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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo Vanuzia de Souza Brito A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO DE UM BAIRRO TEMÁTICO DE SÃO PAULO E O TURISMO CULTURAL URBANO São Paulo 2008 Vanuzia de Souza Brito A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO DE UM BAIRRO TEMÁTICO DE SÃO PAULO E O TURISMO CULTURAL URBANO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo para obtenção do grau de mestre. ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO DE ASSUNÇÃO São Paulo 2008 Vanuzia de Souza Brito A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO DE UM BAIRRO TEMÁTICO DE SÃO PAULO E O TURISMO CULTURAL URBANO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo para obtenção do grau de mestre. Aprovada em: ___________ de 2008 ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO DE ASSUNÇÃO Brito, Vanuzia de Souza A percepção do espaço cênico de um bairro temático de São Paulo e o turismo cultural urbano / Vanuzia de Souza Brito. - São Paulo, 2008. 174 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2008. Orientador: Paulo de Assunção. 1. Turismo cultural. 2. Patrimônio. 3. Percepção. 4. Japoneses. I. Título CDD- 338.4791 Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878 Dedico aos amigos orientais, que me mostraram outra forma de ver o mundo, e à grande Mestra Laura Della Mônica, que me ensinou outra forma de viver a vida. AGRADECIMENTOS A Deus que nos ilumina, seus mistérios, segredos e a força que não nos deixam desistir. Ao Meu orientador Prof. Dr. Paulo de Assunção, pela paciência, ensinamentos, apoio e grande amizade. À Capes e a Universidade São Judas Tadeu, especialmente à coordenação do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo. E aos Professores do Curso que serão lembrados com muito carinho e admiração. Aos membros da Banca de Qualificação pelas participações e contribuições. À Profª Dirce pela generosidade e auxílio na revisão do trabalho. Aos Colegas de Mestrado desde o início, Margareth, Dália, Hideki, Sandra, Midori, Gilberto, Solange, Tessarini, Maria Cristina..., cuja convivência me ensinou a respeitar e trabalhar as diversidades, bem como às secretárias da pós, Simone e Selma. À Coordenadora do Curso de Psicologia Carla Witter, pela compreensão e adequação dos meus horários de trabalho para cursar o Mestrado. Ao meu amigo e companheiro Eder, pelo incentivo, carinho, paciência e respeito neste momento de minha carreira, à minha mãe, minhas irmãs e sobrinhos pelo amor incondicional suportando as ausências. Aos meus amigos e colegas da Biblioteca e Laboratório de Informática da Universidade São Judas Tadeu que gentilmente colaboraram, e a todos os que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho, e que se citados nominalmente, com certeza, cometeria a injustiça de omitir alguém. RESUMO Este trabalho é um estudo sobre o turismo cultural urbano em São Paulo, tendo como área específica o Bairro da Liberdade. Foi levada em consideração a percepção do turista urbano, em seu comportamento cognitivo, bem como a influência dos fatos sociais. As buscas e fugas que cada indivíduo empreende em sua vida são fatores psicológicos que promovem e estimulam o deslocamento das pessoas. Abordamos a cidade de São Paulo com seu patrimônio arquitetônico e paisagístico, além da evolução histórica da cidade, destacando suas características devidas à imigração. Também damos ênfase à vida da cidade, por meio de uma visão espacial, arquitetônica e cultural. Quanto à questão do Bairro da Liberdade, consideramos sua ocupação no início do século XX, quando os imigrantes japoneses se instalaram nos velhos casarões desocupados à beira das várzeas locais. Procuramos compreender o espaço e a presença dos imigrantes japoneses, seus descendentes e outras etnias no Bairro da Liberdade, bem como as manifestações culturais nesse bairro e o papel das transformações nele provocadas pelo imigrante, que hoje se transformam em atrativo para o turista, o que lhes dá uma nova dimensão e as transforma num atrativo turístico. Discutimos o fator turístico e seus impactos, bem como a visão do turista em relação ao espaço habitado, evidenciando as transformações do espaço urbano, agora espaço cênico. Tendo demonstrado o uso da cidade, que é fruto do uso coletivo, discutimos a sustentabilidade que o Turismo Cultural Urbano exige. Em nossa avaliação, foram incluídos valores históricos e culturais únicos de uma etnia, a leitura da cidade de forma a contribuir para uma reflexão do hibridismo cultural, ou seja, as transformações ocorridas devido ao processo de urbanização, resultado das condições históricas do lugar e seu movimento social, em que estão inseridas as transformações culturais. Palavras-chave: percepção, turismo cultural urbano, espaço habitado, patrimônio, japoneses. ABSTRACT This paper is a study on cultural urban tourism in the city of São Paulo, in the specific neighborhood of Liberdade. It was taken into consideration the urban tourist’s perception, expressed by his behavior, as well as the influence of social facts. Every individual’s comings and goings are psychological factors promoting and stimulating them. We discuss São Paulo and its architectural and scenic patrimony, as well as the historical evolution of the city, with an emphasis on immigration added to it. We also emphasize to the city life, through a space, architectural and cultural view. As for the neighborhood of Liberdade, we discuss its occupation in the early 20th century, when Japanese immigrants occupied the local old houses and open spaces. We try to understand the space and the presence of Japanese immigrants, their descendents and other immigrants in Liberdade, as well as their cultural manifestations, which now are an attraction for tourists, giving them a new dimension. We discuss tourism and its impact, as well as the way tourists see the inhabited space, now turned into scenic space due to urban changes. After dealing with the use of the city, which is collective, we discuss the demands of cultural tourism. We also include in our evaluation other historical and cultural values that are unique in a national group, as well as a reading of the city helping the understanding of cultural hybridism, that is, the changes provoked by city planning, a result of historical conditions and its social movement, in which cultural transformations are implied. Keywords: perception, urban cultural tourism, inhabited space, patrimony, the Japanese. SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................ 12 1 Turismo: Trajetória histórica e evolução.............................................................. 17 2 Turismo no Brasil.................................................................................................. 26 2.1 Análise do Ambiente Econômico Nacional........................................................ 28 2.2 Breve análise do setor turístico de São Paulo (capital)...................................... 41 3 Turismo Cultural Urbano................................................................................... 47 4 Processo Histórico da Cidade de São Paulo.................................................... 58 5 A chegada de imigrantes japoneses em terras brasileiras............................... 69 5.1 Imigrantes japoneses em Santos e adjacências.............................................. 74 5.2 Imigrantes japoneses no Paraná...................................................................... 79 5.3 Imigrantes japoneses na cidade São Paulo..................................................... 85 5.4 A origem do Bairro da Liberdade e o processo de ocupação pelos japoneses.......................................................................................................... 90 5.5 Fragmentos da cultura oriental no espaço urbano do Bairro da Liberdade..... 110 5.6 O Turista no espaço urbano de um bairro temático......................................... 119 5.7 A percepção espacial do Bairro da Liberdade e o Turismo Cultural Urbano... 131 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 152 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 154 ANEXOS......................................................................................................... 162 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Praça da Liberdade na festividade do Tanabata Matsuri............ Figura 2 - O turismo urbano no contexto da gestão e planejamento turístico 51 e urbanístico................................................................................ 52 Figura 3 - Turismo, cidade e cultura: A interconexão conceitual................. 55 Figura 4 - Cartão postal do viaduto do Chá em 1929.................................. 63 Figura 5 - Praça do Patriarca - viaduto do Chá e o Teatro Municipal ao fundo em 1927 ........................................................................... Figura 6 - 63 Esquema técnico de São Paulo integrante do Plano de Avenidas de Prestes Maia – 1930................................................................... 65 Figura 7 - Cartaz que recrutava trabalhadores no Japão............................ 69 Figura 8 - Navio Kasato Maru ancorado no porto de Santos após o término da viagem.................................................................................... 69 Figura 9 - O início da viagem de trem do litoral para São Paulo................. 70 Figura 10 - Antiga Hospedaria de Santos...................................................... 74 Figura 11 - Manifestações culturais da colônia japonesa em Curitiba – PR: apresentação musical................................................................. Figura 12 - 82 Manifestações culturais da colônia japonesa em Curitiba – PR: Exposição de símbolos da cultura japonesa.............................. 82 Figura 13 - A Hospedaria de Imigrantes no Bairro da Mooca....................... 85 Figura 14 - Distribuição das famílias nas fazendas de São Paulo................ 86 Figura 15 - Casas onde moravam os imigrantes que trabalhavam nas Fazendas..................................................................................... 87 Figura 16 - Imigrantes colhendo café............................................................. 87 Figura 17 - Rua da Glória, Esquina com o Largo 7 de Setembro em 1.860, e, ao lado – a mesma tomada em maio de 1.999....................... 90 Figura 18 - Mapa da região de São Paulo..................................................... 93 Figura 19 - Liberdade: mais de 219 luminárias................................................ 96 Figura 20 - Rua Galvão Bueno, à esquerda jardim oriental........................... Figura 21 - Rua Galvão Bueno vista da Praça da Liberdade............................. 97 Figura 22 - Avenida da Liberdade próxima a Catedral de São Paulo 97 (Igreja da Sé).................................................................................. 100 Figura 23 - Antigo calçamento de paralelepípedo da Rua da Liberdade (atual Av. da Liberdade)................................................................ 101 Figura 24 - Visão da Rua Galvão Bueno, o Centro do Bairro Oriental............. 102 Figura 25 - Estátua do Dr. Shuei Uetsuka, erguida aos 18/06/78 – no Largo da Pólvora....................................................................................... 103 Figura 26 - Capela N. Sra. dos Aflitos (Herman Graeser/Sphan, 1939)........... 105 Figura 27 - Beco dos Aflitos com a capela de N. Sra. dos Aflitos ao fundo...... 105 Figura 28 - Igreja de São Gonçalo.................................................................... 106 Figura 29 - Fachada da Igreja de São Gonçalo................................................ 106 Figura 30 - Largo da Pólvora............................................................................ 134 Figura 31 - Limites cênicos do Bairro da Liberdade......................................... 145 Figura 32 - Templo Xintoísta localizado na rua Conselheiro Furtado.............. 149 Figura 33 - Saída do Elevado/ acima o Viaduto Shuhei Uetsuka/ à direita é o acesso ao Bairro da Liberdade............................................... 149 GRÁFICOS Gráfico 1 - Turismo receptivo: entrada de turistas no Brasil, por via de acesso – 2005................................................................................................. 35 Gráfico 2 - Distribuição por motivo de viagem – 2001........................................ 43 TABELAS Tabela 1 - Números do Turismo no Brasil.......................................................... 33 Tabela 2 - Turismo receptivo: Principais mercados emissores de turistas para o Brasil - 2005 ................................................................................. 34 Tabela 3 - Turismo receptivo: Estudo da demanda turística internacional síntese Brasil – 2004 - 2005............................................................ 36 Tabela 4 - Turismo receptivo: estudo da demanda turística internacional síntese Brasil por motivo de viagem – lazer- 2004 – 2005.............. 37 Tabela 5 - Turismo receptivo: estudo da demanda turística internacional síntese Brasil por motivo de viagem – negócios, eventos e convenções – 2004 – 2005............................................................ 38 Tabela 6 - Turismo receptivo: Eventos internacionais - Número de eventos internacionais realizados no Brasil por cidade – 2004 – 2005......... 39 LISTA DE ABREVIATURAS COMTUR Conselho Municipal de Turismo DPH Departamento de Patrimônio Histórico EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo FMI Fundo Monetário Internacional ICCA International Congress & Convention Association ICOMOS International Council on Monuments and Sites PLATUM Plano Municipal de Turismo OMT Organização Mundial de Turismo ONT Organismo Nacional de Turismo PIB Produto Interno Bruto 11 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho consiste em uma observação e breve análise do espaço habitado do centro histórico de São Paulo em especial do Bairro da Liberdade e a relação com o Turismo Cultural Urbano, com base em visitas técnicas e o uso de fontes bibliográficas, bem como discussões com colegas e professores. Uma das palavras que foi identificada em minha dissertação foi IMAGINÁRIO, trabalhamos, então, a interdisciplinaridade do conhecimento que remete a este imaginário. A cultura de cada povo se diferencia criando espaços individuais e coletivos, o oriental e o ocidental têm maneiras diferentes de identificar e conceber os espaços, segue um indutor imaginário que é criado pelo plano real. Usamos do inconsciente coletivo para construir nossa realidade, e diante do comportamento de cada grupo muda a percepção do espaço. Pois, podemos afirmar que temos necessidade de nos representar enquanto grupo, e isto é feito através da arquitetura, cultura e outras artes. Diante deste fato, podemos afirmar que a cultura tornou-se um produto. Os elementos de uma cidade destacam-se pelas suas funções, que podem ser analisados através das sensações. Organizar estes elementos do espaço urbano não é tarefa fácil, implica uma leitura que cada indivíduo faz do espaço e seus interesses individuais e coletivos, adequá-los para atender as funções do homem. O valor agregado ao ambiente depende de parâmetros utilizados para o julgamento da qualidade que está ligado ao bom e ao bem-estar, à idéia de paraíso que cada indivíduo tem em seu âmago, tendo o espaço urbano como uma construção humana de um ideal para suas vidas que se adaptam a cada momento, tornando-se seres refugiados da arquitetura construída e também das leis da natureza. Os elementos urbanos compõem uma paisagem que nos permite acessos na medida em que se organizam, adaptandose e integrando os indivíduos, tornando-se uma eterna construção, não só do espaço geográfico, mas também do conjunto biopsíquico-socioculturais que integra a qualidade urbana em uma leitura interna e externa na busca de uma identidade. A memória de um povo seleciona o lugar através de sua cultura, pois o homem tem necessidade de pertencer a um lugar. Por isto, através de sua memória, acaba 12 selecionando os seus espaços por meio de um componente psicológico. As características empreendidas em cada escolha estão ligadas à demarcação de seu território e um fator determinante para a escolha é a segurança do local. Analisando alguns aspectos culturais dos povos, podemos afirmar que a diversidade existente serve para diferenciar e localizar; o homem desafia a natureza para se superar e deixar seus marcos referenciais na cidade. Os turistas agregam valor aos espaços, e o não-lugar criado para eles pode se tornar uma visão utópica de um lugar que existe no subconsciente, pois os mesmos vivem à procura de um ambiente ideal, satisfazem-se e consomem os não-lugares que são criados. O turismo usa a imagem da arquitetura explorando-a, usando de artifícios reconstroem a memória de lugares, povos, replicando o que já foi marco de um passado que conta uma história. Vimos isto através do que nos são apresentados como filmes, fotos, desenho, pinturas, elementos que têm a força de trazer de volta algo que não vivemos. Pelo exposto, e devido a alguns fatores podemos afirmar que a arquitetura é a melhor forma de manter a memória, e isto acontece devido à ação construtiva e um exemplo são os monumentos. A preservação da qualidade destes ambientes gera insumos e recursos para que continuemos a preservar; é um ciclo através do qual o ambiente urbano só tem a ganhar. A ordem dos assuntos que permeiam o Turismo foi dada pelo processo de evolução da pesquisa, dando seqüência à temática discutida e pela importância do turismo como fenômeno econômico, político, social e cultural. O primeiro capítulo apresenta a trajetória histórica e a evolução do Turismo, seus tipos e o contexto em que está inserido. Segue sua estrutura analisando o comportamento do turista no espaço habitado. As buscas e fugas que cada indivíduo empreende em sua vida são fatores psicológicos que promovem o deslocamento das pessoas. Mostra uma leitura que o indivíduo faz do espaço habitado, pois o fenômeno turístico não se explica por si só. São necessários dados e fundamentos que serão buscados em algumas áreas da ciência. Neste capítulo, veremos que o turismo envolve muito mais do que atividades, envolve tempo e relações. 13 O segundo capítulo consiste numa reflexão sobre o “Turismo no Brasil”; capítulo que trata do surgimento do fator turismo no Brasil, quando foi usada pela primeira vez no país a palavra turismo. E segue relatando o histórico em nosso país. O fator turismo destaca-se neste capítulo, pois ele é a máquina geradora de muitas oportunidades. Foi feita uma análise do ambiente econômico brasileiro pós-atentado de 11 de setembro, onde percebemos fortes mudanças no destino dos turistas. Os números apresentados nas tabelas da EMBRATUR mostram a grande mudança de comportamento do mercado turístico brasileiro. Contudo, podemos concluir que ele está sujeito a variações do mercado econômico mundial. Já em São Paulo é demonstrado o seguimento e a sua evolução neste grande centro urbano. O terceiro capítulo ocupa-se da descrição do fato “turismo cultural urbano”, suas implicações e contribuições ao espaço urbano e os fatores positivos e negativos desta questão que está ligado ao planejamento e à gestão sustentável. O crescimento e sua importância para a cidade, estando ligado à arte e ao patrimônio edificado. No quarto capítulo é demonstrado o processo de ocupação e exploração da cidade de São Paulo, com ênfase ao fim do século XIX e início do XX, abordando alguns aspectos históricos, bem como os fatos que formaram a cidade de São Paulo, sua evolução política e social até a chegada dos imigrantes. O processo de ocupação do centro histórico, sua formação, as transformações, as construções históricas, a evolução do local e suas fisionomias. O nascimento da cidade que ocorreu através do encontro de caminhos que podemos caracterizá-lo como a categoria de turismo colonizador. O quinto capítulo trata da chegada dos imigrantes japoneses no Brasil e seus rumos, e segue sua estrutura em subdivisões, apresentando seu percurso por Santos, Paraná e adjacências, até chegarem a São Paulo, dando ênfase à ocupação no Bairro da Liberdade: O surgimento do Bairro da Liberdade e suas primeiras características como bairro oriental. Este capítulo, assim como os outros, refere a comunidade nipônica no século XX, suas tradições, usos e costumes que vieram com os imigrantes japoneses e permaneceram até hoje nos elementos de decoração, na religião e na adaptação destes costumes neste novo ambiente urbano ocidental; as manifestações culturais de uma determinada etnia que ultrapassaram fronteiras e são absorvidas por 14 outros povos, e as mesmas são usadas como atrativo turístico, já que o turismo é um sistema. Consideramos, na questão do Bairro da Liberdade, a ocupação no início do século XX, quando os imigrantes japoneses se instalaram nos velhos casarões desocupados à beira das várzeas da Liberdade, e a ocupação que teve por causa do Largo da Forca, a Igreja da Santa Cruz das Almas, o cemitério, e sobre a região que se tornou símbolo de poder na época. Agrupavam-se na Rua Conde de Sarzedas e redondezas, esta rua estava situada próxima ao Largo João Mendes. Procuramos compreender o espaço e a presença de imigrantes e seus descendentes no Bairro da Liberdade. Discutimos como o imaginário do imigrante viajante interferiu no espaço habitado, dando uma nova dimensão e transformando-a num atrativo turístico. O mapeamento nos forneceu dados para discorrer sobre o Bairro da Liberdade permitiu observar os elementos que norteiam os caminhos e o conhecimento do bairro, bem como seus limites cênicos, uma vez que eles geralmente são reconhecidos de maneira fragmentada. Uma das intenções deste capítulo é fornecer dados para compreensão deste bairro, com características que se distinguem na paisagem urbana, e seguindo a descrição de alguns locais que demonstra o perfil do freqüentador, partindo do pressuposto de que será discutido posteriormente com relação à cultura visual que integra ativamente a produção do espaço urbano. Quanto ao item que analisa “o turista no espaço habitado”, buscamos demonstrar a motivação que o levou ao deslocamento, bem como a percepção, a leitura que o usuário faz do espaço urbano e como identifica este local pela cultura. As influências dos fatos sociais que alteram o comportamento do turista em determinados locais, e como ele provoca alterações na dinâmica da sociedade receptora, que se reflete em mudanças nos usos e costumes, na divisão social do trabalho, no relacionamento interpessoal, o familiar, sem que haja contatos realmente interativos com a população receptora. Este estudo conclui que a procura do turista urbano não passa somente pela identificação com o espaço, mas, também, pelos diferentes tipos de utilização da cidade, dando ênfase ao turista, sua cultura e a economia local, demonstrando que a procura turística está diretamente ligada aos recursos, equipamentos e a infra-estrutura neste espaço urbano. No item referente “a percepção espacial do Bairro da Liberdade” é apresentada uma análise sobre os tipos de espaço e, a partir desta leitura, podemos 15 afirmar que o turista é um consumidor do espaço turístico, e que existem elementos que são passiveis de atrair e provocar o deslocamento, demonstrando o apelo visual que é explorado através do potencial turístico no bairro. Neste trabalho procuramos demonstrar que a leitura da paisagem urbana do Bairro da Liberdade depende de vários fatores e, estes poderão nos apresentar que existem vários estudos que propõem uma tipologia espacial, com o intuito de sistematizar ou caracterizar o espaço turístico criando modelos. Mas, diante da interdisciplinaridade, optamos por uma leitura espacial de análise diacrônica, com o objetivo de investigar a estrutura do bairro com características cênicas, demonstrando seu dinamismo, e que apresenta fases de estabilidade e de transformação que aconteceu ou estão por vir. 16 1 Turismo: Trajetória histórica e evolução Segundo Castelli (1990: 14), o Turismo nasceu da percepção do homem quanto à imensidão do espaço em que vivia e de que poderia movimentar-se nele. Analisando o processo histórico, chega-se à Antigüidade Grega, aos Jogos Olímpicos - festas dedicadas a Zeus. A data, 776 a.C., parece marcar o primeiro evento turístico da História e as raízes do turismo. Durante essas festas, as vilas recebiam muito bem os forasteiros, pois Zeus costumava disfarçar-se no meio da multidão para assistir à reunião dos gregos no Olimpo. Nasce, assim, o espírito de hospitalidade que, se compararmos aos tempos de hoje, é considerada uma das características fundamentais dos núcleos receptores. Com o sucesso dos primeiros Jogos Olímpicos, outras cidades gregas, como Delfos e Corinto, passaram a organizar seus jogos, concursos e outras atrações. Nessa época, surgem as estâncias hidrominerais e as casas de veraneio para hospedar as pessoas que buscam as águas termais. Com isso, os homens da Grécia antiga descobriam o prazer de viajar e, portanto, passaram a buscá-lo. Não era mais somente o prazer de guerrear e de comer, mas também o de viagem e de recreação. Se os gregos haviam criado uma estrutura de lazer indispensável ao turismo, os romanos introduziram algumas novidades, como por exemplo, os sistemas de comunicações, condição essencial ao desenvolvimento das correntes turísticas. Rapidamente, essa civilização concebeu que o turismo implicava movimento e, sendo assim, a infra-estrutura de acesso torna-se importante. As viagens de intercâmbio cultural surgem na Idade Média, quando as famílias nobres enviam seus filhos para estudarem nos grandes centros culturais na Europa. Em 1160, o judeu Benjamim de Tudela, residente em Zaragoza, "(...) viajou através da Europa, da Pérsia e da Índia"(...). Posteriormente, em 1271, foi o início das viagens de Marco Polo, que visitou a China, e o motivo da viagem eram sempre exploratória e comercial e foi considerada uma das "primeiras viagens turísticas de longo percurso". Todos estes percursos foram feitos através dos oceanos, nos séculos XV e XVI e marcando "o início do percurso de grandes cruzeiros marítimos", um deles foi a de 17 Fernão de Magalhães que deu a volta ao mundo. Com o surgimento do barco a vapor, na segunda metade do século XVIII, "(...) as navegações tornaram-se mais seguras, mais rápida e com maior capacidade de passageiros, (...)". Desta forma, com esta evolução inicia-se um grande "intercâmbio turístico, entre a Europa e os demais continentes”. (IGNARRA, 1999: 18-19). Porém, os romanos, para realização de seus planos de conquista, abriram amplas estradas, desenvolveram a navegação e acabaram criando as primeiras "agências de viagens". Quando um forasteiro chegava a Roma, ele era confiado a um "guia" que tomava conta de sua permanência. Outra contribuição dos romanos para o turismo foram as grandes conquistas que ampliaram os períodos de folga sobre os dias de trabalho, surgindo a necessidade de organizar o tempo livre.1 Com um maior tempo disponível, poderiam dedicar-se mais ao lazer. Os romanos organizaram ainda um calendário de eventos, criaram teatros, anfiteatros e circos, com capacidade para 225 mil espectadores. Próximos às águas termais, construíram inúmeras hospedarias e verdadeiros palacetes. Desenvolveram nesses locais concursos, recitais, festas e jogos, criando as temporadas sociais. Essa estrutura de lazer criada pelos romanos é invejável na História, uma vez que paralelamente eles criaram também uma estrutura de gastos. Porém, todo esse esplendor romano apagou-se com o cristianismo. Sob o ponto de vista turístico, o cristianismo contribuiu com as peregrinações, desenvolvendo as hospedarias, tanto em Roma como em Jerusalém. No entanto, estas peregrinações cristãs não se comparam à evasão das massas turísticas que temos hoje. Castelli (1990: 17) relata que, no fim do século XVI, a renascença italiana e as grandes descobertas abriram novos horizontes para os europeus. Com o Renascimento e o desenvolvimento das artes, letras, ciências e mudanças de costumes, criaram-se alguns modos de viagens. Artistas e artesãos locomoviam-se de cidade em cidade, por toda Europa, para edificarem e pintarem palácios, igrejas e outros monumentos. Também, músicos e atores estavam continuamente nas estradas, visitando diversas localidades. No século XVII, testemunhou-se, o surgimento de uma nova estrutura urbana. Os estabelecimentos comerciais alinhavam-se um ao lado do outro, expondo 1 Atualmente “a maior quantidade do tempo livre para o lazer está associada ao progresso econômico, decorrente do avanço tecnológico e da melhoria da qualidade dos recursos humanos”. Consultar RABAHY, Wilson Abrahão. Turismo e desenvolvimento: estudos econômicos e estatísticos no planejamento. São Paulo: Manole, 2003. 18 seus produtos aos passantes e as carruagens foram incorporadas ao trânsito. Assim concebidas, as cidades passaram a se constituir numa atração, aonde as pessoas vinham para percorrer as vitrines, de modo semelhante ao que fazem milhares de turistas na nossa época com o intuito de fazer compras. A partir do século XVIII, com o aparecimento da máquina a vapor e de técnicas bem mais refinadas, a vida do homem passa a ter uma nova feição. Ele consegue, com a tecnologia, um máximo de rentabilidade em um tempo mínimo, reduzindo as horas de trabalho, proporcionando maior renda per-capita e férias remuneradas, melhorando comunicação e transporte, criando condições favoráveis às viagens em escala acelerada. (CASTELLI, 1990:17) Mario Jorge Pires (2001) afirma que, devido à Revolução Industrial é que surgem condições para o turismo moderno. Não é possível precisar o momento em que se inicia o turismo2, pois há uma escassez de bibliografia especializada, e geralmente os autores estão mais interessados nos aspectos técnicos que históricos. Mas o turismo é um fato de grandes transformações sócio-econômicas, tecnológicas e culturais. Já no século XVIII, a base do turismo moderno foram inúmeras variáveis; a revolução nos transportes, o fortalecimento das cidades e o prestígio da economia urbana em expansão e, neste mesmo período e até as primeiras décadas do século XIX, as vias para deslocamentos eram precárias, mas durante este período o vapor foi inserido como forca motriz, (...) "aplicando tanto nas locomotivas quanto nas rodas de pás de barcos. A propulsão à hélice superou as rodas de pás e gerou o conhecimento técnico necessário para, mais tarde, compor as turbinas a vapor.”(...)3 Segundo Castelli (1990: 13), “A viagem turística atual é uma decorrência da sociedade industrial. Sociedade esta que provocou uma concentração atual de pessoas em cidades, de tal sorte que a fuga desse meio ambiente tornou-se até mesmo uma questão de sobrevivência”. Tornou-se para o homem urbano uma necessidade ou, como o autor afirma, “um produto de primeira necessidade” devido aos fatores externos gerados pela concentração urbana. 2 Porém há controvérsia de quando realmente iniciou o turismo pois, cada autor expõe sua opinião e análise do fato. No contexto das transformações ocorridas no Brasil do século XIX, a obra analisa a prestação de serviços daquela época. 3 19 No século XIX, o inglês Thomas Cook inicia a comercialização do turismo e com ele surgem as primeiras empresas do ramo, programando várias viagens em grupo que movimentavam milhares de turistas. O século XX vem encontrar o fenômeno turístico em pleno desenvolvimento, movimentando grandes massas. As modificações econômicas e sociais provocadas pela Revolução Industrial e pelos meios de comunicação que atingiram os transportes, o desenvolvimento das estradas e os conceitos da prática do lazer em geral fortaleceram intensamente o setor turístico. Ao relatar as questões ligadas às cidades vocacionadas ao turismo e seu processo de turistificação, Henriques (2003: 39) afirma que, com o declínio de muitas cidades nos anos 70, o turismo surge como uma alavanca e ainda como uma solução para reverter o processo de decadência que surgiu com a “desindustrialização e dos problemas de desemprego”, e todos os fatores associados a estes. Já nos anos 80 e 90 o reconhecimento do turismo urbano como um fenômeno de crescimento gerou empregos associados aos serviços turísticos, com reflexo positivo e também negativo na paisagem e no desenvolvimento da cidade, que em alguns momentos acabou valorizando a paisagem urbana. Segundo Castelli (1990: 59), no século XX o turismo tornou-se um fenômeno tão marcante que, de acordo com previsões que foram feitas por especialistas e organismos especializados na área do turismo, ele se constituiria na primeira atividade mundial em termos de receita e no maior empregador de mão-de-obra por volta do século XXI. Porém, se todos os fluxos não forem controlados, isto é, se não houver uma educação para o turismo, tanto para as pessoas que viajam como para aquelas que acolhem o turista, o colapso seria inevitável, devido à falta de pessoal capacitado para atuar nos diversos setores, bem como de um maior planejamento dos recursos naturais. Daí o interesse e mesmo a necessidade de pesquisas que ajudem no desenvolvimento do Turismo. Partindo desse histórico, observa-se a necessidade de conceituar o turismo, bem como falar do seu desenvolvimento e da criação de instituições formadoras do turismo como profissão. 20 Sartor (1977) destaca, dentre as várias definições, o turismo como sendo um fenômeno produzido, envolvendo toda uma gama de recursos naturais, históricos, culturais, sociais e de estrutura básica específica, de acordo com a demanda consumidora em permanente deslocamento. Nem toda viagem é turística, conforme observa Andrade (1995), pois o turismo responde a algumas determinações convencionadas internacionalmente. Embora todas as viagens importem em deslocamento físico e espacial e revertam em gastos e lucros, o fenômeno turístico é um deslocamento realizado por prazer, a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo, em que se inclui prestação de serviços necessários para atração das pessoas que desejam viajar. Portanto, o autor caracteriza o turismo pelo tempo de permanência fora do local de residência habitual de quem viaja, bem como pela utilização dos serviços oferecidos e equipamentos turísticos com fins de lazer e recreação. Contudo, a viagem por si só, quaisquer que sejam suas formas e duração, não se constitui um ato turístico. A palavra turismo teve sua origem no inglês tourism, originário do francês tourisme. Segundo Theobald (1997:06), etimologicamente, a palavra tour (francês) é derivada do latim “tornare” e do grego “tornos”, significando um giro ou um círculo. Ou ainda, o movimento ao redor de um ponto central ou eixo. O significado mudou no inglês moderno, passando a representar especificamente “um giro”. O sufixo “ismo” (turismo) é definido como uma ação ou processo, enquanto o sufixo “ista” (turista) qualifica aquele que realiza uma determinada ação. Quando a palavra tour (francês) e os sufixos isme e iste são agrupadas, representam a ação de um movimento ao redor de um círculo. (THEOBALD, 1997 Apud BARBOSA, 2002: 69) A febre pelas viagens que domina o mundo romântico e o que lhe é imediatamente posterior deu origem a relatos de deslumbrados e impressões sentimentais no confronto com a terra longínqua, grandiosa e caótica ou a descrição onde a terra estranha aparecia como espaço a ser invadido se quisesse atingir o padrão civilizado, a matriz da moda, da novidade, da vanguarda. Simplesmente dizendo: turismo é uma passagem de ida-e-volta. De acordo com o exposto, pode-se dizer que turismo é uma viagem realizada a um local fora da residência habitual de quem viaja, por um período determinado em que se inclui 21 prestação de serviços e por qualquer razão que não seja a de exercer uma profissão remunerada neste local. Desta forma, podemos ressaltar que: há definições como a de Hunziker e Krapf “uma deslocação e permanência pouco prolongada de indivíduos fora da respectiva área de residência habitual (...) não motivada por nenhuma actividade directamente lucrativa”. (HUNZIKER, 1942 apud HENRIQUES, 2003: 21). Segundo Margarita Barretto, o conceito de Turismo, na linguagem cotidiana, é entendido normalmente como um “quase sinônimo de viagem”. Analisando o turismo segundo critérios da motivação, aparece uma infinita variedade de possibilidade, que pode ser agrupada em duas divisões, “o turismo motivado pela busca de atrativos naturais e o turismo motivado pela busca de atrativos culturais”. (HENRIQUES, 2003:22) Claudia Henriques afirma que, embora não sendo uma definição técnica, a OMT4 contribuiu em parte para esclarecer a natureza do turismo estabelecendo que: - o turismo provém de um movimento e de uma estada de pessoas para e num determinado destino; - há dois elementos no turismo, o tempo de viagem até ao destino e a estada no destino (incluindo actividades); - a viagem e a estada tem lugar fora do local normal de residência e trabalho, de modo que o turismo promove o crescimento de actividades que são distintas daquelas que os residentes e trabalhadores tem nesse local; - a deslocação para destinos turísticos é temporária e de duração reduzida, a intenção é voltar a casa ao fim de poucos dias, semanas ou meses; - os destinos são visitados com outros objectivos para além dos associados ao emprego e residência permanente nesse lugar . Para Mário Carlos Beni (2002: 64), o turismo requer mão-de-obra qualificada, por isto, é visto como uma atividade econômica, atendendo e oferecendo serviços aos que se deslocam de sua origem “por motivos profissionais, férias negócios, atividades esportivas, de saúde, assuntos de família, culturais, ou por qualquer outra razão”. O setor turístico gera renda e está inserido e atuando em vários ramos dos setores “industriais e de produção”, provocando o desenvolvimento “intersetorial”. Neste 4 OMT – Organização Mundial de Turismo. 