Abrir documento - Universidade São Judas Tadeu

Transcripción

Abrir documento - Universidade São Judas Tadeu
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
em Arquitetura e Urbanismo
Vanuzia de Souza Brito
A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO DE UM BAIRRO
TEMÁTICO DE SÃO PAULO E O TURISMO CULTURAL
URBANO
São Paulo
2008
Vanuzia de Souza Brito
A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO DE UM BAIRRO
TEMÁTICO DE SÃO PAULO E O TURISMO CULTURAL
URBANO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Arquitetura e
Urbanismo para obtenção do grau de mestre.
ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO DE ASSUNÇÃO
São Paulo
2008
Vanuzia de Souza Brito
A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO DE UM BAIRRO
TEMÁTICO DE SÃO PAULO E O TURISMO CULTURAL
URBANO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Arquitetura e
Urbanismo para obtenção do grau de mestre.
Aprovada em: ___________ de 2008
ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO DE ASSUNÇÃO
Brito, Vanuzia de Souza
A percepção do espaço cênico de um bairro temático de São Paulo e o turismo
cultural urbano / Vanuzia de Souza Brito. - São Paulo, 2008.
174 f. ; 30 cm
Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2008.
Orientador: Paulo de Assunção.
1. Turismo cultural. 2. Patrimônio. 3. Percepção. 4. Japoneses. I. Título
CDD- 338.4791
Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878
Dedico aos amigos orientais, que me mostraram outra forma
de ver o mundo, e à grande Mestra Laura Della Mônica, que
me ensinou outra forma de viver a vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus que nos ilumina, seus mistérios, segredos e a força que não nos deixam
desistir.
Ao Meu orientador Prof. Dr. Paulo de Assunção, pela paciência, ensinamentos,
apoio e grande amizade.
À Capes e a Universidade São Judas Tadeu, especialmente à coordenação do
Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo. E aos Professores do Curso
que serão lembrados com muito carinho e admiração.
Aos membros da Banca de Qualificação pelas participações e contribuições.
À Profª Dirce pela generosidade e auxílio na revisão do trabalho.
Aos Colegas de Mestrado desde o início, Margareth, Dália, Hideki, Sandra,
Midori, Gilberto, Solange, Tessarini, Maria Cristina..., cuja convivência me ensinou a
respeitar e trabalhar as diversidades, bem como às secretárias da pós, Simone e
Selma.
À Coordenadora do Curso de Psicologia Carla Witter, pela compreensão e
adequação dos meus horários de trabalho para cursar o Mestrado.
Ao meu amigo e companheiro Eder, pelo incentivo, carinho, paciência e respeito
neste momento de minha carreira, à minha mãe, minhas irmãs e sobrinhos pelo amor
incondicional suportando as ausências.
Aos meus amigos e colegas da Biblioteca e Laboratório de Informática da
Universidade São Judas Tadeu que gentilmente colaboraram, e a todos os que, direta
ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho, e que se citados
nominalmente, com certeza, cometeria a injustiça de omitir alguém.
RESUMO
Este trabalho é um estudo sobre o turismo cultural urbano em São Paulo, tendo como
área específica o Bairro da Liberdade. Foi levada em consideração a percepção do
turista urbano, em seu comportamento cognitivo, bem como a influência dos fatos
sociais. As buscas e fugas que cada indivíduo empreende em sua vida são fatores
psicológicos que promovem e estimulam o deslocamento das pessoas. Abordamos a
cidade de São Paulo com seu patrimônio arquitetônico e paisagístico, além da evolução
histórica da cidade, destacando suas características devidas à imigração. Também
damos ênfase à vida da cidade, por meio de uma visão espacial, arquitetônica e
cultural. Quanto à questão do Bairro da Liberdade, consideramos sua ocupação no
início do século XX, quando os imigrantes japoneses se instalaram nos velhos casarões
desocupados à beira das várzeas locais. Procuramos compreender o espaço e a
presença dos imigrantes japoneses, seus descendentes e outras etnias no Bairro da
Liberdade, bem como as manifestações culturais nesse bairro e o papel das
transformações nele provocadas pelo imigrante, que hoje se transformam em atrativo
para o turista, o que lhes dá uma nova dimensão e as transforma num atrativo turístico.
Discutimos o fator turístico e seus impactos, bem como a visão do turista em relação ao
espaço habitado, evidenciando as transformações do espaço urbano, agora espaço
cênico. Tendo demonstrado o uso da cidade, que é fruto do uso coletivo, discutimos a
sustentabilidade que o Turismo Cultural Urbano exige. Em nossa avaliação, foram
incluídos valores históricos e culturais únicos de uma etnia, a leitura da cidade de forma
a contribuir para uma reflexão do hibridismo cultural, ou seja, as transformações
ocorridas devido ao processo de urbanização, resultado das condições históricas do
lugar e seu movimento social, em que estão inseridas as transformações culturais.
Palavras-chave: percepção, turismo cultural urbano, espaço habitado, patrimônio,
japoneses.
ABSTRACT
This paper is a study on cultural urban tourism in the city of São Paulo, in the
specific neighborhood of Liberdade. It was taken into consideration the urban
tourist’s perception, expressed by his behavior, as well as the influence of social
facts. Every individual’s comings and goings are psychological factors promoting
and stimulating them. We discuss São Paulo and its architectural and scenic
patrimony, as well as the historical evolution of the city, with an emphasis on
immigration added to it. We also emphasize to the city life, through a space,
architectural and cultural view. As for the neighborhood of Liberdade, we discuss
its occupation in the early 20th century, when Japanese immigrants occupied the
local old houses and open spaces. We try to understand the space and the
presence of Japanese immigrants, their descendents and other immigrants in
Liberdade, as well as their cultural manifestations, which now are an attraction for
tourists, giving them a new dimension. We discuss tourism and its impact, as well
as the way tourists see the inhabited space, now turned into scenic space due to
urban changes. After dealing with the use of the city, which is collective, we discuss
the demands of cultural tourism. We also include in our evaluation other historical
and cultural values that are unique in a national group, as well as a reading of the
city helping the understanding of cultural hybridism, that is, the changes provoked
by city planning, a result of historical conditions and its social movement, in which
cultural transformations are implied.
Keywords: perception, urban cultural tourism, inhabited space, patrimony, the
Japanese.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 12
1 Turismo: Trajetória histórica e evolução..............................................................
17
2 Turismo no Brasil.................................................................................................. 26
2.1 Análise do Ambiente Econômico Nacional........................................................ 28
2.2 Breve análise do setor turístico de São Paulo (capital)...................................... 41
3
Turismo Cultural Urbano................................................................................... 47
4
Processo Histórico da Cidade de São Paulo.................................................... 58
5
A chegada de imigrantes japoneses em terras brasileiras............................... 69
5.1 Imigrantes japoneses em Santos e adjacências.............................................. 74
5.2 Imigrantes japoneses no Paraná...................................................................... 79
5.3 Imigrantes japoneses na cidade São Paulo..................................................... 85
5.4 A origem do Bairro da Liberdade e o processo de ocupação pelos
japoneses.......................................................................................................... 90
5.5 Fragmentos da cultura oriental no espaço urbano do Bairro da Liberdade..... 110
5.6 O Turista no espaço urbano de um bairro temático......................................... 119
5.7 A percepção espacial do Bairro da Liberdade e o Turismo Cultural Urbano... 131
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 152
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 154
ANEXOS......................................................................................................... 162
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 -
Praça da Liberdade na festividade do Tanabata Matsuri............
Figura 2 -
O turismo urbano no contexto da gestão e planejamento turístico
51
e urbanístico................................................................................
52
Figura 3 -
Turismo, cidade e cultura: A interconexão conceitual.................
55
Figura 4 -
Cartão postal do viaduto do Chá em 1929..................................
63
Figura 5 -
Praça do Patriarca - viaduto do Chá e o Teatro Municipal ao
fundo em 1927 ...........................................................................
Figura 6 -
63
Esquema técnico de São Paulo integrante do Plano de Avenidas de
Prestes Maia – 1930...................................................................
65
Figura 7 -
Cartaz que recrutava trabalhadores no Japão............................
69
Figura 8 -
Navio Kasato Maru ancorado no porto de Santos após o término
da viagem....................................................................................
69
Figura 9 -
O início da viagem de trem do litoral para São Paulo.................
70
Figura 10 -
Antiga Hospedaria de Santos......................................................
74
Figura 11 -
Manifestações culturais da colônia japonesa em Curitiba – PR:
apresentação musical.................................................................
Figura 12 -
82
Manifestações culturais da colônia japonesa em Curitiba – PR:
Exposição de símbolos da cultura japonesa..............................
82
Figura 13 -
A Hospedaria de Imigrantes no Bairro da Mooca.......................
85
Figura 14 -
Distribuição das famílias nas fazendas de São Paulo................
86
Figura 15 -
Casas onde moravam os imigrantes que trabalhavam nas
Fazendas.....................................................................................
87
Figura 16 -
Imigrantes colhendo café.............................................................
87
Figura 17 -
Rua da Glória, Esquina com o Largo 7 de Setembro em 1.860,
e, ao lado – a mesma tomada em maio de 1.999.......................
90
Figura 18 -
Mapa da região de São Paulo.....................................................
93
Figura 19 -
Liberdade: mais de 219 luminárias................................................ 96
Figura 20 -
Rua Galvão Bueno, à esquerda jardim oriental...........................
Figura 21 -
Rua Galvão Bueno vista da Praça da Liberdade............................. 97
Figura 22 -
Avenida da Liberdade próxima a Catedral de São Paulo
97
(Igreja da Sé).................................................................................. 100
Figura 23 -
Antigo calçamento de paralelepípedo da Rua da Liberdade
(atual Av. da Liberdade)................................................................ 101
Figura 24 -
Visão da Rua Galvão Bueno, o Centro do Bairro Oriental............. 102
Figura 25 -
Estátua do Dr. Shuei Uetsuka, erguida aos 18/06/78 – no Largo
da Pólvora....................................................................................... 103
Figura 26 -
Capela N. Sra. dos Aflitos (Herman Graeser/Sphan, 1939)........... 105
Figura 27 -
Beco dos Aflitos com a capela de N. Sra. dos Aflitos ao fundo...... 105
Figura 28 -
Igreja de São Gonçalo.................................................................... 106
Figura 29 -
Fachada da Igreja de São Gonçalo................................................ 106
Figura 30 -
Largo da Pólvora............................................................................ 134
Figura 31 -
Limites cênicos do Bairro da Liberdade......................................... 145
Figura 32 -
Templo Xintoísta localizado na rua Conselheiro Furtado.............. 149
Figura 33 -
Saída do Elevado/ acima o Viaduto Shuhei Uetsuka/ à direita
é o acesso ao Bairro da Liberdade............................................... 149
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Turismo receptivo: entrada de turistas no Brasil, por via de acesso –
2005.................................................................................................
35
Gráfico 2 - Distribuição por motivo de viagem – 2001........................................
43
TABELAS
Tabela 1 - Números do Turismo no Brasil.......................................................... 33
Tabela 2 - Turismo receptivo: Principais mercados emissores de turistas para
o Brasil - 2005 .................................................................................
34
Tabela 3 - Turismo receptivo: Estudo da demanda turística internacional
síntese Brasil – 2004 - 2005............................................................
36
Tabela 4 - Turismo receptivo: estudo da demanda turística internacional
síntese Brasil por motivo de viagem – lazer- 2004 – 2005.............. 37
Tabela 5 - Turismo receptivo: estudo da demanda turística internacional
síntese Brasil por motivo de viagem – negócios, eventos e
convenções – 2004 – 2005............................................................ 38
Tabela 6 - Turismo receptivo: Eventos internacionais - Número de eventos
internacionais realizados no Brasil por cidade – 2004 – 2005......... 39
LISTA DE ABREVIATURAS
COMTUR
Conselho Municipal de Turismo
DPH
Departamento de Patrimônio Histórico
EMBRATUR
Instituto Brasileiro de Turismo
FMI
Fundo Monetário Internacional
ICCA
International Congress & Convention Association
ICOMOS
International Council on Monuments and Sites
PLATUM
Plano Municipal de Turismo
OMT
Organização Mundial de Turismo
ONT
Organismo Nacional de Turismo
PIB
Produto Interno Bruto
11
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho consiste em uma observação e breve análise do
espaço habitado do centro histórico de São Paulo em especial do Bairro da Liberdade e
a relação com o Turismo Cultural Urbano, com base em visitas técnicas e o uso de
fontes bibliográficas, bem como discussões com colegas e professores.
Uma das palavras que foi identificada em minha dissertação foi IMAGINÁRIO,
trabalhamos, então, a interdisciplinaridade do conhecimento que remete a este
imaginário.
A cultura de cada povo se diferencia criando espaços individuais e coletivos, o
oriental e o ocidental têm maneiras diferentes de identificar e conceber os espaços,
segue um indutor imaginário que é criado pelo plano real. Usamos do inconsciente
coletivo para construir nossa realidade, e diante do comportamento de cada grupo
muda a percepção do espaço. Pois, podemos afirmar que temos necessidade de nos
representar enquanto grupo, e isto é feito através da arquitetura, cultura e outras artes.
Diante deste fato, podemos afirmar que a cultura tornou-se um produto.
Os elementos de uma cidade destacam-se pelas suas funções, que podem ser
analisados através das sensações. Organizar estes elementos do espaço urbano não é
tarefa fácil, implica uma leitura que cada indivíduo faz do espaço e seus interesses
individuais e coletivos, adequá-los para atender as funções do homem. O valor
agregado ao ambiente depende de parâmetros utilizados para o julgamento da
qualidade que está ligado ao bom e ao bem-estar, à idéia de paraíso que cada indivíduo
tem em seu âmago, tendo o espaço urbano como uma construção humana de um ideal
para suas vidas que se adaptam a cada momento, tornando-se seres refugiados da
arquitetura construída e também das leis da natureza. Os elementos urbanos compõem
uma paisagem que nos permite acessos na medida em que se organizam, adaptandose e integrando os indivíduos, tornando-se uma eterna construção, não só do espaço
geográfico, mas também do conjunto biopsíquico-socioculturais que integra a qualidade
urbana em uma leitura interna e externa na busca de uma identidade.
A memória de um povo seleciona o lugar através de sua cultura, pois o homem
tem necessidade de pertencer a um lugar. Por isto, através de sua memória, acaba
12
selecionando os seus espaços por meio de um componente psicológico. As
características empreendidas em cada escolha estão ligadas à demarcação de seu
território e um fator determinante para a escolha é a segurança do local.
Analisando alguns aspectos culturais dos povos, podemos afirmar que a
diversidade existente serve para diferenciar e localizar; o homem desafia a natureza
para se superar e deixar seus marcos referenciais na cidade.
Os turistas agregam valor aos espaços, e o não-lugar criado para eles pode se
tornar uma visão utópica de um lugar que existe no subconsciente, pois os mesmos
vivem à procura de um ambiente ideal, satisfazem-se e consomem os não-lugares que
são criados.
O turismo usa a imagem da arquitetura explorando-a, usando de artifícios
reconstroem a memória de lugares, povos, replicando o que já foi marco de um
passado que conta uma história. Vimos isto através do que nos são apresentados como
filmes, fotos, desenho, pinturas, elementos que têm a força de trazer de volta algo que
não vivemos. Pelo exposto, e devido a alguns fatores podemos afirmar que a
arquitetura é a melhor forma de manter a memória, e isto acontece devido à ação
construtiva e um exemplo são os monumentos. A preservação da qualidade destes
ambientes gera insumos e recursos para que continuemos a preservar; é um ciclo
através do qual o ambiente urbano só tem a ganhar.
A ordem dos assuntos que permeiam o Turismo foi dada pelo processo de
evolução da pesquisa, dando seqüência à temática discutida e pela importância do
turismo como fenômeno econômico, político, social e cultural.
O primeiro capítulo apresenta a trajetória histórica e a evolução do Turismo, seus
tipos e o contexto em que está inserido. Segue sua estrutura analisando o
comportamento do turista no espaço habitado. As buscas e fugas que cada indivíduo
empreende em sua vida são fatores psicológicos que promovem o deslocamento das
pessoas. Mostra uma leitura que o indivíduo faz do espaço habitado, pois o fenômeno
turístico não se explica por si só. São necessários dados e fundamentos que serão
buscados em algumas áreas da ciência. Neste capítulo, veremos que o turismo envolve
muito mais do que atividades, envolve tempo e relações.
13
O segundo capítulo consiste numa reflexão sobre o “Turismo no Brasil”; capítulo
que trata do surgimento do fator turismo no Brasil, quando foi usada pela primeira vez
no país a palavra turismo. E segue relatando o histórico em nosso país. O fator turismo
destaca-se neste capítulo, pois ele é a máquina geradora de muitas oportunidades. Foi
feita uma análise do ambiente econômico brasileiro pós-atentado de 11 de setembro,
onde percebemos fortes mudanças no destino dos turistas. Os números apresentados
nas tabelas da EMBRATUR mostram a grande mudança de comportamento do
mercado turístico brasileiro. Contudo, podemos concluir que ele está sujeito a variações
do mercado econômico mundial. Já em São Paulo é demonstrado o seguimento e a sua
evolução neste grande centro urbano.
O terceiro capítulo ocupa-se da descrição do fato “turismo cultural urbano”, suas
implicações e contribuições ao espaço urbano e os fatores positivos e negativos desta
questão que está ligado ao planejamento e à gestão sustentável. O crescimento e sua
importância para a cidade, estando ligado à arte e ao patrimônio edificado.
No quarto capítulo é demonstrado o processo de ocupação e exploração da
cidade de São Paulo, com ênfase ao fim do século XIX e início do XX, abordando
alguns aspectos históricos, bem como os fatos que formaram a cidade de São Paulo,
sua evolução política e social até a chegada dos imigrantes. O processo de ocupação
do centro histórico, sua formação, as transformações, as construções históricas, a
evolução do local e suas fisionomias. O nascimento da cidade que ocorreu através do
encontro de caminhos que podemos caracterizá-lo como a categoria de turismo
colonizador.
O quinto capítulo trata da chegada dos imigrantes japoneses no Brasil e seus
rumos, e segue sua estrutura em subdivisões, apresentando seu percurso por Santos,
Paraná e adjacências, até chegarem a São Paulo, dando ênfase à ocupação no Bairro
da Liberdade: O surgimento do Bairro da Liberdade e suas primeiras características
como bairro oriental. Este capítulo, assim como os outros, refere a comunidade nipônica
no século XX, suas tradições, usos e costumes que vieram com os imigrantes
japoneses e permaneceram até hoje nos elementos de decoração, na religião e na
adaptação destes costumes neste novo ambiente urbano ocidental; as manifestações
culturais de uma determinada etnia que ultrapassaram fronteiras e são absorvidas por
14
outros povos, e as mesmas são usadas como atrativo turístico, já que o turismo é um
sistema. Consideramos, na questão do Bairro da Liberdade, a ocupação no início do
século XX, quando os imigrantes japoneses se instalaram nos velhos casarões
desocupados à beira das várzeas da Liberdade, e a ocupação que teve por causa do
Largo da Forca, a Igreja da Santa Cruz das Almas, o cemitério, e sobre a região que se
tornou símbolo de poder na época. Agrupavam-se na Rua Conde de Sarzedas e
redondezas, esta rua estava situada próxima ao Largo João Mendes. Procuramos
compreender o espaço e a presença de imigrantes e seus descendentes no Bairro da
Liberdade. Discutimos como o imaginário do imigrante viajante interferiu no espaço
habitado, dando uma nova dimensão e transformando-a num atrativo turístico. O
mapeamento nos forneceu dados para discorrer sobre o Bairro da Liberdade permitiu
observar os elementos que norteiam os caminhos e o conhecimento do bairro, bem
como seus limites cênicos, uma vez que eles geralmente são reconhecidos de maneira
fragmentada. Uma das intenções deste capítulo é fornecer dados para compreensão
deste bairro, com características que se distinguem na paisagem urbana, e seguindo a
descrição de alguns locais que demonstra o perfil do freqüentador, partindo do
pressuposto de que será discutido posteriormente com relação à cultura visual que
integra ativamente a produção do espaço urbano.
Quanto ao item que analisa “o turista no espaço habitado”, buscamos demonstrar
a motivação que o levou ao deslocamento, bem como a percepção, a leitura que o
usuário faz do espaço urbano e como identifica este local pela cultura. As influências
dos fatos sociais que alteram o comportamento do turista em determinados locais, e
como ele provoca alterações na dinâmica da sociedade receptora, que se reflete em
mudanças nos usos e costumes, na divisão social do trabalho, no relacionamento
interpessoal, o familiar, sem que haja contatos realmente interativos com a população
receptora. Este estudo conclui que a procura do turista urbano não passa somente pela
identificação com o espaço, mas, também, pelos diferentes tipos de utilização da
cidade, dando ênfase ao turista, sua cultura e a economia local, demonstrando que a
procura turística está diretamente ligada aos recursos, equipamentos e a infra-estrutura
neste espaço urbano. No item referente “a percepção espacial do Bairro da Liberdade”
é apresentada uma análise sobre os tipos de espaço e, a partir desta leitura, podemos
15
afirmar que o turista é um consumidor do espaço turístico, e que existem elementos que
são passiveis de atrair e provocar o deslocamento, demonstrando o apelo visual que é
explorado através do potencial turístico no bairro.
Neste trabalho procuramos demonstrar que a leitura da paisagem urbana do Bairro
da Liberdade depende de vários fatores e, estes poderão nos apresentar que existem
vários estudos que propõem uma tipologia espacial, com o intuito de sistematizar ou
caracterizar o espaço turístico criando modelos. Mas, diante da interdisciplinaridade,
optamos por uma leitura espacial de análise diacrônica, com o objetivo de investigar a
estrutura do bairro com características cênicas, demonstrando seu dinamismo, e que
apresenta fases de estabilidade e de transformação que aconteceu ou estão por vir.
16
1 Turismo: Trajetória histórica e evolução
Segundo Castelli (1990: 14), o Turismo nasceu da percepção do homem quanto
à imensidão do espaço em que vivia e de que poderia movimentar-se nele. Analisando
o processo histórico, chega-se à Antigüidade Grega, aos Jogos Olímpicos - festas
dedicadas a Zeus. A data, 776 a.C., parece marcar o primeiro evento turístico da
História e as raízes do turismo. Durante essas festas, as vilas recebiam muito bem os
forasteiros, pois Zeus costumava disfarçar-se no meio da multidão para assistir à
reunião dos gregos no Olimpo.
Nasce, assim, o espírito de hospitalidade que, se compararmos aos tempos de
hoje, é considerada uma das características fundamentais dos núcleos receptores. Com
o sucesso dos primeiros Jogos Olímpicos, outras cidades gregas, como Delfos e
Corinto, passaram a organizar seus jogos, concursos e outras atrações. Nessa época,
surgem as estâncias hidrominerais e as casas de veraneio para hospedar as pessoas
que buscam as águas termais. Com isso, os homens da Grécia antiga descobriam o
prazer de viajar e, portanto, passaram a buscá-lo. Não era mais somente o prazer de
guerrear e de comer, mas também o de viagem e de recreação. Se os gregos haviam
criado uma estrutura de lazer indispensável ao turismo, os romanos introduziram
algumas novidades, como por exemplo, os sistemas de comunicações, condição
essencial ao desenvolvimento das correntes turísticas. Rapidamente, essa civilização
concebeu que o turismo implicava movimento e, sendo assim, a infra-estrutura de
acesso torna-se importante.
As viagens de intercâmbio cultural surgem na Idade Média, quando as famílias
nobres enviam seus filhos para estudarem nos grandes centros culturais na Europa. Em
1160, o judeu Benjamim de Tudela, residente em Zaragoza, "(...) viajou através da
Europa, da Pérsia e da Índia"(...). Posteriormente, em 1271, foi o início das viagens de
Marco Polo, que visitou a China, e o motivo da viagem eram sempre exploratória e
comercial e foi considerada uma das "primeiras viagens turísticas de longo percurso".
Todos estes percursos foram feitos através dos oceanos, nos séculos XV e XVI e
marcando "o início do percurso de grandes cruzeiros marítimos", um deles foi a de
17
Fernão de Magalhães que deu a volta ao mundo. Com o surgimento do barco a vapor,
na segunda metade do século XVIII, "(...) as navegações tornaram-se mais seguras,
mais rápida e com maior capacidade de passageiros, (...)". Desta forma, com esta
evolução inicia-se um grande "intercâmbio turístico, entre a Europa e os demais
continentes”. (IGNARRA, 1999: 18-19).
Porém, os romanos, para realização de seus planos de conquista, abriram
amplas estradas, desenvolveram a navegação e acabaram criando as primeiras
"agências de viagens". Quando um forasteiro chegava a Roma, ele era confiado a um
"guia" que tomava conta de sua permanência. Outra contribuição dos romanos para o
turismo foram as grandes conquistas que ampliaram os períodos de folga sobre os dias
de trabalho, surgindo a necessidade de organizar o tempo livre.1 Com um maior tempo
disponível, poderiam dedicar-se mais ao lazer. Os romanos organizaram ainda um
calendário de eventos, criaram teatros, anfiteatros e circos, com capacidade para 225
mil espectadores. Próximos às águas termais, construíram inúmeras hospedarias e
verdadeiros palacetes. Desenvolveram nesses locais concursos, recitais, festas e jogos,
criando as temporadas sociais. Essa estrutura de lazer criada pelos romanos é invejável
na História, uma vez que paralelamente eles criaram também uma estrutura de gastos.
Porém, todo esse esplendor romano apagou-se com o cristianismo. Sob o ponto de
vista turístico, o cristianismo contribuiu com as peregrinações, desenvolvendo as
hospedarias, tanto em Roma como em Jerusalém. No entanto, estas peregrinações
cristãs não se comparam à evasão das massas turísticas que temos hoje.
Castelli (1990: 17) relata que, no fim do século XVI, a renascença italiana e as
grandes descobertas abriram novos horizontes para os europeus. Com o Renascimento
e o desenvolvimento das artes, letras, ciências e mudanças de costumes, criaram-se
alguns modos de viagens. Artistas e artesãos locomoviam-se de cidade em cidade, por
toda Europa, para edificarem e pintarem palácios, igrejas e outros monumentos.
Também, músicos e atores estavam continuamente nas estradas, visitando diversas
localidades. No século XVII, testemunhou-se, o surgimento de uma nova estrutura
urbana. Os estabelecimentos comerciais alinhavam-se um ao lado do outro, expondo
1
Atualmente “a maior quantidade do tempo livre para o lazer está associada ao progresso econômico, decorrente
do avanço tecnológico e da melhoria da qualidade dos recursos humanos”. Consultar RABAHY, Wilson Abrahão.
Turismo e desenvolvimento: estudos econômicos e estatísticos no planejamento. São Paulo: Manole, 2003.
18
seus produtos aos passantes e as carruagens foram incorporadas ao trânsito. Assim
concebidas, as cidades passaram a se constituir numa atração, aonde as pessoas
vinham para percorrer as vitrines, de modo semelhante ao que fazem milhares de
turistas na nossa época com o intuito de fazer compras.
A partir do século XVIII, com o aparecimento da máquina a vapor e de técnicas
bem mais refinadas, a vida do homem passa a ter uma nova feição. Ele consegue, com
a tecnologia, um máximo de rentabilidade em um tempo mínimo, reduzindo as horas de
trabalho, proporcionando maior renda per-capita e férias remuneradas, melhorando
comunicação e transporte, criando condições favoráveis às viagens em escala
acelerada. (CASTELLI, 1990:17)
Mario Jorge Pires (2001) afirma que, devido à Revolução Industrial é que surgem
condições para o turismo moderno. Não é possível precisar o momento em que se inicia
o turismo2, pois há uma escassez de bibliografia especializada, e geralmente os autores
estão mais interessados nos aspectos técnicos que históricos. Mas o turismo é um fato
de grandes transformações sócio-econômicas, tecnológicas e culturais. Já no século
XVIII, a base do turismo moderno foram inúmeras variáveis; a revolução nos
transportes, o fortalecimento das cidades e o prestígio da economia urbana em
expansão e, neste mesmo período e até as primeiras décadas do século XIX, as vias
para deslocamentos eram precárias, mas durante este período o vapor foi inserido
como forca motriz, (...) "aplicando tanto nas locomotivas quanto nas rodas de pás de
barcos. A propulsão à hélice superou as rodas de pás e gerou o conhecimento técnico
necessário para, mais tarde, compor as turbinas a vapor.”(...)3
Segundo Castelli (1990: 13), “A viagem turística atual é uma decorrência da
sociedade industrial. Sociedade esta que provocou uma concentração atual de pessoas
em cidades, de tal sorte que a fuga desse meio ambiente tornou-se até mesmo uma
questão de sobrevivência”. Tornou-se para o homem urbano uma necessidade ou,
como o autor afirma, “um produto de primeira necessidade” devido aos fatores externos
gerados pela concentração urbana.
2
Porém há controvérsia de quando realmente iniciou o turismo pois, cada autor expõe sua opinião e análise do fato.
No contexto das transformações ocorridas no Brasil do século XIX, a obra analisa a prestação de serviços daquela
época.
3
19
No século XIX, o inglês Thomas Cook inicia a comercialização do turismo e com
ele surgem as primeiras empresas do ramo, programando várias viagens em grupo que
movimentavam milhares de turistas. O século XX vem encontrar o fenômeno turístico
em pleno desenvolvimento, movimentando grandes massas. As modificações
econômicas e sociais provocadas pela Revolução Industrial e pelos meios de
comunicação que atingiram os transportes, o desenvolvimento das estradas e os
conceitos da prática do lazer em geral fortaleceram intensamente o setor turístico.
Ao relatar as questões ligadas às cidades vocacionadas ao turismo e seu
processo de turistificação, Henriques (2003: 39) afirma que, com o declínio de muitas
cidades nos anos 70, o turismo surge como uma alavanca e ainda como uma solução
para reverter o processo de decadência que surgiu com a “desindustrialização e dos
problemas de desemprego”, e todos os fatores associados a estes. Já nos anos 80 e 90
o reconhecimento do turismo urbano como um fenômeno de crescimento gerou
empregos associados aos serviços turísticos, com reflexo positivo e também negativo
na paisagem e no desenvolvimento da cidade, que em alguns momentos acabou
valorizando a paisagem urbana.
Segundo Castelli (1990: 59), no século XX o turismo tornou-se um fenômeno tão
marcante que, de acordo com previsões que foram feitas por especialistas e
organismos especializados na área do turismo, ele se constituiria na primeira atividade
mundial em termos de receita e no maior empregador de mão-de-obra por volta do
século XXI. Porém, se todos os fluxos não forem controlados, isto é, se não houver uma
educação para o turismo, tanto para as pessoas que viajam como para aquelas que
acolhem o turista, o colapso seria inevitável, devido à falta de pessoal capacitado para
atuar nos diversos setores, bem como de um maior planejamento dos recursos naturais.
Daí o interesse e mesmo a necessidade de pesquisas que ajudem no desenvolvimento
do Turismo.
Partindo desse histórico, observa-se a necessidade de conceituar o turismo, bem
como falar do seu desenvolvimento e da criação de instituições formadoras do turismo
como profissão.
20
Sartor (1977) destaca, dentre as várias definições, o turismo como sendo um
fenômeno produzido, envolvendo toda uma gama de recursos naturais, históricos,
culturais, sociais e de estrutura básica específica, de acordo com a demanda
consumidora em permanente deslocamento.
Nem toda viagem é turística, conforme observa Andrade (1995), pois o turismo
responde a algumas determinações convencionadas internacionalmente. Embora todas
as viagens importem em deslocamento físico e espacial e revertam em gastos e lucros,
o fenômeno turístico é um deslocamento realizado por prazer, a locais que despertem
algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo, em que se inclui prestação de serviços
necessários para atração das pessoas que desejam viajar. Portanto, o autor caracteriza
o turismo pelo tempo de permanência fora do local de residência habitual de quem
viaja, bem como pela utilização dos serviços oferecidos e equipamentos turísticos com
fins de lazer e recreação. Contudo, a viagem por si só, quaisquer que sejam suas
formas e duração, não se constitui um ato turístico.
A palavra turismo teve sua origem no inglês tourism, originário do francês tourisme.
Segundo Theobald (1997:06), etimologicamente, a palavra tour (francês) é derivada do
latim “tornare” e do grego “tornos”, significando um giro ou um círculo. Ou ainda, o
movimento ao redor de um ponto central ou eixo. O significado mudou no inglês
moderno, passando a representar especificamente “um giro”. O sufixo “ismo”
(turismo) é definido como uma ação ou processo, enquanto o sufixo “ista” (turista)
qualifica aquele que realiza uma determinada ação. Quando a palavra tour (francês) e
os sufixos isme e iste são agrupadas, representam a ação de um movimento ao redor de
um círculo. (THEOBALD, 1997 Apud BARBOSA, 2002: 69)
A febre pelas viagens que domina o mundo romântico e o que lhe é
imediatamente posterior deu origem a relatos de deslumbrados e impressões
sentimentais no confronto com a terra longínqua, grandiosa e caótica ou a descrição
onde a terra estranha aparecia como espaço a ser invadido se quisesse atingir o padrão
civilizado, a matriz da moda, da novidade, da vanguarda.
Simplesmente dizendo: turismo é uma passagem de ida-e-volta. De acordo com
o exposto, pode-se dizer que turismo é uma viagem realizada a um local fora da
residência habitual de quem viaja, por um período determinado em que se inclui
21
prestação de serviços e por qualquer razão que não seja a de exercer uma profissão
remunerada neste local. Desta forma, podemos ressaltar que: há definições como a de
Hunziker e Krapf “uma deslocação e permanência pouco prolongada de indivíduos fora
da respectiva área de residência habitual (...) não motivada por nenhuma actividade
directamente lucrativa”. (HUNZIKER, 1942 apud HENRIQUES, 2003: 21).
Segundo Margarita Barretto, o conceito de Turismo, na linguagem cotidiana, é
entendido normalmente como um “quase sinônimo de viagem”. Analisando o turismo
segundo critérios da motivação, aparece uma infinita variedade de possibilidade, que
pode ser agrupada em duas divisões, “o turismo motivado pela busca de atrativos
naturais e o turismo motivado pela busca de atrativos culturais”. (HENRIQUES,
2003:22)
Claudia Henriques afirma que, embora não sendo uma definição técnica, a OMT4
contribuiu em parte para esclarecer a natureza do turismo estabelecendo que:
- o turismo provém de um movimento e de uma estada de pessoas para e num
determinado destino;
- há dois elementos no turismo, o tempo de viagem até ao destino e a estada no
destino (incluindo actividades);
- a viagem e a estada tem lugar fora do local normal de residência e trabalho, de
modo que o turismo promove o crescimento de actividades que são distintas
daquelas que os residentes e trabalhadores tem nesse local;
- a deslocação para destinos turísticos é temporária e de duração reduzida, a intenção
é voltar a casa ao fim de poucos dias, semanas ou meses;
- os destinos são visitados com outros objectivos para além dos associados ao
emprego e residência permanente nesse lugar .
Para Mário Carlos Beni (2002: 64), o turismo requer mão-de-obra qualificada, por
isto, é visto como uma atividade econômica, atendendo e oferecendo serviços aos que
se deslocam de sua origem “por motivos profissionais, férias negócios, atividades
esportivas, de saúde, assuntos de família, culturais, ou por qualquer outra razão”. O
setor turístico gera renda e está inserido e atuando em vários ramos dos setores
“industriais e de produção”, provocando o desenvolvimento “intersetorial”. Neste
4
OMT – Organização Mundial de Turismo.
22
sentido. “(...) O produto turístico é o resultado da soma de recursos naturais e culturais
e serviços produzidos por uma pluralidade de empresas, algumas das quais operam a
transformação da matéria prima em produto acabado. (...)”. Neste caso, o consumidor
(o turista) se desloca até a área de consumo. Há uma “distribuição e circulação de
renda” gerada por este deslocamento provocado pelo fenômeno turístico, que é uma
atividade bastante produtiva. (BENI, 2002: 26).
E, neste contexto do uso e exploração do espaço, temos também o turismo de
massa que propicia o desenvolvimento e a produção de atrativos de grandes parques
temáticos, de grandes áreas de lazer organizado, de espaços “fabricados” para o
consumo em grande escala; de ambientes artificiais recriados com uso intensivo de
tecnologia, tanto na parte mecânica quanto na parte audiovisual de produção do real
(por exemplo, pista de esqui sintética, praias sem areia etc). A fabricação/produção
desses espaços implica, em primeiro lugar, grandes somas de dinheiro, que
normalmente
só
podem
ser
aportadas
às
economias
locais
por
empresas
multinacionais. Estas têm, via de regra, pouco comprometimento com a problemática
local, com as questões ambientais e com o retorno econômico para a população.
Grandes áreas são, muitas vezes, desmatadas ou inundadas para instalação destes
atrativos, provocando desequilíbrio no microssistema ecológico, mudança no regime de
chuvas ou migração avifauna nativa. Ao passo que falta de tratamento adequado do
esgoto leva em poucos anos à contaminação dos lençóis freáticos, poluindo a água,
que já não poderá ser bebida sem um processo de purificação, o que também acontece
por causa de substâncias químicas, como cloro, despejadas na água por parques
aquáticos, por exemplo.
Quando os lugares que recebem grandes contingentes de turistas, do tipo acima
analisado, têm histórico somado a todos os problemas ambientais, surge a problemática
de conciliar a necessidade de proteção com a percepção de invasão, ou a invasão real
dos espaços históricos por grandes contingentes.
Vimos que os autores citados têm visões de espaço e do estudo do turismo que
se fundem. Desta forma, a análise se complementa por ter um enlace maior com a
realidade, pois só o fenômeno turístico não se explica por si só, são necessários dados
e fundamentos.
