universidade federal de mato grosso instituto de linguagens

Transcripción

universidade federal de mato grosso instituto de linguagens
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA
CONTEMPORÂNEA - ECCO
TRANSMIDIAÇÃO: PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DA
SAGA CREPÚSCULO NAS CULTURAS JUVENIS
CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA
Cuiabá
2012
CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA
TRANSMIDIAÇÃO: PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DA
SAGA CREPÚSCULO NAS CULTURAS JUVENIS
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de mestre em Estudos de Cultura
Contemporânea pela Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), orientada pela Profª. Drª. Lúcia
Helena Vendrúsculo Possari.
Cuiabá
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
A447t Almeida, Cleusa Albília, 1980Transmidiação: processo de reconstrução de
sentidos da saga crepúsculo nas
culturas juvenis/ Cleusa Albília de Almeida. - Cuiabá, Universidade de Mato Grosso,
Instituto de Linguagens 2012.
94p. : il. Color.
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de mestre
em Estudo de Cultura Contemporânea pela Universidade de Mato Grosso
(UFMT) orientada pela Profa. Dra. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari.
CDU-316.77
Índice para Catálogo Sistemático
1.cibercultura
2.transmidiação
3.etnografia /internet
FOLHA DE APROVAÇÃO
CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA
TRANSMIDIAÇÃO: JOVEM E O PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE
SENTIDOS DA SAGA CREPÚSCULO
Dissertação defendida e aprovada em: 05 de março de 2012.
Banca examinadora:
Orientadora e Presidente da Banca
Profª. Dra Lúcia Helena Vendrúculo Possari – UFMT
Examinador Externa
Profª. Dra Denise Cogo – UNISINOS
Examinador Interno
Prof. Dr. Yuji Gushiken – UFMT
DEDICATÓRIA
O sonho
Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.
Clarice Lispector
Dedico este trabalho a todas as pessoas que sonharam comigo em todos os momentos.
Professora Lúcia Helena Vendrúsculo Possari, meu irmão-amigo Cristóvão D. de Almeida e ao
amigo Wuldson Marcelo pelas leituras, re-leituras e longos diálogos desde a literatura a vida
cotidiana.
E de modo especial aos amigos que me precedem na eternidade Ir. Maria de Lima Barros e
Dyolen Vieira. Eu sei que... “as pessoas não morrem, ficam encantadas” (Guimarães Rosa), pois,
permanecem vivas em nossos corações.
AGRADECIMENTOS
A Deus.
Aos meus pais, irmãos e irmãs Filhas de Maria Auxiliadora.
Aos meus amigos e amigas que me deram força e carinho.
Aos meus educadores e, de modo particular, a minha
amiga e orientadora Profª. Dra. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari, a qual possibilitou a travessia do
sonho para a realidade em formato de reflexão e chave de leitura juvenil.
Agradeço ainda, a Profª Dra. Denise Cogo, Profª Dra.
Icléia Rodrigues de Lima e ao Prof. Dr. Yuji Gushiken pelas colaborações claras e pertinentes
durante o processo de qualificação e conclusão desta pesquisa. Pelo carinho e incentivo para
prosseguir nas trilhas como pesquisadora. Obrigada!
RESUMO
A pesquisa nos despertou o interesse pelo processo de transmidiação da saga Crepúsculo, do livro
ao filme, do livro à internet. Objetiva-se averiguar em que medida os sentidos pretendidos, no polo
da produção, são mantidos ou se modificam na transmidiação. Chamaram-nos a atenção, além
desses sentidos, outros textos publicados em revistas femininas que fazem da saga um eterno devir
e que determinam a preferência por revistas direcionadas aos públicos femininos e teens, por parte
de jovens que cursam as séries finais do Ciclo Básico, a ponto de os programas educacionais
inserirem tais leituras. Inquietou-nos, portanto, como os sentidos são produzidos num processo
intersemiótico, interdiscursivo e transmidiático. A pesquisa é de abordagem qualitativa, mesclando
os procedimentos de pesquisa documental – onde buscamos os registros e a transmidiação –,
bibliográfica – no suporte às análises –, netnográfica – no acompanhamento das reescrituras – e
grupo focal – nos sentidos produzidos pelas adolescentes. O aporte teórico é o das teorias que
tentam compreender os processos e comunicação e cultura, a partir das novas tecnologias de
comunicação. As concepções de interação, interatividade e hipertextualidade colaboraram nas
análises da transmidiação; a análise de discurso embasou as entrevistas no grupo focal.
Palavras - chave: Cibercutura, Cultura e Tecnologia, Transmidiação.
ABSTRACT
The research awoke the interest by the trial of “transmidiação” of the saga Twilight, of the book to
the film, of the book to the internet. Objective it be ascertained in that measure the hurt intended, in
the pole of the output, healthy maintained or are modified in the transmidiação. It called us the
attention, beyond those hurt, others texts published in female magazines that do of the saga an
eternal one devir and that decide to preference by readings of female magazines and teens, on the
part of youths that study the final series of the Basic Cycle, to point of the educational programs
will insert such readings. It worried us, therefore, as the hurt Saints produced in a trial
“intersemiótico”, “interdiscursivo” and “transmidiático”. The research is of qualitative approach,
mixing the procedures of documentary research – where do we seek the records and to
“transmidiação” –, bibliographical – in the support to the analyses –, “netnográfica” – in the
accompaniment of the “reescrituras” – and focal group, in the hurt produced by the adolescents.
Theoretician disembarks him is the of the theories that are going to understand the trials and
communication and culture, from the new technologies of communication. The conceptions of
interaction, interactivity and “hipertextualidad”e go to collaborate in the analyses of the
“transmidiação”, as well as the analysis I talk, will base the interviews in the focal group.
Words - key: Cybercutura, Culture and Technology, “Transmidiação”.
LISTA DE FIGURAS DA SAGA CREPÚSCULO
Figura 1 – Capas dos livros Crepúsculo nos diversos países
Figura 2 – Capa do livro Lua Nova em várias nacionalidades
Figura 3 – Eclipse e suas capas em diversos países
Figura 4 – O livro Amanhecer e suas variedades de capas em alguns países
Figura 5 - Capas de revistas de circulação nacional colecionadas pelo site Google 2010
Figura 6 – Página Inicial do site Twilight Brasil em 27 de abril de 2010
Figura 7 – Home da twilighters
Figura 8 – Página inicial do Blog: Twilight Fan Club Cuiabá
Figura 9 – Perfil do Orkut da Twilight Fan Club Cuiabá
Figura 10 - Página galeria de fotos – Portal Twilight Brasil em 24 de junho de 2011
Figura 11 – Capas dos livros da saga Crepúsculo impressos – ano de 2008
Figura 12 – www.google.com.br/galeria de imagens saga Crepúsculo – 25 de junho 2011
Figura 13 – Segundo filme da saga “o triângulo amoroso” – ano de 2009
Figura 14 – twilightbrasil.net – 25 de junho de 2011
Figura 15 – nomundoagora.blogspot.com – 24 de junho de 2011
Figura 16 – Site popz.com.br e cozinhadoscullen.blogspot.com – 25 de junho de 2011
Figura 17 – www.google.com.br/imagens lua nova – 24 de junho de 2011
Figura 18 – pensamentosjess.blogspot.com – 24 de junho de 2011
Figura 19 – www.google.com.br – 25 de junho de 2011
Figura 20 – www.google.com.br/imagens - 25 de junho de 2011
Foto 21 – www.google.com.br/imagens lua nova - 25 de junho de 2011
Foto 22 – www.google.com.br/imagens lua nova - 24 de junho de 2011
Figura 23 – www.google.com.br/imagens – 20 de junho de 2011
Figura 24 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
Figura 25 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
Figura 26 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
Figura 27 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
Figura 28 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
Figura 29 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
Figura 30 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10
CAPITULO I – Cibercultura e Culturas ............................................................................ 16
1. - A cultura entrelaçada, hibridizada e atravessada ....................................................... 16
1.1 - As juventudes e a formatação da nova cultura .......................................................... 19
CAPITULO II – Eu tinha um segredo que não era meu ................................................... 24
2. - A saga Crepúsculo no ciberespaço: local das juventudes ............................................ 24
2.1 - Crepúsculo: um sonho contado em livros ................................................................... 25
2.2 - Do impresso às telas de cinemas .................................................................................. 30
2.3 - Agora nasce uma Lua Nova ......................................................................................... 31
2.4 - Lua Nova chega aos cinemas ........................................................................................ 35
2.5 - Eclipse: Bella entre vampiros e lobos .......................................................................... 37
2.6 - Agora nas telas: Eclipse ................................................................................................ 40
2.7 - Entendendo o porquê das escolhas em revistas Teen ................................................ 45
2.8 - Twilight Brasil: o primeiro site a apostar na saga Crepúsculo ................................. 47
CAPÍTULO III – Transmidiação e produção de sentidos ................................................ 53
3. - A Transmidiação da saga Crepúsculo do impresso ao filme ....................................... 53
3.1 - Grupo focal do Colégio Coração de Jesus (CCJ) / MT ............................................. 58
3.2 - Análise semiodiscursiva ................................................................................................ 59
3.3 - O processo de transmidiação no ato de ler, reler, ver e rever .................................. 63
CONSIDERAÇÕES FINAIS: sempre em devir ................................................................ 87
Referências Bibliográficas .................................................................................................... 90
Referências Webgráficas ...................................................................................................... 92
Anexos .................................................................................................................................... 95
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa originou-se de uma inquietação a respeito de leituras realizadas
por adolescentes em uma escola estadual religiosa. O objeto de atenção tratava-se da
saga de amor entre uma humana e um vampiro intitulada Crepúsculo. O discurso
corrente nas escolas e na sociedade em geral é de que estudantes não gostam de ler e
nem de escrever. Todavia, o que eu percebia era que jovens de um colégio religioso, ao
invés do celular, do videogame, das brincadeiras e atividades físicas, preferiam, no
recreio, ler livros da saga Crepúsculo como também revistas semanais acerca de
notícias da saga, a moda gerada por ela, notícias dos atores e atrizes etc.
Então, as adolescentes liam!
A partir deste dado, busquei mais detalhes da saga, lendo os livros impressos e,
posteriormente, realizando leituras na internet. Dentre os materiais, deparei-me com as
revistas femininas teens que traziam os desdobramentos da própria saga. Acompanhei o
site oficial Twilight Brasil e o Twiligth-mt onde as releituras/reescrituras da série são
inúmeras e possibilitavam ao leitor interação e interatividade. Nesses sites, que reúnem
a fandomination, chamadas simplesmente de fandoms, há a reescritura da saga pela
ficwriters, que reescrevem as histórias como lhes convém. Desse modo, as fãs assumem
outra vertente, desenvolvem o potencial em produção.
Então, as adolescentes escreviam!
Essas informações disponibilizadas nas transmídias encontram-se imbuídas de
características das personalidades de seus autores, o que considero interessante e
instigante nesta literatura moderna de Crepúsculo (2005). Mas o que é o Crepúsculo?
São livros que marcaram o início do fenômeno literário desta saga. A série já
vendeu mais de 42 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 37 línguas
diferentes. A saga relata fatos da vida da personagem principal, Bella. Uma garota que
se muda para a pacata cidade de Forks e uma paixão inusitada por um vampiro
transforma sua vida. A adaptação cinematográfica de Crepúsculo foi lançada em 19 de
dezembro do ano de 2008.
Em Lua Nova (2006), para Bella Swan não existe nada mais importante do que o
seu amor por Edward Cullen. Mas estar apaixonada por um vampiro será mais perigoso
do que ela poderia imaginar. O filme estreou dia 20 de novembro do ano de 2009.
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Eclipse (2007), o terceiro livro da saga, coloca Bella diante de várias escolhas, a
mais difícil delas será optar entre a amizade de Jacob e a paixão de Edward. O filme foi
lançado nas telas brasileiras no dia 30 de junho de 2010.
Em Amanhecer (2008), Bella, Edward e Jacob serão obrigados a definir seus
destinos. A saga remete o leitor ao embate final entre vampiros e lobisomens, que é o
grande desfecho da série. O filme que retrata o final da saga foi dividido em duas partes.
A primeira parte estreou em 18 de novembro de 2011 e a conclusão tem previsão de
lançamento para novembro de 2012. A trama contagiou o imaginário da juventude e
invadiu o espaço das relações sociais e virtuais do público juvenil, que são considerados
nativos do ciberespaço. O desfecho cinematográfico da série não foi analisado, nem
mesmo comparado ao livro, devido à pesquisa já estar se encaminhando para o relato.
Segundo a autora Stephenie Meyer (2005), seus livros são “sobre vida, não
morte” e “amor, não luxúria”. Cada livro da série foi inspirado e vagamente baseado em
um clássico diferente da literatura. Crepúsculo, em Orgulho e Preconceito de Jane
Austen, Lua Nova, em Romeu e Julieta de William Shakespeare, Eclipse, em “O Morro
dos Ventos Uivantes” e Amanhecer, em outro de Shakespeare, “Sonho de uma noite de
Verão”.
Para o Twilight Brasil, o gênero de ficção para jovens e adultos trata de fantasia
e romance, sendo que a obra explora o não ortodoxo romance entre a humana Bella e o
vampiro Edward Cullen, assim como o triângulo amoroso entre Bella, Edward e Jacob
Black, um lobisomem. Esta temática ganha ressonância no mundo juvenil,
possibilitando postar novidades desse triângulo amoroso através de fotos e de trechos
mais instigantes dos livros, que transmidiados são recontados de forma diversificada.
Nas mídias, no ciberespaço, a saga Crepúsculo foi reconhecida e aprovada pelos
fãs, passando a atuar no cotidiano dos leitores juvenis. Percebi que a saga obteve espaço
aberto nas escolas, shoppings, supermercados, entre outros ambientes permeados por
leitores jovens e adolescentes conectados à série, realizando uma leitura dinâmica e com
alto poder de produção.
Diante desta multiplicidade de mídias que trazem a saga, objetivei verificar
como se dá a “re”-construção de sentidos da obra quando transmidiada.
Optamos pela narrativa transmidiática por aceditar que ela abarca uma resposta
satisfatória no que concerne ao fenômeno da obra impressa aos seus desdobramentos
midáticos, que inclui os filmes, os blogs, site oficial e outros produtos relacionados à
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franquia Crepúsculo. Conforme Jenkins transmidiação, ou convergência, é tudo que está
relacionado à obra e aos seus artefatos culturais que são impulsionados pelo desejo de
participar e se apropriar das informações e produções referentes ao fenômeno cultural,
seja por meio de eletrônico, impresso ou fílmico.
Por convergência, refiro-me ao fluxo de contéudos atráves de múltiplas
plataformas de mídia, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e o
comportamento migrátorio dos públicos dos meios de comunicação, que vão
a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que
deseja (JENKINS, 2009, p. 29).
A fim de compreender a história narrada pela escrita, publicada em livro,
encontrada na internet tal e qual, assim como a mesma história transmidiada para o
cinema e, ainda, reescrita pelas ficwriters e lida pelas fanfics, foi necessária uma revisão
bibliográfica minuciosa, com o intuito de comprender essa transmídia, na agoridade a
que pertencemos, à desterritorialização em que vivemos, enfim, que processos culturais
seriam esses. Além disso, para embasar teórico-metodologicamente às observações e
análises pretendidas.
Diante de tantas possibilidades, mesmo com o sentimento de alguma perda, tive
que optar pelo foco que daria à minha pesquisa, como eleger a abordagem de análise.
Sem dúvida, trata-se de um trabalho sobre recepção. Mas não como consumo, apenas
como processo interacional e interativo. Ainda assim, tive que recortar meus propósitos
ainda mais: decidi-me por estudar a transmídia entre livro e filme. Ultrapassei a
comparação de cenas, através de pesquisa com um grupo focal, com o qual comparei,
discuti e pude ver revelados sentidos atribuídos por um grupo de fãs adolescentes.
Num primeiro momento estabeleci paralelos – não na totalidade – de cenas
descritas em cada um dos livros com cenas dos filmes. Da mesma forma, verifiquei se a
obra ao ser disponibilizada na internet tinha seus sentidos modificados.
O objetivo é verificar como são construídos e produzidos os sentidos em um
processo intersemiótico, interdiscursivo e transmidiático com foco na recepção.
Comporta aos estudos de recepção, segundo Cogo e Brignol (2010), considerar
que a convergência pode ser pensada tanto como modo de apropriação do conteúdo,
através do uso combinado de diferentes mídias, como padronização do formato de
armazenamento e distribuição, e como referência de uma mídia em outras, através da
aproximação de linguagens e lógicas. Ela pode ser entendida, ainda, como
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reconfiguração do sistema econômico e organizacional das mídias administrados por
grandes grupos que, na maioria das vezes, unificaram o processo produtivo para
diferentes mídias, gerando, frequentemente, uma hibridação do conteúdo.
Cogo e Brignol (2010) postulam que, além da convergência midiática, outra
noção a impactar o processo comunicacional, repercutindo no âmbito da recepção, é a
de interatividade, apontada como “um dos elementos principais, senão o mais
importante, da redefinição das formas e processos psicológicos, cognitivos e culturais
decorrente da digitalização da comunicação” (FRAGOSO, 2001, p.1).
A metodologia foi de abordagem qualitativa, construída, na medida em que se
apresentavam cenários, rumos por decidir, enfim, de multimétodos, no intuito de atingir
os objetivos pretendidos. Assim, foi construída no percurso, incorporando-se as
pesquisas documental e bibliográfica, a netnografia. A netnografia, como auxiliar,
propunha constatar o que as adolescentes do grupo focal produziam como sentidos no
twiligth.mt Para compreender a netnografia é preciso entender a etnografia, que é um
método de investigação decorrido da antropologia.
O pesquisador Robert Kozinets foi o responsável pela aplicação da técnica no
ciberespaço; primeiramente, como ferramenta para o estudo de marketing virtual e as
práticas de consumo dos internautas. As premissas da etnografia adaptada ao espaço
virtual eram as mesmas que delimitavam a etnografia em comunidades concretas:
observação e descrição densa de hábitos culturais de determinadas comunidades.
Entre os estudiosos da comunicação, é mais comum o uso do termo “etnografia
virtual”. Para Hine (2005), responsável pela popularização do termo, a etnografia virtual
deve ser compreendida em seu caráter qualitativo em que a análise da internet pode ser
observada sob duas óticas em seus efeitos: como cultura e como artefato cultural.
A construção do campo se dá a partir da reflexividade e da subjetividade em vez
de serem constitutivos da realidade social (HINE, 2009). A etnografia colabora para o
entendimento do papel que exerce e também da complexidade da cibercultura.
A par da necessária netnografia para acompanhar as fciwriters, e, a fim de obter
mais profundamente a percepção das leitoras sobre leituras possíveis livro/filme, propus
um grupo focal. Esquematicamente, pode-se descrever a pesquisa, conforme os
princípios de delineamento propostos por Bauer, Gaskell & Allum (2002), como a
busca da verificação da análise fenomenológica; assim, como a tentativa de estabelecer
com o quadrante geração de dados no qual basicamente entra o grupo focal,
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questionário online, análise bibliográfica; na sequência as análises dos dados com a
descrição; e finalizando, o método dos autores no quadro, apresentando os interesses e
conhecimento, dando uma ampla visão do interesse almejado.
Elaborei um questionário, a fim de traçar o perfil das jovens/fãs e poder
compreender a sensação de pertença delas nas produções de sentidos. As respostas
obtidas, através do questionário proposto, abordavam questões relacionadas ao
cotidiano e suas relações com as novas mídias e produção de sentidos. Li com as jovens
as revistas teens que traziam, semanalmente, resumos, comentários, fotos, sequências da
saga. Comparando a intermídia foi possível verificar que a história, independentemente
da mídia que a veicula, permanece como a original, é claro, constatando-se que as
sintaxes da língua escrita e do filme são diferenciadas. As revistas femininas alimentam
o imaginário e as reescrituras constituem-se em prolongamento da saga, tornando-a um
eterno devir.
No percurso teórico indaguei sobre cultura, sobre cibercultura, originária de um
ciberespaço, sem perder de vista a escrita impressa que dialoga com o filme, com a
reescritura no site twilightbrasil.