22 sentido. “(...) O produto turístico é o resultado da soma de recursos naturais e culturais e serviços produzidos por uma pluralidade de empresas, algumas das quais operam a transformação da matéria prima em produto acabado. (...)”. Neste caso, o consumidor (o turista) se desloca até a área de consumo. Há uma “distribuição e circulação de renda” gerada por este deslocamento provocado pelo fenômeno turístico, que é uma atividade bastante produtiva. (BENI, 2002: 26). E, neste contexto do uso e exploração do espaço, temos também o turismo de massa que propicia o desenvolvimento e a produção de atrativos de grandes parques temáticos, de grandes áreas de lazer organizado, de espaços “fabricados” para o consumo em grande escala; de ambientes artificiais recriados com uso intensivo de tecnologia, tanto na parte mecânica quanto na parte audiovisual de produção do real (por exemplo, pista de esqui sintética, praias sem areia etc). A fabricação/produção desses espaços implica, em primeiro lugar, grandes somas de dinheiro, que normalmente só podem ser aportadas às economias locais por empresas multinacionais. Estas têm, via de regra, pouco comprometimento com a problemática local, com as questões ambientais e com o retorno econômico para a população. Grandes áreas são, muitas vezes, desmatadas ou inundadas para instalação destes atrativos, provocando desequilíbrio no microssistema ecológico, mudança no regime de chuvas ou migração avifauna nativa. Ao passo que falta de tratamento adequado do esgoto leva em poucos anos à contaminação dos lençóis freáticos, poluindo a água, que já não poderá ser bebida sem um processo de purificação, o que também acontece por causa de substâncias químicas, como cloro, despejadas na água por parques aquáticos, por exemplo. Quando os lugares que recebem grandes contingentes de turistas, do tipo acima analisado, têm histórico somado a todos os problemas ambientais, surge a problemática de conciliar a necessidade de proteção com a percepção de invasão, ou a invasão real dos espaços históricos por grandes contingentes. Vimos que os autores citados têm visões de espaço e do estudo do turismo que se fundem. Desta forma, a análise se complementa por ter um enlace maior com a realidade, pois só o fenômeno turístico não se explica por si só, são necessários dados e fundamentos. 23 Pode-se então deduzir que existe um amplo campo de análise do Turismo que ultrapassa o enfoque econômico e se enquadra muito mais na sociologia, na psicologia e em outras ciências. Na verdade, é preciso conhecer a satisfação que sentem as pessoas em consumir o turismo, sua semelhança ou diferença em relação à proporcionada por outros consumos, sua importância relacionada aos valores e às aspirações da população consumidora e outras questões semelhantes. (BENI, 2002: 71) A análise destas áreas serve para um estudo de comportamento que venha responder a questões como, para quem se deve produzir o turismo, quem é o beneficiário e em que organismo da sociedade está inserido; “cada um concorre ao mercado para buscar o que quer, e os vendedores ou produtores devem prover o que os compradores ou consumidores desejam comprar.” (BENI, 2002: 71) Mário Carlos Beni afirma que o turismo é uma atividade que procura satisfazer a necessidade do mercado consumidor, atendendo a demanda e oferecendo serviços; conseqüentemente, gera empregos, pois está inserido em vários setores industriais e de produção, provocando o desenvolvimento intersetorial, com isto, proporciona rendas, sendo considerado o “setor propulsor da economia, enquanto o Turismo Internacional origina circulação de divisas entre países, integrando os mercados de diversas regiões, superando os limites políticos da territorialidade,”5 e assim acabam quebrando barreiras socioculturais, históricas e outras. (BENI, 2002: 72) O turismo abrange um conceito bem amplo, por isto, ainda hoje alguns especialistas vêem o turismo como uma atividade humana e também econômica. Pois, segundo Henriques: Ao assentar em dois elementos essenciais, o motivo da viagem (móbil) e a deslocação ou viagem em si, constitui-se como um importante ponto de ruptura epistemológica com as anteriores formas de antever o turismo: - à percepção estrita de turismo enquanto viagem recreativa ou de lazer substitui-se uma visão abrangente (lata) na qual se passa a considerar uma multiplicidade de motivações possíveis na gênese dos movimentos turísticos. (HENRIQUES 2003:21) 5 “Esta integração regional de interesses econômicos e predominância de mercado de consumo, conforme hoje representada pela União Européia, Mercosul e Nafta.” 24 O turismo envolve muito mais que atividades, envolve o tempo, e no caso “o tempo livre” que usamos para o lazer fora de nossas obrigações e atividades diárias. Porém, nem todo turismo é tido como lazer. “O turismo moderno não se constitui apenas como actividade de lazer, ele possui algumas características cruciais que o distinguem de outras formas de lazer, (...) algumas definições de turismo incluem as viagens de negócios, visitas de estudo”. (HENRIQUES, 2003: 25) A atividade turística requer, além do tempo o espaço, que se caracteriza como uma dimensão básica para a vida humana, onde o turista se apropria, e é chamado de “espaço turístico”. Para Henriques (2003: 26), “um espaço se destina a satisfazer as necessidades de pessoas a eles exteriores, ou seja, pessoas que se dispõem a sair do seu local de residência ou trabalho atraídas pelos recursos existentes noutro espaço – espaço de destino – ele artificializa-se, turistifica-se. Os recursos, as atracções transformam então o espaço neutro em espaço de acolhimento”. Portanto, quando nos referimos ao Turismo não podemos nos esquecer da dimensão espacial que o envolve, que é a mudança temporária de espaço. Neste caso, podemos identificar espaços turísticos costeiros, estações turísticas na neve, espaços turísticos rurais e espaços turísticos urbanos, tendo em vista o desenvolvimento local e a estrutura adequada que tornam estes espaços em atrações turísticas. Para finalizar, identificaremos as formas de turismo. Segundo Geraldo Castelli, dependendo da região, pode-se distinguir os seguintes tipos de turismo: I - Turismo Interno são os residentes de um dado país que viajam unicamente dentro do mesmo país; II - Turismo receptivo: são os não-residentes que viajam dentro de um dado país; III - Turismo Emissivo: são os residentes de um dado país que viajam para outro país. (1990: 153) Estas formas de turismo podem ser combinadas a diversas maneiras que acabem produzindo outras categorias de turismo: “Turismo interior que inclui o turismo interno e o turismo receptivo; Turismo Nacional que inclui o turismo interno e o turismo emissivo; Turismo Internacional que se compõe de turismo receptivo e turismo emissivo”.(nosso grifo) (CASTELLI, 1990: 153). 25 Entendemos que poderíamos ampliar as discussões sobre o assunto; porém, dentro dos limites desta pesquisa, é possível que tenhamos levantado os elementos necessários para a fundamentação do trabalho. Assim, dedicamo-nos a seguir ao surgimento e desenvolvimento do Turismo no Brasil, um local ímpar que absorve inúmeras atividades voltadas ao turismo. 26 2 Turismo no Brasil O início da atividade turística no Brasil pode ser datado devido aos acontecimentos mais marcantes em nosso país, o descobrimento, podendo ser considerado um turismo de aventuras, ou viagens exploratórias, não só por portugueses, mas também como “(...) documentos históricos mostram que navegadores espanhóis, franceses, holandeses e ingleses exploraram as costas brasileiras (...)”. IGNARRA (1999: 19) Observando a história do turismo no país, nota-se que houve momentos menos e outros mais propícios ao seu desenvolvimento. Porém, são os descobrimentos, as feiras e a industrialização que representam fatos marcantes na sua evolução. Segundo Sartor (1977), a palavra turismo foi usada pela primeira vez no Brasil em documento oficial em 1932, no Decreto que fixava a Temporada de Turismo no Distrito Federal. No Rio Grande do Sul em 28 de Janeiro de 1950, foi criado o Conselho Estadual de Turismo. Em 1959, foi instalado o Serviço Estadual de Turismo e, em 1971, a Secretaria de Estado do Turismo que estruturou o sistema de turismo nesse Estado. Alguns acontecimentos ocorridos na década de 1930 assinalaram interesse pelo Turismo no Rio Grande do Sul: as festividades do Centenário Farroupilha, a Primeira Festa da Uva realizada em Caxias do Sul, a Exposição Farroupilha e a fundação do Touring Clube do Brasil, Secção do Rio Grande do Sul, uma entidade associativa de obra pioneira em favor do Turismo, conhecida no Brasil e no mundo. Data do período entre 1940 e 1950 o fenômeno sócio-econômico característico do Estado gaúcho: o "veraneio". Inicialmente, tendo como pólos principais o litoral (Tramandaí) e a Serra (Caxias do Sul). Na década seguinte, os fluxos deslocaram-se também para as estâncias hidrominerais, denominadas popularmente de "estação de águas". Igualmente, nessa época, foram instaladas as agências de viagens, entre as quais a Exprinter que foi a pioneira. Neste sentido, GIARETTA (1987: 171-177) revela que o turismo foi institucionalizado no Brasil em 1966, durante o governo do Presidente Castelo Branco, 27 através do Conselho Nacional de Turismo e do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR). Com a EMBRATUR, inicia-se o processo de regulamentação das atividades turísticas e de desenvolvimento de novos núcleos turísticos em todo o país. Com a institucionalização do turismo no Brasil, cresce a preocupação em tratar o setor com mais atenção. Destaca-se, em particular, a urgência da formação de profissionais qualificados para atuar nessa nova área e preparados para atuar em empresas e órgãos turísticos. No Brasil, assim como no mundo todo, existem órgãos regulamentadores como: Ministério do Turismo: Sua missão é desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social. Secretaria Nacional de Políticas do Turismo: Seu papel é executar a política nacional para o setor, orientada pelas diretrizes do Conselho Nacional do Turismo. É responsável pela promoção interna e zela pela qualidade da prestação do serviço turístico brasileiro. Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo: Sua atribuição é promover o desenvolvimento da infraestrutura e a melhoria da qualidade dos serviços prestados ao turismo. EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo: Na época de sua criação, em 18 de novembro de 1966, o principal objetivo da EMBRATUR era fomentar a atividade turística, criando condições para a geração de emprego, renda e desenvolvimento em todo o país.6 O Turismo estrutura-se em cada município brasileiro de acordo com sua realidade através da administração municipal em suas “secretarias, departamentos, divisão, setor, serviço, centro, comissão, fundação, assessoria, conselho, diretoria, coordenadoria, unidade, supervisão, autarquia, equipe e empresas.” (CASTELLI, 1990: 87) Existem também as organizações nacionais não-governamentais e internacionais, que surgiram com o intuito de buscarem soluções para os problemas existentes na área e, paralelamente, trabalharem com as organizações governamentais. Apresentamos a seguir, uma breve avaliação da conjuntura econômica e sua influência sobre o turismo, que mostrará como este mercado está sujeito a variações com o passar dos anos e como tais fatores influenciam na demanda turística em determinados países. 6 Portal Brasileiro de Turismo: Missão. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/> Acesso em: 17 mai.2008. 28 2.1 Análise do ambiente econômico nacional O turismo nos mostra diversificadas vertentes em determinados períodos que são cruciais ao empreendimento turístico global. Um dos fatos mais importantes em que podemos constatar esta decisiva mudança no segmento turístico é a queda do intocável império norte-americano que, por muito tempo, foi almejado e citado como estereótipo de lazer e cultura por uma grande parte da sociedade mundial. Esta concepção passa a ser repensada pela sociedade após o atentado de 11 de setembro 2001 em que o fluxo de viagens às cidades norte-americanas despenca do “ranking” na escolha turística universal, visto que a segurança é fator fundamental desta escolha. O turista do século XXI pós-atentados tem um novo perfil, ele quer viajar mais vezes, porém, por períodos menores e o preço da viagem tem que ser justo. A motivação para arrumar as malas está atrelada a roteiros temáticos, em especial de esportes e culturais, conforme descreve a OMT7 como novo comportamento de viajante no relatório "o impacto dos ataques de 11 de setembro no turismo: a luz do fim do túnel".8 Com a insegurança devido aos atentados houve uma mudança de destinos na época, o turista preferiu visitar os países europeus entre eles a França (que se encontra no 1° lugar no ranking) e a Espanha (2° lugar no ranking) que apresentam suas obras da arquitetura, culturas entre outros atrativos.9 Outro fator importante na queda de fluxo turístico foram as restrições emitidas pela autoridade norte-americana que visa a controlar a entrada de estrangeiros e limitar a estada dos mesmos dentro do território nacional americano. Dentro destas medidas, podemos citar a obrigatoriedade da retirada da impressão digital (principalmente de estrangeiros de origem árabe) imposta para registrar a entrada e a permanência do 7 Organização Mundial de Turismo. FONTE: Organização Mundial do Turismo – Dados de 2001 a 2005. Anuário Estatístico EMBRATUR 2006. p. 223. 9 FONTE: Organização Mundial do Turismo – Op. Cit. 2006. 8 29 turista. Outro aspecto importante é o fato de terem sido espalhadas câmeras por todo o país para que todas as pessoas, inclusive o turista seja observado e, desta forma, o serviço de inteligência possa ter um controle maior sobre seus visitantes, esquecendo a privacidade de cada cidadão. Um dos maiores emissores de visitantes que contribuíram para o desenvolvimento do segmento turístico nos Estados Unidos foi o Brasil, mas este índice sofreu uma queda após o atentado, devido à insegurança dos pontos de visitação que são alvos de ataques terroristas e a desvalorização da moeda nacional que atingiu diretamente a economia brasileira na época. Isto fez que a preferência das viagens girasse em torno de pacotes domésticos que são mais acessíveis ao bolso do consumidor brasileiro. Vale saber que no ano de 2001 o turismo internacional diminuiu 1,3%. Esta porcentagem representa nove milhões a menos de pessoas viajando do que em relação ao ano de 2000.10 Com a queda do fluxo turístico no exterior, as companhias aéreas baixaram os valores das passagens para atrair visitantes em outras áreas de atuação dentro do próprio país, com o intuito de manter o seu padrão de demanda turística visto que seu consumidor passou a ser mais exigente em relação à escolha de seu destino e começou a valorizar entre outras coisas, o preço justo. Assim, uma das opções do consumidor foi a contenção de despesas que os direcionou ao uso da internet para comprarem suas passagens aéreas e a criar seu pacote pela internet, onde se verificam a junção de tecnologia, praticidade e economia. Um dado importante é que há menos turistas viajando de ônibus e mais pessoas voando de avião. Isto ocorreu devido ao surgimento de empresas aéreas de baixo custo, ou seja, o fator tempo de locomoção e custo são os principais determinantes da demanda neste setor.11 Apenas 1,7% dos brasileiros que viajaram no ano de 2001 foram para o exterior. Saltamos de 38 milhões de turistas domésticos em 98 para 42 milhões em 2001. Nestes 10 11 FONTE: Organização Mundial do Turismo – Op. Cit. 2006. FONTE: Organização Mundial do Turismo – Op. Cit. 2006. 30 últimos quatro anos, o movimento para fora do Brasil caiu 30%, enquanto o volume de brasileiros viajando em território nacional cresceu 11%.12 Mas os brasileiros não são os únicos que estão limitando seus gastos, pois, nossos vizinhos argentinos representam a grande maioria dos turistas que visitam o Brasil. Eles passaram por crises de desvalorização de moeda e por forte crise política, que afetou diretamente o Brasil, economicamente, entre outros, no setor turístico, visto a baixa visitação ao Sul de nosso país, contradizendo a previsão efetuada e comparada ao histórico de anos anteriores. O fluxo de visitantes atuais reduziu seus gastos de consumo.13 Algo que não se deve ignorar é que, em tempos atuais, vivemos no mundo globalizado. Isso significa que turbulência em outras economias mundiais contagia a nossa. Em se tratando de país emergente, o Brasil não poderia jamais julgar-se imune aos terremotos ocorridos em outras economias mundiais. Dependente do FMI,14 o Brasil deve se dobrar às exigências e imposições externas se não quiser ficar à margem da história. Dessa forma, a desinflação, o crescimento econômico e o combate à recessão são condicionantes na vida econômica de nosso país. Para isso, o Brasil deve lançar mão de todos os recursos de que dispõe, tais como controle do cambio, vigilância sobre as taxas de juros, incremento das exportações, cautela acentuada nas importações para evitar déficits na balança comercial. O setor do turismo pode ser dividido em doméstico e internacional. Em ambos os casos, o impacto do turismo na economia é considerável, sendo capaz de redistribuir renda, captar divisas, gerar empregos, incrementar outros setores econômicos, aumentar a arrecadação fiscal, promover o desenvolvimento regional e introduzir novos investimentos com benefícios sociais. A rigor, os gastos dos turistas internacionais fazem parte do PIB15 turístico como um todo, mas são geralmente classificados a parte devido ao seu impacto no balanço 12 Esses são alguns números apurados pela pesquisa "caracterização e dimensionamento do turismo doméstico no Brasil 2000/2001", que foi realizada pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas, da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), a pedido da EMBRATUR. 13 OMT – Op. cit. 2006. p. 15. 14 Fundo Monetário Internacional. 15 Produto Interno Bruto. 31 de pagamento como fonte de captação de divisas. A maioria dos países em desenvolvimento está empenhada em melhorar o seu desempenho na Balança de Serviços, onde as receitas provenientes dos gastos dos turistas estrangeiros no país servem para compensar os gastos que estes países têm com royalties, know-how, seguro, frete etc. As ações desencadeadas pelas atividades turísticas em um determinado país criam, normalmente, maior oportunidade de emprego do que as realizadas em qualquer outro setor do sistema econômico. Três tipos de emprego têm sido apontados: primeiro, o emprego direto resultante das atividades turísticas em todos os tipos de alojamento: hotéis, motéis, colônias de férias, spas, pousadas e pensões, apart-hotéis, casas e apartamentos para alugar etc., o emprego indireto em todos os tipos de negócios afetados pelo turismo de forma secundária, tais como parques temáticos, restaurantes, bares, shopping centers, transportes e bancos, dentre outros. E, finalmente, o emprego induzido pelo gasto dos residentes locais de suas rendas obtidas no setor turístico. Da mesma forma, pode-se dizer que o emprego no setor de turismo pode ser tipo anual/sazonal, tempo integral/parcial, familiar/assalariado, manual/não manual, qualificado/não qualificado, formal/informal, etc.16 Outro impacto direto resultante do desenvolvimento das atividades turísticas é a redistribuição de renda entre as regiões. O processo de industrialização tardia resultou em concentração de renda e riquezas em determinadas regiões. (norte da Espanha, Norte da Itália, Sul do Brasil etc). O turismo torna-se um instrumento de redistribuição de renda na medida em que se criam pólos de turismo nas regiões atrasadas e que estas atraem visitantes de maior poder aquisitivo das regiões mais desenvolvidas. Segundo RABAHY (2003), em relação aos impactos indiretos do turismo na economia, devem-se listar o desenvolvimento da infra-estrutura de mercado para certos produtos, a aceleração fiscal e o efeito multiplicador. Pode-se afirmar que uma infraestrutura de transporte e comunicação, em uma área de interesse turístico, induz investimentos em hotéis, que atrairão visitantes cujos gastos serão, em parte, revertidos 16 OLIVEIRA, Joseane “et alii”. Fazenda e Pousada Lumiar: A inserção do produto objeto da análise no Turismo e na economia do país. 168 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo – Ênfase em Hotelaria) – Universidade Paulista, São Paulo, 2002. (p. 48-52) 32 em impostos para o setor público. Este, com acréscimo de receitas poderão melhorar a infra-estrutura social como um todo. É interessante destacar o efeito multiplicador das atividades turísticas sobre a renda e o emprego. O efeito sobre a renda auferida com as atividades do setor é maior do que o valor da soma original, e decorre do fato de que cada unidade monetária recebida gera várias transações, cujo número depende do nível de desenvolvimento da economia. Quanto ao efeito sobre o emprego, estima-se que os empregos diretos criam geralmente de 4 a 5 empregos indiretos. Os tipos de estabelecimentos que mais absorvem mão-de-obra são alojamentos, transporte turístico, bares, restaurantes e parques temáticos (específicos, aquáticos e de diversão).17 A exemplo das demais atividades econômicas, o turismo, através dos impostos diretos e indiretos, gera renda para o governo em todos os níveis: federal, estadual e municipal. O crescimento da arrecadação fiscal permite o aumento dos investimentos em infra-estrutura (estradas, redes de esgoto, redes telefônicas, melhorias urbanas etc.). Estas melhorias induzem a novos investimentos de acomodação, diversão e lazer. Acreditamos que, apesar da forte sensibilidade a que estamos expostos em nosso setor, dispomos de atrativos turísticos diversificados, que aliado à melhoria da infra-estrutura básica do turismo, qualificação da mão-de-obra, divulgação de nosso produto e vontade política, certamente poderemos aumentar positivamente nossa contribuição na economia do país. O Turismo no país oferece ao turista brasileiro e estrangeiro, variadas opções. Nos últimos anos, alguns governantes se esforçaram para o desenvolvimento de infraestrutura, e políticas públicas para alavancar este fenômeno no nosso país. Percebemos pelo aumento da procura pela Amazônia na região Norte, o litoral do Nordeste, o Pantanal e o Planalto Central no Centro Oeste, o turismo histórico na região de Minas Gerais o litoral do Rio de Janeiro, e o turismo de negócios em São Paulo, e também o clima frio no Sul do país. Estatísticas da OMT apontam que:18 17 Discussão em sala de aula sobre aspectos sócio-econômicos da indústria hoteleira (mai.2007). Turismo no Brasil. 2007. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_em_S%C3%A3o_Paulo> Acesso em: 01. mai. 2007. 18 33 Os esforços no sentido de desenvolver o turismo no Brasil têm surtido o resultado esperado. Nos últimos anos, conforme mostra a tabela abaixo, os números são recordes na série histórica para o país e o turismo brasileiro cresceu em 2004 e 2005 mais do que os principais países no ranking da OMT. O objetivo do governo federal, segundo plano plurianual para o turismo é alcançar 9 milhões de turistas estrangeiros em 2007. Em 2005, o Brasil recebeu 4,0% do total de turistas estrangeiros nas Américas. Tabela do Capítulo 2.1 TABELA 1 NÚMEROS DO TURISMO NO BRASIL Estatísticas históricas do Turismo Internacional no Brasil Ano 1995 2000 2003 2004 Turistas estrangeiros (1000) Variação anual (%) Receita gerada (milhões de USD) Variação anual (%) 1 991 972 - 5 313 1 810 - 4 133 2 479 - 2005 2006 4 794 5 358 5 019 16,0 11,8 -6,3 3 222 3 861 4 316 30,0 19,8 1,1 FONTE: Turismo no Brasil. 2007. Disponível em: <http://institucional.turismo.gov.br/Mintur/> Acesso em: 01.mai.2007. Estes números apresentados são respostas ao grande diferencial que o Brasil tem para mostrar ao turista do mundo todo. A quantidade de cidades litorâneas e suas belas praias contribuem para que haja o desenvolvimento do turismo, a hospitalidade, os hábitos seculares preservados do povo brasileiro que também é um atrativo a mais. O nordeste brasileiro abriga grande número de patrimônio culturais da humanidade, sendo um diferencial. Temos também os grandes centros urbanos como São Paulo que oferece as mais variadas atrações históricas, naturais e econômicas. Esta cidade, cuja característica principal são os negócios, é considerada a capital econômica da América Latina. “Segundo dados do setor, acontece um evento a cada 6 minutos na cidade. São Paulo, a maior cidade do país também possui a maior rede hoteleira brasileira. Por especulação imobiliária em meados dos anos 1990, hoje existe excesso de oferta em número de vagas.” Porém, a cidade também vive de seu turismo gastronômico e 34 recebeu “(...) o título de capital mundial da gastronomia. Os melhores restaurantes do Brasil ficam na metrópole paulistana, bem como uma enorme variedade de culinárias para todos os bolsos. O turismo cultural também é destaque dada a quantidade de museus, teatros, eventos como a Bienal de Artes e a Bienal do Livro”. 19 A seguir, apresentamos uma breve análise do mercado turístico, números retirados do anuário da EMBRATUR 2006. A tabela 2 apresenta informações referentes ao turismo internacional no Brasil, mostrando os principais mercados emissores no ano de 2005 e 2006. Através dele, podemos observar que um dos maiores emissores são os países vizinhos. Tabela do Capítulo 2.1 TABELA 2 TURISMO RECEPTIVO PRINCIPAIS MERCADOS EMISSORES DE TURISTAS PARA O BRASIL - 2005 Principais Emissores de Turistas para o Brasil - 2005/2006 Principais Países de destino 2005 Número de 2006 % Ranking 992.299 18,52 1º ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA 793.559 14,81 PORTUGAL 357.640 6,67 ITÁLIA 303.878 5,67 URUGUAI 341.647 ALEMANHA 308.598 ARGENTINA Turistas Número de % Ranking 921.061 18,35 1º 2º 721.633 14,38 2º 3º 312.521 6,23 3º 6º 291.898 5,82 4º 6,38 4º 290.240 5,78 5º 5,76 5º 277.182 5,52 6º Turistas FRANÇA 252.099 4,70 7º 275.913 5,50 7º ESPANHA 172.979 3,23 9º 211.741 4,22 8º PARAGUAI 249.030 4,65 8º 198.958 3,96 9º INGLATERRA 169.514 3,16 11º 169.627 3,38 10º 11º CHILE 169.953 3,17 10º 148.327 2,96 HOLANDA 109.708 2,05 12º 86.122 1,72 12º SUIÇA 89.789 1,68 13º 84.816 1,69 13º JAPÃO 68.066 1,27 16º 74.638 1,49 14º MÉXICO 73.118 1,36 15º 70.862 1,41 15º CANADÁ 75.100 1,40 14º 62.603 1,25 16º OUTROS 831.193 15,51 - 820.849 16,35 - FONTE: PDF/ EMBRATUR (estatísticas básicas do turismo/Brasil 2002 a 2006 -22nov. 07.) 19 Disponível em: </ http://www.braziltour.com/site/br/dados_fatos/conteudo/emissores_turistas.php?in_secao=404> Acesso em: 01.mai.2007. 35 No gráfico 1, apresentamos a entrada de turistas estrangeiros e suas vias de acesso. (aérea, marítima, terrestre ou fluvial), evidenciando a grande maioria que teve como acesso a aérea. Gráfico do Capítulo 2.1 GRÁFICO 1 TURISMO RECEPTIVO ENTRADA DE TURISTAS NO BRASIL, POR VIA DE ACESSO - 2005 VIA TERRESTRE 24,5% VIA MARÍTIMA 1,5% VIA AÉREA 73,5% VIA FLUVIAL 0,5% FONTE: PDF/ EMBRATUR (estatísticas básicas do turismo/Brasil 2002 a 2006 -22nov. 07.) Na tabela 3 a seguir, é mostrado o estudo da demanda turística internacional em 2004 e 2005. Trazendo um estudo sobre a característica da viagem, os tipos de alojamento, a despesa média, os destinos mais visitados entre outros fatores pertinentes à demanda internacional e ao seu consumo. E, na tabela 4 é apresentada uma síntese do motivo da viagem, que é o lazer. 36 Tabela do Capítulo 2.1 TABELA 3 TURISMO RECEPTIVO: ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL SÍNTESE BRASIL – 2004 - 2005 CARACTERÍSTICA DA VIAGEM 2004 Motivação da viagem FIDELIZAÇÃO AO DESTINO 2005 (%) 2004 2005 Freqüência de visita ao Brasil (%) Lazer 48,5 44,4 Primeira vez 33,4 34,5 Negócios, eventos e convenções 28,7 29,1 Outras vezes 66,6 65,5 Visitar amigos e parentes 18,1 22,6 Intenção de retorno ao Brasil Estudo ou curso 1,6 1,3 Sim 96,3 96,9 Outros 3,1 2,6 Não 3,7 3,1 Tipo de alojamento utilizado (%) PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO (%) Hotel, Flat ou Pousada 64,2 59,7 Idade Casa de amigos e parentes 20,8 24,3 De 18 a 24 anos 8,5 (%) 8,8 Casa alugada 9,1 8,1 De 25 a 31 anos 17,6 19,7 26,4 Casa própria 3,5 2,8 De 32 a 40 anos 26,3 Camping ou albergue 1,6 2,0 De 41 a 50 anos 24,1 24,2 Resort - 1,7 De 51 a 59 anos 14,4 13,7 Outros 0,8 Acima de 60 anos 9,1 Gasto médio per capita dia no Brasil 1,4 (US$) 7,2 Grau de instrução (%) Lazer 57,90 80,78 Sem educação formal 0,6 0,1 Negócios, eventos e convenções 98,21 112,76 Fundamental 2,6 4,1 Outros motivos 48,28 60,18 Médio 32,0 26,9 Total 62,77 78,51 Superior 47,6 49,58 Pós-graduação 17,2 12,0 Renda média per capita mês Permanência média no Brasil (Dias) Lazer 11,9 19,1 (US$) Negócios, eventos e convenções 9,1 8,1 Familiar 4.175,65 4.090,30 Outros 18,9 18,9 Individual 3.153,53 3.204,51 Total 12,7 12,7 DESTINOS MAIS VISITADOS Lazer GRAU DE SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO À VIAGEM Nível de satisfação com a viagem (%) 26,2 29,4 59,3 56,9 Rio de Janeiro - RJ 33,9 31,5 Atendeu plenamente Foz do Iguaçu - PR 21,7 17,0 Atendeu em parte São Paulo - SP 13,6 13,6 Decepcionou Florianópolis -SC 11,9 12,1 Salvador - BA 14,2 Negócios, eventos e convenções 12,0 11,6 2,5 2,1 AVALIAÇÃO DA VIAGEM 11,5 (%) (%) Superou Positiva Negativa Infra-estrutura Positiva Negativa 78,7 21,3 (%) São Paulo - SP 51,4 49,4 Limpeza pública Rio de Janeiro - RJ 24,6 22,3 Segurança pública Porto Alegre - RS 7,0 8,2 Serviço de táxi 89,1 10,9 89,6 10,4 Curitiba - PR 5,6 5,4 Transporte público 82,7 17,3 84,6 15,4 Belo Horizonte - MG 4,5 4,1 Telecomunicações 78,3 21,7 77,0 23,0 Sinalização Turística 74,1 25,9 75,4 24,6 Outros Motivos (%) São Paulo - SP 30,4 32,5 76,1 75,9 Infra-estrutura turística 23,9 24,1 78,6 21,4 (%) Rio de Janeiro - RJ 26,7 25,0 Aeroporto 85,7 14,3 86,9 13,1 Belo Horizonte - MG 6,5 6,4 Restaurante 94,1 5,9 95,0 5,0 Salvador - BA 7,6 6,3 Alojamento 95,9 4,1 95,5 4,5 Foz do Iguaçu - PR 6,3 5,1 Diversão noturna 91,3 8,7 91,8 8,2 Guias de turismo 88,8 11,2 90,8 9,2 14,0 Informação turística 86,3 13,7 87,3 12,7 ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM Utilização da agência de viagem Sim, pacote Serviços turísticos (%) 17,5 (%) Sim, serviços avulsos 28,8 24,4 Hospitalidade 98,2 1,8 98,1 1,9 Não 53,7 61,6 Gastronomia 95,5 4,5 96,1 3,9 FONTE: Estudo da Demanda Turística – 2004 e 2005 – EMBRATUR/FIPE Tabela do Capítulo 2.1 37 TABELA 4 TURISMO RECEPTIVO: ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL SÍNTESE BRASIL POR MOTIVO DE VIAGEM – LAZER - 2004 - 2005 CARACTERÍSTICA DA VIAGEM PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO 2004 TIPO DE ALOJAMENTO 2005 (%) 2004 2005 Idade (%) Hotel, Flat ou Pousada 68,6 65,3 De 18 a 24 anos 9,2 Casa alugada 16,2 15,5 De 25 a 31 anos 17,6 10,0 20,8 Casa de amigos e parentes 9,6 10,6 De 32 a 40 anos 25,3 25,3 Resort - 3,1 De 41 a 50 anos 23,1 22,3 Camping ou albergue 2,9 2,5 De 51 a 59 anos 14,6 13,7 Casa própria 2,2 1,8 Acima de 60 anos 10,2 Outros 0,5 1,2 Grau de Instrução Gasto médio per capita dia no Brasil (US$) 57,99 Permanência média no Brasil 80,58 (dias) 11,9 12,0 DESTINOS MAIS VISITADOS 7,9 (%) Sem educação formal 0,1 Fundamental 2,8 0,1 3,7 Médio 36,4 30,3 Superior 48,5 51,6 Pós-graduação 12,2 14,3 Rio de Janeiro - RJ 33,9 31,5 Renda média per capita mês Foz do Iguaçu - PR 21,7 17,0 Familiar 3.318,39 3.284,11 São Paulo - SP 13,6 13,6 Individual 2.467,69 2.475,00 Florianópolis -SC 11,9 12,1 Salvador - BA 14,2 11,5 Nível de satisfação com a viagem Balneário de Camboriú -SC 6,1 6,7 Superou 29,2 35,6 Fortaleza -CE 6,5 6,4 Atendeu plenamente 58,0 52,4 GRAU DE SATISFAÇÃO EM REALIZAÇÃO À VIAGEM Natal - RN 2,7 5,8 Atendeu em parte Armação dos Búzios - RJ 5,8 5,4 Decepcionou Manaus - AM 4,0 4,0 Recife - PE 3,5 3,2 Curitiba - PR 4,0 3,2 (US$) (%) 11,4 10,5 1,4 1,5 AVALIAÇÃO DA VIAGEM Positiva Negativa Positiva Negativa (%) Infra-estrutura Bombinhas - SC 2,6 3,1 Limpeza pública 81,4 18,6 83,2 16,8 Parati - RJ 2,9 2,2 Segurança pública 82,7 17,3 85,6 14,4 Porto Seguro - BA 2,6 2,1 13,1 ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM Utilização da agência de viagem (%) Serviço de táxi 88,2 11,8 86,9 Transporte público 87,9 12,1 87,7 12,3 Telecomunicações 76,2 23,8 76,9 23,1 81,3 18,7 80,1 19,9 Sim, pacote 30,1 25,8 Sinalização Turística Sim, serviços avulsos 17,8 14,3 Infra-estrutura turística Não 52,1 59,9 Aeroporto 86,6 13,4 84,7 15,3 Restaurante 92,9 7,1 94,7 5,3 Alojamento 95,3 4,7 95,2 4,8 40,7 Diversão noturna 91,0 9,0 91,8 8,2 59,3 Serviços turísticos Guias de turismo 90,7 9,3 92,5 7,5 Informação turística 89,4 10,6 89,3 10,7 Hospitalidade 98,4 1,6 98,1 1,9 Gastronomia 93,9 6,1 95,2 4,8 FIDELIZAÇÃO AO DESTINO Freqüência de visitação ao Brasil (%) Primeira vez 40,6 Outras vezes 59,4 Intenção de retorno ao Brasil (%) (%) Sim 95,7 95,9 Não 4,3 4,1 FONTE: Estudo da Demanda Turística – 2004 e 2005 – EMBRATUR/FIPE (%) 38 Tabela do Capítulo 2.1 TABELA 5 TURISMO RECEPTIVO: ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL SÍNTESE BRASIL POR MOTIVO DE VIAGEM – NEGÓCIOS, EVENTOS E CONVENÇÕES – 2004 - 2005 CARACTERÍSTICA DA VIAGEM PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO 2004 TIPO DE ALOJAMENTO 2005 (%) 2004 2005 Idade (%) Hotel, Flat ou Pousada 87,1 88,1 De 18 a 24 anos 2,8 2,50 Casa de amigos e parentes 7,0 5,2 De 25 a 31 anos 14,6 15,8 Casa própria 2,8 1,9 De 32 a 40 anos 31,0 29,7 Casa alugada 2,0 1,7 De 41 a 50 anos 29,6 31,1 Camping ou albergue 0,3 0,9 De 51 a 59 anos 15,6 15,1 Resort - 0,6 Acima de 60 anos 8,4 Outros 0,8 1,6 Grau de Instrução Gasto médio per capita dia no Brasil (US$) 97,99 Permanência média no Brasil 112,90 (dias) 9,1 8,1 DESTINOS MAIS VISITADOS 5,8 (%) Sem educação formal 0,1 Fundamental 0,9 0,1 1,5 Médio 17,6 12,3 Superior 53,0 55,6 Pós-graduação 28,4 30,5 São Paulo - SP 51,4 49,4 Renda média per capita mês Rio de Janeiro - RJ 24,6 22,3 Familiar 5.569,89 (US$) 5.369,13 Porto Alegre 7,0 8,2 Individual 4.459,07 4.554,77 GRAU DE SATISFAÇÃO EM REALIZAÇÃO À VIAGEM Curitiba - PR 5,6 5,4 Belo Horizonte - MG 4,5 4,1 Nível de satisfação com a viagem Campinas - SP 3,7 4,1 Superou 19,8 20,0 Brasília - DF 3,6 3,4 Atendeu plenamente 65,0 65,3 Foz do Iguaçu - PR 3,7 3,0 Atendeu em parte Salvador - BA 4,4 2,7 Decepcionou Florianópolis -SC 2,5 1,8 Manaus - AM 2,0 1,6 Fortaleza - CE 2,5 1,6 (%) 13,4 13,1 1,8 1,8 AVALIAÇÃO DA VIAGEM Positiva Negativa Positiva Negativa (%) Infra-estrutura Recife - PE 1,9 1,5 Limpeza pública 72,9 27,1 76,6 23,4 São José dos campos - SP 1,6 1,5 Segurança pública 71,0 29,0 75,8 24,2 Vitória - ES 1,4 1,4 Serviço de táxi 90,5 9,5 91,3 8,7 Transporte público 79,6 20,4 85,8 14,2 ORGANIZAÇÃO DA VIAGEM Utilização da agência de viagem Sim, pacote (%) 8,1 Telecomunicações 80,5 19,5 80,6 19,4 5,5 Sinalização Turística 68,7 31,3 71,5 28,5 Sim, serviços avulsos 38,0 32,2 Infra-estrutura turística Não 53,9 62,3 Aeroporto 83,8 16,2 87,5 12,5 Restaurante 96,3 3,7 96,0 4,0 Alojamento 96,8 3,2 96,3 3,7 31,3 Diversão noturna 93,6 6,4 93,7 6,3 68,7 Serviços turísticos Guias de turismo 85,6 14,4 85,0 15,0 Informação turística 82,8 17,2 83,3 16,7 Hospitalidade 98,5 1,5 98,1 1,9 Gastronomia 97,7 2,3 96,8 3,2 FIDELIZAÇÃO AO DESTINO Freqüência de visitação ao Brasil (%) Primeira vez 26,6 Outras vezes 73,4 Intenção de retorno ao Brasil Sim Não (%) 98,0 2,0 97,9 2,1 FONTE: Estudo da Demanda Turística – 2004 e 2005 – EMBRATUR/FIPE (%) (%) 39 Um dos grandes mercados que move o país são os eventos. Nesta tabela veremos os eventos internacionais realizados no Brasil por cidades brasileiras, nos anos de 2004 e 2005, apresentando o Rio de Janeiro e São Paulo como um dos maiores realizadores. “A ICCA considera como internacionais os eventos itinerantes, com periodicidade fixa, com um mínimo de 50 participantes, e que estejam pelo menos em sua terceira edição” 20. Tabela do Capítulo 2.1 TABELA 6 TURISMO RECEPTIVO: EVENTOS INTERNACIONAIS - NÚMERO DE EVENTOS INTERNACIONAIS REALIZADOS NO BRASIL POR CIDADE – 2004 - 2005 CIDADE 2004 2005 RIO DE JANEIRO 36 39 SÃO PAULO 21 29 SALVADOR 9 18 FOZ DO IGUAÇU 6 8 BRASÍLIA 4 6 CURITIBA 3 4 PORTO ALEGRE 7 4 RECIFE 3 4 ARACAJU 0 3 FLORIANÓPOLIS 6 3 UBERLÂNDIA 0 3 BELO HORIZONTE 2 2 GUARUJÁ 0 2 VITÓRIA 0 2 FORTALEZA 4 0 NATAL 2 0 OUTRAS 11 18 TOTAL 114 145 FONTE: ICCA – Internacional Congress & Convencion Association – (ANUÁRIO ESTATÍSTICO EMBRATUR) NOTA: São considerados internacionais os eventos intinerantes, com periodicidade fixa, mínimo de 50 participantes, que estejam pelo menos em sua terceira edição – Dados de 2004 revisados As informações descritas confirmam a forte sensibilidade do setor turístico e as influências sofridas que podem mudar a qualquer momento no cenário do Turismo 20 International Congress & Convention Association (ICCA) - Anuário Estatístico EMBRATUR – VOLUME 33 – (PDF). 