23
Pode-se então deduzir que existe um amplo campo de análise do Turismo que ultrapassa
o enfoque econômico e se enquadra muito mais na sociologia, na psicologia e em outras
ciências. Na verdade, é preciso conhecer a satisfação que sentem as pessoas em
consumir o turismo, sua semelhança ou diferença em relação à proporcionada por
outros consumos, sua importância relacionada aos valores e às aspirações da
população consumidora e outras questões semelhantes. (BENI, 2002: 71)
A análise destas áreas serve para um estudo de comportamento que venha
responder a questões como, para quem se deve produzir o turismo, quem é o
beneficiário e em que organismo da sociedade está inserido; “cada um concorre ao
mercado para buscar o que quer, e os vendedores ou produtores devem prover o que
os compradores ou consumidores desejam comprar.” (BENI, 2002: 71)
Mário Carlos Beni afirma que o turismo é uma atividade que procura satisfazer a
necessidade do mercado consumidor, atendendo a demanda e oferecendo serviços;
conseqüentemente, gera empregos, pois está inserido em vários setores industriais e
de produção, provocando o desenvolvimento intersetorial, com isto, proporciona rendas,
sendo considerado o “setor propulsor da economia, enquanto o Turismo Internacional
origina circulação de divisas entre países, integrando os mercados de diversas regiões,
superando os limites políticos da territorialidade,”5 e assim acabam quebrando barreiras
socioculturais, históricas e outras. (BENI, 2002: 72)
O turismo abrange um conceito bem amplo, por isto, ainda hoje alguns
especialistas vêem o turismo como uma atividade humana e também econômica. Pois,
segundo Henriques:
Ao assentar em dois elementos essenciais, o motivo da viagem (móbil) e a deslocação
ou viagem em si, constitui-se como um importante ponto de ruptura epistemológica
com as anteriores formas de antever o turismo: - à percepção estrita de turismo
enquanto viagem recreativa ou de lazer substitui-se uma visão abrangente (lata) na
qual se passa a considerar uma multiplicidade de motivações possíveis na gênese dos
movimentos turísticos. (HENRIQUES 2003:21)
5
“Esta integração regional de interesses econômicos e predominância de mercado de consumo, conforme hoje
representada pela União Européia, Mercosul e Nafta.”
24
O turismo envolve muito mais que atividades, envolve o tempo, e no caso “o
tempo livre” que usamos para o lazer fora de nossas obrigações e atividades diárias.
Porém, nem todo turismo é tido como lazer. “O turismo moderno não se constitui
apenas como actividade de lazer, ele possui algumas características cruciais que o
distinguem de outras formas de lazer, (...) algumas definições de turismo incluem as
viagens de negócios, visitas de estudo”. (HENRIQUES, 2003: 25)
A atividade turística requer, além do tempo o espaço, que se caracteriza como
uma dimensão básica para a vida humana, onde o turista se apropria, e é chamado de
“espaço turístico”. Para Henriques (2003: 26), “um espaço se destina a satisfazer as
necessidades de pessoas a eles exteriores, ou seja, pessoas que se dispõem a sair do
seu local de residência ou trabalho atraídas pelos recursos existentes noutro espaço –
espaço de destino – ele artificializa-se, turistifica-se. Os recursos, as atracções
transformam então o espaço neutro em espaço de acolhimento”. Portanto, quando nos
referimos ao Turismo não podemos nos esquecer da dimensão espacial que o envolve,
que é a mudança temporária de espaço. Neste caso, podemos identificar espaços
turísticos costeiros, estações turísticas na neve, espaços turísticos rurais e espaços
turísticos urbanos, tendo em vista o desenvolvimento local e a estrutura adequada que
tornam estes espaços em atrações turísticas.
Para finalizar, identificaremos as formas de turismo. Segundo Geraldo Castelli,
dependendo da região, pode-se distinguir os seguintes tipos de turismo:
I - Turismo Interno são os residentes de um dado país que viajam unicamente dentro
do mesmo país;
II - Turismo receptivo: são os não-residentes que viajam dentro de um dado país;
III - Turismo Emissivo: são os residentes de um dado país que viajam para outro país.
(1990: 153)
Estas formas de turismo podem ser combinadas a diversas maneiras que
acabem produzindo outras categorias de turismo: “Turismo interior que inclui o
turismo interno e o turismo receptivo; Turismo Nacional que inclui o turismo
interno e o turismo emissivo; Turismo Internacional que se compõe de turismo
receptivo e turismo emissivo”.(nosso grifo) (CASTELLI, 1990: 153).
25
Entendemos que poderíamos ampliar as discussões sobre o assunto; porém,
dentro dos limites desta pesquisa, é possível que tenhamos levantado os elementos
necessários para a fundamentação do trabalho. Assim, dedicamo-nos a seguir ao
surgimento e desenvolvimento do Turismo no Brasil, um local ímpar que absorve
inúmeras atividades voltadas ao turismo.
26
2 Turismo no Brasil
O início da atividade turística no Brasil pode ser datado devido aos
acontecimentos mais marcantes em nosso país, o descobrimento, podendo ser
considerado um turismo de aventuras, ou viagens exploratórias, não só por
portugueses, mas também como “(...) documentos históricos mostram que navegadores
espanhóis, franceses, holandeses e ingleses exploraram as costas brasileiras (...)”.
IGNARRA (1999: 19)
Observando a história do turismo no país, nota-se que houve momentos menos e
outros mais propícios ao seu desenvolvimento. Porém, são os descobrimentos, as
feiras e a industrialização que representam fatos marcantes na sua evolução.
Segundo Sartor (1977), a palavra turismo foi usada pela primeira vez no Brasil
em documento oficial em 1932, no Decreto que fixava a Temporada de Turismo no
Distrito Federal. No Rio Grande do Sul em 28 de Janeiro de 1950, foi criado o Conselho
Estadual de Turismo. Em 1959, foi instalado o Serviço Estadual de Turismo e, em 1971,
a Secretaria de Estado do Turismo que estruturou o sistema de turismo nesse Estado.
Alguns acontecimentos ocorridos na década de 1930 assinalaram interesse pelo
Turismo no Rio Grande do Sul: as festividades do Centenário Farroupilha, a Primeira
Festa da Uva realizada em Caxias do Sul, a Exposição Farroupilha e a fundação do
Touring Clube do Brasil, Secção do Rio Grande do Sul, uma entidade associativa de
obra pioneira em favor do Turismo, conhecida no Brasil e no mundo.
Data do período entre 1940 e 1950 o fenômeno sócio-econômico característico
do Estado gaúcho: o "veraneio". Inicialmente, tendo como pólos principais o litoral
(Tramandaí) e a Serra (Caxias do Sul). Na década seguinte, os fluxos deslocaram-se
também para as estâncias hidrominerais, denominadas popularmente de "estação de
águas". Igualmente, nessa época, foram instaladas as agências de viagens, entre as
quais a Exprinter que foi a pioneira.
Neste sentido, GIARETTA (1987: 171-177) revela que o
turismo foi
institucionalizado no Brasil em 1966, durante o governo do Presidente Castelo Branco,
27
através do Conselho Nacional de Turismo e do Instituto Brasileiro de Turismo
(EMBRATUR). Com a EMBRATUR, inicia-se o processo de regulamentação das
atividades turísticas e de desenvolvimento de novos núcleos turísticos em todo o país.
Com a institucionalização do turismo no Brasil, cresce a preocupação em tratar o setor
com mais atenção. Destaca-se, em particular, a urgência da formação de profissionais
qualificados para atuar nessa nova área e preparados para atuar em empresas e
órgãos turísticos.
No Brasil, assim como no mundo todo, existem órgãos regulamentadores como:
Ministério do Turismo: Sua missão é desenvolver o turismo como uma atividade
econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas,
proporcionando a inclusão social. Secretaria Nacional de Políticas do Turismo: Seu
papel é executar a política nacional para o setor, orientada pelas diretrizes do Conselho
Nacional do Turismo. É responsável pela promoção interna e zela pela qualidade da
prestação do serviço turístico brasileiro. Secretaria Nacional de Programas de
Desenvolvimento do Turismo: Sua atribuição é promover o desenvolvimento da infraestrutura e a melhoria da qualidade dos serviços prestados ao turismo. EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo: Na época de sua criação, em 18 de novembro de 1966,
o principal objetivo da EMBRATUR era fomentar a atividade turística, criando
condições para a geração de emprego, renda e desenvolvimento em todo o país.6
O Turismo estrutura-se em cada município brasileiro de acordo com sua
realidade através da administração municipal em suas “secretarias, departamentos,
divisão, setor, serviço, centro, comissão, fundação, assessoria, conselho, diretoria,
coordenadoria, unidade, supervisão, autarquia, equipe e empresas.” (CASTELLI, 1990:
87) Existem também as organizações nacionais não-governamentais e internacionais,
que surgiram com o intuito de buscarem soluções para os problemas existentes na área
e, paralelamente, trabalharem com as organizações governamentais.
Apresentamos a seguir, uma breve avaliação da conjuntura econômica e sua
influência sobre o turismo, que mostrará como este mercado está sujeito a variações
com o passar dos anos e como tais fatores influenciam na demanda turística em
determinados países.
6
Portal Brasileiro de Turismo: Missão. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/> Acesso em: 17 mai.2008.
28
2.1 Análise do ambiente econômico nacional
O turismo nos mostra diversificadas vertentes em determinados períodos que
são cruciais ao empreendimento turístico global.
Um dos fatos mais importantes em que podemos constatar esta decisiva
mudança no segmento turístico é a queda do intocável império norte-americano que,
por muito tempo, foi almejado e citado como estereótipo de lazer e cultura por uma
grande parte da sociedade mundial. Esta concepção passa a ser repensada pela
sociedade após o atentado de 11 de setembro 2001 em que o fluxo de viagens às
cidades norte-americanas despenca do “ranking” na escolha turística universal, visto
que a segurança é fator fundamental desta escolha.
O turista do século XXI pós-atentados tem um novo perfil, ele quer viajar mais
vezes, porém, por períodos menores e o preço da viagem tem que ser justo. A
motivação para arrumar as malas está atrelada a roteiros temáticos, em especial de
esportes e culturais, conforme descreve a OMT7 como novo comportamento de viajante
no relatório "o impacto dos ataques de 11 de setembro no turismo: a luz do fim do
túnel".8
Com a insegurança devido aos atentados houve uma mudança de destinos na
época, o turista preferiu visitar os países europeus entre eles a França (que se encontra
no 1° lugar no ranking) e a Espanha (2° lugar no ranking) que apresentam suas obras
da arquitetura, culturas entre outros atrativos.9
Outro fator importante na queda de fluxo turístico foram as restrições emitidas
pela autoridade norte-americana que visa a controlar a entrada de estrangeiros e limitar
a estada dos mesmos dentro do território nacional americano. Dentro destas medidas,
podemos citar a obrigatoriedade da retirada da impressão digital (principalmente de
estrangeiros de origem árabe) imposta para registrar a entrada e a permanência do
7
Organização Mundial de Turismo.
FONTE: Organização Mundial do Turismo – Dados de 2001 a 2005. Anuário Estatístico EMBRATUR 2006. p.
223.
9
FONTE: Organização Mundial do Turismo – Op. Cit. 2006.
8
29
turista. Outro aspecto importante é o fato de terem sido espalhadas câmeras por todo o
país para que todas as pessoas, inclusive o turista seja observado e, desta forma, o
serviço de inteligência possa ter um controle maior sobre seus visitantes, esquecendo a
privacidade de cada cidadão.
Um
dos
maiores
emissores
de
visitantes
que
contribuíram
para
o
desenvolvimento do segmento turístico nos Estados Unidos foi o Brasil, mas este índice
sofreu uma queda após o atentado, devido à insegurança dos pontos de visitação que
são alvos de ataques terroristas e a desvalorização da moeda nacional que atingiu
diretamente a economia brasileira na época. Isto fez que a preferência das viagens
girasse em torno de pacotes domésticos que são mais acessíveis ao bolso do
consumidor brasileiro. Vale saber que no ano de 2001 o turismo internacional diminuiu
1,3%. Esta porcentagem representa nove milhões a menos de pessoas viajando do que
em relação ao ano de 2000.10
Com a queda do fluxo turístico no exterior, as companhias aéreas baixaram os
valores das passagens para atrair visitantes em outras áreas de atuação dentro do
próprio país, com o intuito de manter o seu padrão de demanda turística visto que seu
consumidor passou a ser mais exigente em relação à escolha de seu destino e
começou a valorizar entre outras coisas, o preço justo. Assim, uma das opções do
consumidor foi a contenção de despesas que os direcionou ao uso da internet para
comprarem suas passagens aéreas e a criar seu pacote pela internet, onde se verificam
a junção de tecnologia, praticidade e economia. Um dado importante é que há menos
turistas viajando de ônibus e mais pessoas voando de avião. Isto ocorreu devido ao
surgimento de empresas aéreas de baixo custo, ou seja, o fator tempo de locomoção e
custo são os principais determinantes da demanda neste setor.11
Apenas 1,7% dos brasileiros que viajaram no ano de 2001 foram para o exterior.
Saltamos de 38 milhões de turistas domésticos em 98 para 42 milhões em 2001. Nestes
10
11
FONTE: Organização Mundial do Turismo – Op. Cit. 2006.
FONTE: Organização Mundial do Turismo – Op. Cit. 2006.
30
últimos quatro anos, o movimento para fora do Brasil caiu 30%, enquanto o volume de
brasileiros viajando em território nacional cresceu 11%.12
Mas os brasileiros não são os únicos que estão limitando seus gastos, pois,
nossos vizinhos argentinos representam a grande maioria dos turistas que visitam o
Brasil. Eles passaram por crises de desvalorização de moeda e por forte crise política,
que afetou diretamente o Brasil, economicamente, entre outros, no setor turístico, visto
a baixa visitação ao Sul de nosso país, contradizendo a previsão efetuada e comparada
ao histórico de anos anteriores. O fluxo de visitantes atuais reduziu seus gastos de
consumo.13
Algo que não se deve ignorar é que, em tempos atuais, vivemos no mundo
globalizado. Isso significa que turbulência em outras economias mundiais contagia a
nossa. Em se tratando de país emergente, o Brasil não poderia jamais julgar-se imune
aos terremotos ocorridos em outras economias mundiais. Dependente do FMI,14 o
Brasil deve se dobrar às exigências e imposições externas se não quiser ficar à
margem da história. Dessa forma, a desinflação, o crescimento econômico e o combate
à recessão são condicionantes na vida econômica de nosso país. Para isso, o Brasil
deve lançar mão de todos os recursos de que dispõe, tais como controle do cambio,
vigilância sobre as taxas de juros, incremento das exportações, cautela acentuada nas
importações para evitar déficits na balança comercial.
O setor do turismo pode ser dividido em doméstico e internacional. Em ambos os
casos, o impacto do turismo na economia é considerável, sendo capaz de redistribuir
renda, captar divisas, gerar empregos, incrementar outros setores econômicos,
aumentar a arrecadação fiscal, promover o desenvolvimento regional e introduzir novos
investimentos com benefícios sociais.
A rigor, os gastos dos turistas internacionais fazem parte do PIB15 turístico como
um todo, mas são geralmente classificados a parte devido ao seu impacto no balanço
12
Esses são alguns números apurados pela pesquisa "caracterização e dimensionamento do turismo doméstico no
Brasil 2000/2001", que foi realizada pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas, da Universidade de São Paulo
(Fipe/USP), a pedido da EMBRATUR.
13
OMT – Op. cit. 2006. p. 15.
14
Fundo Monetário Internacional.
15
Produto Interno Bruto.
31
de pagamento como fonte de captação de divisas. A maioria dos países em
desenvolvimento está empenhada em melhorar o seu desempenho na Balança de
Serviços, onde as receitas provenientes dos gastos dos turistas estrangeiros no país
servem para compensar os gastos que estes países têm com royalties, know-how,
seguro, frete etc.
As ações desencadeadas pelas atividades turísticas em um determinado país
criam, normalmente, maior oportunidade de emprego do que as realizadas em qualquer
outro setor do sistema econômico. Três tipos de emprego têm sido apontados: primeiro,
o emprego direto resultante das atividades turísticas em todos os tipos de alojamento:
hotéis, motéis, colônias de férias, spas, pousadas e pensões, apart-hotéis, casas e
apartamentos para alugar etc., o emprego indireto em todos os tipos de negócios
afetados pelo turismo de forma secundária, tais como parques temáticos, restaurantes,
bares, shopping centers, transportes e bancos, dentre outros. E, finalmente, o emprego
induzido pelo gasto dos residentes locais de suas rendas obtidas no setor turístico. Da
mesma forma, pode-se dizer que o emprego no setor de turismo pode ser tipo
anual/sazonal,
tempo
integral/parcial,
familiar/assalariado,
manual/não
manual,
qualificado/não qualificado, formal/informal, etc.16
Outro impacto direto resultante do desenvolvimento das atividades turísticas é a
redistribuição de renda entre as regiões. O processo de industrialização tardia resultou
em concentração de renda e riquezas em determinadas regiões. (norte da Espanha,
Norte da Itália, Sul do Brasil etc). O turismo torna-se um instrumento de redistribuição
de renda na medida em que se criam pólos de turismo nas regiões atrasadas e que
estas atraem visitantes de maior poder aquisitivo das regiões mais desenvolvidas.
Segundo RABAHY (2003), em relação aos impactos indiretos do turismo na
economia, devem-se listar o desenvolvimento da infra-estrutura de mercado para certos
produtos, a aceleração fiscal e o efeito multiplicador. Pode-se afirmar que uma infraestrutura de transporte e comunicação, em uma área de interesse turístico, induz
investimentos em hotéis, que atrairão visitantes cujos gastos serão, em parte, revertidos
16
OLIVEIRA, Joseane “et alii”. Fazenda e Pousada Lumiar: A inserção do produto objeto da análise no Turismo e
na economia do país. 168 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo – Ênfase em Hotelaria) –
Universidade Paulista, São Paulo, 2002. (p. 48-52)
32
em impostos para o setor público. Este, com acréscimo de receitas poderão melhorar a
infra-estrutura social como um todo.
É interessante destacar o efeito multiplicador das atividades turísticas sobre a
renda e o emprego. O efeito sobre a renda auferida com as atividades do setor é maior
do que o valor da soma original, e decorre do fato de que cada unidade monetária
recebida gera várias transações, cujo número depende do nível de desenvolvimento da
economia. Quanto ao efeito sobre o emprego, estima-se que os empregos diretos criam
geralmente de 4 a 5 empregos indiretos. Os tipos de estabelecimentos que mais
absorvem mão-de-obra são alojamentos, transporte turístico, bares, restaurantes e
parques temáticos (específicos, aquáticos e de diversão).17
A exemplo das demais atividades econômicas, o turismo, através dos impostos
diretos e indiretos, gera renda para o governo em todos os níveis: federal, estadual e
municipal. O crescimento da arrecadação fiscal permite o aumento dos investimentos
em infra-estrutura (estradas, redes de esgoto, redes telefônicas, melhorias urbanas
etc.). Estas melhorias induzem a novos investimentos de acomodação, diversão e lazer.
Acreditamos que, apesar da forte sensibilidade a que estamos expostos em
nosso setor, dispomos de atrativos turísticos diversificados, que aliado à melhoria da
infra-estrutura básica do turismo, qualificação da mão-de-obra, divulgação de nosso
produto e vontade política, certamente poderemos aumentar positivamente nossa
contribuição na economia do país.
O Turismo no país oferece ao turista brasileiro e estrangeiro, variadas opções.
Nos últimos anos, alguns governantes se esforçaram para o desenvolvimento de infraestrutura, e políticas públicas para alavancar este fenômeno no nosso país.
Percebemos pelo aumento da procura pela Amazônia na região Norte, o litoral do
Nordeste, o Pantanal e o Planalto Central no Centro Oeste, o turismo histórico na região
de Minas Gerais o litoral do Rio de Janeiro, e o turismo de negócios em São Paulo, e
também o clima frio no Sul do país. Estatísticas da OMT apontam que:18
17
Discussão em sala de aula sobre aspectos sócio-econômicos da indústria hoteleira (mai.2007).
Turismo no Brasil. 2007. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_em_S%C3%A3o_Paulo> Acesso
em: 01. mai. 2007.
18
33
Os esforços no sentido de desenvolver o turismo no Brasil têm surtido o resultado
esperado. Nos últimos anos, conforme mostra a tabela abaixo, os números são
recordes na série histórica para o país e o turismo brasileiro cresceu em 2004 e 2005
mais do que os principais países no ranking da OMT. O objetivo do governo federal,
segundo plano plurianual para o turismo é alcançar 9 milhões de turistas estrangeiros
em 2007. Em 2005, o Brasil recebeu 4,0% do total de turistas estrangeiros nas
Américas.
Tabela do Capítulo 2.1
TABELA 1
NÚMEROS DO TURISMO NO BRASIL
Estatísticas históricas do Turismo Internacional no Brasil
Ano
1995
2000
2003
2004
Turistas estrangeiros (1000)
Variação anual (%)
Receita gerada (milhões de USD)
Variação anual (%)
1 991
972
-
5 313
1 810
-
4 133
2 479
-
2005
2006
4 794
5 358
5 019
16,0
11,8
-6,3
3 222
3 861
4 316
30,0
19,8
1,1
FONTE: Turismo no Brasil. 2007. Disponível em: <http://institucional.turismo.gov.br/Mintur/>
Acesso em: 01.mai.2007.
Estes números apresentados são respostas ao grande diferencial que o Brasil
tem para mostrar ao turista do mundo todo. A quantidade de cidades litorâneas e suas
belas praias contribuem para que haja o desenvolvimento do turismo, a hospitalidade,
os hábitos seculares preservados do povo brasileiro que também é um atrativo a mais.
O nordeste brasileiro abriga grande número de patrimônio culturais da humanidade,
sendo um diferencial. Temos também os grandes centros urbanos como São Paulo que
oferece as mais variadas atrações históricas, naturais e econômicas. Esta cidade, cuja
característica principal são os negócios, é considerada a capital econômica da América
Latina. “Segundo dados do setor, acontece um evento a cada 6 minutos na cidade. São
Paulo, a maior cidade do país também possui a maior rede hoteleira brasileira. Por
especulação imobiliária em meados dos anos 1990, hoje existe excesso de oferta em
número de vagas.” Porém, a cidade também vive de seu turismo gastronômico e
34
recebeu “(...) o título de capital mundial da gastronomia. Os melhores restaurantes do
Brasil ficam na metrópole paulistana, bem como uma enorme variedade de culinárias
para todos os bolsos. O turismo cultural também é destaque dada a quantidade de
museus, teatros, eventos como a Bienal de Artes e a Bienal do Livro”. 19
A seguir, apresentamos uma breve análise do mercado turístico, números
retirados do anuário da EMBRATUR 2006.
A tabela 2 apresenta informações referentes ao turismo internacional no Brasil,
mostrando os principais mercados emissores no ano de 2005 e 2006. Através dele,
podemos observar que um dos maiores emissores são os países vizinhos.
Tabela do Capítulo 2.1
TABELA 2
TURISMO RECEPTIVO
PRINCIPAIS MERCADOS EMISSORES DE TURISTAS PARA O BRASIL - 2005
Principais Emissores de Turistas para o Brasil - 2005/2006
Principais Países
de destino
2005
Número de
2006
%
Ranking
992.299
18,52
1º
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
793.559
14,81
PORTUGAL
357.640
6,67
ITÁLIA
303.878
5,67
URUGUAI
341.647
ALEMANHA
308.598
ARGENTINA
Turistas
Número de
%
Ranking
921.061
18,35
1º
2º
721.633
14,38
2º
3º
312.521
6,23
3º
6º
291.898
5,82
4º
6,38
4º
290.240
5,78
5º
5,76
5º
277.182
5,52
6º
Turistas
FRANÇA
252.099
4,70
7º
275.913
5,50
7º
ESPANHA
172.979
3,23
9º
211.741
4,22
8º
PARAGUAI
249.030
4,65
8º
198.958
3,96
9º
INGLATERRA
169.514
3,16
11º
169.627
3,38
10º
11º
CHILE
169.953
3,17
10º
148.327
2,96
HOLANDA
109.708
2,05
12º
86.122
1,72
12º
SUIÇA
89.789
1,68
13º
84.816
1,69
13º
JAPÃO
68.066
1,27
16º
74.638
1,49
14º
MÉXICO
73.118
1,36
15º
70.862
1,41
15º
CANADÁ
75.100
1,40
14º
62.603
1,25
16º
OUTROS
831.193
15,51
-
820.849
16,35
-
FONTE: PDF/ EMBRATUR (estatísticas básicas do turismo/Brasil 2002 a 2006 -22nov. 07.)
19
Disponível em: </ http://www.braziltour.com/site/br/dados_fatos/conteudo/emissores_turistas.php?in_secao=404> Acesso em:
01.mai.2007.
35
No gráfico 1, apresentamos a entrada de turistas estrangeiros e suas vias de
acesso. (aérea, marítima, terrestre ou fluvial), evidenciando a grande maioria que teve
como acesso a aérea.
Gráfico do Capítulo 2.1
GRÁFICO 1
TURISMO RECEPTIVO
ENTRADA DE TURISTAS NO BRASIL, POR VIA DE ACESSO - 2005
VIA TERRESTRE 24,5%
VIA MARÍTIMA 1,5%
VIA AÉREA 73,5%
VIA FLUVIAL 0,5%
FONTE: PDF/ EMBRATUR (estatísticas básicas do turismo/Brasil 2002 a 2006 -22nov. 07.)
Na tabela 3 a seguir, é mostrado o estudo da demanda turística internacional em
2004 e 2005. Trazendo um estudo sobre a característica da viagem, os tipos de
alojamento, a despesa média, os destinos mais visitados entre outros fatores
pertinentes à demanda internacional e ao seu consumo. E, na tabela 4 é apresentada
uma síntese do motivo da viagem, que é o lazer.
36
Tabela do Capítulo 2.1
TABELA 3
TURISMO RECEPTIVO: ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL
SÍNTESE BRASIL – 2004 - 2005
CARACTERÍSTICA DA VIAGEM
2004
Motivação da viagem
FIDELIZAÇÃO AO DESTINO
2005
(%)
2004
2005
Freqüência de visita ao Brasil
(%)
Lazer
48,5
44,4
Primeira vez
33,4
34,5
Negócios, eventos e convenções
28,7
29,1
Outras vezes
66,6
65,5
Visitar amigos e parentes
18,1
22,6
Intenção de retorno ao Brasil
Estudo ou curso
1,6
1,3
Sim
96,3
96,9
Outros
3,1
2,6
Não
3,7
3,1
Tipo de alojamento utilizado
(%)
PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO
(%)
Hotel, Flat ou Pousada
64,2
59,7
Idade
Casa de amigos e parentes
20,8
24,3
De 18 a 24 anos
8,5
(%)
8,8
Casa alugada
9,1
8,1
De 25 a 31 anos
17,6
19,7
26,4
Casa própria
3,5
2,8
De 32 a 40 anos
26,3
Camping ou albergue
1,6
2,0
De 41 a 50 anos
24,1
24,2
Resort
-
1,7
De 51 a 59 anos
14,4
13,7
Outros
0,8
Acima de 60 anos
9,1
Gasto médio per capita dia no Brasil
1,4
(US$)
7,2
Grau de instrução
(%)
Lazer
57,90
80,78
Sem educação formal
0,6
0,1
Negócios, eventos e convenções
98,21
112,76
Fundamental
2,6
4,1
Outros motivos
48,28
60,18
Médio
32,0
26,9
Total
62,77
78,51
Superior
47,6
49,58
Pós-graduação
17,2
12,0
Renda média per capita mês
Permanência média no Brasil
(Dias)
Lazer
11,9
19,1
(US$)
Negócios, eventos e convenções
9,1
8,1
Familiar
4.175,65
4.090,30
Outros
18,9
18,9
Individual
3.153,53
3.204,51
Total
12,7
12,7
DESTINOS MAIS VISITADOS
Lazer
GRAU DE SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO À VIAGEM
Nível de satisfação com a viagem
(%)
26,2
29,4
59,3
56,9
Rio de Janeiro - RJ
33,9
31,5
Atendeu plenamente
Foz do Iguaçu - PR
21,7
17,0
Atendeu em parte
São Paulo - SP
13,6
13,6
Decepcionou
Florianópolis -SC
11,9
12,1
Salvador - BA
14,2
Negócios, eventos e convenções
12,0
11,6
2,5
2,1
AVALIAÇÃO DA VIAGEM
11,5
(%)
(%)
Superou
Positiva
Negativa
Infra-estrutura
Positiva
Negativa
78,7
21,3
(%)
São Paulo - SP
51,4
49,4
Limpeza pública
Rio de Janeiro - RJ
24,6
22,3
Segurança pública
Porto Alegre - RS
7,0
8,2
Serviço de táxi
89,1
10,9
89,6
10,4
Curitiba - PR
5,6
5,4
Transporte público
82,7
17,3
84,6
15,4
Belo Horizonte - MG
4,5
4,1
Telecomunicações
78,3
21,7
77,0
23,0
Sinalização Turística
74,1
25,9
75,4
24,6
Outros Motivos
(%)
São Paulo - SP
30,4
32,5
76,1
75,9
Infra-estrutura turística
23,9
24,1
78,6
21,4
(%)
Rio de Janeiro - RJ
26,7
25,0
Aeroporto
85,7
14,3
86,9
13,1
Belo Horizonte - MG
6,5
6,4
Restaurante
94,1
5,9
95,0
5,0
Salvador - BA
7,6
6,3
Alojamento
95,9
4,1
95,5
4,5
Foz do Iguaçu - PR
6,3
5,1
Diversão noturna
91,3
8,7
91,8
8,2
Guias de turismo
88,8
11,2
90,8
9,2
14,0
Informação turística
86,3
13,7
87,3
12,7
ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM
Utilização da agência de viagem
Sim, pacote
Serviços turísticos
(%)
17,5
(%)
Sim, serviços avulsos
28,8
24,4
Hospitalidade
98,2
1,8
98,1
1,9
Não
53,7
61,6
Gastronomia
95,5
4,5
96,1
3,9
FONTE: Estudo da Demanda Turística – 2004 e 2005 – EMBRATUR/FIPE
Tabela do Capítulo 2.1
37
TABELA 4
TURISMO RECEPTIVO: ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL
SÍNTESE BRASIL POR MOTIVO DE VIAGEM – LAZER - 2004 - 2005
CARACTERÍSTICA DA VIAGEM
PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO
2004
TIPO DE ALOJAMENTO
2005
(%)
2004
2005
Idade
(%)
Hotel, Flat ou Pousada
68,6
65,3
De 18 a 24 anos
9,2
Casa alugada
16,2
15,5
De 25 a 31 anos
17,6
10,0
20,8
Casa de amigos e parentes
9,6
10,6
De 32 a 40 anos
25,3
25,3
Resort
-
3,1
De 41 a 50 anos
23,1
22,3
Camping ou albergue
2,9
2,5
De 51 a 59 anos
14,6
13,7
Casa própria
2,2
1,8
Acima de 60 anos
10,2
Outros
0,5
1,2
Grau de Instrução
Gasto médio per capita dia no Brasil
(US$)
57,99
Permanência média no Brasil
80,58
(dias)
11,9
12,0
DESTINOS MAIS VISITADOS
7,9
(%)
Sem educação formal
0,1
Fundamental
2,8
0,1
3,7
Médio
36,4
30,3
Superior
48,5
51,6
Pós-graduação
12,2
14,3
Rio de Janeiro - RJ
33,9
31,5
Renda média per capita mês
Foz do Iguaçu - PR
21,7
17,0
Familiar
3.318,39
3.284,11
São Paulo - SP
13,6
13,6
Individual
2.467,69
2.475,00
Florianópolis -SC
11,9
12,1
Salvador - BA
14,2
11,5
Nível de satisfação com a viagem
Balneário de Camboriú -SC
6,1
6,7
Superou
29,2
35,6
Fortaleza -CE
6,5
6,4
Atendeu plenamente
58,0
52,4
GRAU DE SATISFAÇÃO EM REALIZAÇÃO À VIAGEM
Natal - RN
2,7
5,8
Atendeu em parte
Armação dos Búzios - RJ
5,8
5,4
Decepcionou
Manaus - AM
4,0
4,0
Recife - PE
3,5
3,2
Curitiba - PR
4,0
3,2
(US$)
(%)
11,4
10,5
1,4
1,5
AVALIAÇÃO DA VIAGEM
Positiva
Negativa
Positiva
Negativa
(%)
Infra-estrutura
Bombinhas - SC
2,6
3,1
Limpeza pública
81,4
18,6
83,2
16,8
Parati - RJ
2,9
2,2
Segurança pública
82,7
17,3
85,6
14,4
Porto Seguro - BA
2,6
2,1
13,1
ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM
Utilização da agência de viagem
(%)
Serviço de táxi
88,2
11,8
86,9
Transporte público
87,9
12,1
87,7
12,3
Telecomunicações
76,2
23,8
76,9
23,1
81,3
18,7
80,1
19,9
Sim, pacote
30,1
25,8
Sinalização Turística
Sim, serviços avulsos
17,8
14,3
Infra-estrutura turística
Não
52,1
59,9
Aeroporto
86,6
13,4
84,7
15,3
Restaurante
92,9
7,1
94,7
5,3
Alojamento
95,3
4,7
95,2
4,8
40,7
Diversão noturna
91,0
9,0
91,8
8,2
59,3
Serviços turísticos
Guias de turismo
90,7
9,3
92,5
7,5
Informação turística
89,4
10,6
89,3
10,7
Hospitalidade
98,4
1,6
98,1
1,9
Gastronomia
93,9
6,1
95,2
4,8
FIDELIZAÇÃO AO DESTINO
Freqüência de visitação ao Brasil
(%)
Primeira vez
40,6
Outras vezes
59,4
Intenção de retorno ao Brasil
(%)
(%)
Sim
95,7
95,9
Não
4,3
4,1
FONTE: Estudo da Demanda Turística – 2004 e 2005 – EMBRATUR/FIPE
(%)
38
Tabela do Capítulo 2.1
TABELA 5
TURISMO RECEPTIVO: ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL
SÍNTESE BRASIL POR MOTIVO DE VIAGEM – NEGÓCIOS, EVENTOS E
CONVENÇÕES – 2004 - 2005
CARACTERÍSTICA DA VIAGEM
PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO
2004
TIPO DE ALOJAMENTO
2005
(%)
2004
2005
Idade
(%)
Hotel, Flat ou Pousada
87,1
88,1
De 18 a 24 anos
2,8
2,50
Casa de amigos e parentes
7,0
5,2
De 25 a 31 anos
14,6
15,8
Casa própria
2,8
1,9
De 32 a 40 anos
31,0
29,7
Casa alugada
2,0
1,7
De 41 a 50 anos
29,6
31,1
Camping ou albergue
0,3
0,9
De 51 a 59 anos
15,6
15,1
Resort
-
0,6
Acima de 60 anos
8,4
Outros
0,8
1,6
Grau de Instrução
Gasto médio per capita dia no Brasil
(US$)
97,99
Permanência média no Brasil
112,90
(dias)
9,1
8,1
DESTINOS MAIS VISITADOS
5,8
(%)
Sem educação formal
0,1
Fundamental
0,9
0,1
1,5
Médio
17,6
12,3
Superior
53,0
55,6
Pós-graduação
28,4
30,5
São Paulo - SP
51,4
49,4
Renda média per capita mês
Rio de Janeiro - RJ
24,6
22,3
Familiar
5.569,89
(US$)
5.369,13
Porto Alegre
7,0
8,2
Individual
4.459,07
4.554,77
GRAU DE SATISFAÇÃO EM REALIZAÇÃO À VIAGEM
Curitiba - PR
5,6
5,4
Belo Horizonte - MG
4,5
4,1
Nível de satisfação com a viagem
Campinas - SP
3,7
4,1
Superou
19,8
20,0
Brasília - DF
3,6
3,4
Atendeu plenamente
65,0
65,3
Foz do Iguaçu - PR
3,7
3,0
Atendeu em parte
Salvador - BA
4,4
2,7
Decepcionou
Florianópolis -SC
2,5
1,8
Manaus - AM
2,0
1,6
Fortaleza - CE
2,5
1,6
(%)
13,4
13,1
1,8
1,8
AVALIAÇÃO DA VIAGEM
Positiva
Negativa
Positiva
Negativa
(%)
Infra-estrutura
Recife - PE
1,9
1,5
Limpeza pública
72,9
27,1
76,6
23,4
São José dos campos - SP
1,6
1,5
Segurança pública
71,0
29,0
75,8
24,2
Vitória - ES
1,4
1,4
Serviço de táxi
90,5
9,5
91,3
8,7
Transporte público
79,6
20,4
85,8
14,2
ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM
Utilização da agência de viagem
Sim, pacote
(%)
8,1
Telecomunicações
80,5
19,5
80,6
19,4
5,5
Sinalização Turística
68,7
31,3
71,5
28,5
Sim, serviços avulsos
38,0
32,2
Infra-estrutura turística
Não
53,9
62,3
Aeroporto
83,8
16,2
87,5
12,5
Restaurante
96,3
3,7
96,0
4,0
Alojamento
96,8
3,2
96,3
3,7
31,3
Diversão noturna
93,6
6,4
93,7
6,3
68,7
Serviços turísticos
Guias de turismo
85,6
14,4
85,0
15,0
Informação turística
82,8
17,2
83,3
16,7
Hospitalidade
98,5
1,5
98,1
1,9
Gastronomia
97,7
2,3
96,8
3,2
FIDELIZAÇÃO AO DESTINO
Freqüência de visitação ao Brasil
(%)
Primeira vez
26,6
Outras vezes
73,4
Intenção de retorno ao Brasil
Sim
Não
(%)
98,0
2,0
97,9
2,1
FONTE: Estudo da Demanda Turística – 2004 e 2005 – EMBRATUR/FIPE
(%)
(%)
39
Um dos grandes mercados que move o país são os eventos. Nesta tabela
veremos os eventos internacionais realizados no Brasil por cidades brasileiras, nos
anos de 2004 e 2005, apresentando o Rio de Janeiro e São Paulo como um dos
maiores realizadores. “A ICCA considera como internacionais os eventos itinerantes,
com periodicidade fixa, com um mínimo de 50 participantes, e que estejam pelo menos
em sua terceira edição” 20.
Tabela do Capítulo 2.1
TABELA 6
TURISMO RECEPTIVO: EVENTOS INTERNACIONAIS - NÚMERO DE EVENTOS
INTERNACIONAIS REALIZADOS NO BRASIL POR CIDADE – 2004 - 2005
CIDADE
2004
2005
RIO DE JANEIRO
36
39
SÃO PAULO
21
29
SALVADOR
9
18
FOZ DO IGUAÇU
6
8
BRASÍLIA
4
6
CURITIBA
3
4
PORTO ALEGRE
7
4
RECIFE
3
4
ARACAJU
0
3
FLORIANÓPOLIS
6
3
UBERLÂNDIA
0
3
BELO HORIZONTE
2
2
GUARUJÁ
0
2
VITÓRIA
0
2
FORTALEZA
4
0
NATAL
2
0
OUTRAS
11
18
TOTAL
114
145
FONTE: ICCA – Internacional Congress & Convencion Association – (ANUÁRIO ESTATÍSTICO EMBRATUR)
NOTA: São considerados internacionais os eventos intinerantes, com periodicidade fixa, mínimo de 50 participantes,
que estejam pelo menos em sua terceira edição – Dados de 2004 revisados
As informações descritas confirmam a forte sensibilidade do setor turístico e as
influências sofridas que podem mudar a qualquer momento no cenário do Turismo
20
International Congress & Convention Association (ICCA) - Anuário Estatístico EMBRATUR – VOLUME 33 –
(PDF). 2006. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/dadosefatos> Acesso em:27.abr.2007.
