Agulha - Revista de Cultura
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Agulha - Revista de Cultura
. . . agulha - revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 editorial Eventos ao toque da facilidade Em outubro passado um dos editores da Agulha esteve presente em quatro eventos internacionais, dentro e fora do país. Encontros de poetas no Chile e na Venezuela são já veteranos, o primeiro – ChilePoesía – em sua terceira edição, e o segundo – Casa de la Poesía Pérez Bonalde – vem se realizando há nada menos do que 12 anos. Ao contrário, os dois outros eventos, em Cuiabá [Mato Grosso] e Aracati [Ceará], fizeram sua estréia. Todos eles, ainda que por razões distintas, enfrentam problemas estruturais. São essenciais, permitem uma livre circulação de idéias, o trânsito valioso da cumplicidade entre poetas, uma aproximação com o público que de outra maneira não se alcança, de modo que há que descobrir mecanismos para uma revitalização desses encontros. E não se trata do empecilho mais comum, a escassez de recursos – a julgar pela lista de patrocinadores de cada evento –, mas sim de uma melhor equalização dos mesmos. Seja como for, há uma distinção básica entre as duas latitudes, ou seja, o que se realiza no Brasil, ao contrário de inúmeros casos no restante do continente, atende unicamente a uma perspectiva política, carecendo de identidade cultural. Mesmo que se argumente em favor da inexperiência, o desconhecimento da matéria com que se está lidando, há sempre sinais de acomodação política, da gestão pouco afeita ao ambiente cultural, do usufruto de uma pasta administrativa sobre a outra. O descompasso na programação, este sim, é indicativo da falta de profissionalismo – que não pode se justificar pela inexperiência. E aí se acrescenta um profundo e arraigado caipirismo, que se evidencia de maneiras diversas, seja no elogio excessivo da glória local, seja no frisson articulado ante as vedetes da mídia. Tais detalhes impedem qualquer orientação mínima do público em relação ao significado cultural do evento. Estes encontros de escritores se realizam ainda de forma precária no Brasil e quando não atendem unicamente a uma toada política, estão filiados a feiras do livro, que é uma iniciativa do mercado editorial, com suas regras próprias, pertinentes ou não. Há um aspecto interessante, que é o súbito interesse por convidar autores hispano-americanos, embora ainda não saibam exatamente a quem convidar. Por falta de uma assessoria de imprensa que lhes dê o respaldo que se exige, vão buscar inicialmente os nomes dispostos pela mídia e, em muitos casos diante da impossibilidade de tê-los presente, acabam, a toque de caixa, limitando-se a indicações à mão, nem sempre com o alcance devido. Desnecessário revelar a resultante de tudo isto. Sim, são mínimos os exemplos no Brasil, e tudo tende a cair no mesmo marasmo com que seguimos tratando dos aspectos mais graves de nossa existência. O blá-blá-blá é sempre o mesmo: nossa nenhuma inclinação para o ontológico, a estratégia inequivocamente funcional do país do futuro, a eficiente cilada de um presente eterno sem respaldo histórico… O risco de um estado eternamente jovem é o da recusa a toda aprendizagem. Há que conquistar a juventude dentro da maturidade. O que não se pode é utilizar essa condição de novato imutável como justificativa para que nada se concretize seriamente neste país. Por outro lado, há os eventos no restante do continente, muitos com uma larga experiência, que não estão atrelados a partilhas políticas, e que apresentam um outro tipo de inconveniência. Converteram-se em uma fonte de lucros para seus realizadores, por força da própria estrutura que se viram levados a criar para dar eficácia e credibilidade ao tema. O dilema é que quando o negócio se estabelece alterase o eixo de sua sustentação originária. É uma regra básica de mercado. No mundo dos negócios não há culpados; há apenas vítimas. E em muitos casos os próprios organizadores se tornaram como um tipo curioso de vítima do próprio sonho. Aqui, o caipirismo se manifesta de outra maneira, ao buscar uma escala planetária para atuar. Em geral, nesses eventos, há também uma figura curiosa, a do país convidado, que equivale a um estratagema político, considerando, em muitos casos, a aplicação prática nenhuma dessa representatividade. Não há aqui nenhum interesse em particularizar nossas anotações em busca de uma rejeição à própria natureza de tais eventos. Não vamos encarnar falsos personagens, vestir a carapuça, nada. Não estamos para isto. Nosso motivo condutor é evidenciar o que estamos perdendo diante do que em muitos casos já obtivemos; ao mesmo tempo em que chamar a atenção para o que podemos buscar ante um espaço imenso a ser conquistado. Evidente que tudo pode dar errado e os equívocos se aliem, por exemplo, somando a fatura empresarial dos eventos hispano-americanos à ardileza política dos correlatos brasileiros. Nada pior. Contudo, os encontros existem, e o ambiente em tais eventos é constantemente orquestrado pelo acaso de alguns convidados, para uma face ou outra da moeda da fortuna. Em geral, a tônica é a da dispersão, todos aproveitam das graças da recepção, e pouco se efetiva em termos de um panorama cultural que está na raiz dos discursos, mas que, na prática, não vai além do intercâmbio etílico e da boa prosa. Há mesas de debate, sim. Mas são montadas de maneira que atendem mais à logística quantitativa do evento do que a um frescor de interlocuções. E falta essencialmente a figura do mediador. Muito se perde por esta ausência. Ali estamos todos, mas sempre voltamos ao restaurante do hotel. Entre uma bebida e outra há conversas inteligentes que aclaram alguns aspectos culturais, os mesmos que são travados quando se abrem as cortinas e está dada a palavra oficial a cada convidado. Chega a ser patético, mas sabemos o circo de pulgas que habita cada poeta em nosso tempo. Somos uma bomba-relógio. Há que saber detoná-la. Evidente que os eventos se diversificam, que refletem dilemas peculiares e se distinguem entre si, que se mostram como trama política para assunção eleitoral de alguns governos, ou para a manutenção de estratégias empresariais. Não se trata aqui de discutir o mérito dessas explorações, mas antes destacar aspectos que, de tão claros, já poderiam ser evitados. Os próprios poetas convidados poderiam ajudar neste sentido, por mais que a mordomia de determinadas instâncias falseie uma vida à qual jamais tiveram acesso. A verdade é que há muito dinheiro envolvido em tudo isto. Há uma aplicação política para tais investimentos. Com resultantes de ordem distinta, claro. Mas nos parece que o acaso requer bênçãos que não lhes são dadas. E os poetas bebem e bebem e bebem. Eis como tudo no mundo se torna tão fácil. Os editores sumário 1 a palavra poética de carlos nejar [entrevista]. álvaro alves de faria 2 a vertigem da cidade de afonso henriques neto [entrevista]. floriano martins 3 best-sellers & ocultismo: política e seitas secretas, do iluminismo até dan brown. 4 claudio willer candido portinari: retrato do brasil. jacob klintowitz 5 cecilia mattos: el destino es el viaje [entrevista]. tatiana oroño 6 floriano martins: ir al desgaste de todo [entrevista]. franklin fernández 7 jaimes freyre: agua poética para borges. gary daher canedo 8 juan calzadilla: no hay más que lo que uno no encuentra [entrevista]. víctor rodríguez núñez 9 la mariposa de brodsky. víctor toledo 10 la novela policial escrita por mujeres en chile. daniela aspeé venegas 11 la seducción de las palabras. thelma nava 12 liduíno pitombeira: duas russas, entre três américas e um prêmio [entrevista]. luciana gifoni 13 nadja (1928), de andré breton: atracción demencial de la piedra imantada. carolina a. navarrete gonzález 14 pablo valarezo: el marimbero de la mitad del mundo para todo el mundo [entrevista]. edwin madrid 15 panorama da dramaturgia brasileira. paula valéria andrade artista convidado luis manuel serrano (méxico) [la realidad y el sueño en cajas. josé ángel leyva] resenhas livros da agulha l alex galeno [por claudio willer] l antonio bivar & sam kashner [por claudio willer] l carlos felipe moisés l eduardo langagne [por juan domingo argüelles] l eliseo diego [por julio bolívar] l floriano martins [por luis fernando cuartas] l heliodoro baptista [por teresa sá couto] l roberto piva [por maria estela guedes] l rodrigo petronio [por mario dirienzo] l rosa alice branco [por mario dirienzo] l ulises estrella [por floriano martins] l víctor toledo [por david cortés cabán] música discos da agulha l carlos malta l dimos goudaroulis l grupo syntagma l marco morel [por pablo reyes] l marcos ariel e tigres da lapa l marcos valle e victor biglione l miguel briamonte l pablo valarezo l telma tavares l zarabatana cumplicidade galeria de revistas l decir del agua [estados unidos] l tse-tse [argentina] expediente editores floriano martins & claudio willer projeto gráfico & logomarca floriano martins jornalista responsável soares feitosa jornalista - drt/ce, reg nº 364, 15.05.1964 correspondentes alfonso peña (costa rica) américo ferrari (peru) benjamin valdivia (méxico) bernardo reyes (chile) carlos m. luis (estados unidos) eduardo mosches (méxico) edwin madrid (equador) francisco morales santos (guatemala) harold alvarado tenorio (colômbia) jorge ariel madrazo (argentina) jorge enrique gonzález pacheco (cuba) josé ángel leyva (méxico) josé luis vega (porto rico) marcos reyes dávila (porto rico) maría antonieta flores (venezuela) maria estela guedes (portugal) mónica saldías (suécia) rodolfo häsler (espanha) saúl ibargoyen (méxico) sonia m. martín (estados unidos) artista plástico convidado (objetos & colagens) luis manuel serrano apoio cultural jornal de poesia banco de imagens acervo edições resto do mundo os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista agulha não se responsabiliza pela devolução de material não solicitado todos os direitos reservados © edições resto do mundo escreva para a agulha floriano martins ([email protected]) Caixa Postal 52874 - Ag. Aldeota Fortaleza CE 60150-970 Brasil claudio willer ([email protected]) Rua Peixoto Gomide 326/124 São Paulo SP 01409-000 Brasil revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 A palavra poética de Carlos Nejar [entrevista] Álvaro Alves de Faria . AAF - Meu caro Carlos Nejar, poeta neste país sem poesia, você é um dos autores brasileiros que produzem muito. Há sempre um livro novo seu, poesia e prosa, literatura de qualidade. Felizmente. Ainda existem autores sérios no país. Está cada vez mais difícil, mas ainda existem. Para começar nossa conversa, pergunto por que você passou a assinar “o servo da palavra”? CN - Alinhavo três motivos que acho suficientes, embora ocorram outros que não menciono: a) Sou servo Daquele que é a Revelação da Palavra, o Deus vivo - e não há honra mais alta ; b) A palavra é alma do universo e eu sirvo a alma do universo no meu texto; c) Mesmo eu sendo palavra menor, busco desvendar-me. AAF - Quando você escreve ficção diz que se trata da “memória do esquecimento”. Como é isso? CN - Os poemas nascem da imaginação da memória e a ficção nasce da memória da imaginação. Só escrevi ficção depois dos 45 anos, com domínio total dos meios, com advento dessa "memória do esquecimento" que traz à baila as terras devolutas da infância, da experiência vivida. É o que integra o inconsciente coletivo e entra na raiz dos velhos arcanos da espécie, um penetrar na caverna - não de Platão - mas dos nossos sonhos mais antigos. E o ato de criar é fidelidade aos sonhos. Se não acreditarmos neles, como acreditarão em nós? AAF - Já faz algum tempo você abandonou os grandes centros e foi viver distante, embora, me parece, a distância não existe mais. Mas você foi viver longe talvez em busca da paz. Foi para Guarapari, no Espírito Santo. Você deu o nome de “Paiol da Aurora” ao lugar onde mora hoje. O que é o “Paiol da Aurora”? CN - "Paiol da Aurora" é o depósito de pólvora do amanhecer. É onde moro diante do mar, com Elza, os bichos, plantas, livros. O nome da rua horrível -Prefeito Epaminondas Almeida - precisava ser poetizado. E todos passaram a chamar a minha casa de "Paiol da Aurora” e o tal de Epaminondas sumiu. Não é o mistério da criação? AAF - Eu sou levado a acreditar que é realmente assim. O mistério da criação. Agora mais um romance, um belo romance, “O Poço dos Milagres”. O que este romance significa na sua obra, envolvendo prosa e poesia? CN - “O Poço dos Milagres” tem um significado forte tanto na minha ficção, quanto na poesia. Escrevi em plena ditadura “O Poço do Calabouço” (hoje em 5a edição, esgotada), falando de um Brasil mergulhado nas sombras da opressão. Em “A Engenhosa Letícia do Pontal” ( Editora Objetiva, 2003), meu D. Quixote de saias, o personagem Dom Seráfico, prefeito iníquo, fundou O Poço do Bem e do Mal. E neste livro (percurso da ficção e da vida), o que era Poço do Bem e do Mal transforma-se num Poço dos Milagres, onde com a palavra tudo é possível, por haver saído majestosa da Morte. AAF - Saindo desse romance, vamos ao seu mais recente livro de poemas, “O Tratado de Bom Governo”. É uma obra que tem uma construção gráfica bastante rígida, do começo ao fim… CN - “O Tratado de bom Governo” segue o terceto dantesco e é uma grande alegoria, em que critico os vivos, através dos mortos. Todos os problemas do mundo contemporâneo reaparecem: as guerras, os ódios, o crime organizado, a corrupção do poder e o poder da corrupção, o crime, a nobreza e a traição. É um livro que ainda não foi bem percebido em sua construção, nem em seu conteúdo. E que me faz lembrar a pergunta de Elias Canetti: "Não seria melhor que nunca tivéssemos saído da caverna?" AAF - Muitas vezes eu acho que sim. Mas eu ouso perguntar se o poeta Carlos Nejar está se transformando num romancista? CN - Não. O poeta Nejar continua absolutamente poeta, com muitos inéditos. E continua romancista. Uma coisa não interfere noutra. Ao contrário, se somam. Não sou, é verdade, um poeta que escreveu romances, mas posso ser, com mais razão, um poeta do romance. Aliás, o romance contemporâneo está tão sofisticado e linear que precisa do tratamento de choque da poesia para acordar. Os nossos romancistas, em regra, não pensam, só fabulam. A realidade está a exigir uma criação que seja fonte de água pura, com a oralidade dos aedos gregos, voltando a Homero, o primeiro romancista, que foi poeta. Porque não trabalho um gênero, trabalho a linguagem. E se trabalho os personagens, são eles antes que me trabalham. O romance, a meu ver, não é razão, é o delírio da razão. AAF - Quero entrar agora num assunto que pertence unicamente à sua intimidade. Mas lhe pergunto sobre a presença de Deus em sua literatura. CN - Deus é o centro de minha vida e de minha literatura. Todas as coisas boas vieram Dele. Por que não reconhecer? Deus é a minha maior experiência, o Deus que fala. Somos cercados de sinais e nem nos damos conta. São os sinais que nos acendem Deus. "Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra, luz para o meu caminho" - dizia o salmista Davi. AAF - Neste novo romance você afirma que o autor deste livro é romancista porque é poeta, contrariando certo preconceito de que só o romancista é poeta. Existe mesmo esse preconceito? CN - O preconceito é evidente. Tanto do romancista que escreve poesia, ou viceversa. Observava Einstein: "É mais fácil desintegrar o átomo, do que desintegrar o preconceito". O maior deles é o da burrice. Como pode um gaiteiro conhecer a arte do violino? Há o que chamo "a sociedade dos analfabetos anônimos". É a dos que se põem a ditar normas, metendo-se a examinar uma obra séria sem preparo algum. Diz um provérbio que "o sapateiro deve ficar nas sandálias". E a pior postura é a de uma mídia inculta e preconceituosa. AAF - Caminhar por sua literatura para mim é mergulhar numa viagem do sonho ainda possível de sonhar. O que é que você aprendeu com Homero e com Cervantes? Faço a pergunta por que você costuma se referir a isso? CN - Com Homero aprendi que até os cavalos podem chorar e que "ninguém" é o nome do poeta - o que cega com seu gênio o Ciclope. Com Cervantes aprendi o poder dos aforismos e provérbios. E de como é possível recriar por eles a voz do povo no romance. Há um “Dicionário de Aforismos” encontrado nos meus romances que está no prelo da Bertrand, organizado pelo poeta Paulo Roberto do Carmo. E não se pode deixar de assinalar quanto é incrível a arte de rir de Cervantes, rir dos limites humanos. Só comparável com o francês Rabelais. AAF - Você também costuma dizer que às vezes duvida de ter nascido… CN - Porque o nascimento é algo tão grande que nos ultrapassa. Somos noite e nascer é estrela. AAF - Você inicia “O Poço do Calabouço” citando um provérbio chinês: “A inteligência caminha mais que o coração. Mas não vai longe”. É assim mesmo? CN - Sim. A inteligência é limitada. O coração sabe mais longe. Por ser a liberdade e os espaços infinitos da imaginação. O coração é a imaginação a pé. E a razão, a imaginação sentada. AAF - O romance transcorre quase como uma narrativa religiosa, num certo ritmo das palavras, das frases. Esta observação está correta? CN - Nem sempre o romance transcorre como narração religiosa. Porque, às vezes, se desritualiza. Sempre, porém, transcorre como uma descoberta. Também para o autor. Porque sou levado pela narrativa. Sei o começo, não o meio e o fim. O que se escreve é o que vai formando círculos de memória. Quando a palavra não quer mais falar, deixa-se falar a memória. E tudo está escrito para nós em língua desconhecida, basta que nela aprendamos a ler. E o leitor é o que inventa junto. AAF - Sendo você o poeta que é, tomo a coragem para lhe perguntar se ainda existe lugar para a poesia no mundo e no tempo em que vivemos, onde quase tudo é destruição e caos, ruas sem saída, paisagens na escuridão… CN - Sim. Nem que tenha que se entranhar nas catacumbas como grão, há de vir à tona da terra como planta. A poesia está onde estiver a liberdade e o sopro do Espírito. Onde estiver a palavra que se faça humana. E se não crer na palavra, como ela crerá em mim? Eu creio na palavra porque sou palavra. Tu és palavra. E se nos unirmos, seremos eternos. AAF - Mas, afinal, a poesia serve para quê? CN - Estamos mais acostumamos no mundo do TER, do que do SER, mais no mundo da quantidade, do que no de valor. A poesia não é útil, ou desútil. A poesia existe e pronto. Como um gato ou uma pedra que se acende. Assim como não compramos o vento ou o relâmpago, não compramos o mistério da criação. AAF - Como está, a seu ver, a poesia brasileira atualmente. Eu particularmente tenho muitas reservas ao que se produz hoje com absoluta leviandade, gente que não sabe o que é poesia, mas tem infelizmente grande espaço garantido nos chamados suplementos culturais brasileiros. Uma coisa lastimável, mentirosa, desonesta. Vejo isso com muita tristeza e com muito desânimo também. O jornalismo que se diz cultural se transformou numa mediocridade assustadora, separando as exceções que ainda existem. Mas o quadro do jornalismo cultural - assim como de resto quase tudo neste país - é melancólico, é angustiante… CN - Já respondeste por mim, boa parte. Eu tenho mais do que reservas. Se há grandes poetas desconhecidos criando nas províncias deste País, necessariamente não está onde certa mídia festeja. Há muita empulhação de grupos na dita tomada do poder em revistas e jornais Com a banalização da poesia. A verdadeira poesia não é monótona ou hermética; monótonos e herméticos são os que não sabem lê-la. Diz Camões: “Na medida do amor que tiverdes, tereis o entendimento dos meus versos”. Essa “empatia” está escasseando entre nós. Também por incapacidade de muitos que se metem no que não percebem. Há uma certa militância literária ( com honrosas exceções) que vem do jornalismo despreparado. Ousam falar sobre textos que ultrapassam “a sua vã filosofia”. Alguns saídos dos “cueiros” tentam falar sobre a difícil arte do violino, quando nem conhecem a arte da gaita de boca. Ouviram o galo cantar e não sabem onde. São os que pertencem à sociedade doa analfabetos anônimos. Esse vírus de burrice é pior que a gripe das aves. Não respeitam sequer um longo e sério caminho de escritor. AAF - Mas é com isso que não dá mais para conviver. Trata-se de uma verdadeira violência à inteligência dos que ainda conseguem pensar. O que se vê de engodo é de se lastimar. É a empulhação a que você se refere… CN - No meu caso, por exemplo, tenho 45 anos de fidelidade à palavra, numa Nação que não tem hierarquia de valores. E que tem a desfaçatez de fazer Chico Buarque - excelente músico - mas medíocre na ficção - o maior escritor brasileiro… Ora, vão crescer primeiro, aprender a viver! E o pior que certas redações de jornais dão guarida a esse tipo de “crítica”, impossibilitando, às vezes, até a