todos os textos

Transcripción

todos os textos
Midiatização e Processos Sociais - Aspectos Metodológicos
Estrutura do Evento
8h30
9h00
10h30
11h
Primeiro dia: 19/11/2008
Segundo dia: 20/11/2008
Terceiro dia: 21/11/2008
Manhã: 8h30 às 12h30
ABERTURA
Manhã: 8h30 às 12h30
Manhã: 8h30 às 12h30
EL TERRITORIO COMO
MEDIATIZADOR EM
PROCESOS DE DESARROLLO
LOCAL
ENUNCIAÇÃO MIDIÁTICA: DAS
GRAMÁTICAS ÀS ‘ZONAS DE
PREGNÂNCIAS’
CRÓNICA ROJA: APORTES PARA EL
ABORDAJE METODOLÓGICO EN LA
PRENSA ARGENTINA
Eduardo Rebollo
Antônio Fausto Neto
Stella Martini
Relator: Paulo Gasparetto
Relatora: Ana Paula Rosa
Relator: Paulo Gasparetto
INTERVALO: 10H30 ÀS 11H
INTERVALO: 10H30 ÀS 11H
INTERVALO: 10H30 ÀS 11H
MUNDOS DE LA VIDA
MEDIATIZADOS
ESTUDIOS DE INTERFAZ:
HACIA UNA METODOLOGÍA
COMO “SENSIBILIDAD” A “LA
PAUTA QUE CONECTA”
INVESTIGACIÓN EN MEDIOS APUNTES SOBRE EL DISEÑO
METODOLÓGICO
Eduardo Vizer
Sandra Valdettaro
Beatriz Quiñones
Relatora: Carmen Silva
Relator: Ricardo Fiegenbaum
Relatora: Ana Paula Rosa
1
Midiatização e Processos Sociais - Aspectos Metodológicos
Estrutura do Evento
14h
15h30
16h
Primeiro dia: 19/11/2008
Segundo dia: 20/11/2008
Terceiro dia: 21/11/2008
Tarde: 14h às 18h
Tarde: 14h às 18h
Tarde: 14h às 18h
O MÉTODO COMO MEDIADOR E
O LUGAR DA MIDIATIZAÇÃO
A METODOLOGIA COMO
PROBLEMA PARA A PESQUISA DE
MÍDIA E RELIGIÃO
EL ANÁLISIS CRÍTICO DEL
DISCURSO – PERSPECTIVAS
METODOLÓGICAS PARA ABORDAR
EL DISCURSO MULTIMODAL EN
YOU TUBE
Jairo Ferreira
Pedro Gilberto Gomes
Neyla Pardo
Relatora: Eloísa Klein
Relator: Ricardo Fiegenbaum
Relatora: Carmen Silva
INTERVALO: 15H30 ÀS 16H
PESQUISANDO PERGUNTAS
INTERVALO: 15H30 ÀS 16H
TRANSDISCIPLINA Y
MULTIMETODOLOGÍA: CLAVES
PARA EL ABORDAJE DE LA
MEDIATIZACIÓN EN CULTURAS
HIPERMEDIATIZADAS
José Luiz Braga
Lila Luchessi
Relatora: Eloísa Klein
Relatora: Eloísa Klein
INTERVALO: 15H30 ÀS 16H
REUNIÃO DA REDE
2
SUMÁRIO
ENUNCIAÇÃO MIDIÁTICA: DAS GRAMÁTICAS ÀS ‘ZONAS DE PREGNÂNCIAS’.................. 4
Antônio Fausto Neto ................................................................................................ 4
INVESTIGACIÓN EN MEDIOS - APUNTES SOBRE EL DISEÑO METODOLÓGICO ............. 16
Beatriz Quiñones Cely............................................................................................ 16
MUNDOS DE LA VIDA MEDIATIZADOS........................................................................ 23
Eduardo Andrés Vizer ............................................................................................ 23
EL TERRITORIO COMO MEDIATIZADOR EN PROCESOS DE DESARROLLO LOCAL .......... 34
Eduardo Rebollo..................................................................................................... 34
O MÉTODO COMO MEDIADOR E O LUGAR DA MIDIATIZAÇÃO ..................................... 43
Jairo Ferreira.......................................................................................................... 43
PESQUISANDO PERGUNTAS (um programa de ação no desentranhamento do
comunicacional)......................................................................................................... 52
José Luiz Braga ...................................................................................................... 52
TRANSDISCIPLINA Y MULTIMETODOLOGÍA: CLAVES PARA EL ABORDAJE DE LA
MEDIATIZACIÓN EN CULTURAS HIPERMEDIATIZADAS ................................................ 63
Lila Luchessi ........................................................................................................... 63
EL ANÁLISIS CRÍTICO DEL DISCURSO – PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS PARA
ABORDAR EL DISCURSO MULTIMODAL EN YOU TUBE ................................................. 73
Neyla Pardo ............................................................................................................ 73
A METODOLOGIA COMO PROBLEMA PARA A PESQUISA DE MÍDIA E RELIGIÃO .......... 104
Pedro Gilberto Gomes.......................................................................................... 104
ESTUDIOS DE INTERFAZ: HACIA UNA METODOLOGÍA COMO “SENSIBILIDAD” A “LA
PAUTA QUE CONECTA” ............................................................................................ 113
Sandra Valdettaro................................................................................................ 113
CRÓNICA ROJA: APORTES PARA EL ABORDAJE METODOLÓGICO EN LA PRENSA
ARGENTINA ............................................................................................................ 124
Stella Martini........................................................................................................ 124
3
ENUNCIAÇÃO MIDIÁTICA: DAS GRAMÁTICAS ÀS ‘ZONAS DE
PREGNÂNCIAS’
Antônio Fausto Neto∗
Permitimo-nos, formular algumas conjecturas sobre princípios e operações que envolvem
questões relacionadas com o conceito de enunciação situado no funcionamento discursivo
midiático.
Tal formulação impõe a necessidade de se visitar textos nos quais este conceito se
constituiu num elemento central de um trabalho investigativo, ao longo de algumas décadas.
Falar sobre ela implica evocar um modo de lidar com objetos complexos atravessados por
problematizações que são situadas de modo distante de princípios consciencialistas e que segundo
determinadas angulações estão presentes nas reflexões sobre o estatuto da linguagem e os
processos de produção de sentidos. Para tanto, elege-se a enunciação como uma atividade,
enquanto um trabalho que envolve processos e operações desencadeadas por sujeitos a partir da
matéria significante, visando a sua inscrição e a constituição de lugares sobre os quais se estabelece
o vinculo sócio-simbólico.
Refletir sobre uma certa processualidade de investigação não significa fazer incursão
teórica-analítica sobre o conceito de enunciação. Propõe-se destacar operações e formulações
metodológicas no âmbito mesmo do processo investigativo midiático, segundo trajetória que
envolve tempos e cenários diferentes. Reflete-se sobre o “atravessamento das fronteiras” que o
conceito de enunciação faz para constituir e fazer funcionar práticas enunciativas midiáticas.
Segundo este entendimento, o conceito abandona fronteiras onde teria sido edificado, constituindo,
através de contato e tensionamento, “zonas de pregnâncias” e presentificando-se noutros tipos de
práticas discursivas ― como as midiáticas ― onde toma e dá forma noutros processos de produção
de sentidos.
∗
Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1972), mestre em Comunicação pela
Universidade de Brasília (1977), doutor em Sciences de La Comunication Et de L'information - École des Hautes
Études en Sciences Sociales (1982) e estudos de pós-doutorado na UFRJ. Atualmente é consultor ad hoc da CAPES,
do CNPq, da Fundação Carlos Chagas. Professor titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, exprofessor das universidades UFRJ, UFPB, UnB e PUC Minas. Co-fundador da Associação Nacional de Programas de
Pós-Graduação em Comunicação - COMPÓS. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria da
Comunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, discursos, mídia e televisão. Autor dos
livros Mortes em derrapagem (1991), O impeachment da televisão (1995), Ensinando à TV Escola (2001),
Desconstruindo os sentidos (2001), Lula Presidente - Televisão e política na campanha eleitoral (2003).
4
Examinar tal processualidade significa trabalhar dois “eixos de enunciação”. O primeiro,
caracterizado pela enunciação transformando a matéria significante em um certo tipo de discurso
social. O segundo, no qual uma modalidade de enunciação (a metodológica) organiza
procedimentos para examinar o funcionamento de uma outra na qual se desenvolve uma
modalidade de pratica enunciativa, a de caráter midiático. Duas dimensões de estratégias: na
primeira a enunciação engendrando discursos, dando-lhes existência. Na segunda, o discurso ao ser
convertido numa espécie de ‘discurso paciente’, é transformado em objeto de análise de um outro
trabalho enunciativo, que é o de caráter metodológico. Separados por temporalidades e práticas
distintas, ambos têm na atividade enunciativa uma espécie de elo de contato que é o trabalho de
constituir as discursividades bem como produzir e analisar efeitos sobre suas manifestações. Se um
faz funcionar discursos, segundo complexas operações, o outro chama atenção para modos de
engendramentos de estratégias muito peculiares e que tratam de constituir contatos entre
produtores e receptores no âmbito de uma ordem interdiscursiva. Trata-se de um ‘jogo’ que chama
atenção para as transformações suscitadas por estas práticas enunciativas e das quais resultam,
inclusive, novos objetos. Pensar elementos desta processualidade implica um ato de enunciar, ou
seja, explicitá-la por meios de uma certa escrita que diz respeito ao trabalho do observador.
Nestas condições, o ato de trabalhar do analista ― os processos e os produtos ― se refere a um
certo processo de produção sobre o funcionamento da enunciação no âmbito das estratégias
discursivas estratégias midiáticas.
Situaremos, em primeiro lugar a hipótese de trabalho para orientar as formulações que
seguem. A interrupção do contato entre atores sociais provocada pela interposição da técnica
(Luhmann, 2005), gera, dentre outras coisas, várias possibilidades de interação, segundo práticas
enunciativas que, de modo crescente, se engendram e tomam forma no âmbito midiático
propriamente dito. Tal interposição complexifica o ato enunciativo uma vez que o mesmo se
desloca de âmbitos estáveis, para, ao serem permeados por novos elementos (socios-técnicosdiscursivos), passando a funcionar em ambientes complexos, e segundo regras e operações
atravessadas por múltiplas estratégias, envolvendo instituições e atores distintos. Tal hipótese reúne
pelo menos, duas observações metodológicas. A primeira suscitada por Benveniste ao falar sobre
as condições sobre e constituição e funcionamento da enunciação. Quando nos diz que a
enunciação envolve “sucessivamente [do sujeito] em transformar a língua em discurso, as situações
onde ela se realiza, os instrumentos de sua realização” (Benveniste, 1974:81). Destaca-se o que
indica a enunciação subordinada às situações, em torno das quais se estrutura. Não se trata de um
ato isolado do sujeito, mas permeado pela relação que tem como ‘condições para sua produção’. O
5
segundo elemento deriva desta observação e que diz respeito sobre as transformações que a
enunciação sofre nos contextos da ‘sociedade dos meios’ e ‘da sociedade midiatizada’,
propriamente ditas. Em ambas, temos “a incorporação progressiva de novos registros significantes
(...) ensejando que a questão da discursividade na sociedade submete-se à uma complexidade
crescente” (Verón, 2004:85). Estrutura-se um novo modo de organização social que se transforma,
e cujo funcionamento ocorre tendo como referência a força da existência dos meios, fazendo com
que suas práticas significantes afetem todas as suas práticas sociais, ainda que de modos distintos.
O modo que este texto pretende ver as relações entre a enunciação e a metodologia passa
pela processualidade nas quais diferentes modos de enunciar das mídias caracterizam seu trabalho
discursivo, ao longo de, pelo menos quatro décadas. É o momento em que o conceito de
enunciação é retirado do ‘casulo da Lingüística’ e passa também a tensionar os primeiros estudos
cujos objetos são as manifestações midiáticas, em seu caráter discursivo.
Situamos três registros nos quais se destacam aspectos metodológicos sobre os estudos de
práticas enunciativas de caráter midiático: a) o papel das ‘gramáticas’ como categoria explicativa
para a descrição de operações de sentido; b) o deslocamento da ênfase sobre as ‘gramáticas’ para as
operações de co-enunciação, enquanto ‘feixes de relações’; e c) a complexificação da enunciação
mediante a emergência de estratégias processualidades de apropriação e de afetação de discursos.
O primeiro, prioriza aspectos metodológicos com os quais se examinou o status da
enunciação midiática voltada para a produção da referência, enquanto operação voltada para
‘construção da realidade’. O segundo, examina operações de co-enunciação pelas quais regras e
operações midiáticas são ‘condições de produção’ para outros discursos, trazendo-se à baila a
problemática da co-referência enunciativa; e o terceiro, destaca procedimentos que descrevem as
operações enunciativas de caráter auto-referencial, pelas quais a atividade discursiva midiática
chama atenção para suas próprias operações voltadas para seu lugar, enquanto dispositivo que se
destaca como a própria ‘realidade da construção’. Tais dimensões são levadas em conta em uma
trajetória de pesquisa sobre o funcionamento da enunciação nos âmbitos dos discursos midiáticos,
de caráter jornalístico.
1. Produzindo a referência: primeiras conjecturas
Parte-se da conjectura de que o acontecimento resulta sempre de um trabalho de natureza
discursiva, que se faz no interior da matéria significante. Esta hipótese orienta as escolhas
observacionais do analista ao pressupor que a conversão dos fatos em notícias ou “acontecimentos
jornalísticos”, resulta sempre de um complexo trabalho de narrativas e de processos discursivos
6
realizados no âmbito da matéria significante, levando-se em conta um certo conjunto de regras de
processos produtivos. Por outras palavras: não há acontecimento sem enunciação, o que permite
dizer também que a enunciação é a condição para existência do acontecimento.
Lembramos primeiras aproximações do conceito de enunciação com as construções
discursivas jornalísticas (Fausto Neto, 1998), em torno de alguns objetos que ensejam ver tal
produção jornalística fora dos ‘cânones’ das teorias consciencialistas. Esta exame recebe
contributos sobre a problemática da produção dos sentidos que não estão situados nas fronteiras
das disciplinas e teorias que alicerçam o modo de enunciar dos discursos jornalísticos. A partir de
um corpus da cobertura jornalística sobre a doença e morte do presidente Tancredo Neves,
descreve-se as ‘leis’ da enunciação engendrando o acontecimento, mostrando que o acontecimento
e técnicas narrativas caminham de mãos dadas” (Fausto Neto, 1988: 13). Somente foi possível
instituir esta doença e morte, ao longo de quarenta dias, mediante as operações enunciativas
desenvolvidas na cobertura midiática, cuja ênfase esteve centrada na noção de testemunhalidade.
Ao invés de operações enunciativas que não apagam as marcas da existência do dispositivo
enunciador, viu-se ali evidenciar a existência de um dispositivo de enunciação que chamava
atenção para a problemática da existência e presença discursiva do ‘sujeito falante’. Este manejaria
a matéria significante a serviço da intencionalidade de uma estratégia. As operações de enunciação
produzem um caráter referencial ao destacar o efeito de testemunhalidade que ela promove, ao
mesmo tempo. Ou seja, a enunciação diz que “nós estivemos lá, no centro do acontecimento, como
personagens que vivenciaram as cenas, de onde lhe falamos provando que lá estivemos e pedindo
a sua atenção para o que enunciamos”. Assim, ao se recuperar determinadas operações, visa-se
indicar como tal estratégia põe em movimento certas regras da ‘gramática’ a serviço de um certo
modelo, para quem a noção de verdade estaria associada à sua capacidade de mostrá-la, pelos
efeitos de linguagens. Tal processo de leitura ao descrever operações de sentido realizadas pelo
âmbito da produção jornalística, permitiria a reconstituição das ‘leis’ e ‘fundamentos’ deste modo
de dizer, mostrando também o modo como o acontecimento toma existência (Verón, 1978).
2. Feixes de sentidos: segundas conjecturas
Se as gramáticas permitiam que se explicitassem as marcas e presença do próprio
dispositivo de enunciação, temos que a enunciação midiática apresenta uma segunda característica
que, grosso modo, consiste em destacar o seu poder de “fazer falar” outros campos sociais.
Também de estruturar processos dialógicos entre mídias, ensejando a existência, no seu próprio
7
âmbito, de um conjunto de falas a apontar a questão da produção do sentido situada em “feixes de
relações”.
Pesquisas mostram a enunciação midiática instituindo um certo lugar sobre o qual
repousaria a própria centralidade deste dispositivo de produção do sentido. Através de
acoplamentos com enunciações de outros campos, sustenta suas existência, ao organizá-las e
enunciá-las a partir de suas próprias ‘leis’. Isso se dá quando a tematização de problemáticas de
outras campos são submetidas aos regimes de semantização que funcionam, como possibilidade de
co-referí-las. A problemática das fronteiras enunciativas entre as estratégias discursivas distintas
parece se refazer com uma possível dissolução entre elas. Dão lugar à formação de ‘zonas de
pregnâncias’, resultantes de contatos entre regime enunciativos. Nasce um novo território, cuja
transformação e funcionamento dependem, contudo, da força da especificidade da enunciação
midiática. Em última análise, é ela quem tem, neste modo de dizer, o poder de selecionar e
organizar temáticas, e dar as mesmas inteligibilidades e sobre as quais a sociedade deve
acompanhar seus modos de propor compreensão. Também a capacidade de organizar discussões no
âmbito do próprio espaço enunciativo midiático. Faz falar atores de diferentes campos, segundo
problemáticas eleitas pelo campo midiático, e segundo ainda, os ditames e as regras dos seus
contratos de leitura. Um outro tipo de acoplamento, também já de natureza auto-referencial, é
aquele no qual operações enunciativas midiáticas produzem entre si envios discursivos, segundo
por determinadas estratégias e que assim formalizariam a enunciação de co-referência. Trata-se de
‘envios interdiscursivos’ entre mídias, apontando para o funcionamento de um certo tipo de
conversação que as mídias desenvolvem entre si. Elegendo objetos comuns às suas coberturas.
Por exemplo, sobre as novelas, onde revistas chamam atenção para a emissão de programas
televisivos, como que preparando o ‘olhar da recepção’ ou orientando-o para o funcionamento de
estratégias de ficcionalização, no âmbito televisivo. Debatem, entre si e segundo gêneros
diferentes, a morte dos ‘olimpianos’ (Cazuza, Corona) resenhando as suas causas segundo modelos
inerentes aos seus contratos. É sob a chancela de operações midiáticas que temas como o da AIDS,
se explicitam em termos de construção discursiva. É através desta modalidade de enunciação que
os demais campos sociais conseguem co-enunciar sobre tal problemática. Porém, o fazem pela
submissão dos seus sentidos aos parâmetros e definições estabelecidos por um modo de dizer que
os precede, no caso o modelo enunciativo midiático. Ou seja, “nós sustentamos a possibilidade que
você diga também, desde aceite as condições pelas quais você pode dizer”. Assim, problemáticas
complexas, como a da AIDS, como também a longa cobertura do impeachment do presidente
Collor, têm suas possibilidades de inteligibilidades definidas por operações especificas de políticas
8
discursivas editoriais, uma vez que os acontecimentos estão, em última análise, submetidos à
regras privadas de cada dispositivo de enunciação midiático” (Fausto Neto, 1991-1999).
Um outro tipo de acoplamento e que aponta para a enunciação em situação de co-referência,
apresenta-se de modo mais complexo. Trata-se daquele em que práticas sociais de outros campos
recorrem às lógicas e operações de produção de sentido (extração, classificação, hierarquização,
tematização e semantização midiáticas), como possibilidade de engendrar seu funcionamento
enunciativo. Nas análises sobre a cobertura das eleições presidenciais de 1989 e 1994, e
principalmente 2002 e 2006, mostra-se que a problemática da co-enunciação já se faz presente e
uma das causas do seu aparecimento é a complexificação das redes discursivas pelas manifestações
de interdiscursividades e que vão se tornar dominante nos tempos da ‘sociedade da midiatização’.
As gramáticas de produção deixam de ser a zona central do trabalho de produção de sentido.
Embora descreva que a atividade de enunciação do referente ainda singulariza-se no âmbito do
dispositivo midiático, e pela força de suas regras próprias, ele está atravessado pelas marcas e cooperações de outras enunciações. Indica-se assim, a complexificação da atividade enunciativa, na
medida em que ela passa a se constituir e a funcionar no âmbito de uma rede interdiscursiva, e não
apenas por força do trabalho exclusivo de um ‘sujeito falante’.
O intenso funcionamento das transformações de tecnologias em meios, em situação de
produção e recepção de mensagens, geradas cada vez mais por instâncias mais complexas,
reformula as condições de produção enunciativa. Gera-se novas possibilidades de comunicação e
lida-se também com as implicações que esta nova complexidade sócio-técnica-discursiva tem
sobre as práticas discursivas. Uma das conseqüências desta complexificação é o fato de que a vida
da sociedade, em suas diferentes dimensões, se transforma não só pela existência dos meios, mas
também porque os regimes e suas práticas significantes afetam, praticamente, todas as práticas
sociais ainda que de modo e, segundo efeitos distintos. Isso “leva-nos, provavelmente, a
funcionamentos significantes mais complexos” (Verón, 2004: 85). Não só novas relações emergem
destes processos, mas as formas de vincular as instituições entre si; entre estas e os indivíduo; e
entre os próprios, passam por redes de complexas operações enunciativas midiáticas, que
atravessam suas práticas discursivas. Práticas sociais, como a da política, levam em conta de modo
intenso a existência dos processos de produção de sentido de caráter midiático. Em todas as
campanhas, desde a primeira, pós ditadura, principalmente aquele na qual Lula se elege pela
primeira vez, observa-se a manifestação de intensos processos de investimentos de sentido que
tomam operações midiáticas como condição de produção. Observa-se a presença de outras lógicas
que transcendem aos imperativos partidários. A campanha trata de apagar a diferenciação entre
9
espaços políticos e midiáticos, o que aponta para a dimensão de interioridade da classe política, no
que diz respeito ao campo da comunicação (Fausto Neto & Verón, 2003). Outros campos, a
exemplo da política, dão existência às suas práticas segundo os contornos da enunciação midiática,
como é o caso do campo religioso. São operações que fazer emergir um novo modo de ‘fazer
religião’ e que, por processos diversos de acoplamentos discursivos, reformulam de modo
complexo a questão da crença, enquanto fenômeno cultural, teológico e discursivo. Práticas
criminais como policiais apropriam-se largamente de práticas, tecnologias e linguagens midiáticas
para garantir o acesso de suas versões na esfera pública, transformando o acesso do seu
acontecimento a esfera pública, de uma problemática política para aquela de natureza estratégica e
discursiva (Fausto Neto, 2006 e 2007).
3. Auto-referencialidades: terceiras conjecturas (escrever para não apagar-se?)
A intensa interposição de fenômenos técnicos sobre as interações sociais radicaliza
defasagens entre produtores e receptores de mensagens, impossibilitando que se reduza a ordem do
sentido à intenção de um determinado dizer, e complexificando a prática enunciativa midiática.
Estas defasagens, transformam em um momento a mídia por sua capacidade enunciativa, em
espécie de ‘sujeito falante’. Para tanto, deve exercer uma espécie de atividade de interação
complementar, ao “fechar estes buracos de sentidos”, de algo, porém, inevitável, pelo uso de certas
regras, estratégias e protocolos das interações. Entretanto, o processo crescente de midiatização
passa a apontar de modo claro para o desajuste que caracteriza, hoje, produtores e receptores em
processos de produção de sentidos e, ao mesmo tempo, para emergência de outros protocolos
enunciativos que visariam sanar tal desajuste.
A intensificação destes desajustes entre produtores e receptores de mensagens, produzida
pela interrupação do contato e pela crescente complexificação das práticas digitais, complexifica
também as práticas enunciativas midiáticas, colocando-as sobre outras condições no centro de
problemáticas, como dentre outras, a da investigação. As transformações dos mercados discursivos
reúnem, sob outras formas produtores e receptores midiáticos. Os primeiros constatam a dissolução
de operações de processos produtivos, enfraquecidas pelo fato de um maior numero de pessoas ver
e/ou consumir cada vez menos as mesmas mensagens, ao mesmo tempo. Os segundo são, por força
dos ventos digitais, alçados à situação de sujeitos produtores do seu próprio consumo, submetendose cada vez menos ao “diktat” de estruturas de produção de mensagens. Tais questões fazem
emergir novas interações, novos tipos de acoplamentos que põem em contato, mas transformam
também o status de produtores e de receptores. Estruturam-se em torno de novas lógicas e
10
operações enunciativas sobre as quais funcionam “zonas de pregnâncias” onde a problemática da
regulação dos sentidos é, porém incerta e problemática. As mídias emprestam seus ‘saberes’ para a
organização das novas interdiscursividades, e através de processos de acoplamentos, convertem
receptores em co-produtores de sua enunciação. Mas a origem desta ‘zona de pregnâncias’ não tira
dela ― da enunciação midiática ― as condições de definição do acesso e através das quais a
recepção jogará o jogo de sua inserção no processo produtivo propriamente dito. O que se percebe
na plataforma circulatória são processos de negociação sobre os quais repousam (ainda) as lógicas
dos ‘contratos de leitura’ os quais, ainda que tensionados por estas novas lógicas relacionais, são
construídos pelo nicho produtivo. Por outro lado, a fragmentação e dispersão dos receptores,
migrando para novos meios, produz a emergência de um outro tipo de enunciação jornalística e que
está calcada em operações de auto-referencialidade. Uma vez que estando todos ― produtores e
receptores ― na ambiência da midiatização, inseridos e afetados uns pelos outros, a prática
enunciativa chama atenção para o seu lugar de produção, para sua existência, para o trabalho de
suas próprias operações e que se voltam para construção de uma realidade para a qual goza, sem
dúvida, de autonomia. Desloca-se o dispositivo de enunciação de suas operações referenciais e coreferenciais, para escrever a realidade da construção (Luhman, 2005). Ou seja, “como eu faço para
lhe ofertar os sentidos que você tem diante de si?” Estas novas problematizações são examinadas
em pesquisas nas quais chamamos atenção para o que seria uma espécie de ‘escritura da
enunciação’. Ou seja, este novo modelo que aponta para dois sintomas: de um lado, aquele que
indica um novo tipo de enunciação de completude, pela qual nada sobraria do real às manobras do
seu trabalho enunciativo da mídia (Fausto Neto, 2006 e 2007). Por outro lado, o fato da mídia
escrever em tempo real sobre o seu próprio modo de fazer as operações sobre as quais engendra
sentidos, até que ponto isso não estaria apontando suas inquietudes relacionadas com o possível
desaparecimento de uma determinada prática social (o jornalismo), enquanto ator que pleitea para
si a possibilidade de construir o acontecimento? (Fausto Neto, 2008). Sem dúvida, trata-se de uma
manifestação permeada pela autonomia de um campo em poder falar sobre si próprio, mas que traz
consigo ― com esta nova prática enunciativa ― os “fantasmas” que representam as possibilidades
de sua dissolução. Ou por outra, ao chamar atenção para suas operações, não deixar que os
receptores flutuem noutras plagas de sentidos...
Notas em conclusão
A repercussão destas questões sobre a problemática metodológica é o fato de que “a
unidade mínima da análise não pode ser outra se não aquela da interdiscursividade, ou seja aquela
11
da rede” (Verón, 1996: 182), pois os fenômenos de discursividades apresentam-se envoltos em
realidade muito complexa tranversal, e, por natureza, indeterminada. Descrever operações de
sentidos se faz, nestas condições, em meio às complexidades e não a partir de pressupostos
determinísticos, conforme preveriam modelos pragmáticos de estudos voltados para a questão do
enunciado.
Desloca-se o foco das “fronteiras” para as “zonas de pregnâncias”, pois a midiatização
converte práticas midiáticas em si, em macro-processos de funcionamentos discursivos, operando
em transversalidades e complexas operações significantes.
Novos objetos aparecem, assim, na forma de macro-funcionamentos discursivos, chamando
atenção para várias injunções enunciativas midiáticas, especialmente sobre suas práticas afetando,
mas sendo também afetadas por outras enunciações. Privilegia-se processualidades, estratégias nas
quais complexas operações de co-enunciação se mesclam ou ainda: práticas de campos sociais
distintos às mídias, levam em consideração na montagem de suas estratégias àquelas de natureza.
Possivelmente, a midiatização instaura uma nova ‘ordem dos discursos’. Os processos
enunciativos que se produzem na sua ambiência já não contemplam a existência de sujeitos,
enquanto supostos ‘lugares vazios’. Nem suas estratégias enunciativas permanecem em ‘zonas de
apagamento’. Os receptores também não são entidades abstratas ou apenas qualificados por estudos
de ‘sondagem de opinião’. São atores que estão na rede interdiscursiva, na forma de práticas , de
estratégias, em suma de construções enunciativas. As estratégias destes lugares ― produção e
recepção ― se processam via relações, segundo operações de complexos dispositivos. Não se trata
apenas de novos processos de articulação que serviriam apenas para vincular produtores e
receptores, mas para realizar um certo tipo de trabalho discursivo estruturado por diferenças,
intervalos e defasagens. Estas se relacionam às lógicas que marcam as várias condições de
produção discursiva nas diferentes instâncias, gerando efeitos de sentidos, considerando os
intervalos entre produtores e receptores, especialmente dos fundamentos sobre as quais se assentam
suas operações enunciativas (Fausto Neto, 2008). Para tanto, o conceito de ‘zona de pregnância’
não deve ser visto como uma região de ajuste entre produtores e receptores, mas segundo outra
perspectiva na qual os discursos se afetam e são transformados pelas relações que travam resultante
das operações dos dispositivos de enunciação. Por outras palavras: “a produção de uma
enunciação sempre é o reconhecimento de outra, e todo reconhecimento se materializa na
produção de uma enunciação” (Verón, 1996: 193)
Estes fenômenos descritos de modo resumido, condensam atos de observação sobre a
evolução do modo midiático de enunciar realidades. Propõem, metodologicamente, que a
12
enunciação é um tema e uma questão que não pode permanecer concebida como algo a lembrar o
funcionamento da linguagem paralisado em fronteiras. Este conceito deve ser complexificado na
medida em que sua própria atividade, enquanto ato de construir vínculos sócio-simbólicos sofre
injunções dos efeitos das transformações dos de processos sócio-técnico-discursivos sobre a
organização da matéria significante. Enfatiza-se desta maneira, a problemática com que a
metodologia se depara, se levarmos em conta que não a entendemos como fundamentos e
procedimentos que operam sem ser atravessada pelos tensionamentos que emanariam dos objetos,
especialmente aqueles dotados de complexidades como os processos e produtos midiáticos.
Lembremos que, nestas condições, a enunciação é uma categoria teórica e analítica que não
seria cativa de uma formulação interna às fronteiras da Lingüística. Trata-se de uma problemática
que transcende disciplinas, se levarmos em conta a condição social do ato enunciativo e o fato de
que este se encontra, inevitavelmente, atravessado por condições de produção e de manifestações
de natureza societárias. É em função destes parâmetros, que Antoine Culioli faz uma formulação
metodológica voltada para estudos sobre fenômenos discursivos complexos, como os que
envolvem os de natureza midiática, e sua presença em outras manifestações discursivas. Para ele,
tais fenômenos de produção e de operações enunciativas deslocam-se das fronteiras para ‘zonas de
pregnância’, ou seja, aponta para a problemática da co-enunciação: “Fronteira é um espaço que
reúne seu interior, seu exterior, um externo, mas também uma zona de alteração, de
transformação, em zona de pregnância” (Culioli, 1990: 90). Estas considerações parecem falar de
nossos objetos, na medida em que remetem a fenômenos discursivos heterogêneos e que se gestam
em realidades marcadas por enunciações que se processam e se afetam, funcionando em
disposições transversais, ou seja, instaurando e originando objetos macros e complexos. Nestas
condições, as manifestações da enunciação midiática já não se fixam apenas nas fronteiras do seu
próprio campo, mas revestidos de complexidades e têm como cenário ― ou horizontes ― espécie
de ‘espaços de indeterminação’, ou ‘novos espaços potenciais’.
A enunciação é um fenômeno que, de um lado, atravessa as mídias, pois estas estão
subordinadas ao funcionamento das linguagens e suas manifestações. Mas dos seus modos de
funcionamentos no interior de uma prática social resulta a existência de uma prática enunciativa
que se distingue das demais, tratando-se, neste caso, do modo de dizer das mídias, enquanto
trabalho enunciativo.
Entendida como uma ‘forma de ação’ (Fabbri, 1997) a enunciação [midiática] impõe novos
desafios ao trabalho metodológico indagando-o e, por vezes, contaminando a natureza do seu
próprio fazer.
13
Bibliografia
CULIOLI, Antoine. Pour une linguistique de l’énonciation – Opérations et représentations. Tome 1. Paris:
OPHRYS, 1990.
BENVENISTE, Émile. Problémes de linguistique générale - 1. Paris: Gallimard, 1974.
_______.Problémes de linguistique générale - 2. Paris: Gallimard, 1974.
ECO, Umberto; SEBEOK, Thomas. O signo de três. São Paulo: Perspectiva, 1991.
FABBRI, Paolo. El giro semiótico. Barcelona: Gedisa, 1999.
FAUSTO NETO, Antônio. O corpo falado – A doença e morte de Tancredo Neves nas revistas semanais
brasileiras. João Pessoa: UFBp/PROED-MEC, 1988.
_______. Mutações nos discursos jornalísticos: da ‘construção da realidade’ à ‘realidade da construção’. IN:
Edição em jornalismo: Ensino, teoria e prática. Ângela Felippi, Demétrio Soster e Fabiana Piccinin
(orgs). Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006.
_______. Mudanças da Medusa? A enunciação midiatizada e sua incompletude. In: Midiatização e
Processos Sociais na América Latina (Jairo Ferreira, Pedro Gilberto Gomes, José Luiz Braga e
Antônio Fausto Neto). São Paulo: Paulus, 2008;
_______. “Nada tira, nada envolve, nada completa” – Leituras em recepção do discurso midiático religiosos.
In: Revista Famecos. Porto Alegre: PUC/RS, 2008.
_______. Escrituras sobre a enunciação jornalística. Paper apresentado no SOBPJOR, 2008;
_______. Notas sobre as estratégias de celebração e consagração do jornalismo. In: Revista Estudos em
Jornalismo e Mídia. Ano 5. N.1. Florianópolis: Insular, 2008.
_______. Fragmentos de uma analítica da midiatização. In: Revista Matrizes. N.2 São Paulo: USP, 2008.
pp. 89-103
_______. Comunicação e mídia impressa – Estudo sobre a AIDS. São Paulo: Hacker, 1999.
_______. Dispositivos de telecura e contratos da salvação. In: Comunicação, Mídia e Consumo. N.6. V.3.
São Paulo: ESPM, 2006.
_______. Mortes em derrapagem – os casos Corona e Cazuza no discurso da comunicação de massa. Rio
de Janeiro: Rio Fundo, 1991.
________. O impeachment da televisão – como se caça um presidente. Rio de Janeiro: Diadorim, 1995.
________. O Presidente da televisão. In: Revista Comunicação e Política. N.11. São Paulo: Cbela, 1990.
________. A construção do presidente – Estratégias discursivas das eleições presidenciais de 2004. In:
Pauta Geral. V.3. N.3. Salvador: FACOM, 1995.
_______; VERÓN, Eliseo (orgs.). Lula presidente – televisão e política na campanha eleitoral. São
Paulo/São Leopoldo: Hacker/Unisinos, 2003.
_______. El discurso político entre la autonomia y el control del proceso enunciativo – observaciones sobre
la mediatización de la campana electoral 2006. In: Gládys Romero e Meyra Paez Madera (orgs.)
Lenguaje e Interpretación Sociocultural – Avances y perspectivas. Bogotá: Universidad Distrital
Francisco José de Caldas, 2008.
_______. Será que ele é? Onde estamos? A midiatização de um “discurso proibido”. In: Ícone – Revista do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Universidade Federal de Pernambuco. Ano 7, Número
9, dezembro/2006.
_______. A midiatização jornalística do dinheiro apreendido: das fotos furtadas à fita leitora. In: La Trama
de la Comunicación. V12. Rosário: UNR, 2007.
14
FISHER, Sophie. Le détour des chemins. In: La théorie d’Antoine Culioli – Ouverture set incidences. Paris:
OPHRYS, 1992.
KERBRAT-ORECCHIONI, Catherine. L’énonciation de la subjetivité dans le lengage. Paris: Armand
Colin, 1980.
LUHMANN, Niklas. La realidad de los medios de masas. Rubi/México: Anthropos Editorial/Universidad
Iberoamericana, 2000.
_______. A realidade dos meios de comunicação. São Paulo: Paulus, 2005.
MOUILLAUD, Maurice; PORTO, Sérgio Dayrell (org). O jornal da forma ao sentido. Brasília: Paralelo 15,
1997.
ONO, Aya. La notion d’énonciation chez Émile Benveniste. Paris: LL, 2007.
VERÓN, Eliseo. Sémiosis de l’ideologie et du pouvoir. In: Communications. N. 28. Paris: Seuil, 1978.
_______. Entre la epistemologie et la communication. In: Hermes. Paris: Seuil, 1977.
_______. El cuerpo de las imágenes. Buenos Aires: Norma, 2001.
_______. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
_______. La Semiosis Social. Buenos Aire
15
INVESTIGACIÓN EN MEDIOS - APUNTES SOBRE EL DISEÑO
METODOLÓGICO
Beatriz Quiñones Cely∗
Resumen: Este trabajo propone una aproximación a la “Investigación en Medios” y, específicamente, al
“Diseño metodológico” aplicado en los proyectos: “Violencia Colombiana y series de ficción de los
noventa: Imaginarios de la representación mediática de la violencia colombiana: series de ficción
televisiva de los 90. (1989-1999) y “Representaciones sociales, pobreza e imagen visual, en la fotografía y
la caricatura en la prensa colombiana: 1991-2005” realizados en el marco de la Red PROSUL.
El Diseñó metodológico se entiende, desde la perspectiva enunciada, como un acto creativo y crítico, en
continuo movimiento (sujeto a las particularidades de la problemática abordada) y, por lo tanto, sometido
a permanente ajuste y re-visión.
Palabras Claves: Acontecimiento, mediatización, imaginarios.
“La mediatización de la cultura es así determinante para comprender el
ejercicio de la legitimación en el capitalismo avanzado, puesto que ésta
descansa en la construcción persuasiva de realidad que explota los medios
propios de la retórica para generar evidencias sociales consistentes e
incuestionables para los individuos…La noción de imaginario social nos
descubre que la percepción y asunción de aquello considerado como real es
una construcción del imaginario social en cuanto instrumento configurador
de un determinado modo de inteligibilidad social”1
Este trabajo propone una aproximación a la “Investigación en Medios” y, específicamente,
al “Diseño metodológico” aplicado en los proyectos: “Violencia Colombiana y series de ficción de
los noventa: Imaginarios de la representación mediática de la violencia colombiana: series de
ficción televisiva de los 90. (1989-1999)∗ y “Representaciones sociales, pobreza e imagen visual,
en la fotografía y la caricatura en la prensa colombiana: 1991-2005” realizados en el marco de la
Red PROSUL.
La reflexión sobre el diseño metodológico de las investigaciones mencionadas tiene por
objetivo evidenciar la productividad de abordar la representación mediática desde un modo de
visualización particular, que opera mediante la definición del encuadre –posicionamiento desde el
∗
Profesora Asociada, Instituto de Estudios en Comunicación y Cultura. Universidad Nacional de Colombia. Doctora
en Ciencias de la Información y Comunicación de la Universidad de Paris 8. Miembro del Grupo Colombiano de
Análisis del Discurso Mediático. Miembro de SOCESCO.
1
CARRETERO PASÍN Ángel Enrique. “Imaginarios sociales y crítica ideológica. Una perspectiva para la
comprensión de la legitimación del orden social” Tesis de doctorado –Sociología y Ciencias Políticas. (texto inédito
suministrado por el autor). Pág. 357
∗
Los avances de esta investigación fueron presentados en los distintos eventos organizados por la RED PROSUL
entre 2006-2008:“Mediatización de la violencia colombiana: el acontecimiento de los 90” (Seminario
“Mediatización”, Bogotá, Febrero 20-21 de 2006); “Violencia colombiana y ficción televisiva de los 90s” (Seminario
“Mediatización: Interfaces de sentido entre los medios y la sociedad” Rosario-Argentina. Diciembre 13-15 de 2006) y
“Ficción televisiva de los noventas: Tres puntos de vista sobre la violencia colombiana” (Seminário Comunicação:
sentido e sociedade, São Leopoldo, Brasil, Diciembre 10-12 de 2007).
16
cual se mira-; de los trazos que configuran lo mirado -las dimensiones a visibilizar- y de los
desplazamientos –recorrido imaginario entre realidades- que debe realizar el que mira.
El Diseñó metodológico se entiende, desde esta perspectiva, como un acto creativo, crítico,
en continuo movimiento (sujeto a las particularidades de la problemática abordada) y, por lo tanto,
sometido a permanente ajuste y re-visión.
Se trata de enfatizar la pertinencia de aproximarse a la sociedad desde los estudios en
comunicación mediante la observación sistemática y la lectura detenida y contextualizada del
acontecimiento- entendido como proceso de construcción mediática de realidades-. Una postura
que exige poner a prueba un diseño metodológico que combine diferentes estrategias de
observación y análisis y el uso paralelo y simultáneo de varios instrumentos.
1. Fisuras
En nuestra perspectiva la primera declaración que el investigador en comunicación debe
realizar -en una tentativa de explicación de su forma de abordar la esfera mediática- es su
convicción de la necesidad (¿urgencia?) de desmarcarse de las visiones convencionales que
configuran la representación mediática, pues el principal reto al que se enfrenta consiste en intentar
“esclarecer aquellas dimensiones de la realidad configuradas desde interpretaciones interesadas,
vinculadas al poder, que colonizan su percepción social”2.
Desmarcarse de las visiones convencionales permite desde nuestro punto de vista, fracturar
el acontecimiento, observar por las fisuras de la representación, con el objetivo de sacar a la luz
aquellas dimensiones invisibilizadas pero determinantes para la comprensión de realidades.
Este reconocimiento enfatiza la necesidad de delinear una cartografía paralela del objeto
de estudio (la violencia, la pobreza, la misma esfera mediática) mediante la crítica de las evidencias
que soportan y posibilitan los enfoques tradicionales y apostarle a intentar esclarecer aquellas
zonas del territorio imaginario de la realidad (convenientemente) opacadas a través de la
instrumentalización de imaginarios sociales legitimadores del orden social existente, propagadas y
fijadas por los medios de comunicación.
Para Raymond Ledrut “en toda sociedad se alberga una dialéctica permanente y nunca
acabada entre imaginarios con una función estática, es decir que busca reafirmar el orden social,
2
Ibid p. 32
17
e imaginarios dinámicos que tratan de cuestionarlo”3, de allí que, el autor francés otorgue a la
noción una doble funcionalidad (desequilibraje-realización/equilibraje-desrealización).
Dicho desdoblamiento (desarrollado productivamente por Enrique Carretero) permite
reconocer en la dimensión imaginaria su potencialidad crítica para “dislocar la identificación
uniformizadora de lo real establecido como posible”4 y su potencialidad creativa para abrir
“nuevas posibilidades plausibles de realidad enfrentadas a la socialmente definida”5.
Esta doble funcionalidad, desde nuestro punto de vista, explica la decisión de asumir a la
noción de imaginarios sociales como modo de visualización productivo para mirar la esfera
mediática, pues opera desde un posicionamiento que permite fracturar el acontecimiento al
desmarcarse de lo convencional.
En el caso de los proyectos realizados en el marco de PROSUL, la decisión de deslindarse
de las visiones convencionales permitió identificar el núcleo de la representación mediática de los
fenómenos objeto de estudio; tomar distancia (desubicarse), posicionarse en otros lugares
(perspectivas), y dar luz a dimensiones opacas pero también determinantes cuando de analizar el
acontecimiento se trata.
Es así como, en el caso de la investigación sobre la Representación Mediática de la
Violencia Colombiana, el modo de visualización utilizado permitió evidenciar, de forma plausible,
la centralidad del conflicto armado en la configuración del acontecimiento violento. De forma
similar, en el caso de la representación de la pobreza en la prensa colombiana permitió visibilizar
que la fotografía usada por los dos periódicos observados, representaba al pobre como un
individuo carente y necesitado de ayuda, alimentando la confusión entre pobreza y miseria al
definir la identidad del pobre desde el exterior.
