos papéis estrelar esta mudança joga Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul - bloco BRICS. O termo BRIC surgiu em 2001, a publicação de economia global do grupo, que pertencia ao banco ‘Goldman and Sachs’». Em 2009 para inserir o bloco de África do Sul, esta foi transformada em BRIC-S, que pode agora ser considerada uma das principais estruturas em que o movimento do mundo em direção a multipolaridade encontra a sua expressão. O último pode ser diferente: económico, político, cultural e jurídica. Palavras-chave: Ordem Internacional – BRICS - Economia ABSTRACT One of the starring roles this shift plays Brazil, Russia, India, China, South Africa – BRICS. The term BRIC was founded in 2001, the publication of the global economy, which belonged to the Bank and Goldman Sachs ‘ ‘ ‘. In 2009 to insert the block of South Africa, this was transformed into BRICS, which can now be considered one of the main structures in which the movement of the world toward multipolarity finds its expression. The latter can be different: economic, political, cultural and legal. Keywords: International Order – BRICS - Economics Amazônia: uma terra sem História? Amazônia: uma terra sem História? Mariluci Guberman - Universidade Federal do Rio de Janeiro RESUMO Discussões acerca dos estudos literários da América Latina de forma integrada a outras áreas do conhecimento, focalizando o homem da Amazônia e essa “natureza anfíbia”. A análise crítica do ensaio de Euclides da Cunha, À margem da história, especificamente a primeira parte, “Terra sem História” (Amazônia), se detém, principalmente, nas impressões do viajante, nos rios, no clima, nos seringueiros e nos exilados, conduzindo para a reflexão sobre as condições geofísicas da Amazônia, que se refletem nas condições humanas. Palavras-chave: Natureza – seringueiros – exilados Para este estudo, selecionou-se o Rio Amazonas, um dos elementos mais representativos da integração latino-americana. Sua bacia situa-se, principalmente, nos seguintes países: Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana francesa. O rio Amazonas nasce nos Andes peruanos, mais precisamente no Nevado de Mismi, a 5.597 metros, e cresce e amadurece em terras brasileiras. No Peru recebe vários nomes, como Hornillo, Monigote, Apurimac, Ucayalli e Amazonas; no Brasil, entra como Rio Solimões, onde está situada a cidade de Tabatinga 1. Ao receber as águas do rio Negro, passa a ser denominado Rio Amazonas. Ao percorrer 6.762 quilômetros, carrega mais de 7.000 afluentes e deságua no Oceano Atlântico. A maior parte de sua extensão está no Brasil, onde chega a mais de 50 quilômetros de largura. Sua bacia banha a região amazônica, a maior biodiversidade do planeta, e também a região do pantanal mato-grossense. A região entre a Cordilheira dos Andes e a bacia Amazônica era considerada por vários estudiosos como uma franja desabitada. Entretanto, nesse lugar se estabeleceu uma das culturas mais misteriosas do antigo Peru. Os incas chamavam a esse povo chachapoya, que significa: “os habitantes da selva das nuvens”. Eles eram altos, de pele mais clara que os demais povos peruanos, que viviam em assentamentos localizados estrategicamente em colinas ou montanhas. Sua origem é desconhecida; já no século IX, muito antes dos incas se assentarem nesta região ao nordeste do Peru, os chachapoyas criaram vários territórios politicamente independentes, mas unidos por religião 125 126 LATINIDADE e cultura comuns. Seu povo não ficou imune à conquista espanhola. Em 5 de setembro 1538 o Capitão Alonso de Alvarado fundou a primeira cidade espanhola no oriente. Essa cidade passou a se chamar San Juan de la Frontera de los Chachapoyas. Deste lugar partiram expedições que descobriram o rio Amazonas e alcançaram o oceano Atlântico. A cidade de Chachapoyas, ainda no período colonial, possuía uma catedral, igrejas menores, quatro conventos, quartéis militares e meia dúzia de hospitais, o que revela a importância de San Juan de la Frontera de los Chachapoyas em relação à conquista da selva e ao conhecimento mais detalhado do rio Amazonas e seus afluentes. A partir de 1550, iniciam-se as ações de evangelização com a chegada das missões religiosas, integradas por franciscanos, agostinianos, dominicanos e outras. O RIO AMAZONAS E SEU TERRITÓRIO: RIQUEZA, COBIÇA E PERPLEXIDADE Em 1493 Cristóbal Colón se torna porta voz de uma notícia, que lhe foi narrada pelos índios: a existência de uma ilha povoada somente por mulheres. Embora o mito das Amazonas remonte à época clássica, ele ficou muito popular no Novo Mundo chegando ao ponto de se converter em símbolo da América. A Coroa espanhola, em 1498, ao permitir que particulares realizassem viagens de descobrimento, possibilitou que Vicente Yáñez Pinzón (14621514), em 1499, saísse no comando de quatro caravelas rumo às costas da América do Sul. Pinzón, já em 1492, tinha navegado com Cristóbal Colón em sua primeira viagem ao Novo Mundo, como capitão da caravela La Niña. Em fevereiro de 1500, Vicente Yáñez Pinzón passou pela desembocadura do rio Amazonas, sendo o primeiro navegante a registrar a foz desse rio, à qual denominou de “mar Dulce”. O relato desta viagem aparece em várias crônicas, entretanto, deve-se destacar as Décadas del Nuevo Mundo, escritas por Pedro Mártir de Anglería em 1501. Embora o autor nunca tenha pisado no continente americano, suas “Décadas” se alimentaram do testemunho dos protagonistas das expedições à América., como Américo Vespucio, Sebastián Caboto, Juan de Ribera (secretário de Hernán Cortés) e o próprio Pinzón, que brindaram a Pedro Mártir de Anglería com seus escritos ou seus relatos. As motivações dos conquistadores e suas comitivas são várias, porém, as que constituem peças principais são a aventura, a fama, o ouro, as lendas... Dentre estas últimas, se destacam os mitos, como: Eldorado, as Sete Cidades de Cíbola e as Amazonas. Amazônia: uma terra sem História? O rio Amazonas, após a Conquista, foi explorado pelo navegador espanhol Francisco de Orellana (1511-1546), que veio para o Novo Mundo com as tropas de Francisco Pizarro em 1527. Em fevereiro de 1541, Orellana parte de Quito para o País da Canela à frente de 23 homens, dispondo-se a atravessar os Andes equatorianos. Seguem pelo rio Coca até a desembocadura no rio Napo, mais largo e caudaloso. Avançam pelo Napo, quase sem comida, e descem por turbulentas águas. Em junho de 1542, avistam a “boca de outro grande rio à margem esquerda, que entrava no que nós navegávamos, cuja água era negra como tinta, e por isso o nomeamos Rio Negro”. Os caminhos, os povoados, a descrição do novo, como táticas de guerra, rituais, costumes e utensílios, além dos incidentes ocorridos durante a expedição de Francisco de Orellana, foram registrados por frei Gaspar de Carvajal (±1504-1584) em Relación del Nuevo Descubrimiento del famoso Río Grande de las Amazonas (1592) 2. Nesta obra (CARVAJAL, 1992: 79-81) foi registrado o nome do rio Amazonas e a presença das lendárias índias guerreiras que deram nome ao rio: Acontece que eles [os índios] são súditos e tributários das amazonas e sabendo de nossa vinda, pediram socorro a elas que mandaram de dez a doze, pois nós as vimos. Elas estavam lutando como líderes na frente dos índios e lutavam tão decididamente que os índios não ousavam nos dar as costas, pois aqueles que fugissem de nós elas matavam a pauladas [...]. Estas mulheres são muito brancas e altas e têm longos cabelos trançados e enrolados na cabeça, são musculosas e andam nuas em pêlo, cobrindo sua vergonha com os arcos e as flechas nas mãos lutando como dez índios [...]. A região do rio Amazonas e de seus habitantes também foi objeto de reflexão do Padre Antônio Vieira em seus Sermões (1959: 414): Pela muita variedade das línguas, houve quem chamou ao Rio das Amazonas rio Babel; mas vem lhe tão curto o nome de Babel, como o de rio. Vem-lhe curto o nome de rio, porque verdadeiramente é um mar doce, maior que o Mar Mediterrâneo no comprimento e na boca. [...] e ainda se lhe não sabe princípio. Por isso os naturais lhe chamam Pará e, os portugueses, Maranhão, que tudo quer dizer mar, e mar grande. E vem-lhe curto também o nome de Babel, porque na Torre de Babel, como diz S. Jerônimo, houve somente setenta e duas línguas, e as que se falam no Rio 127 128 LATINIDADE das Amazonas são tantas e tão diversas, que se lhes não sabe o nome nem o número. As conhecidas até o ano de 639, no descobrimento do Rio de Quito, eram cento e cinqüenta. Depois se descobriram muitas mais, e a menor parte do rio, de seus imensos braços, e das nações que os habitam, é o que está descoberto. Tantos são os povos, tantas e tão ocultas as línguas, e de tão nova e nunca ouvida inteligência: Ad populos multos profundi sermonis et ignotae linguae, quorum non possis audire sermones. Em outubro de 1637, o explorador português Pedro Teixeira entrou por Belém, invertendo a rota de Orellana, e chegou a Quito através do rio Napo. Portanto, buscou o acesso pelo Atlântico rumo à região andina. Ele e sua expedição subiram os rios Amazonas e Negro onde deixaram parte do grupo e, prosseguindo, alcançaram Quito em outubro de 1638. Em 1639, o jesuíta espanhol Padre Cristóbal de Acuña (1597-1675) participou de uma das primeiras expedições à bacia do rio Amazonas. Seguiram-se outras missões jesuíticas nos séculos XVII e XVIII. No século XVIII, na Europa, surgiram ideias como o iluminismo, o enciclopedismo e o liberalismo, que foram fundamentais para a formação de um pensamento crítico e revolucionário não só no continente europeu mas também no americano. Essas ideias, além do êxito da rebelião das Treze Colônias no final dos anos 70 e o início da Revolução Francesa no final dos anos 80, influenciaram significativamente a formação dos Estados Nacionais na América Latina, embora, de acordo com Francisco Gutiérrez Contreras (1985: 56), “a certeza absoluta em que os postulados da razão, a marcha em prol do progresso e uma filantropia como norma de conduta eram imprescindíveis para a felicidade dos povos”. Enquanto o Século das Luzes encobria ideologicamente as reformas propostas por uma burguesia em ascensão, a política aplicada por Madrid configurava uma nova agressividade da metrópole; conforme Benedict Anderson (2008: 88), Madri estabeleceu novos tributos, aumentou a eficiência da arrecadação, impôs monopólios comerciais para a metrópole, restringiu o comércio no hemisfério em proveito próprio, centralizou hierarquias administrativas e promoveu uma imigração maciça de peninsulares. 3. Em nome da racionalização e do progresso, o espírito de investigação e o interesse comercial, na Europa, caracterizaram o século XVIII como Amazônia: uma terra sem História? uma época de viagens e expedições científicas. Essas expedições em sua grande maioria se dirigiam a América e foram significativas para o conhecimento científico e para retificação da cartografia americana. Dentre elas se destaca a de Alexander von Humboldt 4 (1769-1859), que partiu de Madrid, em 1799, com Aimé Bonpland para as colônias espanholas da América. No mesmo ano ele e Bonpland desembarcaram na Venezuela. Em 1800 deixa a costa com o intuito de explorar o curso do rio Orinoco 5 e, ao penetrar em densa floresta, descobre uma comunicação entre o rio Orinoco e o rio Amazonas, o canal de Casiquiare. Juntamente com Bonpland, Humboldt denominou a floresta amazônica de hiléia, que quer dizer “floresta selvagem”. Ele também revelou as causas das cores diferenciadas dos rios amazônicos, além de descobrir a corrente marítima que leva o seu nome. Proibido por ordem do governo português, que não desejava estrangeiros em seus domínios, foi impedido de prosseguir viagem pelo território brasileiro. Ainda no século XVIII, com as ideias iluministas houve a necessidade de negociação entre os reinos de Portugal e Espanha sobre as fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Desse modo, instituíramse o Tratado de Madrid (1750) e o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que deixaram certas fronteiras 6 indefinidas. Como nessa época a exploração das jazidas de ouro no Brasil estavam em decadência, arainha D. Maria I enviou ao território brasileiro o naturalista português Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) para dinamizar a exploração econômica e a posse das conquistas em áreas de litígio. Com este fim, o naturalista observou a agricultura e constatou a falta de qualidade e de diversificação dos produtos, já que o desenvolvimento econômico só viria com a racionalização das culturas e a introdução de técnicas adequadas à lavoura e ao solo. Alexandre Rodrigues Ferreira, para completar suas averiguações, elaborou tabelas detalhadas, destinadas a revelar dados sobre os povoados e as lavouras da região centro-norte do Brasil. Seus diários foram fundamentais para a elaboração do seu livro Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá (1887), que representa o primeiro registro moderno da Amazônia. Essas expedições, por meio das expressões artísticas de seus integrantes, também revelaram riquezas 7 da fauna e da flora, e a diversidade da população das Américas, atraindo novos olhares. A partir do século XIX essas incursões se tornam uma constante, e dentre elas se destaca a do 129 130 LATINIDADE médico e naturalista Georg Heinrich von Langsdorff (Alemanha, 17741852) em sua expedição ao Brasil (1813-1830), acompanhado de artistas e investigadores 8, como o pintor alemão Johann Moritz Rugendas (1941: 102), que, no século XIX, valorizou os nativos do Brasil: A dolorosa impressão aumenta ainda mais quando se imagina que, sem a chegada dos europeus, os nativos já teriam feito progressos destacados na civilização; teriam sem dúvida se dirigido para outro lugar, mas é o que convinha melhor a sua natureza. Qualquer que venha a ser, no futuro, o resultado de uma política mais prudente por parte do governo, não se pode negar que até agora o contato com os europeus só logrou efeitos desastrosos. Em 1808, a Família Real portuguesa foi obrigada a trasladar-se para o Brasil quando Napoleão invadiu a Península Ibérica. Este fato histórico marcou, nas terras brasileiras, um passo para a modernidade. O Príncipe Regente do Brasil D. João, logo em sua chegada a Salvador (Bahia), decretou a abertura dos portos às nações amigas 9 e, em 1816, o Príncipe autorizou a entrada da Missão Francesa 10 no Rio de Janeiro, que trouxe pintores, escultores, arquitetos, gravadores etc. Às produções artísticas, que registraram o povo brasileiro e suas marcas culturais, soma-se um episódio importante da história econômica e social do Brasil, ocorrido na região amazônica, o Ciclo da Borracha. A extração e a comercialização da borracha proporcionaram uma significativa expansão da colonização na Amazônia, atraindo riquezas e causando transformações culturais e sociais, além de dar grande impulso às cidades de Manaus (Amazonas), Porto Velho (Rondônia) e Belém (Pará). Foi a fase áurea da economia da borracha, um ciclo entre 1879 e 1912, que durante a II Guerra Mundial (1939-1945) tentou se manter. A região amazônica, conforme a pesquisadora brasileira Ana Maria Daou (2004: 8), contemplada com a riqueza da borracha e a euforia social, vê nascer, principalmente nos estados do Amazonas e do Pará, uma classe emergente, “identificada com os ideais liberais e a crença no progresso”. A borracha, uma riqueza natural, desenvolvida com as técnicas industriais, tornou-se um elo entre a natureza selvagem e a prosperidade das invenções dos séculos XVIII e XIX, enchendo de orgulho a recente elite amazônica. Enquanto, no Pará, a elite tradicional era integrada por agricultores, pecuaristas e comerciantes; no Amazonas, de acordo com Ana Maria Daou (2004: 9), não existiam tradicionalmente famílias ligadas a terra, e sim Amazônia: uma terra sem História? comerciantes e profissionais liberais. Com o “ciclo da borracha”, esses dois estados, que se separavam pela distância e pela vontade política, tiveram que se aproximar para escoar a produção da seringueira por Belém, porto do Atlântico. Ao cosmopolitismo de Manaus e Belém se somou a presença de nordestinos e pessoas de várias camadas sociais (desempregados, médicos, professores, agrimensores etc.) no atual Estado do Acre, concorrido entre brasileiros e bolivianos, até que a área do Território Federal do Acre foi adquirida da Bolívia pelo Brasil em 1903. O ciclo da borracha atraiu também o olhar de intelectuais, como Euclides da Cunha 11, que por meio de seu livro de ensaios À margem da História (1909), realiza uma denúncia social, revelando as condições de vida dos migrantes nos seringais. Não se trata de uma associação romântica entre homem e natureza, e sim da influência determinista e cientificista de Euclides: o meio preponderante nas ações humanas. Na primeira parte desta obra, denominada “Terra sem História” e dedicada à Amazônia, o autor se preocupa com a situação dos migrantes nordestinos nos seringais. O escritor chega a denominar essa região como “paraíso diabólico dos seringais”, o lugar onde o homem “trabalha para escravizar-se” (CUNHA, 2006: 28). Essa escravidão foi tratada, recentemente, de forma significativa pelo poeta e ensaísta amazonense Thiago de Mello, em seu livro Amazonas, pátria da água (2005:38): Em toda a história do mundo capitalista, nenhuma riqueza se cria sem a pobreza e o sofrimento de muitos. A velha e inflexível lei da exploração do homem pelo homem. Toda essa riqueza [...] nascia em verdade da árvore sangrada no centro da floresta pelo seringueiro. Era esse homem o verdadeiro gerador de riquezas. Os seringueiros, contudo, viviam como escravos. Ao retomar o ensaio “Terra sem História”, verifica-se que a obra se divide em sete partes: “Impressões gerais”, “Rios em abandono”, “Um clima caluniado”, “Os caucheros”, “Judas-Asvero”, “Brasileiros” e “Transacreana”. Em “Impressões gerais”, o autor (2006: 17) revela seu aparente desencanto com o rio Amazonas: “Ao revés da admiração ou do entusiasmo, [...], diante do Amazonas, [...], é antes um desapontamento”. E acrescenta: ...mas como todos nós desde mui cedo gizamos um Amazonas ideal, mercê das páginas singularmente líricas dos não sei quantos 131 132 LATINIDADE viajantes que desde Humboldt até hoje contemplaram a hiléia prodigiosa, com um espanto quase religioso - sucede um caso vulgar de psicologia: ao defrontarmos o Amazonas real, vemolo inferior à imagem subjetiva há longo tempo prefigurada. Neste trecho, o autor chama a atenção do leitor para o olhar dos viajantes e passa a descrever a impressão que a natureza causa no homem que a observa: “A volubilidade do rio contagia o homem”. Assim, Euclides da Cunha (CUNHA, 2006: 28) associa o homem à natureza e classifica dois tipos de observador, primeiramente, o errante: o observador errante que [...] percorre a bacia em busca de variados aspectos, sente, [...], a impressão de circular num itinerário fechado, onde se lhe deparam as mesmas praias ou barreiras ou ilhas, e as mesmas florestas e igapós estirando-se a perder de vista pelos horizontes vazios... Posteriormente, o autor (CUNHA, 2006: 28) trata de outro observador, o imóvel: “o observador imóvel que [...] estacione às margens [do Amazonas], sobressalteia-se, intermitentemente, diante de transfigurações inopinadas. Os cenários, invariáveis no espaço, transmudam-se no tempo”. Para concluir que “Diante do homem errante, a natureza é estável; e aos olhos do homem sedentário que planeie submetê-la à estabilidade das culturas, aparece espantosamente revolta e volúvel, surpreendendo-o, assaltando-o por vezes, quase sempre afugentando-o e espavorindo-o”. De acordo com a pesquisadora Isabel Cristina Martins Guillén 12 Só partindo do binômio natureza e cultura é que se poderia delinear a forma que, para Euclides, toma a vida social na floresta, especificamente a vida no seringal. Nessa natureza, ainda incompleta e em expansão, o homem encontrou um poderoso adversário, e o embate com esse ambiente o aproxima do mundo animal, distanciando-o da civilização. Quando Euclides da Cunha se refere ao observador, verifica-se que não se trata de uma associação subjetiva entre homem e natureza, e sim da impotência do homem diante da natureza selvagem e misteriosa (CUNHA, 2006: 28), ratificada em sua conclusão: “Daí, em grande parte, a paralisia completa das gentes que ali vagam, há três séculos, numa agitação tumultuária e estéril”, perante “Aquela natureza soberana e brutal, em pleno expandir das suas energias, [...] uma adversária do homem” (CUNHA, 2006: 27). Amazônia: uma terra sem História? Para Euclides, a Amazônia parece ignorar o homem, conforme se observa nessa primeira parte de “Terra sem História” (CUNHA, 2006: 18): A impressão dominante que tive, [...], é esta: o homem, ali, é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido - quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão. E encontrou uma opulenta desordem... Os mesmos rios ainda não se firmaram nos leitos; parecem tatear uma situação de equilíbrio derivando, divagantes, em meandros instáveis, contorcidos sem sacados, cujos istmos a revezes se rompem e se soldam numa desesperadora formação de ilhas e de lagos de seis meses, e até criando formas topográficas novas em que estes dois aspectos se confundem; ou expandindo-se em furos que se anastomosam, reticulados e de todo incaracterísticos, sem que se saiba se tudo aquilo é bem uma bacia fluvial ou um mar profusamente retalhado de estreitos. O homem que Euclides da Cunha aborda é o caboclo amazônico, o mestiço, filho de índio e branco: “As gentes que [...] povoam [a “natureza anfíbia”] talham-se-lhe pela braveza. Não a cultivam, aformoseando-a: domam-na”. Também os migrantes, vindos do nordeste do país “...ali estacionam, cumprindo, sem o saberem, uma das maiores empresas destes tempos. Estão amansando o deserto” (CUNHA, 2006: 45). Ainda entre os migrantes, destaca-se, em “Terra sem História” (2006:45), o recém-vindo do Sul: [que] chega em pleno desdobrar-se daquela azáfama tumultuária, e, de ordinário, sucumbe. Assombram-no, do mesmo lance, a face desconhecida da paisagem e o quadro daquela sociedade de caboclos titânicos que ali estão construindo um território. Sentese deslocado no espaço e no tempo; não já fora da pátria, senão arredio da cultura humana, extraviado num recanto da floresta e num desvão obscurecido da História. Aquele viajante ou migrante, que buscava o paraíso, “...vai adensando na fantasia alarmada as mais lutuosas imagens no prefigurar o paraíso tenebroso que o atrai” (CUNHA, 2006: 44) e vai-se desencantando lentamente. Logo ao chegar, Atravessa quinze dias infindáveis a contornear a nossa costa. Entra no Amazonas. Reanima-se um momento ante a fisionomia singular 133 134 LATINIDADE da terra; mas para logo o acabrunha a imensidade deprimida onde o olhar lhe morre no próprio quadro que contempla, certo enorme, mas em branco e reduzido às molduras indecisas das margens afastadas. Se por um lado, para Euclides (2006: 44-45), “o paraíso tenebroso” da selva, “natureza anfíbia, misto de águas e de terras”, quase impenetrável, parece uma barreira ao ser humano; por outro lado, o rio Amazonas, ao sangrar esse deserto em seu curso, colore e imprime movimento àquelas “paisagens [imóveis] de uma só cor, de uma só altura e de um só modelo”, humanizando o cenário com seus “cerros ondulantes”, seus “vales”, seus “litorais” e os “próprios desertos”. Então, o homem, representado pelo sujeito do discurso de “Terra sem História”, rende-se à grandeza e aos encantamentos do rio e da floresta amazônica: “...afeiçoam-se-nos às vistas por maneira a admitirmos um modo qualquer de reminiscência atávica” O mundo da imagem está aí, perante o olhar do viajante ou do exilado, com sua sedução e seu intenso poder de sugestão, aliados a sua incontestável influência social, que pode ser ilusória. Euclides da Cunha (2006: 44), para relatar o olhar do exilado diante do cenário amazônico, lança mão do desfile de imagens monótonas e nostálgicas, como “a imensidade deprimida”, onde o olhar, que acabrunha o exilado, “morre no próprio quadro que contempla”. Uma estratégia que conduz à anulação do tempo, um rito de passagem do real para o simbólico, para o devaneio, uma abertura para infinitas possibilidades do leitor, enfim, o mundo da imaginação. Conforme o autor de “Terra sem História” (CUNHA, 2006: 44), “A terra é, naturalmente, desgraciosa e triste, porque é nova. Está em ser. Faltam-lhe à vestimenta de matas os recortes artísticos do trabalho”. Inserir a modernização em uma região não é negar a tradição, pois esta ainda não perdeu o espaço que ocupa com o advento da modernidade. De acordo com o professor e investigador Carlos Gadea (2007: 106), Essa dicotomia pode operar como “tipo ideal” para, justamente, diferençar inter-relações sociais e seus contextos de produção e representação, porém não para sugerir etapas de uma evolução histórica. Não se trata de etapas ou estágios históricos “objetivos”, da passagem de “mundos materiais e simbólicos” de menor grau de complexidade para outros de complexidade maior, ou do advento ou emergência de uma condição social e cultural que acabaria substituindo uma anterior. Amazônia: uma terra sem História? A modernidade é uma transformação revolucionária que se traduz em emergência de valores, mas na região amazônica são relevantes, principalmente, os valores nativos, já que o pensamento indígena concebe a natureza, a flora e a fauna como seres viventes, não pelo experimentalismo dos estudos biológicos, e sim porque fazem parte do mesmo universo do corpo humano, isto é, todos os segredos da criação e da dissolução dos universos estão presentes no corpo. Portanto, o nativo não se sente separado nem da natureza, nem das árvores ou, ainda, dos animais; pelo contrário, integra-se a eles e vê esses elementos muito mais do que simples mananciais de madeira, fruto ou carne; para ele, o ser humano é parte integrante da natureza. Tomando-se por base essa concepção, verifica-se a importância da floresta e do rio Amazonas para o nativo, que os preserva e promove a conservação e o uso sustentável do Bioma Amazônico. NOTAS 1 A cidade de Tabatinga (Brasil) e as cidades de Santa Rosa (Peru) e Leticia (Colômbia) formam a Tríplice fronteira da região amazônica. 2 A obra permaneceu inédita até que em 1851 a Real Academia de la Historia, de Madrid, a publicou na Historia General y Natural de Indias de Gonzalo Fernández de Oviedo. Em 1894 o historiador chileno José Toribio Medina, um dos mais eficazes investigadores das crônicas historiográficas da América, encontrou uma cópia, a qual publicou em Sevilha, em magnífica apresentação, como Descubrimiento del río de las Amazonas. Relación de Fr. Gaspar de Carvajal. 3 Essa nova agressividade da metrópole derivava, em parte, das doutrinas iluministas, em parte de problemas fiscais crônicos e em parte, depois de 1779, da guerra contra a Inglaterra. In: LYNCH (1973) pp.4-17. 4 Alexander von Humboldt, geógrafo, filósofo, historiador, explorador e naturalista alemão nascido em Berlim, deu início, junto com o naturalista francês Aimé Goujaud Bonpland (1773-1858), percorreu a América Latina e a Ásia de 1799 a 1804. Simultaneamente, com o naturalista francês Georges Leclerc, desenvolveu o conceito de meio ambiente geográfico: as características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, tipo de relevo e condições climáticas existentes. 5 O rio Orinoco, principal rio da Venezuela, nasce na serra Parima próxima à fronteira do Brasil. 6 Mais tarde foram firmados os limites com os seguintes países: Uruguai (1857), Argentina (1857 e 1895), Paraguai (1872), Bolívia (1867), Peru (1851 e 1874), Venezuela (1859). 7 De acordo com Mariano Picón-Salas (1944: 195), “Con los productos de tan lejanos climas se forman en las capitales europeas —desde Madrid a San Petesburgo— los jardines botánicos, las colecciones mineralógicas, los museos de ‘curiosidades’”. 8 Com Langsdorff vieram os seguintes artistas e investigadores: o pintor alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), que regressou para Europa, em 1825, e empregou sua experiência como artista-viajante (1831) da Cidade do México até o litoral do Pacífico; os zoólogos franceses Edouard Ménétriès (1802-1861) e Christian Hasse; o botânico Ludwig Riedel; o astrônomo e geólogo russo A. N. Rubtsov. Também se juntaram a Langsdorff, já no Brasil, os pintores Aimé-Adriaen Taunay (1803-1828) e Hércules Florence (1804-1879). Rugendas chegou ao Rio de Janeiro em 1821 e foi um dos artistas que mais registrou a natureza e os costumes dessa cidade. 135 136 LATINIDADE 9 Já no Rio de Janeiro, o Regente criou diversas instituições e a cidade, a partir dessa época, passou a ser o centro cultural do Brasil, iniciando sua modernização em fins de 1840 com a iniciativa de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Barão de Mauá, que criou um estaleiro, a primeira estrada de ferro no país, o Banco do Brasil etc. 10 Entre pintores, escultores, arquitetos, gravadores, vindos na Missão Francesa, estavam o arquiteto Auguste Henri Grandjean de Montigny (Paris, 1776-Rio de Janeiro, 1850), o desenhista e pintor Jean-Baptiste Debret (Paris, 1768-1848) e o pintor Nicholas Antoine Taunay (Paris, 1755-1830), cujo filho Aimé-Adrien Taunay (1803-1828) foi tragado pela correnteza do rio Guaporé, quando tentava atravessá-lo a nado. O rio Guaporé faz parte da bacia do Amazonas e banha os estados de mato Grosso e Rondônia, fazendo divisa com a fronteira da Bolívia. Debret registrou, principalmente, a cidade do Rio de Janeiro através de suas aquarelas, desenhos e pinturas. Em sua Voyage au Brésil, documentou a vida e os costumes do país. 11 Em 13 de dezembro de 1904, o escritor Euclides da Cunha, nomeado chefe da Comissão do Alto Purus pelo Barão de Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, embarcou no vapor “Alagoas” partindo do Rio de Janeiro para Manaus. 12 Isabel Cristina Martins Guillén é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BEYHAUT, Gustavo y Hélène. América Latina. III De la independencia a la segunda guerra mundial. 2ª ed. México, España: Siglo Veintiuno, 1986. (Historia Universal Siglo XXI, 23) CARVAJAL, Fray Gaspar de. 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RESUMEN Discusiones sobre estudios literarios de América Latina de una manera integrada a otras áreas del conocimiento, centrándose en el hombre de Amazonas y esta “naturaleza anfibia”. El análisis crítico de Euclides da Cunha, en los márgenes de la historia, específicamente la primera parte, “Tierra sin una historia” (Amazonas) si lleva a cabo principalmente en impresiones de viajeros, en los ríos, en el estado de ánimo, los recolectores de caucho y en el exilio, llevando a la reflexión sobre las condiciones geofísicas de la Amazonía, que se reflejan en las condiciones humanas. Palabras claves: Naturaleza-recolectores-exiliados ABSTRACT Discussion of literary studies of Latin America in an integrated manner to other areas of knowledge, focusing on the man from Amazon and this “amphibious nature”. The critical analysis of Euclides da Cunha, in the margins of history, specifically the first part, “Land without a History” (Amazon) if holds mainly on impressions of traveler, in the rivers, in the mood, the rubber tappers and in exile, leading to reflection on the geophysical conditions of the Amazon, which are reflected in human conditions. Keywords for this page: Nature-tappers-exiles 137 O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX Milton Moura1 - Universidade Federal da Bahia RESUMO O Carnaval soteropolitano, no século XX, consistia no fluxo dos bairros populares e de classe média para o centro da cidade. Por aí passaram afoxés, batucadas, blocos de sujo, préstitos, mascarados e travestidos; blocos orientalistas e blocos de embalo; trios elétricos e escolas de samba; blocos de índio e blocos afro. Com a turistização da cidade, o centro do Carnaval é hoje o trajeto Barra-Ondina, com o predomínio dos blocos organizados para a classe média e os turistas. Palavras-chave: Carnaval;Salvador;diversidade. A diversidade de formas de folia que caracteriza a história do Carnaval de Salvador, do final do século XIX ao final do século XX, tem um ponto de encontro: o centro da cidade. Isto, contudo, não deveria escamotear a consideração de formas diferenciadas de apropriação do centro, como não poderia deixar de ser numa sociedade tão estratificada em termos de renda, etnicidade e origem não comportaria um Carnaval democrático ou algo parecido. O que se pode afirmar, para aquém e para além das diferenças, é o desejo de mostrar-se no centro, tanto para os iguais como para os diferentes, ou seja, todos os circunstantes. É a festa da rua, a festa em que o povo podia ocupar o centro da rua, o que para Baroja (2006) é um elemento fundamental para compreender a singularidade do Carnaval, coincidindo com a atmosfera de êxtase do tempo festivo de Bakhtin. (1993) Em cerca de vinte anos de pesquisa sobre o Carnaval soteropolitano, tive oportunidade de recolher depoimentos de velhos moradores de diversos bairros da cidade, dos mais distantes àqueles contíguos ao antigo Centro. Esses foliões, dentre os quais alguns jamais integraram uma agremiação que tivesse uma diretoria formalizada, uma sede ou mesmo uma fantasia padronizada, falam com saudosismo da euforia e da animação crescente com que se dirigiam ao local que se chamava, correntemente, “a cidade”. Os velhos que contavam em torno de 80 anos na virada do século XXI diziam que, nos Carnavais de sua juventude – o que corresponde ao intervalo 139 140 LATINIDADE que se estende dos anos 30 ao início dos 50 –, inúmeros cordões serpenteavam nos interstícios dos vales. Pequenos grupos seguiam agregando amigos, parentes e vizinhos, parando nos barracos que teimavam em se erguer nas encostas dos morros e às margens dos riachos. Comia-se e bebia-se muito. “Muita gente escornada pelos caminhos, muito mais do que hoje, o senhor pode acreditar”. Era o que se pode chamar de pândega, pilhéria, fuzarca, galhofa, fuzuê, gozação, farra, esculhambação. São termos que emergem amiúde na narrativa da memória destes idosos e idosas. Os cordões iam se dividindo ou se somando pelo caminho. Boa parte deles confluía no entorno do Dique do Tororó, avançando pela Baixa dos Sapateiros até o Largo de São Miguel. Esse trajeto podia corresponder até a dez quilômetros. O Largo de São Miguel, entre o Pelourinho e a Baixa dos Sapateiros, poderia ser considerada a parte do Centro Histórico em que os pobres mais pobres – aqueles sem o mínimo revestimento de oficialidade, sem grupos com estandartes, fantasias e bandas – podiam folgar. E ocupavam o centro do Largo, diante de um pequeno palanque armado pela Prefeitura. Aí os cordões porfiavam entre si. Muitas brigas ocorriam, não sendo tão raros os ferimentos fatais. Os arquivos da Policia estão cheios de registros dessas brigas e seus resultados fúnebres durante o Carnaval. Algumas festas tinham o nome de mudança. Os velhos que eram jovens naquele período contam de carroças cheias de trastes, objetos podres, rasgados, avariados, sendo o penico o mais lembrado; a homens vestidos de mulher ou portando trajes bizarros como fraldas, chupetas imensas, máscaras de animais disformes, etc. Alguns folcloristas costumam falar do entrudo como encerrado no hábito de atirar nos passantes objetos indesejados, como bolinhas de cera contendo líquidos mal cheirosos. Seria apenas isto? Ora, o entrudo era a festa da esculhambação, termo que remonta ao tempo em que a disciplina de que fala Norbert Elias (1989) sequer sonhava em se estabelecer em Salvador, e que conota fortemente o baixo corporal de Bakhtin (1993). Nas primeiras décadas do século XX, as ruas da Cidade Alta eram domínio dos corsos, sendo os mais brilhantes o Fantoches da Euterpe, com a banda da Polícia Militar, e o Cruz Vermelha, com a banda do Corpo de Bombeiros, seguidos pelo Innocentes em Progresso, Tenentes do Diabo e Democrata. Os jornais não poupavam elogios a essas sociedades, ao tempo em que criticavam a presença de foliões sujos e maltrapilhos pelas ruas. A modernização que se processa em Salvador com a República traz no seu bojo modificações estruturais severas no âmbito da festa. Raphael O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX Vieira Filho (1995) estuda as organizações carnavalescas dos negros e mestiços que correspondiam ao que hoje seria chamado de classe média. Alguns grupos, como a Embaixada Africana e os Pândegos da África, durante esse período, desenvolveram estratégias de enfrentamento e negociação para apresentar-se no meio da rua. Tiveram que se ver com a polícia, a imprensa e o governo, e neste processo foi inevitável tornar-se mais bem comportados, limpos e ordeiros. Pensando sobre a luta pela ocupação do meio da rua, uma atenção especial poderia ser conferida à dinâmica entre tolerância e proibição. A ausência de proibição não significava necessariamente permissão ou legitimação, pois as formas de repressão ou tolerância variavam conforme o conjunto das circunstâncias políticas. Estes blocos afro foram proibidos entre 1905 e 1914, voltando a ser permitidos entre 1915 e 1930. Com o estabelecimento do etnocentrismo científico quase como doutrina oficial, foram reprimidas então as manifestações que pudessem atentar contra a imagem da Bahia e do Brasil. As bandas militares, quem sabe, poderiam ser uma alternativa, tocando para o povo. Peter Fry, Sérgio Carrara e Ana Luíza Martins-Costa (1988) consideram estes blocos uma estratégia dos negros no sentido de bem participar do Carnaval sem repressão. A própria forma de organizar os préstitos negros já incorpora a restrição a tudo que pudesse parecer batuque ou entrudo. “O préstito dos grandes clubes de negros não se diferencia dos outros préstitos, já descritos, a não ser