defesa, ou a avaliação de outro crítico que seja sério. Ainda dizem: ”Vou pensar no seu direito de resposta!” Mas a resposta à injustiça não se pensa, não é favor ou benesse. É direito. Sendo os tais, donos da comunicação, alguns, prepotentemente (podiam estar bem numa marcenaria, num açougue, jamais em função de interesse público), acham-se fazedores da fama alheia. Ainda bem que não são. AAF - É verdade: de repente o compositor Chico Buarque de Holanda se transforma no “grande” romancista brasileiro. E a tal mídia transforma outros compositores em “poetas”. Um deles é até chamado de “poeta de uma geração”. Como é que dá para conviver com isso? É muita pobreza, é muita leviandade… CN - O tempo os enterra e traz de volta os verdadeiros valores. Os grandes críticos, com exceção de Wilson Martins, ou alguns poucos que ficaram na universidade, penduraram a fala no salgueiro e nem ganham espaço nos suplementos. Deixam lugar, infelizmente - com dignas exceções, é verdade - aos oportunistas e medíocres. E o silêncio neste tempo - seja o literário, seja o político - diante de tanta corrupção e desmando, é no mínimo cúmplice. Ficar em cima do muro tem valido a alguns preciosos empregos… E quem pensa que a nossa luta terminou diante de tanta penúria, é bom que saibam que apenas começou. Porque a “palavra é martelo que fende a penha”. E essa trincheira não se rende. AAF - Infelizmente é isso mesmo que ocorre. Chega a ser desfaçatez. Trata-se de uma agressão à inteligência. As inversões de valores chegam ao escândalo. Mas este é o país. Este é o Brasil, corroído em quase tudo. Quase todos os segmentos manchados por uma mediocridade. Eu lhe pergunto: Os poetas são levados a sérios no Brasil? CN - Salvo um e outro incensados por certa mídia de esquerda festiva, que “são os últimos grandes poetas brasileiros”, sendo um substituído por outro, numa espécie de “família real da poesia” (e que podem ser até os últimos poetas menores do Brasil), salvo esses tais, os verdadeiramente maiores só são levados a sério depois da morte. AAF - Compreendo bem sua resposta amarga. Não dá para fugir disso. Esse é o quadro. Que participação o poeta tem ou pode ter na vida das pessoas, na construção de um mundo melhor, na busca de solidariedade… Ou a poesia não tem nada disso? CN - A poesia tem tudo isso, buscando, no entanto, em primeiro lugar, o aperfeiçoamento da ”língua da tribo”. Completando-se na consciência de que estamos vivos e de que não estamos sós e que, pela palavra (somos palavra) é possível mudar as coisas. O poeta não pertence apenas ao acontecer, mas também a uma épica do porvir, o que chamo de “infância do futuro”. AAF - O que é ser poeta no Brasil? E mais: vale a pena ser poeta no Brasil ou em qualquer parte do mundo? CN – “Tudo vale a penas se a alma não é pequena” dizia Fernando Pessoa. Mas neste tempo de “alma pequena” no Brasil, se é como um cacto num ambiente hostil. Vive-se apesar da falta de água. Além de contarmos com uma língua bela e limitada. Tanto na lusofonia que pouco funciona, como na América Latina, menos ainda. É de pasmar. Fui fazer outro dia uma conferência na Casa da América Latina, em Paris e ali não vi nas paredes nenhum escritor brasileiro. Conhecemos mais a obra de nossos vizinhos, do que eles nos conhecem. Se fôssemos poetas nos Estados Unidos, ou na Europa, é certo que seríamos bem mais valorizados. E no meu caso, estranhamente, sou mais reconhecido no Exterior, que no meu País. E por que é que temos que ser primeiro aceitos lá fora, para nos aceitar-nos, aqui? AAF - Vindo essas palavras de um poeta como você a gente percebe a angústia disso tudo. E nisso, a meu ver, está o país ao fundo. Não o país, mas o que “fazem” este país de gente esperta. A ordem parece ser mesmo sair. É duro dizer isto. Mas voltemos à poesia que é o que talvez ainda valha. Como é que a poesia tem de ser? CN - Apenas poesia, isto é, a arte de fazer as palavras levitarem. Aliás, esta é a diferença entre os verdadeiros poetas e os não-poetas. Esses, coitados, fazem grande esforço e não conseguem sair do solo. Porque as palavras não os amam. A poesia é a arte de ver mais longe, porque são as palavras que vêem. AAF - O que é necessário para ser um poeta? CN - Sobreviver e sobremorrer de palavra. AAF - O que significa pertencer à Academia Brasileira de Letras? É que de repente isso ganhou uma força incrível no Brasil. Quase todo mundo quer ir para a Academia… CN - Entrei na Academia, mas nunca deixei que ela penetrasse na minha criação. Fui Presidente por acidente de percurso. Era secretário-geral e o então presidente queria renunciar, já que se dizia acometido de cegueira. Fui generoso. Se quisesse o poder, teria exigido nova eleição. Preferi modestamente ser presidente em exercício. Todo o projeto de construção da nova Biblioteca, recentemente inaugurada, foi trabalho meu. E valeu como exercício de conhecimento da alma humana. Completado um ano, voltei ao meu Paiol, a este território mágico que não troco por nada. Daqui só para a Eternidade. Álvaro Alves de Faria (Brasil, 1942). Poeta, jornalista e escritor. Publicou Trajetória Poética - Poesia Reunida (2003) e Sete anos de pastor (2005). Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 A vertigem da cidade de Afonso Henriques Neto [entrevista] Floriano Martins . O poeta Afonso Henriques Neto é um daqueles notáveis nomes trazido à cena poética pela antologia 26 poetas hoje (Coleção Bolso, 1976), organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. Foi uma revelação importante à época, sem dúvida. E toda a poesia “suja, ruim e sem qualidade” que a crítica recebeu naquele momento aos poucos foi substituída por uma poesia limpa, ruim e sem qualidade. Houve um equívoco de faxina, e removeram o que havia de essencial naquela geração, e que a crítica encarcerava no adjetivo “sujo”. A própria Heloísa, já em 1997, chamava a atenção para o número de mortos dentre estes poetas. Mortos e sumidos, acrescentaria. Porém o saldo é brilhante se pensarmos em Roberto Piva e Afonso Henriques Neto, duas poéticas vibrantes, renovadoras, essenciais para o desdobramento de nossa lírica. Se reconhecidos ou não, este é outro ponto. Afonso Henriques Neto (1944) acaba de publicar um livro de tirar o fôlego, Cidade Vertigem (Azougue Editorial, Rio de Janeiro, 2005), não pelo título, mas sim pela inquietude extrema com que nos leva a percorrer suas 260 pgs. É livro fascinante – por sua linguagem múltipla, mesclando poesia, narrativa, ensaio – e verdadeiro – ao partir de experiências vividas pelo poeta. [FM] FM – Comecemos este nosso diálogo por teu livro novo, Cidade vertigem, livro que já em 1996 situavas como “um livro sobre a megalópole, poemas e textos imersos no puro delírio persecutório/labiríntico/atordoante de um meio ambiente cada vez mais adverso à vida humana e por extensão à poesia”. Qual o saldo desta aventura? De que maneira consideras satisfatória a aventura deste livro? AHN – A publicação do livro Cidade vertigem me deu grande prazer. Realizá-lo foi, sem dúvida, uma aventura. É verdade que desde o início de minha trajetória poética a preocupação com a vida humana nas grandes cidades industriais modernas sempre se mostrou presente. Mas foi a partir de 1985 que resolvi trabalhar um projeto com temática bem definida, ou seja, iniciei mais ou menos naquela data a construção do livro sobre a cidade. Quando fui realizar doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ em 1993, propus como tese desenvolver um trabalho a partir daquele longo poema que vinha escrevendo sobre a idéia de cidade: busquei então ‘explicitar’ as fontes que havia utilizado para a produção do poema, ‘explicando’ assim a sua gênese, ou melhor, descrevendo os processos e os caminhos utilizados pelo eu literário (ou subjetividade do autor, ou ainda a tal voz poética). Foram escritos, assim, vários ensaios que procuraram dar conta dos principais assuntos tratados no poema: entre outros, a presença da utopia desde Platão até a atualidade; o exame da história da cidade e de algumas idéias de urbanistas que sempre me interessaram; um passeio pelas visões urbanas de escritores como Baudelaire, Eliot, Kafka e Joyce. Utilizei também a prosa poética na forma de uma passagem do poema para os ensaios. Enfim, busquei revelar pela linguagem os delirantes, complexos, labirínticos mecanismos daquele ‘monstro’ que se convencionou chamar de megalópole, esse meio ambiente adverso a tantos sonhos e esperanças. Quando, recentemente, fui dar forma final ao livro, procurei estruturá-lo sem me preocupar com um formato de tese, montando os textos (e escrevendo novos) com total liberdade, de modo que o resultado ficasse o mais interessante possível para o leitor. FM – Há uma passagem neste livro, onde recolhes depoimentos inúmeros e ali um deles é do Ferreira Gullar: “Uma cidade / é um amontoado de gente que não planta / e que come o que compra / e pra comprar se vende”. Contudo, o livro não se limita a uma visão pessimista do homem e sua condição urbana. Sob este prisma, qual a utopia do Afonso Henriques Neto? AHN – É isto mesmo: o livro Cidade vertigem busca uma visão bastante abrangente do assunto, não se limitando à óbvia crítica dos aspectos desumanos da megalópole. A grande cidade tem a nos oferecer também possibilidades luminosas. A minha utopia permanece na direção de um humanismo socialista: educação, saúde, habitação, trabalho, liberdade e lazer para todos. O cinismo contemporâneo pode até falar em ingenuidade dessa formulação colocada assim de maneira tosca (afinal, todos querem isso), mas, do meu ponto de vista, o trabalho poético quer sempre contribuir para o sonho de se tentar construir um homem melhor, que possa viver em sociedade mais tolerante, defensora da justiça e da paz (mesmo quando a poesia vem carregada de conflitos, de sangue, de guerra: reflexo da crua realidade que nos submete, ou ao longo dos séculos nos submeteu). Seja como for, sempre procurei pensar uma cidade mais democrática, socialmente mais equilibrada, mais humana: e se o nome disso é utopia, sigo com ela. FM – Na mesma entrevista acima referida, concedida à revista Azougue, observas que “a cultura de massa em todos os seus desdobramentos, inclusive pelos caminhos da informática, tem levado a uma mudança para pior na construção de obras literárias”, e em 1997, em depoimento à revista Poesia Sempre, voltas a tocar no assunto, desta vez destacando “a profunda crise atualmente vivida em função da multipresença da imagem televisiva e de certo tipo de retórica imbecilizante que invade a comunicação de massa”. De que maneira a poesia se sente, efetivamente, impedida por tais aspectos e o que tem se modificado nestes últimos 8 anos em que supostamente os poetas já deveriam ter aprendido a combater essa pirotecnia que mencionas? AHN – Vamos separar as coisas para que fique mais claro o meu pensamento sobre essa tal de cultura de massa. De um lado coloquemos a literatura de massa: são, por exemplo, os romances escritos para um amplo público, seguindo determinados padrões de estrutura e de estilo, com situações e personagens modelados pelo (ou colados ao) senso comum (falamos de um Sidney Sheldon ou de um Paulo Coelho). É óbvio que há que se ter ‘talento’ para bem trabalhar nesse registro, pois o sucesso não está garantido pela simples aplicação das fórmulas mais do que gastas. Do outro lado do estereótipo, se movimentam as estranhas atmosferas que trocam de sinal todo o tempo, um oceano que se move no registro da permanente invenção, o reino sem palavras que costumamos chamar de espaço mitopoético (e que só pode ser tocado, paradoxalmente, por meio da utilização dessas palavras há muito gastas). Roland Barthes vai dizer que a literatura é o logro consciente, o jogo inventado pelo escritor para fugir do lugar comum, esse monstro que está emboscado na curva de cada signo, de cada palavra. É por isso que a poesia ‘vende pouco’, nada tendo que ver com o universo da comunicação de massa: no poema circula uma linguagem rarefeita, uma língua sem traduções nítidas, delírio a dançar o infinito (mesmo que seja só jogo…). Portanto, penso que o poeta não deve se preocupar em excesso com a retórica imbecilizante de toda a comunicação de massa (ela estará sempre presente em todas as mídias, na sociedade do dinheiro/espetáculo, no discurso do mesmo, da redundância): o poeta precisa é afiar as suas armas e gastar a sua energia na produção de uma obra que valha a pena. Pois todo mundo sabe que a arte ajuda demais na construção do sentido/caminho para uma vida mais rica, mais plena. FM – Uma vez mais recorro a palavras tuas, aqui no tocante à tua geração ou de tua aproximação dos Marginais dos anos 70, enfim, quando recordas que a “impregnação literária” de teus livros em parte te afastava dessa geração, considerando que, no geral, havia ali, nesses poetas, certo descuido com a linguagem. Nas gerações posteriores a impregnação literária passou a se verificar, porém com cacoetes de uma leitura limitada, recorrente, desgastada em pequenos vícios que acabaram denunciando um beletrismo. Entre relaxos e caprichos, saltamos de uma geração que aparentemente tinha o que dizer, sem saber como fazê-lo, para uma que aprendeu o domínio de uma técnica, porém nada tem a dizer. Como vês esta passagem, havendo mesmo uma? AHN – O mundo literário, como tudo mais, não é simples. Disse uma vez em entrevista da minha impregnação literária, fruto principalmente da convivência com o meu pai poeta e com os livros da biblioteca dele. E falei também de certo ‘descaso’ dos poetas da minha geração com a linguagem e com a busca de uma sólida formação literária. Mas veja o exemplo do Cacaso, um dos bons nomes da geração: ele produzia muitos poemas com certo ar ‘largado’, trabalhando dentro do registro coloquial, com pitadas irônicas um pouco à moda dos modernistas de 1922, mas todo mundo sabia de sua excelente formação literária, sendo ele inclusive professor de literatura (o ar ‘largado’ era uma construção consciente). O mesmo aconteceu com a Ana Cristina César, com o Eudoro Augusto. O Francisco Alvim também produz obra bem construída e de grande força lírica, e nos seus poemas sempre ficaram nítidas as influências de vários mestres, como Drummond e Bandeira. O Chacal, que já pertence ao time dos que não lidam de forma contumaz com o passado literário, aposta mais no seu ‘faro’ poético, produzindo um trabalho de muita qualidade. E assim a coisa vai. A minha crítica ao ‘relaxo’ de alguns poetas pode ser aplicada em qualquer tempo. O problema é que como a tal ‘geração marginal’ trabalhou muito no campo do coloquial, ficou mais difícil separar o joio do trigo. Mas ainda prefiro a atitude visceral da geração de 1970 do que certa retórica beletrista, como você bem falou, que vem povoando os livros de hoje: não basta o domínio técnico, uma certa postura formalista, para se fazer um bom poeta. O melhor, talvez, seja juntar as duas coisas: visceralidade e consciência técnica. Mas uma coisa é certa: se você quiser mesmo saber o que é grande literatura, siga os passos do Ezra Pound e procure Homero, Safo, Propércio, Catulo, Dante, Shakespeare, Camões, Fernando Pessoa; no Brasil, Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens, Cruz e Sousa e os modernos. FM – Estou completamente de acordo contigo de que tanto Jorge de Lima quanto Murilo Mendes “alcançam grandiosidade imagética a partir de um catolicismo vivido na profundidade da presença de um Cristo cósmico, arquiteto de todas as tessituras da vida e da morte etc.”, Encontramos esta mesma dimensão ou zona de tensão, por exemplo, em um poeta como o boliviano Jaime Sáenz (19211985). No Brasil, Jorge e Murilo acabaram sendo vítimas de um duplo preconceito, mal compreendidos ora por serem católicos, ora por serem surrealistas. Esta ausência de uma coexistência de princípios opostos entre nós não te parece impeditiva de certo crescimento existencial, garantia inclusive de uma miserabilidade intelectual? AHN – Sem dúvida alguma. Murilo Mendes e Jorge de Lima foram ‘esquecidos’ por longo tempo por serem católicos e desenvolverem suas imagens a partir da estranheza do universo surrealista. Até hoje ainda esbarramos com esses preconceitos, apesar deles se encontrarem mais diluídos. Acho que Murilo e Jorge são atualmente curtidos com mais liberdade, sem essa bobagem de ‘esquerda’ ou ‘direita’ no mundo da qualidade literária, e isso é muito bom. A verdade é que os melhores poetas apresentam sempre múltiplas faces no seu trabalho, pois a mente humana não é linear e sim exemplo bem acabado do que hoje se costuma chamar de campo da complexidade. Floriano Martins (Fortaleza, 1957) é um dos editores da Agulha. Entrevista originalmente publicada no Rascunho # 66. Curitiba, outubro de 2005. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Best-sellers e ocultismo: política e seitas secretas, do Iluminismo até Dan Brown Claudio Willer . Na edição de outubro de 2005 da revista Bravo saiu publicada, finalmente, a matéria que eu aguardava, da qual precisava para fazer afirmações sobre retrocesso cultural. É a comparação de duas listas de livros mais vendidos no Brasil: uma de agora, outra de vinte anos atrás. Transcrevo-as: 1985: A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera; O Amante, Marguerite Duras; Se houver amanhã, Sidney Sheldon; Amar se Aprende Amando, Carlos Drummond de Andrade; A Ponte para o Sempre, Richard Bach; O Fogo Interior, Carlos Castañeda; O Siciliano, Mário Puzzo; A Faca de Dois Gumes, Mário Sabino; Concerto Carioca, Antonio Callado. 2005: Memória de Minhas Putas Tristes, Gabriel García Márquez; O Código Da Vinci, Dan Brown; Fortaleza Digital, Dan Brown; Anjos e Demônios, Dan Brown; Assassinato na Academia Brasileira de Letras, Jô Soares; O Zahir, Paulo Coelho; As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu, Mitch Albom; O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams; Quando Nietzsche Chorou, Irvin D. Yalom; O Enigma do Quatro, Ian Caldwell e Dustin Thomason. Já esteve pior, esta lista. Mas, confrontada com aquela de 1985, com a presença de Duras, Drummond e Callado, fundamenta uma espécie de argumentação platônico-gnóstico-pessimista de que tudo, na esfera mundana em geral e no Brasil em especial, pode piorar à medida que o tempo passa. 