SEGURANÇA NA OFICINA MECÂNICA Falta de exigência dos

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SEGURANÇA NA OFICINA MECÂNICA Falta de exigência dos
SEGURANÇA NA OFICINA MECÂNICA
Falta de exigência dos empresários e de conscientização de alguns mecânicos são os
principais fatores que desmotivam o uso dos equipamentos de segurança nas oficinas e,
conseqüentemente, para o aumento de acidentes de trabalho.
Daniela Giopato
“Prevenir é o melhor remédio”. O dito é popular, porém na hora de ser aplicado, muitas
vezes é substituído por "isso jamais vai acontecer comigo" e, é assim que muitos
acidentes acontecem. Os mecânicos são bons exemplos dessa realidade, já que lidam
com situações de risco o tempo todo. São serviços de funilaria, deslocamento de peças
pesadas, pintura, elétrica, desmontagem e montagem de componentes e motores que
exigem atenção do profissional e, principalmente, equipamentos de segurança que quase
sempre são esquecidos. A desculpa é sempre a mesma: incomoda e atrapalha.
Desde que foi instituída pelo INSS uma adequação do modelo de Perfil Profissiográfico
Previdenciário, denominado PPP, em 01/01/2004, a utilização dos EPI (Equipamento de
Proteção Individual) se tornou obrigatória. E as empresas são responsáveis por fornecer
os equipamentos adequados gratuitamente aos empregados, orientá-los e treiná-los sobre
o uso; além de substituir imediatamente quando danificado ou extraviado; além de
comunicar ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), responsável pela fiscalização,
qualquer irregularidade. Caso contrário, o estabelecimento corre o risco de ser multado.
Alexandre faz uma inspeção visual do automóvel, procedimento rotineiro
que não exige o uso de EPI
De acordo com Antônio Fiola, presidente do Sindirepa/SP, todos os associados do
sindicato recebem a Norma Regulamentadora NR6 do Ministério do Trabalho, mas afirma
que ainda há muito trabalho a fazer para tornar habitual a utilização dos equipamentos.
"Os EPI podem ser comparados ao cinto de segurança, cuja importância sempre foi
conhecida, porém, a população passou a criar a rotina de colocá-los apenas quando virou
lei, sujeito à multa. E, mesmo assim existem pessoas que ainda se arriscam em dirigir sem
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o dispositivo. Parece que faz parte da cultura do ser humano essa dificuldade em assimilar
a segurança que esses equipamentos podem proporcionar", afirma.
Fiola explica que os equipamentos não são caros em relação aos benefícios que podem
trazer para o empresário, o mecânico e o setor. "As vantagens são muitas e conhecidas
por todos, porém apenas 20 a 25% das empresas do Estado de São Paulo utilizam os EPI.
Na minha opinião, o dono da oficina é o principal responsável por mudar esse quadro,
através da conscientização dos funcionários com palestras e normas rígidas".
Checar o filtro de combustível requer o uso de óculos de proteção
Se por um lado algumas oficinas mecânicas ainda se arriscam em não disponibilizar ou
exigir os EPI para os seus funcionários, muitos mecânicos já se mostram conscientes da
importância de utilizá-los e falam de experiências negativas que tiveram por não estarem
com os equipamentos em mãos.
Alexandre Lopes, 20 anos de idade e há três como auxiliar de mecânico na Auto Mecânica
Scopino, afirma que apesar de obrigatório confessa que esquece de utilizar os
equipamentos. "Existem casos extremamente necessários como verificar itens embaixo do
veículo e lixar peças. Mas em procedimentos rotineiros, atrapalha a execução do serviço.
Para mim, lixar a pastilha de freios é uma das ações mais delicadas pois algumas
possuem amianto, que quando inalado em grande quantidade pode virar câncer. É o risco
da profissão. Por isso, é muito importante nos protegermos da melhor maneira".