2. Operaciones
Se afirma en el primer apartado que definir un modo de visualización para abordar el
objeto de estudio exige precisar su operatividad (el encuadre y la cartografía del fenómeno
observado y los desplazamientos a realizar por el que mira) y permite orientar las herramientas
utilizadas para mirar, es decir, la configuración del diseño metodológico de la investigación.
3
CARRETERO PASÍN Ángel Enrique. “Imaginarios sociales y crítica ideológica. Una perspectiva para la
comprensión de la legitimación del orden social” Tesis de doctorado –Sociología y Ciencias Políticas. (texto inédito
suministrado por el autor). P. 7
4
Ibid, p. 382
5
Ibidem
18
Lo anterior subraya la centralidad de la definición del “punto de vista” del observador
(punto de vista entendido como una operación de mediación e intervención, en los términos de
Armando Silva) y suscribe la afirmación de la investigadora brasilera María I. Vasallo de López,
en el sentido de que “la reflexión epistemológica opera internamente a la práctica de
investigación”6 .
La definición de un modo de visualización particular para abordar la representación
mediática permite mirar globalmente el proceso de investigación: objeto, corpus, metodología. En
el plano de la práctica posibilita, así mismo, establecer las etapas y las fases de la investigación; el
carácter y las cualidades de las herramientas a utilizar en su desarrollo; las formas de evaluación de
resultados; los tiempos y movimientos necesarios para intervenir en el proceso a fin de revisar y
afinar lo producido y de determinar el alcances de los resultados.
En el caso de las investigaciones en comento, la decisión de abordar la Violencia
Colombiana desde sus dimensiones cotidianas (desmarcándose de los análisis que privilegiaban la
dimensión política) permitió enfatizar las dimensiones subjetivas y sociales del fenómeno; definir
la naturaleza del corpus a observar: la ficción televisiva (un material inusual para mirar la
violencia); admitir la posibilidad de combinar herramientas cualitativas y cuantitativas (lectura
detenida del guión, análisis estadístico del texto, observación sistemática del acontecimiento etc.) y
reconstruir el significado de las series analizadas a la manera de J.B. Thompson y su
“hermenéutica profunda”7.
De igual modo, la distinción entre pobreza y miseria y entre identidad del pobre definida
desde el interior e identidad del pobre definida desde el exterior; orientó la decisión de revisar las
fotografías periodísticas seleccionadas como corpus de la investigación en fases sucesivas;
suscribir que la fotografía usada en la prensa debía comprenderse como la imagen acompañada de
palabras: artículo, titular, pie de foto, créditos, etc. y evidenciar que, en general, la foto periodística
constituía una fotografía de la miseria al despojar al fenómeno de cualquier vestigio de dignidad.
3. Reconstrucciones
“…para comprender caso por caso aquello a lo que nos enfrentamos o, si se
trata de prácticas, para captar ‘lo que sucede’, el único medio es, lisa y
llanamente, describir y analizar el material del que se dispone, es decir,
6
VASALLO DE LOPEZ, María I. “La investigación de la Comunicación: cuestiones epistemológicas, teóricas y
metodológicas” Diálogos de la Comunicación. Ps. 12-27
7
THOMPSON Jhon B. “La comunicación masiva y la cultura moderna. Contribución a una teoría crítica de la
ideología” Revista Versión. Estudios de comunicación y política, número 1, Universidad Autónoma MetropolitanaUnidad Xochimilco, México, octubre de 1991.
19
procurar poner de manifiesto, en su singularidad y su especificidad, los
efectos de sentido susceptibles de resultar de la misma organización
estructural del objeto o de la práctica considerados”8.
La productividad de aproximarse a la sociedad desde los estudios en comunicación
mediante la observación sistemática y la lectura detenida y contextualizada del acontecimientoentendido como proceso de construcción mediática de realidades- está subordinada, desde esta
perspectiva, a la capacidad crítica y creativa del investigador para abordar el material de origen
mediático seleccionado y proponer un diseño metodológico que combine diferentes estrategias de
observación y análisis y el uso paralelo y simultáneo de varios instrumentos.
El Diseñó metodológico se entiende, por esta razón, como un acto creativo, crítico, en
continuo movimiento (sujeto a las particularidades de la problemática abordada) y, por lo tanto,
sometido a permanente ajuste y re-visión
Esta postura suscribe lo expresado por Eric Landowski9 cuando afirma que el único recurso
disponible para aquellos “que se niegan por principio a plantar sobre lo real cualquier esquema
de reconocimiento y de clasificación preestablecidos” es interrogar al objeto mismo para “sacar a
la luz” aquellos elementos que permiten “reconstruirlo” y “transformarlo en objeto de
conocimiento”.
Ahora bien, es indispensable no perder de vista otra exigencia que, desde nuestra
perspectiva, se impone al investigador en medios: el interés de avanzar hacía la búsqueda del
sentido del acontecimiento reside en la aspiración de lograr anticiparse, reconstruir su significado
posible, evaluar lo encontrado, volver a tomar posición y arriesgarse a proponer una interpretación
particular:“Al explicar lo que se dice o se representa, el proceso de interpretación trasciende el
dominio de la construcción simbólica: formula un significado probable y ofrece una versión que
puede ser arriesgada y estar abierta a la discusión”10.
La comprensión del quehacer del investigador en medios como la búsqueda de una especial
mirada sobre la sociedad y del diseño metodológico como la expresión operativa de su
posicionamiento crítico y creativo frente al acontecimiento, implica, como consecuencia, el
reconocimiento de la aspiración de contribuir a la construcción de visiones alternativas. Una
aspiración que, en definitiva, al orientar el proceso en su totalidad, lo complejiza pues tiende a
8
ibidem
LANDOWSKI Eric, “La mirada implicada”, Revista ANTHROPOS, 186, Proyecto A Ediciones, Barcelona,
septiembre-octubre 1999, P. 39
10
THOMPSON Jhon B. “La comunicación masiva y la cultura moderna. Contribución a una teoría crítica de la
ideología” Revista Versión. Estudios de comunicación y política, No. 1. Universidad Autónoma Metropolitana de
Xochimilco, México, octubre de 1991.
9
20
ajustar, cada vez con mayor precisión, el régimen de mirada, ampliando el nivel de exigencia de la
observación.
4. Implicaciones
Nuestra perspectiva, al admitir -con Michel de Certeau- la confusión entre verdad y
representación (pulsión óptica11), suscribe no solamente la necesaria toma de posición del
investigador frente al poder (la mediatización de la cultura12) sino la urgencia de asumir un
particular modo de visualización
(mirada semiótica13) redefiniendo, de paso, los objetivos
estratégicos de la investigación de tal manera que se privilegie una mirada que reconozca que la
potencialidad política de la noción de imaginarios sociales reside en su función estética.
Las afirmaciones anteriores subrayan, por último, una perspectiva cercana a lo expresado
por Landowski en “La Mirada implicada” (mencionada en párrafos anteriores):
“…la necesidad de asumir en el plano epistemológico, una posición también
‘compleja’ en la cual sujeto y objeto se interpenetran…Para nosotros, la
semiótica sería más bien, efectivamente, una especial mirada sobre las cosas:
una mirada que se quiere tanto más rigurosa cuando que quien mira (y
construye) sabe bien que en realidad sus pretendidos objetos no tienen
sentido, para él, más que en la medida en que él sabe reconocer allí sujetos
14
que, a su vez, lo miran.”
Las investigaciones desarrolladas en el marco de PROSUL, creemos, expresan un
posicionamiento (si se quiere político) frente al quehacer del investigador y la convicción de la
productividad de una intervención del investigador en medios apegada a los materiales, mediante
un diseño que reconozca la especificidad de la esfera mediática y que, por lo tanto, privilegie una
observación sistemática y contextualizada, susceptible de ser continuamente reformulada.
En síntesis, en el caso de las investigaciones sobre la representación mediática
mencionadas15 la configuración de nuestra particular forma de mirar implica:
“Comprender la recepción de los productos mediáticos como una actividad de
apropiación, autoaprendizaje y de autoformación…”
11
IMBERT Gérard. “Por una semiótica figurativa de los discursos sociales (Imágenes/Imaginarios de la
postmodernidad)” Revista ANTHROPOS, 186, Proyecto A Ediciones, Barcelona, septiembre-octubre 1999, P.75
12
CARRETERO PASÍN Ángel Enrique. “Imaginarios sociales y crítica ideológica. Una perspectiva para la
comprensión de la legitimación del orden social” Tesis de doctorado –Sociología y Ciencias Políticas. (texto inédito
suministrado por el autor).
13
IMBERT Gérard. “Por una semiótica figurativa de los discursos sociales (Imágenes/Imaginarios de la
postmodernidad)” Revista ANTHROPOS, 186, Proyecto A Ediciones, Barcelona, septiembre-octubre 1999, P.75
14
LANDOWSKI Eric, “La mirada implicada”, Revista ANTHROPOS, 186, Proyecto A Ediciones, Barcelona,
septiembre-octubre 1999, P.
15
QUIÑONES BEATRIZ. “Violencia colombiana y series de ficción televisiva de los noventas”(En imprenta).
21
“Admitir que la presencia de fisuras en la representación mediática pueden ser
interpretados como el síntoma de la existencia de espacios de resistencia…”
“Reconocer la presencia de públicos activos, potencialmente capaces de reformular la
realidad, es decir de imaginar posibilidades alternativas…”
“Declarar que la potencialidad política de la noción de imaginario social reside,
precisamente, en su función estética…”
5. Entre-redes
Debatir el quehacer del investigador en el marco de la red PROSUL (“Mediatización:
sociedad y sentido”) permitió, en última instancia, intercambiar el resultado de la experiencia de
los investigadores miembros, específicamente, alrededor de la manera como las visiones
particulares se expresaban en el nivel operatorio, es decir, sobre las consecuencias de asumir un
punto de vista epistemológico en el nivel de la práctica metodológica.
La reflexión entre redes permitió, al expresar la postura de cada investigador en los
diferentes encuentros organizados por PROSUL, profundizar –por contraste- en la comprensión de
las conexiones entre quehaceres, precisar las diferencias y, desde el punto de vista metodológico,
entender el sentido y la productividad que cada investigador le otorga al tipo de herramienta
utilizada en desarrollo de sus proyectos respectivos.
Al preparar el primer encuentro en Bogotá, coordinado por el Instituto de Estudios en
Comunicación y Cultura de la Universidad Nacional de Colombia, coincidimos en la pertinencia de
una reflexión sobre el proceso de construcción mediática de la realidad a partir de nuestras
investigaciones particulares y/o temas de interés en ese momento. Lo anterior nos permitió
reflexionar sobre medios e imaginarios, mediatización y discursividad contemporánea, campos y
dispositivos mediáticos, en fin, sobre “La mediatización y los procesos sociales en América
Latina”16
Esta coincidencia hizo posible que la red Prosul, en cada uno de los países miembros,
estableciera contactos, conexiones productivas, que hicieron madurar los trabajos de investigación
personales y, en nuestro caso, avanzar hacia la formulación de un programa de postgrado en
Comunicación y Medios cuyas líneas de investigación: Comunicación visual y Culturas
Mediáticas, garantizarán la continuidad del trabajo del nodo Colombia y estrechar la relación con
los colegas investigadores de Brasil, Uruguay y Argentina.
Bogotá, Octubre de 2008
16
Ver obra colectiva “Mediatizaçao e processos sociais na América Latina”. São Paulo: Paulus, 2008.
22
MUNDOS DE LA VIDA MEDIATIZADOS
Eduardo Andrés Vizer
Resúmen: Este trabajo se propone explorar las posibilidades de aplicación de un modelo de análisis
sociocomunicacional y un marco conceptual de dimensiones y categorías teóricas “sociosimbólicas”. La
intención es realizar una comparación entre los procesos de recepción televisiva y el uso de TIC’s -en
especial Internet-, aplicando las categorías teóricas que se presentarán. En una primera instancia expondré
un esquema (o modelo sociocomunicativo) intentando interpretar fenomenológicamente las relaciones entre
sentido y comunicación. Y en segunda instancia pretendo comparar el “funcionamiento” de ambos procesos
–de comunicación y de construcción de sentido- utilizando las categorías teóricas presentadas en un
contexto de relaciones “sujeto-televisión”, comparado con un contexto de relaciones “sujeto-internet”.
Palabras clave: mediatización; modelo de comunicación sociocomunicacional; construcciones de sentido;
comunicación y producción de sentido.
a)
Exploraré las posibilidades heurísticas de un esquema (o modelo de análisis)
tridimensional que he presentado en trabajos anteriores (Vizer
1983, 2003, 2007).
Mostraré una estrategia de análisis aplicando ciertas propiedades y dimensiones teóricas y
metodológicas del modelo propuesto, esperando aportar a un análisis mutidimensional
sobre los procesos de producción de sentido.
b)
Me propongo abordar un análisis comparativo entre la televisión e Internet
como diferentes formas de producción de sentido de acuerdo a tecnologías y contextos
comunicativos diferentes y comparados: en las relaciones cara a cara; en el contexto de
consumo televisivo, y en el contexto de uso de Internet.
Si bien la noción de sentido guarda una relación intrínseca con la de semiosis, el sentido no
debe reducirse teórica ni metodológicamente a las disciplinas semióticas (lingüística, semiología,
análisis del discurso). P. Charadeau afirma que “esta problemática de construcción de sentido
reposa simultáneamente sobre fenómenos de orden psicosocial (simbólica social e influencia), a
través de la construcción de “imaginarios sociales”, y sobre fenómenos de orden del lenguaje, ya
que estas construcciones dependen de su configuración discursiva” (p.5-25). Podemos
preguntarnos si efectivamente los fenómenos de orden psicosocial debieran reducirse estrictamente
a una “configuración discursiva” o si la capacidad de generar sentido va más allá del orden
discursivo. Hace falta producir un esquema teórico “sintético” que permita su modelización y
aplicación en estudios integrados (ni puramente psicosociales ni puramente semióticos). Esta
“modelización” deberá cubrir las perspectivas de un proceso transversal entre varias disciplinas, en
23
el sentido que Charadeau llama “interdisciplinaridad focalizada”. Este autor agrupa estas nociones
en pares: lenguaje y acción, estructura y sujeto, representaciones e identidades.
En realidad, Charadeau no nos presenta disciplinas, sino conjuntos diversos de problemas
que guardan una resonancia de familia fuerte con la noción de sentido. El objeto problema que
intentamos definir y trabajar se nutre de los aportes de los saberes producidos sobre los problemas
del lenguaje y de la acción social, del sujeto y de las determinaciones de las estructuras (ya sean
estas físicas, biológicas, sociales o psíquicas). Las investigaciones sobre comunicación y cultura se
han nutrido fundamentalmente de los problemas de construcción y defensa de las identidades y las
representaciones sociales, culturales, e imaginarias.
Desde el célebre texto de Berger y Lukhmann, (La construcción social de la realidad) las
concepciones constructivistas y las fenomenológicas implican el funcionamiento dinámico e
intencional del mundo psíquico (valorizando por ende los procesos de recepción).
1. Un modelo de comunicación tridimensional
En diferentes trabajos (1983, 2003, 2007), he presentado un modelo “sintético” que articule
diferentes dimensiones de la comunicación social como un emergente manifiesto de las múltiples
condiciones y expresiones de los procesos de construcción de sentido. Condiciones materiales,
sociales, psicológicas –cognitivas y emotivas-, culturales, técnicas, semióticas y hasta imaginarias.
El mundo de la vida como un mundo de universos de sentido.
En principio se pueden considerar tres dimensiones diferenciadas constituyentes de toda
acción de comunicación: referencial, inter-referencial y autoreferencial (Vizer 1983). La primera
como dispositivo de construcción discursiva de “realidades objetales” (los “contenidos” de lo que
se habla); la segunda como construcción de relaciones entre actores sociales que se “referencian” y
contextualizan mutuamente entre sí como agentes en situación (crean en común un contexto de
relaciones e interacciones sociales de interdependencia). Finalmente la tercera dimensión
(autoreferencial) alude a procesos eminentemente sociosubjetivos de conciencia del sí mismo
observado por un “otro”. Puede ser una auto-observación (más o menos reflexiva) de presentación
del sí mismo en sociedad. Las acciones, los gestos, las posturas, la voz y la vestimenta como
marcas del “yo” en tanto sujeto y actor social en el lenguaje y en la interacción (la “presencia” y la
imagen de la persona en tanto individuo ante la sociedad y ante sí mismo)” (Vizer, p.13).
Desde la perspectiva de un análisis estrictamente sociocomunicacional, la dimensión
referencial, generalmente expresada por medio del lenguaje, gestos, dibujos, uso de símbolos,
alude a los dispositivos de construcción discursiva y conciente de “representaciones objetales” (de
24
qué se habla). La segunda dimensión como un proceso de construcción del contexto común de
relaciones y vínculos entre agentes sociales (cuando se habla, se habla con alguien, con un
interlocutor que puede o no estar presente físicamente en la comunicación, como en el caso de la
comunicación mediada tecnológicamente: teléfono, e-mail, etc.). Es a esta dimensión que se alude
cuando se habla de la comunicación como “relación dialógica”, y prefiero el uso de la noción de
inter-referenciación a la noción clásica y empirista de “interacción”. Mientras esta última es
equivalente a la de “conectividad” cuando los ingenieros equiparan la sociedad mediatizada a una
red conectada, la primera acentúa la idea de un sujeto integral, como actor y como observadorobservado, como agente activo dentro de una relación de co-construcción de un habitus (Bourdieu)
cultivado y compartido.
Finalmente la tercera dimensión alude a un proceso de presentación del sí mismo en
sociedad, y como marcas de identidad –e identificación- de pertenencia a una organización, una
clase social, o una jerarquía. Es la construcción social de la persona en tanto sujeto y actor social
(quién es el que habla), ya que el reconocimiento social implica la re-presentación del sí mismo en
tanto sujeto social, o miembro de un colectivo social, como los actores y las jóvenes que dicen que
se “producen” a sí mismas cuando salen a la calle como los actores en el escenario ante un público.
A seguir, intentaré explorar como operan las dimensiones descriptas en este modelo de
“comunicación humana cara a cara”, en un contexto de recepción televisiva así como en el uso de
las TIC’s. Pero antes de hacerlo, quiero aclarar que al asumir una perspectiva subjetiva, desde la
posición del receptor, ésta perspectiva de análisis separa en forma explícita los procesos de
producción de los de consumo. La industria cultural está constituida por empresas económicas con
fines y lógicas económicas, tecnológicas y financieras. Para tener éxito comercial, en tanto su
producción exige consumo simbólico, en sus condiciones de producción debe presuponer
diferentes modelos de sujetos consumidores. Debe conocer tanto características socioculturales
como las reglas semiodiscursivas que emplean sus públicos.
2. Tecnologías y mediatización subjetiva
Intentaré explorar las posibilidades de “aplicar” el modelo para analizar lo que se ha dado
en llamar mediatización de las prácticas sociales.
Mostraré que los medios de comunicación y las (TIC’s) no rompen con las tres
dimensiones, sino que las mediatizan. Si bien utilizo la noción de “referencia” en un contexto de
prácticas sociales podemos argumentar que, siguiendo a Peirce: “las tres concepciones de la
referencia: a un fundamento, la referencia a un objeto y la referencia a un interpretante son las
25
fundamentales de al menos una ciencia universal, la de la lógica. Se dice que la lógica trata de las
segundas intenciones en cuanto aplicadas a las primeras” (1) (Peirce, 27. 2001). Así es que
podemos preguntarnos si no solamente en las relaciones interpersonales sino también en el uso de
la televisión y de Internet (y posiblemente de cualquier tecnología TIC) no se obedece también a
una lógica social y comunicacional compartida. En los procesos de comunicación y de formación
de sentido en contextos sociotécnicos (o en el uso de tecnologías de información y comunicación),
también se produce auto e interreferencia entre actores sociales, en tanto estos generan y
reproducen lógicas sociales y se hallan inevitablemente sujetos a la interpretación de segundas
intenciones, de búsqueda de claves de interpretación. La abducción es la esencia de los procesos de
interpretación y construcción de sentido en la comunicación y por ende en las relaciones sociales.
Ningún discurso ni menos aún las relaciones sociales pueden ser “transparentes”. En la vida
cotidiana operamos con una lógica de indicios, de inducciones débiles, de segundas intenciones (no
confundir con “malas” intenciones), de imaginarios, de lógicas inductivas o bien abductivas, y de
posibilidades abiertas. Tanto la función de la referencia como la inter-referencia operan en
cualquier relación de comunicación (ya sean mediadas tecnológicamente o no), y responden a una
lógica de construcción permanente y reflexiva sobre a) el “mundo de los objetos”, b) el mundo de
las relaciones interpersonales, y c) un mayor o menor grado de reflexividad intencional.
Los dispositivos expresivos de los medios tradicionales como la radio, el cine y la televisión
permitieron el desarrollo global de una expansión espacial de la tecnología y de los mundos
imaginarios. Estos mundos imaginarios se alimentaron de imágenes e íconos en movimiento como
nunca antes en la historia humana. En este sentido, podemos hablar de procesos de mediatización
tecnológica, marcando una revolución imaginaria en relación a medios anteriores como el libro, la
pintura o aún la fotografía. A esta expansión espacial de los medios audiovisuales, las TIC’s
agregaron la posibilidad de proyección del propio sujeto en nuevos espacios y tiempos (ahora
digitalizados y virtualizados). Las TIC’s revolucionaron la posibilidad de control del tiempo y la
multiplicación de los dispositivos de producción y acceso a la información (Internet como una
cyberbiblioteca que expande la dimensión referencial del texto a una dimensión cybereferencial).
Las TIC’s potenciaron y mediatizaron también los dispositivos de intercomunicación (como interreferenciación, o “interacción mediada por computador” en el e-mail, los chat’s y la convergencia
digital entre las redes y las múltiples terminales interconectadas).
Por último, las TIC’s permitieron la emergencia de nuevos dispositivos de expresión
autoreferencial (como los blogs, los diarios íntimos, las imágenes privadas volcadas a internet,
etc.). Hemos entrado entonces a un mundo de cyberinformación y cybercomunicación donde la
26
propia aceleración de la velocidad de la circulación de las palabras, los datos y las imágenes en la
Red, expande en forma cuantitativa y cualitativa la producción, la circulación y el consumo de
información, creando formas de valor y de sentido antes inexistentes. Otro tanto sucede con las
nuevas modalidades interactivas de intercomunicación y autoexpresión personal en el espacio
digital. Las tres dimensiones tienden a intermezclarse entre sí en los procesos de circulación dentro
de las nuevas ecologías virtuales, donde se articula la información con la intercomunicación y la
expresión personal. La mediatización instituye literalmente el “espíritu de época” de nuestra
cultura tecnológica. Objetiva nuevos imaginarios y (trans)subjetividades que –parafraseando a
Lacan- circulan entre “lo real, lo simbólico y lo imaginario”.
3. La televisión y la construcción mediatizada de la realidad
La televisión y el cine inventan historias, crean actores, construyen situaciones y las
dramatizan. La televisión cumple en el mundo actual la función de los trovadores y contadores de
historias (reproductores de la tradición en el mundo antiguo, los story tellers concebidos como
“stories we live by and stories we tell”, historias que vivimos e historias que contamos). Desde la
perspectiva que planteo aquí, podemos decir que en principio operan como un tipo de
comunicación tanto primaria como secundaria: construyen y presentan imágenes, sonidos y
paisajes “de fondo” sobre los que se resaltan los personajes y sus acciones. Hay efectivamente
figura y fondo, sin cuya distinción sería imposible para nosotros construir un reconocimiento de un
fondo y del rol y el juego de las figuras (o sea los actores). En este interjuego de señales y de
signos, de relaciones entre lo conocido y lo reconocible, vamos construyendo interpretaciones y
sentido; o sea, vamos recreando subjetivamente el sentido de la trama de una historia.
Recapitulando, la comunicación es un proceso “abierto” y creativo, una (auto)construcción
permanente y dinámica de autoreferenciación e interreferenciación entre seres humanos. Es la
creación significativa de nuestros mundos de la vida, en la forma de un cultivo social, simbólico e
imaginario, recreado actualmente dentro de contextos sociotécnicos (o sea mediatizados por
tecnologías de información y comunicación). La comunicación se puede concebir dentro de esta
perspectiva, como un proceso integral de movilización dinámica y expresiva de la acción humana
(actos, gestos, palabras, rituales, miradas, vestimenta, etc.). La comunicación como reconstrucción
temporal del sujeto en un proceso a dos puntas: de afirmación vital y autoreferente del si mismo y
la propia existencia, a la par de la necesidad absolutamente imperiosa de recurrir al Otro que
confirma la certeza de la realidad”, de “ser y estar en el mundo”. Esta confirmación del “yo”
autoreferencial (conciencia de si) para si mismo, solo puede darse a través de una relación
27
interreferencial con el Otro (la mirada, la palabra, el gesto, el abrazo y a veces hasta la violencia de
un otro que nos llena de inquietud o hasta miedo por la subsistencia de nuestra propia temporalidad
amenazada súbitamente y puesta en peligro).
Mediatización
pasiva
versus
mediatización
activa.
Comunicación
humana.
Mediatización televisiva y mediatización digital
Ahora estamos en condiciones de “aplicar” las reflexiones anteriores a fin de hacer una
comparación entre la comunicación humana no mediatizada por tecnologías, y los procesos de
comunicación tecnológicamente mediatizados, en especial entre la televisión e Internet.
4. Comunicación humana no mediatizada
Comienzo por aclarar que una de las dificultades se halla en definir la frontera entre un
proceso mediatizado de uno que no lo es. Si se utiliza a nuestro cuerpo como medio de
comunicación, el cuerpo humano pasa a ser el soporte de la comunicación y el sentido (como en la
danza, el teatro, las prácticas rituales o la moda). De modo que debemos establecer una frontera
arbitraria, que en principio estableceré en el uso de tecnologías en contextos de interfase hombre
máquina.
La fuente y el proceso fundamental del “cultivo” de la vida en sociedad se encuentra
expresada en las tres dimensiones de los procesos de comunicación. La categoría referencial remite
al mundo de los objetos, de lo Otro. La categoría inter-referencial remite al mundo de los Otros, de
los intercambios, de la emergencia de lo social (no confundir con la sociedad que es un concepto
abstracto). Por último, la categoría o dimensión auto-referencial remite al sujeto, al sujeto como
centro de referencia en relación al mundo, a los otros, al contexto que cada uno de nosotros cultiva
como un mundo de la vida propio (subjetividad, conciencia, sentido, etc.).
Este esquema –o modelo- de comunicación, solo tiene sentido dentro de contextos y lógicas
que podemos llamar sociocomunicacionales. Toman existencia en relación dialéctica con espacios
(tanto físicos como simbólicos), con diferentes escalas de tiempo, con las redes de vínculos que los
seres humanos cultivamos. Toman existencia con el mundo de la cultura y las formas simbólicas, y
también con el macro mundo social y las instituciones en que estamos insertos y con las diferentes
formas y escalas de ejercicio del poder (macro y micro poderes).
Por último, incluyo como instrumentos de análisis dos categorías complementarias de
relaciones: a) técnicas (instrumentales) y b) de sentido. (“Modelización del conocimiento social: la
comunicación como estrategia de apropiación expresiva de los mundos sociales”. Vizer, Famecos
28
2007). Estas dos categorías de análisis cobran enorme relevancia en los procesos de comunicación
mediatizada, ya que la información y los procesos técnicos exigen la creación y el dominio de
técnicas y dispositivos instrumentales y operativos. En cambio las relaciones de sentido solo se
construyen a partir de la capacidad de interpretar los dispositivos, los códigos y lenguajes de los
soportes técnicos de cada medio en particular (cine, televisión, celular, computadora, etc.). Es a la
universalización de estos procesos a lo que denominamos mediatización social.
5. Comunicación mediada por televisión (analógica o digital)
Que diferencia la “comunicación humana” de la comunicación por tele-visión ? Que tiene
de específico el “uso de tecnologías en contextos de interfase hombre máquina”?
En primer lugar hay que considerar el desarrollo histórico y omnipresente de la Cultura
Tecnológica (Vizer 1983, 2003, 2007), en especial de los medios de comunicación y las TIC’s. El
estado, la sociedad, las organizaciones y las relaciones sociales se hacen absolutamente
dependientes de la construcción de dispositivos de interfase inteligentes (sistemas expertos de
procesamiento de la información). Cuatro siglos después de la imprenta, los medios de
comunicación del siglo XX revolucionaron la sociedad y la cultura al crear los primeros
dispositivos masivos de interfase dinámicos (capaces de imitar técnicamente tiempos y espacios en
movimiento). La ilusión de realidad se instaló como una nueva realidad de la Cultura
Tecnológica. Y esta ilusión modificó las formas de percepción humana, tanto a nivel colectivo
como individual. Los medios de comunicación audiovisuales (en primer lugar la televisión)
potenciaron las capacidades perceptivas de ser humano, instalando nuevas formas de a-percibir el
espacio y el tiempo en ilusión de movimiento (el movimiento se construye en nuestra mentes al
organizar los estímulos que provienen de nuestros sentidos).
Que pasa ahora con nuestro modelo de comunicación? En primer lugar podemos notar que
el proceso referencial es absolutamente hegemónico, y coincide con el producto mensajemediático que estamos percibiendo (un film, un noticiero o una novela). El proceso de
referenciación se construye a través de lenguajes icónicos y sonoros que “construyen” a través de
indicios (2), una simulación de espacios físicos (horizonte, sol, luna, casa, etc.). Una simulación del
tiempo, de personajes y situaciones arquetípicas reconocibles, de gestos, de acciones y rituales, de
signos y de símbolos.
Para dar “sentido” y verosimilitud a lo que observamos como televidentes, generalmente
“trasladamos” (o bien proyectamos) nuestras categorías perceptivas de la vida real (como el ícono
“reloj” representando “tiempo”, índices sonoros que se asocian a voces humanas, a truenos, al
29
agua). Las categorías de la vida cotidiana son inconscientemente “aplicadas” a las situaciones que
nos presentan las escenas de televisión o el cine, porque es el modo “natural” de organizar las
percepciones del mundo en que hemos sido socializados durante generaciones. Este proceso de
inteligibilidad ancestral del mundo de la vida es el que se ve amenazado en las jóvenes
generaciones que viven “plugged” (enchufados) al computador y a sus dispositivos y lógicas
operativas desde la primera infancia (este será el tema del próximo punto a tratar). Volviendo a la
televisión, descubrimos que para llegar a asombrarnos, para imaginar, para entender, para llorar y
reír, lo hacemos solo porque hemos proyectado en la pantalla (en sus imágenes y en sus sonidos),
las categorías de a-percepción del mundo de la vida: espacios, contextos, situaciones humanas,
personajes, símbolos y emociones que hemos experimentado en uno u otro momento de la vida.
El mensaje televisivo exige e impacta sobre nuestros procesos de auto-referenciación
subjetiva. Es como si inconscientemente el teleespectador imaginara que los actores y las
situaciones fueran presentadas “para mí”. Tanto los actores como los presentadores de televisión
utilizan este “efecto imaginario” de subjetivación de manera totalmente profesional y conciente.
Este efecto se monta sobre una simulación de inter-referenciación con el espectador. Un efecto de
diálogo simulado:“le estoy hablando a usted, míreme, escúcheme, hablo con mi boca, con mis
gestos, mis ojos y hasta con mis manos.. no deje de hacerlo, no cambie de canal”. Ningún
profesional de la televisión lo dice con palabras. Pero lo hace de mil maneras, con signos y señales
que aprendió en el oficio.
La televisión es antidialógica. Desarrolla dispositivos referenciales y auto-referenciales, y
solo consigue enganchar nuestro interés cuando es capaz de generar la ilusión de interreferencialidad. Pero es un diálogo entre dos autistas: el que está “detrás” de la pantalla y el que
está frente a la pantalla. La tecnología opera como mediación entre ambos. Las otras categorías que
presenté (construcción de tiempos, espacios, vínculos, relaciones de poder, imágenes y símbolos
culturales), operan semióticamente como dispositivos capaces de generar inteligibilidad y
verosimilitud. Como efectos del discurso audiovisual. En este sentido, hay una realidad semiótica
real, sobre la que se monta un proceso psicosocial, de naturaleza abductiva, autoreferente y
subjetiva. Un mundo imaginario de la vida.
6. Comunicación mediada por Internet (absolutamente digital)
La descripción hecha anteriormente corresponde en forma específica a la tradicional
televisión analógica. La televisión digital gradualmente irá mudando aspectos de este proceso,
porque la digitalización genera paradigmas y dispositivos de permutación entre objetos “reales” y
30
su formulación matemática digitalizada. Algunos argumentarán que se trata de nuevas
“realidades”, y los mas críticos dirán que se trata de realidades totalmente artificiales.
Veamos ahora que sucede con nuestras tres dimensiones del modelo en el Laberinto de los
hipertextos y los hipermedia que se construye en Internet. En primer lugar, nuestras tres
dimensiones se recuperan y potencian cuando se compara Internet con los medios audiovisuales
clásicos como la televisión. En la televisión el proceso de mediatización exige el divorcio material
entre el medio y el receptor: el programa ha sido elaborado como un producto a ser consumido en
forma físicamente pasiva. El procesamiento perceptivo e interpretativo se realiza a través de los
sentidos y la interpretación subjetiva del televidente. El proceso subjetivo se realimenta con una
interreferenciación imaginaria con el equipo (como ser miembro de y participar del juego con el
equipo de nuestros sueños). Esto se percibe claramente tanto en los estadios deportivos como frente
a la pantalla de televisión, a través de los gestos, los gritos de aliento a los jugadores.
El proceso de referenciación coincide con una realidad virtual, donde todo se ve y todo se
oye por cualquiera de los jugadores o partícipes de una red establecida por acuerdo mutuo. Las
TIC’s han logrado una auténtica y revolucionaria
mediatización de las relaciones sociales.
Respecto a las categorías diferenciadas entre proceso técnico y proceso de sentido, vemos que los
dispositivos técnicos y operativos han tomado un lugar preponderante, y el proceso de construcción
de sentido depende del uso de los códigos y lenguajes operativos apropiados y compartidos (o sea
el manejo de códigos, lenguajes y operaciones aprendidas). La Cultura Tecnológica se ha asentado
como un sistema de relaciones sociales hegemónicas.
Conclusiones
Comencé este trabajo mencionando los argumentos de Charadeau sobre la necesidad de
tomar en cuenta tanto los aspectos psicosociales como los semiodiscursivos. Es importante hacer
notar
que el concepto de autoreferencia señala fundamentalmente a los procesos psíquicos,
mientras el de inter-referencia (evitando la noción empirista de interacción) apunta a los aspectos
del contexto y el intercambio social, la comunicación dialógica, la construcción del yo (ego) en
relación al Otro. Por fin, el concepto de referencia implica la materia (textual, icónica, audiovisual)
y a los procesos semióticos que acompañan su interpretación.
El proceso de convergencia creciente entre las TIC’s puede devolver parte de la magia de
los “mundos perdidos” de la infancia, con sus héroes y sus monstruos de cuento. Para finalizar,
retomando el esquema tridimensional de la comunicación y los conceptos teóricos sobre las
diferentes dimensiones –o categorías- sociocomunicativas de la vida social, podemos afirmar que
31
cada medio que históricamente se ha ido instalando en la sociedad (escritura, fotografía, imágenes
en movimiento, televisión y ahora las TIC’s), modifica y recrea la forma de existencia de las
categorías sociosimbólicas de construcción del mundo de la vida. Se transforman y recrean
nuestros sentidos, la percepción y las posibilidades de acción e intervención sobre las relaciones
espaciales y temporales, las formas de relación y vínculo social, las formas de generar y reconocer
nuevos lenguajes y símbolos, los dispositivos de ejercicio y control del poder en las instituciones y
los sistemas sociales. Podemos reconocer finalmente que Mac Luhan no estaba tan errado.
***
(1) “Tenemos allí la primeridad, que es la cualidad que se percibe; la segundidad, que es
la substancia individual a la que es inherente esa cualidad, y la terceridad, que es la relación que
se puede establecer entre esa substancia y otros sujetos de inherencia”( M. G. Murphey, pp. 7778, citado por Mauricio Beuchot, Razón y Palabra Número 21. Febrero 2001).
Si el “procesamiento” mental de la información presupone operaciones cognitivas asociadas
a una lógica inductiva/deductiva, el proceso de comunicación presenta asociaciones estrechas con
una construcción perceptiva indicial y una “lógica” abductiva que “construye imaginariamente” el
sentido de una frase, una imagen o una situación, a partir de señales que cumplen la función de
índices de un objeto o de un contexto, permitiendo así un proceso de interpretación y adjudicación
de sentido. La hipótesis que sostengo aquí es que la comunicación, en tanto proceso de
construcción de sentido, se constituye en base a una conjunción de procesos tanto corporales como
cognitivos y afectivos. La vida psíquica mas elaborada se manifiesta sobre todo en un orden
simbólico e imaginario, que en relación a los procesos mediáticos tiende a proyectar e introyectar
de la pantalla y hacia la pantalla, formas de construcción de sentido culturalmente establecidas. Las
operaciones intelectuales (como lógicas perceptivas y de interpretación cognitiva) se asientan en
dispositivos simbólicos e imaginarios de interpretación de índices relacionados entre sí, y de
procesos de abducción e iconicidad, no solamente “racionales” sino emotivos, alimentados por la
percepción y aún las sensaciones y la memoria corporal (o sea, en base a procesos de “primeridad”
para Peirce, mientras que la creencia mas generalizada asume el “sentido” como un proceso casi
puramente mental y del orden de la “terceridad” Peirceana).
(2) El indicio se basa en una relación diádica existencial en que “la relación existencial no
puede ser definida. Es existente en cuanto a que su ser no consiste en cualidades, sino en sus
32
efectos – en su realmente actuar y ser actuado, en la medida que esta acción dure” .Y “qué es un
índice, o verdadero síntoma ? (Peirce CP 6.318, y CP 2.338,); mencionado por Fernando Andacht
en “Representación televisiva de lo real y la semiótica triádica de Peirce”. Instituto de Estudios en
Comunicación y Cultura – IECO. Univ. Nacional de Colombia (compil.). “Proyectar
imaginarios”. Edit. IECO Soc. Cultural la Balsa S.A. 2006.
Referencias
CAPPARELLI, Sérgio & LONGHI, Raquel. Ficção em hipertexto: entre Gertrude Stein e Chico Xavier. In:
Tendências na Comunicação. N2. Porto Alegre: L&PM/RBS, 1999.
CHARAUDEAU, Patrick. Le discours d’information médiatique. La construction du miroir social. Paris:
Nathan, 1997. p.5-25
MANOVICH, Lev. El lenguaje de los nuevos medios de comunicación. La imagen en la era digital.
Comunicación 163. Buenos Aires: Paidos, 2006.
MIÈGE, Bernard. O pensamento comunicacional. Petrópolis: Vozes, 2000.
PEIRCE, C. S. Citado por Mauricio Beuchot. In: Razón y Palabra. N21. Febrero, 2001.
_____. Principles of Philosophy. On a New List of Categories [27] (1867 y 1893). In: CP, 1.559.
SCHNITMAN, D.F. (comp.) Nuevos Paradigmas Cultura y Subjetividad. Ponencias y diálogos. Enc.
Interdisciplin. del mismo nombre. Buenos Aires: Paidos, 1994.
TURKLE, Sherry; PAPERT, S. Epistemological Pluralism: styles and voices within the computer culture.
MIT, Boston, Massachussets: Documento, 1992.
VIZER, Eduardo. La trama (in)visible de la vida social: comunicación, sentido y realidad. 2ed. Buenos
Aires: La Crujía, 2006.
_____. El Modelo Actor-Observador y el desarrollo de una perspectiva comunicacional. (Compilac.
Iberoamericana en Teorías de la Com.) Univ. de Guadalajara, y Asoc. Latinoam. de Investigadores de la
Com. (ALAIC). México, 1994. ISBN 968-895-577-9
_____. Comunicación, trabajo y subjetividad. Notas sobre economía política y comunicación en el
capitalismo informacional. In: Perspectiva Latinoamericana. N1. Public. de la Asociación
Latinoamericana de Científicos Sociales, 2007. www.perspectivalatina.com.ar.
_____. Modelización del conocimiento social: la comunicación como estrategia de apropiación expresiva de
los mundos sociales. Proposiciones para un Programa de Investigación sociocomunicacional. In:
Famecos. N32. abril/maio. Porto Alegre: PUCRS, 2007.
_____. Interfases y líneas de investigación entre procesos sociales y procesos de comunicación. In:
Cenários, teorías e epistemologías da Comunicação, Jairo Ferreira (org.). Rio de Janeiro: E-papers,
2007.
33
EL TERRITORIO COMO MEDIATIZADOR EN PROCESOS DE
DESARROLLO LOCAL
Eduardo Rebollo
Resumen: En este artículo se reflexiona sobre el rol mediatizador de un territorio en un proceso de
desarrollo local. Se parte del concepto de desarrollo local como modelo y de cómo lo territorial incide en un
proceso de generación de riqueza genuina y sostenible para una localidad. Se investigan los actores
socio/territoriales locales y las categorías con las que un lugar puede lograr una imagen reputada y
competitiva para convocar públicos que contribuyan a la mejora de la calidad de vida del lugar. Se intenta
mostrar la potencialidad mediatizadora del territorio para que el mismo pueda convertirse en sujeto y
centralidad en el proceso de desarrollo. Mediar adecuadamente opera como oportunidad en una coyuntura
en que es imperativo ser creativos en el diseño de dinámicas sociales y económicas.
Palabras clave: territorio, mediatización, desarrollo local, imagen del territorio
Presentación
Este trabajo plantea una reflexión en torno a la gestión de la imagen de marca de un
territorio y su utilidad en un proceso de desarrollo local. Conceptualmente lo “local” se vincula a la
territorialidad, pero más que un espacio en el que ocurren las cosas, consideramos que el territorio
es un significante textual cuyas representaciones en los imaginarios colectivos van a ser en gran
medida determinantes en dicho proceso de desarrollo.
Nos proponemos analizar aquí los mecanismos mediante los que un lugar logra percepción
positiva, reputación y un posicionamiento deseado en el imaginario de públicos. El objetivo de
estas acciones es mediar entre actores intra y extraterritoriales de forma de lograr y posicionar el
territorio como un lugar de oportunidades para la captación de públicos inversores, visitantes o
nuevos residentes.
La inquietud que subyace a estos propósitos es que una vez superados algunos de los temas
fundamentales internos de una localidad – como la articulación de actores para abordar
conjuntamente las problemáticas locales; la generación de un ámbito de debate para el tratamiento
colectivo de asuntos; el alcance de consensos sobre el futuro deseado para la localidad etc. – el
territorio se encuentre encerrado en sí mismo, con escasos vínculos con el entorno o sin las
interacciones necesarias para la negociación y generación de riqueza local.
Esto supone explorar los procesos de gestión para la creación, mantenimiento,
consolidación o modificación de la imagen territorial e implica estudiar los mecanismos que
permiten incidir sobre los elementos que la conforman, así como analizar sus funciones y alcances.
34
Estos asuntos centran los propósitos del artículo, que desde la perspectiva de la comunicación
social, busca contribuir conceptualmente en el debate de mediación y desarrollo social.
1. Distintos enfoques sobre el desarrollo
La historia del desarrollo evidencia constantes cambios de enfoque en los que según
momentos y circunstancias, se han colocado acentos sobre diferentes protagonistas y roles. Frente
al modelo de desarrollo característico de la segunda posguerra, donde se buscaba atraer empresas e
inversionistas externos y se ideaban sistemas y alianzas de cooperación internacional para
favorecer el progreso y el crecimiento, a partir de los años setenta se abrió paso a nuevas políticas
de desarrollo que revaloraron el potencial endógeno y resaltaron el papel del territorio como algo
más que un soporte de actividades económicas inconexas.
