1 Modelos interpretativos sobre o Porfiriato, 1900
Transcripción
1 Modelos interpretativos sobre o Porfiriato, 1900
1 Anais Eletrônicos do X Encontro Internacional da ANPHLAC São Paulo – 2012 ISBN 978-85-66056-00-6 Modelos interpretativos sobre o Porfiriato, 1900-19121 Fernanda Bastos Barbosa2 Introdução José de la Cruz Porfirio Díaz Mory (1830-1915) tornou-se presidente constitucional da República dos Estados Unidos Mexicanos após ganhar a eleição de 1876. Manteve-se no governo, por meio de reeleições, até o ano de 1911, época em que renunciou devido à eclosão do processo revolucionário de 1910.3 Após a abdicação exilou-se na França, onde residiu até falecer, em 1915. O período correspondente aos seus anos de governo é conhecido como Porfiriato. Segundo Paul Garner, poucos governantes latino-americanos foram tão mitificados como o presidente Porfirio Díaz. Um estudo acerca de sua representação, desde a própria produção histórica oitocentista até a geração profissional atuante, nos mostra como existem matizes e matrizes avaliativas sobre o Porfiriato, embora poucos estudos que aprofundem tal tema. Como argumentou, “todos los mitos, creados durante y después de la vida de Don Porfirio, tuvieron un origen y un claro fin político, pero cada uno se fortaleció con base en una corriente historiográfica poderosa”4. O objetivo da comunicação é discutir a representação de Don Porfirio e de seu regime presidencial a partir da última década de seu governo (1900) até a eclosão do movimento revolucionário (1910-1912). Para tanto, as fontes utilizadas são três obras impressas: México: su evolución social, organizada por Justo Sierra Méndez entre 1900 e 1902; La sucesión presidencial en 1910: El Partido Nacional Democrático, escrita em 1908 por Francisco Ignácio Madero e De Porfirio Díaz à Francisco Madero: la sucesión dictatorial de 1911, escrita em 1912, ainda sob as “metrallas calientes” – para lembrar a expressão de Aurora Gómez Galvarriato e Mauricio Tenorio Trillo –, por Luis Lara Pardo. 2 Após a análise destas obras ficam claras as transformações de um discurso, uma mudança de matriz avaliativa acerca do referido período histórico. Ou seja, a representação de Porfirio Díaz transformou-se do período de sua estabilidade na presidência da República até o início do período revolucionário mexicano, 1910-1912. De grande herói da nação, indivíduo que conseguiu pacificar o México frente a tantas guerras civis e intervenções estrangeiras, Don Porfirio passou a ser visto como um ditador tirânico que prostituiu o povo de seu país e atendeu aos interesses estrangeiros, principalmente norte-americanos.5 Portanto, o eixo que norteará a proposta da comunicação é justamente, a partir das obras mencionadas acima, perceber esta mudança de discurso de um governante que pacificou o país (como veremos com Justo Sierra e, de certa forma, com Francisco Madero), para um que passou a ser representado como um ditador, que oprimiu a população, além de também suprimir a atuação política dos cidadãos no cenário político. Justo Sierra e a paz sob o governo de Porfirio Díaz Justo Sierra Méndez (1848-1912) foi um importante intelectual do Porfiriato. Considerado um “Científico”6, participou da chamada União Liberal Nacional, criada em 1892, bem como foi Secretario da Suprema Corte de Justiça, em 1894, e ministro de Instrução Pública e Belas Artes, entre 1901 e 1911. Segundo Javier Garciadiego: En general, la relación de los intelectuales mexicanos de fines del siglo XIX y principios del siglo XX con Porfirio Díaz no fue áspera. Articulado de una u otra manera bajo la égida de Justo Sierra, secretario de Instrucción Pública, los intelectuales se beneficiaron del crecimiento del aparato educativo, del desarrollo del periodismo moderno y de la estabilidad de un gobierno con creciente solicitud de profesionales, imprescindibles a la modernización