Para Lemos (2003), a cibercultura, antes de ser uma cultura pilotada pela
tecnologia, trata-se de uma relação que se estabelece pela emergência de novas formas
sociais, surgidas na década de sessenta com a sociabilidade pós-moderna e as novas
tecnologias digitais. Esta sinergia vai criar a cibercultura e todas as suas convergências.
No entanto, o prefixo “ciber” dá a entender um novo determinismo tecnológico.
No momento das grandes transformações, no prelúdio da cibercultura, quando muitos
pensam que este é o futuro, ou que está por vir, ela é o presente que a todo o momento
desafia a ordem, o linear.
Entendida essa relação, tornam-se mais acessíveis os caminhos da cibercultura,
mesmo que tais trajetos sejam sempre nebulosos, vividos por uma geração. Os
internautas do século XXI são os responsáveis pelas transformações, pelas diversas
produções; vê-se grande esperança em superar, e por sua vez tende a possibilitar novas
relações que independem do tempo ou do espaço, ou seja, “agoridades”: “agoridade
pressupõe falar em tempo e em espaço”, Possari (2009). É o período de como encarar o
“agora”, que pressupõe outras janelas de igual acessibilidade em tempo real.
A constituição do trabalho, dessa forma, se concretizou com os teóricos da
comunicação que transpuseram as teorias de massa.
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Este consentimento remete à afirmativa de Lemos, quando o autor traz a ideia de
que a internet não é apenas um prodígio técnico, mas, sobretudo, social.
Para Jenkins (2009), o cenário transmidiático é estabelecido quando uma
narrativa passa de uma mídia para a outra, por exemplo, quando um seriado de TV é
expandido para diferentes mídias mantendo o seu enredo, permite a continuidade da
história e cria um universo ficcional próprio. Para que este universo ficcional se
estabeleça é necessário que a história tenha continuidade nas demais mídias, que se
desenvolva através da elaboração de novos acontecimentos.
Desse modo, ao que se refere à saga, o leitor não precisa, necessariamente, ler os
quatro volumes para depois ir ao cinema, para acessar o site oficial ou ainda, ler as
revistas femininas teen.
Atravessadamente pelos ícones da cultura da mídia são produzidas e
reproduzidas identidades e ideologias das quais o sujeito se apropria e reproduz de
acordo com sua experiência de vida. Assim, partindo deste contexto apresentado,
acredita-se que a saga Crepúsculo seja uma narrativa que segue a lógica transmidiática.
No primeiro capítulo, intitulado “Cibercultura: a cultura entrelaçada, hibridizada
e atravessada”, apresento considerações teóricas de estudiosos, das mídias, buscando
evidenciar as diferentes culturas e como se relacionam na contemporaneidade todas as
vertentes interligadas às culturas juvenis e a recepção.
No segundo capítulo “O fenômeno cultural chamado de saga Crepúsculo”, traço
o percurso da saga, desde o surgimento do livro impresso até a sua versão digital e seus
desdobramentos nas mídias de massa, ou seja, a ambiência da série e sua propagação
transmidiada pelo mundo.
No terceiro capítulo, “Transmidiação e produção de sentidos”, apresento minha
pesquisa, as vias metodológicas, que são multimodais, o grupo focal e um retrato do seu
perfil e atuação, almejando alcançar, desse modo, os efeitos de sentidos.
As considerações finais, sempre em devir, são tecidas com os resultados obtidos
através de interação e interatividade, verificando o devir dos produtos mediáticos e suas
construções nas culturas juvenis. Segundo Fragoso (2001), a interatividade tende a
chamar a atenção do receptor para a pré-seleção inerente a todo processo de produção
midiática. Talvez esse potencial para evidenciar a arbitrariedade da produção, e o papel
fundamentalmente ativo do receptor em quaisquer processos midiáticos, seja a mais
valiosa contribuição que a interatividade tem a oferecer.
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CAPÍTULO I: Cibercultura e Culturas
1. Cibercultura: a cultura entrelaçada, hibridizada e atravessada
Em sintonia com as tendências da pós-modernidade, em um contexto
singularmente juvenil, neste primeiro capitulo, apresento alguns conhecimentos sobre a
cultura na modernidade e na pós-modernidade. Trago alguns autores que fazem esse
diálogo apurado sobre a temática no que se refere às culturas e suas implicações.
Para Canclini (2006), a pós-modernidade é entendida não como uma etapa ou
tendência que viria a substituir o mundo moderno, mas com o caráter de problematizar
os vínculos e equívocos que esta estabelece com as contradições que pretende excluir ou
superar para se constituir.
O autor identifica na modernidade dois processos distintos, porém,
complementares,
de
desarticulação
cultural:
o
descolecionamento
e
a
desterritorialização. É com esse olhar que a pesquisa pretende responder a seguinte
pergunta: quais são os fatores que contribuem para o desdobramento da transmidiação
dos livros da saga Crepúsculo da autora Stephenie Meyer? A primeira proposta de
Canclini incide na recusa pós-moderna da produção de bens culturais colecionáveis, o
que seria um sintoma mais claro da desconstituição das classificações que distinguiam o
culto do popular e ambos do massivo.
Diminui, cada vez mais, a possibilidade de se ser culto por conhecer apenas as
chamadas “grandes obras”; ao mesmo tempo, a condição para ser popular não reside
mais no conhecimento dos bens produzidos por uma comunidade relativamente fechada.
Esta problemática, segundo Deleuze e Guattari (2006), conecta e proporciona a
interação, em uma sociedade rizomática, de todos os pontos.
Canclini (2006, p. 303) retoma as ideias de Walter Benjamim, ao assegurar que
o intelectual pós-moderno, forma-se tendo como base sua biblioteca privada, onde
livros se misturam com recortes de jornais, e informações fragmentárias são encontradas
no “chão regado de papéis disseminados”.
Canclini não considerava os dispositivos tecnológicos, como a fotocopiadora, o
videocassete e o videogame, cultos ou populares, pois, para ele as coleções não se
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perderiam e com elas, consequentemente, as referências semânticas e históricas que
ancoravam seu sentido. Neste novo século, percebe-se a evolução tecnológica, pois
todos os dias novas máquinas modernas são inseridas no mercado. Muitos jovens
permeiam as novidades das culturas híbridas, sendo para muitos a extensão do próprio
corpo e do existir.
O uso do primeiro dispositivo, descolecionamento, agregado às ideias de
Canclini, garante a possibilidade do manejo mais livre e fragmentário dos textos e do
saber;
o
segundo,
desterritorialização,
permite
a
articulação
de
elementos
tradicionalmente opostos nas produções audiovisuais: o nacional e o estrangeiro, o lazer
e o trabalho, a política e a ficção etc. Canclini (2006, p.307) ainda cita um terceiro
dispositivo, desmaterialização, que desmaterializa e descorporifica o perigo, “dando-nos
unicamente o prazer de ganhar dos outros ou a possibilidade, ao sermos derrotados, de
que tudo fique na perda de moedas numa máquina”.
O segundo processo, para Néstor García Canclini, o da desterritorializacão,
constitui-se como o mais radical significado do ingresso na modernidade. Com o
interesse de comprovar o fenômeno da desterritorialização, o autor menciona a
transnacionalização dos mercados simbólicos e as migrações. Nestes termos,
desconstrói os antagonismos, colonizador X colonizado, nacionalista X cosmopolita e
enfatiza a descentralização das empresas, a disseminação dos produtos simbólicos por
meio da eletrônica e da telemática.
O uso de satélites e computadores na difusão cultural, também, impele que se
visualizem os confrontos dos países periféricos como combates frontais com nações
geograficamente definidas. Além disso, a difusão tecnológica permite a países
dependentes registrarem um desempenho notável de suas exportações culturais. É
notório, nos últimos tempos, um crescimento da produção cinematográfica e publicitária
no Brasil.
Outro fator relevante para caracterizar a desterritorialização é o que o autor
chama de migrações multidirecionais e salienta a frequência cada vez maior da
realidade diaspórica. Nesta situação, Canclini relata sobre os conflitos interculturais em
Tijuana, fronteira entre o México e os Estados Unidos, que, “[...] várias vezes pensei
que essa cidade é, ao lado de New York, um dos maiores laboratórios da pósmodernidade” (2006, p. 315).
18
Por vezes, durante a pesquisa, vislumbro insights referentes à saga Crepúsculo.
É pertinente a ideia de que se não fosse originária dos Estados Unidos não teria uma
força representativa enquanto produção de artefato cultural. É perceptível que, no
lançamento da obra, houve repercussão mundial; jovens foram motivados a aprender
outro idioma, precisamente o inglês, para se sentirem parte integrante do processo e do
fenômeno cultural.
Ao observar a história da cultura precedente, percebe-se que existe uma
constante oscilação entre perspectivas de aperfeiçoar e mudanças de direção. É nesta
dinâmica de tentar entender esse desdobramento das transmídias, a partir da saga
Crepúsculo e nas múltiplas ofertas de reflexões e pesquisas, que me pareceu necessário
pensar no conhecimento comum, sobretudo em que os jovens costumam fazer e o que
gostavam de criar em tempos anteriores.
Se fosse possível recontar os tempos, iriam certamente aparecer os jovens, a
partir dos anos 60, que pintavam a cara e saiam nas ruas para as manifestações, os
grupos que criativamente e com coragem, enfrentavam os poderes públicos da ditadura
militar dentre outras formas de manifestações.
Muitos jovens viram suas vidas destinadas a imitar pessoas que eram ícones de
determinadas gerações. Estes ídolos eram seguidos por despertar no grupo um gosto,
uma idolatria pelos ideais e sonhos de revolução. Esse tempo da vanguarda prolonga-se
nos desdobramentos em torno da saga e depara-se com situações semelhantes que fazem
parte da memória.
Por certo período, estabeleceu-se na cultura muitos ídolos que permitiam o uso
dos seus adereços, suas cores, seus estilos. Hoje, estes mesmos estilos, se misturam com
outras vertentes. Quando Maffesoli (2007) lança essas reflexões, comprova o modo da
construção de cultura.
Maffesoli diz que o que constitui cultura é a opinião gerada pelo pensamento das
ruas e das praças, que são ingredientes essenciais do cimento emocional da socialidade.
Somente a posteriori elabora-se, então, o conhecimento erudito. Pode-se citar a
distinção de Fernando Dumont, quando diz de (uma) “cultura primeira”, na qual se está
imerso, sem com isso preocupar-se, e de (uma) “cultura segunda”, que agrega os
grupos. No quadro de interesses desta pesquisa, a primeira das culturas citadas é de
alguma forma, a ambiência, o “banho nutriz” de toda vida em sociedade – e que ela faz
19
nascer (ou pelo menos, permite a eclosão) de diversas tradições, que somente podem
perdurar mantendo-se fielmente ligadas à matriz comum.
Há, portanto, tantas tradições específicas quantos forem os grupos. Os grupos
dos jovens que se interessam pela leitura e produção a partir da saga Crepúsculo se
inserem parcial ou totalmente nela. Do mesmo modo que o mito é uma “encruzilhada”
metalinguística ou meta-histórica (H. CORBIN, G. DURAND E LÉVI-STRAUSS), o
estilo cotidiano constitui-se em um “cruzamento” de ações e palavras que, para ser
descrito, requer uma multiplicidade de painéis indicadores que estejam aptos a situá-lo
de maneira tão complexa quanto possível. (Maffesoli, 2007, p. 190).
Possivelmente é o que melhor traduz o tempo mítico, e, como lembra G. Durand,
sua principal característica é a de fazer “sair da unidimensionalidade da história cega,
para situar num universo descontínuo”. Entre esta “einsteinização” do tempo e o retorno
do cíclico, há apenas um passo – do mesmo modo como há múltiplas passagens entre o
mito e o presente. (Maffesoli, 2007, p.176)
1.1.
As juventudes e a formatação da nova cultura
Com ênfase das diversidades e das diferenças, os jovens são como sujeitos de
direitos que vivem e se constituem na contemporaneidade em complexos contextos
sociais e comunicativos, construídos histórica e culturalmente, mediados por
significações sociais de seu mundo.
Para tratar tais questões é importante retomar as intuições de pensadores
contemporâneos, a exemplo de Edgar Morin (2002; 2003), que já alertava, desde as
décadas de 1960 e 1970, para um fenômeno social que se torna mais visível, a partir da
década de 1950 do século XX, e que hoje se expande em escala global, dada a profusão
da indústria cultural e da cultura veiculada pelos meios de comunicação de massa.
Trata-se da cultura de massas, assentada nos ideais de consumo e que promove
uma espécie de segunda juvenilização da sociedade.
Esta cultura, segundo Morin (2002, p.153), se ancora na trindade amor, beleza e
juventude. O cinema, a publicidade, a TV, o rádio, as novas tecnologias da comunicação
e da informação são os meios responsáveis por sua veiculação. Tais meios assumem
20
uma centralidade na construção dos novos mitos, imagens, modelos de comportamento,
ideais de felicidade e valores que irão povoar o imaginário social, definindo como tipos
ideais de homem e de mulher aqueles considerados jovens, belos e sedutores.
A tendência de juvenilização da sociedade decorre, assim, da transformação da
adolescência em ideal social estetizado quer para as crianças, quer para os adultos e
demais grupos etários. O novo modelo de comportamento que de certa maneira assume
a liderança na contemporaneidade.
Abad (2003b) contribui com essa discussão quando apresenta a diferença entre
a condição e a situação juvenil, sendo a primeira, o modo como uma sociedade constitui
e significa o momento do ciclo de vida, e a segunda, a situação que traduz os diferentes
percursos que estes jovens experimentam com base nos mais diversos recortes: de
classe, gênero e etnia.
Conforme Abad (2003a, p. 24), essa condição juvenil, hoje, é legitimada para
além da questão etária e biológica por alguns fatores, como o fenômeno do alargamento
do período da juventude, podendo-se dizer que “a juventude se prolonga até depois dos
30 anos, o que significa quase um terço da vida, e um terço da população tem o rótulo,
impreciso e convencional como todos, mas simbolicamente muito poderoso”.
O autor destaca, ainda, a descontinuidade no processo linear, simétrico e
ordenado da juventude pelo circuito família-escola-trabalho-emprego no mundo adulto,
bem como a desinstitucionalização que lhe possibilitaria certa autonomia, a qual sugeria
experiências vitais precoces.
Na cultura contemporânea nos deparamos com a juventude que cria novos
espaços de habitação e coabitação, novas formas de relacionamentos e outros
ecossistemas comunicacionais. Se a pesquisa está voltada para os jovens seguidores da
saga Crepúsculo, então, é preciso levar em consideração novos espaços, novos
caminhos de aprendizagem e sistemas de comunicação, pois suas convicções acerca da
vida e da busca pela felicidade desafiam horizontes.
Segundo Cogo e Brignol (2010), a centralidade que a esfera midiática assume na
vida cotidiana e nas relações sociais vem sendo discutida como uma importante
reconfiguração com implicações de diversas ordens, inclusive nas relações de tempo e
espaço e nas vivências identitárias. E seguem a discussão afirmando que as mídias
penetram todas as instâncias da vida social, e estão no foco das discussões sobre
globalização, mundialização da cultura e aceleração dos fluxos informacionais, sendo
21
apontadas como protagonistas de mudanças nas interações sociais e nas formas de
reconhecimento.
Freire Filho (2008) observa que a juventude, por mais que incompreendida e
desacreditada em algum momento da história, rechaçada em suas criações culturais,
engendra um confronto com a geração que o precede, e é entendida, por ela, como
incapaz de fazer uso dos meios racionais para construir e constituir suas próprias
escolhas. Os antecessores creditam ser sua responsabilidade tutelar a juventude. Mas os
jovens acabam por afirmar tais escolhas, cedo ou tarde, modificando os cenários
culturais ao contestá-los. No entanto, as mídias cooptam essas, em príncipio,
“revoluções”, adaptando-se a elas e tornando-as artefatos culturais destituídos do seu
impacto inaugural.
Não se pode substimar a importância histórica das velhas e novas mídias nos
processos de configurção de modelos ideais de subjetividade juvenil e de
seus contrapontos negativos (a instauração da lei produz, necessariamente, os
fora-da-lei), desde que a linha entre a juventude e a maturidade se tornou
mais refinida, vigiada e democraticamente aplicada dentro dos países
industrializados na virada do século XX (FREIRE FILHO, 2008, p. 38).
Na contemporaneidade, essa relação juventude, mídia e dispositivos de
interatividade e interação se complexificou.
Os jovens e adolescentes – os nativos digitais – filhos da tecnologia, vivem,
pensam, agem, convivem e habitam simultaneamente diversas redes. Expõem-se,
constroem opiniões, manifestam seus sentimentos e emoções, em uma nova lógica de
privacidade no Orkut, Twitter, blogs, Youtube, MSN, Facebook, Myspace. Confere-lhes
autonomia na construção de suas cosmovisões e nas transmidiações. São muitas as
inquietações, angústias e desejos na busca de perceber o comportamento destes jovens
nos ecossistemas comunicacionais ou num viés que integre os adolescentes que seguem
a saga Crepúsculo na cibercultura.
Lemos é perspicaz ao questionar o que as comunidades interativas on-line serão,
pois, diz:
Na maioria dos campos elas consistirão de membros separados
geograficamente, às vezes agrupados em pequenas agregações, às vezes
trabalhando individualmente. Elas serão comunidades não de localidades
comuns, mas de interesse comum. (LEMOS, 2008, p.104)
22
É viável e coerente este raciocínio, pois se percebe que os jovens, membros de
comunidades virtuais, interagem com rapidez e individualidade simultaneamente.
Para compreender a cibercultura, é necessário saber como se originou, e
entendê-la para assimilar que a cultura faz as articulações com todas as gerações e
possibilita a convivência no sentido de aprimorar as intermídias. Para o autor André
Lemos (2008, p.101) a cibercultura surge com os impactos socioculturais da
microinformática.
O que é importante vai além, ultrapassa a questão tecnológica, o que marca a
cibercultura não é somente o potencial das novas tecnologias, mas uma atitude.
No que diz respeito à cultura, o autor Michel Maffesoli (2001, p. 75) contribui
no sentido de aumentar o vínculo enquanto cultura da contemporaneidade e ressalta: “a
cultura é um conjunto de elementos e de fenômenos passíveis de descrição (...) o
imaginário tem, além disso, algo de imponderável”.
O imaginário para Maffesoli é o estado de espírito transfigurador, que
caracteriza a “errância” de um povo.
A cultura pode ser identificada de forma precisa, seja por meio das grandes
obras da cultura, no sentido restrito do termo, literatura, música, ou, no
sentido amplo, antropológico, os fatos da vida cotidiana, as formas de
organização de uma sociedade, os costumes, as maneiras de vestir-se, de
produzir, etc. No imaginário permanece uma dimensão ambiental, uma
matriz, uma atmosfera, aquilo que Walter Benjamin chama de aura. O
imaginário é uma força social de ordem espiritual, uma construção mental,
que se mantém ambígua, perceptível, mas não qualificável (MAFFESOLI,
2001, 75).
Estas contribuições fazem parte de um nó dessa grande rede que pretende
entender e navegar nos seus outros nós.
Deleuze e Guattari (2000, p. 24) apostam na ideia do rizoma, caracterizado por
sua conectividade, que seria uma maneira de expressar as multiplicidades sem ter que
ligá-las à unidade. Para eles, é importante ressaltar que “existem estruturas de árvore ou
de raízes nos rizomas, mas, inversamente, um galho de árvore ou uma divisão de raiz
podem recomeçar a brotar um rizoma”. Lévy (1999) enfatiza que na web não há
hierarquia absoluta, mas cada site é um agente de seleção, de bifurcação ou de
hierarquização parcial; os usuários devem reconstruir suas totalidades parciais de acordo
23
com suas preferências e necessidades, pois o advento do ciberespaço não significa que
tudo pode ser acessado, mas sim, que o “todo” está fora de alcance.
Continuando na mesma discussão, a autora Lúcia Santaella propõe a indagação,
para si e também para todos interligados por essa cultura das mídias, se seria pertinente
pensar nesta interligação, onde existem várias características e supõe uma diversidade.
