António Carreto Fidalgo - Universidade da Beira Interior
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António Carreto Fidalgo - Universidade da Beira Interior
Universidade da Beira Interior UBI UM NOVO PATAMAR PROGRAMA DE ACÇÃO PARA 2009‐2013 Candidatura a Reitor de António Carreto Fidalgo Covilhã e UBI, 28 de Fevereiro de 2009 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo Índice 0‐ Introdução 3 1‐ Onde estamos 4 2‐ Onde queremos chegar 6 3‐ O que devemos fazer 8 3.1‐ Promover um ambiente de estudo 8 3.2‐ Fortalecer a identidade da UBI 10 3.3‐ Garantir as áreas científicas nucleares 14 3.4‐ Investir na pós‐graduação, 2º e 3º ciclos 15 3.5‐ Dinamizar o Instituto Coordenador de Investigação 17 3.6‐ Criar uma equipa reitoral coesa, com uma distribuição clara de tarefas 18 3.7‐ Elaboração atempada dos regulamentos 19 3.8‐ Reforçar o papel do administrador, reorganizar os serviços 20 3.9‐ Cooperação estreita e leal com a AAUBI e o Provedor dos Estudantes 22 3.10‐ Dar o máximo apoio aos Serviços de Acção Social da UBI 23 3.11‐ Empenho no Parkurbis 23 4‐ Como o devemos fazer 25 2 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo Introdução UBI, UM NOVO PATAMAR Um programa de acção requer, antes de mais, que se saiba onde estamos e que determinemos onde queremos chegar. Se não se conhecer a rea‐ lidade de onde partimos, fácil se torna cair em irrealismos, que podem ser muito prejudiciais à instituição. Por outro lado, não menos importante é a definição clara dos objectivos que se pretendem alcançar no longo, médio e curto prazo. Sem essa definição corre‐se o risco de cair numa gestão rotineira, de amodorrar no quotidiano e até de desalentar os que tra‐ balham na instituição. Conhecido o ponto de partida e definido o ponto de chegada, trata‐se de elencar e organizar os passos a dar, as medidas a tomar. Ou seja, delinear o caminho, de forma a não se perder no percurso e a não des‐ baratar recursos. Cada passo dado, cada medida tomada, deve ter o seu momento próprio no caminho a percorrer. Tem de haver uma sequência pensada do que se vai fazer; há medidas que têm de ser preparadas; outras medidas que têm de ser ponderadas nas consequências ou efeitos colaterais; e, por fim, tem de haver sempre margem para correcções. O caminho exige ousadia, e sobretudo persistência, mas sem nunca esquecer as devidas cautelas a tomar. Com isto pretendo dizer que ao fazer o caminho há que necessariamente proceder a aferições do rumo tomado. É que medidas tomadas em função de objectivos unânimes podem vir a revelar‐se contraproducentes e então há que corrigi‐las. Não basta dizer o que se vai fazer, também há que dizer como se vai fazer. Há efectivamente grandes diferenças nos modos como se levam coisas a efeito. Entre impor e conseguir consensos no que respeita a medidas a tomar pode significar uma diferença radical e até vital para a saúde de uma instituição. Trabalhar com a participação de todos, cada um assumindo as devidas responsabilidades, será certamente a melhor forma de levar a cabo as acções previstas. Um novo ciclo se abre na vida da UBI. Os novos Estatutos e a alteração do modelo de governação académica a isso obrigam. Não basta, contudo, alterar as formas e manter‐se tudo o mais na mesma. É preciso que o novo ciclo introduza uma mudança de atitude, de mais trabalho, de mais coesão e de mais profissionalismo. O novo reitorado é a oportunidade de a UBI atingir um novo patamar de qualidade académica. 3 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 1‐ Onde estamos 1.1‐ A carta enviada pelo Reitor Santos Silva em 9 de Janeiro de 2009 ao Ministro da Ciência e do Ensino Superior sobre o Orçamento da UBI para 2008/2009, cuja cópia distribuiu gentilmente aos Presidentes das Faculdades em reunião de 29 de Janeiro, traça um quadro preciso do estado da UBI. Dos 6164 alunos matriculados 80% são deslocados e 38% (2300) são bolseiros. Para os 6000 alunos de 1º e 2º ciclos a UBI dispõe apenas de 443 docentes ETI. Em quadros anexos à carta o Reitor mostra como nos últimos anos, em particular de 2006 para cá, o “Orçamento de Estado transferido se tem afastado cada vez mais do cumprimento com as despesas de pessoal”. A UBI dispõe de um financiamento por aluno de 3679 euros “que é dos mais baixos a nível nacional”. A UBI transitou de 2008 para 2009 com um saldo negativo de 1,6 milhões de euros e no orçamento de 2009 faltam cerca de 5 milhões de euros. Mas a carta do Reitor não se limita a expor dificuldades, mostra também o quanto a UBI cresceu, se consolidou e se tornou num importante factor de desen‐ volvimento para a região. De facto, as dificuldades orçamentais que a UBI atravessa, aliás como todo o ensino superior em Portugal, não podem obliterar o enorme sucesso que a UBI constitui. Ao invés de outras universidades, a UBI soube crescer sempre no número de alunos e nas áreas de saber leccionadas. Com as 5 Faculdades cobre as áreas mais relevantes do ensino e da inves‐ tigação universitários e apresenta‐se como uma universidade bem dimen‐ sionada e de configuração harmoniosa. Não existem faculdades de enorme dimensão ao lado de outras de reduzida dimensão. Existe entre elas um bom equilíbrio de número e a sua divisão epistemológica também se apresenta em sintonia com a arquitectura tradicional das áreas univer‐ sitárias, tal como se verifica nas universidades de referência pelo mundo fora. A UBI é uma universidade na acepção plena do termo, tal como este vem sendo cunhado ao longo de 8 séculos de história. A UBI continua a ser a universidade pública mais pequena, com menor número de alunos no Portugal continental, e isso é eo ipso uma fraqueza. A sua voz junto das instâncias ministeriais nunca poderá ter a mesma força que têm as grandes universidades. A sua situação numa região desertificada com apenas 9 deputados (Castelo Branco + Guarda) confere‐ lhe também pouco peso político a nível parlamentar. É verdade que a pequena dimensão possibilitou à UBI uma maleabilidade e capacidade de adaptação invejáveis, nomeadamente na criação e encerramento de 4 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo cursos. Porém, continuar a crescer é de vital importância para a conso‐ lidação institucional e científica. A UBI também tem fragilidades, que não se traduzem em números, e que, em parte, se prendem com as suas origens de politécnico e com a sua juventude. Em certos sectores mais antigos da UBI estabeleceu‐se um clima de falta de exigência, sobretudo no que concerne à investigação, que só aos poucos vai desaparecendo. E também a juventude da UBI explica certas fragilidades, como seja não ter o quadro de catedráticos preenchido sequer a 50%, ou não haver ainda equipas consolidadas de investigação. 1.2‐ A convulsão legislativa que o ensino superior português tem vivido nos últimos anos, nomeadamente a adaptação abrupta a Bolonha e a apli‐ cação do RJIES, bem como a extinção do modelo de avaliação do CNAVES e a criação da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, bem assim como os constrangimentos financeiros a que as universidades e os politécnicos têm sido sujeitos nos últimos anos, em particular o paga‐ mento de 11% para a Caixa Geral de Aposentações, criaram factores de instabilidade e de perturbação ao normal funcionamento académico das instituições. Não será exagerado dizer que o ensino superior tem vivido nos anos mais recentes um autêntico PREC. Ora isso é prejudicial à pros‐ secução dos fins próprios das instituições, o estudo, o ensino e a inves‐ tigação. Por outro lado, ao ciclo de crescimento explosivo da década de 90 em número de alunos, de instituições e de cursos, seguiu‐se na primeira déca‐ da deste século um decréscimo significativo de candidatos ao ensino supe‐ rior, que conduziu ao encerramento de cursos e até de várias instituições privadas. Ou seja, o contexto geral em que a UBI se encontra é o de uma fase longa e perturbada de evolução do ensino superior em Portugal. 1.3‐ Mesmo a nível mundial encontramo‐nos numa fase de mudanças pro‐ fundas no ensino superior. Se neste se jogava e ainda joga uma importante cartada de afirmação nacional, hoje ele representa também uma importantíssima actividade económica à escala mundial. Centenas de milhares de estudantes deslocam‐se hoje por todo o mundo, buscando as melhores universidades e investindo nessa busca enormes recursos financeiros e energias pessoais. A competição por professores e alunos está a deixar de ser simplesmente nacional, para passar a ser inter‐ nacional. Junto à fronteira de Espanha a UBI compete já hoje, sobretudo 5 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo nos doutoramentos, com universidades espanholas como Salamanca e Extremadura. Aqui importa que o fluxo não seja apenas de um sentido só, de Portugal para Espanha, mas que a internacionalização inclua também o sentido de Espanha para Portugal. 2‐ Onde queremos chegar A meta a atingir é a de uma universidade de grande qualidade, com depar‐ tamentos e unidades de investigação reconhecidos e respeitados pelos congéneres nacionais e estrangeiros, com um ensino exigente e uma inquestionável formação cultural, científica e tecnológica dos estudantes. A UBI que pretendemos é uma UBI que seja a primeira escolha de muitos dos melhores alunos de Portugal, do Interior e do Litoral, de alunos com elevadas médias de ingresso. Uma UBI que tenha professores associados e catedráticos de outras universidades portuguesas e estrangeiras a con‐ correr aos seus lugares de professores associados e catedráticos, é, enfim, uma UBI que seja ela mesmo meta para estudantes e professores. Sonhar é fácil e podemos sonhar a UBI como um MIT, ou outra univer‐ sidade de referência mundial, com milhares de milhões de fundos finan‐ ceiros e com prémios Nobel entre os seus professores, mas já não será sonho, antes objectivo bem concreto, adoptar os princípios e as regras seguidos nas melhores universidades: garantir a liberdade de ensinar e investigar, premiar o mérito científico e pedagógico, estabelecer critérios transparentes e públicos de avaliação de alunos e professores, recusar qualquer tipo de paroquialismo e compadrio em concursos e nomeações, combater a endogamia. O que queremos, pois, de forma clara e simples, é uma universidade que paute a sua acção pelos mais elevados critérios de qualidade académica. O significado de mérito e transparência deve ser o mesmo aqui e nessas universidades, pelo que nunca será de admitir que, aplicando as mesmas regras, os resultados de um concurso ou de uma avaliação na UBI sejam diferentes de um concurso ou de uma avaliação realizados lá. Queremos uma universidade que, tirando partido da sua concentração numa pequena cidade, constitua uma comunidade académica, onde físi‐ cos dialoguem com economistas, médicos com filósofos, engenheiros com sociólogos, informáticos com designers. Ou seja, uma universidade onde as diferentes áreas do saber não sejam mónadas isoladas, antes ele‐ mentos de troca e de fertilização de saberes. Há universidades de grande qualidade em pequenas cidades pelo mundo fora, desde as de Tübingen e 6 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo Göttingen na Alemanha às jovens e dinâmicas universidades americanas, onde certas cidades vivem para as universidades que alojam. É em cadi‐ nhos de saber, em ambientes de estudo intenso, que se fundem saberes, se experimentam novas abordagens e se obtêm novas intelecções. Queremos uma universidade que não se feche sobre si mesma, indi‐ ferente à sociedade e ao mundo envolvente, antes uma universidade que seja um factor decisivo de desenvolvimento cultural, social e económico para a região e para o país. Uma universidade que seja capaz de fomentar e alimentar empresas de base tecnológica, de serviços avançados, que seja um pólo de inovação capaz de transformar a Cova da Beira numa região de grande potencial humano, tecnológico e económico. O ensino superior e a investigação científica não podem ser um simples “jogo de pérolas de vidro”, antes veículos de uma cidadania mais perfeita, de uma sociedade mais justa e de uma economia mais próspera. A UBI que pretendemos é uma universidade que promova sem tibieza a formação humana e cultural dos que nela ensinam e aprendem, os incentive na participação cívica, os dote de espírito crítico para des‐ trinçarem o justo do injusto, e os torne cidadãos do mundo. Uma uni‐ versidade que, por o ser na sua acepção mais rica, entenda que é de todo o mundo e que tudo o que no mundo se passa lhe não é estranho, de modo a incutir, expressamente e por osmose, em cada universitário o ensinamento de Terêncio: homo sum; humani nihil a me alienum puto, “sou homem e nada do que é humano considero estranho a mim”. Há quem considere a universidade à maneira do kubrickiano Dr. Stran‐ gelove, lugar de pura pesquisa científica, uma instituição virada apenas para os resultados quantificáveis e comercializáveis, sem preocupações humanísticas. Mas essa não é a universidade que queremos e que os Esta‐ tutos da UBI preconizam ao estabelecer como um dos seus grandes objectivos “contribuir para a compreensão pública das humanidades, das artes, da ciência e da tecnologia, promovendo e organizando acções de apoio à difusão da cultura humanística, artística, científica e tecnológica, e disponibilizando os recursos necessários a esses fins.” Queremos, por fim, uma universidade solidária, desde logo com todos os que nela estudam e trabalham, que acolha em seu seio os mais despro‐ tegidos e lhes dê o apoio social necessário a um bom aproveitamento escolar. Desde sempre as universidades foram um meio privilegiado de ascensão social. No tempo presente, de profunda crise económica, mais pertinente se torna acentuar o eminente papel social e cultural da uni‐ versidade. É obrigação cívica, e até moral, da universidade dar e distribuir, 7 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo por todos os que o desejem, os saberes que ela herdou, que cons‐ tantemente recebe de todo o mundo, e que procura aumentar pela inves‐ tigação. O conhecimento científico é um dos maiores bens que a huma‐ nidade adquiriu ao longo da sua história, um dos instrumentos mais efi‐ cazes para combater a pobreza, e, por isso, nada mais próprio e digno do que a universidade disponibilizar esse bem a toda a sociedade e, em especial, aos mais desfavorecidos. 3‐ O que devemos fazer 3.1‐ Promover um ambiente de estudo A universidade é, antes de tudo o mais, uma comunidade e um lugar de estudo, de professores e alunos. De pouco vale falar de “qualidade” e de “excelência”, ou empregar outros epítetos da moda como “universidade de referência” ou “investigação de ponta”, se não houver, dito de forma chã, estudo. Certas pedagogias e demagogias académicas em moda apoucam o estudo referindo‐se‐lhe como empinanço ou marranço. São tendências infantilizadoras da educação, da universidade e até da sociedade, que pretendem que se pode aprender a brincar, e que tudo pode ter uma versão light. Da minha experiência colhida em universidades estrangeiras (Würzburg, Colónia e Harvard), o que reparei é que a dife‐ rença de base relativamente à UBI é que ali se estuda muito mais. Assim, a medida prioritária e permanente a tomar será a de promover um ambiente de estudo sério, entendendo por estudo a concentração da atenção a matérias científicas por períodos largos de tempo. Pode‐se perguntar como pode o reitor promover um ambiente de estudo quando isso é algo difuso, intangível, difícil de quantificar, e muito mais dependente dos hábitos de trabalho de professores e alunos. Nor‐ malmente evita‐se enfrentar directamente o problema (o pouco estudo), falando do que é tangível, afirmando por exemplo que a UBI tem exce‐ lentes condições de trabalho, bons laboratórios, bibliotecas espaçosas e meios informáticos em abundância. Mas há uma grande diferença entre ter boas condições de estudo e ter um ambiente de estudo. É que se pode estudar pouco, mesmo dispondo das melhores condições, e pode‐se estudar muito, mesmo em deficientes condições. Existem medidas concretas que, a meu ver, contribuem para criar um ambiente de estudo e um clima de exigência. 8 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.1.1‐ Estabelecer um clima de silêncio na Biblioteca Central e na biblioteca da Carpinteira. Reduzir significativamente o número dos com‐ putadores fixos das salas de leitura e configurar os que restarem para que sirvam apenas para pesquisas bibliográficas. Não permitir o trabalho de grupo nas salas de leitura. As bibliotecas constituem espaços privilegiados de estudo ao ofe‐ recerem um ambiente isolado, onde se excluem os factores de dispersão que existem em casa ou noutros lugares, como telefones, televisão, rádio e outras solicitações. Por outro lado, o estudo é contagioso. A melhor forma de um docente ou de um aluno aguentar duas ou três horas seguidas de estudo seguido é fazê‐lo na companhia de colegas, vendo que os outros também ali estão e que também eles estudam. Criar uma disciplina de silêncio e de ambiente de trabalho nas bibliotecas será algo que exigirá ao princípio o empenho dos funcionários da biblioteca, mas, uma vez criado esse ambiente de silêncio (que existe, por exemplo, na biblioteca central da Universidade do Minho, sem con‐ versas, e sem toques e conversas de telemóvel), o ambiente impor‐se‐á por si aos novos utilizadores, como acontece nas boas bibliotecas univer‐ sitárias. Deverá haver um regulamento de frequência das bibliotecas a distribuir por todos os docentes e alunos. O incumprimento das normas estabe‐ lecidas deverá ser penalizado. 3.1.2‐ Criar em cada pólo da universidade uma ou mais salas de estudo, onde os alunos possam estudar em grupo. Deverão ser salas agradáveis, com um mobiliário confortável (mesas, cadeiras e poltronas), aque‐ cimento no Inverno e ar condicionado na Verão. Os docentes que assim o entenderem ou que não disponham de um gabinete individual poderão atender os alunos ali. Serão pois salas com um ambiente mais informal e descontraído que as salas das bibliotecas. Estas salas deverão ser da res‐ ponsabilidade das faculdades e nas regras do seu funcionamento devem ser ouvidos os núcleos de estudantes dos cursos que delas usufruem. 3.1.3‐ Criar um ambiente de respeito pelas aulas que se encontram a decorrer e pedir aos alunos que nos intervalos desfasados de outras salas ao lado não fiquem à conversa nos corredores. Incutir em todos os membros da academia, incluindo os funcionários, que há uma reli‐ giosidade académica que não deve ser perturbada. 