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Hospital AC Camargo
Tópico: HOSPITAL AC
CAMARGO
Veículo: Veja Online - SP
Data: 19/06/2014
Página: 00:00:00
Editoria: Saúde
1/1
Jovens que lutam contra o câncer como em 'A Culpa É das Estrelas'
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(Não Assinado)
Conheça a vida de adolescentes paulistanos que enfrentam dramas parecidos aos dos personagens do filme
[
1 de 6 Um tênis de oncinha encheu os olhos de Mayara Lima, de 16 anos, no último Dia dos Namorados. “Quando ele me entregou a caixa,
disse que tinha certeza de que eu voltaria a andar”, conta a estudante sobre o presente que recebeu de Caio Ramos de Lima, 17, o mocinho de
sua história. Ela não sente as pernas e anda de cadeira de rodas desde julho passado, devido a necroses na cabeça dos dois fêmures, uma
sequela da quimioterapia para tratar de um linfoma de Hodgkin, um câncer no sistema linfático, que inclui órgãos e tecidos responsáveis pela
defesa do organismo. Recebeu o diagnóstico em abril e iniciou o tratamento. Como seu corpo estava muito debilitado, contraiu uma bactéria
que evoluiu para uma pneumonia. Isso a deixou doze dias entre a vida e a morte na UTI do hospital A.C. Camargo, na Liberdade. Voltou para
casa em junho, mas, um mês depois, teve de retornar ao A.C. Camargo por causa das necroses nos fêmures. Ficou internada mais de dois
meses. “Quase morri”. (Foto: Mario Rodrigues)
2 de 6 Porthos e Gisele Martinez, pais de Porthinhos, de 14 anos, postaram no Facebook que o filho precisava de uma medula. Houve centenas
de compartilhamentos e de mensagens de apoio. O transplante era parte do tratamento de uma leucemia. “Seis doadores compatíveis
apareceram”, conta Gisele, emocionada. O transplante foi feito em fevereiro e tudo correu bem. Porthinhos gravou vídeos cantando e dançando
hip-hop dentro do quarto enquanto recebia quimioterápicos e virou o xodó dos médicos e enfermeiros do Albert Einstein, onde seu quarto é
decorado com imagens do Santos, o time do coração. O tratamento provocou como efeito colateral uma deficiência no funcionamento dos rins.
Hoje, ele precisa receber transfusão de sangue um dia sim, outro não. A pressão alta fez com que sofresse um AVC, o que pode comprometer
sua coordenação motora. “De fevereiro até agora, mais de 800 pessoas fizeram doação de sangue no Einstein em nome do meu filho”, conta
Gisele. (Foto: Arquivo Pessoal)
3 de 6 O estudante Murilo Magalhães, de 14 anos, recebeu o diagnóstico, em dezembro passado, de um osteossarcoma no braço direito.
Depois de fazer exames para detectar a origem de uma misteriosa dor no local, os testes apontaram um tumor de 24 centímetros na região.
“Quando saiu o resultado, não fiquei impressionado porque já tinha visto outros três casos de câncer na minha família”, conta. O garoto
começou no mesmo mês a quimioterapia, que provocaram a queda de seu cabelo. Em solidariedade, um tio e o padrasto rasparam a cabeça.
Quatro meses depois, passou por uma operação de quatro horas e meia para retirar o osso comprometido. Ele tem fotos em seu iPhone da
cirurgia. Uma prótese foi colocada no local, e o braço operado ficou levemente mais fino que o esquerdo. Depois disso, restaram cinco nódulos
no pulmão em decorrência do processo de metástase. Os quimioterápicos acabaram com quatro deles e o último será retirado nesta semana.