Santaella expõe o seguinte raciocínio:
Enfim, trata-se de uma cultura do efêmero, do passageiro, do fugaz. Cultura
que produz nostalgia. Sentimos nostalgia dos filmes dos anos 60, por
exemplo, mas não dizemos que temos nostalgia do construtivismo ou dos
romances de Dostoivski, embora haja casos em que a nostalgia pode passar a
ser imposta e forçosamente sentida, quando um estilo nas artes é tomado
como objeto do circuito das mídias. Neste caso, no entanto, já se trata de
uma mutação que a cultura das mídias impõe sobre a cultura tradicional
(SANTAELLA, 1992, p.19).
Segundo a autora, a cultura das mídias tem um novo modo de ser.
Na cultura das mídias, quanto mais a mensagem tender à brevidade, mais ela
será tachada de superficial. Não se pode saber até que ponto esse tipo de
julgamento não passa de um vício, enquanto não se levar em conta o fato de
que, em primeiro lugar, a condensação é um tipo de organização de
linguagem que visa a reter de uma mensagem apenas seus traços essenciais e
fundamentais, o que, aliás, apresenta uma função altamente mnemônica e de
retenção rápida da informação. (Ibidem, p.21)
Em um espaço-tempo onde a cultura tem diversos rostos, falas, costumes e
códigos, este estudo prefere indagar a questão da cultura enquanto espaço de
interação/interatividade em um panorama dos blogs, cinemas, livros e revistas da saga
Crepúsculo; no qual o foco é a trasmídia livro/filme em um viés juvenil, um circuito
que indica os espaços juvenis como apropriação e produção de sentidos.
No campo juvenil muitas indicativas seriam possíveis, porém vamos nos deter
nos jovens enquanto pertecentes ao grupo dos fãs da saga Crespúculo e acompanhar o
prrocesso de reconstrução de sentidos nesses pátios digitais e ao mesmo tempo nos
eventos produzidos entorno da saga.
24
CAPÍTULO II: Eu tinha um segredo que não era meu
2.
A saga Crepúsculo no ciberespaço: local das juventudes
A abertura de novos cenários de comunicação proporciona o desenvolvimento
da interconexão e a criação de comunidades virtuais que se multiplicam a cada dia,
construindo, desse modo, um novo cenário. Neste segundo capítulo apresento os
múltiplos desdobramentos que sofreu a saga em todo o mundo.
Destaco as possibilidades de produzir e recriar tomando por base os recursos
tecnológicos e o enredo da saga caracterizada pela conexão, interação e interatividade
entre os sujeitos.
Em meio aos barulhos surgem sinais do nascimento de uma nova geração. Ainda
que seja temporária, é chamada de a Geração Content ou “Geração do Conteúdo”. Pode
ser visualizada como a geração da Conectividade, da Conexão, da Coprodução, das
Comunidades Virtuais, da Colaboração, de um novo Comportamento. É uma geração
ativa, que produz e veicula o seu próprio conteúdo. A “geração C” revisita as redes
sociais. Nasce sob a “égide” do computador e da internet. Seria uma espécie de
hipercomplexidade na era da mobilidade.
Para Recuero (2010) os sites de redes sociais não são algo novo, “mas uma
consequência da apropriação das ferramentas de comunicação mediada pelo
computador pelos autores sociais”. Nesse sentido o modo de pensar passa pela tessitura
dos “nós” de conexão. Percebe-se que suas atitudes se consolidam na interação e no alto
poder de interatividade. Estas gerações por sua vez, criam novos espaços de habitação e
coabitação, novas formas de relacionar-se seja na presencialidade como na nãopresencialidade. Entende-se a saga “Crepúsculo” como nova ambiência, onde muitos
jovens encontraram espaço para conseguir produzir e modificar as cenas, gerando assim
seu próprio universo de criação.
25
2.1.
Crepúsculo: um sonho contado em livros
Crepúsculo (Twilight, na versão original), o primeiro livro da saga “Luz e
Escuridão”, editado em 2005 nos Estados Unidos, é considerado um caso de sucesso
mundial e comparado ao fenômeno Harry Potter.
A escritora Stephenie Meyer, começou a escrever o primeiro livro do romance
em junho de 2003, após um sonho; ela se sentou na frente do computador e tentando
recordar-se de tudo, iniciou a história que agora apaixona leitores de todas as idades e
de todos os lugares do mundo. Chama as personagens de “ele” e “ela”. A partir daí,
escreveu todos os dias, até chegar ao ponto final, que mal consegue deixar Forks, a
cidade onde tudo acontece.
Depois de muitos fãs de Harry Potter terem chorado o fim da saga, as esperanças
voltam-se agora para “Crepúsculo”, o novo fenômeno que atrai milhões de fãs. Apesar
da história não ser nada semelhante, o fato de envolver adolescentes e mundos
ficcionais, está a colocá-la no nível de Harry Potter, um dos fenômenos recentes
mediáticos.
Crepúsculo é universal, assim como Harry Potter. A autora Stephenie Meyer foi
eleita em 2005 – o de sua revelação – uma das 25 personalidades do ano pela revista
americana “Entertainment Weekly”, pelo enorme sucesso que seus livros atingiram.
Porém, engana-se quem pensa que são histórias para adolescentes, como aconteceu com
os livros de J.K. Rowling1. Os adultos, também, se apaixonaram pelos vampiros de
Stephenie Meyer, passando, assim, os livros das mãos dos filhos para os pais ou avôs.
Crepúsculo se tornou um exemplo de literatura transversal de todas as idades,
ultrapassando a faixa etária dos 30 anos, sendo a maioria dos leitores mulheres. Mas o
foco desta pesquisa é entender o processo da transmidiação que envolve a saga desde o
livro e seus desdobramentos nas mídias de massa até a internet.
1
Joanne Rowling OBE, conhecida como J. K. Rowling (Yate, 31 de julho de 1965), é uma escritora
britânica de ficção, autora dos sete livros da famosa e premiada série Harry Potter, e de três outros
pequenos livros relacionados à personagem.
26
O fascínio dos romances sobre os vampiros havia regressado. Desde “Drácula”2,
de Bram Stoker, que nenhum outro tinha se igualado em repercussão àquele clássico do
século XIX.
Nunca pensei muito em como morreria – embora nos últimos meses tivesse
motivos suficientes para isso – mas, mesmo que tivesse pensado, não teria
imaginado que seria assim. (…) Sem dúvida, era uma boa forma de morrer,
no lugar de outra pessoa, de alguém que eu amava. Nobre, até. Isso devia
contar para alguma coisa (Crepúsculo, 2005).
Quando Isabella Swan se muda para a melancólica cidade de Forks e conhece o
misterioso e atraente Edward Cullen, sua vida dá uma guinada emocionante e
apavorante. Com corpo de atleta, olhos dourados, voz hipnótica e dons sobrenaturais,
Edward é ao mesmo tempo irresistível e impenetrável. Até aquele momento, ele tem
conseguido ocultar sua verdadeira identidade, mas Bella está decidida a descobrir seu
segredo sombrio.
O que Bella não percebe, é que quanto mais se aproxima dele, maior é o perigo
para si e para os que a cercam. E pode ser tarde demais para voltar atrás.
Já sabe como me sinto, é claro. Eu estou aqui… O que, numa tradução
grosseira, significa que eu preferia estar morta ficar longe de você
(Crepúsculo, pág. 21).
Combinando sensualidade e mistério, romance e fantasia, Stephenie Meyer
produz uma trama de extraordinário suspense neste primeiro volume da série que
marcou sua estréia literária. Tremendamente sedutor, Crepúsculo mantém seus leitores
ligados até a última página: “E então o leão se apaixonou pelo cordeiro…” (Crepúsculo,
p. 21).
2
No século XV, um líder e guerreiro dos Cárpatos renega a Igreja quando esta se recusa a enterrar em
solo sagrado a mulher que amava, pois ela se matou acreditando que ele estava morto. Assim, perambula
através dos séculos como um morto-vivo e, ao contratar um advogado, descobre que a noiva deste é a
reencarnação da sua amada. Deste modo, o deixa preso com suas “noivas” e vai para a Londres da
Inglaterra vitoriana, no intuito de encontrar a mulher que sempre amou através dos séculos. Um dos
filmes mais famosos baseado na obra data de 1992 e foi dirigido por Francis Ford Coppola.
27
Nos Estados Unidos, a editora que apostou na obra é a Little Brown and
Company; os artistas que fazem o designer da capa são Gail Doobinin e Roger
Hagadone; o lançamento foi no dia 05 de outubro de 2005; e o livro foi composto por
24 capítulos e epílogo, contendo 498 páginas.
Aqui no Brasil, a editora que traduziu o romance foi a Intrínseca Ryta Vinagre,
os mesmos artistas que fizeram a arte da capa original incumbiram-se da versão
brasileira, mas o lançamento do livro teve um atraso considerável de quase três anos.
Chegou às livrarias brasileiras no dia 02 de abril de 2008, com os mesmos números de
capítulos, porém com apenas 390 páginas.
A autora revelou não conseguir escrever sem ouvir músicas. O que possibilitou a
série ser uma experiência visual como um filme, e levou-a a selecionar suas músicas
favoritas para Crepúsculo, como se fossem a trilha sonora do livro.
No Brasil, os pátios das escolas, as livrarias, as conversas no Messenger, não
seriam mais as mesmas. Um novo momento desabrochou na vida dos adolescentes e
jovens, despertando curiosidades, desejos de ser um seguidor da saga levando em
consideração toda forma de apropriação.
A respeito da leitura assídua do livro, seja impresso ou virtual, o que chama mais
atenção é a modalidade. Se os grupos aderissem à leitura em inglês, todos os membros
fariam um esforço para seguir de maneira fiel. É perceptível nesse período, um grande
interesse em aprender outro idioma, no caso o inglês. Dessa forma, o acesso ao site
oficial da Stephenie Meyer era facilitado, pois compreendiam as postagens e obtinham
informações suficientes para interagir.
Uma característica desta fase é a leitura. Começa a corrida para ler a série por
completo, neste momento os grupos se dividem, não apenas por informações e sim por
livros lidos e o maior número de assimilações possíveis ao que se refere à saga.
Por ser uma obra literária destinada ao público juvenil, percebe-se uma
identificação, onde muitos fãs dos livros de Harry Potter começaram a ler os livros da
saga e acompanhar blogs, sites para fazer comparações, ver qual autora lidera na
questão do discurso, da poética e da criatividade.
Em relação ao livro, é importante ressaltar o acesso nas escolas e, sobretudo,
entre os adolescentes e jovens que nunca tiveram gosto pela leitura. Apesar de
volumosos, os jovens finalizavam as leituras rapidamente, contrariando as indicações
literárias propostas pela educação escolar, as quais relutam em realizar. Muitos deles
28
reliam na expectativa de descobrir algo novo, de encontrar detalhes diferentes, soluções
que respondessem às suas inquietudes como leitores e ao mesmo tempo fãs e seguidores
da saga.
É um livro que não ficou apenas em dois países; a obra percorreu o mundo. Em
alguns países sofreu algumas alterações no designer da capa.
Alemanha
China
Coreia–1
Coreia–2
EUA–EdiçãoEspecial
Dinamarca
Holanda
Indonésia
Japão 1
29
República Tcheca
Rússia
Brasil
Figura 1 – Capas dos livros Crepúsculo nos diversos países.
Alguns prêmios que a saga recebeu:
•
New York Times Editor’s Choice.
•
Um dos Melhores Livros Infantis de 2005 da Publishers Weekly.
•
Melhor Livro do Ano da Publishers Weekly.
•
Um dos “Top 10 Livros para Jovens Adultos” e “Top 10 Livros para Leitores
Relutantes” da American Library Association”.
•
Um dos “Melhores Livros de 2005” do School Library Journal.
•
“Melhor Livro da Década… Até Então” da Amazon.com.
Uma das curiosidades sobre o livro em sua primeira edição está na maçã, que
representa a fruta proibida, presente no livro de Gênesis. Ela simboliza o amor proibido
de Bella e Edward, a sabedoria de Bella, o que é o bem e o mal, assim como sua escolha
de provar ou não a “fruta proibida”, Edward.
Stephenie Meyer escreveu Crepúsculo apenas para seu divertimento, e nunca
pretendeu publicá-lo de fato. Foi sua irmã quem incentivou a enviar o manuscrito a
agentes literários, após ler a história e ficar entusiasmada.
A autora escreveu 15 cartas: cinco não responderam, nove rejeitaram e a última
foi uma resposta positiva de Jodi Reamer da Writers House. Oito editoras concorreram
pelos direitos autorais de Crepúsculo em um leilão realizado em 2003. A Little, Brown
and Company ofereceu originalmente $300 mil, mas o agente literário de Meyer pediu
$1 milhão.
30
A editora norte-americana Little, Brown and Company pagou $750 mil pelos
direitos de publicação dos três primeiros livros da série de Stephenie Meyer. Crepúsculo
foi publicado em 2005 com uma tiragem de 75 mil cópias nos Estados Unidos.
Os direitos autorais do livro foram vendidos para 26 países. O primeiro livro
apareceu na 5ª posição da lista dos Best Seller do New York Times com apenas um mês
após seu lançamento, e logo atingiu o primeiro lugar.
Crepúsculo apareceu na 26ª posição da lista “Livros Mais Vendidos dos Últimos
15 Anos” do USA Today, em outubro de 2008.
2.2.
Do impresso às telas de cinemas
Baseado na série literária adolescente homônima, o filme “Crepúsculo” estreia
nos EUA com o mesmo nome que chega a todas as partes do mundo. É um evento
considerado de sucesso mundial e comparado a Harry Potter. O lançamento do filme
nos Estados Unidos ocorreu em dia 21 de novembro de 2008 e as salas dos cinemas
encheram-se de fãs para verem seus vampiros preferidos.
Em sua estreia, os números falam por si. Segundo a revista “People”3, duas mil
sessões de cinema estavam completamente esgotadas. Só no fim de semana de estreia, o
filme obteve perto de 70,55 milhões de dólares (cerca de 57 milhões de euros), impondo
recorde. No Brasil, foi lançado apenas no dia 19 de dezembro e teve a mesma audiência
dos fãs em todos os cinemas, garantindo assim, recorde de público por semanas
consecutivas.
A trilha sonora do filme “Crepúsculo” (“Twilight”, em inglês) tirou “Black Ice”,
novo álbum da banda de hard rock AC/DC do topo das paradas norte-americanas. O
disco do grupo australiano estava há duas semanas em primeiro lugar nos EUA.
3
People é uma revista semanal norte-americana fundada em 1974 que publica notícias sobre cultura
popular e celebridades. A publicação talvez seja mais conhecida pelas suas edições especiais anuais que
listam "Os 50 Mais Belos" e "Os Mais Bem Vestidos". É publicada pela Time, Inc., uma divisão da Time
Warner.
31
O filme mostra Isabella Swan (Kristen Stewart), uma garota que se muda da
ensolarada cidade de Phoenix para a chuvosa Forks, no norte do país, para morar com o
pai, o chefe de polícia Charlie. Bella Swan se apaixona por um garoto da escola,
Edward Cullen, estranho e reservado jovem, que vai acabar se revelando um vampiro.
A série de livros “Crepúsculo” é um best-seller internacional, o filme trilhou o
mesmo caminho, contando com Catherine Hardwicke (“Aos treze”) na direção e com a
novata Kristen Stewart como Isabella e Robert Pattinson (o Cedric Diggory da série
“Harry Potter”) como Edward. A trilha sonora do filme traz bandas como Paramore,
Muse, Iron & Wine e Perry Farrell.
Crepúsculo é a maior estreia nas bilheterias de um filme dirigido por uma
mulher na história do cinema. O ator Henry Cavill, já havia sido escolhido pela
escritora, para interpretar Edward, mas quando as gravações começaram, perceberam
que ele estava fora dos padrões para ser um jovem de 17 anos; então, o convidaram para
ser Carlisle Cullen, mas ele não aceitou. Mais de três mil atores fizeram teste para o
papel de Edward. Os fãs queriam Tom Welling de “Smallville” para o vampiro.
Quando Meyer começou a escrever o livro, não tinha batizado os personagens
como Edward e Bella. Ela usava apenas “ele” e “ela”. A escritora conta que teve muita
dificuldade para decidir os nomes dos protagonistas. Para o vampiro, ela se inspirou em
livros de Jane Austen, e para Bella usou o nome que daria à própria filha. No filme,
quando Bella procura na internet artigos sobre vampiros e encontra o link para a livraria
em Port Angeles, o resultado que encontra é Little Brown, que é a editora de
ascendência do Twilight.
Na cafeteria, Bella derruba uma maçã que Edward pega antes que caia no chão;
a diretora do filme contou nos extras do DVD especial que esta cena precisou de 13
takes pra ser feita. Eles usaram o Blue Ray de Crepúsculo para ajudá-los com idade, cor,
textura e detalhes da casa e quarto de Bella.
2.3.
Agora nasce uma Lua Nova
Na obra de arte de Shakespeare, “Romeu e Julieta”, ato II, cena VI, “Estas
alegrias violentas têm fins violentos, falecendo no triunfo, como fogo e pólvora que num
32
beijo se consomem” (Shakespeare). Com a citação desta obra imortal sobre jovens
amantes malfadados, Meyer abre as portas de Lua Nova, romance que dá continuidade à
saga Crepúsculo. As palavras são do frei Lourenço, dirigidas a Romeu, enquanto os
dois aguardam a chegada de Julieta para uma cerimônia secreta de casamento que o
religioso concordou em realizar.
O temor visionário de Lourenço reverbera as desafiadoras palavras de Romeu
sobre sua bem-amada: “E que a morte, a devoradora do amor, venha fazer aquilo que
sua audácia for capaz. Para mim já é muito poder chamá-la de minha”. (Shakespeare).
No entanto, assim como os infelizes amantes de Shakespeare, Edward Cullen e Bella
Swan não levam em consideração “a morte devoradora do amor” e o abismo que os
separam.
Edward, um vampiro eternamente com 17 anos, está apaixonado por Bella, que,
com a proximidade de seus 18 anos, ficaria feliz em se tornar uma vampira se Edward
concordasse em transformá-la. Mesmo que haja um rompimento, Crepúsculo termina
com os dois trocando juras de eterno amor.
Para Bella é mais uma simples festa de aniversário. Trata-se de sua alegre
aceitação em um admirável mundo novo e do desenrolar de sua feliz história de amor.
Mas basta que Bella corte o dedo com um papel e que surja uma gotícula de sangue,
para que o apetite primitivo dos vampiros ali reunidos seja despertado.
No livro é descrita a separação de Bella e Edward; ele decide afastar-se e deixála. Bella lamenta-se: “Eu me parecia com uma lua perdida – meu planeta destruído em
algum cenário desolado de cinema-catástrofe – que continuava, apesar de tudo, a rodar
numa órbita muito estreita pelo espaço vazio que ficou ignorando as leis da gravidade”
(Lua Nova). Em relação ao lançamento nos Estados Unidos, ocorreu no dia 06 de
setembro de 2006, mantendo o contrato com a editora Little, Brown and Company, e
seus designers Gail Doobibin e John Grant. No segundo volume da saga, Lua Nova, os
números de páginas foram aumentados para 563, permanecendo os números de
capítulos. No Brasil mantiveram-se as mesmas empresas responsáveis pela divulgação e
venda; o lançamento foi no dia 27 de setembro de 2008, tendo apenas dois anos de
atraso – para os fãs algo positivo, pois no lançamento anterior aguardaram por três anos.
Parecia que eu estava presa num daqueles pesadelos apavorantes, onde é
preciso correr até os pulmões explodirem, mas não se consegue obrigar o
corpo a andar com rapidez suficiente. Mas isto não era um sonho e, ao
33
contrário do pesadelo, eu não corria para salvar minha vida, corria para
salvar uma coisa infinitamente mais preciosa. Hoje minha própria vida
pouco significava para mim (Lua Nova).
Para Bella Swan, Edward Cullen é mais importante que a própria vida. Mas estar
apaixonada por um vampiro é mais perigoso do que Bella poderia imaginar. Edward
resgatara Bella das garras de um monstro cruel, mas, quando o amor dos dois ameaça
tudo o que lhes é próximo e querido, percebem que seus problemas podem estar apenas
começando. Tentando se recuperar de uma reviravolta da vida, Bella se depara com
ameaças que envolvem novas criaturas sobrenaturais; ela é levada a enfrentar dilemas e
desafios em cenários e situações surpreendentes.