de la economía nacional.7 Entre 1900 e 1902 Sierra organizou México: su evolución social. Esta obra consistiu em um estudo sobre a população mexicana ao longo da história do país. O próprio político contribuiu com dois ensaios na mesma: “Historia política” e “La era actual”. Nesta comunicação analisaremos, para alcançar nosso objetivo, este segundo ensaio, que buscou compreender justamente o governo de Porfirio Díaz. 3 O autor escreveu sobre o México durante o Porfiriato legitimando o governo do presidente, mas não deixando de fazer, em termos sutis, uma crítica à permanência de Don Porfirio no poder. Segundo Claudio Lomnitz, esta obra era “un catálogo del progresismo porfiriano, fenómeno que abarcaba de la modernización del transporte a la reforma educativa, sanitaria, policial y carcelaria.”8 O escritor iniciou seu ensaio no livro falando sobre o estado em que ficou o México após o período de guerras civis por que passou o país até o ano de 1876. Escreveu: “el país estaba desquiciado; la guerra civil había, entre grandes charcos de sangre, amontonado escombros y miserias por todas partes; todo había venido por tierra [...].”9. Segundo Fernandes e Barbosa, Justo Sierra, pelo que percebemos, preocupava-se com a situação de guerra civil por que passava o México. Não acreditava que o quadro do passado antes de Díaz era apenas caótico, como defendia Reyes10, mas que havia destruído o México fisicamente. O texto de Sierra reduz o país pré-Diaz a escombros e miséria, a um local onde nada mais parava de pé. Como em um romance, o prólogo prenunciava o que estava por vir: a reconstrução ocorrida durante o Porfiriato.11 Diante deste cenário, Sierra argumentou que a vontade do povo mexicano, frente a esta situação caótica, era de paz. Segundo ele, “pocas veces se habrá visto en la historia de un pueblo una aspiración más premiosa, más unánime, más resuelta”12. E foi percebendo este desejo “unânime” da população que Porfirio Díaz fundou sua autoridade, Sobre ese sentimiento bien percibido, bien analizado por el jefe de la revolución triunfante [desejo de paz], fundó este su autoridad; ese sentimiento coincidía con un propósito tan hondo y tan firme como la aspiración nacional: hacer imposible otra revuelta general. Con la consecución de este propósito, que consideraba, ya lo dijimos antes, como un servicio y un deber supremo a un tiempo, pensaba rescatar ante la historia la terrible responsabilidad contraída en dos tremendas luchas fratricidas [“revolta de La Noria” e “revolução de Tuxtepec”]: la sangre de sus hermanos le sería perdonada si en ella e de ella hacía brotar el árbol de la paz definitiva.13 Portanto, no capítulo escrito por Justo Sierra, Don Porfirio emergia como um presidente que, frente a um passado caótico pós-independência, cindido por intervenções estrangeiras e guerras civis entre os conservadores e liberais, conseguiu pacificar e gerar estabilidade ao país. O povo almejava o presidente no poder, seu governo era legitimado pela nação.14 Embora o escritor não achasse que havia uma “evolução política” no México, uma 4 vez que durante o Porfiriato não existiam partidos políticos atuantes no cenário público, houve progresso social e material, “[...] Sierra via o decurso histórico como um tratado de política: o povo abdicara de uma série de direitos, delegando seus poderes a um homem forte, capaz de reordenar o mundo passado”:15 Pero si comparamos la situación de México precisamente en el instante en que se abrió el paréntesis de su evolución política y el momento actual, habrá que convenir, y en estos nos anticipamos con firme seguridad al fallo de nuestros pósteros, en que la transformación ha sido sorprendente. Sólo para los que hemos sido testigos del cambio, tiene todo su valor: las páginas del gran libro que hoy cerramos lo demuestran copiosamente: era un ensueño, –al que los más optimistas asignaban