Na hora de usar o esmeril é fundamental o óculos e o protetor auricular
O colega de oficina Carlos Maria dos Santos, 28 anos de idade e há sete como mecânico,
utiliza os EPI sempre que vai realizar algum procedimento que possa comprometer a sua
saúde. "Sempre que preciso entrar em baixo do carro para trocar um filtro de combustível,
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por exemplo, me protejo com os óculos. Já aconteceu de espirrar gasolina nos meus olhos
e não quero repetir a experiência". Carlos também reclama do incômodo dos EPI. "Se está
muito quente a lente embaça um pouco e temos que parar o serviço para limpar. Mas é
preferível fazer isso do que correr o risco de ficar cego
Há alguns anos, o mecânico contava apenas com a sorte
Mecânico da Scopino há seis anos, Rafael Pasqualino confessa que apesar de ter todos
os equipamentos em mãos e consciência da importância de usá-los em algumas situações
se arrisca a ficar sem. "Aqui sou obrigado a utilizá-los enquanto trabalho, assino até um
termo que estou recebendo os produtos e caso decida trabalhar desprotegido as
conseqüências ficam por minha conta. Mas claro que não sou irresponsável. Todas às
vezes que realizo algum trabalho embaixo do veículo me protejo. Além disso, de seis em
seis meses, vou ao médico fazer um check-up já que estou direto em contato com
produtos químicos", afirma.
Hoje, para muitos profissionais, o uso do EPI já é costume
O mais velho da oficina, na profissão há mais de 35 anos, Giovanni Susi Neto, afirma que
foi difícil se adaptar. "Demorou um pouco para que eu conseguisse me acostumar aos
óculos, luvas e protetores auriculares. Tudo incomodava. Afinal foram anos de trabalho
sem proteção, contando apenas com a sorte. Mas agora uso sem problemas e acho
extremamente necessário para a nossa segurança. Não imagino mais, por exemplo, ficar
sem as luvas quando vou mexer em alguma peça próxima ao escapamento que pode
estar quente".
Independente da lei, Antonio Marcos Canine, mecânico há 19 anos na Box 5, diz que
sempre usou equipamentos de proteção e explica que o incomodo, a principal desculpa
dos profissionais é apenas uma questão de costume. "As pessoas têm mania de não
aceitar de imediato tudo que é diferente do habitual. Mas é só usar com freqüência que
você se acostuma. Todo o cuidado é pouco nessa profissão. Mexemos com muitas coisas
químicas e peças pesadas. Uma vez, mesmo tomando cuidado, um pó do escapamento
atingiu o meu olho, a sensação é horrível. Fico imaginando se fosse outra coisa mais
forte".
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“Funcionário que não cumpre a exigência é advertido”, diz o proprietário
Alessandro Sdei, proprietário da BOX 5, afirma que sempre exigiu que os seus
funcionários utilizassem os EPI. "Esses equipamentos são de grande importância para
garantir a segurança. Caso algum funcionário opte em não cumprir essa exigência ele é
automaticamente advertido. O resultado dessa regra é que nunca tive problemas com os
fiscais do Ministério do Trabalho e nem com acidente grave envolvendo algum mecânico
da empresa".
"Usar os óculos, luvas e protetor auricular é de extrema importância nos trabalhos que
realizamos aqui na oficina. Alguns aparelhos como o esmeril e o disco de corte exigem
mais atenção e todo o serviço embaixo do carro deve ser feito com o equipamento
adequado", explica Antônio Edson de Souza, 36 anos de idade e 15 de profissão, na
Check-up. Na opinião dele, a maioria dos profissionais não utiliza os EPI por falta de
costume e exigência da empresa para a qual trabalha. "Aqui o patrão sempre nos obrigou
a usar, mesmo antes de virar lei. Ele até chama a atenção quando desobedecemos.
Demorei para me adaptar, mas hoje não consigo trabalhar sem. Antes de começar sempre
uso a luva química, os óculos e protetor auricular".
Antonio: Antes do trabalho uso luva química
Diferente de seus colegas da empresa, Celso Silveira sentiu na pele as conseqüências de
trabalhar sem estar devidamente protegido. "Há cerca de dois anos fui retirar uma cruzeta,
saiu uma fagulha que entrou no meu olho e perfurou o cristalino. Precisei substituí-lo por
um artificial e ficar dois meses parado para me recuperar. Os médicos disseram que por
pouco não perdi a visão. Depois desse dia entendi a importância de usar alguns
equipamentos mesmo quando for realizar um procedimento que parece simples e
inofensivo, como esse que quase me deixou cego". Com 25 anos de experiência, Celso dá
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uma dica aos mecânicos que estão começando e para aqueles que já estão há anos na
profissão e hesitam em utilizar os EPI. "É muito importante se proteger ao máximo, pois
nunca se sabe quando e de que forma poderá ocorrer um acidente".