1985 foi uma espécie de fim de ciclo. Desde meados da década de 1970, coincidindo com a redemocratização do Brasil, houve um crescimento de qualidade nas listas de mais vendidos: nela também figuraram traduções de T. S. Eliot, Thomas Mann e Virginia Woolf; além de Drummond e Callado, outros bons contemporâneos brasileiros, como Lygia Fagundes Telles, Loyola Brandão, Ivan Ângelo, Rubem Fonseca etc.; e títulos importantes de história, sociologia, filosofia e política. Paralelamente à resistência política, à crescente mobilização pelo fim do regime militar, havia sede de informação, uma busca da ampliação de horizontes culturais. Claro que as listas de 1985 não poderiam ser tomadas como retrato de um passado idílico. Lembro-me, na época, do comentário de um adido cultural norte- americano, estranhando a evidência, em nossa mídia, de Sidney Sheldon, e observando que em seu país não davam tamanha atenção ao autor de Se houver amanhã. A matéria da Bravo sobre listas de best-sellers, intitulada “1985-2005 – Vinte anos de revolução nas letras”, é do experiente jornalista e escritor Renato Pompeu. Sua interpretação dessa variação nas listas é completamente diferente da minha. Para ele, não se trata de rebaixamento da qualidade da leitura, porém de mudança dos paradigmas. Conforme resumido no subtítulo da matéria, “os leitores ficaram menos elitizados e mais próximos da cultura oriental”. Daí haver mais títulos relacionados a misticismo e religião, e menos de política e literatura de qualidade. Pompeu parece achar que chegamos à Nova Era. Afirma que “esses últimos 20 anos foram os de uma grande transformação espiritual, a mais rápida da história da humanidade, de que são índices as mudanças nos hábitos de leitura”. Em conseqüência, “a política foi varrida para a lata de lixo com o fim das grandes utopias, e foi substituída pela religiosidade, que ressurgiu como promessa de redenção. Mas, num nível ainda mais profundo, nesses 20 anos se concentra toda uma evolução a partir de uma tradição milenar da cultura ocidental para uma nova concepção, liberta das peias da reconstrução da realidade externa, e bastante orientalizada.” Antes fosse. Estaríamos às vésperas de uma nova era romântica. Mas não: a variação nas listas, com menor presença da alta literatura e maior de obras de autoajuda, temas religiosos e narrativas banais, é mesmo um indicador de rebaixamento cultural, e não o triunfo da diversidade. Seria, se as pessoas lessem mais. Contudo, desde então, o já baixo índice de leitura de livros per capita no Brasil caiu mais ainda. E, de 1995 até 2005, a vendagem de livros em livrarias teve uma queda de 50%, segundo as pesquisas das entidades do setor. Em outras palavras: o brasileiro lê menos e lê pior. A queda quantitativa e qualitativa deve ser associada, em primeira instância, ao declínio na qualidade do ensino e da crítica literária. Até aí, nada de novo, nada a acrescentar ao que disse cinco anos atrás em Agulha # 2, sob o título “Um ensaio em tom de manifesto: crítica e criação, ensino e literatura”. E, três anos atrás, em Agulha # 25, em outro ensaio, “Em defesa da literatura”. Não quero me repetir, porém, tomando como pretexto a interpretação de Renato Pompeu, acrescentar algo sobre a literatura místico-religiosa, em geral; e sobre o bestseller da vez, O Código Da Vinci de Dan Brown, em particular. E, ainda – saindo da constatação do óbvio e distanciandome de qualquer diagnóstico catastrofista, ou daquilo que eu mesmo acabei de chamar de ‘argumentação platônicognóstico-pessimista’ – apresentar algumas evidências de que esse quadro pode mudar para melhor. Indícios estão aí, nas mesmas listas de best-sellers. E não só por García Márquez haver passado à frente de Dan Brown. Na lista mais recente a meu alcance, publicada na revista Veja em sua edição de 9 de novembro de 2005, figura em primeiro lugar, na categoria não-ficção, Por Dentro do Governo Lula, da cientista política Lúcia Hipólito. O que isso significa? Que, diante das denúncias de corrupção no governo Lula, as pessoas resolveram se informar a respeito, assim comprometendo a hipótese de uma transferência ou deslocamento do interesse, da política para religião e misticismo. Talvez a relação entre a boa vendagem do livro de Lúcia Hipólito e o governo Lula seja a mesma de um sem-número de obras de crítica política e sociológica com o regime militar, precedendo sua queda… E há mais, coisa melhor ainda na lista de Veja: teoria literária em uma relação de best-sellers! Sim, ninguém menos que Harold Bloom, crítico contundente dos relativismos sócio-culturais e da suposta pósmodernidade, com Onde Encontrar a Sabedoria, uma defesa da alta literatura como fonte de conhecimento. Discordo de seu cânone; discordo de sua teoria da influência; mas espero que seu modo de valorizar literatura encontre novos leitores e seguidores. Haverá mais assunto para diálogos, mais gente com quem se possa conversar. Quando à literatura místico-religiosa, não há como Pompeu interpretar sua presença em listas de mais vendidos como indício de mudança. Onde ainda está Paulo Coelho, agora acompanhado por um tal de Albom e um Caldwell, antes estiveram Lobsang Rampa e seu terceiro olho nas décadas de 1950 e 60, e Gibran Khalil Gibran na de 1970. Sempre, desde que se constituiu o mercado editorial, final do século XVIII, houve divulgadores de temas ligados à religião, misticismo, esoterismo e ocultismo de plantão em listas de bestsellers. Mesma coisa para auto-ajuda: Dale Carnegie, com sua arte de fazer amigos e influenciar pessoas, vendeu milhões de exemplares ao longo de sucessivas décadas. Por isso, não há razão para tomar como sintoma de mudança o prestígio de Paulo Coelho e, mais recentemente, de Dan Brown. Não são novidade. Representam, antes, uma continuidade. Inscrevem-se em uma tradição. Ou em duas: Coelho e Brown diferem bastante. Não pertencem à mesma família. Paulo Coelho talvez se situe em uma zona intermediária ou de sobreposição do autor ocultista e dos que ficcionalizaram o oculto. Partilha com antecessores não apenas os temas, mas a projeção pública. Magos como Éliphas Lévi, Madame Blavastky, Papus, Péladan e Stanislas de Guaïta foram celebridades. Recebiam visitantes do mundo todo. Seus livros atingiam vendagens expressivas. Equivaleram ao que hoje seriam best-sellers; seus autores, a personagens midiáticas. Basta um exemplo: em 1892, a estréia literária do Sâr Péladan aos 23 anos de idade, Vice Suprême, prefaciada por Barbey d’Aurevilly e saudada por Leon Bloy (o que não era pouca coisa, em matéria de endosso literário) teve vinte edições consecutivas, como relata André Billy, em seu L’Époque 1900, 1885-1905. O prestígio de líderes de seita como o Sâr Péladan era tamanho que permite afirmar que o esoterismo, originariamente uma cultura subterrânea, herética, à margem, acabou por criar seu próprio mercado. E mais: esse mercado favoreceu escritores, através das livrarias e editoras dos ocultistas, como L’Art Indépendant, que se tornaram veículos do simbolismo literário, publicando até mesmo Mallarmé. Prova adicional desse prestígio dos magos foi o modo como repercutiu a simulação do desaparecimento de Aleister Crowley em Cascais, preparada com a ajuda de Fernando Pessoa em 1930. Se Crowley já não fosse famoso, a imprensa não teria dado atenção ao episódio. Portanto, nada de novo na fama de Paulo Coelho, nem na popularidade da produção editorial movida por ciclos de interesse por gnomos, fadas, bruxas, anjos, astros, cristais, metais, magnetismo terrestre, práticas divinatórias e demais atualizações de mitos da Antiguidade e dos procedimentos da magia. Contudo, em várias ocasiões – entre outras, em sua contribuição a uma coletânea de depoimentos de escritores (21 escritores brasileiros – uma viagem entre mitos e motes, de Suênio Campos de Lucena, Editoras Escrituras), ao ser indagado sobre sua qualidade literária pelo entrevistador, que cita Machado de Assis e Clarice Lispector como referência –, Coelho deixou claro que, para ele, obras como a de Machado e Clarice são outra coisa, uma modalidade de texto com características e finalidades distintas do seu. “Minha literatura não tem nada a ver com a deles. Não somos concorrentes. Esta discussão me parece algo como o sexo dos anjos. Se o sujeito quiser comprar Machado ou essa escritora, ele fará isso com ou sem Paulo Coelho”, afirmou o mago. Mas o equivalente a Machado de Assis e a Clarice Lispector para Éliphas Lévi, Papus, Guaïta ou Péladan – os autores referenciais naquele momento, os Shakespeare, Goethe, Victor Hugo, Théophile Gautier – não eram outra coisa. Antes, eram a mesma coisa que para Nerval, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé e Huysmans. Éliphas Lévi procurou ser um estilista: queria que seu texto fosse conforme aos padrões da melhor literatura. Essa ambição também é evidente na copiosa produção ficcional e doutrinária do Sâr Péladan, em Crowley, que tinha em alta conta sua própria poesia, e tantos outros. Partilhar valores literários contribuiu para o diálogo entre magos e literatos. Seriam os magos de hoje menos literários? E os literatos, menos ocultistas? Parece que sim. Escritores são homens de seu tempo: no caso dos autores do século XIX, um tempo de fascinação e encantamento pelo aparente abrirse de portas para o mundo mágico, e de uma equivalente desconfiança com relação ao progresso científico e tecnológico e à sociedade fundamentada nesse progresso. Ou então, de uma fé na utópica conciliação dos dois mundos, mágico e científico, e dos dois modos de conhecer, através da razão e da revelação. Quanto aos magos de hoje, seu contexto é aquele de uma perda de prestígio da literatura na sociedade midiática, uma redução da importância que lhe era atribuída como fonte do conhecimento e como modelo para o uso da linguagem e a expressão do pensamento. Por isso, nos séculos XVIII, XIX, até mesmo na primeira metade do século XX, em matéria de valor literário e valorização da literatura, escritores e magos olhavam na mesma direção. Hoje, parecem voltar-se para direções distintas. Dan Brown é de outra espécie de autores, distinta daquela que tem Paulo Coelho como expoente. Escreve narrativas de ação, meio de horror, meio de espionagem ou de detetive, usando temas do esoterismo, devidamente romanceados. Igual a um Robert Ludlum ou Ian Fleming cruzado com ocultismo. Isso também é antigo, como atesta o sucesso, em meados do século XIX, de Zanoni de Bulwer Litton, uma narrativa folhetinesca de aventuras cujo herói é um decalque da figura do Conde de Saint-Germain ou do mito da própria imortalidade que esse mago criou. Ou, já no século XX, de O Mágico, de Somerseth Maughan, declaradamente sobre Aleister Crowley, com tratamento de narrativa de horror e ao mesmo tempo de sátira do mago e de sua magia. Nessa família, obviamente há de tudo, do melhor ao pior. Zanoni teve impacto, exerceu influência, mas é ruim, seja como desenvolvimento da narrativa, seja como apropriação de temas do esoterismo. Là-bas, a narrativa sobre bruxaria e missas negras de J.-K. Huysmans, teve impacto maior ainda (Somerseth Maughan reconheceu que escreveu O Mágico, alías bem fraco, muito aquém de O Fio da Navalha ou Chuva, influenciado por Huysmans): mas é um livro extraordinário, substancioso, complexo (já escrevi a respeito aqui: Là-bas, de J.-K. Huysmans: notas de leitura em Agulha # 21). Vamos deixar claro: não sou elitista; não acho que livro com boa vendagem seja sinônimo de livro ruim. Stephen King vende torrencialmente, e é bom em seu gênero, sabe construir tramas. Mas O Código Da Vinci é pobre. Dan Brown o escreveu de olho em uma tela de cinema, e não nas páginas de outros livros. É um decalque de filmes e não de obras literárias. As perseguições penas ruas de Paris estão em Ronin, estrelado por Robert de Niro, entre outros sucedâneos. Do mesmo filme, o truque narrativo do amigo rico, morando em um castelo, que aparece no meio da história para ajudar a resolver a confusão em que o protagonista se meteu. O assassino monstruoso é cópia daqueles dos filmes de James Bond, como o gigante dos dentes metálicos. E onde na série Bond se lê Spectre, a organização de conspiradores que querem controlar o mundo combatida por 007, leia-se Opus Dei em O Código Da Vinci. Já o delegado francês trapalhão podia ser da série Pantera Cor-de-Rosa, de Peter Sellers. E por aí afora: o enredo de O Código Da Vinci é uma montagem de cenas e personagens de filmes, à espera da sua própria adaptação cinematográfica, que vem aí estrelada por Tom Hanks. Em uma trama até que articulada, bem menos estrambótica e sanguinolenta que a de seu livro anterior, Anjos e Demônios, e que mantém o interesse do leitor pela sedução da decifração de enigmas (sustentar enredos em decifrações, Edgar Poe já sabia que isso funcionava), Brown vai misturando informação correta, lendas e mitos “reais”, no sentido de haverem circulado, existido historicamente, e incorreções grosseiras. Por isso, suscitou uma indústria editorial de livros contestando-o ou discutindo-o, além de uma polêmica com a Igreja Católica que, obviamente, impulsionou suas vendas. Interpretações do triângulo na Santa Ceia de Leonardo são possíveis. Havia simbologia hermética em obras da Renascença. Frances A. Yates, por exemplo, mostrou – no importante Giordano Bruno e a Tradição Hermética [Ed. Cultrix] – que figuras em quadros de Boticelli reproduzem decanatos do hermetismo de Alexandria. Outra coisa plausível – e um tema sempre atraente – é a hierogamia, sexo ritual. Acontecia (ou acontece, quem sabe) em modalidades dos antigos cultos de mistério, e nas iniciações em sociedades tribais (conforme expôs Mircea Eliade, entre outros). Agora, dizer, como à pg. 223 da edição brasileira de O Código Da Vinci, que o cristianismo tornou-se patriarcal, excluindo a mulher e declarando herética a humanidade de Cristo, depois da sua adoção por Constatino como religião oficial do Império Romano (entre 313 e 381 d.C.), isso não, de modo algum. É desinformar, difundindo erros grosseiros. O patriarcalismo cristão já estava declarado e acentuado nas recomendações e preceitos de Paulo em Coríntios 7, Colossenses 3, Timóteos 2, relativos à submissão e subordinação da mulher – lembrando que, cronologicamente, Paulo é o primeiro autor de escrituras cristãs, por volta de 60 d. C: os evangelhos sinóticos seriam posteriores; o ultimo, de João, é de 110 d. C. (essa cronologia parece consensual entre historiadores e está, inclusive, em edições católicas da Bíblia). Ortodoxia versus heresia é um confronto que precede a oficialização, a adoção imperial: seguindo Paulo, entre 100 e 150 d. C Tertuliano, Irineu e outros Pais da Igreja já puseram a casa em ordem, doutrinariamente. Menos ainda, é possível afirmar, sugerir ou até insinuar que os gnósticos seriam guardiões do segredo de uma descendência de Jesus Cristo e Maria Madalena. No gnosticismo cristão (entendo que houve gnoses cristãs, mas que o gnosticismo foi uma doutrina religiosa autônoma, nisso discordando de alguns de seus estudiosos, como Pagels e Layton, e concordando com outros, como Doresse, Puech e Alexandrian) predominou o ebionismo, a crença em Jesus Cristo como manifestação puramente espiritual, e não carnal. Isso, por coerência com o seu dualismo: por negar o mundo material, o gnosticismo jamais aceitaria a encarnação de um avatar. Portanto, nunca poderia haver casamento e procriação do mensageiro ou emanação de Deus: ambos, casamento e procriação, inteiramente rejeitados pelos gnósticos, por perpetuarem a vida material (nisso, todos os especialistas que citei são unânimes). Quanto aos Templários (que também teriam protegido descendentes de Cristo e Maria Madalena em O Código da Vinci), têm levado a culpa de tudo. Podem ter acumulado informação, e não só dinheiro (de um modo que provocou a destruição daquela ordem no século XIV). Mas não há uma reconstituição mítica de origens de seitas e grupos iniciáticos que deixe de citar os comandados por Jacques de Mollay como seus antecedentes. E quanto à lista de chefes do Priorado do Sião que termina em personagens de Brown, ela junta pessoas que jogavam em times opostos, dos platônicos e aristotélicos, dos magos – como Fludd – e dos cientistas – como Boyle e Newton, por mais que estes também respeitassem a alquimia. Victor Hugo não podia ter sido seu grão-mestre de 1844 até 1885. Tinha mais o que fazer: basta consultar alguma biografia relatando sua vida acidentada. Nesse período, 1844 a 1885, passou de monarquista a republicano socializante, de católico a espírita: é muita revisão para um líder de seita. Foi apontado (por Walnice Galvão em um artigo no suplemento Mais da Folha de S. Paulo) que O Código Da Vinci se inscreve na moda do politicamente correto: em vez de anticomunismo e elogio da CIA, um ataque à Opus Dei, ao Vaticano, à ortodoxia. Tem razão. Mas, para compensar, no livro anterior, Anjos e Demônios, Brown recorre ao mais reacionário dos chavões: o da conspiração de sociedades secretas, no caso, os “iluminados” ou “illuminatti”. Umberto Eco já demonstrou, em Seis Passeios pelos Bosques da Ficção, que o anti-semitismo dos pogroms e do nazismo, com a tese da conspiração judaica, nada mais é que a transposição, culpando os judeus, de material (romanceado por Dumas Pai) sobre uma conspiração de rosa-cruzes para controlar o mundo. Há um colossal volume de obras pseudo-históricas, alimentando teorias conspiratórias que atribuem, alternada ou simultaneamente, a Revolução Francesa, a expansão do capitalismo, as restaurações monárquicas, os socialismos, o nazismo, os fascismos, o liberalismo, o mercado financeiro, etc., à atuação de sociedades secretas. Uma associação ser iniciática, secreta, de fato supõe que haja algo não revelado; por conseguinte, um vácuo de informação que atraiu toda a sorte de especulação. Algo dessa caudalosa produção foi bem analisado por Umberto Eco, no modo ficcional em O Pêndulo de Foucault, e no modo ensaístico em Seis Passeios pelos Bosques da Ficção. Mas está claramente estabelecido que os rosa-cruzes, a maçonaria (ou, antes, as maçonarias, pela diversidade de correntes sob essa denominação), os martinistas, “iluminados” e o correspondente interesse por magia e disciplinas herméticas a partir do século XVII representaram uma resposta política em favor da tolerância religiosa. Essas seitas, grupos e confrarias tiveram, portanto, atuação progressista, naquele contexto. Como bem expôs Frances A. Yates (especialmente em O Iluminismo Rosa-cruz), fizeram frente à ortodoxia da Contra-Reforma e à intolerância que resultou em um crescimento das perseguições, dos autos-da-fé e das caças às bruxas. Trata-se de uma influência cujas conseqüências perdurariam, no modo como a visão de mundo hermética e a crítica social se encontram em William Blake, e, mais ainda, em Charles Fourier e o nascimento do socialismo utópico. Isso, além da posição de uma multiplicidade de lojas e organizações maçônicas em favor de ideais republicanos, ou, ao menos, anti-absolutistas. Por isso, a maçonaria chegou a ser explicitamente acusada de provocar a Revolução Francesa; e, já no século XX, maçons receberam atenção e tratamento por parte de regimes como os de Franco e Salazar equivalente àquelas dispensadas à militância de esquerda, como bem lembra Maria Estela Guedes em Lápis de Carvão (Apenas Livros, Lisboa, ou em www.triplov.com). É a paranóia política, da qual uma expressão já clássica é O Despertar dos Magos, de Pauwels e Bergier. Benjamin Franklin foi maçom (conforme Daniel Béresniak em Franc-Maçonnerie et Romantisme, entre outras fontes); contudo, maçons serem a favor da República não significa que eles fizeram os regimes republicanos, na mesma medida que nazistas terem tido ligações com as ordens de Thule e do Vril não significa que essas ordens fossem a causa do nazismo. Por serem objeto de perseguição política, correntes da maçonaria adotaram códigos cifrados, equivalentes aos dos herméticos: são as marcas maçônicas, que podem estar presentes também nos textos científicos e literários. Como observa Maria Estela Guedes, “o discurso maçônico infiltrado no científico, ou num poema, tem por conseqüência excluir os profanos do acesso à informação. […] Se assim procedem, é por serem maçons que desejam vir a ser reconhecidos pelos seus confrades, não só coevos, como futuros.” O motivo é que “o texto se inscreve num contexto de censura e repressão,” já que “os pedreiros-livres atacavam a Igreja com o anticlericalismo e com a filosofia do naturalismo; e atacavam as monarquias com o tríplice programa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.” Na mesma medida, os inimigos desse tríplice programa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, os integristas da TFP e adeptos de outros reacionarismos, sempre atribuíram as piores coisas, desde comer criancinhas até controlar as finanças globais, aos maçons e organizações afins. Por isso, mobilizar esses recursos narrativos – códigos cifrados e sociedades secretas – a serviço do relato de uma conspiração para explodir o Vaticano é reincidir no pior da paranóia política e na versão mais doentia do reacionarismo, mesmo com o truque, ao final, do culpado ser outro – mas Brown em momento algum desautoriza a idéia da conspiração de seitas. Anjos e Demônios é, mais que vulgar, repugnante. Quanto ao bom aproveitamento ficcional de seitas e códigos, literatura de qualidade não falta: um espécime recente é o já citado O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco: seu êxito editorial é mais um argumento para redimir listas de best-sellers. E quanto à informação histórica de qualidade, acho que há mais sugestões de leitura entre as obras que acabei de citar ou mencionar. Que delas façam bom proveito os que quiserem saber mais sobre enigmas e mistérios que já excitaram tantas imaginações. Quem sabe, algumas subirão ou retornarão às listas de mais vendidos. Claudio Willer é um dos editores da Agulha. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Candido Portinari: retrato do Brasil Jacob Klintowitz . Na verdade, entre nós, discute-se sempre a natureza da arte, as questões sociais e, principalmente, com extrema veemência, a nossa identidade. Estas são dúvidas e afirmações nossas, os que vivem no novo mundo, e convivem com a herança colonizadora e as históricas lutas de independência política e são feitos de uma rica argamassa constituída por muitos povos. E o próprio conceito essencial, o de que pertencemos à civilização ocidental, sofre restrições e permanentes questionamentos, não só internos, mas exteriores. A significação da obra de Candido Portinari, neste processo de permanente auto-análise, afirmação e negação da identidade nacional, reside no fato dele ser o artista que inventou visualmente a odisséia brasileira. É o nosso principal muralista, o nosso maior pintor histórico, o autor da maior obra sacra do país, o mais expressivo retratista e, finalmente, ele é o artista que apresenta o mais completo retrato da Brasil já feito até hoje. É de tal maneira presente a obra de Candido Portinari que ela se presta para a percepção da realidade social, da formação econômica, da história política do país, visão antropológica do homem brasileiro, registro de costumes, reinterpretação estética da herança indígena, manifestação do sentimento religioso da população e afirmação estética da arte nacional. Não apenas esta obra torna-se referente nas discussões da identidade nacional, como é primordial no processo de identificação cultural do brasileiro. Devido à importância do artista para o Brasil, é compreensível que a sua obra seja objeto de controvérsia e equívocos, muitos deles intencionais, pois a sua obra situa-se em uma encruzilhada onde se encontram interesses divergentes. Um dos mais freqüentes destes equívocos é atrelar o seu muralismo ao dos mexicanos Orozco, Siqueiros e Rivera. Dadas as diferenças marcantes entre os estilos, composição e desenho, verdadeira oposição, na verdade - é bom assinalar que Cândido Portinari, a escolher um entre tantos mestres, sofreu a influência e o estímulo da obra de Mathias Grünewald (1480 –1528, Alemanha). Talvez valha a pena lembrar, também, a admiração declarada de Cândido Portinari por alguns artistas, principalmente o renascentista Paolo Veronese (1480 – 1528, Itália), para explicar a sua aventura cromática, a crepitação de suas cores. O crítico de arte Antonio Bento (1902-1988), autor do seminal livro “Portinari” (Léo Christiano Editorial), talvez diferenciando a sua obra da dos muralistas mexicanos, observa enfaticamente que Candido Portinari é o pintor do Terceiro Mundo, pois é aquele capaz de expressar as suas questões fundamentais em forma elevada, paradigmática e universal. Na sua última viagem à Europa, já próximo da sua morte, Candido Portinari foi ver o “Cristo”, de Grünewald, em Colma, França. O museu está fechando e, apesar de suas súplicas, a segurança não abre as portas para o pintor. Portinari observa a pintura por uma fresta e se impregna desta entrevista beleza e de seu próprio sentimento da infância em Brodósqui e de sua despedida da vida e do universo amado da arte. Ele escreveu este poema, datado de 1.11.1961: Morto mas ainda Caminhando quis te Ver. Não importa Se fecharam a entrada Não quiseram que te visse, maus ventos sopraram. Vi-te do buraco da luz Vi-te na asa do sol Vi-te no espaço como uma Asa. Vi-te brincando com As crianças Vi o circo ao teu redor… Senti aqueles mesmos ventos Dos subterrâneos que penetrastes. Senti-os sob meus pés: Povoados de assombrações. Querem escapulir da sombra No dia de lua nova te Levei a poeira vermelha do Meu povoado, era só o que tinha… Certamente outro equívoco, desta vez relacionado a míticas premissas vanguardistas atribuídas ao modernismo, especialmente à fragmentação de linguagem e de sentido estético da obra de arte, deve-se mais à peculiaridade do comportamento e tendências à hegemonia em países não totalmente desenvolvidos do que à qualidade intrínseca de seu trabalho: trata-se da crença de que só é possível a afirmação de novas tendências e artistas com a morte ou assassinato dos artistas precedentes. Parece imperdoável, também, o fato de Candido Portinari ter sido amado, e ainda o ser, pela população brasileira. Para alguns, fere o preceito de obrigatória hostilidade entre artista de vanguarda e público e esta relação amorosa se constitui em ofensa pessoal. Não conheço qualquer outro artista na história nacional que tenha sido tão atacado quanto Portinari. E a natureza destes ataques não conheceu limites, incluindo aí críticas factualmente erradas, com troca de datas de suas obras para identifica-las com o período autoritário do Estado Novo (Governo Getúlio Vargas, 1937-1945). Certamente não deve ser esquecido que a afirmação da qualidade de um artista deste porte, envolve imediatamente as questões de identidade ou de identificação nacional (não é a mesma coisa), fulcro de graves interesses. Centenas de artistas brasileiros têm exposto no exterior e todos, dos melhores aos piores, mereceram mostrar o seu trabalho. Os artistas sempre merecem a oportunidade de apresentar a sua produção e dialogar com o público. Estas exposições têm sido realizadas em galerias de arte, museus, institutos culturais, consulados, embaixadas, salões de arte, bienais, quadrienais. E é muito oportuna a presença de tantos artistas brasileiros em exposições fora de seu país A ausência pode ser uma luminosa presença. É o caso da obra de Candido Portinari, artista brasileiro absolutamente ausente do circuito internacional dos últimos 42 anos. Convenhamos, quatro décadas é um pouco demais quando nos detemos no fato de que este artista foi quem mais pintou o Brasil, é considerado o maior artista de nossa história por um grande número de poetas, intelectuais, artistas e críticos de arte e, também, por boa parte da população, e que é o mais destacado pintor brasileiro dos últimos 100 anos. Mas, por que não Candido Portinari? A resposta é elementar, como diria Mr. Holmes, se ele realmente falasse esta frase. Esgotadas e descartadas todas as hipóteses incongruentes, a que sobra é a razão. Candido Portinari não foi exposto desde 1962 em nenhum lugar do exterior justamente por ser Candido Portinari. E, agora, já que adotamos a lógica dedutiva, tão prezada até a primeira metade do século passado, devemos nos perguntar quem é exatamente o pintor Candido Portinari, o que ele fez e o que está acontecendo com a sua obra neste exato momento. Mas não nessa ordem de prioridade. Mesmo Descartes não resiste ao fazer e à tradição jornalística que nos ensinou a colocar a notícia em primeiro lugar. Em 1946, o poeta Carlos Drummond de Andrade, figura central na poesia moderna brasileira, quando da bem acolhida exposição de Portinari em Paris, em carta ao artista diz o seguinte: “… Foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma do seu gênio criador, que ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro…” Nos últimos meses a obra do pintor brasileiro Candido Portinari repentinamente parece onipresente. Uma belíssima exposição, “Visões de uma infância brasileira” (5.5 a 31.5.2004), na embaixada brasileira, em Londres, marcou o retorno do artista à Europa. O catálogo da mostra optou por registros e visões críticas históricas, acentuando o fato do artista ser considerado por importantes críticos, poetas e intelectuais de sua época: Jorge Amado (romancista brasileiro), Giuseppe E. Luraghi (crítico e poeta italiano), René Huyghe (Curador-Chefe do Museu do Louvre), José Cardoso Pires (escritor português), Germain Bazin (Conservador–chefe do Museu do Louvre), Jean Cassou (historiador de arte, Diretor do Museu de Arte Moderna de Paris), Raymond Cogniat (crítico de arte francês), Enrique Fernandez G. (crítico de arte mexicano), Carlos Drummond de Andrade (poeta brasileiro). A Fundação Proa, em Buenos Aires, de intensa atividade cultural e editorial, realizou uma grande mostra de Candido Portinari, com 50 obras, em pinturas, gravuras e desenhos (20.7 a 7.9.2004). Esta exposição, organizada, em conjunto, pela Fundação Proa, Projeto Portinari e Fundação Centro de Estudos Brasileiros na Argentina, Funceb, fez parte das comemorações do centenário de Candido Portinari e, depois de 57 anos, assinalam o retorno do artista à Argentina, onde o pintor morou em 1947, auto-exilado de perseguição política no Brasil. A exposição que ocupou cinco salas, em dois andares, teve algumas obras marcantes do artista, tais como “Criança Morta”, “Retirantes” (1944), “colheita de Café” (1958), e gravuras dos painéis “Guerra e Paz”, feitos para a ONU, em 1957. Nos dias 6, 7 e 8 de setembro, no Museu de Arte Latino-americano de Buenos AiresMALBA, realizouse o seminário “O sentido social da arte”, com especialistas do Brasil, Argentina e Uruguai. Este título do seminário é referência-homenagem, pois foi o título de uma conferência de Portinari, em 1947, na Argentina e no Uruguai. No dia 6 de setembro, este seminário foi inaugurado com três palestras, tríade de conferencistas que se constitui em geometria simbólica: o crítico de arte brasileiro Jacob Klintowitz, de uma geração formada após a morte do artista, com a palestra “Candido Portinari. Retrato do Brasil”; o pintor Israel Pedrosa, mestre da cor, que foi aluno de Portinari, com a palestra “Portinari e os preconceitos estéticos da Era dos Extremos”; e João Candido Portinari, matemático e cientista, filho do pintor, criador e diretor do Projeto Portinari, o mais exemplar registro artístico já feito em nosso país, com a palestra “Portinari: tempo, vida, obra”. Certamente um seminário latino desta grandeza, mobilizando três países, várias organizações, administradores e especialistas é a demonstração de como a obra de Portinari possui um valor universal e simbólico, capaz de mobilizar amor e rejeição. O título do seminário, “O Sentido Social da Arte”, recuperação memorialística, reafirma que as questões fundamentais que preocupavam o pintor brasileiro continuam objeto de interesse da América do Sul. Em Londres, o público pode conviver com uma visão ampla, uma amostragem diversificada da obra de Portinari. A série “Maria Rosa”, uma seleção de 9 de um total de 20 desenhos, feitos pelo artista para ilustrar um livro da escritora americana Vera Kelsey, cuja primeira edição foi de 1948. A pintura “Boba”, que teve um significado especialmente histórico nesta exposição. Esta obra fez parte da exposição, “Exhibition of Modern Brazilian Paintings”, organizada por artistas brasileiros, em Londres, na Royal Academy of Arts, em 1944, em benefício do fundo benevolente para o esforço de guerra da Royal Air Force / R.A .F. Uma mostra de arte antinazi-fascista. A exposição contou com 168 trabalhos, entre pinturas, desenhos e gravuras, de 70 artistas brasileiros, que doaram, em solidariedade, toda a receita da venda de suas obras para a R.A.F. Boba. Na paisagem enluarada os ocres iluminados definem o universo composto de colinas, espantalho, baú e menina de vestido branco e olhos grandes e inquiridores. Aí estão alguns assuntos recorrentes do artista: a infância e a sua lírica disponibilidade; o baú com pequenos pertences, talvez água de cheiro, espelho, pente, e a imagem da Virgem Maria; e o espantalho, guardião dramático da semeadura e da vida humana. O espantalho, um signo visual da lavoura, nas mãos de Portinari se transforma em pinturas de grande força expressiva e nas das mais características paisagens campestres da nossa arte. Entretanto, o mais surpreendente é que em Portinari, este assunto recorrente em sua obra, ganha conotações transcendentais e se transforma numa das mais poderosas metáforas religiosas da nossa arte. O espantalho de Candido Portinari costuma ser carregado de dramaticidade, denso e impregnado de humanidade, idealizado ao limite do homem elevado à condição divina, símbolo do homem sacrificado por seu amor ao próximo. Esses espantalhos, na postura de Jesus Cristo na cruz, torna-se verdadeiro símbolo nacional e se constitui de inúmeras facetas, como é próprio do simbólico: pastoral, semeadura, homem sacrificado, homem se sacrificando, Deus doador, morte e amor. Num poema de 1961, escrito em Paris, Portinari invoca e define a figura do espantalho como um Deus amoroso e acolhedor: Espantalho espantava as angústias, a maldição e o silêncio… E nesta pintura ricamente ocupada por uma menina de branco, a luz emerge da sábia combinação, unifica todos os elementos e se torna a grande personagem oculta. Causou interesse, em Londres, uma seleção de 5 gravuras, “Menino de Engenho”, que integram uma série de 35 outras gravuras, realizadas sob encomenda de Raymundo Ottoni de Castro Maia para ilustrar o livro “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, da coleção Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Menino de Engenho. Nestas gravuras, as crianças fazem parte do ambiente, do canavial à poltrona de fibra natural. Elas não estão no lugar, mas são os lugares. As crianças são o próprio ambiente. A naturalidade da sua presença, esta absoluta integração, oferece uma renovada percepção humanista da aspereza da vida no nordeste brasileiro. O tropismo humano para a felicidade é simbolizado pelos meninos. Observe-se que esta série foi criada para ilustrar uma edição especial de “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, o mais telúrico dos nossos escritores. Algumas destas gravuras, como o “Banho no rio”, “Menino com carneiro” e “Menino no canavial”, devido ao ser inocente dos personagens, tornaram-se antológicas no Brasil. Mais do que ilustrar, esta série de gravuras terminou por iluminar a essência da obra de José Lins do Rego. Certamente a série dos “Meninos de Brodowski” despertou uma atenção especial, por ser muito conhecida e por registrar as memórias do artista, nascido nesta cidade. Trata-se da seleção de 4 desenhos da série, constituída de 22 obras, que retratam meninos da cidade natal do artista, Brodowski, no interior do estado de São Paulo. Meninos de Brodowski. A extraordinária solenidade dos meninos nos afasta de imediato da idéia de que Candido Portinari, piedoso, pinta a infância desamparada. Fosse uma pintura sentimental, neste sentido, ela seria nobre e louvada por sua solidariedade, mas isto não bastaria. O que temos aqui, nestas pinturas de crianças do interior paulista, é um duplo movimento do mesmo vetor. O primeiro, é a qualidade artística que torna a figura emblemática e nos lembra autores inesperados, especialmente um tão diferente de Portinari, como Velazquez. Em ambos encontramos esta capacidade de tornar a figura infantil em paradigma. Imóvel, severa, concentrada em si mesmo, um modelo de existência real e, ao mesmo tempo, por sua inteireza, eterna. O segundo movimento deste vetor, é a inquietação do contemplador diante da intensidade da vida, a pergunta sobre a natureza da infância e da própria existência. “Meninos de Brodowski”, com a sua recusa à demagogia e a opção pela identidade do ser, constrói um dos mais altos momentos da arte brasileira. Desde 1962, ano da morte do artista, a obra de Portinari não era objeto de uma exposição internacional. É importante mostrar o trabalho de Candido Portinari simplesmente porque ele é o marco afirmativo do nosso modernismo, um dos maiores artistas brasileiros de todas as épocas, símbolo artístico nacional, autor de uma obra monumental com poucas equivalências mundiais e, em nosso país, o autor de uma odisséia sobre a nossa vida e a nossa gente. Além disto, a qualidade estética de Portinari, a grandeza de seus temas, a originalidade da interpretação e a ousadia de escolhas de assuntos, mesmo com dificuldades infinitas de realização, o caracterizam como um dos grandes artistas do século vinte. É um bom conjunto de motivos. E que outros exemplos poderíamos comparar com o poder e a grandiosidade da obra de Candido Portinari? Retrato do Brasil. As pequenas estórias do país estão para sempre registradas com extrema ternura ou dramaticidade. Lá estão os jogos de futebol no chão de terra vermelha do interior paulista, o circo mambembe, a morte nordestina e o enterro na rede, a migrante família de retirantes, os índios Carajás e o seu patrimônio gráfico, os lavradores, os estivadores, a festa de São João, os espantalhos, os bichos da floresta amazônica, os cangaceiros, a conversa amiga das mulheres, o folclórico Bumba-Meu-Boi. As principais cenas da história cívica brasileira também estão configuradas em sinfônica concepção: Tiradentes, A Primeira Missa no Brasil, O Descobrimento do Brasil, A Chegada da Família Portuguesa à Bahia. E, numa aceitação e amorosa atualização do misticismo do nosso povo, um extraordinário e inacreditável conjunto de obras de temas e espírito religiosos: A Santa Ceia, São Francisco, Santo Antonio, São João da Cruz, Nossa Senhora do Carmo, Jesus, Lázaro, Jeremias, a Via Crucis. Este retrato do Brasil, o mais completo já realizado por um artista, está na obra oceânica do pintor Candido Portinari. Que país não gostaria de ter um artista como este, que tivesse fixado e dado forma a sua alma? Nenhum outro pintor pintou mais um país do que Portinari pintou o seu, disse o pintor e teórico Israel Pedrosa, em depoimento ao Projeto Portinari em 2003. Com esta amplitude, multiplicidade de temas, ambição pantagruélica e capacidade de realização, não conheço nenhum outro exemplo. Candido Portinari (1903, Brodósqui, SP- 1962, Rio de Janeiro,RJ), o mais conhecido pintor da história do país tornou-se, para o povo brasileiro, sinônimo de arte. Esta identificação de um artista com a própria essência de sua atividade é o maior reconhecimento público imaginável. Na história recente da arte, poucos artistas obtiveram esta identificação popular entre o fazer e a natureza da atividade, como é o notável caso, por exemplo, de Vincent Van Gogh, com o século dezenove, e Pablo Picasso, com o século vinte. Portinari é autor de uma obra verdadeiramente monumental, se considerarmos o tamanho de sua produção, a qualidade e os diversos suportes e técnicas utilizados. Cândido Portinari é o maior muralista da nossa história e a sua obra está abrigado em prédios significativos, como o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, marco fundamental da nossa arquitetura modernista; Igreja da Pampulha, no moderno bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, semente da futura capital Brasília; na Biblioteca do Congresso, em Washington; na sede da ONU, em Nova York. Além disto, a sua obra enfrentou os assuntos mais significativos do país, da infância à vida rural, das mazelas sociais manifestadas nos retirantes nordestinos à saga histórica da formação da nacionalidade. Em cada um destes assuntos, a contribuição do artista tornou-se referência obrigatória. Na sua formação, nos dois decisivos anos que passou na Europa, Cândido Portinari quase não pintou. Ele aproveitava o Prêmio de Viagem ao Exterior e dedicou-se a ver e estudar. Em entrevista a “O Jornal”, em 1928, antes do embarque, ele diz: “… entendo que a estadia na Europa não deve ser aproveitada pelo pintor para uma produção intensa e quase nada meditada, como têm feito alguns colegas. Considero-a um prêmio de observação. O que vou fazer é observar, pesquisar, tirar da obra dos grandes artistas – do passado, nos museus, ou do presente, nas galerias – os elementos que melhor se prestem à afirmação de uma personalidade, Procurarei encontrar o caminho definitivo da minha arte fazendo estudos e nunca quadros grandes…”.