un siglo para pasar a la realidad–, una paz de diez a veinte años; la nuestra lleva largo un cuarto de siglo; era un ensueño cubrir al país con un sistema ferroviario que uniera los puertos y el centro con el interior y lo ligara con el mundo, que sirviera de surco infinito de fierro en donde arrojado como semiente el capital extraño, produjese meses opimas de riqueza propia; era un ensueño la aparición de una industria nacional en condiciones de crecimiento rápido, y todo se ha realizado, y todo se mueve, y todo está en marcha y México: Su Evolución Social se ha escrito para demostrar así, y queda demostrado.16 Sendo assim, Don Porfirio havia reconstruído um país que estava sobre escombros. Embora o receio de que os poderes dados pela população a Díaz pudessem ser perigosos no futuro, os feitos do presidente legitimavam suas atitudes. Para Sierra, o México emergia no palco das nações civilizadas. Porfirio Díaz entre pacificador e ditador: La sucesión presidencial en 1910, de Francisco Ignácio Madero Como explicado na introdução, o segundo autor a ser analisado nesta comunicação, Francisco Ignácio Madero, era um indivíduo proveniente de uma importante família do estado de Coahuila que, por muito tempo, participou do governo local, os Madero. Sua principal obra, La sucesión presidencial en 1910: El Partido Nacional Democrático, escrita em 1908 e publicada em 1909, é considerada pela historiografia mexicana como um trabalho de crítica ao governo porfirista e que contribuiu para a criação de um modelo interpretativo sobre este período histórico, uma vez que se referiu ao governo de Don Porfirio como uma ditadura. Tal 5 obra foi lida e discutida amplamente no México. O próprio Luis Lara Pardo, último escritor a ser discutido nesta comunicação, discorreu sobre a obra em várias passagens de seu livro. Diferentemente da representação do presidente no ensaio de Sierra, “Díaz no livro do coahuilense passou a ser um indivíduo ambicioso, que tomava suas atitudes devido ao seu grande objetivo de alcançar a presidência, e não mais aquele patriota que se movia em prol da nação, como representou Bernardo Reyes e Justo Sierra”17. Se, retoricamente o presidente acatava a constituição da República, “no fundo” o México estava mergulhado em uma ditadura. A obra de Madero evidencia uma mudança de matriz interpretativa sobre o Porfiriato; este autor passou a criticar fortemente o governo de Díaz, embora muitas vezes fazendo uma crítica velada. Para o autor, não era o povo (como foi para Don Justo) que respaldava o governo, mas sim as armas que sustentavam o porfirismo, além da “ideia fixa” do presidente em continuar ocupando a primeira magistratura do país. No entanto, o final do livro de Madero pode abrir margem para a discussão que foi proposta no início da comunicação, ou seja, a partir da imagem de um passado mexicano pósindependência turbulento, caótico, marcado por guerras intestinas e intervenções estrangeiras, pensar como foi representado o Porfiriato por estes escritores mexicanos. Madero, em determinado momento de seu livro, admitiu que, feita a análise do governo de um ponto de vista racional, portanto, sendo necessário tecer críticas ao regime porfirista de poder despótico, mencionou que utilizaria em um segundo momento também o critério sentimental. Sendo assim, percebemos que, de vilão, Díaz poderia ser redimido e se tornar um dos maiores indivíduos lembrados pela humanidade.18 O que escreveu o coahuilense sobre a paz conquistada no México, La obra del General Díaz ha consistido en borrar los odios profundos que antes dividían á los mexicanos y en asegurar la paz por más de 30 años, aunque todavía mecánica al principio, ha llegado á echar profundas raíces en el suelo nacional, al grado de que su florecimiento en nuestro país parece asegurado. El General Díaz, con su mano de hierro ha acabado con nuestro espíritu