em sua temática”. (p. 150) É a dinâmica da negociação, enfim, na apresentação dos textos identitários no âmbito do Carnaval, que tem recebido diversas formulações e interpretações dos pesquisadores. Pequenos grupos carnavalescos aparecem aqui e ali nos registros da imprensa e nas memórias de antigos foliões. Anísio Félix & Moacir Nery, na sua primorosa edição artesanal sem data, chegam a elencar vários deles só no bairro do Garcia, como As Cozinheiras e As Gueixas. Vieira Filho (1995) também anotou alguns grupos desse mesmo bairro, como As Mulatinhas da Fuzarca. A repressão aos blocos negros ocasionou o florescimento da mi-carême, festa também importada da Europa, principalmente da França, onde acontecia como estratégia de amenização dos rigores e prescrições da Quaresma (GAUDIN, 2000). Quando o Carnaval retoma sua animação, a partir dos anos 30, as micaretas passavam a se multiplicar lentamente pelo interior baiano. Aquela mesma década viu o aparecimento das caretas nas ruas da Cidade Alta. Não mais os máscaras de que fala Nina Rodrigues, com figuras artesanais 141 142 LATINIDADE consideradas “grosseiras”; são agora máscaras simétricas, de boa aparência, ou mesmo aterrorizantes, mas sem a conotação de pobreza ou sujeira. Em grupos uniformizados ou sozinhos, os mascarados enchiam as ruas de movimentos, com fantasias de tecidos brilhantes e coloridos e guizos ruidosos. O repertório mais cantado passava a ser aquele divulgado pelo rádio, ou seja, as marchinhas do Carnaval carioca. Alguns sucessos ficavam por anos ou décadas, como a Jardineira, Alalaô e O teu cabelo não nega. O predomínio das marchas de Carnaval, em andamento mais lento ou mais rápido, e jamais frenético e desmesurado, manteve-se até a disseminação do trio elétrico, no final dos anos 60. Ao longo do século XX, o meio popular de Salvador produziu diversos tipos de agremiação carnavalesca, como estratégias de folgar no meio da rua. A partir dos anos 50, dois núcleos geográficos foram os celeiros dos quais saiu a maioria das escolas de samba, dos blocos de índio e dos blocos de embalo. Trata-se do eixo Garcia-Federação-Tororó e do grande complexo da Liberdade, então o maior bairro negro e proletário da cidade. Esses modelos se sucediam como modas, sem que o auge de uma moda correspondesse necessariamente à extinção daquela que havia tido seu esplendor anos antes. Os novos e diferentes modelos de Carnaval nasceriam sempre pela iniciativa de foliões advindos dos modelos anteriores. A presença desses blocos no meio da rua – e no centro da cidade – era como uma embaixada desses bairros no local da extrema visibilidade. Todos podiam vê-los, aplaudi-los, admirá-los. Já desde outubro e novembro, sucediam-se os ensaios nesses bairros, em que a concorrência entre os sambistas podia tomar a forma de disputas terríveis, que podiam desembocar em bebedeiras homéricas, altercações e desavenças, namoros iniciados, interrompidos ou terminados, bem como histórias de amor que duraram décadas. As histórias que ouvi de muitos casais contêm um trecho semelhante a este: “Começou naquele ensaio no fim de linha do Garcia. Eu nem ia, mas o pessoal passou num arrastão e me levou. Foi lá que conheci a mãe dos meus filhos”. Os nomes desses grupos eram também nomes de lugares. Cacique do Garcia, Apaches do Tororó, Juventude de Garcia, Filhos do Tororó, Filhos da Liberdade, Acadêmicos de Amaralina. Os bairros tomavam a Avenida Sete, a Praça Castro Alves, a Rua Chile e a Praça Municipal. Os locais de comércio mais sofisticado de então eram ocupados por pessoas escuras, de pouca escolaridade e baixos salários. As fotografias desse período mostram rostos de pessoas comuns em êxtase, em delírio, bem ao contrário da O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX euforia comedida dos bailes dos clubes sociais em que as elites de pele clara, muita escolaridade e altos proventos. As expressões faciais reveladas por estas fotografias a muitos observadores pareceram bestiais. Bakhtin (1993) conceitualizou esta forma de êxtase relacionando-o ao baixo corporal, à dimensão dionisíaca da existência, à imersão dos indivíduos numa onda humana coletiva. A partir dos anos 50, e sobretudo dos 60, o evento do trio tocando para a multidão promove o contato e a fricção máximos entre todos que dele se acercam, misturando carinho e violência, toque e choque, medo e prazer. Isto foi bem reportado por Antônio Risério (1981), para quem cada folião pula solto, tendo como parceiro a multidão. Dificilmente se encontraria no Carnaval uma forma mais perigosa e radical de aproximação e que, ao mesmo tempo, desencadeia o êxtase naqueles que se entregam ao louco cortejo. A partir da década de 60, vêem-se em torno do trio os foliões pipoca vestidos de mortalha, uma fantasia folgada, muito barata, adaptada ao calor de fevereiro e aos passos do frevo elétrico. Os foliões podem desenvolver evoluções num raio de vários metros, tocando-se, pegando-se, numa amável e beligerante confusão de corpos suados que se tangenciam e pressionam... É a expressão mais própria da participação democrática no Carnaval moderno em Salvador. O evento do trio interfacia os foliões mais desiguais entre si, na coreografia envolvente de sua música elétrica e eletrizante. O trabalho mais completo sobre a dimensão dramática da coreografia do trio elétrico é aportado por Fred Góes (1982). Destaca-se a percepção do acordo entre os artistas e empresários do Carnaval e o bloco político liderado, desde os últimos anos 60, por Antônio Carlos Magalhães. Outro alcance de Fred Góes é a percepção das modificações que a entrada do trio elétrico no grande circuito da mídia e do mercado fonográfico vai acarretar. A princípio, o trio elétrico tocava frevo, dobrado, marcha e passo doble. Com a introdução de recursos do rock no instrumental e no repertório, e em seguida do canto, ampliaram-se consideravelmente as possibilidades de sucesso e a demanda de consumo da banda. Num momento em que ainda não se configurava a axé music como estilo musical e coreográfico, Fred Góes destacava a dinâmica de interpenetração dos diversos estilos musicais e seus respectivos ritmos, como o frevo, o rock e o ijexá, associada à dinâmica de integração do trio aos itens canônicos da baianidade. Organizar bailes em residências e salões era um costume desde pelo menos os anos 30. Anísio Félix & Moacir Nery (s/d) reportam casas e mais 143 144 LATINIDADE casas enfeitadas para essas festas no bairro da Saúde, próximo do centro. Clubes de todo tipo promoviam seus Carnavais. Desde os anos 40, os clubes aristocráticos como o Yatch, o Bahiano de Tênis e a Associação Atlética promoviam bailes com a participação de artistas famosos e indivíduos emblemáticos dos valores burgueses, muitas vezes do Rio de Janeiro. Em diversos bairros, realizava-se desde os anos 40 um Carnaval de rua singular, com homenagens aos blocos mais apreciados, como seria o caso dos próprios Filhos de Gandhi. Nos anos 50, era disputado o ingresso para os bailes do Clube Palmeiras da Barra, reunindo também populares. O que se observa nos bailes promovidos por essas sociedades, contudo, é a seleção progressiva dos foliões. Anos mais tarde, o baile de Yemanjá, no aristocrático Clube Português, era considerado a abertura do Carnaval de Salvador. Nos anos 70, foi criado no Hotel Meridien o baile de Oxum, com a escolha da Oxum do ano. Esta ocasião era considerada uma orgia de notáveis, com a imitação dos bailes cariocas reportados pelas revistas da época, como O Cruzeiro e Manchete. Também no Teatro Vila Velha eram promovidos bailes carnavalescos bem disputados. Outros bailes de menor repercussão eram promovidos por artistas e jornalistas, como o Baile dos Artistas, na sede do Clube Fantoches, então cenário de encontros de corações solitários de terceira idade. Podemse ver aí os primeiros eventos em que a forma física associada a um padrão moderno de beleza, com corpos atléticos, se apresenta como valor no Carnaval de Salvador. A exibição de modelos – homens e mulheres – seminus não é simplesmente a exibição do corpo, mas a glorificação de um modelo aeróbico de beleza. A multiplicação das lavagens se observa a partir do final da década de 60. Tanto se organizavam lavagens nos bairros, em praças e bares, como em locais do centro em que costumavam se encontrar grupos de amigos. Alguns blocos se formaram em torno de suas famosas lavagens, como As Independentes, bloco de travestidos. A década de 60 foi certamente o período em que o Carnaval de Salvador conheceu a maior variedade de formas estéticas e modelos organizativos. Além das escolas de samba, blocos de índios, trios elétricos e blocos de inspiração orientalista, espocavam em toda parte os blocos de embalo, que ainda não foram ainda objeto de estudo. Isto talvez se deva ao fato de não veicularem propostas temáticas convencionalmente classificadas como étnicas. Isto não significa, contudo, que não tenham importância. Arrebatavam multidões. O Vai Levando foi o bloco que O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX reuniu o maior número de associados em todo o século. Seus foliões que hoje se encontram em idade avançada sublinham, na narrativa de sua memória: “a ponta do bloco vinha já perto da Casa de Itália e os últimos associados ainda no Cine Bahia”. Ou seja, o bloco ocupava toda a rua, literalmente. Esses foliões sentiam-se os senhores da cidade. Alguns desses blocos cultivavam o costume de fazer um arrastão pelo bairro de origem, no final da manhã. Esse arrastão, como diz o nome, levava à rua os moradores que não poderiam acompanhá-los até o centro, como idosos, donas de casa que minutos antes estavam em plena cozinha, crianças e portadores de deficiência. “Todo mundo ia atrás dos Quelé”. Trata-se do Deixa a Vida de Quelé, do bairro da Federação, que adotou a saieta e o porte de pequenas sombrinhas, numa alusão ao frevo pernambucano, no que foi imitado por alguns outros. As bandas, com sopros e percussão, tocavam as marchinhas e sambas do rádio. Alguns foliões dessa época garantem que, até o sucesso de Faraó, de Luciano Gomes, em 1987, nenhuma canção de Carnaval fora mais cantada que Máscara Negra, de Zé Kéti, puxada por quase todos os blocos desse período, inclusive aqueles que tinham repertório próprio mas adotavam, também, os sucessos do rádio. Esses blocos tinham a marca da territorialidade compreendia na sua dimensão microgeográfica. Pode-se ver cada um deles como um grupo familiar e de vizinhança ampliado. O Barroquinha Zero Hora praticava um ritual de limpeza e propiciação à saída, meia noite, em frente à igreja do mesmo nome. O Deixa a Vida de Quelé percorria toda a Federação antes de chegar ao Campo Grande. O mesmo fazia o Secos e Molhados no Tororó e Nazaré. O Barrabas e Os Estudantes eram a cara da Liberdade, o maior bairro pobre e negro de então, geografia emblemática do povão. O perfil desses blocos era associado frontalmente à atitude tipicamente agressiva de seus componentes, bem como ao consumo de maconha. Alguns foliões se referem a esses blocos com o nome genérico de arrastão. Os Miseráveis, da Cidade Baixa, apresentaram-se um Carnaval apenas, explorando a temática da pobreza. Esta não era a única direção que se esboçava no Carnaval soteropolitano. Nos anos 60, já se vê nitidamente, em alguns blocos, a seleção de associados pelo critério da cor e da renda, muitas vezes dissimulado no critério da proximidade com relação à sede. O bloco Os Fantasmas foi fundado em 1957 por moradores dos bairros tradicionais de classe média do Barbalho e do Santo Antonio. Uma 145 146 LATINIDADE contenda entre os fundadores deu origem a Os Internacionais [1961] e Os Corujas [1962]. Ambos são emblemáticos desta postura. Só participavam homens; seus líderes e associados se consideravam Apolos baianos em meio à grande maioria de pele escura de Salvador, e como tal eram reconhecidos. Suas fantasias eram dispendiosas se comparadas àquelas dos grupos congêneres; havia inclusive fantasias de destaque, com adereços como plumas, elmos e outros. A cada ano correspondia um tema e uma marchinha. Durante o cortejo, muitas mulheres colocavam-se à margem das cordas para ver de perto os homens lindos dos Internacionais, os pães que levavam um sorriso triunfante e tomavam de relance folionas para beijá-las, deixandoas em êxtase. Outro bloco dessa área que reuniu milhares de associados foi Os Lordes, que chegou a montar uma bateria com dezenas de componentes e praticava amplamente o experimentalismo na percussão. A inovação dos Lordes viria a ser um ingrediente importante no engendramento do que hoje chamamos música afro. A sucessão dos cortejos dos Internacionais coloca indícios de uma organização progressivamente empresarial associada ao caráter de elite do bloco. Um elemento deste pioneirismo foi a contratação formal de músicos não associados, em 1966; até então, usava-se gratificar modicamente associados músicos que compunham a banda e a bateria. Em 1975, foi o primeiro bloco de embalo a contratar um trio elétrico para tocar entre suas cordas. Já nesse período, os Internacionais promoviam bailes com o nome do bloco em clubes de elite. O primeiro aconteceu no Clube Português, em 1976, com a participação de artistas do Rio de Janeiro e São Paulo e milhares de convivas. Foi criado o bloco Repescagem, que só saía aos sábados e menos informalmente. Outras promoções sinalizavam o caráter integrado de empresa, clube e bloco carnavalesco: promoções de jantar, participação em escuna na Procissão do Senhor dos Navegantes, lançamento da categoria sócio-ouro para aqueles que doassem fundos para a construção de uma sede, etc. Os Internacionais e Os Corujas rivalizavam-se como elite de pele clara dos bairros de classe média próximos do centro da cidade, como Santo Antônio, Barbalho e Nazaré. Da mesma forma, o Bloco do Barão [1963], reunindo moradores da Barra Avenida e da Graça, tinha como rival o Bloco do Jacu e o novíssimo Traz os Montes, que congregavam moradores da Barra. Tanto o Jacu como o Traz os Montes já aderiam à contratação O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX de um trio, solução inaugurada pelos Internacionais para garantir a animação na rua. Organizavam-se bailes memoráveis no Clube Bahiano de Tênis, tendo sido muito prestigiado o Baile Preto e Branco até os anos 80; o Jacu fazia os seus na Associação Atlética. Foram provavelmente os maiores divulgadores da mortalha padronizada como moda carnavalesca, alcançando seu auge nos anos 60. Percebe-se, no discurso dos líderes dos Internacionais, o desejo de igualar seu bloco, em termos de importância e reconhecimento, aos blocos da Barra e da Graça, onde residiam, tipicamente, os estratos mais ricos da sociedade baiana. Essas estratégias de diferentes grupos no Carnaval de Salvador aconteciam tendo como palco principal o meio da rua. Entretanto, à medida que esses grupos de classe média cresciam em número, importância e destaque, o próprio modelo de funcionamento do Carnaval se reconfigurava. Ruydemberg Trindade Júnior (2012) interpreta o surgimento do bloco de trio como o impacto principal da modernização e industrialização de Salvador no âmbito de sua maior festa. Ano após ano, o bloco de trio conteve o trio elétrico em seu espaço privado e, a partir da virada dos anos 80, hegemonizou progressivamente a cena do Carnaval. Os tipos de bloco cujo cortejo se baseia no som acústico e cuja composição tem como referência um bairro, seja popular, seja de classe média, pouco a pouco foi minguando. Paulo Miguez (1996) aborda a sofisticação e complexificação dos blocos de trio, diversificando as habilidades exigidas e multiplicando as oportunidades de trabalho. Pode ser interessante tomar a metáfora das redes também na sua conotação literal. Afinal, estas redes vão enredando a cidade no seu Carnaval, articulando indivíduos, práticas, organizações, galeras, famílias, memórias, enfim, os mais diversos âmbitos da sociabilidade. A novidade dos blocos afro, a partir dos anos 80, teve que encarar esses desafios colocados pela organização do Carnaval em termos de empresa. Aqueles que tiveram êxito na sua duração também montaram aparatos organizacionais consideráveis para garantir seu cortejo pela rua. O governo, no nível municipal como no nível estadual, pouco a pouco passou de gestor do Carnaval a síndico de seu funcionamento tendo ao centro os blocos de trio. A própria ornamentação e iluminação das ruas, considerada elemento de primeira importância, passa a ceder diante do esplendor dos estandartes de propaganda dos patrocinadores do Carnaval. A partir de 1987, o trajeto Barra-Ondina, na orla marítima, onde se situa boa parte da rede hoteleira, foi equipado para a realização do Carnaval. Na 147 148 LATINIDADE década seguinte, observava-se uma paridade em termos de importância e visibilidade na mídia. A partir do novo século, os equipamentos do trajeto Barra-Ondina nos itens policiamento, iluminação e outros serviços suplanta o circuito da Cidade Alta. Este processo não poderia ser narrado sem uma referência, ainda que ligeira, ao traço da turistização. Os turistas prontamente se associam aos foliões mais claros e escolarizados, que coincidentemente são aqueles de maior renda. Diante dos riscos representados pela multidão de pessoas mais escuras, menos escolarizadas e de menor renda, tanto uns como outros passam a zelar por um item de forma especial: a segurança. Esta passa a ser provida tanto de forma privada, através dos esquemas providos por cada bloco, como através do policiamento ostensivo para garantir o cortejo dos grandes blocos pelo meio da rua, o que se tornou incompatível, no final do século XX, com a presença da multidão nesse sítio tão disputado. Essa multidão passa a se espremer cada vez mais dramaticamente pelas calçadas e esquinas, aguardando, entre a excitação e a tensão, a passagem dos artistas famosos que podem ver sobre os grandes trios. A mesma segurança de que as elites desfrutavam nos salões dos clubes sociais passa a ser encontrada no espaço guarnecido pelas cordas levadas por batalhões de centenas de seguranças e cordeiros. Tal mercadoria é vendida em inúmeras agências de turismo, em diversas cidades brasileiras e mesmo estrangeiras, juntamente com o uniforme do respectivo bloco. Curiosamente, a configuração que o Carnaval de Salvador assume na virada do século XXI guarda homologias e analogias com aquela observada na virada do século XX. Todos podem comparecer ao centro. Entretanto, assim como a distribuição das ruas do Centro Histórico correspondia à estratificação social da época, a distribuição de cada artéria, nos nossos dias, tanto expressa quanto organiza a estratificação social que hoje integra, de forma especial, o turista de classes média e alta. O meio da rua continua interditado aos mais pobres, escuros e iletrados. No início do século XX, esses moradores de Salvador não se sentiam autorizados a comparecer à rua Chile, seja temendo a repressão policial, seja pela própria subestimação de sua própria figura. O centro do Centro não era para eles. No início do século XXI, podem comparecer aos locais por onde passam os cortejos dos mais ricos, claros e letrados. Contanto que não se coloquem no centro. O centro da cidade como palco da diversidade no Carnaval de Salvador no século XX NOTAS 1 Professor de História da UFBA e Coordenador do Grupo de Pesquisa O Som do Lugar e o Mundo. REFERÊNCIAS: BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi. São Paulo: HUCITEC; Brasília: EdUNB, 1993. BAROJA, Julio Caro. El Carnaval. Análisis histórico-cultural. Madrid, Alianza Editorial, 2006. ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Uma História dos Costumes. Tradução por Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1990. 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Dissertação de Mestrado em História/PUC-SP. 149 150 LATINIDADE RESUMEN El Carnaval de Salvador, en el siglo XX, consistió en la secuencia de los barrios de clase media y clase trabajadora en el centro de la ciudad. Afoxé, percusión, sucio, procesiones para los bloques, enmascarados y compañero de; orientalista cuadras y cuadras de ED; tríos y escuelas de samba; bloques de indio y bloques afro. Con la turistização de la ciudad, el centro de carnaval es hoy el camino de la Barra-Ondina, con el predominio de bloques para la clase media y los turistas. Palabras clave: Carnaval;Salvador; diversidad. ABSTRACT Carnival soteropolitano in the twentieth century, the flow consisted of neighborhoods and middle class to the city center. Afoxés passed around, drumming, dirty blocks, processions, masked and dressed; Orientalists blocks and blocks of momentum, and electric trios samba schools; blocks and blocks Indian african. With turistização city, the center of the Carnival is now the path Barra-Ondina, with the predominance of blocks arranged for the middle class and tourists. Keywords: Carnival, Salvador; diversity. Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas Milton Reyes Herrera - Instituto de Altos Estudios Nacionales RESUMEN Este trabajo tendrá por objetivo estudiar las problemáticas generadas por el desencuentro entre la institucionalidad y el modelo económico que se pretende desplegar desde el proyecto político-económico nacional en curso, y las construcciones culturales de largo aliento que se reproducen entre los actores concretos y las fuerzas sociales ecuatorianas, construcciones entendidas ya sea en forma de ideas intersubjetivas, o en forma de habitus; desde una visión de marco de acción estratégica orientada a generar preguntas claves, para fortalecer la seguridad del Proyecto de Estado Ecuatoriano, y minimizar posibles conflictos y desencuentros. Palavras claves: institucionalidad; modelo económico; fuerzas sociales. Este trabajo tendrá por objetivo estudiar las problemáticas generadas por el desencuentro entre la institucionalidad y el modelo económico que se pretende desplegar desde el proyecto político-económico nacional en curso, y las construcciones culturales de largo aliento que se reproducen entre los actores concretos y las fuerzas sociales ecuatorianas, construcciones entendidas ya sea en forma de ideas intersubjetivas, o en forma de habitus; desde una visión de marco de acción estratégica orientada a generar preguntas claves, para fortalecer la seguridad del Proyecto de Estado Ecuatoriano, y minimizar posibles conflictos y desencuentros. Este breve análisis describirá los límites y problemáticas del proceso político ecuatoriano en curso, y promoverá una serie de reflexiones que conduzcan al planteamiento de preguntas relevantes que se deben estudiar sobre diversos temas tales como el de la corrupción, que como imagen han sido reconstruidas desde los imágenes de dependencia producidos en los centros del capitalismo mundial, y amplificada por las fuerzas sociales hegemónicas nacionales (que también se reproducen en la retórica de sectores de izquierda ortodoxos), sin beneficio de inventario, produciendo discursos que refuerzan las imágenes negativas sobre las particularidades de nuestras construcciones culturales. 151 152 LATINIDADE Finalmente, es pertinente señalar que este acercamiento propone un ejercicio metodológico que articula un análisis histórico estructural proveniente de la teoría crítica, y una interpretación orientada desde un marco intertextual e interdisciplinario; que sin embargo, no pretende desarrollar un acercamiento enfocado principalmente desde la rigurosidad académica, sino que pretende desplegar un trabajo crítico que abra posibilidades a nuevas preguntas y nuevas interpretaciones. ELEMENTOS DEL PROYECTO ESTADO EN EL PROCESO POLÍTICO ACTUAL En un primer momento, se debe mencionar que el proyecto políticoeconómico plantea de manera general, desde una visión que se ve a sí misma como racional, los siguientes objetivos: 1.- La reconstrucción o, tal vez expresado de mejor manera, la construcción de institucionalidad, y de ciudadanía. Nociones heredadas del concepto de democracia liberal, que históricamente no se pudieron asentar en el Ecuador, debido a lo inconcluso de la revolución democrática burguesa, expresado o graficado en la dramática derrota de las fuerzas alfaristas1. En ese sentido, el proyecto político en curso plantearía construir un proceso de modernización política, que desde el marco jurídico, se asienta en el denominado estado social de derecho. El discurso político rescata elementos tales como el imperio de la ley, la construcción de ciudadanía, la justicia por sobre el concepto difuso de equidad, el combate a la corrupción, a las prebendas, al rentismo, al lobby; y expresamente coloca el tema de la meritocracia, como un elemento central, para la construcción de un burocracia profesional como base del estado racional moderno -aquel que a su vez pueda producir a la vez procesos de distribución y de redistribución eficientes y efectivos-. El Estado moderno, materializado en sus instituciones y a la vez operado por su burocracia y tecnocracia, así, es a la vez posible y viable solamente a través de los siguientes procesos: - Evaluación a los funcionarios públicos de carrera, quienes en gran parte forman parte de la herencia de gobiernos anteriores: Gobiernos que bajo el modelo político económico hegemónico de corte liberal economicistas (neoliberal), comprendieron dogmáticamente a esa especie de salmos responsoriales que se repetían desde la tecnocracia, tales como la necesidad de la reducción del estado y la separación de la esfera de la economía y la política; todo lo cual dio como resultado más bien una Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas reducción del tamaño de la burocracia, a través de procesos de compra de renuncia (donde los más calificados vendieron su renuncia por no temer enfrentar al mercado laboral), la desinversión del sector público, y la pérdida de eficacia, eficiencia e incluso de legitimidad de los funcionarios públicos. Procesos de capacitación, para que se dote de herramientas y experticias técnicas específicas que puedan hacerse efectivos los planteamientos materializados en normativas, regulaciones y procedimientos; y los que han sido generados por el proyecto político nacional en curso, en las políticas públicas que se van desplegando desde la carta constitucional, y desde documentos que plantean perspectivas estratégicas, como el Plan Nacional del Buen Vivir (entre otros). - Formación de servidores públicos de carrera, con la finalidad de dotar de herramientas y experticias técnicas, pero también con fundamentos conceptuales que permitan la generación de proyectos y planteamientos de políticas públicas, aportando así a los procesos de toma de decisiones y planificación. Aquí incluso se dio paso a la conformación del Instituto de Altos estudios como la Universidad de Posgrado del Estado. - Proceso de Selección de los nuevos funcionarios de carrera del sector público (por mecanismos de oposición y mérito); y de las autoridades de los órganos de control (como contraloría), y de los poderes electoral, judicial y de participación ciudadana; todo lo cual se pretende materializar, a través de procedimientos orientados a la homogenización, transparencia y veeduría. - Formación de posibles nuevos servidores públicos, a través de las Becas Senescyt2, donde existe un proceso agresivo de entrega de recursos para la formación de profesionales especialmente en ciencia y tecnología y áreas de interés del Estado, que debe ser retribuido por el compromiso de trabajo con una institución pública ecuatoriana, al finalizar el respectivo programa de posgrado; lo que en la práctica significa un pre-proceso de selección de futuros cuadros profesionales en las más diversas áreas, vía la normativa mencionada, y porque los salarios ofertados en el sector público son más competitivos que en los sectores privados. - Procesos amplios de Reforma educativo a nivel Educativo Medio y Superior, que incluyen procesos de evaluación de las instituciones y de sus docentes; con la finalidad de generar mayores capacidades de aquellos docentes, funcionarios e instituciones vinculados al sector público, sino del conjunto de la sociedad; como un mecanismo que permita la consecución de un recurso humano con mejores herramientas para enfrentar 153 154 LATINIDADE un mercado laboral que prospectivamente se debería enfrentar a los nuevos retos que se vienen promoviendo desde los intentos por insertar inteligentemente al Ecuador en el Orden Económico Mundial. Así, los efectos producidos sobre el talento humano, también alimentarían a los futuros cuadros de la función pública. Todos estos elementos, al mismo tiempo, re-potenciaría un proceso de institucionalización y de modernización del modo de acumulación (en su vertiente de regulación que fortalece el rol del Estado); y es que recordando la descripción de Weber sobre el estado racional, se puede concluir que éste es “el único en el que puede prosperar el Capitalismo Moderno, pues se funda en la burocracia profesional y en el derecho racional” (Weber: 1942, p.1048); derecho “formalmente estructurado, producto del genio romano” (Ibid.: p. 1050). Su eficiencia y potencia justamente se daría en tanto que “que los funcionarios formados a base de dicho derecho se revelaron, en cuanto técnicos de la administración como superiores a los demás” (Ibid.). Así, éste como otros proyectos institucionalistas y/o formas de gobierno de corte moderno pretenderían, más bien la racionalización máxima, de la relación Estado-Jurisprudencia. 2.- La implementación de un modelo económico, la cual se apalancaría en un fortalecimiento del rol de intermediación del estado frente a la economía (ya no entendida ésta, como en los discursos liberal economicista3), y que en la práctica, a través de políticas públicas, genera articulación frente a los sectores productivos nacionales, con la estrategia de generar un fortalecimiento endógeno de crecimiento económico, pero que no necesariamente han significado una articulación político de corte orgánico. En todo caso, desde el proyecto orientado a impulsar a los sectores productivos nacionales, se concibe como obviamente necesario que el estado también debe realizar inversión en temas de infraestructura, pero también en el ámbito social (salud, educación, acceso a vivienda, etc.), para generar una elevación de la calidad del recurso humano, entendido éste como un factor clave para el incremento de la producción y de la denominada competitividad sistémica; con miras además de fortalecer el mercado interno y de que la producción nacional se inserte estratégica e inteligentemente al mercado mundial, a través de la exportaciones de bienes y servicios con alto valor agregado (sin excluir – por lo menos en el corto y mediano plazo- el tema de las materias primas ni de recursos naturales). Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas Nuevamente encontramos así, que para apuntalar dicho modelo, - que además permitiría no solo alcanzar la redistribución de la riqueza, sino incluso generar distribución – la meritocracia, excelencia, y demás temas relacionados a la meta de alcanzar un recurso humano talentoso, son factores claves del proyecto institucional, que permitiría a su vez generar un dinamismo que se reproduzca en los demás sectores de la sociedad, y en los distintos niveles de la economía. Así, se observa que lo anteriormente anotado se relaciona con el primer punto, en tanto, la burocracia es una parte fundamental de la constitución del Estado Racional, debido a que es el espacio en donde se garantiza plenamente la dominación legal como “un sistema de reglas aplicado judicial y administrativamente según principios verificables y válidos para todos los miembros de toda la comunidad” (De La Torre, P., 1992: 9); para lo cual también hay que comprender que cualquier tipo de transformación sobre la burocracia, y la concepción de talento humano – que se aplique sobre ésta-, no planteará su destrucción, sino la reestructuración de ciertos elementos jurídicos, que permitan una mayor funcionalidad de ésta frente a la forma de regulación que se plantee desde el rol de intermediación del Estado. Intermediación que siguiendo a Cox es relativamente autónoma y de doble vía frente a las Fuerzas Sociales y el Orden Mundial (Opcit. Cox, 1993) IDEAS, IMÁGENES, HABITUS Hasta aquí se ha observado la construcción de un proyecto y un modelo que intentan construir una visión institucional moderna, que permita la construcción de un círculo virtuoso que - partiendo de una nueva articulación dentro del complejo estado-sociedad - aliente que los niveles productivos, a través de un rol relativamente autónomo del estado, puedan generar un crecimiento endógeno y una articulación al orden mundial que garantice a su vez recursos, que desde el interés nacional puedan ser redistribuidos y distribuidos en el orden nacional. Sin embargo, a pesar de lo anterior cabe anotar que la composición del Complejo Estado-Sociedad tiene también que ser comprendido desde la relación entre Ideas, Instituciones y Capacidades Materiales (Ibid.). Si bien la relación entre estos dos componentes últimos (de los tres componentes de esta triada estructural histórica) se las viene intentando rearticular por vías de la normatividad y de temas vinculados a la racionalidad burocrática y tecnocrática apalancados por la visión de la meritocracia; cabe también señalar que la primera: el de ideas resulta una 155 156 LATINIDADE dimensión más compleja, donde dichos intentos institucionalizantes encuentran mayores obstáculos; y es que en este nivel nos encontramos con dos tipos: - Una clase de Ideas que consiste en pensamientos intersubjetivos, es decir, “aquellas nociones compartidas con respecto a la naturaleza de las relaciones sociales que tienden a perpetuar tanto hábitos como expectativas de conducta” (Cox, W.: 1997, p.150); - Aquellas ideas “que se refieren a imágenes colectivas de un orden social detentado por distintos grupos de gente”; que posibilitaría el surgimiento de “choque de imágenes colectivas rivales (que) es prueba del potencial de caminos alternativos de desarrollo, y (que) plantea interrogantes concernientes a la posible base material institucional para el surgimiento de una estructura alternativa” (Opcit., Ibid.). Si bien en el segundo tipo de ideas tenemos claros que el proyecto de país propuesto por la visión institucionalizante tiene una matriz definida, ésta , no está plenamente resuelta, en tanto al interior mismo del proyecto en curso encontramos diversas facciones que operan intentando maximizar sus intereses, minimizar visiones más radicales, e incluso orientando reactivamente aquello que se propone como un camino alternativo; en un escenario que podría ser caracterizado dentro un conflicto y competencia entre distintos grupos de interés4, y/o entre articulaciones discursivas5 generadas por imágenes y adscripciones identitarias. En ese contexto, dicho escenario conviviría con el desplazamiento producido desde un intento de construcción política de un proyecto neonacional popular (articulación estado, sectores emergentes y productores nacionales, dentro de un escenario de movilización política que legitime el proyecto), hacia un proyecto de corte neodesarrolista (articulación principal entre estado y sectores vinculados a la producción nacional, con menor movilización política; con el fin de evitar la profundización de escisiones dentro de las articulaciones al interior del régimen, y así garantizar una mejor capacidad de respuesta a los temas coyunturales); todo lo cual, terminaría desplazando algunos de los planteamientos constitutivos del Proyecto Estado en curso, hacia una especie de zona gris que lindera con la imagen de un segundo plano. Si a lo anterior sumamos el tema de las ideas intersubjetivas, el escenario se complejiza aún más, en tanto aquí nos enfrentamos a tipos de ideas de largo alcance y que son producto de una larga conformación de estructuras de pensamiento que generando autoreferencialidad, también se presentan Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas como naturales y poco cuestionables; así también presentados como un marco de acción, desde este tipo de ideas, se conforma la realidad como plenamente dada, y desde ahí se cuestiona a las críticas, respuestas y contestaciones que se pudieran presentar a los valores fundantes y sus horizontes planteados. Para entender las particularidades de la conformación de dicha realidad, que excluye y cuestiona la crítica, cabe señalar que ésta también está atravesada por una construcción histórica concreta producto de un proceso de colonización, que si bien pudiere haber sido superado a nivel formal, subsiste en el plano de las ideas y de las imágenes. Hay que señalar que dicha particular conformación de ideas intersubjetivas en el caso ecuatoriano, tiene algunos elementos constitutivos tales como, la exclusión, el clasismo y el racismo, como producto de las herencias estamentales; lo cual también parte de un fuerte apego a la representación de la hacienda (propiedad material y simbólica), y a la necesidad de construir un patrimonio casi feudal (no necesariamente material), en tanto elemento que garantiza el principio de distinción6, como muestra de poder simbólico, aquel que no está articulado en el caso ecuatoriano exclusivamente a la reproducción del capital económico sino sobre todo vinculado al del capital social7. Dicha construcción que podría ser caracterizada como una visión hacendataria, y los elementos descritos articulados a ésta, en tanto esa clase de Ideas que consiste en pensamientos intersubjetivos, se encuentran atravesando a las distintas Fuerzas Sociales, tanto a las hegemónicas, e incluso, a actores provenientes de Fuerzas Sociales Emergentes que las reproducen en el ejercicio político (tanto en el campo de los distintos tipos de poder – en el sentido más amplio del término poder-; como en el campo institucional). Así, podemos señalar que esta conformación y construcción particular de ideas intersubjetivas pueden estar articuladas y ser plenamente comprendidas desde la noción de los habitus socialmente construidos; y es que: Ese campo nutricio, en tanto principio unificador y generador de todas las prácticas…cuando no como efectos de la “toma de conciencia”; no es otra cosa que el habitus, sistema de disposiciones inconscientes, que es el producto de la interiorización de las estructuras objetivas… en tanto lugar geométrico de los determinismos objetivos y una determinación del porvenir objetivo y de las esperanzas subjetivas (Bourdieu, 2006: Opcit. 