40
Mundial. Através dos dados acima, podemos entender uma das ramificações do
turismo, que é o Turismo Cultural Urbano que mobiliza o mercado devido ao potencial e
diferencial de cada localidade, e será descrito no próximo capítulo, como um fator muito
importante devido à sua dinâmica local.
A seguir trataremos do mercado Turístico de São Paulo e suas contribuições.
41
2.2 Breve análise do setor turístico de São Paulo (capital)
O Estado de São Paulo possui a maior concentração populacional, o maior
parque industrial, bem como a maior produção econômica, também possui o maior
registro de imigrantes, estes que ajudaram a construir esta cidade, bem como o país.
Segundo a Abrasce21
(...) são 645 municípios e uma população que ultrapassa 40 milhões de habitantes.
Com a melhor infra-estrutura e mão-de-obra qualificada, São Paulo pode mesmo ser
chamado de "A Locomotiva do Brasil". O Estado produz de tudo, principalmente
produtos de alta tecnologia. Mas o destaque não é só na indústria. O paulista também
fez da agricultura e da pecuária uma potência.
Com estes e outros dados podemos observar que a cidade é, economicamente,
a mais importante da América Latina, com considerável número de atrações artísticas e
culturais oferecendo as melhores opções de turismo urbano, com grande acervo nos
museus, monumentos históricos, além do Litoral do Estado com 622 quilômetros de
praia.
Separando o litoral do planalto paulista, a escarpa da serra do mar, em plena mata
atlântica, foi um grande obstáculo a ser vencido em séculos passados. Hoje, esta porta
de entrada para o interior do Estado é foco de atenção da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica e de outras organizações que buscam a preservação deste ecossistema
que está reduzido, no País, a 5% de sua extensão original. Interior adentro, o turista
vai encontrar estâncias, turismo rural, ecológico, cidades com clima europeu,
cachoeiras, cavernas, rios, serras, fontes de água mineral, parques naturais,
construções históricas dos séculos XVI, XVII, XVIII, igrejas em arquitetura jesuíta e
sítios arqueológicos. Já a capital paulista é outro monumental local de opções
turísticas. Só o turismo de negócios proporciona mais de 45 mil eventos por ano. (...)22
21
FONTE: ABRASCE - Associação Brasileira de Shopping Centers - julho/2005)
Governo do Estado de São Paulo. As potencialidades turísticas de São Paulo. Disponível em:
<http://www.spvirtual.net/sao_paulo_informacoes_gerais_as_potencialidades_turisticas_de_sao_paulo-o57383en.html> Acesso em: 17 mai. 2008
22
42
A cidade de São Paulo oferece ao turista a maior diversidade cultural, de lazer e
entretenimento, bem como uma infra-estrutura receptiva voltada ao turismo de negócio;
e foi pensando neste turista que tem um maior nível de renda, que o governo avaliou a
situação atual da cidade, com o intuito de desenvolver estratégias de desenvolvimento
e criar um plano de ação para melhorar a situação do mercado turístico, pois, devido
aos números apresentados pela EMBRATUR no ano se 1996, o Estado de São Paulo
recebeu 988.903 turistas tornando-se o maior portão de entrada de turistas estrangeiros
no país.
Devido à quantidade de turistas estrangeiros, e de turistas de todo o país que
têm visitado a cidade de São Paulo a cada ano, “atraídos por essa capital que
apresenta uma economia do tamanho da Argentina”23, em abril de 1998, a prefeitura da
cidade através de órgãos como o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR criado em
1º de fevereiro de 1991, através do decreto nº 29.509, órgão deliberativo ligado ao
Gabinete do Prefeito, presta assessoria, consultoria e deliberação ao PLATUM.) e da
Anhembi Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo que neste período era a empresa
oficial responsável pela execução da política estratégica de turismo e eventos da cidade
de São Paulo, e também responsável pela administração do Parque Anhembi, “o maior
complexo para realização de feiras, congressos e eventos da América Latina e 5ª maior
do mundo”, deu início à elaboração do Plano Municipal de Turismo da cidade, o
PLATUM, criado através da Lei nº 11.198 de 19 de maio de 1992, tendo como objetivo
“formular a política municipal de turismo, visando criar condições para o incremento e o
desenvolvimento da atividade turística no Município de São Paulo”. (PLATUM, 19902001: 6)
Estes órgãos e a iniciativa privada visavam ao estímulo às atividades turísticas no
município, organizando um conjunto de ações que contribuam para o desenvolvimento
da atividade dos setores relacionados ao turismo, devido seu crescimento causado pelo
“positivo impacto econômico, social e cultural que a mesma tem, proporcionado à
cidade e seus habitantes”. (PLATUM 2004 – 2006)
23
Mercado de consumo número um da América Latina.
43
Segundo o PLATUM (2004-2006: p. 4) no que se refere a características dos
visitantes, “o turismo de negócios e eventos em São Paulo é predominante,
representando mais que o dobro da média brasileira”.
Gráfico do Capítulo 2.2
GRÁFICO 2
Distribuição por motivo de viagem - 2001
100%
100%
17,8
90%
80%
90%
80%
70%
15,4
70%
60%
60%
50%
50%
40%
55,5
40%
66,8
30%
14,3
20%
30%
20%
10%
10%
0%
30,2
0%
São Paulo
negócios e eventos
lazer
Brasil
outros
negócios e eventos
lazer
outros
FONTE: PLATUM 2004 - 2006
NOTA: Gráfico elaborado pela autora com números do PLATUM
O motivo que trás estes turistas à cidade, como demonstra o gráfico, são os
negócios.
Para Wilson Rabahy (2003:117) “o fator econômico não atua isoladamente sobre
as decisões dos consumidores”; porém, em São Paulo notamos que um dos seus
grandes propulsores são os eventos e o ciclo de negócios são afetados pelos setores
da economia mundial refletindo no consumo de diversas áreas inclusive no turismo.
As medidas de política econômica e social adotada pelo Estado também desempenham
papéis relevantes no desenvolvimento da atividade turística, ao priorizar ou dificultar
o ingresso de turistas estrangeiros e as saídas dos turistas nacionais, e mesmo quando
à política de subsídios e investimentos públicos. RABAHY (2003:123)
44
De acordo com pesquisas, dentre os países estrangeiros que mais emitem
turistas para cidade de São Paulo é a Argentina com 21,51%, em segundo lugar os
Estados Unidos com 19,25%, a Alemanha em terceiro lugar com 7,46%.24
Quanto à permanência média do turista estrangeiro na cidade, a EMBRATUR
demonstra que no ano de 1997 era em média 7 dias, tendo como conseqüência direta o
fator negócios, sendo que este período é menor em relação a outras cidades do país.
Porém, nem só de negócios e eventos vive a cidade de São Paulo. Ela apresenta
uma grande quantidade de recursos turísticos, dentre os quais estão:
Serviço de apoio ao
turista, Serviços
Públicos,
Comunicações ...
Parques – 23
parques com
inúmeras
áreas de lazer
Atrativos Naturais – 20,8 milhões
de áreas verdes distribuídas em 30
parques municipais e 3 estaduais.
Esportes, Cinemas, Casas de
Diversão, Eventos , Teatros, Compras
Atrativos artificiais – aspectos urbanísticos
interessantes em algumas áreas da cidade,
eventos no circuito internacional, feiras, shows,
campeonatos, etc., eventos técnicos e científicos,
grande concentração de indústria e comércio.
Ciências – inúmeros espaços culturais
científicos, entre eles o SESC Pompéia,
o Memorial da América Latina, Estação
Ciência, o Centro Cultural de São
Paulo, etc...
Recursos humanos – alto índice de formação
profissional, especialmente turístico, material
humano altamente especializado.
Patrimônios – Casa do Grito,
Pateo do Colégio, Palácio dos
Bandeirantes, Edifício Martinelli,
Palácio das Indústrias, Mercado
Municipal além de de cerca de
257 igrejas católicas, templos
judeus, ortodóxicos e protestantes
entre outros.
Cultura – museus: MASP, Museu
Paulista, MIS, MAM, Museu de
Arte Sacra, Pinacoteca do
Estado, Museu de Arte
Contemporânea e Museu da
Escultura entre outros...
Recursos turísticos
da cidade
Parques – 23
parques com
inúmeras
áreas de lazer
Hospedagem – hotéis de classe internacional com infra
estrutura, bem localizados, segurança e facilidade,
serviços e padrão internacional
Agencias de viagem, Locadoras,
Transportes, Acessibilidade
Rodoviária Ferroviária e Aérea
Gastronomia – destaca-se por oferecer boa
comida, cerca de 13 mil restaurantes, 36
tipos de culinária diferentes – a cidade
recebeu em 1997 título de “Capital Mundial
da Gastronomia”
FONTE: PLATUM 1999 - 2001 (p. 29-33)
NOTA: Quadro montado pela autora com informações retiradas do PLATUM
Segundo análise do PLATUM (1999-2001) “Anualmente estima-se que este
setor gere para o município cerca de 200mil empregos diretos, movimente cerca de
US$ 8,2 bilhões e arrecade cerca de US$ 425 milhões em impostos”.
Apesar da cidade ter sido considerada pelo Corporate Research Group como a mais cara
da América do Sul e uma das mais caras do mundo, este fato deve-se também ao grande
desenvolvimento observado dos serviços disponíveis, bem como à diversificação
24
Segundo dados da SPC&VB, pesquisa encomendada pelo Plano Municipal de Turismo - PLATUM 994-1997
45
constante de opções na área de lazer e entretenimento em geral. ( PLATUM de 1999 –
2001: p. 23)
Considerando que a cidade de São Paulo possui um grande potencial turístico a
ser desenvolvido, e visando à necessidade de captar mais turistas, o Plano Municipal
de Turismo aponta que o turismo é uma atividade que gera empregos e capta recursos
e divisas; promove o desenvolvimento econômico setorial e, por isto, exige
desenvolvimento de projetos que eleve “o padrão de qualidade dos serviços ofertados e
diversificação de opções oferecidas”; para que isto aconteça, o propósito do PLATUM é:
“Fazer da cidade de São Paulo um grande centro de atração turística”. (PLATUM, 19992001: 38-39).
Autores que estudam o turismo, dentre eles Mário Carlos Beni, afirmam que o
desenvolvimento do Turismo está atrelado aos problemas urbanos de um dado
território, já que o mesmo acontece em um espaço físico. (BENI. 2002: 109)
Para resolver alguns problemas da cidade o PLATUM criou um programa de
metas a serem atingidas para melhorar o turismo na cidade, e estes são:
Conjunto de alvos a serem atingidos
PROGRAMA DE DIVULGAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO TURÍSTICA
● Conscientizar o cidadão, a iniciativa privada e o poder público quanto à importância do turismo como atividade econômica.
● Fixar a imagem da cidade como grande centro de atração turística.
PROGRAMA DE LEGISLAÇÃO TURÍSTICA
● Dotar a cidade de legislação adequada para o setor turístico.
PROGRAMA DE INFRA-ESTRUTURA E INVESTIMENTO TURÍSTICO
● Disponibilizar para cidade sistemas de informações turísticas.
● Oferecer opções de transporte que garantam rápidos deslocamentos.
● Incentivar a criação e diversificação de equipamentos para eventos e entretenimento em geral.
● Incentivar maiores investimentos na atividade turística, de eventos e entretenimento em geral.
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE ATRATIVOS TURÍSTICOS
● Revitalizar os pontos de interesse turístico da cidade, além de criar e fomentar novos pontos de atração.
● Criar, implantar e apoiar a geração de atividades culturais, artísticas, de eventos e entretenimento em geral.
● Captar, promover e incentivar a realização de eventos na cidade.
PROGRAMA DE QUALIDADE TURÍSTICA
● Garantir a qualidade dos serviços nos diferentes segmentos da atividade turística.
FONTE: PLATUM, 1999 – 2001: 45
46
Estas e outras medidas visam à criação de projetos para valorizar, revitalizar e
criar novos pontos de interesse turístico na cidade e nesta discussão está o apoio “a
transformação e concentrações étnicas em bairros temáticos da cidade.”25
A cidade de São Paulo tem um grande potencial turístico a ser desenvolvido.
Cabe aos responsáveis a implantação dos recursos destinados ao turismo, possibilitar
uma participação democrática no planejamento urbano, como questões relacionadas ao
uso da cidade, formação e manutenção da identidade de grupos, etnias e culturas, bem
como outros planos e projetos turísticos para que a mesma apresente aos seus
visitantes e moradores qualidade em produtos, serviços e hospitalidade.
Para um melhor entendimento do turismo na cidade, cabe-nos conceituar o
Turismo Cultural Urbano, sua trajetória, traçado através do capítulo seguinte, bem como
a questão do processo de evolução histórica de São Paulo e, para complementar o
surgimento dos imigrantes orientais e a caracterização do Bairro da Liberdade, visto
como bairro temático.
25
PLATUM. 1999 – 2001: 58.
47
3 Turismo Cultural Urbano
Podemos dizer que o Turismo, mais especificamente o Turismo Cultural Urbano
é um dos setores de maior importância em termos de expectativa de crescimento
econômico e de geração de empregos. Ele impõe crescimento local, é uma força que
promove mudanças de comportamento na economia e sócio-urbanístico. Porém, temos
que enfrentar desafios como o desenvolvimento sustentável26 um conceito que implica
o uso racional dos recursos naturais, de forma a evitar comprometer o capital ecológico
do planeta. Trata-se de incluir considerações de ordem ambiental no processo de
tomada de decisões econômicas, devendo, portanto, significar desenvolvimento social e
econômico estável, com distribuição de riquezas geradas, considerando a fragilidade, a
interdependência e as escalas de tempos próprios dos recursos naturais.
Em 1987 a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações
Unidas publicaram o Relatório de Brundland, que apresentou o conceito de
"Desenvolvimento Sustentável". Definida por 170 países que estavam na Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro, em 1992. “Para tornar realidade as novas inspirações, a Conferência aprovou a
Agenda 21, documento contendo uma série de compromissos acordados pelos países
signatários, que assumiram o desafio de incorporar, em suas políticas públicas,
princípios do Desenvolvimento Sustentável”, impondo mudança no desenvolvimento
global. 27
Desta forma, é preciso conceber uma maneira de desenvolvimento fora do plano
abstrato. O Turismo Urbano também se apresenta como receptivo em alguns
momentos, por assumir um caráter de lazer urbano, lembrando que o mesmo se
destaca pelos marcos referenciais da paisagem natural e da paisagem construída pelo
26
O conceito sustentabilidade não é algo muito fácil de se definir, mas, inicialmente está associado “(...) à
necessidade de preservar os recursos ambientais, referia-se a um tipo de desenvolvimento capaz de atender às
necessidades da geração atual sem comprometer os recursos necessários para satisfação das necessidades das
gerações futuras”. Difícil de ser medida por se tratar de uma qualidade em movimento. O equilíbrio é mantido ao
longo
do
tempo.
Mecanismos
de
Sustentabilidade.
Disponível
em:
http://www.ibam.org.br/urbanos/assunto2/blt6_int.htm> Acesso em: 03 ago. 2007.
27
Op. cit. Disponível em: http://www.ibam.org.br/urbanos/assunto2/blt6_int.htm>
Acesso em: 03 ago. 2007.
48
homem. E estas paisagens urbanas construídas pelo homem demonstram as
características étnico-culturais, formando assim espaços cênicos de concentração da
população, permitindo uma leitura a cada visitante e estes locais são praças, mercados,
lojas, restaurantes, casas noturnas, templos etc.
Para inserir o turismo no espaço urbano dependemos de vários aspectos, sendo
as relações entre os agentes econômicos privados e os setores públicos que tornam o
espaço urbano dinâmico e carente de equipamentos que venham atender este novo
público que necessita de lazer e consome o produto turístico.
Podemos observar o Turismo Cultural Urbano como um grande agente do
desenvolvimento nas cidades. O bem cultural tornou-se uma mercadoria, estando
associado a múltiplas funções, tendo também a exploração da parte histórica que atrai
visitante residente e turista de outros locais. Visto também como um segmento que trata
de viagens de estudos, e de muita importância para vários países, principalmente os de
língua inglesa. “Contudo, a cultura não se restringe ao estudo formal, ao contrário:
todas nossas ações fazem parte da cultura”. Desta forma, podemos observar que o
Turismo Cultural só ocorre quando nos apropriamos de algo que possa ser
caracterizado como “bem cultural”. (FUNARI, PINSKY “et alli”, 2002: 7)
Não devemos vislumbrar o Turismo Cultural fazendo parte apenas do patrimônio
sugerido como grandes edifícios ou obras de arte, mas o patrimônio28 abrangendo tudo
o que constitui parte do “engenho humano”, ampliando nossa leitura e compreensão
como sugere FUNARI, PINSKY “et alli”:
O turismo tende a considerar o patrimônio cultural como aquele que se volta para
certos tipos de atividades mais propriamente “culturais”, tais como as visitas a
museus, a cidades históricas ou a roteiros temáticos, como a rota dos queijos e dos
vinhos, por exemplo. Este é um aspecto importante do Turismo moderno, pois os
maiores países, regiões e cidades receptoras de turistas podem ser identificados como
destinos de turistas ávidos por cultura, como é o caso da Itália o país com o maior
28
“A palavra patrimônio pode assumir sentidos diversos. Originalmente esteve relacionado à herança familiar,
mais diretamente aos bens materiais. No século XVIII, quando, na França, o poder público começou a tornar as
primeiras medidas de proteção aos monumentos de valor para história das nações, o uso de “patrimônio” estendeuse para os bens protegidos por lei e pela ação de órgãos especialmente constituídos, nomeando o conjunto de bens
culturais de nação.(...) O patrimônio passou a ser, assim, uma construção social de extrema importância política.”
(FUNARI, PINSKY et alli, 2002, Op. cit p. 09)
49
número de patrimônio tombados pela Unesco, mas também da França, Egito Grécia,
Turquia e Grã-Bretanha. No Brasil, este é o caso das cidades coloniais de Minas
Gerais e das missões Jesuíticas no Sul. (2002:9)
Quando discutimos a questão do Turismo Cultural Urbano associamos a locais
de grande apelo à atração turística e também à conscientização social. Porém como
demonstra FUNARI, PINSKY et alli, 2002: 09; “Ainda que a política de patrimônio tenha
preservado muito desigualmente os bens culturais (...)”, podemos associar o fator
Turismo Cultural relacionando-o com o período pós-modernidade,29 pois neste período
reforçam-se as bases econômicas e, conseqüentemente, ocorrem transformações
substanciais no mundo, tornando-o globalizado e acessível.
Cláudia Henriques ao analisar John Urry (1995) e associar a pós –modernidade
aos lugares ressalta que:
Primeiro, os lugares estão cada vez mais a ser reestruturados como centros para o
consumo, enquanto providenciam o contexto para os bens e serviços serem avaliados,
comparados, comprados, utilizados. Segundo, os lugares são em certa medida
consumidos, nomeadamente numa vertente visual. Especialmente importante neste
aspecto é a provisão de vários tipos de serviços a ser consumidos quer por visitantes
quer por residentes locais. Terceiro, os lugares podem ser literalmente consumidos:
aquilo que as pessoas consideram importante num lugar... É através do tempo
esgotado ou devorado através do uso. Quarto é possível para as localidades
consumirem a sua identidade de modo que os lugares se tornem todos literalmente
consumíveis (all consuming). (URRY, 1995 apud HENRIQUES, 2003:37)
A criação da indústria cultural,30 que surgiu com o meio de “comunicação de
massa”, (os primeiros jornais), e, com o fenômeno da industrialização,31 reforçando as
normas sociais com seus produtos que conseqüentemente são vendidos, e,
posteriormente, formou-se uma nova modalidade de turismo, “o turismo cultural
29
Período caracterizado pelo desenvolvimento e pelas transformações que aconteceram no campo tecnológico, na
produção econômica, na cultura, nas formas de sociedade, na vida política e na vida cotidiana. (SANTOS, 2006:
264).
30
Observando que a indústria cultural faz parte do SISTUR, sendo um dispositivo que está sujeito a variáveis. Mário
Carlos Beni afirma que o sistema cultural está inserido dentro do contexto do patrimônio cultural e que “devem ser
avaliados em profundidade os efeitos sobre os valores histórico-artísticos, assim como os usos e costumes da
população.” (BENI, 2002: 273)
31
“(...) a indústria cultural, os meios de comunicação de massa a cultura de massa surgem como funções do
fenômeno da industrialização (...)” (COELHO, 1991; p.10)
50
urbano”, (HENRIQUES, 2003: 43) e assim, houve a necessidade da criação de uma
paisagem urbana com espaços de consumo e de fruição lúdica, evidenciando o lugar
como um espaço cênico. Esta mudança ficou por conta dos organismos geradores
desta indústria, e neste contexto podemos observar que vários locais são criados e
adaptados para serem reutilizados, entre eles estão “antigas áreas industriais e de
equipamentos (prisões, quartéis, hospitais, centrais termoelétricas, estações de
caminho de ferro) dispersos no tecido urbano, entretanto tornados obsoletos com o
progresso técnico ou seja cuja localização já não se revela ajustada à função inicial”.
(HENRIQUES, 2003: 43).
Porém, lembramos que o Turismo Cultural Urbano não usufrui somente produtos
culturais do passado (restaurado ou modificado), mas também o patrimônio da cultura
contemporânea ou modo de vida de um povo em uma determinada região. A cultura de
um povo é testemunha das experiências vividas, individualmente ou coletivamente,
permite a determinado grupo o sentimento de pertencer a um determinado espaço, bem
como identificá-lo na sociedade. As diferenças culturais permitem que sobrevivam
determinados costumes. Isto ocorre devido à herança cultural deixada e praticada por
descendentes ou não; são testemunhos que se transformam e acabam se tornando um
patrimônio devido aos seus valores culturais e, quando são praticados em um espaço
urbano, acabam se tornando um atrativo cultural, que são geralmente explorados pelo
turismo.
51
FIGURA 1: PRAÇA DA LIBERDADE NA FESTIVIDADE DO TANABATA MATSURI
FONTE: Hideki Matsuka – (jul./2007)
Como podemos observar na figura 1, que mostra o festival Tanabata Matsuri de
2007, um dos eventos que fazem parte do calendário anual da cultura japonesa e
acontece no Bairro da Liberdade. Uma manifestação cultural que atravessou o oceano,
e, acontece anualmente em nosso país e em outros que possuem grande concentração
de imigrantes japoneses. Este e outros eventos da colônia japonesa acabou se
transformando em uma forma de atração para o turismo, sendo classificada no SISTUR
por “Turismo Étnico-Histórico-Cultural”.
Refere-se ao fluxo de turistas nacionais e internacionais que se deslocam centrados na
motivação de suas origens étnicas locais, e também no legado histórico-cultural de sua
ascendência comum. Incluem-se aí ainda aqueles que se deslocam com objetivos
eminentemente antropológicos para conhecer “in loco” as características éticoculturais daqueles povos que constituem o interesse de sua observação. (BENI, 2002:
425)
Devido às manifestações culturais, ocorre uma apropriação do espaço urbano, e
estes novos usos promovem uma revitalização e em alguns casos acontece a
regeneração da paisagem urbana. Porém, estas transformações também podem causar
impactos na vizinhança e muitas vezes um choque cultural, como a mudança de hábitos
da população local e diminuição da qualidade de vida.
52
Para que não aconteçam danos causados pelo uso inadequado do espaço,
podemos antever com algumas medidas tangíveis sugeridas por Claudia Henriques,
quando apresenta o quadro demonstrando o contexto da gestão do planejamento
sustentável para o turismo cultural urbano. (HENRIQUES, 2002: 15)
FIGURA 2: O TURISMO URBANO NO CONTEXTO DA GESTÃO E
PLANEJAMENTO TURÍSTICO E URBANÍSTICO
Procura turística
Oferta turística
Procura
turística
Turistas
Planejamento (e gestão)
turístico(s)
Produto turístico
cultural
Centros históricos
com aproveitamento
turístico
Poder
da cultura
Sinergia
Patrimônio
cultural
Qualidade
urbana
Centro histórico
Atratividade
Capital imagem
Capital paisagem
Capital econômico
Turistificação
Dinâmica
urbana
Planejamento do
turismo sustentável
nos centros históricos
Identidade
CIDADE
Degradação/
regeneração/
reabilitação
Oferta turística
cultural
Dinâmica,
agentes/
atores
Sustentabilidade
Política de
reabilitação
urbana integrada
Meios
(financeiro
seconômico
sociais).
Política de reabilitação
do centro histórico da
cidade histórica
Acessibilidade
Planejamento e gestão do
centro histórico
Cidadãos/residentes
Usufruto dos
equipamentos/
estilos de vida
Urbanismo, planejamento
(gestão) urbano(s)
FONTE: HENRIQUES (2002: 15)
A figura 02 apresenta como se processa a dinâmica da oferta e procura turística
e a contribuição do gestor no planejamento da cidade e do centro histórico. O
desenvolvimento acontece quando há sustentabilidade do local, apresenta o setor
público juntamente com o setor privado, trabalhando juntos para estabelecer o
desenvolvimento turístico nas áreas históricas, levando em consideração os fatores
econômicos, sociais e ambientais. O planejamento vem, através da procura do produto
turístico, proporcionar aos setores ligados a ele o turismo sustentável nos centros
históricos das cidades que possuem o patrimônio cultural. A cidade em seu contexto
53
urbano possui uma dinâmica social, política, cultural e econômica que permeia o
usufruto dos equipamentos ligados à cultura, proporcionando aos cidadãos residentes
ou turistas ocasionais uma identidade que está ligada à qualidade urbana,
acessibilidade e ao poder da cultura atraindo-os para o uso destes equipamentos.
O sucesso do local só acontecerá se houver um planejamento e gestão
adequada. Ao fazer a leitura da figura 2, Claudia Henriques explica que:
Da figura 02 ficam explicitas três grandes dimensões conceituais. A primeira associada
ao espaço cidade, a segunda associada ao desenvolvimento econômico e
especificamente ao desenvolvimento turístico e a terceira associada a cultura na sua
vertente patrimonial. Temos então turismo, cidade e cultura consubstanciados no
turismo urbano cultural, nomeadamente circunscrito aos bairros núcleos histórico
(HENRIQUES, 2003: 15)
O turismo cultural está ligado à arte em geral e ao patrimônio edificado (nosso
grifo), que através da procura atrai para esta atividade turística um pacote de serviços
oferecidos ao turista. Portanto, entendemos que o recurso cultural ligado à arte
compreende visitas à museus, às galerias de arte, aos espetáculos de música, teatro,
ópera, dança etc. E o patrimônio edificado usufruído no turismo cultural são igrejas,
casas típicas, castelos, vestígios arqueológicos e também associações de lugares com
acontecimentos históricos e personalidades. “É nesta acepção de cultura que se pode
falar de turismo cultural em espaço urbano, concebido a partir da ideia da concentração
espacial de recursos”. (HENRIQUES, 2003: 47)
Ao associar a população de um determinado lugar ao patrimônio cultural
edificado, encontramos um pouco de sua história, podemos distinguí-lo por seu caráter
arquitetônico e sua diversidade de estilos e períodos. Porém, quando vemos lugares
que são semelhantes que se repetem em outros lugares no mundo, no que concerne ao
ambiente construído (réplicas), nos questionamos sobre a legitimidade, mas se
analisarmos o mercado econômico que está voltado ao turismo, isto será um atrativo, e,
segundo Yázigi (2001: 19), “a reconstrução do lugar entra no difícil dilema de escolher
ente cair na mesmice da globalização ou de buscar um caminho condizente com o
diálogo, com raízes territoriais e culturais”. Em um contexto passado, a arquitetura era
54
repetida seguindo padrões e o “urbanismo como modo de vida”; então, segundo o
autor, estamos vivendo “um paradigma do que possa ser identidade”.
A imagem de um determinado lugar não deve ser percebida pela sua
individualidade, e sim no seu contexto, pois a paisagem no todo identifica o lugar. “Cada
lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo
dialeticamente”. (SANTOS, 2006: 339)
O turismo introduz novos códigos culturais e propõe novos sistemas de símbolos
baseados em imagens que substituem a realidade e conduzem a julgamentos segundo
códigos impostos pela mídia. Assim a publicação não se limita a designar um produto
particular a vender, porém, mediante a utilização de linguagens e meios de informação
cuidadosamente elaborados, difunde-se uma imagem de um modo de vida e de uma
ideologia inspirados por grupos líderes da população, os quais convém imitar pelos
comportamentos e hábitos de consumo. (RODRIGUES, 2001: 90)
A população usufrui a imagem urbana, e o Turismo Cultural Urbano acaba
acontecendo naturalmente e, através do consumo de determinados grupos sociais. A
busca pela oferta do produto turístico não cessa, a cidade expõe seus produtos dentro
dos limites de seu espaço cultural, no qual será consumido de acordo com seu valor
histórico e também seu poder de atração. A imagem projetada ao consumidor do
produto turístico urbano é planejada por gestores responsáveis pela captação dos
turistas.
55
FIGURA 3: TURISMO, CIDADE E CULTURA: A INTERCONEXÃO CONCEITUAL
Turismo
Produto turístico
Oferta turística
Procura turística
Turistificação
da cidade
Turistificação
da cultura
Turismo
Produto turístico
Cidade
Oferta turística cultural urbana
Cultura
Procura turística cultural urbana
Cidade
Cultura
Produto turístico urbano
Oferta turística urbana
Produto turístico cultural
Cidades espaço cultural – a ênfase dos valores
históricos e culturais dos centos históricos
Oferta turística cultural
Procura turística urbana
Urbanismo e planejamento urbano
Procura turística cultural
Planeamento
turístico urbano
Planeamento e gestão de turismo sustentável
nos centros históricos das cidades como
locais de patrimônio cultural e lazer
O papel dos agentes públicos e privados
FONTE: HENRIQUES (2002: 16)
Vimos nesta figura (fig.03) a grande importância do planejamento e da gestão
sustentável. Fica evidente a importância dos agentes públicos e privados. Sendo assim,
através da leitura do quadro, podemos observar que o turismo acontece devido à
procura turística em um local (cidade) que oferece o produto e a oferta turística, onde a
cidade é vista como um espaço lúdico e cênico, proporcionando através da cultura esta
procura; cabe aos agentes públicos e privados, através do planejamento urbanístico
adequado, a gestão do turismo sustentável nos centros históricos das cidades,
fornecendo qualidade e valorizando estes locais de patrimônio cultural e lazer para que
possam ser consumidos.
Para se conseguir uma qualidade ideal para o produto turístico, é necessário um
planejamento de longo prazo, voltado ao interesse da população local, bem como aos
56
turistas, e segundo RUSCHMANN, 1997: 163. “Os maiores problemas da falta de
planejamento se apresentam em núcleos turísticos saturados, isto é, onde o excesso de
demanda criou uma oferta desordenada e imediatista, causando dano praticamente
irrecuperável à natureza e ao traçado urbano”.
O planejamento turístico sustentável é uma forma de prevenir e aplicar soluções
aos problemas como a degradação, manter a originalidade das comunidades
receptoras, não deixando que a exploração econômica do turismo ultrapasse valores
culturais, ambientais e psicossociais. “(...) O turismo é visto como atividade não
tradicional e suas diretrizes de desenvolvimento são originárias de outros campos da
atividade econômica; porém já apresenta um corpo teórico substancial que pode
fundamentar cientificamente as mais amplas discussões e decisões sobre seu
planejamento”. (RUSCHMANN, 1997: 163)
Segundo Henriques (2003), definir o turismo cultural é muito difícil devido à
grande variação de definição de cultura, de turismo e a articulação entre ambos.
Para o ICOMOS32 a concepção de turismo cultural é uma forma de turismo,
cujo objetivo maior é a descoberta de monumentos e lugares:
Ele exerce nestes últimos um efeito positivo na medida em que contribui, para
satisfazer os seus próprios fins, para a sua manutenção e proteção. Esta forma de
turismo justifica os esforços de proteção, conservação e manutenção devido aos
benefícios econômicos e sócio-culturais que produz para toda a população envolvida.
Porém, já à data da Carta refere que, independentemente das motivações e
justificativa de benefícios, o turismo cultural deriva ter em consideração os potenciais
efeitos negativos e destrutivos que o uso massificado e descontrolado dos monumentos
e lugares poderia acarretar. (HENRIQUES, 2003: 49)
O ICOMOS salienta a importância da conservação e discute a necessidade de
investimentos nestes espaços das cidades para que haja um uso correto no que
concerne ao turismo cultural.
Em 1985, a OMT33 definiu o turismo cultural urbano como “uma viagem que
satisfaz a necessidade de diversidade, de ampliação de conhecimento, que todo ser
32
33
International Council on Monuments and Sites – (Conselho Internacional de Monumentos e Lugares).
Organização Mundial de Turismo.
57
humano traz em si”; assim, em uma leitura mais restrita, reduz o turismo cultural a uma
viagem movida por motivos culturais e educativos. (HENRIQUES, 2003: 49) Sabe-se
que foram aprofundadas e alteradas as visões do turismo cultural urbano, mas sempre
há novas definições a serem exploradas, e que poderão ser feito num outro estudo.
Para sintetizar, vimos o turismo cultural urbano como uma atividade onde o
turista, pela necessidade de evasão, consome o produto cultural oferecido pela cidade.
Neste contexto, abordamos no próximo capítulo brevemente a história de São
Paulo e do Bairro da Liberdade, para um melhor entendimento deste capítulo.
Posteriormente, será dada continuidade ao turismo cultural urbano, destacando um
bairro temático de São Paulo.
58
4 Processo Histórico da Cidade de São Paulo
O nascimento da Vila de São Paulo aconteceu devido às relações naturais para
sobrevivência. A princípio, houve o predomínio da vida rural sobre a urbana. O domínio
dos valores religiosos e administrativos contribuíram para a formação da cidade, vilas e
bairros, “os próprios jesuítas abandonaram as normas geométricas no planejamento
das suas aldeias, adaptando-se a topografia.” (MORSE, 1970: 30)
A colonização portuguesa trouxe a missão jesuíta ao Brasil com intenção de
catequizar os índios, para estes trabalharem em suas terras. O Pátio começou a ser
construído após a celebração da primeira missa de São Paulo de Piratininga, em 25 de
janeiro de 1554, celebrada pelos padres Manuel Paiva, Manuel da Nóbrega e José de
Anchieta. Logo depois, iniciou-se a construção do Real Colégio de São Paulo de
Piratininga, que foi o marco inicial da cidade. Quando ficou pronto, em 1º de novembro
do ano seguinte, era apenas uma casinha medindo 14 passos de comprimento por 10
de largura, mas foi ela que se transformou em casa e colégio dos jesuítas e, mais tarde,
em enfermaria, cozinha, refeitório. Neste local (Pátio do Colégio) encontra-se a primeira
fisionomia da cidade (a cidade de taipa34). Houve muitas modificações, atualmente no
Pátio só uma parte é de taipa e se encontra preservada envolta por parede de vidro. A
composição desta construção se deu em 1954, a reforma foi feita devido à
comemoração do Quarto Centenário. Foi edificado no Planalto do Piratininga por ser um
local alto, por causa dos índios e das enchentes causadas pelo rio Tamanduateí e
Anhangabaú. (RUIZ, 2004 apud AZEVEDO, 1958: 10-38)
Por volta de 1882, anos após a expulsão dos jesuítas devido à sua oposição ao
governo português, o governador Morgado de Matheus fez próximo ao local o Palácio
do Governo, que passou a ser chamado o Largo do Palácio, tornando-se o centro das
atividades da cidade. Ao seu redor foram sendo construídos a Casa de Fundição, o
Solar da Marquesa e a Casa da Ópera. Assim, o Pátio se tornava cada vez mais
34
A taipa era feita de barro, água, sangue de animal e algumas vezes usavam madeira.
59
importante e grande centro urbano, preenchido pelos barulhentos feirantes e comércio
agitado das redondezas.
O Solar da Marquesa é considerada a última edificação construída em taipa de
pilão. O lugar foi a residência da Marquesa de Santos por aproximadamente trinta anos.
E essa construção só é preservada até hoje devido à importância dessa figura polêmica
do primeiro reinado que, entre tantos feitos, foi amante de D. Pedro I e deixou em seu
testamento os nomes de alguns de seus escravos. Localizado na Rua Roberto
Simonsen, 136, a construção foi feita de uma maneira estratégica para que ficasse
bastante iluminada, arejada e grande. Foi sede da Secretaria Municipal da Cultura35.
Além de abrigar o Solar da Marquesa de Santos, este também é o endereço da Divisão
de Iconografia e Museus, um acervo fotográfico da cidade que retrata a São Paulo e
suas transformações urbanas nos últimos 140 anos. Nele há dois andares, jardim
interno, paredes originais expostas com pinturas do período colonial, também foi
possível ver em paredes taipa o tipo de construção original da época. Para preservar a
estrutura, tem um limite de peso para o andar superior. No seu período áureo havia
saraus, chás, encontros musicais e sociais. Hoje, é possível encontrar no acervo a
documentação dos prefeitos desde 1965, o que significa cerca de 300.000 imagens
fotográficas com suporte flexível. O fotógrafo Benedito Junqueira Duarte foi o
responsável pela implantação de técnicas de identificação, catalogação e indexação no
acervo. Desde então, o acervo passou a ser consultado por pesquisadores internos da
prefeitura, estendendo-se ao público em geral, que busca nessas fotografias material
para pesquisas dos mais variados enfoques da cidade de São Paulo, como a produção
de teses, publicações, reportagens, montagem de cenários, entre outros. Em 1990, a
Divisão de Iconografia e Museus recebia todo mês cerca de 150 pesquisadores internos
e externos, que movimentavam aproximadamente 5000 imagens. Hoje, uma das partes
dos negativos está se deteriorando. As condições precárias do arquivo e laboratório não
suportam um atendimento maior do que 10 pessoas mensais, que movimentam cerca
de 80 imagens. (DPH)36
35
A Secretaria Municipal da Cultura atualmente é na Avenida São João, 473
Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História. Disponível em:
http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai. 2007
36
60
A cidade de São Paulo surge através das ruas do Triângulo, o perímetro
delimitado pelas Ruas Direita, São Bento e 15 de Novembro, e o Triângulo acabou
virando uma região de passeio. A expressão fazer o Triângulo acabou denominando o
passeio de grupos de rapazes saindo do Largo São Bento, avançando pelas Ruas 15
de Novembro, Direita e São Bento, enquanto as moças faziam o trajeto inverso.