(Foto: Mario Rodrigues)
4 de 6 A paulistana Teresa Pedrosa, de 15 anos, está em tratamento contra a leucemia desde 2012. No início, perdeu os cabelos e decidiu
adotar uma peruca. Depois de três meses, teve um inconveniente. Um colega de sala fez uma brincadeira com a rede de vôlei, que, ao
esbarrar em sua cabeça, jogou o acessório no chão diante dos colegas. Nunca mais ela o usou. A doença parecia ter sido extirpada depois de
um ano de quimioterapia. Em 2014, porém, o mal voltou a aparecer. Era o mês de fevereiro, e ela tinha acabado de retornar de umas férias
com amigas no Caribe. Agora, Teresa faz um tratamento que não tem drogas que ocasionam a queda dos cabelos. “O pior do câncer é perder
a liberdade. Meus pais sempre me acompanham em tudo e querem me proteger”, diz ela, que não sai de casa sem maquiagem. O tratamento
de Teresa deve terminar em setembro deste ano. (Foto: Mario Rodrigues)
5 de 6 Durante uma missão humanitária no interior de Guiné-Bissau, na costa oeste da África, em março de 2013, o médico paulistano Ivan
Vargas conheceu Bissun Nhu, que vivia em uma aldeia localizada a 250 quilômetros da capital do país, a cidade de Bissau. O garoto de 14
anos tinha um linfoma, tipo de câncer que debilita as defesas do organismo contra infecções. Localizado na testa, o tumor atingira um tamanho
tão grande que já havia comprometido seu olho esquerdo. Para seus familiares, aquilo era obra de algum espírito do mal. Por isso, ele recebia
apenas um tratamento feito à base de defumação. Vargas sensibilizou-se com a história e iniciou uma campanha para trazer Sumba para se
tratar em São Paulo. Desde novembro, o jovem mora com a família do médico num flat próximo ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
(Icesp), onde hoje faz quimioterapia. Após uma bem-sucedida cirurgia realizada no Hospital das Clínicas, os especialistas retiraram boa parte
do tumor e as perspectivas de cura de Sumba são altíssimas no momento. (Foto: Fernando Moraes)
6 de 6 Desde junho passado, Giulia Araújo Sena, de 14 anos, se trata no Graacc, na Vila Mariana. Seu problema é um osteossarcoma na perna
esquerda, um tipo de tumor ósseo. Em setembro, Giulia passou por uma cirurgia de oito horas, na qual os médicos retiraram o câncer de 3
centímetros que estava perto do joelho e implantaram uma prótese na região, evitando a amputação do membro. Durante o tratamento, ela
escreveu para o Make-a-Wish, uma ONG que apoia crianças e adolescentes a realizar seus sonhos. Seu desejo era conhecer Justin Bieber,
que se apresentou na cidade em novembro. “Vi o show na área vip, fui ao camarim e ele foi o máximo!” Por ora, o cantor canadense é sua
única paixão. “Já fiquei com um menino antes da doença, mas nada sério. É estranho estar careca e pensar que alguém pode gostar de você”.
Em fevereiro, Giulia parou de receber quimioterapia na veia e desde então toma o medicamento por pílulas. O tratamento deverá levar mais um
ano. (Foto: Fernando Moraes)
Gouveia
Lançado em 2012, o livro A Culpa É das Estrelas, do americano John Green, virou uma sensação de vendas. Foram mais de 7 milhões de
exemplares comercializados nos Estados Unidos e 1,2 milhão no Brasil. O filme homônimo, baseado na história dos adolescentes Hazel Grace
e Augustus Waters, mostra o nascimento de uma paixão em meio a uma batalha travada por ambos contra o câncer. Ela tem leucemia e ele,
osteossarcoma, tumor que o fez amputar parte da perna direita. Depois de estrear por aqui, em 5 de junho, o longa já levou mais de 300 000
paulistanos às oitenta salas em que está sendo exibido. Boa parte da plateia sai do cinema com os olhos inchados, depois de se debulhar em
lágrimas pela comovente saga dos personagens. O roteiro é bem fiel à obra do escritor Green. “Quando a li, reconheci situações que encontro
com frequência no consultório, principalmente em relação ao que os jovens sentem nesse momento tão difícil”, diz o oncologista Paulo Hoff,
diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). “O adolescente tende a se considerar imune a esse tipo de situação, quase
como se fosse imortal. O câncer vem, então, como um chute no peito nessa certeza, em uma fase em que a personalidade está se formando
Quando a doença incide em pessoas dessa faixa etária, existem mais chances de cura. “Se na adolescência a leucemia é debelada em 70%
dos casos, na fase adulta essa média pode cair para 40%”, compara o oncopediatra Vicente Odone, médico do hospital Albert Einstein e
coordenador do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci). Os tipos de tumor mais comuns na puberdade são a leucemia, os linfomas e
os que acometem o sistema nervoso central (veja o quadro abaixo). Após os 40 anos, os mais frequentes são na mama, para as mulheres, e
na próstata, para os homens (seguidos pelos de intestino e pulmões, para ambos). Apesar da maior disposição do organismo jovem em
combater o processo de multiplicação descontrolado das células, o efeito da doença é muitas vezes mais devastador nesse grupo de
pacientes, principalmente do ponto de vista psicológico. Enquanto as crianças doentes não têm a dimensão do perigo que enfrentam e os
adultos possuem a vivência e a maturidade valiosas nessas horas, a maioria dos jovens sente um baque enorme. Entre outros problemas,
passam a ter uma série de limitações no período em que a grande aventura é justamente testar (e quebrar) os limites. “É como se o
adolescente tivesse de voltar à fase anterior, a infância, pois vai precisar dos pais para ir ao hospital, para sair de casa, para se medicar e, em
alguns casos, para tomar banho”, diz Marita Iglesias Aquino, psicóloga especializada em oncologia.