turbulento é inquieto y ahora que tenemos la calma necesaria y comprendemos cuan deseable es el reino de la ley, ahora si estamos aptos para concurrir pacíficamente á las urnas electorales para depositar nuestro 19 voto. O que queremos demonstrar, portanto, a partir da citação acima, é que o coahuilense intitulou o governo de Porfirio Díaz de ditadura, em que o presidente exercia um poder 6 despótico no país. Porém, é importante ressaltar que Francisco Madero não perdeu de vista, no juízo final que fez do governo em seu livro, a estabilidade que o mesmo estabeleceu no país, e o estado de paz que pairava sobre o México.20 O que criticou o autor foi a transformação deste estado de paz em uma situação na qual já não existiam mais práticas governativas apoiadas na vontade da população (receio que, como vimos, de certa forma também tinha Justo Sierra). Tendo em vista tal aspecto, argumentou Madero que o governo de Don Porfirio não podia ser considerado um despotismo vulgar.21 Desta forma, a crítica de Madero foi direcionada à falta de liberdade política que passou a existir no México porfirista. Para solucionar esta situação a proposta foi, portanto, a criação de um partido político – Partido Nacional Democrático –, cujos princípios eram o de não-reeleição e liberdade de sufrágio, que pudesse concorrer nas eleições de 1910 e fomentar um ambiente de disputa com os governantes nomeados pelo presidente, voltando o país a ter uma dinâmica política respaldada pela vontade popular. A crítica foi, nas palavras de Madero, ter o México passado de uma situação caótica, cindido por guerras civis, a uma de servidão: o pêndulo da história novamente caía para outro extremo. Diante de um passado conflituoso, o México pendeu a uma situação de servidão. Luis Lara Pardo e o “mito do caos” Por fim, o último autor a ser discutido neste trabalho, para concluir a argumentação sobre esta mudança de discurso e representação sobre o Porfiriato, é De Porfirio Díaz à Francisco Madero: la sucesión dictatorial de 1911, escrita em 1911 e publicada em 1912. Segundo Paul Garner, Luis Lara Pardo foi um dos “ejemplos más virulentos del antiporfirismo en México”22, constituindo-se um clássico desta literatura. Seu livro fez uma crítica aberta ao Porfiriato, contribuindo assim para a consolidação de uma historiografia “antiporfirista”. É interessante perceber que, logo no início de sua obra, o escritor se colocou como o primeiro autor a criticar Don Porfirio e seu governo, época que, para ele, Francisco Madero ainda “cantaba himnos á la grandeza del caudillo”23. A análise de Lara Pardo se aproximou muito em alguns temas da de Francisco Madero em La sucesión presidencial. Para o primeiro, o presidente também era um ditador que revestia seu governo com uma forma republicana. Para o escritor, Don Porfirio apenas dissimulava, tendo como objetivo a perpetuação no poder e não executando suas ideias por 7 patriotismo. Cada vez mais o presidente foi concentrando poderes em suas mãos, a ponto de aquela situação ficar insuportável para o povo mexicano. Segundo Lara Pardo, “la situación del país se hacía cada vez más angustiosa. Ya se perdía la esperanza de que el general Díaz dejara el poder jamás, y todo el mundo se preguntaba hasta cuándo se prolongaría un estado de cosas que tocaba los límites de lo insoportable”24. Se para autores contemporâneos à Díaz, como foi o caso de Bernardo Reyes, Justo Sierra e até mesmo o de Francisco Madero, o presidente havia pacificado o país, edificado um novo México, estável e de progresso material, para Lara Pardo Díaz se transformou no mais abominável tirânico (o presidente não era visto apenas como um ditador, como afirmava Madero, mas como um tirânico). Os escritores que o consideravam o “hacedor de México”, o Jeová que edificou um país do nada, apenas o adulavam. 