Com arroubos de emoção, Lua Nova cria compulsão no leitor e renova a trama
repleta de impasses de altíssimos riscos. Legiões de leitores que ficaram em transe com
o best-seller Crepúsculo estão ávidos pela sequência da história de amor de Bella e
Edward. Apaixonante e cheia de reviravoltas formidáveis, a saga ganha ritmo ainda
mais intenso na segunda parte da série.
Assim como o primeiro livro, Lua Nova não fica para trás e percorre o mundo.
Alemanha
Coreia
Edição/Especial
Finlândia
Holanda
Japão–1
34
Japão–2
Japão–3
Reino Unido
Rússia
Tailândia
Brasil
Figura 2 – Capa do livro Lua Nova em várias nacionalidades
Ao contrário do que se espera a capa e o nome “Lua Nova” não se referem aos
lobos, e sim ao momento em que o sol está do lado oposto ao da lua em referência ao
nosso planeta, fazendo com que o lado iluminado da lua não fique visível para a Terra.
Essas noites são conhecidas como mais escuras, e o livro “Lua Nova” é o período mais
sombrio da vida de Bella.
Eu estava meio adormecida, talvez mais, quando percebi o que o beijo dele
me lembrou: Na primavera passada, quando precisou me deixar para desviar
James de mim, Edward me deu um beijo de despedida, sem saber quando –
ou se – nos veríamos outra vez. Este beijo teve o mesmo toque quase
doloroso por um motivo que eu não conseguia perceber (Lua Nova, p. 46).
Ao finalizar Crepúsculo, Stephenie produziu múltiplos epílogos com centenas de
páginas, foi quando entendeu que não estava preparada para deixar de escrever sobre
Bella e Edward.
Começou a escrever uma sequência intitulada “Forever Dawn”, que falava sobre
o último ano de Bella no ensino médio. Quando descobriu que Crepúsculo iria ser
35
publicado para os jovens, decidiu escrever o próximo livro para um público similar;
então, surgiu Lua Nova.
A tiragem inicial do segundo livro de Meyer nos Estados Unidos foi de 100 mil
cópias. Os pedidos pelo livro foram tantos que cópias desse volume estavam sendo
vendidas no eBay por mais de $380. Alguns prêmios conquistados pelo livro:
•
Primeiro lugar na lista de Best Sellers do The New York Times.
•
Indicado ao prêmio “Livros para Jovens Adultos” da Carolina do Sul (20082009).
•
Livro Sensação do Ano (2007.3|Children’s Literature Honor Book, 2007).
•
Votação popular do “Library Association Young Reader” da Pacific Northwest
(2009).
ALA Quick Picks em “Leitores Jovens Adultos Relutantes”.
•
Lua Nova conquistou imediatamente a primeira posição na lista dos livros
infantis mais vendidos do New York Times, desbancando autores infantis populares por
duas semanas consecutivas. O segundo livro da saga Twilight permaneceu no topo da
lista do New York Times por 11 semanas e passou um longo tempo dentro do Top 10.
O livro também permaneceu na lista dos mais vendidos do USA Today por mais
de 150 semanas; após entrar na lista, duas semanas depois de seu lançamento, pulou
rapidamente para o primeiro lugar. Segundo o Publishers Weekly informou em 2008,
Lua Nova vendeu 1,5 milhões de cópias nos Estados Unidos. Em outubro do mesmo
ano, o volume apareceu na 37ª posição da lista dos “Livros Mais Vendidos dos últimos
15 anos”. No Brasil sua vendagem foi de aproximadamente 140 mil exemplares.
2.4.
Lua Nova chega aos cinemas
Sobre o lançamento desse filme, Stephenie Meyer falou para mais de 1.400 fãs,
como recorda Bohrer, sendo que apenas algumas centenas conseguiram se acomodar no
espaço reservado para recebê-los. O restante estava amontoado em volta da livraria.
Meyer comenta Lua Nova dizendo, “a maioria das meninas se apaixona uma
vez, se é que já se apaixonou, e quando acredita que existe uma única pessoa no
36
universo que é perfeita para elas. A ideia de que possa existir mais de uma pessoa para
se amar e mais de um tipo de amor é difícil de compreender”. Lua Nova trata dessa
relação, da primeira decepção amorosa e do processo de superação. Esse sentimento,
uma pitada de decepção amorosa, supõe ser apenas o começo da jornada emocional de
Bella. Em Lua Nova, descobre-se que a vida continua, que outras pessoas podem se
tornar importantes; entra em cena o lobisomem Jacob Black, o jovem da tribo quileute
que a ajuda a ignorar o vazio emocional causado pela ausência de Edward.
Posteriormente, é revelado que ele é membro da matilha de lobos que se
metamorfoseiam.
Bella é ameaçada pelos vingativos vampiros de Crepúsculo; Laurent e Bella
viajam para a Itália para salvar Edward e enfrentar os Volturi, a antiga sociedade secreta
de vampiros que governa o mundo sombrio dessas criaturas. Nesse espaço vazio, nas
narrações do livro, Bella ouve apenas a voz de Edward em sua mente em circunstância
de perigo, porém no filme, Edward manifesta-se visualmente. No silêncio mortal, todos
os detalhes de repente se encaixam em uma explosão de intuição.
Em 2009, a sequência de Crepúsculo também foi lançada em versão
cinematográfica. Lua Nova chegou aos cinemas no mundo todo em 20 de novembro do
mesmo ano. Sucesso na estreia, o filme lucra nos primeiros três dias de exibição nos
EUA mais de 140 milhões de dólares e 258,8 milhões no mundo. Com esse recorde,
Lua Nova se consagrou como a terceira maior bilheteria de abertura.
Apreende-se outro contexto de Lua Nova para Crepúsculo, isto é, por causa da
partida de Edward e da entrada de Jacob, a frieza do vampiro é substituída pelo calor do
lobo. No filme nota-se uma popularidade, fãs começam a interferir nas produções,
sobretudo quem se apropria dos sites, revistas e blogs que informam tudo sobre a saga.
Especificamente no Brasil, a interferência ocorre pelas mídias: portal Twilight Brasil e
blogs relacionados, as revistas Capricho, Toda Teen, entre outras.
Os adolescentes e jovens se sentem mais familiarizados com a saga, se arriscam
na produção e interferem nos destinos dos personagens. De forma espontânea, de modo
individual e grupal, passam a se meter no texto, nas imagens e fazer ao seu modo as
suas escolhas.
37
2.5.
Eclipse: Bella entre vampiros e lobos
O regresso de Edward e sua família para Forks devolve a felicidade a Bella.
Entretanto, a pequena cidade que era pacata, será abalada pelo aparecimento de
Victória, ex-companheira de James, o vampiro que tentou matar Bella e foi destruído
pelos Cullen.
Victória retorna em busca de vingança e com isso vai criar um exército de
vampiros, os chamados “recém-criados”, para destruir Bella. Mas antes de Bella, muitas
pessoas desaparecem repentinamente ou aparecem mortas de formas trágicas. Neste
período, a legião de vampiros aumenta e aterroriza a pequena cidade de Forks.
E na parte da narrativa de Bella, durante o desenrolar do terceiro livro da série,
há relatos de seu temor:
Ele me tomou nos braços num só movimento, como havia feito no
estacionamento, e me beijou de novo. Esse beijo me assustou. Havia tensão
demais, foi brusca demais a pressão de seus lábios nos meus – como se ele
estivesse com medo de termos pouco tempo para nós dois. (Eclipse, 2009)
As narrativas são características do livro. Enquanto a cidade de Seattle é
assolada por uma sequência de assassinatos misteriosos, uma vampira maligna continua
sua busca por vingança. Bella encontra-se cercada de perigos outra vez.
Em meio a esta situação caótica, ela é forçada a escolher entre seu amor por
Edward e sua amizade com Jacob, sabendo que essa decisão tem o potencial para
reacender o conflito inacabável entre vampiros e lobisomens. Com a proximidade da
formatura, Bella tem mais uma decisão a tomar: viver ou morrer.
No esforço de salvar a vida da protagonista e evitar uma invasão em Forks, os
lobisomens de La Push estabelecem uma trégua ao conflito com os Cullen, e se unem
para acabar com a ameaça que ronda a tranquilidade estabelecida. Durante esse tempo
Bella se vê perturbada pelos seus sentimentos amorosos, ou seja, sente-se apaixonada
por Jacob, e diante dessas escolhas que deve fazer fica em pânico pelos próprios
pensamentos.
Os livros da saga se assemelham. O lançamento do livro Eclipse nos Estados
Unidos se deu no dia 07 de outubro de 2007; a mesma editora Little Brown and
38
Company estava a cargo da publicação e na parte de designer permanecem Gail
Doobinin e Roger Hagadone. Desta vez o número de páginas aumentou para 629, que
foram dividas em 27 capítulos, desafio maior para os leitores da saga.
No Brasil, a data da estreia foi dia 16 de janeiro de 2009; a editora continua a
Intrínseca; a tradutora permanece Ryta Vinagre; e, na parte da arte visual continuam os
mesmos do lançamento original, porém os números de páginas são 446, contendo 27
capítulos. São dados que se modificam em pequenas linhas, mas prevalece a história
narrada para seus fãs.
As várias capas que percorreram o mundo:
Alemanha
Bulgária
China
Dinamarca
Eslovênia
Finlândia
França
Polônia
Suécia
39
Tailândia
Turquia
Brasil
Figura 3 – Eclipse e suas capas em diversos países.
Para este terceiro livro foi conferido alguns prêmios:
•
1º lugar na lista dos mais vendidos do New York Times (2008).
•
Book Sense Book of the Year (2008.3 | Children’s Literature Honor Book,
2008).
•
Indicada ao Whitney Award na categoria Romance/Ficção Feminina (2007).
Alguns meses antes do lançamento de Eclipse, Meyer realizou uma “Festa de
Formatura Eclipse”, na Universidade do Estado de Arizona em parceria com a livraria
local e o departamento inglês da ASU. Os ingressos foram vendidos em sete horas, o
que levou a autora a realizar uma segunda festa no mesmo dia, cujos ingressos foram
vendidos em apenas quatro horas.
No evento, Meyer leu o primeiro capítulo de Eclipse, lançado no mesmo dia em
que a edição especial de “Lua Nova” chegou às prateleiras. Em uma maratona, a autora
embarcou em um tour e passou por 15 cidades para promover o livro. Publicou o
primeiro capítulo em seu website, postando na “citação do dia” dados sobre a história do
romance durante os 37 dias que antecederam o lançamento.
A fita partida da capa do livro evidencia a hora da escolha de Bella. Na trama a
garota precisa escolher entre seu amor por Edward e sua amizade com Jacob. A autora
acrescenta que a fita representa a ideia de que Bella é incapaz de cortar seus laços
completamente com a vida humana.
Em 25 de julho de 2008, a livraria Barnes & Noble de forma equivocada, enviou
algumas cópias do livro Eclipse antecipadamente para pessoas que o haviam comprado
na pré-venda. A livraria alegou ter sido um erro do computador, pois a loja era
40
completamente informatizada. Devido a este vazamento, para prevenir que os spoilers4
dominassem a internet, muitos fóruns de fansites5 da série ficaram offline. Stephenie
Meyer também trancou os comentários de sua conta no MySpace pelo mesmo motivo.
O lançamento antecipado do livro ocorreu com a edição especial desse volume,
que incluía o primeiro capítulo e a arte da capa do livro subsequente, Amanhecer. A
edição especial estava prevista para chegar às lojas em 31 de maio de 2008, mas várias
cópias foram lançadas uma semana antes.
Eclipse foi publicado com tiragem inicial de um milhão de cópias. O livro
substituiu “Harry Potter e as Relíquias da Morte” de JK Rowling no topo das listas de
mais vendidos ao redor do mundo, incluindo a New York Times, mesmo o livro de
Rowling tendo sido lançado apenas duas semanas antes.
O terceiro livro da série saltou para a primeira posição na lista dos 150 livros
mais vendidos do USA Today, e se manteve por mais de 100 semanas. Depois, apareceu
no 45º lugar da lista dos “Livros Mais Vendidos dos Últimos 15 Anos” do mesmo
veículo, em outubro de 2008.
Para o jornal Time, “Stephenie Meyer imerge a página como uma artéria
cortada. (...) O modo como lida com a curiosidade do leitor, mantendo tensão e
controlando o fluxo de informações, é simplesmente excepcional. Cria compulsão no
leitor quase vampiresca”. Motivados por essas sensações os leitores aguardam o
lançamento nos cinemas.
2.6.
Agora nas telas: Eclipse
No filme não é diferente. Não foi por acaso que as fotos dessas cenas caíram na
rede. Os seguidores da saga agradeceram e, desse modo, puderam de forma interativa
interferir e produzir seus próprios sonhos para o final da série. A cena mais badalada foi
o momento em que Jacob teve que aquecer Bella na barraca. Em Eclipse, o delírio das
4
Spoilers é quando algum site ou alguém revela fatos a respeito do conteúdo de determinado livro, filme,
série ou jogo. O termo vem do inglês, mais precisamente está relacionado ao verbo “To Spoil”, que
significa estragar. Numa tradução livre, spoiler faz referência ao famoso termo “estraga-prazeres”.
5
Fansite criação de sites de fãs para as celebridades.
41
fãs ocorre com frequência quando Jacob fica sem camisa. Meninas fazem alvoroço,
parece que uma magia invade os cinemas, as páginas e os pôsteres.
Não tenha medo – murmurei. Nós pertencemos um ao outro. De repente fui
dominada pela verdade de minhas palavras. Aquele momento era tão
perfeito, tão certo, que não havia dúvidas. Seus braços me envolveram,
apertando-me contra ele (...). Eu tinha a sensação de que cada terminação
nervosa do meu corpo era um fio desencapado. Para sempre - concordou ele.
(Eclipse)
A série que movimentou milhões de pessoas no mundo torna-se artefato cultural,
como diz Shah.
Um artefato cultural, para evitar qualquer confusão, pode ser claramente
definido como um repositório vivo de significados compartilhados e
produzidos por uma comunidade de ideias. Um artefato cultural é um
símbolo de comunhão (no sentido não violento, não religioso da palavra).
Um artefato cultural se torna infinitamente mutável e gera muitas
autorreferências e narrativas mutuamente definidoras mais do que cria uma
narrativa mestra linear. (SHAH, 2005, p. 116)
A estreia de “Eclipse” une mães e filhas apaixonadas pelo casal Bella e Edward
da saga Crepúsculo. O número se junta a outros recordes obtidos pelos filmes no Brasil,
como o de maior pré-estreia. Foram 200 mil espectadores nas sessões de meia-noite e
cinco da terça-feira, de maior número de salas, 692 cópias em 780 cinemas, e ainda com
maior vendagem de ingressos antecipados, 320 mil. Nos Estados Unidos, a aventura
vampiresca arrecadou US$ 68.5 milhões no dia de sua estreia.
Mesmo sendo recordistas de público e vendagem de livros, filmes e outros
produtos, o filme foi nomeado para receber o “Prêmio Framboesa de Ouro 20106” na
categoria de pior filme, assim como para piores atores e atriz, Robert Pattinson, Taylor
Lautner e Kristin Stewart, respectivamente.
6
Framboesa de Ouro (Razzie Awards) é um prêmio cinematográfico, paródia do Oscar, que premia só os
piores filmes produzidos ao longo de um ano. Atualmente é escolhido por internautas membros da
"associação" (leia-se site). Surgiu em 1980, tendo sido a primeira "premiação" realizada na sala de John
Wilson, o idealizador do "prêmio".
A fruta parece ser usada no sentido da expressão "blowing a raspberry", que é simular o som de
flatulência com a boca. É tanto o tom de deboche em cima do Oscar que as indicações saem um dia antes
das da Academia – e a "premiação" também é um dia antes da festa. O prêmio é uma framboesa de
plástico sobre um filme Super 8 pintado de tinta dourada, com valor aproximado de US$4,97.
42
Estar irrevogavelmente apaixonada por um vampiro é tanto fantasia como
pesadelo, costurados em perigosa realidade para Bella Swan. Impulsionada por sua
intensa paixão por Edward Cullen e ligada ao lobisomem Jacob Black, ela resistiu ao
tumultuado ano de tentações, perdas e conflitos até o momento da decisão definitiva.
A escolha entre fazer parte do obscuro e sedutor mundo dos imortais ou
permanecer vivendo como humana, se tornou o marco que poderá transformar o destino
dos dois clãs: vampiros e lobisomens.
Bella tomou sua decisão, e uma corrente de acontecimentos sem precedentes se
desdobrará com consequências devastadoras. No momento em que as feridas parecem
prontas para serem cicatrizadas, e os desgastantes confrontos da vida de Bella
resolvidos, é quando, justamente, podem desencadear a destruição.
Ao fim da saga, certamente, os seguidores hão de eternizar o que for possível
transmidiar. O final tem aguçado a curiosidade dos fãs, pois tudo está sendo feito para
evitar qualquer vazamento de informações que venham a revelar o desfecho da saga
Crepúsculo.
Assim como o último filme de Harry Potter, Amanhecer é dividido em duas
partes. Os fãs não gostaram muito desta informação, mas a própria Stephenie Meyer, se
pronunciou a respeito da dificuldade em reduzir um livro de quase 600 páginas em 90
minutos. O último livro Amanhecer ultrapassou fronteiras e chegou a muitas partes do
mundo, causando muita admiração.
Alemanha
Bulgária
China
43
Coreia
Croácia
Finlândia
Grécia
Polônia
Romênia
Suécia
Tailândia
Brasil
Figura 4 – O livro Amanhecer e suas variedades de capas em alguns países
A autora Stephenie Meyer, juntamente com a editora Little Brown and
Company, lançaram nos Estados Unidos, no dia 02 de agosto de 2008, o último livro da
saga “Crepúsculo”, com 756 páginas de muita aventura, contendo 39 capítulos.
Desta vez a edição brasileira conseguiu fazer o lançamento com apenas um ano
de diferença, no dia 26 de junho de 2009, pela editora Intrínseca. O livro tem 567
páginas e manteu-se os 39 capítulos do original, proporcionando uma boa despedida aos
seus fãs e seguidores sempre fiéis.
Como todos os livros da série, este também recebeu premiações:
44
•
“Livro Infantil do Ano” do British Book Award.
•
“Teen Choice Book of the Year” do Children’s Choice Book Awards.
•
“Autora do Ano” do Children’s Choice Book Awards.
O título original, “Breaking Dawn”, faz referência ao início da vida de Bella
como vampira recém-nascida. A capa é uma metáfora para o progresso de Bella ao
longo de toda a série. Ela começa como uma personagem fraca fisicamente,
representada no tabuleiro de xadrez pelo peão, mas no final se torna rainha, a mais forte.
As peças “O Mercador de Veneza” e “Sonho de Uma Noite de Verão”
influenciaram Amanhecer.
O lançamento oficial de Amanhecer ocorreu à meia-noite do dia 2 de agosto de
2008. Mais de quatro mil livrarias participam deste lançamento, em sua maioria
envolvida em concursos de cosplay, produtos feitos pelos fãs e desenhos de rostos. Foi
um dos livros mais aguardados de 2008. Para atender a demanda, a editora Little, Brown
Books acrescentou 500 mil impressões, chegando a uma tiragem inicial de 3,7 milhões.
O livro vendeu 1,3 milhões de cópias nos Estados Unidos, 20 mil no Reino
Unido em suas primeiras vinte e quatro horas de publicação e 100 mil no Canadá
durante seu primeiro fim de semana. Estreou em primeiro lugar na lista dos 150 livros
mais vendidos do USA Today. A última parte da série foi o livro infantil mais vendido
de 2008, com mais de seis milhões de cópias vendidas.