Durante o tratamento, a imunidade cai demais. Por isso, as relações amorosas ficam restritas. Transar, por exemplo, é proibido em boa parte
dos casos, devido ao risco de contrair doenças como herpes. Isso sem falar nos efeitos colaterais que minam a autoestima. “A preocupação
com a mudança no corpo é um dos fatores de resistência ao tratamento: a queda do cabelo, a secura da pele e da boca, as erupções
cutâneas...”, lembra Paulo Taufi Maluf, professor do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Muitos passam meses
internados e fazem forte amizade com outros pacientes. Com isso, às vezes, têm de enfrentar precocemente a morte de pessoas próximas.
“Quando isso acontece, preparamos o ambiente, avisamos que o amigo não está bem e o tratamento não está evoluindo”, explica Carolina
Marçal da Cunha, psiquiatra do hospital A.C. Camargo. “É importante chorar, encarar a dor e lidar com ela.”
Os hospitais da capital criaram alternativas para colaborar no tratamento desses pacientes. No Albert Einstein, por exemplo, as psicólogas
fazem as sessões muitas vezes jogando videogames como PlayStation. Em 2011, o Icesp começou a campanha “Educar é prevenir” em
parceria com as secretarias da Saúde e da Educação para conscientizar alunos do ensino médio das escolas públicas. Os próprios médicos
visitam os colégios para fazer palestras sobre o tema. “O melhor jeito de tratar o câncer é pela prevenção”, explica Paulo Hoff. Nas próximas
páginas, conheça os dramas, encanações e vitórias de jovens da cidade que enfrentam a doença. Um traço em comum nessas histórias é
como eles encaram a situação difícil sem perder a coragem nem a confiança típicas da idade.
Os adolescentes Mayara Lima e Caio Ramos de Lima: “Ainda sinto vergonha [de andar de cadeira de rodas]. Os médicos me falam que é algo
temporário e até o fim deste ano estarei em pé novamente", diz Mayara
(Foto:
Mario Rodrigues
)
Amor à prova de doença
Um tênis de oncinha encheu os olhos de Mayara Lima, de 16 anos, no último Dia dos Namorados. “Quando ele me entregou a caixa, disse que
tinha certeza de que eu voltaria a andar logo”, conta a estudante sobre o presente que recebeu de Caio Ramos de Lima, 17, o mocinho de sua
história. Ela não sente as pernas e anda de cadeira de rodas desde julho passado, devido a necroses na cabeça dos dois fêmures, uma
sequela da quimioterapia para tratar de um linfoma de Hodgkin, um câncer no sistema linfático, que inclui órgãos e tecidos responsáveis pela
defesa do organismo. Quando detectada no início, a doença tem 90% de chance de ser debelada. Mayara percebeu que havia algo errado
quando começaram a surgir caroços na região do pescoço, em fevereiro do ano passado. Recebeu o diagnóstico em abril e iniciou o
tratamento. Como seu corpo estava muito debilitado, contraiu uma bactéria que evoluiu para uma pneumonia. Isso a deixou doze dias entre a
vida e a morte na UTI do hospital A.C. Camargo, na Liberdade. Voltou para casa em junho, mas, um mês depois, teve de retornar ao A.C.