25 De forma irônica, o engenheiro criticava estas afirmações: México libre no realizo el más leve progreso sino cuando él general Díaz le enseño á vivir en paz. Todo lo demás, todo el período de nuestra historia que se extendía desde el amanecer del 16 de Septiembre hasta el día de Tecoac era negro, lúgubre, era una fermentación como la de los pantanos, una descomposición social que infestaba con su hálito á todo el continente. Mas esa noción, que tanto cuadraba con la estabilidad del sistema porfirista, es una de tantas imposturas que sirvieron de sostén al solio del tirano.26 Para o escritor, as guerras civis que cindiram o México “ha sido una lucha, que no termina todavía, de la gran masa social amenazada de exterminio, contra los privilegios de casta y de clase; lucha estimulada y fomentada pela caudillaje” 27. Ou seja, para Lara Pardo, estes conflitos internos eram guerras contra os privilégios de casta que tiveram origem desde a conquista espanhola. Para o autor, portanto, eram sempre conflitos contra os privilégios: durante a independência, contra os dos espanhóis; durante a Guerra da Reforma, contra os privilégios eclesiásticos e, até mesmo a própria Revolução de 1910 era um conflito contra uma “oligarquia tirânica”28. Sendo assim, para Lara Pardo, o discurso de que Díaz havia pacificado o país frente a um passado caótico era um mito. O próprio governo de Benito Juárez, contra o qual Díaz se sublevou juntamente com outros militares, já havia gerado uma estabilidade política e social ao México: Cuando el general Díaz llegó al poder, México existía ya como nación libre y constituida. En once años de lucha había conquistado su soberanía. Libre ya, rechazó victoriosamente un intento de reconquista. Había sufrido tres guerras extranjeras, en los intervalos de las cuales luchó y padeció mucho 8 para llegar a constituirse. En 1872 cuando Juárez, reelecto por última vez, logro derrotar á los rebeldes de la Noria, pudo considerarse consolidada la república y asegurada la estabilidad social. Los trastornos que vinieron después serían breves y no afectarían la vitalidad del país, que había 29 sobrevivido á más de medio siglo de anarquía. Se para Justo Sierra houve uma evolução social e um progresso material no país sob o governo de Porfirio Díaz, para Lara Pardo, a base do governo do presidente era justamente o extermínio e a prostituição da população mexicana. Não havia uma evolução social, muito menos política. O progresso material era um fenômeno da época e não uma conquista do presidente, além disto, o nivelamento dos pressupostos econômicos era mérito do ministro de Fazenda Jose Yves Limantour30 e não de Don Porfirio. Segundo o autor: Si benevolencia y generosidad habían sido los rasgos aparentes del gobierno de Díaz antes de llegar él á la cumbre de la autocracia, una vez en ella no se guardó ni siquiera de cubrir las apariencias. Bajo los oropeles de la abundancia y prosperidad comenzaron a aparecer la crueldad, la intransigencia, la ambición sin límites y el egoísmo del césar. Entonces pudo verse que las verdaderas características de su régimen eran dos: exterminio y prostitución. El exterminio dejó de cubrirse con el ropaje hipócrita del bien público. Ya no se exterminaba sólo en nombre de la paz, los intereses nacionales y el bien social: ya los lugartenientes enarbolaban á cara 31 descubierta, en sus expediciones asoladoras, el estandarte del porfirismo. Como pudemos perceber, Luis Lara Pardo teceu uma forte crítica ao governo de Porfirio Díaz, visto por ele como uma tirania. Ao deslegitimar o Porfiriato o escritor legitimava a Revolução Mexicana. É importante destacar que, embora compartilhassem de muitas ideias, Lara Pardo foi um grande crítico de Madero. Para ele, este também ambicionava a presidência ou a vice-presidência da República. Suas atitudes não eram justificadas por patriotismo, mas por vontades pessoais. Uma vez no poder, seu governo