É dessa maneira que este artista conduziu a sua vida, ver e estudar e criar uma obra única e sem igual. Disciplina férrea e inteligência. Cândido Portinari inicia os seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1919, onde cursa desenho figurativo com Lucílio de Albuquerque e pintura com Rodolfo Amoedo e Batista da Costa. Desde o fim da década de 30 que se afirma definitivamente como grande artista por meio de representações e interpretações da realidade social brasileira, como na série “Os Retirantes”. Em 1936 iniciou os afrescos e painéis de azulejos no prédio do Ministério da Educação e Saúde. Em 1956, por ocasião da inauguração dos painéis “Guerra e Paz”, na ONU, recebe os prêmios Guggenhein e Hallmark Art. Entre as exposições de que participa destacam-se Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 1922 e 31; individual no Museu de Arte Moderna de Nova York, 1940; Bienal de Veneza, 1950 e 54; Bienal Internacional de São Paulo, em várias edições de 1951 a 1985; Guggenhein Museun, Nova York, 1957; Galeria Wildenstein, Nova York, 1959. Desta viagem de observação, emerge o que seria o mote de uma vida de pintor brasileiro, como se pode ver nestes três trechos selecionados de suas cartas: “… Giotto não é grande? Os primitivos não são grandes? Eles viajaram? viram museus ? Creio que não. Eles viveram no meio de seu povo, viveram dentro deles mesmos e mais dentro da sua natureza, portanto…” “…um caipira… que achava um coqueiro mais bonito que todos os museus…” “…Palaninho é da minha terra, de Brodósqui. O Palaninho é baixo, muito magro, com a cara mole e esbranquiçada pelo amarelão. Ele tem o aspecto de uma criança seca e doente – não tem expressão – mas a gente, olhando para ele, vê logo que é o Palaninho, por causa do bigode empoeirado e ralo, com algumas falhas…vim conhecer aqui o Palaninho, depois de ter visto tantos museus, tantos castelos e tanta gente civilizada. Aí, no Brasil, nunca pensei no Palaninho… Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor…” De nenhum outro artista ou sábio, pintor ou escritor, recebemos um legado de transcendência lírica de nossa história comparável ao dele. E se somarmos os seus grandes murais…então estaremos em face de um acervo de pintura histórica-social de determinado povo e região que se poderá reconhecer como dos mais notáveis da história da pintura, escreveu o crítico de arte baiano Clarival do Prado Valladares. De que maneira aquele pintor de pequeno porte, cuja primeira infância foi tão frágil que a família duvidava de sua sobrevivência, construía estas obras que exigiam tanto saber, vigor físico e tenacidade ? Eis uma história comprovada. Cândido Portinari contou ao Presidente do Banco da Bahia, Clemente Mariani, que se inspirara em algumas pinturas do renascimento veneziano para pintar o mural “A chegada de D. João VI ao Brasil”. O que não chega a ser propriamente uma confidência notável, dado a sua admiração pelos venezianos, especialmente Veronese, mas ajuda a desfazer equívocos. A sua outra admiração, Grünewald, fornece uma pista sobre o expressionismo de Portinari. A respeito deste mural, o seu aluno Enrico Bianco contou, em 1977, no livro “Portinari desenhista”, uma anedota que presenciou. Terminada a primeira das maquetes, Portinari convidou o seu amigo, o arquiteto Lúcio Costa, autor do plano piloto de Brasília, para conhecê-la. Lúcio Costa observou que a pintura tinha dois arbitrários pontos de fuga, um da multidão, outro do horizonte. E que isto era maravilhoso, já que, ao contrário da arquitetura, a pintura tinha essa liberdade poética, pois a obra era harmoniosa. Portinari ficou mortificado e, imediatamente, se propôs a corrigir essa “besteira”. Travou-se, então, um diálogo de oposições, que se prolongou em telefonemas, nos quais Lúcio Costa implorava ao pintor não fazer a modificação, arrependido da sua observação e argumentando que a pintura nada tinha a ver com a lógica. Portinari, inflexível, terminou por alterar a pintura e conferir, como é da tradição, uma só perspectiva, um único ponto de fuga, para uma pintura figurativa. Essa obra monumental foi feita para a nova sede do Banco da Bahia, em Salvador, por encomenda de Clemente Mariani, ex-Ministro da Educação e Cultura. Pintada no Rio de Janeiro, num prédio na Rua da Assembléia, foi remetida para a Bahia e montada, a pedido de Portinari, pelo pintor José Pancetti. É uma pintura sinfônica e de esplendor, luminosa, com uma explosão de amarelos e brancos onde as cores crepitam e revelam as suas virtualidades. É notável como uma pintura feita com padrões tão rígidos – a organização das massas cromáticas, a estrutura geométrica, a representação severa – possa conter tantas questões da arte e da cultura contemporânea, especialmente as relações de cor e a estrutura geométrica; a consciência individual versus o anonimato funcional; o poder e a teatralização do ato público. Quando comparamos essa pintura com um desenho preparatório, ainda tão desprovido dessas graves questões e da fulguração final, percebemos o longo caminho do artista até a realização de uma obra magna, como essa. O ex-Ministro da Educação e Cultura, Clemente Mariani, no seu testemunho sobre o painel percebeu com exatidão o caráter avançado da pintura e, ao mesmo tempo, a sua filiação clássica: “…O quadro saiu, evidentemente dentro da técnica do modernismo, mas obedecendo a uma ordem hierática, que lhe dava a visão de uma pintura clássica…”. Em 1941, já um artista conhecido no mundo inteiro, Candido Portinari transformou um quarto da casa paterna em verdadeira igreja, um local de reza e meditação. Pintou São João Batista, São Pedro, uma Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel. A sua avó paterna, idosa e entrevada, chorava por não puder assistir a missa com a assiduidade habitual. Pois bem, Candinho, como ela o chamava, a consolou: “…Nona, não chore, que eu pinto uma capelinha pra você.” A “Capelinha da Nona” (avó em italiano), como ficou conhecida, é um testemunho único de qualidade pictórica, sentimento sacro e amor familiar. O seu pai, em depoimento a Alceu Amoroso Lima, um dos mais importantes críticos literários do Brasil, disse: “… eu não sei se Candinho é bom pintor, que eu não entendo disto. Agora, o que eu sei, é que ele é um bom filho”. O artista, marxista, foi o maior pintor de temas sacros do nosso país. Além da qualidade pictórica, o vigor que a sua pintura sacra manifesta está na nobreza do sentimento imanente. O conceito de generosidade e de amor ao próximo que o artista possuía era esse, o de um ser desprovido de ambições pessoais e desejo de poder sobre os outros homens. Observe-se uma das suas pinturas mais conhecidas, um São Francisco de Assis. Ele é de uma leveza e simplicidade incríveis. É o homem santo porque amoroso com a natureza, irmão dos seres viventes, desprovido de interesses ocultos. É este homem vitorioso contra os apegos, sem posses, cuja característica é o amor ilimitado, o personagem do pintor. O homem que não deseja poder sobre a natureza e os outros homens. O pássaro, presença constante na representação de São Francisco, forma o corpo da pintura, o seu movimento e cromatismo. No caso de Candido Portinari, a pintura de tema sacro não é uma representação técnica e fria de motivos tradicionais, mas a interpretação e recriação do sentimento amoroso da vida espiritual e a recuperação do sentido religioso, o re-ligare, o juntar as partes, o tornar o que está no céu igual ao que está na terra, o refazer o nó que une o céu e a terra, a celebração da aliança primordial entre a criatura e o Criador, a manifestação do júbilo do êxtase. Nenhum assunto parece pequeno ao pintor, nenhuma cena da vida cotidiana, dos terrenos baldios à cena doméstica. Conhecido por seus temas fortes e amplos, tais como o cotidiano do povo, os solenes marcos da história pátria, os principais assuntos do cristianismo, Portinari também pintou flores. Nas suas pinturas, as flores e as folhas costumam ser etéreas, sem volume, como se fossem lembranças, memórias do assunto flores. Um vaso com flores pode ser inteiramente pintura, linguagem, e não simplesmente representação de beleza decorativa e superficial, que Portinari detestava. O desenho sobre alguma coisa, é designar, nomear, dar nome às coisas e, com este ato, trazê-las para o reino da humanidade. A arte chinesa e, depois, a japonesa, levou esse conceito ao supremo grau de maestria. Os extraordinários gravadores japoneses – Suzuki Harunobu (1725- 1770), Korin Ogata (1658 – 1716), Torii Kiyomasu (1752- 1815), Katsushika Hokusai (1760 – 1849), Andô Hiroshige (1797 – 1858), Torii Kiyonaga (1679 – 1763), para ficar nos mais conhecidos - que foram fundamentais na formação da arte moderna européia, trabalharam sobre situações objetivas: a ponte, a vida cotidiana, os pescadores, as gueixas, as florestas, o mar. Mas essa descrição era a da arte e não a do pretenso realismo, ou seja, do entendimento convencional. A influência deveu-se à superioridade desse sistema, a criação da linguagem a partir de um referente reconhecível. É o que Portinari faz com o mundo pequeno, folguedos infantis, o doméstico vaso de flores. Fragmentos memorialísticos da beleza pressentida. No dia 6 de fevereiro de 1962, com apenas 58 anos de idade, morreu o pintor Candido Portinari, intoxicado pelo contato com a tinta a óleo, especialmente a branca que continha metais pesados. Ele trabalhou com tão espantoso vigor e tenacidade que foi capaz de construir uma obra única, retrato do Brasil como nunca houve igual. Talvez o artista intuísse uma vida breve para tão grande amor. A sua morte conscientizou a todos sobre o que perdíamos, o poético artista nacional. O melhor texto necrológico na nossa literatura foi o escrito por Antonio Callado sobre Portinari. E inúmeras manifestações celebraram o seu trabalho e se incorporaram a ele. Guilherme Figueiredo, escritor e teatrólogo: “Somos assim. Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade.” Manuel Bandeira, poeta: “Portinari não é só o maior pintor brasileiro de todos os tempos: é o exemplo único em todas as nossas artes da força do povo dominada pela disciplina do artista completo pela ciência e pelo instinto infalível do belo”. Por que Portinari? Eu o considero o marco afirmativo do nosso modernismo, um dos maiores artistas brasileiros de todas as épocas, símbolo artístico nacional, autor de uma obra monumental, com poucas equivalências mundiais e, em nosso país, o autor de uma odisséia sobre a nossa vida e a nossa gente. Além disto, a qualidade estética de Portinari, a grandeza de seus temas, a ousadia de interpretação e a coragem de escolha de assuntos, com dificuldades infinitas, o caracterizam como um dos grandes artistas do século vinte. Portinari é o narrador de mitos, o nosso Homero. E na sua obra encontramos a imobilidade da tragédia, o tempo paradigmático do símbolo e a ausência da agitação do simples drama. É por esta razão, por este conjunto de razões, que eu o estudo há tantos anos e há tantos anos escrevo sobre ele. Portinari é a tessitura que organiza e forma a base da arte brasileira, a marca da nossa maturidade, o ponto alfa, do qual podemos contemplar o nosso panorama. No dia 9 de fevereiro de 1962, três dias após a morte de Candido Portinari, o poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, publica o poema “A Mão”, do qual estes trechos selecionados encerram esta palestra e este texto: Entre o cafezal e o sonho o garoto pinta uma estrela dourada na parede da capela. […] A mão sabe a cor da cor e com ela veste o nu e o invisível. Tudo tem explicação porque tudo tem (nova) cor. […] O que era dor é flor, conhecimento plástico do mundo. a mão-de-olhos-azuis de Candido Portinari. Jacob Klintowitz (Brasil, 1941). Jornalista, crítico de arte, escritor, editor de arte, designer editorial. Prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, pela atuação crítica no ano de 2001. É autor de 90 livros sobre teoria de arte, arte brasileira, ficção e livros de artista. Tem sido Curador de dezenas de exposições no Brasil e no exterior. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Candido Portinari (Brasil). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Cecilia Mattos: el destino es el viaje [entrevista] Tatiana Oroño . Tras la publicación del libro Acuarelas de Cecilia Mattos (1958) acompañado de poesía de Mariella Nigro (1957) cuya presentación acompañé en el local de exposiciones de la Colección Engelman Ost, visité a la artista en su amplio atelier próximo al edificio de Aduanas. En las pausas de nuestra charla la cinta deja oír voces de niños de las casas de inquilinato de la vereda de enfrente. Se entra sin llamar. Tras su mesa de trabajo Cecilia levanta la vista y me da la bienvenida mientras termina su leche achocolatada y me señala en un gesto de barrido cualquiera de las sillas. Apunta con el índice sus últimas realizaciones y ya se extiende sobre ciertas ideasfuerza de su obra cuando sin más prendo el grabador. [TO] CM - Para mí el dibujo es escritura. Cada trazo es una escritura en sí. No sólo porque la pictografía sea antecesora históricamente de las demás escrituras sino porque, y aclaro que mi madre es grafóloga, tanto en un manuscrito como en un dibujo es posible estudiar el carácter de una persona… Yo me pongo a dibujar y la línea se va envolviendo sola de corrido. Hoy pensé hacer una performance sobre el dibujo, justamente. Voy a hacerme un tatuaje. Con imágenes mías. El tatuador y yo estaríamos dibujando la misma imagen al mismo tiempo. Yo sería tatuada, digamos, en espejo. ¿Y cómo terminaría esto? Yo rompería el original en papel y le daría pequeñas postales a la gente, o sea que quedaría el original en mí, nada más. Es una cuestión sobre la vida y la muerte…, y le encontré sentido porque el dibujo es escritura. Me inspiró un programa televisivo de rock. La cantante era portadora de unos magníficos tatuajes grandes y pequeñitos de mariposas. ¡Algo tan efímero impreso en la piel! TO - Tu dibujo escrito por otras manos en el papel de tu piel. CM - Como en la película Escrito en el cuerpo…, ¿la viste? TO - No. CM - Al final, sobre el libro escrito en la piel del amante robada por ella al morir él, la mujer planta un árbol… TO -¿Acaso se parecía a alguno de estos? (Señalo a nuestro alrededor varios ombúes opulentos sin colorear.) CM - (Responde con una carcajada.) Para mí los árboles son la cosa más divina que hay. Estos son árboles con volumen “copiados” de los cuadros de Pedro Figari. Me encantó volver a Figari, ahora, a través del tema de los árboles. Armo el molde de yeso sobre la matriz tallada en barro y cubro el molde con papeles. Cuando secan despego las partes moldeadas y voy armando. TO - Contá cómo llegaste a Figari. Ha sido una de tus líneas de trabajo… CM - Es cierto, y fue el resultado de un razonamiento muy consciente que enseguida te cuento. Pero lo primero que hice y mostré fue dibujo. Sin maestro ninguno y así como te decía… TO - Como quien escribe de corrido… CM - Tal vez porque siempre, desde los 5 a los 18 años, me regalaron libros ellos hicieron de mí una lectora compulsiva, seducida… TO - ¿Querías ser escritora? CM - Sí, hasta que me di cuenta de que dibujar era como escribir, pero con más misterio. Incursionar en lo que nunca será develado, como la poesía. Amaba los libros pero sobre todo los ilustrados. Me gustaba pintarlos todo lo que podía. Después coleccioné libros viejos con imágenes y viejos dibujos anónimos. Me fascinaba. Era como encontrar… TO - ¿Un alma desconocida? CM - Exacto. Que no se conozca el autor no me importa, el anonimato tiene una cosa interesante. Guardo todo e incluyo esas imágenes en mis obras. TO - Así lo has hecho con Figari… Volvamos a eso. CM - En el 90 cuando yo volvía de vivir cinco años en Buenos Aires tenía que retomar mi lugar acá y quería buscar algo muy uruguayo, entonces me encuentro con un libro de Figari. Me atrajo por el lado artesanal. Esto va a gustar, pensé. Y lo primero que hice, dar cuerpo a los personajes y las escenas, lo hice como una cosa de ventas. Pero también lo tomé como un maestro porque al ser autodidacta yo no había tenido maestro. Fue como un juego, como si me preguntara “quién soy cómo artista”, y me respondiera “yo soy de la misma línea”. Eso me permitió hacer un nexo con el pasado uruguayo respecto al cual al inicio de los noventa nos sentíamos como parias. “Alguna conexión tengo que tener” me plantée al volver. Decidí conectarme agarrándolo y aprendiendo a pintar a base de imitarlo. Y lo primero que había hecho, más naïf, pasé a hacerlo hace unos seis años ya con firma, como propuesta artística. TO - ¿Qué público compró tus retablos y tus figuras figarianas? CM - Uruguayos, argentinos, turistas… Ayer mismo pasaron a pedirme una caja… ¡y ya no hago más! TO - Quizá elegiste a Figari también por afinidad de mundos. Tenías una iconografía de la que apropiarte. CM - Yo creo que sí, porque también viví la dicotomía campo-ciudad. De niña pasaba los veranos en la estancia familiar y volvía para ir al colegio a mi casa de Avenida Brasil y Ellauri en pleno Pocitos. Volvía al cemento. La libertad era el campo. Figari me hizo identificar mucho con mis recuerdos. En el caso de él la estancia venía por el lado de su mujer… TO - Es un ida y vuelta de coincidencias…, porque tú venías de Buenos Aires y él se había ido para Buenos Aires. CM - Cierto! Y sé dónde era la casa… Ahora sigo el diálogo porque también tomé una pareja humana del cuadro Brutalidad. (Lo busca en el libro inspirador y me lo muestra.) Me interesó porque la violencia contra la mujer continúa. Me pareció válido hacer una continuidad con la obra de un hombre siendo una mujer un siglo después. TO - Esa dialéctica de continuidad –discontinuidad, ¿no jugó su papel también en el trabajo que llevó al libro con Mariella Nigro? ¿Cómo surgió ese libro? CM - Surgió espontáneamente. No me propuse hacer un libro. Tenía una libreta de acuarelas en mi casa de las sierras de Maldonado y cada vez que iba tenía un tiempo de tranquilidad que es lo que precisa la acuarela para poder trabajar en lo húmedo sin interrupciones. Lo interesante de este libro es que surgió como acuarelas que me hice para mí misma. Nunca pensé siquiera mostrarlos. Fue bárbaro porque esta experiencia me mostró otra forma de trabajar sólo para el goce propio. Y de repente, cuando las terminé, pensé que sugería un pequeño relato, sentí el llamado de un hilo narrativo… Se lo mostré a unos publishers que me aconsejaron la publicación. Entonces le mandé a Mariella que había visto los originales las fotografías por correo… Al día siguiente me estaba mandando los textos. Un resultado lindísimo. Porque es un diálogo con una escritora que admiro totalmente, una mujer con experiencias de vida afines a las mías y me encantó, por último, porque esos textos surgieron como si ya hubieran sido parte de esas imágenes. TO - Textos fluidos… ¿cómo pinceladas de acuarela?, ¿cómo el río de espuma y humo que se lleva la canoa que se lleva al conejito? CM - (Carcajadas) Exactamente! Y a mí me interesa mucho este tema de imagen y escritura… Sobre todo si están puestas a evocar algo invisible inabarcable en totalidad. Me encanta que imágenes y palabras sugieran otros mundos mucho más profundos. Tatiana Oroño (Uruguay, 1947). Poeta y escritora. Autora de Morada móvil (2004) e Tout fut ce qui ne fut pas (2002). Miembro de la filial uruguaya de la Asociación Internacional de Críticos de Arte. Co-organizadora del Primer Encuentro de Literatura Uruguaya de Mujeres (Montevideo, 2003). Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras da artista Cecilia Mattos (Uruguay). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Floriano Martins: ir al desgaste de todo [entrevista] Franklin Fernández . “La libertad de mi palabra me cuesta sangre existencial”, nos dice Floriano Martins en esta entrevista. Considerado como uno de los poetas contemporáneos más importantes de Brasil y del continente, Martins reflexiona sobre algunos aspectos fundamentales de su poesía, con un tono razonable y admirablemente iluminado: “Yo escribo con la fuerza de todo lo que hay en mí”. Para Martins, la poesía está hecha de atisbos, sospechas, conjeturas, dudas e incertidumbres, en su sentido más amplio, esperanzado o aventurero: “La poesía es un arma mortal en las manos de los malos poetas”. “Vivir no es un ejercicio fácil para nadie”. Vislumbrar, penetrar en los espacios habitados por él, es transitar por los caminos insondables de la existencia: “Tratemos de no seguir desfigurando la existencia”. “Todos piensan en la poesía como una salvación”. [FF] F.F. - Su nombre ocupa un lugar privilegiado dentro de las letras latinoamericanas, tanto por su obra poética, como por su profundo saber como ensayista, crítico e historiador de la literatura contemporánea ¿Qué tiene la poesía que decirnos a través de Floriano Martins? F.M. - Hice tantas veces esta pregunta a poetas que entrevisté y jamás imaginé que un día fuese intimidado por ella [risas]. Se trata de una provocación para medir el grado de vanidad de todo creador. Yo confío en que tengamos la respuesta de esta pregunta a lo largo de la entrevista. La creación nos sorprende a todos. Puedo aquí dibujar una expectativa mía que defina una poética, claro, pero no soy amigo de la cristalización de alguna espécie. Escuchamos el disco más reciente de Paul McCartney y nos asombramos de tamaña frescura que es, al mismo tiempo, una confirmación de una obra ya definida en el pasado, en la época de compañerismo con John Lennon. ¿Qué tengo que decir? Esta inmersión en si mismo, eventualmente puede resultar en una gran obra de arte. F.F. - ¿Desde cuándo escribe? ¿Podría recordarnos algún suceso que ilustrará en torno a los orígenes de su vocación poética? F.M. - ¿Algo como una caída de la escalera al buscar libros en lo más alto de la biblioteca de mi padre o también como mi madre peleando conmigo por haber recortado figuras de sus revistas sagradas? ¿Son éstos indicios de una vocación poética? ¿Habrá una vocación poética? ¿La predicción no es acaso una forma discreta de presunción? Durante la adolescencia robaba libros en las librerías y amigos poetas me reprendían con su altísima moral basada en la propiedad privada. ¿Hasta que punto la vocación confunde talento y perseverancia? Algún talento debo tener, pero lo que tiene un mismo peso es una incorregible obstinación. F.F. - ¿Influencias, afinidades, paralelismos, acercamientos, similitudes literarias o artísticas en su poesía? F.M. - Sí, hay poetas y libros que fueron fundamentales para mí. Puedo recordar tanto un libro como La lucha corporal, del brasilero Ferreira Gullar, y de igual manera mi primer contacto con una antología del chileno Humberto Díaz-Casanueva. En los dos casos había tanto de voracidad existencial como de refinamiento de lenguaje. Pero en el territorio de la influencia – siempre prefiero el término diálogo – jamás se limitó a las lecturas, menos aún a la poesía solamente. En la infancia fueron de gran importancia para mí, al lado de la lectura de una novela como Crimen y Castigo, de Dostoievski, o de los comics, la presencia de la música, seguida, en la adolescencia por las artes plásticas, el cine y el teatro. Pero evidentemente hay un denominador común en todo esto, yo diría que es la tragédia, en el aspecto teatral del término. Me siento afortunado por las experiencias comunes con otros artistas que he realizado hasta el momento. La panameña Consuelo Tomás me ayudó a montar una noche maravillosa involucrando músicos y bailarines en el Museo de Arte Contemporáneo de Panamá; el costarricense Alfonso Peña articuló un encuentro mío con el escultor Edgar Zúñiga, que