2006. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/dadosefatos> Acesso em:27.abr.2007. 40 Mundial. Através dos dados acima, podemos entender uma das ramificações do turismo, que é o Turismo Cultural Urbano que mobiliza o mercado devido ao potencial e diferencial de cada localidade, e será descrito no próximo capítulo, como um fator muito importante devido à sua dinâmica local. A seguir trataremos do mercado Turístico de São Paulo e suas contribuições. 41 2.2 Breve análise do setor turístico de São Paulo (capital) O Estado de São Paulo possui a maior concentração populacional, o maior parque industrial, bem como a maior produção econômica, também possui o maior registro de imigrantes, estes que ajudaram a construir esta cidade, bem como o país. Segundo a Abrasce21 (...) são 645 municípios e uma população que ultrapassa 40 milhões de habitantes. Com a melhor infra-estrutura e mão-de-obra qualificada, São Paulo pode mesmo ser chamado de "A Locomotiva do Brasil". O Estado produz de tudo, principalmente produtos de alta tecnologia. Mas o destaque não é só na indústria. O paulista também fez da agricultura e da pecuária uma potência. Com estes e outros dados podemos observar que a cidade é, economicamente, a mais importante da América Latina, com considerável número de atrações artísticas e culturais oferecendo as melhores opções de turismo urbano, com grande acervo nos museus, monumentos históricos, além do Litoral do Estado com 622 quilômetros de praia. Separando o litoral do planalto paulista, a escarpa da serra do mar, em plena mata atlântica, foi um grande obstáculo a ser vencido em séculos passados. Hoje, esta porta de entrada para o interior do Estado é foco de atenção da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e de outras organizações que buscam a preservação deste ecossistema que está reduzido, no País, a 5% de sua extensão original. Interior adentro, o turista vai encontrar estâncias, turismo rural, ecológico, cidades com clima europeu, cachoeiras, cavernas, rios, serras, fontes de água mineral, parques naturais, construções históricas dos séculos XVI, XVII, XVIII, igrejas em arquitetura jesuíta e sítios arqueológicos. Já a capital paulista é outro monumental local de opções turísticas. Só o turismo de negócios proporciona mais de 45 mil eventos por ano. (...)22 21 FONTE: ABRASCE - Associação Brasileira de Shopping Centers - julho/2005) Governo do Estado de São Paulo. As potencialidades turísticas de São Paulo. Disponível em: <http://www.spvirtual.net/sao_paulo_informacoes_gerais_as_potencialidades_turisticas_de_sao_paulo-o57383en.html> Acesso em: 17 mai. 2008 22 42 A cidade de São Paulo oferece ao turista a maior diversidade cultural, de lazer e entretenimento, bem como uma infra-estrutura receptiva voltada ao turismo de negócio; e foi pensando neste turista que tem um maior nível de renda, que o governo avaliou a situação atual da cidade, com o intuito de desenvolver estratégias de desenvolvimento e criar um plano de ação para melhorar a situação do mercado turístico, pois, devido aos números apresentados pela EMBRATUR no ano se 1996, o Estado de São Paulo recebeu 988.903 turistas tornando-se o maior portão de entrada de turistas estrangeiros no país. Devido à quantidade de turistas estrangeiros, e de turistas de todo o país que têm visitado a cidade de São Paulo a cada ano, “atraídos por essa capital que apresenta uma economia do tamanho da Argentina”23, em abril de 1998, a prefeitura da cidade através de órgãos como o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR criado em 1º de fevereiro de 1991, através do decreto nº 29.509, órgão deliberativo ligado ao Gabinete do Prefeito, presta assessoria, consultoria e deliberação ao PLATUM.) e da Anhembi Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo que neste período era a empresa oficial responsável pela execução da política estratégica de turismo e eventos da cidade de São Paulo, e também responsável pela administração do Parque Anhembi, “o maior complexo para realização de feiras, congressos e eventos da América Latina e 5ª maior do mundo”, deu início à elaboração do Plano Municipal de Turismo da cidade, o PLATUM, criado através da Lei nº 11.198 de 19 de maio de 1992, tendo como objetivo “formular a política municipal de turismo, visando criar condições para o incremento e o desenvolvimento da atividade turística no Município de São Paulo”. (PLATUM, 19902001: 6) Estes órgãos e a iniciativa privada visavam ao estímulo às atividades turísticas no município, organizando um conjunto de ações que contribuam para o desenvolvimento da atividade dos setores relacionados ao turismo, devido seu crescimento causado pelo “positivo impacto econômico, social e cultural que a mesma tem, proporcionado à cidade e seus habitantes”. (PLATUM 2004 – 2006) 23 Mercado de consumo número um da América Latina. 43 Segundo o PLATUM (2004-2006: p. 4) no que se refere a características dos visitantes, “o turismo de negócios e eventos em São Paulo é predominante, representando mais que o dobro da média brasileira”. Gráfico do Capítulo 2.2 GRÁFICO 2 Distribuição por motivo de viagem - 2001 100% 100% 17,8 90% 80% 90% 80% 70% 15,4 70% 60% 60% 50% 50% 40% 55,5 40% 66,8 30% 14,3 20% 30% 20% 10% 10% 0% 30,2 0% São Paulo negócios e eventos lazer Brasil outros negócios e eventos lazer outros FONTE: PLATUM 2004 - 2006 NOTA: Gráfico elaborado pela autora com números do PLATUM O motivo que trás estes turistas à cidade, como demonstra o gráfico, são os negócios. Para Wilson Rabahy (2003:117) “o fator econômico não atua isoladamente sobre as decisões dos consumidores”; porém, em São Paulo notamos que um dos seus grandes propulsores são os eventos e o ciclo de negócios são afetados pelos setores da economia mundial refletindo no consumo de diversas áreas inclusive no turismo. As medidas de política econômica e social adotada pelo Estado também desempenham papéis relevantes no desenvolvimento da atividade turística, ao priorizar ou dificultar o ingresso de turistas estrangeiros e as saídas dos turistas nacionais, e mesmo quando à política de subsídios e investimentos públicos. RABAHY (2003:123) 44 De acordo com pesquisas, dentre os países estrangeiros que mais emitem turistas para cidade de São Paulo é a Argentina com 21,51%, em segundo lugar os Estados Unidos com 19,25%, a Alemanha em terceiro lugar com 7,46%.24 Quanto à permanência média do turista estrangeiro na cidade, a EMBRATUR demonstra que no ano de 1997 era em média 7 dias, tendo como conseqüência direta o fator negócios, sendo que este período é menor em relação a outras cidades do país. Porém, nem só de negócios e eventos vive a cidade de São Paulo. Ela apresenta uma grande quantidade de recursos turísticos, dentre os quais estão: Serviço de apoio ao turista, Serviços Públicos, Comunicações ... Parques – 23 parques com inúmeras áreas de lazer Atrativos Naturais – 20,8 milhões de áreas verdes distribuídas em 30 parques municipais e 3 estaduais. Esportes, Cinemas, Casas de Diversão, Eventos , Teatros, Compras Atrativos artificiais – aspectos urbanísticos interessantes em algumas áreas da cidade, eventos no circuito internacional, feiras, shows, campeonatos, etc., eventos técnicos e científicos, grande concentração de indústria e comércio. Ciências – inúmeros espaços culturais científicos, entre eles o SESC Pompéia, o Memorial da América Latina, Estação Ciência, o Centro Cultural de São Paulo, etc... Recursos humanos – alto índice de formação profissional, especialmente turístico, material humano altamente especializado. Patrimônios – Casa do Grito, Pateo do Colégio, Palácio dos Bandeirantes, Edifício Martinelli, Palácio das Indústrias, Mercado Municipal além de de cerca de 257 igrejas católicas, templos judeus, ortodóxicos e protestantes entre outros. Cultura – museus: MASP, Museu Paulista, MIS, MAM, Museu de Arte Sacra, Pinacoteca do Estado, Museu de Arte Contemporânea e Museu da Escultura entre outros... Recursos turísticos da cidade Parques – 23 parques com inúmeras áreas de lazer Hospedagem – hotéis de classe internacional com infra estrutura, bem localizados, segurança e facilidade, serviços e padrão internacional Agencias de viagem, Locadoras, Transportes, Acessibilidade Rodoviária Ferroviária e Aérea Gastronomia – destaca-se por oferecer boa comida, cerca de 13 mil restaurantes, 36 tipos de culinária diferentes – a cidade recebeu em 1997 título de “Capital Mundial da Gastronomia” FONTE: PLATUM 1999 - 2001 (p. 29-33) NOTA: Quadro montado pela autora com informações retiradas do PLATUM Segundo análise do PLATUM (1999-2001) “Anualmente estima-se que este setor gere para o município cerca de 200mil empregos diretos, movimente cerca de US$ 8,2 bilhões e arrecade cerca de US$ 425 milhões em impostos”. Apesar da cidade ter sido considerada pelo Corporate Research Group como a mais cara da América do Sul e uma das mais caras do mundo, este fato deve-se também ao grande desenvolvimento observado dos serviços disponíveis, bem como à diversificação 24 Segundo dados da SPC&VB, pesquisa encomendada pelo Plano Municipal de Turismo - PLATUM 994-1997 45 constante de opções na área de lazer e entretenimento em geral. ( PLATUM de 1999 – 2001: p. 23) Considerando que a cidade de São Paulo possui um grande potencial turístico a ser desenvolvido, e visando à necessidade de captar mais turistas, o Plano Municipal de Turismo aponta que o turismo é uma atividade que gera empregos e capta recursos e divisas; promove o desenvolvimento econômico setorial e, por isto, exige desenvolvimento de projetos que eleve “o padrão de qualidade dos serviços ofertados e diversificação de opções oferecidas”; para que isto aconteça, o propósito do PLATUM é: “Fazer da cidade de São Paulo um grande centro de atração turística”. (PLATUM, 19992001: 38-39). Autores que estudam o turismo, dentre eles Mário Carlos Beni, afirmam que o desenvolvimento do Turismo está atrelado aos problemas urbanos de um dado território, já que o mesmo acontece em um espaço físico. (BENI. 2002: 109) Para resolver alguns problemas da cidade o PLATUM criou um programa de metas a serem atingidas para melhorar o turismo na cidade, e estes são: Conjunto de alvos a serem atingidos PROGRAMA DE DIVULGAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO TURÍSTICA ● Conscientizar o cidadão, a iniciativa privada e o poder público quanto à importância do turismo como atividade econômica. ● Fixar a imagem da cidade como grande centro de atração turística. PROGRAMA DE LEGISLAÇÃO TURÍSTICA ● Dotar a cidade de legislação adequada para o setor turístico. PROGRAMA DE INFRA-ESTRUTURA E INVESTIMENTO TURÍSTICO ● Disponibilizar para cidade sistemas de informações turísticas. ● Oferecer opções de transporte que garantam rápidos deslocamentos. ● Incentivar a criação e diversificação de equipamentos para eventos e entretenimento em geral. ● Incentivar maiores investimentos na atividade turística, de eventos e entretenimento em geral. PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE ATRATIVOS TURÍSTICOS ● Revitalizar os pontos de interesse turístico da cidade, além de criar e fomentar novos pontos de atração. ● Criar, implantar e apoiar a geração de atividades culturais, artísticas, de eventos e entretenimento em geral. ● Captar, promover e incentivar a realização de eventos na cidade. PROGRAMA DE QUALIDADE TURÍSTICA ● Garantir a qualidade dos serviços nos diferentes segmentos da atividade turística. FONTE: PLATUM, 1999 – 2001: 45 46 Estas e outras medidas visam à criação de projetos para valorizar, revitalizar e criar novos pontos de interesse turístico na cidade e nesta discussão está o apoio “a transformação e concentrações étnicas em bairros temáticos da cidade.”25 A cidade de São Paulo tem um grande potencial turístico a ser desenvolvido. Cabe aos responsáveis a implantação dos recursos destinados ao turismo, possibilitar uma participação democrática no planejamento urbano, como questões relacionadas ao uso da cidade, formação e manutenção da identidade de grupos, etnias e culturas, bem como outros planos e projetos turísticos para que a mesma apresente aos seus visitantes e moradores qualidade em produtos, serviços e hospitalidade. Para um melhor entendimento do turismo na cidade, cabe-nos conceituar o Turismo Cultural Urbano, sua trajetória, traçado através do capítulo seguinte, bem como a questão do processo de evolução histórica de São Paulo e, para complementar o surgimento dos imigrantes orientais e a caracterização do Bairro da Liberdade, visto como bairro temático. 25 PLATUM. 1999 – 2001: 58. 47 3 Turismo Cultural Urbano Podemos dizer que o Turismo, mais especificamente o Turismo Cultural Urbano é um dos setores de maior importância em termos de expectativa de crescimento econômico e de geração de empregos. Ele impõe crescimento local, é uma força que promove mudanças de comportamento na economia e sócio-urbanístico. Porém, temos que enfrentar desafios como o desenvolvimento sustentável26 um conceito que implica o uso racional dos recursos naturais, de forma a evitar comprometer o capital ecológico do planeta. Trata-se de incluir considerações de ordem ambiental no processo de tomada de decisões econômicas, devendo, portanto, significar desenvolvimento social e econômico estável, com distribuição de riquezas geradas, considerando a fragilidade, a interdependência e as escalas de tempos próprios dos recursos naturais. Em 1987 a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas publicaram o Relatório de Brundland, que apresentou o conceito de "Desenvolvimento Sustentável". Definida por 170 países que estavam na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. “Para tornar realidade as novas inspirações, a Conferência aprovou a Agenda 21, documento contendo uma série de compromissos acordados pelos países signatários, que assumiram o desafio de incorporar, em suas políticas públicas, princípios do Desenvolvimento Sustentável”, impondo mudança no desenvolvimento global. 27 Desta forma, é preciso conceber uma maneira de desenvolvimento fora do plano abstrato. O Turismo Urbano também se apresenta como receptivo em alguns momentos, por assumir um caráter de lazer urbano, lembrando que o mesmo se destaca pelos marcos referenciais da paisagem natural e da paisagem construída pelo 26 O conceito sustentabilidade não é algo muito fácil de se definir, mas, inicialmente está associado “(...) à necessidade de preservar os recursos ambientais, referia-se a um tipo de desenvolvimento capaz de atender às necessidades da geração atual sem comprometer os recursos necessários para satisfação das necessidades das gerações futuras”. Difícil de ser medida por se tratar de uma qualidade em movimento. O equilíbrio é mantido ao longo do tempo. Mecanismos de Sustentabilidade. Disponível em: http://www.ibam.org.br/urbanos/assunto2/blt6_int.htm> Acesso em: 03 ago. 2007. 27 Op. cit. Disponível em: http://www.ibam.org.br/urbanos/assunto2/blt6_int.htm> Acesso em: 03 ago. 2007. 48 homem. E estas paisagens urbanas construídas pelo homem demonstram as características étnico-culturais, formando assim espaços cênicos de concentração da população, permitindo uma leitura a cada visitante e estes locais são praças, mercados, lojas, restaurantes, casas noturnas, templos etc. Para inserir o turismo no espaço urbano dependemos de vários aspectos, sendo as relações entre os agentes econômicos privados e os setores públicos que tornam o espaço urbano dinâmico e carente de equipamentos que venham atender este novo público que necessita de lazer e consome o produto turístico. Podemos observar o Turismo Cultural Urbano como um grande agente do desenvolvimento nas cidades. O bem cultural tornou-se uma mercadoria, estando associado a múltiplas funções, tendo também a exploração da parte histórica que atrai visitante residente e turista de outros locais. Visto também como um segmento que trata de viagens de estudos, e de muita importância para vários países, principalmente os de língua inglesa. “Contudo, a cultura não se restringe ao estudo formal, ao contrário: todas nossas ações fazem parte da cultura”. Desta forma, podemos observar que o Turismo Cultural só ocorre quando nos apropriamos de algo que possa ser caracterizado como “bem cultural”. (FUNARI, PINSKY “et alli”, 2002: 7) Não devemos vislumbrar o Turismo Cultural fazendo parte apenas do patrimônio sugerido como grandes edifícios ou obras de arte, mas o patrimônio28 abrangendo tudo o que constitui parte do “engenho humano”, ampliando nossa leitura e compreensão como sugere FUNARI, PINSKY “et alli”: O turismo tende a considerar o patrimônio cultural como aquele que se volta para certos tipos de atividades mais propriamente “culturais”, tais como as visitas a museus, a cidades históricas ou a roteiros temáticos, como a rota dos queijos e dos vinhos, por exemplo. Este é um aspecto importante do Turismo moderno, pois os maiores países, regiões e cidades receptoras de turistas podem ser identificados como destinos de turistas ávidos por cultura, como é o caso da Itália o país com o maior 28 “A palavra patrimônio pode assumir sentidos diversos. Originalmente esteve relacionado à herança familiar, mais diretamente aos bens materiais. No século XVIII, quando, na França, o poder público começou a tornar as primeiras medidas de proteção aos monumentos de valor para história das nações, o uso de “patrimônio” estendeuse para os bens protegidos por lei e pela ação de órgãos especialmente constituídos, nomeando o conjunto de bens culturais de nação.(...) O patrimônio passou a ser, assim, uma construção social de extrema importância política.” (FUNARI, PINSKY et alli, 2002, Op. cit p. 09) 49 número de patrimônio tombados pela Unesco, mas também da França, Egito Grécia, Turquia e Grã-Bretanha. No Brasil, este é o caso das cidades coloniais de Minas Gerais e das missões Jesuíticas no Sul. (2002:9) Quando discutimos a questão do Turismo Cultural Urbano associamos a locais de grande apelo à atração turística e também à conscientização social. Porém como demonstra FUNARI, PINSKY et alli, 2002: 09; “Ainda que a política de patrimônio tenha preservado muito desigualmente os bens culturais (...)”, podemos associar o fator Turismo Cultural relacionando-o com o período pós-modernidade,29 pois neste período reforçam-se as bases econômicas e, conseqüentemente, ocorrem transformações substanciais no mundo, tornando-o globalizado e acessível. Cláudia Henriques ao analisar John Urry (1995) e associar a pós –modernidade aos lugares ressalta que: Primeiro, os lugares estão cada vez mais a ser reestruturados como centros para o consumo, enquanto providenciam o contexto para os bens e serviços serem avaliados, comparados, comprados, utilizados. Segundo, os lugares são em certa medida consumidos, nomeadamente numa vertente visual. Especialmente importante neste aspecto é a provisão de vários tipos de serviços a ser consumidos quer por visitantes quer por residentes locais. Terceiro, os lugares podem ser literalmente consumidos: aquilo que as pessoas consideram importante num lugar... É através do tempo esgotado ou devorado através do uso. Quarto é possível para as localidades consumirem a sua identidade de modo que os lugares se tornem todos literalmente consumíveis (all consuming). (URRY, 1995 apud HENRIQUES, 2003:37) A criação da indústria cultural,30 que surgiu com o meio de “comunicação de massa”, (os primeiros jornais), e, com o fenômeno da industrialização,31 reforçando as normas sociais com seus produtos que conseqüentemente são vendidos, e, posteriormente, formou-se uma nova modalidade de turismo, “o turismo cultural 29 Período caracterizado pelo desenvolvimento e pelas transformações que aconteceram no campo tecnológico, na produção econômica, na cultura, nas formas de sociedade, na vida política e na vida cotidiana. (SANTOS, 2006: 264). 30 Observando que a indústria cultural faz parte do SISTUR, sendo um dispositivo que está sujeito a variáveis. Mário Carlos Beni afirma que o sistema cultural está inserido dentro do contexto do patrimônio cultural e que “devem ser avaliados em profundidade os efeitos sobre os valores histórico-artísticos, assim como os usos e costumes da população.” (BENI, 2002: 273) 31 “(...) a indústria cultural, os meios de comunicação de massa a cultura de massa surgem como funções do fenômeno da industrialização (...)” (COELHO, 1991; p.10) 50 urbano”, (HENRIQUES, 2003: 43) e assim, houve a necessidade da criação de uma paisagem urbana com espaços de consumo e de fruição lúdica, evidenciando o lugar como um espaço cênico. Esta mudança ficou por conta dos organismos geradores desta indústria, e neste contexto podemos observar que vários locais são criados e adaptados para serem reutilizados, entre eles estão “antigas áreas industriais e de equipamentos (prisões, quartéis, hospitais, centrais termoelétricas, estações de caminho de ferro) dispersos no tecido urbano, entretanto tornados obsoletos com o progresso técnico ou seja cuja localização já não se revela ajustada à função inicial”. (HENRIQUES, 2003: 43). Porém, lembramos que o Turismo Cultural Urbano não usufrui somente produtos culturais do passado (restaurado ou modificado), mas também o patrimônio da cultura contemporânea ou modo de vida de um povo em uma determinada região. A cultura de um povo é testemunha das experiências vividas, individualmente ou coletivamente, permite a determinado grupo o sentimento de pertencer a um determinado espaço, bem como identificá-lo na sociedade. As diferenças culturais permitem que sobrevivam determinados costumes. Isto ocorre devido à herança cultural deixada e praticada por descendentes ou não; são testemunhos que se transformam e acabam se tornando um patrimônio devido aos seus valores culturais e, quando são praticados em um espaço urbano, acabam se tornando um atrativo cultural, que são geralmente explorados pelo turismo. 51 FIGURA 1: PRAÇA DA LIBERDADE NA FESTIVIDADE DO TANABATA MATSURI FONTE: Hideki Matsuka – (jul./2007) Como podemos observar na figura 1, que mostra o festival Tanabata Matsuri de 2007, um dos eventos que fazem parte do calendário anual da cultura japonesa e acontece no Bairro da Liberdade. Uma manifestação cultural que atravessou o oceano, e, acontece anualmente em nosso país e em outros que possuem grande concentração de imigrantes japoneses. Este e outros eventos da colônia japonesa acabou se transformando em uma forma de atração para o turismo, sendo classificada no SISTUR por “Turismo Étnico-Histórico-Cultural”. Refere-se ao fluxo de turistas nacionais e internacionais que se deslocam centrados na motivação de suas origens étnicas locais, e também no legado histórico-cultural de sua ascendência comum. Incluem-se aí ainda aqueles que se deslocam com objetivos eminentemente antropológicos para conhecer “in loco” as características éticoculturais daqueles povos que constituem o interesse de sua observação. (BENI, 2002: 425) Devido às manifestações culturais, ocorre uma apropriação do espaço urbano, e estes novos usos promovem uma revitalização e em alguns casos acontece a regeneração da paisagem urbana. Porém, estas transformações também podem causar impactos na vizinhança e muitas vezes um choque cultural, como a mudança de hábitos da população local e diminuição da qualidade de vida. 52 Para que não aconteçam danos causados pelo uso inadequado do espaço, podemos antever com algumas medidas tangíveis sugeridas por Claudia Henriques, quando apresenta o quadro demonstrando o contexto da gestão do planejamento sustentável para o turismo cultural urbano. (HENRIQUES, 2002: 15) FIGURA 2: O TURISMO URBANO NO CONTEXTO DA GESTÃO E PLANEJAMENTO TURÍSTICO E URBANÍSTICO Procura turística Oferta turística Procura turística Turistas Planejamento (e gestão) turístico(s) Produto turístico cultural Centros históricos com aproveitamento turístico Poder da cultura Sinergia Patrimônio cultural Qualidade urbana Centro histórico Atratividade Capital imagem Capital paisagem Capital econômico Turistificação Dinâmica urbana Planejamento do turismo sustentável nos centros históricos Identidade CIDADE Degradação/ regeneração/ reabilitação Oferta turística cultural Dinâmica, agentes/ atores Sustentabilidade Política de reabilitação urbana integrada Meios (financeiro seconômico sociais). Política de reabilitação do centro histórico da cidade histórica Acessibilidade Planejamento e gestão do centro histórico Cidadãos/residentes Usufruto dos equipamentos/ estilos de vida Urbanismo, planejamento (gestão) urbano(s) FONTE: HENRIQUES (2002: 15) A figura 02 apresenta como se processa a dinâmica da oferta e procura turística e a contribuição do gestor no planejamento da cidade e do centro histórico. O desenvolvimento acontece quando há sustentabilidade do local, apresenta o setor público juntamente com o setor privado, trabalhando juntos para estabelecer o desenvolvimento turístico nas áreas históricas, levando em consideração os fatores econômicos, sociais e ambientais. O planejamento vem, através da procura do produto turístico, proporcionar aos setores ligados a ele o turismo sustentável nos centros históricos das cidades que possuem o patrimônio cultural. A cidade em seu contexto 53 urbano possui uma dinâmica social, política, cultural e econômica que permeia o usufruto dos equipamentos ligados à cultura, proporcionando aos cidadãos residentes ou turistas ocasionais uma identidade que está ligada à qualidade urbana, acessibilidade e ao poder da cultura atraindo-os para o uso destes equipamentos. O sucesso do local só acontecerá se houver um planejamento e gestão adequada. Ao fazer a leitura da figura 2, Claudia Henriques explica que: Da figura 02 ficam explicitas três grandes dimensões conceituais. A primeira associada ao espaço cidade, a segunda associada ao desenvolvimento econômico e especificamente ao desenvolvimento turístico e a terceira associada a cultura na sua vertente patrimonial. Temos então turismo, cidade e cultura consubstanciados no turismo urbano cultural, nomeadamente circunscrito aos bairros núcleos histórico (HENRIQUES, 2003: 15) O turismo cultural está ligado à arte em geral e ao patrimônio edificado (nosso grifo), que através da procura atrai para esta atividade turística um pacote de serviços oferecidos ao turista. Portanto, entendemos que o recurso cultural ligado à arte compreende visitas à museus, às galerias de arte, aos espetáculos de música, teatro, ópera, dança etc. E o patrimônio edificado usufruído no turismo cultural são igrejas, casas típicas, castelos, vestígios arqueológicos e também associações de lugares com acontecimentos históricos e personalidades. “É nesta acepção de cultura que se pode falar de turismo cultural em espaço urbano, concebido a partir da ideia da concentração espacial de recursos”. (HENRIQUES, 2003: 47) Ao associar a população de um determinado lugar ao patrimônio cultural edificado, encontramos um pouco de sua história, podemos distinguí-lo por seu caráter arquitetônico e sua diversidade de estilos e períodos. Porém, quando vemos lugares que são semelhantes que se repetem em outros lugares no mundo, no que concerne ao ambiente construído (réplicas), nos questionamos sobre a legitimidade, mas se analisarmos o mercado econômico que está voltado ao turismo, isto será um atrativo, e, segundo Yázigi (2001: 19), “a reconstrução do lugar entra no difícil dilema de escolher ente cair na mesmice da globalização ou de buscar um caminho condizente com o diálogo, com raízes territoriais e culturais”. Em um contexto passado, a arquitetura era 54 repetida seguindo padrões e o “urbanismo como modo de vida”; então, segundo o autor, estamos vivendo “um paradigma do que possa ser identidade”. A imagem de um determinado lugar não deve ser percebida pela sua individualidade, e sim no seu contexto, pois a paisagem no todo identifica o lugar. “Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”. (SANTOS, 2006: 339) O turismo introduz novos códigos culturais e propõe novos sistemas de símbolos baseados em imagens que substituem a realidade e conduzem a julgamentos segundo códigos impostos pela mídia. Assim a publicação não se limita a designar um produto particular a vender, porém, mediante a utilização de linguagens e meios de informação cuidadosamente elaborados, difunde-se uma imagem de um modo de vida e de uma ideologia inspirados por grupos líderes da população, os quais convém imitar pelos comportamentos e hábitos de consumo. (RODRIGUES, 2001: 90) A população usufrui a imagem urbana, e o Turismo Cultural Urbano acaba acontecendo naturalmente e, através do consumo de determinados grupos sociais. A busca pela oferta do produto turístico não cessa, a cidade expõe seus produtos dentro dos limites de seu espaço cultural, no qual será consumido de acordo com seu valor histórico e também seu poder de atração. A imagem projetada ao consumidor do produto turístico urbano é planejada por gestores responsáveis pela captação dos turistas. 55 FIGURA 3: TURISMO, CIDADE E CULTURA: A INTERCONEXÃO CONCEITUAL Turismo Produto turístico Oferta turística Procura turística Turistificação da cidade Turistificação da cultura Turismo Produto turístico Cidade Oferta turística cultural urbana Cultura Procura turística cultural urbana Cidade Cultura Produto turístico urbano Oferta turística urbana Produto turístico cultural Cidades espaço cultural – a ênfase dos valores históricos e culturais dos centos históricos Oferta turística cultural Procura turística urbana Urbanismo e planejamento urbano Procura turística cultural Planeamento turístico urbano Planeamento e gestão de turismo sustentável nos centros históricos das cidades como locais de patrimônio cultural e lazer O papel dos agentes públicos e privados FONTE: HENRIQUES (2002: 16) Vimos nesta figura (fig.03) a grande importância do planejamento e da gestão sustentável. Fica evidente a importância dos agentes públicos e privados. Sendo assim, através da leitura do quadro, podemos observar que o turismo acontece devido à procura turística em um local (cidade) que oferece o produto e a oferta turística, onde a cidade é vista como um espaço lúdico e cênico, proporcionando através da cultura esta procura; cabe aos agentes públicos e privados, através do planejamento urbanístico adequado, a gestão do turismo sustentável nos centros históricos das cidades, fornecendo qualidade e valorizando estes locais de patrimônio cultural e lazer para que possam ser consumidos. Para se conseguir uma qualidade ideal para o produto turístico, é necessário um planejamento de longo prazo, voltado ao interesse da população local, bem como aos 56 turistas, e segundo RUSCHMANN, 1997: 163. “Os maiores problemas da falta de planejamento se apresentam em núcleos turísticos saturados, isto é, onde o excesso de demanda criou uma oferta desordenada e imediatista, causando dano praticamente irrecuperável à natureza e ao traçado urbano”. O planejamento turístico sustentável é uma forma de prevenir e aplicar soluções aos problemas como a degradação, manter a originalidade das comunidades receptoras, não deixando que a exploração econômica do turismo ultrapasse valores culturais, ambientais e psicossociais. “(...) O turismo é visto como atividade não tradicional e suas diretrizes de desenvolvimento são originárias de outros campos da atividade econômica; porém já apresenta um corpo teórico substancial que pode fundamentar cientificamente as mais amplas discussões e decisões sobre seu planejamento”. (RUSCHMANN, 1997: 163) Segundo Henriques (2003), definir o turismo cultural é muito difícil devido à grande variação de definição de cultura, de turismo e a articulação entre ambos. Para o ICOMOS32 a concepção de turismo cultural é uma forma de turismo, cujo objetivo maior é a descoberta de monumentos e lugares: Ele exerce nestes últimos um efeito positivo na medida em que contribui, para satisfazer os seus próprios fins, para a sua manutenção e proteção. Esta forma de turismo justifica os esforços de proteção, conservação e manutenção devido aos benefícios econômicos e sócio-culturais que produz para toda a população envolvida. Porém, já à data da Carta refere que, independentemente das motivações e justificativa de benefícios, o turismo cultural deriva ter em consideração os potenciais efeitos negativos e destrutivos que o uso massificado e descontrolado dos monumentos e lugares poderia acarretar. (HENRIQUES, 2003: 49) O ICOMOS salienta a importância da conservação e discute a necessidade de investimentos nestes espaços das cidades para que haja um uso correto no que concerne ao turismo cultural. Em 1985, a OMT33 definiu o turismo cultural urbano como “uma viagem que satisfaz a necessidade de diversidade, de ampliação de conhecimento, que todo ser 32 33 International Council on Monuments and Sites – (Conselho Internacional de Monumentos e Lugares). Organização Mundial de Turismo. 