3.1.4‐ Colocar na parte exterior de cada sala de aulas o respectivo horário semanal, com a indicação da disciplina e do docente responsável. Não se 9 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo trata de vigiar, mas de esclarecer a quem passa, e esteja interessado, qual a cadeira que está a ser leccionada no momento e qual o nome do docente. Será uma forma simples de os alunos e outros docentes, mesmo de departamentos diferentes, ligarem os nomes às pessoas e, desse modo, conseguir uma maior personalização das relações dentro da uni‐ versidade. O respeito referido no ponto anterior será mais fácil de con‐ seguir, se os ocupantes da sala de aula estiverem identificados e não forem simplesmente anónimos estranhos. 3.1.5‐ Divulgar por todos os interessados, da forma mais simples e mais efectiva possível, o horário de atendimento de todos os professores, com a indicação do local. Na página pessoal de cada docente já constam neste momento as disciplinas que lecciona, bastará acrescentar o horário e as horas de atendimento. 3.1.6‐ Estimular os docentes a disponibilizarem na página pessoal os pro‐ gramas das suas disciplinas, a bibliografia e até textos seus ou outros de domínio público para consulta. Nenhuma disciplina de uma universidade americana de referência é anunciada hoje em dia sem o respectivo Syl‐ labus, que muitas vezes é disponibilizado em formato pdf. É verdade que isso já existe na UBI, na página dos Serviços Académicos. Mas é crucial que a actual esquizofrenia entre a página da UBI, da responsabilidade do Gabinete de Relações Públicas, e a página dos Serviços Académicos, da responsabilidade destes, – como se fossem feudos online – termine de uma vez por todas. 3.1.7‐ Tornar claro a docentes e a alunos que as regras são para cumprir e que, portanto, são de banir situações e despachos de excepção que, por se repetirem todos os anos, se tornam também em norma. Considero que este pequeno conjunto de regras simples e directas em muito contribuirá para promover um ambiente de estudo e de trabalho. A exigência e o rigor do trabalho académico passarão, caso não sejam termos vazios, também pelo respeito e cumprimento destas regras. 3.2 Fortalecer a identidade da UBI A importância das identidades institucionais é cada vez mais realçada nos estudos de caso sobre entidades, organizações e empresas de sucesso. O capital simbólico associado a um brand ou a uma marca é da máxima rele‐ vância para a aceitação e o impacto de um produto, de uma medida ou de uma actividade. Com as universidades passa‐se o mesmo. É verdade que 10 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo neste caso a idade é um factor fulcral e que muitas das identidades e famas universitárias decorrem dos seus séculos de vida, caso de Bolonha, Salamanca, Coimbra e Heidelberg, entre outras. Mas hoje assistimos a jovens e velhas universidades afirmando, de forma muito activa, a sua identidade. Uma das medidas a adoptar nos próximos anos é o fortalecimento da identidade da UBI, começando por dentro, isto é, criando um forte sen‐ timento identitário, de pertença à UBI, de todos os membros da comu‐ nidade académica. Há várias medidas concretas a tomar neste campo, nomeadamente na celebração cíclica dessa pertença. 3.2.1‐ Introduzir a cerimónia da abertura solene do ano lectivo, com cor‐ tejo académico e a culminar na oração de sapiência. Pode haver quem considere tais cerimónias um folclore académico desajustado do tempo; consideração que, em meu entender, representa uma visão extre‐ mamente redutora da importância e do valor das cerimónias. Não há comunidade alguma que se afirme e se reforce sem momentos fortes de celebração da própria identidade, na evocação dos seus princípios orien‐ tadores e nos valores determinantes da sua acção. Na UBI nunca houve uma abertura solene das aulas, mas importa começar. E há cerca de 10 anos que na UBI não se faz uma “oração de sapiência”. No reitorado de Passos Morgado e no 1º mandato de Santos Silva houve orações de sapiência, tendo eu inclusive feito a de 1996, quando se celebrou o 10º aniversário da UBI. Mas nos dois últimos man‐ datos de Santos Silva a “oração de sapiência” desapareceu do programa do dia da Universidade, a única ocasião em que tem lugar um cortejo aca‐ démico na UBI. É certo que o Reitor tem de aproveitar os momentos solenes da academia para se lhe dirigir de viva voz, mas juntar esse dis‐ curso ao discurso do Director Geral do Ensino Superior, que faz a repre‐ sentação do Ministro, é retirar dessa cerimónia o cariz académico que a mesma deveria primeiramente assumir. A “oração de sapiência” é uma celebração da ciência que, parafraseando o grande Unamuno, todos ser‐ vimos dentro da universidade. A coesão da UBI também passa por uma vez no ano a academia se reunir para ouvir a lição de um professor de uma das suas faculdades, em sistema rotativo. 3.2.2‐ Manter a celebração do dia da Universidade, o 30 de Abril, nos moldes actuais, com a distribuição dos prémios de mérito aos estudantes e os prémios de carreira a docentes e funcionários. 11 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.2.3‐ Criar uma cerimónia de atribuição de diplomas no final do ano, em inícios de Junho, com cortejo académico e o envolvimento de toda a comunidades académica. Nessa cerimónia deveriam integrar‐se os douto‐ ramentos honoris causa. As tradicionais cerimónias de commencement, de atribuição dos diplomas, com que as universidades americanas terminam o ano lectivo, têm em Portugal um certo correlato na cerimónia religiosa da bênção das pastas, na medida em que é nessas ocasiões que as famílias dos estu‐ dantes se deslocam às universidades para celebrarem a conclusão do curso. Na UBI, a distribuição dos diplomas é feita no ano a seguir ao da conclusão do curso, num acto sem brilho e que não envolve verda‐ deiramente a comunidade académica, passando mesmo despercebida por esta. Sem pôr em causa a bênção das pastas, cerimónia já arreigada em Por‐ tugal, deverá dignificar‐se ao máximo a cerimónia da atribuição dos diplomas, tornando‐a também numa festa da UBI. Para isso basta que os diplomas de pós‐graduação, nomeadamente os de doutoramento, actualmente atribuídos em 30 de Abril, passem para a cerimónia da con‐ cessão dos graus, e atribuir também na mesma ocasião pelo menos um doutoramento honoris causa. A UBI tem feito escassíssimo uso da concessão de doutoramentos honoris causa quando isso é um instrumento precioso de afirmação iden‐ titária para o interior e para o exterior da instituição. Em 22 anos de exis‐ tência a UBI atribuiu apenas 7 doutoramentos honoris causa, 4 em 1995 ainda com o Reitor Passos Morgado, 1 em 1999, 1 em 2001 e o último em 2002! É uma omissão inexplicável de custos elevados para a imagem da universidade. 3.2.4‐ Organizar regularmente eventos que congreguem a academia, como ciclos de conferências, saraus culturais, momentos musicais, sessões de debate, aproveitando para tal o anfiteatro à entrada da biblioteca central, entre outros espaços propícios para o efeito. Uma universidade é muito mais do que a rotina das aulas e é indesmentível que neste momento a UBI se deixou cair num marasmo de aulas, frequências e exames, sem iniciativas deste tipo. 3.2.5‐ Promover em conjunto com os alunos das residências universitárias programas de palestras e actividades culturais em cada uma delas, dotando‐as de meios, e estimulando os professores da UBI a participarem nessas actividades. 12 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.2.6‐ Rentabilizar os espaços sociais existentes na UBI para promover o associativismo entre docentes e permitir um conhecimento e um convívio dos docentes das diferentes faculdades. A UBI tem excelentes instalações na Casa Melo e Castro e na Quinta da Malufa para aí criar espaços de con‐ fraternização de professores. A utilização de tais instalações é neste momento quase nula, fazendo delas pequenos elefantes brancos. Muitos docentes nem saberão que tais instalações existem. 3.2.7‐ Adjudicar a um privado o merchandising de objectos com a marca da UBI. Com efeito, este sector é importantíssimo na maior parte das uni‐ versidades, constituindo uma fonte de receitas, mas sobretudo reforçando a marca da instituição, vendendo peças de roupa e outros produtos de preço acessível aos estudantes, aos professores e à população em geral. É verdade que a UBI tem à venda em pequenas montras à entrada da universidade no Pólo 1 gravatas, guarda‐chuvas, entre outros objectos, com a marca da UBI. Mas é um modo incipiente, sem ambição e sem profissionalismo de merchandising. Não faltam à UBI excelentes espaços no Pólo I, nomeadamente nos edifícios históricos da Real Fábrica dos Panos, perto do Museu de Lanifícios, para aí alojar e concessionar uma grande loja de produtos com a marca UBI, nomeadamente das suas publi‐ cações! 3.2.8‐ Investir na sigla UBI, tornando‐a uma marca conhecida e reco‐ nhecida em Portugal. Dado que a UBI tem uma designação diferente da cidade onde se encontra implantada, e a noção de Beira Interior é recente e pouco ape‐ lativa, é vital que o nome e a sigla UBI se tornem moeda corrente na sociedade portuguesa, começando por a trabalhar junto dos grandes meios de comunicação. Não é bom para a instituição ora ser tratada por Universidade da Covilhã, ora por Universidade da Beira do Interior. Esta‐ belecer definitivamente a UBI como “nome de guerra” é fundamental num mundo que se rege por marcas. Ainda por cima as iniciais UBI são muito fáceis de dizer e reter em inglês. Para a afirmação da UBI, é necessário tomar todas as medidas capazes de reforçar a identidade da UBI, de levar a que os nela estudam e trabalham a sintam como sua e se orgulhem dela, e de a tornar conhecida ao grande público em Portugal. 13 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.3‐ Garantir as áreas científicas nucleares A Matemática, a Física, a Filosofia são áreas científicas de base, específicas da formação e da investigação universitárias, e absolutamente indispensá‐ veis numa instituição que se assume como universidade em sentido pleno. Pela escassez de candidatos, a UBI perdeu nos últimos anos os cursos de licenciatura em Matemática e Física e arrisca‐se a perder no próximo ano o de Filosofia. As razões da falta de candidatos nestas áreas são de diversa ordem e de âmbito nacional, não afectando apenas a UBI, mas as univer‐ sidades portuguesas em geral. É de temer que, por imposição ministerial e em nome da racionalização de meios, os cursos de licenciatura nessas áreas funcionem daqui em diante apenas nas universidades portuguesas de maior dimensão. O assunto é de monta, não apenas porque a UBI investiu fortemente nessas áreas, tendo neste momento um elevado número de doutores nas áreas de Matemática e de Física e uma unidade de investigação em Filo‐ sofia classificada com Very Good, mas porque a presença ou ausência desses cursos representará uma divisão entre as universidades que os têm e as que os não têm, com reflexos nos cursos de engenharia. O que dis‐ tingue verdadeiramente uma universidade e um politécnico no ensino superior português é a formação científica de base. Os politécnicos também têm cursos de engenharias, a diferença está na importante dis‐ tinção entre engenharia de projecto e engenharia de execução. A engenharia de projecto requer uma sólida formação matemática e física que só departamentos destas áreas podem garantir. Poder‐se‐á objectar que os Departamentos de Matemática e de Física poderão manter‐se sem cursos próprios, ao assegurar as disciplinas aos cursos de engenharias. Tratar‐se‐ia, porém, de uma objecção míope, pois sem cursos de licenciatura, ficam seriamente comprometidos os cursos de mestrado e de doutoramento, e a UBI deixaria de formar matemáticos, físicos e filósofos. Há dois anos a UBI assumiu o ónus e o investimento de avançar com o curso de licenciatura em matemática sem financiamento ministerial para esses alunos. Foi uma medida acertada que, infelizmente, não teve seguimento em 2008/2009. É aqui que se devem sacrificar os anéis para salvar os dedos. Independentemente de quem for o reitor da UBI, terá de, em cola‐ boração estreita com as faculdades e os departamentos envolvidos, tudo fazer para que os cursos das ciências fundamentais sejam leccionados na 14 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo UBI. Para atrair jovens e dinamizar a procura há muitas iniciativas que podem e devem ser tomadas, nomeadamente visitar escolas secundárias, organizar iniciativas sobre ciência, convidar para elas os jovens das escolas, e fazer um forte marketing desses cursos. 3.4‐ Investir na pós‐graduação, 2º e 3º ciclos. Com o Decreto‐Lei 74/2006, sobre os Graus Académicos e a concretização do Processo de Bolonha, o sistema português de ensino superior sofreu uma profunda alteração, obrigando as instituições a reagirem e a adap‐ tarem‐se ao novo figurino. Tradicionalmente a pós‐graduação em Portugal era reservada à carreira académica. Basta dizer que até aos anos 70 os doutoramentos eram como o culminar de uma carreira docente univer‐ sitária e que os mestrados só foram introduzidos na década de 80. A nova legislação veio obrigar as universidades a seguirem mais de perto o modelo saxónico, privilegiando uma graduação mais curta e estimulando os cursos de pós‐graduação. Nas universidades de referência mundial o número de alunos inscritos em cursos de pós‐graduação aproxima‐se do número dos de graduação, quando não o ultrapassa. Neste campo a UBI tem muito caminho a andar. Houve erros crassos – e alguns mantêm‐se – na política de pós‐graduação da UBI. A universidade lançou os seus primeiros mestrados (os mestrados antes Bolonha) só em 1995, mais de uma década depois de terem começado a funcionar nas universidades do Litoral. Estabeleceu propinas elevadíssimas comparativamente às das universidades antigas, encarando esses cursos mais como um fonte de receitas do que como investimento científico. Ainda hoje as propinas de doutoramento são muito mais ele‐ vadas na UBI do que na Universidade Nova de Lisboa ou na Universidade do Porto, por exemplo. Por outro lado, os estudantes de pós‐graduação nunca tiveram por parte dos Serviços Académicos (SA) o tratamento merecido. Não tinham cartão de estudante, por exemplo, e a especi‐ ficidade da sua formação não era considerada. Os SA emitiam pautas fora do tempo e nos prazos não diferenciavam as avaliações, feitas sobretudo com trabalhos escritos e respectiva discussão, das avaliações feitas na gra‐ duação, à base de frequências e de exames. Pelos preços elevadíssimos cobrados, os estudantes de doutoramento da UBI eram na grande maioria os próprios assistentes que, pela legislação, estavam dispensados do pagamento de propinas. 15 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo É fundamental para a UBI mudar estas práticas, obviamente, mas muito mais importante é mudar o espírito subjacente à política de pós‐ graduação. A captação de alunos para os 2º e 3º ciclos é livre, feita pelas próprias instituições, e tal exige um empenhamento total de toda a instituição, do reitor aos departamentos, para atrair alunos. Felizmente as actuais pro‐ pinas de 2ª ciclo são idênticas às de 1º ciclo e isso permitiu segurar na uni‐ versidade muitos dos seus licenciados pós‐Bolonha. Contudo, os números de admissão em grande parte dos cursos de 2º ciclo continuam muito baixos, alguns não conseguiram mesmo abrir por falta de candidatos, e a situação está muito longe de ser a desejada. Quais os investimentos concretos a fazer na promoção da pós‐ graduação? 3.4.1‐ Introduzir várias épocas de inscrição de alunos de 2º ciclo, divulgar devidamente essas épocas e agilizar o processo de inscrição. 3.4.2‐ Permitir que os alunos se inscrevam online, sem necessidade de se deslocarem à Covilhã. 3.4.3‐ Divulgar no exterior, nomeadamente no Brasil, os cursos de 2º ciclo de modo a multiplicar substancialmente os alunos estrangeiros que nestes últimos dois anos já se inscreveram neles. 3.4.4‐ Estabelecer propinas de 3º ciclo iguais às de 2º ciclo. Para quem achar esta medida exagerada, saiba que a PUC do Rio de Janeiro cobrava em 2008 propinas mensais (sic) de 1.500 reais (perto de 1000 dólares) aos alunos de graduação e isentava os alunos de pós‐graduação de propinas, por considerar que é com os cursos de pós‐graduação que se faz a afir‐ mação científica e se obtém o renome que atrai os estudantes de gra‐ duação. A UBI deve seguir caminho idêntico: se necessário for, financiar a pós‐graduação com a graduação. 3.4.5‐ Isentar de propinas os estudantes de doutoramento que os Depar‐ tamentos proponham para auxiliar na leccionação de disciplinas de gra‐ duação. Há Departamentos com cargas lectivas pesadas, como o Depar‐ tamento de Gestão e Economia, que muito lucrariam com esta medida. 3.4.6‐ Isentar de propinas os alunos de doutoramento que sejam integrados em projectos de investigação avaliados e financiados pela FCT. 3.4.7‐ Anualmente proceder a uma auscultação dos alunos de douto‐ ramento sobre o grau de satisfação com os SA e ponderar as respectivas críticas e sugestões. 16 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.4.8‐ Homologar os regulamentos de 2º ciclo e fazer e homologar os regulamentos de 3º ciclo. Passados anos após a aplicação do Processo de Bolonha na UBI, ainda não temos os seus regulamentos. Situação que só vem confirmar a análise que fiz acima da política errada de pós‐graduação na UBI. 3.5‐ Dinamizar o Instituto Coordenador de Investigação Por força dos Estatutos a UBI dispõe de uma unidade orgânica designada Instituto Coordenador de Investigação (ICI), “na dependência directa do Reitor que nomeia o seu presidente”. Toda a política e acção reitoral na promoção e coordenação da investigação na UBI passa, pois, pelo ICI. As unidades de investigação, avaliadas e financiadas pela FCT, têm uma existência sui generis, para não dizer esdrúxula, dentro das universidades. De algum modo, funcionam à parte da universidade. Isso explica‐se pelo modelo de avaliação e de financiamento iniciado durante o mandato de Mariano Gago, no 1º Governo de António Guterres, quando o Ministério da Ciência tutelava apenas a FCT e as universidades estavam sob alçada do Ministério da Educação. Essa dicotomia inicial prevalece ainda hoje no relacionamento entre as unidades de investigação e as universidades que as acolhem. Pagando as universidades os salários dos docentes, que são também em pessoa os investigadores, não se compreende que pouco ou nada tenham a dizer sobre as unidades de investigação. Esta relação esdrúxula prejudica as universidades mais jovens e de menor dimensão, na medida em que muitos dos seus docentes fazem parte de unidades de investigação residentes nas grandes universidades do Litoral. Ou seja, as pequenas universidades co‐financiam a investigação que é depois asso‐ ciada às universidades grandes. Até agora cada unidade de investigação dentro da UBI nada tinha que reportar às instâncias internas, apenas respondia perante a FCT da qual recebia o financiamento consoante a avaliação feita. Por sua vez, as uni‐ dades também não tinham qualquer representação nos órgãos científicos da UBI. Agora, porém, e por força do RJIES, os novos Estatutos impõem uma aproximação efectiva entre unidades de investigação e conselhos científicos das faculdades. Trata‐se de inserir as unidades de investigação na estrutura da UBI e de as transformar no fermento de investigação a levedar toda a vida universitária. 