O dono da Check Up Serviços Automotivos, Marcos Martinho Ferreira, explica o susto e as
conseqüências do acidente. "Nunca havia lidado com aquela situação. Mas conseguimos
manter a calma e fazer tudo o que estava ao nosso alcance para que o Celso tivesse um
atendimento rápido e eficaz. Tivemos que pagar o cristalino artificial, já que o convênio
médico não cobria e ficamos sem o funcionário mais de dois meses. Foi complicado, mas
no final deu tudo certo".
Passou a entender a importância dos EPI após o acidente
Em relação a burocracia que existe em casos de acidentes de trabalho, Marcos afirma que
não teve nenhum problema. "Adotamos uma medida na empresa onde oferecemos a
orientação devida aos nossos funcionários e os equipamentos adequados para os serviços
que realizam. Se mesmo assim eles optarem em não utilizar, a responsabilidade passa a
ser deles. Caso a empresa seja multada, o valor será descontado no salário". Para
aumentar a consciência dos seus mecânicos, Marcos explica que sempre que flagra um
funcionário sem os equipamentos lembra do caso de Celso.
Oferecemos orientação e os equipamentos necessários
Apesar de nunca ter recebido visita do Ministério do Trabalho, Marcos diz que segue à
risca o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), preparado por um
engenheiro contratado do Ministério do Trabalho - que avalia a empresa e determina quais
os equipamentos necessários- e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
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(PCMSOP). "Fornecemos aos mecânicos protetor auricular, óculos de proteção e luva
química. Já para os motoqueiros, capa de chuva, luvas e capacetes", conclui
Situações em que o uso do EPI é indispensável:
Funilaria: óculos de segurança com proteção lateral completa. Como opção, o mecânico
pode utilizar óculos que amplia visão ou protetor facial com visor incolor. Protetores de
ouvidos do tipo de inserção (plug) ou tipo de fone. Luvas de lona leve e avental de lona.
Lavagem de peças: óculos de ampla visão ou proteção facial. Luvas de PVC Neoprene.
Avental impermeável (PVC).
Usinagem (máquinas operatrizes): óculos de segurança com proteção lateral completa.
Creme de proteção para as mãos, contra óleo de corte e produtos petroquímicos. O uso de
luvas em máquinas operatrizes só é permitido para colocação da peça no ponto de fixação
para usinagem. Calçados de segurança se houver manuseio de peças pesadas.
Pintura (preparo da tinta, aplicação e lavagem de acessórios): luvas de PVC ou
Neoprene, máscara semi facial com filtro de carvão ativado. Avental impermeável (PVC),
botas impermeáveis (PVC ou borracha).
Lavagem de veículos: avental impermeável (PVC) e botas impermeáveis (PVC ou borracha).
Oficinas mecânicas ou elétricas: luvas de lona leve ou de fio contínuo. Luvas de PVC ou
creme protetor das mãos na lavagem de peças. Óculos de segurança, pode ser de meia
proteção nas hastes.
Elétrica: máscara para soldador com filtro de luz adequado à intensidade luminosa. Luvas de
raspa para soldador. Avental de raspa. Perneira de raspa (opcional em caso de produção de
muitas fagulhas).
Manuseio de materiais e rejeitos, almoxarifado e outras áreas: luvas de raspa quando o
risco for mecânico. Luvas de PVC quando o risco for químico ou biológico. Calçados de
segurança, se o manuseio for de objetos pesados e contundentes.
Serviços pesados (com risco de queda de peças pesadas nos pés): calçados com
segurança, com biqueira de aço
Serviços em áreas ruidosas (acima de 85dbA): protetores auriculares como recomendado
para a funilaria.
Oxiacetilênica: óculos de proteção para soldador com lentes filtro de luz adequadas à
intensidade luminosa. Luvas de lona fina.
Desmontagem/montagem de veículos e motores: óculos de segurança com proteção
lateral completa. Luvas de raspa ou de lona de acordo com a agressividade as mãos.
FONTE: REVISTA “O MECÂNICO”
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