O último livro da saga é dividido em três partes: Bella é a narradora da primeira
e última parte do livro. Detalhe do relato de Bella no livro:
(...) a dor era atordoante. Exatamente isso – eu estava atordoada. Não
conseguia entender, não conseguia perceber o que estava acontecendo. Meu
corpo tentava rejeitar a dor, e eu era sugada repetidas vezes para uma
escuridão que apagava segundos ou, talvez, até minutos inteiros da agonia,
tornando ainda mais difícil acompanhar a realidade. Tentei separá-las. A não
realidade era escura e doía tanto. A realidade era vermelha e me trazia a
sensação de estar sendo serrada ao meio, atropelada por um ônibus,
nocauteada por um campeão de boxe, pisoteada por touros e mergulhada em
ácido, tudo ao mesmo tempo. (Amanhecer, 2009, p.286)
45
Narração feita por Jacob no livro Amanhecer, inspirado nos dizeres de William
Shakespeare, em Sonho de uma noite de verão, Ato III, Cena I “no entanto, para dizer a
verdade, hoje em dia a razão e o amor quase andam juntos” (Shakespeare).
Assim que vi na floresta de verdade, sem estradas ou casas beirando-a, parei
e tirei o short. Com movimentos rápidos e treinados, enrolei-o e o amarrei na
corda de couro no meu tornozelo. Ainda estava puxando as pontas quando
comecei a me transformar. O fogo descia por minha coluna, provocando
espasmos em meus braços e pernas. Só levou um segundo. O calor tomou
conta de mim e senti o tremor silencioso que me transformava em outra
coisa. As patas pesadas foram de encontro à terra e estiquei o dorso,
comprido e ondulante. A metamorfose era muito fácil quando eu estava
concentrado assim. Eu não tinha mais problemas com meu temperamento. A
não ser quando era provocado. (Amanhecer, 2009, p.128)
Comenta-se nos bastidores sobre a possibilidade de usar todos os recursos da
tecnologia em 3D. As gravações deste filme começaram, resta conferir nas telas o
desfecho da saga que rendeu muitas informações, mudanças e comportamentos. As
meninas que outrora eram ligadas em músculos, pessoas coradas, se encantam pelo
pálido e magro Edward.
2.7.
Entendendo o “porque” das escolhas em revistas Teen
Para compreender as juventudes é necessário entrar nas culturas juvenis e
perceber os sinais deixados. Se por um lado existem os jovens que marcam um dado
momento com suas produções, por outro existem aqueles que cooperam ou são
inspiração pelo mercado editorial.
46
Figura 5 - Capas de revistas de circulação nacional colecionadas pelo site Google 2010.
Freire Filho (2008), em seu livro “Culturas juvenis no século XXI”, apresenta
um pequeno histórico sobre as várias fases da juventude, iniciando na virada do século
XX. Expõe a relevante questão de como a imprensa foi imprescindível no caso francês
nos tempos da Belle Époque. Por exemplo, para configurar o imaginário popular e as
ações públicas em torno do “bando de jovens” da periferia que perturbavam o sono das
pessoas importantes de Paris.
Mediante esta situação, Le Journal e Le Matin levavam com destaque e
assiduidade todos os acontecimentos. Essas ações eram realizadas pelos chamados
rebeldes e desordeiros, isto é, indivíduos perigosos. Em seu livro, Freire Filho (2008,
p.38), destaca: “inimigos da sociedade, sem pátria, nem patrão, a maioria com a idade
entre 15 e 20 anos”.
Esses tempos se distanciaram, pois o que se percebe para além da sondagem é
um processo que parte em busca destes que um dia foram os “fora-da-lei”. Algo
imprescindível nessa questão são o olhar e o faro comercial de algumas agências
editoriais. Nos Estados Unidos, o editor norte americano quis mudar a concepção e
propôs uma imagem que contrapôs o vivido no “ontem juvenil” de um jeito avesso.
Em 1944, foi lançada a revista Seventeen, pioneira no ramo feminina juvenil.
Direcionava um olhar de modo particular para as estudantes do segundo grau. Lançava
novos estilos visuais, e para este fim criou personagens a partir da realidade criteriosa
daquele período, considerando as preferências e preocupações das garotas americanas.
Os elementos relacionados ao consumismo originam o uso de acessórios em
cadeia, surge um processo de consumo circular. Recortaram-se esses dados para
compreender os modelos que fascinam o mundo juvenil. As revistas “Teen” servem
como referência para as escolhas que perpassam o estilo visual e comportamental e
garantem o sucesso, diferenciando-os, desse modo, dos demais.
47
Segundo Freire Filho (2008), a revista Capricho é a herdeira mais bem sucedida da
Seventeen no Brasil. Sua oferta nas bancas e livrarias é quinzenal, o desejo principal é
que suas matérias possam sempre responder às angústias juvenis e, de certo modo,
oferecer instrumentos que os oriente e que dialoguem sobre moda, paquera, sexo,
drogas e outras curiosidades de forma detalhada para o mundo juvenil.
A presença efetiva de personagens que estão em voga no mundo dos artistas é
essencial e servem como referência, por exemplo, os atores e atrizes da saga
Crepúsculo.
2.8.
Twilight Brasil: o primeiro site a apostar na saga Crepúsculo
O Twilight Brasil foi o primeiro site que disponibilizou todas as informações
sobre a saga Crepúsculo de forma interativa, rápida e criativa para todos os seguidores
da série. A novidade do referido site é que todas as informações estão no idioma
português, o que favorece a leitura e a velocidade das informações desejadas. As
novidades postadas estão ligadas à série e imagens dos personagens.
O site contabiliza mais de quatro milhões e quinhentos mil acessos7. Twilight
Brasil, além de referência para os fãs brasileiros, também é o único site do país
referendado na página oficial do filme Eclipse,8 ao lado de sites dedicados
exclusivamente à saga em diferentes países.
Espaços de interação e interatividade são produzidos por fãs e não tem qualquer
ligação com a autora da série, os autores e produtores dos filmes. O interesse principal é
reunir informações sobre a saga e enviá-las para o ciberespaço, de modo preciso
contemplando as hipercomplexidades.
7
8
O número exato é 4.515.783 de acessos até 24 de abril de 2010.
Site oficial do filme (em inglês): http://www.eclipsethemovie.com/
48
Figura 6 – Página Inicial do site Twilight Brasil em 27 de abril de 2010.
O site disponibiliza vários links dentro do seu domínio. Os fãs podem acessar as
páginas: “Livros” que contam sobre os volumes da série; “Autora”, para saber sobre
Stephenie Meyer; “Filme”, área onde estão disponibilizadas informações sobre os três
filmes lançados – “Crepúsculo”, “Lua Nova” e “Eclipse”; “Mídia”, banco de imagens e
vídeos oficiais; Biografias, a vida dos personagens dos quatro livros é contada; e
Equipe, New Moon Filme e o link para “Fanspace”.
O último sítio é dividido em outras seis seções: Loja Virtual, Fanfics, Fanart,
Sonhos – os fãs contando sobre os sonhos que tiveram relacionados a Crepúsculo –,
Depoimentos – os fãs que já conhecerem a autora ou foram a eventos da saga, relatam
sua experiência – e, por último, o link Diversão, que contém jogos diversos.
Outros endereços são disponibilizados no site como “Links rápidos”. Ao clicar
nesses hiperlinks o internauta tem acesso ao site oficial da autora Stephenie Meyer, ao
site oficial dos filmes da saga, ao fórum da comunidade Twilight Brasil e à página do
Orkut do Twilight Brasil.
Isaaff Karhawi Santos (2010) afirma em sua pesquisa que, “Depois do fenômeno
Harry Potter, da autora inglesa J.K. Rowling, o mundo aguardava o novo grande
sucesso responsável por deslocar as atenções dos adolescentes para a leitura”.
49
Crepúsculo, assim como Harry Potter9, faz do universo “fantástico” seu ponto de
partida. Apesar de ser uma história sobre vampiros, foge ao estereótipo de sangue
derramado em todos os capítulos ou de criaturas noturnas assustadoras. A família
principal de vampiros da saga de Stephenie Meyer é dona de uma beleza sobrenatural e
não se alimenta do sangue humano, mas do sangue de animais.
A série literária Crepúsculo, apesar de ser considerada fútil por muitos
estudiosos, se configurou como fenômeno cultural nos últimos anos, entrou nos lares,
ambientes educativos e espaços frequentados por jovens e adultos.
Em relação aos membros do grupo focal integrante da pesquisa, seu modo de
produção foi no espaço twilight.cuiaba, e nesse espaço fizeram interações com várias
mídias e todos “linkados” para endereços próprios da saga e os seus fãs.
Essas são produções culturais e mercadológicas, integrantes da economia
cultural de significados coletivos, fornecendo receitas, padrões, narrativas,
apresentando critérios, auxiliando na vida cotidiana, permitindo às leitoras
processar suas experiências cognitivas numa sociedade estruturada também
por gênero. Puramente constatação de observação, acreditamos estar diante
de uma cultura juvenil, onde se estabelece uma marca, uma identificação de
pertença. Nos aproximamos e verificamos que, além do visto e observável,
elas também interagem pelas redes sociais, inclusive pela Twiligth Brasil.
Para buscar respostas a essa intrigante forma de produção de sentidos,
optamos pela busca de sentidos. Aplicamos questionário com 14 alunas,
sondando-lhes os perfis. Sem surpresa, elas se espelham nos perfis já
comentados anteriormente. Quanto à entrevista, reunimos as alunas,
incluindo-se uma professora, em grupo, onde perscrutamos suas formas de
produzir sentidos. Reafirmando o já dito, têm sido necessárias inúmeras
seções para que os sentidos apareçam. Entre eles o que mais se destaca é o da
identificação das adolescentes, melhor dizendo, do desejo delas de ser Bella
Shawn e encontrar e ser amada por Edward Cullen (POSSARI, SANTOS e
ALMEIDA, 2010, p. p. 13-14).
Para compreensão da participação-transmidiação efetiva dos membros do grupo
focal das meninas fãs e produtoras da saga Crepúsculo tomei como ponto de busca o
site twilight.mt relacionado ao site original twilightbrasil. O primeiro passo foi conectarme com as participantes inseridas de modo direto no processo de alimentação do espaço
para fãs e seguidores da saga.
9
Harry Potter, assim como Crepúsculo, é uma série literária, escrita pela inglesa J.K. Rowling. Os sete
livros da série contam a história de um jovem bruxo e venderam, juntos, mais de 350 milhões de
exemplares no mundo todo. O primeiro volume foi lançado na Inglaterra em 1997 e o último em 2007
(Informação disponível em http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_292574.shtml Acesso em 20 de
junho de 2010).
50
Para a minha surpresa descobri que o site é uma ramificação do site adaptado
para os fãs do estado de Mato Grosso, criado como twilighters, e a partir deste site
outras apropriações foram criadas.
Figura 7 – home da twilighters
Como por exemplo, o Twilight fan club Cuiabá, que tem como ponto alto o
Orkut da série, onde são apresentadas as fotos dos vários eventos realizados a partir dos
lançamentos dos livros, das pré-estreias e dos filmes.
Na busca, encontrei muitas fotos, pequenas produções de filmes e entrevistas
com alguns fãs. Sua principal chamada está no visual, tendo como ponto forte as capas
dos livros da série, sendo o perfil uma apresentação do grupo, o trabalho que
desenvolvem e faz o convite para que todos os fãs os sigam: os fãs que residem em
Cuiabá ou em qualquer outra localidade, alegando que fã onde estiver é sempre fã, e
segue todas as modalidades propostas ao que se refere ao objeto de desejo e de
consumo.
51
Figura 8 – Página inicial do Blog: Twilight Fan Club Cuiabá
No Twilight fan club Cuiabá encontra-se o seguinte texto: “Twilight Fan Club
(Cuiabá) é um Fã-Clube para todos que admiram, gostam, adoram, AMAM a saga
Crepúsculo (Sejam os livros ou os filmes). Uma história de Amor Impossível (a melhor
eu diria), de uma adolescente de 17 anos por um vampiro de 100, num universo
FANTÁSTICO onde se encontram Vampiros e Lobisomens/Transfiguradores, criada
por Stephenie Meyer, que começou esse best-seller após ter um sonho com uma jovem e
um vampiro que embora estivesse apaixonado por ela, desejava seu sangue (o capítulo
13 do primeiro livro). Após alguns anos graças a Summit Entertainment vemos a
adaptação para filme, com um mega elenco... É Fã? Então participa... É de Cuiabá?
Entra logo... Não é? E daí? Fã que é fã participa de TUDO... Tá esperando o quê? Entra
Baby!”.
Seguindo o desempenho de grande parte dos blogs o de Cuiabá não difere dos
existentes, com várias chamadas, sendo um espaço de leituras, de filmes, fotos e, como
base do momento (2010) foi à estréia de Eclipse, um pequeno vídeo anunciando o
trailer.
Sendo o blog “linkado” com o Orkut dos fãs de Cuiabá, clicando na imagem do
casal Bella e Edward, o link mostra as novidades do Orkut e o perfil dos seus
seguidores.
52
Figura 9 – Perfil do Orkut da Twilight Fan Club Cuiabá
Neste contexto de pré-estreia do último filme da série, foi perceptível que as
atenções estão focadas para o esperado evento; o que repercute um trabalho intenso na
composição do figurino e nas recordações da saga. Muitos jovens fãs e seguidores estão
relendo o livro, na expectativa de não perder nenhum detalhe e de acompanhar com
muita propriedade a primeira da última parte da série. Estas expectativas vividas com
teor de saudade e o começo do fim.
As meninas do grupo focal estão investindo na capa dos Volturis, uma capa
preta com maquiagem mais escura, e essa confecção está sendo feito observando os
mínimos detalhes, desde o material bruto como os simples recortes. Essa roupa será
uma confecção em conta, pois terá o custo de 100 reais. Há algumas do grupo com o
desejo de aparecer na pré-estreia de noiva, assim como a Bella. Para o dia 18 de
novembro, meia noite e cinco estão sendo aguardados vários personagens: lobos,
vampiros, noivas e bruxos.
Com essas informações, faço um paralelo com meu objeto de pesquisa, que foi
um fenômeno, que teve seu tempo de explosão, e neste exato momento, aguarda ver nas
telas o filme que antecede o final da saga.
53
CAPÍTULO III: Transmidiação e produção de sentidos
3.
A transmidiação da saga Crepúsculo do impresso ao filme
Neste capítulo, o objetivo é evidenciar o processo da transmidiação que ocorre
do livro para as telas e das telas para outros desdobramentos nas mídias de massa.
Foram escolhidas algumas cenas dos livros para análises e melhor visibilidade do
processo da transmidiação. Falar em Análise do Discurso, como afirma Fernanda
Mussulim (2008), pode significar em um primeiro momento, algo vago e amplo, cujo
significado pode ser qualquer coisa, já que toda produção de linguagem é passível de ser
entendida como “discurso”. A Análise que será realizada neste capítulo trata de uma
pesquisa qualitativa, perpassada pela sondagem e observação do processo da
transmidiação pela netnografia.
Esse processo de intertextualidade e de interdiscursividade é marcante na
passagem da leitura do livro ao livro para as telas; estas ações promovem produções de
sentidos, a partir da interdiscursividade coletiva. O aporte teórico-metodológico é da
netnografia, ou etnografia online, e de grupo focal para a gestualidade presencial, onde
se descrevem os processos de interlocução.
Conforme Bauer e Gaskell (2002, p.40), grupos focais são indicados para
“explorar o espectro de atitudes, opiniões e comportamentos, observar os processo de
consenso e divergência, adicionar detalhes contextuais a achados quantitativos, assuntos
de interesse público (...) política (...), novas tecnologias”. Os autores consideram esse
tipo de levantamento de dados indicado para pessoas que não sejam pertencentes a
grupos tão diversos, sendo dessa forma, uma opção adequada à pesquisa com usuários
de um mesmo local.
As observações são de fundamentação semiodiscursiva, na pista dos indícios e
do simbólico que congregam e marcam os fãs através dos interesses pelas atividades
que envolvem a saga.
Foram aplicados questionários e entrevistas para os dez membros do grupo focal
do Colégio Coração de Jesus, Cuiabá/MT. Os primeiros trouxeram os perfis que
54
convergem para a admiração e a imitação de Bella, a eterna busca pelo príncipe
encantado, representado no primeiro filme por Edward e no segundo pelo próprio
Edward e pelo seu rival, Jacob.
Os perfis traçados serviram como ferramentas que favoreceram as possíveis
análises em relação ao gênero, faixa etária, renda familiar, grau de escolaridade da
família e do entrevistado. Para prosseguir com as análises referentes à saga, os dados
coletados sobre a interação e interatividade dos fãs com o mundo tecnológico foram
tabulados para melhor conhecer a realidade da vida dos seguidores e assim traçar o seu
possível perfil.
Foram 10 participantes do grupo focal, garotas entre 10 e 18 anos de idade.
Tendo, portanto, a predominância do sexo feminino. Confirma-se uma admiração
primordial e encanto por Bella Swan, seguido pelo desejo de encontrarem um príncipe
encantado como os retratados na saga, representados pelo vampiro Edward e o
lobisomem Jacob.
Percebe-se a coincidência na renda familiar das entrevistadas, que prevalece
entre quatro a seis salários. Duas das entrevistadas coincidem na renda familiar com
mais de seis salários. Estes dados permitem analisar as condições que dispõem para
usufruirem das mídias em geral.
Quanto à escolaridade dos familiares das jovens entrevistadas, possuem curso
superior completo e exercem as mais variadas profissões tais como: professores,
engenheiros, administradores, médicos e servidores públicos. Os dados marcam a
pesquisa quanto à realização das leituras feitas e das produções que as jovens poderão
criar mediante o diálogo com seus pais.
As entrevistadas cursam o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio, das 10
participantes, metade para cada etapa de ensino; este dado permite perceber um número
igual de participantes pertencentes aos grupos de ensino, e também permite algumas
discussões ao que se refere à apropriação de determinadas posturas e escolhas das
adolescentes.
No decorrer dos encontros do grupo focal se percebe nitidamente que as meninas
entre 10 a 14 anos, sonham com o amor verdadeiro e impossível, elas esperam pelo
príncipe encantado, que tem um nome elegido coletivamente: “Edward”. As
adolescentes entre 15 a 18 anos possuem outras tendências e diferentes buscas, são mais
desejosas do ato em sim, estão na expectativa do desejo carnal, querem algo tocável e
55
que cause impacto, nesse contexto quem melhor corresponde a tais expectativas é o
lobisomem, quente por natureza e de corpo musculoso. Neste caso, os pensamentos são
para “Jacob”, o homem ideal por estimular o desejo sexual.
Os diálogos favorecem os debates relativos à saga sobre temas específicos e
interesses diferenciados.
Ao que se referem às possíveis atividades que frequentam, obteve uma variedade
considerável de respostas, algumas entrevistadas responderam que estudam inglês;
quatro praticam academia, dentre outros esportes e duas não participam de nenhuma
atividade.
Quando indagadas há quanto tempo fazem uso do computador, elas afirmaram
que fazem uso da máquina há mais de dois anos, sendo fácil o acesso e o
acompanhamento da saga em todas as mídias. Quanto ao grau de escolaridade dos pais,
todos com curso superior completo e alguns continuam os estudos como pesquisadores
na linha da educação. Tal dado facilitou algumas considerações em relação ao bom
tempo de uso do computador por parte das meninas do grupo focal.
Outro item da pesquisa foi o local de acesso diário ao computador/internet; todas
afirmam que acessam a internet na própria casa, o que facilita a produção, a leitura e o
movimento entre os mais buscados.
Sobre tempo/horas que gastam no acesso ao computador/internet no cotidiano,
os resultados das entrevistas obtiveram essas informações. Três ficam no
computador/internet mais de 4 horas; cinco delas entre 1 e 2 horas; duas de 2 a 4 horas.
Nenhuma das entrevistadas fica menos que 1 hora por dia.
Para a grande maioria do grupo focal, quando questionadas sobre o que buscam
na internet responderam – e esse é um dado em comum – que querem acessar livros na
internet. A segunda opção são as curiosidades em geral, depois os sites de
relacionamento, correspondências e outros.
As preferências pelos sites mais buscados pelas entrevistadas estão evidenciadas
nas próprias respostas dadas. Liderou o Orkut e o MSN, em seguida tfc.cuiabá,
twilightmt e outros. Elas especificaram a procura por filmes e seriados, sendo unânimes
na
escolha.
Buscam
informações
relacionadas
a
Crepúsculo,
além
de
se
responsabilizarem pela assiduidade de acessos ao site Twilightmt e garantirem a
alimentação do mesmo.