seria uma continuidade da postura política de Díaz. Ao final do livro o autor fez um apelo à população mexicana para que abrisse os olhos e mudasse seu destino. Como argumentou, La revolución popular que expresa un deseo vehemente de mejoramiento social y económico, tiende a adquirir los caracteres de de una guerra de castas. Es el esfuerzo supremo y decidido de una clase que lucha por arrebatar á las otras sus privilegios. Así ha sucedido en todas las revoluciones populares, y la de México no ha de detenerse sino cuando la casta que lucha quede aniquilada é incapaz de luchar, ó haya realizado una conquista definitiva.32 E mais a frente escreveu: 9 La nación mexicana tiene en estos momentos [1911] en sus propias manos su destino, y es indispensable que todas las voces sinceras se oigan, antes que las tremendas pasiones de partido cierren los ojos á toda luz, los oídos a todo clamor, y México ruede cierta y irremisiblemente al abismo. Si la revolución de 1910 ha de ser eficaz en algo, debe producir 33 irremisiblemente un gobierno mejor que el autocrático del general Díaz. Conclusão Como pudemos perceber, a partir de 1911, a historiografia sobre o Porfiriato ganhou novos contornos, passando a censurar veementemente o governo do general. De grande pai da nação ele passou a ser representado como um ditador tirânico, concentrando “em suas mãos uma grande parcela de poderes políticos e suprimindo a dinâmica partidária existente no cenário público do país”34. Seguindo a argumentação de Aurora Gómez Galvarriato e Muricio Tenorio Trillo, “la más de las veces el apego involuntario a la historiografía de la Revolución ha producido o que John Womack (1971) denominó precursorismo: todo en el Porfiriato era visto o ignorado en tanto antecedente a la Revolución” 35. Durante esta época desenvolveu-se o que os referidos autores denominaram uma “historiografia do autoritarismo porfiriano”36. De los primeros estudios críticos hechos aún con las metrallas calientes – especialmente el de Antonio Manero (1911) y Francisco Bulnes (1920) – al primer gran ensayo de interpretación del Porfiriato, hecho con gran sustento empírico (él de José C. Valadés, 1941), reinan los temas de la mala política, la cuestión agraria, la explotación de campesinos y obreros, el elitismo y el 37 afrancesamiento.” Após a eclosão do movimento revolucionário, segundo Garciadiego, os intelectuais da época porfirista foram substituídos por novas gerações. Os “Ateneus” (1909), a “Geração de 1925”, os “Contemporáneos” (década de 1930), são alguns exemplos. “El número de nuevos intelectuales que surgieron con la Revolución fue enorme, prácticamente cada facción contaba con su pequeño grupo de intelectuales, y cada cabecilla contaba con su intelectual de cabecera”38. Ao ser legitimado, o processo revolucionário, e com a preocupação de se construir um Estado com novas bases, deslegitimava-se o Porfiriato. Mas, como vimos, tais mudanças começaram ainda durante o próprio governo de Díaz. Conhecer tal historiografia é importante para compreendermos os contornos historiográficos atuais. 10 Como explicitado na introdução desta comunicação, o escopo foi, a partir da análise de livros de indivíduos que escreveram sobre o Porfiriato, ainda durante o regime presidencial de Porfirio Díaz e logo após a eclosão da Revolução Mexicana, estudar as mudanças de matriz avaliativa acerca do Porfiriato. Segundo Tenorio Trillo e Gómez Galvarriato, portanto, atentarmos para esses discursos sobre a paz porfirista é importante. A historiografia atual sobre o Porfiriato, muito marcada por uma postura de análise pejorativa ao governo de Díaz devido à Revolução Mexicana, pronuncia pax, para “darle un dejo de ironía romana, de paz impuesta [...]”39. Voltar a analisar esses discursos de pacificação é relevante. Para os autores mencionados na citação acima, En efecto, la paz es el centro