57 humano traz em si”; assim, em uma leitura mais restrita, reduz o turismo cultural a uma viagem movida por motivos culturais e educativos. (HENRIQUES, 2003: 49) Sabe-se que foram aprofundadas e alteradas as visões do turismo cultural urbano, mas sempre há novas definições a serem exploradas, e que poderão ser feito num outro estudo. Para sintetizar, vimos o turismo cultural urbano como uma atividade onde o turista, pela necessidade de evasão, consome o produto cultural oferecido pela cidade. Neste contexto, abordamos no próximo capítulo brevemente a história de São Paulo e do Bairro da Liberdade, para um melhor entendimento deste capítulo. Posteriormente, será dada continuidade ao turismo cultural urbano, destacando um bairro temático de São Paulo. 58 4 Processo Histórico da Cidade de São Paulo O nascimento da Vila de São Paulo aconteceu devido às relações naturais para sobrevivência. A princípio, houve o predomínio da vida rural sobre a urbana. O domínio dos valores religiosos e administrativos contribuíram para a formação da cidade, vilas e bairros, “os próprios jesuítas abandonaram as normas geométricas no planejamento das suas aldeias, adaptando-se a topografia.” (MORSE, 1970: 30) A colonização portuguesa trouxe a missão jesuíta ao Brasil com intenção de catequizar os índios, para estes trabalharem em suas terras. O Pátio começou a ser construído após a celebração da primeira missa de São Paulo de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, celebrada pelos padres Manuel Paiva, Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Logo depois, iniciou-se a construção do Real Colégio de São Paulo de Piratininga, que foi o marco inicial da cidade. Quando ficou pronto, em 1º de novembro do ano seguinte, era apenas uma casinha medindo 14 passos de comprimento por 10 de largura, mas foi ela que se transformou em casa e colégio dos jesuítas e, mais tarde, em enfermaria, cozinha, refeitório. Neste local (Pátio do Colégio) encontra-se a primeira fisionomia da cidade (a cidade de taipa34). Houve muitas modificações, atualmente no Pátio só uma parte é de taipa e se encontra preservada envolta por parede de vidro. A composição desta construção se deu em 1954, a reforma foi feita devido à comemoração do Quarto Centenário. Foi edificado no Planalto do Piratininga por ser um local alto, por causa dos índios e das enchentes causadas pelo rio Tamanduateí e Anhangabaú. (RUIZ, 2004 apud AZEVEDO, 1958: 10-38) Por volta de 1882, anos após a expulsão dos jesuítas devido à sua oposição ao governo português, o governador Morgado de Matheus fez próximo ao local o Palácio do Governo, que passou a ser chamado o Largo do Palácio, tornando-se o centro das atividades da cidade. Ao seu redor foram sendo construídos a Casa de Fundição, o Solar da Marquesa e a Casa da Ópera. Assim, o Pátio se tornava cada vez mais 34 A taipa era feita de barro, água, sangue de animal e algumas vezes usavam madeira. 59 importante e grande centro urbano, preenchido pelos barulhentos feirantes e comércio agitado das redondezas. O Solar da Marquesa é considerada a última edificação construída em taipa de pilão. O lugar foi a residência da Marquesa de Santos por aproximadamente trinta anos. E essa construção só é preservada até hoje devido à importância dessa figura polêmica do primeiro reinado que, entre tantos feitos, foi amante de D. Pedro I e deixou em seu testamento os nomes de alguns de seus escravos. Localizado na Rua Roberto Simonsen, 136, a construção foi feita de uma maneira estratégica para que ficasse bastante iluminada, arejada e grande. Foi sede da Secretaria Municipal da Cultura35. Além de abrigar o Solar da Marquesa de Santos, este também é o endereço da Divisão de Iconografia e Museus, um acervo fotográfico da cidade que retrata a São Paulo e suas transformações urbanas nos últimos 140 anos. Nele há dois andares, jardim interno, paredes originais expostas com pinturas do período colonial, também foi possível ver em paredes taipa o tipo de construção original da época. Para preservar a estrutura, tem um limite de peso para o andar superior. No seu período áureo havia saraus, chás, encontros musicais e sociais. Hoje, é possível encontrar no acervo a documentação dos prefeitos desde 1965, o que significa cerca de 300.000 imagens fotográficas com suporte flexível. O fotógrafo Benedito Junqueira Duarte foi o responsável pela implantação de técnicas de identificação, catalogação e indexação no acervo. Desde então, o acervo passou a ser consultado por pesquisadores internos da prefeitura, estendendo-se ao público em geral, que busca nessas fotografias material para pesquisas dos mais variados enfoques da cidade de São Paulo, como a produção de teses, publicações, reportagens, montagem de cenários, entre outros. Em 1990, a Divisão de Iconografia e Museus recebia todo mês cerca de 150 pesquisadores internos e externos, que movimentavam aproximadamente 5000 imagens. Hoje, uma das partes dos negativos está se deteriorando. As condições precárias do arquivo e laboratório não suportam um atendimento maior do que 10 pessoas mensais, que movimentam cerca de 80 imagens. (DPH)36 35 A Secretaria Municipal da Cultura atualmente é na Avenida São João, 473 Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História. Disponível em: http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai. 2007 36 60 A cidade de São Paulo surge através das ruas do Triângulo, o perímetro delimitado pelas Ruas Direita, São Bento e 15 de Novembro, e o Triângulo acabou virando uma região de passeio. A expressão fazer o Triângulo acabou denominando o passeio de grupos de rapazes saindo do Largo São Bento, avançando pelas Ruas 15 de Novembro, Direita e São Bento, enquanto as moças faziam o trajeto inverso. O Centro era balizado pelos Conventos de São Francisco, São Bento e do Carmo. As ruas não iam além dos vales dos rios Tamanduateí e Anhangabaú. Tudo era tão perto que a primeira linha de bonde, puxado por animais, só seria inaugurada em 1872. Mas o primeiro passo para tirar São Paulo do destino periférico havia sido dado no ano anterior. A inauguração da ferrovia Santos-Jundiaí, em 1867, iria ajudar a canalizar para a cidade a riqueza do café, que se expandia pelo Oeste do Estado, e, no sentido contrário, iria trazer milhares de imigrantes estrangeiros. (OLIVEIRA, 2004 apud AZEVEDO, 1958: 50) No Largo São Francisco encontra-se a ordem 3ª Franciscana, Igreja Colégio e Faculdade de Direito. Este conjunto arquitetônico corresponde ao terceiro vértice da São Paulo Colonial. A Igreja foi construída em 1639 – os franciscanos vieram de Salvador para construí-la. O Conjunto Franciscano é considerado um dos exemplares da arquitetura religiosa praticada em São Paulo.37 A dinâmica de cidade cresceu vertiginosamente e as transformações foram inevitáveis. São Paulo, a vila que passou a cidade em 1711, manteve seu aspecto colonial até por volta de 1870, nasceu por ser um encontro de caminhos, caracterizando uma “categoria de turismo colonizador” que provocou grandes alterações na dinâmica dos índios que aqui povoavam, causando mudanças nos usos e costumes. São Paulo apresentou uma lenta transformação urbana durante os séculos XVII e XVIII, como indicam os registros da Câmara Municipal e os registros de viajantes. Situada no alto de uma pequena elevação de planta aproximadamente triangular e cercada por barracos e ladeiras, suas casas encostadas umas às outras se voltam para dentro da área urbana, dando costas para os vales vizinhos do Anhangabaú e Tamanduateí. Em frente às numerosas edificações religiosas - igrejas, mosteiro e 37 Op. Cit. DPH - Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História. Disponível em: http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai. 2007. 61 conventos - abrigam-se pequenos largos o maior e mais regular dos quais o Pátio do Colégio, fronteiro ao estabelecimento dos jesuítas que motivara a fundação da pequena Vila. O conhecimento histórico do surgimento da cidade de São Paulo é muito importante para que pensemos o presente e projetemos o futuro. É necessário que tenhamos um estudo atualizado e detalhado dos bairros, do que foi a cidade de nossos antecessores, para que tenhamos conhecimento do ambiente urbano em que vivemos atualmente, das pessoas que habitam e quais as causas e conseqüências que sofreram neste processo de transformação. Em CAMARGO (2005) Sant Hilaire38 faz uma descrição das pessoas que passavam por São Paulo no século XIX. (...) nenhuma dificuldade há em distinguir os habitantes da cidade de São Paulo dos das localidades vizinhas. Estes últimos, quando percorrem a cidade, usam calças de tecido de algodão e um grande chapéu cinzento sempre envolvidos no indispensável poncho, por mais forte que seja o calor. Denotam seus traços alguns caracteres da raça americana, seu andar é pesado, e tem ar simplório e acanhado. Saint Hilaire observava a cidade como local de reuniões e encontros de pessoas, seus habitantes e aqueles que passavam pelo núcleo central se confundiam numa rede complexa e marcada pela simplicidade de acanhamento. No Vale do Anhangabaú (o rio Anhangabaú canalizado) formavam-se os limites naturais do trio colonial. Passou por vários projetos de reurbanização por iniciativa de vários prefeitos, a última foi de Luiza Erundina. Atualmente, a área do Vale do Anhangabaú está sendo conservada pelos poderes públicos e privado. Lá foram construídos dois grandes viadutos para preservar a área central que liga o centro velho ao centro novo, (um deles é o Viaduto do Chá – tem este nome, pois no passado havia uma grande plantação de chá no local). O Viaduto do Chá representa a expansão da Cidade de São Paulo. Liga a Rua Barão de Itapetininga ao Largo do Arouche.39 38 Augusto Sant Hilaire – (escritor naturalista enviado em 1819 para exploração científica para estudo da fauna, flora, geografia física e habitantes do país) 39 Op. Cit. DPH - Departamento de Patrimônio Histórico – A cidade de São Paulo e sua História. Disponível em: http://www.prodam.sp.gov.br/dph/servicos/multi.htm. Acesso em: 07 mai. 2007. 62 Em 1892, a construção do Viaduto do Chá terminou, e em 1903, começava a ser erguido o Teatro Municipal, que foi finalizado em 1911. No início da década de 1910, foram apresentados diversos projetos de melhorias para o centro da cidade. Após uma série de discussões, a prefeitura privilegiou as obras de urbanização da região em torno do vale do Anhangabaú. Até a década de 20, o local tornou-se o cartão de visita da cidade, representação simbólica da República. Nesse período, os republicanos se enriqueceram com o café e, assim, como elitistas, adoravam a estética européia, cosmopolita, mas também ficavam assustados com a modernidade presente na Semana de Arte Moderna de 1922.40 A princípio, o desenvolvimento urbano no Brasil ocorreu em etapas distintas que se relacionam com as características econômico-políticas da formação social brasileira, tanto internas quanto externas (ou seja, referentes ao papel do Brasil no contexto internacional). A primeira etapa aconteceu no período colonial e pós-colonial até meados do século XIX, formando-se assim, pelo Estado colonizador, através do aparelho político e administrativo. Na medida em que se desenvolviam as atividades econômicas, eram necessárias condições urbanas para o desenvolvimento nacional e internacional, fazendo parte do plano a cidade de São Paulo. (CAMARGO, 2005: 30). O ciclo da economia cafeeira alavancou a urbanização do Estado de São Paulo. (...) o cultivo do café é uma atividade urbanizadora, pois ao contrário do açúcar, necessita de condições gerais para o seu funcionamento que só podem ser oferecidas pelas cidades: circuitos de comercialização, rede bancária, entrepostos para estocagem e beneficiamento do produto, mercado para compra de insumos importantes e, finalmente, um local de consumo um pouco mais suntuário para os proprietários do excedente. (CAMARGO, et alli. 2005: 32) Porém, com o passar do tempo a economia cafeeira entra em crise, e a Primeira Guerra contribui para que a “sociedade brasileira inicie a sua industrialização, baseada na substituição de importações, utilizando o excedente gerado pelas atividades agrícolas de exportação”. (CAMARGO, 2005: 34) 40 Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php> Acesso em: 22 out. 2007 63 FIGURA 4: CARTÃO POSTAL DO VIADUTO DO CHÁ EM 1929. – AUTOR DESCONHECIDO FONTE: Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php>Acesso em: 22 out. 2007 FIGURA 5: PRAÇA DO PATRIARCA - VIADUTO DO CHÁ E O TEATRO MUNICIPAL AO FUNDO EM 1927 – AUTOR DESCONHECIDO FONTE: Disponível em: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico/1920.php> Acesso em: 22 out. 2007 64 O crescimento desordenado da metrópole é histórico. A mudança da elite para região oeste fez com que a região do Anhangabaú ficasse entre o centro da cidade e os novos bairros, o que provocou uma valorização maior da zona central. A Revolução de 1930 obrigou o Estado a incorporar e absorver em suas cidades uma nova classe operária urbana, em especial na cidade de São Paulo, onde se processava o pólo de desenvolvimento e crescia o eixo da industrialização. (BONDUKI, 2000: 220). A partir da era industrial, a relação espacial mudou devido ao aumento do sistema de transporte, tornando-se assim as ruas mais importantes, mudando o conceito de que anteriormente a este advento era (...) o elemento básico de uma planta urbana não era a rua ou estrada, mas as unidades de habitação e praças públicas. (...) (ARNHEIM, 1988: 70) O crescimento da cidade fez que novas ruas fossem abertas. O volume de veículos aumentava, fruto da prosperidade de São Paulo. Na medida em que o desenvolvimento acontecia, novos projetos eram concebidos a fim de atender às novas demandas urbanas. O governo estadual /municipal procurou alavancar projetos que resolvessem os problemas da cidade. Houve muitas mudanças ao longo do último século, transformando a fisionomia da cidade; podemos observar o que foram as fisionomias quando percorremos as ruas do triângulo, passamos da velha cidade taipa, visitando o pátio do Colégio e o Solar da Marquesa, a cidade européia vendo o edifício Martinelli, a cidade modernista vista no Viaduto do Chá. O crescimento metropolitano se deu através de seus contrastes e sua modernização. 65 FIGURA 6: Esquema técnico de São Paulo integrante do Plano de Avenidas de Prestes Maia - 1930 FONTE: SILVA, 2004: 108 66 Como podemos observar na figura 6 do esquema técnico feito por Prestes Maia, houve um planejamento, a estrutura da cidade de São Paulo baseava-se em uma série de caminhos que iniciavam no centro histórico, articulando-se com outros núcleos regionais. Havia outras propostas, mas segundo relato de Maria Izilda S. de Matos: Prestes Maia priorizou as soluções organizadas pelo seu Plano de Avenidas, assentado nos princípios de centralização, expansionismo, verticalização e rodoviarismo. Buscou implantar o esquema viário perimetral-radial, no qual a avenida é identificada como símbolo e protagonista das intervenções, como solução para as questões de tráfego, crescimento e estética. Procurou constituir uma malha viária racionalizada, capaz de dar conta do crescente número de automóveis, e centrou a questão do transporte na extensão de linhas de ônibus-trólebus como alternativa mais flexível aos bondes em trilhos. (MATOS, 2004 apud CAMARGO, 2004: 75) A cidade evoluiu, muitas coisas mudaram, prédios altos e imponentes juntamente com o comércio foram afogando o Pátio. Até que em 1953, a partir de um projeto da empresa Cardim e Cardim, começou a demolição do Palácio do Governo, no qual foram encontradas paredes de taipa de pilão da época dos jesuítas. O Pátio sobrevive e dispõe do Museu Padre Anchieta, de uma biblioteca aberta ao público e de um café. Parte da história do Pátio está guardada no Museu Anchieta, no próprio Pátio do Colégio. São Paulo, Centro Velho e Novo ao mesmo tempo, foi o cartão postal no início do século XX, e hoje continua o mesmo desejo entre cidadãos paulistanos, nascidos ou acolhidos, que é retomar a valorização do Centro de São Paulo e resgatar seu valor histórico. A prefeitura tenta melhorar o superadensamento que hoje se encontra na área com o plano diretor, e os aspectos estéticos ficaram valorizados com a reformulação de jardins em toda área do Vale do Anhangabaú. A metrópole está rodeada por monumentos, praças e ruas que fizeram parte da história da capital paulista, e a história desta cidade é demarcada pelos seguintes períodos: “a fundação da vila (1554), a cidade do café (1870, a metrópole industrial (1920) a megalópole (1980).” (MATOS, 2004 apud CAMARGO, 2004:60) Ela apresenta um desenvolvimento interessante “a partir das últimas décadas do século XIX e até 67 1920, aproximadamente,” demonstrando uma grande transformação urbana e recebendo investimentos. “Ou seja, a capital paulista passa a receber investimentos capazes de qualificá-la como espaço de fruição e, mais do que isso, transformam-na em uma cidade que depende dos códigos visuais para informar sobre suas compartimentações funcionais e sociais.” (LIMA, 2004 apud CAMARGO, 2004: 211). Houve a mudança dos pólos econômicos da cidade, que surgiram entre as décadas de 70 e 80 – as Avenidas Paulista e Engenheiro Luiz Carlos Berrini, além do Centro Empresarial de São Paulo, que se tornaram endereços quase comuns de diversos bancos, corretoras e financeiras, e muitas destas empresas começaram sua história no centro de São Paulo. A cidade de São Paulo de hoje guarda apenas fragmentos de construções poéticas do seu passado histórico. Atualmente a cidade difere dos contos esquecidos em bibliotecas e elaborados pelos cronistas que foram paulatinamente substituídos por apelos da praticidade digital. A teia que forma a cidade foi construída por diversos protagonistas dentre eles os imigrantes fazendo que a cidade de São Paulo se transformasse numa amálgama universal de raças e culturas diferentes. Transformouse em um local de múltiplas sensibilidades, uma metrópole irresistível, um espírito ímpar que revela a cada momento uma imagem poética na sua estética urbana. Considerando as transformações urbanas da cidade, apresentamos a seguir conteúdos referentes à história dos imigrantes japoneses no Brasil, mais especificamente em São Paulo, no Bairro da Liberdade, bem como seu percurso até a chegada a este bairro temático. 68 “Mas com o tempo a cidade cresce sobre si mesma; adquire consciência e memória de si própria. Na sua construção permanecem os motivos originários, mas ao mesmo tempo a cidade esclarece e modifica os motivos do seu próprio desenvolvimento”. (ROSSI, Aldo. A Arquitetura da cidade. Lisboa: Cosmo, 2001, p. 31) 69 5 A chegada de imigrantes japoneses em terras brasileiras Tendo partido do porto de Kobe no Japão, após cinqüenta e dois dias a bordo do navio Kasato-Maru41 que aportou em Santos, no Armazém 14, no dia dezoito de Junho de 1908, chegaram ao Brasil os primeiros trabalhadores japoneses. Eram 781 pessoas entre passageiros e tripulantes, sendo que: “Cada família tinha em média de 4 a 5 componentes, 37 pessoas não faziam parte de nenhuma família, haviam (sic)16 crianças com menos de 12 anos e 8 crianças tinham menos de 1 ano, não havia nenhum idoso e 532 sabiam ler e escrever enquanto 150 eram semi-analfabetos [sic].42” FIGURA 7: CARTAZ QUE RECRUTAVA TRABALHADORES NO JAPÃO FIGURA 8: NAVIO KASATO MARU ANCORADO NO PORTO DE SANTOS APÓS O TÉRMINO DA VIAGEM FONTE: HIRASAKI, 2007: n.º 117/112 - ano 10, p. 13 e 51 41 Navio a vapor que pesava aproximadamente 6.000 toneladas, de origem russa, incorporado à frota japonesa após a vitória do arquipélago sobre o império do Czar Nicolau II na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). 42 HIRASAKI, César. 100 anos de imigração: Choque de cultura. Revista Made in Japan. São Paulo, nº113/ano 10, p.54-55, 2007. e Idem: Como era o dia-a-dia a bordo do navio Kasato Maru. Revista Made in Japan. São Paulo, nº112/ano 10, p.51, 2007. 70 FIGURA 9: O INÍCIO DA VIAGEM DE TREM DO LITORAL PARA SÃO PAULO FONTE: HIRASAKI, 2007: n.º 14/ano 10, p. 53 Os imigrantes que chegavam ao porto de Santos e posteriormente se dirigiriam para São Paulo tinham que assinar um contrato com o Governo de São Paulo e acertado com a Companhia de Imigração Imperial, que previa as regras da imigração: Estipulava que seriam introduzidos três mil agricultores, em levas não superiores a mil pessoas. As famílias deviam ter de 3 a 10 membros com idades entre 12 e 50 anos. Ficou estabelecido que o governo subsidiaria o custo do transporte. Tal pagamento seria feito no prazo de 60 dias da chegada dos imigrantes. Os fazendeiros reembolsariam o governo com 40% dos valores subsidiados, com a permissão de descontar tais cifras dos salários dos imigrantes. O primeiro ano de alojamento correria por conta do governo. Na propriedade agrícola, os imigrantes teriam direitos a casas iguais às fornecidas aos imigrantes europeus. Os lotes seriam pagos, no máximo, em três prestações e dentro de, no mínimo, cinco e, no máximo, dez anos. Só poderiam obter lotes aqueles que tivessem realizado a primeira colheita e estivessem com suas dívidas quitadas. (HIRASAKI, 2007: nº. 114/ano 10, p. 55) Com exceção das pessoas que vieram como viajantes, a grande maioria era formada por agricultores e se dirigiram às fazendas de café no interior do Estado de São Paulo. Entre eles havia artesãos, comerciantes e artistas, a maioria okinawanos.43 Após permanecer por alguns dias na Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo, onde assinaram os contratos de trabalho e receberam as devidas orientações, vacinas 43 Pessoas nascidas em Okinawa, ilha do arquipélago japonês. Ver o mapa no anexo. 71 preventivas e inspeção em suas bagagens, foram divididos e enviados às devidas fazendas. (HIRASAKI, nº 113, 2007: 54 - 55) A princípio, houve muita estranheza por parte dos alfandegários, pois os imigrantes japoneses eram completamente diferentes dos outros imigrantes, tinham paciência ao observar a inspeção com calma e organização nas filas. Houve problemas somente na hora de escrever os nomes, pois os funcionários da alfândega não estavam acostumados com nomes tão diferentes e também devido a famílias arranjadas no navio: “Durante a travessia do oceano, muitos solteiros se agregaram a famílias desconhecidas, já que só era permitido fazer a viagem aquele que compunha um grupo de no mínimo três pessoas, de acordo com o contrato.” (HIRASAKI, Nº 113. 2007: 55) Os imigrantes mal tinham esquecido o cheiro de maresia e o barulho das ondas do mar que os trouxeram, quando descobriram os problemas que tinham que enfrentar e se viram encurralados, porém mantinham viva a esperança de dias melhores. Ouviam histórias de um futuro melhor juntamente com promessas, que diziam: “(...) que conseguiram ganhar muito dinheiro colhendo café em terras brasileiras embalou o sonho dos japoneses acossados pela crise de seu país (...).44 Um sonho compartilhado não só por imigrantes japoneses, mas por outras etnias que também desembarcaram no Porto de Santos e descobriram que deveriam trabalhar muito e o prazo para realização deste sonho não era tão curto. Começava o trabalho dos imigrantes japoneses na agricultura em terras brasileiras. Seguiram a esses, 188 mil imigrantes-agricultores até o ano de 1941, às vésperas da eclosão da guerra do Pacífico. Após o término da 2ª Guerra Mundial, a imigração dos japoneses para o Brasil só foi retomada no ano de 1953, estendendo-se por dez anos, período em que vieram 50 mil imigrantes-agricultores. A quase total suspensão dessa imigração, deveu-se às mudanças sócio-econômicas que se verificam no Japão e também no Brasil. Aquele não mais apresentava as condições que incentivaram a saída de sua mão-de-obra, assim como o nosso País não mais necessita de trabalhadores agrícolas estrangeiros. (OI, s.d.:28)45 44 OI, Célia Abe (Coord). Cultura Japonesa – Santos, São Vicente e Guarujá. São Paulo: Aliança Cultural BrasilJapão, [s.d.]. p. 06. 45 OI, Célia Abe (Coord). Cultura Japonesa – São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, [s.d.]. p. 28. Texto de Katsunori Wakisaka – diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiro 72 Pouco mais de um ano, após o início dos trabalhos nas fazendas, desiludidos, alguns imigrantes resolveram fugir após constatar que pouco adiantaria protestar por melhores condições de trabalho e de remuneração. Os imigrantes sofriam com as péssimas condições de trabalho e moradia, além dos maus tratos nas fazendas. Protestaram e foram ouvidos por Shuhei Uetsuka portavoz da Companhia Imperial de Imigração, “(...)mediante a intervenção da Secretaria do Trabalho do Estado, que conseguiu que fossem enviados de volta a Hospedaria de Imigrantes algumas famílias que posteriormente foram transferidas para outras fazendas mais produtivas”. (HIRASSAKI, Nº 114. 2007: 53) Outros que não tiveram suas reclamações atendidas fugiam durante a noite. Após muita confusão, o Brasil teve que adotar políticas para permitir a entrada de imigrantes no país, preferencialmente, deveriam ter algum recurso financeiro e também que fossem profissionalmente qualificados do setor industrial. Mesmo com tais exigências do governo, vários japoneses aportaram no país. Segundo Katsunori Wakisaka, diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros:46 Transcorridos 85 anos, estima-se que desses 240 mil imigrantes-agricultores e outros milhares de imigrantes japoneses que se estabeleceram no Brasil, pouco mais de 10% regressaram ao seu país de origem. 47 Segundo levantamento efetuado pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiros em 1988, a estimativa da população de japoneses e seus descendentes residentes no Brasil é: 1.228.00 pessoas que se distribuem em 5 gerações: 1ª geração = 12,5%; 2ª = 30,8%; a 3ª = 41,3%; 4ª =12,9%; 5ª geração 0,2%. São cerca de 150 mil japoneses e 1 milhão e 100 mil brasileiros descendentes de japoneses. A seguir apresentamos a trajetória em algumas regiões significativas, onde os imigrantes japoneses se instalaram e também construíram sua história. 46 Idem a nota de rodapé nº. 41. Os integrantes desta comunidade se encontram espalhados em todo o território nacional com a seguinte distribuição: região Norte - 2,68%; Nordeste 2,32%; Sudeste - 79% (sendo que o Estado de São Paulo abriga 72,23% ou 887.000 indivíduos); Sul- 11,69% e região Centro Oeste - 3,98%. 47 73 Yo nige seshi imim omou-ya kareno hoshi (penso no imigrante que fugiu; estrela luz em prado seco) Trecho de haicai escrito por Shuhei Uetsuka (pseudônimo Hyôkotsu) 74 5.1 Imigrantes japoneses em Santos e adjacências FIGURA 10: ANTIGA HOSPEDARIA DE SANTOS48 FONTE: HIRASAKI, 2007: n.º 113/ano 10, p. 53 A cidade de Santos tinha aproximadamente 50 mil habitantes em 1908, destacando-se como o principal porto do país da exportação do café, e outros negócios ligados ao comércio exterior. Quando os imigrantes japoneses chegaram a Santos, ouviram disparos de fogos de artifícios. “Os imigrantes ficaram emocionados, achando que se tratava de uma calorosa recepção por parte dos brasileiros e agitavam suas bandeirolas. Na realidade, não passavam das tradicionais festas juninas da época.” (HIRASAKI, 2007: n.º 113/ano 10: 53) Segundo Célia Abe Oi alguns dos imigrantes “foram trabalhar como estivadores, outros na pedreira Jabaquara, localizada atrás da cidade de Santos”, e alguns imigrantes seguiram para a periferia de Campo Grande instalando-se em chácaras. “Os compromissos assumidos no Japão não davam tempo para lamentações. Montaram barracos de telhado de zinco em meio ao brejo e iniciaram o cultivo de hortaliças. Enlameados, carregando cestas de verduras rodavam a cidade vendendo sua produção”. (OI, s.d.: 07) Usavam guetá 48 49 49 “que se mostrou excelente para enfrentar a lama da cidade Acomodou os primeiros imigrantes europeus. Sandália típica feita de madeira. 75 ainda sem calçamento, lembra Yoshinobu Takeda, médico japonês que trabalhou em Santos antes da Segunda Guerra” (OI, s.d.: 07). Segundo alfandegários da época, os imigrantes “(...) portavam outros objetos segundo registros dos funcionários da alfândega, estes eram lenços de seda, cobertores acolchoados, esquisitos travesseiros de madeira ou bambu, casacões contra o frio, tinta nanquim, alguns raros kimonos, apetrechos e objetos pessoais”. (HIRASAKI, 2007: n.º 113/ano 10: 54) Imigrantes originários de Okinawa50 retornaram a Santos para trabalhar na construção da ferrovia Santos-Juquiá, iniciada em 1912. “No entanto, quando a estrada atingiu a primeira estação, em Ana Dias, pelo menos seis famílias abandonaram a vida de operários”. Lá cultivavam o arroz, pois fornecia maiores perspectivas. Ao final das obras em 1914, algumas famílias que se fixaram na região tentaram o plantio de bananas e na década de 30 iniciaram uma produção da fruta em larga escala. Muitos se estabeleceram na região e no ano de 1920 aproximadamente quatrocentas famílias estavam distribuídas ao longo da região cultivando arroz. “Por volta de 1926, com o esgotamento da terra, os que permaneceram no local, diversificaram a produção como o cultivo da cana-de-açúcar para fazer aguardente, ou ainda, o carvão vegetal que, desde 1919, já vinha sendo empregada a técnica trazida por famílias japonesas”. (OI, s.d.: 08) Santos foi a porta de entrada dos imigrantes, tendo a atenção das autoridades japonesas e, no ano de 1924, instalou-se uma agência do consulado japonês, cujo intenso movimento imigratório colaborou para que a agência se tornasse consulado em 1936. (...) os imigrantes japoneses somavam cerca de 1.600 pessoas, no ano de 1925, sendo 60% delas originárias de Okinawa segundo dados apresentados por Matsuo Yaeno, em 1929, no livro “Ukonnitchi no Brasil” (O Brasil de hoje). Campo Grande era considerado o "bairro oriental” santista da época (coincidentemente em Campo Grande, capital do atual Estado do Mato Grosso do Sul estava a maior concentração de okinawanos do país). (OI, s.d.: 08) No período da década de 1920, cerca de 245 famílias de imigrantes tinham como 50 Ver mapa do Japão anexo, onde poderá ser visualizado Okinawa, bem como outras cidades. 76 principal atividade a horticultura, logo em seguida a pesqueira, com 65 famílias, os ofícios de artesão com 49 famílias, o comércio com 37 famílias e 32 pessoas se dedicavam à prostituição e bordéis. Célia Abe Oi (s.d.: 08) afirma que: “Em 1925, das 170 pesqueiras, 60 delas eram da Ponta da Praia, 20 da Praia Grande e São Sebastião, respectivamente. Outras 16 de São Vicente, 5 de Ubatuba e outras 50, apesar de residir em outras localidades, mantiveram atividade em Santos”. 51 São Vicente: nesta cidade a primeira vila de pescadores japoneses nasceu em 1919 e suas moradias eram simples “barracos de telhados de zinco”. Após a pesca com vara ou rede saíam diariamente para vender o fruto de seu trabalho. O tempo passa e os barracos dão lugar às palafitas e contratam empregados para expandir suas atividades. Em 1925, os japoneses são obrigados a se naturalizar brasileiros para conseguirem a licença oficial para pesca. Isto ocorreu devido ao aumento da atividade pesqueira, e possibilitou aos japoneses fincarem raízes no setor. A Cooperativa de Pesca da Ponta da Praia foi fundada em 1928 pelos pescadores naturalizados. Após quatro anos, os japoneses fundaram a Cooperativa Pesqueira de Santos com sessenta e três cooperadores. Alguns imigrantes japoneses conseguiram se tornar armadores, compraram embarcações de maior porte, de motor diesel e caminhões para distribuir o pescado. Com o passar do tempo e muito trabalho, conseguiram formar outras cooperativas e empresas e chegaram a fornecer 70% de toda produção de peixe em Santos. (OI, s.d.: 09) A Segunda Guerra transformou radicalmente a situação dos imigrantes, mesmo os naturalizados tiveram que se retirar do litoral e procurar outra sorte. Os japoneses sempre se destacaram em seus empreendimentos. Em Santos não foi diferente, destacaram-se pela produção de verduras e legumes sendo que a maioria cultivava em terra arrendada. A princípio, viviam em situações difíceis, sempre adoeciam devido às condições precárias. (OI, s.d.: 14) No pré-Guerra, na década de 30, com a comunidade nipo-brasileira estimada em 200 51 Local deserto até a chegada dos japoneses que lá construíram seus barracos e se iniciaram na atividade pesqueira. Com o passar dos anos, tornaram-se arrendatários. 77 mil habitantes e o auge do movimento imigratório japonês no Brasil - Santos se destaca pela atividade comercial. Segundo levantamento do jornal Seishu Shimpo, em 1933, a cidade de São Paulo tinha 159 lojas de japoneses. Santos, 99 estabelecimentos. Cidades reconhecidamente populosas de imigrantes, como Presidente Prudente, tinha 24 lojas japonesas, Lins 39, Promissão 37 e Bauru 30. OI. Op. cit. p. 11 Segundo Célia Abe Oi (s.d.: 11), organizados, os imigrantes fundam a Sociedade Japonesa de Santos na Rua Paraná, 129, na Vila Mathias no dia 14 de Junho de 1939, uma entidade coordenadora das atividades sócio-culturais, sobretudo, voltada para o ensino da língua japonesa, pois mantinham suas tradições sempre vivas no intuito de cultivar a lembrança da terra natal. Após o término da Segunda Guerra, a cidade continuou a receber imigrantes, e a fase mais intensa do fluxo de imigração foi em 1958. O governo japonês, preocupado com os seus imigrantes, enviou verbas e com o apoio da Federação das Associações Ultramarinas, construiu na cidade a Casa do Imigrante de Santos, e este evento coincidiu com as comemorações do 50º aniversário da Imigração Japonesa ao Brasil. “No final da década de 60, com o declínio do movimento de novos imigrantes, em 1974 a Casa do Imigrante foi transformada em asilo de idosos com a Casa de Reabilitação de Santos.” (OI, s.d.: 13) Os imigrantes sempre procuraram melhores condições, e sonhavam com uma vida melhor. Com o passar dos anos e um maior grau de intimidade e de conhecimento dos hábitos da nova terra, alguns colonos sentiram-se atraídos por perspectivas melhores oferecidas e, não desistiam de buscar em outras cidades formas de realizar seus sonhos, pois suas expectativas sempre superaram o sofrimento. Partiram para outros Estados como o Paraná, conforme veremos a seguir. 78 Senri no michimo ippoyori okoru (até uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo) Provérbio 79 5.2 Imigrantes japoneses no Paraná A imigração japonesa foi intensa em diversas regiões do país no decorrer do século XX. Viajantes cruzavam os oceanos tendo como destino o Brasil. Novas terras, novos horizontes culturais, e a possibilidade de interação e vivências que se misturam com a vida neste novo país. No Paraná, os imigrantes japoneses constituíam a segunda colônia no país. O processo de aculturação do imigrante japonês no Brasil encontrou fortes barreiras no princípio não porque os brasileiros lhe impuseram obstáculos, mas por uma série de fatores que merecem ser colocados à luz da discussão. Um deles foi propósito temporário da sua permanência no país. Os primeiros imigrantes nipônicos vieram para ganhar dinheiro e retomar para o Japão num prazo que esperavam que fosse relativamente curto. Assim, não havia da parte deles uma preocupação maior de adaptação às condições brasileiras nem da participação mais efetiva nas questões relativas aos problemas do país que os acolhera. Segundo Katsunori Wakisaka,52 o desejo de se fixar no Brasil veio com o tempo e se acentuou com a derrota do Japão na 2ª Guerra Mundial. Afinal, o país de origem fora praticamente destruído e não oferecia condições ao menos razoáveis para recebêlos de volta. Este fato foi determinante para que os imigrantes fossem aos poucos assimilados às coisas do Brasil, já com o intuito de aqui permanecerem. No Paraná não foi diferente, a não ser na região Norte do Estado onde o processo de integração de hábitos e costumes ocorreu de uma maneira peculiar. Não foram apenas os japoneses que assimilaram o modo de vida dos brasileiros. O inverso também ocorreu. Isto porque o imigrante japonês participou de forma efetiva na colonização da região. Na realidade, quando começaram a ir de forma expressiva ao Paraná, os imigrantes japoneses já estavam mais familiarizados com os hábitos e costumes da nossa terra. A grande maioria já estava no Brasil há algum tempo, e 52 WAKISAKA, Katsunori. Imigrantes Japoneses em terras brasileiras. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura Japonesa - São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, [s.d.], p. 28-29. 