56
Os locais onde residem as entrevistadas: Centro Sul, Bosque da Saúde, Santa
Amália, Mário Palma, Dom Aquino e Jardim Imperial – Várzea Grande. Os bairros
citados favorecem o acesso à internet. Todos comportam uma estrutura capaz de atender
aos requisitos que possibilitam uma interatividade com o lazer, a cultura e os meios
tecnológicos.
O grupo focal trouxe as percepções das diferenças dos textos escritos impressos
em relação aos filmes; isto permite ver que o processo realmente não é de adaptação ou
simplesmente especular, são textos diferentes, ou seja, discursos diferenciados, cujas
gramáticas de escrita e de audiovisual os tornam outros textos, portanto, transmidiados.
É importante destacar as percepções das entrevistadas utilizando como
parâmetros análises semiodiscursivas:
a) Quanto ao uso do computador: todas destacam a necessidade gerada por uma
dependência da máquina e, sobretudo, das possíveis postagens e interações com os
amigos virtuais. A grande maioria das entrevistadas reconhece que precisa e quer ficar
muito tempo on-line para responder às novidades e navegar em busca de interesses
pessoais, realizar pesquisas e leituras pela internet dos livros que as interessam.
b) Sobre a transmidiação: três das dez entrevistadas responderam de forma otimista por
trabalharem em parceria com a livraria Janina, localizada em Cuiabá-MT.
Como
parceiros, divulgam os diversos lançamentos relacionados à saga, inclusive a divulgação
dos produtos e a participação direta dos sites criados pelos fãs de Crepúsculo,
twilight.mt, incentivando os fãs para as manifestações em torno da série. As demais
lidam com a transmidiação ou transcodificação, em um sentido passivo, ou seja,
acompanham as produções dos outros fãs, sem nenhum envolvimento comprometedor.
c) Sobre o envolvimento com os sites: três meninas do grupo entrevistado acompanham
o site de modo sistemático. Frequentemente são chamadas pelas livrarias para coordenar
e desenvolver as atividades que promovem durante os lançamentos de filmes e livros da
saga. As outras acompanham como coadjuvantes, sempre “antenadas” nas possíveis
atividades de massa.
57
d) Quanto aos trabalhos apresentados: por serem estudantes, além de seguidoras fiéis,
elas acompanham os trabalhos em parceria com a editora Intrínseca, que as mantêm
informadas sobre as novidades relacionadas à saga e envia-lhes materiais e brindes para
serem distribuídos entre as fãs participantes dos eventos em pré-estreia e lançamento de
livros. Apenas três das entrevistadas têm maior ritmo de trabalho com a saga
propriamente dita, as outras apenas auxiliam nos trâmites dos eventos e realizações.
e) Sobre outros trabalhos: todos os trabalhos realizados, durante os anos da saga
Crepúsculo, têm como objetivo preservar e perpetuar o amor à saga e o desejo que ela
se torne imortal. Querem movimentar-se e realizar o máximo de atividades para deixar
uma marca na memória e no coração de todos os apaixonados pela série de Stephenie
Meyer e pela sua versão cinematográfica.
f) Quanto às modificações: as entrevistadas gostam dos gibis Crepusculinho, outras
modificações das cenas, dos pares românticos, enfim curtem as novidades que sempre
aparecem.
g) Quanto à solicitação de outros comentários: neste último tópico, é importante
ressaltar que as garotas que cursam o Ensino Médio alegam buscar nos artigos
científicos, nos livros e nas atualidades o que lhes serão oportunos para as provas que
irão fazer e proporcionem enriquecimento intelectual necessário para satisfação pessoal
e profissional. Depois é que se interessam pelos sites de relacionamento, pelos filmes e
seriados; buscam informações sobre a saga, nos blogs para os fãs de Cuiabá e recorrem
aos sites oficiais da saga para maiores informações.
De modo sintético e não profundo, foi uma rápida leitura das respostas dos
questionários e das entrevistas antes de entrarmos nas observações das respostas e das
construções de sentidos do livro ao filme.
58
3.1. Grupo focal do Colégio Coração de Jesus (CCJ) / MT
A opção por grupo focal é devido às condições encontradas no ambiente de
trabalho, ambiente educativo, e principalmente por se tratar de grupos juvenis
envolvidos pelos contextos interculturais presentes na contemporaneidade.
Deste modo, faço uma breve diferenciação de grupo focal e grupo de discussão.
Segundo Gaskell (2002, p. 79), os grupos focais podem ser definidos como uma esfera
pública ideal, já que se trata de um debate aberto e acessível, onde todos os assuntos em
questão são de interesse comum, e nos quais as diferenças de status entre os
participantes não são levadas em consideração e o debate se fundamenta em uma
discussão racional.
Os grupos focais são geralmente constituídos por um número de seis a oito
pessoas, que são convidadas a debater sobre um determinado assunto com a ajuda de
um moderador. O grupo focal do CCJ era composto por 10 membros e eu enquanto
pesquisadora. Conforme Gaskell (2002) existem pelo menos três progenitores ou
tradições associados à utilização de grupos focais como técnica de entrevista, sendo
eles: a) a tradição da terapia de grupo (Tavistock Institute); b) a avaliação da eficácia da
comunicação (Merton; Kendall, 1984); c) a tradição da dinâmica de grupo em
psicologia social (Lewin). Os grupos focais se apresentam como um método quase
naturalista de geração de representações sociais mediante a simulação de discursos.
Como grupo de discussão representa um instrumento por meio do qual o
pesquisador estabelece uma via de acesso que permite a reconstrução dos diferentes
meios sociais e do habitus coletivo do grupo. Seu objetivo principal é a análise dos
epifenômenos subprodutos ocasionais relacionados ao meio social, ao contexto
geracional, às experiências de exclusão social, entre outros.
O nosso aporte é o grupo focal do CCJ/MT, que nasceu com o propósito
primeiro de ler o livro, escolher as melhores cenas contemplando os gostos pessoais e,
em seguida, assistir ao filme, buscando fazer um estudo e/ou um diálogo comparativo
de pesquisadora e de fãs apaixonadas pela saga.
O grupo, como já mencionado, era formado por 10 meninas, provindas de vários
bairros localizados na cidade de Cuiabá, cinco eram do Ensino Fundamental II e cinco
do Ensino Médio, sendo a faixa etária de 10 a 18 anos, em comum tinham o desejo de
59
rever, reler, recordar e discutir o que foi mais importante antes, durante e após o
lançamento de cada livro seguido de seus respectivos filmes.
Um dado curioso é o fato de todas terem em seus quartos, seja individual ou não,
pôsteres dos ídolos: Bella, Jacob e Edward. Algo notável foi a constatação da
preferência total e alucinante das meninas entre 10 a 14 anos pelo vampiro, dando a
compreender o desejo pelo amor impossível, pelo romantismo do homem perfeito nas
condições do amor e não do físico. E para as meninas entre 15 a 18 anos havia grande
interesse pelo lobisomem: homem bem definido, extremamente forte e atraente,
permitindo entender o interesse pelo desejo e fascínio sexual.
O grupo focal CCJ/MT reuniu-se de dezembro de 2010 até julho de 2011, numa
sala do próprio colégio, sendo que para o gupo fora liberado o uso dos instrumentos
multimídias, como data show, notebook e aparelhos de registros digitais, como
máquinas e gravadores. Cada membro, ao se apresentar para o grupo que foi feito por
adesão e não por imposição, adquiriu uma característica comum, a de andar pelos
corredores portando algum objeto que lembrava a saga, como por exemplo, revistas,
tatuagens, pôsteres, copos com as figuras dos artistas: Bella, Edward e Jacob, livros da
saga e o próprio DVD – pirata ou original. O que importava para esse grupo era seu
pertencimento.
3.2. Observando os sentidos construídos
Para observar a construção de sentidos pelo grupo das adolescentes que, comigo,
compararam a transmidiação do livro para o filme, considerei necessários alguns
aspectos da Análise do Discurso.
A AD surge na década de 60, na França, como teoria da leitura rompendo com a
tradição de práticas teórico-analíticas direcionadas para a interpretação empreendida
pela hermenêutica e pela análise de conteúdo. Seus estudos procuram evidenciar as
várias maneiras de significar o que a materialidade linguística permite, sem estabelecer
corte sincrônico da língua ou analisá-la enquanto sistema.
Para a AD é imprescindível que sejam considerados os sujeitos, seus registros na
história e as condições de produção da linguagem. Analisam-se, assim, segundo esse
domínio de estudos, as relações estabelecidas entre a língua e os sujeitos que a
60
empregam e as situações em que se desenvolve o dizer. O analista do discurso busca,
portanto, certas regularidades no uso da língua em sua relação com a exterioridade.
Com o questionário e as entrevistas, pude além de traçar-lhes o perfil, observar
as formações discursivas, que lhes foram oportunizadas pelo seu modo de vida, cultura,
família, enfim, contexto onde se inserem.
Portanto, o estudo discursivo considera em suas análises, não apenas o que é dito
em dado momento, mas as relações que esta afirmação estabelece com o que já foi dito
antes e, até mesmo, com o não-dito, atentando também para a posição social e histórica
dos sujeitos e para as formações discursivas às quais se filiam os discursos.
No que concerne aos precursores dos estudos discursivos, destaca-se o francês
Michel Pêcheux (1938-1983), cujos estudos têm forte embasamento nas correntes
marxistas. Segundo Pêcheux, não há sujeitos individuais no discurso, há “formassujeito”, ou seja, um ajustamento do sujeito à ideologia. Ao estudar Pêcheux, Gregolin
(2003), outro expoente contemporâneo da AD, afirma que:
O sujeito não é considerado como um ser individual, que produz discursos
com liberdade: ele tem a ilusão de ser o dono de seu discurso, mas é apenas
um efeito do ajustamento ideológico. O discurso é construído sobre um
inasserido, um pré-construído (um já-lá), que remete ao que todos sabem, aos
conteúdos já colocados para o sujeito universal, aos conteúdos estabelecidos
para a memória discursiva. (GREGOLIN, 2003, p.27)
O indivíduo, ao produzir seu discurso, não expressa a sua consciência livre de
interferências. Ao contrário, aquilo que ele discursa é resultado de conjuntos discursivos
que lhe são anteriores, exposição sócio-histórica a que está submetido, a partir da qual
são constituídas as representações discursivas sobre o mundo. Neste contexto, Orlandi
(2001, p. 09), como referência dos estudos discursivos no Brasil, apresenta algumas
contribuições da AD para a reflexão sobre a língua e sua interpretação.
Para Orlandi (2001) problematizar as formas de ler é levar o sujeito falante ou o
leitor a se colocar questões sobre o que produz e o que ouve nas diferentes
manifestações da linguagem. Perceber que não se pode não estar sujeitos à linguagem, à
sua ambiguidade, sua opacidade. Não há neutralidade nem no uso mais específico do
cotidiano dos signos.
A entrada no simbólico é irremediável e permanente, compromete-se com os
sentidos e o político. Interpretar é sempre uma passagem. A contribuição da AD está em
61
favorecer o estado de reflexão. Orlandi (2001, p.9) salienta que “... sem cairmos na
ilusão de sermos conscientes de tudo, permite-nos, ao menos sermos capazes de uma
relação menos ingênua com a linguagem”.
Ao produzir seu discurso, o indivíduo não expressa a sua consciência livre de
interferências. Analisar o discurso dos sujeitos, assim como dos trechos transmitidos,
compreende produção de sentidos. Para além da linguagem utilizada, examinam-se os
sentidos pretendidos, as condições de produção de discurso: o perfil, a forma de
solicitação e de quem solicita.
No que se refere aos signos verbais ou não-verbais, eles são uma construção
sócio-cultural que ocorrem em um contexto determinado histórico, social e
culturalmente.
Esta concepção de discurso amplia-se para gesto discursivo, formação discursiva
e prática discursiva. O primeiro é a inerência a todas as formas de linguagem de serem
gestos que transitam entre interlocutores. A segunda é o dizer permanente em nossa
cultura pela qual somos formados discursivamente. E a terceira são as práticas
propriamente ditas.
Nas análises desta pesquisa, o gesto discursivo engendra intertextos de produção
continuada, intertextos e intermídias.
Produzir linguagem significa produzir discursos, dizer alguma coisa para
alguém, de uma determinada forma, em um determinado contexto histórico. Partindo
destes raciocínios, significa que as escolhas feitas ao dizer, ao produzir um discurso, não
são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes — mas decorrentes das condições
em que esse discurso é realizado.
Quando se interage verbalmente com alguém, significa que o discurso se
organiza a partir dos conhecimentos que se acredita que o interlocutor possua sobre o
assunto. Partindo dos parâmetros de suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias,
da relação de afinidade e do grau de familiaridade, da posição social e hierárquica que
ocupa em relação a ele e vice-versa.
Todo processo de interação verbal, não tem início e nem término em si. Os
textos orais e escritos são apenas produzidos sob determinadas condições e contextos;
há textos diferentes, para além das condições de produção e dos contextos.
Em uma análise parcial referente a pesquisa, pode-se observar que as respostas
dadas ao questionário e a entrevista foram solicitadas por alguém (eu, enquanto sujeito
62
pesquisador). A pesquisadora solicitou as fãs da série literária Crepúsculo que
respondessem ao questionário (para traçar-lhes o perfil) e a entrevista foi proposta para
conhecer seus discursos.
O discurso produzido pode ser analisado pelo texto que o engendra. Pode-se
afirmar que o texto escrito forma um todo significativo e acabado, qualquer que seja sua
extensão. Textualidade é uma sequência verbal constituída por um conjunto de relações
que se estabelecem a partir da coesão e da coerência.
Assim como um texto não se inicia nele nem se encerra, depreende-se que a
intertextualidade é inerente ao processo de produção. As integrantes do grupo foram
solicitadas referências nas entrevistas sobre outros textos, como os trabalhos produzidos
ligados à saga, o que leram, reescreveram e sobre o que mais quisessem informar.
A produção de discursos não acontece no vazio. Ao contrário, todo discurso se
relaciona de alguma forma com os que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos,
como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns com
os outros.
Na busca das atribuições de sentidos, após traçar o perfil, foi analisada cada
resposta dada, o que possibilitou perceber três tipos de discursos: a) o discurso das
interlocutoras da série, onde não se nota nada além do discurso da participação; b) da
admiração pela saga; c) pelos textos transmidiados a partir dela. São discursos das
adolescentes e jovens de 10 a 18 anos.
Um discurso comum entre várias entrevistas é o do pertencimento à comunidade
de seguidores da saga Crepúsculo, seja pelas leituras dos livros ou pelo discurso da
admiração pelos textos produzidos, ou o ato de reescrever apenas. Os sentidos são o de
prazer, responsabilidade e, de algumas delas, de orgulho e vaidade.
Percebe-se com base nas respostas das entrevistadas que as fãs enfatizam
características positivas sobre a sua postura. Quando questionadas sobre a relação que
mantêm com os sites sobre a saga ou com o próprio Twilight Brasil, as respostas se
assemelham a autopromoção; as fãs mostram que não são meras leitoras ou fãs passivas,
mas idolatram e transmidiam suas produções.
63
3.3. O processo de transmidiação no ato de ler, reler, ver e rever
Foram quatro volumes impressos, sendo que cada volume era composto por
aproximadamente 400 páginas de pura adrenalina, suspense, romance, perigo, risos e
sonhos.
Nessas condições infinitas de recontar todas as partes importantes, ousei
selecionar algumas das cenas, lidas e revistas mil vezes em mais noventa encontros
(sem exagero). Um dado curioso nessa etapa foi a emoção transmitida pelas fãs a cada
lida/relida/visto/revisto das cenas, parecia que o real era àquela hora, o momento
esperado era aquele; como pesquisadora confesso que me surpreendi, porém o trabalho
foi realizado a partir das escolhas feitas coletivamente, na expressão de suas emoções
enquanto liam e quando assistiam as superproduções.
Primeiro livro e filme: Crepúsculo. Foram escolhidas as seguintes cenas:
a) O Prólogo: há um anúncio de como será o destino de Bella durante todo o seu
percurso na saga. Relato do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 11).
Nunca pensei muito em como morreria – embora nos últimos meses tivesse motivos
suficientes para isso. [...] O caçador sorriu de um jeito simpático enquanto avançava
para me matar.
Essa é a reescritura do primeiro livro. No filme, a primeira cena, que é o prólogo
do livro, a voz de Bella está em off, proferindo as mesmas falas do livro e a imagem de
Edward atacando o veado na floresta.
Para as fãs do grupo focal do CCJ/MT, após calorosa discussão, chegou-se a
conclusão que a cena foi modificada, pois ao ler o livro têm-se outras ideias,
personagens criados na imaginação e, de repente, na tela aparecem ataques de
“vampiros do bem”, os que não bebem sangue humano. Mas, ao mesmo tempo, foi fiel
à proposta da autora para o decorrer da trama entre a humana e o vampiro. Houve então
uma modificação sem perder o foco principal criado ao ler o livro.
64
Para todas houve prejuízo na apresentação das figuras, pois para elas teria sido
mais importante criar e recriar, como fizeram a partir do texto escrito.
Pareceu-me, num primeiro momento, que um discurso corrente ali se instalava,
ou seja, de que o livro era melhor que o filme.
Todavia, indagadas se prefiriam o livro ou o filme, ficaram em dúvida. Dúvida
que permeou todas as atividades de descrição e comparação feitas pelo grupo em todas
as cenas selecionadas para tal. Há momentos em que dizem preferir, ou consideram
mais completos, ou revelam gostar mais de um que de outro.
Nesse sentido essa performance, que é inerente ao grupo focal, permitiu a
visibilidade do reconhecimento como membro dos grupos de fãs que têm acesso aos
roteiros oficiais, possibilitando maior diálogo sobre as criações, as trocas de
personagens, sobre quais elementos foram usados para os efeitos especiais, ou seja, com
esta postura as fãs tem um papel interessante: coprodutora de recepção e, ao mesmo
tempo, de produção de determinado produto que circula no entorno da saga.
b) A cena em que Bella ganha a Picape: conforme descreve o livro 1, Crepúsculo
(2005, p. 14).
– Achei um carro bom para você, baratinho – anunciou ele quando estávamos
afivelando o cinto.
-- Que tipo de carro? – Fiquei desconfiada do modo como ele disse “um bom carro
para você” em vez de simplesmente “um bom carro”.
-- Bom, na verdade é uma picape, um Chevy.
-- Onde achou?
-- Lembra do Billy Black, de La Push? – La Push é a pequena reserva indígena no
litoral.
Esse recorte pode ser lido no livro, porém, quando a mesma cena vai para as
telas, existe uma espécie de antecipação, ou seja, a presença de Jacob. Quando Bella, no
filme, ganha o carro, quem entrega é a família de Billy, e Jacob está junto. Bella e o
rapaz são amigos de infância. No caso do filme é o presente de boas vindas. A cor do
automóvel permanece a mesma do livro para o filme. Conforme figura abaixo:
65
Figura 10 – carro de Bella fonte: www.google.com.br
Na discussão do grupo focal, as meninas, de modo contudente, falaram sobre os
efeitos que foram utilizados para determinado carro ficar com a cor desejada, o modelo
que correspondia aos imaginários dos fãs leitores da saga; as meninas ainda comentaram
os muitos dias de trabalho necessários para que a picape da Bella ficasse com aspecto
real, a mistura das cores para dar o tom de envelhecimento e que, ao mesmo tempo,
causasse um estranhamento no contexro colegial da qual Bella fazia parte.
Para as meninas do grupo focal, o trabalho da produção nos detalhes dos objetos,
das casas, dos espaços frequentados pelos personagens comporta os sonhos imaginários
dos adoslecentes que leram e ao mesmo tempo idealizaram um ambiente próprio para
cada personagem, que, além de ser uma representação, é representado por seu ambiente,
seja casa, roupas ou acessórios.
c) A chegada de Bella a escola: descrição da cena no livro 1, Crepúsculo (2005,p.16).
Forks High School tinha um total assustador de apenas 357 – agora 358 – alunos; em
Phoenix, havia mais de setecentas pessoas só do meu ano. Todas as crianças daqui
foram criadas juntas – suas avós engatinharam juntas. Eu seria a garota nova da
cidade grande, uma curiosidade, uma aberração.