O Centro era balizado pelos Conventos de São Francisco, São Bento e do
Carmo. As ruas não iam além dos vales dos rios Tamanduateí e Anhangabaú. Tudo era
tão perto que a primeira linha de bonde, puxado por animais, só seria inaugurada em
1872. Mas o primeiro passo para tirar São Paulo do destino periférico havia sido dado
no ano anterior. A inauguração da ferrovia Santos-Jundiaí, em 1867, iria ajudar a
canalizar para a cidade a riqueza do café, que se expandia pelo Oeste do Estado, e, no
sentido contrário, iria trazer milhares de imigrantes estrangeiros. (OLIVEIRA, 2004 apud
AZEVEDO, 1958: 50)
No Largo São Francisco encontra-se a ordem 3ª Franciscana, Igreja Colégio e
Faculdade de Direito. Este conjunto arquitetônico corresponde ao terceiro vértice da
São Paulo Colonial. A Igreja foi construída em 1639 – os franciscanos vieram de
Salvador para construí-la. O Conjunto Franciscano é considerado um dos exemplares
da arquitetura religiosa praticada em São Paulo.37
A dinâmica de cidade cresceu vertiginosamente e as transformações foram
inevitáveis. São Paulo, a vila que passou a cidade em 1711, manteve seu aspecto
colonial até por volta de 1870, nasceu por ser um encontro de caminhos, caracterizando
uma “categoria de turismo colonizador” que provocou grandes alterações na dinâmica
dos índios que aqui povoavam, causando mudanças nos usos e costumes.
São Paulo apresentou uma lenta transformação urbana durante os séculos XVII
e XVIII, como indicam os registros da Câmara Municipal e os registros de viajantes.
Situada no alto de uma pequena elevação de planta aproximadamente triangular e
cercada por barracos e ladeiras, suas casas encostadas umas às outras se voltam para
dentro da área urbana, dando costas para os vales vizinhos do Anhangabaú e
Tamanduateí. Em frente às numerosas edificações religiosas - igrejas, mosteiro e
37
Op. Cit. DPH - Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História. Disponível em:
http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai. 2007.
61
conventos - abrigam-se pequenos largos o maior e mais regular dos quais o Pátio do
Colégio, fronteiro ao estabelecimento dos jesuítas que motivara a fundação da pequena
Vila.
O conhecimento histórico do surgimento da cidade de São Paulo é muito
importante para que pensemos o presente e projetemos o futuro. É necessário que
tenhamos um estudo atualizado e detalhado dos bairros, do que foi a cidade de nossos
antecessores, para que tenhamos conhecimento do ambiente urbano em que vivemos
atualmente, das pessoas que habitam e quais as causas e conseqüências que sofreram
neste processo de transformação. Em CAMARGO (2005) Sant Hilaire38 faz uma
descrição das pessoas que passavam por São Paulo no século XIX.
(...) nenhuma dificuldade há em distinguir os habitantes da cidade de São Paulo dos
das localidades vizinhas. Estes últimos, quando percorrem a cidade, usam calças de
tecido de algodão e um grande chapéu cinzento sempre envolvidos no indispensável
poncho, por mais forte que seja o calor. Denotam seus traços alguns caracteres da
raça americana, seu andar é pesado, e tem ar simplório e acanhado.
Saint Hilaire observava a cidade como local de reuniões e encontros de pessoas,
seus habitantes e aqueles que passavam pelo núcleo central se confundiam numa rede
complexa e marcada pela simplicidade de acanhamento.
No Vale do Anhangabaú (o rio Anhangabaú canalizado) formavam-se os limites
naturais do trio colonial. Passou por vários projetos de reurbanização por iniciativa de
vários prefeitos, a última foi de Luiza Erundina. Atualmente, a área do Vale do
Anhangabaú está sendo conservada pelos poderes públicos e privado. Lá foram
construídos dois grandes viadutos para preservar a área central que liga o centro velho
ao centro novo, (um deles é o Viaduto do Chá – tem este nome, pois no passado havia
uma grande plantação de chá no local). O Viaduto do Chá representa a expansão da
Cidade de São Paulo. Liga a Rua Barão de Itapetininga ao Largo do Arouche.39
38
Augusto Sant Hilaire – (escritor naturalista enviado em 1819 para exploração científica para estudo da fauna, flora,
geografia física e habitantes do país)
39
Op. Cit. DPH - Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História. Disponível em:
http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai. 2007.
62
Em 1892, a construção do Viaduto do Chá terminou, e em 1903, começava a ser
erguido o Teatro Municipal, que foi finalizado em 1911. No início da década de 1910,
foram apresentados diversos projetos de melhorias para o centro da cidade. Após uma
série de discussões, a prefeitura privilegiou as obras de urbanização da região em torno
do vale do Anhangabaú. Até a década de 20, o local tornou-se o cartão de visita da
cidade, representação simbólica da República. Nesse período, os republicanos se
enriqueceram com o café e, assim, como elitistas, adoravam a estética européia,
cosmopolita, mas também ficavam assustados com a modernidade presente na
Semana de Arte Moderna de 1922.40
A princípio, o desenvolvimento urbano no Brasil ocorreu em etapas distintas que
se relacionam com as características econômico-políticas da formação social brasileira,
tanto internas quanto externas (ou seja, referentes ao papel do Brasil no contexto
internacional). A primeira etapa aconteceu no período colonial e pós-colonial até
meados do século XIX, formando-se assim, pelo Estado colonizador, através do
aparelho político e administrativo. Na medida em que se desenvolviam as atividades
econômicas, eram necessárias condições urbanas para o desenvolvimento nacional e
internacional, fazendo parte do plano a cidade de São Paulo. (CAMARGO, 2005: 30).
O ciclo da economia cafeeira alavancou a urbanização do Estado de São Paulo.
(...) o cultivo do café é uma atividade urbanizadora, pois ao contrário do açúcar,
necessita de condições gerais para o seu funcionamento que só podem ser oferecidas
pelas cidades: circuitos de comercialização, rede bancária, entrepostos para
estocagem e beneficiamento do produto, mercado para compra de insumos importantes
e, finalmente, um local de consumo um pouco mais suntuário para os proprietários do
excedente. (CAMARGO, et alli. 2005: 32)
Porém, com o passar do tempo a economia cafeeira entra em crise, e a Primeira
Guerra contribui para que a “sociedade brasileira inicie a sua industrialização, baseada
na substituição de importações, utilizando o excedente gerado pelas atividades
agrícolas de exportação”. (CAMARGO, 2005: 34)
40
Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php> Acesso em: 22 out. 2007
63
FIGURA 4: CARTÃO POSTAL DO VIADUTO DO CHÁ EM 1929. – AUTOR DESCONHECIDO
FONTE: Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php>Acesso em: 22 out. 2007
FIGURA 5: PRAÇA DO PATRIARCA - VIADUTO DO CHÁ E O TEATRO MUNICIPAL AO FUNDO EM 1927 –
AUTOR DESCONHECIDO
FONTE: Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php> Acesso em: 22 out. 2007
64
O crescimento desordenado da metrópole é histórico. A mudança da elite para
região oeste fez com que a região do Anhangabaú ficasse entre o centro da cidade e os
novos bairros, o que provocou uma valorização maior da zona central.
A Revolução de 1930 obrigou o Estado a incorporar e absorver em suas cidades
uma nova classe operária urbana, em especial na cidade de São Paulo, onde se
processava o pólo de desenvolvimento e crescia o eixo da industrialização. (BONDUKI,
2000: 220).
A partir da era industrial, a relação espacial mudou devido ao aumento do sistema
de transporte, tornando-se assim as ruas mais importantes, mudando o conceito de que
anteriormente a este advento era (...) o elemento básico de uma planta urbana não era
a rua ou estrada, mas as unidades de habitação e praças públicas. (...) (ARNHEIM,
1988: 70)
O crescimento da cidade fez que novas ruas fossem abertas. O volume de
veículos aumentava, fruto da prosperidade de São Paulo.
Na medida em que o desenvolvimento acontecia, novos projetos eram
concebidos a fim de atender às novas demandas urbanas. O governo estadual
/municipal procurou alavancar projetos que resolvessem os problemas da cidade.
Houve muitas mudanças ao longo do último século, transformando a fisionomia
da cidade; podemos observar o que foram as fisionomias quando percorremos as ruas
do triângulo, passamos da velha cidade taipa, visitando o pátio do Colégio e o Solar da
Marquesa, a cidade européia vendo o edifício Martinelli, a cidade modernista vista no
Viaduto do Chá. O crescimento metropolitano se deu através de seus contrastes e sua
modernização.
65
FIGURA 6: Esquema técnico de São Paulo integrante do Plano de Avenidas de Prestes Maia - 1930
FONTE: SILVA, 2004: 108
66
Como podemos observar na figura 6 do esquema técnico feito por Prestes Maia,
houve um planejamento, a estrutura da cidade de São Paulo baseava-se em uma série
de caminhos que iniciavam no centro histórico, articulando-se com outros núcleos
regionais. Havia outras propostas, mas segundo relato de Maria Izilda S. de Matos:
Prestes Maia priorizou as soluções organizadas pelo seu Plano de Avenidas, assentado
nos princípios de centralização, expansionismo, verticalização e rodoviarismo. Buscou
implantar o esquema viário perimetral-radial, no qual a avenida é identificada como
símbolo e protagonista das intervenções, como solução para as questões de tráfego,
crescimento e estética. Procurou constituir uma malha viária racionalizada, capaz de
dar conta do crescente número de automóveis, e centrou a questão do transporte na
extensão de linhas de ônibus-trólebus como alternativa mais flexível aos bondes em
trilhos. (MATOS, 2004 apud CAMARGO, 2004: 75)
A cidade evoluiu, muitas coisas mudaram, prédios altos e imponentes juntamente
com o comércio foram afogando o Pátio. Até que em 1953, a partir de um projeto da
empresa Cardim e Cardim, começou a demolição do Palácio do Governo, no qual foram
encontradas paredes de taipa de pilão da época dos jesuítas. O Pátio sobrevive e
dispõe do Museu Padre Anchieta, de uma biblioteca aberta ao público e de um café.
Parte da história do Pátio está guardada no Museu Anchieta, no próprio Pátio do
Colégio.
São Paulo, Centro Velho e Novo ao mesmo tempo, foi o cartão postal no início
do século XX, e hoje continua o mesmo desejo entre cidadãos paulistanos, nascidos ou
acolhidos, que é retomar a valorização do Centro de São Paulo e resgatar seu valor
histórico. A prefeitura tenta melhorar o superadensamento que hoje se encontra na área
com o plano diretor, e os aspectos estéticos ficaram valorizados com a reformulação de
jardins em toda área do Vale do Anhangabaú.
A metrópole está rodeada por monumentos, praças e ruas que fizeram parte da
história da capital paulista, e a história desta cidade é demarcada pelos seguintes
períodos: “a fundação da vila (1554), a cidade do café (1870, a metrópole industrial
(1920) a megalópole (1980).” (MATOS, 2004 apud CAMARGO, 2004:60) Ela apresenta
um desenvolvimento interessante “a partir das últimas décadas do século XIX e até
67
1920, aproximadamente,” demonstrando uma grande transformação urbana e
recebendo investimentos. “Ou seja, a capital paulista passa a receber investimentos
capazes de qualificá-la como espaço de fruição e, mais do que isso, transformam-na
em uma cidade que depende dos códigos visuais para informar sobre suas
compartimentações funcionais e sociais.” (LIMA, 2004 apud CAMARGO, 2004: 211).
Houve a mudança dos pólos econômicos da cidade, que surgiram entre as décadas de
70 e 80 – as Avenidas Paulista e Engenheiro Luiz Carlos Berrini, além do Centro
Empresarial de São Paulo, que se tornaram endereços quase comuns de diversos
bancos, corretoras e financeiras, e muitas destas empresas começaram sua história no
centro de São Paulo.
A cidade de São Paulo de hoje guarda apenas fragmentos de construções
poéticas do seu passado histórico. Atualmente a cidade difere dos contos esquecidos
em bibliotecas e elaborados pelos cronistas que foram paulatinamente substituídos por
apelos da praticidade digital. A teia que forma a cidade foi construída por diversos
protagonistas dentre eles os imigrantes fazendo que a cidade de São Paulo se
transformasse numa amálgama universal de raças e culturas diferentes. Transformouse em um local de múltiplas sensibilidades, uma metrópole irresistível, um espírito
ímpar que revela a cada momento uma imagem poética na sua estética urbana.
Considerando as transformações urbanas da cidade, apresentamos a seguir
conteúdos
referentes
à
história
dos
imigrantes
japoneses
no
Brasil,
mais
especificamente em São Paulo, no Bairro da Liberdade, bem como seu percurso até a
chegada a este bairro temático.
68
“Mas com o tempo a cidade cresce sobre si mesma; adquire consciência e memória de si
própria. Na sua construção permanecem os motivos originários, mas ao mesmo tempo a cidade
esclarece e modifica os motivos do seu próprio desenvolvimento”.
(ROSSI, Aldo. A Arquitetura da cidade. Lisboa: Cosmo, 2001, p. 31)
69
5 A chegada de imigrantes japoneses em terras brasileiras
Tendo partido do porto de Kobe no Japão, após cinqüenta e dois dias a bordo do
navio Kasato-Maru41 que aportou em Santos, no Armazém 14, no dia dezoito de Junho
de 1908, chegaram ao Brasil os primeiros trabalhadores japoneses. Eram 781 pessoas
entre passageiros e tripulantes, sendo que: “Cada família tinha em média de 4 a 5
componentes, 37 pessoas não faziam parte de nenhuma família, haviam (sic)16
crianças com menos de 12 anos e 8 crianças tinham menos de 1 ano, não havia
nenhum idoso e 532 sabiam ler e escrever enquanto 150 eram semi-analfabetos [sic].42”
FIGURA 7: CARTAZ QUE RECRUTAVA
TRABALHADORES NO JAPÃO
FIGURA 8: NAVIO KASATO MARU ANCORADO NO
PORTO DE SANTOS APÓS O TÉRMINO DA VIAGEM
FONTE: HIRASAKI, 2007: n.º 117/112 - ano 10, p. 13 e 51
41
Navio a vapor que pesava aproximadamente 6.000 toneladas, de origem russa, incorporado à frota japonesa após a
vitória do arquipélago sobre o império do Czar Nicolau II na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905).
42
HIRASAKI, César. 100 anos de imigração: Choque de cultura. Revista Made in Japan. São Paulo, nº113/ano 10,
p.54-55, 2007. e Idem: Como era o dia-a-dia a bordo do navio Kasato Maru. Revista Made in Japan. São Paulo,
nº112/ano 10, p.51, 2007.
70
FIGURA 9: O INÍCIO DA VIAGEM DE TREM DO LITORAL PARA SÃO PAULO
FONTE: HIRASAKI, 2007: n.º 14/ano 10, p. 53
Os imigrantes que chegavam ao porto de Santos e posteriormente se dirigiriam
para São Paulo tinham que assinar um contrato com o Governo de São Paulo e
acertado com a Companhia de Imigração Imperial, que previa as regras da imigração:
Estipulava que seriam introduzidos três mil agricultores, em levas não superiores a mil
pessoas. As famílias deviam ter de 3 a 10 membros com idades entre 12 e 50 anos.
Ficou estabelecido que o governo subsidiaria o custo do transporte. Tal pagamento
seria feito no prazo de 60 dias da chegada dos imigrantes. Os fazendeiros
reembolsariam o governo com 40% dos valores subsidiados, com a permissão de
descontar tais cifras dos salários dos imigrantes. O primeiro ano de alojamento
correria por conta do governo. Na propriedade agrícola, os imigrantes teriam direitos
a casas iguais às fornecidas aos imigrantes europeus. Os lotes seriam pagos, no
máximo, em três prestações e dentro de, no mínimo, cinco e, no máximo, dez anos. Só
poderiam obter lotes aqueles que tivessem realizado a primeira colheita e estivessem
com suas dívidas quitadas. (HIRASAKI, 2007: nº. 114/ano 10, p. 55)
Com exceção das pessoas que vieram como viajantes, a grande maioria era
formada por agricultores e se dirigiram às fazendas de café no interior do Estado de
São Paulo. Entre eles havia artesãos, comerciantes e artistas, a maioria okinawanos.43
Após permanecer por alguns dias na Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo, onde
assinaram os contratos de trabalho e receberam as devidas orientações, vacinas
43
Pessoas nascidas em Okinawa, ilha do arquipélago japonês. Ver o mapa no anexo.
71
preventivas e inspeção em suas bagagens, foram divididos e enviados às devidas
fazendas. (HIRASAKI, nº 113, 2007: 54 - 55)
A princípio, houve muita estranheza por parte dos alfandegários, pois os
imigrantes japoneses eram completamente diferentes dos outros imigrantes, tinham
paciência ao observar a inspeção com calma e organização nas filas. Houve problemas
somente na hora de escrever os nomes, pois os funcionários da alfândega não estavam
acostumados com nomes tão diferentes e também devido a famílias arranjadas no
navio: “Durante a travessia do oceano, muitos solteiros se agregaram a famílias
desconhecidas, já que só era permitido fazer a viagem aquele que compunha um grupo
de no mínimo três pessoas, de acordo com o contrato.” (HIRASAKI, Nº 113. 2007: 55)
Os imigrantes mal tinham esquecido o cheiro de maresia e o barulho das ondas
do mar que os trouxeram, quando descobriram os problemas que tinham que enfrentar
e se viram encurralados, porém mantinham viva a esperança de dias melhores.
Ouviam histórias de um futuro melhor juntamente com promessas, que diziam:
“(...) que conseguiram ganhar muito dinheiro colhendo café em terras brasileiras
embalou o sonho dos japoneses acossados pela crise de seu país (...).44
Um sonho compartilhado não só por imigrantes japoneses, mas por outras etnias
que também desembarcaram no Porto de Santos e descobriram que deveriam trabalhar
muito e o prazo para realização deste sonho não era tão curto.
Começava o trabalho dos imigrantes japoneses na agricultura em terras brasileiras.
Seguiram a esses, 188 mil imigrantes-agricultores até o ano de 1941, às vésperas da
eclosão da guerra do Pacífico. Após o término da 2ª Guerra Mundial, a imigração dos
japoneses para o Brasil só foi retomada no ano de 1953, estendendo-se por dez anos,
período em que vieram 50 mil imigrantes-agricultores. A quase total suspensão dessa
imigração, deveu-se às mudanças sócio-econômicas que se verificam no Japão e
também no Brasil. Aquele não mais apresentava as condições que incentivaram a saída
de sua mão-de-obra, assim como o nosso País não mais necessita de trabalhadores
agrícolas estrangeiros. (OI, s.d.:28)45
44
OI, Célia Abe (Coord). Cultura Japonesa – Santos, São Vicente e Guarujá. São Paulo: Aliança Cultural BrasilJapão, [s.d.]. p. 06.
45
OI, Célia Abe (Coord). Cultura Japonesa – São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. São Paulo: Aliança Cultural
Brasil-Japão, [s.d.]. p. 28. Texto de Katsunori Wakisaka – diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiro
72
Pouco mais de um ano, após o início dos trabalhos nas fazendas, desiludidos,
alguns imigrantes resolveram fugir após constatar que pouco adiantaria protestar por
melhores condições de trabalho e de remuneração.
Os imigrantes sofriam com as péssimas condições de trabalho e moradia, além
dos maus tratos nas fazendas. Protestaram e foram ouvidos por Shuhei Uetsuka portavoz da Companhia Imperial de Imigração, “(...)mediante a intervenção da Secretaria do
Trabalho do Estado, que conseguiu que fossem enviados de volta a Hospedaria de
Imigrantes algumas famílias que posteriormente foram transferidas para outras
fazendas mais produtivas”. (HIRASSAKI, Nº 114. 2007: 53) Outros que não tiveram
suas reclamações atendidas fugiam durante a noite.
Após muita confusão, o Brasil teve que adotar políticas para permitir a entrada de
imigrantes no país, preferencialmente, deveriam ter algum recurso financeiro e também
que fossem profissionalmente qualificados do setor industrial. Mesmo com tais
exigências do governo, vários japoneses aportaram no país.
Segundo Katsunori Wakisaka, diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros:46
Transcorridos 85 anos, estima-se que desses 240 mil imigrantes-agricultores e outros
milhares de imigrantes japoneses que se estabeleceram no Brasil, pouco mais de 10%
regressaram ao seu país de origem. 47 Segundo levantamento efetuado pelo Centro de
Estudos Nipo-Brasileiros em 1988, a estimativa da população de japoneses e seus
descendentes residentes no Brasil é: 1.228.00 pessoas que se distribuem em 5
gerações: 1ª geração = 12,5%; 2ª = 30,8%; a 3ª = 41,3%; 4ª =12,9%; 5ª geração 0,2%. São cerca de 150 mil japoneses e 1 milhão e 100 mil brasileiros descendentes de
japoneses.
A seguir apresentamos a trajetória em algumas regiões significativas, onde os
imigrantes japoneses se instalaram e também construíram sua história.
46
Idem a nota de rodapé nº. 41.
Os integrantes desta comunidade se encontram espalhados em todo o território nacional com a seguinte
distribuição: região Norte - 2,68%; Nordeste 2,32%; Sudeste - 79% (sendo que o Estado de São Paulo abriga 72,23%
ou 887.000 indivíduos); Sul- 11,69% e região Centro Oeste - 3,98%.
47
73
Yo nige seshi imim omou-ya kareno hoshi
(penso no imigrante que fugiu; estrela luz em prado seco)
Trecho de haicai escrito por Shuhei Uetsuka (pseudônimo Hyôkotsu)
74
5.1 Imigrantes japoneses em Santos e adjacências
FIGURA 10: ANTIGA HOSPEDARIA DE SANTOS48
FONTE: HIRASAKI, 2007: n.º 113/ano 10, p. 53
A cidade de Santos tinha aproximadamente 50 mil habitantes em 1908,
destacando-se como o principal porto do país da exportação do café, e outros negócios
ligados ao comércio exterior.
Quando os imigrantes japoneses chegaram a Santos, ouviram disparos de fogos
de artifícios. “Os imigrantes ficaram emocionados, achando que se tratava de uma
calorosa recepção por parte dos brasileiros e agitavam suas bandeirolas. Na realidade,
não passavam das tradicionais festas juninas da época.” (HIRASAKI, 2007: n.º 113/ano
10: 53)
Segundo Célia Abe Oi alguns dos imigrantes “foram trabalhar como estivadores,
outros na pedreira Jabaquara, localizada atrás da cidade de Santos”, e alguns
imigrantes seguiram para a periferia de Campo Grande instalando-se em chácaras. “Os
compromissos assumidos no Japão não davam tempo para lamentações. Montaram
barracos de telhado de zinco em meio ao brejo e iniciaram o cultivo de hortaliças.
Enlameados, carregando cestas de verduras rodavam a cidade vendendo sua
produção”. (OI, s.d.: 07)
Usavam guetá
48
49
49
“que se mostrou excelente para enfrentar a lama da cidade
Acomodou os primeiros imigrantes europeus.
Sandália típica feita de madeira.
75
ainda sem calçamento, lembra Yoshinobu Takeda, médico japonês que trabalhou em
Santos antes da Segunda Guerra” (OI, s.d.: 07). Segundo alfandegários da época, os
imigrantes “(...) portavam outros objetos segundo registros dos funcionários da
alfândega, estes eram lenços de seda, cobertores acolchoados, esquisitos travesseiros
de madeira ou bambu, casacões contra o frio, tinta nanquim, alguns raros kimonos,
apetrechos e objetos pessoais”. (HIRASAKI, 2007: n.º 113/ano 10: 54)
Imigrantes originários de Okinawa50 retornaram a Santos para trabalhar na
construção da ferrovia Santos-Juquiá, iniciada em 1912. “No entanto, quando a estrada
atingiu a primeira estação, em Ana Dias, pelo menos seis famílias abandonaram a vida
de operários”. Lá cultivavam o arroz, pois fornecia maiores perspectivas. Ao final das
obras em 1914, algumas famílias que se fixaram na região tentaram o plantio de
bananas e na década de 30 iniciaram uma produção da fruta em larga escala. Muitos se
estabeleceram na região e no ano de 1920 aproximadamente quatrocentas famílias
estavam distribuídas ao longo da região cultivando arroz. “Por volta de 1926, com o
esgotamento da terra, os que permaneceram no local, diversificaram a produção como
o cultivo da cana-de-açúcar para fazer aguardente, ou ainda, o carvão vegetal que,
desde 1919, já vinha sendo empregada a técnica trazida por famílias japonesas”. (OI,
s.d.: 08)
Santos foi a porta de entrada dos imigrantes, tendo a atenção das autoridades
japonesas e, no ano de 1924, instalou-se uma agência do consulado japonês, cujo
intenso movimento imigratório colaborou para que a agência se tornasse consulado em
1936.
(...) os imigrantes japoneses somavam cerca de 1.600 pessoas, no ano de 1925, sendo
60% delas originárias de Okinawa segundo dados apresentados por Matsuo Yaeno, em
1929, no livro “Ukonnitchi no Brasil” (O Brasil de hoje). Campo Grande era
considerado o "bairro oriental” santista da época (coincidentemente em Campo
Grande, capital do atual Estado do Mato Grosso do Sul estava a maior concentração
de okinawanos do país). (OI, s.d.: 08)
No período da década de 1920, cerca de 245 famílias de imigrantes tinham como
50
Ver mapa do Japão anexo, onde poderá ser visualizado Okinawa, bem como outras cidades.
76
principal atividade a horticultura, logo em seguida a pesqueira, com 65 famílias, os
ofícios de artesão com 49 famílias, o comércio com 37 famílias e 32 pessoas se
dedicavam à prostituição e bordéis. Célia Abe Oi (s.d.: 08) afirma que: “Em 1925, das
170 pesqueiras, 60 delas eram da Ponta da Praia, 20 da Praia Grande e São Sebastião,
respectivamente. Outras 16 de São Vicente, 5 de Ubatuba e outras 50, apesar de residir
em outras localidades, mantiveram atividade em Santos”. 51
São Vicente: nesta cidade a primeira vila de pescadores japoneses nasceu em
1919 e suas moradias eram simples “barracos de telhados de zinco”. Após a pesca com
vara ou rede saíam diariamente para vender o fruto de seu trabalho. O tempo passa e
os barracos dão lugar às palafitas e contratam empregados para expandir suas
atividades.
Em 1925, os japoneses são obrigados a se naturalizar brasileiros para
conseguirem a licença oficial para pesca. Isto ocorreu devido ao aumento da atividade
pesqueira, e possibilitou aos japoneses fincarem raízes no setor. A Cooperativa de
Pesca da Ponta da Praia foi fundada em 1928 pelos pescadores naturalizados. Após
quatro anos, os japoneses fundaram a Cooperativa Pesqueira de Santos com sessenta
e três cooperadores. Alguns imigrantes japoneses conseguiram se tornar armadores,
compraram embarcações de maior porte, de motor diesel e caminhões para distribuir o
pescado. Com o passar do tempo e muito trabalho, conseguiram formar outras
cooperativas e empresas e chegaram a fornecer 70% de toda produção de peixe em
Santos. (OI, s.d.: 09)
A Segunda Guerra transformou radicalmente a situação dos imigrantes, mesmo
os naturalizados tiveram que se retirar do litoral e procurar outra sorte.
Os japoneses sempre se destacaram em seus empreendimentos. Em Santos
não foi diferente, destacaram-se pela produção de verduras e legumes sendo que a
maioria cultivava em terra arrendada. A princípio, viviam em situações difíceis, sempre
adoeciam devido às condições precárias. (OI, s.d.: 14)
No pré-Guerra, na década de 30, com a comunidade nipo-brasileira estimada em 200
51
Local deserto até a chegada dos japoneses que lá construíram seus barracos e se iniciaram na atividade pesqueira.
Com o passar dos anos, tornaram-se arrendatários.
77
mil habitantes e o auge do movimento imigratório japonês no Brasil - Santos se
destaca pela atividade comercial. Segundo levantamento do jornal Seishu Shimpo, em
1933, a cidade de São Paulo tinha 159 lojas de japoneses. Santos, 99
estabelecimentos. Cidades reconhecidamente populosas de imigrantes, como
Presidente Prudente, tinha 24 lojas japonesas, Lins 39, Promissão 37 e Bauru 30. OI.
Op. cit. p. 11
Segundo Célia Abe Oi (s.d.: 11), organizados, os imigrantes fundam a Sociedade
Japonesa de Santos na Rua Paraná, 129, na Vila Mathias no dia 14 de Junho de 1939,
uma entidade coordenadora das atividades sócio-culturais, sobretudo, voltada para o
ensino da língua japonesa, pois mantinham suas tradições sempre vivas no intuito de
cultivar a lembrança da terra natal.
Após o término da Segunda Guerra, a cidade continuou a receber imigrantes, e a
fase mais intensa do fluxo de imigração foi em 1958. O governo japonês, preocupado
com os seus imigrantes, enviou verbas e com o apoio da Federação das Associações
Ultramarinas, construiu na cidade a Casa do Imigrante de Santos, e este evento
coincidiu com as comemorações do 50º aniversário da Imigração Japonesa ao Brasil.
“No final da década de 60, com o declínio do movimento de novos imigrantes, em 1974
a Casa do Imigrante foi transformada em asilo de idosos com a Casa de Reabilitação
de Santos.” (OI, s.d.: 13)
Os imigrantes sempre procuraram melhores condições, e sonhavam com uma
vida melhor. Com o passar dos anos e um maior grau de intimidade e de conhecimento
dos hábitos da nova terra, alguns colonos sentiram-se atraídos por perspectivas
melhores oferecidas e, não desistiam de buscar em outras cidades formas de realizar
seus sonhos, pois suas expectativas sempre superaram o sofrimento. Partiram para
outros Estados como o Paraná, conforme veremos a seguir.
78
Senri no michimo ippoyori okoru
(até uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo) Provérbio
79
5.2 Imigrantes japoneses no Paraná
A imigração japonesa foi intensa em diversas regiões do país no decorrer do
século XX. Viajantes cruzavam os oceanos tendo como destino o Brasil. Novas terras,
novos horizontes culturais, e a possibilidade de interação e vivências que se misturam
com a vida neste novo país.
No Paraná, os imigrantes japoneses constituíam a segunda colônia no país. O
processo de aculturação do imigrante japonês no Brasil encontrou fortes barreiras no
princípio não porque os brasileiros lhe impuseram obstáculos, mas por uma série de
fatores que merecem ser colocados à luz da discussão. Um deles foi propósito
temporário da sua permanência no país. Os primeiros imigrantes nipônicos vieram para
ganhar dinheiro e retomar para o Japão num prazo que esperavam que fosse
relativamente curto. Assim, não havia da parte deles uma preocupação maior de
adaptação às condições brasileiras nem da participação mais efetiva nas questões
relativas aos problemas do país que os acolhera.
Segundo Katsunori Wakisaka,52 o desejo de se fixar no Brasil veio com o tempo
e se acentuou com a derrota do Japão na 2ª Guerra Mundial. Afinal, o país de origem
fora praticamente destruído e não oferecia condições ao menos razoáveis para recebêlos de volta. Este fato foi determinante para que os imigrantes fossem aos poucos
assimilados às coisas do Brasil, já com o intuito de aqui permanecerem.
No Paraná não foi diferente, a não ser na região Norte do Estado onde o
processo de integração de hábitos e costumes ocorreu de uma maneira peculiar. Não
foram apenas os japoneses que assimilaram o modo de vida dos brasileiros. O inverso
também ocorreu. Isto porque o imigrante japonês participou de forma efetiva na
colonização da região. Na realidade, quando começaram a ir de forma expressiva ao
Paraná, os imigrantes japoneses já estavam mais familiarizados com os hábitos e
costumes da nossa terra. A grande maioria já estava no Brasil há algum tempo, e
52
WAKISAKA, Katsunori. Imigrantes Japoneses em terras brasileiras. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura
Japonesa - São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, [s.d.], p. 28-29.
80
muitos inclusive, eram proprietários de terras de outros Estados. (OI, s.d.: 502)
A crise mundial que aconteceu em 1930 e a proibição do plantio do café em São
Paulo contribuíram para que alguns imigrantes japoneses tomassem novos rumos,
seguindo para o Norte do Paraná.
A cidade de Londrina,53 no Paraná, ficou conhecida como colônia internacional
devido à quantidade de imigrantes de diferentes nacionalidades:54 "eram alemães,
italianos, russos, eslavos, espanhóis, holandeses, poloneses, ucranianos e muitas
outras etnia". A cidade ficou conhecida como a Babel brasileira, devido à quantidade de
idiomas diferentes falados no local. (HIRASAKI, nº 116. 2007: 52)
Atrás das duas bandeiras (do Brasil e da Inglaterra) cruzadas em forma de ' x ’,
apareciam de três países: Japão, Alemanha e Itália, seguindo a ordem de colonização.
Isso era sinal de que a Companhia também reconhecia que os japoneses tinham sido
um dos primeiros colonizadores da região norte do Paraná.55(HANDA apud
HIRASAKI, 2007: 52)
A isso, soma-se o período de grandes dificuldades encontrado durante a
colonização das terras norte-paranaenses, que certamente contribui para uma maior
aproximação entre os imigrantes de todas as origens e os brasileiros. Pois só com a
cooperação e ajuda mútua era possível transpor os obstáculos próprios do
desbravamento. Há que se considerar também o surgimento das novas gerações, que
favoreceu a aceleração do processo de aculturação, contribuindo sobremaneira, para
consolidar a integração social hoje existente.
É bom destacar ainda que, embora o japonês sempre estivesse em posição de
minoria no Brasil, não houve caracterização de povo dominante e povo dominado.
Evidentemente, as profundas diferenças entre um país e outro, entre uma cultura e
outra, obrigaram os japoneses a abrir mão de muitos se seus hábitos e costumes.
Segundo Célia Abe Oi, os isseis56 resistiram de forma mais intransigente ao
53
Significa Pequena Londres.
Eram aproximadamente 33 nacionalidades diferentes.
55
Livro do historiador Tomoo Handa, O Imigrante Japonês. Onde demonstra a dimensão da diversidade de
nacionalidades que colonizaram a região.
56
Ver termos orientais no anexo.
54
81
processo de aculturação até porque as tradições do país de origem estavam arraigadas
em suas vidas. Já os nisseis57 conviveram mais perto e por mais tempo com a
realidade brasileira. Reunidos em suas associações de jovens, eles partiram em busca
da integração social, interagindo na vida do país, discutindo os problemas brasileiros e
não apenas a situação da colônia nipônica no Brasil. (OI, s.d.: 310)
Segundo pesquisas feitas, os imigrantes japoneses chegaram à região pelo norte
do Paraná, no ano de 1913 (o primeiro grupo), fixando então na cidade de Cambará
(OI, s.d.: 501).
Do núcleo Vila Japonesa de Cambará para formação de outras cidades vizinhas, com
as mesmas características, foi questão de pouco tempo Bandeirantes, Cornélio
Procópio, Londrina, Arapongas, assim por diante. A presença marcante dos
descendentes de japoneses na Capital, aconteceu no início da década de 50. Eram os
jovens estudantes, filhos de agricultores, que chegavam à cidade grande para cursar a
universidade. Depois de formados, poucos deles retomaram à terra de origem, muito
pelo contrário, foram buscar seus familiares e se fixaram definitivamente em
Curitiba.58
Em Curitiba os imigrantes mostraram sua cultura através da arte, culinária e
outras tradições como: “Haikai, Kumon, origami, ikebana, sushi, sakê...” A comunidade
vai ganhando destaque e prestígio.· “E o curitibano não-japonês tem ao alcance das
mãos, sem querer nem poder esconder sua admiração, uma cultura que se abre como
uma escola para ensinar não só lições de arte, mas lições de amor a terra, lições de
amor ao trabalho, lições de vida”. (DIEZ, s.d.: 502)59
A cultura e trajetória vivida por estes imigrantes japoneses foram, em parte,
apresentadas no filme “Gaijin 2 – Ama-me como sou, da diretora Tizuka Yamazaki”.
No Paraná como em São Paulo, são intensas as comemorações, principalmente
porque é uma preparação para o centenário da imigração que acontecerá em 2008. No
primeiro semestre do ano de 2007, comemorou-se o Hana Matsuri,60 em Curitiba houve
57
Ver termos orientais anexo.
OI. Op. Cit. p. 501.
59
DIEZ, Mônica. O sotaque japonês em Curitiba. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura Japonesa –São Paulo, Rio de
Janeiro e Curitiba, São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, [s.d.], p. 502.
60
Homenagem a Buda e ao Elefante Branco – comemorado no mês de Abril.
58
82
uma grande festa com várias apresentações na praça Japão com mais de 60 mil
pessoas. A próxima imagem mostrará a grandiosidade deste evento que acontece todo
ano em Curitiba.
FIGURA 11: MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
DA COLÔNIA JAPONESA EM CURITIBA PARANÁ
FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 116/ano 10, p. 58
(APRESENTAÇÃO MUSICAL)
Curitiba ganhará o Parque Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, o projeto
da prefeitura será implantado no ano de 2008 e, segundo o prefeito Beto Richa: “O
parque será um dos marcos do centenário e da integração entre Brasil e Japão. Ele
contribuirá para a preservação ambiental, oferecerá oportunidade de emprego e uma
nova área de lazer para a população”. (JORNAL NIPPO – BRASIL, de 11 a 17 de jul.
2007, p. 4)
O parque será implantado dentro de Área de Proteção Ambiental do Iguaçu, no
bairro Uberaba. A prefeitura tem intenção de colocar no parque peças do navio Kasato
Maru, que durante a Segunda Guerra foi afundado na costa Rússia. O parque
apresentará contribuições à preservação do Rio Iguaçu. Estudos da Secretaria do Meio
Ambiente identificaram problemas devido ao “lixo, esgoto e risco de inundações”.