80 muitos inclusive, eram proprietários de terras de outros Estados. (OI, s.d.: 502) A crise mundial que aconteceu em 1930 e a proibição do plantio do café em São Paulo contribuíram para que alguns imigrantes japoneses tomassem novos rumos, seguindo para o Norte do Paraná. A cidade de Londrina,53 no Paraná, ficou conhecida como colônia internacional devido à quantidade de imigrantes de diferentes nacionalidades:54 "eram alemães, italianos, russos, eslavos, espanhóis, holandeses, poloneses, ucranianos e muitas outras etnia". A cidade ficou conhecida como a Babel brasileira, devido à quantidade de idiomas diferentes falados no local. (HIRASAKI, nº 116. 2007: 52) Atrás das duas bandeiras (do Brasil e da Inglaterra) cruzadas em forma de ' x ’, apareciam de três países: Japão, Alemanha e Itália, seguindo a ordem de colonização. Isso era sinal de que a Companhia também reconhecia que os japoneses tinham sido um dos primeiros colonizadores da região norte do Paraná.55(HANDA apud HIRASAKI, 2007: 52) A isso, soma-se o período de grandes dificuldades encontrado durante a colonização das terras norte-paranaenses, que certamente contribui para uma maior aproximação entre os imigrantes de todas as origens e os brasileiros. Pois só com a cooperação e ajuda mútua era possível transpor os obstáculos próprios do desbravamento. Há que se considerar também o surgimento das novas gerações, que favoreceu a aceleração do processo de aculturação, contribuindo sobremaneira, para consolidar a integração social hoje existente. É bom destacar ainda que, embora o japonês sempre estivesse em posição de minoria no Brasil, não houve caracterização de povo dominante e povo dominado. Evidentemente, as profundas diferenças entre um país e outro, entre uma cultura e outra, obrigaram os japoneses a abrir mão de muitos se seus hábitos e costumes. Segundo Célia Abe Oi, os isseis56 resistiram de forma mais intransigente ao 53 Significa Pequena Londres. Eram aproximadamente 33 nacionalidades diferentes. 55 Livro do historiador Tomoo Handa, O Imigrante Japonês. Onde demonstra a dimensão da diversidade de nacionalidades que colonizaram a região. 56 Ver termos orientais no anexo. 54 81 processo de aculturação até porque as tradições do país de origem estavam arraigadas em suas vidas. Já os nisseis57 conviveram mais perto e por mais tempo com a realidade brasileira. Reunidos em suas associações de jovens, eles partiram em busca da integração social, interagindo na vida do país, discutindo os problemas brasileiros e não apenas a situação da colônia nipônica no Brasil. (OI, s.d.: 310) Segundo pesquisas feitas, os imigrantes japoneses chegaram à região pelo norte do Paraná, no ano de 1913 (o primeiro grupo), fixando então na cidade de Cambará (OI, s.d.: 501). Do núcleo Vila Japonesa de Cambará para formação de outras cidades vizinhas, com as mesmas características, foi questão de pouco tempo Bandeirantes, Cornélio Procópio, Londrina, Arapongas, assim por diante. A presença marcante dos descendentes de japoneses na Capital, aconteceu no início da década de 50. Eram os jovens estudantes, filhos de agricultores, que chegavam à cidade grande para cursar a universidade. Depois de formados, poucos deles retomaram à terra de origem, muito pelo contrário, foram buscar seus familiares e se fixaram definitivamente em Curitiba.58 Em Curitiba os imigrantes mostraram sua cultura através da arte, culinária e outras tradições como: “Haikai, Kumon, origami, ikebana, sushi, sakê...” A comunidade vai ganhando destaque e prestígio.· “E o curitibano não-japonês tem ao alcance das mãos, sem querer nem poder esconder sua admiração, uma cultura que se abre como uma escola para ensinar não só lições de arte, mas lições de amor a terra, lições de amor ao trabalho, lições de vida”. (DIEZ, s.d.: 502)59 A cultura e trajetória vivida por estes imigrantes japoneses foram, em parte, apresentadas no filme “Gaijin 2 – Ama-me como sou, da diretora Tizuka Yamazaki”. No Paraná como em São Paulo, são intensas as comemorações, principalmente porque é uma preparação para o centenário da imigração que acontecerá em 2008. No primeiro semestre do ano de 2007, comemorou-se o Hana Matsuri,60 em Curitiba houve 57 Ver termos orientais anexo. OI. Op. Cit. p. 501. 59 DIEZ, Mônica. O sotaque japonês em Curitiba. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura Japonesa –São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, [s.d.], p. 502. 60 Homenagem a Buda e ao Elefante Branco – comemorado no mês de Abril. 58 82 uma grande festa com várias apresentações na praça Japão com mais de 60 mil pessoas. A próxima imagem mostrará a grandiosidade deste evento que acontece todo ano em Curitiba. FIGURA 11: MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA COLÔNIA JAPONESA EM CURITIBA PARANÁ FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 116/ano 10, p. 58 (APRESENTAÇÃO MUSICAL) Curitiba ganhará o Parque Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, o projeto da prefeitura será implantado no ano de 2008 e, segundo o prefeito Beto Richa: “O parque será um dos marcos do centenário e da integração entre Brasil e Japão. Ele contribuirá para a preservação ambiental, oferecerá oportunidade de emprego e uma nova área de lazer para a população”. (JORNAL NIPPO – BRASIL, de 11 a 17 de jul. 2007, p. 4) O parque será implantado dentro de Área de Proteção Ambiental do Iguaçu, no bairro Uberaba. A prefeitura tem intenção de colocar no parque peças do navio Kasato Maru, que durante a Segunda Guerra foi afundado na costa Rússia. O parque apresentará contribuições à preservação do Rio Iguaçu. Estudos da Secretaria do Meio Ambiente identificaram problemas devido ao “lixo, esgoto e risco de inundações”. Segundo afirmação do Secretário do Meio Ambiente, José Andreguetto: “A instalação do parque ajudará a resolver esses problemas, contribuindo para a urbanização do bolsão e para a preservação da Bacia Hidrográfica do Alto Iguaçu”.61 Outras cidades do Paraná receberão investimentos do Ministério do Turismo e da iniciativa privada para os projetos de infra-estrutura de Parques Temáticos e eventos para comemoração do 61 Para marcar 2008, Curitiba apresenta Parque da Imigração. Jornal NIPPO –BRASIL, São Paulo, p. 4 - geral, de 11 a 17 de jul. 2007. 83 centenário. A imagem da cultura japonesa mostra-se presente no Paraná, assim como em outros Estados do Brasil, intensificando-se quando se aproximam as comemorações do centenário da imigração. A influência japonesa marcará o processo de transformação da cidade de São Paulo e se apresentará como um atrativo turístico e cultural no Bairro da Liberdade como analisamos a seguir. 84 “Warau kadoniwa fuku kitaru” (A felicidade vive na casa de quem sorri) Provérbio 85 5.3 Imigrantes japoneses na cidade de São Paulo FIGURA 13: A HOSPEDARIA DE IMIGRANTES NO BAIRRO DA MOOCA FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 113/ano 10, p. 54 De acordo com pesquisas, dentre os imigrantes que chegaram ao Brasil pelo Kasato Maru, alguns se estabeleceram em São Paulo. Porém, anteriormente a este episódio, já havia na cidade alguns pioneiros nipônicos como Teijiro Suzuki, que possuía uma loja de artigos japoneses estabelecida na Rua São Bento, chamada Casa Fujisaki, onde trabalhavam Tokuji Sato e Takeo Goto. Era a filial de uma casa comercial da cidade de Sendai - Japão. (OI, s.d.: 30) Katsunori Wakisaka,62 diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiro, afirma que estava estimada em trezentos e vinte e seis mil pessoas a população de japoneses e seus descendentes na cidade de São Paulo, segundo levantamento feito pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiros em 1988. Atualmente, é o maior número de japoneses fora do Japão. São cerca de 500 mil imigrantes e descendentes. 62 WAKISAKA, Katsunori. Imigrantes japoneses na cidade de São Paulo. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura Japonesa - São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Aliança Cultural Brasil-Japão: São Paulo, [s.d.], p. 30. 86 FIGURA 14: DISTRIBUIÇÃO DAS FAMÍLIAS NAS FAZENDAS DE SÃO PAULO FONTE: HATTEN-SHI apud HIRASAKI, 2007: n.º 114/ano 10, p.54 Nesta imagem, podemos observar a distribuição das famílias nas fazendas no Estado de São Paulo. Katsunori Wakisaka afirma que: (...) aos poucos, alguns imigrantes inadaptados aos trabalhos das fazendas de café no interior do Estado se deslocavam para a capital, mesmo que fosse para conseguir nova colocação em outra fazenda. Agrupavam-se na Rua Conde de Sarzedas e redondezas. Essa rua se situava próxima ao largo João Mendes, no centro da cidade. Alguns tinham ofício aprendido no Japão, como carpinteiros, por exemplo, conseguiam colocação nos trabalhos de construção, mas a maioria tinha que se tornar empregado doméstico. (OI, s.d.: 30) 87 FIGURA 15: CASAS ONDE MORAVAM OS IMIGRANTES QUE TRABALHAVAM NAS FAZENDAS FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 113/ano 10, p. 53 O fenômeno de fluxo dos imigrantes japoneses para a cidade de São Paulo deve-se a alguns fatores econômicos, inclusive devido à pretensão dos migrantes agricultores quanto a se tornarem agricultores independentes, tendo suas terras para produzir. Com este desejo, permaneciam por mais de três anos, que era o período estipulado em contrato pelos donos de fazenda de café. Porém, segundo Katsunori Wakisaka, “muitos partiam para as fontes de desbravamento, adquirindo, em prestações, pequenas glebas para a formação de cafezais ou outras culturas. E, muitos deles vieram para as cercanias da cidade de São Paulo, adquirindo ou arrendando pequenas áreas para praticarem a agricultura de subsistência”. (OI, s.d.: 30) Este tipo de trabalho em lavoura, com sua base de mão-de-obra familiar, era muito conhecido pelos imigrantes japoneses devido ao seu percurso histórico. FIGURA 16: IMIGRANTES COLHENDO CAFÉ FONTE: HIRASAKI, 2007: nº. 114/ano 10, p. 55 NOTA: Japoneses aprendem o processo da “derriça”, que consiste em jogar os frutos sobre um lençol, do qual eram mais tarde recolhidos e peneirados. 88 A cidade de São Paulo transformava-se em um grande centro, suas indústrias em ascensão e, com isto, aumentava a demanda de alimentos hortifrutigranjeiros e outros produtos e serviços oferecidos pelos imigrantes japoneses. (OI, s.d.: 31) Em meados de 1910, especula-se que alguns plantadores de verduras estavam localizados nos arredores na capital, porém, é na década seguinte que eles ocupam o mercado nas regiões circunvizinhas da cidade. “Aparecem lavouras de batata, principalmente em Cotia, Juqueri, Mogi das Cruzes e (sic) etc”, e com este crescimento substancial foram criadas Cooperativas. (OI, s.d.: 31) Katsunori Wakisaka afirma: (...) o crescimento da população da Capital, e mudanças, e enriquecimento dos hábitos alimentares, ajudados pela presença de muitos imigrantes oriundos de variadas partes do mundo, ampliaram esse mercado de gêneros alimentícios, assegurando a prosperidade desses produtores. Essas atividades produtivas ao redor da Capital, os serviços correlatos que se desenvolveram na cidade e a importância da cidade de São Paulo como centro econômico de todo o Estado, formaram uma comunidade de japoneses cujos integrantes se dedicassem a muitas ocupações e prestações de serviços. Informa-se que a comunidade de origem japonesa na cidade de São Paulo em 1993, no 25° aniversário de sua imigração, compunha-se mais de 2 mil pessoas. 63 No ano de 1914 foi fundado o Hotel UEJI, o pioneiro dos hotéis japoneses em São Paulo, e em 14 de julho de 1915 foi criado o Consulado Geral do Império do Japão em São Paulo, na rua Augusta, 297. E, “em 1918, foram inauguradas a Casa Mikado e a Casa Tokyo, que vendiam móveis de fabricação própria”.64 No ano de 1932 havia aproximadamente cerca de 2 mil imigrantes japoneses em São Paulo, vindos diretamente do Japão para São Paulo e também do interior. Após encerrarem o contrato de trabalho em lavouras do interior, todos buscavam uma oportunidade melhor na cidade. Anteriormente à Segunda Guerra Mundial, havia poucas empresas japonesas na cidade São Paulo, e o número de firmas e indústrias operadas por imigrantes era 63 Diretor do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros. In: OI, Célia Abe (Coord.) Cultura Japonesa-São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Aliança Cultural Brasil-Japão: São Paulo, [s.d.], p. 31. 64 Parte de uma matéria retirada do site: Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em: http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html - Acesso em: 22 fev. 2007. 89 irrisório, pois grande parte deles trabalhava no comércio de produtos agrícolas. Os imigrantes japoneses começam a procurar uma nova identidade e a formação de suas famílias junto a outros conterrâneos. Buscando locais estratégicos, começam a ocupar algumas regiões do Estado de São Paulo e também no Bairro da Liberdade e, assim, começa a história deles neste bairro de características peculiares apresentadas a seguir. 90 5.4 A origem do Bairro da Liberdade e o processo de ocupação pelos japoneses FIGURA 17: RUA DA GLÓRIA, ESQUINA COM O LARGO 7 DE SETEMBRO EM 1.860. AO LADO, A MESMA TOMADA EM MAIO DE 1.999. 65 FONTE: DPH a 1ª imagem, e a 2ª imagem da autora Vanuzia de Souza Brito (1.999) Representante da paisagem urbana com suas características peculiares, e um nome poético “Liberdade”, o bairro possui vestígios históricos do processo de formação do centro de São Paulo, e seu traçado permite perceber o funcionamento deste bairro tão especial. Há muitas controvérsias sobre a origem do nome Liberdade entre os estudiosos. Existem algumas versões fantasiosas, mas o fato concreto é que esta denominação foi primeiro aplicada a um chafariz localizado no Largo de São Francisco em meados de 1831 segundo o historiador Nuto Sant’Anna. (São Paulo Histórico, p. 23). (...) para comemorar a abdicação de D. Pedro I, o vereador Cândido Gonçalves Gomide sugeriu a modificação de diversas denominações na cidade. Dentre elas, estava a alteração do antigo "Largo do Curso Jurídico" (atual Largo de São Francisco) para "Praça da Liberdade". Não aceitando a troca, a Câmara Municipal resolveu então aplicar este nome ao chafariz ali existente, que passou a ser denominado oficialmente como Chafariz da Liberdade, "desse chafariz se originou o nome da rua, do largo e do bairro da Liberdade”. O fato concreto porém, é que no dia 29/10/1858, foi publicado o seguinte Edital "A Câmara Municipal faz saber aos seus 65 139 anos após a primeira foto 91 habitantes que em Sessão do dia 28 do corrente, deliberou chamar-se Praça da Liberdade, o largo da Forca onde se acha colocado o Chafariz da Liberdade.66 Segundo histórico o nome do bairro também deriva de uma história real: no ano de 1821, dois soldados foram executados na forca, e no momento da execução do último soldado, ocorreu um fato marcante. As cordas que o sustentava se partiram, houve inúmeras tentativas até chegar à consumação do fato. Diz a lenda que as cordas se rompiam porque o soldado era inocente. Por isso, o local antigamente era conhecido como “campo da forca” e atualmente no local existe a Praça da Liberdade. Além disso, o nome do bairro possui um contexto histórico-geográfico que, devido aos fatos, este nome “Liberdade” remete a um estado e sempre será a luta de várias pessoas no mundo todo. (PORTO, 1996: 109) O atual Bairro da Liberdade, que anteriormente era conhecido como Glória, foi palco de inúmeros acontecimentos. Em 1840, na Rua da Glória, esquina com a Rua dos Estudantes, havia um casarão onde moravam estudantes que, segundo conta SEVCENKO “(...) brilhou a mais fina flor da juventude romântica da cidade, encabeçada por Bernardo Guimarães e Álvares de Azevedo.” Também era conhecido como um local de esbórnia e bandalheira, tudo o que não era bom aos olhos da sociedade estava lá. Segundo relatos era lá que estavam as coisas ruins que a sociedade repugnava e achava indigno, e segundo o autor: Em diferentes épocas e distintos locais, foram instaladas lá instituições as mais problemáticas. Em primeiro lugar, como vimos, a forca, e, ao seu lado, o arsenal e depósito de pólvora da cidade, razão pela qual o morro e o largo eram referidos ora como “da Forca”, ora como “da Pólvora”, nome que permaneceu atualmente para largo remanescente, ao sul da antiga praça. Adjacente estava o cemitério dos supliciados e dos indigentes. Vieram depois o hospital, a roda dos enjeitados, o asilo dos alienados e o asilo de mendicidade. No início da Rua da Liberdade (antigo caminho do Morro da Forca), ficavam a Cadeia Pública, a Casa de Correição e Trabalho e o pelourinho. (SEVCENKO APUD CAMARGO, 2005:194) Independente de divergências históricas, o bairro foi constituído étnica e 66 História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em: <http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso em: 11 abr. 2007. 92 lentamente pela concentração de imigrantes japoneses que começaram a chegar a partir de 1919; como consta no capítulo "Imigrantes japoneses na cidade de São Paulo", já havia na cidade alguns pioneiros orientais. Laís de Barros Monteiro Guimarães afirma que o bairro se estruturou em função do progresso que a cidade de São Paulo atravessava após a proclamação da República, a partir da década de 30. E também com a expansão do Distrito Sul da Sé no final do século XIX, quando ocorre o desenvolvimento do bairro devido a duas importantes radiais: “(...) a estrada para Santo Amaro e estrada Vergueiro, continuação da rua da Liberdade para sudoeste, em direção ao ribeirão do Ipiranga, até encostar o caminho do Mar.” Nesta direção se desenvolveram outros bairros. (GUIMARÃES, s.d.:43) Porém, a ocupação do bairro se intensifica por volta do final dos anos quarenta, os isseis67 reuniam-se na proximidade do cinema Nápoles, que exibia filmes japoneses, e se tornou ponto de encontro da colônia. Posteriormente, começaram a aparecer próximos ao local “hospedarias, pequenos restaurantes, lojas de artigos importados e toda infra-estrutura para atender a crescente demanda cultural e material da comunidade altamente gregária.” (CARNEIRO, (s.v.), n. 22, p. 96, jun. 1976) Neste período, também se observa a chegada de nisseis filhos de colonos que buscavam na capital melhores condições de formação. O Bairro da Liberdade no início do século XX era residencial, interligava “o centro urbano e os bairros da zona sul em formação: Paraíso, Vila Mariana, Vila Clementino, Jabaquara, Saúde e Santo Amaro”.68 67 68 Ver termos orientais anexo. GUIMARÃES. Op. cit. p. 60. 93 Largo da Liberdade atual Praça da Liberdade FIGURA 18: MAPA DA REGIÃO DE SÃO PAULO FONTE: Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo –1890 - DPH NOTA: A planta datada de 1890 revela a expansão da cidade. No ponto identificado está a atual Praça da Liberdade e o círculo compreende a região onde se localizam algumas das ruas principais do Bairro da Liberdade. O bairro da Liberdade tornou-se oriental em 1969, pertencente à Administração 94 Regional da Sé (AR-SÉ), e sua jurisdição está calculada em aproximadamente em 2.492 hectares. Escolhido pelos imigrantes japoneses devido à proximidade com o centro e porque naquele período poderia oferecer melhores condições e oportunidades de empregos; outro fator que incentivou a optarem por este local foram os imóveis que eram muito baratos e possuíam uma série de casas com porões, sendo uma ótima oportunidade para quem dispunha de poucos recursos. No início nem tudo foi tranqüilo, enfrentaram muito preconceito devido a questões sociais. 69 A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, começou a pensar em progresso de urbanização, dando início a construções de grandes avenidas e linhas metroviárias, uma delas passava pelo Bairro da Liberdade. Em meados de 1970, surgiu a Estação Liberdade e São Joaquim.70 Antonio Rodrigues Porto afirma que a constituição das vias que levam ao bairro se deu através de caminhos. As Avenidas 23 de Maio e a da Liberdade foram construídas com aproveitamento total do Vale do Itororó e da antiga Rua da Liberdade, trecho do tradicional caminho do Carro para Santo Amaro. E neste processo foram feitas várias concessões a moradores da região (o processo de formação do Bairro da Liberdade ocorreu devido ao retalhamento das grandes propriedades locais e também após a Proclamação da República, a partir de 1930), e assim, aconteceu o processo de sua formação étnica. Na década de 1970, seria traçada a primeira linha metroviária brasileira.No local onde hoje é o metrô, havia duas estátuas que foram retiradas para construção do metrô Liberdade, “uma do Regente Feijó e a outra uma réplica da Estátua da Liberdade”. Assim que terminaram as obras do metrô surgiu, “em 1974 a Feira da Liberdade, a única da América do Sul com produtos orientais típicos e artesanais”. (PORTO, 1996: 110) Esta foi uma iniciativa do imigrante, Tsuyoshi Mizumoto,71 que idealizou um local para que os imigrantes orientais pudessem expor trabalhos típicos de suas regiões. 69 Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em: <http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html> - Acesso em: 22 fev. 2007. 70 Disponível em: <http://www.radiobras.gov.br/especiais/saopaulo450/mat_saopaulo12.php> Acesso em: 05. jun. 2005. 71 Tsuyoshi Mizumoto, o japonês/brasileiro que deu origem a tudo isso, foi homenageado com um busto que fica em lugar de destaque no centro da Praça da Liberdade. 95 Porém, um velho sonho fazia parte da memória de vários imigrantes japoneses: transformar a Liberdade em um bairro tipicamente oriental, totalmente decorado. Um imigrante japonês, morador do bairro nostálgico do seu país e grato à pátria que o acolheu, resolveu agradecer prestando uma homenagem, pois no local habitavam alguns conterrâneos mantendo um aspecto popular de sua terra natal. Com o auxílio de lojistas e entidades públicas, começou a caracterização do bairro com suzurantô,72 nas ruas principais; construíram jardins com características e simbolismos orientais, dando às ruas e espaços do bairro um toque oriental japonês, reforçando a composição étnica cultural.73 Porém, a população atualmente é composta não só por japoneses, mas também por chineses e coreanos74 e outras etnias que fazem parte do comércio local. Na inauguração do Viaduto Osaka em 1968, o então prefeito Paulo Maluf pediu para que, ao invés de "bairro japonês", a região passasse a ser conhecida como "bairro oriental", independente disso o bairro da Liberdade continuou sendo um bairro da comunidade japonesa no Brasil, graças às entidades como a Associação de Confraternização dos Lojistas da Liberdade, que em 1974 passa a ser chamada oficialmente Associação dos Lojistas da Liberdade.75 Em novembro de 1974, foi inaugurada oficialmente a nova decoração das ruas principais do Bairro da Liberdade e continuaria no ano seguinte. Para a comunidade japonesa foi um sonho que se realizou, pois seria o primeiro bairro tipicamente oriental do Brasil. (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 07 nov. 1974, [ s. p.]) No dia 18 de junho de 1975, o prefeito Olavo Setúbal daria início ás comemorações acionando a chave que ligaria 219 luminárias típicas instaladas na confluência da rua da Glória com o Viaduto Leste Oeste. As comunidades que residiam no local ou possuíam estabelecimentos comerciais no bairro Oriental estavam em festa para receber a segunda fase da iluminação típica e, então, naquele período, o bairro 72 Ver termos orientais anexo. Disponível em: <http://www.estacaometropole.com/liberdade.htm> Acesso em: 25 fev. 2007. 74 A Coréia foi colônia do Japão durante trinta e cinco anos, até o final da Segunda Guerra. Os coreanos começaram a chegar ao Brasil pelo Porto de Santos nos anos sessenta, e foram trabalhar em fazendas no interior de São Paulo. Muitos traziam as tristes lembranças de guerras e invasões. A Rua Conde de Sarzedas foi moradia de muitos coreanos até os anos oitenta. Coreanos festejam 40 anos no Brasil. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG55318-6014,00.html> Acesso em: 08 out. 2007. 75 Quando o bairro japonês se torna bairro oriental. 2007. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> Acesso em: 11 abr. 2007. 73 96 tornava-se atração turística de São Paulo. (JORNAL DIÁRIO POPULAR, 17 jun. 1975, p. 9) FIGURA 19: LIBERDADE: MAIS DE 219 LUMINÁRIAS FONTE: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 17 jun. 1975, p. 9 A imagem acima mostra o portal do Bairro da Liberdade, bem como a colocação das luminárias em 1975. Nela observamos o portal Torii que se destaca no arruamento da Galvão Bueno. Ele é um “portal de madeira, normalmente pintado de vermelho. Ele foi criado para ser originalmente apenas um simples portão das antigas cercas do santuário. Quando as cercas foram retiradas, o torii permaneceu para designar a entrada de um lugar sagrado e afastar os maus espíritos.”76 76 Japão de A à Z - Torii – (Portal de madeira). Disponível em: <http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=177> Acesso em: 07 fev. 2008 97 FIGURA 20: RUA GALVÃO BUENO, A ESQUERDA JARDIM ORIENTAL FONTE: Pesquisa de campo no Bairro da Liberdade NOTA: foto da autora (nov. 2007) FIGURA 21: RUA GALVÃO BUENO VISTA DA PRAÇA DA LIBERDADE FONTE: CÍCERO VIÉGAS apud BELLIS, 1993: 7 Laís de Barros Monteiro Guimarães afirma que os primeiros imigrantes que se instalaram no Bairro da Liberdade foram os italianos. Em seguida, os portugueses e posteriormente os orientais. (GUIMARÃES, s.d.: 60) O bairro é vizinho da comunidade italiana do Bexiga, com suas lanternas características, lojas expondo seus produtos orientais, os restaurantes típicos, a feira de artesanato aos domingos. Conhecido por muitos paulistanos, é um bairro com grande apelo turístico em São Paulo e também é conhecido em outros países. Tendo uma urbanidade de imitação do Japão, alguns de seus objetos arquitetônicos aumentam e tornam suas características marcantes como bairro temático, reforçando a composição étnica cultural. É um lugar que mostra sua identidade e sua cultura nas ruas, tornando sua atmosfera diferente. O Bairro da 98 Liberdade possui funções definidas por meio de formas que expressam uso, circulação, funcionalidade do comércio local e cultura. O ambiente é identificado pelo usuário muitas vezes indiferente aos problemas econômicos ou sociais existentes no local. O bairro é extremamente visível devido às suas características cênicas e por estar próximo ao centro histórico de São Paulo. Estas características cênicas delimitam o bairro. Podemos entender como limite cênico do Bairro da Liberdade tudo que dá característica oriental ao local e que ao mesmo tempo o separa de outros locais, sem as tais características, agregando a questão da idealização de um espaço urbano temático e a representação cenográfica do mesmo. Tais limites cênicos advêm da formação cultural de uma determinada etnia, são valores e costumes somados a alguns objetos que se tornam símbolos da cultura de um povo e, intencionalmente, acabam atraindo o público para o local; os elementos apresentados pelo bairro são fortes e marcantes em tons de vermelho, e a percepção é inevitável. Neste sentido, a identidade urbana do bairro oriental é revelada através de sua imagem simbólica. O Bairro da Liberdade apresenta as características dos grandes centros de compras e gastronomia que existem em bairros orientais em vários lugares do mundo; um exemplo é Chinatown, uma região urbana com população oriental dentro de uma sociedade não-oriental. Estes locais podem ser encontrados em algumas cidades da Europa e na Austrália e também em New York, Los Angeles e Montreal no Canadá. Nestas cidades podemos identificar a presença de outra população, uma nova identidade cultural. Na visão de Marc Auge,77 as culturas se adaptam aos lugares: As culturas “comportam-se” como a madeira verde e jamais constituem totalidades acabadas (por razões extrínsecas e intrínsecas): e os indivíduos, tão simples quanto os imaginamos, nunca o são o suficiente para não se situar em relação à ordem que lhes atribui um lugar: só experimentam sua totalidade de um certo ângulo. (AUGÉ, 1994: 26) 77 Antropólogo, foi coordenador de pesquisas na École dês Hautes Estudes em Sciences Sociales (EHESS) presidindo entre os anos de 1985 e 1995. 99 Acreditamos que a possibilidade de os imigrantes se fixarem no bairro foi devido à funcionalidade, por estarem muito próximos ao centro e por haver outros imigrantes já estabelecidos. Segundo Yázigi, “(...) a personalidade de um lugar já não seria mais só de seus primitivos habitantes, mas de todos os forasteiros agregados (...)”.(2001: 17). O autor baseia-se nos fluxos migratórios e também no fato de o tempo moldar os territórios e os cidadãos, nomeando-os como “conjunto de traços identitários”. Demonstra que as cidades recebem um grande número de “forasteiros” e questiona se os mesmos pertencem ou não ao local: “Digam-me o que é população local?”, pois, alguns bairros que tinham suas características marcantes devido aos fundadores, como o Brás é ou era, o bairro italiano. No Bom Retiro, o predomínio era Judeu. E o Bairro da Liberdade dos japoneses e hoje é uma imbricação de culturas orientais. A identidade de um bairro tem origem no seu passado, nos vestígios deixados, as transformações dos locais acontecem, e são os fatores sociais que ditam a identidade de um novo espaço. O Bairro da Liberdade transformou-se em um bairro turístico com características exóticas por sua tradicional associação com colônias do Extremo Oriente. Não estamos nos referindo a um lugar utópico. Pois, o bairro é notável e para reconhecer a identidade do Bairro da Liberdade, Segundo Yázigi, dispomos de duas formas: uma de caráter privado e a outra pública que se destina aos outros que a reconhecem. No caso do Bairro da Liberdade, podemos questionar atualmente sua identidade, sabendo que a “(...) identidade se diluem na globalização, o urbanismo turístico tenta supri-las com fantasias e publicidade". Na explicação do autor o espaço evolui juntamente com o homem. (RAPOPORT, apud Yázigi, 2001:189) O espaço público é comumente visto pelo turista como um cartão de visita de um determinado lugar e um estruturador urbanístico. Para Yázigi (2001:202), “é a partir dele que turistas e forasteiros chegam ao lugar e seu universo”. Este elemento é mais nítido ao residente, pois ele enxerga a ordem política do lugar, estabelecendo os “conceitos de liberdade, democracia” que são compartilhados por todos. “O espaço público é um retrato do grau de coesão comunitária na medida em que desempenha uma função de 100 forte peso na eficácia dos símbolos, pois reúne em o maior número de pessoas que partilham dos mesmos códigos”. Este não-lugar que tomamos emprestado por um curto espaço de tempo nos dá a imagem de um lugar abstrato. Muitas vezes, quando chegamos ao bairro não conseguimos decodificar os símbolos, signos e desenhos ali presentes; outras vezes, temos a impressão de que estamos em um bairro no Japão, sensação causada por uma identidade provisória, (...) o espaço do consumo contemporâneo sob o signo do não-lugar”. (AUGÉ,1994: 94) O bairro também conta sua história através de algumas das ruas principais e estas assumem uma importância, reforçando a identidade do bairro e diferenciando-o de qualquer outro bairro da cidade:78 FIGURA 22: AVENIDA DA LIBERDADE PRÓXIMA À CATEDRAL DE SÃO PAULO (IGREJA DA SÉ) FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade NOTA: foto da autora (1.999) 78 Um pouco da história do bairro da Liberdade, 2007. Disponível em: <http://www.fecap.br/solidaria/html/Liberdade/hist_liberdade.html> - Acesso em: 22 fev. 2007. 101 FIGURA 23: Antigo Calçamento de paralelepípedo da Rua da Liberdade (atual Av. da Liberdade) FONTE: GUIMARÃES, Laís de B. M. (s.d.) p. 68 e 129, Vol. 16: Liberdade. NOTA: Foto de 1909 – Arquivo DPH Avenida da Liberdade: Ao longo da história, esta rua teve diversas denominações. A primeira delas foi a de Rua da Pólvora, uma vez que através dela se chegava à Casa da Pólvora, construída em 1754, e que se localizava no atual Largo da Pólvora. Após a construção da "Forca" (cerca de 1775) utilizada para cumprir as penas de morte, o povo deu-lhe o nome de Rua da Forca. Chamada também de Rua de Cima, em 1810 este logradouro tomou o nome de Rua do Cônego Leão, porque ali residia o Cônego Leão José de Sene. No dia 28 de novembro de 1865, por proposta do vereador Malaquias Rogério de Salles, o logradouro recebe seu nome definitivo de Rua da Liberdade (alterada para Avenida da Liberdade em 1952).79 Em toda a sua extensão existem prédios e obras da arquitetura que registram a história da cidade. Um deles é o Círculo Esotérico do Pensamento, uma sociedade espiritualista, onde se estudam todas as filosofias e todas as ciências ocultas. Além desta avenida, outras ruas marcam o perfil do bairro. A rua Conde de Sarzedas é uma das ruas mais antigas do Bairro da Liberdade, conhecida como a rua dos japoneses pois, em 1912, os imigrantes japoneses passaram a residir nesta rua. Era uma ladeira íngreme e, na baixada, havia um riacho e toda uma área de mangue. Um dos motivos de procurarem as casas desta rua era que quase todas tinham porões, e os aluguéis dos quartos no subsolo eram incrivelmente baratos. Nesses quartos moravam apenas grupos de pessoas. Para aqueles imigrantes, aquele cantinho da 79 História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em: <http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso em: 11 abr. 2007. 102 cidade de São Paulo significava esperança em dias melhores. Por ser um bairro central, de lá poderiam se locomover facilmente para o centro e também para os locais de trabalho. 80 FIGURA 24: VISÃO DA RUA GALVÃO BUENO, O CENTRO DO BAIRRO ORIENTAL FONTE: GUIMARÃES, (s.d.), p. 90 NOTA: Foto do final da década de 1970 ou início de 1980 Outra rua que marca o bairro é a Galvão Bueno. Em 1822 esta rua se chamava Rua Detrás do Cemitério. Recebeu esse nome devido ao senhor Carlos Mariano Galvão Bueno que nasceu em São Paulo em 1834. Em 1860 formou-se advogado pela Faculdade de Direito. Foi professor de Filosofia e Retórica. Morreu afogado em 24 de maio de 1883, quando pescava nas águas do Tamanduateí. Esta rua começa na Praça da Liberdade e termina na Rua Tamandaré.81 Em 23 de julho de 1953, Yoshikazu Tanaka inaugurou na Rua Galvão Bueno, um prédio de cinco andares, com salão, restaurante, hotel e uma grande sala de projeção no andar térreo, para 1.500 80 História da Rua da Liberdade, 2007. Disponível em: <http://www.dicionarioderuas.com.br/logra_impressao.php?t_codigo=28829> Acesso em: 11 abr. 2007. 81 Rua Galvão Bueno, 2007. Disponível em: <http://www.sampa.art.br/saopaulo/Rua%20Galvao%20.Bueno.htm.> Acesso em: 01 mai. 2007. 