44). 157 158 LATINIDADE Por lo tanto, a pesar del proceso institucionalizante en curso, se pueden encontrar como subsisten en la práctica, entre aquellos actores vinculados a la anterior articulación del complejo estado-sociedad, dichas ideas intersubjetivas, y los habitus socialmente construidos de largo plazo; pero también se puede observar que existe una la reproducción de aquellas ideas intersubjetivas, y la reproducción y reconstrucción de aquellos habitus entre varios de los actores que se articulan a la burocracia, tecnocracia, y demás posiciones de toma de decisiones (especialmente en el ejercicio administrativo y en el campo del poder simbólico); sean estos provenientes de facciones de las Fuerzas Sociales Hegemónicas que se han articulado al proyecto, o sean parte de las Subalternas que, no habían estado vinculados anteriormente a estos espacios. Así, se produce un escenario, donde se percibe la reproducción – incluso ampliada - del mismo ejercicio - ya existente - de violencia simbólica (poder); y la sensación de reproducción de temas vinculados a la corrupción. Escenario que produce desencanto, en tanto la retórica de los proyectos que plantean un camino alternativo de desarrollo habían sido percibidos, en una primera etapa, como antagónico a un ejercicio de poder que - por la construcción de los partidos políticos tradicionales - se lo catalogaba como corrupto, prebendatario, excluyente, clientelar, etc. Debido a: a) la retórica de los medios de comunicación oficiales (del poder económico político tradicional), que amplifican los casos de corrupción y la caricaturización del recurso humano del Estado y del gobierno; b) la reproducción de las imágenes de dependencia8 - construidos desde los centros del capitalismo mundial y reapropiadas por distintas fuerzas socialesque fortalecen dicha amplificación9; c) a que en la práctica concreta del ejercicio administrativo de: la burocracia, tecnócratas, tomadores de decisiones y las autoridades vinculados al Proyecto Estado en curso, en efecto reproducen tanto dichas ideas intersubjetivas como habitus (visión hacendataria); d) a que subsisten efectivamente prácticas de corrupción; y e) a que especialmente no se reconoce que las ideas intersubjetivas y los habitus son de largo plazo y atraviesan la construcción cultural de este y anteriores actores vinculados a los distintas articulaciones del complejo estado sociedad; se viene generando la percepción de que en este proceso político, se reproduce y se han incrementado los vicios de la partidocracia. Percepción, que podría ser leída de mejor manera bajo la imagen de que el poder está desnudo, tipo de poder que en su particularidad ecuatoriana ha sido social, histórica y culturalmente construido; y que no podría ser Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas únicamente atribuido como producto de las fuerzas políticas articuladas al gobierno que plantean la construcción del Proyecto Estado en curso. En la práctica política, sin embargo, se produce al menos un doble movimiento, especialmente entre aquellos que no están vinculados orgánicamente a dicho proceso: - Se realiza críticas a prácticas concretas e incluso periféricas y anecdóticas, perdiendo así de vista los objetivos incluyentes y redistributivos del proyecto. - Se realiza un ejercicio de auto absolución, donde se menosprecia el ejercicio de la política (institución) y las posibilidades de inclusión que ésta puede generar, a la vez que se siguen reproduciendo las construcciones excluyentes en el campo de lo político (relaciones de poder), en tanto que en el caso ecuatoriano se pretende delegar la redención o la condena únicamente a aquellos que ejercen el poder político y económico. Todo lo cual termina siendo funcional a las prácticas y a los actores políticos que representan al viejo orden, para el cual la escasa o nula institucionalización, significa el mantenimiento de un status quo que representa relaciones de exclusión y de subordinación política, económica, cultural y social. CONCLUSIONES 1.- Como se ha observado tanto las ideas intersubjetivas y los habitus socialmente construidos, que subsisten y se reproducen en el presente escenario al interior de cuerpos administrativos del Estado (burocracia, tecnocracia, tomadores de decisiones y autoridades), producen desestabilidad, en tanto la competencia intra-facciones desde la visión hacendataria, produce luchas intestinas orientadas a coptar y ampliar espacios de poder. Esto a su vez se proyecta al resto de la sociedad como desorden, y reproducción de prácticas de corrupción como palancas, argollas, compadrazgos, y prebendalismos. 2.- Por causa de dicha desestabilidad, que no permite producir mayores niveles de eficiencia que pueda superar la exclusión estructural del estado frente a importes segmentos de la población ecuatoriana, y tomando en cuenta que el proyecto estado no se ha asentado, se podría generar un escenario donde las Fuerzas Sociales Hegemónicas tradicionales operen para reconstruir su poder dentro de las instancias institucionales y desconstruir las políticas inclusivas propuestas por el proceso en curso. 3.- El desencanto puede generar que exista un creciente descontento entre los sectores - que aunque no siendo aliados a los actores articulados al viejo orden -, puedan ser coptados o funcioanalizados por un intento de reconstrucción (des)institucionalizante reaccionaria. 159 160 LATINIDADE 4..-Las problemáticas anteriores pueden conducir a un escenario donde el Proyecto Estado en curso, con todas las limitaciones ya expuestas, pero que representa la posibilidad de un modelo alternativo de desarrollo, pueda crecientemente ser inviable. 5.- Por lo tanto, en ese contexto, lo que estaría en juego es la seguridad mismo del Proyecto Estado en construcción. Por otro lado, debido a que a través de este acercamiento nos hemos encontrado con la existencia de espacios de reproducción de prácticas consideradas como continuidades de ideas intersubjetivas (legitimadas socialmente) y/o de los habitus socialmente construidos; también se debe señalar que estos últimos como construcciones particulares y concretas de una sociedad específica, no deben ser entendidos como esencias, sino como construcciones eficientes, en tanto han sobrevivido, y siguen siendo factores concretos de articulación y acceso a distintas formas de prebendas y por lo tanto de poder. En ese sentido, y tomando en cuenta que: elementos concretos de ideas intersubjetivas y de habitus que pudieren ser considerados como parte de la corrupción, en otras sociedades, han sido estudiadas y resueltas, como en el caso de la institucionalidad del lobby en los EEUU, o como del guanxi en China; y a que existe una falta de estudios sobre las especificidades de la construcción de la reciprocidad andina en el Ecuador, cabe finalmente esbozar algunos temas irresueltos que deberían convertirse en preguntas base para futuras investigaciones: - ¿Cómo opera la palanca (acceso a favores)? - ¿Que representa la argolla (acciones que parten desde lealtades entre actores para beneficio mutuo exclusivo y excluyente)? - ¿Qué se define como compadrazgo, y en que se asemeja y diferencia de la argolla? - ¿Cómo definir a estos tipos de reciprocidades?; ¿desde un fin orientado al beneficio individual, desde uno que obedece a estructuras propias del clan? - Y, ¿hasta dónde se pueden concebir como propios de la corrupción a estos y otros elementos considerados como prebendatarios y patrimoniales? Preguntas que están orientadas también a superar las imágenes de dependencia que amplifican un sentido de culpa, y a ubicar las reales dimensiones en el tema de corrupción; esfuerzos que justamente pretenden superar visiones maniqueas, evitar que ésta se convierta en fuente de desprestigio de todo ejercicio de la política; y justamente para que una vez Límites de la institucionalidad en el proceso político ecuatoriano: Habitus e ideas intersubjetivas conocida, dimensionada y reconocida, la corrupción y corruptelas, puedas ser minimizadas desde espacios amplios de legitimidad generados por una nueva forma de articulación del complejo estado-sociedad. NOTAS 1 La propuesta de Alfaro estaba inscrita en lo que sería el liberalismo radical, que podría ser caracterizado como un liberalismo con matices de corte clásico en lo económico, pero con fuerte contenido de liberalismo político y construcción de institucionalidad (y por lo tanto desconcentración del poder – reconfiguración dentro del complejo estado sociedad) frente a las clases tradicionales conservadoras. 2 Secretaría Nacional de Ciencia y Tecnología 3 Donde se entiende a la economía como una esfera autónoma, equiparada de manera minimalista a las relaciones de libre mercado, y con escasa relación con los contextos culturales, históricos y políticos 4 Ver concepto dominación por constelación y sociedad”. 5 Ver Ernesto Laclau, y Chantal Mouffe, 1987 6 Sobre distinción, ver Pierre Bourdieu: La cosas dichas (en el capítulo los usos del Pueblo). 7 Sobre distintos capitales, más allá del económico, ver Pierre Bourdieu: Poder, Derecho y Clases Sociales. 8 “Esa imagen dice dependientes son corruptos y lo sabemos, pero nosotros somos superiores, tenemos que arreglarlos” (Martha Cottam: 1994, Op. Cit. p. 143). 9 Construcción y reapropiación de valores de lo que se puede considerar el poder imperial, el cual no solo se reproduce a través de la fuerza física, sino también en la reproducción de valores culturales, morales y sociales (ver Edward Said, Cultura e Imperialismo, 1996). de intereses en el trabajo de Weber, “Estado BIBLIOGRAFÍA BOURDIEU, Pierre. Intelectuales, Política y Poder, Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 2006. COTTAM, Martha. Images and Dependence, Pittsburg: Pittsburg and London, 1994. COX, Robert W. Fuerzas Sociales, Estado y Órdenes Mundiales: Más allá de ls teoría de las Relaciones Internacionales, en Morales, Abelardo, El poder y el orden mundial, Costa Rica: FLACSO, 1993. __________________, Fuerzas Sociales, Estados y Ordenes Mundiales: Más allá de la teoría de Las Relaciones Internacionales, en Vasquez, Jhon, “Relaciones Internacionales, el Pensamiento de los Clásicos”, Editorial Linusa, 1997. SAID, Edward. Cultura e Imperialismo, Barcelona: Anagrama, 1996. Otros: • DE LA TORRE, Patricia. El Poder en Foucoult y Weber. Brasilia: Dpto. de Sociología, Universidad de Brasil, (Mimeo.), 1992. 161 162 LATINIDADE Sugerencias señaladas: BOURDIEU Pierre, Poder, Derecho y Clases Sociales. ________________, 1993, Las cosas dichas, Barcelona: Editorial Gedisa. LACLAU, Ernesto y CHANTAL Mouffe, 1987, Hegemonía y estrategia socialista. Hacia una radicalización de la democracia, Madrid: Siglo XXI de España Editores ABSTRACT This work will be undertaken to study the problems generated by the mismatch between the institutions and the economic model that aims to deploy from the national political-economic project in progress, and longterm cultural constructions that play between specific actors and forces Ecuadorian social, constructions understood either intersubjective ideas, or as habitus, from a vision of strategic action framework to generate key questions aimed to strengthen the security of the Ecuadorian State Project, and minimize potential conflicts and misunderstandings. Keywords: institutions; economic model; forces social. RESUMO Este trabalho será realizado para estudar os problemas gerados pelo desencontro as instituições e o modelo econômico que pretende implantar a partir do projeto político-econômico nacional em andamento, e de longo prazo construções culturais que jogar entre atores específicos e forças equatoriana social, entendida tanto construções intersubjetivas idéias, ou como habitus, a partir de uma visão de quadro de ação estratégica para gerar questões fundamentais destinadas a reforçar a segurança do Projeto de Estado equatoriano, e minimizar possíveis conflitos e mal-entendidos. Palavras chaves: institucionalidade; modelo econômico; forças sociais. O Museu como História e como Produção de Sentidos O Museu como História e como Produção de Sentidos Nilson Alves de Moraes - PPG-PMUS (UNIRIO-MAST) / NUCLEAS (UERJ) RESUMO Foram analisadas as relações entre museus, instituições culturais e ciência da informação como os cosntituents e upbringers estruturais de uma estratégia social, científica e de disputas de projetos que demanda de revisão dos modelos que as ações de orientação, políticas, modos de compreender e fazer da sociedade. As formas, articuladas e interdependentes, permitido para configurações e relações sociais de dominação, controle Social, relacional e simbólico, influenciando as expectativas e ações. A ação da sociedade organizada e da informação exige redefinição do museu em produzir e dirigir-se embora caminhos que não crescem de suas fronteiras para dentro, mas em referenciais teóricos e profissional. Uma revisão da literatura e documentação fornece pistas e influenciar a nossa análise. Estudamos algumas tendências de museológicas políticas públicas e as políticas culturais no Brasil, incluindo-os como parte da trajetória histórica e estratégia de poder no período de 2003 a 2009. Consideramos o modelo caracterizado pela continuidade da exclusão social e autoritarismo. De nossa perspectiva, neste momento, eles são confrontados e lutou, mas não vai ser resolvido pelo governo Lula. Para retomar a produção de reflexões sobre o museu requer pensar como instituição de conhecimento político, cultural e inter-campo, a fim de atender a “diversidade brasileira museológico”. Novas tecnologias, mídia, materiais, idéias, redes, atores sociais e demandas estão presentes na cultura e na imaginação, forçando uma revisão da idéia e da forma de um museu é feito. Palavras-chave: História, Museu, informação, as instituições, as mudanças históricas. INTRODUÇÃO: ALGUNS MODOS DE PENSAR MUSEU E PODER1 O Museu, como instituição ou como um discurso implica em provocar e fundamentar o imaginário social e dialogar com diferentes campos disciplinares e com a sociedade que demanda conhecimentos e identidades sociais. As reflexões sobre as relações entre museu, instituições de cultura e ciência da informação devem ser tratadas como uma construção histórica produzida nos embates de interesses, modos de compreender e fazer, transformações sociais, culturais e tecnológicas que modificam e reforçam 163 164 LATINIDADE os sentidos e as estratégias, as relações do museu com a sociedade, do museu com as diferentes disciplinas do conhecimento, com as instituições de cultura e com o Estado. Portanto, o museu, as instituições de cultura e a informação são dimensões de poder social, que se articulam e possuem especificidades. O museu, no Brasil do século XX, vivia entre duas tensões, que revelavam estratégias sociais de poder. Num primeiro momento, era marcado pelas pressões sociais que exigiam um modelo de relação societária e de poder centrado no Estado. Nas últimas décadas do século XX, sem que fosse realizada alguma ação de ruptura com a tradição museológica, o museu passa a ser orientado e influenciado pela dimensão e pelo discurso da informação, que assinalam um movimento diferente da sociedade e implicam outro modelo de relações, de sociedade e de poder. Constatamos que juntos esses dois modelos criam tensões, promovem uma convivência simultânea de projetos e discursos sociais, culturais, políticos, técnicos e explicitam uma crise de hegemonia social e simbólica como incapacidade de impor um modelo consensual de museu. A convivência desses modelos exige expectativas sociais e a existência de profissionais capacitados, que interferem nas condições e expectativas distintas. A prática e os saberes vivenciados pelos profissionais de museus e pelos formuladores e gestores de políticas culturais demonstram a inexistência de um consenso, de um setor social capaz de impor orientação e hegemonia no setor cultural. Na primeira década do século XXI, percebemos mudanças estimuladas e promovidas pelo Estado, fundamentalmente operativas e de uma crescente racionalidade nas instituições, nas políticas de museus, com graves impactos no funcionamento dos museus (considerado como parte de um sistema), na carreira dos profissionais de museus e com desdobramentos no processo de formação desses profissionais e em sua cultura. Isso ao mesmo tempo em que a sociedade e a informação redefinem seus caminhos. O contexto permite mudanças nas estruturas institucionais impostas desde os anos 1930. Assim, o museu, como instância e instituição pública, modifica, um passado de políticas culturais. Essas mudanças são feitas sem romper, desmontar ou destruir o modelo anterior existente. Esta ruptura é apenas na esfera do poder institucional. MUSEU: POLÍTICA, INSTITUIÇÃO E INSTRUMENTO SOCIAL O museu começa a reescrever suas relações com a sociedade brasileira. Neste sentido, enfatizando o papel de um Estado historicamente marcado O Museu como História e como Produção de Sentidos pela concentração de poderes, centralização e concentração política e de um museu acusado de distanciado das condições e realidade objetiva da sociedade e da cultura brasileira. Do nosso ponto de vista, esta evidência demonstra a existência de um projeto cultural vivo que envolve saberes e gestores num movimento que, ao mesmo tempo, exclui outros atores e movimentos sociais. Os estudos sobre museu, políticas e instituições culturais no Brasil implicam um estudo sistemático sobre poder. Estudar o museu no contexto das instituições e políticas públicas é considerar os sentidos e limites da democracia, da universalização do direito e do acesso à informação na sociedade brasileira. É saber quem tem capacidade ou possibilidade de definir e orientar ações e garantir sua continuidade ou mudança, capacidade de pautar e se fazer permanente e como o faz. Ponto de partida da prática e análise museológica, as ciências humanas e as ciências sociais produzem condições para reflexões de disciplinas que tomam a cultura e suas instituições como objeto de conhecimento. Elas necessariamente não possuem esta pretensão, são, muitas vezes, instrumento. São disciplinas que proclamam ou reclamam um novo olhar, reafirmando a sua importância para o conhecimento, reclamando um diálogo. O museu é uma instituição que ultrapassa a ciência, orienta ações e concepções. O museu não pode ser reduzido a um simples espaço de exposição, que, em si, é uma disposição simbólica e, portanto, objeto de lutas e interpretações. O museu se revela como lugar de sentidos, e, portanto, de diálogos, mesmo que portador de capacidades distintas ou desiguais. Dialogar é tomá-lo em sua tensão e possibilidades, visitar suas especificidades, perceber as suas diferentes leituras, recusar soluções simplistas ou messiânicas. É possível e inevitável considerar que não serão os saberes, práticas e instituições museais ou culturais as possíveis alternativas para a reversão das condições socioculturais no continente. Sabe-se que uma reversão, no mínimo, exige uma intervenção política, de técnicos e profissionais articulados a um saber e a uma prática multidisciplinar, modificando as relações de hegemonia entre as equipes e profissionais de museus e cultura, e destes com a população, a quem supostamente devem servir. O debate, envolvendo a sociedade e o Estado, sobre o reordenamento das instituições e políticas culturais, atravessou um longo período, debates e alianças sociais em busca de um consenso quanto aos seus objetivos, formas de existência e de condições históricas para a sua reformulação e implementação. Um período em que ocorreu uma aceleração e multiplicação 165 166 LATINIDADE das lutas no setor e por lutas sociais que influenciaram os acontecimentos, em que os temas e as agendas sociais, institucionais e individuais influenciavam-se mutuamente. Técnicos do Estado e da “área econômica”, além de políticos, acadêmicos e militantes de movimentos culturais, arrolaram argumentos e estudos propondo mudanças setoriais, pontuais. Não faltaram motivações sociais, institucionais e culturais; mudanças econômicas e políticas internas e externas, científicas, gerenciais e ideológicas. As críticas às instituições e aos saberes e práticas sociais aceitas e veiculadas pelas instituições multiplicaram-se. Os técnicos do Estado estavam afastados das decisões que envolviam as políticas setoriais, elas foram secundarizadas pela lógica neoliberal e seus esforços de privatização e mercantilização do setor. A prioridade na adoção da prática e atos culturais como política estatal produziu uma dicotomia no setor. As decisões de museu e cultura foram transferidas desde o período militar para os ministérios da área econômica, e estes técnicos resistiram em diversas frentes e sempre buscaram ampliar suas bases de legitimidade e “apoios” sociais. O MUSEU E A INFORMAÇÃO Segundo Barreto (2007) a ciência da informação “lida com a informação como estruturas significantes, intencionalmente direcionadas, para criar conhecimento no indivíduo e em sua realidade”. Isto, para o autor, significa que “não basta atingir o receptor, há que criar conhecimento modificador em usuários únicos e unidos”. Deste ponto de vista, há uma intencionalidade na informação: ela distribui, segundo condições históricas concretas existentes, informação para formar um maior conhecimento objetivando a mudança. A ciência da informação estuda “o conteúdo que domina e determina todo o processo”. O autor destaca que a ciência da informação, que teve em sua criação uma “orientação teórica e prática”, se desenvolveu na direção da “relação da informação com o conhecimento” (Barreto, 2002:67). Movida por uma preocupação de intenção, ela se torna um agente social que produz e distribui poder. A ciência da informação é, por definição do objeto, uma disciplina multi e transdisciplinar, que escapa aos controles e fronteiras rígidas que a ciência da modernidade empenhou em produzir. Sua natureza escapa ao domínio disciplinar, intervém nas relações societárias e no processo produtivo, está presente em diversas esferas que influenciam e orientam a construção de um novo modelo científico, social e relacional. O Museu como História e como Produção de Sentidos A ciência da informação implica em elementos simbólicos e materiais. Apontada como expressão das disputas pela hegemonia social e militar, no período posterior à II Guerra Mundial, ela pode ser caracterizada pelo uso e encantamento que a tecnologia contemporânea produz, ela é impulsionada pela expansão da eletrônica, da informática, das novas tecnologias e pelo uso de novos suportes e materiais. Na verdade, ela produz tecnologia e incorpora tecnologia ao cotidiano e ao processo de produção do conhecimento. Tecnologia e informática estão envolvidas em sua constituição. Ela possibilita as inovações, incendiando o imaginário social, ampliando as possibilidades do cotidiano. Os estudiosos e profissionais do campo reafirmam que a conjuntura, no segundo pós-guerra, gerou a explosão da informação e o desenvolvimento das indústrias e serviços de informação. Esta ciência é mediadora e produtora de ações sociais, um bem em si, de caráter cultural. Ela admite que vive ambientes que se constituem, transformam ou permanecem pela intervenção humana. Esta intervenção pode ser intencional, como efeito indireto e não planejado de outras ações e escolhas políticas, econômicas e culturais. A natureza interdisciplinar da ciência da informação apresenta diferentes interfaces com diversas disciplinas e campos do conhecimento. Isto foi destacado por Pinheiro (1999: 155), quando afirma que a ciência da informação “tem seu próprio estatuto científico, como ciência social”. A natureza do museu, como revela seu objeto e metodologia, é multiinter e transdisciplinar. O museu é estratégico na construção da realidade, da produção da identidade cultural, da construção do patrimônio local e das estratégias de veiculação da produção e dos modos de ser. O museu se constitui num jogo de tensões, símbolos, discursos, representações sociais, circulação e negociação do conhecimento (Moraes, 2007). Ele possui, considera e se transforma em permanências e rupturas que viabilizam a constituição de padrões relacionais e discursivos. Neste sentido, a história e as reflexões produzidas por antropólogos, sociólogos, comunicadores, artistas plásticos, entre outros, e que devem ser valorizadas, estariam, mais uma vez, condenadas a retomar o caminho e o caminhar. O museu não esgota ou não pode ser explicado por ele mesmo. Ele só existe na relação com o outro e com as demais instituições da cultura. Pensar e produzir conhecimento no campo do museu exige repensar os modelos que estão sendo questionados e os motivos e grupos interessados nesta reflexão. Não existe possibilidade de acaso ou de neutralidade diante do questionamento realizado e das motivações e grupos que adotam a 167 168 LATINIDADE atitude de ruptura e de afirmação de novos referenciais. Por este motivo, o museu e o patrimônio constituem práticas e saberes trans-multiinterdisciplinares, atravessam e se alimentam de diferentes campos, linguagens e procedimentos. Do nosso ponto de vista, o museu e o patrimônio produzem uma condição intercampo. Analisar a museologia como uma estrutura intercampo significa deslocar o debate da dimensão disciplinar para a relação entre os campos do conhecimento. O campo é formulador de estruturas que pretende objetivar relações e posições, a partir de lugares sociais específicos. Isto é, o campo é formado de estruturas objetivas que independem, para a sua existência ou continuidade, de interesses e estratégias conjunturais. Estruturas objetivas visto que o campo também, ao produzir, produz as condições de sua reprodução social. O campo social faz-se duradouro e permanente, mas capaz de mudar. O campo é espaço estruturador e estruturante e se fundamenta em relações estáveis e é compartilhado pelas partes, sem que signifique sua adesão automática ao que ele pretende impor. O campo produz regras, é um espaço de conflitos e de concorrência no qual os antagonistas lutam para estabelecer o monopólio sobre a espécie específica de capital pertinente ao campo (Bourdieu, 1998, p.144). Trata-se de uma recriação, um espaço relacional em movimento cuja condição e existência se expressam na disputa, reconstrução e ressignificado (Correia Lima, 2007). Pinheiro (2007) demonstra a maturidade da ciência da informação e da museologia. A autora estabelece as relações de interdisciplinaridade entre ciência da informação e museologia, a partir da produção de dissertações e teses constatando que esta produção está relacionada ao processo e movimento interdisciplinar em pesquisas, grupos de pesquisa, disciplinas, publicações e eventos técnico-científicos. Falando sobre esperanças e expectativas, depois da revisão da produção como campo da ciência da informação e do início da consolidação da museologia como campo científico, Pinheiro afirma que nos: campos científicos a “fertilização cruzada” e o “cruzamento de fronteiras” e de pontes sejam um esforço contínuo, dinâmico e renovado, a fim de romper “traçados e limites” disciplinares, embora nestes sustentados, fortalecendo e vitalizando áreas e criando novos territórios inter e transdisciplinares. Mais que uma crença ingênua ou descontextualização, ela explicita um momento e movimento de constituição de um campo científico que O Museu como História e como Produção de Sentidos influencia e negocia com diferentes sabres, modos de fazer, expectativas, processos e instituições. Revelando organicidade e continuidade em seus trabalhos, Pinheiro (2008) lembra que: a interdisciplinaridade se manifesta na instituição e na constituição de uma disciplina e seus avanços no tempo, da mesma forma que a disciplina vai evoluindo e se transformando, sob os impactos da interdisciplinaridade, na mútua influência entre ambas – disciplinaridade e interdisciplinaridade. Segundo a autora, no território inter e transdisciplinar, a museologia não somente enfrenta um desafio, mas tem uma provocação fortemente motivadora para sua múltipla instituição e constituição plural, embora singular como espaço ímpar e raro. Num vigoroso, fundamentado e inovador estudo, “processo evolutivo e tendências contemporâneas da Ciência da Informação”, Pinheiro (2006) demonstra a existência de um traço original da produção científica contemporânea, a descentralização e a desconcentração de sua produção. Ela argumenta que na análise emergem correntes de pensamento de diferentes países e culturas, principalmente dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, antiga União Soviética e Brasil. As transformações da área, ao longo do tempo, são apontadas, bem como as tendências contemporâneas relativas à interdisciplinaridade, conceitos, terminologia, e ao objeto “informação”. Neste momento de movimento intelectual e aporte teórico-metodológico, o museu e a museologia experimentam uma profunda revisão em seu fazer e nos esforços de suas intervenções intelectuais organizadas, contínuas e institucionalizadas pelo campo acadêmico. Ao mesmo tempo em que o museu e a museologia atravessam mudanças, e, consequentemente, novos embates, o museu como tema e problema passa a constituir uma tensa e complexa relação que incorpora e exige novos aportes e relações com o Estado, com a sociedade. A informação museológica revela-se prioridade e insere-se na lógica do seu campo, submetendo-se ao contexto histórico e social sua produção, ainda inicial. Desta forma, a informação não é demanda ou prática neutra 169 170 LATINIDADE ou desinteressada, ganha corpo acadêmico no contexto de uma disputa de hegemonia marcada pela convivência dos projetos e enfoques. A informação no museu é gerada e transferida principalmente através de exposições. Ela também é construída no acervo documental. O museu não produz apenas exposição e não se esgota na exposição. O museu se refere e se constitui como informação, afeto e negociação de sentidos. Toda informação é orientada e fundamentada nas representações e ações que constroem, gerenciam e a transferem para um ambiente expositivo. O museu, sendo um espaço privilegiado de produção de informações, exerce mediação simbólica e relacional, lugar de disputas e produção de sentidos, de diferentes e criativas linguagens. Trata-se de uma instituição mediadora que caracteriza a existência de um constructor permanente. Portanto, de lutas. O MUSEU, O COTIDIANO E AS INSTITUIÇÕES No pensamento social contemporâneo, articulado pela lógica da globalização que exige mútua dependência, há um único e possível consenso, a certeza das diferentes disputas. Estas disputas produzem discursos, estratégias e alianças sociais para diferentes, parciais e temporários enfrentamentos, encaminhando para um paradoxo sociodiscursivo: ao mesmo tempo em que são produzidas e ampliadas as relações de disputas e produção de desigualdade, há um esforço em celebrar o discurso que afirma a importância da solidariedade, da complexidade, da diferença e da tolerância como necessidades sociais e humanas de nosso tempo. A busca do consenso convive com a existência de uma sociedade baseada na concentração e crescente desigualdade e exclusão do outro. Intensidade, velocidade, tensões, paradoxos e mudanças são algumas das marcas do século XX e dos primeiros anos do XXI. Antagonismos, concentração e diluição de poderes, crescimento ou aceleração de desigualdades, estratégias de resistência, mobilização social são temas e processos recorrentes. Os analistas sociais destacam que a sociedade contemporânea, determinada pelos paradigmas da comunicação e da informação, é fragmentada por sua própria natureza, a ideia de solidariedade orgânica como eixo das relações societárias é questionada. Todos os referenciais e modelos relacionais e intelectuais foram condenados. Estudiosos da sociedade e da cultura, na festejada ou desconsiderada pós-modernidade, demonstram que entre suas características está a orientação para e pelo consumo, reduzindo o indivíduo à perda ou secundarização da O Museu como História e como Produção de Sentidos sua essência em favor de uma adesão à lógica dos mercados e sua inserção nas redes informacionais e de articulações interinstitucionais. A consequência é a compreensão dos motivos para a retomada de revisões das teorias sociais. As mudanças sociais colocam sob crítica as reflexões valorizadas pelo campo acadêmico, as mudanças comportamentais e relacionais que orientaram e influenciaram gerações no Ocidente capitalista (Moraes, 2007). O museu, instituído, dotado de individualidade e relacionamento com seu entorno, com o seu objeto e com outras instituições semelhantes, passa a merecer uma análise que enfatiza elementos próprios, externos, culturais e simbólicos. Ganha forma, modelo discursivo próprio e se insere num mundo em que as disputas que orientam as políticas sociais influenciam o seu cotidiano. O museu, na lógica do espetáculo, é também uma marca, um elemento estruturante de informações e identidades. No cenário acadêmico contemporâneo e na prática de profissionais de museu há perplexidade diante da convivência e simultaneidade de diferentes modos de compreender e fazer. Este olhar coloca para a museologia e profissionais do campo algumas questões emergentes, novo cenário cultural e tecnológico. Os anos 1960 apontam para novos enfoques, em particular pelos movimentos sociais, que colocaram em xeque as reflexões e o modo de fazer ciência, a última década do XX pareceu uma longa transição. O museu é uma intervenção racional, arbitrária e estratégica, responsável pela formulação de valores e sentidos sobre algo, alguém, algum processo. Segundo Scheiner (1994), o museu é resultado direto de uma produção, seleção, articulação, veiculação e ressignificação de processos repletos de lembranças e esquecimentos de sujeitos, grupos sociais, instituições e projetos sociais. Pelo que veicula no museu os atores, grupos sociais, instituições e projetos sociais falam, expressam identidades, diferenças, redes que os articulam, alianças e estratégias de suas ações e discursos. O museu oferece visibilidade para situações e contextos que não são necessariamente explícitos. O museu organiza, hierarquiza, relaciona e dota de significado os espaços e lugares da cultura e da sociedade. No museu, o local, o regional, o nacional e o global encontram ou articulam nexos, hierarquias, prioridades. O museu produz um cronograma, objetivos perseguidos, a cenografia ajuda a transformar o objeto numa realidade. Os monumentos, documentos, saberes, práticas, celebrações e modos de expressão ganham permanência, perseguem a condição de “legítimos” e de “legitimidade” nas disputas sociais e simbólicas. 