Segundo afirmação do Secretário do Meio Ambiente, José Andreguetto: “A instalação
do parque ajudará a resolver esses problemas, contribuindo para a urbanização do
bolsão e para a preservação da Bacia Hidrográfica do Alto Iguaçu”.61 Outras cidades do
Paraná receberão investimentos do Ministério do Turismo e da iniciativa privada para os
projetos de infra-estrutura de Parques Temáticos e eventos para comemoração do
61
Para marcar 2008, Curitiba apresenta Parque da Imigração. Jornal NIPPO –BRASIL, São Paulo, p. 4 - geral, de 11
a 17 de jul. 2007.
83
centenário.
A imagem da cultura japonesa mostra-se presente no Paraná, assim como em
outros Estados do Brasil, intensificando-se quando se aproximam as comemorações do
centenário da imigração.
A influência japonesa marcará o processo de transformação da cidade de São
Paulo e se apresentará como um atrativo turístico e cultural no Bairro da Liberdade
como analisamos a seguir.
84
“Warau kadoniwa fuku kitaru”
(A felicidade vive na casa de quem sorri) Provérbio
85
5.3 Imigrantes japoneses na cidade de São Paulo
FIGURA 13: A HOSPEDARIA DE IMIGRANTES NO BAIRRO DA MOOCA
FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 113/ano 10, p. 54
De acordo com pesquisas, dentre os imigrantes que chegaram ao Brasil pelo
Kasato Maru, alguns se estabeleceram em São Paulo. Porém, anteriormente a este
episódio, já havia na cidade alguns pioneiros nipônicos como Teijiro Suzuki, que
possuía uma loja de artigos japoneses estabelecida na Rua São Bento, chamada Casa
Fujisaki, onde trabalhavam Tokuji Sato e Takeo Goto. Era a filial de uma casa comercial
da cidade de Sendai - Japão. (OI, s.d.: 30)
Katsunori Wakisaka,62 diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiro, afirma que
estava estimada em trezentos e vinte e seis mil pessoas a população de japoneses e
seus descendentes na cidade de São Paulo, segundo levantamento feito pelo Centro de
Estudos Nipo-Brasileiros em 1988. Atualmente, é o maior número de japoneses fora do
Japão. São cerca de 500 mil imigrantes e descendentes.
62
WAKISAKA, Katsunori. Imigrantes japoneses na cidade de São Paulo. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura
Japonesa - São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Aliança Cultural Brasil-Japão: São Paulo, [s.d.], p. 30.
86
FIGURA 14: DISTRIBUIÇÃO DAS FAMÍLIAS NAS FAZENDAS DE SÃO PAULO
FONTE: HATTEN-SHI apud HIRASAKI, 2007: n.º 114/ano 10, p.54
Nesta imagem, podemos observar a distribuição das famílias nas fazendas no
Estado de São Paulo. Katsunori Wakisaka afirma que:
(...) aos poucos, alguns imigrantes inadaptados aos trabalhos das fazendas de café no
interior do Estado se deslocavam para a capital, mesmo que fosse para conseguir nova
colocação em outra fazenda. Agrupavam-se na Rua Conde de Sarzedas e redondezas.
Essa rua se situava próxima ao largo João Mendes, no centro da cidade. Alguns
tinham ofício aprendido no Japão, como carpinteiros, por exemplo, conseguiam
colocação nos trabalhos de construção, mas a maioria tinha que se tornar empregado
doméstico. (OI, s.d.: 30)
87
FIGURA 15: CASAS ONDE MORAVAM OS IMIGRANTES QUE TRABALHAVAM NAS FAZENDAS
FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 113/ano 10, p. 53
O fenômeno de fluxo dos imigrantes japoneses para a cidade de São Paulo
deve-se a alguns fatores econômicos, inclusive devido à pretensão dos migrantes
agricultores quanto a se tornarem agricultores independentes, tendo suas terras para
produzir. Com este desejo, permaneciam por mais de três anos, que era o período
estipulado em contrato pelos donos de fazenda de café. Porém, segundo Katsunori
Wakisaka, “muitos partiam para as fontes de desbravamento, adquirindo, em
prestações, pequenas glebas para a formação de cafezais ou outras culturas. E, muitos
deles vieram para as cercanias da cidade de São Paulo, adquirindo ou arrendando
pequenas áreas para praticarem a agricultura de subsistência”. (OI, s.d.: 30) Este tipo
de trabalho em lavoura, com sua base de mão-de-obra familiar, era muito conhecido
pelos imigrantes japoneses devido ao seu percurso histórico.
FIGURA 16: IMIGRANTES COLHENDO CAFÉ
FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 114/ano 10, p. 55
NOTA: Japoneses aprendem o processo da
“derriça”, que consiste em jogar os frutos sobre
um lençol, do qual eram mais tarde recolhidos e
peneirados.
88
A cidade de São Paulo transformava-se em um grande centro, suas indústrias
em ascensão e, com isto, aumentava a demanda de alimentos hortifrutigranjeiros e
outros produtos e serviços oferecidos pelos imigrantes japoneses. (OI, s.d.: 31)
Em meados de 1910, especula-se que alguns plantadores de verduras estavam
localizados nos arredores na capital, porém, é na década seguinte que eles ocupam o
mercado nas regiões circunvizinhas da cidade. “Aparecem lavouras de batata,
principalmente em Cotia, Juqueri, Mogi das Cruzes e (sic) etc”, e com este crescimento
substancial foram criadas Cooperativas. (OI, s.d.: 31)
Katsunori Wakisaka afirma:
(...) o crescimento da população da Capital, e mudanças, e enriquecimento dos hábitos
alimentares, ajudados pela presença de muitos imigrantes oriundos de variadas partes
do mundo, ampliaram esse mercado de gêneros alimentícios, assegurando a
prosperidade desses produtores. Essas atividades produtivas ao redor da Capital, os
serviços correlatos que se desenvolveram na cidade e a importância da cidade de São
Paulo como centro econômico de todo o Estado, formaram uma comunidade de
japoneses cujos integrantes se dedicassem a muitas ocupações e prestações de
serviços. Informa-se que a comunidade de origem japonesa na cidade de São Paulo em
1993, no 25° aniversário de sua imigração, compunha-se mais de 2 mil pessoas. 63
No ano de 1914 foi fundado o Hotel UEJI, o pioneiro dos hotéis japoneses em
São Paulo, e em 14 de julho de 1915 foi criado o Consulado Geral do Império do Japão
em São Paulo, na rua Augusta, 297. E, “em 1918, foram inauguradas a Casa Mikado e
a Casa Tokyo, que vendiam móveis de fabricação própria”.64 No ano de 1932 havia
aproximadamente cerca de 2 mil imigrantes japoneses em São Paulo, vindos
diretamente do Japão para São Paulo e também do interior. Após encerrarem o
contrato de trabalho em lavouras do interior, todos buscavam uma oportunidade melhor
na cidade.
Anteriormente à Segunda Guerra Mundial, havia poucas empresas japonesas na
cidade São Paulo, e o número de firmas e indústrias operadas por imigrantes era
63
Diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura Japonesa-São Paulo, Rio de
Janeiro e Curitiba. Aliança Cultural Brasil-Japão: São Paulo, [s.d.], p. 31.
64
Parte de uma matéria retirada do site: Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em:
http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html - Acesso em: 22 fev. 2007.
89
irrisório, pois grande parte deles trabalhava no comércio de produtos agrícolas.
Os imigrantes japoneses começam a procurar uma nova identidade e a formação
de suas famílias junto a outros conterrâneos. Buscando locais estratégicos, começam a
ocupar algumas regiões do Estado de São Paulo e também no Bairro da Liberdade e,
assim, começa a história deles neste bairro de características peculiares apresentadas
a seguir.
90
5.4 A origem do Bairro da Liberdade e o processo de ocupação pelos
japoneses
FIGURA 17: RUA DA GLÓRIA, ESQUINA COM O LARGO 7 DE SETEMBRO EM 1.860. AO LADO, A MESMA
TOMADA EM MAIO DE 1.999.
65
FONTE: DPH a 1ª imagem, e a 2ª imagem da autora Vanuzia de Souza Brito (1.999)
Representante da paisagem urbana com suas características peculiares, e um
nome poético “Liberdade”, o bairro possui vestígios históricos do processo de formação
do centro de São Paulo, e seu traçado permite perceber o funcionamento deste bairro
tão especial.
Há muitas controvérsias sobre a origem do nome Liberdade entre os estudiosos.
Existem algumas versões fantasiosas, mas o fato concreto é que esta denominação foi
primeiro aplicada a um chafariz localizado no Largo de São Francisco em meados de
1831 segundo o historiador Nuto Sant’Anna. (São Paulo Histórico, p. 23).
(...) para comemorar a abdicação de D. Pedro I, o vereador Cândido Gonçalves
Gomide sugeriu a modificação de diversas denominações na cidade. Dentre elas,
estava a alteração do antigo "Largo do Curso Jurídico" (atual Largo de São
Francisco) para "Praça da Liberdade". Não aceitando a troca, a Câmara Municipal
resolveu então aplicar este nome ao chafariz ali existente, que passou a ser
denominado oficialmente como Chafariz da Liberdade, "desse chafariz se originou o
nome da rua, do largo e do bairro da Liberdade”. O fato concreto porém, é que no dia
29/10/1858, foi publicado o seguinte Edital "A Câmara Municipal faz saber aos seus
65
139 anos após a primeira foto
91
habitantes que em Sessão do dia 28 do corrente, deliberou chamar-se Praça da
Liberdade, o largo da Forca onde se acha colocado o Chafariz da Liberdade.66
Segundo histórico o nome do bairro também deriva de uma história real: no ano
de 1821, dois soldados foram executados na forca, e no momento da execução do
último soldado, ocorreu um fato marcante. As cordas que o sustentava se partiram,
houve inúmeras tentativas até chegar à consumação do fato. Diz a lenda que as cordas
se rompiam porque o soldado era inocente. Por isso, o local antigamente era conhecido
como “campo da forca” e atualmente no local existe a Praça da Liberdade. Além disso,
o nome do bairro possui um contexto histórico-geográfico que, devido aos fatos, este
nome “Liberdade” remete a um estado e sempre será a luta de várias pessoas no
mundo todo. (PORTO, 1996: 109)
O atual Bairro da Liberdade, que anteriormente era conhecido como Glória, foi
palco de inúmeros acontecimentos. Em 1840, na Rua da Glória, esquina com a Rua dos
Estudantes, havia um casarão onde moravam estudantes que, segundo conta
SEVCENKO “(...) brilhou a mais fina flor da juventude romântica da cidade, encabeçada
por Bernardo Guimarães e Álvares de Azevedo.” Também era conhecido como um local
de esbórnia e bandalheira, tudo o que não era bom aos olhos da sociedade estava lá.
Segundo relatos era lá que estavam as coisas ruins que a sociedade repugnava e
achava indigno, e segundo o autor:
Em diferentes épocas e distintos locais, foram instaladas lá instituições as mais
problemáticas. Em primeiro lugar, como vimos, a forca, e, ao seu lado, o arsenal e
depósito de pólvora da cidade, razão pela qual o morro e o largo eram referidos ora
como “da Forca”, ora como “da Pólvora”, nome que permaneceu atualmente para
largo remanescente, ao sul da antiga praça. Adjacente estava o cemitério dos
supliciados e dos indigentes. Vieram depois o hospital, a roda dos enjeitados, o asilo
dos alienados e o asilo de mendicidade. No início da Rua da Liberdade (antigo
caminho do Morro da Forca), ficavam a Cadeia Pública, a Casa de Correição e
Trabalho e o pelourinho. (SEVCENKO APUD CAMARGO, 2005:194)
Independente de divergências históricas, o bairro foi constituído étnica e
66
História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso em: 11 abr. 2007.
92
lentamente pela concentração de imigrantes japoneses que começaram a chegar a
partir de 1919; como consta no capítulo "Imigrantes japoneses na cidade de São
Paulo", já havia na cidade alguns pioneiros orientais.
Laís de Barros Monteiro Guimarães afirma que o bairro se estruturou em função
do progresso que a cidade de São Paulo atravessava após a proclamação da
República, a partir da década de 30. E também com a expansão do Distrito Sul da Sé
no final do século XIX, quando ocorre o desenvolvimento do bairro devido a duas
importantes radiais: “(...) a estrada para Santo Amaro e estrada Vergueiro, continuação
da rua da Liberdade para sudoeste, em direção ao ribeirão do Ipiranga, até encostar o
caminho do Mar.” Nesta direção se desenvolveram outros bairros. (GUIMARÃES,
s.d.:43)
Porém, a ocupação do bairro se intensifica por volta do final dos anos quarenta,
os isseis67 reuniam-se na proximidade do cinema Nápoles, que exibia filmes japoneses,
e se tornou ponto de encontro da colônia. Posteriormente, começaram a aparecer
próximos ao local “hospedarias, pequenos restaurantes, lojas de artigos importados e
toda infra-estrutura para atender a crescente demanda cultural e material da
comunidade altamente gregária.” (CARNEIRO, (s.v.), n. 22, p. 96, jun. 1976) Neste
período, também se observa a chegada de nisseis filhos de colonos que buscavam na
capital melhores condições de formação.
O Bairro da Liberdade no início do século XX era residencial, interligava “o centro
urbano e os bairros da zona sul em formação: Paraíso, Vila Mariana, Vila Clementino,
Jabaquara, Saúde e Santo Amaro”.68
67
68
Ver termos orientais anexo.
GUIMARÃES. Op. cit. p. 60.
93
Largo da
Liberdade
atual Praça
da Liberdade
FIGURA 18: MAPA DA REGIÃO DE SÃO PAULO
FONTE: Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo –1890 - DPH
NOTA: A planta datada de 1890 revela a expansão da cidade. No ponto identificado está a atual Praça da
Liberdade e o círculo compreende a região onde se localizam algumas das ruas principais do Bairro da
Liberdade.
O bairro da Liberdade tornou-se oriental em 1969, pertencente à Administração
94
Regional da Sé (AR-SÉ), e sua jurisdição está calculada em aproximadamente em
2.492 hectares. Escolhido pelos imigrantes japoneses devido à proximidade com o
centro e porque naquele período poderia oferecer melhores condições e oportunidades
de empregos; outro fator que incentivou a optarem por este local foram os imóveis que
eram muito baratos e possuíam uma série de casas com porões, sendo uma ótima
oportunidade para quem dispunha de poucos recursos. No início nem tudo foi tranqüilo,
enfrentaram muito preconceito devido a questões sociais. 69
A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, começou a pensar em progresso de
urbanização, dando início a construções de grandes avenidas e linhas metroviárias,
uma delas passava pelo Bairro da Liberdade. Em meados de 1970, surgiu a Estação
Liberdade e São Joaquim.70
Antonio Rodrigues Porto afirma que a constituição das vias que levam ao bairro
se deu através de caminhos. As Avenidas 23 de Maio e a da Liberdade foram
construídas com aproveitamento total do Vale do Itororó e da antiga Rua da Liberdade,
trecho do tradicional caminho do Carro para Santo Amaro. E neste processo foram
feitas várias concessões a moradores da região (o processo de formação do Bairro da
Liberdade ocorreu devido ao retalhamento das grandes propriedades locais e também
após a Proclamação da República, a partir de 1930), e assim, aconteceu o processo de
sua formação étnica. Na década de 1970, seria traçada a primeira linha metroviária
brasileira.No local onde hoje é o metrô, havia duas estátuas que foram retiradas para
construção do metrô Liberdade, “uma do Regente Feijó e a outra uma réplica da
Estátua da Liberdade”. Assim que terminaram as obras do metrô surgiu, “em 1974 a
Feira da Liberdade, a única da América do Sul com produtos orientais típicos e
artesanais”. (PORTO, 1996: 110) Esta foi uma iniciativa do imigrante, Tsuyoshi
Mizumoto,71 que idealizou um local para que os imigrantes orientais pudessem expor
trabalhos típicos de suas regiões.
69
Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html> - Acesso em: 22 fev. 2007.
70
Disponível em: <http://www.radiobras.gov.br/especiais/saopaulo450/mat_saopaulo12.php> Acesso em: 05. jun.
2005.
71
Tsuyoshi Mizumoto, o japonês/brasileiro que deu origem a tudo isso, foi homenageado com um busto que fica em
lugar de destaque no centro da Praça da Liberdade.
95
Porém, um velho sonho fazia parte da memória de vários imigrantes japoneses:
transformar a Liberdade em um bairro tipicamente oriental, totalmente decorado. Um
imigrante japonês, morador do bairro nostálgico do seu país e grato à pátria que o
acolheu, resolveu agradecer prestando uma homenagem, pois no local habitavam
alguns conterrâneos mantendo um aspecto popular de sua terra natal. Com o auxílio de
lojistas e entidades públicas, começou a caracterização do bairro com suzurantô,72 nas
ruas principais; construíram jardins com características e simbolismos orientais, dando
às ruas e espaços do bairro um toque oriental japonês, reforçando a composição étnica
cultural.73 Porém, a população atualmente é composta não só por japoneses, mas
também por chineses e coreanos74 e outras etnias que fazem parte do comércio local.
Na inauguração do Viaduto Osaka em 1968, o então prefeito Paulo Maluf pediu para
que, ao invés de "bairro japonês", a região passasse a ser conhecida como "bairro
oriental", independente disso o bairro da Liberdade continuou sendo um bairro da
comunidade japonesa no Brasil, graças às entidades como a Associação de
Confraternização dos Lojistas da Liberdade, que em 1974 passa a ser chamada
oficialmente Associação dos Lojistas da Liberdade.75
Em novembro de 1974, foi inaugurada oficialmente a nova decoração das ruas
principais do Bairro da Liberdade e continuaria no ano seguinte. Para a comunidade
japonesa foi um sonho que se realizou, pois seria o primeiro bairro tipicamente oriental
do Brasil. (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 07 nov. 1974, [ s. p.])
No dia 18 de junho de 1975, o prefeito Olavo Setúbal daria início ás
comemorações acionando a chave que ligaria 219 luminárias típicas instaladas na
confluência da rua da Glória com o Viaduto Leste Oeste. As comunidades que residiam
no local ou possuíam estabelecimentos comerciais no bairro Oriental estavam em festa
para receber a segunda fase da iluminação típica e, então, naquele período, o bairro
72
Ver termos orientais anexo.
Disponível em: <http://www.estacaometropole.com/liberdade.htm> Acesso em: 25 fev. 2007.
74
A Coréia foi colônia do Japão durante trinta e cinco anos, até o final da Segunda Guerra. Os coreanos começaram
a chegar ao Brasil pelo Porto de Santos nos anos sessenta, e foram trabalhar em fazendas no interior de São Paulo.
Muitos traziam as tristes lembranças de guerras e invasões. A Rua Conde de Sarzedas foi moradia de muitos
coreanos até os anos oitenta. Coreanos festejam 40 anos no Brasil. Disponível em:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG55318-6014,00.html> Acesso em: 08 out. 2007.
75
Quando o bairro japonês se torna bairro oriental. 2007. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> Acesso em: 11 abr. 2007.
73
96
tornava-se atração turística de São Paulo. (JORNAL DIÁRIO POPULAR, 17 jun. 1975,
p. 9)
FIGURA 19: LIBERDADE: MAIS DE 219 LUMINÁRIAS
FONTE: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 17 jun. 1975, p. 9
A imagem acima mostra o portal do Bairro da Liberdade, bem como a colocação
das luminárias em 1975. Nela observamos o portal Torii que se destaca no arruamento
da Galvão Bueno. Ele é um “portal de madeira, normalmente pintado de vermelho. Ele
foi criado para ser originalmente apenas um simples portão das antigas cercas do
santuário. Quando as cercas foram retiradas, o torii permaneceu para designar a
entrada de um lugar sagrado e afastar os maus espíritos.”76
76
Japão de A à Z - Torii – (Portal de madeira). Disponível em:
<http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=177> Acesso em: 07 fev. 2008
97
FIGURA 20: RUA GALVÃO BUENO, A
ESQUERDA JARDIM ORIENTAL
FONTE: Pesquisa de campo no Bairro
da Liberdade
NOTA: foto da autora (nov. 2007)
FIGURA 21: RUA GALVÃO BUENO VISTA DA
PRAÇA DA LIBERDADE
FONTE: CÍCERO VIÉGAS apud BELLIS, 1993: 7
Laís de Barros Monteiro Guimarães afirma que os primeiros imigrantes que se
instalaram no Bairro da Liberdade foram os italianos. Em seguida, os portugueses e
posteriormente os orientais. (GUIMARÃES, s.d.: 60) O bairro é vizinho da comunidade
italiana do Bexiga, com suas lanternas características, lojas expondo seus produtos
orientais, os restaurantes típicos, a feira de artesanato aos domingos. Conhecido por
muitos paulistanos, é um bairro com grande apelo turístico em São Paulo e também é
conhecido em outros países.
Tendo uma urbanidade de imitação do Japão, alguns de seus objetos
arquitetônicos aumentam e tornam suas características marcantes como bairro
temático, reforçando a composição étnica cultural. É um lugar que mostra sua
identidade e sua cultura nas ruas, tornando sua atmosfera diferente. O Bairro da
98
Liberdade possui funções definidas por meio de formas que expressam uso, circulação,
funcionalidade do comércio local e cultura. O ambiente é identificado pelo usuário
muitas vezes indiferente aos problemas econômicos ou sociais existentes no local. O
bairro é extremamente visível devido às suas características cênicas e por estar
próximo ao centro histórico de São Paulo. Estas características cênicas delimitam o
bairro. Podemos entender como limite cênico do Bairro da Liberdade tudo que dá
característica oriental ao local e que ao mesmo tempo o separa de outros locais, sem
as tais características, agregando a questão da idealização de um espaço urbano
temático e a representação cenográfica do mesmo.
Tais limites cênicos advêm da formação cultural de uma determinada etnia, são
valores e costumes somados a alguns objetos que se tornam símbolos da cultura de um
povo e, intencionalmente, acabam atraindo o público para o local; os elementos
apresentados pelo bairro são fortes e marcantes em tons de vermelho, e a percepção é
inevitável. Neste sentido, a identidade urbana do bairro oriental é revelada através de
sua imagem simbólica.
O Bairro da Liberdade apresenta as características dos grandes centros de
compras e gastronomia que existem em bairros orientais em vários lugares do mundo;
um exemplo é Chinatown, uma região urbana com população oriental dentro de uma
sociedade não-oriental. Estes locais podem ser encontrados em algumas cidades da
Europa e na Austrália e também em New York, Los Angeles e Montreal no Canadá.
Nestas cidades podemos identificar a presença de outra população, uma nova
identidade cultural.
Na visão de Marc Auge,77 as culturas se adaptam aos lugares:
As culturas “comportam-se” como a madeira verde e jamais constituem totalidades
acabadas (por razões extrínsecas e intrínsecas): e os indivíduos, tão simples quanto os
imaginamos, nunca o são o suficiente para não se situar em relação à ordem que lhes
atribui um lugar: só experimentam sua totalidade de um certo ângulo. (AUGÉ, 1994:
26)
77
Antropólogo, foi coordenador de pesquisas na École dês Hautes Estudes em Sciences Sociales (EHESS)
presidindo entre os anos de 1985 e 1995.
99
Acreditamos que a possibilidade de os imigrantes se fixarem no bairro foi devido
à funcionalidade, por estarem muito próximos ao centro e por haver outros imigrantes já
estabelecidos.
Segundo Yázigi, “(...) a personalidade de um lugar já não seria mais só de seus
primitivos habitantes, mas de todos os forasteiros agregados (...)”.(2001: 17). O autor
baseia-se nos fluxos migratórios e também no fato de o tempo moldar os territórios e os
cidadãos, nomeando-os como “conjunto de traços identitários”. Demonstra que as
cidades recebem um grande número de “forasteiros” e questiona se os mesmos
pertencem ou não ao local: “Digam-me o que é população local?”, pois, alguns bairros
que tinham suas características marcantes devido aos fundadores, como o Brás é ou
era, o bairro italiano. No Bom Retiro, o predomínio era Judeu. E o Bairro da Liberdade
dos japoneses e hoje é uma imbricação de culturas orientais.
A identidade de um bairro tem origem no seu passado, nos vestígios deixados,
as transformações dos locais acontecem, e são os fatores sociais que ditam a
identidade de um novo espaço.
O Bairro da Liberdade transformou-se em um bairro turístico com características
exóticas por sua tradicional associação com colônias do Extremo Oriente.
Não estamos nos referindo a um lugar utópico. Pois, o bairro é notável e para
reconhecer a identidade do Bairro da Liberdade, Segundo Yázigi, dispomos de duas
formas: uma de caráter privado e a outra pública que se destina aos outros que a
reconhecem. No caso do Bairro da Liberdade, podemos questionar atualmente sua
identidade, sabendo que a “(...) identidade se diluem na globalização, o urbanismo
turístico tenta supri-las com fantasias e publicidade". Na explicação do autor o espaço
evolui juntamente com o homem. (RAPOPORT, apud Yázigi, 2001:189)
O espaço público é comumente visto pelo turista como um cartão de visita de um
determinado lugar e um estruturador urbanístico. Para Yázigi (2001:202), “é a partir dele
que turistas e forasteiros chegam ao lugar e seu universo”. Este elemento é mais nítido
ao residente, pois ele enxerga a ordem política do lugar, estabelecendo os “conceitos
de liberdade, democracia” que são compartilhados por todos. “O espaço público é um
retrato do grau de coesão comunitária na medida em que desempenha uma função de
100
forte peso na eficácia dos símbolos, pois reúne em o maior número de pessoas que
partilham dos mesmos códigos”.
Este não-lugar que tomamos emprestado por um curto espaço de tempo nos dá
a imagem de um lugar abstrato. Muitas vezes, quando chegamos ao bairro não
conseguimos decodificar os símbolos, signos e desenhos ali presentes; outras vezes,
temos a impressão de que estamos em um bairro no Japão, sensação causada por
uma identidade provisória, (...) o espaço do consumo contemporâneo sob o signo do
não-lugar”. (AUGÉ,1994: 94)
O bairro também conta sua história através de algumas das ruas principais e
estas assumem uma importância, reforçando a identidade do bairro e diferenciando-o
de qualquer outro bairro da cidade:78
FIGURA 22: AVENIDA DA LIBERDADE PRÓXIMA À CATEDRAL DE
SÃO PAULO (IGREJA DA SÉ)
FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade
NOTA: foto da autora (1.999)
78
Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html> - Acesso em: 22 fev. 2007.
101
FIGURA 23: Antigo Calçamento de
paralelepípedo da Rua da
Liberdade (atual Av. da Liberdade)
FONTE: GUIMARÃES, Laís de B. M. (s.d.)
p. 68 e 129, Vol. 16: Liberdade.
NOTA: Foto de 1909 – Arquivo DPH
Avenida da Liberdade: Ao longo da história, esta rua teve diversas
denominações. A primeira delas foi a de Rua da Pólvora, uma vez que através dela se
chegava à Casa da Pólvora, construída em 1754, e que se localizava no atual Largo da
Pólvora. Após a construção da "Forca" (cerca de 1775) utilizada para cumprir as penas
de morte, o povo deu-lhe o nome de Rua da Forca. Chamada também de Rua de Cima,
em 1810 este logradouro tomou o nome de Rua do Cônego Leão, porque ali residia o
Cônego Leão José de Sene. No dia 28 de novembro de 1865, por proposta do vereador
Malaquias Rogério de Salles, o logradouro recebe seu nome definitivo de Rua da
Liberdade (alterada para Avenida da Liberdade em 1952).79
Em toda a sua extensão existem prédios e obras da arquitetura que registram a
história da cidade. Um deles é o Círculo Esotérico do Pensamento, uma sociedade
espiritualista, onde se estudam todas as filosofias e todas as ciências ocultas.
Além desta avenida, outras ruas marcam o perfil do bairro. A rua Conde de
Sarzedas é uma das ruas mais antigas do Bairro da Liberdade, conhecida como a rua
dos japoneses pois, em 1912, os imigrantes japoneses passaram a residir nesta rua.
Era uma ladeira íngreme e, na baixada, havia um riacho e toda uma área de mangue.
Um dos motivos de procurarem as casas desta rua era que quase todas tinham porões,
e os aluguéis dos quartos no subsolo eram incrivelmente baratos. Nesses quartos
moravam apenas grupos de pessoas. Para aqueles imigrantes, aquele cantinho da
79
História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso em: 11 abr. 2007.
102
cidade de São Paulo significava esperança em dias melhores. Por ser um bairro central,
de lá poderiam se locomover facilmente para o centro e também para os locais de
trabalho. 80
FIGURA 24: VISÃO DA RUA GALVÃO
BUENO, O CENTRO DO BAIRRO
ORIENTAL
FONTE: GUIMARÃES, (s.d.), p. 90
NOTA: Foto do final da década de 1970 ou início
de 1980
Outra rua que marca o bairro é a Galvão Bueno. Em 1822 esta rua se chamava
Rua Detrás do Cemitério. Recebeu esse nome devido ao senhor Carlos Mariano Galvão
Bueno que nasceu em São Paulo em 1834. Em 1860 formou-se advogado pela
Faculdade de Direito. Foi professor de Filosofia e Retórica. Morreu afogado em 24 de
maio de 1883, quando pescava nas águas do Tamanduateí. Esta rua começa na Praça
da Liberdade e termina na Rua Tamandaré.81 Em 23 de julho de 1953, Yoshikazu
Tanaka inaugurou na Rua Galvão Bueno, um prédio de cinco andares, com salão,
restaurante, hotel e uma grande sala de projeção no andar térreo, para 1.500
80
História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso em: 11 abr. 2007.
81
Rua Galvão Bueno, 2007. Disponível em: <http://www.sampa.art.br/saopaulo/Rua%20Galvao%20.Bueno.htm.>
Acesso em: 01 mai. 2007.
103
expectadores, batizado de Cine Niterói. Eram exibidos semanalmente filmes produzidos
no Japão para o entretenimento dos japoneses de São Paulo. Esta rua passa a ser o
centro do bairro japonês, crescendo ao redor do Cine Niterói, tendo recebido parte dos
comerciantes expulsos da Rua Conde de Sarzedas. Era ali que os japoneses se
reuniam e encontravam seus conterrâneos para poder matar a saudade do Japão, sua
terra natal. Ela é uma das principais ruas da região. Nela, encontram-se algumas das
principais casas de artigos orientais.
Barão de Iguape: Rua Paralela ao Largo da Pólvora, e traçada a partir da
Avenida da Liberdade, esta rua foi aberta em terras que constituíram propriedade do
inglês Rademaker, Francisco Machado e João Felício Fagundes. Barão de Iguape foi
título nobiliárquico concedido por D. Pedro II a Antonio da Silva Prado, em 1848, devido
à sua atuação a favor dos movimentos da Independência. (GUIMARÃES, s.d.: 79)
FIGURA 25: ESTÁTUA DO DR. SHUEI
UETSUKA (CONDUTOR DA PRIMEIRA
LEVA DE IMIGRANTES PARA O
BRASIL), ERGUIDA AOS 18/06/78 – NO
LARGO DA PÓLVORA
FONTE: GUIMARÃES, (s.d.), p. 99
NOTA: Foto do final da década de 1970 ou início
Largo da Pólvora: No início, o local pertencia à Chácara Streib. Está delimitado
entre o Largo da Forca e da Pólvora (local que abrigava a casa da Pólvora até 1872,
embora o depósito já não funcionasse mais ali. Em 1873, a “Câmara Municipal pede
104
autorização para demolir a Casa da Pólvora, a fim de alinhar uma travessa de ligação
entre a Rua da Liberdade e a Rua dos Estudantes”). No entanto, o Largo de igual nome
permanecia e estava à direita do Caminho do Carro para Santo Amaro. “Quando esta
chácara se desintegrou, muitos terrenos próximos àquela fonte foram da propriedade do
Barão Nicolino Barra que, ainda em 1890, possuía rico palacete à Rua da Liberdade”.
Segundo antigas cartas da Capital de São Paulo, do lado esquerdo deste Largo, “saía o
Caminho de Santos, descendo para a Rua do Cemitério, até a antiga Necrópole dos
Aflitos e daí até a Glória (...) ” (GUIMARÃES, s.d.: 36-46). Este local assume uma maior
importância, reforçando assim a identidade do bairro, diferenciando-se pela sua história,
pois no local podemos observar a estátua de Shuhei Uetsuka pioneiro da imigração
japonesa, homenagem da colônia nipo-brasileira ao bairro. Atualmente possui um
traçado pequeno e podemos observá-lo na saída no metrô Liberdade.
Capela de Nossa Senhora dos Aflitos: Localizada na Rua dos Aflitos, 70,
tombada pelo CONDEPHAAT em 23/10/1978. “A capela, cujo culto é dedicado à Nossa
Senhora dos Aflitos, tem sua origem ligada ao Cemitério dos Aflitos, primeiro cemitério
público de São Paulo. Construída modestamente, em 1774, em taipa de pilão, possui
acréscimos de alvenaria de tijolos e concreto armado que descaracterizam a sua feição
original, (...).”82 Pequena e localizada no fundo de um beco, escondida pelos prédios,
lixo e caminhões que entregam mercadorias nas lojas, mas a história vale a visita. Dizse que os escravos vinham caminhando da várzea do Tamanduateí, subiam a
Tabatinguera e paravam esgotados na Igreja da Boa Morte. Seguiam até o Largo da
Forca (atual Largo da Liberdade) e viam os corpos de outros escravos condenados à
morte. Desciam depois disso à capela, a alguns metros de distância, onde rezavam
pelos mortos e pela sua própria sorte. Depois que a forca deixou de existir, o local
passou a ser chamado de Liberdade.
82
Consultar outros bens tombados em: KAMIDE, Edna Hiroe Miguita (Org.) et alii. Patrimônio Cultural Paulista:
CONDEPHAAT – Bens Tombados 1968-1998. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1998.
105
FIGURA 26: CAPELA N. SRA. DOS AFLITOS (HERMAN
GRAESER/SPHAN, 1939)
FONTE: CAMARGO, Luís Soares de. Um passeio pelo Beco
dos Aflitos. disponível em:
<http://www.fotoplus.com/dph/info03/index.html>
Acesso em: 11 abr. 2007
FIGURA 27: BECO DOS AFLITOS COM A CAPELA DE
N. SRA. DOS AFLITOS AO FUNDO.
FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade
NOTA: foto da autora (nov. 2007)
As próximas imagens são da Igreja de São Gonçalo, localizada na Praça João
Mendes, antigo Largo da Cadeia (São Gonçalo foi pregar a religião católica no Japão no
século XVI e, por isso, foi condenado à morte. Desde então, atraiu seguidores
japoneses). Às oito horas da manhã, é celebrada a missa dos japoneses.
106
FIGURA 28: IGREJA DE SÃO GONÇALO
FONTE: São Paulo Memórias em
Pedaços: Liberdade. 2002
FIGURA 29: FACHADA DA
IGREJA DE SÃO
GONÇALO
FONTE: Pesquisa de campo –
Bairro da Liberdade
NOTA: foto da autora (nov. 2007)
Selecionamos neste capítulo algumas imagens de locais, onde a presença de
orientais, locais estes muito visitado por orientais e também por turistas não-orientais.
Na Liberdade o comércio de artigos de todo tipo, inclusive alimentícios, é
intensamente freqüentado; os produtos ligados à mesa são procurados e escolhidos
criteriosamente pelos japoneses, por senhoras de gestos rápidos, ocupadas em prover
seus descendentes com a mesma comida que as nutriu na infância e que traz no
paladar e nos aromas a saudade de sua terra natal.
Estas são algumas das ruas principais do Bairro da Liberdade, onde podemos
entrar em contato com a culinária e a sabedoria milenar dos imigrantes japoneses e
também de outros orientais que, além de sua cultura, têm nos ensinado o cultivo da
107
terra que enriqueceu as nossas mesas com produtos alimentícios de alta qualidade.
Depois da chegada deles, surgiram as quitandas japonesas, hoje tão tradicionais no
nosso país.
Encontramos algumas leis, expedição de decretos, resoluções e atos que
mudaram o cotidiano do bairro através dos quais se percebe o interesse do poder
público em urbanizar a região e também compor uma nova geografia a favor do Bairro
da Liberdade.83
No intuito de prestar homenagem aos imigrantes japoneses, o Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sancionou a seguinte lei:
Lei nº 11.142 que define 18 de junho como o Dia Nacional da Imigração Japonesa. A
lei está publicada no Diário Oficial da União do mês de julho de 2005. O projeto para
instituição da data foi proposto pelo deputado federal Hidezaku Takayama (PSB-PR).
O parlamentar justificou a homenagem com base na influência da comunidade
japonesa na agricultura, indústria, culinária e na cultura brasileira. (HIRASAKI,
2007: n.º 112/ano 10, p.52)
No Bairro da Liberdade encontra-se o Museu Histórico da Imigração, foi
inaugurado em 18 de junho de 1978, que contou com a presença do príncipe Akihito,
herdeiro do trono do Japão. Lá estão vários arquivos e documentos referentes aos
imigrantes japoneses, mostras, biblioteca e acervos com mais de 10.000 fotos. Na
comemoração dos 70 anos de imigração japonesa no Brasil, a cidade de São Paulo
ganhou o Museu da Imigração Japonesa. Localizado na rua São Joaquim, 381,
Liberdade, o museu possui cerca de mil objetos em exposição, como livros, periódicos,
fotografias antigas, obras de arte, vestimentas, instrumentos musicais e uma réplica do
navio "Kasato-Maru". No Memorial do Imigrante,84 podemos encontrar exposições,
documentos, fotografias e objetos pessoais. Atualmente possui um acervo com
terminais de computadores para consultas e presta alguns serviços como emissão de
certificados e certidões de desembarque de seus familiares para a concessão de dupla
cidadania. (OI, s. d.: 37)
83
Ver Lei, expedição de decretos, resoluções e atos, anexo.
Situado no Bairro da Mooca, no local onde se encontra hoje o memorial, funcionou no passado a antiga hospedaria
dos imigrantes, um conjunto de prédios que abrigava os imigrantes vindos de toda parte do mundo. Lá eram
fornecidos alimentação e atendimento médico aos recém-chegados.
84
108
Mas não são apenas japoneses os seus herdeiros (niseis e sanseis), há
chineses, coreanos e os brasileiros que se misturam aos rostos orientais nos mercados
e nas lojas orientais. Hoje muitos já estão iniciados nos segredos destes sutis sabores
trazidos de tão longe por pessoas que conservam a memória, pois um povo que tem
memória não cai no esquecimento. E os orientais têm orgulho do seu passado.
O primeiro restaurante japonês em São Paulo que surgiu no Bairro da
Liberdade85 foi inaugurado em 1945 junto a um cinema instalado na Rua Galvão Bueno.