La idea de desarrollo como un camino único perdió sentido y “en esta nueva mirada hacia
la problemática del desarrollo, las tendencias a la descentralización y a la valoración de la
iniciativa local han cobrado una fuerza especial.”17 Así, en medio de un ámbito de crisis, en los
finales de los años setenta comenzó a hablarse de “desarrollo local” basado en el concepto de “la
iniciativa local”. Volvió a cobrar valor la pequeña dimensión y hasta “cierta ideología de lo
pequeño y lo local sustituyó las viejas creencias en las macrodinámicas, en los grandes proyectos,
en los gigantescos polos industriales” 18
Lo local tomó fuerza en relación a espacios con identidades culturales definidas y hasta se
volvió difícil, si no imposible, pensar en claves de desarrollo económico al margen de la categoría
de lo cultural. Las iniciativas individuales y colectivas cobraron valor en la creación de pequeñas
empresas que impulsaron proyectos innovadores y dinamizaron los tejidos socioeconómicos
locales. Así, se volvió inevitable referirse a sociedades locales, concepto que, según Arocena
(2001), sólo puede aplicarse si existen condiciones mínimas imprescindibles que se expresan en
dos niveles: el de lo socioeconómico y el de lo cultural.
En los años ochenta los procesos de descentralización y desarrollo local comenzaron a
instalarse en la escena para aportar nuevas miradas y formas originales de entender aquellos
procesos. El desarrollo endógeno como estrategia se transformó en un proyecto activo de
desarrollo local en la medida que los gobiernos locales fueron incorporando funciones de diseño y
ejecución de políticas de largo aliento para resolver sus problemas y protegerse de los cambios
ocurridos a escala planetaria.
17
18
El desarrollo local: un desafío contemporáneo. José Arocena. Ed. Taurus, Montevideo, 2001, pág. 18.
Op. cit. pág. 20
35
La propuesta del modo de desarrollo local no surgió entonces como producto de un cambio
de estrategia de los estados, sino como consecuencia de las medidas de algunos gobiernos locales y
regionales que optaron por intervenir en su definición ante los cambios operados en el contexto. La
identidad del territorio cobró protagonismo como diferencial básico con capacidad mediadora para
generar conciencia de que sus propias singularidades pueden ser elementos de gran potencialidad
para tomar medidas con que alcanzar las mejoras pretendidas.
2. Desarrollo local y mediación territorial
Los factores básicos de esta forma de entender el rol del territorio no son sólo materiales ni
se refieren a aspectos puramente económicos19, sino que parte de su centralidad está ocupada por
ejemplo, por asegurar la sostenibilidad de los emprendimientos, los asuntos medioambientales,
sociales, culturales, temas en los que la innovación y el aporte de las nuevas tecnologías juegan
roles fundamentales. La idea es que cada territorio cuenta con atributos que, puestos en valor,
resultan esenciales en la articulación de un proceso de crecimiento, de transformación económica
local y de mejora de las condiciones de vida de sus habitantes (Hernando, M., 2007).
Los distintos aspectos de los procesos de mediación intra y extraterritoriales a que nos
referimos, existen en forma material e inmaterial, por lo que se componen de asuntos simbólicos,
tangibles e intangibles. En un lugar se pueden hacer exenciones tributarias por ejemplo, pero el
territorio también conforma imágenes, constructos mentales entre quienes se vinculan con él en
tanto espacio de mediación.
Las imágenes son resultado de las influencias recíprocas ocurridas entre el medio ambiente
y el observador. Así el medio ambiente proporciona relaciones y distinciones en tanto el
observador incluye, excluye y jerarquiza lo que observa desde sus conocimientos e intereses. De
modo que cada cual crea sus propios significados, lo que hace que la imagen de un “realidad”
territorial cambie de un sujeto a otro.
Un fenómeno que es potenciado por la globalización y por el ritmo acelerado de los
cambios tecnológicos y económicos, las fortalezas y atributos de una localidad pueden dejar de
serlo en poco tiempo y ello obligará a modificar rumbos. El territorio es cada vez más un escenario
inestable y ello obliga lleva a ser cautos con los diagnósticos y las medidas que se propongan.
19
“La propuesta de desarrollo local implica necesariamente considerar múltiples dimensiones interactuando en un territorio:
económicas, sociales políticas, institucionales y cultural-identitarias. Son dimensiones que se condicionan mutuamente. Si bien sin
desarrollo económico local no puede haber desarrollo, no estamos subrayado lo económico como única variable interviniente.”
Javier Marsiglia y Graciela Pintos, La construcción del desarrollo como desafío metodológico, en Desarrollo local en la
globalización, Javier Marsiglia compilador. Ed. Claeh, Montevideo 1999.
36
Lo experimentado en diversos lugares permite considerar las relaciones entre territorio y
desarrollo local y sacar partido a asuntos que hasta hace poco no habían sido tenidos en cuenta
suficientemente. Un marco teórico multidisciplinario amplio va a permitir analizar y comprender
cuestiones presentes en cualquier región y que muestran los vínculos entre lo territorial como
medio de comunicación social en un proyecto de desarrollo local. Según B. Kosacoff (2004) existe
“una dimensión poco explorada en el medio académico
local dedicado a la gestión metropolitana…. Los estudios
basados en la imagen de la ciudad no ocuparon el espacio
que merecían si se los compara con el lugar al que accedían
otros factores de la competitividad territorial. (…) las
experiencias acumuladas en las últimas décadas reclaman
la generación de marcos conceptuales con fuerte vocación
transdiciplinaria que evidencien la complejidad estructural
y vivencial de las ciudades (…). En el contexto de una
economía cada vez más globalizada, las ciudades y las
regiones se están convirtiendo de forma creciente en agentes
decisivos del desarrollo económico” 20
3. El territorio media
Nos encontramos ante un nuevo escenario socioeconómico donde el territorio se revela
como mucho más que un espacio geográfico, donde adquiere un papel fundamental en una
estrategia para el desarrollo local sostenible. Es preciso diseñar políticas innovadoras y que los
atributos del lugar sean productos útiles a un plan estratégico.
Los territorios, igual que las empresas y organizaciones, compiten cada vez más por
convocar públicos que emprendan algún tipo de negociación con el lugar. G. Fernández y G. Leva
(2004) señalan al respecto que “existe un mercado global de capitales al que las ciudades tienen
que acceder y la forma de hacerlo es potenciando sus ventajas competitivas.” 21
Aunque hay algunas tendencias promisorias, lo cierto es que la conciencia de los gobiernos
locales no está aún lo suficientemente desarrollada como para encarar políticas al respecto. Se trata
de diseñar mecanismos que permitan trabajar sobre el posicionamiento del territorio como
mediador entre ofertas y demandas, pero trascendiendo lo puramente mercantil para centrarse en
aspectos del desarrollo social.
20
Lecturas de economía, gestión y ciudad. Bernardo Kosacoff, pág. 10, Ed. Universidad Nacional de Quilmas, Buenos Aires, 2004.
Lecturas de economía, gestión y ciudad. Gabriel Fernández y Germán Leva, pág. 15, Ed. Universidad Nacional de Quilmes,
Buenos Aires, 2004.
21
37
4. Las localidades y su entorno
Los estados latinoamericanos de fuerte impronta centralista tuvieron hasta hace poco
modelos con una visión y un enfoque para la gestión de su territorio acorde con sus modos de
entenderse como organizaciones. Pero si miramos esa realidad hoy, vemos que eso está proceso de
cambio. Muchas localidades (aunque en términos cuantitativos las cifras son todavía irrelevantes)
repiensan sus políticas e intervienen más directamente en la administración y el diseño de planes
para la generación de riqueza. Aparecen nuevas maneras de gobernabilidad y agendas con nuevos
contenidos.
Algunos gobiernos locales descubren la importancia y el valor de los territorios para
encontrar y explotar su competitividad. Buscan crear o realzar una imagen territorial reputada para
proyectarse a nivel regional, nacional e internacional. Esto hace que en los proyectos de gestión de
esos lugares se conciba a las localidades de manera parecida a que un empresario puede entender a
sus empresa.
El territorio debe atraer capitales y conseguir públicos para sus productos y servicios. Una
ciudad se puede promocionar y posicionar. En tanto hoy asistimos a una suerte de saturación de
ofertas de lugares para visitar, habitar, invertir e infinidad de productos y servicios, en medio de
una explosión de canales en los que se apela a los públicos con promesas que hacen imposible que
la gente pueda comprender las diferencias entre todo lo que está disponible, se diseñan estrategias
para aprovechar estas tendencias.
Como cada vez es más difícil distinguir los atributos y ventajas objetivas de lo que se
promete,
la imagen de los sujetos productores, lugares y condiciones de producción se ha
transformado en una enorme oportunidad de diferenciación que oficia como diferencial clave en el
momento en que los consumidores tienen que elegir. El territorio ha pasado a ser un sujeto y un
pilar que respalda a productos y servicios y esto está haciendo desplazar los acentos que antes se
colocaban sobre productos y servicios hacia los contextos y maneras de producir.
5. Imagen del territorio como medio de comunicación
La imagen22 es una representación virtual que un sujeto construye en su mente a partir de
estímulos y señales que genera y emite otro. Así, es una construcción mental, una idea, que como
tal es intangible. Los estímulos que la conforman surgen de acciones voluntarias e involuntarias y
22
La imagen de una localidad es un conjunto de ideas y convicciones que un individuo se crea sobre cómo es un lugar, a partir de
experiencias propias o de otras transmitidas por terceros. La importancia de esto es que es en base a esas convicciones que se toman
decisiones y se actúa.
38
cualquier territorio está siempre generando y enviando mensajes a quienes de algún modo se
vinculan con él.
La imagen de un territorio surge de experiencias propias, in situ; a través de lecturas;
informaciones o de lo que otros cuentan. Atributos, singularidades geográficas, formas de relación
humana… pero también de la forma en que sus habitantes se perciben a sí mismos, de cómo se
autovaloran; de la manera en que tratan a otros; de lo que dice su cultura, que se refleja en sus
pensamientos, sentimientos y formas de comportamiento. Así, de un territorio surgen mensajes a
partir de elementos tangibles e intangibles. Datos materiales y simbólicos que deliberadamente o
de forma involuntaria, dan pistas para que en procesos individuales, cada cual construya su imagen
del territorio.
Como se crea a partir de las variables referidas antes (lo visual, lo cultural y lo
comunicacional) es posible incidir sobre ellas y alterarlas. Para ello se debe considerar que esas
variables son factores de carácter recursivo, parte de una trama constitutiva de un sistema donde si
se modifica una, se afectará directa o indirectamente a las demás con lo que mediante la alteración
se estará generando una nueva trama que transformará la percepción general del territorio.23
6. Posicionamiento del territorio
Un territorio que intente captar públicos, compite en una lógica de mercado de territorios,
igual que un producto o servicio. En tanto los mercados de hoy están en permanente
transformación, hay que plantear procesos de planificación estratégicos con visión prospectiva24.
Eso puede contribuir a evitar acciones por reacción ante situaciones complejas o de crisis.
En momentos de proliferación de productos y servicios, como los actuales, cuando para los
consumidores se vuelve difícil diferenciar entre propuestas casi idénticas, los sujetos, los
escenarios y las condiciones de producción se han vuelto una oportunidad para las localidades. La
atención que antes se ponía sobre las características de los productos, se ha trasladado a los sujetos
23
Estos conceptos que muy sintéticamente aparecen aquí, nos sitúan ante dos líneas metodológicas que están presentes en todo este
trabajo: la perspectiva sistémica propuesta por Von Bertalanffy y la teoría de la complejidad desarrollada por E. Morin. Para ampliar
perspectivas puede consultarse Teoría general de los sistemas: fundamentos, desarrollo, aplicaciones, Ludwing von Bertalanffy, Ed.
Fondo de la Cultura Económica, Buenos Aires, 2007; Introducción al pensamiento complejo. Edgar Morin, Ed. Gedisa, Barcelona,
2001.
24
En “Prospectiva y planificación estratégica”, Michel Godet (1991), sostiene que la prospectiva es una reflexión para planificar
acciones. No es futurología ni simple previsión. Ante la incertidumbre y los cambios bruscos de cualquier tendencia, la prospectiva
razona sobre los escenarios más probables, considerando variables cuanti y cualitativas. Así, es preciso considerar la aparición de
nuevas tendencias y la evolución de las coyunturas dominantes trascendiendo las tentaciones de trazar extrapolaciones simples. El
futuro depende de circunstancias y la interacción de actores diversos. Es plural y múltiple y resultará de un cierto grado de
determinismo y mucho de la libertad de imaginarlo desde el presente. Este apunte parece fundamental si se consideran los
diagnósticos simplistas realizados con frecuencia y que llevan a conclusiones circunstanciales o erróneas.
39
y lugares donde se producen (J.F. Valls: 1992). Aquí es donde lo territorial actúa como un medio
de valor.
Como aquí indagamos en torno a las relaciones entre un lugar y las respuestas de los
públicos, vale la pena señalar otros asuntos apuntados por otros autores. K. Lynch (2006) se refiere
a la transmisibilidad de impresiones y otras maneras de hacer promoción de imagen. Sostiene el
autor:
“(…) la imagen debe ser comunicable en cierta medida a
otros individuos. La importancia relativa de estos criterios de
imagen ‘buena’ variará en los casos de diferentes personas en
diferentes situaciones; uno apreciará un sistema económico y
suficiente en tanto que otro preferirá un sistema de extremos
abierto y comunicable”25.
A su vez, K. Lynch introduce el concepto de imaginabilidad, como cualidad de un objeto
físico para suscitar una imagen vigorosa en cualquier observador. Ello ocurre porque el autor
centra su búsqueda en las cualidades físicas que se relacionan con los atributos de la identidad
visual y la estructura de la imagen mental.
A ese fenómeno de “imaginabilidad” podría dársele el nombre de legibilidad – que de cara
a las necesidades de una localidad es útil ya que en ella no sólo es posible ver los objetos sino que
se hace necesario apreciarlos con todos los demás sentidos. Según Valls (1992), el territorio ofrece
un soporte adicional a lo que se produce en sus organizaciones o instituciones, en tanto los dota de
“un soporte estable de alta sensibilidad, cual es la imagen
de marca del país, la imagen de marca de la ciudad. De
otra forma, la infinidad de productos, de sectores, de
servicios, de ideas corren el riesgo de perderse en medio
de la jungla comunicativa. La marca de país, a modo de
paraguas, los personaliza, los identifica.” 26
En La imagen de la ciudad, Kevin Lynch (2006) se refiere a la imagen de un lugar, habla de
“identidad, estructura y significado” y sostiene que la relación del objeto (territorio) con el
observador tiene consecuencias emotivas y prácticas. A partir de los conceptos y de las emociones
generadas por un sujeto mediador sobre otro, se toman decisiones y se determinan diversos efectos
conductuales.
25
La imagen de la ciudad. Kevin Lynch, The Massachussets Institute of Technology, Cambridge, Massachussets. Para
la versión castellana, Editorial Gustavo Gili, p. 19. Barcelona, 2006.
26
La imagen de marca de los países. Josep Francesc Valls, Ed. McGraw-Hill, Madrid, 1992.
40
Un territorio como el que nos interesa aquí tiene geografía indefinida que no se mide en
habitantes ni cantidad de kilómetros cuadrados. Quizá su riqueza radique precisamente en esa
posibilidad de actuación en red, de espacio complejo y complementario. Son interesantes los
conceptos de “Comunidades Territoriales” y de “Ciudades Difusas”, de A. Precedo (2004) quien
tras el prisma de la complejidad, vincula territorio e identidad y propone que:
“la identidad, soporte de las Identidades Locales, es un
principio estructurante que aporta una referencia (…) a un
individuo (…). Identidades Locales y Comunidades
Territoriales, que por serlo son autosostenidas y pueden ser
autogestionadas, y que conforman espacios multicéntricos
de desarrollo, integrados mediante la formación de Redes
Territoriales, (…) que al actuar en estructuras espaciales
dispersas lleva a la formulación de un modelo de Desarrollo
Regional Difuso.” (A. Precedo, 2004: 10)
Esto es interesante porque rompe con la idea de que nos encaminamos inexorablemente
hacia un modelo único de crecimiento por agregación en las localidades y que en algunos lugares
han constituido verdaderas megalópolis. El crecimiento puede darse en otras direcciones, en
ciudades en red, de dimensiones reducidas y no en urbes que se redimensionan generalmente
aumentando sus cinturones de pobreza. Es posible pensar el territorio en otras claves. En palabras
de A. Precedo:
“Es cierto que caminamos aceleradamente hacia un mundo
de ciudades, hacia un mundo urbano, pero (…) podemos
pensar que la urbanización mundial no tiene por qué estar
asociada al incremento de las grandes concentraciones
urbanas. La ciudad del siglo XXI puede ser una Ciudad
Difusa.” (A. Precedo, 2004: 10)
De manera que al pensar en el territorio como sujeto de mediación, debemos pensar en
claves de localidades y entornos de influencia, radios de acción, otros ámbitos geográficos que
pueden actuar en red por tener intereses y asuntos en común. Con estos asuntos actuando como
disparadores en un debate, podrán comenzar a perfilarse líneas de un plan territorial cuyo fin sea la
consideración del espacio de la localidad como fundamento para la mejora de la calidad de vida de
sus habitantes. Esta tarea será posible sí y sólo sí cada comunidad se involucra con un plan y logra
consensuar un futuro común sobre un área mediadora que resguarde de manera sostenible los
intereses de toda la sociedad local.
41
Bibliografía
SEISDEDOS, Gildo. Cómo gestionar las ciudades del siglo XXI. Del City Marketing al Urban Managemnt.
Madrid: Prentice Hall - Financial Times, 2007.
LYNCH, Kevin. La imagen de la ciudad. The Massachussets Institute of Technology, Cambridge,
Massachussets. Versión castellana. Barcelona: Gustavo Gili, 2006.
MARSIGLIA, Javier (compilador). Desarrollo local en la globalización. Montevideo: Claeh, 1999.
ALBURQUERQUE, Francisco. Desarrollo económico local y distribución del progreso técnico. Una
respuesta a las exigencias del ajuste estructural. Cuadernos del Ilpes. N.43. Santiago de Chile: CEPAL,
1997.
GÜELL, José Miguel Fernández. Planificación estratégica de ciudades. Barcelona: Gustavo Gili – Proyecto
y Gestión, 1997.
COSTA, Joan. La imagen de marca. Un fenómeno Social. Barcelona: Paidós Diseño, 2004.
ROJAS MIX, Miguel. El Imaginario. Civilización y cultura del siglo XXI. Buenos Aires: Prometeo libros,
2006.
AROCENA, José. El desarrollo local: un desafío contemporáneo. Montevideo: Taurus, 2002.
VALLS, Josep-Francesc. Gestión de Destinos Turísticos Sostenibles. Barcelona: Gestión 2000, 2004.
FERNÁNDEZ, Gabriel y LEVA, Germán (Compiladores). Lecturas de economía, gestión y ciudad. Buenos
Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 2004.
CASTELLS, Manuel. La era de la información. Economía, sociedad y cultura. Vol. 1. La sociedad red.
Barcelona: Alianza Editorial, 1999.
VALLS, Josep-Francesc. La imagen de marca de los países. Madrid: McGraw-Hill, 1992.
KOTLER, Philip; HAIDER, Donald; REIN, Irving. Mercadotecnia de localidades. México: Diana, 1994.
CAPRIOTTI, Paul. Planificación estratégica de la imagen corporativa. Barcelona: Ariel Comunicación,
1999.
WEIL, Pascale. La comunicación global. Comunicación institucional y de gestión. Barcelona: Paidós
Comunicación, 1992.
VILLAFAÑE, Justo. La gestión profesional de la imagen corporativa. Barcelona: Pirámide, 1999.
VILLAFAÑE, Justo. Imagen Positiva. Madrid: Pirámide, 1993.
COSTA, Joan. Comunicación corporativa y revolución de los servicios. Madrid: Ciencias Sociales, 1995.
MORGAN, Gareth. Imágenes de la organización. Madrid: Ra-ma, 1990.
SENLLE, Andrés y BRAVO, Orlando. La calidad en el sector turístico. Barcelona: Gestión 2000, 1996.
LAMBIN, Jean-Jacques. Marketing estratégico. Barcelona: McGraw Hill, 1995.
CAPANDEGUY, Diego. Plan de Desarrollo Local y Regional de la Villa de Merlo, Informe de consultoría
nº 1: “Posicionamiento inicial”. Provincia de San Luis, Argentina, 2007.
MORIN, Edgar. Introducción al pensamiento complejo. Barcelona: Gedisa, 1997.
BERTALANFFY, Ludwing von. Teoría general de los sistemas: fundamentos, desarrollo, aplicaciones.
Buenos Aires: Fondo de la Cultura Económica, 2007.
42
O MÉTODO COMO MEDIADOR E O LUGAR DA MIDIATIZAÇÃO
Jairo Ferreira27
Resumo: Neste artigo, desenvolvemos três proposições em torno das relações entre método e midiatização.
Primeira, a concepção triádica de método (abrangendo a abdução, a indução e a dedução) inserida numa
proposição matricial, como elo central de uma epistemologia de uma dupla superação: a) da separação
sujeito e objeto, natureza e cultura; b) da superação dialética do método moderno (dedução e indução).
Segunda, que a abdução enquanto categoria de "método" emerge na esfera nas teorias do signo, e daí
retroage sobre os campos epistemológicos vinculados a estudos da cultura e da natureza, percorrendo o
caminho inverso da separação produzida no âmbito das epistemologias fundadas pelas ciências da natureza.
Terceira, que a midiatização como objeto-problema singular demanda uma identidade matricial de método
em funcionamento, com ancoragem em referências dedutivas (esquemas interpretativos), que regule os
procedimentos metodológicos.
Palavras-chave: método, campos epistemológicos, midiatização.
Introdução
Partimos de uma concepção triádica de método integrada a uma perspectiva matricial,
mobilizando os conceitos de abdução, indução e dedução, sem
comprometimento com a
epistemologia peirceana em suas diversas formulações . A idéia de matrizes triádicas remete a um
sistema lógico proposicional de relações de mútua determinação (ou hiperdeterminação
exponencial) em que cada uma das dimensões em jogo aciona a outra a partir de suas lógicas,
resultando em relações de mútuo condicionanemto de diversos níveis de complexidade.
Conforme Peirce (2006, página 220), a abdução – primeiridade – é o pode ser; a dedução, o
deve ser; a indução, o é. A literatura é convergente com essas definições simples. Há divergência,
entretanto, sobre as definições de cada uma delas e das relações entre elas quando se discute o
método. A definição que adotamos, por considerar a mais pertinente com nossa formulação, é de
Nino (2008). Diz ele que, conforme Peirce, as:
"tres proposiciones que se relacionan entre sí como premisa
mayor, premisa menor y la conclusión del silogismo de la
primera figura se les puede llamar respectivamente, Regla, Caso
y Resultado” (W2: 29, 1867). Esto puede verse mejor con su
conocido ejemplo de las judías (W3: 325-326, 1877): a)
DEDUCCIÓN: Regla Todas las judías de este saco son blancas;
Caso Estas judías son de este saco; > Resultado Estas judías son
27
Pesquisador e Prof. Dr. Do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos. Essas reflexões se desenvolvem no âmbito de investigações com que conduzimos com apoio do CNPq e
CAPES, com a colaboração dos bolsistas de iniciação científica Eduardo Araújo (UNIBIC) e Carine Ferreira (PIBIC).
43
blancas; b) INDUCCIÓN: Caso Estas judías son de este saco;
Resultado Estas judías son blancas; > Regla Todas las judías de
este saco son blancas. HIPOTESIS [ABDUCCIÓN] : Regla
Todas las judías de este saco son blancas; Resultado Estas judías
son blancas. > Caso Estas judías son de este saco.
A opção por essa formulação decorre da possibilidade de operações de superação
(integração, negação e elevação) do que consideramos as grandes heranças modernas de método
em ciências sociais (fundadas nos métodos dedutivos e indutivos).A importância desta superação
decorre da lógica dualista subjacentes a essa partição do método, incidindo em outras separações
(sujeito e objeto, cultura e natureza, e, no nosso caso, mídia e sociedade).
A formulação peirceana sugere que o processo dedutivo corresponde, no método moderno,
a construção de regras em intersecção com o estudo de caso:
“Na dedução, ou raciocínio necessário, partimos de estado de
coisas hipotético que definimos sob certos aspectos abstratos.
Entre os caracteres aos quais não prestamos nenhuma atenção
neste modo de argumento está o seguinte: se a hipótese de
nossas premissas adequou ou não, mais ou menos, ao estado de
coisas no mundo externo. Consideramos este estado de coisas e
somos levados a concluir que, não importa como ele possa estar
com o universo sob outros aspectos, onde quer que e quando
quer que a hipótese possa realizar-se, alguma outra coisas não
explicitamente suposta nessa hipótese será invariavelmente
verdadeira... Todo o raciocínio necessário, sem exceção, é
diagramático. Isto é, construímos um ícone de nosso estado de
coisas hipotético. Esta observação leva-nos a suspeitar que algo
é verdadeiro, algo que podemos ou não ser capazes de formular
com precisão, e passamos a indagar se é ou não verdadeiro. Para
realizar-se este objetivo é necessário formar um plano de
investigação, e esta é a parte mais difícil da operação... A
habilidade maior consiste na introdução de abstrações
adequadas. Com isso quero dizer que uma tal transformação de
nossos diagramas de modo que caracteres de um diagrama
possam aparecer em outro diagrama como sendo coisas”
(Peirce, 2003, páginas 215-216).
Ilustramos esse percurso do discurso científico na teoria sobre o modo de produção em O
Capital de Marx. No Capital, o discurso se organizar a partir de conexões lógico-proposicionais,
numa dialética ascendente que vai do mais abstrato (o valor) às categorias mais concretas (o
conceito de modo de produção): valor de uso/ valor, processos de produção/ valorização, forças
produtivas/relações sociais, e assim por diante, concluindo no conceito de modo de produção, e,
posteriormente (com Lênin), no conceito de formações sociais históricas. Esse recorte lógico se
44
organiza em outros níveis descendentes, que se aproximam de categorias e indicadores observáveis
(preços, salários, condições de existência, etc.). O caso “ideal” dessa formulação, em Marx, é a
Inglaterra, tomado como revolução burguesa clássica na esfera econômica.
É o que também pode ser observado em Lacan (em O Sintoma). A partir de uma proposição
de base – a (des) articulação do imaginário, do real e do simbólico pelo sintoma -, Lacan deduz
diversos casos já observados em clínica, e sobre outros ainda não observados, mas logicamente
possíveis, os quais, portanto, passam a se constituir em objeto de investigação.
Vários autores já afirmaram a dificuldade de consolidar esse percurso dedutivo “puro” no
campo acadêmico da comunicação, com exceção em heranças específicas (assim, a semiótica
peirceana propicia formalizações lógico-proposicionais complexas como pode ser visto em WalterBensen, 2000). Essa crítica é, entretanto, muitas vezes feita no sentido de favorecer abordagens de
método que prescindiriam dos processos dedutivos, apagando as diferenças entre campo
epistemológico e campo estético. Sugerimos, entretanto, o inverso: a integração da categoria
identitária do campo estético (a abdução criativa) à herança do campo epistemológico, o que
significa colocá-la em relação com os processos dedutivos e indutivos (inspirados aqui na proposta
de Peirce).
O processo indutivo parte das relações casos e indícios, mas nas epistemologias críticas só
têm valor se integrado dialeticamente aos processos dedutivos. Marre (......) falará em dialética
descendente, onde o que está em jogo, partindo-se do objeto-problema construído, são as
delimitações de corpus, de categorias operacionais, de índices e indicadores, no sentido de
verificar-construir relações entre eventos estudados, visando confirmar ou falsificar as hipóteses
formuladas nos processos dialéticos ascendentes. Peirce dirá que “a indução consiste em partir de
uma teoria, dela deduzir predições de fenômenos, e observar esses fenômenos, a fim de ver quão de
perto concordam com a teoria”. Não observamos entre os dois um antagonismo conceitual.
Esses dois movimentos sintetizam a herança do método nas ciências sociais modernas.
Sabe-se, em teoria e na prática, das dificuldades de realizar os dois movimentos de forma
coordenada entre si. Muitas teses, dissertações, monografias, projetos e investigações são
demonstrações de que os processos dedutivos estão dissociados dos processos indutivos. Nossa
proposição é de que tal dissociação decorre da perspectiva dualista que separa sujeito e objeto,
cultura e natureza, mídia e sociedade.
O conceito de abdução nos permite não só superar a perspectiva dual, como inserir um
terceiro elemento de intersecção entre sujeito e objeto como decorrente da própria intersecção entre
natureza e cultura. Cito aqui artigo de Pimenta (2008) para subsidiar essa formulação:
45
"A saída que Peirce encontrou para estes e outros dilemas
gerados pelo fato dos fenômenos da Primeiridade constituírem o
fundamento de processos envolvendo as demais categorias, ou
seja, a existência e o pensamento, foi se apoiar na idéia de Lume
Naturale, a exemplo de Galileu. Para Peirce, deve existir alguma
tendência natural que leve a um acordo entre estas idéias que se
sugerem à mente e aquelas relacionadas a leis da natureza, ou
seja, “é mais do que uma mera figura de linguagem dizer que a
natureza fecunda a mente do homem com idéias que, quando se
desenvolvem, parecem com seu gerador, a Natureza” (CP. 1.801, 5.591). Em outro ponto de seus Collected Papers, Peirce se
refere ao Lume Naturale com as seguintes palavras: Desta
forma, considerações gerais relativas ao universo, considerações
estritamente filosóficas, quase demonstram que se o universo se
conforma, com algum grau de precisão, a certas leis altamente
pervasivas, e se a mente humana tem se desenvolvido sob a
influência destas leis, é de se esperar que ela deva ter uma luz
natural, ou luz da natureza, ou insights instintivos, ou inclinação
tendendo a fazê-la adivinhar estas leis acertadamente. Esta
conclusão é confirmada quando descobrimos que todas as
espécies animais são dotadas de inclinações similares. (Peirce,
1931-58, CP 5.604).
Nesse sentido, entendemos que a abdução enquanto processo de formação de uma hipótese
explanatória (Peirce, 2003, página. 220), fundada em insight, “uma introvisão da terceiridade”, em
relação com o indicial (os resultados), que conclui-se na definição provisória do caso, é lugar de
regulação/integração entre procedimentos dedutivos e indutivos, que podem, em nossa perspectiva,
serem pensados em termos de dialética ascendente e descendente desde que em uma nova matriz.
Ou seja, nem mente (ponto de partida da dedução) nem objeto (ponto de partida da
indução), a abdução está entre os dois, ou é o entre-dois. Afirmamos que esse entre-dois
desenvolve-se nas interações em diversos níveis. Primeiro nível, macro social, onde as interações
produzem
proliferações
de
processos
abdutivos
em
tensão
com
os
processos
de
distinção/reprodução social (habitus). Segundo nível, nos campos institucionais especializados,
cujo fluxo não dependeria apenas apenas do conflito/consenso em torno dos sistemas
classificatórios, mas também da competência endógena e exógena de superar-se através de
processos abdutivos. Terceiro, dos campos científicos modernos, onde a abdução pode se integrar
aos métodos dedutivos e indutivos, produzindo intepretações criativas. Nos campos científicos, há
os processos de interações nos laboratórios dos indivíduos com os objetos-problema em
construção, e com os pares, que possibilitam os insights, indissociáveis dos processos críticos e
auto-críticos que configuram o habitus estético-criativo da ciência. Portanto, a abdução não é inata,
biológica, mas "construída" em processos interacionais.
46
1. Em que medida um objeto empírico - no caso, a midiatização - determina o método?
A supremacia da abdução sobre os processos dedutivos e indutivos seria um processo
decorrente de um objeto-problema específico - a comunicação, os processos midiáticos e a
midiatização? Essa parece ser a tese de alguns autores do campo da comunicação. Santaella (2001)
afirma (a partir de Peirce) que o conhecimento se diferencia pelo método. “Assim, há ciências mais
teoréticas, outras mais classificatórias, outras mais descritivas, enquanto outras são mais
dominantemente aplicadas” (idem, p. 129). O acento sobre uma definição de campo a partir do
método pode ser vista também em Braga, que vem desenvolvendo a tese de que a comunicação
pode ser trabalhada em abordagem abdutiva (Braga, 2007). Essa sua formulação é convergente
com o que afirma sobre a tese que Muniz Sodré defendeu em palestra na PUC-SP em 2002
(Santaella, 2001). Mas, ali, conforme o texto de Santaella (2001), Sodré afirma que “a
comunicação deve ser” dominantemente abdutiva, enquanto Braga infere a dominância da abdução
da leitura de documentos (investigações) de área. O que há de comum entre esses autores é a idéia
do método como lugar de diferenciação e/ou identidade da área.
A questão que se coloca é verificar, nas investigações sobre a midiatização, em que medida
as configurações de método se relacionam com objetos-problema específicos. Nossa reflexão
avança no sentido de afirmar uma perspectiva transversal, ou seja, o método pertence ao núcleo das
heranças epistemológicas, e passa a ser central na mediação das relações sujeito-objeto,
configurando um dos aspectos centrais das formações histórico-cognitivas. Sendo assim, não
haveria uma problemática sujeito-objeto nas ciências da natureza, e outra, nas ciências sociais, e
outras, ainda no “campo psi”, no campo semio-lingüístico, no da comunicação, etc. Todos campos
científicos seriam atravessados pela intersecção natureza e cultura, e, portanto, sujeito e objeto,
sendo que a separação fundada pelas ciências da natureza (criticada por Marcuse) só seria
paulatinamente superada pela história do pensamento epistemológico e de método. O conceito de
abdução, na filosofia e semiótica peircianas, ou seja, numa teoria dos signos específica, seria o
ponto dessa inflexão.
A partir desse ponto de chegada pode-se realizar o percurso inverso, ou seja, verificar como
essa intersecção, descoberta no conceito de abdução, vai surgindo na história dos métodos em
vigor conforme cada campo que se sucede na histórica da ciência moderna. Ou seja, o problema da
gênese é de como, na história das formações histórico-cognitivas, a abdução aparece na psicologia,
nas ciências sociais e nas ciências da natureza, como lugar que indica a interseção entre sujeito e
objeto, cultura e natureza, e possibilita a ultrapassagem a diferença formal instalada pelas ciências
47
da natureza. Sendo assim, a abdução não remete diretamente a midiatização mas a uma de
dimensões constitutivas – o signo.
No campo acadêmico da comunicação, o problema epistemológico da impossibilidade de
um recorte nas relações entre sujeito e objeto herda questões das ciências sociais. Primeiramente,
herda posições epistemológicas já clássicas, do deslocamento promovido pelas ciências sociais
decorrente de uma dialética entre neutrabalidade e os valores do pesquisador implicados na
pesquisa sobre a sociedade (de Marx a Bourdieu, passando por Weber). Segundo, herda as
reflexões que acentuam a necessidade de um projeto tecnológico que parta (re) incorporação da
cultura à natureza (Marcuse). A terceira herança é a reflexão sobre o discurso entendido não só
como estrutura estruturante, mas também estruturado nas interações sociais. Essas três dimensões –
interações, tecnologias e discursos – se constituem, em nossa perspectiva, centrais para a
compreensão dos processos de midiatização da sociedade, na medida em que se materializam em
dispositivos midiáticos (Ferreira, 2006, 2007), e, por isso, os problemas epistemológicos que
gravitam em torno das análises das ações, interações, tecnologia e discursos se condensam nos
estudos da comunicação midiática.
A separação entre sujeito e objeto pode, entretanto, incidir sobre cada uma dessas três
dimensões (interações, tecnologia e discurso), ou sobre cada uma em particular, ou ainda sobre a
reflexão em torno das relações entre duas a duas das dimensões (exemplo: análise das relações
entre discurso e tecnologia; sociedade e tecnologia; etc.). Assim, pode-se afirmar, hipoteticamente,
que parte dos estudos de comunicação pensa a ação midiática separada da ação social, ou do
discurso como fato separado do sujeito que o produz, ou da tecnologia reificada (objeto com vida
própria). Todas essas separações podem ser creditadas ao mesmo processo de “fetichização”
observado na análise da mercadoria. Seriam, portanto, “fetiches” vinculados a outras economias do
simbólico. Suas incidências sobre as epistemologias podem ser divididas em duas vertentes que
observamos no campo da comunicação na análise das relações entre mídia e sociedade: a mídia
constitui o sujeito; a subjetividade ultrapassa os limites da mídia.
2. Fluxo matricial e o midiático como objeto-problema
Na medida em que é transversal, com a gênese na teoria do signo, seu pertencimento às
investigações sobre a midiatização pertence a própria circulação da reflexão do método, que é
apropriada conforme nossa singularidade. Ou seja, a proposição de que a identidade de um campo
de investigação sobre determinados objetos-problema se faz a partir do método considerado
abstratamente deve ser ponderada, em decorrência da própria transversalidade/abrangência dos
48
métodos de investigação, mesmo quando fundados em determinada prática socialmente especifica
de busca de explicações e resultados.
Essa ponderação deve considerar que o método abstrato (modelos de características gerais
relativamente aos usos efetivos do método em diversos campos de investigação) está, na
investigação, singularizado conforme objetos-problemas de investigação.
Vamos ilustrar isso
demonstrando através do seguinte argumento: se a abdução é a intersecção da regra (provisória) em
relação com índices (resultados) na configuração de um caso em investigação, temos algumas
possibilidades de relações entre esses termos: a) polarizada pela regra; b) polarizada pelos
resultados; c) se inscreve nas relações entre regra e resultados, produzindo uma tensão dialética
entre ambos, evitando assim as “fugas” pelas tangentes (movimentos dedutivos e/ou indutivos fora
de conexões um com o outro).
Ilustramos isso com alguns casos. Nos referimos a processos de abdução mesmo quando o
investigador não nomina um determinado processo como abdutivo (ou hipótese explanatória), mas
nos quais podemos identificar que essa dimensão ingressa na investigação como central, é possível
conectar regras e resultados em direção ao caso em estudo. Alguns exemplos que servem ao nosso
argumento, sumariamente:
a) Micelli (MICELLI, Sergio. A noite da madrinha. São Paulo: Perspectiva: 1979).
Hipótese: considera que “o êxito duradouro dos programas de auditório... serve de reforço à
hipótese de sua rentabilidade e eficácia simbólica e, portanto, ideológica, estarem respondendo as
demandas culturais de públicos cuja composição social deveria ser examinada” (p. 21). Essa
hipótese esta fundada em modelos dedutivos e interpretativos ancorados na explicação sociológica
(conceitos de classe, campo e indústria cultural, dependência e periferia) e dados (resultados)
preliminares (no caso, pesquisas de mercado sobre o programa de auditório). O encaminhamento
da investigação percorre o caminho de uma dialética descendente que passa pela descrição do
produto cultural, mobilizando conceitos e categorias de análise semiológica. O conceito de
ideologia é compreendido a partir das relações entre descrição semiológica e explicação
sociológica. Ou seja, os movimentos indutivos (dialética descendente) são indissociados dos
movimentos dedutivos (dialética ascendente que remete a interpretação sociológica).
b) Braga (A sociedade enfrenta sua mídia, 2006): Parte de hipótese que chama de
prospectiva. Afirma que subordina/exclui o processo dedutivo-abstrato como caminho de entrada.
Porém, parte de esquemas dedutivos próprios (“sistema social de interação social com a mídia – e
sua potencialidade como modelo organizado de processos midiáticos”, página 69). A heurística
que ordena a busca de resultados está mediada por uma dialética descendente (corpus, categorias
49
de análise, etc.). Recusa tanto a “elaboração teórica abstrata” como o “mapeamento” (que teria um
custo metodológico elevado e estaria sendo feito sem processos dedutivos e classificatórios claros).
c) Verón (1983, Ethnographie de l´exposition. L´espace, le corps et le sens): A hipótese de base
‘e ponto de partida da investigação (página 22). Imediatamente seguem-se modelos teóricos
(próprios e tomados de outros), num conjunto de conexões28 entre eles, na perspectiva do “estudo
de caso”. Esses modelos conformam um processo de dialético ascendente que se conecta com uma
dialética descendente - um conjunto de andaimes para descrições categoriais (tipos de interação
com a exposição; diferentes discursos sobre; diferenças entre discursos e ações; diferenças entre
gramáticas de reconhecimento e gramáticas de produção, analisadas na perspectiva da
primeiridade, secundidade e terceiridade).
Esses três exemplos indicam que o método abstrato (no caso, o uso recorrente da dedução,
indução e de abduções) não define a identidade de um campo. Esses casos indicam ainda que não é
o produto cultural em jogo que produz análise do midiático (programa televisivo de auditório
aparentemente é mais midiático do que uma exposição); o que constitui o diferencialmente o
objeto-problema de investigação é’ a interseção entre este produto cultural e determinado campo de
esquemas e sistemas interpretativos que compõem um manancial de investigação aproximado,
paralelo e convergente (problemática da circulação integrando a questão do consumo e produção
cultural; a subordinação da problemática sócio-antropológica a análise dos dispositivos e interações
em jogo).
Assim, Braga e Verón estão mais próximos das investigações sobre processos
midiáticos, e entre eles, do que Micelli de nosso objeto-problema e dos dois.
Nossa formulação para responder essa defasagem é de que “o método está em
funcionamento” conforme determinados campos de investigação de objetos-problemas singulares.
Isso implica num retorno (reconstruído) a dupla heranças do método: a importância
da
mobilização de conjuntos de esquemas-constructos teóricos que ingressam nos processos dedutivos
propicia observar “algo” ininteligível fora de seus marcos. Mas não se trata, na perspectiva
abdutiva, na reprodução desses modelos, mas na configuração de determinadas regras provisórias
de interpretação em interseção com resultados preliminares, investigados em direção a casos
determinados (programa de auditório, exposição, comentários críticos sobre a mídia). Retornamos
28
Repetimos aqui que conforme Peice: “Todo o raciocínio necessário, sem exceção, é diagramático. Isto é,
construímos um ícone de nosso estado de coisas hipotético. Esta observação leva-nos a suspeitar que algo é verdadeiro,
algo que podemos ou não ser capazes de formular com precisão, e passamos a indagar se é ou não verdadeiro. Para
realizar-se este objetivo é necessário formar um plano de investigação, e esta é a parte mais difícil da operação... A
habilidade maior consiste na introdução de abstrações adequadas. Com isso quero dizer que uma tal transformação de
nossos diagramas de modo que caracteres de um diagrama possam aparecer em outro diagrama como sendo coisas”
(Peirce, 2003, páginas 215-216)” .
50
aqui à nossa formulação inicial: o método, na perspectiva triadica, deve ser pensado
matricialmente. Nessa matriz, a ancoragem interpretativa em pertinência com os resultados
(índices) materializa o ponto de partida dos processos abdutivos, configurando o estudo de caso.
Em Veron e Braga, os estudos de caso citados estão voltados para análise de focos absolutamente
“cegos” para as ciências sociais: a circulação e os dispositivos como lugares de
inscrição/interpretação dos textos e das interações (e/ou ações), apesar das diferentes abordagens
desenvolvidas pelos dois.
Para finalizar, o que não foi discutido neste artigo: o lugar da metodologia. Os
procedimentos metodológicos de uma investigação devem estar regulados, na perspectiva que
desenvolvemos aqui, pelo método. O método se coloca como um mediador entre as questões
epistemológicas transversais e singulares e os procedimentos metodológicos. Isso significa os
procedimentos (ler, entrevistas, analisar, comparar, diferenciar, etc.) devem estar integrados a
dialéticas ascendentes e descendentes, as quais, por sua vez, são produtoras de saídas tangenciais,
improdutivas, quando não reguladas pela atualização permanente das integrações abdutivas.
Bibliografia
BERGER, Peter; LUCKMAN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1998.
BRAGA José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia. São Paulo: Paulus, 2006.
FERREIRA, Jairo. Analogias, comparações e inferências sobre o método como lugar de identidade.
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Epistemologia da Comunicação”, do XVII Encontro da
Compós, na UNIP, São Paulo, SP, em junho de 2008.
FERREIRA, Jairo. Relato do artigo “Indeterminação; O “Admirável”; A Crescente Comunicabilidade”, de
Francisco Pimenta. Compós, 2008. GT de Epistemologia da Comunicação.
LORENZ, Edward. A essência do caos. Brasília: UNB, 1996.
MARRE, Jacques. A construção do objetivo científico na investigação empírica. UFRGS: Mimeo, 1991
MICELI, Sergio. A noite da madrinha. São Paulo: Perspectivas, 1982. Páginas 15-45.
PEIRCE, Charles. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2003. 211-241.
PIMENTA, Francisco José Paoliello. Indeterminação; o “admirável”; a crescente comunicabilidade.
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Epistemologia da Comunicação”, do XVII Encontro da
Compós, na UNIP, São Paulo, SP, em junho de 2008.