171 172 LATINIDADE O museu influencia ou orienta rumos, concepções, ações e políticas. No museu os embates ganham sentido e dramaticidade. Eles dependem, crescentemente, de dispositivos tecnológicos e informacionais para a legitimidade de seu discurso que garanta uma nova e vital modalidade de hegemonia. O museu se inscreve na lógica constitutiva do poder simbólico. Por poder simbólico denominamos a sua capacidade e responsabilidade em fazer ver e fazer crer. O poder de se fazer tomar em consideração, o poder de falar e se fazer ouvir, de se constituir como agente social e participar ativamente da construção histórica e social de seu tempo. O poder simbólico, por vezes aparece intimamente ligado às outras formas de poder, mas não se restringe a elas. O poder simbólico é exercido nas relações sociais, na capilaridade social, é constitutivo e constitui-se na dinâmica social. No museu, existem diferentes modo de perceber e classificar as coisas do mundo e intervir sobre esta realidade. O museu é locus de exercício. MUSEU, CONJUNTURA E REFLEXÕES O museu discute e valoriza aquilo que constitui e consolida o “espírito e o modo de ver, viver e sentir de um grupo”. Esta perspectiva valoriza a ideia que cada grupo social, considerando suas prioridades e estratégias conjunturais, desenvolve códigos próprios, coerentes com a cultura e o universo simbólico e relacional em que ele se instaura. Ao museu, numa perspectiva tradicional, caberia estabelecer condições que valorizam estruturas significantes, hierarquizadoras de relações, ideias e valores. Temas e eixos analíticos se impõem quando a antropologia, a sociologia cultural, a ciência da informação, a ciência da comunicação e a história orientam, fundamentam ou influenciam no olhar e reflexões que movem os museus. Os eventos e personagens são uma constante, estabelecem relações, organização, personagens, valores e culturas. Mesmo numa conjuntura em que os movimentos sociais questionam o modo de olhar e os valores, os modelos de análises comprometidas com a permanência social possuem expressão, desafiando outras posições e concepções identificadas com reflexões atuais. Uma ideia percorre as instituições de cultura e os museus ao longo do século XX, a necessidade de intervir de forma racional na reorientação do olhar. Desde a segunda metade dos anos 1970, quando a democracia e a justiça social ocupavam um lugar estratégico nos movimentos sociais, profissionais e militantes das instituições de cultura, artes, as ciências se empenhavam na produção de situações ou condições alternativas. Este, O Museu como História e como Produção de Sentidos entretanto, não é o primeiro esforço em viabilizar tal processo, um movimento que reúne projetos em torno de uma pauta mínima e de mudança nas instituições, políticas, modos de gestão e relações entre cultura e sociedade. O ideário da universalização, descentralização administrativa, controle social, desconcentração de recursos, humanização das relações movem diversos esforços de mobilização. Esta realidade se recusa a conviver com modelos simplificadores, sejam duais, ou não, exige dos agentes ou atores políticos, técnicos e profissionais um esforço inovador de compreensão dos fenômenos sociais e culturais. O museu, instituições e ações de cultura, políticas setoriais, atores e projetos socioculturais são partes de uma estratégia e interesses específicos. O museu, portanto, é produto e construção histórica, uma condição conjuntural. Ao mesmo tempo, superada a impressão inicial, o museu guarda relações e interesses particulares, que exigem olhar para as suas entranhas. Muitas vezes, ele se envolve em disputas com a conjuntura. Ele cria um mundo, linguagem e relações próprias. Os modelos científicos fizeram-se referência. A ciência encontra dificuldade em falar de um tempo imediato, na formulação e compreensão de mudanças na conjuntura e de suas relações com outras disciplinas científicas e com a sociedade. Burke (1992, p.123) demonstra que novos temas, linguagens e enfoques são valorizados ou vistos com desconfiança. No final dos anos 1960, o contexto internacional de profunda crise de hegemonia e, aparentemente, havia uma possibilidade ou permitiria a convivência com diferentes tensões sociais, ideologias e modelos societários que exigiam novos conteúdos, práticas e modos de produção de conhecimento. As ciências passavam por vigorosas críticas e revisões, as correntes subjetivistas e aquelas ligadas aos setores sociais tradicionais empenharam-se na luta contra o marxismo e contra o “voluntarismo” que se expressaria nos movimentos sociais, provocando uma profunda revisão no campo da ciência da história, influenciando outros domínios científicos. Nos anos 1990, estas reflexões desencadearam a possibilidade de movimentos sociais sobre o debate científico, novas práticas dos profissionais e relações entre sociedade e Estado. No centro deste processo, a conjuntura assume uma dimensão a ser modificada e objeto de análise. A reflexão sobre a conjuntura exige um empenho diferenciado em relação aos modelos de análise que prevaleciam anteriormente e se constitui em movimento intelectual, resiste e se empenha em desarticular a análise positivista comprometida com antigas lideranças, valores e grupos sociais. 173 174 LATINIDADE A história do tempo presente ou imediata, centrada no imediato, empenhase numa detalhada e metódica análise dos fenômenos conjunturais, incorporando em suas reflexões e temas estudados desde a “História Nova”, como aparentes banalidades, a narrativa do cotidiano, dos homens comuns, das relações, afetos e comportamentos de uma época, de uma localidade - de um personagem, no seu limite -, sistema de valores, crença e atividades. A história imediata, para ser desenvolvida, deve estar orientada pela crescente e necessária consciência da interdependência dos fenômenos, suas redes relacionais e diferentes formas de expressão e efeitos. A riqueza das possibilidades deste novo modo de olhar e produzir científico surpreende e origina adesões e desdobramentos. Uma análise dos fenômenos e processos conjunturais exige aproximação com outras ciências humanas e sociais, desconstruindo, e mesmo desconsiderando, a história e a tradição positivista. Trata-se de um percurso de inovações que considera a tradição historiográfica, cujo maior nome é Edward Thompson(1991, p.15). Lembrando Febvre (1989, p. 35), para o historiador e seu trabalho “toda história é escolha”. Para o analista dos processos contemporâneos, há o desafio adicional de pensar criticamente a conjuntura levando em consideração a capacidade social, das tecnologias e meios de comunicação social em atribuir e produzir ou orientar sentidos e visibilidades a determinados processos sociais. Todos os dias, os homens são influenciados em suas opções e decisões pelos meios de comunicação e pelas possibilidades relacionais e simbólicas constituídas pelas novas tecnologias. Uma nova seleção sobre o real e seu mundo relacional é introduzida para complexar e tencionar as relações humanas e sociais. Um suposto mundo e uma sucessão de acontecimentos e eventos são atribuídos e construídos arbitrariamente e, por vezes, fora do controle social em que orientações e induções são despercebidas. Fatos, personagens, situações, discursos, prioridades, cronogramas são marcas de uma hierarquia e sucessões de fenômenos são constituídas como reais, verdadeiras, únicas, excepcionais. Uma seleção de acontecimentos, eventos e processos são enfatizados ou silenciados segundo interesses, estratégias e lógicas que escapam aos cidadãos. Novas condições que permitem toda a sorte de produção de sentidos, modelos relacionais e de produção são introduzidos nas esferas do poder de Estado e dos interesses privados. No século XX, Braudel afirmava que o historiador criava os seus materiais, ou se quisesse, era capaz de recriá-los; esta perspectiva demonstra que o O Museu como História e como Produção de Sentidos historiador parte para o passado com uma intenção precisa, um problema a resolver, uma hipótese de trabalho a verificar. Este processo também permite uma atitude e uma produção sobre os acontecimentos que marcam o cotidiano dos homens. Esta análise é herdeira de um movimento denominado “História Imediata”. Na origem deste movimento encontramos a produção coletiva de um documento que incorpora tradição e novidade. Um documento escrito em forma de “manifesto”, resultado de longo debate e da constituição de uma rede que discutia de suas instituições e países a partir de recursos informacionais, na rede internet. A produção e veiculação de um documento, obra de natureza planetária, escrita em conjunto e democraticamente através de uma rede, suporte tecnológico, e subscrito por intelectuais de diferentes formações em diferentes países e instituições. O documento é encontrado na home page (www..h.debate.com) sendo possível discutir-lo e estabelecer contato com outros pensadores que acatam ou não estas premissas e orientações intelectuais, estabelecendo um diálogo permanente e comprometido com a inclusão e a convivência. O início deste século não esgotou ou apagou as marcas da história e seus desdobramentos. As reflexões e dilemas epistemológicos que influenciam ou se explicitam em trabalhos contemporâneos é ponto de partida para o debate científico. REFLEXÕES E CONSIDERAÇÕES INICIAIS: UM PONTO OU PORTO DE PARTIDA Nestes caminhos, descaminhos e não caminhos o museu e o campo científico que o justifica produzem suas marcas e itinerários. O museu, historicamente dependente do Estado e suas alianças de poder e envolvido com uma tradição de reconhecimento, acolhimento e reprodução, ganha uma nova dimensão. A partir dos anos 1970, com a crescente influência da sociedade civil, a falência e desinteresse dos blocos tradicionais, novos processos de produção, de formação de seus quadros técnicos, de relações com o entorno e com a sociedade civil organizada lentamente se transforma e se engaja no esforço de se envolver no cotidiano e a pluralidade que o cerca, nos processos e projetos que exigem revisão dos modelos que orientaram ações, políticas, modos de compreensão e fazer. O museu empenhado em fazer crescer a sua importância na sociedade e em seu tempo está empenhado em selecionar, adquirir, organizar, hierarquizar, classificar, indexar, armazenar, recuperar, disponibilizar e expor 175 176 LATINIDADE seu acervo e ampliar as trocas com a sociedade. Este processo significa produzir informações e conteúdos, significa que ele só será significativo quando for significativo para o seu tempo e para o seu contexto. Interesses privados, públicos, corporativos, da sociedade civil e da sociedade política, movimentos artísticos disputam e tentam influenciar a orientação do campo. A indústria cultural empenha-se em transformar o museu em negócio e lugar de espetáculo. A sociedade insiste em fazê-lo inclusivo e compromissado com a identidade cultural local. O museu preocupa-se tanto com a informação quanto com a condição da comunicação. Trata-se de uma instância cultural e institucional que organiza o universo, como parte do processo de produção da informação, viabiliza uma referência ao homem na produção de seu destino, agregando estoques de elementos de informação, e se empenha em garantir ao receptor uma mediação na transferência e explicação do mundo que o cerca. Portanto, se transforma em parte estruturante do sujeito. O museu é parte da “batalha” cultural, material e simbólica que pensa e se preocupa em modificar o papel da informação e da comunicação na luta pela hegemonia política e cultural na sociedade contemporânea. Uma luta pela reversão da herança histórica alargada no neoliberalismo: a extrema concentração dos setores de informação, comunicação, produção de valores e verdades, orientação científica institucionalizada e entretenimento. Analisamos uma conjuntura e um conjunto de ações e discursos que se propõem a democratizar os processos informacionais e comunicacionais, através de políticas públicas, formas colaborativas e participativas de difusão cultural. Os traços, ações e discursos conjunturais e estruturais existentes nas propostas sobre informação nas políticas públicas de cultura orientam conjunturalmente os envolvidos com a cultura. Essas demandas e orientações são desenvolvidas principalmente por técnicos de ministérios e instituições, políticos, universidades, setores corporativos e movimentos sociais, resumindo as principais tensões e interesses, concentrando esforços de segmentos organizados em instituições civis, que, naquele momento, aparecem aos olhos dos movimentos sociais como capazes de orientar e influenciar no debate e na adoção de políticas. O Museu como História e como Produção de Sentidos NOTAS 1 A pesquisa “Museu e poder no Brasil (2003-2006)” foi concluída em julho de 2012. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Aldo. Mitos e Lendas da Informação: o texto, o hipertexto e o conhecimento. Datagramazero (Rio de Janeiro), Rio de Janeiro,RJ, v. 8, n. 1, p. 0114, 2007. _____. A Condição da Informação, in São Paulo Em Perspectiva. São Paulo: Vol. 16, No 3, p. 67-74. 2002 BARROS, Carlos. História Imediata, in A Cantareira. Niterói, FH-UFF, 2006. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 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The ways, articulated and interdependent, allowed for setups and social relationships of domination, socia, relational and symbolic control, influencing expectations and actions. The action of organized society and the information requires redefinition of the museum in producing and directing itself though paths which do not grow from its borders into within, but in theoretical and professional benchmarks. A review of the literature and documentation provides clues and influence our analysis. We studied some trends of museological public policies and cultural policies in Brazil, including them as part of the historical trajectory and strategy of power in the period 2003 to 2009. We consider the model characterized by the continuity of social exclusion and authoritarianism. From our perspective at this moment, they are faced and fought, but will not be resolved by the Lula administration. To resume the production of reflections on the O Museu como História e como Produção de Sentidos museum requires thinking it as political, cultural and inter-field knowledge institution in order to meet the “Brazilian museological diversity.” New technologies, media, materials, insights, networks, social actors and demands are present in the culture and the imagination, forcing a revision of the idea and the way a museum is done. Keywords: 1. History, 2. Museum, 3. Information, 4. Institutions, 5. Historical changes RESUMEN Analizamos el Museo en las relaciones sociales, las instituciones de la cultura y la información como constitutiva de la estructuración de una estrategia social, las controversias científicas y proyectos que requieren revisión de los modelos que las acciones guiadas, las políticas, las formas de entender y hacer la sociedad. Las trayectorias, configuración e interdependiente permitido y las relaciones sociales de dominación, control, sociales, relacionales y simbólicos, que influyen en las expectativas y acciones. La Sociedad de la Información y la acción organizada requiere la redefinición del museo en la producción y guiadas por rutas que no se originan dentro de sus fronteras, de sus marcos teóricos y profesionales. Una revisión de la bibliografía y documentación proporciona pistas e influir en nuestro análisis. Se estudian algunas tendencias de las políticas públicas, de museos y de políticas culturales en Brasil, entendiéndolas como parte de la trayectoria histórica y la estrategia de poder en el período 2003 a 2010. Consideramos que el modelo se caracteriza por la continuidad de la exclusión social y el autoritarismo. Reanudar la producción de reflexiones sobre el Museo necesita pensar en ello como una institución, política y cultural de campos cruzados conocimientos para cumplir con el llamado “museo de la diversidad brasileña”. Las nuevas tecnologías, los medios de comunicación, materiales, conocimientos, redes, actores sociales y las demandas están presentes en la cultura y las imágenes, lo que obliga a una revisión de la idea y la forma en que hacemos en el museo. 1. Historia 2. Museo 3. Información 4. Instituciones 5. Cambio histórico 179 Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance Popova Liudmila V., Ass. Prof. - St.Petersburg State University, Russia ABSTRACT BRICS reflects the trend in the formation of a multipolar system of international relations and the strengthening of economic interdependence and its main role in the system of global governance is related to the growing influence of the participating countries in the world economy, with different civilizations and historical background. Besides, these countries have different views regarding the priorities and the pace of progress on certain issues. In the other hand, despite of these characteristics, there can be no doubt that settling the above differences and disputes can take BRICS countries to deeper economic interlinkages and higher levels of cooperation and coordination, and in turn, a greater say in international institutions. Keywords: cooperation; BRICS; world economy. 1. BRICS: A MECHANISM FOR GLOBAL GOVERNANCE REFORM? Creation of the BRICS, initiated in 2006 by Russia, was one of the most significant geopolitical events of the beginning of the century. For a short period of time the association consisting of five fast-growing economies has become a significant factor in world politics. Creation of the BRICS reflects the objective trend of world development in the formation of a multipolar system of international relations and the strengthening of economic interdependence. In such a system non-institutional structures of global governance and network diplomacy are becoming more widely used. The role of the BRICS in the system of global governance is determined by the growing influence of the participating countries in the world economy. In 2011 the share of BRICS accounted for about 25% of global GDP (in PPT terms), 45% of the world population. The contribution of BRICS in world economic growth over the last decade was about 50%, which makes this group the main driving force behind the development of the global economy. [8] The economic power of BRICS will continue to increase in the future, so alike their role in addressing key questions of global finance 181 182 LATINIDADE and the economy. It is estimated that by 2018 the combined GDP of the BRICS will surpass that of the USA, and by 2035 – cumulative GDP of the G7. The BRICS brings together countries belonging to different civilizations with different historical background; they are characterized by a particular socio-political situation and embodying distinct models of modernization. They have different political systems and their foreign policy priorities do not totally coincide. Economically the BRICS countries are critically dependent on the West for markets, funds and technologies, and in India’s case, arms, while mutual ties are still undeveloped. China is the greatest manufacturer of the world, while India focuses on services, and Brazil and Russia are major commodity exporters. BRICS is held together and pushed forward by their common vision and interests in resolving international issues. Meeting the failure of international organizations to ensure effective regulation of the global economy and world politics, the BRICS countries are interested in reforming them. Recognizing the limited individual efforts to accomplish this task, they have resorted to searching the forms and mechanisms of collective action. The BRICS proceeds from the following common ground [8]: - A common desire to reform the outdated international financial and economic architecture, which does not take into account the increased economic weight of the BRICS countries and other new economies; - Commitment to the principles and norms of international law, rejection of the politics of power pressure and infringement of the sovereignty of other countries; - Existence of a large number of common challenges and problems associated with the needs of economic modernization and social life; - The complementarity of many sectors of the economy. The BRICS agenda is essentially dominated by economic and financial issues1. We can identify five topics that have become common stand for cooperation program of BRICS: 1) conversion of the forum into an official international association through the formation of a “dialogue mechanism”; 2) cooperation in addressing global financial crisis and the creation of a new global financial architecture; 3) search for solutions to problems of energy security and climate change; 4) the development of mutual trade and industrial cooperation; 5) cooperation in the field of education, culture and science. [11, p.311] Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance The interests of all countries are mostly coinciding on global matters. The countries suppose the major challenge of a modern world economy is the demand for the balanced growth and a reform of the global banking system and monetary institutions, including the reorganization of control structures of the World Bank and IMF. All the BRICS countries understand the need to develop an alternative reserve, or a new global currency unit. The BRICS member states also coordinate their efforts on such issues as the development of world commodity markets and post-crisis regulation. 2 Since the recent global crises the interaction among the BRICS at different levels has become deeper, while the agenda was enlarged to include new policy areas. Gradually the BRICS countries go beyond economics becoming the center of development of proposals on a range of other global issues reflecting the interests of non-Western world. The states are beginning to adjust their positions on such issues as climate change, security issues, and combating terrorism, drug trafficking, the hot spots. [9] Due to expanded agenda some experts started to assess the BRICS as a political forum. But still the BRICS is not a political alliance. The scale and intensity of the contacts of the BRICS member states began to exceed the initial expectations. Following the diversification of the BRICS’s agenda, a wider circle of governmental bodies, as well as representatives of the academic community and business organizations of member countries have also joined the activity of the “Group of Five”. In addition to diplomatic bodies, the ministries of finance, economy, agriculture and institutions responsible for national security are now involved into multilateral consultations. Regular meetings of “think tanks” and business forums are held in parallel to BRICS summits. A mechanism of interaction between the development banks of the five countries has also been established. Consultations between the ministries of health are underway. [3] As far as the consolidation of the BRICS coincided with the global financial crisis and the increasing role of the “Group of 20”, the BRICS has positioned itself as a center of decision-making for G20, which would be an alternative to the G7 which solutions reflect the interests of developed countries. The interests of the BRICS countries and those who they represent are not opposed to the West. In a rapidly globalizing world, everything is interconnected. The development of one single country is impossible without cooperation with others, especially the most advanced economies. [9] All countries of the BRICS closely cooperate with the West, but for a number of global problems interests of the BRICS and the Westerns powers are different. 183 184 LATINIDADE The leaders of the BRICS countries (Brazil, Russia, India, China and South Africa) deem it necessary to create a more representative international financial architecture, in which developing countries will have greater impact. Thus it is necessary to convert the international monetary system, so that it can serve the interests of all countries, including developing ones.3 They strive for expansion of their representation in the management of the IMF and the World Bank, but they failed to agree on the most recent candidates to these institutions. Yet they succeed to some extent in enlarging their share in those institutions. The BRICS is making important contribution to stabilization of the global economy during the recent global slump. In 2009-2010 Brazil, Russia, India and China bought the IMF’s bonds for $ 100 billion (China for $ 50 billion, Russia, India and Brazil - for $ 10 billion). Thus they have contributed to the expansion of to the fund resources. In April 2012, the leaders of the BRICS decided to allocate additional $ 430 billion dollars to the IMF’s fund to combat the spread of the debt crisis in the euro zone. In order to further stabilize the world economy, the BRICS calls for regulatory oversight of the international financial system, to strengthening policy coordination and cooperation in financial regulation and supervision, as well as to promoting stable development of global financial markets and banking systems. Trying to establish a more adequate to new circumstances international monetary and financial system, the BRICS states are promoting mutual economic and financial cooperation. Trade and investments within the BRICS increased significantly during the last decade, though this mostly happened due to the expansion of their economic ties with China. (Pic.1) At the forth summit of the BRICS in Delhi (March 2012), a framework agreement on inter-bank cooperation between the countries of the group, including mutual lending in local currencies, was signed. The signing of this document should contribute to the growth of trade turnover within the BRICS and facilitate mutual economic integration of these countries. It will also lead to the increase in demand for currencies of the BRICS states in the long run. Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance PIC. 1. TRADE BETWEEN CHINA AND OTHER BRICS COUNTIRES, BLN USD, 2003-2011 The most significant announcement of the BRICS Summit 2012 has been the proposal for a new Development Bank modelled on the World Bank for pooling in mutual resources. According to the BRICS, such a bank would supplement the existing efforts of international and regional financial institutions focusing on global growth and development. Creation of this new development instrument can provide essential support to the development of industry and agriculture in the BRICS through joint efforts of its member states and conduction of a common policy. This initiative will enhance the role of BRICS in the world economy by allowing the group to gain greater influence in the IMF and other organizations. [7] Currently this initiative has been under examination of the finance ministers, while the final concept will be presented at the next BRICS summit to be held in 2013 in South Africa. The forth summit’s agenda also included other problems of global governance, such as preparation for the UN Conferences on Sustainable Development and Biodiversity, the prospects for the Doha Round of WTO negotiations, as well as participation of the BRICS in the IMF programs. Actually, not only economic topics were dealt with at the summit. The leaders of the BRICS member countries reviewed the situation in the Middle East and agreed that the Syrian and Iranian problem can be solved only through a dialogue. They decided to provide humanitarian assistance 185 186 LATINIDADE to the people of Syria. The BRICS leaders agreed on that “the international community should continue its activities in Afghanistan”, and also decided intensify mutual consultations in priority areas of cooperation.” [2] The BRICS countries have different views regarding the priorities and the pace of progress on certain issues like human rights, the role in the system of international relations and approaches to addressing problems in that area. In some cases, the bilateral relationship remains negative legacy of past conflicts and contradictions. Therefore it is difficult to expect a complete unanimity among the leaders of the “five” on current issues in world politics. The BRICS demonstrated unity on the Libyan issue when it was voted in the UN Security Council in March 2011, but their positions diverged on Syria early this year. The intention of the BRICS to nominate their own candidate as a new managing director of the IMF ultimately faded away and all the states of the group preferred to make separate agreements with the United States and Europe on the terms of support for their candidate. As a result, Christine Lagarde from France was designated as the new managing director of the IMF. [10] They also failed to promote their candidacy as a new head of the World Bank. The BRICS countries are divided on the issue of reform of the UN Security Council. Thus, Brazil, India and South Africa insist on increasing the number of permanent members in the UN Security Council. Its current status has long come into conflict with the alignment of forces in the world arena, and the need for change is universally recognized. These three countries consider themselves the best candidates for new permanent members, and few countries oppose this idea. [10] However, whenever this issue moves to the practical level, the current permanent members of the Security Council start to pretend that this is not their concern and that the issue is very complicated. This impedes the consolidation of BRICS. An association of BRICS has passed the initial stage of its development. It has not yet realized its potential as an influential international entity. The group has not determined by its institutional model - it has no standing bodies or officials of the apparatus or the constituent documents. There is insufficient clarity regarding the positioning of the BRICS in institutions and mechanisms of global governance. There are also prerequisites that BRICS will become one of the leading organizations responsible for global regulation in the XXI century. The BRICS Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance is de facto involved in the search for new formulas of global regulation by interacting with the G8 and working in the G20. An influence of the BRICS in the next decade will increase both in the field of global finance and economy, as well as in political matters. Further challenges that confront the BRICS countries include: strengthening of their positions in global governance, acquirement of equal status with traditional centers of influence in the world economy and global finances, expansion of cooperation within international economic and financial organizations.[14, p.9] 2. RUSSIA’S FOREIGN POLICY DEVELOPMENTS AND ITS VISION OF THE ROLE OF THE BRICS The BRIC, and then BRICS, has grown out of the RIC, or trilateral cooperation between Russia, India and China. And this group was ultimately the realization of the idea of Yevgeny Primakov, the former Russian foreign ministry, which he expressed in 1998. The ‘Primakov Doctrine’ pointed to the desirability of multipolarity based on the premise that this best reflected the evolving objective reality of the international system and took into account the interests of major states, including Russia’s, and would therefore lead to greater stability. According to his doctrine, he made efforts to encourage Asian centers of power to counterbalance the United States. It was E.Primakov who revived the Russia’s relations with Asia and Latin America. He promoted and finally established in 1996 a strategic partnership relationship with China. Since early 2000s Russia’s foreign policy has undergone significant evolution. During his first term Vladimir Putin moved toward a more general notion of a balance of power in his concept of multipolarity as opposed to Primakov’s and Yeltsin’s somewhat more specific balance against the West. However, in light of growing disagreements with the West, Putin’s second term saw a more hardened stance and Russian advocacy for multipolarity began to again reflect the desire to counterbalance the United States. Since 2008, Moscow’s paramount goal has become economic reintegration of the post-Soviet space, most likely through the Russian-led Eurasian Union. The number two priority was designated integration with the European Union, which accounts for the bulk of Russia’s foreign trade. At the same time, Moscow aims to turn the Eurasian Union into a link between Europe and the Asia Pacific. Finally, expanded engagement with the Asia Pacific was placed on the third place among Russia’s foreign policy priorities. 187 188 LATINIDADE In his program article on foreign policy, published a week before the presidential election in 2012, Vladimir Putin clearly stated Russia’s priorities and areas of interaction with the outside world. [15] First, Putin recalled the increasing role of Asia-Pacific region in the present and the future of Russia. Secondly, he stressed the growing role of the Chinese factor in international politics and global economy, and put China on the top of Russia’s priority partners. And thirdly, other countries of the BRICS were classified as important partners of Russia. Thus, Putin clearly expressed his main idea: it is time to overcome the one-sidedness of eurocentrism in Russian foreign policy and learn to take into account the actual geopolitical position of the country as a Eurasian and Pacific Power. [15] Vladimir Putin had positive things to say about cooperation within BRICS, laying emphasis on one particular aspect. The Russian president sees the unifying factor in the fact that all BRICS countries not only have similar views on the need for a new, multipolar world order, but, most important, share one and the same basic value – national sovereignty as a fundamental structural element of the world system. [10] This concept is an alternative to the Western approach that is based on the premise that today sovereignty is no longer as sacred and immutable as it was in the past. Today BRICS is considered by the Russian leadership as a strategic, long-term factor of contemporary international relations. In contrast to the RIC (Russia, India and China), this project doesn’t focus on Eurasian agenda. Most likely, the next decade the influence of this forum will continue to grow both in political matters and in the global economy and international financial relations. Russia is interested in strengthening the convergence of BRICS, as well as in overcoming the differences in foreign policy priorities and expansion of interaction in the economy. A convergence of foreign policy concerns will enhance the position of the BRICS member states in dealing with global politics. It is very important to establish BRICS as a new model of global relations lined up on top of the traditional barriers of interaction or along the axes of the East-West or North-South. For Russia BRICS, along with a membership in the UN Security Council and nuclear weapons – is a means to maintain her status and influence. The very existence of BRICS in global politics is seen as a huge advantage for our country. The next few years will be particularly important for Russia’s participation in multilateral diplomacy. In 2013-2014, Russia will preside in G20, G8 and finally in the BRICS, which gives additional possibilities for agenda harmonization of these areas and strengthening of Russia’s position on many issues. Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance According to Russian leaders, the strategic goal for BRICS is its gradual transformation into the full-fledged mechanism of interaction on the major issues of world economics and politics. For the group, the former President Medvedev once said, it would be useful to adopt a common strategy for the development of external relations. Among major priorities of the BRICS in the international sphere for the coming years should be the support of the UN Security Council in maintaining peace and security, as well as preventing overturns of unwanted political regimes and the enforcement of unilateral resolutions of conflicts under the aegis of the UN. [2] Russia also supports India, Brazil and South Africa as candidates for membership in the UN Security Council. Russia would like to institutionalize BRICS, but it does not want to artificially speed up the process. In compare with other BRICS economies, Russia has actually a more open and market-oriented economy than the other countries of the group. As a predominant commodity exporter, it has much lower import tariffs and leaves its market much more open. Of these four countries, only Russia has a fully convertible currency and no capital control. The fundamental difference between Russia and the other BRIC countries is that Russia is at a higher level of economic development. It is slightly ahead of Brazil, and far above China and India. Russia’s GDP per capita at market exchange rate is eight times higher than India’s and two and a half times greater than China’s. The situation is similar with regard to foreign direct investment per capita, where the Russian superiority is even greater. It is hardly surprising that China and India grow much faster. Russia advocates further expansion of mutual relations of the BRICS countries in different spheres – politics, economy, security, economy, technology, and others. Economically, according to Russia, the BRICS countries have the capacity and potential for multilateral cooperation on nuclear energy, aviation, development and use of outer space, nanotechnics and other areas. Cooperation of the BRICS on energy and agriculture has actually begun. Russia also strongly promotes more active use of national currencies of the BRICS in mutual trade and other economic exchanges. What is being done in the BRICS in terms of multi-currency suits Russia. [15] However, Russia’s relations with other BRICS states are rather unbalanced. Brazil remained the most “weak link” of the Russian policy in this association. The role envisaged for Brazil in the Russian foreign policy priorities is considerably less than that given to China and India. It is recognized that the strategic partnership between Brazil and Russia announced in 1997 has 189 190 LATINIDADE not happened. This is largely due to the lack of clear priorities in cooperation with this country. [13] Russia eagerly promotes the political and economic dialog with India partly because its willingness to counterbalance its dependence on China, but relations with this country are also developing much more slowly while the potential for cooperation is more limited in comparison to interactions with China. India itself is moving closer to the United States and is interested in a potential quadrangular strategic dialogue with the United States, Japan, and Australia. Rising China has naturally emerged as Russia’s top geostrategic partner. In the past decade Russian-Chinese relations improved significantly. The countries have resolved their border disputes, signed a treaty on good neighborhood and cooperation, and established a system of intergovernmental commissions on various aspects of their bilateral relations. Last year marked the 10th anniversary of the signing of the Sino-Russian Treaty and the 15th anniversary of the declaration of a strategic partnership. Thus two countries established unprecedented by its scale legal and financial framework for the development of comprehensive cooperation in the long term. Russian-Chinese relations in the XXI century have evolved steadily and rapidly, especially in the strategic military and diplomatic spheres. Due to objective reasons, the international politics of both countries is based on the principles of justice and respect for the sovereign rights of other members of the UN. A powerful impulse was given by creation of the Shanghai Cooperation Organization, designed to resist the expansionist aspirations of the Anglo-Saxon civilization axis led by the United States in Central Asia. The countries have expanded their bilateral economic and security cooperation. (Pic.2,3) China has now replaced Germany as Russia’s top trading partner, while China is expected to become a leading purchaser of Russian energy. Russia has become supplying oil to China through a crossborder pipeline. Energy deliveries will further increase in future years by selling China natural gas as well as more coal and nuclear power technologies and services. Since recently, bilateral trade is conducted in local currencies. After 2009 China became the 3rd largest investor into the Russian economy, though it mostly provides loans for guaranteed supply of mineral resources. In fact, economic relations with China are becoming a condition for economic growth in Russia itself. China plays an increasingly important role in Russia’s energy security and in China’s own economic security. Partnership Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance with China is vital for facilitation of the development of the eastern regions of Russia, as well as for diversification of Russian energy exports away from Europe towards East Asia. PIC.2. RUSSIA-CHINA TRADE, BLN USD, 1995-2011 PIC.3. MUTUAL FDI FLOWS BETWEEN RUSSIA AND CHINA, MLN OF USD 191 192 LATINIDADE The first state foreign visit of a new elected President Vladimir Putin was to Beijing, which indicated the main vector of the Russian foreign policy. During the visit over one hundred agreements between China and Russia on military-technical, economic, industrial, investment and cultural cooperation were signed. [16] 3. CHINA’S FOREIGN POLICY AND ITS VISION OF THE ROLE OF BRICS In recent years the foreign policy of China, while maintaining such basic characteristics as independence, autonomy, and focus on favorable conditions for peaceful development of the country has become more assertive having undergone some notable changes. The shifts in Chinese foreign policy were stipulated by the increase in the country’s economic strength, which became apparent during the global financial and economic crisis of 2008-2009. The transition into the league of “rich and strong” has happened too quickly for the PRC and the rest of the world. [12, p.29] There was a definite need for upgrading the country’s identity, rethinking the place of China in the world and its relations strategy with various groups of states. China considers the multilateral institutions and a concept of global governance as the Western inventions serving the interests of the West. However, the Chinese policy-makers came to understanding, that with the rise of the country’s power its interests are acquiring global dimension, and so to protect these interests it is necessary to act through international institutions. A new status prompts China to offer to international community his own version of the global order based on maintaining and strengthening of existing institutions (UN and others) and collective global responsibility. Among new concepts in China’s foreign policy we may notice the following. [11, p.308] The first initiative is called “a co-development”. As conceived by Chinese politicians, the process of development and modernization should proceed simultaneously in all countries. Ideally, the prosperity of some countries should not be achieved at expense of others. A codevelopment creates an effect of mutual concernment in promoting partnership and maintaining stability. The second concept is a “shared responsibility”. It was advanced as an alternative to the American model of co-governance in the framework of G2 which was rejected by China. Since recently China supports “active participation” in global affairs which is contrasting to previously uphold foreign policy paradigm. This assumes more active participations of China in both bilateral and multilateral forums Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance including the United Nations, Shanghai Cooperation Organization, RIC (Russia, India, China), BRICS, ASEAN +3 and others, as well as support for new projects aimed at the formation of “non-American” multipolar world. [11, p.308] China’s first successful bid for a more active role in world affairs has been improvement of its position in leading international financial and monetary organizations. China’s share of votes in the World Bank was increased from 2.47% to 4.42%, and in the IMF - from 3.65% to 6.07%. In both cases, China has climbed to the third place, behind only the U.S. and Japan. Another significant indication of increased activity of Beijing was an inclusion into the global financial and economic agenda the issue of internationalization of the yuan, and its gradual transformation into the world’s reserve currency. [12, p.29] Within the UN, China more extensively exercises its veto right. If previously China used its right for veto only in the case of resolutions of the countries established diplomatic relations with Taiwan, today China (along with Russia and other states) votes against resolutions of the leading states (the USA, UK, France, etc.), threatening the stability in key regions of the world. [11, p.310] Thus China and Russia voted against the French draft resolution on Syria in the UN Security Council in October 2011, and again in July 2012. China considers BRICS as a global project, through which it can realize its national interests and promote own concept of a global order. Acting within the BRICS allows Beijing to avoid anxieties of both the West and developing world (especially in Asia) about its growing power and ambitions. Many developing countries welcome such rearrangement, because hoping for a more equitable world order and the distribution of wealth. [17] Comparing the total agreed format of the BRICS with the Chinese platform voiced in the speeches of Hu Jintao during the last three years, we can notice that the latter is broader and more fundamental. It contains own vision of the global financial architecture renovation, control of the crisis, protection of the interests of developing countries, food and energy security issues, a problem of climate change, and protection of national models of modernization. Within the BRICS, China places greater emphasis on formation of a more fair global order, reform of the world financial markets and the gradual abandonment of the dollar regime, as well as restructuring of the IMF and other institutions on behalf of developing countries, in addressing energy, food security, climate and environmental changes. [11, p. 311] 193 194 LATINIDADE The idea of BRICS has gained significance for China’s foreign policy since recent crisis. Some experts suggested that China in its advancement to the status of a global power should move away from the developing countries in general while more heavily rely on the group of BRICS as the backbone in political, economic and energy matters. [12, p.29-30] This initiative emerged as an alternative to the American proposal to create a G2. However, at the official level this idea was not fully accepted. It was stated that China still belongs to the group of developing economies though being the largest among them. China now applies a differentiated approach to its partner countries. The leading Chinese politologysts divided all partner states into four groups according to the degree of priority and importance in political and economic terms for China. [11, p.310-311] Relations with Russia remain of paramount importance for China in terms of national security, as a strategic partnership with Russia serves as a safeguard against any attempt to encircle China on the boundaries. Their relations are based on the common vision or proximity of positions of the two countries on strategic international issues. Despite lower turnover of bilateral trade, political relations with Russia are appreciated by the Chinese leaders even higher than with any other country in the world. [11, p.311] The second group of Chinese partners is comprised of South Korea, Brazil, Argentina, South Africa, India, Canada, Ukraine, Belarus, Mexico and several other states. Relations with these countries are characterized as “friendly partnerships”. [11, p.311] With this group of states China has not got conflicts of fundamental interests, but there are insignificant differences. The third group includes the EU and ASEAN, with whom China simultaneously has much in common in economic area, but has either territorial disputes or divergence of attitudes on key political issues. This countries fall into the group of “coordinated partnership”. [11, p.311] Finally the fourth group embraces the United States and Japan, which are viewed by China as potential strategic adversaries with whom China has antagonistic differences in a number of political issues. In the same time, China has close economic relations with these countries and common interest in combating terrorism, etc. Relations with this group are defined as a “pragmatic partnership”. [11, p.311] China is promoting the institutionalization of BRIC, but in a gradual and pragmatic manner, according to the principle of openness and transparency. It is most likely, that in the near future China apparently will support a Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance project of collective global responsibility by strengthening the role of BRICS, the SCO on the global arena, as well as reform of the UN Security Council and other institutions. 4. COOPERATION BETWEEN RUSSIA AND CHINA IN THE BRICS During recent decade Moscow and Beijing established close diplomatic relations. The countries are natural economic partners, as they are sharing the longest in the continent common border and their economic complexes are highly complementary. They increasingly cooperate in different international or regional forums on economic and security issues, such as the SCO in Central Asia, BRICS, six-party talks on the North Korean nuclear issue, the UN CS, East Asian Summit, the APEC, the G20. Russia-Chinese strategic partnership is supported by rapidly developing economic relations. China’s trade with Russia is larger than with any other country of the BRICS, while the Chinese FDI into the Russian economy also exceeds outflows to other members of the group. The countries first in the BRICS group moved to settlements in national currencies in mutual trade and investments. The Russian ruble and the Chinese yuan are traded now on currency exchanges in Shanghai and Moscow, though the volume of trade is small. The Sino-Russian rapprochement is basically a reaction to the changing balance of power in world politics, enabling the two countries to act in parallel rather than as allies. At the global level Beijing and Moscow share a long list of mutual interests, coordinate their policy positions on a range of international issues. They share similar notions about state sovereignty and territorial integrity, promote a principle on non-interference into the country’s domestic affairs. They also have issued many joint statements calling for a multi-polar world in which no one country dominates. The two countries strive to uphold the authority of the United Nations, where the Chinese and Russian delegations frequently collaborate to dilute resolutions seeking to impose sanctions on Burma, Iran, Syria, and other countries. The objectives of joint action by China and Russia are concurrent selfdetermination, independent influence and separate bargaining positions. The positions of Beijing and Moscow on global governance converge at minimum by the three parameters. [5, pp. 17-20] Firstly, Russia and China believe that the concept of global governance was created by the West for its own benefit. In their view, the power in international relations is far more important factor than rules, while existing rules reflect the balance of forces, i.e, serve the interests of the great powers. Second, as both countries are 195 196 LATINIDADE committed to the principle of non-intervention in internal affairs of sovereign states, they have a negative attitude to the interventionist policies of the West. Russia and China’s aversion towards new interventionism of the great powers are also supported by Brazil, India and South Africa. In recent years, these countries like China and Russia provide diplomatic support for undemocratic regimes of such countries as Burma, Iran and Zimbabwe. Beijing and Moscow have a special animosity towards interventionism, because they are worried about a possible foreign intervention in the “hot spots” located either on their own territory or in countries in which they have direct interests. Thirdly, both countries have similar ideas on the form of multilateral relations appropriate for global governance. Russia and China give the highest priority to informal meetings of representatives of great powers to solve different problems which doesn’t provide any partial cession of the sovereignty to international institutions. Despite their improved relationship China and Russia still pursue distinct policies regarding many issues. There is also the lack of consensus and coordination between Moscow and Beijing in some areas. China and Russia, for example, have declined to coordinate their policies regarding Libya or other manifestations of the Arab Awakening despite common fears of contagion, dislike of Western military intervention on humanitarian grounds, and concerns about losing valuable commercial opportunities. More recently Russia didn’t support the candidacy of Nigerian Minister of Economy and Finance H.M.Okampo as future president of the World Bank, which was promoted by China and other BRICS. Instead, it advocated for the candidacy of Jim Yong Kim nominated by the USA. Although having much in common in general approaches to global governance, some differences between China and Russia in this regard still remain. One reason is the different nature of their economies: China is a large exporter of manufactured goods, so it seeks to maintain international standards to ensure open markets. Russian exports are dominated by oil and gas, for which there is no international trade regime. Another reason is historical. China, who is on the rise, does not want to tie his hands by any rules in the field of armaments and security. Russia, however, yielding to the power of the former Soviet Union, but still possessing a formidable nuclear arsenal, considering the international institutions and regimes in the area of security as a means to maintain her status. Thus, China is not too serious about global governance in the security sphere, but actively participates Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance in international economic cooperation, when it considers being consistent with its interests. Russia, by contrast, is ready to maintain international standards in security, but shows less activity in the economic issues of global governance. [5, p.25-26] These differences hinder cooperation between the two countries. Overall, the Chinese government is extremely wary of international agreements, adherence to which would limit his freedom of action in the military and security matters. China has not signed any treaty limiting conventional and nuclear weapons. China also refuses to join the “Security Initiative to combat the proliferation of weapons of mass destruction”, the Wassenaar Arrangement on export controls of dual-use technology and conventional weapons, as well as Regime Missile Technology Control. Russia and the United States, by contrast, are involved in all three structures. [5. p.26] However, in terms of economy, China is increasingly involved in international institutions. It allocates the best specialists for international organizations, such as the Financial Stability Board, IMF, World Bank and the Council on International Financial Reporting Standards and others. The head of the Chinese central bank (PBOC), Zhou Xiaochuan issued a plan for reforming the international monetary system, providing for the conversion of Special Drawing Rights (SDRs) of the IMF into a true reserve currency. Beijing came to understanding that international standards help to protect Chinese interests. Thus, the WTO provides China guarantees from the threat of protectionism. However, membership in this organization is one of the few cases where China has adopted international standards restraining its sovereignty. In other areas of economic policy, China does not allow international institutions to limit its freedom of maneuver. Russian is less interested in economic aspects of global governance. Unlike China, it doesn’t send its best specialists to international economic organizations. In most of these institutions, it behaves relatively quiet and passive, rarely generating initiatives, although on energy issues Russia is always actively involved in discussions. [5, p.27] In the “G20”, which includes China and Russia, Beijing acts increasingly active (for example, in discussing the problems of financial system regulation), while the contribution of Moscow to its activity is low. But even in this group, China avoids sharp movements: despite the criticism of the predominance of the dollar in the world finance, he has shown extreme caution in the matter of transforming the yuan into hard currency. The Russian side, on the contrast, been unable to resist the temptation to 197 198 LATINIDADE undermine the position of the dollar in the global economy, many times suggested the ruble as a regional currency. Both countries offer to reform the system of Special Drawing Rights, playing the role of surrogate international currency, to include yuan and the ruble. Nevertheless, in international economic organizations, they do not act as a united front. Thus, during the election of IMF Managing Director in 2011, and World Bank in 2012, China and Russia failed to promote a single candidate. The countries have called for a comprehensive reform of the UN, including the Security Council, but have been reluctant to support UNSC membership of India, Brazil or South Africa. As permanent members of the UN Security Council, they are wary of attempts by other group members to use the BRICS as a means of reforming the Security Council and the bridge to enter into it. [9] Moscow and Beijing believe that the BRICS must deal with other issues, while the prospects of Security Council reform should be discussed within the United Nations itself. The BRICS actually is a Russo-Chinese invention. However only since the crises the two countries started to take this alliance more seriously as an effective instrument of global governance and made adjustments in their foreign policy, raising the importance of BRICS. At the BRICS level, China and Russia both have close interests and common goals, while at the same time demonstrate different approaches. China seeks to direct the group’s activities mainly in the economic mainstream. Thus, evaluating the results of the summit in Sanya (China, 2011), Wu Hailong, Assistant Foreign Minister of China, listed its achievements in the following sequence. Firstly, the countries achieved a consensus on the improvement of international situation, as well as the development of common goals to promote democracy in international relations and strengthening the governance of the global economy. Secondly, the member states strengthened the need for dialogue, coordination, and cooperation among the BRICS on the important issues in international economic and financial sphere. Thirdly, the summit called for deepening and expansion of practical cooperation between countries in different areas of BRICS. Thus, the increased interaction of BRICS in the international arena, China sees through the prism of coordination of positions in the global economy and expanding economic cooperation between member states. [9] Russia, attaching great importance to cooperation in the field of reforming the world economy, has no objection to expanding the agenda to discuss a wide range of global issues, including security ones. Outlining the prospects Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance of BRICS in April 2011, the Russian Foreign Minister S. Lavrov, along with the need to further promote cooperation in international economic relations, economic and scientific-technical cooperation, also highlighted the cooperation of countries in the international political arena. According to the Russian minister, this interaction has become an increasingly important factor in strengthening global security. As achievements of coordination between the BRICS countries, S.Lavrov pointed out their cooperation within the UN, when the BRICS countries adopted a common position in the Security Council when considering the situation in Libya, Cote d’Ivoire and Sudan. The Minister also highlighted the co-authorship of the UN General Assembly resolution on the prevention of placement of any kind of weapons in outer space. [9] There are some differences in the positions of Russia and China on climate change, where Russia’s position is basically the same with the position of “G8”, and on, for example, on development assistance, where Russia’s stance more in line with the position of the EEC. Being the world’s second largest economy and approaching almost half of the entire BRICS economy, China is de facto a leader of the BRICS. It is equally important as a partner for the rest four countries from the BRICS group including Russia, which largely bases its activity in the BRICS and implements projects with a focus on China. It could be stated that China capitalizes the most from BRICS project among other member states. Seeking to raise the profile of its currency in global financial markets, China claims for leadership in the BRICS Development Bank. As for Russia, it, unlike China, will not receive direct economic benefits of establishing such a bank, though this could be very useful for Russia at the political level. The decision between the BRICS states to hold settlements in national currencies, bypassing the dollar, de facto means the strengthening of the yuan since China’s economy is much larger than that of the other BRICS countries. *** Despite the fact that there are fundamental differences among BRICS countries due to different political systems, and at times conflicting international obligations and domestic pressures, there remains the possibility of taking BRICS to a much higher level of cooperation than where it stands now. There can be no doubt that settling the above differences and disputes can take BRICS countries to deeper economic inter-linkages and higher levels of cooperation and coordination, and in turn, a greater say in international institutions. 199 200 LATINIDADE Russia and China should cooperate in global governance, since the United States are becoming weaker and will not engage in the strengthening of multilateral institutions, the European Union is not strong enough economically and diplomatically, to reform the system of global governance, and many developing countries do not believe in multilateralism, considering it as an invention of the West, which serves Western interests. Thus if Russia and China seek to renew the multilateral institutions and to ensure mutually beneficial interstate cooperation, they need to work in this area. [5] In general, the positions of Russia and China in the BRICS are the same. The countries are required each other support in dealing with global issues. As the countries made great efforts to resolve old conflicts and eliminate barriers to promote closer cooperation, they managed to develop a trust relationship. Therefore, it’s much easier for them to come to an agreement on a number of issues and work out a common position, than with other members of the BRICS. Russia and China believe that better coordination of their interests at the global level will allow to strengthen their position and better defend their interests in particular regions and, more broadly, in the world. This also will contribute to greater international stability and security. NOTAS 1 Today about 80 percent of the BRICS issues pertain to the economic agenda and only 20 percent to foreign policy. [8] 2 In April 2011, at the third BRICS summit in China, the countries made a decision to strengthen mutual cooperation in order to prevent excessive fluctuations of world prices for primarily goods and food. 3 This was stated in the Delhi Declaration adopted at the IV Summit of the BRICS in India in March 2012. BIBLIOGRAPHY 1. BRICS urges to consider the interests of developing countries. URL:http//top.rbc.ru/ economics/29/03/2012/644017.shtml. (in Russian) 2. BRICS Development Bank. 2012, March 28 th. URL:http//actualcomment.ru/ theme/2259/.(in Russian) 3. DAVYDOV, V. BRICS in search for a new global balance. - Nezavisimaya gazeta. 05.03.2012. URL:http//www.ng.ru/courier/2012-03-05/9_briks.html. (in Russian) 4. G20: Currency medicine. - Rossiiskaya gazeta. 2012, June 20th. URL:http:// www.rg.ru/2012/06/20/sammit.html. (in Russian) Cooperation of China and Russia in the BRICS: prospects for global governance 5. Grant Ch. Russia, China and the problems of global governance. 2012 . 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Por outro lado, apesar destas características, parece não haver dúvida de que acima destas diferenças há uma grande possibilidade de aprofundamento das relações econômicas e de níveis mais elevados de cooperação e coordenação das instituições internacionais. Palavras chaves: cooperação; BRICS; economia mundial. RESUMEN BRICS refleja la tendencia en la formación de un sistema multipolar de las relaciones internacionales y el fortalecimiento de la interdependencia económica y la creciente influencia de los países participantes en la economía mundial, con diferentes civilizaciones y antecedentes históricos relacionado con su papel principal en el sistema de gobernanza global. Además, estos países tienen diferentes opiniones acerca de las prioridades y el ritmo del progreso sobre determinadas cuestiones. Por otro lado, a pesar de estas características, taquí no cabe duda que ‘resolver’ las anteriores diferencias y disputas pueden tomar los países BRIC a más profundos vínculos económicos y mayores niveles de cooperación y coordinación, y a su vez, una mayor decir en instituciones internacionales. Palavras claves: cooperación; BRICS; economía mundial. Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización Renata Siuda-Ambroziak - CESLA, Universidad de Varsóvia RESUMEN Parece imposible opinar únicamente sobre las causas y producen los cambios religiosos mecanismos, los cuales en razón de su complejidad, están están sujetas a múltiples interpretaciones y explicaciones teóricas. Embargo de pecado, el objetivo del artículo es un intento de presente, y de escoger, posible si es adaptarse al contexto brasileño contemporáneo algunas de las teorías universales (según sus creadores) secularización, ellas, la concepción de la ‘individualización religión’, tiendas en la teoría de la religión invisible ‘y’ la idea de la religión como el ‘sagrado’ došel gradualmente destruido por la divulgación del pluralismo religioso. Palavras claves: cambios religiosos; secularización; teorías universales. Los cambios surgidos en los sistemas religiosos bajo la influencia de diversas determinantes se hallan inscritos en la historia de todas las sociedades. A veces, se limitan a adaptaciones de carácter doctrinal o a la creación de sincretismos y eclecticismos religiosos,pero más de una vez son también el resultado de la aparición de nuevas organizaciones religiosas, de creciente éxito y perfil proselitista, y del debilitamiento de las instituciones confesionales tradicionales. En la actualidad, los signos de cambio religioso más visibles en el Brasil parecen ser, al contrario de lo que ocurre en la Europa Occidental con su crisis institucional de la religión, el surgimiento de nuevas, fuertes iglesias de carácter sincrético y de comunidades cristianas de origen pentecostal, así como la progresiva caída (aunque últimamente algo más lenta) del nivel de pertenencia a la Iglesia católica, que de modo tradicional había dominado la vida religiosa en el Brasil. Se hace difícil opinar de forma unívoca acerca de las causas y mecanismos que producen los cambios religiosos, pues constituyen fenómenos ambivalentes y, en razón de su complejidad, están sujetos a múltiples interpretaciones y explicaciones teóricas. Sin embargo, el objetivo del presente artículo, omitiendo otros importantes perspectivas en el campo de la investigación, constituye un intento de adaptar al contexto brasileño contemporáneo dos teorías universales (según sus creadores) de secularización 203 204 LATINIDADE - la concepción de Luckmann (2006) acerca de la ‘individualización religiosa’, expresada en su teoría de la ‘religión invisible’ (es decir, el paso del lugar público de la religión al privado), y la idea acuñada por Berger (2005) de la religión como el ‘dosel sagrado’ - un refugio ante el caos y la anomia social, siendo paulatinamente destruido por la divulgación del pluralismo religioso. En un intento de interpretar las formas de adaptación de las religiones a las sociedades y culturas en proceso de cambio, se han presentado hasta hoy numerosas propuestas, tanto en el campo de las ciencias sociales como de las humanidades, que describen sus factores determinantes, pero, desde la época de los clásicos de la secularización (Marx, Weber, Durkheim), todas las teorías surgidas giran alrededor de la ‘secularización’ como una idea controvertida pero clave para elucidar los fenómenos religiosos actuales, independientemente de cómo sea aceptada: crítica, neutral o positivamente. En sus presupuestos iniciales, la teoría de la secularización declaraba que la religión, por lo menos en sus formas tradicionales e institucionalizadas, es en gran medida incompatible con la realidad actual y que, en principio, estaría condenada a la marginalización. Además, tanto la necesidad que manifiestan las gentes por la religión o las expectativas puestas en ella, solo harían que disminuir con el tiempo. El origen de esta crisis fue ya analizado en la época de la Ilustración, ante todo en el marco de los procesos de racionalización, pero fueron los clásicos de las ciencias sociales de los siglos XIX y XX que coincidían unánimemente en que la creciente modernización de las sociedades entrañaba la inevitable caida de la importancia de la religión, idea que se conoce como el ‘crepúsculo de los dioses’ y el ‘desencantamiento del mundo’. Así tanto Durkheim, como Marx y Weber, interpretaron la crisis de la religión como el fruto de un progresivo culto a la razón y la creyeron incompatible con la contemporaneidad, conjeturando la visión de su final. Sin embargo, incluso los filósofos de la Ilustración francesa, que sería tal vez la corriente más marcadamente anticlerical, advertían la importancia fundamental de la religión. Así lo expresó en su momento, lapidaria e instrumentalmente, el mismo Voltaire (“si Dios no existiera, habría que inventarlo”), avizorando las posibles y nefastas consecuencias que podría traer la desaparición de la religion en cuanto a la moral de las mujeres y sirvientes (hoy en día lo apoyaron, entre otros, Stark y Bainbridge (2007:39) explicando, que “nuestra teoría señala que es mejor vivir en una sociedad compuesta en su mayoría por personas creyentes”). Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización Según Zieliñska (2009:19-30), al igual Marx, Weber y Durkheim, con independencia de las perspectivas adoptadas para sus investigaciones, trataron la religión como un importante sistema que permite conocer al mundo, un elemento regulador (o distorsionante), pero legitimador de la realidad social y una fuerza fundamental integradora. El peso o la necesidad de religión habría sido subrayado sobre todo por Durkheim (1990:407-411), quien, si bien reconocía su retroceso bajo la presión de la ciencia como un proceso natural, contemplaba la posibilidad, e incluso la necesidad, de su mantenimiento como institución social fundamental y como fuente de normas y valores vigentes a través de los cambios y la aparición de sus nuevas formas que seguirían permitiendo a los ciudadanos enfrentarse más fácilmente a la cruda realidad. Por lo tanto, ya los primeros augurios ‘ortodoxos’ de secularización, que ante todo tendían a defender la tesis del debilitamiento sistemático e inevitable del fenómeno religioso en todas las dimensiones, planteaban asimismo los potenciales y nuevos ‘lugares’ y tipos de religión surgidos en las sociedades modernas. Se harían eco de estas opiniones de corte clásico teorías posteriores, cuyos creadores, divididos entre ardientes defensores de la religión y sus contumaces adversarios, continuarían los debates acerca de la realidad y la ambigüedad del proceso de la secularización en sí mismo (“no existe una única teoría de la secularización. Más bien un conjunto de descripciones y explicaciones” Bruce 2002:2), subrayando los grandes extremos existentes en la percepción de sus significados, perspectivas y manifestaciones. A decir verdad, ello aseguró con eficacia la gran cantidad de referencias a la teoría de la secularización, a sus posibles interpretaciones, así como a sus aplicaciones y modificaciones, pero imposibilitó en la práctica unas definiciones precisas de la idea, aunque los intentos de análisis sistemático del fenómeno, de elaboración de esquemas interpretativos y de clasificación fueron llevados a cabo sin cesar. Por ejemplo, Dobbelaere (2008) considera que la secularización pasa al menos por tres niveles diferentes, aunque entrelazados: social (un divorcio cada vez más profundo entre las instituciones religiosas y del estado moderno); organizativo (procesos de modernización y secularización interna de las propias instituciones religiosas, adaptando sus actividades a las exigencias del mundo contemporáneo); individual (conocido a menudo como proceso de ‘secularización de la conciencia’, referente a los comportamientos observados en los individuos, por ejemplo en los indicadores de niveles de integración normativa, es decir, en la posible dicotomía entre las normas 205 206 LATINIDADE religiosas y su realización fáctica de los seguidores de una determinada religión). Ambos los investigadores que nos interesan, tanto Berger (2005), como Luckmann (2006), basaron sus interpretaciones de los cambios religiosos actuales en particular en el último nivel, el individual, entendiendo la secularización como proceso influyente en las opiniones y en la vida del individuo, cuyo compromiso religioso, o bien decrece a resultas del progresivo pluralismo religioso (Berger), o bien empieza a reflejarse en el proceso de creación de ‘religiones privadas’ fundadas sobre la experiencia y la espiritualidad, y no sobre las doctrinas de las religiones tradicionales y sus instituciones (Luckmann). Berger (2005:157), retomando el hilo del concepto ‘desencanto del mundo’ acuñado por Weber, explica que la secularización del Occidente fue provocada en un alto grado por la eliminación de elementos mágicos a manos del protestantismo: “el protestantismo se liberó en la medida de lo posible de las tres propiedades más antiguas y poderosas que habían acompañado a la santidad: los secretos, el misterio y la magia”. Sin embargo, Berger no considera que este proceso haya tenido lugar en el catolicismo, de ahí que el universo católico sigue siendo seguro para sus ‘habitantes’ y tal vez por eso sigue conservando su atractivo: el católico vive en un mundo en el que se comunica con lo sacro a través de diferentes canales: los sacramentos de la Iglesia, las ceremonias sagradas, en las que se repiten manifestaciones de lo sobrenatural, y en los misterios, con su larga continuidad entre lo visible y lo invisible. El protestantismo anuló la mayoría de estos instrumentos de mediación, interrumpió la continuidad, cortó el cordón umbilical entre la tierra y el cielo(Berger 2005:156). Quizás esto explicaría el caso de Brasil, donde la influencia de las corrientes tradicionales protestantes es del todo marginal y todavia sigue dándose (aunque con tendencia un poco decreciente) un alto índice de católicos, sobre todo en la versión popular del catolicismo - ‘encantada’, con su vínculo informal a la magia, al esoterismo y al ocultismo, así como con una importante presencia de los santos mediadores sincretizados con los dioses indígenas y africanos. Podría ello significar que el catolicismo brasileño, pintoresco y sincrético, no ha sido todavia sometido a ‘la prueba de fuego’ secularizadora de la Reforma al estilo europeo, abriendo de este modo camino, ya en pleno siglo XX, a un protestantismo diferente, ‘encantado’ pentecostal, que inicia solamente ahora su particular ‘reforma religiosa’ a la Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización manera latinoamericana. Entonces, los movimientos (neo)pentecostales que gozan de creciente popularidad en Brasil, con su ‘teología de la prosperidad y el éxito’ y con sus nuevos profetas serían, tal vez, una importante etapa ‘reformadora’ en el proceso de los cambios religiosos contemporáneos. Según la interpretación de Berger (2005: 150), la secularización significa también un proceso inevitable de separación en sectores diferentes de la vida humana, lo cual da como resultado una disminución de la influencia religiosa directa en la vida cotidiana. Sin embargo, al menos en el contexto tan importante en la cultura brasileña de la familia y las relaciones sociales a ella vinculadas, la religión sigue contando con un potencial real, lo que podemos observar en el fenómeno