17 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.5.1‐ Como as outras unidades orgânicas, o ICI deve dispor de orçamento próprio, a fim de financiar estratégias e medidas i) de fomento de novas unidades e ii) de reorganização e reforço das existentes. 3.5.2‐ O ICI deverá fornecer às unidades existentes e a constituir meios logísticos de apoio e de aconselhamento, recorrendo para tal, e sempre que aconselhável, a painéis de avaliação nacionais e internacionais. 3.5.3‐ O ICI promoverá e apoiará a candidatura das unidades de inves‐ tigação da UBI a concursos nacionais e europeus, levando à prática uma das recomendações da avaliação recente da European University Asso‐ ciation. 3.5.4‐ Caberá ao ICI promover acções concertadas de colaboração das unidades de investigação entre si e fomentar parcerias com outras uni‐ dades de investigação nacionais e estrangeiras. 3.5.5‐ Compete‐lhe ainda intervir extraordinariamente na vida das uni‐ dades de investigação, a pedido destas ou por decisão do Conselho Cien‐ tífico do ICI, de forma a dirimir conflitos internos ou a corrigir estratégias e procedimentos. 3.6‐ Criar uma equipa reitoral coesa, com uma distribuição clara de tarefas O reitor necessita de colaboradores próximos para liderar a universidade na multiplicidade e diversidade de áreas e tarefas da governação. Vice‐ reitores e pró‐reitores deverão constituir uma equipa coesa, trabalhando no mesmo sentido, concretizando nas suas áreas de acção as directrizes programáticas gerais definidas pelo reitor. Tais áreas de acção serão transversais a toda a universidade, e não haverá vice‐reitores para esta ou aquela faculdade. Não é admissível, pois, uma equipa reitoral dividida, nem será tolerado que qualquer membro prossiga objectivos próprios, à revelia do determinado pelo reitor. O reitor fará uma distribuição clara de tarefas, de modo a responsa‐ bilizar cada membro da equipa. Só assim será possível avaliar o desem‐ penho individual de cada vice‐reitor e pró‐reitor. Para isso cada um terá a indispensável autonomia de acção e correspondente delegação de poderes. A competência e a eficiência que o reitor exigirá de vice‐reitores e pró‐reitores estará precisamente em relação directa com a autonomia concedida a cada um deles. 18 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo Por experiência própria e por análise externa do que se tem verificado na última década, creio que, neste capítulo, uma das falhas graves da UBI tem residido na excessiva centralização de tarefas no reitor, na falta de coesão da equipa reitoral, e na indefinição de funções dos vários vice‐ reitores. Sem autonomia de acção e sem definição de tarefas, os vice‐ reitores não passam de secretários bem pagos do reitor. 3.7‐ Elaboração atempada dos regulamentos. O próximo reitor da UBI terá como uma das acções mais urgentes do seu mandato a feitura dos regulamentos que concretizem os novos Estatutos e que promovam a responsabilização de todos os intervenientes nos pro‐ cedimentos e acções regulamentados. Não existe um Estado sem leis, que devem estar acima de todos e valer para todos, e não pode haver uma universidade sem regras claras, uni‐ formes e vinculativas para todos. São os regulamentos, pela objectividade do que determinam e pela universalidade da aplicação, que excluem a arbitrariedade processual e a anarquia de procedimentos. A UBI, como qualquer instituição plural e complexa, precisa de bons regulamentos, simples e claros na formulação, de modo a que todos os entendam e não dêem margem, por eventual obscuridade e ambiguidade, a feudos de intérpretes encartados. O bom funcionamento da UBI no seu dia a dia exige que todos os envolvidos saibam de antemão, e sem margem para dúvidas, “por que linhas se cosem”. 3.7.1‐ Até ao Verão de 2009 deverão estar feitos os regulamentos das uni‐ dades orgânicas e dos departamentos, a fim de que em Outubro se possam realizar as eleições dos respectivos órgãos. 3.7.2‐ Todos os regulamentos em vigor deverão estar disponíveis online na página da UBI, onde constará o endereço electrónico para onde poderão ser enviados comentários e sugestões. 3.7.3‐ Anualmente o Senado deverá proceder a uma apreciação geral dos regulamentos em vigor na UBI, analisando os comentários e as sugestões referidos no número anterior, propondo eventuais alterações e cor‐ recções. 3.7.4‐ Optar por regulamentos simples, gerais e sucintos, sem a pretensão de regulamentar ao pormenor casos particulares, mas acreditando que cabe ao bom senso resolver, de acordo e no espírito dos regulamentos, situações imprevistas. 19 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.8‐ Reforçar o papel do administrador, reorganizar os serviços. Provavelmente esta será a área onde a academia mais espera uma acção determinada e rápida do novo reitor. As queixas sobre o funcionamento de alguns serviços, em particular dos Serviços Académicos e dos Serviços Técnicos, são antigas e constantes. Nas avaliações externas dos cursos, recuando mesmo às feitas no último mandato de Passos Morgado – há mais de 13 anos, portanto –, as referências às deficiências dos SA têm sido constantes. O Relatório da Avaliação da European University Association, de Fevereiro de 2009, exprime de algum modo a frustração sentida na academia com o funcionamento dos SA. “(…) the team learnt from students of their uneasy interaction with the academic serv‐ ices. Students complained particularly of long queues resulting from understaffing and of a lack of courtesy displayed by administrative staff. In discussion, both the students and the director of the service recognised that there was room for improvement and for greater mutual understanding. Student recruitment being so important for UBI, the team trusts that this opportunity will be taken to set the relationship of students to the administration on a new footing.”, pode aí ler‐se. Ora sendo o bom funcionamento dos SA tão importante para a captação de novos estudantes, é de certo modo incompreensível não ter havido uma decidida alteração do estado de coisas por parte do reitor. É que os vice‐reitores com o pelouro dos académicos sucederam‐se – eu próprio, depois Mário Raposo e agora Luís Carrilho –, sem conseguirem melhorar significativamente os Serviços Académicos. Caberá ao próximo reitor escolher um novo administrador, pois o último e único que existiu na instituição, o Dr. José Correia Pinheiro, pessoa de bem e ao qual a UBI muito ficou a dever, se aposentou no final de 2008. A escolha do novo administrador é uma ocasião única e imperdível para marcar uma nova era na gestão da universidade. Pela dimensão, pela complexidade e pela magnitude das verbas envolvidas, a UBI precisa de uma gestão profissional. Pela sua formação de base, de professor ou investigador, um reitor não tem de ter conhecimentos téc‐ nicos de gestão; deve ter sim a sensibilidade necessária e suficiente para equacionar os condicionalismos da gestão face aos fins académicos da ins‐ tituição, o ensino e a investigação. Que se espera então do novo administrador da UBI enquanto gestor profissional? que faça a gestão corrente da universidade, nomeadamente a parte burocrática dos serviços, isto é, que assegure o regular funcio‐ namento da máquina administrativa; que mantenha o reitor informado 20 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo sobre a situação económica e financeira da UBI; que elucide o reitor sobre as consequências económicas e financeiras das decisões e dos actos que lhe compete tomar; que o alerte para eventuais situações que possam pôr em perigo o normal funcionamento da instituição; que organize a conta‐ bilidade da UBI por centros de custos (o que ainda não foi feito); que superintenda na gestão dos recursos humanos não‐académicos; que con‐ ceba e ponha em prática uma optimização dos recursos financeiros da UBI; que, numa palavra, tome conta da gestão quotidiana da UBI, que será tanto melhor quanto menos notada for pelos que dela beneficiam, a saber, alunos, professores e funcionários. A gestão feita pelo admi‐ nistrador está ao serviço da missão e dos objectivos que os Estatutos impõem. Ao reitor caberá avaliar a gestão à luz das políticas por si tra‐ çadas para cumprir essa missão e alcançar esses objectivos. A reorganização dos Serviços Académicos é uma exigência urgente. Para a sua reorganização deverão ser tomados em conta os seguintes prin‐ cípios, que são certamente uma evidência, mas que alunos e professores da UBI, por experiência própria, gostarão de ver “escritos em letra de forma” no programa de acção de qualquer candidatura a reitor: i) Os SA servem a UBI, em particular os alunos e professores no pro‐ cesso de ensino/aprendizagem. Parafraseando o Cristo, os SA foram feitos para alunos e professores e não estes para os SA. ii) É obrigação dos SA facilitarem a vida a alunos e professores e não complicá‐la com um rol de exigências burocráticas, muitas vezes sem sen‐ tido algum. Os novos Estatutos da UBI abrem uma porta à reorganização dos Serviços Académicos, recentrando‐os na sua função essencial, a saber, a de orga‐ nizarem competentemente e atempadamente os processos dos alunos, pautas de disciplinas e lançamento de notas. Com efeito, os Estatutos de 1989, no Artigo 48º, dedicavam nada menos do que uma página inteira (320 palavras!) à organização e atribuições dos SA. Os novos Estatutos são omissos quanto à organização e atribuições dos SA. O novo reitor terá assim toda a margem de manobra para os reestruturar e recentrar nas funções essenciais e libertá‐los de funções que não devem ter. Não se compreende, por exemplo, que actualmente, e por força dos regu‐ lamentos, o Director dos Serviços Académicos seja o secretário do Con‐ selho Pedagógico da UBI e dos Conselhos Pedagógicos das cinco Faculdades! Também não se compreende que até agora o Director dos SA 21 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo tivesse tido um papel preponderante na proposta e feitura de regu‐ lamentos para os órgãos científicos e pedagógicos, entre outros. O Vice‐reitor para os assuntos académicos será encarregado de, logo após a sua tomada de posse, coligir e analisar a informação sobre os SA de outras universidades, em particular daquelas cujos SA se tenham des‐ tacado pela sua eficiência, e de apresentar uma proposta de rees‐ truturação dos SA da UBI, que o reitor levará a discussão no Senado. A reestruturação será feita sem atropelos, mas será feita de forma decidida e cabal. Idênticas medidas serão tomadas para os outros serviços da UBI, nomeadamente os Serviços Técnicos. Neste caso particular caberá ao Administrador da UBI apresentar ao Reitor uma proposta de reorga‐ nização dos mesmos. Os funcionários dos diferentes serviços terão oportunidade de fazerem ouvir a sua voz na reestruturação e funcionamento dos serviços que integram. O brio profissional do eficaz cumprimento das tarefas será, sem dúvida, o melhor incentivo para a sua adesão às reestruturações neces‐ sárias. 3.9‐ Cooperação estreita e leal com a AAUBI e o Provedor dos Estudantes. O Reitor reconhece na AAUBI o legítimo representante dos estudantes da UBI e reunirá regularmente com a AAUBI para troca de informações e dis‐ cussão de todas as medidas que afectem directamente os estudantes. Os estudantes são a razão de ser da UBI e à AAUBI competirá exprimir, e fazer valer, o sentir e a opinião dos estudantes. Quanto ao Provedor dos Estudantes, eleito pelo Conselho Geral, o Reitor reconhece a dignidade estatutária de que o cargo se reveste e respeita a sua independência. O Reitor garantirá a liberdade de acção do Provedor, nomeadamente o acesso a toda a informação necessária para um efectivo exercício das suas funções. E ainda, consciente de que a função do Pro‐ vedor dos Estudantes em muito contribuirá para um funcionamento har‐ monioso da UBI, o Reitor assegurará que as suas recomendações serão devidamente tidas em conta pelos órgãos da UBI, em particular os depar‐ tamentos e serviços a que essas recomendações são dirigidas. 22 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo 3.10‐ Dar o máximo apoio aos Serviços de Acção Social da UBI A UBI é a universidade portuguesa com maior número percentual de alunos bolseiros da acção social (38%), indicador seguro de que uma parte importante da população estudantil provém de extractos sociais desfa‐ vorecidos. Por si só tal facto impõe que a UBI dê o máximo apoio à acção social e tudo faça para que os respectivos serviços prestem um serviço da mais alta qualidade aos alunos, nomeadamente no serviço de refeições nas cantinas, na oferta de alojamento em residências universitárias e na verificação e selecção das candidaturas a bolseiros. O apoio social dado pela UBI aos alunos que dele necessitem não é um favor prestado, antes um dever que tem como contrapartida o direito que os alunos têm a esse apoio e que lhes assiste pela própria Constituição da República. Assim, a UBI elucidará os alunos dos seus direitos sociais e, bem assim, dos critérios que presidem à verificação das condições de can‐ didatura a bolsas. Os critérios de atribuição de bolsas deverão ser claros e simples, abertos ao escrutínio de toda a comunidade académica, de modo a que os alunos possam verificar por si mesmos a sua elegibilidade ou não elegibilidade a uma bolsa da acção social. O Reitor encarará a acção social como área prioritária de actuação, exi‐ gindo das instâncias governamentais próprias a transferência de verbas que cubram as necessidades sociais dos estudantes e destinando, na medida do possível, receitas internas da própria UBI para acudir aos casos de maior necessidade social. Através dos SASUBI, a UBI tudo deve fazer para que nem um dos seus alunos deixe de estudar por falta de apoio social. 3.11‐ Empenho no Parkurbis A Covilhã dispõe de um Parque de Ciência e Tecnologia, o Parkurbis SA, do qual a UBI é accionista fundadora com 1% (25.000 euros). Ligada ao Par‐ kurbis está a Associação Parkurbis Incubação, da qual a UBI é associada com 10% (16.212 euros). Estranhamente a UBI não se encontra repre‐ sentada em nenhum dos órgãos sociais destas estruturas de inovação tec‐ nológica. Na recente avaliação institucional da UBI pela European University Association aparece o reparo de que a relação entre a UBI e o Parkurbis é ténue, abaixo do que ocorre nas universidades europeias ligadas a par‐ ques de ciência e tecnologia. 23 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo “From its discussions with the Faculties, the team drew the conclusion that the link be‐ tween Parkurbis and UBI – in terms of strategic planning, collaborative research, intel‐ lectual property, regional development and knowledge transfer – is more tenuous than would be the case in those European universities which are regarded as having devel‐ oped good practice in the field.” A comissão da EUA conclui que uma cooperação mais estreita da UBI com o Parkurbis traria bons dividendos à universidade. “The team therefore anticipates that closer collaboration will pay dividends, particu‐ larly in respect of regional and international partnerships.” Na preparação deste Programa de Acção tive oportunidade de falar com administradores do Parkurbis que não puderam esconder algum desencanto com o reduzido empenho da universidade. Se é verdade que um Parque de Ciência e Tecnologia não faz sentido se não for dinamizado até à medula pelo fervilhar da investigação universitária, também não é menos verdade que uma universidade que não sabe tirar o máximo pro‐ veito de uma tal estrutura se condena a si mesma à rotineirice académica das velhas universidades, fechadas sobre si e alheias à inovação tecno‐ lógica e empresarial do mundo contemporâneo. Será de toda a conve‐ niência que não se aplique neste caso à UBI o ditado português “dá Deus nozes a quem não tem dentes”. A UBI deve empenhar‐se a fundo no Parkurbis por várias razões: i) A UBI nasceu e cresceu com uma forte vocação tecnológica, sendo a lar‐ guíssima maioria dos seus doutores das áreas de ciência e tecnologia. Faz todo o sentido que a UBI aproveite as estruturas do Parkurbis para dina‐ mizar o seu potencial humano e científico, estimulando‐o à inovação e ao empreendedorismo tecnológico. ii) A UBI encerrou nos últimos anos vários cursos de licenciatura na área das engenharias (Eng. do Papel, Eng. da Gestão e da Produção Industrial, Eng. Mecânica, Eng. Electrotécnica). Para reaver alguns destes cursos será de toda a conveniência estreitar a parceria com o Parkurbis. Os candidatos ao ensino superior são sensíveis ao envolvimento tecnológico e empre‐ sarial das instituições de ensino. iii) O empenho a fundo no Parkurbis concretiza directamente um dos objectivos estatutários da UBI, a saber: “Participar, isoladamente ou através das suas unidades orgânicas, em actividades de ligação à socie‐ dade, tanto de difusão e transferência de conhecimentos, como de valo‐ rização do conhecimento científico.” iv) A dinamização do Parkurbis constitui seguramente um meio privilegi‐ ado para a UBI continuar e desenvolver a tradição industrial da Covilhã. 24 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo É verdade que os constrangimentos orçamentais da UBI aconselharam e aconselham prudência nos compromissos a assumir no Parkurbis. Con‐ tudo, nem só de dinheiro vive o empenho. Este passa sobretudo por um reconhecimento de que o saber universitário é uma poderosa mais valia económica na sociedade actual e futura e que esse saber tem de mer‐ gulhar na realidade empresarial. Um parque de ciência e tecnologia é o terreno propício para que os académicos tentem e se comprometam com a economia, sem medo de perder os pergaminhos. O empenho da UBI no Parkurbis deve significar que os seus docentes devem, pelo menos, tentar a possibilidade de ali participar. 