de la política y sociedad del Porfiriato y, curiosamente, no ha merecido más comentario que la burla. Es decir, los historiadores no hemos creído en la paz porfiriana, aunque, por lo que se lee en documentos y panfletos, la clase política porfiriana y la gente común, dependiendo del lugar donde se encontrara, creían en ella. Varios movimientos locales apelaban al presidente, al de la paz, en nombre de, o chantajeando a, la paz. Pero la paz no ha sido bien vista historiográficamente, por fingida, por ser un logro menor, una cosa solo real en el México urbano y en la seguridad de caminos, “caminos de hierro” y carreteras. La verdad es que la paz se convirtió en la mercancía que el régimen marcaba con propios y extraños. Y era el centro de varias alianzas intra, entre y extra clases y grupos. No obstante, ni como concepto, ni como práctica, la paz ha merecido análisis. Estudiar la paz porfiriana sería estudiar no los límites de la política que no fue, la democrática, sino los parámetros de la política entonces posible; sería estudiar negociaciones y conflictos, violentos y no, en la lógica de una estabilidad apreciada y defendida por varios sectores y no solo impuesta militarmente –15000 soldados y 2000 rurales, más unos cuantos cientos o, si se quiere, miles de guardias de una índole o de otra no explican tres décadas de poca violencia generalizada y 40 estabilidad institucional–. 1 Trabalho possui financiamento REUNI e auxílio PROPP/UFOP. Mestranda do PPGHIS/UFOP, [email protected]. 3 É importante salientar que entre os anos de 1880 e 1884 o presidente constitucional do México foi o general Manuel González; posteriormente, Díaz foi novamente eleito. 4 GARNER, Paul. Porfirio Díaz: del héroe al dictador, una biografía política. Cidade do México: Planeta, 2003, s/p. 5 Sobre as guerras civis e intervenções estrangeiras no México, cf. BARBOSA, Fernanda Bastos; FERNANDES, Luiz Estevam de Oliveira. Pacificar a história: passado, presente e futuro nas formas de pensar a política mexicana na transição do século XIX ao XX. Revista História da Historiografia, Ouro Preto, n. 7, nov.-dez. 2011, p. 90-112; FERNANDES, Luiz Estevam de Oliveira. Patria mestiza: memória e história na invenção da nação mexicana entre os séculos XVIII e XIX. Tese de Doutorado. Campinas: IFCH-Unicamp, 2009; PRIEGO, Natalia. Symbolism, solitude and modernity: science and scientists in porfirian Mexico. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, abr.-jun. 2008, p. 473-485; e VÁZQUEZ, Josefina Zoraida. El primer liberalismo mexicano, 18081855. INAH-Porrúa, 1995. 2 11 6 Os “Científicos” ficaram conhecidos por serem intelectuais e participarem de importantes cargos políticos no governo de Don Porfirio. Para um estudo mais aprofundado sobre o assunto, cf. LOMNITZ, Claudio. Los intelectuales y el poder político: la representación de los científicos en México del porfiriato a la revolución. In: ALTAMIRANO, Carlos; MYERS, Jorge (Dir.). Historia de los intelectuales en América Latina. v. I, Buenos Aires: Katz Ediciones, 2008. 7 GARCIADIEGO, Javier. Los intelectuales y la Revolucion Mexicana. In: ALTAMIRANO, Carlos (Dir.). Historia de los intelectuales en América Latina, v. II. Buenos Aires: Katz Ediciones, 2008, p. 31. 8 LOMNITZ, Claudio. Los intelectuales y el poder político: la representación de los científicos en México del porfiriato a la revolución. In: ALTAMIRANO; MYERS, op. cit., p. 452. 9 SIERRA, Justo. Evolución política del pueblo mexicano. México: La Casa de España en México, 1940, p. 280. 10 Bernardo Reyes foi um general porfirista, bem como governador de Nueva León e chefe da zona militar do noroeste mexicano. Em 1902 escreveu El general Porfirio Díaz, livro de grande apologia ao presidente e seu governo. 11 BARBOSA; FERNANDES, op. cit., p. 90-112. 12 SIERRA, op. cit., p. 281. 13 Ibid., p. 282. (Grifo nosso). 