religioso de renovación de la familia, que se patentiza en los movimientos pentecostales, donde la vida familiar, su mejora y su consolidación están en el centro de interés de sus conversos. Mediante la divulgación de las virtudes de la disciplina, el ahorro, la sobriedad y la honradez ejercen ellos una fuerte influencia sobre los lazos familiares y el proceso de la liberación de vicios, provocando un interno fortalecimiento y metamorfosis del individuo que empieza a percibir sus obligaciones familiares y sociales, así como aprovechar las oportunidades de ascenso social. Pero, solo la conversión al pentecostalismo en Brasil mediante un cambio en relación al trabajo, al consumo, al nuevo etos acerca de la educación y al rechazo radical al tradicional modelo de macho no trae todavia consigo transformaciones a todos los niveles: la mejora de las condiciones de vida entre las familias pobres convertidas, parece ser fruto no tanto de la posibilidad de obtener ganancias y nuevas vías de avance social y profesional, como más bien del cambio ya mencionado en el estilo de vida y en el modelo de consumo mantenido hasta ese momento. Así pues, la convicción de que el pentecostalismo ya ha terminado con el monopolio de la Iglesia católica, ha conducido a cambios decisivos y más - estimulado el desarrollo socioeconómico, resulta un tanto excesiva. Si bien es verdad que los cambios culturales surgidos a la luz de las conversiones al (neo)pentecostalismo son en Brasil fácilmente observables, en primer lugar, la supremacía del catolicismo sigue siendo todavia un hecho indiscutible y, en segundo lugar, el resultado de su vincula a los cambios económicos y sociales se debe también a otros muchos factores. Por ejemplo, en el contexto brasileño, aparte de la buena coyuntura y el crecimiento económico, ha sido un hecho fundamental la tentativa política de la apertura de las estructuras sociales, aún demasiado herméticas, a fin de reforzar su movilidad y facilitar el ascenso social, así como el intenso esfuerzo reciente por liquidar 207 208 LATINIDADE las enormes desigualdades de origen historico por parte de los gobiernos federales con los programas sociales sucesivos. Por otra parte, el proselitismo fuerte de los nuevos movimientos religiosos, con su creatividad y vitalismo, puede, según Berger (2005:201), significar una amenaza, de modo paradójico, para la misma religión, o ser su ‘último sepulturero’, ya que solo el creciente pluralismo religioso y la consiguiente posibilidad de comparar diferentes concepciones y ofertas conlleva a la convicción de que no existe una verdad absoluta, ni una religión verdadera, ni puntos de referencia morales concretos, estables: la situación plural multiplica las estructuras de credibilidad que rivalizan entre sí. Ipso facto, esto conduce a la relativización de los contenidos religiosos. En concreto, los contenidos religiosos sufren una ‘desobjetivización’, es decir, quedan exentos de su status de realidad objetiva, aceptada hasta ese momento en la conciencia como algo evidente. Se convierten en ‘subjetivos’, en el sentido dual de esta palabra: su ‘realidad’ se convierte en un ‘asunto’ del individuo ‘privado’. En el marco de la progresiva pluralidad religiosa existente en las sociedades democráticas, el ‘dosel sagrado’ de la religión aparece cada vez mas, según la teoría de Berger, como un ‘paraguas sagrado’ - pequeño, de bolsillo, unipersonal, que el individuo puede cambiar con facilidad. No obstante, a despecho de estas tesis, en algunas sociedades, el gran abanico de opciones surgido de la tolerancia y del pluralismo religioso (este es el caso del Brasil) no ocasiona en absoluto la renuncia a la participación de la vida religiosa (sobre todo, además, en su forma institucionalizada). Las ideas de Berger acerca del carácter destructor del pluralismo religioso no serían sostenibles ni en el caso brasileño, ni en el norteamericano - al contrario, la variada oferta puede todavia estimular la actividad religiosa y la conciencia de esta variedad no tiene por que conducir automáticamente a una crisis de fe, al caos o al relativismo. Puede igualmente animar a la elección de una pertenencia religiosa no por la fuerza, ni por el peso de la tradición, sino según las preferencias de la persona – así, como considera Beckford (2006:131): “en realidad, la coacción no debe ir pareja a una fuerte convicción interna, a la sumisión y a la fe”. Es entonces el Brasil, de hecho, un ejemplo contrario a la teoría de Berger -en un medio religioso de libertad y tolerancia nacen también procesos de secularización, pero resultan incluso beneficiosos para la religión, significando solamente la adaptación y transformación de las Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización instituciones rígidas e ineficaces tradicionales, permitiendo el acceso al ‘mercado religioso’ a nuevos e innovadores cultos, como es el caso de (neo)pentecostalismo brasileño. Ello garantiza en el Brasil un gran dinamismo en la vida religiosa y una fuerza movilizadora positiva facilitando la creatividad y la plena adaptación de ofertas religiosas conforme a las necesidades de sus consumidores, estimulando una competencia natural en la que los mejores ganan y los peores pierden. La liberación del mercado religioso activa la rivalidad y hace que las iglesias no solo adapten su oferta a las necesidades del mercado y recluten a nuevos miembros, sino que también los consumidores de religión se vuelven más dinámicos en sus búsquedas, expresando, aunque sea sólo en forma de detrimento real de unas ofertas en beneficio de otras, sus expectativas particulares, haciendo a menudo claro hincapié en la necesidad de cambios. Así pues, la presencia de laicos deberia desempeñar un importante papel en instituciones contemporáneas de carácter religioso - con todo, cabe destacar que, en el caso de Brasil, el excepcionalmente activo laicado no surgió en el siglo XX, a resultas de la ‘gran revelación’ de la Iglesia católica postconciliar, sino más bien de la temprana adaptación por parte de los brasileños de los principios de participación y de influencia real de los laicos en la Iglesia. Ante la falta crónica de clero, el activismo del laicado en Brasil cubrió la gran demanda de religión y divulgó un catolicismo de corte popular no siempre aceptado por los jerarcas. Ya en tiempos de la colonia, con una situación de debilidad institucional y de falta de recursos humanos de la iglesia portuguesa, la mera necesidad hizo que las hermandades laicas religiosas (irmandades) desempeñaran un papel esencial, gozando de un prestigio social mucho mayor que el clero y las órdenes misioneras. En mi opinión, en el Brasil la situación de pluralidad, al contrario de las tesis de Berger, no sólo trajo consigo la creación de un mercado sincrético religioso, sino que también provocó una auténtica demanda de creación y desarrollo de nuevas opciones religiosas, el conocimiento y la aceptación de numerosas prácticas y sistemas doctrinales, sin renunciar a la posibilidad de participación en formas colectivas de vida religiosa y en todo el sistema creado de esta forma para otros intercambios e interacciones útiles y provechosas. El auténtico pluralismo religioso, a pesar del poder aún vigente hoy en día del catolicismo, se desarrolló en el Brasil ya en la ‘clandestinidad religiosa’ de la colonización, lo cual se vio fomentado por la lejanía de Europa, la falta de nexos con El Vaticano y la ‘indolencia’ de la Inquisición portuguesa, pero también contribuyó a ello el abigarrado mosaico étnico 209 210 LATINIDADE y cultural de los pueblos amalgamados sin cesar entre sí en el territorio brasileño. En el siglo XX, la simbiosis de diferentes formas religiosas y los diversos sincretismos se convirtió además en una realidad social y cultural plenamente aceptada por la ley. En consecuencia, el pluralismo brasileño, a despecho de la opinión del autor de “El dosel sagrado”, fue un factor de desarrollo de la inventiva religiosa singular, que dió como resultado la aparición de muchas religiones y cultos sincréticos. Así que el caso brasileño afirma que el pluralismo no siempre conduce a la secularización en su significado tradicional, ya que es posible profesar una fe incluso cuando sus preceptos no son tenidos en la sociedad por mayoritarios, obvios y válidos para todos. Por ejemplo, esto ocurre cuando la religión sirve de determinante fundamental en la identidad colectiva de un grupo de perfil migratorio o amenazado culturalmente, situación que se produjo de modo constante en el Brasil desde la época colonial: bien, entre los portugueses que llegaban a América en pos de la riqueza y el paraíso; bien, entre los africanos forzados a la emigración masiva y a la esclavitud, que en Brasil, sumidos en la opresión, conservaron elementos originarios de creencias y rituales religiosos a menudo más eficaces que sus hermanos en África; bien, entre los europeos emigrados al Nuevo Continente en los siglos XIX y XX; bien, entre los asiáticos que buscaban tierra, trabajo y mejores condiciones de vida al mismo tiempo. Pero el mismo Berger (2005:186-196), en un intento de arrojar luz sobre su controvertida postura acerca del pluralismo religioso, reflexiona simultáneamente sobre la aparición de los ‘mercados religiosos’ y sugiere la influencia de las reglas económicas, publicitarias y de marketing en la esfera religiosa (tema este que desarrollaron luego, entre otros, los creadores de la ‘teoría mercantilista’ de la religión, Stark y Bainbridge, 2007). Afirma entonces Berger que las religiones, a consecuencia de los procesos de secularización, son simplemente vendidas, con objetivos de beneficio y lucro, que están provistas de una política de mercado concreta y que las organizaciones religiosas luchan, a veces implacablemente, para acaparar el mercado religioso, atacar a la competencia e incluso, si ha de resultar más eficaz, aliándose entre sí en forma de particulares organizaciones con ‘connivencia de precios’, creando carteles religiosos, que se aprovechan de los principios económicos y de una política religiosa de cooperacion. Berger (2005:190-194) menciona diversas estrategias de mercado adoptadas por las organizaciones religiosas con el fin de mantenerse en el mercado competitivo de las confesiones, de nivelar al máximo los costes de expansión y de crear una positiva imagen pública. Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización Berger (2005) reconoce también que el cambio actual más evidente en la esfera religiosa es la debilidad de las Iglesias tradicionales, que tratan de adaptarse al juego pluralista del mercado religioso libre, modificando ofertas y multiplicándolas al gusto de los consumidores. Sin embargo, todo ello va unido a un alto riesgo: podría traer, ante todo, una confusión entre iglesias y fieles. Es decir, que mientras las iglesias adaptan sus doctrinas y prácticas y las modernizan conforme al espíritu del siglo, lo fieles, al contrario, vuelven sus ojos hacia doctrinas irracionales y formas religiosas tradicionales, rechazando esa misma modernización, lo que quedaría bien demostrado con el aumento de la popularidad, por ejemplo, del pentecostalismo tradicional, el neopentecostalimo y la umbanda en el Brasil durante el periodo del ‘aggiornamento’ postconciliar y la aparición de la liberal y muy progresista teología de la liberación. Berger (2005:194) opina que la necesidad de adaptar la oferta religiosa al mercado causa automáticamente que las religiones se vean matizadas por ‘las preferencias del consumidor’ y, en consecuencia, por un ‘elemento dinámico’, lo que siempre más tarde o más temprano se convierte en un enemigo interno de la religiosidad tradicional e imposibilita a largo plazo el ‘mantenimiento de las tradiciones religiosas como una verdad inamovible’. Ello significaría que ninguna de las opciones religiosas es capaz de mantenerse en una situación tradicional e invariable por mucho tiempo y, de no radicalizarse paulatinamente, habrá de sufrir por fin un proceso de modernización o liberalización o bien ser sustituida por otras propuestas; de ahí que las Iglesias protestantes tradicionales postreformadas han cedido paso en el Brasil a las pentecostales y que la opción católica más influyente sigue siendo ahora la conocida como movimiento de los ‘carismáticos’, relativamente joven. Los motivos de Berger acerca del consumismo y el marketing religioso se revelan especialmente importantes en el debate de los cambios religiosos del Brasil actual. Por ejemplo, explicarían la evidente, intensa y mediática política (televisión, radio, internet, publicaciones internas) de expansión llevada a cabo por los movimientos y organizaciones religiosas de nuevo corte (sobre todo, en lo referente a los neopentecostales), pero también por instituciones tradicionales, como la Iglesia católica. Un elemento fundamental de dicha política es invertir en los medios de comunicación masiva para crear una ‘buena marca’, promocionar el logotipo de la casa o informar de sus actividades, ofertas, localizaciones, sucursales, posibilidades de contacto y las ventajas de decidir afiliarse a una organización religiosa concreta. Son sobre todo las nuevas ‘empresas religiosas’ neopentecostales las que observan 211 212 LATINIDADE atentamente el desarrollo de las tendencias mercantiles y adaptan elásticamente su oferta a las necesidades de los diversos consumidores, tratando efectivamente de convencer a los potenciales adeptos con ayuda de complicadas ‘técnicas de venta’. Esta clase de capacitación de ofertas religiosas tiene a menudo como objetivo la consecución del éxito comercial, lo cual posibilitará la posterior expansión de la organización gracias al suministro de su atractivo producto en el mercado. Sin embargo, como advierte irónicamente Luhmann (2007:233), esta necesidad permanente de mantenerse en un nivel de atractivo religioso puede conducir a la imitación ciega de modelos laicos, conocidos ya en el contexto norteamericano, donde, por ejemplo, la red ‘Playboy-Clubs’ es copiada, con los fines religiosos, por ‘Prayboy-Clubs’. Las tesis ‘economistas’ del autor de El dosel sagrado siguen siendo todavia objeto de interesantes interpretaciones y modificaciones. Por ejemplo, lo hace a su manera Lyon (2000:12), tomando como símbolo de los actuales cambios en la esfera religiosa a Disneylandia y considerando dichas transformaciones desde la perspectiva de la cultura de masas consumista. Al comentar las tesis clásicas de la secularización, afirma que en cuestiones referentes al “debilitamiento de todas las formas de la fe, espiritualidad y creencias, y no estrictamente a la religiosidad institucionalizada” son decididamente erróneas, pero acepta los argumentos de Berger tocantes a la ‘economía religiosa’, ya que, a su juicio, la religión es realmente una de las mercancias que se puede vender muy lucrativamente (Lyon 2000:136). Presentan tendencias similares Nuñez y Taylor (1989), atribuyendo el aumento de la popularidad de los neopentecostales a su atractiva oferta ‘bien empaquetada’ con la promesa de relación con la divinidad ‘rápida y aproblemática, casi del horno de microondas’. En este sentido, la accesibilidad del producto religioso provoca, casi siempre y en todas partes, que sea cada vez más difícil distinguir el consumo religioso de otras actividades laicas y que las diferencias de entreambos se amalgamen: la iglesia se convierte al mismo tiempo en un lugar de diversión, ‘intercambios’ o, simplemente, en un singular ‘supermercado de bienes espirituales’, cuya actividad se rige por los principios comunes del marketing y la publicidad (Lyon 2000: 4,54), por lo cual la presencia en la iglesia no necesariamente significará y no solo estará relacionada con la práctica religiosa (las iglesias modernas ofrecen cada vez mas ofertas de parvulario, gimnasio, sauna, cursos de finanzas, asesoría psicológica, etc.). Y al revés - ello provoca que las prácticas religiosas puedan tener lugar en otros lugares, no solamente templos (en Brasil, por ejemplo, en la playa o Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización en los estadios de fútbol), y que los ciudadanos ya no deban elegir entre propuestas alternativas religiosas, e incluso en apariencia contrapuestas (Lyon 2000:14). Esta es una afirmación que se ajusta perfectamente a la realidad brasileña, donde cultos y prácticas de diversas religiones se complementan recíprocamente a pesar de las diferencias, contrariedades e imposibilidad racional de conciliar sus doctrinas elaboradas por separado. Pero, en el caso brasileño, más ‘consumo religioso’ conseguido en los ‘supermercados religiosos’ no significa necesariamente una menor religiosidad y una menor búsqueda de ‘lo sacrum’ por parte de los consumidores: el inmenso potencial religioso brasileño, en condiciones de creciente pluralización, pueda convertir religión en mercancia, pero también practicamente todo puede llegar a convertirse en material de concepción religiosa. Asimismo Luckmann (2006), en sus teorías de secularización, advierte la importancia del creciente fenómeno del mercado-consumo de la religión en el mundo actual. Este pensador corrobora en sus tesis la tendencia fundamental e irreversible dirigida al crecimiento del pluralismo religioso y de sus diversas opciones, a resultas de lo cual los individuos empiezan a considerar ‘el cosmos sagrado’ en calidad de compradores, además de que la producción, presentacion y venta de los modelos se ve marcada, en último termino, por las preferencias de los consumidores y el productor habrá de mostrarse sensible a las necesidades y exigencias de los individuos autónomos (Luckmann 2006:143). Concentrándose en su teoría de la ‘religión invisible’, dirigida a un mayor subjetivismo y privatización en la esfera religiosa, Luckmann reflexiona sobre los procesos de formación de complicados e individuales sincretismos y eclecticismos religiosos, que son fruto de los requerimientos personales y preferencias del individuo, así como del ‘desafío herético’ (en palabras de Berger) que pesa sobre él (eso es, la necesidad continua de tomar y hacer elecciones religiosas). La teoría de la ‘religión invisible’, en la cual el consumidor autónomo elige ciertos temas religiosos y los compone en un sistema algo casual, privado (Luckmann 2006:142), tiene como objetivo elucidar el fenómeno de las búsquedas actuales de una religión moderna, algo invisible, pero práctica, eficaz y asequible, que haga hincapié en el contacto directo con la divinidad, sin el halo del dogmatismo complicado, de una profunda teología y de ayuda por parte de las instituciones religiosas. Luckmann lo relaciona con el diagnóstico emitido ya por Durkheim acerca del ‘desplazamiento de la religión’, destacando el fenómeno de la desaparición de la religión institucionalizada (“el actual sagrado cosmos como totalidad ya no solo se asienta sobre 213 214 LATINIDADE instituciones especializadas en el mantenimiento y la transmisión del universo sagrado”), en aras de procesos de sacralización del propio individuo, que aprovecha de la accesibilidad del cosmos sagrado sin ninguna mediación formal (Luckmann 2006:142). Así pues, la concepción de privatización religiosa es una modificación particular de la tesis de la secularización clásica, que, si bien afirma la no desaparición de la religión por completo, sí cambia su lugar en la sociedad, apartándose de las instituciones para afirmar su presencia entre los laicos. Aquí la secularización religiosa significa únicamente un translado de la religión desde las estructuras institucionalizadas a la conciencia individual, desde la imposición al individuo de soluciones dadas de corte religioso a la búsqueda independiente en el proceso de creación de sus propios ‘paraguas sagrados’. En las tesis religiosas de Luckmann acerca de la desinstitucionalización de la religión pueden también observarse, de modo claro, paralelismos con la concepción de la secularización de Webersobre la racionalización de la existencia (o más bien su catarsis), ante todo por lo que se refiere a la importancia dada en dicho proceso a la especialización de grupos de expertos religiosos que poseen un conocimiento secreto e inaccesible del ‘cosmos sagrado’. Según Luckmann, esa excesiva institucionalización provoca el ‘encerrarse’ de la religión en la iglesia (la weberiana ‘jaula de hierro’), la ruptura del contacto real con los adeptos y la falta de coherencia entre la doctrina y los sistemas de referencias y significados elaborados por la sociedad (normas, soluciones jurídicas) y por los propios individuos (visiones del mundo subjetivas). En una situación de pluralismo y con una falta de interpretación universal religiosa única, esto, según Luckmann, conlleva a una crisis permanente de la institucionalidad religiosa y a un translado de la religión hacia la vida privada de los adeptos, que toman sus propias decisiones solos acerca de qué Dios quieren adorar y de qué forma. Sin embargo, todo esto es indudablemente una misión difícil y larga, que exige trabajo individual y que provoca una sensación permanente de inseguridad – entonces, paradójicamente, esta paulatina individualización de las convicciones religiosas no excluye, por lo menos en el context brasileño, la fuerza de fidedignidad social en forma de llamada a la regeneración de las comunidades religiosas, cuya existencia garantiza la comodidad y la seguridad. Por lo tanto, se debería subrayar que a la situación brasileña le corresponden mejor las tesis de, así llamada, ‘secularización interna’ de Luckmann (2006:73), aunque solo sea planteada de una forma escueta en el marco de su teoría de la ‘religión invisible’, con el objetivo de explicar Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización la excepcional vitalidad de la religión institucionalizada en los Estados Unidos y su no adecuación a la teoría propuesta. Esta tesis vendría a explicar (en relación, además, con la idea de Berger de la necesidad de adaptación ‘al mercado’ de las instituciones religiosas) el alto grado de popularidad de religiosidad eclesiástica (institucionalizada) en Estados Unidos por las transformaciones internas de las instituciones religiosas que han mudado al legitimizar de un creciente interés por la vida temporal de sus seguidores. Parece que el Brasil también podría resultar un buen paradigma de esta ‘excepción de las reglas’ de individualización de Luckmann, lo que nos invitaría a pensar que las instituciones religiosas brasileñas no están condenadas necesariamente, de acorde con las teorías clásicas de la secularización, a la extinción, ya que pueden y son capaces de evolucionar y de adaptarse hábilmente a las condiciones de cambios socioculturales, e incluso de aprovechar para su uso y beneficio los factores que teóricamente deberían haberle llevado a la crisis. Po otro lado, si la teoría de ‘religión invisible’ de Luckmann se confirmara en todo lugar, el mismo concepto de la religión dejaría de significar cualquier cosa, de modo que simplemente desaparecería del panorama el objeto de la investigación. Así pues, si buscaramos las causas de los cambios que aparecen en el mercado religioso en Brasil en las teorías de la ‘religión invisible’ de Luckmann, nos enfrentaríamos actualmente no solo a una plena autonomía del individuo en la esfera religiosa, que el caso brasileño confirma, pero ante todo a un debilitamiento de todas las instituciones religiosas, que se habrían convertido en algo cada vez mas incomprensible, inadaptado a la realidad y rechazado a tenor de las exigencias de la mayoría de la población. Por lo tanto, hablaríamos más bien de fenómenos como: nacimiento de religiones subjetivas, adoctrinales, concentradas en las experiencias de la individualidad (invisible y privada como en la religión de Luckmann), así como de la caída de las instituciones religiosas y no de su renacimiento. Sin embargo, no sucede de esta manera: en Brasil, los megatemplos recién construidos, siguen llenos de masas de fieles y son capaces de apoyar el desarrollo de filiales fuera de las fronteras del país y el continente, invirtiendo en medios de comunicación de masas y construyendo sedes al estilo de Hollywood; la mayoría de los nuevos cultos e iglesias que surgen a diario encuentra a feligreses, se mantiene en el mercado religioso, e incluso a veces construye unos verdaderos ‘imperios religisos’. Al parecer, pues, a pesar de la ya mencionada innovación de la religiosidad de los brasileños, que refuerza la tendencia a la elección individual de la 215 216 LATINIDADE filiación religiosa y a veces de reiteradas conversiones, en Brasil sigue en vigor la versión de una religiosidad comunitaria, eclesiástica, y los individuos no dejan de manifestar un fuerte lazo con las instituciones y comunidades religiosas. Ello significa que, aunque los brasileños cambien a menudo de culto o pertenencia religiosa, no niegan la necesidad de su institucionalización y no expresan una tendencia a ‘relegar’ la religión únicamente a la esfera privada. En Brasil, la crisis de la religión institucional, incluso si ha lugar, no es muy perceptible y no provoca que las instituciones religiosas ‘estén al borde del abismo’, y las tendencias al individualismo religioso de Luckmann no son para el investigador de ningún modo claras. Aparte de esto, conforme a la teoría de Luckmann, los creyentes y los que exponen su fe, por no hablar ya de los proselitistas, deberían haberse convertido en una rara avis en Brasil, lo que tampoco se ajusta a la verdad, ya que es un país donde la religión ni calla, ni pasa a la clandestinidad. Al contrario de los procesos observados en Europa Occidental, las iglesias brasileñas son instituciones que siguen hallando gran eco en la esfera pública, llevando a cabo acciones evangélico-proselitistas en el espacio de plazas, playas, calles, supermercados, estaciones de autobús, organizando veladas religiosas en los estadios. En Brasil, la religión no se hace ‘invisible’: se enseñorea en el espacio público, en los medios de comunicacion, en internet, e incluso en la popcultura, provocando debates de tipo moral, ético, social, político y estético (por ejemplo, en el curso de los últimos años, en la lista de éxitos del Brasil, batían récords de popularidad los discos del sacerdote católico Marcelo Rossi, de música religiosa ‘en versión pop’). Con todo, lo que sí podría adaptarse en las teorías de la secularización de Luckmann a las condiciones brasileñas, es sin duda la tendencia actual, fuertemente acentuada por el autor, a un trato utilitarista y elástico de la religión y a su instrumentalización. Si bien es verdad que esto se manifiesta únicamente en la búsqueda de soluciones rápidas, transitorias a veces, de los problemas en curso y de situaciones vitales ‘ad hoc’, además de en un uso de la mediación de varias instituciones religiosas al mismo tiempo, no consiste este fenómeno tanto en la ‘creación’ de una religión individual propia, como más bien en el deseo de hallar remedios ‘preparados’, sincréticos a través del cambio de una filiación institucional a otra, así como de la aceptación del hecho de la conversión. En los singulares, religiosos ‘investment portfolios’, los consumidores brasileños de religión tratan de ‘nivelar el riesgo’, intentando, a pesar de la pertenencia formal a un grupo concreto, de utilizar, esporádica o regularmente, los servicios de otros Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización especialistas de instituciones religiosas. Ello se confirma en la posibilidad de disfrutar de religiones paralelas, cuyos elementos se complementan en la vida de un individuo, sin chocar entre sí y sin excluirse mutuamente. Además de en cuanto a las conversiones, que son menos el resultado de una reflexión y una elección racional (contrariamente a las ‘teorías de la elección religiosa racional’ de Stark y Bainbridge, 2007), que el fruto de una búsqueda caótica, durante la cual el modo de tomar y justificar las decisiones en la esfera de pertenencia religiosa puede responder a la concepción de los ‘saltos en fe’ (por desgracia, no ampliamente desarrollada por Luckmann), en los cuales los dogmas no tienen mayor importancia frente a las intensas vivencias de naturaleza religiosa, fuera del campo del pensamiento lógico (vale la pena subrayar, que estos ‘saltos en fe’, en el contexto brasileño, pueden ser también el resultado de una autoridad humana de carácter excepcional y carismático del líder religioso). Sobre todo en la situación de ser un ‘convertido’ dentro del ya bien conocido universo cristiano (por ejemplo, en el caso de cambiar la fe católica por la pentecostal), esto podría considerarse un ‘salto’ harto seguro, lo cual es advertido por el propio Luckmann (2006:105-108) que afirma que “la individualización del consciente y la conciencia (…) está objetivamente determinada por una religión histórica en una dada sociedad” y añade que “el surgimiento de una religiosidad individual debe estar determinado por un ‘modelo de religión oficial, ya preparado’”. En suma: en Brasil las nuevas ofertas religiosas no son nunca elaboradas desde un terreno virgen, no penetrado antes por una acción colectiva, y la propia privacidad del individuo está limitada en gran medida por los sistemas y organizaciones religiosas ya existentes. Asimismo Hervieu-Léger (2007:129) considera la importancia de la tradición religiosa históricamente dominante, pues si bien corrobora que las grandes religiones no constituyen ya, o cada vez menos, bases organizativas de la vida social, reconoce que siguen siendo un importante punto de referencia en la esfera social e individual. Las grandes tradiciones religiosas de una sociedad determinada (en el caso de Brasil, la tradición cristiana, católica, junto a toda clase de ramificaciones dentro de la memoria colectiva de los sincretismos), transmitidas de generación en generación, permanentes y estables, a pesar de los cambios que aparecen en la expresión religiosa según las necesidades del presente, constituyen aún hoy en día una ‘matríz segura’ que posibilita la aparición de nuevas propuestas religiosas de raíces cristianas, con los elementos de la religiosidad popular brasileña incluidos, que siempre formaron parte del paisaje religioso de ese país desde la época colonial. 217 218 LATINIDADE Así en el Brasil aparecen ofertas religiosas, orientadas desde el punto de vista del mercado, con raíces cristianas, que aseguran la posibilidad de gozar de experiencias trascendentales muy fuertes, pero los brasileños buscan todavia la ayuda de instituciones y comunidades religiosas, no contruyendo, como unos seres aislados, solitarios, en su propia casa un propio ‘rompecabezas religioso’. Más bien parece que la presencia numerosa de los brasileños de las iglesias podría ser considerada como la ‘respuesta negativa’ a la propuesta de Luckmann, que actúa de modo desintegrador desde el punto de vista social - algunos factores, entre los cuales se hallaría la indudable tendencia del individuo a sufrir la influencia de personalidades carismáticas, pueden causar la retirada de los brasileños en este proceso de búsquedas individuales en el mercado religioso bajo el ala de las autoridades religiosas, aumentando las necesidades de una institucionalización de la religión – y las conversiones que van más de una institución religiosa a la otra y no de una institución religiosa a la propia casa. Luckmann (2006:128) también contempla esta posibilidad “de que un modelo institucional de la religión quede suplantado por otro”, aunque en su teoría la ignora, aduciendo que es para esta decididamente menos adecuada e interesante. Con todo, debe seguir siendo sin duda interesante para los investigadores actuales de los cambios religiosos en Brasil, que tratan de presentar las causas de la aparición y de la gran fama de los movimientos religiosos (por ejemplo (neo)pentecostales) en formas instititucionalizadas. Así pues, estos movimientos son actualmente algo más que solamente un ‘remedium-placebo’ - son iglesias de milagros, que prometen a los conversos una mejora de la calidad de vida a través de la intervención directa de las fuerzas sobrenaturales ‘aquí y ahora’, que dan esperanza y nuevas fuerzas a los que necesitan apoyo social en la superación de las dificultades cotidianas y la posibilidad de expresarse libremente sus emociones y requerimientos. Los neófitos, atraídos por esta gratificación emocional inmediata y por la falta de necesidad de ‘trabajar’ para la salvación típica del protestantismo sistemático, reaccionan así contra la ‘jaula de hierro’ de la racionalidad que se va cerrando a su alrededor, dando prioridad a las formas populares de religiosidad, al misticismo, a las creencias suprarracionales y subrayando la obra de los milagros, tan criticados por los racionalistas, que de forma misteriosa tienen que resolver y explicar los problemas de la nueva realidad y los complejos procesos sociales. Así, la aparición de nuevas opciones religiosas, cultos y movimientos, orientados al mercado, cuya misión es ‘elaborar’ una religión que ‘surta efecto’, confirma, por un lado, los nacientes Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización procesos de secularización y pluralización religiosa, pero también muestra la protesta del hombre contra ese desarrollo de la situación, con el interés creciente por una piedad tradicional, un compromiso religioso fuerte y unas normas morales rígidas basadas en las creencias comunes compartidas. Así pues, parece que los nacientes e indudables procesos de secularización, en sus diversas dimensiones, no auguran en Brasil una desaparición de las necesidades de lo sacrum: la actual popularidad de las opciones (neo)pentecostales y carismáticas en Brasil como forma particular de unir dentro de sí mismo las experiencias expresivas, emocionales y subjetivas con la necesidad permanente de una comunidad institucionalizada constituye, mas bien, la posibilidad de la catarsis de las ‘emociones desbordantes’, que no pueden hallar otra forma de escape dentro de los límites de la fe convencional. Sin embargo, esto no significa que se niegue por complete el hecho de los procesos de secularización en Brasil: como considera Fenn (1978:72), no solo es possible conciliarlos con una religión teñida de magia, sino que también, paradójicamente, ellos pueden fortalecer en forma de respuesta individual de los brasileños a los nacientes procesos de modernización, a la progresiva racionalización y a las nuevas, a menudo ajenas y variables, tendencias de la cultura ‘líquida’. Dobbelaere (2008:181) también menciona este tema, escribiendo: ‘la religión mágica y ocultista acepta por completo la secularizacion de actividades colectivas y parece que puede ofrecer al individuo estrategias para salir adelante frente a la inseguridad de origen existencial y social”. No obstante, la secularización en Brasil no parece ser inevitable, ya que, como opina Fenn (1978:XVII), en sus diversas etapas aparecen, con todo, retrocesos que tienden a “borrar los límites entre lo laico y lo sagrado”, es decir, que la secularización podría ser un proceso reversible - siempre existe la posibilidad de una ‘vuelta’ inesperada a la religión, incluso en las sociedades mucho más laicas que la brasileña. Asimismo la secularización no es siquiera una norma, más bien una excepción, que aparece casi únicamente entre las elites intelectuales y en Europa Occidental, y que el mundo actual (con algunas excepciones) “es tan extremadamente religioso como nunca lo fuera antes” (Berger 1999:2). También Bellah (1970:227-8) reconoce la generalidad de los cambios en la esfera religiosa y la erosión de la influencia de las instituciones tradicionales religiosas, pero esta profundamente convencido de que actualmente “cada uno sigue creyendo en algo” y que “la religión, como forma simbólica, a través de la cual el ser humano acepta los antinomios de su existencia, no ha caido y de verdad no puede caer hasta que la naturaleza del ser humano no deje de ser para él un problema”. 