Essa cena permanece na adaptação para o cinema, no aspecto em que todas as
pessoas já conheciam a Isabella Swan, a filha do chefe de policia Charlie; sua história se
tornou popular entre os corredores. Um detalhe se diferencia no livro, Bella sente raiva
por essa situação. Na figura 11 a fachada da escola de Bella em Forks.
66
Figura 11 - http://www.google.com.br/imgres
A chegada de Bella gerou grande repercursão na cidade. Por ser um lugarejo,
todos comentavam e sabiam o seu passado, todos os percursos da criança e esperavam
pelos acontecimentos na vida da jovem Bella. Para as meninas do grupo focal do CCJ,
esta chegada tinha que ser impactante. De certa forma, quando as meninas remetem a
produção como responsável pelas transformações causadas pelos personagens, a picape,
como foi dito anteriormente, conseguiu ser um registro de impacto da chegada de Bella,
porque todos tinham carros da moda, e de repente, chega à garota num carro velho e
bem diferente; as participantes do grupo destacam o fato como um ponto positivo, pois
a partir dele, Bella tornou-se um ícone de liberdade.
d) Bella cozinha para o pai: trecho do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 31).
Na noite passada, descobri que Charlie não sabe cozinhar grande coisa além de ovos
fritos e bacon. Então pedi para cuidar da cozinha enquanto estivesse ali. Ele estava
bastante interessado em passar adiante as chaves do salão de banquete. Também
descobri que ele não tinha comida em casa. Então fiz minha lista de compras, peguei o
dinheiro no pote do armário rotulado de DINHEIRO DA COMIDA e estava a caminho
do Thriftway.
Essa parte é completamente alterada no filme. Bella e Charlie vão ao bar para
fazer suas refeições, e em uma das cenas, a autora dos livros, Stephenie Meyer, aparece
67
como figurante. Fazendo uma leitura comparatista percebe-se que nesta cena a
modificação do livro para o filme foi total.
A maioria das meninas do grupo focal considera que no livro há mais detalhes
sobre a casa de Charlie, o que deixa evidente se tratar da residência de um homem
divorciado – que mora sozinho –, cuja cozinha não proporcionava o cenário ideal para
preparar as refeições, o que pontua a aflição de Bella em ter que cozinhar e não
encontrar alimentos na dispensa. Porém, elas entendem que a modificação no filme,
levava a tentativa de reapresentar e integrar Bella a cidade.
e) Os ataques dos vampiros: no primeiro livro em nenhum momento aparece como
algo grandioso, que ganhe destaque em longas páginas. Porém, no filme aparece e se
agregam vários elementos ao ataque dos vampiros do mal, o que não ocorre no livro
como constataram as participantes do grupo focal. São cenas concebidas para dar mais
adrenalina a produção cinematográfica, impactar os espectadores, bem como fazer
conexões com outras cenas, uma vez que teria que cortar alguns trechos do livro. Sendo
assim, percebe a real modificação e complementação para dar ação à aventura propostas
aos jovens e adolescentes apaixonados pela saga. No filme ocorre como na figura 12
abaixo.
Figura 12 - http://www.google.com.br/imgres
Para o grupo focal, o filme explicita e antecipa os ataques dos vampiros. O livro
mantém o suspense por mais tempo, dando a crer que os ataques podem ser obras de
animais ferozes. No filme, logo conhecemos os vampiros recém-criados que fazem sua
primeira vítima.
Para as meninas do grupo focal esses ataques marcam uma série de
eventualidades que determinam outros movimentos na saga. Estes são gerados pelos
68
sentimentos que se criam a partir das expectativas suscitadas tanto na leitura como ao
assistir o filme, e tais momentos/sensações entram em ressonância com o modo de
pertencimento; e a pergunta que sempre remotam para si mesmas e para os outros será
em torno de qual lado quero estar, dos “vampiros do bem” ou “vampiros do mal”, nesse
caso, não está em jogo nem Bella, Edward ou Jacob, mas o sentimento sobre o lado em
que há espaços de produção.
f) Edward se revela à Bella: no impresso, o diálogo é longo, pausado, e carregado de
suspense. Segundo as componentes do grupo focal do CCJ, é a parte mais importante,
pois se trata do momento em que acontece a revelação de quem é Edward. Conforme
relato do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 139).
-- Você não liga que eu seja um monstro? Que eu não seja um humano?
-- Não.
Ele ficou em silêncio, olhando para a frente de novo. Seu rosto era vazio e frio.
[...] – Está curiosa com o quê?
-- Quantos anos você tem?
-- Dezessete – respondeu ele prontamente.
-- E há quanto tempo tem 17 anos?
Seus lábios se retorceram enquanto ele olhava a estrada.
Esta parte é muito diferente no filme, o diálogo é muito rápido, o que no livro
passaram-se horas para ler e degustar, no filme é questão de minutos. Procurou-se
causar um impacto nos leitores e espectadores da trama. Portanto, foi uma das cenas que
sofreram modificações no que se refere ao tempo cinematográfico.
Na opinião do grupo, principalmente, para as mais sensíveis, as modificações
não causaram incômodo, pois elas consideraram que a cena aumentou o romantismo em
torno da relação do casal, criando a impressão de um amor perfeito.
As participantes do grupo focal citam o momento como um tempo ímpar e sem
precedentes. Todas desejam ser Bella nessa cena, não somente pelo fato da descoberta
do amor impossível, mas também pelo desafio de conhecer tudo a respeito de Edward, o
que poderia ocasionar grandes perigos.
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Um fato que deve ser recordado é como o período inicial do fenômemo
Crepúsculo mexeu com o sentimento das fãs. Muitas adolescentes começaram a ser
cortar para seduzir o vampiro, chamando-o pelo nome, Edward. No modo de pensar
dessas fãs, é o vampiro do “amor impossível” irrompia a própria lei do espaço; o dado
mais curioso é que os atores eram sempre recebidos nos aeroportos pelas fãs, e nesse
momento da recepção do elenco da saga, as fãs queriam fazer-se conhecida através do
cheiro do próprio sangue.
g) Pesquisas de Bella na internet e as compras de livros: a escolha dos livros
permaneceu sem modificação. Um detalhe interessante é que todos os sites buscados
por Bella são os sites oficiais da saga.
h) Música de ninar: no livro Edward toca piano, e a composição dele se torna a música
de ninar de Bella. A novidade discutida pelo grupo focal é que Robert Pattinson, o ator
que interpreta Edward, foi quem compôs a música, uma vez que ele toca piano na
realidade. Esta parte foi reproduzida no filme de modo mais intenso, mantendo e
adequando a cena no ponto ideal.
Figura 13 - http://www.google.com.br/imgres
i) Primeiro beijo: a cena do primeiro beijo não foi modificada, permaneceu como
descrito no livro, porém a ordem foi invertida, acontece um pouco mais tarde no livro.
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Figura 14 - http://www.google.com.br/imgres
j) O jogo de beisebol: no livro ocorre como um relato comum sem muita adrenalina,
mas com diálogo e troca de informações devido ao tempo chuvoso e o esporte ao ar
livre. Transcrição do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 258).
-- Então eu soube que vai levar minha menina para ver jogo de beisebol.
– Só mesmo em Washington o fato de estar chovendo baldes não perturbaria em nada
os esportes ao ar livre.
-- Sim, senhor, o plano é esse. – Ele não pareceu surpreso que eu tivesse contado a
verdade a meu pai. Mas ele também podia estar ouvindo.
Para a nossa confirmação ao transmidiar para as telas houve total modificação,
dando a cena mais ação. E aos vampiros, velocidade descomunal. Foi atribuída a
Edward uma rapidez impressionante; a Alice beleza e leveza refletidas em um traje
esportivo. A chegada dos vampiros recém-criados gera uma tensão que o jogo acirra
ainda mais, o que acaba culminado no momento em que James “fareja” Bella, a única
humana a participar da partida. Esta cena para muitos fãs foi um grande presente
recheado de adrenalina, ação e efeitos fantásticos que atenderam as expectativas do
público juvenil.
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Figura 15 - http://www.google.com.br/imgres
Figura 16 - http://www.google.com.br/imgres
Figura 17 - http://www.google.com.br/imgres
A partir desta cena, tanto no livro como no filme, trava-se a batalha entre os
“vampiros do bem”, ou seja, “os vegetarianos” que bebem sangue de animais e os
“vampiros do mal”, que são fascinados pelo sangue humano. Entra em cena a caçada de
James a humana Bella, a qual termina num final trágico para James, sendo sua morte no
livro descrita com exatidão no filme. Com a morte de James a vida de Bella passa a ser
um risco constante, pois Victória promete vingança.
Para o grupo focal, estes trechos do livro foram transpostos de modo muito
intenso nas telas, por conseguir reunir várias gerações de vampiros e lobisomens, que,
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além do mais, reuniam alguns personagens que relatavam como os clãs surgiram e
como eles se efetivaram como grupos especificos.
l) O baile de formatura: foi eleita uma das mais belas cenas do livro e a sensação
permanece ao assistir o filme. Parte do diálogo no livro 1, Crepúsculo (2005, p. 347).
– Bom – murmurou ele enquanto nos aproximávamos devagar da mesa de entradas;
ele carregava a maior parte de meu peso, mas eu ainda tinha de me arrastar e
cambalear com o pé para frente --, o que há de vampiros presentes já basta.
Olhei a pista de dança; um enorme espaço se formara no meio, onde dois casais
giravam. [...] Emmett e Jasper estavam intimidadores e impecáveis com seus smokings
clássicos. Alice estava estonteante com um vestido de cetim preto com contornos
geométricos que revelavam triângulos de sua pela branca como a neve. E Rosalie
estava... Bom, Rosalie. Ela estava inacreditável. Seu vestido vermelho vivo tinha as
costas nuas, apertado até as panturrilhas, onde se abria em uma série de babados, com
um decote que afundava até a cintura. Tive pena de todas as meninas no salão,
incluindo a mim mesma.
Como é descrito no livro o vestido de Bella foi confeccionado por Alice, e esta
possui, reconhecidamente, um excelente gosto em designer. O vestido que Bella usaria
no baile era esperado com muita curiosidade pelos espectadores, porém no evento
pareceu que todos os vestidos estavam mais belos que o seu vestido azul, muito simples
em relação aquele imaginado pelas fãs.
O vestido foi uma decepção unânime dentro do grupo focal do CCJ/MT. Pois,
para elas, como Bella estava sendo preparada por Alice, que tem um senso de moda e
elegância aguçadas, o vestido apresentado no filme ficou abaixo da expectativa. Elas
consideraram que Bella estava muito bonita, porém, faltou-lhe glamour.
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Figura 18 - http://www.google.com.br/imgres
Na cena do baile de formatura houve uma modificação, a qual se refere ao
aparecimento de Victória, no livro não cita a presença dela; e outra alteração concerne à
postura de Edward e Bella. O livro descreve Edward e Bella sentados e o rapaz explica
para ela o significado de crepúsculo, e no filme, eles aparecem dançando e Victória os
observa da escada. As participantes do grupo focal analisaram como uma conexão para
dar sequência ao próximo filme “Lua Nova”, no qual ocorre a caçada de Victória que
deseja vingar a morte de James seu amado, eliminando a vida da humana Bella.
Segundo livro e filme: Lua Nova. As cenas escolhidas foram as seguintes:
a) Bella sonha com a avó: no filme acontece de modo semelhante ao contado no livro.
Bella se depara com a própria realidade, ela é menina que se torna avó no futuro, e lidar
com o tempo a faz entrar em crise. Nesse momento, Edward aparece em seu sonho para
desejar “Feliz Aniversário”.
É uma cena em que Bella sente receio e ao mesmo tempo fica incomodada com
o futuro que lhe aguarda. Esta cena no filme é uma das primeiras que aparece, e Bella
percebe que a imagem refletida é o seu futuro e isso fica evidente quando a jovem faz os
movimentos com os braços e a idosa num processo simultâneo os repete. O grupo focal
considerou-a sem modificações.
Segue essa manifestação com a figura 19, o momento em que Bella a reconhece
através dos movimentos dos braços e estes refletem os seus próprios movimentos.
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Figura 19 - http://www.google.com.br/imgres
b) Festa de aniversário de Bella: no livro Alice programa cuidadosamente a festa dos
18 anos de Bella e todos da família Cullen participam. A festa é realizada na residência
dos Cullens.
Os fãs sentiram falta do crucifixo que há no livro e não aparece no filme. O
quarto de Edward está diferente do descrito no livro.
Um fato que chama a atenção na festa é o corte no dedo que Bella sofre ao abrir
o presente. Jasper, marido de Alice, não consegue controlar o cheiro de sangue humano
emanado por Bella e avança contra a garota. Edward o detém, porém deixa a situação
mais caótica, pois ao tentar proteger Bella a joga contra o piano e as peças de cristais
caem e se quebram sobre ela, deixando-a em pior estado, toda ensanguentada.
Este relato no livro é muito claro, pois detalha com perspicácia cada situação,
deixando o leitor envolvido pela cena, pela situação. O filme cria a partir da cena, o
desespero de Edward que tenta convencer Bella que o romance não é possível, que ela,
eventualmente, irá se machucar ao lado dele. Edward decide abandonar Bella, pois não
quer transformá-la em vampira, por considerar que vampiros não têm alma e ele não
seria egoísta de tirar a alma da mulher amada.
No filme, o episódio não foi tão rico em detalhes e emoções como no livro.
Ocorreram modificações na cena. Contundo não dirimiu o sabor de ver a aventura na
tela. Os detalhes no livro e no filme garantem que Bella, no período de ausência de
Edward, vivia como morta, perambulando e alucinada nas noites de Forks sem a
presença dele. Nas figuras 20 a 23 é possível recordar o momento em que Bella é
acolhida pela família dos Cullen, a mesa dos presentes, o ataque de Jasper e o
tratamento imediato oferecido pelo pai de Edward, Dr. Cullen, que consegue lidar com
sangue humano.
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Figura 20 - http://www.google.com.br/imgres
Figura 21 - http://www.google.com.br/imgres
Figura 22 - http://www.google.com.br/imgres
Figura 23 - http://www.google.com.br/imgres
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Esta cena foi analisada pelas leitoras e fãs da saga Crepúsculo como um
processo de teste para a Bella entre os vampiros e para os Cullens que, mesmo sentindo
o cheiro de sangue humano, deveriam manter o controle. O que não ocorre com todos
da família Cullen, o sangue causa perturbação e diante desse processo o organizador e
pai da família Cullen se mantém firme para lidar com sangue humano e, como médico,
tratá-los.
c) O punho de Charlie bateu na mesa: no livro o pai de Bella, Charlie, percebe que
sua filha não está conseguindo administrar seus sentimentos e procura ajudá-la,
acreditando que mandá-la para a casa da mãe em Jacksonville seria uma boa solução.
Trecho tirado do livro – 2, na íntegra, Livro Lua Nova (2006, p. 74).
— É isso, Bella! Vou mandar você para casa.
-- Eu estou em casa – murmurei confusa.
-- Vou mandar você para Renée, para Jacksonville – esclareceu ele.
Após o diálogo – tanto no livro como no filme – Bella pede uma noite com suas
amigas, liga para Jéssica e combina ir ao cinema. Voltando do cinema, ao passar por um
bar, vê alguns homens estranhos e, nesse momento, escuta a voz de Edward. Depois
desse dia, a sua alucinação é tamanha que se envolve em muitas aventuras perigosas na
tentativa de ouvir ou encontrar com o vampiro. No livro, Bella apenas escuta a voz de
Edward, pois a trama é narrada sem a presença dele. “Lua Nova” é a manifestação de
sua ausência. Narrativa do livro 2, Lua Nova, 2006, p. 79.
-- Tem algum compromisso?
-- Não... Acho que posso ir com você. O que você quer ver?
-- Não sei bem o que está passando – disse, de forma vaga. Essa era a parte perigosa.
Revirei meu cérebro procurando uma dica. Não ouviu ninguém falar de um filme
recentemente? Não viu nenhum cartaz? – Que tal aquele com a presidente?
Ela me olhou com estranheza.
-- Bella, esse saiu de cartaz há séculos.
-- Ah! – Franzi o cenho. – Há algum filme que você quer ver?
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Segundo análise do grupo focal, muitos fãs foram ao cinema por causa dos
personagens, Bella, Edward e Jacob, e de repente só ouvir a voz de Edward iria causar
muitas frustrações. Por isso, a produção cinematográfica optou pela presença física de
Edward, não somente pela sua voz, dando ao público um gosto a mais e provocou uma
modificação em relação ao livro.
As meninas do grupo focal aprovaram a decisão de Edward estar presente nos
momentos de apuros ocasionados por Bella para encontrá-lo ou fazer com que ele viesse
até ela. Edward salva Bella dessas confusões, o que faz com que ele faça parte das
ações, preenchendo, desse modo, as expectativas das fãs. No livro, Edward surge apenas
como fruto das alucinações de Bella; não há, portanto, a presença física de Edward na
vida dela no segundo livro da saga.
d) Aproximação de Bella e Jacob: no livro Bella tem o desejo de correr risco para ser
protegida, e encontra na velocidade da moto um motivo perfeito para ouvir e sentir a
proteção de Edward. O livro relata que ao passar por um local abandonado, encontra
duas motos velhas e as coloca em sua picape e leva para Jacob concertar. O rapaz faz os
reparos nas motos e dá aulas de motociclismo para Bella, e assim, nasce à possibilidade
de preencher o vazio deixado por Edward.
Esta cena na tela sofre muitas modificações. Bella aparece com as motos e nem
diz onde as conseguiu. O grupo focal fez uma leitura comparativa e pontuou a cena
como o início do romance mais sério com Jacob. Para os lobos também existem regras a
serem seguidas. O líder Sam Uley, no livro, pede o fim da amizade entre Jacob e Bella.
Livro 2, Lua Nova (2006, p.197).
-- Sam Uley disse que Jacob não pode mais ser meu amigo.
Charlie me olhou de um jeito estranho.
-- Quem lhe disse isso?
-- Declarei, embora não fosse exatamente o que Jacob dissera.
Essa cena revela para os leitores do livro o medo que o jovem lobisomem tem do
líder Sam; no filme ocorre de maneira mais rápida, sem muitas explicações. A cena que
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muda o personagem Jacob, foi destacada pelo grupo focal, como sendo uma surpresa de
muito bom gosto para o público jovem: a autodefinição de Jacob.
Essa transformação ocorre justamente quando ele vai ao cinema com Bella e
Mike, e sem motivos começa a passar mal, depois some sem nenhuma explicação.
Nesse espaço de tempo Bella se sente culpada, e decide procurá-lo. Quando Jacob
aparece, é outro Jacob.
No livro, esta cena não impressiona tanto como na tela grande. No livro não há a
descrição da tatuagem dos lobos, mas no filme é bem nítido; Jacob corta os cabelos, faz
uma tatuagem no braço e dispensa o uso das camisetas.
O grupo focal destacou a mudança como o grande momento do personagem, a
partir dessa transformação, ele assume uma postura de quem veio para vencer. E para a
maioria das fãs entre 15 e 18 anos foi o melhor presente da saga, um motivo a mais para
assistir e delirar com o porte físico do lobisomem. Os gostos se confundem entre
lobisomem e vampiros.
e) Votação para Bella ser vampira ou não: ao final do livro 2, Lua Nova (2006, p.
380), Bella, enquanto está reunida com a família Cullen, faz uma votação para saber se
será transformada em vampira.
Endireitei-me na cadeira, concentrando-me. Aquela era a minha reunião.
-- Muito bem, então, Edward propôs uma alternativa para a consideração de todos – eu
disse com frieza. – Vamos votar.
Desta vez, olhei para Edward; seria melhor ter a opinião dele de uma vez por todas.
– Quer que eu una à sua família?
Seus olhos eram duros e pretos como sílex.
-- Não desse jeito. Deve continuar humana.
Assenti uma vez, mantendo a expressão pragmática, depois segui adiante.
-- Alice?
-- Sim.
-- Jasper?
-- Sim...