VERÓN, Eliséo e LEVASSEUR, Martine. Ethnographie de l´exposition. L´espace, le corps et le sens. Paris:
Centre Georges Pompidou. 1873. páginas 21-35/61-75.
VERÓN, Eliséo e LEVASSEUR, Martine. Ethnographie de l´exposition. L´espace, le corps et le sens. Paris:
Centre Georges Pompidou. 1983. páginas 21-35/61-75.
WALTER-BENSE, Elisabeth. A teoria geral dos signos. São Paulo: Perspectiva. 2000.
NINO, Douglas. Peirce, abdução y práctica médica. Disponível em www.unav.es/gep/AF69/AF69Ninio.pdf.
2008.
51
PESQUISANDO PERGUNTAS (um programa de ação no
desentranhamento do comunicacional)
José Luiz Braga29
Resumo: O artigo observa algumas características do campo de pesquisa em comunicação, no Brasil,
sublinhando a importância, para a disciplina em vias de constituição, de seu desentranhamento das demais
CHS. Propõe um programa de participação nesse trabalho, que é o de investigar perguntas que têm sido
elaboradas sobre o fenômeno comunicacional; e tentar ir além dessas perguntas, procurando desenvolver
questões não elaboradas nas demais disciplinas. A busca de perguntas podendo ser feita tanto junto às
teorias como em pesquisas, mais próximas do fenômeno empírico, justifica a escolha desse segundo âmbito.
O corpus da pesquisa é constituído por uma centena de artigos, apresentados na Compós, que relatam
investigações sobre objetos empíricos. Expõe a abordagem metodológica para a análise desse material.
Finalmente, assinalando o risco de dispersão resultante da observação de estudos empíricos muito
diferenciados, faz previsões para superação da diversidade, em favor de inferências transversais sobre o
campo.
Palavras-Chave: Campo da Comunicação, Metodologia, Estudos Empíricos
O campo
Desde a segunda metade dos anos 90, ganhou acuidade nos PPGs de Comunicação do
Brasil uma preocupação com o foco comunicacional de nossas pesquisas. Em contraste com uma
aceitação dita “interdisciplinarista”, mas na verdade dispersiva – em que pesquisas das mais
diferentes origens disciplinares eram acolhidas – passamos a nos preocupar com a questão: o que
caracteriza uma disciplina de conhecimento em Comunicação?
Na ausência de critérios definidos e com uma certa multiplicidade de enfoques, o que pode
ser defendido, atualmente, é que pelo menos devemos ter claras, em cada pesquisa, as bases de sua
própria definição de pertinência ao campo (ver Braga, 2002).
A linha de pesquisa “Midiatização e Processos Sociais”, do PPG em Comunicação da
Unisinos, se inscreve expressamente nessa preocupação. Não se trata apenas de “estudar a mídia”,
pois ângulos diversos de investigação assumem no país esse objeto; mas também de apreender os
processos comunicacionais em que a mídia se envolve – devendo, portanto, estabelecer que
processos são estes.
29
Agradeço e procuro levar em conta objeções e comentários apresentados por Luiz Cláudio Martino e Vera Regina
Veiga França sobre o artigo “Comunicação, disciplina indiciária”, apresentado na XVIII Compós (2007); e por Vera
França em debates no âmbito da supervisão dessa pesquisa.
52
Dentro desse âmbito, minha pesquisa atual se volta para uma observação de diversos
ângulos que pesquisadores têm adotado ou produzido, no espaço da Compós, para construir e
investigar seus objetos. Não será uma pesquisa descritiva, da qual resultasse um levantamento
classificatório de tipos de objeto e modos de abordagem. Para além da percepção dessa
diversidade, pretendo contribuir para o trabalho de desentranhamento de instâncias e
características do “comunicacional”, buscando distingui-las do que fazem as disciplinas vizinhas,
entre as Ciências Humanas e Sociais (CHS).
Enquanto processo específico para a distinção do comunicacional, defendemos esse
desentranhamento em duas perspectivas. Como utilizamos teorias e métodos de áreas vizinhas que
procuram, em seu próprio campo, apreender problemas comunicacionais relacionados a seus
objetos, uma necessidade que se impõe é a de distinguir entre o que é próprio da comunicação e o
que decorre dos objetivos que outras disciplinas estabelecem para examinar esse fenômeno. Nessa
primeira perspectiva, trata-se de articular os ângulos postos por várias disciplinas inferindo, em sua
transversalidade, características próprias do fenômeno comunicacional. Os enfoques específicos
desta ou daquela disciplina seriam como “modulações” conjunturais de processos comunicacionais
mais abrangentes.
Além disso, os fenômenos comunicacionais são complexos e envolvem aspectos sócioculturais muito diversos. Não parece viável “separar” as variáveis puramente “comunicacionais” de
tais situações sociais complexas, com abstração das demais. Mantendo o estudo dos fenômenos na
sua inteireza contextual, a segunda perspectiva visa o desentranhamento reflexivo dos aspectos
pelos quais devemos enfatizar as questões comunicacionais que as situações comportam.
Para esse trabalho, a situação brasileira dos estudos em comunicação é historicamente
interessante. Antes mesmo de constituirmos um âmbito teórico ou de pesquisas bem articulado,
desenvolvemos um espaço acadêmico organizacionalmente distinto para acolher os estudos em
comunicação. Ocuparam este espaço não só os estudos referentes às profissões da comunicação
(tipicamente mediáticas), mas também as pesquisas de estudiosos originários das diversas CHS,
preocupados com questões comunicacionais relativas aos objetos próprios de suas disciplinas.
Esse quadro levou, durante certo tempo, ao argumento de que as preocupações com o
comunicacional seriam estruturalmente interdisciplinares30. Atualmente, creio que podemos
considerar este período superado. Ainda que, na prática, os pesquisadores nem sempre explicitem
30
Uma crítica diversificada contra tal argumento tem sido apresentada. Ver Martino (2007; 2001); e Braga (2004;
2001). O trabalho interdisciplinar pede um esforço de articulação – logo, de transferências e tensionamentos mútuos
entre as disciplinas. Mas aquele argumento recobria na verdade uma dispersão e um desconhecimento mútuo entre
especialistas meramente agregados em um espaço internamente desarticulado.
53
seus enfoques preferenciais, encontramos algum esforço de articulação e debate entre as diversas
visadas31 – que deve ainda ser ampliado e aprofundado.
Dispondo de um âmbito acadêmico estruturado, com uma pós-graduação em bom
desenvolvimento, a área não precisou enfrentar, em posição marginal, uma ciência estabelecida
outra, que nos submetesse ao controle do já estabelecido ou a rigores restritivos sobre nossas
preferências de abordagem. Entendemos que decorre daí um compromisso de uso produtivo dessa
oportunidade para, com a flexibilidade da situação, produzir avanços na constituição das
especificidades da disciplina.
Uma disciplina em constituição
Não se constitui uma disciplina apenas com base nas teorias explicativas que descrevem
seus objetos e fenômenos; mas também, e talvez sobretudo, a partir de questões que, voltadas sobre
o mundo, buscam suprir um certo tipo de dúvidas consistentemente articuladas. Um novo campo
de estudos se desenvolve mais provavelmente a partir de perguntas que não encontram respostas
nas disciplinas estabelecidas, do que com base em teorias explicativas abrangentes. Consideramos,
em todo caso, que no estado atual do conhecimento sobre Comunicação, dificilmente poderíamos
estabelecer uma teoria geral capaz de atender a três requisitos: definir o campo de estudos de modo
terminante; estabelecer fronteiras com as disciplinas vizinhas, que igualmente se interessam por
fenômenos comunicacionais; e, particularmente, estabelecer critérios de pertinência para distinguir
o que efetivamente deve “constituir” a disciplina32.
Nessas condições, nossa perspectiva é de que uma disciplina da Comunicação se
desenvolverá sobretudo a partir do conjunto de perguntas que estejam sendo ou que venham a ser
elaboradas sobre fenômenos comunicacionais.
Uma perspectiva instigante no que se refere à geração de perguntas sobre a realidade, é
oferecida por Auguste Comte33. O autor propõe que as primeiras perguntas e hipóteses sobre uma
determinada ordem de fenômenos, ainda não constituídas em disciplina de conhecimento, são
feitas no âmbito de uma disciplina estabelecida. Na medida em que as respostas oferecidas no
31
É o caso, por exemplo, de grupos de trabalho no âmbito da Compós e no da Intercom, em que tal diversidade se
encontra para debates, articulações e objeções mútuas.
32
Martino (2007, 135) apresenta o desafio dessa questão: como podemos “produzir teorias da comunicação se não
deixamos claro, nem para nós mesmos, o que faz de uma teoria uma teoria da comunicação?”
33
Conforme estudo do filósofo francês Alain (1947, 295-304) sobre as propostas do fundador da Sociologia. Ver
também Braga, 2007, p. 5 e seguintes.
54
âmbito dessa ciência anterior se evidenciam insuficientes para o desejo de descoberta, começa a se
desenvolver uma nova disciplina.
O que temos constatado, desde pelo menos o início do século XX, é um desenvolvimento
crescente de questões sobre o fenômeno comunicacional – postas por várias disciplinas de
conhecimento humano e social.
Dispomos, portanto, de um acervo diversificado de teorizações e de pesquisas empíricas
que se voltam para reflexões e descobertas sobre os fenômenos comunicacionais, ainda que a maior
parte tenha se desenvolvido a partir de outras disciplinas das CHS34. Como é de conhecimento
geral, utilizamos corriqueiramente, como base para nossos estudos, teorias elaboradas no âmbito da
sociologia, da lingüística, da psicologia, da educação, entre outras.
Adotamos como premissa, dentro da posição expressa acima, que as hipóteses e as
perguntas oferecidas por aquelas teorias correspondem a uma preparação que viabiliza derivações
disciplinares através da busca de novas perguntas para além delas. Isso nos oferece a possibilidade
de um programa de ação no esforço de desentranhamento – que é justamente o de gerar questões
mais próximas do fenômeno comunicacional, tentando desentranhá-lo das preocupações que
determinam o olhar nas demais disciplinas, estabelecidas.
O desentranhamento não implica afastar questões sociológicas, lingüísticas, psicológicas ou
outras, eventualmente percebidas como relevantes para a apreensão do fenômeno comunicacional
“em situação de realidade”. Mas não significa, também, abordagem interdisciplinar. Trata-se, em
vez disso, de perceber os fenômenos (mesmo fazendo referência a elementos destas outras ordens)
pelos ângulos em que podem fornecer aportes significativos para questões propriamente
comunicacionais.
Tais questões podem abrir percepções que não seriam do interesse daquelas disciplinas.
Nossa preocupação não será constituir distinções formais entre a Comunicação e outras disciplinas
– mas sim buscar visadas de conhecimento sem as quais aspectos centrais (e transversais) do
fenômeno não seriam estudados ou sequer percebidos
Essa abordagem parece interessante, na medida em que não exige, como “estaca zero”, uma
constituição reflexiva rigorosa a partir de um gesto solitário de “criação teórica”. A geração de
perguntas se faz tanto no nível das teorias como das pesquisas empíricas; e corresponde a uma
diversidade muito grande de iniciativas, em ângulos variados, com múltiplas origens e
perspectivas.
34
Como assinala Martino (2007, 36), é preciso “não confundir ‘teoria sobre comunicação’ com ‘teoria da
comunicação’”.
55
Uma dificuldade inerente a essa abordagem é a da articulação dessa diversidade. Este é um
problema a ser expressamente refletido como parte estrutural das tentativas de desentranhamento.
Ver adiante as previsões para superar esse risco em nossa pesquisa..
A pesquisa
Estamos desenvolvendo a presente pesquisa com o objetivo de investigar o que a área tem
feito no país, quanto a essa geração de perguntas; e o de examinar a potencialidade das questões
trabalhadas para estimular avanços de desentranhamento. Não se trata de oferecer imediatamente
perguntas “inaugurais”, ainda não pensadas, que tivessem a pretensão de constituir o perfil da
disciplina por sua originalidade. Até porque, não dispondo de critérios, como poderíamos atestar
sua pertinência? Trata-se antes de refletir sobre um conjunto, razoavelmente diversificado, de
perguntas elaboradas pela área, para derivar tentativamente outras perguntas a partir do que aquelas
não parecem apreender.
Se estou buscando pistas e perspectivas epistemológicas sobre o campo, por que não buscálas, justamente, nas teorias que se oferecem – diretamente em nosso campo, ou em outras
disciplinas, mas se dando como “teorias comunicacionais”, voltadas para fenômenos percebidos
como de comunicação, na disciplina de origem? É claro que uma teoria já estabelece (ou implicita)
a ordem de questões que considera relevantes sobre seu objeto. Uma boa abordagem seria, assim,
uma análise dos ângulos postos por tais teorias, independente da origem disciplinar destas.
Entretanto, as teorias, em sua abstração, tendem à “perfeição” – isto é, se desenvolvem
maximizando sua coerência interna; “esquecem” (na verdade, não vêem, mesmo) os âmbitos de
realidade que não se ajustam e aos quais não estão ajustadas. Não sofrem, em si mesmas, o embate
dos “restos” – sua visada disciplinar ou sua falseabilidade têm que ser manejadas “de fora”, por
uma crítica propriamente epistemológica. Como estamos interessados em ir além das perguntas que
já se apresentam, não somos favorecidos por sua “completude”: será mais produtivo buscar
espaços com maior tensionamento interno.
Paralelamente, assumimos que os fenômenos empíricos “em situação”, por guardar sua
complexidade interacional, sem reduções apriorísticas, devem ser um âmbito privilegiado para
buscar questões comunicacionais – perguntas que fazem avançar os conhecimentos específicos
sobre o objeto; e por abdução, inferências teórico-metodológicas.
A proximidade do fenômeno, em sua ocorrência social, apresenta a vantagem de não ter
sido aí realizada, ainda, uma triagem prévia de variáveis – o que possibilita a geração de perguntas
mais concretas e diversificadas. Além disso, a presença de elementos de contextualização, pela
56
própria dificuldade de identificação dos indícios mais relevantes, ajuda a manter a atenção sobre
aspectos variados, estimulando a geração de dúvidas. Os elementos de concretude e complexidade
sugerem, então, que podemos, probabilisticamente, encontrar aí melhores tensionamentos e maior
diversidade de indícios sobre questões comunicacionais que possam estimular inferências
abdutivas35.
Os fenômenos empíricos, no âmbito desta pesquisa, nos interessam através da construção
investigativa realizada por pesquisadores da área. Nosso projeto se volta para a observação de
hipóteses e perguntas conforme expostas em relatos de pesquisas empíricas desenvolvidas na área.
Dentre estas, pensamos em dar especial atenção a estudos de caso.
O corpus é composto por uma centena de artigos selecionados dentre os apresentados em
três encontros anuais da Compós (2006, 2007 e 2008, com provável incursão em 2009); e que
abordam objetos empíricos bastante singularizados. O congresso da Compós oferece uma
quantidade e uma diversidade adequada de exemplares de tais investigações. Além disso, os GTs
da entidade apresentam uma boa abrangência de ângulos dentro do Campo da Comunicação – o
que assegura variedade, pertinência e boa seletividade, devido ao grande número de
encaminhamentos para a seleção de cada GT, enfatizando a acuidade analítico-interpretativa dos
artigos. A forte predominância de pesquisas relacionadas à pós-graduação promete proximidade
com as linhas de pesquisa mais atuantes.
Entretanto, não é só o fenômeno empírico que nos interessa no relato; nem apenas os gestos
metodológicos do autor. Os relatos de investigação empírica não se limitam a observar, descrever e
questionar, por problematização específica, seus objetos. Para fazê-lo, acionam questões de
horizonte teórico que estão igualmente presentes em seus textos, mesmo que de modo implícito.
Devo encontrar, portanto, nos artigos, a presença destes dois objetos de reflexão –
teorias/conceitos; e referências empíricas – já articulados pelo estudo que resultou no artigo. Mais
exatamente que observar as teorias acionadas, queremos apreender o acionamento das teorias.
Estas são levadas pelos pesquisadores a uma ação prática sobre materiais e fenômenos que resistem
(e por isso mesmo são investigados). Ao viabilizar descobertas, descrições, inferências e
proposições mais gerais, esse acionamento pode mostrar a teoria na ação que nos interessa – que
não é a de “explicar a realidade”, mas sim a de fazer-lhe perguntas, dirigir o olhar indagador.
35
Em “Comunicação, disciplina indiciária” (Braga, 2008) desenvolvemos reflexões sobre a possibilidade de realização
de inferências abdutivas, em um paradigma indiciário, como aproximação epistemológica para o desentranhamento
de questões propriamente comunicacionais.
57
O fato de que eu examine tais questões no aspecto de “teoria em ação” e já não de “teoria
abstrata” não exclui o aporte teórico – apenas o relaciona ao empírico. Posso considerar então que
as questões de horizonte (embora não buscadas diretamente nas teorias e sim no uso das teorias)
também aparecem como aporte para inferências, complementando os elementos empíricos dos
casos estudados.
Com o tensionamento inerente ao esforço de ajuste do ponto de vista teórico ao objeto
empírico; e prevendo a possibilidade de “restos” não apreendidos pela teoria, no conjunto de
aspectos do fenômeno observado; esperamos encontrar indícios estimuladores da percepção. O
âmbito promissor para as inferências pretendidas é antes o da reverberação iterativa entre os dois
níveis, o mais concreto e o mais abstrato – do que um deles ou o outro, isolados.
O acionamento de teorias pelos estudos empíricos nos artigos a serem analisados as faz
funcionar a serviço de que ângulos comunicacionais?
Se as primeiras perguntas e hipóteses de uma disciplina em constituição são desenvolvidas
no âmbito de uma ciência “anterior”, vê-las sendo concretamente postas em pauta em relação
prática com um determinado fenômeno comunicacional singular pode liberar percepções, viabilizar
inferências sobre onde se encontram perguntas e hipóteses mais pertinentes ao campo; sobre um
encaminhamento eventual “para além” das perguntas mais típicas das disciplinas “de origem”; e
sobre direções para continuar desentranhando e constituindo visadas mais especificadamente
comunicacionais36.
A abordagem
Para atingir os enfoques estabelecidos acima, será preciso trabalhar o material empírico
(“artigos” e “coleção”) fazendo observações e inferências sobre três aspectos: as ações textuais
organizadas no artigo (e assim oferecidas à leitura como algo mais que seu teor informacional); da
estrutura do artigo para sua construção, a montante, a investigação realizada e seus
questionamentos; e a jusante dos artigos, procurando pistas para gerar hipóteses abdutivas sobre o
campo em que suas percepções se articulam.
Podemos, então, em função destes três ângulos de abordagem (o texto na sua materialidade;
investigação de elementos a montante; e desenvolvimento de elementos a jusante), organizar o
36
Naturalmente, não temos a pretensão de um desentranhamento terminante do comunicacional. Em coerência com as
premissas expostas, esse é um trabalho coletivo e de longo fôlego, que depende de aportes muitos distintos e –
sobretudo – dos debates e articulações entre diferentes perspectivas sobre o objeto. O que envolve a participação de
pesquisadores da área, de modo diversificado.
58
tratamento metodológico igualmente em três instâncias: análise performativa; metodologia reversa;
e inferências abdutivas.
Essas três táticas, como metodologia de abordagem dos artigos, são resumidas a seguir.
Assinalamos que, embora se caracterizem como táticas interpretativas gerais, são adaptadas aos
objetivos específicos do projeto de pesquisa e ao tipo de objeto com que estamos trabalhando37.
Para a descrição dos artigos, no que se refere a sua percepção do objeto empírico estudado e
do contexto, faremos uma análise performativa dos artigos – observação das ações operadas pelo
texto e seus parágrafos, em termos de definição de tema, descrição do objeto, apresentação de foco,
seleções, estabelecimento de premissas e hipóteses, argumento, encaminhamento das idéias e
construção de inferências. Em síntese, a observação corresponde a examinar analítica e
criticamente o que o artigo, por sua estrutura e apresentação de proposições, faz de seu objeto,
como o constrói e como direciona a leitura.
Para uma percepção das premissas, perguntas e hipóteses não explicitadas no artigo,
faremos um exercício de metodologia reversa. Trata-se, na análise do artigo, de usar as
proposições referentes aos elementos substantivos e temáticos da pesquisa como pistas para fazer
inferências sobre questões metodológicas da investigação.
Essa aproximação, observando o texto como sintoma de ocorrências na abordagem de seu
objeto, é aparentada ao procedimento de Zadig (no conto de Voltaire referido por Ginzburg; 1989,
168-169). A metodologia reversa envolve, portanto, uma aproximação indiciária. Trata-se de
inferir procedimentos de pesquisa, a partir do artigo, para além do que este expressamente
apresenta, tomando o texto e seus parágrafos como indícios e observando o que fazem, com relação
ao material ou situação pesquisada; e enquanto argumento de construção de caso (descrição e
inferências) – ou seja, perceber que investigação foi esta, a montante.
Para a elaboração do terceiro nível de inferências, trata-se de tomar as perguntas e
respostas apresentadas pelos artigos, assim como sua aproximação teórica, como pistas e indícios
para desenvolver reflexões sobre o fenômeno não diretamente acessível, correspondente ao campo
de estudo em vias de constituição. Cada artigo da coleção deve ser tomado como um núcleo de
indícios, buscando-se articular esses núcleos para fazer inferências movidas por questões
transversais – das quais a mais geral seria referente às perspectivas de interesse na constituição do
campo da Comunicação.
37
Como parte dos resultados previstos para o Projeto, devemos elaborar reflexões sobre estes procedimentos
metodológicos, sua visada e seus âmbitos de aplicação em perspectivas mais abrangentes.
59
Tal procedimento corresponde de perto ao modelo epistemológico de inferências abdutivas
(Peirce, apud Ginzburg, 1989, nota 38, 264) ou “paradigma indiciário” (Ginzburg, 1989, 143-179)
ou, ainda, de uma busca de “conclusões mais ricas” a jusante (Hintikka e Hintikka, 2004, 182). As
inferências serão feitas – como, aliás, é o caso em todo processo interacional – pelo esforço de
articulação e de tensionamento entre o “texto”, por um lado; e os repertórios e objetivos da
“leitura” por outro. No nosso caso, buscando inferências centradas na construção de perspectivas
sobre o fenômeno comunicacional.
Enfrentar a dispersão
Uma das dificuldades a serem enfrentadas, em um trabalho de observação de pesquisas
empíricas na área, é a facilidade de dispersão dos resultados. Cada estudo sobre objetos singulares
e fenômenos específicos de comunicação observa um tipo diferenciado de matérias e de contextos,
encontrando aí uma variedade ampla de problemas de investigação. Além disso, as teorias
acionadas são diversas – e são, como sabemos, importadas de múltiplos horizontes.
Para apreender fenômenos comunicacionais em sua complexidade contextual, nossa
pesquisa se dispõe a estudar cada relato de pesquisa selecionado, descrevendo empiricamente seus
processos e suas lógicas singulares. Isso é necessário, uma vez que é a variedade de “lógicas
locais” que deve nos oferecer pistas. Entretanto, se ficássemos apenas nesse nível, nos limitaríamos
a referendar a diversidade e a dispersão; ou a produzir alguma organização classificatória de “tipos
de objetos” (perguntas e ângulos comunicacionais trabalhados).
Entendemos que observar o que um âmbito de pesquisa vem concretamente trabalhando é
uma aproximação interessante, na perspectiva da sociologia do conhecimento, como um dos
caminhos para apreensão de suas características históricas. Entretanto, isso não corresponde a
considerar que o que define uma disciplina seja simplesmente o agregado do que os pesquisadores
dessa disciplina fazem. Diversamente, este deve ser apenas um passo para uma atividade reflexiva
mais ampla.
Como assinalamos no item “Abordagem”, pretendemos esquadrinhar os artigos em função
de nosso interesse, referente ao desentranhamento do “comunicacional”, que funciona como eixo
da pesquisa. Isso nos leva a questões de horizonte como as seguintes: Como os artigos acionam as
teorias (do campo ou vizinhas) a serviço de seus objetivos? Que tratamento é dado ao fenômeno
singular analisado no artigo? Que questões são postas pelo artigo a seus objetos? Que ângulo
comunicacional é trabalhado?
60
Do exame das articulações entre teorias e referências ao empírico, em cada artigo, devo
perceber pelo menos uma de duas coisas ou, esperançosamente, ambas:
- o próprio artigo já oferece pistas para maiores precisões – perguntas dirigidas ao processo
concreto investigado; modos de tratamento; articulações interessantes ou promissoras entre os
fenômenos e as teorias (ainda que circunscritas ao fenômeno singular estudado);
- o “encontro” produzido pelo artigo entre os conceitos acionados e o fenômeno observado
deixa restos não abordados ou parcialmente elaborados (no que diz respeito aos nossos objetivos, e
não aos de seu autor). Nesse caso, deve ser possível selecionar índices a partir dos quais se possam
inferir, por abdução, outros encaminhamentos na busca daquelas precisões, outras perguntas.
Especificando: temos o objetivo de encontrar tensionamentos entre teorias e fenômenos
(trabalho inferencial possível: propor encaminhamentos para superar tais tensionamentos); e de
encontrar uma oferta diversificada de indícios no tratamento das questões interacionais (trabalho
inferencial possível: articular estes indícios).
Através do cotejo entre artigos, devemos então procurar o patamar mais abrangente no qual
incidências e tensionamentos mútuos possam se resolver. É claro que em determinados âmbitos
encontraremos “núcleos” distintos de preocupação com fenômenos comunicacionais, que serão
independentes entre si. Não poderão, portanto, ser articulados em uma perspectiva comum, pois
estão situados em linhas de apreensão com visadas diferentes.
Podemos assumir que, destas linhas preferenciais, historicamente dadas (ou seja: que estão
sendo efetivamente tentadas), algumas são mais promissoras com relação a nossos objetivos, outras
menos. Para inferir as melhores promessas e superar a dispersão, é preciso fazer sua crítica – mas
aí, uma crítica da teoria em uso na pesquisa relatada pelo artigo.
Assim, se temos algumas idéias (mesmo vagas) sobre a constituição do campo de estudos,
uma observação destas linhas preferenciais oferece várias possibilidades:
- tensionar as idéias abrangentes assumidas sobre a constituição do campo para obter
ajustes, superações, aprofundamento, precisões, substituição;
- desenvolver compreensão, por via indireta, sobre as próprias teorias acionadas;
- finalmente, propor outras questões, talvez não percebidas pelos artigos, mas que possam
ser inferidas de modo transversal à coleção, a partir de um redirecionamento de enfoque em busca
de ângulos propriamente comunicacionais.
* * *
Paralelamente ao trabalho de investigação exploratória, sobre os estudos empíricos
apresentados na Compós, estamos elaborando reflexões preliminares mais abstratas. Esse
61
desenvolvimento não pretende construir um ponto de vista teórico prévio – o que seria
contraditório com as premissas da investigação indiciária. Trata-se antes de refletir sobre o âmbito
em que pretendemos circunscrever nossas análises – de certo modo, a arena à qual pretendemos
levar nossos objetos.
Trabalhamos sobre umas poucas perspectivas sociológicas e lingüísticas, fazendo sua
“crítica”, no sentido de tentar perceber o que estas não explicam para além dos ângulos segundo os
quais apreendem a realidade – entendendo que estes aspectos, aí não abordados, podem ser fonte
de outras perguntas. Como tática exploratória, devem ser produzidas, assim, algumas hipóteses
prospectivas para a abordagem do corpus.
Esse trabalho deve gerar dois artigos preliminares, que serão utilizados para tensionar os
artigos a serem analisados. Por sua vez, essas reflexões iniciais serão tensionadas pelas descobertas
e inferências feitas sobre os relatos de estudos empíricos. É através desse tensionamento mútuo que
devemos encontrar indícios para o trabalho da inferência abdutiva.
Bibliografia
ALAIN. Idées. Introduction à la philosophie – Platon, Descartes, Hegel, Auguste Comte, [1939] Paris, Paul
Hartmann, 1947.
BRAGA, José Luiz. “Comunicação, disciplina indiciária”, São Paulo, ECA/USP, Matrizes, nº 2, p. 73-88,
2008.
__________. “Pequeno roteiro em um campo não traçado”, in Cenários, teorias e epistemologias da
Comunicação, São Paulo, E-Papers, p. 7-21, 2007.
__________. “Os estudos de interface como espaço de construção do Campo da Comunicação”, Niterói,
Universidade Federal Fluminense, Contracampo, v. 10/11, p. 219-235. 2004.
__________. “O que faz de uma pesquisa uma pesquisa em Comunicação?”, in Tensões e objetos de
pesquisa em Comunicação, Porto Alegre, Edições Sulinas/Compós, p. 257-270, 2002.
__________. “Constituição do Campo da Comunicação”, in Antonio Fausto Neto, José Luiz Aidar Prado e
Sérgio Dayrell Porto (orgs.), Campo da Comunicação – caracterização, problematizações e
perspectivas, João Pessoa, Editora Universitária UFPB, p. 11-39, 2001.
GINZBURG, Carlo. “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”, in Mitos, emblemas, sinais – morfologia e
história [1986], São Paulo, Companhia da Letras, 1989.
HINTIKKA, Jaakko e Merril B. Hintikka. “Sherlock Holmes em confronto com a lógica moderna: para uma
teoria da obtenção de informação através do questionamento”, Umberto Eco e Thomas A. Sebeok
(orgs.), O signo de três [1983], São Paulo, Perspectiva, 2004.
MARTINO, Luiz Cláudio. Teorias da Comunicação – muitas ou poucas?, Cotia, SP, Ateliê Editorial, 2007.
__________. “Interdisciplinaridade e objeto de estudo da Comunicação”, in A. Fausto Neto, J. L. Aidar
Prado e Sérgio Dayrell Porto (orgs.), Campo da Comunicação – caracterização, problematizações e
perspectivas, João Pessoa, Editora Universitária UFPB, p. 77-90, 2001.
SEBEOK, Thomas A. e Jean Umiker-Sebeok. “Você conhece o meu método: uma justaposição de Charles S.
Peirce e Sherlock Holmes”, Umberto Eco e Thomas A. Sebeok (orgs.), O signo de três [1983], São
Paulo, Perspectiva, 2004.
62
TRANSDISCIPLINA Y MULTIMETODOLOGÍA: CLAVES PARA
EL ABORDAJE DE LA MEDIATIZACIÓN EN CULTURAS
HIPERMEDIATIZADAS
Lila Luchessi∗
Resumen: Los cambios en el sistema mediático generan nuevas formas de consumir e interactuar por parte
de los sujetos receptores. Las nuevas prácticas impactan en la sociedad y las posibilidades tecnológicas
generan una instancia de hipermediatización. Los estudios sobre el campo requieren rediscusiones y la
tendencia a las miradas transdisciplinares debe ser profundizada para dar cuenta de la nueva complejidad.
En este sentido, resulta crucial comprender el contexto, entendido como nodos de producción cultural global
a través de redes digitales de comunicación en las que la espacialidad y la temporalidad cobran nuevos
valores. Es el objetivo de este trabajo proponer una tendencia hacia la multimetodología, entendida como
herramienta central para analizar los fenómenos sociales de las culturas atravesadas por la mediatización.
Palabras clave: transdisciplinariedad, hipermediatización, métodos
“No solo los medios cambian. Los sujetos receptores
también y mucho. Ambos se transforman y su apreciación
dinámica en contínuo movimiento, constituye un desafio
para la investigación de la comunicación.” Guillermo
Orozco Gomés (2002: 23)
El escenario mediático actual genera una ruptura con las lógicas industriales de producción
informativa. Si seguimos a Scott Lash, “El proceso productivo de uso intensivo del conocimiento
desplaza el proceso de trabajo de uso intensivo de mano de obra” (2005: 242). Así, el
conocimiento es el eje central a partir del cual la sociedad establece sus relaciones y acciones
políticas y cotidianas. En este contexto, la sensación de hiperinformación “margina u oculta los
procesos de hipoinformación” (Ford, 2005: 21). Entonces, el procedimiento se sostiene en la
abundante oferta de soportes y canales para la puesta en público de datos, inquietudes, experiencias
y sucesos, aunque la tendencia sea a la de la amplificación de tópicos poco diversos a través de
gran cantidad de canales de comunicación tradicionales, que encontrarán amplificaciones a través
de los nuevos medios. En este sentido, podría pensarse que se está más cerca de un fenómeno de
hipermediatización que de hiperinformación. Para explicarlo, diremos que se entiende por
hipermediatización a la posibilidad que tienen las audiencias de estar expuestas a un fenómeno de
mediatización constante, aunque ello no implique -necesariamente- tener contacto con los medios.
∗
Profesora – Investigadora (CCC - IEALC - FSOC - UBA).
63
Las posibilidades de reenvíos que ofrece el sistema mediático -y sus articulaciones con la sociedadpermiten que, en las grandes ciudades, los consumidores de información puedan acceder a los
tópicos de las agendas mediáticas a través de sus participaciones en distintas redes sociales, tengan
estas sustento o no en los medios masivos de comunicación.
Por supuesto que la abundancia de medios -tradicionales y digitales- permite un acceso
mucho más rápido a los acontecimientos sociales. La potencial diversidad de contenidos es un
hecho en la sociedad de la información ya que las estructuras necesarias que hacen falta para la
puesta en público de nuevos temas o acontecimientos es más amigable y sencilla. No obstante, el
procedimiento de selección y jerarquización que realizan los grandes medios de comunicación es el
que fija la mirada, los acontecimientos relevantes para la vida cotidiana y los elementos de
comprensión del funcionamiento social.
Los soportes y canales disponibles para los consumidores -en tanto tales o en interacción
con los productores o entre ellos mismos- pueden encuadrarse dentro de la tipología que realiza
Roberto Igarza y de la que tomaremos las categorías que elabora ya que las consideramos
adecuadas para sistematizar el escenario mediático actual (2008: 176). Al decir de este autor, los
medios digitales pueden sistematizarse en cuatro tipos claramente diferenciados.
A. Medios tradicionales con versiones on line
B. Medios Nativos, aquellos que fueron concebidos para las nuevas herramientas digitales
C. Medios Sociales, a los que categoriza como de expresión y permiten la participación de
otros usuarios a través de comentarios que dialogan con el productor y horizontales, que permiten
la interacción de usuarios a través de plataformas diseñadas a tal fin como los foros.
D. Medios Agregadores, que realizan dos acciones básicas. Por un lado, pueden redifundir
contenidos de otros medios y por otro, pueden conectar al usuario con más información a través del
uso de links.
Esta nueva tipología de medios que caracterizan a la sociedad de la información, sus
particularidades y similitudes con las instancias previas, permiten una rediscusión acerca de las
herramientas para el análisis de la mediatización, los actores que intervienen en ella y los medios a
través de los que se produce. También, abre la posibilidad de estudiar sus interrelaciones con los
medios electrónicos y gráficos, sus consecuentes cruces, reenvíos y construcciones concretas dentro
del sistema de significaciones y su retroalimentación, aunque de modo paradojal, a través de
infinidad de canales para sostener una información que puede categorizarse -casi- como unívoca
(Mattelart; 2002: 135).
En este sentido, compartimos con Antonio Fausto Neto (2007; 101) que la mediatización no
solo afecta a la estructuración social, sino también a las prácticas productivas (mediáticas e
64
informativas) en la medida en que organiza las operaciones referenciales (y autorreferenciales) que
se establecen en la sociedad. Además, dadas las condiciones tecnológicas, las apropiaciones
sociales de las tecnologías y sus usos, la posibilidad de miradas críticas que estos suponen
(Burbules y Callister; 2001:121) y las adecuaciones de los medios de comunicación -en sus
diferentes categorías- a las nuevas producciones sociales de sentido (Wiñazki; 2004: 9), pondremos
en discusión la pertinencia de las miradas disciplinares y los métodos de investigación tradicionales
para dar cuenta del nuevo escenario comunicacional - social.
En este sentido, haremos foco en los estudios sobre la información que circula socialmente,
en los consumos y las retroalimentaciones que las audiencias hacen -de y con la información- con
los medios de comunicación y en las prácticas profesionales que se realizan para ponerla en
circulación.
En primera instancia, vemos que las investigaciones disciplinares tienden a aplicar las
categorías que, según la denominación de Neto, dan cuenta de sociedades “de los medios” cuando
intentan indagar sobre sociedades claramente atravesadas por la “mediatización” (Op. Cit; 102).
La información que circula por los medios es el resultado de la construcción articulada del
sistema mediático, como productor y articulador omnipresente de las significaciones y las
relaciones sociales, la irrupción de nuevos medios y nuevos públicos, que coinciden con la cuarta
categoría de Igarza (Ib), en la medida en que son claramente activos en cuanto a sus producciones
pero tienden a tomar del sistema mediático hegemónico sus contenidos y encuadres.
En este sentido, creemos que los métodos a tener en cuenta para realizar estudios sobre
información social mediatizada deben adecuarse al nuevo escenario. Las miradas disciplinares no
son operacionales a las nuevas formas (productivas - discursivas y de consumo) si no tienen en
cuenta las articulaciones que se dan dentro del proceso de circulación que, a partir del
procedimiento de framing (Sababa; 2008), pone en juego nuevos modos cognitivos para percibir y
producir en sociedad. Tampoco, si sus objetivos coinciden con el mero estudio de las producciones
sociales, aisladas de sus productores y consumidores.
Un punto aparte merecen estos últimos. En la medida en que su rol actual es activo, es
necesario problematizar si este aporta nuevas miradas, datos y enfoques sobre la información que
producen los medios tradicionales de comunicación. De qué modo se producen las apropiaciones
de ellos y qué aportes realiza en la articulación que da cuenta de la nueva significación social.
Es el objetivo de este trabajo proponer una metodología transdisciplinar para abordar la
mediatización.
Circulación y significaciones sociales (en la dictadura del instante)
65
El estudio sobre el proceso por el cual los medios masivos de comunicación elaboran
aceleraciones en los tiempos sociales no es nuevo. El análisis del impacto de la irrupción de los
medios gráficos en el ritmo de la vida social tampoco. En relación con él, los resultados son vastos
y diversos. Sin embargo, la sofisticación de las tecnologías audiovisuales permitió generar la
sensación de “sincronización del mundo” (Lochard y Boyer; 2004:160), imprimiendole a la
cotidianidad de las culturas un ritmo acorde con las formas productivas de los medios televisivos.
A partir de este procedimiento, se instaló la idea de homogeneización en los consumos culturales,
informativos e industriales, sin que medien diferencias espaciales o geográficas.
En ese momento, la tecnología seguía sosteniendo una barrera entre productores y
consumidores, relegando a estos últimos a la situación de sujetos espectadores. La relación de
fuerza, a pesar de la generalización de los consumos, se mantuvo en la producción con la
posibilidad de las audiencias de acceder a puntos de vista consensuados en las lógicas productivas,
industriales y comerciales que rigieron al mercado de las décadas de los ochenta y noventas. Sin
embargo, a medida en que la visión digital se hizo más cotidiana, la mediatización fue dejando su
espacio de canal de difusión para cobrar una centralidad “no solamente cultural, sino también
económica y política” (Luchessi y Cetkovich Bakmas; 2007: 255). En este sentido, la
mediatización permitió conocer tendencias, prácticas, sistemas de institucionalización y demandas
en lugares diversos a tiempo sincronizado. Pero a pesar de esto, las potenciales relaciones entre
actores diferenciados recién fueron posibles con el crecimiento de las demandas y apropiaciones de
las tecnologías digitales. Ellas hicieron posibles las relaciones entre consumidores y productores,
consumidores entre ellos y productores en general, reenviando sus distintas producciones dentro de
un sistema signado por la instantaneidad.
En este sentido, coincidimos con Saskia Sassen en que la idea de contexto que rigió a la
sociedad ya no puede pensarse en los mismos términos. Al decir de la autora, el contexto “ya no
hace referencia solo al entorno inmediato, sino que es la geografía global estratégica compuesta
de múltiples nodos lo que se transforma en el contexto principal, si no dominante” (2007: 287).
Con este marco, las posibilidades tecnológicas que brindan los nuevos medios son centrales para la
construcción de la nueva mediatización, en la medida en que es a través de las superficies
mediáticas en las que las nuevas relaciones sociales, económicas y culturales se transforman en
acto de modo inmediato.
Si seguimos la definición de Règis Debray en cuanto a qué se entiende por Medio en un
escenario de Mediología, coincidimos en que estos son “un conjunto de los vectores inertes y
animados necesarios, para una época o una sociedad dada, a una propulsión de sentido, o
incluso; a todo aquello que contribuye a escoltar el símbolo (lo que equivale a decir: a
66
descarriarlo)” (2001: 170). Claro que esta idea es operacional en un escenario analítico en el que
la centralidad de las preocupaciones científicas no está puesta en los objetos de estudio sino en las
relaciones que permiten el cruce que, al decir del autor: “nunca es evidente y hay que construirlo a
cada ocasión a través de la observación a pesar de las conveniencias y las verosimilitudes” (Ib.
101).
Entonces, la pregunta es cómo estudiar la mediatización si las relaciones que componen al
medio presentan la complejidad de cambiar acorde con contextos que, como plantea Sassen, se
establecen a partir de nodos interrelacionados en los que las categorías tradicionales -asentadas en
miradas disciplinares- no dan cuenta de esas relaciones.
Si tratamos de responder a la pregunta, vemos que es en la idea de transdisciplinariedad en
la que pueden establecerse las relaciones esenciales para comprender las mejores formas de
estudiar la mediatización, su impacto en la vida cotidiana de la sociedad y sus préstamos y reenvíos
con las prácticas no mediatizadas de los actores que interactúan dentro del sistema mediático,
aunque no puedan evitar tomar de él sus temas, encuadres, jerarquizaciones y tiempos de
producción social.
Con el interés puesto en el abordaje de estas relaciones, debemos hacer un punto en los
intereses de la sociedad, los saberes necesarios para estudiarlos y las dificultades que -en tanto
participantes de la sociedad mediatizada- tienen los investigadores para tomar distancia
epistemológica de los procesos que estudian.
En este sentido, los estudios que se proponen deben dar cuenta de los condicionamientos
que se establecen a partir de las necesidades de la ciencia de divulgar sus resultados a través del
sistema mediático tradicional, las posibilidades de acceso que tienen las audiencias a las
publicaciones científicas y los reenvíos que se producen entre las investigaciones relacionales y las
opiniones de productores, usuarios y críticos de medios.
Con una pseudohorizontalidad en el uso de las herramientas y el acceso a la información, el
problema para los productores mediáticos radica en la imposibilidad de establecer asimetrías de
saber con sus audiencias. En el caso de los investigadores, la asimetría se establece por la crítica y
la construcción de los marcos teóricos, aunque en los usos y producciones se ven condicionados,
fundamentalmente, por la necesidad de adecuarse a los tiempos signados por la lógica de la
mediatización.
Transdisciplinas
“Podríamos hacer un paralelo entre las formas en que la noticia de
interés general explota, rota hacia diferentes secciones, y las formas
67
en que se acrecientan las miradas hacia los medios desde diferentes
disciplinas” (Ford; 1994:131).
Con la profundización de la mediatización esta relación es cada vez más evidente. A
medida en que los medios se corren del espacio de las mediaciones para instalarse en la centralidad
nodal de las relaciones sociales, las miradas científicas sobre esas relaciones ya no son suficientes
si intentan dar cuenta de las economías de los medios, los discursos que circulan por ellos o las
preferencias de las audiencias en cuanto al consumo y las posibilidades que estas presentan a los
productores para acomodar sus managements.
Sin embargo, es primordial entender que el abordaje requiere del análisis de todas las fases
que componen el proceso para construir las relaciones de las que habla Dèbray y elaborar, a partir
de ellas, una metodología adecuada para comprender la mediatización.
En tanto instancia que atraviesa a las sociedades y las relaciona y las conecta y las impacta
en sus formas de producir, pensar y encuadrar los fenómenos que en ellas se producen; la
mediatización es -en ella misma- un campo transdisciplinar en el que los estudios sobre la cultura,
el urbanismo, el consumo, el arte, la economía, las producciones sociales y sus impactos políticos
deben ser abordados en toda sus complejidad para dar respuesta a los interrogantes más
fundamentales del campo de la comunicación. De este modo, coincidimos con Ford: “El territorio
de los medios, y especialmente el de sus «contenidos», no se recorta con tanta claridad de lo que
sucede afuera” (1994; 130).
Las herramientas tecnológicas acercan las producciones mediáticas a las de los
consumidores, las críticas a los estudios comunicacionales, difuminando las fronteras entre la
producción y el consumo; la industria y la ciencia. Es a partir de esta complejidad en la que los
estudios sobre mediatización deben tener en cuenta no solamente las categorías relacionadas con
los medios si el objetivo es dar cuenta del funcionamiento y la producción social.