103 expectadores, batizado de Cine Niterói. Eram exibidos semanalmente filmes produzidos no Japão para o entretenimento dos japoneses de São Paulo. Esta rua passa a ser o centro do bairro japonês, crescendo ao redor do Cine Niterói, tendo recebido parte dos comerciantes expulsos da Rua Conde de Sarzedas. Era ali que os japoneses se reuniam e encontravam seus conterrâneos para poder matar a saudade do Japão, sua terra natal. Ela é uma das principais ruas da região. Nela, encontram-se algumas das principais casas de artigos orientais. Barão de Iguape: Rua Paralela ao Largo da Pólvora, e traçada a partir da Avenida da Liberdade, esta rua foi aberta em terras que constituíram propriedade do inglês Rademaker, Francisco Machado e João Felício Fagundes. Barão de Iguape foi título nobiliárquico concedido por D. Pedro II a Antonio da Silva Prado, em 1848, devido à sua atuação a favor dos movimentos da Independência. (GUIMARÃES, s.d.: 79) FIGURA 25: ESTÁTUA DO DR. SHUEI UETSUKA (CONDUTOR DA PRIMEIRA LEVA DE IMIGRANTES PARA O BRASIL), ERGUIDA AOS 18/06/78 – NO LARGO DA PÓLVORA FONTE: GUIMARÃES, (s.d.), p. 99 NOTA: Foto do final da década de 1970 ou início Largo da Pólvora: No início, o local pertencia à Chácara Streib. Está delimitado entre o Largo da Forca e da Pólvora (local que abrigava a casa da Pólvora até 1872, embora o depósito já não funcionasse mais ali. Em 1873, a “Câmara Municipal pede 104 autorização para demolir a Casa da Pólvora, a fim de alinhar uma travessa de ligação entre a Rua da Liberdade e a Rua dos Estudantes”). No entanto, o Largo de igual nome permanecia e estava à direita do Caminho do Carro para Santo Amaro. “Quando esta chácara se desintegrou, muitos terrenos próximos àquela fonte foram da propriedade do Barão Nicolino Barra que, ainda em 1890, possuía rico palacete à Rua da Liberdade”. Segundo antigas cartas da Capital de São Paulo, do lado esquerdo deste Largo, “saía o Caminho de Santos, descendo para a Rua do Cemitério, até a antiga Necrópole dos Aflitos e daí até a Glória (...) ” (GUIMARÃES, s.d.: 36-46). Este local assume uma maior importância, reforçando assim a identidade do bairro, diferenciando-se pela sua história, pois no local podemos observar a estátua de Shuhei Uetsuka pioneiro da imigração japonesa, homenagem da colônia nipo-brasileira ao bairro. Atualmente possui um traçado pequeno e podemos observá-lo na saída no metrô Liberdade. Capela de Nossa Senhora dos Aflitos: Localizada na Rua dos Aflitos, 70, tombada pelo CONDEPHAAT em 23/10/1978. “A capela, cujo culto é dedicado à Nossa Senhora dos Aflitos, tem sua origem ligada ao Cemitério dos Aflitos, primeiro cemitério público de São Paulo. Construída modestamente, em 1774, em taipa de pilão, possui acréscimos de alvenaria de tijolos e concreto armado que descaracterizam a sua feição original, (...).”82 Pequena e localizada no fundo de um beco, escondida pelos prédios, lixo e caminhões que entregam mercadorias nas lojas, mas a história vale a visita. Dizse que os escravos vinham caminhando da várzea do Tamanduateí, subiam a Tabatinguera e paravam esgotados na Igreja da Boa Morte. Seguiam até o Largo da Forca (atual Largo da Liberdade) e viam os corpos de outros escravos condenados à morte. Desciam depois disso à capela, a alguns metros de distância, onde rezavam pelos mortos e pela sua própria sorte. Depois que a forca deixou de existir, o local passou a ser chamado de Liberdade. 82 Consultar outros bens tombados em: KAMIDE, Edna Hiroe Miguita (Org.) et alii. Patrimônio Cultural Paulista: CONDEPHAAT – Bens Tombados 1968-1998. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1998. 105 FIGURA 26: CAPELA N. SRA. DOS AFLITOS (HERMAN GRAESER/SPHAN, 1939) FONTE: CAMARGO, Luís Soares de. Um passeio pelo Beco dos Aflitos. disponível em: <http://www.fotoplus.com/dph/info03/index.html> Acesso em: 11 abr. 2007 FIGURA 27: BECO DOS AFLITOS COM A CAPELA DE N. SRA. DOS AFLITOS AO FUNDO. FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade NOTA: foto da autora (nov. 2007) As próximas imagens são da Igreja de São Gonçalo, localizada na Praça João Mendes, antigo Largo da Cadeia (São Gonçalo foi pregar a religião católica no Japão no século XVI e, por isso, foi condenado à morte. Desde então, atraiu seguidores japoneses). Às oito horas da manhã, é celebrada a missa dos japoneses. 106 FIGURA 28: IGREJA DE SÃO GONÇALO FONTE: São Paulo Memórias em Pedaços: Liberdade. 2002 FIGURA 29: FACHADA DA IGREJA DE SÃO GONÇALO FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade NOTA: foto da autora (nov. 2007) Selecionamos neste capítulo algumas imagens de locais, onde a presença de orientais, locais estes muito visitado por orientais e também por turistas não-orientais. Na Liberdade o comércio de artigos de todo tipo, inclusive alimentícios, é intensamente freqüentado; os produtos ligados à mesa são procurados e escolhidos criteriosamente pelos japoneses, por senhoras de gestos rápidos, ocupadas em prover seus descendentes com a mesma comida que as nutriu na infância e que traz no paladar e nos aromas a saudade de sua terra natal. Estas são algumas das ruas principais do Bairro da Liberdade, onde podemos entrar em contato com a culinária e a sabedoria milenar dos imigrantes japoneses e também de outros orientais que, além de sua cultura, têm nos ensinado o cultivo da 107 terra que enriqueceu as nossas mesas com produtos alimentícios de alta qualidade. Depois da chegada deles, surgiram as quitandas japonesas, hoje tão tradicionais no nosso país. Encontramos algumas leis, expedição de decretos, resoluções e atos que mudaram o cotidiano do bairro através dos quais se percebe o interesse do poder público em urbanizar a região e também compor uma nova geografia a favor do Bairro da Liberdade.83 No intuito de prestar homenagem aos imigrantes japoneses, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a seguinte lei: Lei nº 11.142 que define 18 de junho como o Dia Nacional da Imigração Japonesa. A lei está publicada no Diário Oficial da União do mês de julho de 2005. O projeto para instituição da data foi proposto pelo deputado federal Hidezaku Takayama (PSB-PR). O parlamentar justificou a homenagem com base na influência da comunidade japonesa na agricultura, indústria, culinária e na cultura brasileira. (HIRASAKI, 2007: n.º 112/ano 10, p.52) No Bairro da Liberdade encontra-se o Museu Histórico da Imigração, foi inaugurado em 18 de junho de 1978, que contou com a presença do príncipe Akihito, herdeiro do trono do Japão. Lá estão vários arquivos e documentos referentes aos imigrantes japoneses, mostras, biblioteca e acervos com mais de 10.000 fotos. Na comemoração dos 70 anos de imigração japonesa no Brasil, a cidade de São Paulo ganhou o Museu da Imigração Japonesa. Localizado na rua São Joaquim, 381, Liberdade, o museu possui cerca de mil objetos em exposição, como livros, periódicos, fotografias antigas, obras de arte, vestimentas, instrumentos musicais e uma réplica do navio "Kasato-Maru". No Memorial do Imigrante,84 podemos encontrar exposições, documentos, fotografias e objetos pessoais. Atualmente possui um acervo com terminais de computadores para consultas e presta alguns serviços como emissão de certificados e certidões de desembarque de seus familiares para a concessão de dupla cidadania. (OI, s. d.: 37) 83 Ver Lei, expedição de decretos, resoluções e atos, anexo. Situado no Bairro da Mooca, no local onde se encontra hoje o memorial, funcionou no passado a antiga hospedaria dos imigrantes, um conjunto de prédios que abrigava os imigrantes vindos de toda parte do mundo. Lá eram fornecidos alimentação e atendimento médico aos recém-chegados. 84 108 Mas não são apenas japoneses os seus herdeiros (niseis e sanseis), há chineses, coreanos e os brasileiros que se misturam aos rostos orientais nos mercados e nas lojas orientais. Hoje muitos já estão iniciados nos segredos destes sutis sabores trazidos de tão longe por pessoas que conservam a memória, pois um povo que tem memória não cai no esquecimento. E os orientais têm orgulho do seu passado. O primeiro restaurante japonês em São Paulo que surgiu no Bairro da Liberdade85 foi inaugurado em 1945 junto a um cinema instalado na Rua Galvão Bueno. Servia pratos típicos como sashimi.86 Há também locais muito freqüentados por descendentes e também pessoas que buscam contato com a diversidade cultural oriental:87 Templo budista Soto Zenshu: Localizado na Rua São Joaquim n° 285, no templo, além da atividade religiosa da meditação, é possível aprender canto baika, ikebana,88 shodô e taikô. Quando os imigrantes japoneses já estavam instalados no Brasil, foi solicitada a vinda de missionários budistas do Japão, pois cada família japonesa estava ligada a uma determinada tradição budista que são chamadas de Escolas ou, na variante popular, Seitas. E então, se instala no Brasil em 1955 a Escola Soto Zen. “O templo foi instalado numa casa alugada, no Bairro da Liberdade, em São Paulo, mais tarde foi transferida para a atual sede, Rua São Joaquim, 285. Este foi denominado Templo Busshinji - o do Coração do Buda.”89 Escola de mangá:90 Esta escola ensina a desenhar os traços típicos dos quadrinhos orientais e as técnicas narrativas. Uma curiosidade: a maioria dos alunos é de não-descendentes. Rua da Glória, 279, cj. 55. Hai-kai: loja de CDs japoneses, possui aproximadamente cinco mil títulos à venda e outros cinco mil para locação. Rua Galvão Bueno, 224. 85 Os tesouros do bairro japonês, 2007. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> - Acesso em: 11 abr. 2007. 86 Ver anexo termos orientais. 87 Os tesouros do bairro japonês, 2007. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=6607> Acesso em: 11 abr. 2007. 88 Ver termos orientais no anexo. 89 Cominidade Budista Soto Zenshu da América do Sul. A escola Soto Zen. Disponível em: <http://www. sotozen.org.br/> - Acesso em: 17 abr. 2008. 90 Ver termos orientais anexo. 109 A partir deste breve histórico de ocupação do Bairro da Liberdade, sentimos necessidade de fazer um estudo referente a tradições, usos e costumes e suas manifestações culturais no bairro, devido ao fato de ser muito procurado por turistas no período de festas e festivais. Neste aspecto existem características que merecem ser destacadas, como as imagens das fachadas e seus ornamentos que enfatizam os elementos temáticos e identificam o bairro e suas subáreas visuais, como será demonstrado a seguir. 110 5.5 Fragmentos da cultura oriental no espaço urbano do Bairro da Liberdade A sociedade nipônica é marcada pelo tradicionalismo. Isto pode ser observado na linguagem formal utilizada pelos japoneses, inclusive a linguagem corporal, que pode transformar o processo de tradição social. (CHILDE, 1978)91 A Segunda Guerra Mundial fez que os japoneses se distanciassem dos seus antigos costumes, pois foram proibidas manifestações culturais. Nas escolas não era permitido falar e ensinar o idioma japonês. Já no meio urbano, foram retiradas as placas dos estabelecimentos comerciais com dizeres em japonês. Neste período, os japoneses foram excluídos, não podiam praticar seus cultos. Quando o Japão sofreu a derrota na Segunda Guerra Mundial, ficou mais difícil para os imigrantes retornarem à sua pátria e acabaram se estabelecendo no Brasil.92 O processo de aculturação fez que os imigrantes buscassem respostas para solucionar os problemas que surgiram para adaptar-se em seu novo meio cultural, físico, bioclimático e também a novos conceitos e matérias primas. Isto de tornou um desafio para os imigrantes. “(...) Os recursos, as atrações transformam então o espaço neutro em espaço de acolhimento”. (HENRIQUES, 2003: 26) Célia Abe Oi (Coord.) (s.d.: 30) destaca que os costumes nos espaços internos, em uma casa japonesa, os equipamentos tecnológicos de última geração ainda não conseguiram substituir muitos objetos tradicionais de decoração. Entre eles, destacamse o tatami, Mon, ofurô, shoji, entre outros. Os acolchoados - originalmente feitos de algodão, o acolchoado japonês (futon) é uma antiga tradição. Ainda hoje, em muitas casas cujo piso é coberto por tatami, este representa tanto a cama como o colchão. Muito leve, o futon durante o dia é dobrado e guardado em armários e o quarto se transforma em sala. É usado no inverno (mais 91 (Ao analisar as sociedades primitivas, este autor afirma que a linguagem corporal pode transformar o processo de tradição social de determinados grupos de pessoas). 92 ARIAS, C. C., “et alii” O Bairro da Liberdade. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2003. p. 104. 111 pesado e grosso) e também no verão. No Brasil, o futon chegou com os imigrantes e, durante muito tempo, seu uso esteve restrito aos nipo-brasileiros; porém, já há alguns anos, a fama de seu conforto ultrapassou os limites da comunidade japonesa.93 O tatami é um tipo de esteira grossa que equivale ao carpete dos ocidentais. Mede geralmente 91cm x 182cm e tem 5cm em de altura, usado como unidade de medidas para os cômodos de uma casa japonesa. Internamente, é feita de palhas de arroz firmemente atadas e coberta por uma fina esteira de junco, sendo considerado um elemento-chave da decoração japonesa.94 O biombo, de origem chinesa, foi largamente utilizado a partir do período Nara, 95 quando se transformou num elemento típico da decoração japonesa. É um anteparo móvel, formado por vários painéis unidos por dobradiças, sendo utilizado para dividir ambientes, para ocultar móveis, portas etc.96 Kimono é o termo genérico usado para designar a vestimenta tradicional japonesa, também se refere à peça de roupa transpassada na frente e amarrada na cintura por uma faixa larga e muitas vezes ricamente ornamentada (obi).97 Há vários tipos de Kimono feminino. Os desenhos, as cores, e as mangas diferem de acordo com a idade e estado civil. O Kimono denominado firisodê tem mangas largas e longas e é usado pelas jovens solteiras, enquanto as mulheres as casadas usam o tomesodê (mangas mais curtas). O corte do Kimono é invariável, a diferença fica no tecido, estilo de manufatura, tingimento, cor, estampa e obi (faixa da cintura). Os homens, em ocasiões formais, usam haori (espécie de sobretudo) e hakama (tipo de saia-calça longa). Há também o yukata, feito de algodão, usado tanto por mulheres como por homens, em casa ou em festas populares de verão. O ofurô (tipo de banheira tradicional para imersão) na vida dos imigrantes não 93 OI. Op. cit. p. 266. OI. Op. cit. p. 274. 95 Período que se inicia ao final do século VI começa o período Nara (710 - 784 d.C.) (...) o país adquire uma forma e um particular sistema de administração estatal, ao mesmo tempo em que se desenvolve o budismo. Nara, a capital, padeceu a influência cultural da China e Coréia. Este período distingue-se pelo fato de que os templos budistas adquiriram poder e prova do fato é a grande fundição da enorme estatua de Buda de bronze de Nara, conhecida como Daibutsu. O governante Kammu, posterior ao 794, translada a capital a Kyoto, iniciando o período Heian. Japão História. 2007. Disponível em: <http://www.rumbo.com.br/guide/br/asia/japao/histo.htm> Acesso em: 11 abr. 2007. 96 OI. Op. cit. p. 272. 97 OI. Op. cit. p. 268. 94 112 está ligado somente à necessidade de higiene. "Diziam que o banho de ofurô tirava o cansaço do dia, que trazia uma sensação gostosa, indescritível". De acordo com o costume japonês, primeiramente o corpo tem que ser lavado para depois entrar nessa banheira.98 Omamori, também adotado por muitos ocidentais, os talismãs (enguimono) são vendidos geralmente em barraquinhas localizadas próximas aos santuários xintoístas. Acredita-se que dão sorte a quem os usa. Entre eles citamos o manekineko que dá sorte nos negócios - figura de um gato que acena com as patas atraindo fregueses e dinheiro.99 Quando querem que um desejo se concretize, pintam um dos olhos do darumá100 e, se o pedido se realizar, o outro deverá ser pintado em sinal de gratidão. É usado tradicionalmente por políticos em campanha eleitoral. Existe também o omamori, tipo de amuleto que a pessoa carrega para afastar o azar. É feito de papel ou madeira recoberto geralmente por tecido. Além da proteção, alguns desses amuletos são usados para trazer sucesso financeiro, estabilidade familiar etc. Também há o ofundá que é colocado no kamidaná (altar familiar) ou na entrada da residência. Em uma casa de estilo japonês, os aposentos são divididos pelo fusumá e shoji que são portas corrediças feitas de madeira com papel estendido sobre elas. São usadas para economizar espaço interno da casa. Elas podem ser facilmente retiradas, ampliando o ambiente. Shoji é um tipo de biombo feito de papel fino esticado sobre armação de treliça (mais leve que fusumá) e que permite a passagem de luz. Já o fusumá é porta corrediça de madeira feita de papel decorado e grosso, é indicado para o clima japonês que é muito úmido.101 Estes elementos da cultura japonesa são vistos atualmente em vários lares orientais, e os ocidentais aderiram a alguns itens em sua decoração. Para complementar este capítulo, apresentamos a seguir a questão do processo de aculturação devido suas às manifestações culturais. Para iniciar, relacionamos 98 OI. Op. cit. p. 270. OI. Op. cit. p. 271. 100 Ver anexo de termos orientais. 101 OI. Op. cit. p. 272. 99 113 algumas das festividades e suas datas comemorativas que acontecem no Japão102 e muitas delas são comemoradas pelos orientais aqui no Brasil. Por ter as quatro estações do ano bem distintas, muitos eventos anuais no Japão estão associados às mudanças da estação. Uma data muito importante, estando caracterizada como a primeira de maior importância no calendário japonês, tanto que todas as empresas e repartições do governo ficam fechadas durante os três primeiros dias do ano, é a passagem do ano. Este período é chamado de shôgatsu, que se refere ao primeiro mês do ano. Nesta data as famílias se reúnem brindando com um saquê especial, que acreditam que garante longevidade. Há também comidas típicas para este evento que é comemorado com bastante simbolismo e religiosidade, e suas casas são preparadas e enfeitadas. Em fevereiro é comemorado o Setsubun, (o início da Primavera) que no passado se referia a qualquer das várias mudanças de estação do velho calendário, mas hoje em dia ela faz alusão específica a 3 ou 4 de Fevereiro, o começo tradicional da Primavera.(neste dia são espalhados feijões pela casa para repelir os maus espíritos). Festa das Bonecas - conhecida no Japão como hinamatsuri, ocorre a 3 de março, quando as famílias que têm meninas fazem uma exposição de bonecas, que representam a antiga corte imperial e comemoram bebendo um tipo especial de saquê branco e adocicado. Dia das Crianças – comemorado no dia 5 de maio (feriado nacional no Japão) e também é comemorado na China. Embora seja chamado de Dia das Crianças, é, na verdade, dedicado apenas aos garotos. Esta festividade tem o nome de Tango no Sekku que, originalmente, é uma data para se desejar a saúde, tendo a carpa como símbolo de sucesso e ascensão pessoal. As famílias que têm meninos penduram do lado de fora das casas flâmulas que representam carpas como símbolos de força, fazem exposições de bonecos do samurai e armaduras do lado de dentro e comemoram comendo bolos especiais de arroz. 102 Datas Comemorativas no Japão. Disponível em: <http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=167> Acesso em: 27 abr. 2007. 114 Festival Tanabata - Comemorado em 7 de julho, ou em 7 de agosto em alguns lugares, este festival tem suas origens na lenda folclórica chinesa “sobre o romântico encontro de duas estrelas que ocorre uma vez ao ano: a estrela Vaqueiro (Altair) e a estrela Tecelã (Vega). Nesse dia de festa, o povo escreve seus desejos em tiras de papel colorido, que são amarradas em ramos de bambu”. Festival Bon – acontece tradicionalmente durante vários dias por volta de 15 de julho no calendário lunar, “quando se acredita que as almas dos mortos retornam a seus lares”. Esta festividade também ocorre com mais freqüência em torno do dia 15 de agosto. É marcado por viagens de volta às suas cidades natais, a fim de visitar os túmulos de parentes. Durante esse festejo, as pessoas instalam lanternas para guiar as almas na ida e volta às suas casas, oferecem comida para os mortos e se divertem com um tipo especial de dança chamada Bon Odori. Porém, acontece devido a uma tradição budista: as pessoas reverenciarem os túmulos de seus parentes durante o equinócio da primavera, por volta de 21 de março e no equinócio do outono, em torno de 23 de setembro. 103 Existem também os festivais locais devido à longa tradição do Japão em promoverem festivais: Festivais Agrícolas – “a agricultura em terras alagadas formou a base para a produção de alimentos no Japão, e muitas festividades estão relacionadas com a produção agrícola, em especial o cultivo de arroz”. E no outono são realizados os festivais da colheita onde os primeiros frutos dos arrozais são oferecidos aos deuses. Festivais de Verão – têm o objetivo de repelir as doenças. Outros Festivais Importantes - Um dos maiores festivais de verão do Japão e que todos os anos atrai muitos turistas é o Festival Nebuta, que é realizado no início de agosto em Aomori e outros lugares do Nordeste japonês. Ele se caracteriza por desfiles noturnos com imensos carros alegóricos de papel iluminados por dentro e representam personalidades populares do passado e do presente. Segundo a tradição, a festa tem 103 Datas Comemorativas no Japão. Disponível e: <http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=167> Acesso em: 27 abr. 2007. 115 suas origens em um ritual com poder de espantar a preguiça, já que a palavra nebuta em japonês significa sonolência. Festival Okunchi - é realizado em outubro, em Nagasaki. É um festival de colheita, famoso por sua dança do dragão, que se originou na China. Nele desfilam pela cidade carros alegóricos que representam os navios mercantes do período Edo, baleias esguichando água e outros símbolos. Feriados Nacionais no Japão são períodos de muitas festividades no arquipélago e, muitas destas datas são comemoradas por japoneses e seus descendentes no Brasil e outros lugares do mundo, onde existe comunidade oriental. Segue abaixo a ordem cronológica: Primeiro de janeiro - Dia do Ano Novo 15 de janeiro - Dia da Maioridade 11 fevereiro - Comemoração da Fundação do País Em torno de 21 de março - Dia do Equinócio da Primavera 29 de abril - Dia da Verdura 3 de maio - Dia da Constituição 5 de maio - Dia da Criança 2ª Semana de agosto - Semana que os "mortos voltam ao cemitério" 15 de setembro - Dia do Respeito aos Idosos Por volta de 23 de setembro - Dia do Equinócio do Outono 10 de outubro - Dia da Saúde e Esportes 3 de novembro - Dia da Cultura 23 de novembro - Dia da Ação de Graças pelo Trabalho 23 de dezembro - Aniversário do Imperador Em São Paulo concentra-se a maior colônia japonesa fora do Japão, e grande parte desses imigrantes e descendentes adotaram o Bairro da Liberdade devido ao seu histórico para fazer seus eventos, conhecido pela inusitada decoração encontrada nas principais ruas do bairro. Por alguns elementos da arquitetura, jornais impressos em línguas orientais entre outros fatores, os orientais mantêm acesa algumas tradições trazidas do Japão. 116 As manifestações culturais constituem atrativos turísticos, e também uma representação cultural da colônia japonesa que conhecemos, mas há outros eventos muito importantes na colônia japonesa que ocorrem em São Paulo. 104 As manifestações culturais na Praça da Liberdade: Assim como acontece no Japão, várias manifestações culturais são feitas nas ruas, praças e parques de acordo com o calendário anual de comemorações. No Bairro da Liberdade não poderia ser diferente. Durante o ano, a Praça da Liberdade é palco de acontecimentos como o Dizo Matsuri, que celebra o nascimento de Buda, o Tanabata Matsuri, Festival das Estrelas e o Toyo Matsuri, festividade de encerramento do ano e juntamente com eles acontece o bon odori, e também apresentações musicais, artes marciais entre outras. Mostrando assim sua identidade e sua cultura nas ruas, um outro acontecimento que ocorre todos domingos na Praça da Liberdade próxima à estação de metrô com o mesmo nome, é a feira de artesanato com artigos variados, barracas de comidas típicas etc. Segundo John Urry (2001) as feiras tem um caráter popular, são implantadas na paisagem urbana com o intuito de proporcionar aos freqüentadores a tradição de um determinado grupo étnico, lazer, compras, cultura, gastronomia etc., constituindo uma pequena versão do turismo internacional. Em vez de viajarem pelo mundo afora, a fim de vivenciar e contemplar esses diferentes signos, os turistas, de maneira muito conveniente, são trazidos para um único lugar. A Feira da Liberdade: Realizada todos os domingos das 10h às 19h na Praça da Liberdade, Estação Liberdade do Metrô. Local onde os imigrantes orientais e também vários artesãos e artistas podem expor seus trabalhos. “A Feira da Praça da Liberdade é administrada pela SEMAB Secretaria Municipal de Abastecimento. Conta com o apoio da ACAL – Associação Cultural e Assistencial da Liberdade e coordenada pela ALIBER - Associação dos Expositores da Praça da Liberdade”. Abril Hana Matsuri - Homenagem a Buda e ao Elefante Branco. Maio 104 Eventos da comunidade japonesa em São Paulo. 2007. Disponível em: <http://milpovos.prefeitura.sp.gov.br/interno.phd?com=> Acesso em: 01. mai. 2007. 117 Feira do Dia das Mães - Exposição de Bonsai. Junho Festival Japonês - Campeonato de Sumo. 7 e 8 de Julho Tanabata Matsuri - Festival das Estrelas Agosto Feira do Dia dos Pais Outubro Mini Undokai (Gincana infantil); Karaokê. Novembro Festival Chinês e Coreano Dezembro Toyo Matsuri (Festival Oriental); Moti Tsuki; Feira de Natal. Última semana de julho Festival do Japão – Este evento divulga a cultura japonesa na cidade de São Paulo resgata a tradição japonesa e promove a integração entre várias gerações. Entre as atrações do festival, danças, comidas típicas, artesanato, shows, exposições, workshops, artes marciais e o concurso "Miss Kimono", com desfile de jovens de ascendência japonesa em trajes tradicionais do país de seus antepassados. As comemorações do centenário da imigração japonesa iniciaram-se em 18 de julho de 2006, quando se comemoraram os 98 anos de imigração japonesa em solo brasileiro. Neste período, aconteceram várias atividades, uma delas realizada no Centro de Exposições Imigrantes, onde ocorre o Festival do Japão que mostrou ao público brasileiro e também para outras nacionalidades, alguns aspectos da cultura nipônica. É também uma forma para conhecerem de perto a vida social e econômica japonesa, revelando alguns pontos para quem quer iniciar uma nova vida no Japão, como conseguir um trabalho e estágios em universidades ou iniciar relações comerciais com empresas estabelecidas no Japão. Estas informações estavam distribuídas em vários estandes espalhados no espaço do Centro de Exposições, que apresentavam parcerias de negócios sócio-culturais ou econômicos com o arquipélago e caminhos para estreitar 118 suas relações com o Japão. Em 2007 o tema do Festival do Japão foi Matsuri. 105 No ano de 2008, quando se completam 100 anos da imigração japonesa no Brasil, ocorre uma grande festa, e os preparativos já começaram e estão mobilizando toda a colônia oriental no país. Entendemos que as tradições usos e costumes de uma determinada etnia passam por vários fatores culturais, que abordaremos a seguir, de uma maneira mais específica; como se manifestam neste espaço, a dinâmica estabelecida pelo mesmo e o conflito de valores, pois sabemos que a interação de um povo e sua vida social têm valores diferentes, de acordo com sua localização geográfica. Este capítulo foi uma tentativa de entender como a influência do homem e sua cultura podem alterar o meio físico, as tendências da ocupação controlada ou não pela esfera pública, e a caracterização de um lugar. O espetáculo e as manifestações culturais não podem ser entendidos como estratégia do consumismo, pois, são manifestações de um povo e de suas tradições exteriorizadas. Ao apontar as questões culturais ligadas aos eventos no Bairro da Liberdade, cabe-nos observar a percepção deste turista em um bairro temático. Observemos, então, o turista e a sua relação com o espaço urbano. 105 Matsuri – é a palavra japonesa que designa festa ou festival. 119 5.6 O Turista no espaço urbano de um bairro temático A princípio, temos como objetivo analisar a percepção do turista no espaço urbano de um bairro temático. Observando a influência dos fatos sociais e comportamentais que afetam os turistas, o fenômeno de globalização que acaba negando o conceito de lugar, e o homem, inserido neste contexto, que acaba perdendo sua identidade, todos os lugares acaba se tornando um só lugar dentro do multiculturalismo do lugar, confirmando um nível de diversidade atrelado à dinâmica formada pelo tempo. As buscas e fugas que cada indivíduo empreende em sua vida são fatores psicológicos que promovem e estimulam o deslocamento quando induzido por um desejo, e suas origens estão na motivação que satisfazem as necessidades. Estes fatos são definidos da seguinte forma por HENRIQUES (2003: 82): “A(s) necessidade(s) é/são a força que motiva o comportamento, pelo que a compreensão da motivação passa pela determinação das necessidades individuais e de como elas tendem a ser satisfeita”.106 Isto acaba acontecendo quando nos referimos à leitura que o turista faz do espaço habitado. Rodrigues afirma que: “Tendo em vista que o turista busca na viagem a mudança de ambiente, o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de fantasia, a aventura e o inusitado, quando mais exótica for a paisagem, mais atrativa será para o turista”. (nosso grifo) (RODRIGUES, 2001: 84) Para entendermos estes e outros fatores, identificamos dentro das tipologias existentes, alguns elementos que evolveram o estudo, especialmente o turista no espaço habitado. O turista é muito estudado e analisado pela sociologia, para poder classificá-lo e também enquadrá-lo em tipologias. Em um destes conceitos, podemos citar o que foi criado por Eric Cohen em 1979, e denominado por ele “cognitivo normativo” (BARRETO, 1995: 27), ainda vigente. Este autor diferencia os turistas em Peregrinos Modernos e Buscadores de Prazer. Dentro da categoria Peregrinos Modernos, ele 106 Muitas das investigações sobre motivação dos turistas encontram-se na teoria de motivação da pirâmide de Maslow. 120 diferencia os Existenciais, os Experimentais e os Experiências. Os Buscadores de Prazer são divididos em Diversionários e Recreadores. Os modernos peregrinos têm em comum o fato de procurarem modos de vida alternativos, autenticidade, contato com as culturas visitadas. Os buscadores de prazer, ao contrário, procuram fugir de seu cotidiano em lugares que ofereçam muitos equipamentos recreativos e onde haja possibilidade de relaxamento físico. Para Margarita Barreto (2001), o paradoxo desse último tipo de turista é o que provoca grandes alterações na dinâmica da sociedade receptora, que se reflete em mudanças nos usos e costumes, na divisão social do trabalho, no relacionamento interpessoal, sobretudo o familiar, sem que haja contatos realmente interativos com a população receptora. Esta última só tem visibilidade como prestadora de serviços, e, por sua vez, o turista é visto pela população local como um fator de produção, um capital ambulante, com o com o qual tudo se concretiza, até o sorriso. Conforme Sartor (1977), vários estudos já foram realizados no sentido de conceituar o turismo e o turista. Sem dúvida, esta não é uma tarefa fácil devido à diversidade de fatores que envolvem esta atividade. Por outro lado, no período dos últimos 50 anos, evoluíram muito os enfoques e denominações com relação ao turismo e ao turista. Em 1937, a Comissão Econômica da Sociedade das Nações definiu o termo turista como sendo qualquer pessoa que viaja por uma duração de vinte e quatro horas ou mais, em um local diferente daquele em que tem sua residência habitual. Definir turismo é bem mais complexo do que definir, simplesmente, o turista. Contudo, existem também várias definições diferentes, por ser um conjunto interligado de fenômenos, que a visam direta ou indiretamente ao mesmo fim, e por ser um produto que envolve insumos variados. 121 BENI define o turista como: Visitantes temporários que permaneçam pelo menos vinte e quatro horas no país visitado, cuja finalidade de viagem pode ser classificada sob um dos seguintes tópicos: lazer (recreação, férias, saúde, estudo, religião e esporte), negócios, família, missões e conferências. Excursionistas: visitantes temporários que permaneçam menos de vinte e quatro horas no país visitado (incluindo viajantes de cruzeiros marítimos). (2002: 35) 107 Porém, o turista urbano tem um tempo mais reduzido no local. A duração deste deslocamento depende de sua busca, que é determinado por acontecimentos especiais, como: (exposições, concertos, óperas, competições desportivas, festas, festivais e outros eventos), promovidos em locais de acesso fácil e também por infraestrutura adequada, que acabam atraindo o turista urbano. Um dos fatores determinantes para o turista urbano é o consumo. Devemos considerar “tipos de consumidores e visitantes, a motivação e o comportamento”. Porém, o que determina a procura pode ser analisada através de óticas diferentes, a “psicológica ou psicográfica”, e também a “abordagem econômica”. (HENRIQUES: 2003: 73) Quanto ao fator econômico, o que norteia o fluxo turístico são as alterações da economia global, a preferência por um determinado produto que dificilmente muda, pelo menos, em curto prazo. Desta maneira, “Este processo pressupõe a existência de um mercado potencial composto por vários segmentos de turistas, no interior dos quais tendem a agrupar-se indivíduos com necessidades, desejos, características e comportamentos similares.”108 Assim, quando buscamos respostas nos fatores econômicos, vimos que ele atende as medidas de bem-estar social, porém, nem todas as medidas são eficazes porque não acabam atendendo o setor turístico em geral. Evidenciando assim a perspectiva psicológica e a econômica, que consideram o espaço como fator importante 107 “Em 1968, a Organização Mundial de turismo (que então se chamava União Internacional de Organizações Oficiais de Viagens) aprovou essa definição de 1963 e passou a incentivar os países a adotá-la”. BENI, Mário Carlos. Op. cit. 35. 108 HENRIQUES, Cláudia. Op. cit. p. 78. A autora faz uma análise da segmentação que possibilita múltiplas abordagens. 122 para adequar os turistas “em função da idade, nível educacional, local de residência, integração num determinado estrato social que vai condicionar a sua escala de valores com reflexos nas prioridades que estabelece para os seus gastos, etc, onde se destacam trabalhos de geógrafos, sociólogos e outros.” (HENRIQUES: 2003: 74) Cada indivíduo tem sua necessidade que se transforma em uma motivação, pois, o turista urbano busca um destino específico para desenvolver uma atividade específica e satisfazer esta necessidade traduzida pela percepção109 daquilo que irá satisfazer e consumir. “(...) Se a percepção da necessidade e da atracção se conjugarem estarão criadas as bases para o consumidor se motivar e para comprar o produto, no caso visitar determinado destino (...).” (HENRIQUES, 2003: 82) A Psicologia, a Sociologia e a Psicologia Social são aplicadas para explicar o fator motivação e a conduta de cada turista. Os aspectos psicossociais do turismo estão ligados ao motivo. Desta forma, ressaltamos que: Motivo, é uma experiência consciente ou um estado inconsciente que serve para criar o comportamento geral e a atuação social do indivíduo em uma situação determinada. Do ponto de vista dinâmico, Britt110 explica a expressão“motivo” como construção inconsciente que se emprega para distinguir e conhecer as forças determinantes da conduta humana, com intensidade equivalente ao instinto, ao desejo e à necessidade que impulsionam o homem a atuar, a viajar. (Britt, apud BENI, 2002: 78) Podemos concluir que foi a motivação turística que levou o turista ao deslocamento, que também pode ser de ordem pessoal, por influências coletivas e psicológicas. Quando discorremos sobre o assunto motivação, percebemos que ela está ligada a outro termo que é a “atração turística”. Deparamos com inúmeras funções deste termo que, para Cláudia Henriques, passa pela identificação e, segundo a mesma, “(...) somos levados a crer que qualquer atracção turística neste espaço de 109 Segundo Novo Dicionário AURÉLIO da Língua Portuguesa – Percepção – [do Lat. Perceptione] S.f. Ato efeito ou faculdade de perceber. Perceber – [do lat. Percipere, apoderar-se’ de.] V. t.d. 1. Adquirir conhecimento de, por meio dos sentidos: 2. Formar idéia de; abranger com a inteligência; entender, compreender: 3. Conhecer, distinguir; notar: (...) 110 BRITT, Lucas. Advertising psychology and research, Reviw of Tourism and Recreation, 1, Nova York: 1976. 