resulto en la producción de un libro en San José; con el brasilero Mario Montaut compuse una serie de canciones cuyo CD se encuentra en la fase final de grabación. Escogí tres ejemplos que incluyen áreas diversas, para dar una idea de cuánto los poetas pueden explorar en zonas de afinidad y producción. Son afinidades concretas, que resultan en trabajo. Entiendo que querías saber también de otro tipo de identificación ¿no? ¿Nombres? Saltan la barrera de los géneros, van de Roberto Piva a Tom Waits, de Frank Miller a Hermeto Pascoal, de Rosa Alice Branco a Johnny Depp. F.F. - ¿Cuál es su relación con las artes plásticas? F.M. - Muchos libros en casa, en la infancia, casa de mis padres, revistas en cuadritos (comics), ediciones fascinantes llamadas fotonovelas, que eran adaptaciones de clásicos de la literatura mundial y también el nacimiento de la televisión; las mañanas de domingo cuando mi padre me llevaba al cine; todo esto tiene un peso extraordinario. Yo usaba guache y reproducía algunas de las ilustraciones de esas revistas, portadas de novelas, y al mismo tiempo recortaba figuras como quien está ensamblando una pequeña colección. Pero hacía todo esto de manera desordenada, escuchando música de todo tipo y devorando los libros de la biblioteca de mi padre, que era una biblioteca absolutamente caótica, donde se encontraban la literatura clásica rusa, el teatro isabelino, manuales de fabricación de aviones de guerra, comics vaqueros italianos, etc. F.F. - Usted mantiene una “relación entrañable” con el surrealismo, pero no se considera un surrealista, sino un defensor del surrealismo, alguien que ha hecho suya la defensa del surrealismo… ¿Por qué? F.M. - Yo no sé si cabe más esta afirmación, la de ser un poeta surrealista. Evidentemente que al leer mi poesía no hay manera de no pensar en la fuerte influencia, en el diálogo intenso con el surrealismo. Pero existen otros componentes, una adaptación del surrealismo a otras instancias en el ámbito de la configuración de una poética. En Brasil el único ismo que vino fue el modismo. Tengo llamando la atención por la importancia del surrealismo, sus percepciones, pero nadie quiere saber de esto. Hay una nueva generación interesada, pero esto también puede ser apenas una ola. F.F. - ¿Del surrealismo en nuestro continente se tiene una idea bastante imprecisa? F.M. - Absolutamente imprecisa. En el propio caso venezolano podemos pensar en Vicente Gerbasi, Juan Sánchez Peláez y Juan Liscano como figuras referenciales de esta falta de precisión. El primero tuve una participación importante en forma de diálogo y difusión, sin admitir vinculo expreso en ningún momento; el segundo declaró siempre su afinidad oscura; y el tercero buscó restringir el campo de acción del surrealismo y negó cualquier influencia que su poesía había sufrido, aún en un libro como Cármenes. Luego esta ceguera de Stefan Baciu – por cierto, jamás respondida por los venezolanos -, de situar a José Antonio Ramos Sucre como precursor del surrealismo. La imprecisión, en el ámbito continental, viene en gran parte de la ignorancia, del desconocimiento de lo que fue, de la manera como el surrealismo era percibido en los diversos países. Es plenamente posible conversar en Colombia con alguien conocedor del Surrealismo y que no sepa la existencia de un surrealista en Paraguay o en Guatemala, por ejemplo. Sin hablar del rechazo natural a lo que provenía de Europa, de la necesidad del nuevo mundo de fundar su propia existencia – como si esto fuese posible sin antecedentes ni afinidades. En los años 60, por ejemplo, en varias partes del continente hubo una buena resucitación del Surrealismo, mezclando situaciones no tan distintas como la Generación Beat y Nadaístas, El Techo de la Ballena y El Corno Emplumado, etc. F.F. - ¿Usted cree que el surrealismo siga vivo en latinoamérica tanto en la plástica como en la literatura, tan vivo como hace cincuenta o sesenta años? F.M. - No, no se puede comparar esto. Son intensidades distintas y no sólo en términos de época, sino también en ambientes geográficos. No me atrae mucho la idea de “seguir vivo”, porque todo sigue vivo en nuestra idea de mundo. El pasado está tan presente en nuestra vida como el futuro. Los casos más frecuentes son de rechazo al presente. ¿Hay un surrealismo presente entre nosotros? Hay motivo de sobra para que los artistas insurjan contra las situaciones más diversas y precarias, siempre. Basta saber. F.F. - Tengo entendido que su poesía ha seguido su propio camino, que usted trabajó solo. ¿Se sintió completamente ajeno a su generación o se aisló de sus contemporáneos? De ser cierto, ¿cuáles han sido las razones y los motivos de su aislamiento? F.M. - Un día, al entrevistar a un poeta brasilero de una generación inmediatamente anterior a la mía, observé una distinción entre los poetas de los años 70 y los actuales, contraponiendo una generación que tenía algo que decir sin saber cómo hacerlo y una generación actual que domina las técnicas del discurso sin tener absolutamente nada que declarar. Me siento distante de los dos casos. Siempre recorrí lo que llamo el río subterráneo de nuestra tradición lírica. Son dos maneras de aislarse. El encuentro físico, el debate de ideas, siempre lo tuve mejor con las generaciones anteriores que con mis pares, siempre fui el novato. El otro aspecto es de naturaleza estética, y todas las artimañas aplicadas por mi generación – variaciones en tono del Concretismo, malabares de Oswald de Andrade y Joao Cabral de Melo Neto, o, en algunos casos, una visita turística a la literatura de panfleto – no me despertaban interés alguno, de manera aislada. Yo quería sumar experiencias, mezclarlas, multiplicarlas, ir al desgaste de todo. F.F. - Con Agulha usted ha creado mecanismos de intercambio y conocimiento entre poetas, escritores, fotógrafos, diseñadores y artistas plásticos de América Latina y el mundo ¿Por qué Agulha? ¿Cómo se concretó la idea de crear una “revista” virtual en la Internet? F.M. - ¿La razón del título? Con rigor puede ser cualquiera. Este tipo de referencia tiene que ver con la sintonía del medio – aquella idea perversa de que el medio es el mensaje. La transmisión continua del sin sentido le da sentido. Es evidente que ahora cualquiera puede encontrar una justificación para este nombre: Agulha/Aguja. Considerando el hecho de que establecemos tantos puentes entre culturas y géneros, podemos pensar en un atelier de costura, donde enlazamos las realidades más distantes, quien sabe si hasta la famosa mesa de disección del surrealismo [risas]. Ya descubierta en el mundo virtual la veo como un plano de fuga. Yo había chocado con la imposibilidad de continuar la edición de una revista impresa. Necesitaba dar secuencia a un trabajo que ya involucraba numerosos colaboradores y entonces surgió la idea de una publicación virtual. Al principio hubo un inmenso rechazo y algunos colaboradores al menos aceptaron ver sus materiales publicados en Internet. F.F. - ¿Cuál es su interés por la literatura hispanoamericana actual? F.M. - Al principio despertó mi atención su vitalidad, una fuerza esencial que no encontraba en la literatura brasilera. Por más bien escrita, la poesía brasilera me parecía desprovista de pasión, y fue esto lo que encontré en la poesía hispano-americana en el primer momento en el que este mundo nuevo se abrió delante de mí. Pero tu pregunta tiene que ver con la literatura actual, y allí comienzo a pensar en esta suerte de impenetrabilidad, de oscuridad buscada, como recurso de una vanidad que se exhibe como saber extremo, que resulta en esa pirotécnica circense del neobarroco y todo su artificialismo correspondiente. Claro que la literatura hispano-americana actual no se resume a esto. Hay buenos autores que lidian con las lecciones de concisión y claridad, que se libran de los estigmas escolásticos, sobre todo aquellos que ya actúan con desenvoltura dentro de un ambiente de mezcla de géneros. F.F. - ¿Cuál es la importancia que usted le concede al tiempo, a la memoria, al destino y a la condición del hombre contemporáneo? F.M. - No olvides de mi pasión por el collage. Toda la experiencia humana crece por recorte, montaje, ensamblaje, ajuste. La hoja final del poema, algo entre la cámara oscura del fotógrafo y la mesa de edición del cineasta, tiene que ver con este talento para la mezcla en diálogo con la recepción de lo casual. Ninguno de los elementos que mencionas posee una importancia accesoria. F.F. - ¿Qué opinión le merece la trayectoria del maestro Juan Calzadilla? F.M. - Juan ha sido un cómplice valioso en las dos últimas décadas. Su presencia en la última Bienal de S. Paulo fue gratificante para nosotros, y ahora tenemos la publicación de una antología de su poesía en Brasil. Tengo ya cierta intimidad con el ambiente poético de tu país, Franklin, y no creo que deban quedar a la espera de una opinión de afuera para confirmar la grandeza de la poesía que producen. F.F. - De Enrique Molina, Ludwig Zeller y Claudio Willer, usted siempre se expresa con gran admiración, pero cuando hace declaraciones sobre Stefan Baciu o Haroldo de Campos, los ánimos cambian. A Haroldo de Campos lo acusa de “interferencia criminal” y, a Stefan Baciu de “sectarista”… F.M. - No hay alteración del humor. Creo que hablo siempre con la misma pasión. La visión crítica, el rechazo a ciertos mecanismos fraudulentos, esto requiere de una gran pasión. Hay una aceptación en cadena en lo que dices respecto a todo lo que es motivo de realce por los medios o por un panteón académico. Vivimos en una sociedad engañada por los medios de comunicación, que poseen intereses financieros en el mantenimiento de lo inestable, de lo volátil. Mencionas aspectos puntuales, debidamente cuestionados en libros y ensayos míos. Ojalá fuesen casos aislados. F.F. - Algo que me llama la atención de usted, es el contacto permanente con jóvenes poetas, aconsejándoles sobre el verdadero sentido de la poesía. ¿Qué le recomienda a los poetas emergentes de mi país? F.M. - Absolutamente nada, porque los consejos nunca existirán para ser seguidos. Que se dañen, que traten de encontrar una voz propia, que mueran, que se irriten, que desistan, cualquier cosa. F.F. - ¿Escribe actualmente algún ensayo específico, un nuevo libro de poemas? ¿Sobre qué ha estado trabajando últimamente? F.M. - Sigo trabajando a un ritmo que para muchos parece insano, mezclando creación de poemas, ensayos, traducciones, las ediciones de Agulha y de la Banda Hispánica, en fin, poco a poco van apareciendo nuevos libros, el reflejo de esa locura. F.F. - Usted como poeta, ¿cómo vive la libertad de su palabra? F.M. - No existe una agenda mágica para seguir. Un día es hecho de un montón de expectativas, sorpresas, aciertos. Yo soy un franco-tirador. La libertad de mi palabra me cuesta sangre existencial, aunque sin dramas, sin exceso de autoestima. Con rigor, vivir no es un ejercicio fácil para nadie. Encuentro que todos los artistas en nuestro tiempo tienden a valorizar demasiado su condición, justamente cuando menos corresponden las expectativas en torno a sus obras y actitudes. Hay un teatro de la imagen, algo patético. Tengo mucho trabajo en la frente. Apenas eso. F.F. - ¿Se escribe para vivir o para hacer vivir? F.M. - ¿Es posible escribir para librarse de la vida? No me parece que el hombre se disponga a librarse de sí para crear. Sin embargo, piensa en la creación como algo ajeno a sí mismo. No es conmigo, sino con el personaje. ¿Quién es? A todo instante pregunta lo mismo a otro que no pasa de un espejismo. Yo escribo con la fuerza de todo lo que hay en mí. Con un abraxas. F.F. - ¿El verdadero protagonista de sus poemas es usted, o es una figura a medias real, a medias mítica: el poeta? F.M. - Es siempre una mezcla, porque nosotros mismos tenemos algo de mítico y al mismo tiempo de real. ¿Habrá quien dude de la parcela de realidad que caracteriza la existencia de un poeta? Pues, esta duda es justamente la raíz de todo gran poema. F.F. - ¿Qué lugar ocupa el amor en su vida cotidiana? F.M. - El lugar de la piedra mágica de las contradicciones. F.F. - ¿Es posible definir la poesía? En otras palabras, ¿es posible definir el amor? F.M. - Es posible definir todos los rasgos del abismo. Es posible indagar si el axioma debilita. ¿La definición degenera? F.F. - Se dice que la poesía es “esto” o “aquello”. Pero, ¿qué es la poesía? ¿El sólo hecho de respirar es ya poesía? F.M. - ¿No es la poesía una encarnación de las simpáticas tres gracias de la mitología romana? Ahora estoy perdido. Acaso las caritas tan encantadoras, ¿se extenuaron a punto de no pasar del mito desfavorable de nuestras desgracias actuales? Tratemos de no seguir desfigurando la existencia. F.F. - Pero dice Rafael Cadenas: “Poesía es lo que el mundo no es” Y Roberto Juarroz: “La poesía siempre es decir de otra manera” ¿Será la posibilidad de mostrar una cosa mediante otra, de que algo diga otro algo, distinto? F.M. - Todo es distinto. Pero no me inclino por una negación de la existencia, sino por su revés. Para mí la poesía es una afirmación de la existencia. Creo que los poetas son apuestas en sí mismos, la manera como el mundo se muestra posible o imposible ante sus versos. Juarroz y Cadenas fueran dos poetas importantes para mí. Buscaron un equilibrio arriesgado entre sus afirmaciones poéticas y las correspondencias estéticas. Pero ya no cabe indicar caminos. Vivimos en una sociedad del todo desgastada por los caminos indicados. Ya no se trata de la poesía. Uno ya no sabe como vivir. Hay que pensar en esto, todos los poetas. F.F. - ¿Cree usted que el poema abarque mucho más que el concepto de verso, escape de la sucesión lineal de las palabras, de la sintaxis, de la rima, del metro y de la retórica? F.M. - El poema es un objeto, y como tal cambia de acción y entendimiento. F.F. - Cuándo usted escribe, ¿lo hace con duda o con convicción? F.M. - La duda es una convicción y su revés no es menos real. El acto de escribir tiene importancia menor ante la duda o la convicción. Claro que la actitud no escribe los mejores poemas esta noche [risas], pero tampoco la técnica escribe en las páginas del relámpago lo esencial de toda una vida. Yo escribo con dudas, convicciones, espantos, divagaciones, todo. F.F. - Se dice que la poesía es el hombre ¿Se es poeta siempre, en todos los momentos de la vida? ¿O estamos equivocados? F.M. - Por suerte, absolutamente equivocados. Somos humanos siempre, es verdad. Es nuestra condición irrebatible. Pienso en una película como La caída, en que se enseña un perfil humano de Hitler, con sus variaciones de humor. La encuentro perfecta. Hitler es parte de la humanidad, es parte de nosotros. Si uno es poeta siempre, también Hitler lo fue. El hombre es un poco de todo. ¿Qué parte de sí quiere convertir en absoluta poesía? F.F. - Todo, pero se lee muy poca poesía… F.M. - No es verdad. Hay poesía por todas partes, mala poesía, buena poesía, demasiada poesía, hay de todo. Hay que cerrar las puertas de ciertos mitos interfectos. Ya se fueron. Es posible que países como Brasil y Venezuela enfrenten sus dificultades en relación a una política educacional. Es otro aspecto, que me parece incluso más vital. Creo que nuestras sociedades viven un momento en que los poetas deben considerar distintas maneras de aporte y aposta. F.F. - ¿Cómo vive o convive el poeta en su mundo mágico, de imágenes, entre su realidad y la fantasía, entre su realidad y la ficción? F.M. - No hay vida que no sea al mismo tiempo real e irreal. Basta de buscar en el poeta las consideraciones modales para una vida posible. Hay que matar el mito de las figuras ejemplares. Los poetas también son mediocres, triviales, imperfectos. La realidad es siempre la misma: embustera, falsaria, sofista. F.F. - ¿La poesía sucede? ¿La poesía es experiencia? ¿La poesía es? F.M. - Si uno piensa en la poesía como una religión, como un suculento salto más allá de todo, como una droga, ah… La poesía no es nada. La poesía es un arma mortal en las manos de los malos poetas. ¿Por qué todo esto? Todos piensan en la poesía como una salvación. Tontos. F.F. - En la poesía contemporánea está muy presente una atmósfera de tristeza, nostalgia y desolación. ¿Por qué y por quién sufre la poesía? ¿Qué es lo que aflige a la poesía? ¿Qué es lo que entristece tanto a los poetas? F.M. - Es una lectura deficiente de la poesía actual. Hay un estado permanente de abrupto o de desfallecimiento en toda poesía. ¿Feliz? Todo en nuestra vida se ha convertido en puntos de mercado. Ya no hay una vida espontánea. Toda la vida bajo la expansión de las maneras. Es nuestra vida. Bajo la expansión de todo que no se mueve. Es nuestra vida. F.F. - ¿Qué obsesiones o gustos personales persigue en sus poemas? F.M. - El infierno en que nuestra vida se desfigura. Creo que toda mi poética tiene que ver con la desfiguración. De que manera dejamos de ser. F.F. - ¿La muerte constituye un motivo poético en su poesía? F.M. - Hay siempre dos perspectivas envolviendo un tema de esa naturaleza: la aprehensión del concepto en sí y la experiencia particular. La muerte me toca más por este segundo plano, considerando que conviví con la pérdida de toda mi familia. Hubo allí un insight que hace aparecer lecturas de infancia, que despertó motivos, conexiones, etc. Naturalmente este ambiente se amplia, define toda una perspectiva estética, y hoy la muerte funciona como un motivo bien acentuado, considerando la perspectiva criminal que lastimosamente define a la sociedad humana. F.F. - ¿Cuál cree usted ha sido el aporte fundamental de Floriano Martins a la poesía de nuestro continente? F.M. - Me parece una cosa entre el buen humor y la obstinación, que serían mis trazos absolutamente incorruptibles. Del resto, hasta el Diablo duda. Franklin Fernández (Venezuela, 1973). Artista plástico y poeta. Licenciado en artes plásticas mención pintura. Egresado del Instituto Universitario de Estudios Superiores de Artes Plásticas Armando Reverón, de Caracas (2003). Participó en los talleres de poesía del Centro de Estudios Latinoamericanos Rómulo Gallegos (Caracas, 1999). Ha publicado Breves (2000), y Simples (2005). Actualmente se desempeña como Vocal y colaborador en el Ateneo Miguel Otero Silva de Barcelona y como encargado de la tienda de arte de la Fundación Kuaimare: “La Red del arte Venezolano”. Entrevista traducida al español por Williams Guaregua y Floriano Martins. Contacto: [email protected] y [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Jaimes Freyre: agua poética para Borges Gary Daher Canedo . El gran aporte de la obra de Jorge Luis Borges es aquel que está simbolizado en el primer arcano del tarot, le bateleur, es decir, el hechicero capaz de acercarnos con magia a la literatura universal; ejercidas estas artes –las del mago- a través de un lenguaje preciso que gracias a la erudición y sus juegos ficcionales mantiene un fino y ecléctico humor, pero principalmente un tono moderno que nos hace sentir que la tenemos al alcance de la mano, como un regalo que se entrega con renovado brío. No sería entonces irreflexivo afirmar que su obra impele a regresar al camino que siempre le tocó a la literatura, el camino de la sabiduría. Pues Borges es, ante todo, el gran traductor de una vasta constelación de espacios literarios, elegidos con gran intuición estética, árbol que podemos llamar la lectura borgesiana, lleno de frutos, y ramas y hojas capaces de dar sombra, pero esencialmente de savia renovadora de nuestra mirada sobre la biblioteca. Acercándonos a cada anaquel de ella con verdadero amor, como hace el maestro, como haría aquel Magister Ludi, tan alto a Herman Hesse. Así, es tal la preponderancia de Borges en el contexto, que su voz se ha transformado en vía y camino de la palabra escrita, tanto que es imposible pensar el futuro de las letras de occidente sin la perspectiva llamada Borges. A través de él hemos podido regresar a las fuentes de la más deliciosa retórica. Su prosa se pasea con magistral pintura de delectación, ironía y conjetura por todas las épocas, para tocar en lengua castellana las llaves que hacen a las espléndidas puertas de la literatura de todos los tiempos. A este poeta –claro honor- es a quien evocamos hoy, leyendo y tratando de interpretarlo, al igual que hacen todos en muchísimas lenguas. Esta noche, sin embargo, he decidido no restringirme a hablar sobre Jorge Luis Borges, sino que utilizando el concepto de los vasos comunicantes, considero justo y adecuado estudiar su relación con Ricardo Jaimes Freyre; aquel, menos famoso que importante, poeta boliviano. Será mi afán el de demostrar que al menos tres espacios les son comunes; queriendo resaltar el hecho que Jaimes Freyre, siendo de una generación anterior, y fundador del modernismo, es precursor de Borges en aquellos asuntos. Diré, inicialmente, que no sería aventurado conjeturar que Borges quedó fuertemente conmovido por el libro Castalia Bárbara de Ricardo Jaimes Freyre. Pues, los poemas que constituyen parte fundamental de ese trabajo, tuvieron la originalidad de ser los primeros poemas escritos en castellano donde se desgrana la mitología escandinava, sintiendo ese aire que nos transporta al choque de los escudos y las lanzas con largo fragor siniestro, [1] tan oneroso al poeta argentino. Surge, además, como dato y como albur, que la primera edición fue publicada en Buenos Aires el año del nacimiento de Borges, es decir, en 1899. No es desconocido que Jorge Luis Borges se había sumergido con no disimulada pasión en los versos escritos en sajón antiguo y en lenguas germánicas, discurriendo eruditas conferencias sobre el tema como profesor del Curso de Literatura Inglesa en Buenos Aires, donde el Beowulf, Finnsburh, la Balada de Maldon, Oda de Brunanburh, y otros son tratados con gran magisterio. Así que, nos resulta difícil pensar que no haya caminado por las páginas de ese hermoso libro, especialmente cuando tanto gustaba repetir el poema que lo abre, a pesar que no tiene que ver con el tema de que tratan las líneas de Castalia Bárbara, como más tarde vamos a tener la oportunidad de comprobar. Es también apropiado resaltar que Borges parecía dudar de que alguien pudiera interesarse por esa extraña cultura que a él tanto lo llamaba, como ponen de manifiesto sus palabras en el prólogo a Historia de la Eternidad "El improbable y acaso inexistente lector a quien le interesen las kenningar puede interrogar el brevario Antiguas Literaturas Germanas que publiqué en México en 1951".