Servia pratos típicos como sashimi.86
Há também locais muito freqüentados por descendentes e também pessoas que
buscam contato com a diversidade cultural oriental:87
Templo budista Soto Zenshu: Localizado na Rua São Joaquim n° 285, no
templo, além da atividade religiosa da meditação, é possível aprender canto baika,
ikebana,88 shodô e taikô. Quando os imigrantes japoneses já estavam instalados no
Brasil, foi solicitada a vinda de missionários budistas do Japão, pois cada família
japonesa estava ligada a uma determinada tradição budista que são chamadas de
Escolas ou, na variante popular, Seitas. E então, se instala no Brasil em 1955 a Escola
Soto Zen. “O templo foi instalado numa casa alugada, no Bairro da Liberdade, em São
Paulo, mais tarde foi transferida para a atual sede, Rua São Joaquim, 285. Este foi
denominado Templo Busshinji - o do Coração do Buda.”89
Escola de mangá:90 Esta escola ensina a desenhar os traços típicos dos
quadrinhos orientais e as técnicas narrativas. Uma curiosidade: a maioria dos alunos é
de não-descendentes. Rua da Glória, 279, cj. 55.
Hai-kai: loja de CDs japoneses, possui aproximadamente cinco mil títulos à
venda e outros cinco mil para locação. Rua Galvão Bueno, 224.
85
Os tesouros do bairro japonês, 2007. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> - Acesso em: 11 abr. 2007.
86
Ver anexo termos orientais.
87
Os tesouros do bairro japonês, 2007. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> Acesso em: 11 abr. 2007.
88
Ver termos orientais no anexo.
89
Cominidade Budista Soto Zenshu da América do Sul. A escola Soto Zen. Disponível em: <http://www.
sotozen.org.br/> - Acesso em: 17 abr. 2008.
90
Ver termos orientais anexo.
109
A partir deste breve histórico de ocupação do Bairro da Liberdade, sentimos
necessidade de fazer um estudo referente a tradições, usos e costumes e suas
manifestações culturais no bairro, devido ao fato de ser muito procurado por turistas no
período de festas e festivais. Neste aspecto existem características que merecem ser
destacadas, como as imagens das fachadas e seus ornamentos que enfatizam os
elementos temáticos e identificam o bairro e suas subáreas visuais, como será
demonstrado a seguir.
110
5.5 Fragmentos da cultura oriental no espaço urbano do Bairro da
Liberdade
A sociedade nipônica é marcada pelo tradicionalismo. Isto pode ser observado
na linguagem formal utilizada pelos japoneses, inclusive a linguagem corporal, que
pode transformar o processo de tradição social. (CHILDE, 1978)91
A Segunda Guerra Mundial fez que os japoneses se distanciassem dos seus
antigos costumes, pois foram proibidas manifestações culturais. Nas escolas não era
permitido falar e ensinar o idioma japonês. Já no meio urbano, foram retiradas as placas
dos estabelecimentos comerciais com dizeres em japonês. Neste período, os japoneses
foram excluídos, não podiam praticar seus cultos. Quando o Japão sofreu a derrota na
Segunda Guerra Mundial, ficou mais difícil para os imigrantes retornarem à sua pátria e
acabaram se estabelecendo no Brasil.92
O processo de aculturação fez que os imigrantes buscassem respostas para
solucionar os problemas que surgiram para adaptar-se em seu novo meio cultural,
físico, bioclimático e também a novos conceitos e matérias primas. Isto de tornou um
desafio para os imigrantes. “(...) Os recursos, as atrações transformam então o espaço
neutro em espaço de acolhimento”. (HENRIQUES, 2003: 26)
Célia Abe Oi (Coord.) (s.d.: 30) destaca que os costumes nos espaços internos,
em uma casa japonesa, os equipamentos tecnológicos de última geração ainda não
conseguiram substituir muitos objetos tradicionais de decoração. Entre eles, destacamse o tatami, Mon, ofurô, shoji, entre outros.
Os acolchoados - originalmente feitos de algodão, o acolchoado japonês (futon)
é uma antiga tradição. Ainda hoje, em muitas casas cujo piso é coberto por tatami, este
representa tanto a cama como o colchão. Muito leve, o futon durante o dia é dobrado e
guardado em armários e o quarto se transforma em sala. É usado no inverno (mais
91
(Ao analisar as sociedades primitivas, este autor afirma que a linguagem corporal pode transformar o processo de
tradição social de determinados grupos de pessoas).
92
ARIAS, C. C., “et alii” O Bairro da Liberdade. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) –
Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2003. p. 104.
111
pesado e grosso) e também no verão. No Brasil, o futon chegou com os imigrantes e,
durante muito tempo, seu uso esteve restrito aos nipo-brasileiros; porém, já há alguns
anos, a fama de seu conforto ultrapassou os limites da comunidade japonesa.93
O tatami é um tipo de esteira grossa que equivale ao carpete dos ocidentais.
Mede geralmente 91cm x 182cm e tem 5cm em de altura, usado como unidade de
medidas para os cômodos de uma casa japonesa. Internamente, é feita de palhas de
arroz firmemente atadas e coberta por uma fina esteira de junco, sendo considerado um
elemento-chave da decoração japonesa.94
O biombo, de origem chinesa, foi largamente utilizado a partir do período Nara,
95
quando se transformou num elemento típico da decoração japonesa. É um anteparo
móvel, formado por vários painéis unidos por dobradiças, sendo utilizado para dividir
ambientes, para ocultar móveis, portas etc.96
Kimono é o termo genérico usado para designar a vestimenta tradicional
japonesa, também se refere à peça de roupa transpassada na frente e amarrada na
cintura por uma faixa larga e muitas vezes ricamente ornamentada (obi).97
Há vários tipos de Kimono feminino. Os desenhos, as cores, e as mangas
diferem de acordo com a idade e estado civil. O Kimono denominado firisodê tem
mangas largas e longas e é usado pelas jovens solteiras, enquanto as mulheres as
casadas usam o tomesodê (mangas mais curtas). O corte do Kimono é invariável, a
diferença fica no tecido, estilo de manufatura, tingimento, cor, estampa e obi (faixa da
cintura). Os homens, em ocasiões formais, usam haori (espécie de sobretudo) e
hakama (tipo de saia-calça longa). Há também o yukata, feito de algodão, usado tanto
por mulheres como por homens, em casa ou em festas populares de verão.
O ofurô (tipo de banheira tradicional para imersão) na vida dos imigrantes não
93
OI. Op. cit. p. 266.
OI. Op. cit. p. 274.
95
Período que se inicia ao final do século VI começa o período Nara (710 - 784 d.C.) (...) o país adquire uma forma e
um particular sistema de administração estatal, ao mesmo tempo em que se desenvolve o budismo. Nara, a capital,
padeceu a influência cultural da China e Coréia. Este período distingue-se pelo fato de que os templos budistas
adquiriram poder e prova do fato é a grande fundição da enorme estatua de Buda de bronze de Nara, conhecida como
Daibutsu. O governante Kammu, posterior ao 794, translada a capital a Kyoto, iniciando o período Heian. Japão
História. 2007. Disponível em: <http://www.rumbo.com.br/guide/br/asia/japao/histo.htm> Acesso em: 11 abr. 2007.
96
OI. Op. cit. p. 272.
97
OI. Op. cit. p. 268.
94
112
está ligado somente à necessidade de higiene. "Diziam que o banho de ofurô tirava o
cansaço do dia, que trazia uma sensação gostosa, indescritível". De acordo com o
costume japonês, primeiramente o corpo tem que ser lavado para depois entrar nessa
banheira.98
Omamori, também adotado por muitos ocidentais, os talismãs (enguimono) são
vendidos geralmente em barraquinhas localizadas próximas aos santuários xintoístas.
Acredita-se que dão sorte a quem os usa. Entre eles citamos o manekineko que dá
sorte nos negócios - figura de um gato que acena com as patas atraindo fregueses e
dinheiro.99
Quando querem que um desejo se concretize, pintam um dos olhos do darumá100
e, se o pedido se realizar, o outro deverá ser pintado em sinal de gratidão. É usado
tradicionalmente por políticos em campanha eleitoral. Existe também o omamori, tipo de
amuleto que a pessoa carrega para afastar o azar. É feito de papel ou madeira
recoberto geralmente por tecido. Além da proteção, alguns desses amuletos são
usados para trazer sucesso financeiro, estabilidade familiar etc. Também há o ofundá
que é colocado no kamidaná (altar familiar) ou na entrada da residência.
Em uma casa de estilo japonês, os aposentos são divididos pelo fusumá e shoji
que são portas corrediças feitas de madeira com papel estendido sobre elas. São
usadas para economizar espaço interno da casa. Elas podem ser facilmente retiradas,
ampliando o ambiente. Shoji é um tipo de biombo feito de papel fino esticado sobre
armação de treliça (mais leve que fusumá) e que permite a passagem de luz. Já o
fusumá é porta corrediça de madeira feita de papel decorado e grosso, é indicado para
o clima japonês que é muito úmido.101
Estes elementos da cultura japonesa são vistos atualmente em vários lares
orientais, e os ocidentais aderiram a alguns itens em sua decoração.
Para complementar este capítulo, apresentamos a seguir a questão do processo
de aculturação devido suas às manifestações culturais. Para iniciar, relacionamos
98
OI. Op. cit. p. 270.
OI. Op. cit. p. 271.
100
Ver anexo de termos orientais.
101
OI. Op. cit. p. 272.
99
113
algumas das festividades e suas datas comemorativas que acontecem no Japão102 e
muitas delas são comemoradas pelos orientais aqui no Brasil.
Por ter as quatro estações do ano bem distintas, muitos eventos anuais no Japão
estão associados às mudanças da estação.
Uma data muito importante, estando caracterizada como a primeira de maior
importância no calendário japonês, tanto que todas as empresas e repartições do
governo ficam fechadas durante os três primeiros dias do ano, é a passagem do ano.
Este período é chamado de shôgatsu, que se refere ao primeiro mês do ano. Nesta
data as famílias se reúnem brindando com um saquê especial, que acreditam que
garante longevidade. Há também comidas típicas para este evento que é comemorado
com bastante simbolismo e religiosidade, e suas casas são preparadas e enfeitadas.
Em fevereiro é comemorado o Setsubun, (o início da Primavera) que no passado
se referia a qualquer das várias mudanças de estação do velho calendário, mas hoje
em dia ela faz alusão específica a 3 ou 4 de Fevereiro, o começo tradicional da
Primavera.(neste dia são espalhados feijões pela casa para repelir os maus espíritos).
Festa das Bonecas - conhecida no Japão como hinamatsuri, ocorre a 3 de
março, quando as famílias que têm meninas fazem uma exposição de bonecas, que
representam a antiga corte imperial e comemoram bebendo um tipo especial de saquê
branco e adocicado.
Dia das Crianças – comemorado no dia 5 de maio (feriado nacional no Japão) e
também é comemorado na China. Embora seja chamado de Dia das Crianças, é, na
verdade, dedicado apenas aos garotos. Esta festividade tem o nome de Tango no
Sekku que, originalmente, é uma data para se desejar a saúde, tendo a carpa como
símbolo de sucesso e ascensão pessoal. As famílias que têm meninos penduram do
lado de fora das casas flâmulas que representam carpas como símbolos de força,
fazem exposições de bonecos do samurai e armaduras do lado de dentro e
comemoram comendo bolos especiais de arroz.
102
Datas Comemorativas no Japão. Disponível em: <http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=167>
Acesso em: 27 abr. 2007.
114
Festival Tanabata - Comemorado em 7 de julho, ou em 7 de agosto em alguns
lugares, este festival tem suas origens na lenda folclórica chinesa “sobre o romântico
encontro de duas estrelas que ocorre uma vez ao ano: a estrela Vaqueiro (Altair) e a
estrela Tecelã (Vega). Nesse dia de festa, o povo escreve seus desejos em tiras de
papel colorido, que são amarradas em ramos de bambu”.
Festival Bon – acontece tradicionalmente durante vários dias por volta de 15 de
julho no calendário lunar, “quando se acredita que as almas dos mortos retornam a
seus lares”. Esta festividade também ocorre com mais freqüência em torno do dia 15 de
agosto. É marcado por viagens de volta às suas cidades natais, a fim de visitar os
túmulos de parentes. Durante esse festejo, as pessoas instalam lanternas para guiar as
almas na ida e volta às suas casas, oferecem comida para os mortos e se divertem com
um tipo especial de dança chamada Bon Odori. Porém, acontece devido a uma tradição
budista: as pessoas reverenciarem os túmulos de seus parentes durante o equinócio da
primavera, por volta de 21 de março e no equinócio do outono, em torno de 23 de
setembro. 103
Existem também os festivais locais devido à longa tradição do Japão em
promoverem festivais:
Festivais Agrícolas – “a agricultura em terras alagadas formou a base para a
produção de alimentos no Japão, e muitas festividades estão relacionadas com a
produção agrícola, em especial o cultivo de arroz”. E no outono são realizados os
festivais da colheita onde os primeiros frutos dos arrozais são oferecidos aos deuses.
Festivais de Verão – têm o objetivo de repelir as doenças.
Outros Festivais Importantes - Um dos maiores festivais de verão do Japão e que
todos os anos atrai muitos turistas é o Festival Nebuta, que é realizado no início de
agosto em Aomori e outros lugares do Nordeste japonês. Ele se caracteriza por desfiles
noturnos com imensos carros alegóricos de papel iluminados por dentro e representam
personalidades populares do passado e do presente. Segundo a tradição, a festa tem
103
Datas Comemorativas no Japão. Disponível e: <http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=167>
Acesso em: 27 abr. 2007.
115
suas origens em um ritual com poder de espantar a preguiça, já que a palavra nebuta
em japonês significa sonolência.
Festival Okunchi - é realizado em outubro, em Nagasaki. É um festival de
colheita, famoso por sua dança do dragão, que se originou na China. Nele desfilam pela
cidade carros alegóricos que representam os navios mercantes do período Edo, baleias
esguichando água e outros símbolos.
Feriados Nacionais no Japão são períodos de muitas festividades no arquipélago
e, muitas destas datas são comemoradas por japoneses e seus descendentes no Brasil
e outros lugares do mundo, onde existe comunidade oriental. Segue abaixo a ordem
cronológica:
Primeiro de janeiro - Dia do Ano Novo
15 de janeiro - Dia da Maioridade
11 fevereiro - Comemoração da Fundação do País
Em torno de 21 de março - Dia do Equinócio da Primavera
29 de abril - Dia da Verdura
3 de maio - Dia da Constituição
5 de maio - Dia da Criança
2ª Semana de agosto - Semana que os "mortos voltam ao cemitério"
15 de setembro - Dia do Respeito aos Idosos
Por volta de 23 de setembro - Dia do Equinócio do Outono
10 de outubro - Dia da Saúde e Esportes
3 de novembro - Dia da Cultura
23 de novembro - Dia da Ação de Graças pelo Trabalho
23 de dezembro - Aniversário do Imperador
Em São Paulo concentra-se a maior colônia japonesa fora do Japão, e grande
parte desses imigrantes e descendentes adotaram o Bairro da Liberdade devido ao seu
histórico para fazer seus eventos, conhecido pela inusitada decoração encontrada nas
principais ruas do bairro. Por alguns elementos da arquitetura, jornais impressos em
línguas orientais entre outros fatores, os orientais mantêm acesa algumas tradições
trazidas do Japão.
116
As manifestações culturais constituem atrativos turísticos, e também uma
representação cultural da colônia japonesa que conhecemos, mas há outros eventos
muito importantes na colônia japonesa que ocorrem em São Paulo. 104
As manifestações culturais na Praça da Liberdade: Assim como acontece no
Japão, várias manifestações culturais são feitas nas ruas, praças e parques de acordo
com o calendário anual de comemorações. No Bairro da Liberdade não poderia ser
diferente. Durante o ano, a Praça da Liberdade é palco de acontecimentos como o Dizo
Matsuri, que celebra o nascimento de Buda, o Tanabata Matsuri, Festival das Estrelas e
o Toyo Matsuri, festividade de encerramento do ano e juntamente com eles acontece o
bon odori, e também apresentações musicais, artes marciais entre outras. Mostrando
assim sua identidade e sua cultura nas ruas, um outro acontecimento que ocorre todos
domingos na Praça da Liberdade próxima à estação de metrô com o mesmo nome, é a
feira de artesanato com artigos variados, barracas de comidas típicas etc.
Segundo John Urry (2001) as feiras tem um caráter popular, são implantadas na
paisagem urbana com o intuito de proporcionar aos freqüentadores a tradição de um
determinado grupo étnico, lazer, compras, cultura, gastronomia etc., constituindo uma
pequena versão do turismo internacional. Em vez de viajarem pelo mundo afora, a fim
de vivenciar e contemplar esses diferentes signos, os turistas, de maneira muito
conveniente, são trazidos para um único lugar.
A Feira da Liberdade: Realizada todos os domingos das 10h às 19h na Praça
da Liberdade, Estação Liberdade do Metrô. Local onde os imigrantes orientais e
também vários artesãos e artistas podem expor seus trabalhos. “A Feira da Praça da
Liberdade é administrada pela SEMAB Secretaria Municipal de Abastecimento. Conta
com o apoio da ACAL – Associação Cultural e Assistencial da Liberdade e coordenada
pela ALIBER - Associação dos Expositores da Praça da Liberdade”.
Abril
Hana Matsuri - Homenagem a Buda e ao Elefante Branco.
Maio
104
Eventos da comunidade japonesa em São Paulo. 2007. Disponível em:
<http://milpovos.prefeitura.sp.gov.br/interno.phd?com=> Acesso em: 01. mai. 2007.
117
Feira do Dia das Mães - Exposição de Bonsai.
Junho
Festival Japonês - Campeonato de Sumo.
7 e 8 de Julho
Tanabata Matsuri - Festival das Estrelas
Agosto
Feira do Dia dos Pais
Outubro
Mini Undokai (Gincana infantil); Karaokê.
Novembro
Festival Chinês e Coreano
Dezembro
Toyo Matsuri (Festival Oriental); Moti Tsuki; Feira de Natal.
Última semana de julho
Festival do Japão – Este evento divulga a cultura japonesa na cidade de São Paulo
resgata a tradição japonesa e promove a integração entre várias gerações. Entre as
atrações do festival, danças, comidas típicas, artesanato, shows, exposições,
workshops, artes marciais e o concurso "Miss Kimono", com desfile de jovens de
ascendência japonesa em trajes tradicionais do país de seus antepassados.
As comemorações do centenário da imigração japonesa iniciaram-se em 18 de
julho de 2006, quando se comemoraram os 98 anos de imigração japonesa em solo
brasileiro. Neste período, aconteceram várias atividades, uma delas realizada no Centro
de Exposições Imigrantes, onde ocorre o Festival do Japão que mostrou ao público
brasileiro e também para outras nacionalidades, alguns aspectos da cultura nipônica. É
também uma forma para conhecerem de perto a vida social e econômica japonesa,
revelando alguns pontos para quem quer iniciar uma nova vida no Japão, como
conseguir um trabalho e estágios em universidades ou iniciar relações comerciais com
empresas estabelecidas no Japão. Estas informações estavam distribuídas em vários
estandes espalhados no espaço do Centro de Exposições, que apresentavam parcerias
de negócios sócio-culturais ou econômicos com o arquipélago e caminhos para estreitar
118
suas relações com o Japão. Em 2007 o tema do Festival do Japão foi Matsuri. 105
No ano de 2008, quando se completam 100 anos da imigração japonesa no
Brasil, ocorre uma grande festa, e os preparativos já começaram e estão mobilizando
toda a colônia oriental no país.
Entendemos que as tradições usos e costumes de uma determinada etnia
passam por vários fatores culturais, que abordaremos a seguir, de uma maneira mais
específica; como se manifestam neste espaço, a dinâmica estabelecida pelo mesmo e o
conflito de valores, pois sabemos que a interação de um povo e sua vida social têm
valores diferentes, de acordo com sua localização geográfica.
Este capítulo foi uma tentativa de entender como a influência do homem e sua
cultura podem alterar o meio físico, as tendências da ocupação controlada ou não pela
esfera pública, e a caracterização de um lugar. O espetáculo e as manifestações
culturais não podem ser entendidos como estratégia do consumismo, pois, são
manifestações de um povo e de suas tradições exteriorizadas.
Ao apontar as questões culturais ligadas aos eventos no Bairro da Liberdade,
cabe-nos observar a percepção deste turista em um bairro temático. Observemos,
então, o turista e a sua relação com o espaço urbano.
105
Matsuri – é a palavra japonesa que designa festa ou festival.
119
5.6 O Turista no espaço urbano de um bairro temático
A princípio, temos como objetivo analisar a percepção do turista no espaço
urbano de um bairro temático. Observando a influência dos fatos sociais e
comportamentais que afetam os turistas, o fenômeno de globalização que acaba
negando o conceito de lugar, e o homem, inserido neste contexto, que acaba perdendo
sua identidade, todos os lugares acaba se tornando um só lugar dentro do
multiculturalismo do lugar, confirmando um nível de diversidade atrelado à dinâmica
formada pelo tempo. As buscas e fugas que cada indivíduo empreende em sua vida são
fatores psicológicos que promovem e estimulam o deslocamento quando induzido por
um desejo, e suas origens estão na motivação que satisfazem as necessidades. Estes
fatos são definidos da seguinte forma por HENRIQUES (2003: 82): “A(s) necessidade(s)
é/são a força que motiva o comportamento, pelo que a compreensão da motivação
passa pela determinação das necessidades individuais e de como elas tendem a ser
satisfeita”.106 Isto acaba acontecendo quando nos referimos à leitura que o turista faz do
espaço habitado.
Rodrigues afirma que: “Tendo em vista que o turista busca na viagem a mudança
de ambiente, o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de
fantasia, a aventura e o inusitado, quando mais exótica for a paisagem, mais atrativa
será para o turista”. (nosso grifo) (RODRIGUES, 2001: 84)
Para entendermos estes e outros fatores, identificamos dentro das tipologias
existentes, alguns elementos que evolveram o estudo, especialmente o turista no
espaço habitado.
O turista é muito estudado e analisado pela sociologia, para poder classificá-lo e
também enquadrá-lo em tipologias. Em um destes conceitos, podemos citar o que foi
criado por Eric Cohen em 1979, e denominado por ele “cognitivo normativo”
(BARRETO, 1995: 27), ainda vigente. Este autor diferencia os turistas em Peregrinos
Modernos e Buscadores de Prazer. Dentro da categoria Peregrinos Modernos, ele
106
Muitas das investigações sobre motivação dos turistas encontram-se na teoria de motivação da pirâmide de
Maslow.
120
diferencia os Existenciais, os Experimentais e os Experiências. Os Buscadores de
Prazer são divididos em Diversionários e Recreadores. Os modernos peregrinos têm
em comum o fato de procurarem modos de vida alternativos, autenticidade, contato com
as culturas visitadas. Os buscadores de prazer, ao contrário, procuram fugir de seu
cotidiano em lugares que ofereçam muitos equipamentos recreativos e onde haja
possibilidade de relaxamento físico.
Para Margarita Barreto (2001), o paradoxo desse último tipo de turista é o que
provoca grandes alterações na dinâmica da sociedade receptora, que se reflete em
mudanças nos usos e costumes, na divisão social do trabalho, no relacionamento
interpessoal, sobretudo o familiar, sem que haja contatos realmente interativos com a
população receptora. Esta última só tem visibilidade como prestadora de serviços, e,
por sua vez, o turista é visto pela população local como um fator de produção, um
capital ambulante, com o com o qual tudo se concretiza, até o sorriso.
Conforme Sartor (1977), vários estudos já foram realizados no sentido de
conceituar o turismo e o turista. Sem dúvida, esta não é uma tarefa fácil devido à
diversidade de fatores que envolvem esta atividade. Por outro lado, no período dos
últimos 50 anos, evoluíram muito os enfoques e denominações com relação ao turismo
e ao turista.
Em 1937, a Comissão Econômica da Sociedade das Nações definiu o termo
turista como sendo qualquer pessoa que viaja por uma duração de vinte e quatro horas
ou mais, em um local diferente daquele em que tem sua residência habitual. Definir
turismo é bem mais complexo do que definir, simplesmente, o turista. Contudo, existem
também várias definições diferentes, por ser um conjunto interligado de fenômenos, que
a visam direta ou indiretamente ao mesmo fim, e por ser um produto que envolve
insumos variados.
121
BENI define o turista como:
Visitantes temporários que permaneçam pelo menos vinte e quatro horas no país
visitado, cuja finalidade de viagem pode ser classificada sob um dos seguintes tópicos:
lazer (recreação, férias, saúde, estudo, religião e esporte), negócios, família, missões e
conferências.
Excursionistas: visitantes temporários que permaneçam menos de vinte e quatro horas
no país visitado (incluindo viajantes de cruzeiros marítimos). (2002: 35) 107
Porém, o turista urbano tem um tempo mais reduzido no local. A duração deste
deslocamento depende de sua busca, que é determinado por acontecimentos
especiais, como: (exposições, concertos, óperas, competições desportivas, festas,
festivais e outros eventos), promovidos em locais de acesso fácil e também por infraestrutura adequada, que acabam atraindo o turista urbano.
Um dos fatores determinantes para o turista urbano é o consumo. Devemos
considerar “tipos de consumidores e visitantes, a motivação e o comportamento”.
Porém, o que determina a procura pode ser analisada através de óticas diferentes, a
“psicológica ou psicográfica”, e também a “abordagem econômica”. (HENRIQUES:
2003: 73)
Quanto ao fator econômico, o que norteia o fluxo turístico são as alterações da
economia global, a preferência por um determinado produto que dificilmente muda, pelo
menos, em curto prazo. Desta maneira, “Este processo pressupõe a existência de um
mercado potencial composto por vários segmentos de turistas, no interior dos quais
tendem a agrupar-se indivíduos com necessidades, desejos, características e
comportamentos similares.”108
Assim, quando buscamos respostas nos fatores econômicos, vimos que ele
atende as medidas de bem-estar social, porém, nem todas as medidas são eficazes
porque não acabam atendendo o setor turístico em geral. Evidenciando assim a
perspectiva psicológica e a econômica, que consideram o espaço como fator importante
107
“Em 1968, a Organização Mundial de turismo (que então se chamava União Internacional de Organizações
Oficiais de Viagens) aprovou essa definição de 1963 e passou a incentivar os países a adotá-la”. BENI, Mário
Carlos. Op. cit. 35.
108
HENRIQUES, Cláudia. Op. cit. p. 78. A autora faz uma análise da segmentação que possibilita múltiplas
abordagens.
122
para adequar os turistas “em função da idade, nível educacional, local de residência,
integração num determinado estrato social que vai condicionar a sua escala de valores
com reflexos nas prioridades que estabelece para os seus gastos, etc, onde se
destacam trabalhos de geógrafos, sociólogos e outros.” (HENRIQUES: 2003: 74)
Cada indivíduo tem sua necessidade que se transforma em uma motivação, pois,
o turista urbano busca um destino específico para desenvolver uma atividade específica
e satisfazer esta necessidade traduzida pela percepção109 daquilo que irá satisfazer e
consumir. “(...) Se a percepção da necessidade e da atracção se conjugarem estarão
criadas as bases para o consumidor se motivar e para comprar o produto, no caso
visitar determinado destino (...).” (HENRIQUES, 2003: 82)
A Psicologia, a Sociologia e a Psicologia Social são aplicadas para explicar o
fator motivação e a conduta de cada turista. Os aspectos psicossociais do turismo estão
ligados ao motivo.
Desta forma, ressaltamos que:
Motivo, é uma experiência consciente ou um estado inconsciente que serve para criar o
comportamento geral e a atuação social do indivíduo em uma situação determinada.
Do ponto de vista dinâmico, Britt110 explica a expressão“motivo” como construção
inconsciente que se emprega para distinguir e conhecer as forças determinantes da
conduta humana, com intensidade equivalente ao instinto, ao desejo e à necessidade
que impulsionam o homem a atuar, a viajar. (Britt, apud BENI, 2002: 78)
Podemos concluir que foi a motivação turística que levou o turista ao
deslocamento, que também pode ser de ordem pessoal, por influências coletivas e
psicológicas.
Quando discorremos sobre o assunto motivação, percebemos que ela está
ligada a outro termo que é a “atração turística”. Deparamos com inúmeras funções
deste termo que, para Cláudia Henriques, passa pela identificação e, segundo a
mesma, “(...) somos levados a crer que qualquer atracção turística neste espaço de
109
Segundo Novo Dicionário AURÉLIO da Língua Portuguesa – Percepção – [do Lat. Perceptione] S.f. Ato efeito
ou faculdade de perceber. Perceber – [do lat. Percipere, apoderar-se’ de.] V. t.d. 1. Adquirir conhecimento de, por
meio dos sentidos: 2. Formar idéia de; abranger com a inteligência; entender, compreender: 3. Conhecer,
distinguir; notar: (...)
110
BRITT, Lucas. Advertising psychology and research, Reviw of Tourism and Recreation, 1, Nova York: 1976.
123
natureza multifuncional, como é o urbano, pode ser alvo de diferentes procuras,
desenvolvidas por diferentes tipos de visitantes, cada qual evidenciando determinado
tipo de comportamento”. (HENRIQUES, 2003: 74)
Há um fator determinante que motiva o turista urbano que é sua formação
cultural, pois este fator contribui muito para que a leitura da imagem urbana seja feita. O
Turista identifica-se com uma determinada imagem e, assim, este ambiente passa a
fazer parte de seu seleto mundo.
Essa imagem urbana é representação perceptiva ambiental, porém a sua seleção é
também um sinalizador da mesma natureza; assim, a percepção ambiental pode ser
flagrada em dois tempos: pela imagem urbana, enquanto sua representação, e pela
seleção da própria imagem. Um duplo processo de linguagem, a semiose que ocorre na
fuga sutil do interpretante, isto é, da mente capaz de operar significados. ([sic.]
FERRARA, 1999: 72)
Ao analisar a imagem do espaço urbano do Bairro da Liberdade em São Paulo,
que se apresenta aqui não só como representação visual, mas, também, como
polissensorial.111 O usuário transforma a cidade através do uso que faz, e este fator
possibilitou à indústria turística investir e desenvolver produtos e serviços específicos.
Rapoport (1978: 230) afirma que as atividades de um determinado local se
vinculam com o espaço, podendo ser originado pelos fatores culturais de um
determinado povo, modificando e afetando o comportamento espacial.
A leitura do espaço urbano passa pela percepção e, segundo Ferrara:
(...) a percepção urbana não é um dado, não se manifesta como uma certeza, mas é um
processo e uma possibilidade. Altera-se conforme as características socioculturais e
informativas (repertório) do morador da cidade e submete-se às características físicas,
econômicas e de infra-estrutura do próprio espaço urbano. É, portanto, fragmentada e,
mais do que isso, localizada, nesse sentido, a percepção urbana transforma-se em
ambiental, e essa designação parece mais própria e oportuna. (FERRARA 1999: 107)
111
Uma análise feita superficialmente no Campus da USJT (medindo Temperatura, Luz, Som e Umidade)
demonstrou como se comportam os usuários de espaços coletivos, sua maneira de observar e agir, quando escolhem
determinados espaços de acordo com suas necessidades.
124
Cada indivíduo faz uma leitura e sua percepção passa por fatores biopsíquicosocioculturais e remete às suas necessidades, motivando nele a procura recreacionalcultural, de negócios etc; seu olhar seleciona através de suas escolhas que passa
também pelo conhecimento que tem do local observado, no caso, o Bairro da Liberdade
que é percebido como um cenário no todo, estando transido de sentimentos e
memórias de quem o vê, ele possui uma urbanidade que remete ao Japão, e acaba
integrando todos estes fatores específicos.
Mário Carlos Beni afirma que a percepção é um processo que acontece quando
indivíduo “seleciona, organiza e interpreta a informação para criar quadros do mundo; é
uma apreensão da realidade através dos sentidos. A percepção envolve um estímulo
receptor do entorno físico e social através dos vários sentidos e, com base na
experiência já vivida, se junta às necessidades presentes” (BENI, 2002: 246).
A percepção integra o homem ao meio ambiente, experimentando-o através dos
sentidos, e esta percepção ocorre devido a características culturais, recebendo as
mensagens dos ambientes, formas e cenas e assim decodifica seus signos que se
diferenciam dependendo de cada indivíduo. (...) “la percepción se afecta; ante la
naturaleza de los estímulos, la fisiología de la percepción y el estado del organismo, la
antención, la motivación y la selectividad o la adaptación.” ( RAPOPORT, 1978: 171)
Cada indivíduo aprende com seu meio ambiente “el aprendizaje perceptivo
consiste en cambios en los que se mira y recuerda (...).” (RAPOPORT, 1978: 172)
Portanto, a percepção é a experiência sentida e vista por um indivíduo em determinado
ambiente. Relacionando-se com a motivação e o significado simbólico, e diferenciando
entre os objetos, escalas, uso, movimento de acordo com o ambiente percebido.
La percepción presupone un organismo (sintonizado), y cualquier hipotesis acaba
provocando processos emocionales y cognitivos. En la segunda fase la información del
medio se recibe y finalmente es comprobada, (...) Sandström, (1972) Apud Rapoport (p.
173) la información perceptiva se comprueba gracias a los esquemas cognitivos y la
evaluación.
125
Atentando para o fato que não existe apenas uma teoria que discute a percepção
e, diante deste fator, Rapoport sugere distingui-la de acordo com três tipos:
La percepción operacional depende del uso, y se produce en busca de un objetivo de
acción. Como los sistemas de comportamento de la gente diferen.” Este tipo é mais
variável por ser associativa. “La percepción “reactiva” es más passiva y se refiere ante
todo al medio físico. La percepción inferencial es de natureza probabilística y la gente
ajusta los estímulos a sus esquemas.” (APPLEYARD 1970 apud RAPOPORT, 1978:
173).
Segundo Amos Rapoport, os três tipos de percepção conseguem atingir níveis
de redundância devido a atividade, intensidade, simbolismo, forma etc., que é reforçado
pela percepção e cognição, mas, isto depende de cada indivíduo e do grupo que
(percebe) observa o lugar. Pois a percepção implica interação com o meio ambiente e,
confirmando esta afirmativa: “En qualquer caso, la gente participa en el medio, y no sólo
observa; y no miran el medio como si fuera una fotografía o una perspectiva. El medio
ambiente no es algo “allá afuera” para ser percebido o conocido, es algo que forma
parte de la gente. La gente y su medio están en un constante, activo, sistemático y
dinâmico intercambio.” Portanto, as pessoas atuam e se relacionam com o ambiente,
tratando-se de interação das pessoas com o meio e nunca pessoas e o meio; “(...) y las
personas siempre consideram el medio como algo en el que existem otras personas,
valores y símbolos”.112 (RAPOPORT, 1978:175)
Diante do exposto, concordamos com o autor quando afirma que os elementos
que selecionamos são por várias razões percebidos pela cultura, experiência pessoal e
motivação, e somos levados a observar as formas, elementos e objetos de todo
contexto urbano observado, “Muchas veces el orden de la percepción nos dice algo
sobre el significado de las interconexiones perceptivas.” (RAPOPORT, 1978: 17)
112
Considerando o símbolo como um estímulo do meio ambiente. (Dubos 1966, Lee 1966; RAPOPORT and
WATSON 1972 apud RAPOPORT: 1978, p. 175.
126
O que é passado para o usuário ou turista urbano deste local?
A linguagem ambiental e a percepção que dela têm os usuários de um local têm sua
existência identificada pela observação que capta, registra as imagens e as associa
inferencialmente. Por outro lado, a rápida transformação que constitui o signo por
excelência da cidade moderna relativiza, em curto espaço de tempo, aquelas imagens.
Elas têm vida efêmera e parecem viver durante o curto instante da observação que as
flagra. Esta momentaneidade atinge também, as associações inferidas daquelas
imagens que tem igualmente uma vida efêmera, continuamente substituída por novas
inferências mais gerais e abrangentes. Embora instáveis e passageiras, são as
associações que dão o caráter de linguagem às imagens urbanas, criando-lhes uma
espécie de controle que assinala, nas imagens, seu vetor de transformação.
(FERRARA, 1999: 111)
O estímulo e a curiosidade: temos a princípio uma percepção visual da paisagem
urbana do Bairro da Liberdade que referencia a um outro país, uma ilusão, um cenário,
mesmo sabendo que o turista permanece um curto espaço de tempo no local, e a
paisagem revela os usos a ser feito no mesmo. Para Lucrecia D’Aléssio Ferrara, “Uma
produção cultural que revela um complexo de recepção de um conjunto de informações
que, em tese, atinge a todos igualmente”,113 o bairro revela o seu cenário e cada
indivíduo atribui um valor através de sua leitura.
(...) uma pesquisa de percepção é capaz de flagrar signos que nos ajudam a ver de
outro modo a nossa realidade, e leva a uma espécie de alfabetização urbana em que os
problemas físicos e estruturais empalidecem ante a urgência de uma ação cultural que
se impõe ao desenho urbano e deve vetorizar a intervenção pública. (FERRARA, 1999:
126)
Ao reconhecer o espaço e toda informação contida neles, o próximo passo é
decodificar todos os “signos” e “símbolos”, “(...) cada tipo de signo tende a provocar um
certo tipo de relacionamento entre ele mesmo e a pessoa que recebe, nesta
provocando também um tipo particular de interpretante ou significado (...)” (COELHO,
1991: 53) No caso do Bairro da Liberdade, os símbolos e os signos estão misturados,
épocas e estilos aos usos e hábitos do cotidiano do usuário deste lugar, facultando ao
113
FERRARA. Op. cit. p. 115.
127
observador construir em figuras que se sobrepõem, conforme a sua formação cultural.
“O espaço é local que agasalha a informação e interfere na sua produção, mas sua
homogeneidade faz com que a informação sobre o espaço, contida, abstrata e
teoricamente, em relatórios e memórias nos quais não se vê o espaço, embora sobre
ele se fale”. (FERRARA, 1999: 152)
Amos Rapoport (1978: 168) afirma que cada pessoa constrói uma imagem
mental urbana, associada a características socioculturais compostas de componentes
externos e internos e, quando se deparam com determinado espaço e determinados
grupos sociais, identificam-se com a imagem deste lugar. O processo de adaptação no
ambiente dentro do enfoque das relações sociais que ocorre no local faz que o homem
necessite de espaços específicos, condizentes com sua natureza.