219 220 LATINIDADE En suma, cabe advertir que, en la situación del Brasil, la retirada paulatina a la religión dominante (catolicismo), a resultas del pluralismo religioso y de la imposibilidad de suministrar al mismo tiempo universales religiosos a toda la sociedad y para toda la vida del individuo, facilita indudablemente los nacientes cambios de filiación religiosa y, en gran medida, explica también el alto grado de conversiones entre los ciudadanos de este país, pero no significa la desaparición ni la caida de los valores de la religión dominante y tampoco de la liquidación de necesidades religiosas (aquí reflejadas en el requerimiento de formas institucionalizadas tradicionales) , tal y como habían postulado los portavoces de las teorías clásicas de la secularización. Esto corrobora, sin duda, la teoría de Berger acerca de los resultados de la ‘desmonopolización del mercado religioso’, que al contrario de las visiones secularizadoras, conduciría más bien a un reforzamiento de la religión y a un crecimiento de la demanda religiosa. La religión es aún en Brasil un fenómeno comunitario basado en gran medida en la autoridad y el carisma religioso de los profesionales, aunque es escogida según las necesidades individuales de una persona en concreto. No se nota una indiferencia religiosa masiva, los procesos de secularización no tienen un carácter uniforme, determinista y no son capaces de explicar, si son tratadas como una interpretación exclusiva, la complejidad de los nuevos fenómenos religiosos, sociales y culturales. De todos modos, la importancia de la magia en la sociedad brasileña y del renacimiento de tendencias espiritualistas, de religiosidad popular y de tradiciones africanas, así como de cultos indígenas sincréticos, atestigua que la esfera religiosa no ha sufrido el augurado ‘desencantamiento (o ‘desmusicalización’), aunque seguro que las mismas instituciones religiosas se han hecho mucho más racionales en su actividad, se han adaptado a los principios económicos y de la competencia de mercado. Los brasileños, en vez de rasgar el ‘dosel sagrado’, lo han conservado en forma de un singular patchwork, cosiendo en su fondo cristiano ‘retales’ de muchos colores y formas, que no lo han debilitado, sino que lo han adornado y a su guisa han fortalecido las costuras. Por lo tanto, al menos algunas de las hipótesis clásicas de la secularización, por ejemplo la de la progresiva e irreversible marginalización de la religión y el efecto adverso del pluralismo y tolerancia en la efera religiosa no se confirman actualmente en Brasil, pues esta, si bien registra cambios, no desaparece. Tampoco se ha convertido en lo que Luckmann llamaba ‘la religión invisible’, atmósfera social sin forma, olor y color - en Brasil, la omnipresente religión y religiosidad se puede tomar en muchos sentidos, Los cambios religiosos en el Brasil según las teorías de la secularización por su riqueza, por excepcional vitalidad, y las instituciones religiosas continuan ejerciendo funciones sociales primordiales y palpables. El concepto de la secularización, “excepcionalmente multidimensional, irónicamente subversivo en sus particulares connotaciones y con un vasto y cargado abanico de significados, que ha ido creciendo a los largo de toda su historia” (Casanova 2005: 35), no se asocia necesariamente, en el contexto brasileño, a consecuencias negativas para la religión; puede ser también, como vemos, un activador, sobre todo en una situación en la que la división entre la iglesia y el estado asegura la libertad de conciencia y de confesión, en que los cambios culturales no fomentan a toda costa formas de individualismo arreligiosas, mas al contrario - suelen fortalecer las necesidades de pertenencia a una comunidad. El caso del Brasil, en el que tanto la fuerza del catolicismo popular como la popularidad de las nuevas iglesias de origen pentecostal, con sus irracionales híbridas doctrinales, fundadas sobre emociones y milagros, son una perfecta ilustración de la falta de adecuación de al menos algunas teorías de la secularización en otras regiones del mundo en las que los destinos de la religión no están sometidos a normas férreas, sino más bien solamente a tendencias con muchos y variables factores y con múltiples variantes. En Brasil la religión, en sus formas institucionalizadas, sigue siendo fundamental y no es un fenómeno marginal, aunque los brasileños asocian a menudo diversas tradiciones religiosas, creyendo al mismo tiempo en cosas que aparentemente se excluyen y disfrutan de las posibilidades de cambiar las convicciones o la filiación religiosa mediante la conversión. En consecuencia, parece que en Brasil es posible un escenario, contemplado por otros investigadores de las transformaciones religiosas contemporáneas (por ejemplo, Davie 2010:39), en el cual el llevado a Brasil en tiempos coloniales “modelo básico europeo (latino) puede paulatinamente convertirse en un modelo que se aproxima más al norteamericano” y el factor decisivo de estos cambios es, sin lugar a dudas, el avasallador desarrollo del pluralismo religioso y, dentro del, especialmente pentecostalismo de raíz protestante, pero muy sincrético y ‘abrazilianizado’, en sus formas diferentes. De acorde con este escenario, Brasil puede ir tras los pasos no tanto de la Europa laica, sino más bien de los Estados Unidos, ya que el país sigue siendo, con todo, una excepción de ‘encantamiento” en medio de las sociedades ricas e industriales del Occidente cristiano. La religión posee en Brasil un potencial real, significativo, que motiva comportamientos humanos y que refuerza la innovación religiosa - factor asegurador de su vitalidad. Además, esta simbiosis pacífica de diversas formas de religiosidad y de su combinación 221 222 LATINIDADE es, igual que en el denominacionalismo de Estados Unidos, una realidad aceptada de pleno por la sociedad, lo que facilita la consideración de la religión como algo importante, e, incluso, como un elemento imprescindible del paisaje sociocultural brasileño. Por lo tanto, si esta clase de pronósticos se cumplen, Brasil se convertirá en el futuro en el próximo imperio profundamente religioso, enigma y desafío para sociólogos y filósofos, y los brasileños, en una nueva sociedad ‘musical’ y ‘encantada’, que mientras abre el cielo a los cientistas, está persuadida de que ahí van a encontrar a los dioses y ángeles. BIBLIOGRAFIA BECKFORD, J..Teoria spo³eczna a religia. Kraków: Nomos, 2006. BELLAH, R.N.Beyond Belief. 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Sin embargo, el objetivo del artículo es un intento de presentar, escoger y, si es possible, adaptar al contexto brasileño contemporáneo algunas de las teorías universales (según sus creadores) de secularización, entre ellas, la concepción de la ‘individualización religiosa’, expresada en la teoría de la ‘religión invisible’ y la idea de la religión como el ‘dosel sagrado’ paulatinamente destruido por la divulgación del pluralismo religioso. Palavras chaves: mudanças religiosas; secularização; teorías universais. ABSTRACT It seems impossible to decide unambiguously on the reasons and mechanisms that produce religious changes, as they constitute very complex phenomena, subject to various interpretations and explanatory theories. However, the objective of the article is to present, select and, if possible, adapt to the contemporary Brazilian context some of the universal (at least according to their authors) secularization theories, among them the concept of ‘religious individualization’ expressed in the theory of ‘invisible religion’ and the idea of religion as a ‘sacred canopy’, slowly being destroyed by a growing popularity of religious pluralism. Keywords: religious change; secularization; universal theories. 223 Demographic development of the Arab States: trends and prospects Demographic development of the Arab States: trends and prospects Al Hassan Mohamed - Ambassador Extraordinary and Plenipotentiary of the Sultanate of Oman to the Republic of Armenia, the Republic of Belarus, the Republic of Moldova, the Russian federation and Ukraine (Muscat, Oman) Riazantsev Sergey Vasilyevich - Doctor of Economics, professor, Head of the Center, Institute of Social and Political Studies of the Russian Academy of Sciences (Moscow, Russia) ABSTRACT In article features of demographic progress of the Arabian countries are presented. On the basis of national and international statistics tendencies of birth rate, death rate, migration and dynamics of a population are described. The differentiation of demographic tendencies in the Arabian states are shown, forecasts of a population till 2030 are given. Keywords: Statistics – Demography – Arabian states The second half of the Twentieth Century witnessed a rapid increase in the world population. In 1959, the world population was estimated to be around 3 billion people, however, fourteen years later (1974), the world gained another billion people. In 1987, the world further gained an extra billion people thus bringing the total world population to 5 billion people. In 1999, the world mankind reached the reality of 6 billion people. By 2007, the world population was estimated to be around 6.6 billion. Despite the fact that the rate of the world population growth was declining, the achieved absolute figures of the world population growth were on the other hand rising. Thus, even a minute growth rate will turn into millions. For example, a 1% increase in China’s population would mean an increase of 12.5 million people annually. According to United Nations estimates, the world population is expected to reach 9.3 billion by 2050. Data obtained by the United Nations in 2007 revealed that more than 5.4 billion people were living in the developing countries which in percentage terms constitutes 82% of the world population. According to such data, the population of the developing countries is likely to reach 6.7 billion people by 2025, and by 2050 the number is estimated to go even higher closer to 7.8 billion people. It is expected that 225 226 LATINIDADE by 2050 more than 86% of the world population will be living in the developing world. Asia for instance, is likely to continue to be the most populous continent with close to 4 billion people. However, this number is expected to reach 5.2 billion people by 2025. Africa, on the other hand will experience increase in its population from an estimated 945 million people in 2007 to 1.9 billion in 2050. The population of the so-called the Least Developing Countries (LDCs) is also likely to more than double from its present 796 million people to 1.7 people by 2025. FIG. 1. POPULATION DYNAMICS IN THE DEVELOPING COUNTRIES IN 2007-2050 Demographic development of the Arab States: trends and prospects The developing countries have firmly assumed top positions in the world list of countries in terms of population. In 2007, among the most populous countries were eleven from the developing world, including the most populous – China and India, where the population exceeded 1 billion people each. Other developing countries such as Indonesia, Brazil, Nigeria, Mexico, Vietnam, Ethiopia and the Philippines demonstrated significant population growth. Under conditions of limited resources and limited arable land the population density continues to grow in many developing counties: China (21875 people per m2), Bangladesh (926 people per m2), Palestine (526 people m2). These countries will surely face the acute problems of housing, water shortage, food supplies, and poor health services and education for their own people. FIG. 2. FIFTEEN LARGEST COUNTRIES BY POPULATION IN 2007. 227 228 LATINIDADE According to United Nations projections, the existing population trends will change the list of the leading countries in terms of population in the foreseeable future. By 2050, Turkey, Egypt, Iran, Thailand and the Congo could be among the most populous countries. In themselves, these developments could constitute no crucial threat to the world civilization, if it was not for the widening economic gap between the economically developed and developing world. The significant population increase in the least developing countries (LDCs) will exacerbate famine, disease, poverty, unemployment, and cross-national conflicts. This may exacerbate tensions and conflicts between the poor South and the rich North, as well as provoke an acceleration of uncontrolled migration flows. Rapid population growth has also been inherent in the Arab world. Namely, the population of the North African countries has witnessed a 3.3 increase in the period 1950-2000. The Arab countries in West Asia especially in the Gulf region have also experienced similar trend to those experienced by the North African Arabs. The list of the Middle Eastern countries with the largest populations includes Egypt, Iran, Turkey, Algeria, and Morocco. During the last fifty years the population increased most rapidly in Jordan (19 times), Kuwait (12 times), Oman (5 times), and Iraq (4,5 times). Demographic development of the Arab States: trends and prospects TABLE 1: POPULATION DYNAMICS IN SEVERAL ARAB COUNTRIES AND REGIONS IN 19502300, MLN PEOPLE 1950 2000 2050 2100 2150 2200 2250 2300 North Africa 53,3 173,6 306,0 310,2 282,3 281,0 289,7 296,9 West Asia 50,9 192,2 400,8 472,7 438,7 426,8 436,3 445,7 Algeria 8,8 30,3 48,7 45,6 42,5 43,3 44,6 45,6 Egypt 21,8 67,8 127,4 131,8 118,8 117,9 121,6 124,7 Iran 16,9 66,4 105,5 98,2 92,6 94,9 98,0 100,7 Iraq 5,2 23,2 57,0 68,0 61,7 60,1 61,7 63,1 Jordan 0,5 5,0 10,2 10,7 9,8 9,7 9,9 10,1 Qatar 0,03 0,6 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 0,8 Kuwait 0,2 2,3 4,9 4,6 4,1 4,2 4,3 4,4 Morocco 9,0 29,1 47,1 46,5 42,9 43,2 44,6 45,8 Oman 0,5 2,6 6,8 8,2 7,4 7,0 7,2 7,4 Palestine 1,0 3,2 11,1 14,9 13,6 12,9 13,1 13,5 Saudi Arabia 3,2 22,2 54,7 61,3 55,0 53,7 55,4 56,9 Turkey 21,5 68,3 97,8 90,3 85,5 87,5 89,8 91,6 With regard to the correlation of natural movement indices, the Arab countries are quite heterogeneous; this is due to the difference in replacement rates mainly. The number of Arab countries is passing the stage of traditional or pretransition type of reproduction characterized by high birth rates which are almost approaching the physiological limits (40-50 people per 1000 population ), as well as by high mortality rate (20-30 people per 1000 population). Furthermore, the natural population growth is high but still does not reach its maximum. It has remained so far in some Arab countries where backward farming patterns dominate. These countries are amongst the poorest countries of the world with low GDP. These are mostly the African states. Traditional type of reproduction is associated with a backward agrarian economy based on pre-capitalist relations. People in these societies tend to have many children that may be caused by several reasons. Firstly, these are the traditions of large families and early marriages, the lack of contraception 229 230 LATINIDADE knowledge and culture, which are quite strong inside these archaic societies. For instance, the number of children measures wealth of an individual in many African cultures. Secondly, they face an objective economic demand in children whose labour are widely used in subsistence farming due to the low efficiency. Thirdly, high infant mortality rate combined with the low level of healthcare compels parents to provide “spare” children. As a rule, mortality in traditional societies serves as a main controller of the reproduction process. High mortality is caused mainly by complicated working conditions, lack of resources and food, poor hygienic and sanitary conditions, low level of medical services, and the spread of epidemics. Most often, the majority of the population in those countries resides in isolation, has a low migration and social mobility, and lives in stagnant poverty and misery. The highest population growth rate is intrinsic to the countries at the stage of demographic revolution (“demographic explosion”). Demographic revolution is described by rapid natural increase, which is primarily due to the falling mortality rates along with almost constant birth rates. Demographic explosion appears to be consequent upon modernization of society which reflects in improved life quality and healthcare, development of efficient tools to combat widespread diseases, and that reduces mortality dramatically. Many Arab countries have entered that stage of demographic explosion as a result of the improvement in healthcare system and the start of the “green revolution”. Despite child mortality has reduced insignificantly and some diseases have been eradicated, this results in an abrupt natural increase. In the second half of the Twentieth century mortality rate continued its decrease from 23 people (1950-1955) to 9 people (1990-1995) per 1000 population. Amid the preserved traditions of large families and early marriages, the population growth in Arab countries gained literally explosive features. At the moment, the stage of demographic explosion is passed by the developing countries that managed to reduce mortality by expanding the branches of economy focused on export (oil, mineral resources, agricultural raw materials, etc.). The oil-producing Arab countries are the most striking example. For instance, annual increases of the population in the Sultanate of Oman was marked by 3,5% (fertility – 39 people, mortality – only 4 people per 1000 population), Saudi Arabia – 3,1% (35 and 6 people respectively), Qatar – 2,7% (31 and 4 people respectively), Libya – 2,4% (28 and 4 people respectively). Egypt, Morocco, Algeria and Iraq are passing this stage as well. Demographic development of the Arab States: trends and prospects Some Arab countries have entered a stage of expanded reproduction. It is described by transformation of marriage and family relations, and progressive transition from a large family to a small one. These states face further reduction of mortality, significant birth rate falling, which results in natural decrease. This stage is being undergone by several Middle East monarchies (Kuwait, UAE, and Brunei), Turkey, and Iran. The rate of natural increase per year in Brunei is 1,9%, Kuwait - 1,8%, Turkey-1,3%, Iran-1,2%, UAE-0,5%. In accordance with the U.N. projections, in the long-term (until 2300) population in the Arab countries will increase, but growth rate will slow down somehow and stabilization will occur in some countries. The age composition of the population in the developing states, including Arab countries, is substantially different from that of the developed countries. It is described by a higher percentage of children and adolescents. According to the UNO, in 2007 about 30% of the population of the developing world fell at the young people under 15, and in the poorest countries – 41,3% (for reference, in the developed countries this figure stood for 16,7%). The percentage of seniors in the developing countries is, on the contrary, an order of magnitude less: in the developing countries – 8, 4%, in the poor countries – 5,1%, in the developed countries – 20,7 % of population fall at the seniors over 60. The average (median) age of the population in the developing countries amounted to 25,6 years, in the poorest countries – 18,9 years, and in the developed states – 38,6 years. The research demonstrates that in the long view population of the developing countries will grow old as well. Forecasts say by 2050 the percentage of seniors will amount to 20% and that means by mid-century the developing countries may reach the same level of demographic aging as the developed countries. The process of population aging in the developing countries is more rapid than in the developed ones. Therefore, the developing states will have less time to adapt to its consequences. Besides, population aging in the developing world is going on in terms of lower social and economic development than in the developed states. The percentage of youngsters will decrease as well, which shall impact enrollment at educational institutions. In this regard, population policy plays a key role in regulating demographic processes. Population policy evolved and received wide advertisement in the second half of the Twentieth century. Hardly surprising, the U.N. has been paying much attention to these issues. The International Conferences 231 232 LATINIDADE on Population took place under the U.N. auspices: in 1954 (Rome), in 1965 (Belgrade), in 1974 (Bucharest), in 1984 (Mexico), in 1994 (Cairo). In 1967 the United Nations Population Fund (UNFPA) was established. Since 1960s the U.N. has conducted regular surveys on population policy in the Governments. It is also discussed at the sessions of the United Nations General Assembly. In 1992, it appeared in the agenda of the United Nations Conference on Environment and Development. Among the separate documents, a World Population Plan of Action adopted in Bucharest in 1974 is of particular importance. It comprehends many specific recommendations on the implementation of population policy. Furthermore, it was fundamentally amended at the Mexico conference and especially at the Cairo one. It is worth mentioning that population policy in the Arab countries is not only almost lacked, but also inherently impossible, at least in the field of birth control. That is caused by traditional attitudes of the population and the religious factor. Perhaps, population policy has not been implemented successfully in the Arab countries. At the same time alterations in birth rates are influenced by the western lifestyle on the part of the population and the general trend of birth modernization. BIBLIOGRAPHY: 1. Russia and World States in 2004: Static Collection/Rosstat (Ðîññèÿ è ñòðàíû ìèðà â 2004 ã.: Ñòàòè÷åñêèé ñáîðíèê/ Ðîññòàò) – M., 2004. – pages 9-11. 2. Arkhangelsky V.N., Ivanova A.E., Rybakovsky L.L., Riazantsev S.V. Practical Demography/Edited by Rybakovsky L.L.– Ì., 2005. – page 14. 3. World Population to 2300. – New-York: UN, 2004. – P. 198-207. Demographic development of the Arab States: trends and prospects RESUMEN En el artículo son presentados los rasgos del desarrollo demográfico de los países árabes. En base de la estadística nacional e internacional son descritas las tendencias de la natalidad, la mortalidad, la migración y la dinámica del número de la populación. Es mostrada la diferenciación del desarrollo demográfico árabe los estados, son dados los pronósticos del número de la populación hasta el año 2030. Palabrasclave: Estatística – Demografia – Países árabes. RESUMO No artigo são apresentados os aspectos do desenvolvimento da população dos países árabes. Com base em estatísticas nacionais e internacionais são descritas as tendências em nascimentos, mortalidade, migração e as dinâmicas do número da população. É mostrado a diferenciação do desenvolvimento demográficas dos estados árabes são dadas as previsões do número da população até 2030. Palavras-chave: Estatística – Demografia – Países árabes. 233 Post Crisis Imperatives of Global Finance Post Crisis Imperatives of Global Finance Viacheslav M. Shavshukov - Doctor of Economics, Professor. St. Petersburg State University ABSTRACT Global crisis of 2008–2009 has identified main issues of the post crisis development of world economy. First of all, the XX century crisis was a crisis of elements of the current national and world financial system. It has proved that international financial assets markets cannot be self- regulated and sharpened contradictions between global and national finance. Secondly, the crisis has brought about an issue of identifying global finance regulators, based either on national sovereignty and protectionism or international regulation and control. Thirdly, in 2010–2011 world economy faced the risks of post crisis development. Finally, recent events in geo-economy geopolitics, natural and industrial disasters questioned the concept of globalisation in general and raised the issue of its reversibility. This report presents authors conception of globalisation processes and their structural modification. Keywords: global crisis; national finance; crisis development. Global financial and economic crisis of 2008–2009 put forward several key issues to world economy, monetary authorities of G20, international economic organisations and business on post crisis world structure. Hardly has the world economy managed to overcome the crisis when new centres of economic crisis developed in Romanic countries of EU zone and the possibility of US default and rating downgrade threaten the world with the new wave of financial tsunami. Let me raise a number of issues concerning the structure of global finance in the beginning of the XXI century and suggest my own variant solutions. The first issue. Global financial and economic crisis of 2008–2009 raised a theoretical problem of the nature of the crisis: whether it is the crisis of the financial system based on monetarism model and XX century technology or is it the crisis of its separate elements? There is no single point of view on this issue. I may suggest the following analysis of the situation. Globalization of financial markets allowed the capital move freely around the world, making imposition of tax and regulation on the national level difficult. Unlike industrial, financial capital 235 236 LATINIDADE has a more beneficial position. It has the opportunity for an easy and fast inflow to national markets as well as outflow. Liberal motion of capital in 1980–2000 provided that withdrawal of global investor capital might aggravate recessionary trends in national economy. This is the reason why monetary authorities have to pay more attention to tracing and regulating foreign capital rather than national. Global financial crisis has only sharpened contradictions between global and national finances. Global financial system is instable being based on the unjust idea that international financial markets (Money market, Debt capital market and Forex) would be capable of self-control and self-regulation. These markets had no international control and were regulated only by “market fundamentalism” and “invisible hand” of free competition. Under the pressure of crisis this system with no appropriate prudential control crashed. Therefore, the second key issue of post crisis financial system operation is that of its control and regulation. Should the system of international financial regulators be based on national sovereignty and protectionism or on international control? There are two ways to control global financial system. The first is to build the system of international control on the basis of national sovereignty. Basel standards of capital adequacy became international in 1988, but they are adopted by national central banks. It is the central bank that recognises their legitimacy on the national level. The sovereign is the final source of legitimacy of international standards, agreements and contracts. Governments supporting national central banks proceed from financial and economic security of their countries. It creates grounds for protectionism. Norwegian Central bank would give less credit to Iceland after its actual default during crisis; central banks of Eastern Europe would review their policy towards banks with foreign capital. Independent commission of British Parliament suggests the idea of establishing 3% reserve capital for major retail banks as a safety cushion. The Federal Reserve System (The Dodd–Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act) and The Bank of England impose restrictions on using deposits to speculate on commercial securities for commercial banks. The Swiss National Bank plans to impose restrictions on investment operations for major banks on international markets. The European Central Bank imposed a suspense veto on bank operations of short selling. The second way. International control and regulation. International regulation should prevail over national, otherwise international market traders would Post Crisis Imperatives of Global Finance speculate on the difference between terms on different market segments. Business assets would flow into the countries with more attractive investment climate and softer regulatory regime. The success of globalization in the 80s was due to the liberalisation of exchange regulation. This deregulation was crucial for the imperative nature of the state. The crisis has shown that market fundamentalism is not a panacea for international financial market crash. This is the main reason why it is so difficult to persuade monetary authorities to use international regulation rather than national. The Great Depression of 1929–1933 proved that rejecting trade protectionism helped to get over the world economic crisis. Such deregulation could as well contribute to eventual overcome of the consequences of financial and economic crisis 2008–2009 or its second wave. Despite the fact that the risks of global crisis in global economy are rather high, open economy has more advantages than the closed one. The system of global finance is regulated easier on an international lever rather than on the national one. Thus, the global economic crisis of 2008–2009 is a crisis of separate elements of the system of global finance. It is necessary to review and modify current regulators (adequacy of capital, reserves, off balance sheet liabilities, assessment of risk derivatives, imposition of tax), to introduce new regulators, to increase control and prudential role of international financial organisations and retail investment. International control of global finance system with national markets and finance being its essential counterpart is more effective and efficient. Basel standards of capital adequacy, IAS, SWIFT, INCOTERMS are a good proof of the above said. The third issue. What global risks there are during the post crisis period? In the end of 2009 – beginning of 2010 most of G20 countries declared that they were through the global crisis of 2008-2009. At the same time they were entering the period of global post crisis risks. There eight global risks: 1. Cutting off antirecession programmes Governments of G20 pursued sound, efficient and joint macroeconomic policy. At the expense of state budget monetary authorities supported bank liquidity, creditworthiness of financial sector, large business as a backbone of national economy. 237 238 LATINIDADE However in 2010 the aggregate demand still didn’t recover, the unemployment rate was high (10%), consumer confidence index was low and investors were expecting the second wave of the crisis. That is why cutting off antirecession programmes could make macroeconomic situation worse. From the microeconomic point of view there is an issue of economic growth: cost reduction, increase of labour productivity, shift to innovative technology, new generation of equipment and products, growth of small business. Global economy demands revision of global financial system, introduction of additional regulators, world reserve currency (Euro, Yuan, CDR, etc.), improvement and development of risk management system and market of derivatives ($600bln – 857% of world GDP). 2. Growth of national debt. According to IMF national debt will increase from 78% of GDP in 2007 to 118% in 2014, which is higher than the threshold level of national economic security. 3. Budget deficit and budget crises in the USA, EU, Russia, Eastern Europe. The burden of social, welfare and pension expenditures would worsen the problem of budget deficit. There is a high risk of sovereign default in the USA, a number of EU countries (mostly Romanic countries), USA and Arab States of the Gulf rating downgrade 4. Tax increase. After decades of cutting world tax rate on return for companies from 33% to 26% monetary authorities would have to increase the tax burden for businesses in order to reduce budget deficit and partially cover expenses on antirecession programmers. 5. Glut of money in world economy. In 2008 G20 state budgets allocated $11,7bln (16,28% of world GDP) in different antirecession programmers. 6. Potential slowdown of Chinese economy. Slowdown of economic growth rate to 6% would affect world raw material and capital markets. The economy of the country is supersaturated with low interest credits. In 2008 the volume of granted credits was $615ml, in 2009 it more than doubled and reached $1,3bln. As a result the price of housing facilities grew by 60% in 2009. In January 12, 2010 the Central bank of China increased the rate of required reserve to 16% in order to sterilize money. Monetary multiplier is 6,25. 7. Assets price collapse. The forecasted price fall by 20% with possible $1bln loss. Post Crisis Imperatives of Global Finance 8. Management risks, regulation of world financial and economic system. Contradictions between global and national finances are sharpening. Global investor ignores and doe not take into account national economic interests. Global problems (environment, energy, food safety) are not solved, but might cause trade wars and protectionism. Insufficient volume of investment to solve these global problems (at least $35bln (50% of world GDP) required) threatens food and energy safety of developing countries and impedes the growth of industrialized. Thus, financial sector of economy has received liquidity, but some recovery of the real sector of economy has not turned into stable growth. Increase of state expenditures on social programmes, maintaining social stability, innovative programmes would result in budget deficit, national debt, tax burden for business, inflation. Chinese economy with its narrow domestic demand, liquidity surplus, growth of business and personal sector profits would face inflation growth, slowdown of economic growth rate and competitiveness. It would put off country’s ambitions to become world economic and technological leader with Yuan as a new reserve currency by at least 10-15 years. Therefore, the Central Bank of Chinese People’s Republic would continue to support current world reserve currency. The system of global finance is in want of revision, modification, diversification of regulators considering BIS expertise in international bank standard development. The fourth issue. Is globalisation process reversible? Such scenario is quite possible. Thirty years of the history of globalisation has identified obvious threats for non-competitive economies and new opportunities for social and economic progress. Not only industrialised countries but also a large group of developing ones (China, Russia, countries of South East Asia, Israel, India, Brazil, Argentina, Mexico, Chile, South Africa, Gulf states, Turkey, East Europe) too advantage of globalization. At the same time, prosperity growth rates, centralization of profits in OECD countries threaten traditions, customs, values of rational behaviour in western society and even stability in democratic countries. Having opened economic borders, globalisation brought about new ethnic and cultural contradictions of subcivilazations. It is not just a rejection of standards, “western life style” and western management at outsourced to developing countries plants and production units, but also a civilisation conflict in European countries. The idea of European tolerance is undergoing a serious 239 240 LATINIDADE crisis. Labour force from Turkey, Balkans, Africa, Asia could not properly integrate with the society of England, France, Germany, Belgium, Switzerland, the Netherlands, Scandinavian countries. It results in the strengthening of nationalism, anti-globalizm and protectionism in European consciousness, society, politics. The future of globalisation would probably be made clear in the coming decades of the XXI century. It is connected with the search for new sources of world economic growth. Within the past 30 years such sources were BRIC markets, Eastern Europe, Gulf countries. In the nearest future these developing markets would not be able to provide for the former economic growth, domestic consumer and investment demand. World economy which was based on the technological principles of the second half of the XX century has exhausted its source of growth. New technological order and corresponding demand of G20 economies and markets for new generation products and technology could become a new source of growth and provide for environmental, food and energy safety of mankind. Almost all antirecession government programmes of G20 include measures aimed at modernisation of economy. The process of reversibility is being opposed to by developing countries and their markets as majority of them took advantage of globalisation. It brings forward the fifth issue: What has globalisation given to the world? Threats or wide opportunities? Objective statistic data proves that globalization contributed to faster development of world economy by creating additional incentives and locations, opened new opportunities for states and regions. Many countries, including South Korea, Taiwan, Hong Kong, Israel, Singapore, China, took advantage of globalization benefits. At the same time globalization caused a whole number of global crises. Integration of countries into global economy differs from country to country. Some of them could integrate faster with lower expenses and as a result demonstrated faster growth and developed more efficient measures to control poverty. Countries of CIS Eastern Europe are still at the initial stage of integrating into world economy. As a result of globalization they had to sustain enormous pressure of crisis which involved all countries from Asia to Russia and Brazil. Still, globalisation brought along dynamic development and prosperity for most countries of East Asia, one of the poorest regions of the world yet 40 years ago. The policy of these countries was oriented at external world, foreign investment, licensed production and franchise. With improving Post Crisis Imperatives of Global Finance quality of life it was made possible both to increase the level of organisation and yield of production and to promote democratisation processes in society. The economic aspect of globalisation reflects the growing integration of economies through the increase of trade and financial flows. The term globalisation also refers to the movement of labour and technology across borders. The first sign of globalisation is access of the cost of licensed production yield over the world trade turnover. Globalisation results from technological progress which facilitated settlement of international trade and financial accounts. Globalisation explains movement of market forces across national borders in all spheres of economic activities, including agrarian, industrial or financial markets. Thus, globalisation is the integration of international trade and financial markets on the world economic scale. Since then international markets have assumed immensely important role. They promote social and economic efficiency of production through competition and large-scale division of labour. Specialisation allows national economies, industries and companies to focus on the production of those products and services where they have comparative advantages. Globalization of economy in its turn gives larger opportunities for countries and companies to enter major world markets. It means open access to larger capital flows, technology, cheap imported goods and broader export markets. International markets have already proved they can encourage the growth of the efficiency of companies, their capitalisation and liquidity, thus bringing along real benefits to the country. But markets as such, on their own, cannot ensure the economic efficiency and fair distribution of globalisation benefits. Under such conditions international society (UN, IMF, World Bank, G8) should support those countries that chose the policy of deep integration with the world economy. Continuous crises of the 90s in Mexico, Thailand, Indonesia, South Korea, Russia, Brazil and Turkey, financial and economic crisis of 2008–2009 gave grounds to believe that financial crises result from globalisation. They raised new problems for all countries of the world, including such issues as: Why does globalisation make financial management of the country and corporation more difficult? What are the new requirements to the management? What is the best way to calculate risks of the open public finance system that result in ambiguity of managerial decisions? 