En este sentido, y tal como lo plantea Sassen para los estudios sobre globalización, “el
cruce entre múltiples formas de conocer y de técnicas disciplinarias de investigación e
interpretación” (Op.Cit. 22) no deben excluir a otras que “atraviesan” los distintos puntos que
constituyen los nodos de conocimiento que dan cuenta de las relaciones actuales también
atravesadas por las lógicas de la mediatización.
Multimetodologías: una propuesta para el abordaje de un escenario complejo
Una propuesta para el estudio de la mediatización requiere poner el foco en la circulación
de la comunicación social. De este modo, los reenvíos entre las demandas sociales y las
producciones mediáticas -ajustadas a modos mercantiles de producción cultural- ponen de
68
manifiesto que es necesario estudiar a los consumidores, los productos que consumen, las
interacciones que establecen a partir del conocimiento de ellos y los modos en que estas formas
accionan en los productores industriales de comunicación. También, las formas con las que, luego
de estos impactos, los productores volverán a interactuar con sus públicos.
Los modos más habituales de investigar en comunicación entran en crisis a medida en que
se producen rupturas en los modos de producir y consumir productos mediáticos. Sin embargo,
estas rupturas no están solamente relacionadas con el circuito de consumo de medios sino, también,
con las otras formas de expresión cultural que producen las prácticas de la sociedad. El uso
tecnológico, las nuevas formas de concepción temporal y los modos de concebir el espacio social
replantean el modo de comprender las instituciones, la autoridad y la presencia misma del estado
como regulador de la vida social y las prácticas culturales. Además, la construcción identitaria atravesada por la posibilidad de acceso a conocimientos que estaban vedados antes de la
generalización de la sociedad hipermediatizada- permite nuevas configuraciones culturales por
fuera de los medios masivos de comunicación.
En este marco, la propuesta se define por la utilización de construcciones matriciales que
den cuenta de todo el proceso que articula las prácticas de la sociedad. Para ello, se plantean
estudios en planos relacionados con tres esferas fundamentales de las relaciones entre el proceso de
mediatización y la sociedad:
1.
Estudio de las agendas sociales (demandas, intereses, producciones y
consumos)
2.
Estudio
de
los
productos
mediáticos
(agendas,
interacciones
y
reacomodamientos)
3.
Estudios en producción (economía de medios, convergencia, rutinas de trabajo
profesional, management de contenidos, branding)
Para la primera de las dimensiones, se cree fundamental establecer estudios cuantitativos
respecto de las categorías propuestas. De este modo, la encuesta y el análisis de las agendas
sociales permiten establecer un segundo paso en el estudio de audiencias: focus groups que
profundicen las motivaciones en recepción acerca de las articulaciones que se establecen respecto
de los contenidos y encuadres que se presentan en los medios. También es importante realizar
etnografía de audiencias, siempre que el método permita a los investigadores interactuar con los
usuarios para completar el instrumento de indagación, reforzarlo y corregirlo, a medida en que las
variables de análisis contemplen elementos cuya relación con las prácticas sociales den como
69
resultado el conocimiento de ciertos nodos que verifiquen las implicancias de la mediatización en
la vida cotidiana y las de esta última en la mediatización.
En segunda instancia, se cree central elaborar indagaciones sobre las superficies
mediáticas. En este sentido, se propone realizar estudios cuantitativos de los productos a partir de
los cuales se buscan las relevancias en relación con los abordajes que allí se establecen y las
selecciones y jerarquizaciones que realizan los medios respecto de sus contenidos. De esta forma,
un estudio sobre framing es central para contemplar las adecuaciones de las agendas (sociales y
mediáticas) y los reenvíos que se producen entre ambas. Finalmente, los análisis discursivos
establecerán las regularidades y rupturas en las superficies de los medios, con sus consecuentes
impactos en los modos de enunciación social y la construcción identitaria de los grupos nodales a
los que los sujetos de estudio pertenezcan.
Finalmente, en el tercer plano de análisis se propone un trabajo exhaustivo sobre las
economías de los medios. La presencia o no de convergencia permitirá establecer regularidades al
interior del sistema mediático y sus cruces con otros elementos del mismo sistema. Las rutinas de
trabajo profesional -que den cuenta de los relatos de productores y gerenciadores de mediospermitirán el uso de observaciones (participantes y no participantes) dentro de las empresas
mediáticas para verificar o rufutar las relaciones y adecuaciones a las demandas de la recepción, las
ofertas de contenidos y los usos y apropiaciones que se hacen de ellos. El estudio del branding
otorgará elementos para analizar los reenvíos entre los distintos actores en interacción y dará lugar
a la posibilidad de analizar las intencionalidades, planificaciones, reacomodamientos y
motivaciones del sector productivo que, no se puede soslayar, se presenta en tensión con otros
grupos que integran los liderazgos de la sociedad.
Realizados estos trabajos en los distintos sectores del campo de estudios, se hace
fundamental la construcción de diferentes matrices. En primera instancia, se plantea la necesidad de
cruzar las categorías al interior de cada subcampo de análisis. Luego, la idea es poner en juego los
resultados de cada uno de esos estudios para llegar a una matriz sintética, cuya finalidad última es
analizar las relaciones e interacciones de cada subcampo entre si.
Por supuesto que para planificar estudios de esta envergadura es necesario contar con
equipos transdisciplinares que integren profesionales del campo de la comunicación, la sociología
de la cultura, la economía, la etnografía, analistas del discurso especialistas en marketing
mediático.
De este modo, el abordaje es mucho más complejo porque requiere de interacciones y
formaciones vinculadas a miradas múltiples que, al decir de Marshall y Eric McLuhan, rompen con
la preeminencia de los históricos estudios vinculados con la supremacía de la racionalidad letrada, a
70
la que relacionan con la supremacía del “hemisferio izquierdo” y la mirada occidental, aún vigente
en las ciencias sociales. Sin embargo: “Hoy, la paradoja es que el campo de las más avanzadas
tecnologías occidentales es electrónico y simultáneo y por tanto es, estructuralmente, del
hemisferio derecho y «oriental», y es oral en su naturaleza y sus efectos” (McLuhan; 1990: 93).
De este modo, los estudios sobre mediatización deben dar cuenta de ese pasaje. De las
lógicas de la cultura letrada a las lógicas de la cultura digital. De las prácticas sociales
institucionalizadas a partir del estado como regulador y controlador de fronteras físicas a las que
dan cuenta de un nuevo confinamiento sustentado en el conocimiento y en la formación de nodos
culturales cuya interacción circula socialmente de manera instantánea. De las metodologías
disciplinares a la conformación de equipos transdisciplinares, en los que los conocimientos se
reformulen entre si para provocar síntesis herramentales y analíticas.
También, en los que la multiplicidad de perspectivas de investigación puedan establecer
multiplicidad de perspectivas culturales, en las que la mediatización tiene un rol central en la
medida en que conlleva modos específicos de producir y vivir en la sociedad. En este sentido, la
lógica de la hipermediatización permite romper con la idea de hiperinformación, sostenida en la
abundancia de canales y soportes pero sin dar cuenta de la diversidad de las concepciones, miradas
y expresiones de grupos que -aún insertos en las interpelaciones mediáticas cotidianas- no son
interpelados desde sus preocupaciones, intereses y motivaciones sociales, culturales, políticas y
económicas.
Una metodología para el abordaje de la mediatización deber tener en cuenta las
interacciones de la sociedad y, a partir de ellas, construir las relaciones, análisis y conclusiones que
el nuevo escenario amerita.
Bibliografía
BURBULES, Nicholas y Callister, Thomas (h). Educación; riesgos y promesas de las nuevas tecnologías de
la información. España: Granica, 2001.
DÈBRAY, Regis. Introducción a la mediología. Barcelona: Paidós, 2001.
FAUSTO NETO, Antonio (2007) “Mudanças da Medusa?
A Enunciaçâo midiatizada e sua
incompletitude”. En Neto, A; Gómez, P; Braga, J y Ferreyra, J (org). Midiatização e processos sociais na
América Latina. São Paulo: Paulus, 2008.
FORD, Aníbal. Resto del Mundo. Buenos Aires: Norma, 2005.
____. Navegaciones. Comunicación, cultura y crisis. Buenos Aires: Amorrortu, 1994.
IGARZA, Roberto. Nuevos medios. Buenos Aires: La Crujía, 2008.
LASH, Scout. Crítica de la información. Buenos Aires: Amorrortu, 2004.
LOCHARD, Guy y BOYER, Henry. La comunicación mediática. Barcelona: Gedisa, 2004.
71
LUCHESSI, Lila y CETKOVICH BAKMAS, Gabriel “Punto Ciego”, en Luchessi, Lila y RODRIGUEZ,
María Graciela (coords). Fronteras Globales. Cultura, política y medios de comunicación. Buenos Aires: La
crujía, 2007. p. 250 - 273
MCLUHAN, Marshall y Eric. Leyes de medios. La nueva ciencia. México DF: Alianza editorial, 1990.
OROZCO GÓMEZ, Guillermo. Recepción y mediaciones. Casos de investigación en América Latina.
Buenos Aires: Norma, 2002.
ROITBERG, Gastón “Internet, una etapa de evolución para el periodismo”. En Bocos, Ricardo (Comp.)
Aproximaciones al periodismo. Manuales Humanitas. Facultad de Filosofía y Letras. San Miguel de
Tucumán: UNT, 2007. p. 233 - 247
SADABA, Teresa. Framing. El encuadre de las noticias. El Binomio terrorismo - medios. Buenos Aires: La
Crujía, 2008.
SASSEN, Saskia. Una sociología de la globalización. Buenos Aires: Katz, 2007.
WIÑAZKI, Miguel. La noticia deseada. Buenos Aires: La Marea, 2004.
72
EL ANÁLISIS CRÍTICO DEL DISCURSO – PERSPECTIVAS
METODOLÓGICAS PARA ABORDAR EL DISCURSO
MULTIMODAL EN YOU TUBE
Neyla Pardo∗
Resumen: Este documento recoge las primeras reflexiones de la investigación en curso “El análisis crítico
del discurso en el estudio integral del texto: hacia una comprensión del discurso mass-mediático”, la cual
forma parte de las redes PROSUL, REDLAD y PRO.TEX.TO. En primer lugar, se propone aportar a la
reflexión que se realiza desde hace varios años sobre la mediatización, el análisis crítico del discurso sobre
la pobreza y la construcción de una teoría del discurso cada vez más integral y multidisciplinar. Este estudio
aborda la relación entre la mediatización y el discurso multimodal, propio de los medios masivos, mediados
por tecnologías de la información. En este apartado se propone reconocer el papel en la construcción de
significado que se deriva de amalgamar múltiples códigos, para hacerlos circular como contenido específico
en sitios web. Se trata, por lo tanto, de desentrañar el papel de la mediatización y la multimodalidad en la
construcción de significados y, en consecuencia, del conocimiento social. En segundo lugar, se aborda el
discurso de YouTube a propósito de la pobreza, para tipificar las categorías de análisis que proceden de las
reflexiones teóricas de Gunter Kress y Theo van Leeuwen (1996), Theo van Leeuwen y Jewitt (2001), y van
Leuween (2008) que hagan posible la formulación de una perspectiva analítica a partir de un corpus
concreto. Finalmente, se presenta el esquema que orienta el proceso metodológico, en el cual se recogen
algunas categorías y principios que se estudian en la perspectiva de O’Halloran (2006). El análisis, con
carácter exploratorio, se aplica al video “La Rutina” http://es.youtube.com/watch?v=BF8HZTGzz28 el
cual hace parte del corpus objeto de esta investigación, y procede de explorar en YouTube a través del
descriptor ‘pobreza en Colombia’, o sus palabras asociadas ‘miseria’, ‘indigente’, ‘pobre’, ‘indigencia’,
‘miserable’, ‘ruina’, entre otras.
Abstract: This document sets out the first reflections of the ongoing investigation "Critical Discourse
Analysis in the Integral Study of the Text: understanding discourse of mass-media ," which is part of
networks PROSUL, REDLAD and PRO.TEX.TO. Firstly, it is proposed to contribute to reflections that for
several years has been carried out on the media, critical analysis of the speech on poverty and building a
theory of discourse increasingly comprehensive and multidisciplinary. This study addresses the relationship
between the media and multimodal discourse, typical of the mass media, mediated by information
technology. This section intends to recognize the role in the construction of the meaning, that derives from
fix multiple codes, to make them circulate as specific content on websites. In addtion, the purpose of this
paper is unravel the role of the media and multimodality in the construction of meanings and, consequently,
of social knowledge. Secondly, it addresses the YouTube speech about poverty, to define the categories of
analysis that come from theoretical reflections of Gunter Kress, and Theo van Leeuwen (1996), Theo van
Leeuwen and Jewitt (2001), and van Leuwen (2008) that make possible formulation of an analytical
perspective from a particular corpus. Finally, we made an outline to guide the methodology, for this purpose
we reviewed some categories and principles in the perspective of O'Halloran (2006), this enables to make
Critical Discourse Analysis of poverty in YouTube, for it is applies in a specific case. This exploratory
analysis, applies to the video "La Rutina" http://es.youtube.com/watch?v=BF8HZTGzz28, which is part of
the corpus subject of this investigation, and proceeds of explore on YouTube by the descriptor 'pobreza en
Colombia’ , or its associated words ‘indigente’, ‘pobre’, ‘miserable’, ‘indigencia’, ‘ruina’, among others.
∗
Profesora Titular Universidad Nacional de Colombia.
73
1. Mediatización y multimodalidad
Es ya clásica la afirmación, originada en el estructuralismo funcionalista y que arraigó en
las primeras escuelas de análisis del discurso (AD) que todo discurso es multimodal. Este
reconocimiento, que podría remontarse incluso a la antigüedad, cobra importancia en la segunda
mitad del siglo XVIII, pues la estética se incorpora a la disciplina filosófica, en tanto reflexión
sobre las producciones artísticas. Hay en este siglo un creciente interés por abordar las artes, en
particular la pintura, la escultura y la poesía, más allá de su evidente materialidad, para reconocer
el potencial semiótico que constituye la obra en sí y que la dimensiona en más de un código (véase
el trabajo de Martin Kaltenbacher, 2004). Esto significa que en los estudios multimodales se
reconoce que los discursos están constituidos por una diversidad de códigos (verbal, pictórico,
kinésico, gráfico, sonoro, entre otros, esto es, los sistemas semióticos), y que además, estos
diversos códigos se pueden combinar en formatos diferentes, que originan múltiples formas de
significación.
Dada la variedad de códigos es posible hacer una tipología y caracterización de los
mismos, sin que ello implique la primacía de un código sobre otro. Suele considerarse en los
estudios lingüísticos clásicos que el código verbal se impone sobre los demás códigos disponibles
en la sociedad; no obstante el análisis crítico del discurso (ACD) y las teorías multimodales más
recientes, plantean que la significación procede de la fusión de las múltiples modalidades que se
constituyen a través de las formas de representar la realidad que son movilizadas discursivamente.
Así, aunque un discurso sea un tejido de múltiples códigos que podrían deslindarse o delimitarse
para efectos metodológicos, es en su fusión donde se convierten en un discurso y en donde cobran
significado y portan ideologías.
En los trabajos de Kress y van Leeuwen (2001), la multimodalidad se refiere a los procesos
que combinan el uso de los distintos sistemas de signos actualizados en el discurso (modos), así
como a los mecanismos comunicativos de producción y comprensión que los interlocutores
relacionan para generar cierta significación.
En esta perspectiva, el discurso multimodal es susceptible de ser analizado en los distintos
niveles que proceden de comprender al signo en uso y, en consecuencia, al signo como gestor de
acción social, lo cual implica necesariamente, la relevancia de las funciones semánticopragmáticas. Si se siguen los planteamiento de Kress y van Leuween, el análisis del discurso
multimodal incluye por lo menos la descripción y comprensión de sus recursos semióticos, los
modos implicados, los medios en que circula y significa el discurso, y el conjunto de prácticas
comunicativas que se constituyen cuando se estabilizan significados sociales y se configuran
74
formas de proceder social, que dan cuenta de la manera como un discurso dado, e históricamente
situado, construye saberes colectivos.
Así como se afirmó que todo discurso es multimodal, puede decirse que los discursos han
sido siempre multimodales. Es decir, la comunicación humana siempre ha implicado el uso de más
de un código, tecnologías, conocimientos múltiples, tanto en lo que se refiere a la producción
discursiva como a su comprensión. A medida que los procesos comunicativos han incorporado
nuevas tecnologías, la multimodalidad discursiva ha requerido nuevas formas de producción,
distribución y comprensión de los contenidos. En la denominada era de las tecnologías de la
información, los diferentes modos se han transformado técnicamente, esto es, su producción y
comprensión ha sido modificada por la apropiación y el desarrollo de habilidades en un sólo
individuo. Así, en el proceso de comunicación, estos elementos constitutivos -no siempre visibles y
explícitos- constituyen parte esencial del proceso representacional, tanto de quien produce como de
quien comprende los discursos; en este sentido el carácter mediatizado de los discursos produce
significado.
La mediatización se entiende como el efecto de significado con impacto en la cultura, que
deriva de la producción y reproducción de contenidos a través de las tecnologías de la información,
gestadas en la misma cultura. Este hecho, aunque en apariencia paradójico, puede entenderse mejor
si se piensa que la interacción humana comporta una constante co-elaboración de contenidos y
significados y que, además, se moldean a través de las tecnologías de la comunicación y la
información, originadas en la cultura y expresión de la misma. Pardo, (2008)
Mediatización y multimodalidad son conceptos que se relacionan estrechamente y que
cobran todo su significado en la expresión de los medios masivos de comunicación, pues
involucran diferentes elementos que son relevantes en la construcción de significado: tecnologías,
escenarios e instituciones. Ahora bien, la mediatización y la multimodalidad, así entendidas,
cobran sentido en primer lugar, en la relación entre los sistemas de signos involucrados en la
comunicación, y los recursos usados y mezclados en la construcción de lo que se expresa. En
segundo lugar, estos conceptos se articulan al jugar un papel preponderante en la orientación
cognitiva e ideológica de los diversos contenidos circulantes sobre los fenómenos sociales y así, es
plausible pensar que a través del discurso, encauzan las perspectivas de conocimiento, la
percepción de lo expresado y, en consecuencia, las maneras del hacer social.
En este sentido, la multimodalidad es la multipresencia de sistemas semióticos, que pueden
ser inherentes al discurso, o pueden ser concomitantes al proceso de su producción, comprensión y
circulación. Si se observa internet, a primera vista el sistema verbal sigue jugando un papel central
en la construcción del significado, pero aunque el discurso verbal digitalizado pueda tener una
75
cierta preeminencia, es inevitable reconocer que hay un medio y un recurso tecnológico que
privilegian otros modos, a través de los cuales se proponen nuevas maneras de representar
realidades y de ser percibidas. Así, el modo visual puede ser verbal, pero también pictórico y
gráfico; el modo auditivo puede ser verbal, pero además implica el código musical y otros recursos
sonoros como los sistemas de ruidos convencionalizados o no; un modo táctil, que para el caso de
internet, está constituido por un metalenguaje, como lo que ocurre con JAWS38 y, en ocasiones el
olfativo y hasta el gusto.
Desde este punto de vista, el recurso mediático se hace sensible a los sistemas semióticos y
a los modos disponibles, y al hacerlo, posibilita a los interlocutores la representación de otros
sistemas en la construcción del significado formulado en la interacción y, por tanto, puede ser
constitutivo del contexto39. Si se sigue la argumentación de Kress y van Leeuwen (2001), es
posible que en la interacción el olor, el color y otros códigos puedan ser tratados como sistemas
semióticos, y puedan ser representados estableciendo relaciones con códigos con los que coexiste,
y que determinan y desempeñan funciones definidas en la construcción del significado del
discurso.
2. La web: el lugar de la multimodalidad y la mediatización
El fenómeno comunicativo más relevante en el mundo contemporáneo está centrado en la
web. Se puede afirmar que esta red de información tejida con hipervínculos, recursos semióticos y
los modos visual, verbal, auditivo, entre otros, constituye un lugar privilegiado para analizar los
significados sociales que circulan, con aparente libertad, para ciertos sectores de la sociedad, sobre
todo cuando hablamos de Colombia y América Latina.
En el intento de describir la web, en principio podría señalarse que ésta es el lugar en el
que hay una creciente producción y distribución de textos multimodales, caracterizados por
integrar una multiplicidad de medios y recursos tecnológicos, que ha apropiado y generalizado el
uso del hipertexto. Este último, siguiendo a Levy (2000), se entiende como el conjunto de textos no
secuenciales, enlazados y relacionados por links, que se integran a las tecnologías de la
información con la creatividad y capacidad de reflexión del hombre, y que contribuye a definir una
38
JAWS es el lector de pantalla que permite a personas ciegas acceder a los contenidos de la salida visual de un
ordenador personal mediante voz y/o el alfabeto Braille; para la emisión hablada se emplean por lo general programas
sintetizadores de voz aunque también es posible utilizar dispositivos externos diseñados para tal fin, y la salida en
Braille se realiza siempre a través de terminales generadores de este código.
39
Los contextos son constructos participativos, que se expresan como definiciones subjetivas de todos los factores de
la situación comunicativa o de la interacción. En esta perspectiva, el medio, esto es, el recurso tecnológico implicado,
los sistemas semióticos selectivamente apropiados, y en general, todos los elementos que son capaces de determinar en
alguna medida el significado de lo que se expresa y que determinan en algún sentido la acción humana, son elementos
del contexto. Veáse Dijk, T.A. van, (2008) “Discourse and Context”. Cambridge University Press.
76
cultura que se propone colaborativa, instalada en el uso digital. Esta conceptualización de
hipertexto, con clara vinculación a la manera como estos discursos digitales circulan en la cultura,
desempeña un papel constitutivo y constituyente de la sociedad, y en últimas construye su
significación. Puede entenderse que, en la medida en que el hipertexto sintetiza y recupera lo más
relevante de la expresión de la sociedad informatizada, potencia la posibilidad de analizar y
explicar sus estéticas y su cultura.
El hipertexto en la cultura digital ha abierto la posibilidad de que las tramas narrativas sean
desplegadas en múltiples dimensiones, proveyendo también infinitas posibilidades de rutas para
seguir en la construcción de información. Esta coexistencia de sistemas sígnicos se caracteriza
también por articular géneros y propósitos híbridos; es decir, los hipertextos se diseñan para
desempeñar funciones distintas, complejas y complementarias que asocian convenciones
relacionadas culturalmente, con diferentes géneros textuales, y hacen cada vez más invisibles las
fronteras entre los géneros discursivos.
Aunque como se afirmó en la sección precedente, la multimodalidad es un recurso
comunicativo antiguo, en el mundo contemporáneo se evidencia a través de los avances
tecnológicos, de la digitalización, de los procesos de distribución acelerados y en masa
posibilitados por el desarrollo de internet. El soporte proporcionado por la infraestructura de la
internet, es el recurso tecnológico que posibilita la interacción y fusión de los múltiples modos, y
en donde los medios se combinan para la construcción de textos hipermediales y multimodales
propios de los sitios web. La coexistencia y desarrollo de estos factores redunda en la aparición de
nuevas prácticas constructoras de significado, que se pueden explorar en los elementos
constitutivos de la multimodalidad, cada uno de los cuales desempeña funciones distintivas.
La relación que se establece entre la multimodalidad y la mediatización puede inferirse
desde los planteamientos de Kress y van Leeuwen (2001), en relación con lo que es posible
discernir del proceso de producción, comprensión y distribución del discurso que circula a través
de las tecnologías.
Así, el discurso contemporáneo fusiona los sistemas semióticos y mezcla diversos recursos
tecnológicos en la construcción de lo que se quiere expresar, por una parte, y por otra, construye
nuevas formas de representar discursivamente fenómenos sociales, determinados por los recursos y
los sistemas sígnicos involucrados. Así, al establecer
la relación entre mediatización y
multimodalidad lo que queda en evidencia es la función orientadora del discurso, las perspectivas
y las maneras como se propone un tipo de conocimiento social. Desde este punto de vista, todo lo
que involucra dicha relación, determina lo que se expresa en el discurso, y hace posible reconocer
que las tecnologías que han permitido masificar saberes individuales y colectivos, involucran en la
77
construcción del significado, las tecnologías, los escenarios o condicionamientos espacio
temporales y, las instancias reguladoras de la vida social, esto es, las instituciones.
La mediatización es el conjunto de significados que se derivan de la interacción humana
que se realiza con las tecnologías de la comunicación y la información; es por lo tanto el conjunto
de efectos de significado con impacto en la cultura en que se originan, cuando los seres humanos se
comunican y, para ello, apropian recursos tecnológicos, condiciones espacio temporales, prácticas
comunicativas nuevas o en transformación, así como las instancias de socialización disponibles
culturalmente. De esta manera, se entretejen sistemas semióticos y sus formas de actualización,
junto con los procesos de producción, distribución y comprensión, Pardo (2008).
El carácter multimodal del discurso procede de los recursos semióticos involucrados en la
comunicación, los modos y medios, y las prácticas comunicativas en las cuales se desarrollan esos
modos y medios (Kress y van Leeuwen, 2001). Los recursos semióticos hacen referencia a los
sistemas de signos disponibles en la sociedad (verbales, kinésicos, musicales, sonoros, gráficos,
pictóricos, etc…), que subyacen a los procesos de construcción de significado. En esta perspectiva,
cuando se usa internet y el usuario accede a un determinado sitio web, por ejemplo, ya sea para
visualizar un texto, escuchar una pieza musical, ver un video, una película, una fotografía, una
pintura, un dibujo o un conjunto de emotíconos, lo que ocurre es que entra en contacto con un
código o conjunto de códigos que por su propia naturaleza no son sistemas neutrales. Es decir, que
la selección del código en sí mismo afecta la construcción del sentido propuesto en el mensaje que
se transmite y determina maneras de concebir la realidad allí representada, además de determinar
grados de accesibilidad. El código, por lo tanto, sugiere un modelo de mundo, una manera de
percibir la realidad, una perspectiva, una lógica que se asocia ideológicamente al significado. Así,
los sistemas semióticos además de contribuir a la solución de la necesidad de generar significados,
son la consolidación convencionalizada de procesos sociales y culturales cuya vigencia y
permanencia contribuye a comprender los hechos sociales, y a adoptarlos y comprenderlos desde
un punto de vista.
La ineludible relación entre el modo y el código que lo soporta, así como el medio en el que
se distribuye y cobra existencia, constituye un asunto nuclear para la comprensión de la relación
mediatización y multimodalidad que se ha venido desarrollando. Uno de los hechos más evidentes
cuando se analiza un sitio web, es que se involucra de inmediato el sistema semiótico
predominante y su vinculación con otros sistemas. Así, el texto digital que tematiza un
acontecimiento en un sitio web se reconoce desde una tipografía, con unas características tales
78
como fuentes, color, formas que aspiran a
dar sentido de identidad, entre otras. En esta
perspectiva, se puede afirmar que el texto verbal digital es multimodal40.
En sentido similar se puede pensar que los diferentes modos se vinculan de manera directa
con un conjunto de propósitos comunicativos y elecciones cognitivas por parte de quien produce el
mensaje, esto es, si un artista ubica su pintura en una página web, el significado global de su obra
procede directamente de las posibilidades que el medio digital le proporciona, para que el color
concentre la significación y otros modos de los que pueda hacer uso se articulen coherentemente en
el proceso de su comprensión, por ejemplo. Así, el significado, el recurso tecnológico y los modos
implicados determinan y son determinados en sus diferentes interacciones.
En otra perspectiva, la relación modos-recursos y sistemas sígnicos, se articula a funciones
comunicativas. De esta forma, cuando accedemos a un sitio web los modos y el sistema sígnico
garantizan los grados de usabilidad; dicho de otro modo, el texto, la imagen, el color y el sonido
soportados digitalmente se proponen para que el usuario alcance un grado de comprensión y
participe en el proceso de significación que allí se elabora. Adicionalmente, desempeñan la función
de garantizar una navegación fácil, la cual, desde luego, se vincula con los grados de comprensión
en relación con la accesibilidad. Hay una función pragmática y una función cognitiva en estrecha
relación.
La articulación y coherencia entre los modos, los medios y las prácticas comunicativas no
constituye un simple apoyo a la construcción del hipertexto. Se podría afirmar que la existencia de
los medios potencia la capacidad de transformar profundamente los significados de los discursos
que porta y, que ellos mismos tienen un potencial de sentidos. Por eso la función básica de los
recursos tecnológicos es la de garantizar la conjunción de los recursos semióticos y los modos, para
dar lugar a la constitución de nuevas prácticas. En el intento de extender estos conceptos al análisis
de la multimodalidad en la web, podría pensarse que el medio -es decir, la tecnología así como la
infraestructura que permite la navegación- está provisto en esencia por el soporte de internet y por
la interacción entre la máquina (el hardware), los programas (software) y un ser humano. Esta
articulación de recursos y acciones facilita el uso de múltiples formatos para crear contenidos, en
los que coexisten los sistemas semióticos, los modos, los medios y las prácticas que se derivan del
uso de esas tecnologías.
En la actualidad, el diseño especializado de la interfaz de usuario como uno de los recursos
principales para potenciar múltiples formas de interacción, ofrece a los usuarios la posibilidad de
usar la voz o diferentes dispositivos para introducir datos como el teclado, el ratón, el lápiz digital,
40
Sobre este punto van Leuween (2001, 2008) ha desarrollado ideas muy interesantes que incluyen características
como la textura, perspectiva y movimiento.
79
que permiten el acceso a formatos de audio, video, juegos, archivos, aplicaciones, libros
electrónicos, entre otras posibilidades; así, en la multimodalidad se desarrollan estándares abiertos
que posibilitan un uso amplio de la web y facilitan diferentes formas de interacción.
Estos cambios en las formas de producción, de acceso y representación de la información
propician modificaciones culturales que se han instalado en la web. Así, resulta razonable pensar
que la representación tradicional de los hechos sociales ha cambiado, y ello en virtud del cambio en
las formas de representación desarrolladas por los medios masivos de comunicación, no menos que
de los cambios en el acceso a la información que ha supuesto la aparición de Internet.
Específicamente, es de gran interés el análisis del portal de Internet www.YouTube.com, creado en
2005, cuyo objetivo básico es permitir a los usuarios ver, publicar y compartir videos de casi
cualquier temática, de forma gratuita. Tales características han garantizado niveles interesantes de
tráfico en el portal, entre los usuarios frecuentes de internet41.
Interesa en esta investigación hacer una primera exploración de las características
multimodales que dan cuenta de un fenómeno de mediatización, a propósito de un problema social
estructural como es la pobreza. Para estos efectos, en el apartado que sigue, se propone una
descripción general del sitio, con el propósito de reconocer algunas de las características de los
discursos típicamente hipermediales y multimodales que circulan por el portal YouTube.
3. YouTube. Una aproximación al sitio
El portal de internet YouTube permite a los usuarios ver, compartir y crear sus videos. Esto
es posible por la facilidad para usar formatos comunes y asequibles, como WMV, AVI, MOV, EG
o MP4, mientras que el audio se graba y reproduce en formato MP3, lo cual permite subir videos
hechos por cualquier persona que tenga una cámara y que pueda transferirlos a cualquiera de los
formatos digitales enumerados. De manera más reciente el sitio ha introducido mejoras, tendientes
a extender aún más el tráfico en el portal, a saber, la ampliación del tamaño de los archivos que
pueden subirse, de 100 MB a 1GB, y de hasta 10 archivos de este tamaño a la vez, sin el uso de
programas o complementos. Además la implementación de la tecnología Ajax, permite completar
la información sobre los videos que están siendo gestionados, en paralelo.
Así, la calidad en los videos, no tiene condiciones técnicas específicas, no existen los
requerimientos de las grandes producciones en cuanto a recursos tecnológicos que aseguren niveles
altos de calidad en audio y video -como nitidez de la imagen, velocidad de reproducción, claridad
41
Si se tienen en cuenta los estudios de medición de tráfico en internet, según los datos de Alexa (febrero de 2008),
YouTube es la segunda página del mundo que más tráfico mueve (http://www.dosbit.com/2008/02/20-YouTube-yaes-la-segunda-pagina-del-mundo). De otra parte, el sitio Hitwise (junio 2008) señala que YouTube es líder del tráfico
en su clase con el 75.43% ( http://www.neoteo.com/YouTube-lider-del-trafico).
80
del audio, entre muchas otras exigencias técnicas- y permite una participación ‘masiva’ de los
usuarios como creadores de sus propios videos.
En cuanto a la posibilidad de visualizar los videos, el portal no exige ningún registro previo
del usuario, éste es opcional, de modo que el acceso a la información es libre42. Los identificadores
o etiquetas (tags) que puede llevar todo video, permiten al usuario ubicar los contenidos que desee
ver, al escribir en el buscador las palabras o descriptores de su interés. Sin embargo, el etiquetado y
la búsqueda por descriptores no asegura la accesibilidad a un video, dado que sólo tiene la
posibilidad de etiquetarlo quien lo ha subido, de tal forma que pueden quedar muchos contenidos
ocultos, si no hay un etiquetado colaborativo.
Las características básicas del portal están bajo el concepto web 2.0, es decir, se basa en la
idea de la construcción colaborativa de contenidos. El usuario puede compartir los videos de su
preferencia, o los que ha producido, enviándolos con un mensaje adjunto, valorar o calificar los
contenidos disponibles, visualizar contenidos relacionados, enviarlos a cualquier otro usuario, o a
través de enlaces. Así, aunque está permitida una circulación y una visualización libre, en cierto
sentido es una comunidad restringida. Esta primera aproximación permite dar cuenta de las
transformaciones en las prácticas comunicativas que se derivan de entrar a un sitio como YouTube:
identificar secciones y jerarquizarlas, crear grupos, crear y ver canales de televisión, tomar
decisiones en relación con las propuestas de jerarquización que hace el propio sitio y crear desde
allí conexiones con otras tecnologías, como cuando se pueden observar contenidos desde
dispositivos móviles.
En este sentido los recursos materiales disponibles y las acciones humanas involucradas
contribuyen en la elaboración y determinación en doble vía, requeridas para la configuración de los
significados que se construyen en ese espacio interactivo. El potencial de significación que se
deriva de la descripción que procede de la herramienta tecnológica conduce a reconocer los
significados que de ella proceden, esto es, la mediatización se articula al recurso tecnológico, en
tanto al describir las características del recurso se desentrañan significados adheridos, no siempre
explícitos, como cuando al mirar los tipos de páginas y sus características se reconoce la dirección
del dominio, el index, la página de inicio, todo lo cual permite conectar sentidos de identidad, que
para el caso de YouTube es el concepto de una pantalla que evoca la antigua televisión de tubo,
cuyos orígenes tecnológicos se ubican a finales del siglo XIX, y que se materializa en las primeras
décadas del siglo XX.
42
Se entiende por “acceso libre”, en este contexto, a la posibilidad de ingresar y hacer uso del portal de YouTube y, a
través de los links conectarse con otras páginas de forma irrestricta ya que no hay impedimentos a la visualización de
los videos es posible consultar todos los contenidos disponibles, sin límites de tiempo o cantidad.
81
El mensaje verbal que acompaña al ícono que identifica el sitio se propone en dos sentidos:
por una parte, el usuario se asume poseedor de una vía que convoca el carácter creador y dinámico
de quien se apropia de la misión del sitio “Broadcast yourself”; y por otra, sintetiza el principio
orientador y definidor de la existencia del sitio web, crear y compartir videos originales, y
participar interactivamente de las potencialidades y servicios disponibles. El origen del sitio se
rastrea desde el carácter intransformable de su identificación en inglés; aunque el sitio cuenta con
interfaz en diversos idiomas, el ícono y el mensaje verbal, se mantienen siempre en la lengua de
origen.
Adicionalmente el reconocimiento de las herramientas conduce a verificar las partes que lo
constituyen y el carácter unitario del sitio, así como su accesibilidad y actualización. En el caso que
se analiza se verifica la jerarquía de los temas y los efectos del diseño, los cuales constituyen las
categorías a través de las que se constata la coherencia43. En referencia a la jerarquía de los temas
es plausible pensar una relación complementaria entre la página de inicio, las secciones y las
páginas intermedias. En YouTube se corrobora que la página de inicio provee el acceso a las
páginas intermedias y de contenido, a las secciones y, en general, estabiliza una manera frecuente y
tradicional de presentar contenidos en la web. Así, se reconocen vínculos, íconos y títulos lo cual
contribuye a que el usuario pueda formular algunas predicciones en relación con los contenidos del
sitio.
Desde el punto de vista semántico, se puede proponer, tentativamente, que YouTube no
tematiza sus contenidos, aunque en la página de inicio se proponga una cierta jerarquización, que
prioriza los videos que están siendo observados al momento de ingresar al sitio, los videos
promocionales y, finalmente, con un criterio no definido con claridad, se identifican videos
destacados. La propuesta de YouTube en relación con la jerarquización de los temas es típicamente
catafórica; es de notar que la barra de búsqueda está jerárquicamente priorizada en el diseño de
interfaz de usuario, de manera que la concentración semántica por jerarquía temática es, en
principio, una elección del internauta. Nótese, sin embargo, que asumido el tema como tópico, la
página propone una jerarquización que responde, por una parte, a criterios que el sitio marca como
‘relevancia’, ‘fecha’, ‘volumen de reproducciones’ y ‘puntuación’, y a un criterio de temporalidad
relacionado con la fecha de aparición de los contenidos; por otra, a las opciones de selección
sugeridas por el buscador.
La organización y jerarquización de temas cumple no sólo una función interactiva sino,
además, una función cognitiva, en tanto activa un conjunto de conocimientos que conducen
43
La coherencia es, entendida en este documento, como el conjunto de relaciones semánticas y estrategias que dan
cuenta de la unidad conceptual de un discurso.
82
pragmáticamente a reconocer fuentes, asignar grados de confiabilidad, identificar selecciones con
más alta probabilidad de atender las necesidades de contenido requeridas, alcanzar propósitos
comunicativos, entre otras. Sin embargo esta hipótesis se desestructura cuando se verifica la
coherencia de YouTube no procede completamente de develar los macrotemas expresados en
videos. Así, por ejemplo una vez que el usuario toma la decisión de adoptar un descriptor, la
página de contenido despliega el macrotema y, en consecuencia, el consumidor, al contrario de lo
que se espera recorre parcialmente una organización conceptual en apariencia articulada
semánticamente.
La jerarquización del sitio constituye por sí misma una herramienta para el análisis
semántico que puede desplegarse a través de los hipervínculos articulados a los recursos
semióticos, y a los modos propuestos en la web, y que se conectan generando una suerte de
relaciones intertextuales las cuales, en el caso de YouTube, se expresan en los hipervínculos. En
este sentido, esos hipervínculos conectan internamente la página y permiten verificar, aunque
fragmentariamente la organización conceptual del sitio.
Aunque en apariencia la circulación de los contenidos es libre y sin restricciones, la
accesibilidad no siempre está garantizada por una asociación semántica directa con el tag o
etiqueta. Dado que la información parece no estar fijada en algún punto específico, de hecho los
contenidos se encuentran “flotando” en el medio, no se garantiza que la accesibilidad sea la misma
para cualquier contenido ni para cualquier usuario, por lo cual se infiere que en el medio hay
contenidos de más difícil acceso, que incluso pueden resultar invisibilizados. Esto puede explicarse
si se tiene en cuenta que los tags y las categorías en la que se ubica un video en particular, es
marcado exclusivamente por el usuario que lo sube (y que en consecuencia se encuentra registrado
en el sitio) lo cual da cuenta de criterios subjetivos, en ocasiones poco especializados, como
cuando un video musical se categoriza en música. La consecuencia de orden semántico es que no
siempre puede establecerse la relación entre los diversos aspectos del contenido efectivo del
documento, y la manera como se categoriza o se describe.
Este rasgo resulta importante en el funcionamiento de YouTube, y en general de internet; es
la denominada deslocalización de la información que está estrechamente articulada con su carácter
relacional, es así que al escribir “pobreza” o “poverty” en el buscador, éste se encarga de poner a
disposición del usuario algunos videos en los que se encuentre el descriptor, ya sea en el tag, en la
descripción, o en el enlace (link). Estos dos elementos son claves en el propósito de conectar
algunos contenidos disponibles, con el objetivo de construir redes de información en las que
siempre se encuentran enlaces adicionales que lleven a otros videos, que a su vez estarán enlazados
83
con otros. La interfaz gráfica de usuario44 de YouTube permite acceder a esta forma de
conocimiento relacional de los contenidos, pues al ponerse un video a disposición del usuario,
también aparecen hipervínculos45 relacionando este video con otros.
De igual forma, se encuentra la opción de ver y reproducir los demás videos de un mismo
autor, los cuales ya no tienen que ver necesariamente con el tema buscado, lo que abre la
posibilidad de acceder a contenidos distintos, de modo que, por ejemplo, al hacer una búsqueda de
un video sobre pobreza y delincuencia colombiana, un usuario puede terminar accediendo no sólo
al tema de la búsqueda original, sino a especificidades del tema como “estafas en Colombia” o
“más ladrones en cajeros automáticos”, que dan cuenta de un aspecto del problema, conducir luego
a aspectos específicos de la delincuencia y la pobreza fuera del país en donde los videos
relacionales pueden tematizar asuntos desarticulados del tema inicial como “no se va la nata gris
del cielo de Beijing”.
En suma, cada unidad constitutiva de la información global siempre aparecerá en relación
con otros, la estrecha interconexión entre los elementos individuales hace que la búsqueda, por
parte del consumidor, no esté dirigida tanto hacia éstos, como sí hacia cúmulos de información,
nodos de redes gigantescas, de modo que, por ejemplo, al cambiar el título de un video, se cambia
la información que lo relaciona directamente con otros videos, y gran parte de sus enlaces son
reajustados. Este tipo de cambios hacen que toda la red se reacomode.
Lo que se ha afirmado en relación con las potencialidades de las que se dispone cuando se
reconocen los avances en la digitalización, con todas las prácticas constructoras de significado que
ellos comportan, permite intuir que sitios como YouTube y la internet en general, están
transformando la cultura. Si se observa YouTube, por ejemplo, se puede verificar la presencia de
una nueva economía sustentada en un comercio de potenciales consumidores, que contribuyen a
constituir la empresa virtual, un nuevo modelo que se basa en la idea de explorar gustos y
tendencias de los usuarios. Por ejemplo, si entramos al video promocional “life? on mars?”
http://www.YouTube.com/watch?v=WgGR6DC2YJs&feature=dir, la página despliega, entre otros
contenidos que se proponen para el consumo, el acceso a “free planetary chakra”
44
“En el contexto del proceso de interacción persona-ordenador, la interfaz gráfica de usuario es el artefacto
tecnológico de un sistema interactivo que posibilita, a través del uso y la representación del lenguaje visual, una
interacción amigable con un sistema informático. La interfaz gráfica de usuario (en inglés Graphical User Interface,
GUI) es un tipo de interfaz de usuario que utiliza un conjunto de imágenes y objetos gráficos para representar la
información y acciones disponibles en la interfaz. Habitualmente las acciones se realizan mediante manipulación
directa
para
facilitar
la
interacción
del
usuario
con
la
computadora”.
Tomado
de:
http://es.wikipedia.org/wiki/Interfaz_gr
45
El hipervínculo es el texto o ícono que enlaza la información de una ventana con información de otra ventana, o
dentro de la misma.
84
http://www.aboutastro.com/cgi-bin/reg2008.cgi?r=plgj5-rc&a=2006-12-12 un servicio on-line que
es una empresa virtual.
Un portal como YouTube, uno de los más visitados en el mundo, abre enormes
posibilidades comerciales para los anunciantes, no sólo porque permite desplegar banners
relacionados con los temas de las búsquedas hechas por los usuarios, que enlazan con sus
respectivos sitios web, sino también porque permite obtener información acerca de sus gustos,
tendencias, búsquedas frecuentes, además de su dirección IP y eventualmente sus cuentas de correo
y así utilizar los servicios de spam46 para comercializar a través de la publicidad.