Camargo por causa das necroses nos fêmures. Ficou internada mais de dois meses. “Quase morri, vi amigos que fiz no hospital morrer, perdi
meu cabelo, perdi festas, passei meu aniversário na cama, não podia beijar na boca, não pude frequentar a escola, senti dores horríveis, mas
não houve notícia pior do que a de que teria de andar numa cadeira de rodas. Ainda sinto vergonha. Os médicos me falam que é algo
temporário e até o fim deste ano estarei em pé novamente”, conta. Em outubro, ela voltou para casa. Sentindo-se insegura e fraca, decidiu
terminar o namoro. “Eu estava careca usava fraldão porque não podia ir ao banheiro e não queria que ninguém me visse daquele jeito”, lembra.
Caio ficou arrasado. “Estamos há três anos juntos. Somos vizinhos e é o nosso primeiro namoro. Sempre gostei da Mayara pelo que ela é, não
estou nem aí para o cabelo dela”, afirma o rapaz, que raspou a cabeça quando soube do diagnóstico da namorada. Os dois reataram em maio
deste ano. “Eu já estava me sentindo melhor e bateu saudade dele”, diz Mayara. Três meses antes da volta do relacionamento, ela soube que a
doença havia desaparecido de seu organismo. “Agora, só preciso fazer acompanhamento a cada três meses, além da fisioterapia.” Mayara e
Caio até já falam em casamento. “Mas só depois que eu terminar meus estudos. Penso em cursar medicina. Vi como é linda essa profissão”,
diz ela.
Porthinhos, de 14 anos, recebeu ajuda através das redes sociais: "De fevereiro até agora, mais de 800 pessoas fizeram doação de sangue no
Einstein em nome do meu filho", conta Gisele, a mãe do garoto
(Foto:
Arquivo Pessoal
)
“Um dia vou sair daqui e correr para o abraço”
As redes sociais e a força de vontade da família podem ser aliados importantes na batalha contra o câncer. Porthos e Gisele Martinez, pais de
Porthinhos, de 14 anos, postaram no Facebook que o filho precisava de uma medula. Houve centenas de compartilhamentos e de mensagens
de apoio. O transplante era parte do tratamento de uma leucemia. “Seis doadores compatíveis apareceram”, conta Gisele, emocionada. O
transplante foi feito em fevereiro e tudo correu bem. Porthinhos gravou vídeos cantando e dançando hip-hop dentro do quarto enquanto recebia
quimioterápicos e virou o xodó dos médicos e enfermeiros do Albert Einstein, onde seu quarto é decorado com imagens do Santos, o time do
coração, e a faixa vermelha recebida nas aulas de taekwondo. O tratamento provocou como efeito colateral uma deficiência no funcionamento
dos rins. Hoje, ele precisa receber transfusão de sangue um dia sim, outro não. A pressão alta fez com que sofresse um AVC, o que pode
comprometer sua coordenação motora. “De fevereiro até agora, mais de 800 pessoas fizeram doação de sangue no Einstein em nome do meu
filho”, conta Gisele. Ela e o marido são pais de outro menino, de 11 anos. Sendo assim, a dupla se reveza para ficar com Porthinhos (eles
moram em Santos). No Dia das Mães, Gisele fez um pedido: dormir no hospital ao lado do marido e dos dois filhos. “Olho para as pessoas na
rua e tenho vontade de abraçar a todas, pois podem ser doadoras do sangue que mantém meu filho vivo.” Há duas semanas, o jogador baiano
Adailton Filho, que atuou no Santos e no time suíço Sion, fez uma visita a Porthinhos. Ele foi anunciar que vai criar uma entidade, batizada com
o nome do menino, para ajudar pessoas com câncer. Poucos meses atrás, Porthinhos postou um vídeo no Facebook em que dizia: “Eu sei que
um dia vou sair daqui. Aí, quero correr para o abraço”.