4‐ Como o devemos fazer Há um salto qualitativo a dar no modo de funcionamento da UBI. Podemos falar mesmo da necessidade de uma ruptura do modus ope‐ randi, no sentido que o termo “ruptura” tem na expressão técnica “rup‐ tura epistemológica”. Tal como é necessário romper com o senso comum para chegar ao espírito científico, assim também na UBI é necessário romper com um tipo de funcionamento “pessoalista”, de tipo “familiar” e cozy, que, assentando nos conhecimentos e relações pessoais, cria um ambiente de falta de exigência, de desculpar o que não deve ser des‐ culpado, de esbater a responsabilidade de erros e falhas individuais, diluindo‐os numa assunção difusa pelo colectivo. Este tipo de rela‐ cionamento e funcionamento “pessoalista” compreende‐se pela génese da UBI a partir do pequeno núcleo de actores que se mantém no cerne da instituição desde o início do Instituto Politécnico da Covilhã, na segunda metade da década de 70, passando pela criação do IUBI em 1979 e a pas‐ sagem a universidade em 1986. O novo ciclo da vida da UBI exige um modus operandi profissional, um clima de exigência e responsabilidade, a assunção por cada um das tarefas que lhe competem, com a respectiva recompensa ou eventual pena‐ lização. É preciso que em toda a UBI as tarefas estejam claramente dis‐ tribuídas, de modo a responsabilizar quem falha e a premiar quem cumpre. Ao mesmo tempo que se exige mais profissionalismo para atingir o novo patamar de qualidade académica pretendida, também se requer maior participação de todos. Não pode haver na UBI um espírito de indi‐ ferença dos intervenientes, sejam eles quem forem, alunos, docentes ou 25 CANDIDATURA A REITOR António Carreto Fidalgo funcionários, com a justificação de que “não tenho voz” ou “o que penso não conta”. Todos estão envolvidos na instituição, a qualidade desta depende do trabalho de cada um, da funcionária de limpeza ao reitor. A universidade é, por natureza, uma instituição de partilha de saberes, de troca de ideias, de debate franco e aberto. A UBI será tanto mais viva quanto maior partilha de saberes houver e quanto mais intenso for o debate. Ai da universidade onde haja receio, seja por que motivo for, de expressar ideias, de ir ao debate. A UBI precisa de mais partilha de saber e, sobretudo, precisa de mais debate, de argumentação racional, clara e fundamentada. A mailing list da UBI deve assim ser acessível a todos, ainda que, obviamente, moderada. Mas todos devem poder enviar direc‐ tamente a sua mensagem para lá e assim acederem, sempre que o qui‐ serem, ao espaço público da academia para exprimir as suas ideias. A vivacidade do debate, mesmo a irreverência típica da academia, não deve pôr em causa, em momento algum, o respeito devido aos órgãos. É fundamental que as competências de cada órgão sejam respeitadas, que não haja atropelos de espécie alguma no exercício diferenciado das fun‐ ções. A liberdade académica, que é o substrato da trabalho científico criativo, não é anárquica. Pelo contrário, pressupõe que a cadeia hie‐ rárquica se mantenha e se respeite. Que quem obedeça respeite quem manda, mas também, e sobretudo, que quem manda respeite a quem cabe obedecer. Por fim e para concluir, do que a UBI precisa neste preciso momento, no ano da graça de 2009, é de uma liderança forte, mobilizadora de toda a academia. Não se confunda liderança com boa gestão. Liderança é a capa‐ cidade de mobilizar, no presente, uma comunidade por uma visão do futuro e da indicação clara dos caminhos a lá chegar. Liderança é, também, a capacidade de tomar decisões, de as assumir plenamente, de modo a que a comunidade académica saiba que as coisas vão mudar. Lide‐ rança significa tornar visível que, decididamente, as coisas não vão ficar na mesma, de que há um novo patamar a atingir, e de que, com o trabalho e o empenho de todos, vai mesmo ser atingido. Covilhã, Fevereiro de 2009. 26 António Carreto Fidalgo Data Nasc.: 14/02/1956 ID: 04056392 Filiação: António Moiteiro Fidalgo e Ilda Carreto de Matos Estado Civil: Casado Residente: Rua Dr. Manuel Castro Martins 3‐4ºEsq, 6200‐503 Covilhã Curriculum Vitae elemento da candidatura a reitor da UBI em 2009 Introdução A forma de Curriculum Vitae por que optei não é académica, ou até científica, mas sim vitae, que é dizer de vida. Não será pois uma mera listagem de datas, títulos académicos, bolsas de estudo, instituições frequentadas, cargos e publi‐ cações, antes um relato, de escrita corrida, dando conta de um trajecto: de onde parti, por onde passei, onde cheguei e, sobretudo, de como o fiz. Será um CV original, feito de propósito para o fim que se destina: o de integrar a minha candidatura a reitor da UBI. Creio ser essa a melhor forma de me dar a conhecer ao Conselho Geral da UBI, e de, assim, me submeter ao seu juízo. Será pois um currículo raisonné, onde explicarei passos dados e opções ao longo da vida. Decidi dividir o CV em 5 partes que correspondem a 5 etapas da minha vida; 3 delas antes de chegar à UBI e as duas últimas já na UBI. Esta divisão é feita por critérios que se prendem com a candidatura a reitor. Deixa de fora elementos extremamente importantes para mim, do foro pessoal, mas que, em meu entender, não são relevantes para a candidatura. Fica, todavia, patente que a universidade foi para mim vocação e profissão, no sentido que Max Weber deu ao termo Beruf nos escritos Politik als Beruf e Wissenschaft als Beruf.1 Das uni‐ versidades por onde passei, a UBI foi destino. É verdade que o objectivo deste Currículo é a candidatura a reitor da UBI. Mas o sentido deste Currículo está em revisitar o percurso que tal destino encerra. 1 Traduzidos para português como “A Política como Profissão” e “A Ciência como Profissão”. Curriculum Vitae de António Fidalgo 2 Summarium Vitae 1‐ 1956‐1974. Uma formação no Portugal profundo 1956: infância nas Minas da Panasqueira; 1962: escola primária em Aldeia de João Pires; 1966: Seminário do Fundão; 1971: Seminário da Guarda. 2‐ 1974‐1984. Formação universitária em Portugal e na Alemanha 1974: Trabalhador estudante em Lisboa, Serviço Cívico, militância na JUC; 1978: Bacharelato na Faculdade de Letras, voluntário nos Kibbutzin em Israel; 1979: curso de alemão e inscrição na Universidade de Würzburg, sommelier na Suíça, Magister Artium, bolseiro da Fundação Konrad Adenauer; 1981: leitor eventual na Universidade de Bamberg; 1982: docente temporário na Universidade Católica Portuguesa, Doctor Philosophiae na Universidade de Würzburg. 3‐ 1984‐1991. Docente na Universidade Católica Portuguesa 1984: Assistente na Secção de Lisboa da Faculdade de Filosofia; 1986: trabalho editorial no Círculo de Leitores; 1987: investigador do Husserl Archiv da Uni‐ versidade de Colónia; 1990: doutoramento na Universidade Católica, professor na Faculdade de Teologia; 1986: membro da Assembleia de Freguesia da Sobreda; 1989: membro da Assembleia Municipal de Almada. 4‐ 1991‐1999. Ingresso e afirmação na UBI 1992: Director do Curso de Comunicação Social; 1993: Presidente da Secção Científica de Ciências Sociais e Humanas; 1993: membro da Assembleia Muni‐ cipal de Penamacor; 1995: Professor Associado, Director do CREA, Vice‐Reitor de Passos Morgado, visita ao Japão com Passos Morgado; 1996: Vice‐Reitor de Santos Silva, criação do boletim intra‐universitário Ubiversitas, Director do Mestrado em Comunicação, fundador da Sopcom; 1998: saída de Vice‐Reitor, Visiting Scholar da Universidade de Harvard; 1999: agregação em Ciências da Comunicação, criação da BOCC. 5‐ 1999‐2009. O erguer de uma faculdade e de um centro de investigação 1999: Conferências em Portugal e Espanha, o lançamento de cursos nas áreas de Artes e de Letras; 2000: criação do jornal online Urbi et Orbi, professor cate‐ drático, criação da Faculdade de Artes e Letras, o projecto Akademia; 2002: criação do curso de Cinema, 2003: fundação do LabCom, a aposta no Brasil; 2004: presidência dos congressos internacionais de comunicação, presidência do júri de análise e selecção de bolsas na FCT; 2005: presidência da comissão de avaliação externa dos cursos de comunicação; 2006: a editora online Livros LabCom; 2008: membro da Assembleia Estatutária da UBI; 2009: saída da presi‐ dência da Faculdade de Artes e Letras. Curriculum Vitae de António Fidalgo 3 1‐ 1956‐1974. Uma formação no Portugal profundo. Os primeiros 6 anos nas Minas da Panasqueira, 4 anos na escola primária em Aldeia de João Pires, 5 anos no Seminário do Fundão e 3 anos no da Guarda. 1.1 Nasci em 14 de Fevereiro de 1956, fora da minha terra. Baptizado e natu‐ ralizado em Aldeia de João Pires, pequena aldeia do concelho de Penamacor, de onde são os meus pais, avós e bisavós, nasci nas Minas da Panasqueira onde os meus pais trabalhavam então. Ali vivi até aos seis anos de idade. Com a crise do volfrâmio e consequente leva de despedimentos nas Minas, a pequena família regressou à aldeia de origem em 15 de Setembro de 1962, onde avós, primos e tios me eram desconhecidos. 1.2 A estranheza sentida à chegada foi facilmente superada e foi como que uma iniciação à mobilidade de lugares que veio caracterizar a minha vida. Na aldeia, ainda com uma vida como se fora medieval, com o dia marcado pelo toque dos sinos e o ano pelo ciclo da agricultura, de semear, regar, mondar e colher, passei apenas os quatro anos da escola primária, de 1962 a 1966. Havia lado a lado a escola dos “garotos” e a da “garotas”, com recreios sepa‐ rados por um muro. Da 1ª à 4ª classe éramos metidos todos numa mesma sala e apenas com um professor. O ensino era o tradicional, aplicando‐se‐lhe lite‐ ralmente a descrição feliz de Miguel Torga no Primeiro Dia de A Criação do Mundo. Aprendiam‐se as tabuadas a cantar, “um vezes um, um” e a ler jun‐ tando as letras, tudo à força de reguadas. Meu pai, que nunca entrara numa escola pois começara a guardar gado aos seis anos de idade e só na tropa fizera a 3ª classe, decidiu na minha 4ª classe que deveria preparar‐me para o exame de admissão ao liceu e à escola comercial e industrial. Queria que eu estudasse. Entregou‐me ao Prof. José Candeias que, em Aldeia do Bispo, a aldeia ao lado, tinha uma turma de preparação aos exames de admissão, para onde eu ia logo que terminava a escola normal, e onde ficávamos até à hora da ceia. Ali, o ambiente de exigência era terrível. Um erro de escrita era uma reguada bem dada e a falta de um acento era meia‐ reguada, que, somada a outra, dava uma unidade de nova reguada. No verão de 1966 era o mais novo dos 6 alunos que o professor achou estarem em condições de fazer o exame da 4ª classe na sede do concelho, em Pena‐ macor. Passei, assim como passei também nos exames de admissão ao Liceu de Castelo Branco e à Escola Comercial e Industrial da mesma cidade. Mas nesse Verão fiz também o exame de admissão ao seminário diocesano do Fundão, numa semana de Agosto, de exames, entrevistas e de observação. Fui admitido. Curriculum Vitae de António Fidalgo 4 1.3 Assim, aos dez anos de idade, ingressei no Seminário do Fundão. A disciplina era dura, como nos tempos retratados em Manhã Submersa; mas, ao contrário de Vergílio Ferreira, eu gostei daquela vida completamente dedicada ao estudo e à oração e fui um rapaz feliz. A minha predilecção ia para a matemática, e após um 18 logo no primeiro teste, passei a ser olhado como bom aluno, terminando o 1º ano com distinção. O ensino era o convencional dos seminários, com 5 aulas de latim por semana, de modo que no 3º ano, actual 7º ano, líamos textos selectos de De Senectute, Pro Milone e Contra Verrem de Cícero. A partir do 3º ano (1968‐1969) comecei a receber uma bolsa de estudos do Ins‐ tituto de Obras Sociais, destinada a alunos carenciados e com bom apro‐ veitamento escolar (média final superior a 14), que perdurou até à minha saída em 1974. E também a partir desse ano, com a divisão disciplinar em secção de Letras e de Ciências, se verificou que tinha muito mais jeito para as Ciências do que para as Letras. No Seminário havia um laboratório de física e de química oferecido pela Gulbenkian e coube‐me a mim, no meu ano, ser o preparador das experiências. Terminei o 5º ano (9º) com a classificação de 18 a Físico‐ Química (nota raramente atribuída no seminário). 1.4 Feito o seminário menor do Fundão transitei em 1971, com 15 anos, para o Seminário Maior da Guarda. Se a minha intenção não fosse ser padre, era a altura para sair do seminário, pois que os estudos na Guarda eram apenas da secção de Letras, sem qualquer disciplina de Ciências para onde ia o meu pendor. Mas fiquei e o meu entusiasmo foi para a filosofia. Leccionada pelo Cónego Abranches, doutorado pela Universidade Gregoriana de Roma, a filo‐ sofia ensinada no seminário era pura escolástica, baseada no manual em latim, em dois volumes, de Charles Boyer: Cursus Philosophiae ad Usum Seminarorum. A férrea estrutura conceptual do pensamento tomista foi uma enorme lição e o intenso exercício silogístico dava um traquejo invulgar de raciocínio. Durante o 8º ano de seminário fiz 18 anos e deu‐se o 25 de Abril de 1974. Os ventos que sopraram eram de revolução e, no final do ano, dos 6 alunos que frequentavam o 8º ano saímos 5. Saído do seminário, aproveitei as férias do Verão para me apresentar, na época de Setembro, ao exame do 7º ano do Liceu Nacional de Castelo Branco que absolvi facilmente, fazendo 6 disciplinas, mais uma do que o necessário naquele Curriculum Vitae de António Fidalgo 5 ano em que desaparecera de repente a OPAN2: Português, Filosofia, História, Latim, Grego e Alemão. À guisa de conclusão desta etapa, direi que foi uma formação tradicional, mas muito sólida, que recebi na primeira etapa da minha vida. Muito do que sou radica nestes anos primeiros de formação, e por isso aqui os apresentei. 2‐ 1974‐1984. Formação universitária em Portugal e na Alemanha. Trabalhador estudante em Lisboa, Serviço Cívico, militância na JUC, Bacharelato na Faculdade de Letras, voluntário nos Kibbutzin em Israel, sommelier na Suíça, Magister Artium na Universidade de Würzburg, bolseiro da Konrad Adenauer Stiftung, leitor eventual na Universidade de Bamberg, docente temporário na Universidade Católica Portuguesa, Doctor Philosophiae na Universidade de Würzburg. 2.1 Tinha 18 anos quando, em 21 de Outubro de 1974, rumei a Lisboa para tra‐ balhar na firma Molyslip Portuguesa, sita na Av. do Brasil, nº 5, mesmo junto ao Campo Grande, e me inscrever no Curso de Filosofia da Faculdade de Letras. Na firma de aditivos industriais tinha o vínculo de um trabalhador eventual, sem contrato algum, e ajudava em todos os serviços de escritório, em particular na contabilidade. Ganhava 3 contos mensais, o que à época era bom para um rapaz de 18 anos. E tinha liberdade de horário, fazendo as 38 horas semanais, mas podendo entrar mais cedo, sair mais tarde, e trabalhar aos Sábados. Ali trabalhei quase dois anos e meio, até Fevereiro de 1977. 2.2 As universidades portuguesas ficaram encerradas a novos alunos em 1974‐ 1975 e foi criado o serviço cívico para os candidatos ao ensino superior. Inscrevi‐me nesse serviço que, funcionando pela primeira vez, começou muito tarde e de forma muito desorganizada. Coube‐me prestar serviço social num bairro muito problemático de Lisboa, o Bairro da Boavista, junto ao Estádio Pina Manique. Pouco mais fazíamos do que entreter um grupo de miúdos, de número variável, jogando à bola com eles e organizando visitas a lugares turísticos de Lisboa. Não deixei de trabalhar na Molyslip , donde retirava o meu sustento; conciliei as duas coisas, aproveitando a liberdade do horário e a van‐ tagem do autocarro 50 (Algés‐Moscavide) passar pelo Bairro da Boavista e pela Avenida do Brasil. 2 Organização Política e Administrativa da Nação, disciplina obrigatória no 7º ano dos liceus. Curriculum Vitae de António Fidalgo 6 2.3 Não estava matriculado na universidade em 74‐75, mas dada a proximidade do local de trabalho, fazia a vida social na cidade universitária, tomando as refeições na Cantina Velha, e indo às múltiplas reuniões da Faculdade de Letras, RGAs e AGEs, que o ambiente revolucionário fomentava. Decisivo na adap‐ tação ao meu novo mundo foi a entrada para a JUC – Juventude Universitária Católica. Sábados à tarde tínhamos a missa vespertina e depois íamos jantar, acompanhados pelos assistentes Padres Miguel Ponces de Carvalho, José Luís Seruya e Peter Stilwell. Aí encontrei uma estrutura de referência religiosa, onde à época se discutia apaixonadamente o engagement social e político dos cristãos e havia uma forte inclinação para os partidos da esquerda, MES e PS. Na JUC fiz amizades que ainda hoje perduram. 2.4 Fora da universidade e sobrando‐me o tempo, inscrevi‐me em Março ou Abril de 1975, em horário nocturno, à disciplina de Matemática no Externato Crisfal ao Campo Pequeno. Chegada a época de exames, apresentei‐me no Liceu D. Pedro V para fazer exame de Matemática, o que consegui resvés com um 10. No ano seguinte faria, também com sucesso, o exame de Geografia para o qual me preparei sozinho. É que, em 1976, já a frequentar o 1º ano de filo‐ sofia na Faculdade de Letras, pensei em mudar de curso, para Gestão e Eco‐ nomia, para o que precisava dessas duas disciplinas do 7º ano dos liceus. Con‐ tudo, o estudo da filosofia agarrara‐me e decidi continuar. A minha inclinação ia para a Lógica e assim fiz com M.S. Lourenço as cadeiras anuais de Lógica I e Lógica II, de teor lógico‐matemático. No primeiro ano fizemos cálculo proposicional e terminámos com o 1º Teorema de Gödel, e no segundo ano acabámos a demonstrar o 2º Teorema, o célebre Teorema de Gödel, também conhecido como teorema da incompletude ou da indecidibili‐ dade: “Se Z é consistente, a fórmula bem formada que afirma a consistência de Z, é indemonstrável em Z ou é uma proposição indecidível de Z.” Em finais de Janeiro de 1977 comecei a leccionar Religião e Moral na Escola Industrial Fonseca Benevides, em Alcântara e em Santos o Velho, e deixei o tra‐ balho de escritório na Molyslip Portuguesa. Tinha turmas de jovens dos 12 aos 16 anos, de 7º e de 9º ano, e tive várias direcções de curso. Posso dizer que o ensino me estava na massa do sangue. A frequência da disciplina era voluntária, mas os alunos interessavam‐se pela matéria e vinham às aulas. Apesar da minha relativa juventude, soube criar um clima de respeito mútuo, nunca tendo tido um problema de indisciplina, a qual, à época e numa escola como aquela, era comum. A mudança de emprego foi também positiva para os estudos. Passei a poder frequentar mais as aulas na Universidade e, assim, consegui subir a média, ter‐ minando o bacharelato de filosofia em 1978 com a média final de 15 valores. Curriculum Vitae de António Fidalgo 7 Tão ou mais importante que os estudos universitários para a minha formação humana e cultural foi o ambiente “em brasa”, vivido naqueles anos a seguir à revolução de Abril. Vivendo a expensas próprias e trabalhando num empresa da economia real, não incorri em extremismos políticos e sociais próprios da época, mas pautei a minha vida por regras de equilíbrio e de sensatez. Em 1978 decidi sair do país e partir à aventura para o estrangeiro. Tinha 22 anos e senti ser a altura de fazer algo de novo. Terminar a licenciatura e con‐ tinuar ad aeternum a profissão de professor no secundário não eram pers‐ pectivas que me prendessem ao torrão pátrio. Por outro lado, o ambiente romântico da época, de que o livro de Jack Kerouac Pela Estrada Fora (On the Road) era uma das bandeiras, induzia à aventura, a que, aliás, tinha tomado o gosto em viagens nos anos anteriores. Durante Agosto de 1976 passara 15 dias sozinho em Inglaterra, visitando Londres, Oxford e Cambridge, e em Agosto de 1977 fizera o Interrail pelos países escandinavos, tendo passado o Círculo Polar Árctico e chegado à cidade norueguesa de Narwick. 