241 242 LATINIDADE Is there a risk of cosmopolitism of top-managers of MNC? Is it possible to ensure public and corporate finances against negative influence of international market mechanisms of global capital movement? All these issues reflect real threats to the system of public and corporate finance as there are no restrictions to the free movement of capital in the global economy. It may result in elimination of weak currencies; lead to market collapse, to say nothing of a threat to those governments that pursue inefficient macroeconomic policy. International markets are to be blamed for the crisis first of all because investors could not properly access the risks of financial periphery. In their turn, international rating agencies, regulating and control authorities of major financial centres failed to notice negative process in the balance of payments, capital base and the quality of bank advances portfolio. Moreover, there was no information about the whole number of international investors. As a result markets were overtaken by panic, which lead to the sudden change of investment climate and fast outflow of capital from financial periphery to the centre. Crises could be avoided if governments of developing countries, local bankers and manufactures were insured against global capital markets as it was recognised in 2000 by the Executive Board of IMF1. At the same time it should be pointed out that new industrialised countries would not have reached such economic progress without international financial flows. Crises of the ÕÕI century would result from the interaction between monetary policy and international financial system. There is no possibility to avoid crises in global economy, especially for those countries (including industrialised) where the governments do not know how to prevent and withstand the impact of international markets. Countries that overcame the crisis of the 90s have gained a unique experience in anticrisis management on national and corporate level. Macroeconomic stability, credibility of the financial sector, economic transparency and management are the main criteria for those countries whose economies became counterparts of global economy. Growing gap between revenues of rich and poor countries became a hot issue in UN, IMF, World Bank and G8. Integration into global economy presents difficulties for all countries. It demands adaptation of national finance system to international flows of capital, sets up new standards for risk management. Management of public and corporate finance is determined by international financial inflows into real and financial assets, Post Crisis Imperatives of Global Finance international currency market trends, investment climate and borrowing facilities, conditions of securities markets, sovereign and corporate risks, as well as technical progress in communication technology. NOTAS 1 IMF Annual Report 2000. Washington, 2000. P. 36. RESUMEN Crisis global de 2008-2009 ha identificado las principales cuestiones del desarrollo post crisis de la economía mundial. En primer lugar, la crisis del siglo XX fue una crisis de elementos del sistema financiero mundial y nacional actual. Se ha demostrado que los mercados de activos financieros internacionales no pueden ser autorregulados y agudizado las contradicciones entre las finanzas mundiales y nacionales. En segundo lugar, la crisis ha generado un problema de identificación de los reguladores de las finanzas mundiales, basados en la soberanía nacional y proteccionismo o regulación internacional y control. En tercer lugar, en 2010-2011 economía mundial frente a los riesgos de desarrollo de post crisis. Por último, los acontecimientos recientes en la geopolítica de la geo-economía, natural y desastres industriales cuestionaron el concepto de la globalización en general y plantearon la cuestión de su reversibilidad. Este informe presenta la concepción de autores de los procesos de globalización y su modificación estructural. Palavras claves: global crisis; finanzas nacionales; crisis del desarrollo. RESUMO Crise Global de 2008-2009 identificou as principais questões do desenvolvimento pós crise da economia mundial. Em primeiro lugar, a crise do século XX foi uma crise de elementos do sistema financeiro mundial e nacional atual. Provou-se que os mercados de ativos financeiros internacionais não podem ser auto - regulada e aguçou as contradições entre as finanças nacionais e globais. Em segundo lugar, a crise tem trazido sobre uma questão de identificação de reguladores de finanças globais, com base na soberania nacional e proteccionismo ou regulamentação internacional e controle. Em terceiro lugar, em 2010, economia mundial enfrentou os riscos de desenvolvimento de crise de post. Finalmente, acontecimentos recentes na geopolítica de geo-economia, natural e desastres industriais questionaram o conceito de globalização em geral e levantaram a questão da sua reversibilidade. Este relatório apresenta a concepção de autores de processos de globalização e sua modificação estrutural. Palavras chaves: crise global; finanzas nacionales; crises de desenvolvimento. 243 Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI Víctor Ml. Vargas González - Universidad Nacional-Costa Rica RESUMEN De la teoría a la práctica, hoy en día hay mucho camino que recorrer, especialmente en el ámbito de la participación justa y con equidad de todos los seres humanos, en la estructura de la “salvación” que proclama la iglesia católica, a partir de su principio de que todos somos iguales, creados a imagen y semejanza de Dios, ya no como sujeto constitucional, como lo señaló alguna vez el Plan de Iguala en 1821, sino como práctica cotidiana y de experiencia comunitaria. Palabras clave: derechos humanos, derechos religiosos, experiencia comunitaria. CUESTIONES PRELIMINARES Hablar de Derechos Humanos en el contexto de los derechos religiosos o de la religiosidad en general es un asunto de poca monta, ya que se tiende a confundir los derechos religiosos en relación con los Derechos Humanos como la puesta en práctica de la libertad religiosa y no como la acción constante del ser humano por convertir lo religioso como un nicho humanizante y humanizador, como el lugar propio del ser humano para poner en práctica común su libre albedrío. Por su parte la iglesia católica, bajo su supuesto de ser depositaria de la verdad revelada, ha empleado los textos bíblicos para sostener su deber inalienable de defensa de los derechos humanos a partir del supuesto de que todos los seres humanos fuimos creados a imagen y semejanza de Dios como lo señala el libro del Génesis, sin embargo en su estructura no cabe la equidad de género, ni la igualdad en el ejercicio de las funciones de los seres humanos en ella. Es por ello que el tema de los derechos humanos versus los derechos religiosos se vuelve un asunto complejo, pues se mal entiende el asunto como la practica de la libertad religiosa en cualquier país, siendo este asunto un mero asunto del sistema o modelo de relaciones iglesias-Estado que rige en cada país. Es por ello que mostraremos aquí un par de ejemplos en el que la iglesia católica ha intentado poner en práctica su dicotomía de derechos, entre los 245 246 LATINIDADE humanos y los religiosos, siempre en beneficio de su propia institucionalidad. Se parte entonces de la máxima de la Declaración Universal de Derechos Humanos proclamada por la ONU en 1948, para la cual todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos y, dotados como están de razón y conciencia. Bien señala Marià Corbí que No es posible abandonar un sistema de valores, aunque esté claramente en crisis, hasta que se posea una alternativa real. Rechazar un sistema cultural sin remplazarlo por otro es renunciar a la vida con sentido y a una pragmática social coherente. Si tenemos en cuenta la función de los sistemas culturales, comprenderemos que rechazar un sistema de valores sin tener un sustituto fiable a mano, es renunciar a la vida. (Corbí, 1996, pág. 25) Por ello no podemos decir que el modelo de sociedad laica es la solución al problema relacional entre los Derechos Humanos y los derechos religiosos en la actualidad. Ni mucho menos podemos decir que imponer paradigmas, unos sobre otros, sea la solución a la falta de inteligibilidad la sociedad posmoderna. Debemos reafirmar un rotundo NO a estás situaciones, ya que al hacerlo perdemos conciencia del sentido relacional entre el ser humano y el sistema cultural en el que este se encuentra inmerso, sin el cual no tendría validez, ni pertinencia, su existencia. Debemos en su lugar luchar por un progreso cultural que nos permita ir más allá de los esquemas establecidos, sin pretender con esto la anarquía, sino la toma de conciencia en los individuos sobre su razón propia de existir y el lugar que tienen en una sociedad participativa. Por ello volverá a señalar Corbí que Conocer las leyes que rigen las transformaciones culturales no sólo es una mera curiosidad intelectual; tiene gran trascendencia desde varios puntos de vista, uno de ellos es su importancia religiosa. Si se logra dar con la ley que rige la dependencia entre los cambios de los modos de vida (modalidades humanas de sobrevivencia) y las transformaciones culturales, mitológicas y religiosas, sabremos cómo comportarnos en épocas de cambios profundos y continuados. Encontrar esa ley resulta enormemente útil para comprender la situación de la religión, en general, y del cristianismo en particular, en nuestra sociedad industrial. (Corbí, 1996, págs. 26-27) Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI En ello entendemos que la espiritualidad es una cualidad, no una dimensión humana. No hay en nosotros los humanos (a pesar de las investigaciones en neurociencias y psicobiología que procuran encontrar el “área religiosa en el cerebro”, o el “gen de la religión”) una dimensión particular que se haya descrito como religiosa o espiritual por naturaleza. Vivimos, como indicó el mismo Corbí en otra de sus obras En sociedades dinámicas, de cambio e innovación continua, en sociedades regidas y controladas por la segunda gran revolución industrial; vivimos en las llamadas sociedades de conocimiento, de innovación y cambio continuo, informáticas. Estas sociedades son democráticas, no patriarcales, globales, no se articulan sobre creencias exclusivas y excluyentes porque deben eliminar todo lo que bloquee el cambio; se articulan sobre postulados y proyectos construidos por nosotros mismos al ritmo de las rápidas transformaciones generadas por la tecnociencia y sus consecuencias en todos los órdenes de la vida. Tal como se presenta la evolución de las sociedades, no parece que la religión tenga un porvenir muy glorioso. (Corbí M. , 2012, pág. 28) Entendemos, entonces, que los derechos humanos son todos aquellos principios elementales que rigen el diario convivir de todos seres humanos en su relación con ellos mismos y con el entorno que les rodea, indistintamente de si se trata de otros seres humanos u otro tipo de individuos actantes en la realidad en la que se desarrollan. Entendemos, también, como derechos religiosos todos los principios que permiten convivir y co-actuar a las diversas religiones o experiencias de fe en el universo simbólico y recreador en el que aspiran a desenvolverse. LUCHA POR EL INDIVIDUO Desde sus inicios la iglesia católica en particular ha sostenido la tesis, apoyada en las escrituras que Dios creó el hombre a su imagen; a imagen de Dios lo creó; hombre y mujer los creó» (Gn 1,27) y es bajo este supuesto que operan todos sus mensajes, decretos exhortaciones y otras muchas maneras de difundir su mensaje doctrinal. Sin embargo es contradictorio su mensaje insignia si se confronta con la verdad cotidiana de la práctica de la fe en comunidad, y de la experiencia igualmente comunitaria del papel que la iglesia juega en la actualidad en defensa de los más altos valores del individuo. 247 248 LATINIDADE Y es que si nos remitimos a los hechos la verdad salta a la vista, siendo que como individuos creados por un ser supremo, el ser humano cuenta desde su nacimiento con el libre albedrío dentro de si mismo, ya que el ser creados a imagen y semejanza de Dios no comporta otra cosa que la capacidad creadora, la capacidad de discernimiento por la que es capaz el individuo de vivir en sociedad, y de poder hacer de su paso por el mundo un verdadero compromiso para manifestar la verdad por la que fue creado, el amor. A pesar de los muchos decires es de completo apego dentro de la estructura religiosa católica que el derecho a la vida y a la libre expresión de la propia fe en Dios no está sometido al poder del hombre. No obstante la estructura actual sigue favoreciendo la verticalidad en su estructura, favoreciendo el egocentrismo y la falta de caridad cristiana al atender a diversidad de individuos con multiplicidad de circunstancias que afectan en mayor o menor grado su desarrollo como ser humano integral. Bien señaló Mons. Lajolo en su intervención en la primera sesión para los Derechos Humanos de la ONU en 2006 que En el derecho y en la conciencia moral de la comunidad internacional actual, la dignidad del hombre se manifiesta como la semilla de donde nacen todos los derechos, y sustituye la voluntad soberana y autónoma de los Estados como fundamento último de todo sistema jurídico, incluido el sistema jurídico internacional. (Lajolo, 2006) Pese a lo que se ha dicho, esta afirmación solo es una más de las que se lleva el viento, siendo entonces que la conciencia moral de la que habla el obispo está mediatizada por el magisterio y la doctrina moral de una estructura institucional, que si bien ha dado muchos avances en el entender su relación societal, no ha tenido el tino para seguir los pasos de una sociedad que en si misma, y por efecto de sostenerse ella en las relaciones de los individuos que la conforman, en un sujeto actante en constante cambio y renovación. Y continúa señalando el mismo autor Solamente gracias a la libertad de conciencia el hombre es capaz de reconocerse a sí mismo y de reconocer a su prójimo en su dimensión trascendente, transformándose así en un elemento vivo de la vida social. Por otra parte, la libertad religiosa, en sus dimensiones personal y comunitaria, privada y pública, permite al Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI hombre vivir la relación más importante de su vida, la relación con Dios, de manera pura y sin falsas apariencias, que son indignas de él y más aún indignas de Dios. (Lajolo, 2006) Volvemos a encontrar aquí la ambivalencia en los criterios ofrecidos por la misma estructura institucional, que aún hoy más de 2000 años después, sigue hablando de términos como la trascendencia y la transformación social sobre la base de una estructura de creencias no diseñada originalmente para ello, y que obtiene como resultado la obstinada sujeción de conceptos de manera pragmática, sin velar en ellos por el desarrollo del individuo, y lo que es peor aún sin servir de motivo conductor para vivir una experiencia de fe más allá de las limitaciones que una institución puede ofrecer. Es por ello que en su teoría de la inmanencia, Baruch Spinoza señala que De causas semejantes han nacido, además, esas nociones que llaman universales como hombre, caballo, perro, etc., a saber: porque en el cuerpo humano se han formado al mismo tiempo tantas imágenes, por ejemplo de hombre, que exceden su fuerza de imaginar, no en verdad por completo, pero si lo bastante para que el alma no pueda imaginar las pequeñas diferencias de los seres singulares (a saber, el color, el tamaño de cada uno) […] Por lo cual, no es asombroso que entre los filósofos, que han querido explicar las cosas naturales por sus solas imágenes, hayan nacido tantas controversias. (Spinoza, Ética, 1958, II, prop. XL, Esc I) PARTICIPACIÓN EQUITATIVA Ha sido Agustín, en el Libro I de Las Confesiones, quien ha expresado, a propósito de su infancia, que el otro soy yo y que yo soy una interrogante para mí mismo; que la alteridad no está afuera de mí y, al mismo, que nuestra mismidad está en el exterior. En América Latina, Juan Rulfo, en su Pedro Páramo, ha hecho de la proximidad con la muerte, lo que Levinas denominaba la pérdida de virilidad del sujeto, el motivo de toda salida de uno mismo, hacia la recuperación del tiempo y la memoria. Estar de cara al cadáver, ese debilitamiento de nuestra posibilidad de poder, esa fragilidad, es la nota fundamental de la utopía ecuménica evangélica: una comunidad de frágiles y vulnerables potentes que se reconocen y ofrecen mutuamente cuidado. ¿No es acaso reconocernos frágiles y necesitados la principal contradicción en la que podemos incurrir con el Imperio? 249 250 LATINIDADE ¿No es el reconocimiento de nuestra común carnalidad la que nos puede liberar de lo cerrado del mundo? El problema central al que debemos hacer frente es que este importante y fundamental programa antropológico, con sus constancias y discontinuidades, no ha logrado, todavía, convertirse en horizonte permanente de un amplio frente de creyentes inter-religioso y continental que se organicen y trabajen para hacer un mundo suyo. Al no existir o ser débil este frente continental de creyentes, se debilitó o bloqueo la base social que hubiese hecho crecer la sensibilidad y pensamiento teológico liberador. A esto debe agregarse que, en su nivel, estas teologías pueden mostrar la fractura entre base social y actividad académica propia del elitismo académico latinoamericano. Por último, y aunque ya se ha mencionado, ante el debilitamiento aparente o efectivo de procesos que se consideraban raíces se escogió, en muchas ocasiones, la incomunicación. Debe decirse, también, que las valoraciones que se realizaron acerca de las situaciones y problemas fundamentales de la región en este período no fueron siempre adecuadas y esta inadecuación reforzó, entre algunos teólogos, un androcentrismo y patriarcalismo condescendiente o un clericalismo paternalista. A todo ello hay que agregar que contra estas teologías se realizó, y aún se practica, una persecución violenta y feroz por parte de fuerzas militares, jerarquías eclesiásticas, medios masivos, agencias de inteligencia y gobiernos oligárquicos, lo cual implicó incluso el asesinato de teólogos, teólogas, pastores, pastoras y, sobretodo, de creyentes religiosos populares que constituyen lo inolvidable de esta tradición. En el nuevo cristianismo latinoamericano deberá ser diferente, muy diferente de lo que ha sido a lo largo de sus quinientos años de existencia. El cristianismo como lo conocemos, incluso el más modernizado y progresista, entra en crisis fundamentalmente por dos razones. Porque, como acabamos de afirmar, en el nuevo tipo de sociedad que estamos construyendo funciones como las apuntadas ya no son competencia de la religión sino de otras instituciones. Y porque en la nueva cultura la religión, en este caso el cristianismo, se ve abocada a descubrir su especificidad y comportarse de acuerdo a ella. Y la especificidad de la religión no es la verdad formulable con sus pretensiones sino la verdad no formulable, el conocimiento o experiencia de lo inefable. Consecuentemente, el nuevo cristianismo, incluido el latinoamericano, tiene que ser esa experiencia, y sólo esa experiencia. O expresado de otra manera, tiene que ser esa experiencia y todo lo demás subordinarse a ella. Todo lo contrario de lo que sucede ahora. Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI Esta experiencia es lo que es, realización plena y total, liberación total, iluminación, auténtico paso de la muerte a la vida, del que hablan las diferentes tradiciones religiosas, la adquisición de una nueva condición humana. Pero, por ello mismo, no sirve para nada, no es medio para otra cosa. Si así fuera, no sería realización última, y para obtener ésta habría que ir a adquirir en otra parte una religión más allá de la religión. Lo último es último y nunca medio. De ahí que no se deba esperar de la religión más función directa que ésta. Lo que no quiere decir que el cristianismo vivido como experiencia última no tenga efectos en las dimensiones interesadas del ser humano, de la sociedad y de la cultura. En este sentido, al igual que en otros, la religión es como el arte. Nos referimos al hecho de tiene una ontología y una epistemología propias y a que no es el criterio de utilidad o rentabilidad inmediatas el adecuado para valorarlas, sino todo lo contrario. Ambas se ubican en una línea de desegocentración y desinterés que, en el caso de la religión, debe ser absoluta y total. Las normas, los valores, las costumbres y, por supuesto, el lenguaje oral y simbólico fue creado y es mantenido por los que detentan el poder, los hombres, nuestra identidad, de mujeres, es una identidad construida por el pensamiento masculino quien ha controlado las instituciones (escuela, iglesia, familia) y por medio de ellas a mantenido su poder hegemónico. Una tal utilización de la biología relega a la mujer al ámbito de lo doméstico. Al ámbito de lo público le es permitido asomarse sólo en condiciones de discriminación. Aquí lo “público” y lo “privado” (doméstico) ganan un significado muy particular: lo “público” es por excelencia el campo de las tomas de decisión de la sociedad, donde la mujer tiene una condición subalterna; lo “privado” se identifica con lo doméstico despolitizado, al cual se relega la mujer. Tal fetichización biológica actúa sobre la conciencia, impidiendo el cuestionamiento. De hecho, relegar la mujer al ámbito de lo doméstico, tal como lo entiende el dispositivo en cuestión, es vedarle el acceso al mundo de lo político y negarle poder de incidencia sobre la historia. Es una palabra, alienar su conciencia y sus prácticas. El Patriarcado -entendido como la ideología del poder masculino en la sociedad- está en la base de un orden social en el que el “sexo” es una categoría con implicaciones políticas discriminadoras y el hombre domina a la mujer. Tal orden social lleva a la “colonización interior” del poder masculino. Esa forma de poder tiende a tornarse más fuerte que otras, más 251 252 LATINIDADE rigurosa que la estratificación en clases, más uniforme y perdurable, y conforma una de las ideologías más penetrantes de nuestra sociedad. En ese orden social la producción y recepción de discursos, consolidan la sujeción y crean normas. En todo ese proceso, la mujer es, a la vez, víctima y cómplice. Por eso, hay que luchar en contra del poder masculino en las propias actitudes de las mujeres que lo recrean, por ejemplo en la educación de los hijos. La falta de una conciencia explícita de género contribuye a reforzar esos esquemas mentales y las prácticas en consonancia con ellos. Nos referimos aquí a la conciencia de género como el reconocimiento de que la situación de inferioridad, sujeción y sometimiento en la que la sociedad quiere mantener a las mujeres es producto de la ideología patriarcal que ha estereotipado el papel que juegan el hombre y la mujer en la sociedad a partir de un determinación biológica, de hecho inexistente, pero que ha sido asimilado tanto por los hombres como por las mujeres y que hay que desenmascarar. DERECHOS HUMANOS Y DERECHOS RELIGIOSOS Vivimos la época de mayores cambios en la historia del cristianismo. En la Iglesia Católica se ha dado una extraordinaria ruptura de la cultura religiosa que modeló la identidad cristiana de muchos adultos. Se da entre nosotros una división de opiniones sin precedentes, así como un desacuerdo con la iglesia y un cuestionamiento de su autoridad nunca antes visto en temas de fe y moral. Ahora bien, todo esto quiere decir que la resurrección se vive y se hace presente donde la vida lucha contra la muerte, donde las fuerzas de la vida vencen a las fuerzas de la muerte. Pero aquí conviene que seamos lúcidos y no nos dejemos engañar. Porque en esta vida hay dos clases de fuerzas que empujan hacia la muerte: de una parte, están las fuerzas que son absolutamente inevitables, porque no dependen en absoluto de la libertad y de la voluntad de los hombres y mujeres; pero están, por otra parte, las fuerzas evitables, las que dependen directa o indirectamente de la libre determinación de las personas, A las primeras pertenecen, por ejemplo, el envejecimiento o una catástrofe natural; a las segundas pertenecen las guerras, las condiciones economices, sociales y políticas y todo lo que, en definitiva, está a nuestro alcance. Vistas así las cosas, hay que decir que la resurrección se hace presente y se manifiesta allí donde se lucha y hasta se muere por evitar la muerte que está a nuestro alcance y por suprimir el sufrimiento que se puede evitar. Y Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI aquí es donde, sobre todo, tiene que hacerse patente y tangible la fe en la resurrección: sufriendo por suprimir el sufrimiento y hasta muriendo por evitar la muerte. De tal manera que la fe en la resurrección es lo que tiene que ser en la medida en que se acerca a esta forma de praxis, es decir, en la medida en que se acerca a este compromiso práctico con la vida y en favor de la vida. A pesar de los persistentes e injustos prejuicios, debidos sobre todo a la ignorancia, en el sentido de que los países latinoamericanos estarían despreparados para la convivencia democrática a nivel internacional, la experiencia histórica revela precisamente lo contrario. A pesar de todos los problemas crónicos que han flagelado a las poblaciones de nuestros países latinoamericanos y caribeños, como la injusticia social, las iniquidades del sistema financiero internacional, las desigualdades en la distribución de la renta, la violencia urbana, entre tantos otros, hemos sabido dar una contribución valiosísima a la codificación y el desarrollo progresivo del derecho de gentes desde una perspectiva esencialmente universalista, al espíritu de solidaridad internacional, a la realización de la justicia, a la solución pacífica de controversias internacionales, a la evolución del derecho de las organizaciones internacionales, y a la gradual institucionalización de la comunidad internacional. A pesar de nuestra pobreza material, somos, los latinoamericanos y caribeños, pueblos ricos en cultura, y no renunciamos a nuestros ideales, plasmados en la contribución que hemos dado, a lo largo de las últimas décadas, a la evolución del propio Derecho Internacional. En medio a tantas dificultades que afectan nuestras poblaciones, éstas siguen determinadas a luchar por la realización de sus derechos, entre los cuales su derecho al Derecho, en los planos tanto nacional como internacional. Existe la necesidad de avanzar en el desarrollo de estrategias que relacionen la perspectiva feminista con el enfoque de los derechos humanos y los derechos religiosos. Con distintos matices, es substancial notar aquí la importancia de incorporar el enfoque de derechos humanos en las acciones del movimiento feminista. Ven en ello la posibilidad de contar con estrategias más fortalecidas, especialmente si éstas se sostienen en un uso adecuado de los conceptos e instrumentos de derechos humanos. Asimismo, se enfatiza la necesidad de discernir en qué contextos es necesario aplicar un enfoque específico al trabajar con un derecho y en qué contextos hay que aplicar una mirada integral que interrelacione los derechos. 253 254 LATINIDADE Como lo dirá Silvio Ferrari Toda religión presenta un núcleo central de normas de obligado cumplimiento para sus fieles. No se limitan indicar a quien orar y cómo hacerlo, sino que con frecuencia establecen también modos de vestir y alimentos, días de trabajo y de descanso: regulan, en definitiva, múltiples aspectos de la vida cotidiana, incluso algunos (aparentemente) muy alejados de lo que hoy, en Occidente, entendemos por religión. El problema del derecho de las religiones, largo tiempo ignorado, ha cobrado ahora actualidad debido al carácter multicultural y multirreligioso de la sociedad contemporánea: no se pueden comprender ni gobernar las tensiones provocadas por la coexistencia de diferentes religiones, sin conocer el aparato normativo que guía la vida de sus fieles. (Ferrari, 2004, pág. 247) O como mejor lo aclara Santiago Cañamares ¿Se debe permitir la utilización de símbolos religiosos en el marco de una sociedad laica? ¿Constituyen determinados símbolos religiosos un elemento de discriminación femenina? ¿Tiene nuestro Derecho capacidad de respuesta frente a este tipo de conflictos, que son consecuencia de una sociedad cada vez más globalizada? Este trabajo pretende resolver éstos y otros interrogantes, analizando desde una perspectiva jurídica las posibilidades de acomodación de la simbología religiosa en los distintos ámbitos de nuestro tejido social, en el marco del respeto a los derechos fundamentales y a los principios de organización del Estado. (Cañamares, 2005, pág. 108) CONCLUSIONES En primer lugar, es probable que la religión del futuro sea más mística que cultual. Dará más importancia a la escucha de la palabra de Dios que al culto. Será una oración más de escucha y acogida que una oración de petición o de adoración. El culto será mucho menos la celebración del poder de Dios, y más la celebración de su presencia discreta y humilde en nuestro mundo. En segundo lugar, la religión del porvenir dará menos importancia a los objetos religiosos y mucho más al sujeto. Menos importancia a la literalidad Derechos humanos y derechos religiosos en los albores del siglo XXI de los dogmas, y más calor a la vivencia personal del seguimiento de Jesús. Habrá menos necesidad de objetivar la religión, separando claramente los objetos religiosos de las fuerzas del universo. La Biblia tenía mucho miedo de la naturaleza material del universo porque vivía en medio de religiones que identificaban la divinidad con fenómenos naturales. Había que hacer una distinción entre Dios y las fuerzas naturales. Pero esto nos distanció demasiado de la naturaleza y de sus dinámicas. Faltó la integración de la religión en la vida del universo. Pues el universo no es hecho de objetos inertes. La tierra vive, cambia, produce... y actualmente siente las heridas que una civilización excesivamente destructiva le inflige. En tercer lugar, el sujeto nace por medio del diálogo con otro sujeto. Nace por la relación recíproca con otros sujetos. La religión tradicional proporciona a las personas un mundo religioso completo y su comunicación se hace por la transmisión de ese mundo religioso exterior a la persona (dogmas, ritos, preceptos, instituciones). Todo indica que ese mundo de objetos religiosos va a tener que ceder el lugar a la relación viva entre personas iguales. La casta sacerdotal irá desapareciendo progresivamente, con todas las marcas de lo sagrado que le atribuyeron en el transcurso de los siglos. Pues el status sacerdotal impide una relación sencillamente humana. Es muy difícil prescindir del carácter sagrado del sacerdote. Solamente algunos laicos que tienen mucha intimidad logran una relación humana normal. Incluso dentro de la familia, las relaciones entre hermanos están afectadas. En cuarto lugar, los cristianos de mañana necesitarán de comunidades pequeñas en las que las relaciones son de fraternidad. La familia pierde su importancia porque cada uno de los hijos hace su vida y la vida los lleva a lugares muy distantes. Las relaciones de vecindad desaparecen. Lo que se necesita son relaciones de comunidad entre personas, que participan de la misma religión, la misma finalidad, los mismos valores. Finalmente debemos anotar que no pueden existir derechos religiosos, o libertades religiosas como se mal nombran algunas ocasiones, sin que primero sienten precedente los Derechos Humanos, si se continúan legitimando iniciativas para favorecer estructuras institucionales religiosas que a su vez dictan la política en materia de derechos humanos subyugándolos a criterios religiosos nunca podrán existir Derechos Humanos realmente, ya que su principio fundamental es la libertad y el desarrollo del individuo, el Ser Humano, y no la institucionalidad, si no se cumple esta máxima cualquier opción para hablar de Derechos serán simples palabras que se las lleva el viento. 255 256 LATINIDADE BIBLIOGRAFÍA CAÑAMARES, S. Libertad religiosa, simbología y laicidad del estado. Cizur Menor: Aranzadi, 2005. CORBÍ, M. (1996). Religión sin Religión. Madrid: PPC. __________. Reflexiones sobre la cualidad humana en una época de cambios. Barcelona: Verloc, 2012. FERRARI, S. El espíritu de los derechos religiosos: judaísmo, cristianismo e islam. Barcelona: Herderm, 2004. LAJOLO, G. (20 de Junio de 2006). La Santa Sede. Recuperado el 30 de Julio de 2012, de Primera sesion del Consejo para los Derechos Humanos de la ONU: http://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/2006/documents/rc_segst_20060620_lajolo-geneva_sp.html SPINOZA, B. Ética. México: FCE, 1958. __________. Tratado teológico-político. Madrid: Alianza, 1990. RESUMO Da teoria à prática, hoje existe um longo caminho a percorrer, especialmente no campo da justa e equitativa a todos os seres humanos na estrutura da “salvação”, que proclama a Igreja Católica, desde a sua princípio de que todos são iguais, criado à imagem e semelhança de Deus, não como um assunto constitucional, como apontado uma vez que o Plano de Iguala em 1821, mas como uma prática cotidiana e da experiência da comunidade. Palavras-chave: direitos humanos, direitos religiosos, a experiência da comunidade. ABSTRACT Of theory to practice, today there is a long way to go, especially in the field of fair and equitable to all human beings in the framework of “Salvation”, proclaiming the Catholic Church since its principle that all are equal, created in the image and likeness of God, not as a constitutional matter, as pointed out once the plan of Iguala in 1821but as a daily practice and experience of community. Keywords: human rights, religious rights, experience of the community. Normas Normas Editorias O autor do trabalho deve indicar seu nome completo, título acadêmico e vinculação institucional, bem como endereço completo para correspondência. Os trabalhos devem ser enviados em disquete, CD, Pendrive, acompanhado de cópia impressa em papel. O resumo e o abstract devem ter no máximo 10 linhas e vir acompanhados de 3 palavras=chaves/keywords. Os artigos devem ter extensão máxima de 65 mil caracteres, digitados na fonte Times New Roman 12, com espaço 1,5 e margens de 2,5 cm. Os destaques feitas no corpo do texto deverão ser feitos com aspas simples. As palavras e expressões escritas em língua diferente daquela escolhida pelo autor deverão aparecer em itálico, bem como os títulos de livros, revistas, jornais, instituições, etc. As citações até três (3) linhas deverão ser feitas no corpo do texto, com aspas duplas. As citações que ultrapassarem três (3) linhas deverão ser transcritas com recuo no texto, sem aspas. Os destaques feitos pelo autor nas citações deverão ser indicados em negrito. Os artigos devem ser acompanhados de resumos (em português e inglês), com, aproximadamente, dez linhas e de cinco (5) palavras-chave( em português e inglês). Os originais podem ser remetidos em português, inglês, francês, espanhol ou italiano. As resenhas críticas devem ter extensão máxima de 10 mil caracteres, digitados na fonte Times New Roman 12, com espaço 1,5 e margens de 2,5 cm. As notas devem ser colocadas ao final da resenha. Todas as notas devem ser colocadas ao final do texto antes da bibliografia. 257 258 LATINIDADE A bibliografia deve ter a seguinte apresentação: Nome e SOBRENOME. Título do livro em itálico:subtítulo. Tradução, edição, cidade: Editora, ano, p.ou pp. Nome e SOBRENOME. Título do capítulo ou parte do livro. In: Título do livro em itálico. Tradução, edição, cidade: Editora, ano, p.ou pp. Nome e SOBRENOME. Título do Artigo entre aspas. Título do Periódico em itálico. Cidade: Editora, vol., fascículo, ano, p.ou pp. Admitem-se as referências Id.ibidem e Op. cit., segundo as normas em utilização. Todos os trabalhos serão submetidos a dois pareceristas. Os autores serão notificados da aceitação ou não dos respectivos trabalhos. O material remetido não será devolvido pela revista. Os trabalhos não aceitos estarão à disposição dos autores pelo prazo de seis meses, a contar da emissão do parecer. Todos os artigos encaminhados fora destas normas serão enviados ao autor para as adaptações necessárias. São automaticamente cedidos à revista os direitos autorais sobre os originais e traduções por ela publicados. Os dados e conceitos abordados nos artigos e resenhas são da exclusiva responsabilidade do autor Cada autor receberá gratuitamente cinco exemplares do número da revista que contenha seu artigo.