[2] Ese desinterés, nos dice Fernando Molina en su ensayo Jorge Luis Borges en tiempos escandinavos, parece auténtico, pues ni el artículo ni el libro sirvieron para paliar el radical desconocimiento de las antiguas literaturas nórdicas de que hacían gala los historiadores literarios españoles (y creo que latinoamericanos). [3] En una larga entrevista con María Esther Vázquez, Jorge Luis Borges explica que llegó al mundo de lo escandinavo por el camino de lo anglosajón. Sin embargo, tiene que haberse gestado, al menos en semilla, con la lectura de Catalia Bárbara, y su -hermosa ventana a la mitología escandinava- retahíla: El camino de los cisnes, La muerte del héroe, Los Elfos, Los cuervos, el Walhalla, Aeternum Vale, poemas sobre los que Borges guarda un extraordinario silencio, limitándose a repetir aquél que sirve de pórtico. Por otra parte, nadie ignora que Borges tuvo especial deslumbramiento por Dante Alighieri, con quien mantenía encontrados sentimientos, y al cual, a pesar de profesarle clara admiración, sometió a ciertas irreverentes parodias, como las reflejadas en el famoso cuento El Aleph. Tema éste, el dantiano, en el que, además de la religión compartida, mantiene un cauce comunicante que en esta ocasión vamos a develar. Se trata de la idea que generó el bello ensayo que reflexiona sobre la escena que protagonizan Paolo y Francesca en el infierno, llamado El encuentro en un sueño, publicado dentro de Nueve ensayos dantescos, tema que descubrimos también en un libro de Ricardo Jaimes Freyre llamado Anadiomena, [4] donde encontramos el siguiente texto: Tortura Celeste Dice Francesca: -¡Oh Dante! ¿Por qué tu genio quiso crear este tormento digno del Paraíso? Borges, al finalizar su ensayo escribe: “… pienso en dos amantes que el Alighieri soñó en el huracán del segundo círculo y que son emblemas oscuros, aunque él no entendiera o no lo quisiera, de esa dicha que no logró. Pienso en Francesca y Paolo, unidos para siempre en su Infierno. (‘Questi, che mai da me non fia diviso…’ Con espantoso amor, con ansiedad, con admiración, con envidia.” [5] ¿No es admirable la común intuición? ¿Leyó Borges a Jaimes Freyre y guardó en su alma esa bellísima lectura del Dante, que fue macerando con el tiempo, como probablemente sucede con muchas de nuestras reflexiones? Podemos conjeturar que sí. La enorme consideración que Borges dedica a la música está directamente relacionada con la idea que sostiene Shopenhauer sobre la misma. “Sin mundo, sin caudal común de memorias evocables por el lenguaje, no habría, ciertamente, literatura, pero la música prescinde del mundo, podría haber música y no mundo. La música es la voluntad, la pasión.”, nos dice Borges en “Historia del tango”. [6] Aplicado esto a lo que en esencia interesaba a Borges, a la música verbal, diremos que la música vendría a ser el extremo vital de la poesía. La música como voluntad poética. Sin embargo, es relevante anotar que la música verbal tiene otro ritmo y otros modos distintos a los de la música tonal. Primero que su función no es matemática, es –digámoslo asíreferencial, yo siento que suena en el pentagrama de la memoria; no del tiempo, creando el pentagrama en el espacio y la cifra de la palabra, no del tiempo, riguroso y fatal de la secuencia tonal. Son las conferencias pronunciadas en Harvard en 1967 y 1968, bajo el título Arte poética, y en los que Borges se define con relación a la música verbal. Nos afirma que todo el arte aspira a la condición de la música, y eso es porque todo artista debería aspirar a devolver al lenguaje su cualidad de "mágico", donde las palabras resonaran con un poder tal que resistiera cualquier intento de definición de la poesía, de la palabra misma. Nos habla de la música en la poesía como un fruto de la fusión entre forma y contenido: "Muchas veces he sospechado que el significado es un valor añadido del verso. Sé a ciencia cierta que sentimos la belleza de un poema antes incluso de que empecemos a comprender su significado". A continuación pone el ejemplo de que él disfrutaba con los sonetos de Shakespeare sin preocuparse sobre lo que querían decir. En esta línea, es por demás interesante recordar la lectura al auditorio de un soneto, "Spinoza", en español, demostrando así su teoría: "El que muchos de ustedes no sepan español hace de él un soneto mejor. Tal y como he dicho, el significado no es lo importante, lo que importa es la musicalidad, un modo determinado de decir las cosas". [7] Es válido también recuperar de esas conferencias sus afirmaciones cuando nos habla de la traducción. El traductor, en consecuencia, no está siempre puesto frente a la alternativa de elegir entre conservar en su versión el sentido del poema o, más bien, su ritmo y musicalidad. Hay casos en los que este peculiar uso de la palabra le abre la posibilidad de recomponer el poema, de recrearlo fielmente, aunque no practique la traducción literal del mismo. La fidelidad de la traducción tiene que ver con el respeto por la emoción que el poema produce. Borges ofrece varios ejemplos de versos en inglés y uno, que cito en seguida, en castellano. Explica primero: “Me gustaría citar unos cuantos versos. Si no los entienden, pueden ustedes consolarse pensando que yo tampoco los entiendo, y que no tienen sentido. Bellamente, de un modo absolutamente delicioso, carecen de sentido; no pretendían decir nada. […] Peregrina paloma imaginaria que enardeces los últimos amores alma de luz, de música y de flores peregrina paloma imaginaria. Siendo Ricardo Jaimes Freyre principal cultor de la música verbal, pues en su Leyes de la versificación castellana, nos advierte sobre el verso libre: Y tiene una condición que le es propia, que le impide ser un simple híbrido de prosa y verso: la posibilidad de crear sus unidades de acuerdo con las ideas; unidades según las imágenes, según las figuras, según la lógica; la posibilidad de que cada pensamiento tenga su forma de desenvolverse, como el río forma su cauce, según la feliz expresión de Berrearen. [8] No es extraordinario pensar que esta definición, esta Ars Poetica, sería herencia de Ricardo Jaimes Freyre. Poeta éste cuya poesía es ajena a los juegos verbales, y por el contrario, a través de la metáfora transporta conceptos cuya profundidad es consecuencia de sus impenitentes lecturas de literatura del medioevo, especialmente del Dante. A continuación, me dedicaré a demostrar el sentido del poema Siempre. No para refutar a Borges, sino para saldar una deuda con Ricardo Jaimes Freyre. Pues, el hecho de que este poema tenga o no sentido no sería la cuestión, según el propio Borges nos ha enseñado. Ya Juan Siles Guevara, crítico boliviano, en el prólogo de 1970 a la séptima edición, nos devela, como quien da la cosa totalmente por sentada, que el poema Siempre que abre Castalia Bárbara significa la poesía. Asimismo, sin conocer esa opinión sentí yo de tal manera, que el texto que abre mi primer poemario, trata del mismo tema como un homenaje a Jaimes Freyre con el título de Mar Imaginario. Pero no dilatemos más y pasemos a analizar el soneto. Para lo cual empezaré repitiendo nuevamente los famosos versos. Peregrina paloma imaginaria que enardeces los últimos amores alma de luz, de música y de flores peregrina paloma imaginaria. Este primer cuarteto nos revela lo que para este poeta sería la poesía: luz, música y fragancia, cuyo estado corporal es el de una peregrina paloma, entendida en el sentido de la paloma mensajera, que tiene la faena de llevar papelillos de un lugar para otro, metáfora evidente de la poesía escrita; y si utilizada la acepción de peregrinación como la de aquél o aquéllos que toman el camino hacia lo sagrado, tendría la poesía la especial misión de llevar el poema, mensaje escrito, hacia algún santuario; también, y muy importante en el caso de Ricardo Jaimes Freyre, peregrina, tiene su primera acepción que es la designación para aquél quien anda por tierras extrañas. En este específico caso las tierras nórdicas, territorios de la mitología que va a enseñar en el libro que precisamente abre el poema. Y finalmente, será imaginaria porque el poeta considera que la poesía es producto del sueño. Poesía que Jaimes Freyre no puede dejar de pensar –no olvidemos la época- que ha de ser la que conmueva al enamorado, es decir que aguijonee el dolor de los amores perdidos, en este especial caso los recientes, es decir, los que todavía mantienen su llaga porque son los últimos que hemos tenido, y que ahora vivimos para recordarlos. Vuela sobre la roca solitaria que baña el mar glacial de los dolores haya, a su paso, un mar de resplandores sobre la adusta roca solitaria. En este segundo cuarteto se introduce la imagen del poeta a través de la metáfora de la roca. De este modo vemos al poeta solitario que vive agobiado por los dolores, que a la manera de olas frígidas lastiman su estructura adusta, en su acepción de retraída, aislada, que sería el poeta, tal como él mismo se ve. Y el poeta pide a la poesía que lo ilumine haciendo ese resplandor de compañía, que según parece es todo lo que puede hacer. Vuela sobre la roca solitaria paloma imaginaria, ala de nieve como divina hostia, ala tan leve. Y ahora una vez descrita la poesía, va a concluir intentando definirla; lo que haría a su corpus. En este primer terceto se ocupa de la palabra que arma el poema. Ala de nieve, pues a pesar de que las palabras escritas serían una estructura no humana, fría, ellas nos permiten volar. Divina hostia, por ser comunión permanente, y leve porque la comunión que permite la poesía no es sufrida, sino espiritual. Como copo de nieve, ala divina copo de nieve, lirio, hostia, neblina peregrina paloma imaginaria. En el segundo terceto trata de la belleza y la divinidad de la poesía. Así, copo de nieve, que es una estructura cristalina y bella, se transforma en un ala divina, es decir, que permite un vuelo digno de los dioses. Finalmente recopila sus definiciones y agrega dos necesarias: el lirio, símbolo de la pureza, y la neblina, símbolo del misterio, tan caro a la poesía. Hasta aquí esta intervención atroz. ¿Cómo creen que me siento? He utilizado el puñal. He lastimado al poema. Así, sucio ya por la sangre que significó descabalarlo, pero que al igual que un sacerdote comprende el sacramento del sacrificio, el poema queda dilucidado. Sería pues, el poema titulado “Siempre” una altísima definición de poesía, a quien el poeta trata de tú, en uno de los versos más musicales de la lengua castellana. Una verdadera joya. Todo esto, dirán ustedes, y no sin razón, no ha tenido que ser foráneo al genio de Borges. Sino muy profundo, tanto que llega a usar este poema como enseñanza de lo que él mismo preconiza como poesía, es decir, la música, poema cuyo sentido se refiere precisamente a eso, es decir a la poesía. ¿Qué mejor tributo se puede rendir en la óptica de Borges a un poema cuyo sentido es la propia poesía, que sin decir nada a la manera de la música lo dice todo? Los sones están dados y el entresijo develado. Quién puede dudar entonces que Ricardo Jaimes Freyre sirviera de fuente del patio secreto, donde la obra fluye y entrega agua poética y sal –a la sombra de la música modernista- para la sed inagotable y prolífica del más grande escritor hispanoamericano del siglo XX. NOTAS 1. El Walhalla, Castalia Bárbara. Ricardo Jaimes Freire. 2. Historia de la Eternidad, Jorge Luis Borges, Emecé, 1953. 3. Jorge Luis Borges en tiempos escandinavos, Fernando Molina, revista digital La hoja latinoamericana, julio-agosto 1998 4. Poesías Completas, Ricardo Jaimes Freyre, Ministerio de Educación y Bellas Artes, Biblioteca de autores bolivianos, 1957 5. Nueve ensayos dantescos. Espasa-Calpe, 1982 6. Jorge Luis Borges, Evaristo Carriego. Alianza, 1990. 7. This Craft of Verse. The Charles Eliot Norton Lectures 1967-1968, Presidente and Fellows of Harvard Collage, 2000 8. Poesías Completas, Ricardo Jaimes Freyre, Ministerio de Educación y Bellas Artes, Biblioteca de autores bolivianos, 1957 Gary Daher Canedo (Bolívia, 1956). Poeta, ensaísta e tradutor. Autor de livros como Errores compartidos (1995), Cantos desde un campo de mieses (2001), e Oruga interior (2005). Conferência realizada no Centro Simón I. Patiño, em Santa Cruz de la Sierra (Bolivia, septiembre de 2005). Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Juan Calzadilla: no hay más que lo que uno no encuentra [entrevista] Víctor Rodríguez Núñez . Lo conocí en Caracas. No en la capital de Venezuela, la ciudad de la cual es el poeta más característico, sino en la calle del farragoso centro de Medellín, que poco tiene que ver con la poesía. Y bajo un sol que rajaba el alma. Ambos caminábamos por la misma acera, aunque en sentido contrario, y lo abordé sin mayores precauciones. Como se debe hacer con alguien que se ha atrevido a confesar que “En mi entierro iba yo hablando mal de mí mismo/ y me moría de la risa”. En un mundo donde es cada vez menos frecuente encontrar la inteligencia, el humor, la calidez y la poesía, Juan Calzadilla tienen mucho que ofrecer de todo eso, con su escueta persona y con su vasta obra. En Ciudadano sin fin (1970) recopiló los textos fundamentales que escribiera desde 1954, año en que publicó sus Primeros poemas. Su segunda antología personal, Minimales (1993), reúne poemas de sus libros posteriores. Sin rodeos, comenzamos este diálogo que ojalá no termine nunca. En menos de cinco minutos nos hicimos cómplices y planeamos ciertos nobles crímenes. Seguramente, nos conocíamos de alguna otra vida, pasada o futura. Haber nacido -en 1931- en un pueblo llamado Altagracia de Orituco, no abre un nuevo capítulo del realismo mágico. Juan es el poeta de la ciudad, el campesino no de París sino de Caracas... ¿La calle de Medellín donde nos conocimos? Las preguntas formuladas son fragmentos aforísticos extraídos de los libros de Juan Calzadilla titulados Una cáscara de cierto espesor (1983) y Minimales (1993). [VRN] - Ciudadano de un bosque encantado, al cabo de haberme internado en él me descubrí campesino de la ciudad. JC - Escribir poesía no fue para mí una elección sino consecuencia de un proceso natural. Uno desde joven lo intenta y, de alguna manera, continúa y se ve a la larga impelido a hacerlo. La elección es posterior a la comprobación de una aptitud, que se va haciendo realidad a lo largo del trabajo. Se trata, en fin, de una necesidad expresiva. Como poeta me inicié a los 23 años, recién salido del Liceo, escribiendo una poesía afín a la lírica española. En ese momento descubrí un nuevo universo. Yo procedo de la parte contestataria, de la oposición política que se dio en Venezuela a finales de los años 50. Comencé a escribir en un pueblo apartado de la provincia, en los intervalos de la lucha política que se libraba contra Pérez Jiménez. Como tenía que estar mucho tiempo enconchado, leía muchísimo. En esos momentos nació, motivada por la lectura de los clásicos españoles, una gran necesidad de expresarme. Escribí un libro y lo envíe a un concurso en Caracas, organizado por el Festival Mundial de La Paz, y me gané el premio que consistía en un viaje a Moscú. En ese momento quedé comprometido con un destino literario, que de inmediato se bifurcó. Por un lado, la investigación y la crítica de arte, con lo que me he ganado la vida. Y por el otro, la poesía por cual he pagado con mi vida - Somos a causa de la semejanza que a cada instante mantenemos con nosotros mismos. Por esto, más que singulares, somos sencillamente obvios. Existir es la prueba más palpable de que nos repetimos. JC - Todos los poetas latinoamericanos tenemos dos nutrientes básicos. El primero, nuestra propia tradición, el mundo de uno, y el segundo, la influencia exterior, internacional. Resulta imposible que un poeta prescinda de ambas cosas, o que dependa exclusivamente de alguna de ellas. En el marco nacional, en lo que nos rodeaba, hubo dos poetas que sirvieron de ejemplo: Vicente Gerbasi y Rodolfo Moleiros. Este último es poco conocido, pero fue un poeta de mucho rigor, estudioso de la poesía y, sobre todo, muy comunicativo. El hacía una poesía con métrica, dentro de la tradición lírica española,, pero de corte moderno, influido por las teorías de Valéry. Es decir, un poeta de tono íntimo pero que estimuló mucho en nosotros la creación, que representó mucho para la juventud de la época de la dictadura. De cierta manera, nos abrió los ojos ante la necesidad del rigor, de hacer las cosas con continuidad. En lo internacional, se presentó una alternancia, algo así como dos fases: primero, un estadio enmarcado en la literatura española, los modelos clásicos que uno conoce en la universidad, la primera influencia que se recibe; segundo, los poetas del Renacimiento y otros más cercanos en el tiempo. Mis Primeros poemas fueron escritos en versos rimados. Eso ocurrió antes de que se produjera una especie de ruptura, la aparición de otros elementos que influyeron en nuestra generación. - La poesía es una rama de la gramática de la cual, a veces, brotan flores. JC - Yo creo firmemente en la posibilidad de un aprendizaje de la poesía. Es algo que podemos considerar, sobre todo, como la adquisición de la destreza del lenguaje. No creo que uno vaya a hacerse poeta porque estudie la manera de hacerlo, no. Lo primordial aquí es la necesidad expresiva, que exista esa vocación que pugna por manifestarse, ese desasosiego que uno a veces experimenta frente al paso vertiginoso del tiempo: ahora o nunca. O sea, la urgencia de utilizar las palabras para decir algo que, cuando uno está muchacho, resulta sumamente vago, pero que después va tomando forma. Así que hay dos momentos: el del aprendizaje y el de la vocación. Yo creo que un poeta sale, en lo fundamental, del ejercicio de la prosa. Difícilmente un poeta que no practique la prosa, que no la emplee cotidianamente, llega a tener buen manejo del lenguaje, de esa herramienta fundamental para la poesía. En mi caso, lo primero que aprendí fue a ganarme la vida escribiendo artículos. Me hice de un buen instrumental en la prosa, y eso me ha facilitado el acceso a la poesía. Incluso, en mis últimos años he vuelto a la prosa para reencontrarme con la poesía. - Lo que hace a un hombre de derecha ser de derecha es que piensa y actúa como un hombre de derecha sin que tenga que pensar como un hombre de derecha. Lo que hace a un hombre de izquierda ser de izquierda es que puede limitarse exclusivamente a pensar como un hombre de izquierda. JC - Soy parte de la llamada Generación de los 60. De cierta manera, es un término que no define lo que pasó en nuestra poesía a partir de esos años decisivos. No se puede decir que existiera un movimiento, una agrupación coherente como se han dado en otros momentos. Yo pienso que pertenezco en definitiva a una generación que se caracteriza por tener definido un compromiso. Por supuesto, es importante tener conciencia de generación. La generación es la forma concreta en que se manifiesta una ideología; en el caso nuestro, contestataria contra el sistema y contra ciertos valores literarios establecidos. En nuestra generación hay poetas de mucho peso, de mucha solidez. Ellos se manifestaron en un doble sentido: uno, respondiendo a lo que estaba pasando en materia de valores