2.5 Saí de Portugal em 2 de Agosto de 1978, de mochila às costas e com 35 contos em divisas (à altura a Lei Zenha apenas permitia o câmbio de 7 contos!). Rumei à Grécia, onde percorri os locais da cultura grega, Atenas, Creta, o Pelo‐ poneso, Olímpia, Corinto e Delfos. No final de Agosto segui para Istambul, onde fiquei três dias, e depois tomei uma camioneta para Teerão, numa viagem de três dias e tês noites. A ideia de encontrar trabalho, como alguns portugueses faziam, incluindo aquele em cuja casa fiquei, depressa se esboroou na semana que ali passei. Deu‐se o 8 de Setembro de 1978, the black Friday, quando os exércitos do Xá Reza Palehvi mataram centenas de manifestantes no sul da cidade e se agudizou sobremaneira a situação social e política que levaria à saída do Xá e ao regresso do Ayatollah Khomeini. Sem dinheiro suficiente para prosseguir viagem até à Índia, o lugar desejado, refiz o caminho até Atenas e aí tomei o avião para Tel‐Aviv, Israel, em 28 de Setembro de 1978. Fui para o Kibbutz Geva, perto das cidades de Afula e de Nazaré, onde comecei a trabalhar como volunteer, à semelhança do que acon‐ tecia com dezenas de jovens vindos de variadíssimas latitudes, finlandeses, ale‐ mães, neo‐zelandeses, australianos, americanos. Curiosamente eu era o único de uma língua românica. Trabalhava numa fábrica de componentes pneumáticas 6 horas por dia. No Kibbutz era tudo livre, cantina, roupa, bar, pis‐ cina, campos de jogos, e uma excelente biblioteca aberta 24 horas por dia. Recebíamos um pocket money para pequenas despesas extras, para uma saída até à cidade, mas era de facto muito pouco. Nos dois meses que ali permaneci, tive oportunidade de fazer excursões em grupo ao Mar Morto, Massada, Nazaré e Tabor, e saídas individuais a Jerusalém, a Tiberíades e a Cafarnaum. Curriculum Vitae de António Fidalgo 8 No início de Dezembro parti para a península do Sinai que, então, estava sob domínio israelita. Comecei a trabalhar no Moshav Neviot, junto ao Mar Ver‐ melho, na agricultura de flores e de melões. A jorna era longa, mas havia um salário razoável e o meu intento era juntar dinheiro para prosseguir viagem. Nos dois meses que ali passei tive a oportunidade de visitar o Monte Sinai e o Mosteiro de Santa Catarina. 2.6 Em 29 de Janeiro de 1979 voei de Tel‐Aviv para Frankfurt, Alemanha. Decidi que iria aprender alemão para terminar os estudos de filosofia numa uni‐ versidade alemã. Na Universidade de Würzburg, que então celebrava o seu 4º centenário, e que contava na sua história com pensadores e investigadores de tanto relevo como Shelling, Brentano, Röntgen, que ali descobrira os Raios X em 1895, e Virchow, frequentei um curso de alemão para estrangeiros até Junho de 1979. Em Julho e Agosto de 1979 trabalhei como sommelier, empregado de mesa, no Buffet de la Gare de Genève, na Suíça, onde consegui amealhar alguns milhares de francos suíços. Foi com esse dinheiro que, feito com sucesso o exame de língua e admitido como aluno ordinário na Universidade de Würzburg, pude custear o meu primeiro semestre. O ingresso na universidade não teve nada de burocrático. Tinha feito três anos de estudo em Portugal? Pois bem, claro que eram reconhecidos, que continuasse a estudar e procurasse um professor com quem pudesse fazer a dissertação para o Magister Artium. 2.7 Imergi até à medula no mundo de Vorlesungen, Proseminare e Ober‐ seminare. Quão diferente era da universidade portuguesa! Tudo era livre. Desde logo não havia quaisquer disciplinas obrigatórias; no período lectivo ini‐ cial, o mês de Novembro, os alunos iam a esta e aquela aula, a muitas mesmo, para ver os professores e as disciplinas que lhes interessavam ou de que gos‐ tavam. Em Harvard, verifiquei mais tarde, chama‐se a este procedimento “go shopping”. Na verdade, os professores oferecem uma série de cursos, de tipo e temáticas diferentes, como se estivessem num mercado e os alunos escolhem. Só no final desse período de visitas é que acabam por fazer as inscrições às dis‐ ciplinas que efectivamente irão frequentar e onde poderão submeter‐se a ava‐ liação. Nas Vorlesungen (lectures ou lições) o professor lia os seus manuscritos e os estudantes escutavam e tomavam apontamentos; não havia perguntas ou dis‐ cussão. Já os seminários decorriam à volta de uma mesa e eram de participação intensiva dos alunos. Os seminários avançados (Oberseminare) eram priva‐ tissimi, isto é, privadíssimos, na medida em que a inscrição não era livre, mas sujeita a convite ou aceitação do professor. Era no oberseminar que o professor se reunia com os seus doutorandos e mestrandos. Desde cedo liguei‐me ao Curriculum Vitae de António Fidalgo 9 Prof. Rudolf Berlinger, catedrático já jubilado, mas que continuava a leccionar normalmente. Entrei no seu Oberseminar e viria a fazer parte do seu grupo de doutorandos e mestrandos. Nas férias de semestre de 1980, Março e Abril, trabalhei 8 semanas numa fábrica de tapetes em Kitzingen. Foi o meu primeiro contacto com o mundo têxtil. Ganhei o suficiente para custear o meu 2º semestre. E justamente no final deste semestre ganhei uma bolsa do Institut für Begatenförderung3 da Fundação Konrad Adenauer. Foi como bolseiro desta fundação que continuei os estudos e redigi a dissertação “Die Kritik des Thomas von Aquin an dem Metaphysichen Argument des Anselm von Canterbury in Anschluss an ‘Com‐ mentum Sententiarum’” com que obtive em Novembro de 1981 o grau Magister Artium com a classificação de Muito Bom. 2.8 Após a conclusão dos estudos em filosofia, recebi um Lehrauftrag, uma oferta da Universidade de Bamberg para ensinar português a principiantes e a avançados no 1º semestre de 1981/1982. Foi uma tarefa que desempenhei com muito gosto, mas com a consciência de que seria limitada àquele único semestre. É que entretanto recebera uma oferta da Universidade Católica Por‐ tuguesa para ensinar em Lisboa no 2º semestre do mesmo ano lectivo, e que encerrava uma possibilidade bem concreta de ingressar na docência univer‐ sitária em Portugal, que se tornara o meu grande objectivo. Vim para Portugal em Março de 1982 para ensinar na Secção de Lisboa da Faculdade de Filosofia e permaneci até Junho. A vinda para Portugal ocorreu, porém, já sob o signo do provisório. Com efeito, a resposta à candidatura que fizera à Fundação Konrad Adenauer para uma bolsa de doutoramento na área da fenomenologia foi positiva, e, desse modo, regressei à Universidade de Würzburg para me doutorar. 2.9 Sob a orientação des Alten, do “velho” Prof. Berlinger, e da Prof. Wiebke Schrader continuei então os meus estudos em vista ao doutoramento. Desses anos datam as minhas primeiras publicações, em alemão, na Revista Didaskalia da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa: "Die Intransitiv‐ ität der Daseinsanalyse in 'Sein und Zeit'" em 1982 e "Biographie als Anthropo‐ phanie. Über Holderlins 'Tod des Empedokles'" em 1983. Ao mesmo tempo, beneficiava dos seminários sobre múltiplas temáticas, sobretudo políticas, sociais e culturais, que o IBK da Fundação Konrad Adenauer organizava para os seus bolseiros e que me levaram a diversas cidades alemãs. Eram seminários de dois dias a uma semana, onde encontrava bolseiros alemães e estrangeiros 3 “Instituto de Estímulo a Alunos Dotados”. Curriculum Vitae de António Fidalgo 10 vindos de todas as partes da Alemanha. Encontrei jovens que hoje são políticos conhecidos da República Federal da Alemanha. Entreguei a tese de doutoramento Der Übergang zur objektiven Welt. Eine kri‐ tische Erörterung des Problems der Einfühlung bei Edith Stein na data aprazada em finais de 1984, quando já me encontrava em Portugal a leccionar nova‐ mente na Universidade Católica em Lisboa. Fiz o Rigorosum, a defesa pública da tese em 11 de Fevereiro de 1985, para o que me desloquei, de propósito para o efeito, a Würzburg. A classificação foi Summa cum Laude. Da tese de douto‐ ramento resultou anos mais tarde a publicação do artigo "Edith Stein, Theodor Lipps und die Einfühlungsproblematik" na revista mais relevante da fenome‐ nologia a nível mundial Phänomenologische Forschungen 26/27, Studien zur Philosophie von Edith Stein, pp. 90‐106, 1993. 3‐ 1984‐1991. Docente na Universidade Católica Portuguesa Assistente na Secção de Lisboa da Faculdade de Filosofia, trabalho editorial no Círculo de Leitores, investigador do Husserl Archiv da Universidade de Colónia, doutoramento na Universidade Católica, professor na Faculdade de Teologia, membro da Assembleia de Freguesia da Sobreda e da Assembleia Municipal de Almada. 3.1 De acordo com o que ficara combinado em 1982 com o Director da Faculdade de Teologia, Prof. Freitas Ferreira, fui contratado pela UCP como assistente a partir de Outubro de 1984. Era reitor o Prof. Bacelar e Oliveira, padre jesuíta e extraordinário académico, que se mantinha ao leme da insti‐ tuição desde a sua fundação na década de sessenta. Ganhei logo a fama de professor muito exigente, que me acompanharia ao longo da minha vida académica. Não admitia nem conversas fiadas nem des‐ culpas esfarrapadas. As regras e os critérios de avaliação eram os estipulados e havia que os cumprir. Ponto, parágrafo. De mim os alunos também deveriam esperar aulas bem preparadas e imparcialidade na avaliação. Creio ser esta a bitola profissional que tenho sempre seguido como professor. Traduzi então, como apoio às cadeiras que dava sobre filosofia de Kant, a obra de Félix Grayeff Exposição e Interpretação da Filosofia Teórica de Kant, publicada pelas Edições 70 em 1986. 3.2 A Universidade Católica Portuguesa não concedia então o regime de exclu‐ sividade, parte significativa do salário de um docente universitário. Ora, casado, com o nascimento de dois filhos, em 1986 e 1987, procurei receitas adicionais Curriculum Vitae de António Fidalgo 11 ao ordenado de professor. Em 1986 concorri a trabalhos compatíveis com a minha formação no Círculo de Leitores, sendo à altura António Mega Ferreira o responsável editorial. Deram‐me um trabalho para dez meses, no valor de 500 contos, de tradução, selecção e redacção de textos, cujo produto é a obra Cro‐ nologia Enciclopédia do Mundo Moderno, publicada por aquela editora a partir de 1988 em 6 volumes. 3.3 Foi durante o meu primeiro ano lectivo na UCP que defendi o douto‐ ramento na Alemanha. Pela primeira vez na Faculdade de Teologia, que tinha associada a si a Secção de Lisboa da Faculdade de Filosofia, esta sediada em Braga, não houve equivalência automática, o que era habitual, ao grau de dou‐ toramento obtido na Alemanha. Nomeou‐se um júri que, passado cerca de meio ano, já no início do ano lectivo seguinte, 1986‐1987, considerou que as teses de doutoramento na Alemanha correspondiam às recentes teses de mestrado em Portugal, correspondendo o doutoramento português à Habi‐ litation alemã e que, por consequência, não me deu equivalência ao douto‐ ramento. A adversidade serviu‐me de estímulo a preparar logo um programa de inves‐ tigação de uma tese doutoral “à portuguesa”. Pedi ao Prof. Alexandre Morujão, catedrático de Coimbra, membro do meu júri de equivalência e autoridade cimeira na fenomenologia em Portugal, que aceitasse orientar‐me numa inves‐ tigação sobre a fenomenologia de Munique, ao que acedeu. Preparei o projecto de investigação, concorri a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, can‐ didatei‐me ao Husserl Archiv da Universidade de Colónia para me receber com investigador convidado e solicitei à UCP uma licença de doutoramento de dois anos. Com a licença concedida, a bolsa atribuída e a aceitação do Husserl Archiv, rumei de novo à Alemanha para mais uma época de estudo intenso. Havia males (a recusa de equivalência) que vinham por bem (mais tempo de estudo). 3.4 Em Colónia levei durante dois anos uma vida de pleno estudo. Trabalhava a partir das 9 horas numa biblioteca, ou na da Universidade, ou na do Archiv ou na excelente biblioteca da Maternushaus, propriedade da arquidiocese de Colónia e mesmo junto ao apartamento onde vivia. Entrei em contacto com o Prof. Karl Schumman da Universidade de Utrecht, indiscutivelmente a maior autoridade no campo dos estudos da proto‐fenomenologia. Visitei‐o várias vezes para discutir o meu trabalho, o que foi de crucial importância para o sucesso da minha investigação. Schummann viria a fazer parte do júri a que em Junho de 1990 na Universidade Católica submeti a minha tese O Realismo da Fenomenologia de Munique. Curriculum Vitae de António Fidalgo 12 Passei duas temporadas em Munique, na Biblioteca Estatal Bávara, a estudar os manuscritos dos fenomenólogos de Munique e seus precursores, tendo então aprendido a ler o gótico manuscrito. Na minha tese viria a estabelecer a íntima relação entre a psicologia descritiva de Brentano, a teoria da Gestalt de Ehrenfels, a objectologia de Meinong e a nascente fenomenologia de Husserl e de Pfänder. Durante a minha estadia em Colónia fui convidado em Maio de 1988 para me deslocar ao Liechtenstein e a aí proferir uma conferência sobre os fenome‐ nólogos de Munique na International Academy of Philosophy, a primeira insti‐ tuição de ensino superior no principado. O convite partiu de Josef Seifert, o reitor da Academia. Comprei no Verão de 1988 o meu primeiro PC, que muito viria a facilitar a redacção atempada da tese. O que escrevia à mão, durante o dia, reescrevia‐o à noite no computador. Passados dois anos de trabalho na Alemanha, tinha a tese doutoral quase pronta. Terminá‐la‐ia já em Portugal e acabei por a sub‐ meter, em Abril de 1990, à Universidade Católica. Em 25 Junho de 1990 o júri, onde estavam presentes os membros do júri que me recusara a equivalência em 1985, deu‐me a nota máxima, “com louvor e distinção” por unanimidade. Doutorado na Alemanha e doutorado em Portugal, as minhas credenciais aca‐ démicas estavam definitivamente confirmadas. Já em inícios de 1989, ainda antes da conclusão do doutoramento, a Sociedade Científica da Universidade Católica admitira‐me como sócio ordinário. No decorrer da minha estada em Colónia redigi os artigos “A fenomenologia de Munique”, publicado na Revista Portuguesa de Filosofia 44, 1988, e “Pfänders Weg vom Monismus zur Phänomenologie”, a aparecer no livro organizado por Karl Schumman, Categories of Consciousness. The Descriptive Psychology of Ale‐ xander Pfänder, na Kluwer Academic Publishers, mas que, creio, nunca veio a lume. 3.5 Retomei a leccionação em Outubro de 1989 na Universidade Católica. Além das aulas assumi funções nas áreas editoriais, como Administrador da Revista Didaskalia e como Secretário do Conselho de Publicações da Faculdade de Teo‐ logia. 3.6 Por proposta de 21 de Novembro de 1990 da Faculdade e enviada pelo então Reitor da Universidade, D. José da Cruz Policarpo, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, por despacho de 23 de Novembro, deu a autorização e concedeu o “nihil obstat” para a celebração do meu contrato como professor auxiliar na UCP. Celebrado o contrato, comecei a insistir com a Universidade Curriculum Vitae de António Fidalgo 13 para que me fosse concedido o regime de exclusividade, que outros colegas já nessa altura começavam a usufruir. Falei duas vezes com o Reitor D. José Poli‐ carpo e várias vezes com o Director da Faculdade, Prof. Isidro Alves. Muito cla‐ ramente foi‐me dito que a aposta da UCP não era em professores em exclu‐ sividade, mas em professores que combinavam a leccionação em duas ou mais universidades. Sensível à minha situação económica difícil, o Prof. Lúcio Cra‐ veiro da Silva, Director da Faculdade de Filosofia em Braga, ex‐reitor da Uni‐ versidade do Minho, e natural do Tortosendo, aconselhou‐me a dirigir‐me à Universidade da Beira Interior, que procurava doutorados. E foi o que fiz. 3.7 Não posso deixar de referir que nesta etapa da minha vida participei acti‐ vamente na vida autárquica. A freguesia da Caparica dividiu‐se em 1986 em 3 freguesias, Monte da Caparica, Charneca da Caparica e Sobreda da Caparica, onde eu vivia, e houve que realizar eleições para as novas Juntas de Freguesia. Inscrito no PSD desde 1983, encabecei a lista deste partido, ficando na Assembleia de Freguesia. Depois do meu regresso da Alemanha em 1989, fui eleito pela mesma força partidária para a Assembleia Municipal de Almada. 3.8 Em 1991 a tese de doutoramento foi publicada pela Faculdade de Filosofia de Braga sob o mesmo título O Realismo da Fenomenologia de Munique. Nunca compreendi, de facto, uma tese de doutoramento não publicada. Não basta que as provas sejam públicas; é fundamental que o resultado da investigação realizada fique patente a todos e a qualquer um para avaliação própria. Alguns anos mais tarde, em 2000, saiu em Itália, na revista Quaderni de Discipline Filo‐ sofiche, editada pela Kluwer Academic Publishers, num número temático dedicado à fenomenologia de Munique, Il realismo fenomenológico. Sulla filo‐ sofia dei circoli di Mónaco e Gottinga, o meu artigo “L’idea della psicologia pura in Theodor Lipps” (237‐254), que condensa a primeira parte da tese. Entretanto também publicara em 1989 o texto “Dominai a Terra. Que responsabilidade?” em Questão Ética e Fé Cristã II, publicado pela Editorial Verbo. A partir de 1989 e até 1992 colaborei na Enciclopédia de Filosofia LOGOS (5 volumes), também da Editorial Verbo, com as seguintes entradas: Hedwig Conrad‐Martius, Culpa, Max Müller, Necessidade, Alexander Pfänder, Adolf Reinach, Herbert Spie‐ gelber, Wolfgang Stegmüller, Edith Stein, Vivência. Curriculum Vitae de António Fidalgo 14 4‐ 1991‐1999. Ingresso e afirmação na UBI Director do Curso de Comunicação Social, Presidente da Secção Científica de Ciências Sociais e Humanas, membro da Assembleia Municipal de Penamacor, vinda a lume do romance “Joaquim. O último dos profetas”, Professor Asso‐ ciado, Vice‐Reitor de Passos Morgado, Director do CREA, membro do Gabinete de Pós‐Graduação, visita ao Japão com Passos Morgado, Vice‐Reitor de Santos Silva, criação do boletim intra‐universitário Ubiversitas, Director do Mestrado em Comunicação, fundador da Sopcom, saída de Vice‐Reitor, Visiting Scholar da Universidade de Harvard, agregação em Ciências da Comunicação, criação da BOCC. 4.1 Assinei o contrato de Professor Auxiliar com a UBI em 2 de Maio de 1991. Era Presidente do Departamento de Sociologia e Comunicação Social o Prof. José Carlos Venâncio que me distribuiu a leccionação das disciplinas de maior teor filosófico, Semiótica e Epistemologia, no curso de Comunicação Social e, mais tarde, me cometeu a tarefa de dirigir este curso de licenciatura, iniciado em 1989. Sem experiência na área de Comunicação, de imediato estabeleci fortes relações com o Departamento de Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde existia o curso mais antigo do país, com maior número de doutorados e com mais investigação. Organizei logo um ciclo de seis conferências subordinadas ao tema “Episte‐ mologia da Comunicação”, em que participaram entre outros os Professores Adriano Duarte Rodrigues, decano da área em Portugal, Bragança de Miranda e Chaké Matossian. Recorreu‐se ainda ao Prof. Nelson Traquina para leccionar regularmente na UBI disciplinas na área do Jornalismo. Por sua vez, aquele Departamento convidou‐me para eu leccionar um seminário no seu Mestrado de Comunicação, o que fiz entre Outubro de 1992 e Fevereiro de 1993 lec‐ cionando o seminário “Fenomenologia e Comunicação”. Também em Setembro de 1992 arguí a dissertação de mestrado em Comunicação de Maria Lucília Marcos “Lógica da Relação e Contornos do Sentido. Estudo a partir da Pragmática Transcendental de Francis Jacques”. Começo então a ter uma actividade regular de articulista no jornal Notícias da Covilhã, que mais tarde estendi ao Jornal do Fundão, e na imprensa da Asso‐ ciação Académica da UBI. Os assuntos eram, na quase totalidade, relativos à universidade ou à região, como o mostram os dois volumes que os compilam, Ubiversidade. Dispersos sobre a universidade em geral e a UBI em particular, publicado em 1987, e Os Tempos e os Modos da UBI de 2009. Curriculum Vitae de António Fidalgo 15 4.2 Com a feitura dos regulamentos da UBI, em 1993, aplicando os Estatutos de 1989, e a entrada em funcionamento dos órgãos estatutários, sou eleito em Novembro de 1993 presidente da Secção Científica da Unidade Científico‐ Pedagógica de Ciências Sociais e Humanas, membro do Senado e da Assembleia da Universidade. Passo também a ter assento na Comissão Coordenadora do Conselho Científico. Pouco a pouco ia ganhando visibilidade junto da comu‐ nidade académica, não só pela presença nos órgãos de comunicação e dos cargos que exercia, mas também pelo feitio frontal junto das autoridades universitárias, em especial face ao reitor Passos Morgado. 