La potencialidad del sitio es aún mayor, ya que no sólo las grandes compañías pueden
pautar, sino que la pequeña y mediana empresa, incluidas aquellas que se constituyen con una
persona, pueden subir contenidos para promocionar sus productos o servicios. Los ejemplos son
ilimitados, pero vale la pena rescatar la idea expuesta por Castells (2003) según la cual otra de las
enormes posibilidades de esta clase de sitios es la de evaluar la recepción y acogida de un prototipo
de producto en el público objetivo. Así es que el modelo de funcionamiento del capital está siendo
reemplazado por un modelo en el cual es posible anticiparse a la respuesta del mercado, evitando
grandes inversiones en los costos de producción.
Un sitio como YouTube, abre la posibilidad de hacer estudios de mercado más consistentes,
reales y sobre todo útiles para los inversionistas, pues algunas de las herramientas de las que
dispone el sitio (comentar los videos, por ejemplo) permiten un contacto más rápido y efectivo con
los potenciales clientes. Uno de los ejemplos más sobresalientes de la forma como las prácticas
económicas están siendo moldeadas y reajustadas en YouTube, es el caso de la industria
discográfica. Resulta interesante observar la modificación de las prácticas sociales que se deriva
del uso de la red en fenómenos de mercado, como cuando se vendió al “precio que quieras pagar”
-incluso gratis- el álbum In Rainbows de la banda británica Radiohead. En este caso, se abre un
nuevo modelo de mercado, pero en paralelo se produce una actitud de resistencia, un sentido que
aspira a romper las reglas propuestas en el sitio y la búsqueda de posicionarse en los límites de la
legalidad. En el caso que se observa, aunque hubo una significativa cantidad de usuarios que en
efecto descargaron el álbum en el sitio oficial y que pagaron alguna cifra por él o no pagaron, la
cantidad de internautas que optaron por descargas a través de torrents fue considerablemente
mayor. Se instala por lo tanto, una nueva ética en la que se pretende hacer del bien cultural un bien
46
El denominado spam, correo basura o sms son mensajes no solicitados, autorizados o provenientes del círculo social
habitual, mediante los cuales se remite información de tipo publicitario, en grandes cantidades -por lo que también
suele identificárseles con el correo masivo- que se considera pueden perjudicar al receptor de éstos. Aunque el correo
basura tiene varios fines, uno de los más extendidos es el marketing, que ha crecido a niveles impensados desde su
creación.
85
común, que desestructura completamente la lógica del mercado, y que aspira a hacer de los bienes
simbólicos el lugar de convergencia de una nueva ideología frente al valor de lo simbólico.
YouTube es un portal creado en la era de las redes sociales, concepto que introdujo un
importante cambio en la forma de concebir la red y de desarrollar todo su potencial. Las
denominadas comunidades virtuales, creadas con el fin particular de aglutinar grupos humanos con
intereses comunes, han repercutido en las formas de interacción humana, dando lugar a una reinvención de prácticas que permiten que seres humanos, que no interactúan cara a cara, dadas
ciertas condiciones espaciales, temporales o lingüísticas, puedan interactuar en torno a un interés
común. Esa interacción en red implica la capacidad de intercambiar contenidos u opiniones en
tiempo real, acomodando la acción social a los condicionamientos de acceso a la red y de
accesibilidad a los contenidos. Por eso se implican recursos tecnológicos y capacidades cognitivas.
Esta clase de análisis -de la denominada sociabilidad en Internet- impone en la actualidad
una fuerte carga ideológica a la red, articulada por una parte, a las nuevas prácticas comunicativas los chats, los servicios de blog y microblog, los servicios de RSS, los lectores de feeds, los torrents,
los servicios P2P- que no sólo permiten un debate abierto y anónimo -si se quiere- en torno a casi
cualquier cuestión tematizada en red, sino que además, permiten a los usuarios acopiar enormes
cantidades de información, que para ser aprehendida, acopiada, utilizada eficientemente requiere el
desarrollo cada vez más especializado de procesos cognitivos como la atención. En YouTube se
concreta esta nueva forma de construir significados, que se articula a la manera como se construye
la identidad del usuario en el sitio, elaborando significados sociales que dan cuenta del proceso de
mediatización.
Así, la capacidad del sujeto para elaborar productos mediáticos, sin que se imponga de
manera definitoria el recurso tecnológico o la institucionalidad mediática, construye una
individualidad que se manifiesta en la posibilidad de crear y socializar contenidos con facilidad y,
al hacerlo relevar la propia identidad, proponerse como un hacedor social, lo cual transforma
también en algún sentido la propia percepción, y la autoestima. A esto se refiere Gauntlett (2008)
cuando habla del argumento del “artesano en red”.
De otra parte, un sitio como YouTube, en el que es posible encontrar contenidos asociados
a casi cualquier búsqueda introducida en la barra de navegación, requiere que el internauta
adquiera habilidades para dirigir su búsqueda, que el sitio esté diseñado de una forma que permita
y facilite su acceso a contenidos. Pero también posibilita que individuos se agrupen y establezcan
debates abiertos, no mediados por la materialidad, en donde tanto el anonimato como la
individualidad cobran sentido y valor, permiten opiniones abiertas, debates poco usuales o
agrupaciones en torno a causas raciales, étnicas, de género, entre otras, como es el caso del sitio
86
Rockthevote, una comunidad de YouTube creada con el fin de promover y dar valor y sentido al
voto hispano, en pleno debate electoral entre los candidatos Barack Obama y Jhon McCain. Más
allá de la función política y pragmática que pueda derivarse del sitio, lo que cobra importancia es la
construcción de la propia identidad en el orden de lo individual y de lo colectivo, que se deriva de
proponerse como sujetos capaces de ejercer poder civil e intervenir la escena social.
Así como las esferas culturales de la economía, la política, las formas de socialización
humana están siendo resignificadas, esto es que generan un proceso de mediatización que se
articula al uso de la red, también las expresiones simbólicas de la cultura, sobre todo el arte, están
siendo modificadas tanto en sus formas de producción, como en los procesos de distribución y
apropiación cuando circulan en la red. Como se señala, los cambios confluyen en las implicaciones
que tienen las tecnologías, pero también en las modificaciones que proceden de la lógica
comunicativa que se impone. Brea (2002) señala un cambio esencial que implica no sólo su
significado, sino también la acción social que gira en torno al arte, es el paso que se impone desde
la obra de arte “singular e irrepetible” a una obra que “está en transcurso”, desde su
institucionalización como producto excelso de la cultura que imponía un ritual para su observación
y reflexión crítica, a una expresión más filtrada en la vida cotidiana y que se ve compelida a
encontrar un lugar entre enormes y efímeros flujos de información.
Cuando se observa este fenómeno en YouTube es evidente que la obra de arte pierde su
carácter intemporal, para concentrar el potencial simbólico disponible en la expresión artística,
convirtiéndose en otro hecho artístico portador de nuevos significados y nuevos usos. En
http://es.YouTube.com/watch?v=40VAh8pRbjI titulado “Fragmentos de la historia de la pintura”,
se sintetiza el carácter efímero del arte y su desinstitucionalización, así:
“toda su promesa de eternidad, de duración, frente a la experiencia de
efimeridad del acontecimiento, se ve en profundidad desbaratada. Sometida a
un tiempo interno, expandida en una duración propia, la nueva imagen se
hace testigo y conciencia de su propio “estar en transcurso”, un durar breve
que es el propio del acontecimiento (y no de la tradición de la
representación): su nuevo horizonte no es ya la eternidad, sino lo efímero del
tiempo-real, ese “está pasando, lo estás viendo” que caracteriza el propio
desafío de los media, de la vida diaria, de los flujos de la información, de la
experiencia cotidiana” (Brea, 2002).
La obra de arte en cuanto producto no sólo cambia su ontología, sino que la praxis misma
de la actividad artística se transforma, en tanto se originan nuevas rutinas sociales en las que se
empiezan a diluir las fronteras entre lo “culto”, lo “popular”, lo “individual”, lo “masivo”,
gestándose un mestizaje que se determina en una interacción en la que el internauta es el sujeto que
participa activamente, no sólo en su eventual rol de productor, sino también en el rol potencial de
87
quien elabora, crítica y expresa juicios de valor. En este sentido se construye una nueva ritualidad
en la lectura y comprensión del arte.
4. YouTube: la construcción del discurso de la pobreza
Los desarrollos conceptuales que se han presentado están en el marco de la teoría de la
multimodalidad planteada por Kress & van Leeuwen (2001). Se propone por lo tanto una mirada
del discurso multimodal desde el proceso de su producción, como práctica comunicativa
47
, de su
diseño, en tanto condición de selección y apropiación de los recursos y los medios semióticos, y de
su distribución en tanto práctica social en la que los significados no sólo se preservan y transmiten
a través de los usos de las tecnologías, sino que fundamentalmente contribuye a la transformación
y creación de nuevas representaciones e interacciones.
Uno de los aspectos fundamentales de la teoría multimodal es el énfasis puesto en la
potencialidad de los múltiples recursos semióticos de los que dispone quien elabora un mensaje. El
primero de estos recursos es el acceso a los discursos preexistentes, entendidos éstos como un
conjunto de saberes socialmente construidos, que quien produce el mensaje puede integrar en
virtud de las posibilidades de diseño, una operación cognitiva que consiste en ordenar diferentes
elementos constitutivos del mensaje, de acuerdo con un propósito comunicativo determinado.
La práctica comunicativa desarrollada en el proceso de producción que se examina consiste
en apropiar unos modos de realización para alcanzar propósitos comunicativos concretos con los
interlocutores: el visual, el sonoro -música y ruidos- el verbal, y herramientas tecnológicas
mediáticas caracterizadas por apropiar el código digital, ser modulares, por disponer de una
estructura en la que cada parte es idéntica al todo -fractal-, ser automáticas y variables, dando como
resultado un discurso que responde a la lógica de producción inmediata insertada en redes y
articuladas al computador. Para este análisis se ha seleccionado con carácter exploratorio “La
rutina”48, hay en este video clip recursos, modos, razones históricas y culturales, procedencias,
historias individuales y colectivas, que se entretejen para construir con el interlocutor un discurso,
en este caso tematizando la exclusión social anclada en representaciones que apuntan a evidenciar
condiciones de indignidad del ser humano.
47
Siguiendo los planteamientos de van Leuween (2001) las prácticas comunicativas se refieren a los
condicionamientos y disposiciones que se implican en un proceso de interacción comunicativa, en el que se proponen
representaciones del mundo con propósitos específicos. En este sentido, los discursos constituyentes de las prácticas
comunicativas, son tipos de conocimientos acerca de haceres sociales, cognitivos, y de producción de significado,
articulados a las maneras como representamos los acontecimientos en los que se instala la práctica o la interacción en
curso (contexto).
48
http://es.YouTube.com/watch?v=BF8HZTGzz28
88
El uso comunicativo -la producción- que hace de los medios “La rutina” se entiende en dos
perspectivas. En primer lugar, desde la óptica de los medios expresivos de los que dispone todo ser
humano para comunicarse (los movimientos corporales, la voz, la gestualidad); en segunda
instancia, los materiales disponibles que se apropian para el montaje del discurso. Así, en el
propósito de transmitir un significado, además de que se eligen unos canales o modos de expresión
(el verbal, el auditivo, el visual), hay ciertas características que se asocian significativamente a
cada modo produciendo también significado.
El diseño en YouTube, a propósito de los videos sobre temáticas sociales como la pobreza,
puede ser estudiado en dos perspectivas, la cultural y la material. En esta primera aproximación se
hace un acercamiento al contenido de “La Rutina”, tratando de reconocer los múltiples recursos y
modos semióticos involucrados en el proceso de producción de significado y la manera como se
propone para su producción y distribución. En el proceso de reconocer algunos de los efectos de
diseño propuestos, se observa en primer lugar que el video es una puesta en escena experimental,
en la que se mezclan algunos elementos ficcionales con elementos que típicamente describen un
hacer social cotidiano.
El video hace una mirada subjetiva y contemporánea de un problema social. “La rutina” es
un formato de video clip, del género musical perteneciente al movimiento hip hop, caracterizado
por su densidad semántica, que superpone texto verbal, sonidos e imágenes que se acumulan en la
brevedad temporal, construyendo una mirada alternativa y de resistencia, en torno a una manera de
vivir la cotidianidad, marcada por unos condicionamientos sociales que proceden de lo que
tradicionalmente se conceptualiza como pobreza. Hay en este video clip una narrativa cíclica y
asociativa, en estrecha relación con su título, en donde se articulan fotogramas y tomas en escenas,
que permiten reconocer emocionalidad, pero también posicionamientos frente a lo que se
representa, que están no sólo de acuerdo con lo que se quiere transmitir, sino también con lo que se
quiere instituir como conocimiento social, en busca de la transformación de una situación sociopolítica indeseable. En este sentido, se podría afirmar que es un video clip típicamente de denuncia
social.
La articulación del diseño en “La Rutina”, procede de la simultaneidad de tres discursos
sonoros en el que hacen presencia el modo verbal, no verbal y el musical amalgamados al discurso
visual que procede de la imagen soportada en blancos, negros y grises, por una parte. Por otra, la
articulación procede de la manera como coexisten los discursos soportados en los modos señalados
y la manera particular como se jerarquizan produciendo la coherencia interna del texto.
Las combinaciones sonoras proveen coherencia al video, pues sitúan de inmediato al
espectador en un género musical específico: el rap, que consiste básicamente en contar una historia
89
con rima y ritmo, en el que movimientos juveniles marginales se apropian de la herramienta
musical, lingüística y corporal para proponer una mirada crítica sobre los problemas cotidianos
como la pobreza, la exclusión y la discriminación. El género se propone integrar en la formulación
de su expresión artística recursos como la aliteración, la asonancia y la rima a través de los cuales
se propone construir sentido. En “La rutina” el discurso verbal se despliega en usos concretos del
lenguaje; la conversación cotidiana, la narración rítmica propia del género con voz masculina, un
coro que rompe con esta estructura típica introduciendo un lenguaje más poético y musical con voz
femenina, un interludio en el que se inserta fragmentariamente un noticiero en la voz de dos
conocidas presentadoras de noticias en Colombia, y la voz masculina que a través de actos
directivos, moviliza la condición de subordinado de su interlocutor.
La combinación de los modos semióticos incluye sonidos mecánicos convencionalizados,
como los sonidos de las manecillas del reloj, la alarma de un reloj digital, los ruidos metálicos
producto de actividades rutinarias -puertas, ducha, objetos metálicos, ruidos de máquinas y ruidos
urbanos-, que se articulan con la voz de una mujer que construye actos de habla directivos de
petición, seguidos de un acto de reproche, que procede del rol desempeñado, en este caso el
materno, en cuya interacción se produce un acto expresivo que da cuenta de una actitud y un
comportamiento, al que se adicionan un conjunto de interjecciones. En este caso la puesta en
escena reconstruye una manera tradicional y local de afrontar la acción cotidiana, en especial en lo
referido a la actividad laboral de cierto sector social con clara procedencia campesina, y de la zona
noroccidental del país.
La letra de la canción es una enumeración de rutinas sociales, como la referencia a
condiciones espacio-temporales, la narración de percepciones sobre acontecimientos que dan
cuenta de acciones sociales relacionadas con la cotidianidad. En general, se reconocen estereotipos
que recuperan la experiencia de la pobreza, la violencia, el barrio marginal, para visibilizar
expresiones culturales que recogen ciertos rasgos de autenticidad inherentes al grupo social que se
representa. La música es claramente el intertexto que procede de las mezclas culturales que dieron
origen al movimiento musical, de su articulación posterior a procesos migratorios, sobre todo de
grupos latinos, y en la actualidad, de la estabilización de estereotipos que proceden del mercado de
la música. Así, el rap es la representación que el sistema sígnico musical consolida de los
problemas cotidianos con el propósito de constituirse en un mecanismo de afirmación identitaria y
cultural. En este sentido, la pieza musical en la que se amalgama la música y el discurso verbal y
no verbal, construye una narrativa que hace posible la comprensión que se elabora desde la
experiencia de la marginalidad.
90
La visualidad de este video clip está constituida, en este caso, por la imagen de los objetos y
los seres, sus movimientos y el color. Esta manera de entender la configuración del discurso es
esencial en el desentrañamiento de su carácter multimodal, por lo que para el análisis que se viene
realizando dentro del diseño, interesa reconocer las regularidades que contribuyen a dar coherencia
al discurso. “La rutina” se percibe a través de una escala de colores acromáticos o escala de grises,
cuyos intervalos se polarizan entre el blanco y el negro.
En el video se observa una gestualidad característica y propia del género musical (en este
caso el modo comunicativo), que le imprime un significado que no es inherente al diseño, sino que
pertenece al conjunto de actos propios del intérprete del tema musical, quien con su voz plasma lo
que previamente se ha diseñado como escritura o canta lo que ha sido pensado como una
composición musical. Esta expresión corporal del intérprete se comunica directamente,
adicionando significados al discurso, que no pueden ser anticipados en el diseño y que por su
naturaleza no pueden explicarse verbalmente, pero que no obstante se perciben en el nivel
cognitivo y en el afectivo.
En “La rutina” a partir de la gestualidad del intérprete puede captarse con facilidad la
intención de transmitir su mensaje como una cierta clase de denuncia social, ligada a un nivel de
agresividad e inconformidad que se hace patente en la forma directa de observar a la cámara, en la
entonación de la voz y en el movimiento de sus brazos. Nótese que uno de los movimientos más
reiterativos puede asociarse con el significado de desesperación, cuando el personaje ubica sus
manos a la altura de los hombros, las manos completamente abiertas, siguiendo el golpe musical
con los dedos extendidos y frontalmente separados, este movimiento con frecuencia también se
asocia al sentido del llamado a despertarse, es entonces una convocatoria, con lo cual se formula
una manera de comunicarse.
En contraste, la gestualidad femenina se vincula al sentido de cansancio, expresado
mediante una posición en la que el codo se apoya en la mesa, la frente se apoya en la mano,
mientras que el pulgar, el índice y el dedo medio están entreabiertos, sosteniendo la sien, y los ojos
están entrecerrados. El desaliento se expresa en un caminar en el que los brazos están
completamente caídos contra el tronco, mientras que la cabeza está inclinada ligeramente, el
transitar por cerca de la valla crea la sensación de estar vencido, de tener la guardia abajo, y en
cierto sentido vivir en medio de la sensación de disgusto.
Las características de personalidad de los dos actores-cantantes centrales, se ligan a su
gestualidad y corporalidad, de un lado una mujer resignada, pero soñadora, que cuestiona el sentido
de su existencia, en contraste con la figura de un hombre contestatario, agobiado por la
cotidianidad, que enfrenta y denuncia las condiciones de su diario vivir. La narrativa reconstruye
91
una autobiografía, que supera los límites de lo individual, articulando en lo representado una masa
humana informe que eventualmente tiene rostro en Milton, pero que representa a todos los seres
anónimos cuya historia podría ser la misma.
Los elementos narrativos, en sus distintos modos y medios, constituyen la unidad y la
coherencia de la historia. “La rutina” es un video dirigido por Lucas Perro, seudónimo de Germán
Arango, antropólogo de la Universidad de Antioquia. El personaje central ‘Milton’, inicia y cierra
su recorrido vital en el transcurrir temporal y espacial que impone el cada día, que se inicia con el
llamado de la madre para que se levante a trabajar, y así producir una mirada etnográfica de la
práctica urbana, en la que se cruzan anónimos los personajes conminados a ser los obreros de la
ciudad. Esta información que se obtiene, en primer lugar, a través de la simultaneidad de tres
discursos sonoros y la puesta en escena visual, alcanza relevancia semántica en la elección de los
escenarios -lugares siempre periféricos, en los que se incluye el reloj como el leitmotiv- por los que
transcurren seres anónimos que transitan a un ritmo marcado por los golpes que dan lugar a la frase
musical en el rap, en el cual con frecuencia se intuye una pista que en este caso contribuye a
mantener el sentido de la monotonía, que sustenta la voz y proporciona la plataforma para los
ritmos del maestro de ceremonias (MC).
Otro leitmotiv lo constituye la presencia reiterada de charcos, el primero de los cuales se
representa en una de las acciones cotidianas -el baño-, y luego se hace visible en las calles por las
que transita Milton; las acciones cotidianas se impregnan así de un cierto sentido de precariedad
que se recupera en el saber popular mediante expresiones como ‘tener el agua al cuello’ o ‘pasar el
charco’ asociadas con la necesidad de superar las circunstancias que determinan una forma de vida.
A través de los encuadres, que en el video clip tiene como eje el universo sonoro, se puede
penetrar la atmósfera de la narrativa. Se percibe, articulado al carácter cíclico de lo que se cuenta,
un sonido mezclado con el espacio que caracteriza seres, objetos y escenarios que dan la sensación
de distancia espacial, pero que simultáneamente localizan y dan profundidad a lo que se representa.
Es el caso de la puesta en escena que va de la oscuridad y la insinuación de las luces propias del
amanecer, para lo cual se apropia el recurso del plano-secuencia exterior y desde un lugar alto,
caracterizado por conservar la unidad espacial y temporal que se estructura en el encuadre; luego se
penetra la intimidad de la casa a través, hipotéticamente, del recurso de la cámara escondida, a
través del cual se formula la relación intimidad - escenario público, en este conjunto de escenas se
estructura una secuencia caracterizada por mostrar al personaje en un plano en el que se recortan
los pies y cabeza, en algunos casos, en otros, el plano capta lateralmente una parte del cuerpo. El
escenario permite reconstruir las condiciones de la vivienda y recuperar sentidos articulados a las
condiciones socioeconómicas; luego el encuadre, el sonido y las maneras de mirar -incluido el
92
mirar que procede de los recursos tecnológicos, la cámara- potencian la sensación de un lugar
extenso, continuo, de ir y venir que se prolonga más allá de lo que se narra, de manera que evoca y
sugiere más de lo que se expresa y de lo que se implica. La coexistencia en el encuadre, del espacio
y el tiempo, proporciona el efecto de continuidad sin límite que se vuelve sobre sí, para elaborar un
sentido de monotonía y cansancio, resultado de las pulsaciones rítmicas que proceden de la
imposibilidad de evolucionar. En consecuencia, se activa un sentido de búsqueda de cambio, de
metamorfosis. Así, aunque el video clip se apropia de planos y distancias distintas, se proponen dos
de manera reiterativa: el general, en el que se capta la masa urbana en un transcurrir sin fin, y el
primer plano que recupera el microcosmos de los personajes centrales.
Los ángulos son el otro recurso del encuadre, que da expresividad al video clip, en este caso
el contrapicado acentúa la percepción de un espacio reductor aunque inmenso, en el que se resalta
y amplifica al personaje, al proponerlo desde un punto de vista que lo dimensiona como un
luchador en una condición que físicamente parece encerrarlo. Además, es a través del uso de los
ángulos que se reconocen las relaciones de poder. Así, se pueden identificar ángulos que revelan la
fuerza del personaje y ángulos que dan cuenta de la impotencia y el aburrimiento. En general, se
puede afirmar que el video clip se caracteriza por estructurar encuadres recargados, en los que se
perciben simultáneamente muchos elementos fijos y móviles dando la sensación de densidad. Esta
manera de elaborar la composición da cuenta de la necesidad de representar un mundo caótico,
como el lugar típico de la convivencia urbana para un sector específico de su población.
En este punto, interesa resaltar el papel de la escala monocromática; el blanco es, por una
parte, el color homogenizador que visibiliza a los seres de la acción, a través de parte de su
vestimenta, pero simultáneamente es el color de las paredes, donde se produce la sensación de
encierro, en el caso del taller de costura. El negro por su parte refuerza el sentido de la
invisibilidad, el anonimato, la imposibilidad. De esta manera el encuadre articula en forma
coherente el ritmo del rap con sonidos por lo general metálicos, murmullos imperceptibles y gritos
que crean una atmósfera densa, continua y atrapada. En este sentido, se puede afirmar que el
encuadre otorga unidad temática y que el video clip integra en su reflexión crítica una narrativa, un
drama, una ética y una estética que otorga un nuevo significado a lo que expresa.
La puesta en escena elegida en “La rutina” es fundamentalmente exterior, uniforme y se
propone un juego visual que a pesar de ser un transcurrir en espacios abiertos y públicos, construye
la sensación de encierro, marginalidad, segregación. El suceder de la acción narrativa se liga a
elementos materiales como paredes, rejas, vías interminables y agobiantes, arquitecturas que
reflejan hacinamiento, viviendas en obra negra, signos sistemáticos de lo prohibido, espacios
encerrados vinculados al trabajo que proponen al interlocutor una percepción más centrada en las
93
siluetas o imágenes del personaje principal, que alternan con las de la mujer trabajadora. Se
concentra la atención en los seres que dirigen la acción narrativa.
En “La Rutina” los fotogramas se caracterizan por construir una estética de lo cotidiano, en
la que se percibe una manera de determinar los objetos y acciones en la vida diaria, centrada en las
formas de producción de capital y generadora de una estética de la marginalidad. Así, la
cosificación del ser humano se percibe en las formas de proponer y revelar ciertas imágenes a
través de la luz; por ejemplo, en el caso de la muñeca sobre la bicicleta, en la cual se pone de
relieve un punto de ésta -las piernas-, lo cual articulado a la velocidad del fotograma, crea la
sensación de movimiento y construye una imagen que enfatiza la narrativa introduciendo un
sentido de esfuerzo no compensado, pues lo que se observa específicamente es un pedaleo que no
genera movimiento, y que además muestra el girar de las ruedas de la bicicleta en sentido inverso.
Además el sentido objetual y mecánico del trabajo se expresa en la presencia de objetos que
simulan la acción humana y en cierto sentido suplantan lo que le es inherente, creando un sentido
de objetualización y mecanización, al proponer acciones repetitivas capaces de generar productos;
es el caso de la muñeca en el taller que ocupa un espacio, tiempo y rol que son idénticos al de las
mujeres trabajadoras.
Otro aspecto de la construcción narrativa objeto de observación lo constituye el discurso
verbal, en sus distintas manifestaciones y formas de coexistir en el video clip, el cual constituye
por sí mismo un diálogo en el sentido indicado por Bajtin (1982). Interesa resaltar que lo que se
dice como canción procede de una rima asonántica del tipo ‘como parte de la rutina empezar un
nuevo día me ilumina ... se me avecina … mi madre me persina’, conjugada con una aliteración
centrada en los sonidos ‘r’ ‘s’ que conjugados con el golpe propio del rap, contribuyen a la
constitución del sentido de un ruido sostenido, mecánico, pesado. Hay además índices de oralidad
articulados a lo largo del texto constituidos por interjecciones ‘ahhh’, ‘ay’ , ‘ay juemadre’, ‘pues’,
con función claramente expresiva, y que en la conversación construyen parte del contexto, en tanto
se representa un estilo de vida en el que se recuperan, localmente, maneras de relacionarse en la
vida familiar y que demarca roles. Nótese que los sonidos no verbales junto con la conversación
introductoria abren y cierran la puesta en escena.
Una característica interesante en “La Rutina” es la presencia de ruidos que en tanto indicios
son portadores de significado, que implican no sólo efectos fisiológicos, cómo el estado de alerta
en el que se introduce el personaje principal cuando suena el reloj, sino además sicológicos, como
cuando el reloj aparece reiteradas veces y permite reconstruir sentido de intranquilidad, ansiedad,
cansancio o tedio. De esta manera, los sonidos no verbales que proceden de mecanismos
puramente físicos o mecánicos, contribuyen en la puesta en escena a articular, por una parte, la
94
temporalidad y, por otra, las actitudes que se formulan en la acción cotidiana, no sólo relacionadas
con el trabajo sino también con el transitar por el espacio público, como cuando se escucha el ruido
del tránsito, las máquinas, los ruidos metálicos.
El manejo espacio temporal también procede de índices de oralidad y teatralidad en los que
no sólo se articula con fuerza el cuerpo, sino también los recursos de la tecnología a través de los
cuales se escucha, por ejemplo, a los mass media. La noticia en este caso, ubica sociohistóricamente la puesta en escena, y contribuye a tener una mirada más de la problemática social.
Se elabora, entonces, la representación de lo que ‘oficialmente’ son las acciones de la política de
seguridad del Estado, y permite una percepción de la manera como cierto sector juvenil femenino
enfrenta su sexualidad. La presencia de deícticos también mantiene una relación espacio-temporal
articulada a la corporalidad “en ese momento me doy cuenta”, “quien va a creer que ese tipo envió
una mercancía fina … ya sabemos quien es el que más domina, el que más asesina, un pequeño
descuido y a usted también lo fulminan…”
Muchos otros elementos que conforman lo que podríamos llamar el sistema retórico visual
lo constituyen las señales propias de la vida urbana; por una parte aquella señalización que de
manera expresa disuade en relación con la acción social y aquellas señales que regulan
convencionalmente el transitar por los espacios públicos. La puesta en escena en “La rutina” de
estos elementos de la escenografía urbana se caracteriza por remarcar el sentido de lo prohibido, el
límite de lo espacialmente posible, regulando una manera de hacer social que da cuenta de las
condiciones de indefensión y miedo de los seres humanos en los conglomerados urbanos. Aunque
‘desaparece’ la cromaticidad convencionalizada culturalmente para este tipo de señales -el blanco,
el negro, el rojo y el amarillo-, permiten representar y recuperar la sensación visual propuesta por
el signo. En esta perspectiva, aunque el carácter monocromático del video clip se articule
primariamente al sentido de lo inquietante, desapacible, peligroso, agobiante, mortífero, se impone
una persuasión en la que se recupera por completo el impacto visual y argumentativo de la
cromaticidad original de la señalización, que convencionalmente incluye el sentido del bien
público.
Teniendo como punto de referencia la oralidad que se desarrolla en este tipo de
comunicación audiovisual es frecuente identificar frases hechas y en ocasiones refranes y
aforismos. En “La Rutina” expresiones como “Quien dijo que existe un hada madrina cuando hay
que sudar para poder salir de la ruina”, “Colombia es famosa por café y por cocaína” o “por no
pasar en las calles como gallina”, insertan en el discurso verbal maneras estandarizadas de
relacionarse con la vida y el mundo, dentro de un grupo social específico, en este caso, la clase
trabajadora, obrera, de origen campesino y marginada en las ciudades. En “La Rutina” también se
95
observa la búsqueda por insertarse en la tradición poética, en este sentido el discurso verbal se
propone hábil y con capacidad de escenificar la creatividad lingüística propia del poeta: ‘esto es mi
cansancio, mi pantomima’ o ‘mi mente peregrina’ u otro tipo de expresiones que lo posicionan en
un rol que le permite el uso sistemático de imperativos del tipo ‘no olvides lo espiritual’, así como
un manejo fuerte del estilo descriptivo ‘las mismas avenidas frías … el asfalto… el conductor en su
cabina … suena la bocina’.
Esta primera aproximación al estudio de las representaciones de la pobreza en YouTube
permite concluir preliminarmente que el video clip musical propuesto para el análisis elabora un
universo temático complejo en el que se propone no sólo presentar una realidad socio-política y
cultural, sino que sintetiza la cultura popular. Es una puesta en escena que pretende
internacionalizarse en la medida en que el sitio y la internet proporcionan el lugar para proponer
una estética y una mirada ciudadana por fuera de los cánones del denominado ‘arte culto’, gestando
así una clara ruptura con la cultura de elite, adicionalmente se logra evidenciar la tendencia a la
recuperación de la oralidad en el mundo contemporáneo.
Como se ha señalado, los sitios web provistos por internet son uno de los medios de
comunicación que han llegado a popularizarse en muy poco tiempo y proporcionan niveles cada
vez más refinados de accesibilidad y usabilidad. Aunque no llegan a toda la sociedad, están
proponiendo que los medios masivos considerados tradicionales y dominantes, se vean conminados
a actualizarse y tengan que asumir la nueva realidad que internet provoca. La huella que dejan las
nuevas tecnologías en la historia de los medios masivos es la línea divisoria que fractura tiempos,
espacios y formatos obligando a reconocer un nuevo mercado y a modificar los hábitos de
consumo de la sociedad, de suerte que se transforman las maneras de apropiar conocimientos, de
transcurrir por la política, de disfrutar del ocio y, en general, de construir cultura e identidad, como
se señaló en el apartado anterior. Estos condicionamientos que están articulados a la manera como
se distribuyen los nuevos saberes y haceres sociales, también constituyen parte de la nueva
significación. Esto se debe fundamentalmente a que la red permite la circulación de enormes
cantidades de información proveniente de muy diversas fuentes, en lapsos de tiempo cada vez más
reducidos, alterando en forma significativa las prácticas sociales relacionadas con la adquisición de
información.
En el caso específico de YouTube la distribución de los contenidos semióticos disponibles
incluyen, como lo señala van Leuween, la potencialidad de preservar, difundir y transformar
contenidos que crean nuevas representaciones e interacciones, produciendo una nueva manera de
concebir la originalidad, que en últimas da paso a nuevos potenciales estéticos y semióticos. Así,
por ejemplo, la cámara no es un objeto neutro, lo que se dice ya ha sido dicho, y se actualiza, la
96
ausencia del color otorga nuevo sentido a lo que se visualiza y todos aquellos elementos en
apariencia no deseados o intencionados se constituyen en unidades significativas. Esto explica que
los contenidos se codifiquen una y otra vez y se pase de la trascripción al copiado, a la simulación,
y a la reconstrucción a través de tareas simples que adaptan y redimensionan lo que se representa.
En “La Rutina” la tecnología hace posible adoptar una posición en la que lo que se expresa se
elabora incluyendo materiales preexistentes, que no requieren ser referenciados y que se articulan
produciendo una fragmentación coherente que se percibe y se reconoce original, con lo cual se
genera esa nueva significación.
En el desarrollo de la investigación macro, la comprensión de los procesos de preservación,
difusión, y trascripción, entre otros, que gracias a la tecnología permiten reconocer factores que
determinan el significado de la interacción, que contribuyen a configurar nuevas representaciones y
que garantizan las formas de relacionarnos con las herramientas en la exploración y constitución
interactiva de significados, es un apartado que requerirá de una exploración más fina. En este
trabajo sólo se quiere señalar que “La rutina” recodifica contenidos, establece nuevas formas de
proponer semióticamente su contenido y se apropia de los recursos del sitio para que el producto
semiótico se articule muchas veces al significado social.
5. Diseño preliminar para la exploración del discurso de la pobreza en YouTube
Los esquemas que se proponen en este apartado aspiran a recuperar el conjunto de
categorías y relaciones que pueden ser punto de partida para la formulación de un
análisis
sistemático de los discursos propios de un sitio como YouTube y, en general, de los discursos
multimodales típicos de la internet. Por su carácter exploratorio es una descripción preliminar
aplicada al análisis del video clip “La Rutina” y con el propósito de servir de insumo teórico para
el procedimiento de anotación que se hace con el software seleccionado, a saber ELAN 3.6.0.
Este apartado tiene como objetivo fundamentar una reflexión en la que se pretende poner
en relación las maneras como se perciben los significados en textos propios de la producción
multimedia. Para el logro de éste propósito se articulan dos propuestas teóricas, por una parte los
desarrollos que se han elaborado en la teoría del discurso multimodal en la que los significados se
dimensionan en los múltiples sentidos que proceden de apropiar en la práctica comunicativa
recursos y modos semióticos.
Por otra parte, a partir del ejercicio exploratorio
propuesto del video "La Rutina" se utiliza el programa de anotación sobre audio y video ELAN
3.6.0. Este recurso se utiliza, en este caso, para el análisis del discurso multimodal, dado que
permite sistematizar los modos semióticos implicados, y las categorías analíticas que conducen a
un análisis sistemático de los elementos que se amalgaman en la construcción de significado.
97
ELAN fue creado por el Instituto Max Planck para Psicolingística y su función principal es
permitir al investigador la introducción de datos en forma de texto plano, vinculados con el
desarrollo temporal del texto audiovisual. En este caso, se opta por la utilización de este programa,
teniendo en cuenta que, aunque existen otras herramientas integradas de sistematización y análisis,
como ATLAS.ti sus interfaces no están del todo adaptadas para el trabajo con audiovisuales.
Por su parte, ELAN permite anotar y sistematizar los datos a partir de categorías de análisis
definidas por el investigador, es posible también sincronizar hasta cuatro videos simultáneamente,
variar la velocidad de reproducción entre 0 y el doble de la velocidad original, avanzar y retroceder
cuadro por cuadro, segundo por segundo o en fracciones seleccionadas por el usuario, y además la
visualización de onda en los archivos de audio para identificar sonidos y silencios en la línea de
tiempo.
Aunque fue pensado principalmente para anotación lingüística, su técnica simple de interlineado
heredada de Toolbox, permite anotar cualquier tópico, relación o categoría que interese al
investigador, en este caso para reconocer y sistematizar los aspectos analíticos relacionados con el
modo visual, sonoro y verbal, y sus recursos semióticos.
En ELAN una anotación puede ser una frase, palabra o glosa, un comentario, una
traducción o descripción de cualquier característica observada en los materiales audiovisuales. Las
anotaciones se organizan en líneas, cada una de las cuales tiene un nombre, un vínculo con la línea
de tiempo, un vocabulario relacionado y una relación con otras líneas.
La ventaja de ELAN y Toolbox reside en que permiten a los usuarios asignar libremente los
nombres y las relaciones entre las líneas, garantizando que cada investigador adapte el programa a
sus categorías de análisis. La interfaz está adaptada para que el analista vea al tiempo tantas líneas
como desee, de manera que es muy fácil identificar la simultaneidad de los fenómenos anotados,
aún cuando cada uno de ellos haya sido descrito por investigadores diferentes. Cada anotación está
relacionada con la línea de tiempo del medio analizado o puede referirse a otras anotaciones
previamente elaboradas. A partir de las anotaciones se formulan distintos puntos de vista en
relación con el corpus que se analiza, de manera que el proceso descriptivo sirve al trabajo
analítico-interpretativo. Si se tiene en cuenta que además ELAN puede exportar sus datos a
formatos compatibles con otros programas (Toolbox, Excel), o incluso bases de datos (Access,
Mysql), se puede considerar que gran parte del análisis estadístico necesario está garantizado.
En esta perspectiva se aspira a construir el equilibro que requiere un procedimiento
analítico instalado en una perspectiva multidisciplinar, una mirada del hecho audiovisual con sus
implicaciones semióticas y una estrategia metodológica que recupere los aspectos fundamentales
de un objeto que es esencialmente cultural y simbólico.
98
Los esquemas metodológicos que se presentan corresponden a cada uno de los modos
semióticos que se quieren explorar –en la perspectiva teórica de Kress y van Leuween (2001). El
desarrollo de estas categorías implica un proceso descriptivo exhaustivo, de cada uno de los niveles
y subniveles sobre los que se hace la anotación en ELAN. Este paso metodológico se impone al
investigador como etapa previa a la utilización de la herramienta tecnológica ya que es en rigor,
una síntesis conceptual, la guía misma del proceso analítico.
Cuadro 1
MODO SONORO
Unidad de
análisis
Recursos
semióticos
Musicales
Pieza
Ruido
Gestalt
Subcategorías teóricas
Armonía
Rítmica
Recursos y estrategias
sonoras
Acompañamiento / Melodía
Género
Instrumentación
Orquestación
Sonido real
Sonido subjetivo
Ruidos sin asociación
Forma
Fondo
Estrategia perceptual
Cuadro 2
MODO VISUAL
Unidad de
análisis
Escena
Recursos
semióticos
Cinematográficos
Subcategorías teóricas
Toma/plano
Encuadre
Ángulo
Usos del color/ Estilos de
iluminación /Gamas
cromáticas
Transición
Recursos y Estrategias
Visuales
División temporal /
Descripción global
Plano panorámico, Plano
general, Plano de conjunto,
Plano entero, Plano
americano, Plano medio,
Primer plano, Primerísimo
primer plano, Plano detalle
Picado, Contrapicado, Nodal,
Cenital, Aberrante, Normal,
Imposible
Pictórico, histórico, simbólico,
psicológico
Manchas, Zonas, Masas
Color perceptualmente
dominante
Corte, Fundido, Encadenado,
Cortina, Barrido
99
Composición
Panorámico
Movimiento
de cámara
Traveling
Zoom
Retóricos
Ojos
Cara
Manos
Cuerpo
Acción / Estado
Relación con el escenario
Relación con otros actores
Relación con objetos
Forma
Fondo
Estrategia perceptual
Recursos retóricos
Narrativos
Estructura Narrativa
Kinésicos
Proxémicos
Gestálticos
Según posición del personaje
o elemento dominante de la
toma. Primer tercio, segundo
tercio, tercer tercio, Dos
primeros, Dos últimos, todos
Horizontal, horizontal de
seguimiento, horizontal de
reconocimiento, horizontal
interrumpido, horizontal en
barrido, vertical, balanceo.
Avance, retroceso
In, Out
Gestos
Relaciones objeto/ ser /
espacio
Metáfora, símil, metonimia,
hipérboles, eufemismos, otros
Estructura narrativa
Cuadro 3
MODO VERBAL
Unidad
análisis
DISCURSO
Recursos
semióticos
Subcategorías teóricas
Nivel de uso
Nivel de uso
Lista de palabras/Frecuencias
Palabras clave / Asociaciones /
Clases
Léxico
Categorías
gramaticales
Categoría gramatical
Semántica
Relaciones
semánticas
Recursos y
estrategias
lingüísticas
Oral, Escrito
Análisis estadístico,
basado en comparación
con base de palabras,
(frecuencia,
distribuciones,
relaciones
sintagmáticas y
paradigmáticas.
Asociaciones
semántica y clases de
palabras)
(Nombre, Verbo,
Adverbio, Adjetivo)
Sinonimia-antonimia
meronimia-holonimia
100
hiperonimiaheponimia
Redes semánticas
Tematización
Topicalización
Voces discursivas
Tema/Tópico
Tipo de hablante,
(Estrategias de
citación)
ser / estar / parecer
Tema/Tópico/Voces :
relaciones
Segmentación/
Ambivalencia /
Integración
Metáfora, símil,
metonimia, hipérboles,
eufemismos, otros
Representativa,
Interactiva, Expresiva
Atribución
Coherencia
Consistencia
Retórica
Recursos retóricos
Función
sociocomunicativa
Función
Rima
Ritmo
Asonante, consonante
Grave, Agudo,
Esdrújulo
bisílabos, trisílabos,
tetrasílabos,
pentasílabo,
hexasílabos,
heptasílabos,
octosílabos,
eneasílabos,
decasílabos,
endecasílabos,
dodecasílabos,
tridecasílabos,
alejandrinos
Práctica comunicativa
Métrica
Poética
Pragmática
Relación pragmática
Funciones
Cuadro 4
MEDIO WEB 2.0
Relación
productorconsumidor
Género
Ubicación espacial
Interactividad
Visto
Comentado
Contestado
Vinculado
Valoración
101
Tag
Categoría
Ámbitos culturales
Arte Política Noticias Educación
Comedia Música Cine Animación
Viajes Eventos…
Función
Social/ Mercantil /
Educativa
Comentarios
Identidad /
pertenencia /
actividades / objetivos
/ valores / relaciones
con otros grupos /
recursos
Palabras Clave
Relaciones
Comentarios
Vídeos relacionados
Aplicar criterios del modo verbal
Finalmente, una propuesta metodológica como ésta, en etapa de desarrollo, constituye
apenas un bosquejo en el que se pretende sintetizar los resultados de la exploración teórica con la
adecuación del recurso tecnológico, aplicado provisionalmente a un discurso multimodal concreto,
en este caso, del video “La Rutina”. Se pretende describir y agrupar las dimensiones propias de los
procesos de producción, diseño y distribución con sus dimensiones funcionales, con el propósito de
identificar las complejas relaciones que se establecen en la producción y comprensión de
significado.
En otra perspectiva, es necesario señalar que en este trabajo se proponen solo algunas de las
opciones que pueden llegar a constituir un sistema más riguroso en la construcción de una matriz
que de cuenta exhaustiva y sistemáticamente del discurso multimodal en todas y cada una de sus
dimensiones.
Aunque es clara, en el nivel teórico, la importancia de dar cuenta del contexto en sus
distintos niveles y expresiones, las matrices propuestas no lo ubican completamente para su
descripción. Sin embargo, sabemos que una propuesta metodológica que aspire a la comprensión
del significado discursivo, no puede eludir el tipo de saberes y representaciones que se implican en
el contexto, tanto el nivel microdiscursivo, como en el orden de lo macrodiscursivo.
Bibliografía
Bajtín. M. Estética de la creación verbal. México: Siglo XXI Ed, 1985.
Brea, J. L. El arte del futuro. En: http://www.nettime.org. 2002.
Castells,M.