O adolescente Murilo Rodrigues, de 14 anos, foi forte durante todo o tratamento: "De dezembro até aqui, não vi meu menino derramar uma
lágrima", conta a mãe, Patricia Ghiselli.
(Foto:
Mario Rodrigues
)
Tratamento sem lágrimas
“Fazer terapia vai ajudar a crescer meu cabelo ou acabar com meu tumor? Então...” Foi assim que o estudante Murilo Magalhães, de 14 anos,
declinou a sugestão de seu médico para ter um acompanhamento psicológico durante o período em que ia enfrentar um osteossarcoma no
braço direito. Murilo recebeu o diagnóstico em dezembro passado, depois de fazer uma série de exames para detectar a origem de uma
misteriosa dor no local. Os testes apontaram um tumor de 24 centímetros naquela região. “Quando saiu o resultado, não fiquei impressionado
porque já tinha visto outros três casos de câncer na minha família”, conta. O garoto começou no mesmo mês as sessões de quimioterapia,
que provocaram a queda de seu cabelo. Em solidariedade, um tio e o padrasto rasparam a cabeça. Quatro meses depois, passou por uma
operação de quatro horas e meia para retirar o osso comprometido. Ele tem fotos em seu iPhone da cirurgia. Uma prótese foi colocada no
local, e o braço operado ficou levemente mais fino que o esquerdo. “Menos de doze horas depois da cirurgia, comecei a mexer meus dedos”,
comemora. Depois disso, restaram cinco nódulos no pulmão em decorrência do processo de metástase. Os quimioterápicos acabaram com
quatro deles e o último será retirado nesta semana. Murilo está confiante e já projeta o que fazer no futuro. “Quero esconder a cicatriz do meu
braço com uma tatuagem”, conta. Com 1,72 metro de altura, ele deve voltar a crescer uma vez encerrados os tratamentos. O garoto sabe de
cor o nome das enfermeiras e médicas mais bonitas do hospital Albert Einstein, onde vem sendo atendido. Sua mãe, a pedagoga Patricia
Ghiselli, abandonou o trabalho para cuidar do filho. “De dezembro até aqui, não vi meu menino derramar uma lágrima”, conta ela, orgulhosa,
que faz ressalvas ao livro de John Green. “A obra trata tudo apenas do ponto de vista do adolescente. Já acordei de madrugada com o meu filho
vomitando por causa das reações quimioterápicas. A realidade é muito mais dura que a ficção.”
A paulistana Teresa de Freitas Pedrosa, de 15 anos, não abre mão da maquiagem durante o tratamento. "Gosto do volume nos cílios"
(Foto:
Mario Rodrigues
)
Maquiagem e rock para suavizar os problemas
A paulistana Teresa de Freitas Pedrosa, de 15 anos, está em tratamento contra a leucemia desde 2012. No início, perdeu todos os cabelos e
decidiu adotar uma peruca. Depois de três meses, teve um inconveniente. Um colega de sala fez uma brincadeira com a rede de vôlei, que, ao
esbarrar em sua cabeça, jogou o acessório no chão diante de todos os colegas. Nunca mais ela o usou. A doença parecia ter sido extirpada
depois de um ano de quimioterapia, quando exames mostraram que não havia mais resquícios de células cancerígenas em seu corpo. Em
2014, porém, o mal voltou a aparecer. Era o mês de fevereiro, e ela tinha acabado de retornar de umas férias com amigas no Caribe. Agora,
Teresa faz um tratamento que não tem drogas que ocasionam a queda dos cabelos. “O pior do câncer é perder a liberdade para pegar o metrô
sozinha, por exemplo. Meus pais sempre me acompanham em tudo e querem me proteger.” Tímida e dona de uma voz suave, ela encontra na
maquiagem e no estilo musical um jeito de mostrar sua identidade numa rotina vivida com restrições — até agora, não pôde aproveitar os
bailes de debutantes das amigas. “Gosto de rock e de bandas de várias épocas, como Men at Work.” No ano passado, pediu de presente de
aniversário um ingresso para o show do Aerosmith, que curtiu ao lado do pai. Da sua casa, na Zona Sul, não sai sem máscara da Maybelline
(“Dá volume aos cílios”) e pó compacto da M.A.C (“O resultado fica natural, sem parecer carregado”). O tratamento de Teresa deve terminar
em setembro deste ano.