Muitas das informações transmitidas pelos espaços urbanos são geradas a partir
de uma cultura de massa onde:
(...) o sistema de trabalho voltado para a produção industrial e seu correspondente
modo de consumo, o sistema de comunicação em atividade e as correspondentes
alterações culturais que o seu acesso provoca, as formas de transporte
tecnologicamente mais ou menos avançadas, os serviços e equipamentos disponíveis,
as formas associativas decorrentes de uma estrutura social mais complexa e mais
comunicativa. (FERRARA, 1999: 154)
O espaço urbano está em constante transformação e contempla a todos de
maneira geral, seja por influências do consumo, por políticas urbanas, espaciais,
climáticas e entre outros fatores internos ou externos, que acabam atraindo cada turista
urbano de uma maneira específica, e através das imagens.
Para compreendermos as imagens contidas no espaço urbano é necessário um
contato (visual e sonoro) mesmo que superficial, pois, segundo FERRARA:
As imagens urbanas despertam a nossa percepção na medida em que marcam o
cenário cultural da nossa rotina e identificam como urbano: o movimento, os
adensamentos humanos, os transportes, o barulho, o tráfego, a verticalização, a vida
fervilhante; uma atmosfera que assinala um modo de vida e certo tipo de relações
sociais. As características culturais sedimentam a cidade enquanto o império
fervilhante de signos, que cria uma linguagem e justifica uma ótica de estudos voltada
128
para ela enquanto modo específico de produzir informação, ou seja, uma
representação, um modo de ser que substitui e concretiza o complexo econômico e
social responsável pelo fenômeno urbano. (1999: 201)
O consumidor do espaço urbano é protagonista com diferentes necessidades,
com comportamentos distintos. Cláudia Henriques, a este respeito, diz: “Os turistas
procuram mais do que tudo uma experiência”. (2003: 75)
A leitura do espaço urbano é feita através da leitura das imagens contidas nele.
A imagem é decodificada e através das transformações econômicas e sociais do local,
temos sinais que contam a história deste espaço repleto de “signos”.114
Los símbolos dan cuerpo a abstraciones; son distintos de los signos (signs), los cuales
dirigen la atención directamente al objeto y situación que representan, mientras que los
símbolos exigen entender la idea que presentam. La función de los símbolos es una
función comunicativa y es posible relacionar-los con el medio, si consideramos a este
como un instrumento de comunicación. La conducta, los artefactos y el medio, puedem
considerarse como sistema simbólicos y comunicativos dando expreción concreta a
conceptos de valores, significados, etc. (RAPOPORT, 1978: 282)
Com base nesta afirmação, podemos fazer uma leitura do Bairro da Liberdade.
Quando o autor discute a questão do símbolo como uma função comunicativa,
podemos entender que a leitura feita pelos turistas ou para aqueles que não têm
intimidade com a cultura em questão, muitas vezes, os objetos que o caracterizam
como bairro oriental passam despercebidos; mas, para os orientais, eles têm grande
significado histórico, religioso, cultural etc., quando observam seu conteúdo simbólico.
Então, podemos afirmar que os elementos simbólicos de um determinado lugar
se diferenciam de acordo com o grupo que faz a leitura e o uso do mesmo, agregando
valores diferenciados a determinados elementos: “(...) se ve la ciudad como sistema de
sistemas de símbolos y se asocian los símbolos con el uso. Cada grupo conoce algunos
símbolos, ignora unos y evita otros (...)” Sendo assim, cada grupo se relaciona de
forma diferente com seu meio ambiente, e as imagens dos lugares acabam atraindo
114
A palavra “signo” em nosso contexto, seria para identificação de imagens urbanas, que diferenciam e inferem um
certo tipo de comunicação dando características ao lugar estudado.
129
determinado grupo de pessoas. “(...) Las ciudades son pues sistemas de mensajes
simbólicos, aunque no se este de acuerdo con ellos, pueden comprenderse (...)”.115
A estrutura social da cidade ou de um determinado bairro tem suas formas e
usos, e as pessoas que ali moram ou freqüentam acabam entendendo ou se adaptando
a eles, de acordo com as necessidades que são geradas pela convivência, crenças ou
outros valores socioculturais. “(...)Si uno no comunica, no se relaciona, y cuando las
diferencias entre la gente impiden entender los símbolos las distintas personas se
inventam nuevos simbolos; la total ausência de símbolos comporta la patología social.”
(DUCAN, 1972 apud RAPOPORT 1978: 286)
O lugar acaba ditando condutas de comportamento diferenciado, que passa
pelas características socioculturais; muitas vezes, os lugares apresentam uma
identidade cultural, um valor simbólico. Os geógrafos estruturaram a noção de
paisagem cultural como um modo de comunicação, uma forma de o observador ler
determinados ambientes que ele seleciona e, pela de sua própria cultura, decodifica o
meio construído. “El medio construido contiene información simbólica que se transmite
no-verbalmente y que, si se lee y se obedece (puede no obedeserse), y se es
congruente con reglas, compartidas, generala acción apropriada”. (WAGNER 1972d
apud RAPOPORT, 1978: 287)
O turista acaba observando todo este contexto de diversas maneiras, e, se
comunicando com o meio ambiente observado; “De esta manera el medio ambiente es
una forma de comunicación no-verbal, y los asentamientos físicos no son sólo
expreción de una cultura, sino vínculos con reglas y formas no verbales de
comunicación”. 116
Seria necessária uma pesquisa qualitativa para poder identificar a tipologia de
alguns turistas freqüentadores do Bairro da Liberdade, mas, diante do perfil psicográfico
dos turistas traçado por McIntntosh/Goeldner 1986:136, apud RUSCHMANN, 1997: 95,
ousamos classificá-los superficialmente como turistas alocêntricos, devido à sua busca
por novidades, a fim de satisfazer sua curiosidade em face do exótico.
115
116
RAPOPORT, Amos. Op. cit. p. 285-286.
RAPOPORT, Amos. Op. cit. p. 287.
130
Os turistas psicocêntricos, cuja denominação deriva de “psyche” ou autocentrado, são
pessoas ansiosas, inibidas, avessas a aventuras e preocupadas com pequenos
problemas da vida. Os alocêntricos (termo derivado de allo, quye significa “de formas
variadas" são pessoas cujos padrões de interesse estão centralizados em várias
atividades. São extrovertidos e autoconfiantes, buscam sempre novidades e aventuras,
o turismo torna-se, para elas, uma forma de expressar e de satisfazer sua curiosidade.
Assim uma nova destinação turística será “descoberta” pelos turistas alocêntricos e,
quando se torna mais conhecida e com maior e melhor infra-estrutura turística e geral,
passa a ser freqüentada pelos mesocêntricos, que correspondem ao segmento
quantitativo mais numeroso - geralmente chamado de turismo de massa.”
(RUSCHMANN , 1997)
Este estudo nos mostrou que a procura do turista urbano não passa somente
pela identificação com o espaço, mas também pelos diferentes tipos de utilização da
cidade. Com sua cultura e a economia local, fica evidente a “sua ligação entre a procura
turística e os recursos e equipamentos/infra-estruturas ofertados neste espaço”.
(HENRIQUES, 2003: 74).
Ao encerrar esta reflexão, observamos que cada espaço urbano tem suas
características e atendem a diferentes usuários. Elas mudam de acordo com a
percepção do freqüentador. Analisamos a seguir este fato ao abordar a questão da
percepção espacial do Bairro da Liberdade.
131
5.7 A percepção espacial do Bairro da Liberdade e o Turismo Cultural
Urbano.
Mensurar o espaço de um bairro pode parecer uma tarefa árdua, mas, se
concebermos o lugar (ou espaço físico), como essencial para a vida humana, que
desde os primórdios se apropriam do mesmo (ex. as cavernas), talvez seja mais fácil.
Porém, quando falamos de espaço turístico, estes criados para satisfazer indivíduos
que se deslocam para outros lugares, além de seu habitat natural, à procura de algo,
são necessários recursos para atender a expectativa que indivíduos criaram no seu
inconsciente.
As pessoas que se deslocam, buscam atender seus desejos, distante do espaço
de suas relações. A mudança temporária de espaço leva à busca de novos elementos
para a vida social, talvez até uma essência abstrata, encontrada e produzida em
condições materiais e suprem a existência, como objetos e suas formas; nesta esfera, o
homem busca satisfazer seus desejos e vontades que se encontram adormecidos em
seu interior, mas, frente aos estímulos visuais, a mente acrescenta as formas do lugar;
re-acendem e conectam estas pessoas à historicidade do povo oriental, no caso, o
Bairro da Liberdade, evocando algumas delas através de seus elementos ornamentais.
Uma fuga passageira causada pelo lugar.
A vida moderna gerou o “stress” e a necessidade de fuga, modificando o perfil do
turista, influenciado pelo mundo globalizado com suas informações e ofertas de
alternativas para empregar o tempo livre em determinados espaços. Conforme afirma
Mário Carlos Beni (2002: 55-57), a compreensão do espaço pode ocorrer da seguinte
forma: O ‘Espaço Real’, visto pelo homem através de seus sentidos; “(...) É real porque
se pode comprovar sua existência, nos deslocamos nele e, em muitos casos, modificálo”. Temos o Espaço potencial: que é “a possibilidade de destinar o espaço real a uso
diferente do atual; portanto, não existe no presente, sua realidade pertence à
imaginação dos planejadores quando, depois do diagnóstico, ao passarem à proposição
do plano, estudam as possibilidades de uso de um território”. Já o ‘Espaço cultural’,
alterado pela ação do homem, deixa de ser original. Adaptando às necessidades,
132
variando de acordo com o perfil de quem o utiliza. A origem do espaço cultural
adaptado “também é chamado de ‘espaço rural’ para assimilar as atividades produtivas
que nele se realizam ao se arar e semear a terra fértil, construir canais de irrigação,
cortar as matas originais, plantar novas árvores, criar gado ou explorar jazidas minerais
(...)”, este espaço é ditado pelo homem, mas quem o rege são “as forças da natureza”.
O espaço artificial descrito a seguir é o que compreende a base do estudo do
potencial turístico de um determinado lugar, pois só sua leitura permite o uso que será
feito.
Espaço artificial: Compreende aquela parte da crosta terrestre em que predomina todo
tipo de artefatos construídos pelo homem. Sua expressão máxima é a cidade e, por isso,
é também denominado “espaço urbano”. Nele, tudo que existe é feito pelo homem.
Todas as formas são inventadas por ele e quando aparece algum elemento natural,
flores, plantas ou árvores, sua função é decorar o ambiente, onde lhes caberá crescer
enterradas em vasos ou canteiros.
Espaço natural virgem: São aquelas áreas, cada vez mais escassas do espaço natural,
sem vestígios da ação do homem.
Espaço vital: Este tipo ou forma de espaço não se refere à Terra, mas ao homem ou a
quaisquer outras espécies unicelulares, vegetais e animais, e ao seu entorno ou meio,
que precisa ser favorável para que possam existir.
Mário Carlos Beni (2002: 56-57) também apresenta o Espaço Turístico, que
compreende a relação dos outros espaços: “(...) É o resultado da presença e
distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não podemos esquecer, são a
matéria-prima do Turismo. Este elemento ou componente do patrimônio turístico, mais o
mapeamento, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país”.
Pela leitura dos espaços, podemos afirmar que o turista é um consumidor do
espaço turístico edificado. Mário Carlos Beni afirma que não devemos utilizar técnicas
para delimitar regiões, pois não existem regiões turísticas e, em “substituição a essa
noção, desenvolveu-se a teoria do espaço turístico”. Então, podemos dizer que os
espaços turísticos passaram a ser usados e delimitados por regiões vocacionadas, tais
como: “zona, área, complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor de translado
ou transporte e corredor de estada ou estadia, todos seguidos do adjetivo turístico”.
Todos estes elementos, , passíveis de atrair e provocar o deslocamento de pessoas e
133
que são transformados em recursos turísticos, podem ser subdivididos em “naturais e
culturais”. (BENI, 2002: 57)
A percepção destes espaços a princípio é visual, e os japoneses acreditam que a
memória e a imaginação devem sempre participar das percepções. Um exemplo é o
jardim japonês. Na sua criação, os japoneses empregam não só a visão, mas todos os
demais sentidos.
A paisagem urbana do Bairro da Liberdade se identifica e se comunica pelos
seus elementos simbólicos. “Así el medio se reforzará con la comunicación no-verbal,
gestual, facial, proxémica, vestido, maneras, y reglas no-escritas de comportarse en el
medio físico”. (RAPOPORT, 1978: 288) Cada grupo se comporta e se comunica de
maneiras diferentes; no caso dos orientais, eles possuem regras e comportamentos que
são observados em um cerimonial detalhado, utilizando símbolos e gestos e se
comunicam de uma maneira não-verbal. E esta comunicação se estende ao seu meio
ambiente urbano que contempla alguns detalhes organizando-se espacialmente de
acordo com a cultura. Quando chamamos atenção para a cultura, referimo-nos também
aos grupos homogêneos que se definem de acordo com suas diferenças, e uma das
missões de uma determinada cultura é definir seus grupos e marcar suas diferenças
com relação às outras diferenças. Portanto, a cultura integra e separa. O uso dos
símbolos é muito importante neste processo de divisão, bem como as fronteiras sociais.
“La agrupación en núcleos homogéneos es algo comprensible si pensamos que la
cultura influye en el espacio, que el território “a defender”, y que la gente valora sus
actividades según su religión y su ética, etc.” (RAPOPORT, 1978: 232) Sendo assim,
cada grupo social se relaciona de acordo com uma rede que é montada pela cultura,
atividades em comum e a necessidade de sobrevivência. E, para sobreviver, estes
grupos devem preservar seus costumes, seus símbolos e o sistema social.
A capacidade de um determinado espaço atrair freqüentadores que não
pertencem ao grupo étnico para o qual foi construído (ou adaptado) acontece devido à
atração criada pela imagem simbólica, e acaba acontecendo uma identificação
estabelecida pelo usuário com o lugar, sua funcionalidade e suas representações.
Cláudia Henriques (2003: 135) afirma que: “A cidade turística não é somente um
134
espaço real e objetivo é também um espaço representado, isto é, resultante dos
imaginários espaciais integrando os valores sócio-culturais do momento”.
Como podemos observar nas próximas imagens que foram captadas no Bairro
da Liberdade em pleno centro da cidade, ele é um oásis que acaba atraindo várias
pessoas. É uma tentativa de integrar a natureza ao cenário urbano.
No Largo da Pólvora localizado na altura do número 578 da Av. Liberdade,
próximo às ruas Américo de Campos, Tomaz Gonzaga e Jaceguai, cercado por
portões de ferro: há dois lagos artificiais, uma pequena ponte e um edifício de poucos
andares. Neste local existia a Casa da Pólvora, construída e instalada pelo Senado
da Câmara em 1785 e em 1822 chamava-se Campo da Pólvora.
FIGURA 30: LARGO DA PÓLVORA
FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade
NOTA: foto da autora (mai.1999)
135
Cada grupo étnico desenvolveu sua própria escala para seus espaços privados e
públicos. Cada indivíduo tem suas necessidades espaciais diferentes, e isto implica
fatores sócio-econômicos e culturais. No caso, apresentamos um espaço anteriormente
ocupado por outras etnias, e atualmente reformulado e adaptado por uma cultura
diferente. Toda dinâmica vivida pelos orientais por meio de abordagens históricas estive
sujeita a transformações devido aos processos sociais de adaptação e ao uso deste
local. Segundo Adyr Balastreri Rodrigues, a experiência individual de cada pessoa está
contida na bagagem cultural. “Assim ler a paisagem é muito mais complexo do que ver
e perceber a paisagem. Envolve uma visão de mundo, consciente e inconsciente,
sempre subjetiva e permeada pelo imaginário”. (RODRIGUES, 2001: 84)
No turismo cultural urbano, temos praticamente uma atividade de consumo do
espaço117 expressa pelas relações sociais, não podemos deixar de observar a atividade
econômica do local, pois sabemos que na cidade de São Paulo o turismo cultural
urbano ocorre devido ao seu comércio, ao setor cultural, à gastronomia, à vida noturna
entre outros. Observando um bairro temático como o Bairro da Liberdade, podemos
perceber que o deslocamento de turistas é induzido por uma busca, um desejo de
consumo. Esta população flutuante varia118 em períodos do ano, diversificando-se de
acordo com a idade, classe social e por motivos que ditam o comportamento e o uso do
espaço.
É interessante notar que a maioria dos orientais que transitam diariamente pelo
bairro não mora ali, mas necessita dele por algum motivo. Diferente de freqüentadores
de outras etnias, para eles, o bairro oferece uma gama de produtos importados ou até
mesmo feitos no Brasil que abastecem seu cotidiano, e acaba conservando suas
tradições e costumes, preservando assim a essência do grupo e, conseqüentemente,
influenciando outros grupos.
A imagem do bairro é um dos objetivos principais deste estudo. No caso, o Bairro
da Liberdade permite várias análises, mas as pessoas que buscam o local têm uma
117
No caso do estudo de um determinado espaço urbano, seria necessário um diagnóstico para futuramente uma
intervenção, que geralmente antecede planos e programas de planejamento, mas não será o caso desta pesquisa, e
sim, demonstrar a leitura de alguns espaços de um bairro temático, e a função de alguns elementos da oferta e da
demanda vista pelo turismo cultural urbano.
118
Trata-se apenas de uma observação da autora, que freqüenta o bairro, pois para esta análise seria necessária uma
pesquisa exploratória.
136
imagem urbana, não só visual, mas também polissensorial. Vêem uma representação
cenográfica construída diariamente pelos moradores e frequentadores, através de
variáveis contextuais formado por vários elementos urbanos: o consumo, o serviço, o
comércio e também a diversão.
Sendo assim, o espaço está ligado à cultura, e a imagem está na relação do
homem e seu meio, que é a chave de vários estudos da psicologia. (ANTROBUS, 1970;
SEGAL,1971 apud RAPOPORT, 1978, p. 54) “En general, una imagen es una
representación internalizada y, con respecto al medio ambiente, es una representación
del medio por parte del individuo, a través de la experiência de cualquer clase que el
segundo tenga del primero.”
Em se continuando nesta abordagem, temos a imagem ligada à memória de
cada indivíduo, de acordo com sua cognição ambiental. Segundo Amos Rapoport, cada
pessoa tem seu ideal de mundo baseado em uma abstração, podendo ser considerada
uma imagem em grande escala que varia de acordo com a cultura e, posteriormente, se
tornam estruturas de um esquema imaginativo que acabam incorporando os ideais de
acordo com o conhecimento do mesmo e de como o mundo funciona. (RAPOPORT,
1978: 55)
Depois de várias pesquisas feitas para analisar o turismo e o turista, sem muito
sucesso, Mannell E Isso-Ahola criaram um novo contexto teórico para explicar “a
motivação tanto do lazer quanto do turismo”. Segundo os mesmos autores, existem
duas forças motivacionais que influenciam o lazer e o comportamento dos turistas, que
trazem benefícios psicológicos e ajudam a “sair da rotina e de ambientes estressantes”.
Nos últimos tempos, a relação “trabalho e lazer, recebeu um pouco mais de atenção
dos cientistas sociais e comportamentais”. ((MANNELL E ISSO-AHOLA 1987, apud
ROSS, 2001: 24-28)
Uma das teorias que acreditamos que possa ser aplicada ao Turismo Cultural
Urbano, em que o indivíduo satisfaz seus desejos de liberdade, autonomia,
gastronômico etc, é o “postulado teórico” muito importante conhecido, como hipótese
compensatória. Em termos gerais, ela diz que “as privações vividas no trabalho são
137
compensadas nos ambientes não profissionais”. Kabanoff e O’Brien ao explanarem
sobre a teoria compensatória, observaram dois possíveis resultados:
1. Compensação suplementar ou positiva – onde não acontecem ou há poucas
experiências, comportamentos e estados psicológicos desejáveis (como autonomia,
prestígio, sentimento de realização) no ambiente de trabalho, eles são procurados
num contexto de lazer, e;
2. Compensação reativa ou negativa – experiências profissionais indesejáveis são
canalizadas para um ambiente de lazer ou não – profissional (como uma válvula de
escape para tensão do trabalho, ou descanso de um trabalho fisicamente fatigante).
(KABANOFF e O’BRIEN apud ROSS, 2001: 28)
Na teoria de Maslow, a motivação citada em textos da psicologia, que apresenta
“as necessidades humanas como elementos motivadores formam uma hierarquia”, que
compreende cinco níveis: “as necessidades fisiológicas, de segurança, amor, respeito e
sentimento de realização”.119 (ROSS, 2001: 31-32)
As necessidades conscientes são as bases da motivação, diretamente ligadas
aos sistemas de valores, influenciando a percepção dos turistas, ligados a questões
emocionais, diz segundo Gnoth que completa: “(...) e possuem as características dos
impulsos dirigidos para o mundo interior (...)”, o que é visto e sentido atende ou não as
necessidades do turista e, desta maneira, “(...) um objeto turístico pode se tornar um
alvo porque é visto como um objeto que promete satisfazer valores e necessidades
psicológicas (...),” podendo variar o desejo ou a satisfação, dependendo de vários
fatores psicológicos, que também podem substituí-los a qualquer momento. (GNOTH,
1997 apud ROSS, 2001: 40-41)
Por esta observação, inferimos que o turismo no Bairro da Liberdade pode ter um
caráter vocacional, cultural, comercial, de saúde, sentimental, entre outros fatores, pois,
é o motivo que dita o deslocamento. Diante destes fatores, observamos que no bairro
há um aumento do número de turistas ocasionais, usufruindo o comércio,
principalmente no período de férias, sendo grande a demanda de pessoas em busca de
artigos exóticos e exclusivos, procedentes do outro lado do mundo. No período escolar,
119
“Sua teoria foi construída originalmente no contexto de áreas como a psicologia clínica. Mas, agora, sua
aplicação está começando a acontecer no campo da psicologia do turismo.” (ROSS, 2001:32)
138
mães e seus filhos procuram materiais representando personagens que sejam objeto de
desejo de várias crianças no mundo todo.
Acreditamos que o conforto estético, sonoro e visual, estabelece a permanência
no espaço (local). Para se ter uma percepção total do espaço, é necessário fazer uma
leitura interdisciplinar, e expressá-la através da linguagem, observar cada detalhe,
enxergar a todo existente, compreender o espaço arquitetônico e urbanístico analisando
o homem e o ambiente ligado a múltiplas dimensões. Pois, cada indivíduo busca sua
identidade cultural através do espaço e do tempo. As forças sociais movem-se e vão
transformando o espaço neutro em espaço de acolhimento e formando assim uma
identidade cultural deste lugar.
As imagens do bairro mostradas ao usuário residente ou turista não são fixas,
pois a cada olhar, cada grupo dita seu ritmo, não subestimando o valor que tem para
cada um deles, pois o espaço oferece usos diferentes para cada pessoa. Em
determinado momento, a imagem se sobrepõe ao conhecimento individual e coletivo.
Segundo Eduardo Yázigi, “O próprio Le Corbusier, com todo seu funcionalismo,
reconheceu que a alma de uma cidade depende de tudo aquilo que ela tem de
fantasioso e não funcional”. (YÁZIGI, 1996: 30)
A imagem oferecida pela indústria cultural faz do Bairro da Liberdade, um lugar
que tem uma proposta artificial. Para Teixeira Coelho.
120
Toda indústria cultural vem operando com signos indiciais
(nosso grifo) e, assim,
provocando a formação e o desenvolvimento de consciências indiciais. Isto é: tudo,
signos e consciências e objetos, é efêmero, rápido, transitório; não há tempo para a
intuição e o sentimento das coisas, nem para o exame lógico delas: a tônica consiste
apenas em mostrar, indicar, constatar. Não há revelação, apenas constatação e ainda
assim uma constatação superficial – o que funciona como mola para alienação.
(COELHO, 1991:62)
E através desta leitura vimos que para o turista não basta o usar e contemplar.
Atualmente, a visão dele mudou e ampliou tornando-o mais exigente e, para isto, temos
120
Segundo a teoria de Charles S. Peirce apud COELHO, 1991:54-62, que acredita que possa ter três tipos de signo:
ícone, índice e símbolo, e o signo indicial representado por “(...) seu objeto por remeter-se diretamente a ele(...)” e
exemplifica que: “se há nuvens escuras indicam que choverá”.
139
o suporte do planejador que fabrica um mundo rico e expressivo dotado de imagens
para fantasiar e imaginar. Segundo Eduardo Yázigi:
Usualmente, a personalidade, ou o conjunto de identidade do lugar, na vida cotidiana,
tem sido entendida como relações sociais, instituições, arquitetura, urbanismo e toda
cultura material; costumes e vários outros itens que se repetem em todas as partes,
como bem nos dão conta a sociologia, a antropologia e etnologia. Neles reconheço
importantes e indispensáveis sustentáculos do grupo. (YÁZIGI, 2001:30)
Investigando a questão do “imaginário”, uma abordagem que está diretamente
ligada à produção e ao valor do espaço, dedicamo-nos, então, à interdisciplinaridade do
conhecimento que remete a este “imaginário”, para dar embasamento teórico à
percepção, à identidade e à escolha deste espaço que, possivelmente, se formou por
um indutor imaginário que é o Japão.
Entendendo que a cultura de cada povo se diferencia criando espaços individuais
e coletivos, o oriental e o ocidental têm maneiras diferentes de identificar e conceber os
espaços. Seguem um indutor imaginário que é criado pelo plano real. Usamos o
inconsciente coletivo para construir nossa realidade, e diante do comportamento de
cada grupo muda a percepção do espaço. Temos necessidade de nos representar,
enquanto grupo, através da arquitetura, cultura e outras artes. Diante deste fato,
podemos afirmar que a cultura tornou-se um produto arquitetônico.
Sendo assim, os elementos de uma cidade se destacam pelas suas funções, que
podem ser analisados através das sensações. Organizar estes elementos do espaço
urbano não é tarefa fácil. Implica uma leitura que cada indivíduo faz do espaço e seus
interesses individuais e coletivos e adequando-os para atender as funções do homem.
Rege a carta de Atenas121 que o homem necessita de: habitação, trabalho,
recreação e circulação, visando a uma melhor qualidade de vida, para atender a
questões físico-social. E, agregando valores aos lugares, o homem utiliza parâmetros
para o julgamento da qualidade ligada ao bom e ao bem-estar, cada indivíduo possui
em seu âmago uma idéia de paraíso, que transforma o espaço urbano em uma
121
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=232. Acesso em: 30 jul. 2007.
140
construção humana de um ideal para suas vidas, adaptando-se a cada momento,
tornando-os seres refugiados da arquitetura construída e também das leis da natureza.
Os elementos urbanos compõem uma paisagem que nos permite acessos na
medida em que se organizam, adaptando-se e integrando os indivíduos, tornando-se
uma eterna construção, não só do espaço geográfico, mas também do conjunto
biopsíquico-sociocultural, que integra a qualidade urbana em uma leitura interna e
externa na busca de uma identidade. A memória de um povo seleciona o lugar através
de sua cultura, pois o homem tem necessidade de pertencer a um lugar. Por isto,
através de sua memória, acaba selecionando os seus espaços que fazem parte de um
componente psicológico. As características que empreende cada escolha estão ligadas
à demarcação de seu território sendo um fator determinante para a escolha é a
segurança do local.
Observando alguns aspectos culturais dos povos, podemos afirmar que a
diversidade existente serve para diferenciar e localizar, e o homem desafia a natureza
para se superar e deixar seus marcos referenciais na cidade.
Os turistas agregam valor aos espaços, e o não-lugar criado para ele pode se
tornar uma visão utópica de um lugar que existe no subconsciente, pois os mesmos
vivem à procura de um ambiente ideal; o turista se satisfaz e consome os não-lugares
que são criados.
O turismo usa a imagem da arquitetura explorando-a, usando de artifícios
reconstroem a memória de lugares, povos, replicando o que já foi marco de um
passado que conta uma história. Vemos isto em filmes, fotos, desenho, pinturas,
elementos que têm a força de trazer de volta algo que não vivemos. A arquitetura é uma
das melhores formas de manter a memória, e isto acontece devido à ação construtiva,
como os monumentos. E, pensando na preservação dos monumentos, o Plano Diretor
Estratégico que visa ao planejamento e à gestão do desenvolvimento urbano da cidade
de São Paulo defende no capítulo II art. 8º - “Dos princípios e objetivos gerais do Plano
Diretor Estratégico – VI – Elevar a qualidade do ambiente urbano, por meio da
preservação dos recursos naturais e da proteção do patrimônio Histórico, Artístico,
Cultural, Urbanístico, Arqueológico e Paisagístico”. É de grande importância este
141
parágrafo do Plano Diretor, por evidenciar que o cidadão vive e se beneficia da imagem
da cidade, sendo esta imagem explorada pelo turismo cultural urbano. A preservação
da qualidade destes ambientes gera estímulos para que continuemos a preservar,
beneficiando o ambiente urbano.
Porém, como todo bairro de grandes centros históricos sofre com problemas de
degradação no meio físico, habitacional, social, econômico e outros, há interesse no
meio público e por parte da sociedade civil quanto a tornar o centro da cidade122 melhor
e mais habitável, com propostas urbanísticas e programas de requalificação. Em 1991
foi tomada uma importante iniciativa por parte da sociedade civil que “tomou corpo na
constituição da Associação Viva o Centro.”123 Uma das principais atribuições desta
coordenadoria “era o monitoramento do Plano "Reconstruir o Centro". Ela era
constituída por um Grupo Executivo e pela Comissão PROCENTRO que teve sua
composição alterada e ampliada”. Este programa não tratava somente de recuperação
urbana planejado pela Prefeitura de São Paulo, mas uma união por parte da sociedade
civil e setores empresariais, para ampliar ações em conjunto com “diferentes secretarias
e organismos da administração municipal”, com o intuito de reabilitar124 a região,
melhorando as condições ambientais e a qualidade de vida urbana, valorizando-a.
Por fazer parte da Subprefeitura Sé, o Bairro da Liberdade foi incluído neste
programa que visa:
a) Ao resgate do caráter público do espaço coletivo; b) A ampliação do uso
residencial; c) A atração e garantia da diversidade de funções; d) A promoção de
ações urbanísticas com inclusão social; e) A atuação sistemática de promoção da
segurança pública.
Uma das ênfases do programa eram as ações de ‘zeladoria’ do espaço público o que
envolvia a recuperação de passeios, manutenção do ajardinamento, controle do
122
E nele está inserido o bairro da Liberdade
Associação responsável por iniciativas e propostas para o Centro de São Paulo, “(...) notadamente o Programa de
Ação Local. Instituído em 1995, esse programa dividiu a área central em 50 micro regiões onde foram estabelecidas
ações locais de zeladoria urbana visando principalmente a fiscalização das ações do poder público e a promoção de
parcerias com investimentos privados.”
124
“Essa reabilitação tinha como característica de fundo a inclusão social, marca maior daquela administração.” (
Luís Octávio da Silva)
123
142
comércio ambulante, além de ações de limpeza e segurança públicas. Tratavam-se de
ações geridas pela Subprefeitura.125
No mapa a seguir, podemos visualizar o território compreendido pelo programa,
de que fazem parte oito distritos que foram definidos pelo ponto de vista institucional e
agora se tornou parteda Subprefeitura Sé, que são: “(...) República, Sé, Bom Retiro,
Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci. Num sentido mais estrito,
ele é entendido como um território mais limitado, compreendido entre o Parque D.
Pedro, Largo do Arouche, Praça das Bandeiras e região da Luz. Grosso modo, ele
coincide com os distritos Sé e República.”
Segundo Cláudia Henriques:
A revitalização física de uma área ajuda a melhorar a confiança nesta área, mas a
manutenção da confiança requer uma revitalização? Reabilitação econômica, daí se
apelar para a designada reabilitação integrada. Sem melhorias econômicas, as
melhorias físicas tendem a deter uma fraca probabilidade de manutenção, o que se
contabiliza com a concepção de desenvolvimento sustentável. (2003:14)
O Bairro da Liberdade tornou-se um elemento de coesão moldado pelas forças
sociais. Enquanto o tempo passa, a cultura reforça a sua identidade. Segundo Milton
Santos, a paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por
um processo de mudança, a economia, as relações sociais e política também mudam
em ritmos e intensidade variados. (SANTOS, 2006: 30-37)
Nos grandes centros urbanos, em especial os bairros temáticos como o da
Liberdade, o uso caracteriza-se principalmente pela funcionalidade do comércio, e o
contato com o patrimônio cultural acaba acontecendo quase sem perceber. Olhares
distraídos percorrem as ruas do bairro, ignorando a história do local que agora atende o
público devido à possibilidade de acesso, à infra-estrutura atrativa ao comércio; e os
distraídos freqüentadores, ou turistas, à procura de produtos e serviços diferenciados,
encontram no bairro tudo o que concerne a objetos de decoração, culinária, produtos
importados e de qualidade.
125
SILVA, Luís Octávio da.“Uma história do centro de São Paulo e de sua reabilitação”. In Anais do I Seminário
do Programa de Pós-Graduação-Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo: "PROJETOS URBANOS
CONTEMPORÂNEOS NO BRASIL" C.P./USJT. Sessão 5. 2006.
143
O cenário apresentado pelo Bairro da Liberdade, além de abrigar restaurantes
tradicionais embalados por trilha sonora dos clássicos da música enka,126 oferece
também karaokês e choperias que conquistaram um público diferente dos
freqüentadores da região. A decoração oriental (com lanternas de papel, enfeites de
néon) desses locais oferece ao público freqüentador a sensação de estar em um
ambiente do Japão. A região permite um “mix” para as diversas “tribos” culturais e
faixas etárias diferentes.
Não estamos nos referindo a um espaço que se tornou a imagem estereotipada
de uma cultura vinculada ao meio social, mas às relações sociais criadas por fatores
culturais e econômicos, que acabou se tornando um seguimento étnico surgido com o
desejo de expressão, de circulação, infra-estrutura e equipamentos para sobrevivência
da cultura; nesse espaço, as redes de serviços e de bens simbólicos, relacionados a
equipamentos culturais, de lazer, de informação e de comunicação são indispensáveis
para qualidade de vida dos orientais nesta metrópole.
Portanto, não poderíamos observar o Bairro da Liberdade somente por uma
perspectiva socioespacial, sem deixar de considerar as contribuições e intervenções
dos imigrantes orientais no espaço urbano, pois, para eles, não basta apenas ocupar o
espaço, é preciso participar e atuar nele. Os moradores ou visitantes orientais dão
características ao bairro com sua dinâmica comercial, meio de comunicação,
comportamento etc., e estas diferenças podem ser entendida como o limite cênico do
bairro.
Podemos entender como limite cênico do Bairro da Liberdade tudo que dá
característica oriental ao local, e que ao mesmo tempo o separa de outros locais, sem
as tais características, agregando a questão da idealização de um espaço urbano
temático e a representação cenográfica do mesmo. Tais limites cênicos advêm da
formação cultural de uma determinada etnia, são valores e costumes somados a alguns
objetos que se tornam símbolo da cultura de um povo e, intencionalmente, acabam
atraindo o público para o local; os elementos apresentados pelo bairro são fortes e
marcantes em tons de vermelho, e a percepção é inevitável. Neste sentido, a identidade
urbana do bairro oriental é revelada através de sua imagem simbólica.
126
Música tradicional japonesa.
144
Dependendo da origem familiar ou da formação cultural, a visão da realidade das
pessoas é diferente; por exemplo, a visão de um americano, de um japonês ou de um
javanês. Seus valores e seus costumes modificam a maneira de enxergar as coisas, de
interpretá-la e de reagir a elas. Na cultura ocidental prevalece a objetividade, a
racionalidade, a descrição objetiva dos fatos. Para os orientais, contudo, prevalece a
subjetividade, os valores subjacentes das palavras e das ações. (OKAMOTO: 2002: 66)
O homem vivencia e diferencia o espaço cênico em função de sua etnia e da
formação cultural; o significado das coisas acaba se revelando e, neste universo
simbólico, ele reconhece o limite cênico de determinados locais.
Os limites cênicos do Bairro da Liberdade estão aqui apresentados pelas
lanternas orientais e a grande quantidade de comércios compreende as ruas:
Conselheiro Furtado, do início do Largo 7 Setembro até a rua Tamandaré não há
lanternas, mas há comércio e o templo Xintoísta no número 445, após o viaduto Shuhei
Uetsuka; Rua da Glória do início no Largo 7 Setembro até o final, no número 769, que
fica na Rua São Joaquim, esquina com a Rua Conselheiro Furtado; São Joaquim, do
número 612, até a esquina com a Rua Galvão Bueno; a Rua Galvão Bueno, da Praça
da Liberdade até a Rua Tamandaré; Rua Fagundes, travessa da Avenida da Liberdade,
sentido centro, até o final na Rua Galvão Bueno; Barão de Iguape, no início da Avenida
da Liberdade, sentido centro, até a Rua da Glória; Praça da Liberdade; Rua Thomaz
Gonzaga, esquina com o Largo da Pólvora, até o final na Rua Galvão Bueno, mas
possivelmente pode ser que altere devido ao projeto do arquiteto Márcio Lupion.
145
Rua Conselheiro
Furtado do início
no Largo 7 de
Setembro até a
Rua Tamandaré,
há comércio de
artigos orientais,
porém não há
lanternas.
Templo Xintoísta
no nº 445 após o
Viaduto
Shuhei
Uetsuka
As ruas da Glória,
Galvão Bueno, São
Joaquim,
Fagundes, Barão
de Iguape, Tomaz
Gonzaga, Largo da
Pólvora,
Rua
Américo
de
Campos, Rua dos
Estudantes e Praça
da
Liberdade.
Nestes
locais
assinalados,
há
limites cênicos bem
definidos
com
comércio de artigos
orientais lanternas.