Internet
y
la
sociedad
red.
http://www.livros.online.pt/ideias/pdf/IOP_Castells_Internetylasociedaddered.pdf. 2003.
En:
102
Gauntlett, D. Media, Gender and identity. An introduction. London: Routledge, 2008.
Jewitt, C., van Leeuwen, T. Handbook of visual analysis. London: Sage Publications, 2001.
Kaltenbacher, M. “Perspectives on Multimodality: From the early beginnings to the state of the art” . En: Information
Design Journal, V.12, N.3. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2004. pp. 190-207(18)
Kress, G., van Leeuwen, T. Reading images. London: Routledge, 1996.
Kress, G., van Leeuwen, T. Multimodal Discourse: The Modes and Media of Contemporary. 2001.
Levy, P. Las tecnologías de la inteligencia. El futuro del pensamiento en la era informática. Buenos Aires:
Edicial, 2000.
Leuween van , T. Discourse and Practice. New Tools for Critical Discourse Analysis. Oxford: Oxford
University Press, 2008.
O’Halloran, K. Multimodal Discourse Análisis: Sistemic Functional Perspectivas. Londres: Continuum,
2006.
Pardo A, N. Midiatização, multimodalidade e significado. In: Midiatização e processos sociais na América
Latina. São Paulo: Paulus, 2008.
Piscitelli , A. En su curso online sobre periodismo digital para la Universidad de Tucumán. 2003.
103
A METODOLOGIA COMO PROBLEMA PARA A PESQUISA DE
MÍDIA E RELIGIÃO
Pedro Gilberto Gomes
1. Introdução
Em qualquer estudo que se empreenda, o tema da metodologia é fundamental. No caso dos
estudos sobre mídia e religião, o estabelecimento de pressupostos metodológicos torna-se
fundamental. Devido à complexidade do problema que tais estudos encerram, a clareza
metodológica é condição primordial para a sua interpretação. Não se pode limitar-se apenas à
descrição do fenômeno ou a constatação empírica do mesmo. O registro de sensações e opiniões
esparsas bloqueia o acesso ao objeto, impedindo a sua compreensão para além das aparências.
A relação mídia e religião não é nova na história, remontando ao surgimento do rádio nos
inícios do século XX e da televisão em meados do mesmo século. À medida que os estudos
comunicacionais foram se desenvolvendo e adquirindo status de cientificidade, a questão
metodológica impôs-se na sua radicalidade.
A busca de um método adequado para abordar esse objeto complexo, fluido e arredio, tem
desafiado o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores de mídia e religião, cujos métodos são
devedores daqueles utilizados pelas Ciências da Comunicação em geral para estudar seus objetos
específicos. Entretanto, no caso específico da relação da mídia com a religião, o trabalho vai da
metodologia quantitativa à qualitativa. Contudo, quanto o trabalho avança, mais se sedimenta a
consciência de que não existe uma abordagem única. O compartilhamento e a fusão de
metodologias estão se tornando comuns na área.
A problemática da midiatização da sociedade, além do compartilhamento de metodologias e
conceitos entre as diversas ciências, exige uma aproximação diferente. A situação atual não mais
permite uma contemplação externa, com conceitos adrede formulados. Ao contrário, o pesquisador
que objetiva interpretar o momento presente deve deixar-se tocar e desafiar na explicitação de
metodologia que emirjam do próprio objeto. Essa exigência assume uma premência quando se trata
da midiatização do discurso religioso. A análise a partir de campos e dos dispositivos tecnológicos
fica aquém do desejado e cria problemas (quando não torna impossível) para um correto
dimensionamento dos desafios colocado às Igrejas pela ambiência midiatizada gerada.
O dilema hoje vivido, dentro de uma visão sistêmica e complexa, é superar as abordagens
setorizadas, fragmentadas e parcializadas para compreender a realidade. Nessa dimensão, a soma
104
das diversas partes não fornece o conhecimento do todo. A totalidade social não é alcançada pela
soma da visão das diversas áreas isoladas.
Desse modo, o processo de midiatização da sociedade desafia aos pesquisadores das
diversas ciências para a estruturação de um esquema interpretativo, fruto do trabalho em conjunto.
Claro que, no momento, encontramos o desafio, não as respostas. O que pretendemos com a
pesquisa que estamos desenvolvendo é encontrar elementos novos que ajudem nesse projetoconstrução da metodologia adequada.
2. O percurso seguido
Esse percurso foi observado por este pesquisador nos seus estudos. Começou com uma
abordagem quantitativa. Vale recordar que, naquele momento, a pesquisa em comunicação estava
ainda tateando em busca de uma metodologia adequada. Devedora das outras ciências, ela assumia
os postulados das ciências sociais que, para a compreensão da realidade, baseava-se em dados
quantitativos. Aqui se deve registrar que se tinha uma influência muito grande das ciências exatas.
Exigia-se um universo grande de pesquisa que permitisse a generalização para o todo. Era a busca
pela representatividade na pesquisa,
Em seguida, o aspecto qualitativo foi observado. Fiel à sua dívida com as ciências sociais, a
pesquisa em comunicação assumiu a dimensão dos estudos qualitativos. Vale recordar que, naquele
momento, aos poucos as ciências sociais descobriam e valorizavam os estudos qualitativos, dada a
peculiaridade do objeto pesquisado.
Outra dimensão, também comum aos estudos comunicacionais, diz respeito à abordagem
via a técnica do estudo de casos. As primeiras pesquisas privilegiaram o estudo de casos.
Posteriormente, pela própria natureza da proposta de pesquisa, foi contemplada a pesquisa
bibliográfica, revisitando-se o que os atuais pesquisadores registraram sobre o fenômeno em tela.
Nesse particular, a questão dos processos midiáticos e construção de novas religiosidades exigiu
três movimentos. De um lado, a análise do discurso realizado pelos diversos pregadores e distintos
programas49; de outro, o recenseamento dos diversos atores sociais, representados pelas figuras
mais proeminentes das Igrejas que se tornavam estrelas da mídia50. Entretanto, tanto os programas
quanto os seus agentes não começaram no presente. Ao contrário, existe uma história e um
processo do qual os tele-evangelistas modernos são devedores. Por isso a exigência de um terceiro
49
Este foi o percurso pelo Prof. Dr. Antonio Fausto Neto, que estudou as dimensões discursivas atuais das Igrejas na
mídia.
50
Trabalho realizado pelo Dr. Attilio Ignácio Hartmann, que levantou os principais atores das Igrejas na mídia.
105
movimento, representado pela análise das dimensões históricas disso que se conhece hoje como
Igreja Eletrônica.
A visita à história trouxe a questão da comunicação como problemática para as Igrejas. A
metodologia empregada perseguia o levantamento dos motivos explicitados por cada Confissão
Religiosa para a sua atuação na mídia. O objetivo, mais que um estudo de caso, era ver como elas
tematizavam o seu agir. O método, reflexivo, punha em questão a visita aos diversos textos
teóricos produzido pelas distintas Igrejas.
Agora, quando a pesquisa em comunicação alarga os seus horizontes para contemplar o
processo de midiatização para além dos limites restritos dos dispositivos tecnológicos, ela encontra
a necessidade de dialogar, com mais profundidade, com as diversas ciências. As perguntas que
brotam nesse momento indagam sobre os fundamentos históricos e filosóficos para o fenômeno
que recoloca a discussão sobre uma visão de totalidade para o mundo.
Conseqüentemente, realizo um percurso que envolve duas abordagens: de um lado, uma
volta à história; de outro, uma releitura dos clássicos da filosofia. A primeira se justifica porque a
incursão pelos meandros da história fornece as pistas para a compreensão do presente. Santo
Agostinha dizia que o passado é a memória presente, enquanto que o futuro é a expectativa
presente. Portanto, o presente deve ser compreendido. Para decifrá-lo necessitamos chaves de
leituras que, na maioria das vezes, localizam-se na história. Luhmann, ao falar da feitura do
romance, diz o seu
planejamento exige uma reflexão sobre o tempo no tempo. A
perspectiva é orientada ao futuro e por isso carregada de tensão. Ao
mesmo tempo, contudo, é preciso que se cuide de provê-la de
passando adequado (...51).
Para entender a trama que se esboça, é necessária que a pessoa retorne (ou possa retornar) a
algo passado que a permita fechar o círculo52. Citando Jeabn-Paul, conclui: os nós se desfazem
apenas pelo passado, não pelo futuro. (...) A unidade de uma obra é a unidade da diferença entre
futuro e passa nela inserida53.
Estamos convencidos que os nós da história presente serão desatados pela re-leitura criativa
dos acontecimentos que lhe antecederam no tempo. É o que Luhmann chama acima de reflexão
sobre o tempo no tempo.
A segunda encontra a sua pertinência no fato de que a ciência da comunicação, sendo
extremamente recente, necessita tomar emprestados de outras, mais sedimentadas, conceitos que
51
LUHMANN, Niklas. A realidade dos meios de comunicação. São Paulo: Paulus, 2005, p.100.
Idem, ibidem,
53
Idem, p. 100-101.
52
106
não foram gerados no seu interior. Para se evitar o perigo da defasagem epistemológica54, que
comprometeria todo o trabalho, é necessário conhecer-se profundamente o contexto no qual tais
conceitos foram estruturados e criados.
No caso da pesquisa ora em desenvolvimento, a revisitação dos clássicos da antiguidade
filosófica impõe-se como exigência metodológica fundamental. Daí a importância de se voltar aos
filósofos gregos, antigos e medievais, para recuperar a visão de unidade e de totalidade para o
mundo. Se desejamos compreender o fenômeno da midiatização como um projeto de totalidade e
unidade social, é importante conversar com os filósofos que anteriormente pensaram esses
conceitos. Evidentemente, seus conceitos não são auto-aplicáveis aos problemas contemporâneos.
Mas, conhecendo a sua gênese e origem, pode-se estabelecê-los para encontrar pistas que ajudem a
interpretar a realidade atual. A adequada gramática para o desvelamento da realidade da
midiatização passa, imperiosamente pela revisitação dos clássicos.
Os estudos sobre mídia e religião, até agora, não fizeram tal percurso. Mesmo quando as
Igrejas procuram compreender o problema da mídia, esse deslocamento não acontece. Ou se parte
de uma visão teológica ou moral, com julgamentos exteriores ao fenômeno, ou se apropria acriticamente do que as ciências sociais produzem sobre o mesmo. Falta-lhe uma postura autônoma
e própria sobre essa realidade, superando os juízos morais e religiosos. Noutras palavras, falta-lhe
perceber a realidade da midiatização desde dentro, como um ambiente que tudo engloba, inclusive
a religião.
Por certo, tal afirmação exclui as pesquisas realizadas fora do âmbito dos processos
midiáticos. Isto é, as abordagens sociológicas, políticas, filosóficas da comunicação. Entretanto,
tais estudos e pesquisas restringiram-se à contemplação do problema a partir da consideração e
análise dos meios apenas como dispositivos tecnológicos, de um lado, e como instrumentos da
ideologia dominante, de outro.
Aqueles pesquisadores que se debruçaram sobre a mídia e religião desde a perspectiva dos
dispositivos
tecnológicos
privilegiaram
a
metodologia
quantitativa,
predominantemente.
Atualmente, nos estudos de caso, emerge a abordagem qualitativa e os estudos da recepção.
Essas são abordagens interessantes ao problema, mas permitem conhecer e interpretar o
objeto apenas parcialmente. Não se utiliza hermeneuticamente uma aproximação sistêmica ao
problema em questão.
54
Expressão que significa utilizar, sem a devida fundamentação nem o acurado cuidado, conceitos gerados noutro
contexto, desconhecendo as reais conseqüências para a compreensão da comunicação. Muitas vezes, toca-se de ouvido
e se comete verdadeiras barbaridades epistemológicas.
107
3. Achados e perdidos
Quando iniciamos a pesquisa sobre as dimensões históricas dos processos midiáticos com a
construção de novas religiosidades, objetivávamos garimpar os primórdios do uso que as religiões
cristãs faziam da mídia. Nossa abordagem foi através de uma revisão bibliográfica, procurando
identificar como se desenvolveu essa relação. Mais ainda, procurávamos no passado (dimensão
histórica) elementos que permitissem compreender o fenômeno no momento presente. Sabedores
de que o uso da mídia pelas religiões não é invenção da atualidade, desejávamos vislumbrar as
pinceladas do processo religioso midiático hodierno. Entretanto, a primeira constatação que
fizemos foi que não bastava indagar sobre o uso que as religiões faziam da mídia. Tampouco se
podia limitar a estudar a ascensão e queda da chamada “Igreja Eletrônica”. Ao contrário. Era
necessário perguntar sobre que religião estava emergindo da mídia. Isso mudava substancialmente
o processo. O método exigiu um debruçar-se sobre as descrições que vários pastores e historiadores
faziam do problema para dali extrair o modo de fazer religião, para além da vontade dos teleevangelistas, que tais práticas dinamizavam. Portanto, o método foi mais garimpador, decantador
de práticas e discursos.
Ao realizar esse processo, alguns pontos essenciais foram perdidos no caminho. Perdido no
sentido de que não foram contemplados ou não receberam uma resposta adequada para si. O
principal ponto perdido dizia respeito à comunicação como problemática para o campo religioso.
Isto é, como ele se relaciona teoricamente com a comunicação. Isto é, como o campo religioso lida
com a questão da comunicação enquanto uma dimensão estratégica para o funcionamento de sua
prática. A comunicação, hoje, amplia-se para a consideração dos processos midiáticos e criadores
de uma nova ambiência, entendida como midiatização da sociedade.
Esta questão tentou ser respondida, por um lado, pela realização do mapeamento das
matrizes teóricas que subjazem na produção do campo religioso quando pensa a questão
comunicacional como um elemento de suas práticas; por outro, pela análise de documentos ditos
canônicos, clássicos, onde as Igrejas Cristãs refletem sobre a comunicação e sua importância para
suas missões, no sentido de recuperar as questões teóricas de fundo que cimentaram ou nortearam
os fundamentos destas reflexões. Além disso, visitamos algumas teses acadêmicas e outros
documentos similares produzidos pelo campo religioso e seus intelectuais. Tal visita possibilitou o
conhecimento das bases e matrizes que fundamentam tal questão.
O objetivo principal do projeto, nessa perspectiva, foi ver quais são as percepções
subjacentes, enquanto modelos, escolas teóricas e conceitos estratégicos. Ou seja, como evoluiu o
conceito de comunicação (teórico e prático) para os setores que definem as políticas de
comunicação das Igrejas?
108
Noutras palavras, no agir cotidiano das Igrejas, como se dá o debate entre as correntes que
defendem uma Igreja Midiatizada, via protocolos do espetáculo, daquelas outras fiéis às dimensões
dos conteúdos e dos próprios rituais de comunicação interna, portanto, sem as contaminações com
as lógicas midiáticas?
Associado ao que foi dito acima, o objeto de análise foi constituído pelos documentos
funcionais, históricos, das Igrejas Cristãs. Exemplo desses são as encíclicas e os documentos que
recolhem os resultados dos diversos encontros mundiais, continentais e nacionais das diversas
confissões religiosas.
O que estava em jogo, fundamentalmente, era a relação estabelecida pelas Igrejas Cristãs
com a comunicação. Quando nos propúnhamos a estudar a comunicação como problemática para o
campo religioso, estávamos levantando a hipótese de que ela não é vista como problemática, mas
como uma solução. O importante não são os meios mais a transmissão da mensagem.
Outra vez, aqui, impunha-se a reflexão teórica, bibliográfica, porque o importante era
detectar nos textos produzidos os fundamentos teóricos e metodológicos da opção das Igrejas pela
utilização da mídia. Mais uma vez, encontramos achados e perdidos no caminho. Os achados
diziam respeito ao modo como as Igrejas encaravam a mídia. Para todas as confissões estudadas, os
meios de comunicação eram vistos como meros dispositivos tecnológicos. Para chegar a esses
achados, estudamos a evolução do conceito de comunicação segundo a perspectiva das construções
do campo religioso. Vimos que o que está em jogo, fundamentalmente, é a relação estabelecida
pelas Igrejas Cristãs com a comunicação. Os fatos levantados conformaram a hipótese de que a
comunicação não é vista como problemática, mas como uma solução. Aqui está em jogo um debate
teórico mais de fundo que se expressa na midiatização da técnica versus a processualidade da
técnica, via protocolo das mediações. Este debate pervade a realidade contemporânea. De um lado
estão aqueles que propugnam a utilização da técnica como instrumento capaz de transformar a
sociedade; de outro estão os que, defendendo a processualidade, acentuam as mediações
individuais, situacionais, familiares e sociais. Na discussão proposta por Jesús Martin Barbero, é
necessário passar dos meios às mediações. Ou então, é necessário perder o objeto para ganhar o
processo55.
Com essa constatação, entramos nos perdidos do processo. Ao considerar apenas os
dispositivos tecnológicos, as Igrejas perdiam a dimensão do conjunto e deixavam de perceber o
fenômeno mais amplo da midiatização da sociedade. Permaneciam (e permanecem) na antiga
ambiência e lhes escapava a interpretação do novo que estava surgindo.
55
MARTIN BARBERO, Jesús. “De la comunicación a la cultura. Perder el objeto para ganar el proceso”. Signo y
Pensamiento, no.5, vol. 3, ano 3, segdo. Semestre de 1984. Bogotá: Universidad Javeriana, 1984.
109
Ao entrar no mundo da mídia, as Igrejas não levam em conta que o processo mudou. Os
dispositivos tecnológicos são apenas uma mínima parcela, a ponta do iceberg, de um novo mundo,
configurado pelo processo de midiatização da sociedade. Estamos vivendo hoje uma mudança
epocal, com a criação de um bios midiático que incide profundamente no tecido social. Surge uma
nova ecologia comunicacional56. É um bios virtual. Entendo que mais do que uma tecno-interação,
está surgindo um novo modo de ser no mundo, representado pela midiatização da sociedade. Isso
faz com que figuras televisivas, na maioria das vezes, tornem-se personagens de si mesma,
enquanto que a sociedade exercita uma participação vicária. Esse modo de ser no mundo assume o
deslocamento das pessoas do palco (onde são sujeitos e atores) à platéia (onde sua atitude é
passiva).
Assumindo-se a midiatização como um novo modo de ser no mundo, supera-se, no meu
entendimento, a mediação como categoria para se pensar a televisão hoje. Estamos numa nova
ambiência que, se bem tenha fundamento no processo desenvolvido até aqui, significa um salto
qualitativo, uma viragem fundamental no modo de ser e atuar.
Esse aspecto supera o conceito de mediação, mesmo sendo esse mais do que um terceiro
elemento que faz a ligação entre a realidade e o indivíduo, via mídia. Ele é a forma como o
receptor se relaciona com a mídia e o modo como ele justifica e tematiza essa mesma relação. Por
isso, estrutura-se como um processo social mais complexo que traz no seu bojo os mecanismos de
produção de sentido social.
O trabalho até aqui realizado despertou para um aspecto descurado na reflexão, tanto das
Igrejas quanto, em certa medida, das ciências sociais: a consideração da midiatização como um
processo sistêmico, mais abrangente e que está possibilitando uma visão de totalidade da
sociedade.
Como afirmamos, o projeto unificador coloca em tela conceitos que possuem a sua gênese
nos primórdios da história do pensamento humano. Desde Platão até os dias atuais, a consideração
do Uno e da Unidade esteve presente na reflexão filosófica e fornecia elementos para a
inteligibilidade social. De maneira análoga, rever a midiatização como projeto unificador é dar-lhe
um status de inteligibilidade, de hermenêutica social que engloba privilegiar a complexidade no
processo.
56
As idéias que seguem e embasam a reflexão foram desenvolvidas em: GOMES, Pedro Gilberto. A filosofia e a ética
da comunicação no processo de midiatização da sociedade. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2006. Ver, principalmente, o
capítulo 6.
110
Questionar a história e a filosofia, em busca de ajuda, recuperando conceitos caros para a
reflexão humana, é o desafio que nos impele para fora do campo midiático, sem perder a dimensão
da midiatização.
4. Conclusão
Ora, essa problemática remete-nos para um projeto de totalidade, de unificação, que, como
dissemos acima, questiona a argúcia do pesquisador. Traz, por isso, a obrigação de se mergulhar
nas dimensões da história e da filosofia para encontrar os fundamentos dos conceitos
contemporâneos.
Mais uma vez, o método é o da pesquisa bibliográfica e da reflexão sobre o que foi dito e
escrito. Ciência em desenvolvimento, a comunicação, como afirmamos acima, haure de outras
ciências mais sedimentadas conceitos que permitam compreender o seu objeto de estudo.
O estudo da comunicação como problemática para o campo religioso levou-nos à
contemplação do discurso de quatro Igrejas Cristãs: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja
Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, Igreja Metodista e Igreja Universal do Reino de Deus.
As três primeiras, chamadas Igrejas Históricas, possuem uma longa tradição do discurso e
da escrita. A utilização da palavra escrita as leva a valorizar sobremaneira a imprensa. São Igrejas
que se movem com desenvoltura na produção de documentos que expressam a sua doutrina e o seu
pensamento. Nesse particular, destaca-se a produção teórica da Igreja Católica. Pelo mesmo
motivo, sentem-se pouco à vontade com os meios eletrônicos. A mídia eletrônica é um fenômeno
que, ao desenvolver-se, encontra essas Igrejas já estabelecidas. Por isso, elas têm dificuldade em se
adaptar e adequar a sua mensagem às lógicas dos processos midiáticos.
Por outro lado, a Igreja Universal do Reino de Deus é uma nativa midiática. Isto é, ela
nasce já sob o signo da mídia. Para ela, tanto faz a escrita, a imprensa quanto a mídia. Tudo é novo.
O mundo da mídia já estava aqui quando ela surgiu. Logo, esse é apenas dado a mais que essa
Igreja possui para transmitir a sua mensagem. Ela não escreve sobre os meios porque usa os meios.
O uso torna desnecessário o discurso.
Entretanto, não importa a postura que cada Igreja assuma, a dimensão da midiatização da
sociedade coloca-lhes por igual desafios. Na realidade, assim como indagávamos sobre que tipo de
religião estava emergindo da mídia, é necessário inquirir sobre que sociedade e que religião emerge
da midiatização da sociedade.
O desafio metodológico, tanto para as Igrejas quanto para os pesquisadores, é compreender
o projeto social de unificação que impregna o processo de midiatização da sociedade. Esse
processo coloca o imperativo de novos olhares sobre ele, com metodologias e conceitos que
111
transcendam à dimensão particular de cada ciência para dirigir-se à contemplação da totalidade. No
caso dos olhares religiosos, as ferramentas metodológicas, para considerar a totalidade dos eventos,
devem abranger as dimensões unificadas do sagrado e do profano. O humano e a sociedade, nesse
momento presente, implicam uma abordagem de totalidade sistêmica envolvendo o sagrado e o
profano, imbricados umbilicalmente. A midiatização da sociedade foge, escapa, escorrega por entre
os dedos quando vista de maneira dualística. A ancoragem será sempre sistêmica e complexa. Nem
o religioso é só religioso, nem o profano é só profano. As religiões que afirmam uma postura
monocular na realidade fecham para si as condições de possibilidade de falar para o homem
moderno e para dimensionar corretamente a sociedade que emerge nesse início de milênio.
Sintetizando o percurso proposto, a opção metodológica para elaborar uma gramática que
dê conta do processo de midiatização da sociedade implica no diálogo com as demais ciências,
principalmente a história e a filosofia. A partir do diálogo, buscar-se-á produzir ferramentas
adequadas para trabalhar, sistemicamente, esse objeto complexo que desafia a argúcia dos
pesquisadores das ciências da comunicação e da relação da mídia com a religião hoje,
São Leopoldo, primavera de 2008.
112
ESTUDIOS DE INTERFAZ: HACIA UNA METODOLOGÍA COMO
“SENSIBILIDAD” A “LA PAUTA QUE CONECTA”
Sandra Valdettaro
Resumen: En el siguiente texto se presentan algunas reflexiones tendientes al abordaje metodológico de los
estudios situados en recepción teniendo en cuenta la complejidad creciente de la mediatización actual, que, a
partir de la consolidación de los dispositivos basados en la digitalización, torna radicalmente asimétrica y
conflictiva la relación entre producción y reconocimiento. A partir de la recuperación de conceptos de
Bateson ya trabajados en otros textos, se proponen nuevas articulaciones epistemológicas y se intenta
avanzar en la delimitación teórico-metodológica de la cuestión de la “interfaz”.
Palabras-clave: Sociosemiótica, Interfaz, Metodología
Introducción
Las investigaciones socio-semióticas se encuentran, en la actualidad, en una nueva
búsqueda del sujeto57 que requiere una particular configuración epistemológica. En tanto objeto
técnico y social, la complejidad creciente de la comunicación social plantea continuos desafíos a la
investigación de la mediatización, caracterizada, hoy, por un creciente desajuste entre producción y
reconocimiento que implica articular de un modo diferente las hipótesis tradicionales con nuevas
conjeturas.
Los debates acerca del “fin de los medios masivos” pueden considerarse como un síntoma
de cierta perplejidad atravesando el campo de la comunicación en tanto disciplina. Los datos duros
de la mediatización configuran un escenario que, desde su evaluación cualitativa, producen no
pocas vacilaciones e incertidumbres, desplegando diagnósticos que intentan adentrarse en las
relaciones entre la eficacia de ciertas lógicas ritualísticas todavía operantes en un espacio de
comunicación social de masas, que actúan en simultaneidad con itinerarios de consumo y usos de
medios crecientemente autónomos via la convergencia en producción que supone la digitalización.
Bajo el supuesto de la radical asimetría entre procesos de producción y de reconocimiento,
se vuelve necesario diseñar abordajes empíricos de la recepción situados en experiencias de
consumo específicas, bajo la presunción, de cuño etnográfico-antropológico, de colocarnos “en la
57
Cfr., entre otros, Fernández, J. L., “Hacia los efectos de lo radiofónico. Fragmentos una tesis”; Carlon, M., “Sobre la
desatención del dispositivo: estudios culturales”; Cingolani, G., “Juicios de gusto sobre canales de noticias. Un análisis
discursivo”, todos en www.desdelasemiotica.blogspot.com; Maestri, M., “Tácticas y estrategias de la recepción en la
divergencia” en www.interfacesypantallas.wordpress.com; Verón, E., Cap. 8, « Du sujet aux acteurs. La sémiotique
ouverte aux interfaces » (Del sujeto a los actores. La semiótica abierta las interfaces), en Boutaud, J.J. y Verón, E.,
Sémiotique ouverte. Itinéraires sémiotiques en communication, Paris, Lavoisier, Hermès Science, 2007 (Traducción:
Gastón Cingolani, para la cátedra de Medios y Políticas de la Comunicación, Área Transdepartamental de Crítica de
Artes, Instituto Universitario Nacional del Arte, 2008).
113
perspectiva de los actores sociales” para poder acercarnos, de este modo, a las modalidades del
carácter concreto, práxico, de la acción y el discurso sociales, esto es, a las peculiares gramáticas
del reconocimiento y la producción de imaginarios sociales.
La articulación entre hipótesis generales y construcción de abordajes metodológicos
supone, entonces, asumir la complejidad creciente de la mediatización.
A estos fines, algunos tópicos clásicos, de la física y la termodinámica, son recuperados en
términos de una noción específica de información, central en el desarrollo de la cibernética y la
teoría de los sistemas. Ligados al componente “complejo” de los sistemas, los desarrollos de la
Escuela de Palo Alto (Bateson, Watzlawick, Birdwhistell, etc) y sus derivaciones en el llamado
“paradigma de la complejidad”, pueden encontrarse también en la teoría funcionalista-sistémica de
Niklas Luhmann, un corpus que no sólo apunta a la específica productividad de lo social y sus
sistemas, sino a la determinación peculiar que el propio sistema de la comunicación mediática
adquiere en tal contexto58. Creemos que estos tipos de abordajes proponen un significativo cambio
de escala en el intento de entendimiento de los procesos comunicacionales.
Se trata de potenciar una actitud metodológica de sensibilización en torno a aquello que
conecta ambas instancias -producción y reconocimiento- y que, al conectar, produce diferencias.
Creo que, en tal sentido, Bateson hace una diferencia.
Bateson como “diferencia”
La vigencia de la obra de Gregory Bateson, dedicada a la “exploración” de la “ecología de
la mente”59, continúa desde hace más de cinco décadas. El tratamiento otorgado a su gran objeto de
estudio, el mundo de la Creatura, se desmarca de cualquier funcionalismo o intento de humanismo.
A pesar de la aparente dispersión temática, los “objetos” por Bateson convocados -y su ubicación
en las fronteras de la filosofía, la religión y la ciencia- conforman una especie de “inventario” que
incluye “asuntos tales como…”: “la simetría bilateral de un animal”, “la distribución de acuerdo
con un patrón de las hojas en una planta”, “la escalada en una carrera armamentista”, “los procesos
del cortejar”, “la naturaleza del juego”, “la gramática de una oración”, etc. En síntesis, es en “el
misterio de la evolución biológica y las crisis contemporáneas en la relación del hombre con su
ambiente”60 donde se está ubicando Bateson. Una lista de cuestiones siempre abierta sobre la cual
58
Cfr los desarrollos desde esta perspectiva en Verón, E., « Du sujet aux acteurs. La sémiotique ouverte aux
interfaces. », op cit., pag 11. Para una mirada sobre la especificidad del sistema de medios, cfr. Luhmann, N., La
realidad de los medios de masas, México, Anthropos, 2000.
59
Bateson, G., Una Unidad Sagrada. Pasos ulteriores hacia una ecologia de la mente, Barcelona, Gedisa, 1993. Cfr
Pakman, M., “Prólogo a la edición española”, en Ibidem.
60
Bateson, G., Pasos hacia una ecologia de la mente. Una aproximación revolucionaria a la autocomprensión del
hombre, Bs As, Lohlé-Lumen, 1998, pág. 15.
114
se pregunta por la naturaleza de los encadenamientos formales. En tal sentido, plantea Bateson la
pertinencia de un enfoque que nombra como “enumeración contrastante”, y que permitiría, de
manera “abductiva”, indagar las modalidades de la “pauta” que conecta “el mundo de lo
viviente”61, destruyendo “ideas” para explorar nuevas “diferencias”62.
De la psiquiatría y la psicoterapia familiar a la comunicación animal y la organización
social, la cibernética y la teoría de los sistemas, y rescatando la productividad de los tipos lógicos,
en Pasos hacia una ecología de la mente Bateson logra, según Donaldson, “la integración de todos
los niveles de comunicación biológica: el genético, el individual, el cultural y el ecológico”, en una
“nueva epistemología”63 capaz de pensar a la bioesfera como emergiendo “en y a través de los
procesos mentales”, cuyos presupuestos generales son: “… las pautas de cambio progresivo en las
relaciones humanas; la aplicación de la teoría de Russell de los tipos lógicos a la historia natural
humana y a la teoría del aprendizaje; la función del cambio somático en la evolución; la naturaleza
del juego; la teoría del doble vínculo en la esquizofrenia; los efectos del propósito consciente sobre
la adaptación humana; la naturaleza de la adicción; la relación entre conciencia y estética; los
criterios de proceso mental; la metapauta que elimina la supuesta dicotomía entre mente y
naturaleza”64. Un abandono de la lógica por lo eco-lógico temporal hace desplegar el juego de las
mentes -para Bateson, las “mentes” son, vale aclararlo, “agregados de ideas”, es decir, de “toda
diferencia que hace a una diferencia”65-. Dicha operación se realiza no según una secuencia formal,
sino en virtud de una historia natural operativa (no-prescriptiva) que supone una “unidad sagrada
de la bioesfera”66.
El método -exploratorio, abductivo- implica una descripción doble o múltiple de procesos
mentales (en tanto “agregados de ideas”, es decir, de diferencias que producen diferencias) con el
propósito de inferir las pautas subyacentes y la gramática de su formación, porque, como dice
Bateson, “el proceso evolutivo (de cualquier clase) debe depender de esos incrementos dobles de
información. Todo paso evolutivo es una adición de información a un sistema ya existente. Como
esto es así, las combinaciones, las armonías y los desacuerdos entre sucesivas porciones y capas de
información presentarán múltiples problemas de supervivencia y determinarán múltiples
61
Pakman, M., “Prólogo a la edición española” en Bateson, G., Una Unidad Sagrada. Pasos ulteriores hacia una
ecologia de la mente, op cit, pag. 10.
62
Retomo acá consideraciones ya expuestas en Valdettaro, S., “Notas sobre la diferencia: aproximaciones a la
interfaz”, en Dossier de Estudios Semióticos, La Trama de la Comunicación, Volumen 12, Anuario del Departamento
de Ciencias de la Comunicación, Rosario, UNR Editora, 2007.pags 218/221.
63
Cfr. Donaldson, “Introducción”, en Bateson, G., Una unidad sagrada .. op cit.
64
Ibidem, págs. 17/18.
65
Ibidem, pág. 19.
66
Entiendo que las constantes alusiones de tonalidad religiosa de Bateson aluden a su sentido general de re-ligar, de reunir.
115
direcciones de cambio”67. El fenómeno del contexto y del significado definía, dice Bateson, “una
división entre las ciencias duras y el tipo de creencia que yo estaba intentando construir”68. Es decir
que, por lo que Bateson está abogando es por un “tipo” de “creencia” -la ciencia no es más que
eso- que fluya transdisciplinarmente entre los conceptos cibernéticos (de ahí provienen, en
Bateson, las nociones de “significado” y de “contexto”) y los datos antropológicos.
Desde un punto de vista técnico, metodológico, su propuesta de un “diagrama de tres
columnas”69 se ofrece como una posibilidad de descripción investigativa que podría compararse
con la tríada propuesta por Peirce. La propuesta de Bateson se me ocurre muy cercana a la
acepción del aprendizaje -de inspiración peirceana- que brinda Verón: “… aprender supone activar
emociones, datos y reglas”70. Una indicación que resulta fecunda a la hora de encarar el estudio de
las tecnologías. En palabras de Verón: “Cada tecnología hace posibles modalidades de articulación
que le son propias entre la primeridad, la secundidad y la terceridad, es decir, entre las impresiones
y afectos, los hechos y relatos, las reglas y normas”71. Desde un punto de vista lógico, y tal como lo
desarrolla Verón en otro lugar, se trataría de “términos, proposiciones y argumentos”72.
La columna de la izquierda del diagrama de Bateson corresponde a “una lista de distintos
tipos de datos no acompañados por ninguna interpretación (película, descripción, fotografía,
enunciación humana grabada)”, entendiendo por “datos”, obviamente, no “sucesos ni objetos” sino
“registros o descripciones o recuerdos de sucesos u objetos”. El modo en que Bateson describe los
contenidos de esta primera columna -insistimos: “… datos no acompañados por ninguna
interpretación” (…) “registros, descripciones, recuerdos ..”- nos parece que lo acerca, como decía,
a aquello que Peirce definía como la primeridad en términos de “fondo” o “ground” como
momento inicial del conocimiento y a partir del cual las cosas toman un determinado perfil, y que
remite, de manera general, a la primera impresión o sentimiento que recibimos de las cosas73:
emociones, impresiones, afectos. Es preciso aclarar una cuestión central en la epistemología
batesoniana con respecto a la cuestión del estatuto de lo que nombra como “datos”. Bateson nos
recuerda, contínuamente, que siempre hay una transformación del suceso bruto, que
inevitablemente existe un proceso selectivo, ya que “el universo total, pasado y presente, no está
67
Ibidem, pág. 20.
Bateson, G., Pasos hacia una ecologia de la mente. Una aproximación revolucionaria a la autocomprensión del
hombre, op cit, pág. 17.
69
Ibidem, pág. 18.
70
Verón, E., Espacios Mentales. Efectos de Agenda 2, Barcelona, Gedisa, 2001, pag 71.
71
Ibidem, pags 74/75.
72
Veron, E., Conferencia de Clausura del II Congreso Internacional y VI Congreso Nacional de Semiótica, AAS
(Asociación Argentina de Semiótica), Rosario, 9/11/2007. Desgrabación propia, pag. 3.
73
Cfr. Zechetto, V., “Capítulo 2: Charles Sanders Peirce 1839/1914”, en Zecchetto, V. (coordinador), Seis semiólogos
en busca del lector. Saussure, Peirce, Barthes, Greimas, Eco, Verón, Bs As, La Crujía, 2005, pag 50.
68
116
sujeto a observación desde ninguna posición dada del observador”74, pero, a pesar de ello, aclara
que la única posibilidad de confiabilidad a mano de los científicos siguen siendo los “datos”. A
pesar de ciertos matices, entonces, los “datos” batesonianos pueden entenderse, según mi punto de
vista, como los “primeros” peirceanos, o, en términos lógicos, los “términos”.
La columna del medio del diagrama de Bateson se dedica a un compendio de “nociones
explicativas comunes en las ciencias de la conducta”. Por ejemplo, según el propio Bateson,
nociones como “yo”, “angustia”, “instinto”, “propósito”, “mente”, “sí-mismo”, “patrón de acción
fija”, etc. Son, si se quiere, “categorías relacionales” como las de la segundidad peirceana, a las
cuales es posible atribuir, justamente por dicho carácter relacional, un componente de “combate
(struggle) de un fenómeno de primeridad con otro”75. Resulta interesante asociar dicha
caracterización con lo que apunta Bateson. Este ámbito, correspondiente, en el nivel de la lógica
peirceana, a las “proposiciones”, es presentado por Bateson como un “conjunto posible” con
“escasa articulación interna” y “formulación poco estricta”, que conformaría una especie de
“bruma conceptual” y podría derivar en efectos nocivos para la ciencia, no progresivos76.
Por ello, en la columna de la derecha aparecería lo que desde la epistemología lakatosiana
podría nombrarse como el “núcleo duro”: un conjunto de “elementos fundamentales” de dos tipos:
“proposiciones y sistemas de proposiciones truísticas, y proposiciones o leyes que son
generalmente verdaderas”. Entre las primeras estarían las “verdades eternas de la matemática”
(verdades tautológicamente determinadas), y, entre las segundas, por un lado, las “empíricamente
verdaderas” (como las leyes de la conservación de la masa y la energía, la segunda ley de la
termodinámica, etc), y, por otro lado, “otras que no pueden clasificarse como tautológicas o
empíricas”: leyes de la probabilidad, teoremas de Shannon de la teoría de la información, etc77. Del
mismo modo, la terceridad está conformada por leyes, reglas y normas que rigen el funcionamiento
de los fenómenos. Se trata de categorías generales que otorgan validez lógica y ordenan lo real
estableciendo síntesis: “La terceridad realiza el enlace lógico entre primeridad y secundidad, o sea,
establece las condiciones hipotéticas para que algo ocurra”78. Es el ámbito de los argumentos.
A partir de este diagrama, Bateson propone una definición de “explicación” como “la
distribución cartográfica de los datos sobre los elementos fundamentales”, que actúa como una
74
Bateson, G., Pasos hacia una ecologia de la mente.., op cit, págs. 18/19.
Zechetto, V., op cit, pag 50.
76
Bateson, G., Pasos hacia una ecologia de la mente.., op cit, pags 18/19.
77
Ibidem, pág. 19.
78
Zechetto, V., op cit., pag 51.
75
117
“maniobra de pinzas”: “las observaciones no pueden negarse y los elementos fundamentales tienen
que adecuarse entre sí”79.
La búsqueda de este “puente” entre datos y leyes aleja a Bateson de la ciencia del siglo
XIX, que lo situaba en la “energía”. Por eso apunta que “las leyes de la conservación de la materia
y la energía siguen aun separadas de las leyes del orden … (de la) entropía e información .. el
orden se concibe como un asunto de seleccionar y dividir. Pero la noción esencial en toda selección
es que alguna diferencia ocasionará alguna otra diferencia en un momento ulterior ...”80. La
referencia de las leyes de la conservación de la energía y la materia es la “sustancia” más que la
“forma”; sin embargo, “los procesos mentales, las ideas, la comunicación, organización,
diferenciación, patrón, etc, son asuntos de forma y no de sustancia”81.
La cibernética y la teoría de los sistemas proveen los elementos fundamentales para el
tratamiento de la forma. A ellos acude Bateson en su intento de tender dicho “puente” entre la
“vida” y el “orden”.
Los “elementos fundamentales” de Bateson
Pueden determinarse los siguientes “elementos fundamentales” en la epistemología
batesoniana:
- La ciencia entendida como un método de percepción e indagación -no de comprobación-,
de naturaleza exploratoria y abductiva82: “… la ciencia es una manera de percibir y de conferir
‘sentido’ … a nuestros preceptos. Pero la percepción sólo opera sobre la base de la diferencia.
Toda recepción de información es forzosamente la recepción de noticias acerca de una diferencia, y
toda percepción de diferencia está limitada por un umbral ..”83.
- La necesidad de distinguir, desde un punto de vista lógico, el “nombre” y la “cosa
nombrada”, el “mapa” y el “territorio”, como guía de las clasificaciones: “.. en todo pensamiento, o
percepción, o comunicación de una percepción, hay una transformación, una codificación, entre la
cosa sobre la cual se informa, la Ding an sich, y lo que se informa sobre ella. En especial, la
relación entre esa cosa misteriosa y el informe sobre ella suele tener la índole de una clasificación,
la asignación de una cosa a una clase. Poner un nombre es siempre clasificar, y trazar un mapa es
en esencia lo mismo que poner un nombre”84. A los fines de ampliar estos argumentos, presento
algunos de los ejemplos que Bateson da en su Glosario sobre los “tipos lógicos”: “1. El nombre no
79
Bateson, Pasos hacia una ecologia de la mente ..., op cit, pág. 20.
Ibidem, pág. 24.
81
Ibidem, pág. 25.
82
Bateson, G., Espíritu y Naturaleza, Bs As, Amorrortu, 1997, págs. 37/40.
83
Ibidem, pág. 40.
84
Ibidem, págs. 40/41.
80
118
es la cosa nombrada sino que pertenece a un tipo lógico diferente, superior al de la cosa nombrada.
2. La clase es de un tipo lógico superior que el de los miembros que la integran …etc”85.
- Los “contextos” entendidos como “pautas” que se repiten a lo largo del tiempo86.
- La interdependencia entre “contexto”, “comunicación” y “significado”, y la hipótesis
según la cual “los contextos confieren significado porque hay una clasificación de los contextos”
según determinadas configuraciones o gramáticas contextuales87
- La recuperación de la idea de “ecología” como “impulso a unificar, y así a santificar, el
mundo natural total del que formamos parte”88.
- La naturaleza impredecible de las secuencias divergentes89, que se refieren siempre a
individuos -a moléculas individuales-, y remiten a la diferencia entre los enunciados acerca de un
individuo identificado y los enunciados acerca de una clase, que son de diferente tipo lógico. Las
secuencias divergentes son estocásticas: “ ..combina(n) un componente aleatorio con un proceso
selectivo, de manera tal que sólo le sea dable perdurar a ciertos resultados del componente
aleatorio”90
- La naturaleza predecible de las secuencias convergentes91, debido a que la descripción, en
este caso, se refiere al comportamiento de inmensas multitudes o clases de individuos.
- La consideración de los sucesos sociales como divergentes, ya que involucran a seres
humanos y únicos92.
- Los procesos “espirituales” (es decir, las “cosas vivas”) como cadenas circulares
complejas de determinación93, como sistemas con aumento positivo, llamados círculos viciosos o
escalantes94. Escribe Bateson: “En mi propio trabajo con la tribu Iatmul del río Sepik (Nueva
Guinea), comprobé que diversas relaciones entre los grupos y entre distintos tipos de parientes se
caracterizaban por intercambios de conducta tales que cuanto más exhibía A una cierta conducta,
más probable era que B exhibiese esa misma conducta. A estos intercambios los llamé simétricos.
A la inversa, había también estilizados intercambios en los cuales la conducta de B era diferente de
la de A, pero complementaria. En uno y otro caso las relaciones estaban potencialmente sujetas a
una escalada progresiva, y a esto lo denominé cismogénesis” (…) “ .. la cismogénesis, ya sea
85
Ibidem, pág. 245.
Ibidem, pág 25.
87
Ibidem, pág. 28.
88
Ibidem, pág 29.
89
Ibidem, págs. 51/54.
90
Ibidem, pág. 242.
91
Ibidem, págs. 55/56.
92
Ibidem, pág. 56.
93
Ibidem, pág. 115.
94
Ibidem, pág. 117.