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Essa reunião ganhou a aprovação dos fãs, pois cada vampiro ao votar a favor ou
contra, expressava o porquê da escolha pelo SIM ou pelo NÃO; como foi com a
Rosalie, ela disse não no livro e no filme a sua decisão é mantida com a mesma
explicação, sendo que no terceiro livro da série, ela conta para Bella toda a sua história
de dor antes de ser transformada sem nenhuma chance de escolher.
Para o grupo focal, essa cena é considerada importante, pois há uma condição
para que Bella seja transformada: deve ocorrer após a formatura para evitar a tristeza de
Charlie. E assim se decide o destino de Bella, ela será uma vampira, será eternizada.
Terceiro livro e filme: Eclipse. As principais cenas escolhidas pelo grupo focal do
CCJ/MT:
a) Triângulo amoroso, Edward, Bella e Jacob: o livro é um tratado de escolhas que
Bella deverá fazer; ela precisa optar entre dois destinos: lobos ou vampiros. No livro é
bem claro que para Bella se tornar vampira, ela precisa deixar de ser humana, enquanto
que para viver com o lobisomem, apenas precisa seguir o culto próprio dos lobisomens.
Os lobisomens são opostos dos vampiros, sua temperatura é de 42 º a 43 º e eles
têm febre na presença de vampiros.
Figura 24 - http://www.google.com.br/imgres
No primeiro circuito de discussões sobre o livro, as meninas falaram com
bastante insistência do calor do lobisomem, sendo um grande fator para a atração das
jovens por Jacob, uma vez que sua musculatura definida é considerada ideal para as fãs
e para as mulheres com fetiches sexuais que envolvam calor e criatividade.
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b) O livro das escolhas entre lobos e vampiros: o livro das escolhas não é mencionado
nas telas, mas é considerado pelos membros do grupo. Segundo as participantes do
grupo focal, este é o momento eclipse – a escolha de Bella, a fita que se rompe como
detalha na figura 25.
Figura 25 - http://www.google.com.br/imgres
Conforme informações das meninas do grupo focal, o terceiro volume trouxe
algo esperado e desejado pelas fãs, a verdadeira escolha de Bella, depois de uma
sequência de filmes, livros e outras formas de desdobramentos da saga em revistas e
sites específicos da saga e apropriações dos fãs. A terceira parte fomenta o fim de uma
grande história de amor, paixão e desordem do espírito humana.
c) A chegada dos recém-criados: com o misterioso desaparecimento de pessoas na
cidade de Seattle, a polícia tende para a teoria de que há o envolvimento de uma gangue.
Tal teoria encontra apoio no número de vitímas e por não haver padrão nas escolhas
delas. A seleção parece ser aleatória, a única intenção é matar. A maioria das vitímas
encontradas tinha queimaduras a tal ponto que foram necessários os registros
odontológicos para identificação. Outra característica, a maioria dos corpos mostra
provas de violência brutal, ossos esmagados e rompidos por uma pressão imensa. Estas
marcas são encontradas nos corpos que se deixam pelas ruas, há outros que
desaparecem sem deixar vestígios. No livro 3, Eclipse (2007, p. 202).
Há menos de uma década a cidade de Seattle foi área de caça do mais prolífico serial
killer da história dos Estados Unidos. Gary Ridgway, o Assassino de Green River, foi
condenado pelo homicídio de 48 mulheres.
E agora uma empalidecida Seattle deve enfrentar a possibilidade de abrigar um
monstro ainda mais apavorante neste exato momento.
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O clã dos Cullen fica apreensivo por serem os vampiros mais próximos da
cidade de Seattle, por isso, inicia uma investigação. A primeira suspeita recai sobre os
Volturi que desejam exterminar os Cullen. A espécie de vampiros Volturi é aquela que
não pensa em nada a não ser em destruir, se precisar matar entre eles o fazem sem
remorsos.
No livro o relato tem muita adrenalina e riqueza de detalhes, mas no filme
percebe-se, num primeiro momento, que o grupo de vampiros Volturi, parece ser mais
de 100 pessoas; contudo, como conta o livro, são apenas 21 componentes.
O livro fala de Alice Cullen possuidora de um dom especial, que é a capacidade
de ler pensamentos e prever o futuro; ela afirma que são os Volturi, mas ainda não
consegue perceber o que realmente desejam. Posteriorrmente descobre que Victória está
por trás de toda da batalha. Como Victória não havia definido o plano completo,
decidido cada passo, Alice não conseguiu ver o futuro.
O filme também recorre ao poder de Alice nas horas importantes de apuros. Ela
é consultada para ajudar na prevenção contra os possíveis ataques. Essa personagem é
muita admirada pelos fãs que leram o livro e assistiram ao filme, sendo que sempre se
surpreendem com seu estilo de vestir e de ser. Pode-se afirmar que houve modificações
para compor o quadro com emoção, medo e suspense.
Figura 26 - http://www.google.com.br/imgres
O grupo focal ficou admirado com a quantidade de vampiros apresentados no
filme em relação ao livro. O movimento avassalador também impressionou. Uma legião
que tem sede de sangue e ganha objetivos dados por Victória: matar Bella e destruir os
Cullen. No filme é nítida uma distinção entre o bem e o mal, o que não ocorre no livro.
A fúria dos recém-criados é um ponto salientado pelo grupo focal.
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d) União e treinamentos dos vampiros e lobos: na narrativa do livro Eclipse, em
algum dado momento, aparece o depoimento de alguém para contar como se
transformou em vampiro; com mais destaque para a história de Jasper, que foi eleito
para treinar lobos e vampiros encarregados de proteger Bella e a cidade de Forks.
Em Lua Nova, Bella corta o dedo, Jasper não mantém o controle e tenta atacá-la;
a referência ao fato serve para nos revelar que antes de ser vampiro “vegetariano”, ele
foi general do exército e, depois de transformado, continuou a treinar vampiros
bebedores de sangue humano. Quando entrou para família Cullen, Jasper mudou, mas
ainda sentia grandes dificuldades para dominar seu ímpeto por sangue. Mas, no
momento crucial das batalhas, é escolhido para treinar os dois clãs: lobos e vampiros. O
que revela a confiança que tem nele.
Para o grupo focal, este momento foi semelhante. As principais caraterísticas
contidas no livro são contempladas pelo filme, porém a adaptação para o cinema trouxe
toda a beleza, leveza e determinação dos treinamentos. O que é evidente no livro é o
desejo de destruir os Cullen por parte dos Volturi, porém os “vampiros do mal” não
contavam com a união entre lobos e vampiros, uma vez que eles não se toleram.
O que se confirma, lendo e assistindo a saga, é que Bella foi o motivo primeiro
da união, mas num segundo plano, entra o cuidado para que a cidade de Forks não seja
transformada em um caos. Portanto, lobos e vampiros fizeram uma trégua para proteger
os moradores da grande batalha que estava por iniciar.
e) Bella beija Jacob: a estratégia aprovada, após os treinamentos, foi a de que os
vampiros sairiam para a caçada e os lobos ficariam de guarda na cidade e cuidariam de
Bella. Nesse intervalo, Jacob aproveita para se declarar e dar um beijo na jovem; após o
beijo Bella dá um soco no rosto dele e quebra a mão. No livro, Edward conversa como
um digno cavalheiro com Jacob, porém, no fim o ameaça dizendo que da próxima vez o
matará.
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Figura 27 - http://www.google.com.br/imgres
No filme Edward esquece todo o cavalheirismo e avança em Jacob, dando-lhe
empurrões e socos. Na leitura comparativa no grupo focal percebeu-se que a cena
modificou, transmitindo ao público uma sensação que ele não é tão sangue-frio, que ele
reage impulsivamente pela amada.
Alguns fãs acharam que a cena poderia ter mais interessante. Parecia uma cena
entre estranhos, não causou nenhuma sensação diferenciada.
O grupo focal destaca que a relação de Bella e Jacob é apresentada no livro mais
como uma provocação de Bella a Edward do que como uma atração que possa gerar um
triângulo amoroso que conduza a mocinha a rejeitá-lo. Além disso, no livro Edward
precisa que Jacob proteja Bella, e não o agrederia por ciúmes, sabendo que isso poderia
por em risco essa necessidade.
f) A aliança e o pedido de casamento: antes da batalha de lobos e vampiros contra os
Volturi, Edward convida Bella para sair pelos campos e faz o tão esperado pedido de
casamento; tanto no livro quanto no filme, a cena mantém a expectativa de romantismo.
O grupo focal destacou o fato da cena ser feita numa paisagem belíssima, ideal para o
momento, selando, assim, a característica do amor perfeito, mesmo que seja impossível:
humana e vampiro unidos para sempre.
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A figura 28 mostra exatamente o local da conversa e do pedido de casamento,
um sonho desejado por muitas garotas.
E a figura 29 a entrega do anel de noivado. Esse anel foi cobiçado por muitas
meninas fãs e não fãs da saga. As componentes do grupo focal assistiram e debateram a
cena entre lágrimas e risos, dando a impressão de que a vitória não é simplesmente de
Bella, mas de todas as garotas que se colocaram em seu lugar, assumindo os mesmos
sentimentos, angústias e medos.
Figura 28 - http://www.google.com.br/imgres
Figura 29 - http://www.google.com.br/imgres
e) A batalha final: os Cullen tinham Jasper como líder dos treinamentos, e do lado
Volturi quem liderava era Riley, parceiro de Victória. Durante a batalha há a cena em
que Bella é levada para a montanha, um local muito frio, e, na cabana, Edward ao se dar
conta da condição de humana da amada, que não resistiria ao frio, pede a Jacob que a
esquente com o corpo. Esta cena no livro e no filme ocasionou muitos suspiros e gritos,
mantendo alguns detalhes e dispensando outros.
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No final da cena, Bella beija calorosamente Jacob num desejo de boa luta, todo
esse movimento foi acompanhado por um Edward furioso, mas sem nenhuma reação,
pois, no momento a única preocupação era cuidar da vida de Bella.
Ao prosseguir a cena, Victória e Riley chegam à cabana, atacam Edward para
então, tentar destruir Bella. No livro 3, Eclipse (2008, p.386), a cena é contada por
Bella.
Minha morte.
Seu plano era tão óbvio que chegava a ser prático. O louro grandalhão atacaria
Edward. Assim que Edward estivesse suficientemente distraído, Victória acabaria
comigo.
Seria rápido – ela não tinha tempo para joguinhos ali – mas seria fatal.
Seria impossível me recuperar daquilo. Algo que nem o veneno de vampiro podia
reparar.
Ela teria de parar meu coração. Talvez uma das mãos atravessasse meu peito,
esmagando-o. Algo nesse gênero.
Logo, a luta começa. No livro, o leitor fica sem respiração e com vontade de ver
o final o mais rápido possível. Um dos comentários no grupo focal diz respeito aos
leitores da saga lerem as obras com muita rapidez.
No filme, Bella faz memória ao “culto com os lobisomens”, quando a esposa faz
o “sacrifício”, ao perceber que seu marido está sendo morto, de cortar o próprio pulso
para arrancar sangue e distrair o inimigo. Bella ao fazer uso do método distrai Victória,
o que possibilita a Edward dar-lhe o golpe fatal.
Figura 30 - http://www.google.com.br/imgres
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Para o grupo focal a cena é uma das mais lindas. As integrantes perceberam que
ocorreram modificações, mas que garantiram a emoção de todo o público. Algumas
pessoas ainda preferem à emoção sentida no decorrer da leitura.
Com estas cenas em destaques, busquei sinalizar o empenho do grupo focal
CCJ/MT, durante os meses de discussão, de parar diante das cenas prediletas, de buscar
as recordações que, apesar do tempo, reinventaram as emoções, as lágrimas e os risos, o
prazer de assistir e ao mesmo tempo produzir efeitos de sentidos.
Além do mais, pude observar os seus discursos da atenção, da fidelidade, da
admiração incondicional, do imaginário, sem que com isso perdessem o senso crítico.
Ainda cabe indagar: seria uma formação discursiva própria de adolescentes – de
uma cultura juvenil – cujo perfil foi descrito, cujo modo de vida se assemelha?
Continuarei indagando.
Todavia, uma resposta a algumas perguntas que o senso comum dispara:
adolescentes gostam de ler e de escrever? Sim. Aquilo que os encanta.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Sempre em devir
Jovens, culturas, livros, telas e mediações foram vertentes utilizadas para
comportar o desejo de responder aos questionamentos provindos da contemporaneidade,
onde os jovens e adolescentes estão inseridos e da qual se mostra pertinente à busca pela
compreensão de seus artefatos como produção cultural e marca do fenômeno intitulado
de saga Crepúsculo. Utilizamos-as como recurso para entender como, a partir do
consumo e da recepção, as representações midiáticas desencadeadas por vivências
mediadas se articulavam no contexto das culturas juvenis.
Corroborando uma perspectiva comparativa, buscamos o grupo focal como
tentativa de ouvir, compartilhar e acompanhar suas atividades em torno dos lançamentos
referentes à Crepúsculo, bem como novas leituras a partir da saga ou mediada pela
série. Este grupo caracterizou-se de forma diferenciada, sendo que seus componentes, os
sujeitos da pesquisa, assumiram papéis dentro das várias mídias utilizadas que
configuram, também, possibilidades proporcionadas pela interatividade.
As jovens/fãs componentes do grupo focal foram sujeitos-recepetor de modo
simultâneo aos eventos ligados à saga e produtoras das várias discussões no formato de
mídias multimodal, dando a perceber a transmidiação do livro impresso à internet, uma
vez que nenhuma mídia necessariamente dependesse da outra. A saga colaborou no
processo transmidiático e possibilitou as caçadoras de informações o uso do artefato
mediático disponível deste mesmo grupo, diga-se de passagem, que são meninas que
provêm de espaços priviligiados de cultura e outras oportunidades que poucos jovens
têm acesso.
Aceitar tal condição é compreender as juventudes e sua cultura, não segundo um
ponto de vista estereotipado, como um sujeito passivo, mas aceitar as juventudes que
lidam com o que lhe é posto de uma maneira única e criativa, ativamente. Internalizando
e adaptando os sentidos de produtos que circulam em torno de si.
Compreender o fenômeno das juventudes, hoje, requer mais que a compreensão
do ser e a produção nas plataformas comunicacionais. Ser jovem na atualidade está além
de apenas adotar um perfil, compartilhar desmedidamente. Ser jovem é estrapolar em
produtividade, em um processo de interatividade. O ciberespaço, enquanto sede de uma
88
cultura ciber, é espaço potencial para as práticas de jovens/fãs que se organizam em
conglomerados virtuais de culto e devoção, os fandoms.
Esta
organização
dos
jovens/fãs
tem
como
intuito
não
apenas
o
compartilhamento de novidades sobre os ídolos, mas a possibilidade de um espaço onde
se produz. A produção é múltipla. Escrever notícias sobre os assuntos relacionados ao
tema do fandom, organizar galerias de imagens do ídolo, da obra, do personagem
apreciado e, acima de tudo, criar, reinventar.
Sendo assim, o Fandom é espaço no qual a interatividade é mãe de todas as
coisas. No caso da série literária Crepúsculo, a leitura dos livros possibilita o início de
um ciclo interativo sem fim. Um jovem/fã lê, depois escreve algo sobre o que lê e o
apresenta a outros jovens/fãs.
A obra de Stephenie Meyer pode ser um exemplo de que o livro em si não é a
única possibilidade de criação. A história contada inicialmente não se finda em si
mesma. Os fãs são donos de olhares que recontam histórias. Um recontar que vai além
de apenas escrever o que se quer. Um olhar envolto por sentidos. Sentidos buscados
nesta pesquisa.
Os efeitos de sentidos observados são primeiro, os do livro ao filme: se no livro
há um tempo e uma escrita alongada, descrições e narrações demoradas, o filme, por sua
vez, traz na sua sintaxe a rapidez, quase como em videoclipe. Segundo as observações
das adolescentes, nem livro, nem filme são melhores ou piores. Elas consideram que
eles se complementam. Surpreenderam-me que a diferença de idade, entre 10 e 18 anos,
não interferiu nessa conclusão. No que se referem às demais observações, já era de se
esperar que o contexto seja muito parecido: famílias, renda familiar, acesso a bens
culturais etc. Terceiro: a transmídia não para na relação livro-filme, continua na
reescritura, na propagação de suas leituras via internet, na forma cuidadosa como
seguem a saga, não importando através de qual mídia seja. Não há ideias pré-concebidas
quanto à linguagem escrita, não verbal, nem quanto às mídias, hipermídias, veículos e
internet.
A realização deste trabalho me possibilitou enxergar o fenômeno cultural em que
a saga vampiresca Crepúsculo se configurou. Em como qualquer obra artística pode ser
ampliada, não necessariamente por seu autor original, mas por diversos coautores
virtuais que interagem diariamente com a obra. A possibilidade de desvelar a história de
vampiros como um fenômeno cultural, midiático e interativo, asim, indo além de uma
89
imterpretação de mero passatempo para jovens leitores, pode ser citado como um fator
positivo.
As pistas e travessias desta pesquisa convergem para a necessidade de se
continuar debruçado sobre a temática juvenil que concerne às transmídias. Seguindo tal
vertente que é um devir, e ao aprofundarmos a compreensão discursiva, os estudos,
certamente, serão ampliados. Nos relatos apresentados é tecida uma moldagem ativa da
cultura juvenil, e a narrativa transmidiática, ainda que no aleatório e superficial, é o
pertencimento e o desejo de publicizar o vivido e o produzido a partir da própria
experiência e da vida grupal em constante devir, o modo como os jovens/fãs habitam o
território, agora já desterritorializado e desmaterrializado; porém, cabe ressaltar que a
força coletiva é capaz de tornar visível a memória do grupo e de seus seguidores.
Trata-se, enfim, de vislumbrar, de construir uma proposta de atualização crítica e
reflexiva sobre as complexas condições de vida dos jovens na contemporaneidade e
aprofundar a recepção e o papel deles como atores diante das mídias.
Em devir, ficam outros estudos e outras histórias de vidas e sagas...
90
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http://www.eclipsethemovie.com/
http://www.twilightbrasil.net/
http://twilightportugal.blogs.sapo.pt /
http://crepusculo.blogs.sapo.pt/
http://www.crepusculorpg.com/
http://www.intrinseca.com.br/crepusculo/forum/viewtopic.php?pid=12325
http://crepusculo.telecine.globo.com/
http://crepusculofilmes.blogspot.com/
http://crepusculo.org/
95
ANEXO
GRUPO FOCAL COLÉGIO CORAÇÃO JESUS – SAGA CREPÚSCULO
QUESTIONÁRIO
Nome__________________________________________________________
Idade ____
Sexo
( ) Masculino
( ) Feminino
Endereço Residencial_________________________________________
1- Qual Sua Renda Familiar?
( ) 1 Salário Mínimo
( ) Entre 4 e 6 Mínimos
( ) Entre 1 e 3 Mínimos
( ) Acima de 6 Salários Mínimos
2- Qual Grau de Escolaridade de sua família?
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Fundamental Incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Superior Completo
( ) Ensino Superior Incompleto
96
3- Que Nível de ensino você estuda?
( ) Ensino Fundamental I
( ) Ensino Fundamental II
( ) Ensino Médio
4- Qual outra atividade você participa?
_______________________________________________________________
5- Lida com computador/internet há quanto tempo?
( ) Menos de 1 ano ( ) De 1 a 2 anos ( ) + De 2 anos
6- Tem acesso à internet
( ) Em casa ( ) Em lanhouse
( ) Outro
7- Qual o tempo diário?
( ) 1 hora ( ) Entre 1 e 2 ( ) Entre 2 e 4 ( ) + De 4
8- Que tipo de atividade privilegia?
( ) Correspondência
( ) Sites de relacionamento
( ) Curiosidades em geral
( ) Trabalhos acadêmicos/escolares
( ) Livros
( ) Outros - Quais?
__________________________________________
9- Pertence a alguma comunidade/grupo – Qual/is?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
97
ENTREVISTA
1- Qual sua relação com o uso do computador?
2- Como você vê a transmídiação (do livro para o cinema do cinema para a internet) da
saga Crepúsculo?
3 - Quantos trabalhos você já apresentou? Seria possível falar deles?
5- Que trabalhos você destacaria?
6 - Há algo nos sites, blogs e Twiligth Brasil que você modificaria? Por Quê?
7- Gostaria de tecer outros comentários?