4.3 Quando vim leccionar para a UBI, aluguei casa na freguesia da Capinha, no concelho do Fundão, entre Aldeia de João Pires e a Covilhã. Estava a divorciar‐ me nessa altura, vivia sozinho, e de novo entrei na vida autárquica, desta vez no concelho de Penamacor. Nas eleições autárquicas de 1993 encabecei a lista do PSD à Assembleia Municipal de Penamacor. Ali permaneci como deputado municipal até 1997. Durante este período, o presidente da Assembleia Muni‐ cipal, António José Seguro, convidou o líder histórico do Partido Comunista Por‐ tuguês, Álvaro Cunhal, a visitar o concelho, onde tinha estado preso na 1ª Com‐ panhia Disciplinar do Exército Português em 1939. Associei‐me aos restantes deputados municipais na homenagem prestada e no jantar que se lhe seguiu. No que toca ao meu envolvimento cívico e político, tenho ainda a referir que, nas duas campanhas presidenciais do Prof. Aníbal Cavaco Silva, fui seu man‐ datário concelhio (Penamacor, Covilhã) e membro da respectiva Comissão de Honra. 4.4 No final de 1993 veio a lume o meu romance Joaquim. O último dos pro‐ fetas, publicado pelas Edições Cotovia. Era um livro que começara a escrever em Colónia e que havia terminado já na Capinha. Com ele encerrava de algum modo a reflexão própria a que fora obrigado pela leccionação da cadeira de Teologia Filosófica, ao longo de vários anos, na Universidade Católica. O livro não foi um best‐seller. Encontra‐se hoje disponível em alfarrabistas e online, no projecto Vercial e na minha página pessoal. 4.5 De 4 de Maio a 10 de Julho de 1994 sou formador único na acção de for‐ mação “Linguagem e Argumentação. Questões Aprofundadas de Lógica e Epis‐ temologia” de 66 horas, no âmbito do Programa FOCO, Formação Contínua de Professores. Evoco este curso porque constituiu como que a génese do Curso de Mestrado em Comunicação que se iniciaria no ano seguinte e seria um dos primeiros cursos de mestrado a serem leccionados na UBI. Em 13 de Setembro de 1994 é aberto o concurso para professores associados nas áreas de sociologia e de comunicação. Concorro com um programa sobre a Curriculum Vitae de António Fidalgo 16 disciplina de Semiótica, que viria a dar origem ao livro, publicado na UBI em 1995, Semiótica. A Lógica da Comunicação. Sou seleccionado e em Julho de 1995 assino o contrato como Professor Associado. 4.6 Poucos dias depois de tomar posse como Professor Associado sou nomeado por Despacho Reitoral de 28/07/95, e por conveniência urgente de serviço, Vice‐Reitor, a partir desse mesmo dia, a fim de coadjuvar o Reitor em “assuntos de natureza académica e nas relações com o exterior”. De facto, o Reitor Passos Morgado preparava‐se para passar à reforma no final do ano e desejava alguém que ajudasse à transição para um novo reitor. Não exisitiam ainda os regu‐ lamentos da Assembleia da Universidade e da Eleição do Reitor e coube‐me a mim, conjuntamente com os Drs Salavesa e Carlos Melo Gonçalves, preparar os projectos dos mesmos. Ao mesmo tempo, procedeu a uma remodelação pro‐ funda nas chefias dos Centros Estatutários, nomeando o Prof. José Carlos Venâncio para substituir o Prof. Marques Reigado à frente do CEDR – Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional, e a mim para Director do CREA – Centro de Recursos de Ensino e Aprendizagem. Como Director do CREA procedi a uma reformulação radical do modo de fun‐ cionamento, responsabilizando os funcionários, técnicos superiores e auxiliares, e transformei‐o num verdadeiro centro multimédia. Quando assumi funções havia apenas um velho PC e tudo o resto era analógico. Quando saí, em 1998, já a produção audiovisual era feita digitalmente com hardware e software de ponta. O mais importante, todavia, foi o clima que ali se criou de tanta infor‐ malidade, quanto de trabalho aturado por parte de todos. Dessa época datam vários vídeos documentários sobre a UBI e o Museu de Lanifícios, da autoria da técnica Manuela Penafria, que foram passados várias vezes nos novos canais de televisão, SIC e TVI. Também se produziram vídeos para entidades exteriores. 4.7 Passos Morgado nomeara o Prof. Veiga Simão para presidir ao gabinete de Pós‐Graduação da UBI, com a incumbência de promover cursos de mestrado e de doutoramento. Os dois vice‐reitores à época, Santos Silva e eu próprio, também integravam, enquanto presidentes das Secções Científicas das suas Unidades, esse gabinete. Aí se decide começar os cursos de mestrado, nomea‐ damente os de Gestão, de Ciência e Tecnologia Têxtil e o de Ciências da Comu‐ nicação. 4.8 Em Outubro de 1995 lancei o Mestrado em Ciências da Comunicação, com a colaboração significativa de professores da Universidade Nova de Lisboa, nomeadamente Adriano Duarte Rodrigues, Bragança de Miranda, Pissarra Esteves, Tito Cunha. Considero que foi uma das acções de maior relevância na afirmação estratégica da área de Comunicação na UBI. Não só foi a maneira mais expedita de qualificar jovens assistentes e outros licenciados que viriam a Curriculum Vitae de António Fidalgo 17 integrar o corpo docente (Frederico Lopes, João Carlos Correia, Manuela Penafria, Anabela Gradim, Joaquim Paulo Serra, José António Domingues) numa área científica muito recente em Portugal, como se lançaram as bases para um ambiente de investigação que ainda hoje perdura e de que o LabCom colhe bons frutos. Com efeito, por minha iniciativa, a UBI lançou a colecção Estudos em Comunicação, onde foram publicadas as dissertações de mestrado. Hoje todos esses livros se encontram disponíveis online na Editora LabCom. Mas sobre isso darei detalhes mais à frente, quando falar do LabCom como unidade de investigação. 4.9 A eleição do novo reitor ‐‐ Manuel dos Santos Silva era o único candidato ‐‐ pela Assembleia da Universidade teve lugar no dia 27 de Novembro de 1995. No dia 29 de Novembro, o Reitor Passos Morgado, eu e o Pró‐Reitor Mário Raposo, partimos para o Japão, convidados pela Ryutzu Keisay University, par‐ ceira da UBI, e que celebrava o seu 30º aniversário. Foi‐nos proporcionada uma viagem memorável pelo Japão, com deslocações a Kyoto, Nagasaki e Usuki, sempre acompanhados de um guia, Hino Hirochi, professor daquela uni‐ versidade, estudioso da língua portuguesa, e tradutor da primeira gramática japonesa, redigida pelo jesuíta João Rodrigues em 1620. Regressámos dia 6 de Dezembro a Portugal. 4.10 Santos Silva toma posse como reitor em 19 de Janeiro de 1996 e eu sou nomeado Vice‐reitor, conjuntamente com Luís Carrilho Gonçalves, em 22/01/96. O articulado do Despacho é o mesmo da minha nomeação por Passos Morgado. Continuava, portanto, a “coadjuvar o reitor em assuntos de natureza académica e nas relações com o exterior”. A primeira acção que promovi no reitorado de Santos Silva foi a criação em Fevereiro de um boletim universitário mensal, o Ubiversitas, de que fui director até à minha demissão em Julho de 2008. No primeiro número escrevia eu a jus‐ tificar o boletim: “À beira da celebração do seu décimo aniversário, a UBI é já um mundo de quase cinco mil pessoas. Torna‐se, assim, necessário desenvolver novos meios de comunicação entre todos os que trabalham na UBI. Cada um tem o seu posto de trabalho num depar‐ tamento, num centro ou num serviço, mas é importante que todos saibam o que se passa no todo da universidade. A diversidade dos departamentos só pode fazer‐se na unidade de toda a academia. Por outro lado, a partilha de informação, dar e receber, é uma forma imprescindível de criar uma identidade institucional. Para que todos sintam a universidade como sua, como alma mater, têm que conhecê‐la, saber o que nela se passa.” 4.11 É no decorrer de 1997 que se faz a afirmação do Curso de Comunicação da UBI na área das ciências da Comunicação em Portugal e, porque não dizê‐lo, Curriculum Vitae de António Fidalgo 18 que eu ganho protagonismo junto dos meus pares. Mário Mesquita cria a expressão “o triângulo Lisboa‐Covilhã‐Braga” para se referir aos cursos de refe‐ rência em Portugal. Sou um dos organizadores e vice‐presidente da Conferência Internacional sobre Tecnologias e Mediação, que se realiza de 27 a 29 de Março de 1997 na Culturgest em Lisboa. Faço parte da Comissão Científica do I Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação, “Debater as Ciências da Comu‐ nicação no Espaço Lusófono”, que decorre na Universidade Lusófona em Lisboa em 18 e 19 de Abril do mesmo ano. Aí apresento em sessão plenária a comunicação “A Biblioteca Universal na Sociedade de Informação”. Em Setembro de 1997, volto a participar nos Estudos Gerais da Arrábida, coor‐ denando a sessão temática “O Jornalismo é uma Forma de Conhecimento?” Digo volto, porque em 1996 ali tinha estado para participar numa mesa redonda sobre “Ética, Direito e Deontologia da Comunicação e do Jornalismo” (22‐26 de Julho de 1996). Ainda em 1997, apresento a conferência “Kontext und Referenz. Für eine Pragmatik der Übersetzung” no 9º Simpósio Internacional da Académie du Midi, realizado na Covilhã, entre 19 e 23 de Maio, sobre o tema Translation and Interpretation e participo no ICHIM 97, International Con‐ ference on Hypermedia and Interactivity in Museum, realizado no Museu do Louvre, Paris, entre 1 e 5 de Setembro. Assim, em 4 de Abril de 1997 assumo a vice‐presidência da Comissão Insta‐ ladora da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação e em 29 de Novembro de 1997 torno‐me vogal da Direcção da Associação, designada Sopcom (www.sopcom.pt). Desde então tenho feito sempre parte da Direcção; desde Abril de 2004 como vice‐presidente. 4.12 A minha demissão de Vice‐reitor de Santos Silva é de Julho de 1998, mas a decisão remonta a 1997. Como referi atrás, as minhas funções na reitoria eram coadjuvar o reitor em assuntos de natureza académica e nas relações com o exterior. Ora, a minha posição muito crítica face ao funcionamento dos Serviços Académicos gerava tensões entre mim, o Reitor e o Director dos Serviços, Dr. Carlos Melo Gonçalves. Em reunião de 27 de Maio de 1997, entre o Reitor, os dois Vice‐reitores e o Director dos Serviços Académicos apresentei um plano de reformulação profunda dos Serviços. Como estipulavam os Estatutos da UBI eram de dois tipos as suas competências: 1º Apoio no domínio pedagógico da actividade escolar dos alunos; 2º Apoio à actividade académica dos docentes. Fazia uma análise das diferentes tarefas dos SA e concluía da seguinte forma: i‐ Os SA cumprem um vasto conjunto de funções dentro da Universidade, algumas difíceis de conciliar. ii‐ As exigências colocadas aos SA com o aumento significativo de alunos e docentes foram respondidas com um aumento de trabalho e funcionários. Não houve uma rees‐ truturação. Curriculum Vitae de António Fidalgo 19 iii‐ A modernização dos SA fez‐se sobretudo mediante a utilização de meios infor‐ máticos. Não houve uma modernização em termos de gestão de pessoal. iv‐ Neste momento, os SA têm cinco grandes áreas de actuação: alunos, docentes, apoio ao Conselho Científico e ao Conselho Pedagógico, alunos de pós‐graduação, tra‐ tamento de dados estatísticos. v‐ A reorganização dos SA deverá ser feita tendo em conta a diversidade de tarefas, com a divisão de tarefas pelos funcionários, responsabilizando‐os, e dando aos utentes dos SA uma voz activa na sua reestruturação e funcionamento. Por outro lado, dado que o reitor assumia as funções de presidente do Con‐ selho Científico, bastava o Director dos Serviços Académicos invocar que o assunto era do foro científico e não administrativo, para me ultrapassar e decidir directamente com o reitor. A questão chegou a um ponto que era eu ou o Director dos Serviços Académicos que tinha de ser mudado. Acabei por ser eu. Também nas relações com o exterior, sentia que se passava por cima de mim, não sendo ouvido em iniciativas de divulgação da universidade, nem fazendo parte de comissões constituídas para tratar da imagem externa da UBI. Decidi demitir‐me. Numa reunião havida entre mim e o Reitor Santos Silva no dia 19 de Setembro de 1997, comuniquei‐lhe que me iria demitir de Vice‐Reitor e, de forma a não criar qualquer problema, pediria a minha licença sabática para o ano lectivo seguinte. Sem delongas, contacto instituições nos Estados Unidos para ali passar um ano sabático. Face às respostas positivas, viajo em 15 de Novembro de 1997 para Nova Iorque e, durante uma semana, visito as Universidades de Brown e Har‐ vard, e ainda a DISA (Defense Intelligence Service Agency) em Washington DC, para decidir onde passaria o ano lectivo de 1998‐1999. Acabei por me decidir por Harvard. Em Dezembro submeto o pedido de ano sabático e respectivo plano de trabalhos ao Conselho Científico da UBI, que o aprova, e candidato‐me a bolsas de estudo da FLAD e da FCT, que mas concedem. Obviamente que nos meses de 2008 que antecederam a minha ida para a Amé‐ rica continuei a cumprir os meus deveres de Vice‐reitor, Presidente da Secção Científica de Ciências Sociais e Humanas, Director do CREA, Director do Mestrado em Ciências da Comunicação e de professor. Na última semana de Abril de 1998 viajei pela primeira vez para o Brasil a fim de participar no Painel no II Lusocom, “Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação”, realizado em Aracaju, Sergipe, e onde apresentei a comunicação intitulada “A Comunicação Endereçada”. Começava aí a forte ligação à comunidade científica brasileira que ainda hoje perdura. Quanto a publicações em 1997 e 1998, tenho a referir a entrada “Portugal” in Embree, Lester (org.), Encyclopedia of Phenomenology, Dordrecht: Kluwer Aca‐ demic Publishers, pp. 552‐555; Semiótica: A Lógica da Comunicação (2ª edição), Curriculum Vitae de António Fidalgo 20 Covilhã: Universidade da Beira Interior. Primeiro volume da Série “Estudos em Comunicação”; “A Ética e o off the record” em Brotéria. Cultura e Informação; "Os Meios e os Fins da Comunicação", Prefácio a Manuel José Lopes da Silva, Diagnóstico Sistémico da Sociedade Pós‐Industrial, Cadernos de Comunicação e Linguagens – Nº1 e o livrinho de edição pessoal Ubiversidade. Dispersos sobre a universidade em geral e a UBI em particular, Covilhã. 4.13 Em Cambridge, Massachusetts, consegui um apartamento não muito longe (walking distance) do Harvard Yard e procurei usufruir das possibilidades que a universidade me oferecia como visiting scholar. Sem burocracias, em menos de um quarto de hora, foi‐me dado um cartão de officer que dava acesso aos diversos lugares da universidade: bibliotecas, centro de informática, museus, cantinas, Faculty Club. Durante o primeiro semestre segui alguns cursos de professores de renome mundial, como Robert Nozick, Sheila Benhabib e Noam Chomsky (este no MIT). Mas foi na imensa Widener Library, biblioteca central de Harvard, que passei a maior parte do tempo. Foi‐me atribuída uma mesa de trabalho (carrel desk), junto a uma janela do 3º piso, na secção de comunicação, semiótica e lin‐ guística, e ali passava os meus dias. Escrevi o artigo “Da Semiótica e seu objecto”, publicado no primeiro número da Revista Comunicação e Sociedade, em 1999, e preparei as provas de agregação, que entregaria na UBI em Janeiro de 1999. Ao mesmo tempo ligava‐me à comunidade de estudantes portugueses de pós‐ graduação, que tinha uma forte presença no MIT‐Massachusetts Institute of Techonology. Como durante o tempo que passei na América mantive a crónica semanal que iniciara em Abril de 1997 no Jornal do Fundão sob a rubrica “Corte na Aldeia”,4 e, de algum modo, dava conta do que se passava em Portugal e na América, na crónica de 30 de Outubro de 1998, intitulada “Crónica do Futuro”, dou conta da primeira realização da PAPS ‐ Associação Luso Americana de Pós‐ Graduados. Cito parte dessa crónica: A reunião teve lugar no sábado passado, 24 de Outubro de 1998. O local foi a sala E51‐ 315 do Massachusetts Institute of Technology, Estados Unidos da América. O tema da reunião: “Investir no Futuro. A Colaboração entre a Indústria e as Universidades”. A língua utilizada foi o inglês. Das 100 pessoas presentes à volta de 90 eram portuguesas. Foram oradores entre outros Mariano Gago, Ministro da Ciência do Governo Por‐ tuguês, Ernest Moniz, Subsecretário da Energia da Administração Americana, Charles West, Presidente do MIT, Rui Machete, Presidente da FLAD, David Hart, da Uni‐ 4 As crónicas no JF estão disponíveis em: www.labcom.ubi.pt/~fidalgo/ corte_na_aldeia/ Curriculum Vitae de António Fidalgo 21 versidade de Harvard, Andrew Lippman, Director Adjunto do Media Lab, José Tribolet, do INESC, Manuel Heitor do IST. O encontro foi a primeira realização da PAPS, a Associação Luso Americana de Pós‐ Graduados, que conta já com perto de 200 membros inscritos, dos quais 64 têm o dou‐ toramento e 54 o mestrado. Espalhados pelas universidades americanas estes portu‐ gueses trabalham nas mais diferentes áreas científicas, desde as engenharias de sis‐ temas, mecânica e electrotécnica, à gestão e economia, passando pelo design, arqui‐ tectura, física, química, ciências da comunicação e da educação, medicina e biologia, literatura