FIGURA 30: LIMITES CÊNICOS DO BAIRRO DA LIBERDADE
FONTE: GUIA DE RUAS SAMPA ONLINE - REGIÃO ANALISADA DO CENTRO DE SÃO PAULO
Disponível em: <http://www.sampaonline.com.br/mostrarmapabairro.php?bairro=liberdade>
Acesso em: 7 out. 2007
146
Este projeto visa à melhoria e a qualidade urbana do Bairro da Liberdade, que
tomou força com o advento do centenário da imigração japonesa no Brasil. Órgãos
públicos e a iniciativa privada começaram a tomar as primeiras iniciativas; o arquiteto
Márcio Lupion, professor do Mackenzie (mestre em Arquitetura Simbólica), fez um
projeto que foi aprovado pela Comissão de Proteção da Paisagem Urbana (CPPU), que
consiste em remodelar completamente o Bairro da Liberdade. A diretora da Empresa
Municipal de Urbanização (Emurb) diz que: “A idéia é juntar o antigo com o novo,
caracterizando uma cidade oriental do século XVII com tecnologia que os asiáticos
desenvolveram.”127 O responsável pelo projeto pretende dar mais originalidade ao
bairro, alternando elementos do Japão tradicional - com os telhados curvos bem
conhecidos - com a tecnologia que marca o Japão contemporâneo. (Márcio Lupion em
entrevista) 128
Não é fazendo apologia aos locais segregados, e muito menos reforçando a
formação de ilhas de cultura da paisagem, mas projeto como este é de grande
importância, pois, se pequenas iniciativas forem tomadas neste sentido, a revitalização
de várias regiões pode ser possível. Pode haver discordância em relação aos
resultados obtidos, se este projeto acontece; porém, sabemos que o estado de
satisfação ou de insatisfação constitui experiências de caráter pessoal e também de
necessidade local. Solução como esta, se colocada em prática, irá elevar a qualidade
de vida urbana no local. O projeto será desenvolvido em algumas etapas, mas a
principal dela visa: (...) transformar a Liberdade num grande shopping center a céu
aberto, em que as pessoas poderão passear, fazer turismo e morar. Atualmente, o
bairro abriga quatro comunidades: a dos japoneses, cada vez menor; a dos chineses,
em franca expansão, a dos coreanos e a dos nordestinos."129 O intuito é revitalizar o
bairro, dando características cênicas mais acentuadas, servindo de modelo para outros
127
Projeto para revitalização da Liberdade é aprovado por Comissão de Proteção da Paisagem Urbana. 25 de
outubro de 2007. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=19450
Acesso em: 05 nov. 2007.
128
Entrevista disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=14813424> Acesso em: 22 out.
2007
129
Relata o arquiteto Márcio Lupion em entrevista ao Centro Novo e na All TV na segunda-feira, 04 de junho de
2007: a entrevista está disponível em:
<http://www.centronovo.com.br/index.php?secao=projetos&cd_noticia=359&PHPSESSID=5c7f38ef0bf8ef6ce1985
29f5891305b> Acesso em: 22 out. 2007.
147
bairros temáticos. Tem-se a intenção de que a primeira parte do projeto fique pronta
nas comemorações do centenário da imigração, ainda em 2008.
Abaixo algumas imagens do projeto que caracteriza o Bairro da Liberdade como
bairro oriental.
O Bairro da Liberdade apresenta as características dos grandes centros de
compras e gastronomia que existem em bairros orientais em vários lugares do mundo;
um exemplo são as próximas imagens, Chinatown, uma região urbana com população
oriental dentro de uma sociedade não-oriental. Estes locais podem ser encontrados em
algumas cidades da Europa e na Austrália, também em New York, Los Angeles e
Montreal no Canadá.
A visibilidade do Bairro da Liberdade prende-se à sua imagem, à forma como o
bairro se revela, e a relação que estabelecemos com o lugar está ligada à ótica do
Turismo Cultural Urbano.
Em alguns casos, as regiões temáticas, havendo caracterização das pessoas e
dos objetos observados para torná-los mais reais e autênticos, são classificadas por
Debord como uma sociedade do espetáculo. (DEBORD 1983. Apud URRY, 2001: 196)
ECO (1986:44) afirma que:
(...) Assim, as representações se aproximam mais de nossas expectativas em relação à
realidade, dos signos que carregamos e que esperam ser desencadeados: A
Disneylândia nos diz que a natureza falsificada corresponde muito mais às nossas
exigências e devaneios... A Disneylândia afirma que a tecnologia pode nos
proporcionar mais realidade do que a natureza. (ECO, 1986: 44 apud URRY, 2001:
196).
Este fator temático acaba superando barreiras geográficas da distância e do
lugar em nossa imaginação, que geralmente conhecemos através de imagens, como
podemos observar em bairros temáticos (chinatown) de New York City, Los Angeles e
em Montreal.
O intercâmbio de imagens e signos tornou-se possível pelas viagens pelo mundo
globalizado, sendo possível a construção de um pastiche de tema. (URRY, 2001:197)
148
O Bairro da Liberdade possui funções definidas através de formas que
expressam uso, circulação, funcionalidade do comércio local e cultura. O ambiente é
identificado pelo usuário muitas vezes indiferente aos problemas econômicos ou sociais
existentes no local. O bairro é extremamente visível devido às suas características
cênicas e por estar próximo ao centro histórico de São Paulo.
Assim, as pessoas que atravessam o Largo Sete de Setembro e seguem em
direção oposta à Catedral de São Paulo já estão no bairro oriental, devido à sua
proximidade com o centro. Ao deparar características marcantes como placas nas
fachadas escritas em japonês, lanternas e a grande maioria de pessoas com traços
orientais, o observador já percebe os limites criados pela imagem urbana do local,
também revelada através dos recortes e fragmentações que compõem o cenário; suas
fronteiras são visivelmente claras devido aos seus elementos ornamentais.
As avenidas Radial Leste-Oeste e Vinte e Três de Maio têm um papel importante
para o bairro, sendo um elo entre o centro e o bairro. A Radial Leste-Oeste atravessa
uma parte do Bairro da Liberdade por baixo, permitindo uma visão cênica quando
estamos no Elevado Costa e Silva/Alcântara Machado, podendo ser avistado o Viaduto
Shuhei Uetsuka, caracterizado com as lanternas e também o templo Xintoísta que fica
no final do viaduto do lado esquerdo (imagem 33). Seguindo em frente, temos um
acesso à direita (imagem 34), onde entramos em um trecho do Viaduto Dona Paulina e,
logo em seguida, viramos à direita na Rua Carlos Gomes (rua onde está localizado o
Círculo Esotérico do Pensamento); seguindo em frente, já estamos na Avenida da
Liberdade.
149
FIGURA 31: TEMPLO XINTOÍSTA LOCALIZADO NA RUA CONSELHEIRO FURTADO (FACHADA E INTERIOR)
FONTE: imagem da autora Vanuzia de Souza Brito (1.999 e 2007)
FIGURA 32: SAÍDA DO ELEVADO/ ACIMA O VIADUTO SHUHEI UETSUKA/ À DIREITA É O ACESSO AO BAIRRO
DA LIBERDADE
FONTE: imagem da autora Vanuzia de Souza Brito (out. 2.007)
No caso, estas seriam as entradas para o público que tem como acesso as vias
citadas anteriormente; existem outros caminhos, mas este é um dos que mais
apresentam a visualização de seus elementos cênicos.
Outro acesso é pela Estação Liberdade do metrô, um local importante, estando
inserido na porta de entrada do bairro. Segundo LYNCH, o metrô é um mundo
subterrâneo à parte, e é interessante especular sobre quais meios poderiam ser usados
para ligá-lo à estrutura do todo. (LYNCH, 1997: 63). Por outro lado, as entradas do
metrô que estão na superfície constituem ponto estratégico ligando o usuário ao
150
ambiente. É Também considerado um importante ponto nodal,130 pois uma de suas
saídas dá acesso à Praça da Liberdade.
Os limites do bairro são caracterizados pelas fronteiras de dois tipos de área,
funcionam como referências laterais. (...) Esses limites parecem ter função secundária:
podem estabelecer as regiões limítrofes de um bairro e reforçar sua identidade, mas
aparentemente têm pouco a ver com sua constituição. (LYNCH: 1997:78)
Porém, se trabalharmos com a hipótese de que a Liberdade é um bairro
comercial, poderíamos usar uma leitura que nos fornece elementos para definir tais
limites.
O limite de um bairro comercial, por exemplo, pode ser um conceito importante, mas
ao mesmo tempo difícil de descobrir in loco, por não ter qualquer continuidade formal
identificável. O limite também adquire força se for lateralmente visível a alguma
distância, se assinalar um claro gradiente das características de uma área e se ligar
claramente duas regiões limítrofes. (LYNCH, 1997: 111)
Kevin Lynch afirma que “parecem mais fortes os limites que não só predominam
visualmente, mas têm uma forma contínua e não podem ser atravessados” e,
continuando nesta abordagem, diz que “os limites, sejam eles de ferrovias de
topografia, de rodovias ou de bairros, são características típicas desse ambiente e
tendem a fragmentá-lo”. (1997: 69) Por se tratar de um bairro de formação mais antiga,
o seu entorno foi adequando-se às necessidades do desenvolvimento.
Desta forma podemos ressaltar que:
Os bairros são áreas relativamente grandes da cidade, nas quais o observador pode
penetrar mentalmente e que possuem algumas características em comum. Podem ser
reconhecidos internamente, às vezes usados como referências externas – como, por
exemplo, quando uma pessoa passa por eles ou atravessa. (LYNCH, 1997: 74)
130
Segundo Kevin Lynch (1997: 80-113), o ponto nodal “(...) são os focos estratégicos nos quais o observador pode
entrar; são, tipicamente conexões de vias ou concentrações de alguma característica”, também podem ser grandes
praças, ou até mesmo toda a cidade, e considera o ambiente em nível nacional ou internacional. São pontos
significativos dando impressão de junção ou interrupção no bairro. Podemos considerar como um importante ponto
nodal a Rua Galvão Bueno, Largo Sete de Setembro, estação de metrô Liberdade, entre outros. Também são
considerados como “pontos de referência conceituais de nossas cidades...,” podem ser pontos de atenção e
percepção “obtidos através da concentração de algum tipo de atividade local”.
151
O mapeamento que nos forneceu dados para discorrer sobre o Bairro da
Liberdade permitiu-nos reconhecer os elementos que norteiam quanto aos caminhos e
ao conhecimento da cidade, uma vez que eles geralmente são reconhecidos de
maneira fragmentada; mas as características físicas que determinam os bairros são
continuidades temáticas que podem consistir numa infinita variedade de componentes:
textura, espaço, forma, detalhes, símbolos, tipo de construção, usos, atividades,
habitantes, estados de conservação, topografia. (LYNCH, 1997: 75) Todos estes
elementos são passíveis de observação e identificação de um bairro como a Liberdade,
com suas marcantes características temáticas. Possui suas fronteiras estabelecidas ou
definidas por seus elementos cênicos. “Normalmente, la calidad ambiental y los
espacios públicos son filtros en contra de los extranjeros usando el espacio como
barrera”. (JAMES and BROGAN 1974 apud RAPOPORT, 1978: 240)
A leitura da paisagem urbana do Bairro da Liberdade revela que o local possui
notável potencial turístico; sua representatividade dentro do espaço urbano permite uma
leitura transdisciplinar, apresentando aos turistas, habitantes locais ou visitantes de
outras cidades aspectos paisagísticos que levam a vivenciar a representação cultural do
povo oriental, demonstrando a quantidade de etnias e suas culturas existentes no país
que podem ser estudadas.
152
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como o objetivo pensar o turismo cultural, o patrimônio e o
espaço urbano, bem como discutir e abordar novas formas para seu desenvolvimento
nas próximas décadas, tendo como base a transdisciplinaridade.
A princípio, houve apreensão quanto a dissertar sobre um bairro temático, pois,
apresentar seu contexto histórico e de formação cênica não seria suficiente. Então,
demonstramos que o fortalecimento da cidade e o prestígio da economia urbana bem
como sua expansão e seu desenvolvimento cultural revelam grande atrativo para o
turismo. Demonstramos que o Turismo tornou-se um fenômeno produzido envolvendo
toda uma gama de recursos naturais, históricos, culturais, sociais e de estrutura básica
específica. Vimos que o Turismo proporciona a possibilidade de uma análise do local
que se complementa por ter um enlace maior com a realidade, pois o fenômeno
turístico não se explica por si só, são necessários dados e fundamentos.
Já o Turismo no Brasil estrutura-se em cada município brasileiro de acordo com
sua realidade. São Paulo, por possuir a maior concentração populacional, o maior
parque industrial, bem como a maior produção econômica, com considerável número de
atrações artísticas e culturais, tem uma infra-estrutura receptiva voltada ao turismo de
negócio, oferecendo as melhores opções de turismo urbano, e, além disso, também
possui o maior registro de imigrantes, estes que fizeram que a cidade se transformasse
num amálgama universal de raças e culturas diferentes, tornou-se a cidade de maior
importância econômica da América Latina.
O turismo cultural urbano proporciona o prazer de observar o seu contexto
permitindo o sentimento de pertencer a um determinado espaço, podendo ser
identificado na sociedade, com sua diversidade cultural.
Apresentamos uma reflexão sobre alguns aspectos do Bairro da Liberdade, bem
como seus atrativos históricos culturais. A pesquisa expressa uma tentativa de leitura
de um bairro temático e sua representatividade dentro do espaço urbano em uma
perspectiva transdisciplinar. Trata-se não só de uma pesquisa, mas também de uma
153
homenagem aos imigrantes japoneses. Demonstramos que as funções de um bairro
temático servem para difundir a cultura de determinada etnia e que o mesmo possui um
notável potencial turístico.
A apropriação por orientais no Bairro da Liberdade permite que observemos que
a transformação do lugar serve para um estudo de comportamento que venha
responder a questões como: para quem se deve produzir o turismo cultural urbano?
Quem é o beneficiário e em que organismo da sociedade está inserido? A atividade
turística urbana requer, além do tempo e da dimensão espacial que o envolve, a
mudança temporária de espaço.
Ao observar algumas imagens, podemos entender que as mesmas mostram
aspectos distintos do bairro com grande apelo visual. Nossa intenção foi expor as
diferenças culturais e sociais, como se constrói uma paisagem urbana de uma cidade;
demonstrar a transformação de um espaço urbano no decorrer dos anos. Porém, a
preocupação, no caso, está diretamente ligada à história de uma determinada etnia e
ao seu conjunto visual de imagens consumido por distintos setores da sociedade; seus
apelos visuais notórios e simbólicos cujo foco central é a percepção, a visualidade e
seus efeitos na reprodução para o Turismo Cultural Urbano.
Não poderíamos observar o Bairro da Liberdade somente por uma perspectiva
socioespacial, sem deixar de considerar as contribuições e intervenções dos imigrantes
orientais no espaço urbano, pois, para eles, não basta apenas ocupar o espaço, é
preciso participar e atuar nele.
O potencial do Bairro da Liberdade neste momento é discutível, devido aos
problemas atuais, mas o uso experimental de novos gestores urbanos no que concerne
a idéias e design, bem como projetos para um planejamento futuro, já começaram a ser
implantados com o advento do centenário da imigração.
Ao finalizar, resta dizer que as informações e descobertas obtidas a partir desta
pesquisa estão além do que foi construído e desenvolvido, e possivelmente possam dar
origem a novos trabalhos. Dessa forma, acreditamos que este estudo demonstrou o sentido
de pertencer de certas etnias em determinadas configurações urbanas de uma cidade
como São Paulo, que favorece os mais diversos tipos de intercâmbios culturais.
154
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo (1895 – 1915). São Paulo: Carrenho
Editorial, 2004.
ANDRADE, J. V. Turismo: Fundamentos e dimensões. 28. ed. São Paulo: Ática, 1995.
ARNHEIM, R. A dinâmica da forma arquitetônica. Lisboa: Editorial Presença, 1988.
ASSUNÇÃO, Paulo. São Paulo Imperial: a cidade em transformação. São Paulo: Arké,
2004.
____________. O patrimônio. São Paulo: Loyola, 2003.
ASSUNÇÃO, Paulo, FERNANDES, Dirce e ESTEVES, Maria Cristina S. Manual de
Trabalho Acadêmico. São Paulo: Arké, 2005.
AUGÉ, Marc. Não-Lugares–Introdução a uma antropologia da supermodernidade.
Campinas: Papirus, 1994.
AZEVEDO, Aroldo. A cidade de São Paulo. São Paulo: Companhia Editora Nacional.
1958.
BARBOSA, Ycarim Meldaço. História das viagens e do turismo. São Paulo: ALEPH.
2002. Coleção ABC do Turismo.
BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus,
1995.
____________.Turismo e Legado Cultural. 2. ed., São Paulo: Papirus, 2001.
BELLIS, Elvira de. O gosto Brasileiro – as mais famosas receitas das nossas avós:
Cozinha Japonesa. São Paulo: Globo, 1993.
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 7 ed., São Paulo: SENAC, 2002.
BONDUKI, Nabil. Habitar São Paulo: reflexões sobre a gestão urbana. São Paulo:
Estação Liberdade, 2000.
CAMARGO, Ana Maria de A. (coordenação). São Paulo, uma viagem no tempo. São
Paulo: CIEE, 2005.
CAMPOS, Candido Malta, (org.) et alii. São Paulo, Metrópole em trânsito: percursos
urbanos e culturais. São Paulo: SENAC, 2004.
____________. São Paulo, uma longa história. São Paulo: CIEE, 2004.
155
CASTELLI, Geraldo. Turismo: atividade marcante do século XX. 28. Caxias do Sul:
Educs, 1990.
____________. Turismo: análise e organização. Porto Alegre: Sulina, 1975.
CASTRO, Giovanni A. (Org) Turismo Urbano. São Paulo: Contexto, 2000.
CHILDE, Gordon. O que aconteceu na História. Rio de Janeiro. Zahar, 1978.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001.
COELHO, Teixeira. O que é industria Cultural? 14ª ed. São Paulo: Brasiliense,1991.
DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. São Paulo: Difel, [s.d.].
DUMAZEDIER, Jofre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva,1979.
FERRARA, Lucrecia D’Aléssio. Olhar periférico: Informação, Linguagem, Percepção
Ambiental. São Paulo: Edusp, 1999.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda e J. E.M.M. ed. Ltda. Novo dicionário da
Língua Portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira S/A, 1986.
FUNARI, Pedro Paulo, PINSKY, Jaime (orgs.) “et alli”. Turismo e Patrimônio Cultural.
São Paulo: Contexto, 2002.
GIARETTA, M. J. Recursos Humanos em Turismo. Rio de Janeiro: Boletim Técnico do
Senac, 1987.
GUIMARÃES, Laís de Barros Monteiro. Liberdade: História dos Bairros de São Paulo.
Prefeitura do Município de São Paulo. Departamento do Patrimônio Histórico Divisão do
Arquivo Histórico. – série: História dos bairros de São Paulo. [s.d.] Vol. 16: Liberdade.
HENRIQUES, Cláudia. Turismo Cidade e Cultura: Planejamento e Gestão Sustentável.
Lisboa: Edições Silabo, 2003.
IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. São Paulo: Pioneira. 1999.
KAMIDE, Edna (coord). Patrimônio cultural paulista: CONDEPHAAT, bens tombados
1968-1998. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1998.
KRIPPENDORF, J. Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das
viagens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A, 1989.
LOPES, J. T. A cidade e a cultura, um estudo sobre as práticas culturais urbana. Porto:
Afrontamento, 2000.
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. trad. Jefferson Luiz Camargo. 3 ed., São Paulo:
Martins Fontes, 1997.
156
MONTEJANO, Jordi. Psicosociologia del Turismo. Madrid: Sintesis, 1996.
MORSE, Richard M. (Richard McGee). Formação historica de São Paulo (de
comunidade a metropole). São Paulo, SP: Difusão Européia, 1970.
MURTA, Stela Maris e GoodeY, Brian. Interpretação do patrimônio para o turismo
sustentado, um guia, Belo Horizonte: SEBRAE, 1995.
OI, Célia Abe (Coord). Cultura Japonesa – Santos, São Vicente e Guarujá. Aliança
Cultural Brasil-Japão: São Paulo, [s.d.].
____________. Cultura Japonesa – São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. São Paulo:
Aliança Cultural Brasil-Japão, [s.d.].
OKAMOTO, Jun. Percepção ambiental e comportamento: visão holística da percepção
ambiental na arquitetura e na comunicação. São Paulo: Mackenzie, 2002.
PIRES, Mário Jorge. Lazer e Turismo Cultural. São Paulo: Manole, 2001.
PORTO, Antonio Rodrigues. História da cidade de São Paulo através de suas ruas. São
Paulo: Carthago, 1996.
____________. História urbanística da cidade de São Paulo. São Paulo: Carthago &
Fontes Editoras Associadas, 1992.
RABAHY, Wilson Abrahão. Turismo e desenvolvimento: estudos econômicos e
estatísticos no planejamento. São Paulo: Manole, 2003.
RAPOPORT, Amos. Aspectos humanos de la forma urbana: Hacia una confrontación de
las Ciências Sociales con el diseño de la forma urbana: Barcelona: Ed. GG, 1978.
RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e Espaço: Rumo a um conhecimento
transdisciplinar. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 2001.
RODRIGUES, Aroldo. Psicologia Social. São Paulo: Vozes, 1979.
ROSS, Glenn F. Psicologia do Turismo. Trad. Dinah Azevedo. São Paulo: Contexto,
2001. Trad. Dinah Azevedo. Coleção Turismo Contexto.
ROSSI, Aldo. A Arquitetura da cidade. Lisboa: Cosmo, 2001.
RUSCHMANN, Doris v. M.. Turismo e planejamento sustentável. Campinas: Papirus,
1997.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4 ed. São
Paulo: EDUSP, 2006.
____________. Pensando o Espaço do Homem. São Paulo: EDUSP, 2004.
157
SARTOR, L. F. Introdução ao turismo. Caxias do Sul: Universidade de C. S. Porto
Alegre, 1977.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 18ª ed. São Paulo:
Cortez. 1992.
TEIXEIRA, Manuel C. A construção da cidade brasileira. Lisboa: Livros Horizonte, 2004.
TOLEDO, Benedito Lima de. Três cidades em um século: São Paulo: Duas Cidades,
1983.
TRIGO, Luiz Gonzaga G. Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. 23. ed.
Campinas: Papirus, 1996.
____________. Turismo básico. São Paulo: Senac, 1995.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente;
São Paulo: DIFEL, 1980.
____________. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.
URRY, John. O olhar do turista : lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. 3.
ed. São Paulo: Studio Nobel: SESC, 2001.
YÁZIGI, Eduardo; CARLOS, Ana Fani Alessandri; CRUZ, Rita de Cássia Ariza da.
Turismo: Espaço, Paisagem e Cultura. São Paulo: Contexto,1996.
____________. A alma do lugar: Turismo, planejamento e cotidiano. São Paulo:
Contexto, 2001.
TRABALHO ACADÊMICO
ARIAS, C. C., “et alii” O Bairro da Liberdade. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Turismo) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2003.
OLIVEIRA, Joseane. “et alii”. Fazenda e Pousada Lumiar: Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Turismo – Ênfase em Hotelaria) – Universidade Paulista, São
Paulo, 2002: p. 48-52. 168 p.
158
ARTIGOS DE JORNAIS
Para marcar 2008, Curitiba apresenta Parque da Imigração. Jornal NIPPO –BRASIL,
São Paulo, p. 4 - geral, de 11 a 17 de jul. 2007.
Finalmente, na Liberdade, nasce o “Bairro Oriental”. Folha de São Paulo. São Paulo, (s.
p.) 07 nov. 1974.
Liberdade: mais 219 luminárias. Diário Popular. São Paulo, (s. p.)17 jun. 1975.
ARTIGOS DE REVISTAS
ABIKO JR, Ademar; FUKUSHIRO, Luiz. Influência Japonesa. Revista Made in Japan.
São Paulo, v 10, n. 108, 2007.
CAMARGO, Azael Rangel, et alli. Cadernos de Pesquisa do Lap nº 17. Revista de
Estudos sobre Urbanismo, Arquitetura e Preservação – Série Urbanização e
Urbanismo. USP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, p. 30, jan./fev.
1997.
CARNEIRO, Hélio. Os Japoneses na Liberdade. Revista Geográfica Universal. São
Paulo, (s.v.), n. 22, p. 95-104, jun. 1976.
Centro Velho e Novo ao mesmo tempo. Revista Metrô Magazine. São Paulo. p. 36-38,
jul. 2002.
FARIAS, Juliana Barreto. O Brasil que veio de longe - Tradições Preservadas: Os
imigrantes. Revista nossa História. São Paulo, v. 2, n. 24, p. 30-31. [s.d.].
HARUMI, Paula. Liberdade de Cara nova: A nova Liberdade. Revista Made in Japan.
São Paulo, nº126/ano 11, 2008.
HIRASAKI, César. 100 anos de imigração – Diário de Bordo. Revista Made in Japan.
São Paulo, nº 112/ano 10, 2007.
____________. 100 anos de imigração: Choque de cultura. Revista Made in Japan. São
Paulo, nº 113/ano 10, 2007.
____________. 100 anos de imigração: Revolta nas fazendas. Revista Made in Japan.
São Paulo, nº 114/ano 10, 2007.
159
____________. 100 anos de imigração: Tragédia na Colônia. Revista Made in Japan.
São Paulo, nº 115/ano 10, 2007.
___________. 100 anos de imigração: Os Imigrantes japoneses em Londrina: Pequena
Londres. Revista Made in Japan. São Paulo, nº116/ano 10, 2007.
____________. 100 anos de imigração: Os episódios mais marcantes e inesquecíveis
da história dos imigrantes japoneses no Brasil. Revista Made in Japan. São Paulo, nº
117/ano 10, 2007.
DOCUMENTOS ELETRÔNICOS
O Bairro da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.radiobras.gov.br/especiais/saopaulo450/mat_saopaulo12.php> Acesso em:
22. fev. 2007
Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html> - Acesso em: 22.fev.
2007.
Os tesouros do bairro japonês, 2007. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> Acesso
em: 11. abr. 2007.
Japão História.Disponível em: <http://www.rumbo.com.br/guide/br/asia/japao/histo.htm>
Acesso em: 11 de abr.2007.
Portal Brasileiro de Turismo: Missão. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/>
Acesso em: 17 mai.2008.
História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em:
<http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso
em: 11. abr. 2007.
Turismo no Brasil. 2007. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_em_S%C3%A3o_Paulo> Acesso em: 01.mai.2007.
Sobre o Japão - Período Nara (710 - 794). 2007. Disponível em:
<http://www.geocities.com/sobreojapao/nara.htm> Acesso em:27.abr.2007.
Datas Comemorativas no Japão. Disponível em:
<http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=167> Acesso em: 27.abr.2007.
160
Anuário Estatístico EMBRATUR – VOLUME 33 – (PDF). 2006. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/dadosefatos> Acesso em:27.abr.2007.
Mecanismos de Sustentabilidade. Disponível em:
http://www.ibam.org.br/urbanos/assunto2/blt6_int.htm> Acesso em: 03 ago. 2007.
Comunidade Budista Soto Zenshu da América do Sul. A escola Soto Zen. Disponível
em: <http://www. sotozen.org.br/> - Acesso em: 17 abr. 2008.
Governo do Estado de São Paulo. As potencialidades turísticas de São Paulo.
Disponível em:
<http://www.spvirtual.net/sao_paulo_informacoes_gerais_as_potencialidades_turisticas
_de_sao_paulo-o57383-en.html> Acesso em: 17 mai. 2008
Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História.
Disponível em: http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai.
2007
Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php> Acesso
em: 22 out. 2007
Quando o bairro japonês se torna bairro oriental. 2007. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> Acesso
em: 11 abr. 2007.
Disponível em: <http://www.estacaometropole.com/liberdade.htm> Acesso em: 25 fev.
2007.
Japão de A a Z - Torii – (Portal de madeira). Disponível em:
<http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=177> Acesso em: 07 fev. 2008
Rua Galvão Bueno, 2007. Disponível em:
<http://www.sampa.art.br/saopaulo/Rua%20Galvao%20.Bueno.htm.> Acesso em: 01
mai. 2007.
CAMARGO, Luís Soares de. Um passeio pelo Beco dos Aflitos. disponível em:
<http://www.fotoplus.com/dph/info03/index.html> Acesso em: 11 abr. 2007
Eventos da comunidade japonesa em São Paulo. 2007. Disponível em:
<http://milpovos.prefeitura.sp.gov.br/interno.phd?com=> Acesso em: 01. mai. 2007.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=232. Acesso em:
30 jul. 2007.
161
Disponível em:
<http://www.sampaonline.com.br/mostrarmapabairro.php?bairro=liberdade> Acesso
em: 7 out. 2007
Projeto para revitalização da Liberdade é aprovado por Comissão de Proteção da
Paisagem Urbana. 25 de outubro de 2007. Disponível em:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=19450 Acesso em:
05 nov. 2007.
Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=14813424> Acesso
em: 22 out. 2007
Disponível em:
<http://www.centronovo.com.br/index.php?secao=projetos&cd_noticia=359&PHPSESSI
D=5c7f38ef0bf8ef6ce198529f5891305b> Acesso em: 22 out. 2007.
Mapa do Japão. 2007. Disponível em: <http://
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/japao/mapa-do-japao.php> Acesso em:
01.mai.2007
VIDEO E DVD
São Paulo Memória em Pedaços: Liberdade. Produção: Max Eluard e Rose Cornelsen.
Produção Executiva: DVT & F. Direção, Texto e Roteiro: Neide Duarte. São Paulo,
2002. 1 DVD, (32 min.), color. CULTURA – Fundação Padre Anchieta.
CD-ROM
SILVA, Luís Octávio da.“Uma história do centro de São Paulo e de sua reabilitação”. In
Anais do I Seminário do Programa de Pós-Graduação-Stricto Sensu em Arquitetura e
Urbanismo: "PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS NO BRASIL" C.P./USJT.
Sessão 5. 2006.
162
ANEXO
Leis, expedição de decretos, resoluções e atos, estas apresentadas são apenas
uma amostra da necessidade do processo de urbanização do Bairro da Liberdade
que se encontra no Ementário da Legislação Municipal n° 8476 e D.M. n° 8453, de
17/10/1969.
- Lei n° 1319, de 19/5/1910 - restabelece a lei sobre a ligação da Rua Manoel Dutra à
Rua Jaceguai e autoriza o calçamento da Rua Conde de Sarzedas.
- Lei n° 1334, de 01/7/1910 - autoriza a regularização do leito da Rua Conde de
Sarzedas para seu prolongamento até a Rua Glicério.
- Lei n° 766, de 05/08/1904 - autoriza o pagamento de melhorias da Rua Galvão Bueno,
entre as ruas São Joaquim e Tamandaré.
- Lei n° 876, de 26/10/1904 - determina o asfaltamento da Rua São Joaquim, entre as
Ruas Galvão Bueno e Glória.
- Lei n° 449, de 15/01/1900 - autoriza o Prefeito a calçar a paralelepípedos o Largo da
Pólvora e outras ruas anexas, como a Américo de Campos, Correa e Liberdade.
- Lei n° 580, de 07//05/1902 - determina melhoramentos na Rua Conselheiro Furtado,
entre as ruas dos Estudantes e Barão de Iguape.
- Lei n° 685, de 07/11/1903 declara de utilidade pública o terreno entre a Rua da Glória
e a Rua Tamandaré, para ligação da Rua Conselheiro Furtado.
- Ato n° 274, de 23/08/1907 - denomina de Rua Siqueira Campos a Rua Monte Alegre,
no
Distrito da Liberdade.
- Lei n° 1058, de 17/12/1907 - autoriza a construção de passeios na Rua da Liberdade,
desde o largo de igual nome até a Rua São Joaquim.
- Lei n° 1084, de 02/5/1908 - autoriza a Prefeitura a adquirir por compra os prédios de
n°s 8 a 36 da Rua da Liberdade e Lei n° 1133, de 08/10/1908, aprova acordo com os
proprietários dos prédios 12, 21, 34, 36 da Rua da Liberdade e Lei n° 1145, de
17/10/1908, que aprova acordo com o prédio n° 2 Rua da Liberdade e prédio n° 4 da
Rua Rodrigo Silva.
163
- Lei n° 1095, de 01/7/1908 - autoriza o recalçamento da Rua da Glória, entre o Largo 7
de Setembro e a Rua Américo de Campos e a substituição do calçamento de alvenaria
faceada por paralelepípedos no trecho entre as ruas Américo de Campos e Glicério;.
- Lei n° 1161, de 12/11/1908 - autoriza o prosseguimento das obras de ligação da Rua
Bonita com a Rua da Glória.
- Lei n° 1207, de 15/4/1909 - autoriza a venda de terrenos municipais à Rua da
Liberdade, em hasta pública; - Lei n° 1218, de 28/6/1909- autoriza a venda do prédio n°
20 da Rua da Liberdade; - Lei n° 1228, de 14/8/1909 - autoriza a execução do
prolongamento do bueiro da Rua dos Estudantes e o calçamento da Rua dos Apeninos.
- Lei n° 1249, de 20/10/1909 - autoriza a desapropriação total dos prédios 46 a 54 da
Rua Rodrigo Silva. Nessa rua a Prefeitura celebrou múltiplos acordos com proprietários
de prédios, bem como vende sobras de terrenos, sempre sob o beneplácito da Câmara.
- Lei n° 1311, de 22/4/1910 - autoriza a Prefeitura a vender o terreno municipal contíguo
ao prédio n° 39 do Largo da Liberdade.
- Lei n° 1948, de 17/02/1916 - autoriza o assentamento de guias e calçamento a
paralelepípedos de pedra, do trecho da Rua Bonita, entre as ruas da Glória e Barão de
Iguape.
- Lei n° 1973, de 29/4/1916 - autoriza o assentamento de guias e respectivo calçamento
a paralelepípedos de pedra, da Rua Conselheiro Furtado, entre as ruas
Barão de Iguape e da Glória, bem como da Rua Bonita, entre as ruas Conde de
Sarzedas e Estudantes.
- Ato n° 1365, de 19/12/1938 - desincorpora da classe dos bens dominiais do Município
a área de terreno necessária à modificação de alinhamento do Largo 7 de Setembro,
esquina da Praça João Mendes.
- Ato n° 1488, de 01/10/1938 - restabelece os alinhamentos da Rua da Liberdade e da
Praça João Mendes, modifica em conseqüência do Ato n° 1365, de 19/2/1938;
- Ato n° 1546, de 24/02/1939 - aprova o projeto de ampliação das praças João Mendes
e Sete de Setembro.
164
Localizando o Bairro:131
Quem chega pela primeira vez a São Paulo deve seguir o seguinte roteiro para chegar
até o Bairro da Liberdade:
Chegando a São Paulo de ônibus
a) Ônibus - o turista chegará provavelmente pelo Terminal Tietê. Se chegar entre as 6
da manhã até meia-noite, o meio mais rápido, econômico e seguro é utilizar o metrô. O
Terminal é ligado à Estação Tietê do metrô, de forma que não haverá necessidade de
sair do Terminal para pegar o metrô. Do Tietê, deve pegar metrô para Jabaquara e
descer na Estação Liberdade.
b) Avião - existem dois aeroportos: o de Cumbica, internacional, fica no município de
Guarulhos, de onde é recomendável locomover-se com o ônibus executivo que sai do
aeroporto para três locais: o Terminal Tietê de ônibus e metrô, Praça da República e o
Aeroporto de Congonhas, ou táxi. Do Aeroporto de Congonhas, que fica mais dentro de
São Paulo, a locomoção é fácil, existem alguns ônibus, ou utilize táxi.
Hospedagem na Liberdade:
Hotel Ikeda - Rua dos Estudantes, 134/140 - (011) 278-3844.
Fuji Palace Hotel - Largo da Pólvora, 120 - (011) 278-7466.
Barão Lu Hotel - R.Barão de Iguape, 80 - (011) 278-4099.
Nikkey Palace Hotel - R.Galvão bueno, 425 - (011) 270-8511.
Banri Hotel - Rua Galvão Bueno, 209 - (011) 270-8877.
Osaka Plaza Hotel - Praça da Liberdade, 49 - (011) 270-1311.
Isei Hotel - rua da Glória, 288 - (011) 278-6677.
131
Para turistas de outros lugares que não conhecem o bairro.
165
TERMOS ORIENTAIS132
Daruma = trata-se de um pequeno boneco feito geralmente de papel marchê.
Dekasseguis = é o termo usado para os japoneses nascidos no Brasil, filhos e netos de
japoneses que migram para o Japão, fazem o caminho inverso dos imigrantes, e esta
debandada começou no década de 80.
Futon = o acolchoado japonês que originalmente é feito de algodão
Guetá = sandália típica feita de madeira
Ikebana = arranjo floral, é considerado como a arquitetura das flores, apresenta a
harmonia, equilíbrio e balanço, coerente com o ambiente que está exposto.
Isseis = japoneses de origem
Kimono = vestimenta tradicional japonesa. Também se refere à peça de roupa
transpassada na frente e amarrada na cintura por uma faixa larga e muitas vezes,
ricamente ornamentada (obi).
Kumon = é um método de ensino individual desenvolvido no Japão e programado de
acordo com as potencialidades de cada aluno.
Mangas = são as histórias em quadrinhos japonesas, que dão origem a populares
desenhos animados como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, há mangás de todos
os gêneros, inclusive eróticos e históricos.
Nikkei = apelido ou forma de chamar os japoneses ou suas comunidades
Nisseis = japoneses nascidos no Brasil (filhos dos imigrantes)
Origami = arte de dobrar o papel e transformá-lo em diversas figuras (animais, flores,
objetos utilitários, e etc), conhecida no Japão há séculos.
132
Elaborados pela autora.
166
Sakê = bebida produzida pela fermentação do arroz.
Sansei = netos de japoneses (neto dos imigrantes)
Sashimi = são pedaços de peixe cru, obrigatoriamente fresco, servidos com wassabi
(raiz forte), daikon (nabo) e shoyu (molho de soja).
Shodô = técnica de escrita japonesa com uso do pincel que desenvolve a
concentração, disciplina e postura
Sushi = prato típico da culinária japonesa, é, simplesmente, arroz cozido em água e
temperado com vinagre de arroz misturado com um pouco de açúcar e sal, existem
vários tipos de sushi, dependendo da maneira como são preparados, assim como uma
infinidade de coberturas, recheios e acompanhamentos.
Suzurantô = Luminária típica do Japão
Taikô = tambor musical
167
MAPA DO JAPÃO133
133
Neste mapa podemos visualizar as regiões de onde vieram os imigrantes. Mapa do Japão. 2007. Disponível em:
<http:// http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/japao/mapa-do-japao.php> Acesso em: 01.mai.2007.
169
Matéria do Jornal Folha de São Paulo de jun. 2007 .
Disponível em: <http:wwwskyscrapercity.com/showthread.phd?=14813424> Acesso
em: 22.out.2007
170
As imagens publicadas na revista Made in Japan, mostram o projeto de revitalização
que transformará o espaço urbano do Bairro da Liberdade, projeto este idealizado
por Marcio Lupion.
FONTE: HARUMI, 2008: nº 126/ ANO II, p. 44-51
NOTA: Colaborou: Nataly Murayma, fotos de Caio Kenji, Ilustrações Kallipolis Arquitetura.
171
172
173
174
Fim...

Documentos relacionados