86
119
simétrica o complementaria, puede verosímilmente conducir al desenfreno o colapso del
sistema”95. La cuestión del desenfreno, sus distintas especies y posibles combinaciones, se
encuentra matizada, en Bateson, por el hecho de que “… pudiera haber circuitos de causación que
contuvieran uno o más eslabones negativos, y que por ende pudieran autocorregirse”; por lo tanto
“… los sistemas de desenfreno, como el crecimiento demográfico, pueden contener los gérmenes
de su propia autocorrección en la forma de epidemias, guerras y programas de gobierno”96.
- La definición de la naturaleza de los sistemas autocorrectivos tomada por Bateson del
planteo realizado por Rosenblueth, Wiener y Bigelow en un artículo de la revista Philosophy of
Science de 1943, en el cual postulaban que “el circuito autocorrectivo y sus numerosas variantes
suministraban posibilidades para modelar las conductas adaptativas de los organismos”97, y su
propio concepto de “adaptación” como la “característica de un organismo mediante la cual parece
ajustarse mejor a su ambiente y modo de vida”, o como “el proceso de lograr ese ajuste”98.
Hacia una metodología como “sensibilidad” a “la pauta que conecta”
La naturaleza estocástica, divergente, del sistema-mundo -la Creatura batesoniana- torna
complicada la captación del umbral de percepción de esta nueva diferencia: mapas y territorios se
encuentran, hoy, en un estado de creciente complejidad. En relación con la mediatización actual,
cruzada por múltiples dispositivos y medios que actualizan diversas modalizaciones del espacio y
del tiempo produciendo nuevas subjetividades sociales y generando, así, condiciones para la
consolidación de construcciones peculiares del lazo social, la perspectiva analítica y la actitud
metodológica deben, necesariamente, lograr un refinamiento de la sensibilidad investigativa que
tienda a captar las fisonomías de las pautas que conectan: una actitud honesta y atenta a las
diferencias.
La preeminencia de las tecnologías del contacto impone la inevitabilidad de una vigilancia
constante como cualidad investigativa que pueda articular, en el abordaje empírico, la inducción
con la abducción. La generación de nuevas hipótesis podrá apoyarse, de este modo, en un estilo
“contrastante” en el cual la autorreflexión acerca de nuestra propia experiencia de contacto con las
“texturas” de la mediatización discurra ordenando los diagramas y las cartografías y tienda, a partir
de ello, a lograr cierta sutileza en las tipificaciones.
95
Ibidem pág 118. Ver también el capítulo “Contacto cultural y esquismogénesis” en Bateson, G., Pasos hacia una
ecología de la mente. Una aproximación revolucionaria a la autocomprensión del hombre, op cit.
96
Ibidem, pág. 118.
97
Ibidem, pág. 119.
98
Ibidem, pág. 241.
120
Lo que propongo, en definitiva, es estar atentos a nuestra propia experiencia con la
diferencia -o, por decirlo de otra manera, con la novedad99- considerando que ello constituye una
base a partir de la cual construir conocimiento fiable.
Nuestra condición de investigadores-nativos hace de nuestros propios goces rituales
motivos de exploración, porque es también en ellos donde se encarna, inexorablemente, la filigrana
de lo social. Creo que algo de esto es lo que produce Bateson con sus metálogos100 como una
particular forma de producción de conocimiento.
Intentando emular dicha rutina de investigación, propusimos, en otro lugar101, algunas
reflexiones preliminares acerca de las múltiples configuraciones de sentido que habilitan ciertos
usos de los celulares, específicamente los ligados a los intercambios de mensajes de textos. La
textura de esas pequeñas pantallas, y su inmediatez, permiten -decíamos- la inscripción del
desarrollo temporal de los contactos y de las subjetividades implicadas. Detenerse en las huellas de
dichos intercambios -en la celeridad o el retardo de las réplicas, en las formulaciones huidizas o
categóricas, en las distintas modalizaciones subjetivas, etc- nos hacían suponer la posibilidad de
una reconstrucción de microhistorias que, por la marcación precisa de la economía entre cercanía y
distancia que la materialidad del soporte habilita, suponíamos incluso más develadoras que los
abordajes del face-to-face, siempre riesgosos de ser contaminados por los equívocos de la
proximidad.
En tal ocasión, apelando a un corpus aleatorio de intercambio privado de mensajes de
textos, constatábamos la reproducción, en dichos intercambios, de la lógica asignada a los lugares
del diálogo en los metálogos de Bateson. Sólo que el par hija/padre tendía a transmutarse, en
nuestro corpus, en el más genérico de lo femenino/lo masculino bajo una lógica de preeminencia
de la complementariedad102. En este caso, y mediante este tipo de abordaje, el dispositivo
funcionaba como inscripción material de los intercambios pasionales, es decir, como una fuente de
indagación de ciertas lógicas de los lazos afectivos en la actualidad. Nuestra percepción era que, en
definitiva, ese específico espacio creado por las pequeñas pantallas de los móviles parecía ser “uno
de los lugares privilegiados, actualmente, de la circulación del deseo”103.
99
Cfr las reflexiones sobre la “novedad” que realiza Fernández, J. L., en La construcción de lo radiofónico, Bs As, La
Crujía, 2008.
100
Cfr Bateson, G., Pasos hacia una ecología de la mente, Bs As, Lohlé-Lumen, 1998.
101
Diviani, R. y Valdettaro, S., “Celulares: metálogos y espacios mentales”, en CD Ponencias de las XI Jornadas de
Investigadores en Comunicación “Tramas de la comunicación en América Latina Contemporánea. Tensiones sociales,
políticas y económicas”, Red de Investigadores en Comunicación, Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, 2007.
102
Cfr los conceptos de relaciones simétricas y complementarias, en Bateson, G., Pasos …, op cit.
103
Diviani, R. y Valdettaro, S., “Celulares: metálogos y espacios mentales”, op cit.
121
Dicho ejercicio investigativo es sólo un ejemplo de que lo que queríamos detectar era, en
definitiva, cierto funcionamiento de la interfaz, es decir, de la pauta que conecta.
Lejos de haberlo logrado, pero avanzando en las reflexiones acerca de la interfaz ya
publicadas104, parece apropiado ir completando su abordaje teniendo en cuenta la epistemología
batesoniana que, junto a las “razones teóricas” expuestas por Verón acerca de “la interfaz
producción/reconocimiento”105, brindan un andamiaje teórico que posibilitaría construir hipótesis
plausibles.
Dado que el mundo de la Creatura es “.. un nicho alejado del equilibrio”106, dicha
plausibilidad dependerá, desde mi punto de vista, del desarrollo de una metodología capaz de
articular los términos, las proposiciones y los argumentos con un impulso estético y una
sensibilidad atenta a “la pauta que conecta”107, es decir, a la interfaz.
Bibliografía
BATESON, G. Una Unidad Sagrada. Pasos ulteriores hacia una ecología de la mente. Barcelona:
Gedisa, 1993.
BATESON, G. Espíritu y Naturaleza. Buenos Aires: Amorrortu, 1997.
BATESON, G. Pasos hacia una ecología de la mente. Una aproximación revolucionaria a la
autocomprensión del hombre. Buenos Aires: Lohlé-Lumen, 1998.
CARLÓN, M. “Sobre la desatención
www.desdelasemiotica.blogspot.com
del
dispositivo:
estudios
culturales”.
In:
CARLÓN, M. De lo cinematográfico a lo televisivo. Metatelevisiòn, lenguaje y temporalida. Buenos
Aires: Editorial La Crujìa, 2006.
CARLÓN,
M. Sobre lo televisivo: dispositivos, discursos y sujetos. Buenos Aires: La Crujía, 2004.
CINGOLANI, G. “Juicios de gusto sobre canales de noticias. Un análisis discursivo”. In:
www.desdelasemiotica.blogspot.com
DIVIANI, R. y VALDETTARO, S. “Celulares: metálogos y espacios mentales”, CD Ponencias de
las XI Jornadas de Investigadores en Comunicación “Tramas de la comunicación en América
Latina Contemporánea. Tensiones sociales, políticas y económicas”, Red de Investigadores en
Comunicación, Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, 2007.
FERNÁNDEZ, J. L. (ed.). La construcción de lo radiofónico. Buenos Aires: La Crujía, 2008.
FERNÁNDEZ, J. L. “Hacia los efectos de lo radiofónico. Fragmentos una tesis”. In:
www.desdelasemiotica.blogspot.com
104
Valdettaro, S., “Notas sobre la diferencia: aproximaciones a la interfaz”, op cit.
Verón se detiene, en « Du sujet aux acteurs. La sémiotique ouverte aux interfaces », apelando a Luhmann, en “los
sistemas complejos auto-organizantes” en términos de abordar los fenómenos de interfaz: “El observador situado en la
interfaz producción/reconocimiento está activando procesos auto-poiéticos de dos sistemas autónomos: el sistema de
los medios y el sistema que Luhmann llama psíquico”, o, en sus palabras, “el sistema del actor”, op cit, pag 11.
106
Verón, E., Espacios Mentales. Efectos de Agenda 2, op cit, pag. 76.
107
Bateson, G., Espíritu y Naturaleza, op cit., pag 19.
105
122
FERNÁNDEZ,
J. L. Los lenguajes de la radio. Buenos Aires: Atuel, 1994.
LUHMANN, N. La realidad de los medios de masas. México: Antrophos y Universidad
Iberoamericana, 2000.
MAESTRI, M., “Tácticas y estrategias
www.interfacesypantallas.wordpress.com
de
la
recepción
en
la
divergencia”,
en
VALDETTARO,
S. “Notas sobre la diferencia: aproximaciones a la interfaz”, en Dossier de Estudios
Semióticos de La Trama de la Comunicación, Anuario del Departamento de Ciencias de la
Comunicación, Volumen 12. Rosario: UNR Editora, 2007.
VALDETTARO, S. “Algunas consideraciones acerca de las estrategias del contacto: del papel a la
in-mediación de las interfaces”, en Revista Letra, Imagen, Sonido. Ciudad Mediatizada 1, UBACyT,
Ciencias de la Comunicación, Facultad de Ciencias Sociales, UBA. Buenos Aires, 2008.
VALDETTARO, S. “Notas sobre la diferencia, aproximaciones a la interfaz”, en Dossier de
Estudios Semióticos, Anuario del Departamento de Ciencias de la Comunicación, La Trama de la
Comunicación, Volumen 12. Rosario: UNR Editora, 2007.
VERÓN, E. Regreso al futuro de la comunicación. In: Cuadernos de Comunicación Nro 3, Rosario,
Fac de Ciencia Política y RRII, UNR, 2007.
VERÓN, E. Cap. 8. Du sujet aux acteurs. La sémiotique ouverte aux interfaces » (Del sujeto a los
actores. La semiótica abierta las interfaces), en Boutaud, J.J. y Verón, E., Sémiotique ouverte.
Itinéraires sémiotiques en communication, Paris, Lavoisier, Hermès Science, 2007 (Traducción:
Gastón Cingolani, para la cátedra de Medios y Políticas de la Comunicación, Área
Transdepartamental de Crítica de Artes, Instituto Universitario Nacional del Arte, 2008).
VERÓN, E. Conferencia de Clausura del II Congreso Internacional y VI Congreso Nacional de
Semiótica, AAS (Asociación Argentina de Semiótica), Rosario, 9/11/2007. (Desgrabación propia)
VERÓN, E. El cuerpo de las imágenes. Buenos Aires: Norma, 2001.
VERÓN, E. Espacios Mentales. Efectos de Agenda 2. Barcelona: Gedisa, 2001.
123
CRÓNICA ROJA: APORTES PARA EL ABORDAJE
METODOLÓGICO EN LA PRENSA ARGENTINA
Stella Martini
Palabras-clave: delito, sensacionalismo, pertinencia metodológica
Entrando en tema, o la problemática de las premisas adecuadas
La vigilancia epistemológica se impone particularmente en el
caso de las ciencias del hombre, en las que la separación entre la
opinión común y el discurso científico es más impreciso que en
otras. (Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon y JeanClaude Passeron, 1973)
Si, como afirma Verón, la construcción social de la realidad pasa por la acción de los medios,
resulta inevitable que las preocupaciones de los investigadores del campo estén centradas en la
relación entre los mensajes de los medios y la sociedad. ¿Los medios manipulan a la opinión pública
o responden a sus exigencias?; ¿la sociedad se reconoce en las agendas periodísticas?; ¿cómo se
instala la imagen mediática del conflicto como presente continuo?; ¿la percepción social de la
inseguridad se deriva de su relevancia mediática?; ¿las noticias vuelven a victimizar a las víctimas?; y
en el camino a estas respuestas, ¿los resultados de las técnicas cuantitativas ofrecen más certeza que
aquellos de las cualitativas, o viceversa? Estas son algunos de los interrogantes posibles en la
reflexión de los aspectos metodológicos de la mediatización de las sociedades, y sobre el caso de las
agendas periodísticas policiales en especial. Cada uno de ellos admite diferentes enfoques
metodológicos según lo que la investigación se propone interpretar. Parece casi fuera de discusión
afirmar la necesidad de un enfoque metodológico adecuado a cada fenómeno singular que se nos
impone en la investigación, pero el caso es que, a veces, los medios masivos son objeto de una
generalización riesgosa o una parcialización reduccionista (problemas de análisis meramente macro o
micro y desconocimiento de la densidad del fenómeno). Las teorías que tematizan la comunicación
humana, y por tanto sus técnicas metodológicas, tienen una larga y rica historia y son sin lugar a
dudas referentes obligados y aportes imprescindibles a los que recurrimos108. La especificidad del
discurso científicos y la ubicación del investigador frente a su objeto no admite equivocaciones109.
108
Pero lo cierto es que aún hoy, cuando las sociedades enfrentan variaciones y cambios políticos, culturales y
tecnológicos profundos, casi con la naturalidad con que el no lego habla de los medios desde el sentido común, hay
quienes reflexionan desde lo que podemos denominar “un sentido común científico”. Este error suele estar alimentado
124
Ante versiones poco científicas sobre los medios, se puede reconocer que el hecho de su
misma circulación masiva autorizaría un sentido instalado de que “cualquiera puede hablar de ellos”,
con lo que ciertos especialistas de diferentes áreas del conocimiento los abordan confundiendo la
interpretación científica con la opinión ciudadana. En cualquier caso, esta realidad advierte sobre la
urgencia de elaborar una reflexión seria y densa, insistiendo en el significado del primer paso de toda
tarea tal, la construcción del problema y del corpus o los corpora de estudio, para luego revisar y
elegir entre el amplio conjunto de los materiales técnicos y construir las herramientas metodológicas
que el problema exige, tal como se pretende focalizar, y que permitirán su explicación a partir de la
exigencia de extrañamiento110. Son las preguntas las que marcan la pertinencia de las técnicas
adecuadas. Y si es el conjunto sociedad- medios el fenómeno en estudio, al entrar al campo de la
mediatización, como señala Aníbal Ford, “…la comunicación es inseparable tanto de la noción de
discurso como de su inserción sociocultural” (2005: 120). Todo estudio en comunicación está regido
por el tiempo de ocurrencia, que incluye los ejes de la diacronía y de la sincronía.
La decisión sobre las técnicas metodológicas merece una reflexión que no haré extensa: en los
últimos años se asiste a una cierta crisis de los modelos metodológicos en las Ciencias Sociales, crisis
que es propia de los Estudios Culturales en general, y que llegó al estatuto del fundamentalismo,
como una equivocada “herencia” del paradigma de las ciencias exactas y naturales. Pensada la
metodología solamente como una herramienta al servicio del análisis, hemos asistido en los últimos
50 años a disputas inoperantes y estériles- apoyadas muchas veces en tradiciones que parece difícil
mover- sobre la mayor o menor legitimidad del cualitativismo o el cuantitativismo. Sostengo que esa
discusión está fuera de agenda en este trabajo. En la investigación sobre la relación entre
construcciones de los medios y construcciones interpretativas de la sociedad, si la pregunta es por el
significado resultante, la metodología adecuada es la cualitativa. Sin embargo, resulta fundamental,
no complementario sino necesario, apelar al análisis cuantitativo que posibilita la identificación y
verificación de los datos duros de la realidad, variables en juego y modos de serialización. La
por el prejuicio del investigador, que tanto estigmatiza o celebra las cualidades de su fenómeno abordado (el tema de la
narrativización de la crónica ha dado trabajos que “defienden” su ocurrencia como modo ideal de explicar un caso a un
público consternado, o el amarillismo se simplifica en explicaciones que hablan de las modalidades “basura” del
periodismo policial): toda simplificación implica emitir resultados antes de investigar. Mucho se ha escrito sobre esta
restricción real que impide explicaciones científicamente aceptables
109
Desde la primera Communication Research y sus formulaciones críticas posteriores; la semiótica; el análisis crítico
del discurso y las teorías sobre la noticia, la cultura y aquellas sobre la opinión pública y los imaginarios sociales,
aportando en diferentes niveles al estudio de los medios masivos, es decir, el conjunto denso teórico- metodológico del
que nos servimos no permitiría desvíos simplificadores y errados.
110
El primer paso, la identificación del fenómeno a estudiar, requiere tanto de ese extrañamiento del investigador
como de la capacidad para acotarlo, delimitarlo en función del propósito de la investigación y de los tiempos
disponibles. Hay siempre un paso hacia atrás, hacia las competencias del investigador en el tema que aborda, y que
permite avanzar hacia delante, porque desde ese saber se van formulando las preguntas coherentes.
125
articulación de técnicas cualitativas y cuantitativas debería regir todo estudio de un fenómeno
complejo como la información periodística, que permite la percepción del mundo.
En el caso de nuestra investigación sobre las agendas delictivas de los medios
en la
Argentina, y sobre las retóricas del sensacionalismo, los años de trabajo muestran la necesidad de
articular las variables relativas a los actores de la recepción y de la producción, el estado de la opinión
pública, y la de periodistas especializados. La propuesta es cruzar, en el análisis del producto
noticioso, datos sobre las condiciones productivas y datos de los públicos (con cuidado, por la
imposibilidad de hablar de un único público masivo y homogéneo para cada tipo de agenda temática
de los medios informativos), consensos y disensos de ciertos sectores de opinión, representaciones de
la sociedad, a través del trabajo etnográfico, junto con la actualización de los registros estadísticos,
las propuestas institucionales de políticas públicas111.
Para estudiar la noticia policial
El “delito” es un instrumento conceptual particular; no es
abstracto sino visible,
representable; cuantificable;
personalizable; subjetivable; no se somete a regímenes binarios;
tiene historicidad y se abre a una constelación de relaciones y
series. (Josefina Ludmer. El cuerpo del delito. Un manua, 1999)
Todo estudio de la noticia pues por su peculiar complejidad implica “un trabajo que articule
tres niveles”, el de la producción, el del producto- el discurso periodístico- y el de la recepción: “Los
dos primeros niveles se articulan con el tercero- en términos de interpretación y de necesidad
epistemológica-, por lo que la categoría del receptor se encuentra también presente en todos ellos”
(Martini, 2000: 27 y 28). Y a la triple relación producción- producto- recepción o consumo, que es de
mutua implicancia y necesidad, inevitablemente se suma la sociocultura que los reúne y atraviesa y
otorga sentido. Como observa Ford: “… este campo, el de ‘comunicación y cultura’, dentro del cual
ubicamos el estudio de los medios, implica diversos niveles de análisis, y no lo digo en el sentido
estratigráfico, porque se trata de procesos simultáneos, sino buscando un mínimo orden” (1994a: 132
y 133). Es preciso desagregar los diversos niveles como paso metodológico, para luego llegar a ese
“mínimo orden” al que alude Ford. Así, esta primera descripción metodológica, general y exhaustiva,
exige el abordaje de tres áreas fuertes y muy amplias de investigación, tres agendas, las del mundo
periodístico; las de los medios; y las de la sociedad.
111
La puesta en común de estos datos permiten un análisis en densidad de la noticia sobre el delito, tal como lo han
planteado Geertz (1973), para la antropología, y Ford, para la comunicación (1994a).
126
El Cuadro I identifica los niveles antes anotados y su relación con las cuestiones culturales
implicadas:
PRODUCCIÓN
CULTURA
PRODUCTO
CULTURA
RECEPCIÓN
CULTURA
Empresa de medios
Periodismo
Fuentes
Marco
metacomunicativo
del mercado;
del trabajo;
del poder
de la propia
comunidad
Noticias;
Reactualización Público en
Concepción mundo
de los géneros; general
La nación “imaginada”
Agendas;
Series;
en una visión cultural;
Unidad de las
Concepción del Marco
mundo
crónicas
metacomunica-tivo
De la historia del
Marco
de la gestión pública
Instituciones
metacomunicati- género
búsqueda de consensos
oficiales
vo
reconociSociedad civil
miento del momento
sociocultural
Marco
metacomunicativo
Fabricación de la
información
(newsmaking)
Discurso
hegemónico
Del control
social
Relato de la
realidad social
Consenso y disenso
Naturalización Público:
del sentido
Representaciones Alarma
De la denuncia de y para la vida Desconfianza
cotidiana
Exigencia de control
Interpretación de
los datos para la
participación
Políticas públicas
ciudadana
Instituciones:
reconocimiento del
estado de la
opinión
En cada uno de los niveles de análisis, se identifican las invariantes (la producción y sus
aspectos; la noticia como producto que es público; la recepción o públicos de una agenda periodística
determinada) y las variables centrales (modos y condiciones de producción; recursos de género y
estilo; estado de la sociocultura contemporánea y marco metacomunicativo) junto a las
manifestaciones de la cultura correspondientes (entendiendo para este análisis, la cultura como
formas derivadas de una práctica concreta) en la que se inscriben la producción, el producto y la
recepción y según la cual cobran sentido, teniendo en cuenta que “las personas tienen opiniones sobre
un montón de cosas, pero sólo unas pocas les importan de verdad” (McCombs, 2006: 25).
Las condiciones de producción incluyen el sistema de medios y los efectos de la
concentración empresaria (en el caso de los grandes grupos de medios); la situación laboral del
periodismo, sus imaginarios y competencias para las tareas, sus formas de legitimación, inclusiones y
exclusiones, riesgos y oportunidades; y las peculiaridades del newsmaking y sus rutinas según el
medio, el soporte, las áreas laborales y los tiempos- los del trabajo concreto y los de los
acontecimientos-, considerando que “la credibilidad es el valor fundamental para la actividad
periodística” (Amado Suárez, 2007: 17). Las condiciones de recepción implican el registro de las
127
expectativas y necesidades de información identificables en la sociedad y en los diferentes grupos de
interés, según situaciones de clase, género, pertenencia identitaria, edades y geografías de residencia.
Al investigar la información periodística, hacemos un recorte entre los diferentes géneros discursivos
massmediáticos y del vasto conjunto de informaciones al que accede el individuo en su vida cotidiana
por fuera de los medios112. La producción de la noticia en general y de la noticia policial en particular
articula cuestiones de los intereses político- financieros y la línea editorial de las empresas mediáticas
que enmarcan las noticias cuyos hacedores, a su vez, padecen, en diferentes grados, presiones por las
condiciones laborales y hasta por la compleja relación con las fuentes de información. Los periodistas
que se dedican a la agenda del crimen tienen difíciles relaciones con las fuentes, porque la primera y
oficial es tanto la policía como la justicia, que suelen ampararse en el secreto del sumario, o que
desvían la atención ante la ausencia de pistas113. Esta descripción entra en relación con formas
aceptadas y naturalizadas sobre la cultura del mercado informativo, la cultura del trabajo y la cultura
del poder. En tanto, las rutinas productivas de la noticia (newsmaking) entran en contacto con una
forma cultural de hacer la noticia policial, que es el género periodístico de más larga tradición, tal
como lo señala Bajtin (1979) y que arrastra en cada nueva crónica las modalidades habituales e
históricas de trabajo. Por ello y por las necesidades de los tiempos productivos, la noticia sobre el
crimen suele cubrirse de modo similar cuando se trata de hechos de índole similar. Y a la vez, se
relacionan e inscriben en un discurso hegemónico que reproduce, con diversas variaciones en el caso
de la noticia policial, estereotipos de hechos delictivos, delincuentes y víctimas, y una cultura del
control basado en el orden social. El producto informativo responde y está regido por las tradiciones
culturales del género, la construcción de la noticia en series temáticas que apelan y reproducen una
concepción del mundo naturalizado (el eje del bien y el mal, lo legal y lo ilegal, el crimen y el
castigo, el orden y el desorden) y son conocidas y están en el horizonte de expectativas del consumo.
Cada una de las noticias, como relato que propone una visión del mundo, se legitima en muchas otras
series noticiosas, en el conocimiento y la memoria sobre la seguridad desde el imaginario social y la
opinión pública y en que la información que difunde (aun parcial, incompleta, suspendida parece
reordenar el mundo desarticulado por la irrupción de un hecho criminal). El público accede al
conocimiento de la realidad y ajusta su idea de pertenencia a un colectivo, una ciudad, una nación
como “imaginada”, tal como la definiera Anderson (1983). Construyendo representaciones de y para
112
Los datos sobre el riesgo de sufrir un delito circulan como discursos de segundo y tercer órdenes también por fuera
de los medios y constituyendo discursos legitimados aun cuando no se sostengan sobre datos reales: en la vida
cotidiana, mitos y leyendas son también nodos conceptuales de fuerte valor social que entran en relación con las
noticias y con las memorias culturales.
113
En el caso de hechos de narcotráfico o de corrupción la búsqueda de fuentes secundarias, no oficiales u off the
record pone en peligro la vida de los reporteros, como ocurre en Colombia o en México, o como ocurriera en la
Argentina en el caso Yabrán y el alevoso asesinato del reportero gráfico José Luis Cabezas (1995).
128
la vida cotidiana y para la participación ciudadana, los diferentes segmentos que constituyen la
recepción de estas agendas reactualizan y reafirman la exigencia de vigilancia y control ante
verdaderas crónicas de espacios alterados.
De este modo la circulación de la información sobre el delito se abre y se cierra en la
sociedad, pero queda abierta en ella, fuente y receptora, no sólo de la noticia sobre un hecho puntual
sino especialmente sobre imágenes de la amenaza constante, el miedo y lo que aparece como formas
del descontrol114. Las instituciones, oficiales, gubernamentales y civiles, ponen en relación las
noticias con los niveles e incumbencias de la cultura de la gestión pública que les es pertinente, y
cuando el caso es relevante o presentado como grave responde a través de comunicados, discursos o
medidas coyunturales, en muchos casos en diálogo con aquellos discursos que apelan a la
ingobernabilidad.
Como toda modelización, es sólo una propuesta para la tarea de análisis y la puesta en relación
a partir de datos confiables115. Tiene que incluir a la sociedad que la produce y consume recogiendo
la tradición del género, porque las agendas periodísticas y las agendas sociales se construyen
interrelacionadamente y desde el pasado que se reactualiza desde el presente, tal como lo observa
Wallerstein (1991). Aunque este requisito es necesario en caso de estudiar cualquier otro mensaje
mediático, la relevancia de la información periodística y especialmente en agendas urgentes, lo obliga
más aún entendiendo la crónica roja como difusora de historias y problemas que tematizan la vida y
la muerte, el padecimiento y la privación. Como proveedora de la información para organizar la vida
cotidiana y aportar a la opinión pública, la noticia posibilita el acceso a los datos para la participación
ciudadana y el control de la administración y gestión de la res publica.
El sensacionalismo como problema metodológico
(…) lo real no se manifiesta directamente al sujeto sino
mediatizado por una construcción teórica, desde donde se
interroga. Ello permite al investigador delinear una estrategia
general reinvestigación que incluye pautas de análisis y
procedimientos de la ciencia en general, adecuados y
reformulados a la luz de la investigación sobre un objeto en
particular”. (Rosana Guber. El salvaje metropolitano.
Reconstrucción del conocimiento social en el trabajo de campo 1991).
114
Se identifica pues el concepto de violencia circunscripto a la violencia delictiva, dejando de lado la consideración
las violencias de la injusticia social, la deprivación y las desigualdades, en el sentido de muchas noticias sobre delitos,
el caso (micro) prima sobre la situación general (macro).
115
. La metodología para investigar la noticia periodística exige- como toda tarea investigativa- la distancia y la
suspensión del prejuicio del investigador, y no puede restringirse a los contenidos y modalidades del texto, pensado en
forma aislada.
129
La pregunta es, siguiendo la cita de Guber, cómo acceder a la densidad de las mediaciones. En
el caso de la noticia sobre crímenes y delitos, las posibilidades
metodológicas de abordar los registros de ocurrencia, las modalidades y el significado del
sensacionalismo como su retórica privilegiada deben incluir116 las indagaciones en los ejes de la
diacronía y de la sincronía: la historia del género periodístico policial en la prensa occidental y en la
prensa argentina desde la instauración de la prensa moderna a comienzos del siglo XX; algunos casos
singulares y series temáticas en la historia y en la actualidad; y se suman, en el presente, la
discriminación entre agendas temáticas y agendas atributivas; las rutinas productivas del periodismo
y opiniones de periodistas especializados en el área; el estado de la opinión pública sobre el tema a
partir de encuestas propias y otras realizadas por diferentes consultoras y difundidas en los medios; el
relevamiento de representaciones de actores sociales en organizaciones no gubernamentales sobre
prevención del delito o por demanda de justicia, o conversaciones informales con vecinos de la
ciudad de Buenos Aires.
Como señalé en trabajos anteriores, el sensacionalismo es la retórica dominante, junto a la
hipérbole narrativa, y la narrativa de pseudorrevelación. No constituyen una novedad genérica, y se
las encuentra en la ficción de misterio y de horror. Los resultados de trabajos ya realizados permiten
focalizar metodológicamente la explicación del problema del sensacionalismo según su ocurrencia e
implicancia cuantitativas; y su recurrencia y significados cualitativos.
El Cuadro II muestra los aspectos del sensacionalismo identificados según las diferentes
técnicas (el ordenamiento de cada una de las columnas no guarda correspondencia entre los datos
enlistados en ambas):
Identificación de ocurrencia cuantitativa
Identificación de recurrencia cualitativa
En tapas de periódicos y tipografía
Uso de hipérboles
En cabezas de noticieros televisivos
Reiteración de adjetivos del orden de la crueldad; la
En serialización
sangre; el dolor; la humillación
En imágenes
Instalación de metáforas que cristalizan un estado de
En tropos y expresiones ad hoc
la vida cotidiana
Construcción de un contexto siniestro
Reiteraciones que apelan a un presente continuo de
Apelación al impacto emotivo, el escándalo
amenaza
Construcción de series sobre el desorden social
Construcción de crónicas sobre una nación alterada
Hiperinformación y consecuente desinformación
Acumulación de sensaciones, metáforas, casos que
dificultan el procesamiento de la información
116
El planteo responde al trabajo realizado por la autora de este trabajo, en una serie de investigaciones previas durante
10 años.
130
Efectos sobre el individuo (ámbito privado) y sobre elEfectos sobre el individuo (ámbito privado) y sobre el
ciudadano (ámbito público)
ciudadano (ámbito público)
Desde el plano cuantitativo, el sensacionalismo se identifica según su valor como invariante
en el sistema: toda noticia policial está cargada de construcciones que se dirigen al impacto, la
emoción y el escándalo. El sensacionalismo se mide por la reiteración habitual con que se presenta en
tapas y cabezas de noticias; el número de imágenes- en general muy similares- de cuerpos
destrozados o de los lugares del hecho; los registros diarios y en vivo (televisión) de la cotidianeidad
alterada por el crimen; la serialización que es el procedimiento que asegura la existencia del peligro
(las series se miden según su ocurrencia, pero en relación con el tipo de delito que ordenan, series de
“robos de bebés”; de “asaltos a ancianos”; de “homicidios en ocasión de robo”, por ejemplo, y la
inscripción de cada nueva noticia en alguna de ellas). Las reiteraciones aseguran la presencia habitual
de situaciones trágicas y/o amenazantes, y construyen el efecto de un presente continuo y continuado,
acechado por el delito, sin posibilidades de solución.
Desde el plano cualitativo, el sensacionalismo es una retórica, propia de la prensa popular que
se resignifica en el transcurso del tiempo en la prensa argentina, por tanto hay operaciones de cambio
que es necesario registrar en su historia y en su transformación hasta la incorporación natural en
contratos de lectura que se extienden al periodismo de referencia, y se han constituido en modos
autorizados para hablar del delito. Zelizer advierte que “las narrativas en el discurso público pueden
concernir tanto a la auto- legitimación de de sus narradores como a la redifusión de la información
que ellos contienen” (1997: 266).
Se identifica una modalidad de exponer narrativa y abiertamente el hecho y sus
consecuencias, con el uso de la morbosidad y emotividad, con imágenes sobre el peligro y apelando
al escándalo, en términos asociados al dolor de la víctima y su familia, la crueldad y violencia del
delincuente; la descripción detallada de la normalidad previa a la situación donde el crimen instaló la
ruptura y el consiguiente efecto de lo siniestro- la deixis espacio- temporal es fundamental en la
crónica policial, sitúa el hecho en “un barrio tranquilo, en horas del día” y las víctimas eran “personas
de trabajo, como usted o yo”-. La hipérbole es la retórica de la serialización: las “olas”; “estallidos”;
“escaladas” del delito son construcciones mediáticas, y la violencia criminal que marca la producción
de la noticia permite fórmulas plenas de tremendismo y pietismo, imagen del llanto en cámaras de las
familias de la víctima y exposición obscena de los cuerpos victimizados en la prensa gráfica. Según
sus modos de recurrencia, es habitual que a mayor carga noticiable del hecho periodístico (a mayor
graduación en la violencia) mayor reiteración de las modalidades señaladas que resultan en crónicas
131
de estados alterados. Amarillismo, hipérbole, pietismo, denuncia que se hace fácilmente denuncismo,
escándalo están al servicio de un nuevo modo de retórica: el sensacionalismo argumentativo,
peligrosa construcción que devalúa la condición ciudadana. Para interpretarlo, es necesario leer las
construcciones sobre las víctimas, los delincuentes, los efectos y los modos criminales, los estilos
genéricos, la apelación a metáforas de la vida cotidiana y a fórmulas tradicionales de la nota policial.
Medida en términos cuantitativos, la hiperinformación habitual sobre el delito ocasionaría
efectos de desinformación por acumulación, fenómeno que se identifica también en el análisis
cualitativo: la sangre vertida en la tinta de las crónicas dificulta su percepción y procesamiento
adecuados. En encuestas que dirigí, realizadas en 2005 y 2008 en la ciudad de Buenos Aires, se
verifica un alto porcentaje de dificultad para recordar, desde las noticias mediáticas, casos policiales
recientes - muchos de los encuestados se disculparon diciendo que “son tantos que no recuerdo
ninguno”-. Sin embargo, el 57% de ellos afirman haber cambiado sus hábitos cotidianos por efectos
de la lectura de la información sobre el crimen, y aunque exigen mayor presencia policial como forma
de vigilancia en las calles, sólo el 22% reconoce la efectividad de la fuerzas de seguridad en la
prevención de hechos delictivos, y suman a esta afirmación el reconocimiento de no haber realizado
la denuncia correspondiente cuando han sufrido un delito porque “la policía es ineficiente”. Teniendo
en cuenta que el 84% de los informantes declaran enterarse de los hechos delictivos a través de los
medios, mayoritariamente por la televisión, es posible interpretar el papel relevante que estos tienen
en la información. Pero también que esa información pública es objeto de procesamientos e
interpretaciones diversas, que producen representaciones, datos y actitudes contradictorias. Desde ese
dato, el análisis cuantitativo y cualitativo tiene que interpretarlas para entender el valor de la
información y su efecto sobre la vida cotidiana.
La metodología es una creación permanente, datos para continuar la exploración
Todo abordaje de la noticia exige un trabajo en densidad, que articule y ponga en relación
producción y recepción del producto noticioso, entendiendo los modos en que se construye sentido en
la vida cotidiana, aspecto cultural específico de cada sociedad y comunidad a la que el periodista
también pertenece; las competencias de la sociedad para la interpretación y decodificación de la
información; la construcción de los verosímiles que nos envuelven y que es tanto cuestión del
periodismo cuanto de los públicos; los discursos en su aspecto de superficie y en su estructura
profunda; sumados a la especificidad del soporte tecnológico. Finalmente, aunque no cerrando las
132
posibilidades de abordaje, está la cuestión de los niveles micro y macro de estudio, siempre en
tensión, como lo observan Morley (1993); Ford (1999), Muñoz (2001), entre muchos otros117.
Cualquier reflexión sobre los aspectos metodológicos de la investigación es en realidad un
work in progress, porque la comunicación, que es una disciplina y una práctica transversal es del
orden de lo social y cultural, de la historia, y por tanto su dinamismo demanda la atención constante
del investigador. En el caso de la noticia policial, que pertenece al circuito de la comunicación
política, el marco metacomunicativo se completa de modo ineludible con el día a día de las prácticas
gubernamentales, políticas y sociales, que suman elementos para el análisis.
Bibliografía
AMADO SUÁREZ, Adriana (2007) “Por qué hablar de calidad periodística”. En Foro de Periodismo
Argentino. Periodismo de calidad: debates y desafíos. Bs. As., FOPEA/ La Crujía.
ANDERSON, Benedict (1983): Comunidades imaginadas. Reflexiones sobre el origen y la difusión del
nacionalismo. México, Fondo de Cultura Económica, 1993.
BAJTIN, Mijail M. (1979) “Problema de los géneros discursivos”. En Estética de la creación verbal.
México, Siglo XXI, 1990.
BATESON, Gregory (1955) “Una teoría del juego y la fantasía”. En Pasos hacia una ecología de la mente.
Buenos Aires, Carlos Lohlé, 1976.
BEAUDOUX, Virginia y D`Adamo Orlando (2007) “Tratamiento del delito y la violencia en la prensa. Sus
posibles efectos sobre la opinión pública”, en Luchessi, L. y Rodriguez, M. G. (Coords.): Fronteras
globales. Cultura, política y medios de comunicación, Buenos Aires, La Crujía.
BERGER, Charles (1998) “Processing the quantitative data about risk and threat in news reports”, Journal
of Communication, 48.
BOURDIEU, Pierre, Chamboredon, Jean- Claude y Jean- Claude Passeron (1975). El oficio de sociólogo.
Presupuestos epistemológicos. Buenos Aires, Siglo XXI, 2002.
CLIFFORD, James (1995) “Sobre la autoridad etnográfica” En Dilemas de la Cultura. Antropología,
literatura y arte desde la perspectiva posmoderna. México, Gedisa.
DAHLGREN, Peter (1985) “Los modos de la recepción: para una hermenéutica de los noticieros de
televisión”. En Drummond, P. y Paterson, R. (eds.) Television in transition (Papers from the First
International Television Conference). Londres, British Film Institute.
DEY, Ian (1993) Qualitative data analysis. London, Routledge.
FORD, Aníbal (2005) Resto del mundo. Nuevas mediaciones de las agendas críticas internacionales,
Buenos Aires, Norma.
_____. (1999) “La honda de David. Antropología, comunicología, culturología en el Tercer Mundo”. En La
marca de la bestia. Identificaciones, desigualdades e infoentretenimiento en la sociedad contemporánea.
Buenos Aires, Norma.
117
Ford advierte: “El peligro obvio, pero real, es cuando un polo excluye al otro, cuando dejan de ser vistos como
lugares en una escala, cada uno con sus propias lógicas, pero pertenecientes en fin s una misma escala o a la visión de un
mismo objeto”, por lo que hay que tener en cuenta “el tema de la pertinencia, tanto metodológica como histórica, de los
análisis micro o macro, globales o locales” (1994a: 138).
133
_____. (1994a) "Los medios. Tráfico y accidentes transdisciplinarios". En Navegaciones. Comunicación,
cultura, crisis. Buenos Aires, Amorrortu.
_____. (1994b) “Culturas populares y (medios de) comunicación”. En Navegaciones. Comunicación,
cultura, crisis. Ed.cit.
_____. (1985) “Literatura, crónica y periodismo”. En Ford, A., Rivera, J. B., Romano, E. Medios de
comunicación y cultura popular. Bs. As., Legasa.
GEERTZ, Clifford (1973) “Descripción densa: hacia una teoría interpretativa de la cultura”. En La
interpretación de las culturas. Barcelona, Gedisa, 1987.
GUBER, Rosana (1991) El salvaje metropolitano. Reconstrucción del reconocimiento social en el trabajo
de campo. Bs.As., Paidós, 2004.
LUCHESSI, L. (2007) “Nuevas tecnologías para la producción de periodismo. Reformulaciones y
tendencias del periodismo actual”. En Boletín de la BCN Revista de la Biblioteca del Congreso de la
Nación. Nº 123. “Medios y comunicación”, Bs. As.
LUDMER, Josefina (1999). El cuerpo del delito. Un manual. Buenos Aires, Sudamericana.
MARTINI, Stella (2008) “Os meios, atores ou gerenciadores da comunicação política? Reflexões desde a
notícia policial na imprensa gráfica argentina”. En Neto, Antonio Fausto; Braga, José Luiz y Ferreira, Jairo
(organizadores): Midiatização e processos sociais na América Latina. San Pablo, Paulus.
_____. (2007) “La prensa gráfica argentina: reflexiones sobre la calidad periodística, la información
‘socialmente necesaria’ y la participación ciudadana en las agendas sobre el delito”. En Foro de Periodismo
Argentino. Periodismo de calidad: debates y desafíos. Bs. As., FOPEA/ La Crujía.
_____. (2007) “Notas para una epistemología de la noticia. El caso del género policial en los medios
nacionales”, en Revista de la Biblioteca del Congreso de la Nación, Bs. As., nº 23.
_____. (2007) “Argentina. Prensa gráfica, delito y seguridad”. En Rey, G.(org.); Los relatos periodísticos
del crimen. Bogotá, Friedrich Ebert Stiftung/ Centro de Competencia en Comunicación para América
Latina.
_____. (2000) Periodismo, noticia y noticiabilidad. Buenos Aires, Norma.
_____. (1999) “El sensacionalismo y las agendas sociales”. En Diá- logos de la comunicación, Lima, nº 55,
junio.
_____. (2007) “Datos para la investigación en comunicación. Analizar las noticias”. En Fod, A. y Martini,
S. (coords.) Cuadernos de Teoría del Periodismo 63/. Bs. As., UBA/CECSO.
MARTINI, Stella y Luchessi, Lila (2004) Los que hacen la noticia. Periodismo, información y poder. Bs.
As., Biblos.
McCOMBS, Maxwell (2004). Estableciendo la agenda. El impacto de los medios en la opinion pública.
Barcelona, Paidós, 2006.
McCOMBS, Maxwell y Shaw, Donald (1993) “The evolution of the agenda - setting research: 25 years in
the marketplace of ideas”. Journal of Communication, vol. 43, nº 2, Spring.
MIRALLES, Ana María (2001) Periodismo, opinión pública y agenda ciudadana. Bogotá, Norma.
MORLEY, David (1993) “Active audience theory: pendulums and pitfalls,” En Journal of Communication,
nº 43, vol. 4.
MUCCHIELI, Alex (1996) Dictionnaire des méthodes qualitatives en sciences sociales. París, Armand
Colin.
MUÑOZ, Blanca (2001) “Los ejes temáticos de la ‘segunda generación’ de la Escuela de Birmingham: las
trampas de la subjetividad”. En Zigurat, Revista de la Carrera de Ciencias de la Comunicación, UBA, año
2, nº 2, noviembre.
134
OROZCO GÓMEZ, Guillermo (1997) La investigación de la comunicación dentro y fuera de América
Latina. Tendencias, perspectivas y desafíos del estudio de los medios. La Plata, Ediciones de Periodismo y
Comunicación, Universidad Nacional de La Plata.
RODRIGO ALSINA, Miqel (1989) La construcción de la noticia. Barcelona, Paidós, 1996.
SAPERAS, Eric (1987) Los efectos cognitivos de la comunicación de masas. Barcelona, Ariel.
SODRÉ, Muniz (1998) Reinventando la cultura. La Comunicación y sus productos. Barcelona, Gedisa.
THOMPSON, J. B. (1995) The Media and Modernity. A social theory of the media. Stanford, Stanford
University Press.
WALLERSTEIN, Immanuel. y Balibar, E. (1991) Raza, Nación y clase. Santander, Indra Comunicación.
WOLF, Mauro (1987) La investigación de la comunicación de masas. Críticas y perspectivas. Barcelona,
Paidós, 1991.
ZELIZER, Barbie (1993) “Los periodistas norteamericanos y la muerte de Lee H. Oswald: narrativas de
autolegitimación”. En Mumby, Dennis (comp.) Narrativa y control social. Buenos Aires, Amorrortu.
135

Documentos relacionados