123 natureza multifuncional, como é o urbano, pode ser alvo de diferentes procuras, desenvolvidas por diferentes tipos de visitantes, cada qual evidenciando determinado tipo de comportamento”. (HENRIQUES, 2003: 74) Há um fator determinante que motiva o turista urbano que é sua formação cultural, pois este fator contribui muito para que a leitura da imagem urbana seja feita. O Turista identifica-se com uma determinada imagem e, assim, este ambiente passa a fazer parte de seu seleto mundo. Essa imagem urbana é representação perceptiva ambiental, porém a sua seleção é também um sinalizador da mesma natureza; assim, a percepção ambiental pode ser flagrada em dois tempos: pela imagem urbana, enquanto sua representação, e pela seleção da própria imagem. Um duplo processo de linguagem, a semiose que ocorre na fuga sutil do interpretante, isto é, da mente capaz de operar significados. ([sic.] FERRARA, 1999: 72) Ao analisar a imagem do espaço urbano do Bairro da Liberdade em São Paulo, que se apresenta aqui não só como representação visual, mas, também, como polissensorial.111 O usuário transforma a cidade através do uso que faz, e este fator possibilitou à indústria turística investir e desenvolver produtos e serviços específicos. Rapoport (1978: 230) afirma que as atividades de um determinado local se vinculam com o espaço, podendo ser originado pelos fatores culturais de um determinado povo, modificando e afetando o comportamento espacial. A leitura do espaço urbano passa pela percepção e, segundo Ferrara: (...) a percepção urbana não é um dado, não se manifesta como uma certeza, mas é um processo e uma possibilidade. Altera-se conforme as características socioculturais e informativas (repertório) do morador da cidade e submete-se às características físicas, econômicas e de infra-estrutura do próprio espaço urbano. É, portanto, fragmentada e, mais do que isso, localizada, nesse sentido, a percepção urbana transforma-se em ambiental, e essa designação parece mais própria e oportuna. (FERRARA 1999: 107) 111 Uma análise feita superficialmente no Campus da USJT (medindo Temperatura, Luz, Som e Umidade) demonstrou como se comportam os usuários de espaços coletivos, sua maneira de observar e agir, quando escolhem determinados espaços de acordo com suas necessidades. 124 Cada indivíduo faz uma leitura e sua percepção passa por fatores biopsíquicosocioculturais e remete às suas necessidades, motivando nele a procura recreacionalcultural, de negócios etc; seu olhar seleciona através de suas escolhas que passa também pelo conhecimento que tem do local observado, no caso, o Bairro da Liberdade que é percebido como um cenário no todo, estando transido de sentimentos e memórias de quem o vê, ele possui uma urbanidade que remete ao Japão, e acaba integrando todos estes fatores específicos. Mário Carlos Beni afirma que a percepção é um processo que acontece quando indivíduo “seleciona, organiza e interpreta a informação para criar quadros do mundo; é uma apreensão da realidade através dos sentidos. A percepção envolve um estímulo receptor do entorno físico e social através dos vários sentidos e, com base na experiência já vivida, se junta às necessidades presentes” (BENI, 2002: 246). A percepção integra o homem ao meio ambiente, experimentando-o através dos sentidos, e esta percepção ocorre devido a características culturais, recebendo as mensagens dos ambientes, formas e cenas e assim decodifica seus signos que se diferenciam dependendo de cada indivíduo. (...) “la percepción se afecta; ante la naturaleza de los estímulos, la fisiología de la percepción y el estado del organismo, la antención, la motivación y la selectividad o la adaptación.” ( RAPOPORT, 1978: 171) Cada indivíduo aprende com seu meio ambiente “el aprendizaje perceptivo consiste en cambios en los que se mira y recuerda (...).” (RAPOPORT, 1978: 172) Portanto, a percepção é a experiência sentida e vista por um indivíduo em determinado ambiente. Relacionando-se com a motivação e o significado simbólico, e diferenciando entre os objetos, escalas, uso, movimento de acordo com o ambiente percebido. La percepción presupone un organismo (sintonizado), y cualquier hipotesis acaba provocando processos emocionales y cognitivos. En la segunda fase la información del medio se recibe y finalmente es comprobada, (...) Sandström, (1972) Apud Rapoport (p. 173) la información perceptiva se comprueba gracias a los esquemas cognitivos y la evaluación. 125 Atentando para o fato que não existe apenas uma teoria que discute a percepção e, diante deste fator, Rapoport sugere distingui-la de acordo com três tipos: La percepción operacional depende del uso, y se produce en busca de un objetivo de acción. Como los sistemas de comportamento de la gente diferen.” Este tipo é mais variável por ser associativa. “La percepción “reactiva” es más passiva y se refiere ante todo al medio físico. La percepción inferencial es de natureza probabilística y la gente ajusta los estímulos a sus esquemas.” (APPLEYARD 1970 apud RAPOPORT, 1978: 173). Segundo Amos Rapoport, os três tipos de percepção conseguem atingir níveis de redundância devido a atividade, intensidade, simbolismo, forma etc., que é reforçado pela percepção e cognição, mas, isto depende de cada indivíduo e do grupo que (percebe) observa o lugar. Pois a percepção implica interação com o meio ambiente e, confirmando esta afirmativa: “En qualquer caso, la gente participa en el medio, y no sólo observa; y no miran el medio como si fuera una fotografía o una perspectiva. El medio ambiente no es algo “allá afuera” para ser percebido o conocido, es algo que forma parte de la gente. La gente y su medio están en un constante, activo, sistemático y dinâmico intercambio.” Portanto, as pessoas atuam e se relacionam com o ambiente, tratando-se de interação das pessoas com o meio e nunca pessoas e o meio; “(...) y las personas siempre consideram el medio como algo en el que existem otras personas, valores y símbolos”.112 (RAPOPORT, 1978:175) Diante do exposto, concordamos com o autor quando afirma que os elementos que selecionamos são por várias razões percebidos pela cultura, experiência pessoal e motivação, e somos levados a observar as formas, elementos e objetos de todo contexto urbano observado, “Muchas veces el orden de la percepción nos dice algo sobre el significado de las interconexiones perceptivas.” (RAPOPORT, 1978: 17) 112 Considerando o símbolo como um estímulo do meio ambiente. (Dubos 1966, Lee 1966; RAPOPORT and WATSON 1972 apud RAPOPORT: 1978, p. 175. 126 O que é passado para o usuário ou turista urbano deste local? A linguagem ambiental e a percepção que dela têm os usuários de um local têm sua existência identificada pela observação que capta, registra as imagens e as associa inferencialmente. Por outro lado, a rápida transformação que constitui o signo por excelência da cidade moderna relativiza, em curto espaço de tempo, aquelas imagens. Elas têm vida efêmera e parecem viver durante o curto instante da observação que as flagra. Esta momentaneidade atinge também, as associações inferidas daquelas imagens que tem igualmente uma vida efêmera, continuamente substituída por novas inferências mais gerais e abrangentes. Embora instáveis e passageiras, são as associações que dão o caráter de linguagem às imagens urbanas, criando-lhes uma espécie de controle que assinala, nas imagens, seu vetor de transformação. (FERRARA, 1999: 111) O estímulo e a curiosidade: temos a princípio uma percepção visual da paisagem urbana do Bairro da Liberdade que referencia a um outro país, uma ilusão, um cenário, mesmo sabendo que o turista permanece um curto espaço de tempo no local, e a paisagem revela os usos a ser feito no mesmo. Para Lucrecia D’Aléssio Ferrara, “Uma produção cultural que revela um complexo de recepção de um conjunto de informações que, em tese, atinge a todos igualmente”,113 o bairro revela o seu cenário e cada indivíduo atribui um valor através de sua leitura. (...) uma pesquisa de percepção é capaz de flagrar signos que nos ajudam a ver de outro modo a nossa realidade, e leva a uma espécie de alfabetização urbana em que os problemas físicos e estruturais empalidecem ante a urgência de uma ação cultural que se impõe ao desenho urbano e deve vetorizar a intervenção pública. (FERRARA, 1999: 126) Ao reconhecer o espaço e toda informação contida neles, o próximo passo é decodificar todos os “signos” e “símbolos”, “(...) cada tipo de signo tende a provocar um certo tipo de relacionamento entre ele mesmo e a pessoa que recebe, nesta provocando também um tipo particular de interpretante ou significado (...)” (COELHO, 1991: 53) No caso do Bairro da Liberdade, os símbolos e os signos estão misturados, épocas e estilos aos usos e hábitos do cotidiano do usuário deste lugar, facultando ao 113 FERRARA. Op. cit. p. 115. 127 observador construir em figuras que se sobrepõem, conforme a sua formação cultural. “O espaço é local que agasalha a informação e interfere na sua produção, mas sua homogeneidade faz com que a informação sobre o espaço, contida, abstrata e teoricamente, em relatórios e memórias nos quais não se vê o espaço, embora sobre ele se fale”. (FERRARA, 1999: 152) Amos Rapoport (1978: 168) afirma que cada pessoa constrói uma imagem mental urbana, associada a características socioculturais compostas de componentes externos e internos e, quando se deparam com determinado espaço e determinados grupos sociais, identificam-se com a imagem deste lugar. O processo de adaptação no ambiente dentro do enfoque das relações sociais que ocorre no local faz que o homem necessite de espaços específicos, condizentes com sua natureza. Muitas das informações transmitidas pelos espaços urbanos são geradas a partir de uma cultura de massa onde: (...) o sistema de trabalho voltado para a produção industrial e seu correspondente modo de consumo, o sistema de comunicação em atividade e as correspondentes alterações culturais que o seu acesso provoca, as formas de transporte tecnologicamente mais ou menos avançadas, os serviços e equipamentos disponíveis, as formas associativas decorrentes de uma estrutura social mais complexa e mais comunicativa. (FERRARA, 1999: 154) O espaço urbano está em constante transformação e contempla a todos de maneira geral, seja por influências do consumo, por políticas urbanas, espaciais, climáticas e entre outros fatores internos ou externos, que acabam atraindo cada turista urbano de uma maneira específica, e através das imagens. Para compreendermos as imagens contidas no espaço urbano é necessário um contato (visual e sonoro) mesmo que superficial, pois, segundo FERRARA: As imagens urbanas despertam a nossa percepção na medida em que marcam o cenário cultural da nossa rotina e identificam como urbano: o movimento, os adensamentos humanos, os transportes, o barulho, o tráfego, a verticalização, a vida fervilhante; uma atmosfera que assinala um modo de vida e certo tipo de relações sociais. As características culturais sedimentam a cidade enquanto o império fervilhante de signos, que cria uma linguagem e justifica uma ótica de estudos voltada 128 para ela enquanto modo específico de produzir informação, ou seja, uma representação, um modo de ser que substitui e concretiza o complexo econômico e social responsável pelo fenômeno urbano. (1999: 201) O consumidor do espaço urbano é protagonista com diferentes necessidades, com comportamentos distintos. Cláudia Henriques, a este respeito, diz: “Os turistas procuram mais do que tudo uma experiência”. (2003: 75) A leitura do espaço urbano é feita através da leitura das imagens contidas nele. A imagem é decodificada e através das transformações econômicas e sociais do local, temos sinais que contam a história deste espaço repleto de “signos”.114 Los símbolos dan cuerpo a abstraciones; son distintos de los signos (signs), los cuales dirigen la atención directamente al objeto y situación que representan, mientras que los símbolos exigen entender la idea que presentam. La función de los símbolos es una función comunicativa y es posible relacionar-los con el medio, si consideramos a este como un instrumento de comunicación. La conducta, los artefactos y el medio, puedem considerarse como sistema simbólicos y comunicativos dando expreción concreta a conceptos de valores, significados, etc. (RAPOPORT, 1978: 282) Com base nesta afirmação, podemos fazer uma leitura do Bairro da Liberdade. Quando o autor discute a questão do símbolo como uma função comunicativa, podemos entender que a leitura feita pelos turistas ou para aqueles que não têm intimidade com a cultura em questão, muitas vezes, os objetos que o caracterizam como bairro oriental passam despercebidos; mas, para os orientais, eles têm grande significado histórico, religioso, cultural etc., quando observam seu conteúdo simbólico. Então, podemos afirmar que os elementos simbólicos de um determinado lugar se diferenciam de acordo com o grupo que faz a leitura e o uso do mesmo, agregando valores diferenciados a determinados elementos: “(...) se ve la ciudad como sistema de sistemas de símbolos y se asocian los símbolos con el uso. Cada grupo conoce algunos símbolos, ignora unos y evita otros (...)” Sendo assim, cada grupo se relaciona de forma diferente com seu meio ambiente, e as imagens dos lugares acabam atraindo 114 A palavra “signo” em nosso contexto, seria para identificação de imagens urbanas, que diferenciam e inferem um certo tipo de comunicação dando características ao lugar estudado. 129 determinado grupo de pessoas. “(...) Las ciudades son pues sistemas de mensajes simbólicos, aunque no se este de acuerdo con ellos, pueden comprenderse (...)”.115 A estrutura social da cidade ou de um determinado bairro tem suas formas e usos, e as pessoas que ali moram ou freqüentam acabam entendendo ou se adaptando a eles, de acordo com as necessidades que são geradas pela convivência, crenças ou outros valores socioculturais. “(...)Si uno no comunica, no se relaciona, y cuando las diferencias entre la gente impiden entender los símbolos las distintas personas se inventam nuevos simbolos; la total ausência de símbolos comporta la patología social.” (DUCAN, 1972 apud RAPOPORT 1978: 286) O lugar acaba ditando condutas de comportamento diferenciado, que passa pelas características socioculturais; muitas vezes, os lugares apresentam uma identidade cultural, um valor simbólico. Os geógrafos estruturaram a noção de paisagem cultural como um modo de comunicação, uma forma de o observador ler determinados ambientes que ele seleciona e, pela de sua própria cultura, decodifica o meio construído. “El medio construido contiene información simbólica que se transmite no-verbalmente y que, si se lee y se obedece (puede no obedeserse), y se es congruente con reglas, compartidas, generala acción apropriada”. (WAGNER 1972d apud RAPOPORT, 1978: 287) O turista acaba observando todo este contexto de diversas maneiras, e, se comunicando com o meio ambiente observado; “De esta manera el medio ambiente es una forma de comunicación no-verbal, y los asentamientos físicos no son sólo expreción de una cultura, sino vínculos con reglas y formas no verbales de comunicación”. 116 Seria necessária uma pesquisa qualitativa para poder identificar a tipologia de alguns turistas freqüentadores do Bairro da Liberdade, mas, diante do perfil psicográfico dos turistas traçado por McIntntosh/Goeldner 1986:136, apud RUSCHMANN, 1997: 95, ousamos classificá-los superficialmente como turistas alocêntricos, devido à sua busca por novidades, a fim de satisfazer sua curiosidade em face do exótico. 115 116 RAPOPORT, Amos. Op. cit. p. 285-286. RAPOPORT, Amos. Op. cit. p. 287. 130 Os turistas psicocêntricos, cuja denominação deriva de “psyche” ou autocentrado, são pessoas ansiosas, inibidas, avessas a aventuras e preocupadas com pequenos problemas da vida. Os alocêntricos (termo derivado de allo, quye significa “de formas variadas" são pessoas cujos padrões de interesse estão centralizados em várias atividades. São extrovertidos e autoconfiantes, buscam sempre novidades e aventuras, o turismo torna-se, para elas, uma forma de expressar e de satisfazer sua curiosidade. Assim uma nova destinação turística será “descoberta” pelos turistas alocêntricos e, quando se torna mais conhecida e com maior e melhor infra-estrutura turística e geral, passa a ser freqüentada pelos mesocêntricos, que correspondem ao segmento quantitativo mais numeroso - geralmente chamado de turismo de massa.” (RUSCHMANN , 1997) Este estudo nos mostrou que a procura do turista urbano não passa somente pela identificação com o espaço, mas também pelos diferentes tipos de utilização da cidade. Com sua cultura e a economia local, fica evidente a “sua ligação entre a procura turística e os recursos e equipamentos/infra-estruturas ofertados neste espaço”. (HENRIQUES, 2003: 74). Ao encerrar esta reflexão, observamos que cada espaço urbano tem suas características e atendem a diferentes usuários. Elas mudam de acordo com a percepção do freqüentador. Analisamos a seguir este fato ao abordar a questão da percepção espacial do Bairro da Liberdade. 131 5.7 A percepção espacial do Bairro da Liberdade e o Turismo Cultural Urbano. Mensurar o espaço de um bairro pode parecer uma tarefa árdua, mas, se concebermos o lugar (ou espaço físico), como essencial para a vida humana, que desde os primórdios se apropriam do mesmo (ex. as cavernas), talvez seja mais fácil. Porém, quando falamos de espaço turístico, estes criados para satisfazer indivíduos que se deslocam para outros lugares, além de seu habitat natural, à procura de algo, são necessários recursos para atender a expectativa que indivíduos criaram no seu inconsciente. As pessoas que se deslocam, buscam atender seus desejos, distante do espaço de suas relações. A mudança temporária de espaço leva à busca de novos elementos para a vida social, talvez até uma essência abstrata, encontrada e produzida em condições materiais e suprem a existência, como objetos e suas formas; nesta esfera, o homem busca satisfazer seus desejos e vontades que se encontram adormecidos em seu interior, mas, frente aos estímulos visuais, a mente acrescenta as formas do lugar; re-acendem e conectam estas pessoas à historicidade do povo oriental, no caso, o Bairro da Liberdade, evocando algumas delas através de seus elementos ornamentais. Uma fuga passageira causada pelo lugar. A vida moderna gerou o “stress” e a necessidade de fuga, modificando o perfil do turista, influenciado pelo mundo globalizado com suas informações e ofertas de alternativas para empregar o tempo livre em determinados espaços. Conforme afirma Mário Carlos Beni (2002: 55-57), a compreensão do espaço pode ocorrer da seguinte forma: O ‘Espaço Real’, visto pelo homem através de seus sentidos; “(...) É real porque se pode comprovar sua existência, nos deslocamos nele e, em muitos casos, modificálo”. Temos o Espaço potencial: que é “a possibilidade de destinar o espaço real a uso diferente do atual; portanto, não existe no presente, sua realidade pertence à imaginação dos planejadores quando, depois do diagnóstico, ao passarem à proposição do plano, estudam as possibilidades de uso de um território”. Já o ‘Espaço cultural’, alterado pela ação do homem, deixa de ser original. Adaptando às necessidades, 132 variando de acordo com o perfil de quem o utiliza. A origem do espaço cultural adaptado “também é chamado de ‘espaço rural’ para assimilar as atividades produtivas que nele se realizam ao se arar e semear a terra fértil, construir canais de irrigação, cortar as matas originais, plantar novas árvores, criar gado ou explorar jazidas minerais (...)”, este espaço é ditado pelo homem, mas quem o rege são “as forças da natureza”. O espaço artificial descrito a seguir é o que compreende a base do estudo do potencial turístico de um determinado lugar, pois só sua leitura permite o uso que será feito. Espaço artificial: Compreende aquela parte da crosta terrestre em que predomina todo tipo de artefatos construídos pelo homem. Sua expressão máxima é a cidade e, por isso, é também denominado “espaço urbano”. Nele, tudo que existe é feito pelo homem. Todas as formas são inventadas por ele e quando aparece algum elemento natural, flores, plantas ou árvores, sua função é decorar o ambiente, onde lhes caberá crescer enterradas em vasos ou canteiros. Espaço natural virgem: São aquelas áreas, cada vez mais escassas do espaço natural, sem vestígios da ação do homem. Espaço vital: Este tipo ou forma de espaço não se refere à Terra, mas ao homem ou a quaisquer outras espécies unicelulares, vegetais e animais, e ao seu entorno ou meio, que precisa ser favorável para que possam existir. Mário Carlos Beni (2002: 56-57) também apresenta o Espaço Turístico, que compreende a relação dos outros espaços: “(...) É o resultado da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não podemos esquecer, são a matéria-prima do Turismo. Este elemento ou componente do patrimônio turístico, mais o mapeamento, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país”. Pela leitura dos espaços, podemos afirmar que o turista é um consumidor do espaço turístico edificado. Mário Carlos Beni afirma que não devemos utilizar técnicas para delimitar regiões, pois não existem regiões turísticas e, em “substituição a essa noção, desenvolveu-se a teoria do espaço turístico”. Então, podemos dizer que os espaços turísticos passaram a ser usados e delimitados por regiões vocacionadas, tais como: “zona, área, complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor de translado ou transporte e corredor de estada ou estadia, todos seguidos do adjetivo turístico”. Todos estes elementos, , passíveis de atrair e provocar o deslocamento de pessoas e 133 que são transformados em recursos turísticos, podem ser subdivididos em “naturais e culturais”. (BENI, 2002: 57) A percepção destes espaços a princípio é visual, e os japoneses acreditam que a memória e a imaginação devem sempre participar das percepções. Um exemplo é o jardim japonês. Na sua criação, os japoneses empregam não só a visão, mas todos os demais sentidos. A paisagem urbana do Bairro da Liberdade se identifica e se comunica pelos seus elementos simbólicos. “Así el medio se reforzará con la comunicación no-verbal, gestual, facial, proxémica, vestido, maneras, y reglas no-escritas de comportarse en el medio físico”. (RAPOPORT, 1978: 288) Cada grupo se comporta e se comunica de maneiras diferentes; no caso dos orientais, eles possuem regras e comportamentos que são observados em um cerimonial detalhado, utilizando símbolos e gestos e se comunicam de uma maneira não-verbal. E esta comunicação se estende ao seu meio ambiente urbano que contempla alguns detalhes organizando-se espacialmente de acordo com a cultura. Quando chamamos atenção para a cultura, referimo-nos também aos grupos homogêneos que se definem de acordo com suas diferenças, e uma das missões de uma determinada cultura é definir seus grupos e marcar suas diferenças com relação às outras diferenças. Portanto, a cultura integra e separa. O uso dos símbolos é muito importante neste processo de divisão, bem como as fronteiras sociais. “La agrupación en núcleos homogéneos es algo comprensible si pensamos que la cultura influye en el espacio, que el território “a defender”, y que la gente valora sus actividades según su religión y su ética, etc.” (RAPOPORT, 1978: 232) Sendo assim, cada grupo social se relaciona de acordo com uma rede que é montada pela cultura, atividades em comum e a necessidade de sobrevivência. E, para sobreviver, estes grupos devem preservar seus costumes, seus símbolos e o sistema social. A capacidade de um determinado espaço atrair freqüentadores que não pertencem ao grupo étnico para o qual foi construído (ou adaptado) acontece devido à atração criada pela imagem simbólica, e acaba acontecendo uma identificação estabelecida pelo usuário com o lugar, sua funcionalidade e suas representações. Cláudia Henriques (2003: 135) afirma que: “A cidade turística não é somente um 134 espaço real e objetivo é também um espaço representado, isto é, resultante dos imaginários espaciais integrando os valores sócio-culturais do momento”. Como podemos observar nas próximas imagens que foram captadas no Bairro da Liberdade em pleno centro da cidade, ele é um oásis que acaba atraindo várias pessoas. É uma tentativa de integrar a natureza ao cenário urbano. No Largo da Pólvora localizado na altura do número 578 da Av. Liberdade, próximo às ruas Américo de Campos, Tomaz Gonzaga e Jaceguai, cercado por portões de ferro: há dois lagos artificiais, uma pequena ponte e um edifício de poucos andares. Neste local existia a Casa da Pólvora, construída e instalada pelo Senado da Câmara em 1785 e em 1822 chamava-se Campo da Pólvora. FIGURA 30: LARGO DA PÓLVORA FONTE: Pesquisa de campo – Bairro da Liberdade NOTA: foto da autora (mai.1999) 135 Cada grupo étnico desenvolveu sua própria escala para seus espaços privados e públicos. Cada indivíduo tem suas necessidades espaciais diferentes, e isto implica fatores sócio-econômicos e culturais. No caso, apresentamos um espaço anteriormente ocupado por outras etnias, e atualmente reformulado e adaptado por uma cultura diferente. Toda dinâmica vivida pelos orientais por meio de abordagens históricas estive sujeita a transformações devido aos processos sociais de adaptação e ao uso deste local. Segundo Adyr Balastreri Rodrigues, a experiência individual de cada pessoa está contida na bagagem cultural. “Assim ler a paisagem é muito mais complexo do que ver e perceber a paisagem. Envolve uma visão de mundo, consciente e inconsciente, sempre subjetiva e permeada pelo imaginário”. (RODRIGUES, 2001: 84) No turismo cultural urbano, temos praticamente uma atividade de consumo do espaço117 expressa pelas relações sociais, não podemos deixar de observar a atividade econômica do local, pois sabemos que na cidade de São Paulo o turismo cultural urbano ocorre devido ao seu comércio, ao setor cultural, à gastronomia, à vida noturna entre outros. Observando um bairro temático como o Bairro da Liberdade, podemos perceber que o deslocamento de turistas é induzido por uma busca, um desejo de consumo. Esta população flutuante varia118 em períodos do ano, diversificando-se de acordo com a idade, classe social e por motivos que ditam o comportamento e o uso do espaço. É interessante notar que a maioria dos orientais que transitam diariamente pelo bairro não mora ali, mas necessita dele por algum motivo. Diferente de freqüentadores de outras etnias, para eles, o bairro oferece uma gama de produtos importados ou até mesmo feitos no Brasil que abastecem seu cotidiano, e acaba conservando suas tradições e costumes, preservando assim a essência do grupo e, conseqüentemente, influenciando outros grupos. A imagem do bairro é um dos objetivos principais deste estudo. No caso, o Bairro da Liberdade permite várias análises, mas as pessoas que buscam o local têm uma 117 No caso do estudo de um determinado espaço urbano, seria necessário um diagnóstico para futuramente uma intervenção, que geralmente antecede planos e programas de planejamento, mas não será o caso desta pesquisa, e sim, demonstrar a leitura de alguns espaços de um bairro temático, e a função de alguns elementos da oferta e da demanda vista pelo turismo cultural urbano. 118 Trata-se apenas de uma observação da autora, que freqüenta o bairro, pois para esta análise seria necessária uma pesquisa exploratória. 136 imagem urbana, não só visual, mas também polissensorial. Vêem uma representação cenográfica construída diariamente pelos moradores e frequentadores, através de variáveis contextuais formado por vários elementos urbanos: o consumo, o serviço, o comércio e também a diversão. Sendo assim, o espaço está ligado à cultura, e a imagem está na relação do homem e seu meio, que é a chave de vários estudos da psicologia. (ANTROBUS, 1970; SEGAL,1971 apud RAPOPORT, 1978, p. 54) “En general, una imagen es una representación internalizada y, con respecto al medio ambiente, es una representación del medio por parte del individuo, a través de la experiência de cualquer clase que el segundo tenga del primero.” Em se continuando nesta abordagem, temos a imagem ligada à memória de cada indivíduo, de acordo com sua cognição ambiental. Segundo Amos Rapoport, cada pessoa tem seu ideal de mundo baseado em uma abstração, podendo ser considerada uma imagem em grande escala que varia de acordo com a cultura e, posteriormente, se tornam estruturas de um esquema imaginativo que acabam incorporando os ideais de acordo com o conhecimento do mesmo e de como o mundo funciona. (RAPOPORT, 1978: 55) Depois de várias pesquisas feitas para analisar o turismo e o turista, sem muito sucesso, Mannell E Isso-Ahola criaram um novo contexto teórico para explicar “a motivação tanto do lazer quanto do turismo”. Segundo os mesmos autores, existem duas forças motivacionais que influenciam o lazer e o comportamento dos turistas, que trazem benefícios psicológicos e ajudam a “sair da rotina e de ambientes estressantes”. Nos últimos tempos, a relação “trabalho e lazer, recebeu um pouco mais de atenção dos cientistas sociais e comportamentais”. ((MANNELL E ISSO-AHOLA 1987, apud ROSS, 2001: 24-28) Uma das teorias que acreditamos que possa ser aplicada ao Turismo Cultural Urbano, em que o indivíduo satisfaz seus desejos de liberdade, autonomia, gastronômico etc, é o “postulado teórico” muito importante conhecido, como hipótese compensatória. Em termos gerais, ela diz que “as privações vividas no trabalho são 137 compensadas nos ambientes não profissionais”. Kabanoff e O’Brien ao explanarem sobre a teoria compensatória, observaram dois possíveis resultados: 1. Compensação suplementar ou positiva – onde não acontecem ou há poucas experiências, comportamentos e estados psicológicos desejáveis (como autonomia, prestígio, sentimento de realização) no ambiente de trabalho, eles são procurados num contexto de lazer, e; 2. Compensação reativa ou negativa – experiências profissionais indesejáveis são canalizadas para um ambiente de lazer ou não – profissional (como uma válvula de escape para tensão do trabalho, ou descanso de um trabalho fisicamente fatigante). (KABANOFF e O’BRIEN apud ROSS, 2001: 28) Na teoria de Maslow, a motivação citada em textos da psicologia, que apresenta “as necessidades humanas como elementos motivadores formam uma hierarquia”, que compreende cinco níveis: “as necessidades fisiológicas, de segurança, amor, respeito e sentimento de realização”.119 (ROSS, 2001: 31-32) As necessidades conscientes são as bases da motivação, diretamente ligadas aos sistemas de valores, influenciando a percepção dos turistas, ligados a questões emocionais, diz segundo Gnoth que completa: “(...) e possuem as características dos impulsos dirigidos para o mundo interior (...)”, o que é visto e sentido atende ou não as necessidades do turista e, desta maneira, “(...) um objeto turístico pode se tornar um alvo porque é visto como um objeto que promete satisfazer valores e necessidades psicológicas (...),” podendo variar o desejo ou a satisfação, dependendo de vários fatores psicológicos, que também podem substituí-los a qualquer momento. (GNOTH, 1997 apud ROSS, 2001: 40-41) Por esta observação, inferimos que o turismo no Bairro da Liberdade pode ter um caráter vocacional, cultural, comercial, de saúde, sentimental, entre outros fatores, pois, é o motivo que dita o deslocamento. Diante destes fatores, observamos que no bairro há um aumento do número de turistas ocasionais, usufruindo o comércio, principalmente no período de férias, sendo grande a demanda de pessoas em busca de artigos exóticos e exclusivos, procedentes do outro lado do mundo. No período escolar, 119 “Sua teoria foi construída originalmente no contexto de áreas como a psicologia clínica. Mas, agora, sua aplicação está começando a acontecer no campo da psicologia do turismo.” (ROSS, 2001:32) 138 mães e seus filhos procuram materiais representando personagens que sejam objeto de desejo de várias crianças no mundo todo. Acreditamos que o conforto estético, sonoro e visual, estabelece a permanência no espaço (local). Para se ter uma percepção total do espaço, é necessário fazer uma leitura interdisciplinar, e expressá-la através da linguagem, observar cada detalhe, enxergar a todo existente, compreender o espaço arquitetônico e urbanístico analisando o homem e o ambiente ligado a múltiplas dimensões. Pois, cada indivíduo busca sua identidade cultural através do espaço e do tempo. As forças sociais movem-se e vão transformando o espaço neutro em espaço de acolhimento e formando assim uma identidade cultural deste lugar. As imagens do bairro mostradas ao usuário residente ou turista não são fixas, pois a cada olhar, cada grupo dita seu ritmo, não subestimando o valor que tem para cada um deles, pois o espaço oferece usos diferentes para cada pessoa. Em determinado momento, a imagem se sobrepõe ao conhecimento individual e coletivo. Segundo Eduardo Yázigi, “O próprio Le Corbusier, com todo seu funcionalismo, reconheceu que a alma de uma cidade depende de tudo aquilo que ela tem de fantasioso e não funcional”. (YÁZIGI, 1996: 30) A imagem oferecida pela indústria cultural faz do Bairro da Liberdade, um lugar que tem uma proposta artificial. Para Teixeira Coelho. 120 Toda indústria cultural vem operando com signos indiciais (nosso grifo) e, assim, provocando a formação e o desenvolvimento de consciências indiciais. Isto é: tudo, signos e consciências e objetos, é efêmero, rápido, transitório; não há tempo para a intuição e o sentimento das coisas, nem para o exame lógico delas: a tônica consiste apenas em mostrar, indicar, constatar. Não há revelação, apenas constatação e ainda assim uma constatação superficial – o que funciona como mola para alienação. (COELHO, 1991:62) E através desta leitura vimos que para o turista não basta o usar e contemplar. Atualmente, a visão dele mudou e ampliou tornando-o mais exigente e, para isto, temos 120 Segundo a teoria de Charles S. Peirce apud COELHO, 1991:54-62, que acredita que possa ter três tipos de signo: ícone, índice e símbolo, e o signo indicial representado por “(...) seu objeto por remeter-se diretamente a ele(...)” e exemplifica que: “se há nuvens escuras indicam que choverá”. 139 o suporte do planejador que fabrica um mundo rico e expressivo dotado de imagens para fantasiar e imaginar. Segundo Eduardo Yázigi: Usualmente, a personalidade, ou o conjunto de identidade do lugar, na vida cotidiana, tem sido entendida como relações sociais, instituições, arquitetura, urbanismo e toda cultura material; costumes e vários outros itens que se repetem em todas as partes, como bem nos dão conta a sociologia, a antropologia e etnologia. Neles reconheço importantes e indispensáveis sustentáculos do grupo. (YÁZIGI, 2001:30) Investigando a questão do “imaginário”, uma abordagem que está diretamente ligada à produção e ao valor do espaço, dedicamo-nos, então, à interdisciplinaridade do conhecimento que remete a este “imaginário”, para dar embasamento teórico à percepção, à identidade e à escolha deste espaço que, possivelmente, se formou por um indutor imaginário que é o Japão. Entendendo que a cultura de cada povo se diferencia criando espaços individuais e coletivos, o oriental e o ocidental têm maneiras diferentes de identificar e conceber os espaços. Seguem um indutor imaginário que é criado pelo plano real. Usamos o inconsciente coletivo para construir nossa realidade, e diante do comportamento de cada grupo muda a percepção do espaço. Temos necessidade de nos representar, enquanto grupo, através da arquitetura, cultura e outras artes. Diante deste fato, podemos afirmar que a cultura tornou-se um produto arquitetônico. Sendo assim, os elementos de uma cidade se destacam pelas suas funções, que podem ser analisados através das sensações. Organizar estes elementos do espaço urbano não é tarefa fácil. Implica uma leitura que cada indivíduo faz do espaço e seus interesses individuais e coletivos e adequando-os para atender as funções do homem. Rege a carta de Atenas121 que o homem necessita de: habitação, trabalho, recreação e circulação, visando a uma melhor qualidade de vida, para atender a questões físico-social. E, agregando valores aos lugares, o homem utiliza parâmetros para o julgamento da qualidade ligada ao bom e ao bem-estar, cada indivíduo possui em seu âmago uma idéia de paraíso, que transforma o espaço urbano em uma 121 Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=232. Acesso em: 30 jul. 2007. 