e teologia. O tema em debate foi a colaboração entre a indústria e as universidades, de como a indústria pode apoiar a investigação feita nas universidades e beneficiar dela. Mas à volta do tópico central outros temas foram tratados, nomeadamente a experiência norte americana neste campo, a importância da ciência para a indústria de um país, o emprego pela indústria de doutorados e mestres. Mas em debate também estava um Portugal novo, muito diferente do Portugal de ele‐ vadíssima taxa de analfabetismo, um Portugal aberto e cosmopolita, muito diferente do Portugal fechado pela censura, um Portugal capaz de enviar jovens para as melhores universidades americanas, muito diferente do Portugal de onde saíram milhares de emigrantes para os empregos pouco qualificados de França e da Ale‐ manha. Obviamente também me dei conta da decisão governamental de criar uma das novas faculdades de ciências da saúde na UBI. Na crónica de 27 de Novembro de 1998, intitulada “O sentido de uma Faculdade”, escrevi que mais do que a criação de uma faculdade era a refundação da UBI: A nova faculdade de ciências da saúde vem para a Universidade da Beira Interior. Assim o decidiu o Governo em 19 de Novembro de 1998. É um momento feliz para a uni‐ versidade, para a cidade da Covilhã e para toda a região. (…) Para a Universidade da Beira Interior é a afirmação e a consolidação definitivas. Sendo a universidade pública mais pequena no continente, desfavorecida em termos de loca‐ lização e de demografia, a UBI ganha com a nova faculdade a massa crítica que lhe faltava. Pelos investimentos e recursos que envolve, pelo significado histórico que tem, pelos saberes que implica, uma faculdade de medicina, não é apenas mais uma faculdade na UBI, mas sim a segunda fundação da Universidade. Curiosamente, a polémica criada à volta da localização da nova faculdade veio beneficiar a UBI que assim obteve um eco público que a mais cara campanha publicitária nunca conseguiria. No final da crónica atribuía o mérito ao Reitor Santos Silva, provando cabalmente que a minha demissão de Vice‐reitor tinha sido pedida sans ran‐ cune: Mesmo as decisões mais sensatas não são possíveis se não houver quem lhes dê suporte. Felizmente a Universidade, a Covilhã, a região, tiveram no Reitor, Professor Curriculum Vitae de António Fidalgo 22 Manuel Santos Silva, um homem que soube e quis agarrar a Faculdade de Ciências da Saúde. Sem nunca procurar as luzes da ribalta, mas com uma persistência extraordinária e um trabalho metódico e insistente, preparou o campo e lançou as sementes. Enquanto outros por esse país fora e mesmo na região falavam e reivin‐ dicavam, ele fazia o que se costuma chamar os trabalhos de casa. Não fora ele, e a decisão não teria sido seguramente a que foi. Em Março de 1999 vim a Portugal para participar no I Congresso Internacional das Ciências da Comunicação, realizado entre 22 e 24 de Março na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, subordinado ao tema “As Ciências da Comu‐ nicação na Viragem do Século”, de que era um dos co‐organizadores. Coordenei também a sessão temática “Comunicação e Novas Tecnologias”, onde apre‐ sentei a comunicação “O Mercado da Informação”. No final desta vinda de pouco mais de um mês a Portugal, fiz na UBI as provas de agregação em Ciências da Comunicação nos dias 22 e 23 de Abril, tendo sido aprovado por unanimidade. Do programa resultou uma nova versão, muito alterada, do Manual de Semiótica Geral, e da lição o artigo “Da Economia e Eficácia dos Signos”, publicado na Revista de Comunicação e Linguagens, 2001, da Uni‐ versidade Nova de Lisboa. Feita a agregação regressei aos Estados Unidos. Foi então que por meu intermédio, e de modo a rentabilizar a minha estada em Harvard, a FLAD con‐ cedeu duas bolsas de estudo de curta duração a dois assistentes de Comu‐ nicação na UBI para se deslocaram a Harvard e fazerem pesquisa naquela uni‐ versidade, João Carlos Correia e Anabela Gradim. Com efeito, durante 1998, antes da minha ida para os Estados Unidos, insisti fortemente com todos os assistentes para se inscreverem em doutoramento, apresentando um projecto de investigação, o que foi conseguido em pleno. Isso foi possível graças aos hábitos de trabalho e ao clima de investigação que se tinha criado ao longo do mestrado, iniciado em 1995. Em Maio de 1999, consciente de que a investigação e o ensino superior, teriam de recorrer fortemente à Internet, criei a BOCC‐‐Biblioteca Online de Ciências da Comunicação. Desde logo, procurei que todos os docentes do Curso de Comunicação disponibilizassem todos os seus textos. Depois fiz convites a colegas de outras universidades em Portugal e no Brasil para enviarem os seus textos. Passei noites a converter para html os textos que me eram enviados. Depressa a BOCC se tornou um dos principais sítios de referência dos estudos de Comunicação no espaço lusófono. Hoje a BOCC é uma instituição, com mir‐ rors em Portugal e no Brasil, e com uma média de visitantes diários que, em tempos de aulas em Portugal e no Brasil, ultrapassa os três mil. Curriculum Vitae de António Fidalgo 23 Ainda durante a minha estada em Harvard, estabeleci contactos com o Wor‐ cester State College, no seguimento dos quais se celebrou em Março de 1999 um protocolo de cooperação e de intercâmbio de docentes e alunos entre a UBI e o WSC. Foi já no âmbito dessa cooperação que um professor do WSC, Carlos Fontes, leccionou na UBI dois módulos intensivos em Produção Audiovisual, um em Março e outro em Junho de 1999. Dois anos mais tarde este professor pas‐ saria um semestre na UBI ao abrigo do programa Fullbright. Tive ainda a oportunidade de, guiado por Nuno Vasconcelos, mestre e dou‐ torando no Media Lab do MIT, fazer em Maio de 1999 uma visita a esse centro de investigação de ponta nas áreas das novas tecnologias da informação e da comunicação. Dali retirei em parte a ideia do LabCom que viria a fundar na UBI. A convite do Centro de Estudos Portugueses da Universidade da Califórnia Santa Bárbara, e financiado pela FLAD, desloquei‐me àquela universidade da costa oeste para ali proferir em 14 de Junho de 1999 uma conferência sobre as novas universidades em Portugal. 5‐ 1999‐2009. O erguer de uma faculdade e de um centro de investigação Conferências em Portugal e Espanha, o lançamento de cursos nas áreas de Artes e de Letras e criação da Faculdade, criação do jornal online Urbi et Orbi, pro‐ fessor catedrático, o projecto Akademia, criação do curso de Cinema, fundação do LabCom, a aposta no Brasil, presidência dos congressos internacionais de comunicação, presidência da comissão de avaliação externa dos cursos de comunicação, presidência do júri de análise e selecção de bolsas na FCT, a edi‐ tora Livros LabCom, cooperação lusófona, saída da presidência da Faculdade de Artes e Letras. 5.1 Regressado dos Estados Unidos tive no final de 1999 uma intensa actividade de conferências em Portugal e Espanha. Em 4 de Outubro apresento a comu‐ nicação “Ensino do Audiovisual na Universidade da Beira Interior” no Seminário Inaugural da Licenciatura em Comunicação Audiovisual na Universidade da Extremadura, Badajoz. De 27 a 30 de Outubro participo no III Lusocom, Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação, na Universidade do Minho, Braga, onde integro o 1º Painel da Sessão Plenária: “Investigação em Comu‐ nicação: Convergências e Desafios”. Em 15 de Dezembro apresento em Cáceres, Espanha, a comunicação “Fazer Televisão no Interior de Portugal” no Seminário “Televisiones y regiones en desarrollo” organizado pela Junta de Extremadura. Mesmo no final do ano, em 29 e 30 de Dezembro, participo no 4º Seminário “ Evolução Tecnológica, Novos Serviços e Futuro do Serviço Público” no painel Curriculum Vitae de António Fidalgo 24 “Evolução e Tendências do Serviço Público de Televisão”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. 5.2 Em 8 de Outubro de 1999 enviei um memorando ao reitor cujo assunto era: “Criação de uma licenciatura em Design Multimédia na UBI e os desen‐ volvimentos estratégico e táctico da UCP de Artes e Letras.” Transcrevo parte da justificação da criação do novo curso: 4‐ A área do audiovisual, nas variadíssimas vertentes do cinema, televisão, informação, cultura, arte e divertimento, constitui já uma das áreas de maior importância eco‐ nómica nos países mais evoluídos. Julga‐se que é uma área estratégica de desen‐ volvimento das instituições de investigação e de ensino superior. A UBI tem, com o curso de Ciências da Comunicação e com o CREA, uma base sólida, científica e tecnológica, para investir neste campo. Neste momento, sobretudo através da parceria com a SIC, a UBI produz e edita mais audiovisual do que, muito prova‐ velmente, qualquer outra universidade portuguesa. 5‐ Mas a área do audiovisual, ela mesma, passa por uma autêntica revolução tecno‐ lógica, que é a digitalização e o mundo das redes informáticas. Os investimentos impressionantes que se têm feito e se vêm fazendo nas áreas das telecomunicações e dos media, com uma crescente convergência entre elas, aconselham a que as actuais iniciativas na criação dos novos cursos tenham em conta essa revolução tecnológica. Muita da edição que se faz no CREA é já digital e todo o desenvolvimento vai nesse sen‐ tido. A recente instalação de um CODEC no CREA, digital e rede, é um indício claro de que qualquer curso a criar na área do audiovisual será feito para uma época do digital e das redes. Daí que o audiovisual a desenvolver deva ser na área do multimédia, entendendo‐se aqui por multimédia as actividades e os produtos de imagem e de som suportados por tecnologias digitais. Finalizava o memorando com a contextualização desta criação no âmbito de uma estratégia mais vasta da criação da Faculdade de Artes e Letras: 8‐ A criação deste curso deveria ser feita no contexto de um Departamento de Comu‐ nicação e Artes. Na Universidade de Aveiro existe um departamento com esta designa‐ ção que engloba os cursos de Novas Tecnologias da Comunicação, Música e Design. Também na Universidade Nova de Lisboa tem havido tentativas para associar o Depar‐ tamento de Ciências da Comunicação ao Departamento de Música e constituírem, no campus da Margem Sul, a Faculdade de Comunicação e Artes. 9‐ A partir da criação do novo curso e concomitante criação do Departamento de Comunicação e Artes, e juntando a criação do novo curso de Estudos Portugueses e Espanhóis na Secção Autónoma de Letras, seria possível arrancar com a UCP de Artes e Letras na UBI. A estes 4 cursos: Ciências da Comunicação, Design Multimédia, Língua e Cultura Portuguesas (Ensino), Estudos Portugueses e Espanhóis, junta‐se então o curso de Música. Trata‐se da evolução mais lógica e também da mais viável do lançamento da nova Unidade Científico‐Pedagógica. Curriculum Vitae de António Fidalgo 25 A par do curso de Design Multimédia criou‐se também, com idêntica estrutura curricular nos dois primeiros anos, o curso de Design Têxtil, e ainda os cursos de Português‐Espanhol e Filosofia. A meta era, de facto, a criação da Faculdade de Artes e Letras. 5.3 Desde 1993 que eu pugnava pela criação da nova Faculdade, que estatu‐ tariamente já existia, pois, no seu artigo 5ª, os Estatutos de 1989 estipulavam: “consideram‐se criadas, desde já, as seguintes Unidades Científico‐Pedagógicas: a) Ciências Exactas; b) Ciências da Engenharia; c) Ciências Sociais e Humanas; d) Ciências Naturais; e) Artes e Letras.” Era porém uma existência de iure, que não de facto. No artigo de 1993 “Da Faculdade de Artes e Letras da UBI” eu escrevia que sem uma faculdade de letras, uma universidade não era apenas incompleta, era imperfeita. Felizmente que com a criação do curso de licenciatura de Língua e Cultura Portuguesa em 1997 e concomitante criação da Secção Autónoma de Letras o primeiro passo da nova Faculdade estava dado. Isso mesmo tive ocasião de afirmar em artigo no Jornal do Fundão de 14 de Maio de 2000, e respondendo ao Presidente do Politécnico de Castelo Branco, Dr. Valter Lemos, que acusava a UBI de duplicar cursos superiores na Beira Interior e de estar a copiar a Escola de Artes Apli‐ cadas do IPC com a criação de Artes e Letras. Ainda no ano de 1996 o Prof. João Malaca Casteleiro, catedrático de Linguística Por‐ tuguesa da Faculdade de Letras de Lisboa e membro da Academia Portuguesa, torna‐se professor visitante da UBI e começa a leccionar em Outubro desse ano a disciplina de Semiologia do Texto no Curso de Ciências da Comunicação. Durante o ano lectivo de 96/97 faz‐se o currículo do curso de licenciatura em Língua e Cultura Portuguesas, cria‐ se no Senado e regista‐se no Ministério. Em Outubro de 1997 entrava em funcio‐ namento o primeiro curso de letras. A nova Faculdade da UBI tornava‐se assim uma realidade pedagógica e científica, ainda que não administrativa. A partir daqui era evi‐ dente que outros cursos desta área científica se seguiriam. (...) Quanto às artes, houve uma estratégica idêntica. A Prof. Clara Meneres, à altura Pre‐ sidente do Conselho Directivo da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, foi contratada para leccionar em 1997 a disciplina de Estética no curso de Ciências da Comunicação. A intenção era clara, com sua ajuda lançar cursos no âmbito das artes. Em Julho de 2000, o Senado criava a nova faculdade e eu fui eleito pelos meus pares presidente da mesma (desde a minha demissão de Vice‐reitor em 1998, não voltei a assumir cargos de nomeação). 5.4 Fundei o Urbi et Orbi. Jornal online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto, http://www.urbi.ubi.pt/000131/index.html, em Janeiro de 2000. Tinha adqui‐ rido a experiência online através da BOCC ‐ Biblioteca Online, e agora desejava sem grandes custos criar um laboratório vivo para os alunos de Jornalismo. O Curriculum Vitae de António Fidalgo 26 meu primeiro editorial, no número 0, dizia claramente ao que vinha e o que pretendia o novo jornal: O jornal Urbi et Orbi é o jornal on‐line do Curso de Ciências da Comunicação da Uni‐ versidade da Beira Interior. Com ele pretende‐se matar dois coelhos com uma só cajadada, ou então juntar o útil ao necessário. Numa época em que a informação domina a sociedade e ganha cada vez mais a forma do digital e do on‐line, o coelho necessário é dotar os alunos de um instrumento para treinarem e desenvolverem as suas competências jornalísticas. O coelho útil é conseguir simultaneamente dotar a UBI de um meio de informação rápido, eficaz e cómodo. Há muita informação dispersa pela universidade, emanada da reitoria, departamentos, centros, serviços, associação de estudantes, que um jornal poderá muito bem organizar e melhor veicular a todos os interessados. A essa informação acresce ainda as notícias relevantes do que se passa na urbe e no orbe. Os princípios e objectivos do Urbi et Orbi estão fixados no seu Estatuto, nomeadamente dar “expressão ao direito de informar e ser informado, promover o intercâmbio de ideias e favorecer o exercício da liberdade crítica”. Objectivos simples, mas não pouco exigentes. Ser‐lhes‐emos fiéis. Não seremos um boletim informativo, não seremos uma folha de propaganda, seremos sim um jornal de informação objectiva e de debate crí‐ tico. O jornal da semana seguinte, o número 1, coincidiu com a tomada de posse de Santos Silva para o segundo mandato de reitor. No editorial eu enunciava os três desafios do novo reitorado: O primeiro desafio são as novas faculdades: Artes e Letras e Ciências da Saúde. Não basta tê‐las no papel dos Estatutos ou do decreto governamental, há que as lançar no terreno e as pôr a funcionar. Os primeiros passos foram já dados com a criação dos novos cursos de licenciatura em Design Multimédia, Design Têxtil e do Vestuário, Estudos de Português/Espanhol e de Português/Inglês, e em áreas da saúde, Análises Clínicas, Radioterapia, Radiologia, e Anatomia Patológica, que a UBI se propõe ministrar em Outubro próximo. As duas novas faculdades significam um novo patamar no desenvolvimento da UBI, que fica muito mais universitária no conjunto dos saberes. O segundo desafio é posto pelo decréscimo crescente dos candidatos ao ensino superior. A taxa de natalidade é o que é, e se hoje as vagas já são muito mais que os candidatos, no futuro os candidatos ainda serão menos. (...) O terceiro desafio é a revisão urgente dos Estatutos e Regulamentos da UBI, como muito bem referiu o Prof. Marques Reigado no seu discurso de Decano na tomada de posse do Reitor. Ambos, Estatutos e Regulamentos, têm um cariz demasiado cen‐ tralista, inadequado à dimensão que a UBI entretanto atingiu. É preciso que faculdades, departamentos e centros ganhem mais autonomia e responsabilidade, nomeadamente em termos de personalidade jurídica, para por si desenvolverem dinâ‐ micas de excelência, sobretudo no que à investigação científica diz respeito. Curriculum Vitae de António Fidalgo 27 A defesa que hoje faço de maior autonomia e responsabilidade para os depar‐ tamentos e centros já a fazia em 2000. 5.5 Concorri ao concurso de professor catedrático de ciências da comunicação, em cujo júri participam todos os catedráticos portugueses da área. Fui selec‐ cionado e a minha nomeação, publicada em DR, data de 8 de Maio de 2000. 5.6 Das minhas actividades de investigação em 2000 merece destaque o pro‐ jecto Akademia – Sistemas de Informação e Novas Formas de Jornalismo (http://www.labcom.pt/akademia/akademia.html). Apresentado em Janeiro de 2000 ao programa Sapiens da FCT, mereceu a aprovação por um júri inter‐ nacional, recebendo um financiamento de 20 mil contos. Iniciado em 5 de Setembro de 2000, o projecto visava investigar por um lado a relação do jor‐ nalismo e das bases de dados e, por outro, a convergência mediática na informação. As minhas comunicações e artigos começaram a centrar‐se nesta área. As publi‐ cações surgem em força em 2003 e falarei à frente delas. Neste ponto, limito‐ me a elencar algumas comunicações: 2000/06/02‐ Participação em mesa redonda no Seminário Internacional sobre Televisão e Audiências, organizado pela Alta Autoridade para Comunicação Social em Lisboa. 2000/11/11‐ Iniciador e participante no 1º Encontro de Órgãos de Comunicação Social da Beira Interior, realizado na Covilhã, e onde participou o Secretario de Estado da Comunicação Social, Dr. Arons de Carvalho. 2000/11/23‐ Conferência sobre Multimédia no 5º Fórum Multimédia. Encontros de Comunicação, realizado no Instituto Português da Juventude em Castelo Branco. 2000/21/01‐ Participação no Colóquio Internacional organizado na cidade da Guarda pelas Universidades Católica Portuguesa e Universidade Pontifícia de Salamanca “A Comunicação Regional e Local no Dealbar do Novo Milénio”. 2001/03/29‐ Participação na mesa sobre “Formar jornalistas no século XXI” No Congresso Internacional sobre Jornalismo e Internet, organizado pelo Instituto de Estudos Jornalísticos da Universidade de Coimbra. 