Bissun Nhu, de 14 anos, foi trazido pelo médico Ivan Vargas de Guiné-Bissau para se tratar em São Paulo
(Foto:
Fernando Moraes
)
Da África para São Paulo
Durante uma missão humanitária no interior de Guiné-Bissau, na costa oeste da África, em março de 2013, o médico paulistano Ivan Vargas
conheceu Bissun Nhu, que vivia em uma aldeia localizada a 250 quilômetros da capital do país, a cidade de Bissau. O garoto de 14 anos tinha
um linfoma, tipo de câncer que debilita as defesas do organismo contra infecções. Localizado na testa, o tumor atingira um tamanho tão grande
que já havia comprometido seu olho esquerdo. Para seus familiares, aquilo era obra de algum espírito do mal. Por isso, ele recebia apenas um
tratamento feito à base de defumação. Vargas sensibilizou-se com a história e decidiu ajudá-lo. Iniciou uma campanha para trazer Sumba para
se tratar em São Paulo, em um processo que durou quase seis meses. Desde novembro, o jovem mora com a família do médico num flat
próximo ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), onde hoje faz quimioterapia. O menino, que já fala um pouco de português,
apaixonou-se pelo futebol. Está colecionando as figurinhas da Copa e torcendo para Neymar, seu atacante favorito. Adora pizza de calabresa e
Coca-Cola, bebida que nunca tinha experimentado. Outra coisa que disparou seu coração foi uma loirinha, sobrinha de Vargas, que ele
conheceu durante o Natal com sua família adotiva. Após uma bem-sucedida cirurgia realizada em janeiro no Hospital das Clínicas, os
especialistas retiraram boa parte do tumor e as perspectivas de cura de Sumba são altíssimas no momento. Tanto que o adolescente já faz
planos para quando voltar para sua terra natal: sonha em se casar e ser jogador de futebol.
Por conta da doença, a paulistana Giulia Araújo Sena, de 14 anos, realizou o sonho de conhecer o ídolo, Justin Bieber: "Ele foi o máximo!
Supersimpático, tirou várias fotos comigo", lembra.
(Foto:
Fernando Moraes
)
Encontro privado com Justin Bieber
O exemplar de A Culpa É das Estrelas, livro de cabeceira de Giulia Araújo Sena, de 14 anos, está todo grifado nos trechos que mais a
comoveram. “Um de meus preferidos é quando a personagem principal, a Hazel, fala sobre os privilégios do câncer”, diz a garota, com um
sorriso travesso, embarcando no humor negro do escritor. Desde junho passado, ela se trata no Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança
com Câncer (Graacc), na Vila Mariana. Seu problema é um osteossarcoma na perna esquerda, um tipo de tumor ósseo. Em setembro, Giulia
passou por uma cirurgia de oito horas, na qual os médicos retiraram o câncer de 3 centímetros que estava perto do joelho e implantaram uma
prótese na região, evitando a amputação do membro. Durante o tratamento, ela escreveu para o Make-a-Wish, uma ONG que apoia crianças e
adolescentes a realizar seus sonhos. O desejo de Giulia era conhecer Justin Bieber, que se apresentou na cidade em novembro. “Vi o show na
área vip e também fui ao camarim! Ele foi o máximo! Supersimpático, tirou várias fotos comigo, me deu quatro autógrafos e ainda postou
minha foto com ele no Instagram, dizendo que foi um dos melhores momentos da viagem ao Brasil!”, lembra a garota. Por ora, o cantor
canadense é sua única paixão. “Já fiquei com um menino antes da doença, mas nada sério. É estranho estar careca e pensar que alguém
pode gostar de você. Quando voltei à escola, no início deste ano, fiquei preocupada se alguém ia falar algo sobre meu visual, mas todos foram
muito legais”, diz. Em fevereiro, Giulia parou de receber quimioterapia na veia e desde então toma o medicamento por pílulas. O tratamento
deverá levar mais um ano. “Mas meu cabelo já voltou a crescer!”, comemora.
(Foto:

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