140 construção humana de um ideal para suas vidas, adaptando-se a cada momento, tornando-os seres refugiados da arquitetura construída e também das leis da natureza. Os elementos urbanos compõem uma paisagem que nos permite acessos na medida em que se organizam, adaptando-se e integrando os indivíduos, tornando-se uma eterna construção, não só do espaço geográfico, mas também do conjunto biopsíquico-sociocultural, que integra a qualidade urbana em uma leitura interna e externa na busca de uma identidade. A memória de um povo seleciona o lugar através de sua cultura, pois o homem tem necessidade de pertencer a um lugar. Por isto, através de sua memória, acaba selecionando os seus espaços que fazem parte de um componente psicológico. As características que empreende cada escolha estão ligadas à demarcação de seu território sendo um fator determinante para a escolha é a segurança do local. Observando alguns aspectos culturais dos povos, podemos afirmar que a diversidade existente serve para diferenciar e localizar, e o homem desafia a natureza para se superar e deixar seus marcos referenciais na cidade. Os turistas agregam valor aos espaços, e o não-lugar criado para ele pode se tornar uma visão utópica de um lugar que existe no subconsciente, pois os mesmos vivem à procura de um ambiente ideal; o turista se satisfaz e consome os não-lugares que são criados. O turismo usa a imagem da arquitetura explorando-a, usando de artifícios reconstroem a memória de lugares, povos, replicando o que já foi marco de um passado que conta uma história. Vemos isto em filmes, fotos, desenho, pinturas, elementos que têm a força de trazer de volta algo que não vivemos. A arquitetura é uma das melhores formas de manter a memória, e isto acontece devido à ação construtiva, como os monumentos. E, pensando na preservação dos monumentos, o Plano Diretor Estratégico que visa ao planejamento e à gestão do desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo defende no capítulo II art. 8º - “Dos princípios e objetivos gerais do Plano Diretor Estratégico – VI – Elevar a qualidade do ambiente urbano, por meio da preservação dos recursos naturais e da proteção do patrimônio Histórico, Artístico, Cultural, Urbanístico, Arqueológico e Paisagístico”. É de grande importância este 141 parágrafo do Plano Diretor, por evidenciar que o cidadão vive e se beneficia da imagem da cidade, sendo esta imagem explorada pelo turismo cultural urbano. A preservação da qualidade destes ambientes gera estímulos para que continuemos a preservar, beneficiando o ambiente urbano. Porém, como todo bairro de grandes centros históricos sofre com problemas de degradação no meio físico, habitacional, social, econômico e outros, há interesse no meio público e por parte da sociedade civil quanto a tornar o centro da cidade122 melhor e mais habitável, com propostas urbanísticas e programas de requalificação. Em 1991 foi tomada uma importante iniciativa por parte da sociedade civil que “tomou corpo na constituição da Associação Viva o Centro.”123 Uma das principais atribuições desta coordenadoria “era o monitoramento do Plano "Reconstruir o Centro". Ela era constituída por um Grupo Executivo e pela Comissão PROCENTRO que teve sua composição alterada e ampliada”. Este programa não tratava somente de recuperação urbana planejado pela Prefeitura de São Paulo, mas uma união por parte da sociedade civil e setores empresariais, para ampliar ações em conjunto com “diferentes secretarias e organismos da administração municipal”, com o intuito de reabilitar124 a região, melhorando as condições ambientais e a qualidade de vida urbana, valorizando-a. Por fazer parte da Subprefeitura Sé, o Bairro da Liberdade foi incluído neste programa que visa: a) Ao resgate do caráter público do espaço coletivo; b) A ampliação do uso residencial; c) A atração e garantia da diversidade de funções; d) A promoção de ações urbanísticas com inclusão social; e) A atuação sistemática de promoção da segurança pública. Uma das ênfases do programa eram as ações de ‘zeladoria’ do espaço público o que envolvia a recuperação de passeios, manutenção do ajardinamento, controle do 122 E nele está inserido o bairro da Liberdade Associação responsável por iniciativas e propostas para o Centro de São Paulo, “(...) notadamente o Programa de Ação Local. Instituído em 1995, esse programa dividiu a área central em 50 micro regiões onde foram estabelecidas ações locais de zeladoria urbana visando principalmente a fiscalização das ações do poder público e a promoção de parcerias com investimentos privados.” 124 “Essa reabilitação tinha como característica de fundo a inclusão social, marca maior daquela administração.” ( Luís Octávio da Silva) 123 142 comércio ambulante, além de ações de limpeza e segurança públicas. Tratavam-se de ações geridas pela Subprefeitura.125 No mapa a seguir, podemos visualizar o território compreendido pelo programa, de que fazem parte oito distritos que foram definidos pelo ponto de vista institucional e agora se tornou parteda Subprefeitura Sé, que são: “(...) República, Sé, Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci. Num sentido mais estrito, ele é entendido como um território mais limitado, compreendido entre o Parque D. Pedro, Largo do Arouche, Praça das Bandeiras e região da Luz. Grosso modo, ele coincide com os distritos Sé e República.” Segundo Cláudia Henriques: A revitalização física de uma área ajuda a melhorar a confiança nesta área, mas a manutenção da confiança requer uma revitalização? Reabilitação econômica, daí se apelar para a designada reabilitação integrada. Sem melhorias econômicas, as melhorias físicas tendem a deter uma fraca probabilidade de manutenção, o que se contabiliza com a concepção de desenvolvimento sustentável. (2003:14) O Bairro da Liberdade tornou-se um elemento de coesão moldado pelas forças sociais. Enquanto o tempo passa, a cultura reforça a sua identidade. Segundo Milton Santos, a paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e política também mudam em ritmos e intensidade variados. (SANTOS, 2006: 30-37) Nos grandes centros urbanos, em especial os bairros temáticos como o da Liberdade, o uso caracteriza-se principalmente pela funcionalidade do comércio, e o contato com o patrimônio cultural acaba acontecendo quase sem perceber. Olhares distraídos percorrem as ruas do bairro, ignorando a história do local que agora atende o público devido à possibilidade de acesso, à infra-estrutura atrativa ao comércio; e os distraídos freqüentadores, ou turistas, à procura de produtos e serviços diferenciados, encontram no bairro tudo o que concerne a objetos de decoração, culinária, produtos importados e de qualidade. 125 SILVA, Luís Octávio da.“Uma história do centro de São Paulo e de sua reabilitação”. In Anais do I Seminário do Programa de Pós-Graduação-Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo: "PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS NO BRASIL" C.P./USJT. Sessão 5. 2006. 143 O cenário apresentado pelo Bairro da Liberdade, além de abrigar restaurantes tradicionais embalados por trilha sonora dos clássicos da música enka,126 oferece também karaokês e choperias que conquistaram um público diferente dos freqüentadores da região. A decoração oriental (com lanternas de papel, enfeites de néon) desses locais oferece ao público freqüentador a sensação de estar em um ambiente do Japão. A região permite um “mix” para as diversas “tribos” culturais e faixas etárias diferentes. Não estamos nos referindo a um espaço que se tornou a imagem estereotipada de uma cultura vinculada ao meio social, mas às relações sociais criadas por fatores culturais e econômicos, que acabou se tornando um seguimento étnico surgido com o desejo de expressão, de circulação, infra-estrutura e equipamentos para sobrevivência da cultura; nesse espaço, as redes de serviços e de bens simbólicos, relacionados a equipamentos culturais, de lazer, de informação e de comunicação são indispensáveis para qualidade de vida dos orientais nesta metrópole. Portanto, não poderíamos observar o Bairro da Liberdade somente por uma perspectiva socioespacial, sem deixar de considerar as contribuições e intervenções dos imigrantes orientais no espaço urbano, pois, para eles, não basta apenas ocupar o espaço, é preciso participar e atuar nele. Os moradores ou visitantes orientais dão características ao bairro com sua dinâmica comercial, meio de comunicação, comportamento etc., e estas diferenças podem ser entendida como o limite cênico do bairro. Podemos entender como limite cênico do Bairro da Liberdade tudo que dá característica oriental ao local, e que ao mesmo tempo o separa de outros locais, sem as tais características, agregando a questão da idealização de um espaço urbano temático e a representação cenográfica do mesmo. Tais limites cênicos advêm da formação cultural de uma determinada etnia, são valores e costumes somados a alguns objetos que se tornam símbolo da cultura de um povo e, intencionalmente, acabam atraindo o público para o local; os elementos apresentados pelo bairro são fortes e marcantes em tons de vermelho, e a percepção é inevitável. Neste sentido, a identidade urbana do bairro oriental é revelada através de sua imagem simbólica. 126 Música tradicional japonesa. 144 Dependendo da origem familiar ou da formação cultural, a visão da realidade das pessoas é diferente; por exemplo, a visão de um americano, de um japonês ou de um javanês. Seus valores e seus costumes modificam a maneira de enxergar as coisas, de interpretá-la e de reagir a elas. Na cultura ocidental prevalece a objetividade, a racionalidade, a descrição objetiva dos fatos. Para os orientais, contudo, prevalece a subjetividade, os valores subjacentes das palavras e das ações. (OKAMOTO: 2002: 66) O homem vivencia e diferencia o espaço cênico em função de sua etnia e da formação cultural; o significado das coisas acaba se revelando e, neste universo simbólico, ele reconhece o limite cênico de determinados locais. Os limites cênicos do Bairro da Liberdade estão aqui apresentados pelas lanternas orientais e a grande quantidade de comércios compreende as ruas: Conselheiro Furtado, do início do Largo 7 Setembro até a rua Tamandaré não há lanternas, mas há comércio e o templo Xintoísta no número 445, após o viaduto Shuhei Uetsuka; Rua da Glória do início no Largo 7 Setembro até o final, no número 769, que fica na Rua São Joaquim, esquina com a Rua Conselheiro Furtado; São Joaquim, do número 612, até a esquina com a Rua Galvão Bueno; a Rua Galvão Bueno, da Praça da Liberdade até a Rua Tamandaré; Rua Fagundes, travessa da Avenida da Liberdade, sentido centro, até o final na Rua Galvão Bueno; Barão de Iguape, no início da Avenida da Liberdade, sentido centro, até a Rua da Glória; Praça da Liberdade; Rua Thomaz Gonzaga, esquina com o Largo da Pólvora, até o final na Rua Galvão Bueno, mas possivelmente pode ser que altere devido ao projeto do arquiteto Márcio Lupion. 145 Rua Conselheiro Furtado do início no Largo 7 de Setembro até a Rua Tamandaré, há comércio de artigos orientais, porém não há lanternas. Templo Xintoísta no nº 445 após o Viaduto Shuhei Uetsuka As ruas da Glória, Galvão Bueno, São Joaquim, Fagundes, Barão de Iguape, Tomaz Gonzaga, Largo da Pólvora, Rua Américo de Campos, Rua dos Estudantes e Praça da Liberdade. Nestes locais assinalados, há limites cênicos bem definidos com comércio de artigos orientais lanternas. FIGURA 30: LIMITES CÊNICOS DO BAIRRO DA LIBERDADE FONTE: GUIA DE RUAS SAMPA ONLINE - REGIÃO ANALISADA DO CENTRO DE SÃO PAULO Disponível em: <http://www.sampaonline.com.br/mostrarmapabairro.php?bairro=liberdade> Acesso em: 7 out. 2007 146 Este projeto visa à melhoria e a qualidade urbana do Bairro da Liberdade, que tomou força com o advento do centenário da imigração japonesa no Brasil. Órgãos públicos e a iniciativa privada começaram a tomar as primeiras iniciativas; o arquiteto Márcio Lupion, professor do Mackenzie (mestre em Arquitetura Simbólica), fez um projeto que foi aprovado pela Comissão de Proteção da Paisagem Urbana (CPPU), que consiste em remodelar completamente o Bairro da Liberdade. A diretora da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) diz que: “A idéia é juntar o antigo com o novo, caracterizando uma cidade oriental do século XVII com tecnologia que os asiáticos desenvolveram.”127 O responsável pelo projeto pretende dar mais originalidade ao bairro, alternando elementos do Japão tradicional - com os telhados curvos bem conhecidos - com a tecnologia que marca o Japão contemporâneo. (Márcio Lupion em entrevista) 128 Não é fazendo apologia aos locais segregados, e muito menos reforçando a formação de ilhas de cultura da paisagem, mas projeto como este é de grande importância, pois, se pequenas iniciativas forem tomadas neste sentido, a revitalização de várias regiões pode ser possível. Pode haver discordância em relação aos resultados obtidos, se este projeto acontece; porém, sabemos que o estado de satisfação ou de insatisfação constitui experiências de caráter pessoal e também de necessidade local. Solução como esta, se colocada em prática, irá elevar a qualidade de vida urbana no local. O projeto será desenvolvido em algumas etapas, mas a principal dela visa: (...) transformar a Liberdade num grande shopping center a céu aberto, em que as pessoas poderão passear, fazer turismo e morar. Atualmente, o bairro abriga quatro comunidades: a dos japoneses, cada vez menor; a dos chineses, em franca expansão, a dos coreanos e a dos nordestinos."129 O intuito é revitalizar o bairro, dando características cênicas mais acentuadas, servindo de modelo para outros 127 Projeto para revitalização da Liberdade é aprovado por Comissão de Proteção da Paisagem Urbana. 25 de outubro de 2007. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=19450 Acesso em: 05 nov. 2007. 128 Entrevista disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=14813424> Acesso em: 22 out. 2007 129 Relata o arquiteto Márcio Lupion em entrevista ao Centro Novo e na All TV na segunda-feira, 04 de junho de 2007: a entrevista está disponível em: <http://www.centronovo.com.br/index.php?secao=projetos&cd_noticia=359&PHPSESSID=5c7f38ef0bf8ef6ce1985 29f5891305b> Acesso em: 22 out. 2007. 147 bairros temáticos. Tem-se a intenção de que a primeira parte do projeto fique pronta nas comemorações do centenário da imigração, ainda em 2008. Abaixo algumas imagens do projeto que caracteriza o Bairro da Liberdade como bairro oriental. O Bairro da Liberdade apresenta as características dos grandes centros de compras e gastronomia que existem em bairros orientais em vários lugares do mundo; um exemplo são as próximas imagens, Chinatown, uma região urbana com população oriental dentro de uma sociedade não-oriental. Estes locais podem ser encontrados em algumas cidades da Europa e na Austrália, também em New York, Los Angeles e Montreal no Canadá. A visibilidade do Bairro da Liberdade prende-se à sua imagem, à forma como o bairro se revela, e a relação que estabelecemos com o lugar está ligada à ótica do Turismo Cultural Urbano. Em alguns casos, as regiões temáticas, havendo caracterização das pessoas e dos objetos observados para torná-los mais reais e autênticos, são classificadas por Debord como uma sociedade do espetáculo. (DEBORD 1983. Apud URRY, 2001: 196) ECO (1986:44) afirma que: (...) Assim, as representações se aproximam mais de nossas expectativas em relação à realidade, dos signos que carregamos e que esperam ser desencadeados: A Disneylândia nos diz que a natureza falsificada corresponde muito mais às nossas exigências e devaneios... A Disneylândia afirma que a tecnologia pode nos proporcionar mais realidade do que a natureza. (ECO, 1986: 44 apud URRY, 2001: 196). Este fator temático acaba superando barreiras geográficas da distância e do lugar em nossa imaginação, que geralmente conhecemos através de imagens, como podemos observar em bairros temáticos (chinatown) de New York City, Los Angeles e em Montreal. O intercâmbio de imagens e signos tornou-se possível pelas viagens pelo mundo globalizado, sendo possível a construção de um pastiche de tema. (URRY, 2001:197) 148 O Bairro da Liberdade possui funções definidas através de formas que expressam uso, circulação, funcionalidade do comércio local e cultura. O ambiente é identificado pelo usuário muitas vezes indiferente aos problemas econômicos ou sociais existentes no local. O bairro é extremamente visível devido às suas características cênicas e por estar próximo ao centro histórico de São Paulo. Assim, as pessoas que atravessam o Largo Sete de Setembro e seguem em direção oposta à Catedral de São Paulo já estão no bairro oriental, devido à sua proximidade com o centro. Ao deparar características marcantes como placas nas fachadas escritas em japonês, lanternas e a grande maioria de pessoas com traços orientais, o observador já percebe os limites criados pela imagem urbana do local, também revelada através dos recortes e fragmentações que compõem o cenário; suas fronteiras são visivelmente claras devido aos seus elementos ornamentais. As avenidas Radial Leste-Oeste e Vinte e Três de Maio têm um papel importante para o bairro, sendo um elo entre o centro e o bairro. A Radial Leste-Oeste atravessa uma parte do Bairro da Liberdade por baixo, permitindo uma visão cênica quando estamos no Elevado Costa e Silva/Alcântara Machado, podendo ser avistado o Viaduto Shuhei Uetsuka, caracterizado com as lanternas e também o templo Xintoísta que fica no final do viaduto do lado esquerdo (imagem 33). Seguindo em frente, temos um acesso à direita (imagem 34), onde entramos em um trecho do Viaduto Dona Paulina e, logo em seguida, viramos à direita na Rua Carlos Gomes (rua onde está localizado o Círculo Esotérico do Pensamento); seguindo em frente, já estamos na Avenida da Liberdade. 149 FIGURA 31: TEMPLO XINTOÍSTA LOCALIZADO NA RUA CONSELHEIRO FURTADO (FACHADA E INTERIOR) FONTE: imagem da autora Vanuzia de Souza Brito (1.999 e 2007) FIGURA 32: SAÍDA DO ELEVADO/ ACIMA O VIADUTO SHUHEI UETSUKA/ À DIREITA É O ACESSO AO BAIRRO DA LIBERDADE FONTE: imagem da autora Vanuzia de Souza Brito (out. 2.007) No caso, estas seriam as entradas para o público que tem como acesso as vias citadas anteriormente; existem outros caminhos, mas este é um dos que mais apresentam a visualização de seus elementos cênicos. Outro acesso é pela Estação Liberdade do metrô, um local importante, estando inserido na porta de entrada do bairro. Segundo LYNCH, o metrô é um mundo subterrâneo à parte, e é interessante especular sobre quais meios poderiam ser usados para ligá-lo à estrutura do todo. (LYNCH, 1997: 63). Por outro lado, as entradas do metrô que estão na superfície constituem ponto estratégico ligando o usuário ao 150 ambiente. É Também considerado um importante ponto nodal,130 pois uma de suas saídas dá acesso à Praça da Liberdade. Os limites do bairro são caracterizados pelas fronteiras de dois tipos de área, funcionam como referências laterais. (...) Esses limites parecem ter função secundária: podem estabelecer as regiões limítrofes de um bairro e reforçar sua identidade, mas aparentemente têm pouco a ver com sua constituição. (LYNCH: 1997:78) Porém, se trabalharmos com a hipótese de que a Liberdade é um bairro comercial, poderíamos usar uma leitura que nos fornece elementos para definir tais limites. O limite de um bairro comercial, por exemplo, pode ser um conceito importante, mas ao mesmo tempo difícil de descobrir in loco, por não ter qualquer continuidade formal identificável. O limite também adquire força se for lateralmente visível a alguma distância, se assinalar um claro gradiente das características de uma área e se ligar claramente duas regiões limítrofes. (LYNCH, 1997: 111) Kevin Lynch afirma que “parecem mais fortes os limites que não só predominam visualmente, mas têm uma forma contínua e não podem ser atravessados” e, continuando nesta abordagem, diz que “os limites, sejam eles de ferrovias de topografia, de rodovias ou de bairros, são características típicas desse ambiente e tendem a fragmentá-lo”. (1997: 69) Por se tratar de um bairro de formação mais antiga, o seu entorno foi adequando-se às necessidades do desenvolvimento. Desta forma podemos ressaltar que: Os bairros são áreas relativamente grandes da cidade, nas quais o observador pode penetrar mentalmente e que possuem algumas características em comum. Podem ser reconhecidos internamente, às vezes usados como referências externas – como, por exemplo, quando uma pessoa passa por eles ou atravessa. (LYNCH, 1997: 74) 130 Segundo Kevin Lynch (1997: 80-113), o ponto nodal “(...) são os focos estratégicos nos quais o observador pode entrar; são, tipicamente conexões de vias ou concentrações de alguma característica”, também podem ser grandes praças, ou até mesmo toda a cidade, e considera o ambiente em nível nacional ou internacional. São pontos significativos dando impressão de junção ou interrupção no bairro. Podemos considerar como um importante ponto nodal a Rua Galvão Bueno, Largo Sete de Setembro, estação de metrô Liberdade, entre outros. Também são considerados como “pontos de referência conceituais de nossas cidades...,” podem ser pontos de atenção e percepção “obtidos através da concentração de algum tipo de atividade local”. 151 O mapeamento que nos forneceu dados para discorrer sobre o Bairro da Liberdade permitiu-nos reconhecer os elementos que norteiam quanto aos caminhos e ao conhecimento da cidade, uma vez que eles geralmente são reconhecidos de maneira fragmentada; mas as características físicas que determinam os bairros são continuidades temáticas que podem consistir numa infinita variedade de componentes: textura, espaço, forma, detalhes, símbolos, tipo de construção, usos, atividades, habitantes, estados de conservação, topografia. (LYNCH, 1997: 75) Todos estes elementos são passíveis de observação e identificação de um bairro como a Liberdade, com suas marcantes características temáticas. Possui suas fronteiras estabelecidas ou definidas por seus elementos cênicos. “Normalmente, la calidad ambiental y los espacios públicos son filtros en contra de los extranjeros usando el espacio como barrera”. (JAMES and BROGAN 1974 apud RAPOPORT, 1978: 240) A leitura da paisagem urbana do Bairro da Liberdade revela que o local possui notável potencial turístico; sua representatividade dentro do espaço urbano permite uma leitura transdisciplinar, apresentando aos turistas, habitantes locais ou visitantes de outras cidades aspectos paisagísticos que levam a vivenciar a representação cultural do povo oriental, demonstrando a quantidade de etnias e suas culturas existentes no país que podem ser estudadas. 152 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como o objetivo pensar o turismo cultural, o patrimônio e o espaço urbano, bem como discutir e abordar novas formas para seu desenvolvimento nas próximas décadas, tendo como base a transdisciplinaridade. A princípio, houve apreensão quanto a dissertar sobre um bairro temático, pois, apresentar seu contexto histórico e de formação cênica não seria suficiente. Então, demonstramos que o fortalecimento da cidade e o prestígio da economia urbana bem como sua expansão e seu desenvolvimento cultural revelam grande atrativo para o turismo. Demonstramos que o Turismo tornou-se um fenômeno produzido envolvendo toda uma gama de recursos naturais, históricos, culturais, sociais e de estrutura básica específica. Vimos que o Turismo proporciona a possibilidade de uma análise do local que se complementa por ter um enlace maior com a realidade, pois o fenômeno turístico não se explica por si só, são necessários dados e fundamentos. Já o Turismo no Brasil estrutura-se em cada município brasileiro de acordo com sua realidade. São Paulo, por possuir a maior concentração populacional, o maior parque industrial, bem como a maior produção econômica, com considerável número de atrações artísticas e culturais, tem uma infra-estrutura receptiva voltada ao turismo de negócio, oferecendo as melhores opções de turismo urbano, e, além disso, também possui o maior registro de imigrantes, estes que fizeram que a cidade se transformasse num amálgama universal de raças e culturas diferentes, tornou-se a cidade de maior importância econômica da América Latina. O turismo cultural urbano proporciona o prazer de observar o seu contexto permitindo o sentimento de pertencer a um determinado espaço, podendo ser identificado na sociedade, com sua diversidade cultural. Apresentamos uma reflexão sobre alguns aspectos do Bairro da Liberdade, bem como seus atrativos históricos culturais. A pesquisa expressa uma tentativa de leitura de um bairro temático e sua representatividade dentro do espaço urbano em uma perspectiva transdisciplinar. Trata-se não só de uma pesquisa, mas também de uma 153 homenagem aos imigrantes japoneses. Demonstramos que as funções de um bairro temático servem para difundir a cultura de determinada etnia e que o mesmo possui um notável potencial turístico. A apropriação por orientais no Bairro da Liberdade permite que observemos que a transformação do lugar serve para um estudo de comportamento que venha responder a questões como: para quem se deve produzir o turismo cultural urbano? Quem é o beneficiário e em que organismo da sociedade está inserido? A atividade turística urbana requer, além do tempo e da dimensão espacial que o envolve, a mudança temporária de espaço. Ao observar algumas imagens, podemos entender que as mesmas mostram aspectos distintos do bairro com grande apelo visual. Nossa intenção foi expor as diferenças culturais e sociais, como se constrói uma paisagem urbana de uma cidade; demonstrar a transformação de um espaço urbano no decorrer dos anos. Porém, a preocupação, no caso, está diretamente ligada à história de uma determinada etnia e ao seu conjunto visual de imagens consumido por distintos setores da sociedade; seus apelos visuais notórios e simbólicos cujo foco central é a percepção, a visualidade e seus efeitos na reprodução para o Turismo Cultural Urbano. Não poderíamos observar o Bairro da Liberdade somente por uma perspectiva socioespacial, sem deixar de considerar as contribuições e intervenções dos imigrantes orientais no espaço urbano, pois, para eles, não basta apenas ocupar o espaço, é preciso participar e atuar nele. O potencial do Bairro da Liberdade neste momento é discutível, devido aos problemas atuais, mas o uso experimental de novos gestores urbanos no que concerne a idéias e design, bem como projetos para um planejamento futuro, já começaram a ser implantados com o advento do centenário da imigração. Ao finalizar, resta dizer que as informações e descobertas obtidas a partir desta pesquisa estão além do que foi construído e desenvolvido, e possivelmente possam dar origem a novos trabalhos. Dessa forma, acreditamos que este estudo demonstrou o sentido de pertencer de certas etnias em determinadas configurações urbanas de uma cidade como São Paulo, que favorece os mais diversos tipos de intercâmbios culturais. 154 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo (1895 – 1915). São Paulo: Carrenho Editorial, 2004. ANDRADE, J. V. Turismo: Fundamentos e dimensões. 28. ed. São Paulo: Ática, 1995. ARNHEIM, R. A dinâmica da forma arquitetônica. Lisboa: Editorial Presença, 1988. 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São Paulo, 2002. 1 DVD, (32 min.), color. CULTURA – Fundação Padre Anchieta. CD-ROM SILVA, Luís Octávio da.“Uma história do centro de São Paulo e de sua reabilitação”. In Anais do I Seminário do Programa de Pós-Graduação-Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo: "PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS NO BRASIL" C.P./USJT. Sessão 5. 2006. 162 ANEXO Leis, expedição de decretos, resoluções e atos, estas apresentadas são apenas uma amostra da necessidade do processo de urbanização do Bairro da Liberdade que se encontra no Ementário da Legislação Municipal n° 8476 e D.M. n° 8453, de 17/10/1969. - Lei n° 1319, de 19/5/1910 - restabelece a lei sobre a ligação da Rua Manoel Dutra à Rua Jaceguai e autoriza o calçamento da Rua Conde de Sarzedas. - Lei n° 1334, de 01/7/1910 - autoriza a regularização do leito da Rua Conde de Sarzedas para seu prolongamento até a Rua Glicério. - Lei n° 766, de 05/08/1904 - autoriza o pagamento de melhorias da Rua Galvão Bueno, entre as ruas São Joaquim e Tamandaré. - Lei n° 876, de 26/10/1904 - determina o asfaltamento da Rua São Joaquim, entre as Ruas Galvão Bueno e Glória. - Lei n° 449, de 15/01/1900 - autoriza o Prefeito a calçar a paralelepípedos o Largo da Pólvora e outras ruas anexas, como a Américo de Campos, Correa e Liberdade. - Lei n° 580, de 07//05/1902 - determina melhoramentos na Rua Conselheiro Furtado, entre as ruas dos Estudantes e Barão de Iguape. - Lei n° 685, de 07/11/1903 declara de utilidade pública o terreno entre a Rua da Glória e a Rua Tamandaré, para ligação da Rua Conselheiro Furtado. - Ato n° 274, de 23/08/1907 - denomina de Rua Siqueira Campos a Rua Monte Alegre, no Distrito da Liberdade. - Lei n° 1058, de 17/12/1907 - autoriza a construção de passeios na Rua da Liberdade, desde o largo de igual nome até a Rua São Joaquim. - Lei n° 1084, de 02/5/1908 - autoriza a Prefeitura a adquirir por compra os prédios de n°s 8 a 36 da Rua da Liberdade e Lei n° 1133, de 08/10/1908, aprova acordo com os proprietários dos prédios 12, 21, 34, 36 da Rua da Liberdade e Lei n° 1145, de 17/10/1908, que aprova acordo com o prédio n° 2 Rua da Liberdade e prédio n° 4 da Rua Rodrigo Silva. 163 - Lei n° 1095, de 01/7/1908 - autoriza o recalçamento da Rua da Glória, entre o Largo 7 de Setembro e a Rua Américo de Campos e a substituição do calçamento de alvenaria faceada por paralelepípedos no trecho entre as ruas Américo de Campos e Glicério;. - Lei n° 1161, de 12/11/1908 - autoriza o prosseguimento das obras de ligação da Rua Bonita com a Rua da Glória. - Lei n° 1207, de 15/4/1909 - autoriza a venda de terrenos municipais à Rua da Liberdade, em hasta pública; - Lei n° 1218, de 28/6/1909- autoriza a venda do prédio n° 20 da Rua da Liberdade; - Lei n° 1228, de 14/8/1909 - autoriza a execução do prolongamento do bueiro da Rua dos Estudantes e o calçamento da Rua dos Apeninos. - Lei n° 1249, de 20/10/1909 - autoriza a desapropriação total dos prédios 46 a 54 da Rua Rodrigo Silva. Nessa rua a Prefeitura celebrou múltiplos acordos com proprietários de prédios, bem como vende sobras de terrenos, sempre sob o beneplácito da Câmara. - Lei n° 1311, de 22/4/1910 - autoriza a Prefeitura a vender o terreno municipal contíguo ao prédio n° 39 do Largo da Liberdade. - Lei n° 1948, de 17/02/1916 - autoriza o assentamento de guias e calçamento a paralelepípedos de pedra, do trecho da Rua Bonita, entre as ruas da Glória e Barão de Iguape. - Lei n° 1973, de 29/4/1916 - autoriza o assentamento de guias e respectivo calçamento a paralelepípedos de pedra, da Rua Conselheiro Furtado, entre as ruas Barão de Iguape e da Glória, bem como da Rua Bonita, entre as ruas Conde de Sarzedas e Estudantes. - Ato n° 1365, de 19/12/1938 - desincorpora da classe dos bens dominiais do Município a área de terreno necessária à modificação de alinhamento do Largo 7 de Setembro, esquina da Praça João Mendes. - Ato n° 1488, de 01/10/1938 - restabelece os alinhamentos da Rua da Liberdade e da Praça João Mendes, modifica em conseqüência do Ato n° 1365, de 19/2/1938; - Ato n° 1546, de 24/02/1939 - aprova o projeto de ampliação das praças João Mendes e Sete de Setembro. 164 Localizando o Bairro:131 Quem chega pela primeira vez a São Paulo deve seguir o seguinte roteiro para chegar até o Bairro da Liberdade: Chegando a São Paulo de ônibus a) Ônibus - o turista chegará provavelmente pelo Terminal Tietê. Se chegar entre as 6 da manhã até meia-noite, o meio mais rápido, econômico e seguro é utilizar o metrô. O Terminal é ligado à Estação Tietê do metrô, de forma que não haverá necessidade de sair do Terminal para pegar o metrô. Do Tietê, deve pegar metrô para Jabaquara e descer na Estação Liberdade. b) Avião - existem dois aeroportos: o de Cumbica, internacional, fica no município de Guarulhos, de onde é recomendável locomover-se com o ônibus executivo que sai do aeroporto para três locais: o Terminal Tietê de ônibus e metrô, Praça da República e o Aeroporto de Congonhas, ou táxi. Do Aeroporto de Congonhas, que fica mais dentro de São Paulo, a locomoção é fácil, existem alguns ônibus, ou utilize táxi. Hospedagem na Liberdade: Hotel Ikeda - Rua dos Estudantes, 134/140 - (011) 278-3844. Fuji Palace Hotel - Largo da Pólvora, 120 - (011) 278-7466. Barão Lu Hotel - R.Barão de Iguape, 80 - (011) 278-4099. Nikkey Palace Hotel - R.Galvão bueno, 425 - (011) 270-8511. Banri Hotel - Rua Galvão Bueno, 209 - (011) 270-8877. Osaka Plaza Hotel - Praça da Liberdade, 49 - (011) 270-1311. Isei Hotel - rua da Glória, 288 - (011) 278-6677. 131 Para turistas de outros lugares que não conhecem o bairro. 165 TERMOS ORIENTAIS132 Daruma = trata-se de um pequeno boneco feito geralmente de papel marchê. Dekasseguis = é o termo usado para os japoneses nascidos no Brasil, filhos e netos de japoneses que migram para o Japão, fazem o caminho inverso dos imigrantes, e esta debandada começou no década de 80. Futon = o acolchoado japonês que originalmente é feito de algodão Guetá = sandália típica feita de madeira Ikebana = arranjo floral, é considerado como a arquitetura das flores, apresenta a harmonia, equilíbrio e balanço, coerente com o ambiente que está exposto. Isseis = japoneses de origem Kimono = vestimenta tradicional japonesa. Também se refere à peça de roupa transpassada na frente e amarrada na cintura por uma faixa larga e muitas vezes, ricamente ornamentada (obi). Kumon = é um método de ensino individual desenvolvido no Japão e programado de acordo com as potencialidades de cada aluno. Mangas = são as histórias em quadrinhos japonesas, que dão origem a populares desenhos animados como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, há mangás de todos os gêneros, inclusive eróticos e históricos. Nikkei = apelido ou forma de chamar os japoneses ou suas comunidades Nisseis = japoneses nascidos no Brasil (filhos dos imigrantes) Origami = arte de dobrar o papel e transformá-lo em diversas figuras (animais, flores, objetos utilitários, e etc), conhecida no Japão há séculos. 132 Elaborados pela autora. 166 Sakê = bebida produzida pela fermentação do arroz. Sansei = netos de japoneses (neto dos imigrantes) Sashimi = são pedaços de peixe cru, obrigatoriamente fresco, servidos com wassabi (raiz forte), daikon (nabo) e shoyu (molho de soja). Shodô = técnica de escrita japonesa com uso do pincel que desenvolve a concentração, disciplina e postura Sushi = prato típico da culinária japonesa, é, simplesmente, arroz cozido em água e temperado com vinagre de arroz misturado com um pouco de açúcar e sal, existem vários tipos de sushi, dependendo da maneira como são preparados, assim como uma infinidade de coberturas, recheios e acompanhamentos. Suzurantô = Luminária típica do Japão Taikô = tambor musical 167 MAPA DO JAPÃO133 133 Neste mapa podemos visualizar as regiões de onde vieram os imigrantes. Mapa do Japão. 2007. Disponível em: <http:// http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/japao/mapa-do-japao.php> Acesso em: 01.mai.2007. 169 Matéria do Jornal Folha de São Paulo de jun. 2007 . Disponível em: <http:wwwskyscrapercity.com/showthread.phd?=14813424> Acesso em: 22.out.2007 170 As imagens publicadas na revista Made in Japan, mostram o projeto de revitalização que transformará o espaço urbano do Bairro da Liberdade, projeto este idealizado por Marcio Lupion. FONTE: HARUMI, 2008: nº 126/ ANO II, p. 44-51 NOTA: Colaborou: Nataly Murayma, fotos de Caio Kenji, Ilustrações Kallipolis Arquitetura. 171 172 173 174 Fim...