2001/05/09‐ Participação na Sessão Plenária “Redes de Comunicação” no I Con‐ gresso Ibérico de Comunicação, realizado entre 7 e 9 de Maio de 2001 em Málaga, Espanha. Título da comunicação: “Metáfora e realidade ou cooperação e concorrência na rede”. Curriculum Vitae de António Fidalgo 28 2001/10/15‐ Moderador da Mesa Plenária “Tendências e Políticas da Sociedade de Informação”, em que participaram o Secretario de Estado José Magalhães, o Presidente da Impresa, Dr. Pinto Balsemão, e o Prof. António Câmara da UNL, no II Congresso da Sopcom, realizado entre 15 e 17 de Outubro na Fundação Calouste Gulbenkian. 2001/10/30‐ Participante na Mesa Redonda “Mapeamentos da Experiência” na Conferência Internacional sobre a Cultura das Redes”, organizada pelo Centro de Comunicação e Linguagens da UNL na Fundação C. Gulbenkian. Título da comunicação: “Percepção e Experiência na Rede”. 2001/11/12‐ Participante na Mesa Redonda “A Sociedade da Informação e o Multilinguismo” no IV Seminário de Tradução Científica e Técnica, organizado pela Representação da Comissão Europeia em Portugal, em 12‐13 de Novembro de 2001 na Fundação C. Gulbenkian. Título da comunicação: “Pidgin universal versus vernáculos”. 5.7‐ Em finais de Novembro de 2001, o reitor informa‐me de que o Secretário de Estado Pedro Lourtie se manifestara favorável à criação de um curso de licenciatura em Cinema. Com efeito, o curso constava no plano desenvolvi‐ mento da Faculdade de Artes e Letras. A fim de apresentar uma proposta de criação ao Senado da Universidade, desloco‐me, em viatura própria, com os docentes Frederico Lopes e Manuela Penafria, de 10 a 14 de Dezembro, a Espanha a fim de fazermos um périplo pelas escolas de Cinema, Universidad de San Pablo e ECAM em Madrid, ESCAC e Universidad Pompeu Fabra em Bar‐ celona e Faculdade de Belas Artes em Bilbau. Em Janeiro o processo de criação da nova licenciatura estava pronto. Cito parte da justificação: 1‐ O cinema representa na sociedade actual um dos meios mais eficazes da afirmação da identidade nacional, da projecção da língua e da valorização da imagem portuguesa no mundo e do desenvolvimento de uma indústria nacional de conteúdos. 2‐ Na sequência do Mestrado em Ciências da Comunicação foram publicados em 1999 dois livros que assumem carácter pioneiro nos estudos universitários do audiovisual: Manuela Penafria, O Filme Documentário, Lisboa: Edições Cosmos, e Frederico Lopes, Escrita Teleguiada: Guiões para Audiovisuais, Covilhã: UBI. Os dois autores são actualmente docentes no Curso de Ciências da Comunicação da UBI, prevendo‐se para breve a conclusão das respectivas teses de doutoramento na área do cinema. Outros docentes do Departamento de Comunicação e Artes estão a concluir os seus douto‐ ramentos na área da teoria da imagem e estética (Edmundo Cordeiro), da semiótica audiovisual (Eduardo Camilo) e artes gráficas (Jorge Bacelar), tendo alguns destes já entregado as teses. Infelizmente, com a mudança de Governo, o Ministério nesse ano não atribuiu vagas ao curso de licenciatura em Cinema para o ano lectivo de 2002‐2003. O Curriculum Vitae de António Fidalgo 29 Senado da UBI, em reunião de 24 de Julho de 2002 aprovou então, por minha proposta, o seguinte protesto a enviar ao Ministro da tutela. 1‐ Considerando que o Ministério do Ensino Superior e da Ciência não abriu vagas para o ano lectivo de 2002/2003 no Curso de Licenciatura em Cinema, criado em devido tempo pela Universidade da Beira Interior e oportunamente registado no Ministério; 2‐ Considerando que esse facto prejudica gravemente o desenvolvimento da Unidade de Artes e Letras da UBI e constitui um empecilho à criação de um centro de excelência na área do estudo, do ensino e da investigação da imagem nesta universidade; 3‐ Considerando que a não atribuição de vagas a este novo curso representa uma dis‐ criminação relativamente a novos cursos similares em universidades do Litoral, nomea‐ damente os cursos de Artes do Espectáculo na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e de Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; 4‐ Considerando que tal decisão defrauda as enormes expectativas que a nova licen‐ ciatura criou em muitos jovens portugueses que tencionavam candidatar‐se já este ano; 5‐ Considerando ainda que tal decisão é lesiva dos interesses nacionais na medida em que a licenciatura em cinema promoveria a língua e a cultura portuguesas; o Senado da Universidade da Beira Interior, em reunião de 24 de Julho de 2002, lavra o mais vivo protesto pela não atribuição de vagas ao novo curso de Licenciatura em Cinema. O Curso só viria a receber alunos no ano seguinte, em Outubro de 2003, não sem que antes o Ministro Pedro Lynce me tivesse telefonado para a UBI a inquirir pessoalmente das condições de funcionamento do curso, dos objectivos e das garantias de qualidade. Pelos vistos tive o condão de convencer o Sr. Ministro pois as vagas foram concedidas. 5.8 Os resultados do projecto Akademia, referido em 5.6, começaram a surtir bons frutos. Em 2003 publicámos 3 volumes sob a sigla Informação e Comu‐ nicação Online. Faziam‐se também doutoramentos na área. Estávamos em con‐ dições de avançar para uma unidade de investigação reconhecida e avaliada pela FCT. Submetemos a candidatura do LabCom à FCT em Janeiro de 2002 e fomos avaliados pela comissão científica internacional em 2003. Para essa comissão redigi um extenso documento de que cito os parágrafos iniciais. LabCom – Online Communication Lab is a research centre on communication sciences and presented its candidacy to FCT’s evaluation in January of 2002. Actually, we might say LabCom was not founded, it simply grew along between 1999‐2001. Everything started with BOCC – Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (Online Communication Sciences Library). Communication Sciences had a late start in Portugal as an academic field of research and teaching and therefore the bibliographical re‐ sources were very few, and still are. It seemed to us that it would make all the sense to share online the resources we had with all the circa 30 undergraduation programs that were created in the last half of the nineties in the Portuguese universities and polytech‐ nic schools. With financial support by the government, in 2000, two trainees were hired Curriculum Vitae de António Fidalgo 30 and a computer server was bought. In a very short time BOCC became a reference site for the Communication Sciences not just in Portugal, but also in Brazil. Today most of BOCC’s contributors and visitors come from Brazil. A big leap in LabCom’s growth was FCT’s approval in 2000 of the project Akademia – Information Technology and New Types of Online Journalism. Some of the projects and events described in the following were funded by Akademia. Its most significant achievement however was the building of a researchers team whose work has been carried out in academic works as MA and PhD theses, articles, conference attendance and proceedings of meetings. The three volumes Online Information and Communica‐ tion (1 – Online Journalism, 2 – Internet and Promotional Communication, 3 – Online Lebenswelt and Citizenship), organized by António Fidalgo, João Carlos Correia, Paulo Serra and Eduardo Camilo, embodie the research done in LabCom along the last three years. Four researchers finished their PhD: João Carlos Correia Communication and Citi‐ zenship: Media and identities dynamics in pluralistic societies, Paulo Serra (Information and Meaning), Eduardo Camilo (Semiotics of Political Posters in the Portuguese April 74 Revolution), Jorge Bacelar (Fragmented Galaxy: Typographical Analysis) and three re‐ searchers obtained FCT’s PhD scholarships: Anabela Gradim (“The Communicational Dimension of Charles Sanders Peirce Semiotics”), Luís Nogueira (“Languages Metamor‐ phosis and Narrative Challenges arising from New Technologies”) and José Ricardo Car‐ valheiro (“Mediatic Communication: redefining boundaries and cultural identities. Two case studies”). A classificação obtida foi GOOD, a qual, não sendo extraordinária em termos absolutos, foi muito positiva em termos relativos. É que alguns centros do litoral já constituídos receberam FAIR, e apenas houve um centro em Portugal com VERY GOOD. Mesmo assim a classificação soube a pouco, e tudo fizemos para que na avaliação seguinte subíssemos, o que viria a acontecer em 2008. Em 2004 voltei a ter um projecto de investigação aprovado e financiado “Informação e Persuasão na Web”, que terminou em 2008 e cuja execução foi considerada excelente. 5.9 Em Junho de 2003, quatro professores da UBI, Manuela Penafria, João Carlos Correia, Paulo Serra e eu próprio somos seleccionados para o XII Encontro da COMPÓS – a Associação Nacional de Programas de Pós‐graduação em Comunicação em Recife, no Brasil. Com número clausus o encontro anual divide‐se por Grupos Temáticos de apresentação de 10 comunicações, enviadas de antemão aos 10 intervenientes, assumindo cada um destes a função de relator. Durante alguns dias procede‐se à discussão dos trabalhos e no final é votado em cada GT o melhor texto, a fim de integrar o volume a ser impresso. Dois papers da UBI foram os mais votados nos seus grupos de trabalho, um deles sendo o meu, intitulado “Sintaxe e Semântica das Notícias Online. Para um jornalismo assente sobre base de dados.”, publicado em André Lemos et alt., Mídia.br. Livro da XII Compós – 2003; Porto Alegre: Editora Sulina, 2004. Curriculum Vitae de António Fidalgo 31 Os contactos estabelecidos foram cruciais para o aprofundamento de relações que já havia entre o Departamento de Comunicação e Artes e os Depar‐ tamentos congéneres brasileiros. Manuela Penafria dirige com Marcius Freire da UniCamp a Doc‐Online (www.doc.ubi.pt), uma revista online semestral sobre cinema documentário, que já vai no 6º número e se transformou numa refe‐ rência lusófona na área. João Carlos Correia recebeu vários doutorandos “san‐ duíche” do Brasil para temporadas no LabCom. Sob minha orientação duas dou‐ torandas brasileiras, Adriana Braga da Unisinos, Rio Grande do Sul, e Suzana Barbosa da Universidade Federal da Bahia, passaram 10 meses e 1 ano respec‐ tivamente a fazer pesquisa no LabCom, financiadas pelo CNPq brasileiro. Cada uma organizou jornadas internacionais sobre o tema que estavam a investigar, convidando inclusive investigadores da América e do Reino Unido, e orga‐ nizaram o respectivo volume de comunicações, publicados nos LivrosLabCom. Valerá a pena dizer que Suzana Barbosa teve como ponto de partida para a sua tese de doutorado a comunicação que fiz na Compós em 2003. As duas rece‐ beram prémios de melhores teses de doutorado no Brasil e são hoje pro‐ fessoras em duas reputadas universidades brasileiras: a PUC do Rio e a Uni‐ versidade Federal Fluminense. 5.10 De 21 a 24 de Abril de 2004 tiveram lugar na Covilhã os Congressos de Ciências da Comunicação na Covilhã, de que fui o Presidente da Comissão Exe‐ cutiva (www.cccc2004.ubi.pt). Foram eles o III Sopcom, o VI Lusocom e o II Ibé‐ rico, que juntaram mais de 400 investigadores de Portugal, Brasil, PALOPs e Espanha. Pela sua magnitude este evento múltiplo constituiu um marco na his‐ tória das ciências da comunicação em Portugal e nas ligações com as áreas afins do Brasil e de Espanha. Destes congressos resultaram 4 grossos volumes de actas, de fonte 9, a duas colunas. Encontram‐se disponíveis online em www.livroslabcom.ubi.pt. Não fossem os contactos estabelecidos na Compós de2003 no Recife e de certeza a adesão brasileira não teria sido de tanta monta aos congressos de 2004. Na sessão de abertura os congressos contaram com a presença e intervenção do Ministro da Presidência, Dr. Morais Sarmento e da Vice‐Presidente da FCT, Prof. Conceição Peleteiro. 5.11 O grau de notoriedade, que entretanto alcançara na comunidade científica nacional, deu azo a que em 2004 fosse convidado pela FCT para presidir ao painel de avaliação das bolsas individuais de mestrado, doutoramento e pós‐ doutoramento, e ao convite do CNAVES para presidir à Comissão de Avaliação Externa dos Cursos Universitários de Ciências e Tecnologias da Comunicação. Se a primeira função era relativamente simples e me levava apenas alguns dias por ano, a presidência da avaliação externa levou‐me a bem dizer todo o ano de 2005. Curriculum Vitae de António Fidalgo 32 Aquando de uma palestra sobre avaliação efectuada na UBI pelo Prof. Veiga Simão, ouvi directamente dele que alguns relatórios de avaliações externas rea‐ lizados em Portugal eram autênticos atentados à inteligência nacional. Depois da minha nomeação para o cargo, tive o cuidado de ler bastantes desses rela‐ tórios e, confesso, ter de concordar com o eminente professor. Assim, o meu cuidado foi ajudar à selecção de uma equipa coesa de professores nacionais (8) e estrangeiros (4) e personalidades (4), de 16 pessoas ao todo, para fazermos uma avaliação que dignificasse o ensino superior e Portugal. Os meses de Março e Abril de 2005 foram despendidos a visitar os 16 cursos universitários em avaliação, 8 públicos e 8 privados. Procurei presidir a todas as comissões de visita, exceptuando duas, a que veio à UBI, obviamente, e a uma que se realizou em simultâneo com outra. Procedeu‐se à feitura dos relatórios, que foram enviados às instituições para fazerem o contraditório, se assim o entendessem, e finalmente, na data marcada, tinha o Relatório Síntese concluído, o qual se encontra disponível online no sítio do CNAVES e na minha página pessoal www.labcom.pt/~fidalgo/rsg_c2a5_ctc.pdf. Todas as avaliações foram votadas no fim por unanimidade, e todos os prazos foram cumpridos. Algumas instituições não gostaram da avaliação feita, mas o tempo e avaliações inter‐ nacionais vieram corroborar a avaliação que a comissão levou a cabo. O texto do relatório síntese fala por si. Pelas dificuldades havidas, pelo trabalho estrénuo, pelo rigor na organização, pelo sucesso obtido, considero que esse foi o marco mais importante no meu currículo académico da última década. 5.12 Das últimas iniciativas científicas que fiz, quero referir a criação da Editora LivrosLabCom (www.livroslabcom.ubi.pt) em 2006 e que tão bons resultados tem trazido ao LabCom, ao Departamento de Comunicação e Artes e à UBI. O LabCom tem 3 bibliotecas online, 3 revistas online, e outras iniciativas pioneiras no âmbito da utilização da Internet como meio de publicar (tornar público) as produções científicas, nossas e de outros, mas a editora tem possibilidades de se destacar. Em 14 de Janeiro de 1998 enviei um memorando ao Reitor com o assunto: “Série de publicações na área das Ciências da Comunicação” onde propunha a publicação organizada das dissertações e teses que se vinham fazendo. Daí nasceu a série “Estudos em Comunicação” que teve venda em importantes livrarias, mesmo na FNAC. Constituído o LabCom e estabelecidos fortes laços com a comunidade brasileira verificou‐se que a divulgação dos livros portu‐ gueses no Brasil não funciona e que estávamos a trabalhar com custos máximos para divulgação mínima. Colocando os livros online teríamos um custo mínimo para a divulgação máxima. Hoje temos 39 livros disponíveis online, 5 deles publicados em 2009, e o objectivo é a publicação continuada de dois livros por mês. Curriculum Vitae de António Fidalgo 33 Em matéria de publicações não podemos e não devemos pensar apenas no mercado nacional, mas sim no espaço lusófono de mais de 200 milhões de falantes. Mais do que matéria científica é uma matéria política de afirmação do português como língua científica, ideia que tenho defendido em artigos de jornal, em comunicações e artigos, o último dos quais é: “El Português y el Español como Idiomas de Ciência” in Enrique Bustamante, org., La Cooperación Cultura‐Comunicación en Iberoamérica, Madrid: Agencia Española de Coope‐ ración Internacional, pp. 149‐160. 5.13 O LabCom foi avaliado novamente em 2008, recebendo a visita da comissão internacional em 7 de Maio de 2008, presidida por Peter Golding e composta por mais dois professores do norte da Europa. Tivemos a classificação de Very Good. Hoje existe em Portugal apenas um centro com Excellent na área, o CECS da UMinho. Os centros das Universidades do Porto, de Aveiro e da Nova de Lisboa tiveram Fair. No recente concurso de projectos à FCT (que terminou em inícios de Fevereiro de 2009) o LabCom entregou 6 projectos, 3 na área da comunicação, um deles liderado por mim “Semantics and Pragmatics of Journalism Production for Mobile Internet”, 2 na área de Cinema e 1 na área de Artes e Design. A ambição da próxima avaliação é subirmos novamente e chegarmos ao Excellent. 5.14 Pertenci à Assembleia Estatutária da UBI. Empenhei‐me a fundo nos tra‐ balhos da mesma, não recusei qualquer tarefa que me fosse pedida, e foi‐me incumbido redigir o Preâmbulo. Duas preocupações me guiaram na feitura dos Estatutos: que fossem sucintos e que fossem de largo fôlego, isto é, Estatutos para daqui a 50 anos. Pugnei por um Conselho Geral com menor número de membros do actual, mas aceitei a vontade da maioria e votei favoravelmente também esse ponto em particular, como votei favoravelmente os Estatutos na generalidade. Revejo‐me neles e acredito que com eles a UBI tem as condições necessárias para atingir um novo patamar de qualidade académica, pedagógica e científica. 5.15 O ano passado pedi uma licença sabática, que me foi concedida a partir de 1 de Março de 2009. Estive 8 anos e meio à frente da Faculdade de Artes e Letras. Entretanto, um novo presidente da faculdade foi eleito pelos pares. Rea‐ lizei um sonho que era o de aperfeiçoar a UBI com uma Faculdade de Artes e Letras. Contribuí para que a nova área de saber da UBI se pautasse por parâ‐ metros indiscutíveis de qualidade. Dois dos quatro centros da UBI que obti‐ veram Very Good nas avaliações da FCT, em Dezembro de 2008, estão no Departamento de Comunicação e Artes. Muito está por fazer, e assumo as falhas, mas do que de bom se fez também assumo a minha quota‐parte. Curriculum Vitae de António Fidalgo 34 5.16 Em Agosto e Setembro de 2008 passei três semanas no Brasil a convite de reputadas universidades onde fiz conferências, Universidade Federal Flu‐ minense, PUC do Rio, USP, Universidade Metodista e Universidade de Campinas em São Paulo. Regresso ao Brasil em Março próximo para leccionar como pro‐ fessor convidado na Universidade Federal da Bahia. Cooperando com estas uni‐ versidades cumpro também o meu destino na UBI: a exigência de um novo patamar de qualidade académica, pedagógica e científica. Covilhã, Fevereiro de 2009 Declaração Eu, António Carreto Fidalgo, declaro por minha honra que, ao candidatar‐me a reitor da UBI em 2009, não se encontro em nenhuma das situações de inelegibilidade ou incompatibilidades previstas na lei, nos Estatutos da UBI e no Regulamento da Eleição do Reitor. Covilhã, 2 de Março de 2009