14 É importante destacar que mesmo Sierra afirmando que o governo de Porfirio Díaz pacificou o país e que seu governo estava legitimado pela população mexicana, o autor não deixou de tecer críticas à perpetuação do presidente no poder. Escreveu: “Y esa nación que en masa aclama al hombre, ha compuesto el poder de este hombre con una serie de delegaciones, de abdicaciones si se quiere, extralegales, pues pertenecen al orden social, sin que él lo solicitase, pero sin que equivocase esta formidable responsabilidad ni un momento; y ¿eso es peligroso? Terriblemente peligroso para lo porvenir, porque imprime hábitos contrarios al gobierno de sí mismos, sin los cuales puede haber grandes hombres, pero no grandes pueblos. Pero México tiene confianza en ese porvenir, como en su estrella el presidente; y cree que, realizada sin temor posible de que se altere y desvanezca la condición suprema de la paz, todo vendrá luego, vendrá á su hora ¡Que no se equivoque!...” (Grifo nosso). Cf. Ibid., p. 289. 15 BARBOSA; FERNANDES, op. cit., p. 112. 16 SIERRA, op. cit., p. 290. (Grifo no original) 17 BARBOSA; FERNANDES, op. cit., p. 104. 18 Explicou Madero ao dizer sobre sua mudança de análise no final do livro: “Quizá le haya extrañado el juicio que al principiar este capítulo emitimos sobre el general Díaz [sobre ter o presidente conquistado um ambiente de paz no país] , encontrándolo poco de acuerdo con algunos de nuestros juicios anteriores. La explicación es sencilla: Ahora lo consideramos desde otro punto de vista: Ya no es la razón inflexible la que guía nuestro criterio, sino el sentimiento que ve más hondo y más claro. Nosotros creemos que toda acción humana es determinada por factores muy diversos y muy complejos.” Cf. MADERO, Francisco I. La sucesión presidencial en 1910: el partido nacional democrático. San Pedro: Coahuila, 1908, p. 290. 19 Ibid., p. 287-288. 20 Como escreveu o historiador Paul Garner, mesmo não apoiando politicamente o presidente, Madero não deixou de tecer elogios ao governo do mesmo: “Las alabanzas a Díaz por parte de sus contemporáneos no llegaron exclusivamente de los que lo apoyaban políticamente. Quizás la más improbable de las alabanzas a Díaz sea la de Francisco Madero, el hacendado de Coahuila que inició la revolución que sacaría al viejo presidente del poder en 1910 y quien se convertiría en el primer mandatario del México revolucionario después del exilio del dictador en 1911.” GARNER, op. cit., p. 22. 21 Sobre isto também discutiu Justo Sierra. Embora Díaz estivesse vários anos frente à presidência do México, tal governo não poderia ser visto como um “despotismo clássico”. Ou seja: “a ditadura que havia [e isso Sierra não negava] não era uma necessidade de seu governante, mas de seus governados. O novo “César” não pedia para estar no poder. A nação espontaneamente o desejava lá, uma vez que seu governo era respaldado pelos cidadãos do país e coerente com a constituição.” BARBOSA; FERNANDES, op. cit., p. 103. 12 22 GARNER, op. cit., p. 18. LARA PARDO, Luis. De Porfirio Díaz à Francisco Madero: la sucesión dictatorial de 1911. Nova York: Polyglot Publishing and Commercial Co., 1912, p. 03. 24 Ibid., p. 125. 25 Ibid., p. 20. 26 Ibid., p. 21-22. 27 Ibid., p.23. 28 Ibid., p.23. 29 Ibid., p. 22. 30 José Yves Limantour também foi considerado da elite científica do Porfiriato e, em 1893, assumiu o cargo de secretário de Fazenda e Crédito Público, permanecendo até a renúncia do presidente Díaz, em 1911. 31 LARA PARDO, op. cit., p. 100. 32 Ibid., p. 255. 33 Ibid., p. 273. 34 BARBOSA; FERNANDES, op. cit., p. 110. 35 GÓMEZ GALVARRIATO, Aurora; TENORIO TRILLO, Mauricio. El Porfiriato: herramientas para la historia. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 2006, p. 13. 36 Ibid., p. 49. 37 Ibid., p. 15. 38 GARCIADIEGO, op. cit., p. 33. 39 GÓMEZ GALVARRIATO; TENORIO TRILLO, op. cit., p. 19. 40 Ibid., p. 47. 23