poéticos, y otro, tomando una posición ética ante la situación política que vivíamos entonces. Para la mayoría de nosotros, fue una necesidad luchar y comprometernos, incluso hasta empuñar las armas. Esa situación, que hace que el poeta se enfrente, respondió a una coyuntura muy particular. Ese momento histórico, que tuvo incidencia sobre la poesía y que no se ha vuelto a dar, es lo que marca la diferencia. Los poetas que vinieron después, en los años 70, se caracterizan por la disolución, casi total, de ese componente ideológico que animó a los poetas de los 50 y los 60. - El gusto de mi generación por la violencia. Pero no tanto por la violencia misma, como por las palabras violentas. Se ve que andaba metida en el tráfico. JC - No sé por qué se habla tanto de los grupos, que casi siempre son sólo un mito. El grupo Tabla Redonda fue un gremio que participó de determinadas posiciones, en cuanto a la concepción de la poesía y de la sociedad. Yo pertenecí al que llamaban El Techo de la Ballena, que tenía una posición comprometida políticamente pero que, en el lenguaje propiamente poético, buscaba una gran libertad. Nos gustaba confrontar la violencia por una vía no cartelaria, éramos disidentes del dogmatismo marxista. Por su parte, Tabla Redonda seguía los lineamentos políticos de la izquierda oficial. Había una gran diferencia entre la poesía nuestra y la de ellos, lo que nosotros hacíamos no iba con la ortodoxia. Hoy yo no hago distinción entre los poetas de esos dos grupos, porque la realidad cambia y esos cambios llevan a criterios diferentes. No puedo decir que los buenos éramos nosotros y ellos los malos, pues en los dos grupos había poetas interesantes. En Tabla Redonda estaba Rafael Cadenas, muy reconocido y quien luego, de escribir una poesía comprometida, desembocó en un registro místico, apartado de las posiciones iniciales de Tabla Redonda. Otro caso parecido: Arnaldo Acosta Bello. Y en el grupo del Techo de la Ballena estuvo Caupolicán Ovalles, la figura que destella en los primeros momentos. El poeta puede encarnar, de muchas maneras, la actitud libertaria. -¡Qué fácil ser poeta cuando se tiene como lícito atribuir más sentido a las palabras que a las cosas! JC - No creo que la poesía esté llamada a convertirse de un medio en un fin. Yo creo que esa estética del arte como finalidad en sí mismo está por lo general relacionada con la decadencia. La poesía ha dado un viraje, ha cambiado mucho de los años 60 a la fecha. Hoy la poesía se inclina hacia lo urbano, al uso del vocabulario común, al ir directamente al grano. Evidentemente, eso le comunica un rasgo poco formalista y se pierde el concepto de su autonomía, puesto que debemos comenzar a considerarla como un medio. No estoy de acuerdo con William Carlos Williams en que la función de la poesía sea revelar. Yo lo admiro porque él fue de los que avizoraron un nuevo campo para la poesía: el de las cosas cotidianas. Más que revelar, la función de la poesía es hacer trascender al lenguaje con que se expresan las cosas de todos los días. El concepto de revelación es metafísico y, por consiguiente, más exclusivo de lo que se podría pensar. Tampoco estoy de acuerdo con Matisse en que todo esfuerzo de creación es interior, que una obra de arte no es auténtica si no está hecha por la interioridad. Pensar en esos términos es aceptar que existe un lenguaje específico para la poesía que no es válido para todo los demás géneros o formas. Cada cual tiene su manera propia -a través de la interiorización, a través de la experiencia- de tratar el lenguaje. Pero sin la exteriorización no podría hablarse de la poesía. - No necesitas proponértelo. Sólo tienes que desearlo. JC - Poe decía ser capaz de detallar, paso a paso, el proceso por medio del cual había creado un texto. A mí me pasa más o menos lo mismo. La poesía de esta época se caracteriza por haberse vuelto muy consciente de sí misma. Hasta el proceso de su gestación se ha convertido en algo más importante que el resultado. Sí, la poesía ha hecho una profunda y sincera autocrítica. Yo me reconozco en esa forma de definir la poesía que la presenta como obra abierta. Como obra abierta no de manera concluyente, sino como un resquicio para entrar y salir de ella, de convertirla en puerta de la realidad, para interrogarnos. Por eso estoy muy lejos del modelo que prevalece en mi país, esa vaina del poema como una realidad autónoma. Hay una poesía abierta y otra cerrada, y la poesía de hoy debe ser abierta. O sea, cuestionar permanentemente su formulación, caer constantemente en la contradicción y en la ruptura del estilo. Yo tiendo a plantearme la poesía como una experiencia inmediata en la comprensión de la realidad. Una poesía basada en lo cotidiano, en lo que pasa a mi alrededor, en lo que leo. Una poesía que toma como pie lo que otros han dicho y que elimina toda pretensión metafísica. - El fulgor del concepto detrás de las palabras. Y eso a veces, cuando éstas son capaces de florecer. No importa en qué estación. JC - Insisto, me parece poco feliz la tesis de Williams sobre el poema como artefacto mecánico hecho con palabras y destinado a trasmitir una idea, un sentimiento. Esa es la línea de poesía que me trataron de inculcar en la juventud y que ahora vuelve a tomar cierto auge en Venezuela. Esto siempre se ha considerado como una solución última de la poesía, cuando se cree que la forma prevalece y que el sentido está agotado. Es lo que se ha dado en llamar poesía visual, concretista. Me declaro enemigo de considerar a la poesía un objeto en sí mismo, como está pasando nuevamente hoy. El principio de la modernidad está en la utilización de los medios que proporciona la tecnología. La televisión, la fotografía puede ser usada por la poesía, pero no la sustituyen. Es decir, la poesía es un género que no progresa. Tampoco creo que el poeta, como sostenía Baudelaire, pierde fuerza cuando persigue un fin moral. Breton no lo consideró un surrealista porque veía en él una conciencia demasiado religiosa. Baudelaire rezaba sus oraciones todos los días. ¿A quién? A dios o al diablo, no importa, pero las rezaba. - No escribo sobre aquello que pasa por mi cabeza. Escribo más bien sobre aquello por lo que mi cabeza pasa. JC - La inspiración es el trabajo diario, la capacidad del hombre para concentrarse en su obra. No es algo que llega de buenas a primeras, se construye como el poema mismo. Por su parte, la originalidad es un término que está muy cuestionado, hoy casi nadie la busca. Tenemos una gran libertad para manejar los recursos, tanto del presente como del pasado. Y la perfección tampoco existe. Alguien dijo que lo considerado perfecto no puede llevarse a cabo, que todo es por naturaleza imperfecto. Tú has escrito un poema y, una vez terminado, puede ser cambiado, corregido. Yo creo en la perfección sólo como un afán de lograr la mayor limpieza, la armonía entre la forma y el sentido, la palabra que envuelve lo que quieres decir, en sus partes y en su totalidad. Lo perfecto se da cuando estás de acuerdo con lo logrado, la sincronización entre la forma y el sentido. Pasa que en la poesía contemporánea se está imponiendo la forma, desplazándose poco a poco el contenido, imponiéndose la estructura gramatical como núcleo. Pero yo voy más al sentido que a la forma. - A los consumidores y posibles usuarios de la poesía se les informa acerca de los riesgos a que los expone el hecho de que, después de cierto tiempo, puedan llegar a comprobar que este producto nunca estuvo de moda. JC - No creo que la poesía no tenga, hoy, la presencia y la difusión de otras épocas. A menos que se hable de antes de la Segunda Guerra Mundial, cuando la poesía tuvo mucho más presencia pública y los poetas cumplían una función social. La poesía se concibió entonces como medio de comunicarse, se ejercitaba como cuando era expresión oral. Evidentemente, nosotros no tenemos en la actualidad los grandes poetas de hace 50 años. Esto está compensado por la riqueza y diversidad de la poesía actual. Existe una crisis de la poesía, porque ésta se ha vuelto más polifacética, se ha multiplicado. Y el poeta ha llegado a un escepticismo en cuanto a cambiar la realidad, se niega a presentarse como una persona optimista. En esa crisis la poesía trata de encontrar una tabla de salvación en la reflexión sobre ella misma. Claro, se puede decir todo con la poesía, bien con una poesía cifrada, bien con una poesía directa. Yo he cultivado otros géneros literarios, he hecho ensayos narrativos pero sin mucha fortuna. Tengo una novela en lenguaje surrealista, que data de 1973, llamada Bicéfalo. La poesía es un registro de la intelección del mundo, es una forma de conocimiento y, si eso no se da como síntesis verbal, se da de todos modos. - Quien se mira en el espejo no está en él más que porque se mira. JC - La cercanía con las artes plásticas no me ha alejado de la poesía sino todo lo contrario. Como ya dije, más bien el manejo de aptitudes para la crítica me ha favorecido como poeta. La prosa es un instrumento de perfeccionamiento, te ayuda a analizar las cosas con palabras, lo que no brinda fácilmente la poesía. Esta última es un género ya armado, donde la reflexión se da posteriormente. Si alcanzas un dominio de la prosa, escribir poesía será mucho más fácil. La otra cosa es que soy un sujeto muy visual, y lo he expresado a través de la pintura, de la caligrafía como forma de construir el texto, y de otra manera a través de imágenes plásticas. Hay que señalar que lo visual es ingrediente de la poesía. De manera que poesía y pintura son concomitantes, son dos lenguajes que salen de un mismo tronco. ¿Por qué predominan los poemas pesimistas sobre los alegres? Porque estamos viviendo una época de reacomodo de todas las fuerzas, una época de mucho escepticismo. El pesimismo se refleja sobre todo cuando se enfrenta lo social. La poesía ha perdido últimamente su función social. Ahora atañe sólo a la condición existencial del poeta, como un ser desamparado que siente el desgarramiento del lenguaje. Es calamitoso lo que estamos viviendo hoy. Pero no hay que negar que eso les da, a los poetas, un gran estímulo para realizar su obra. - Yace aquí quien pensaba que también de este trance se podía librar. Víctor Rodríguez Núñez (Cuba, 1955). Poeta, periodista, crítico y profesor universitario. Durante la década de 1980 fue redactor y jefe de redacción de El Caimán Barbudo, donde publicó más de un centenar de trabajos sobre temas culturales. Ha publicado Noticiario del solo (Premio Plural, 1987), El último a la feria (Premio EDUCA, 1995), y Oración inconclusa (Premio Renacimiento, 2000). Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 La mariposa de Brodsky Víctor Toledo . En un rincón del blanco congelado, cruzado por calles sombras en las que sólo aparecían bellas borrascas con forma de mujer, al fondo de una tímida llama de un departamento de Moscú, con quebradizas ventanas que se enredaban al color rojizo de los geranios que las abrasaban, por primera vez hablaba del poeta nacido un 24 de mayo en el Leningrado de 1940, Iosif (Joseph) Brodsky. Con la aún joven pero ya reconocida poeta Olga Siedakova, la conversación giraba con el ritmo de la mano de la tormenta, como si cariñosamente diera vuelta a una página de Noches Blancas de Dostoievsky. De Brodsky me intrigaba el abismo que encontraba entre sus mejores poemas y algunos otros. Olga, en tono socarrón, me decía que si el ciclo de poemas Divertimento mexicano -que, no obstante, llega a tener imágenes muy bellas- fuera anuncio turístico, no se interesaría por mi país. En uno de los diarios literarios de Moscú, en entrevista reciente -avanzaba el invierno del 89- Brodsky, un Apolo en la nieve, es decir un verdadero poeta (según la descripción de otro poeta leningradense, Aleksander Kushner, amigo y contemporáneo suyo), se refería a los versos del gran poeta ruso Borís Pasternak con el calificativo de “versitos”, este poeta era mi favorito y la musa también lo amaba, así que no coincidíamos con la afirmación crítica de Brodsky en un repaso exageradamente severo -creo yo- por la literatura rusa de este siglo. [1] Dudaba de mi ruso al inquirir a Olga por mi lectura de aquellos versos -estos sí, “versitos”- de Brodsky que no me gustaban pero la poeta (hija de un oficial de la armada soviética por lo que el departamento -kuartiriaen que nos encontrábamos tenía más de Cuarto y medio, no como el del famoso poema que escribió Iosif a la muerte de sus padres) coincidía conmigo otra vez. ¿Por qué Brodsky no aplicó su siempre implacable y erudita aunque polémica- crítica a todos sus poemas? La paradoja se resuelve en que quizá no hubiera podido escribir ese enorme copo luminoso de palabras montañas que lo convertiría -coincido con su amigo Paz- en una de las voces esenciales de nuestro siglo. En una de más esenciales y originales, añadiría yo. Asombra su temprana madurez, su capacidad poética innovadora y su profundidad filosófica en poemas escritos alrededor de los veinte años como La elegía mayor a John Donne. Hondura que nunca perdió en sus ensayos, muchas veces reivindicativos de la esencia clásica. Brodsky en sus mejores poemas -como La mariposa- alcanza la genialidad, el poema Nocturno lituano: a Tomás Ventzlov es otro ejemplo. El penetrante reflejo del Báltico se forjó en los preceptos de la escuela formalista de Leningrado, [2] hoy, otra vez Sankt Piterburgo (la más formalista del universo creo yo), que exigía la mayor profundidad filosófica y el más alto rigor conceptual unidos a la forma más transparente. Fue definitiva la arquitectura de esta ciudad y las circunstancias de su fundación y desarrollo para tan peculiar estilo (por cierto, el hecho de haber dejado de ser la capital, con el ascenso de Lénin en 1918, provocó el torpe y absurdo -pero significativo- enjuiciamiento de Brodsky, que no se hubiera dado en la bullente Moscú; en la congelada Peter se aburrían demasiado los policías del partido, mientras en el nuevo centro no se bastaban para los asuntos principales nacionales e internacionales. Había que buscar una justificación a su comisaría). El poeta concientizó “en el rabo de la memoria”, con detalle, la relación entre arquitectura y poética: el San Petersburgo del siglo XIX, (…) se volvió lo bastante occidental como para permitirse incluso un cierto grado de menosprecio respecto a Europa (…) sobre todo en la literatura, tenía muy poco que ver con la tradicional xenofobia rusa, a menudo manifestada en forma de un argumento como la superioridad de la ortodoxia sobre el catolicismo. Era más bien una reacción de la ciudad ante sí misma, (…) de ideales profesados ante la realidad mercantil, del esteta ante el burgués (…) en ese menosprecio había un algo de índole religiosa. Toda crítica de la condición humana sugiere el conocimiento, por parte del crítico, de un plano más alto de apreciación, de un orden mejor. Tal era la historia de la estética rusa que los conjuntos arquitectónicos de San Petersburgo, iglesias incluidas, eran -y siguen siendo todavía- percibidos como la encarnación más cercana de semejante orden. En cualquier caso, el hombre que ha vivido el tiempo suficiente en esta ciudad tiende a asociar virtud con proporción. Esta es una antigua idea griega, pero, plasmada bajo el cielo septentrional, adquiere la autoridad peculiar de un espíritu bien fortificado y como mínimo, hace que un artista sea muy consciente de la forma. Esta clase de influencia es especialmente clara en el caso de la poesía rusa o, para nombrarla de acuerdo con su lugar natal, la poesía petersburguesa. Durante dos siglos y medio esta escuela, desde Lomonosov y Deryavin hasta Pushkin y su pléyade (Baratinski, Vyazemski, Delvig), hasta los acmeístas -Ajmátova y Mandelstam en este siglo-, ha existido bajo el mismo signo bajo el cual fue concebida: el signo del clasicismo. [3] Dostoievsky creía que este era “el lugar más abstracto y premeditado del mundo”, el ballet aquí -con Ana Pavlovnaevolucionó como estructura sinfónica, y el tiempo se volvió mítico porque el mito le pertenecía a la creación de esta ciudad que, reflejándose en los múltiples espejos de las ramas plateadas del Neva, recreó también su particular vislumbre narcisista. Los edificios apuntalados con pilares de bosques y almas muertas, dieron lugar a “una búsqueda de un sostén metafísico de la palabra” según Tatiana Bubnova que profundizó en esta poética como en una complejidad de ritmos y ecos de voces de los siglos XVIII y XIX, y una entonación que traza un puente con la Generación de Plata rusa vinculada con las poéticas del siglo XX, y entre ellas, destacadamente el simbolismo y -desde luego- el akmeísmo: No obstante el intenso trabajo rítmico-semántico al que Brodsky somete el lenguaje poético no permite reconocer en el resultado sino un guiño hacia el rigor y el purismo tradicionalistas. Dentro de esta tradición el orden formal se basa en la versatilidad del sistema acentual y la variedad morfológica de la lengua rusa. El ruso, a despecho del peligro de repetir infinitamente un corpus limitado de rimas, hace posible -debido, por ejemplo, a los complejos sistemas de declinación nominal y de conjugación verbal- que una misma palabra se presente bajo distintas variantes formales. Es por eso que a menudo el pensamiento poético ruso busca caber en un sistema más cerrado y ordenado de la armonía versal que, por ejemplo, cualquier lengua romance permita. [4] Sujeta a múltiples inflexiones, para el poeta, su lengua madre, por su sistema declinativo, se convierte en un estereoscopio donde se atrapa mejor el tiempo, ya que agudiza la percepción, pues el nombre, el adjetivo o el verbo pueden finalizar la frase o variar su forma según el género, el número o el caso. La versatilidad morfológica significa una gran riqueza de ritmos y rimas y en una tradición fundada en la consonancia, el sistema se vuelve más flexible e infinito al dar cabida a la asonancia. El complejo orden rítmico de Brodsky, no obstante, nunca lo remite, si obviamos la generalidad, a un esquema ulterior y sólo como un lejano eco se capta la relación con un modelo previo. La labor del profundo y ramificado discurrir del Neva entre sus puentes, como lenguas blancas y heladas, realizó una drástica transformación en la materia fónica. La lectura en voz alta -típica de la poesía rusa- resulta difícil de reproducir por vez primera por su nuevo ritmo y no por su falla: sí por su originalidad, la imaginación de un sonido jamás oído pero que ya existía. Así el sentido. Brodsky no omite o castra las secuencias sintácticas, su fraseo transcurre pleno y sus analogías, antítesis y correlaciones, como sistema, son más que paralelos de giros y cláusulas: la función o el sentido del régimen sintáctico se ha desplazado y, eterna y etéreamente, surgen -desplegándose y autorreproduciéndose- complejas imágenes y saltan violentas analogías. El impulso poético del río tiene un claro reflejo en la maraña sintáctico-semántica. “Si sumamos a esta difícil claridez clasicizante -dice Bubnova- la ambición metafísica (…) obtendremos una figura patética y controvertida de un poeta que pone a prueba , dentro de una escala universal de los valores, todo su ser en las palabras, apuesta existencial en la que sabemos se le ha ido, y tal vez se le siga yendo, la mitad o, quizá, una porción más grande de la vida”. [5] La manera visual, imaginativa, en que la arquitectura de la fabulosa ciudad influyó en Brodsky es múltiple (con dos fuertes características: en la exterior, ya dijimos, el rigor de la arquitectura -racional, clásica, barroca y del siglo de las Luces- conjuntamente con el espacio absoluto que los arquitectos franceses, italianos y alemanes que proyectaron, jamás -por dimensión y economía- hubieran podido encontrar en una capital de Europa central u occidental; en lo interior, el minucioso detalle, obligado por el sistema comunal de vivienda soviético, de diminutos departamentos, subdivididos, por regla, abstractamente: combinado con el fino trabajo de decoración de su edificio, admirado desde niña por Ajmátova; y del mobiliario de su familia. Además de que el invierno afina las lentes al pulir los cristales del aire; la luz septentrional es “pálida y difusa, una luz en la que tanto la memoria como el ojo actúan con inusual nitidez. Bajo esta luz, y gracias a la rectitud y longitud de las calles, los pensamientos del caminante viajan más allá de su destino, y un hombre con visión normal puede distinguir a más de un kilómetro de distancia el numeró del autobús que se acerca o la edad del individuo que le viene siguiendo los pasos”. [6] En la poética de los grandes poemas de Brodsky (la “Elegía mayor a John Donne”, “El grito del azor en el otoño”, “La estrella de navidad” -donde la estrella es el niño dios, dios, y la nube el pesebre-, “La mariposa”, etc.) se pasa del ínfimo e íntimo detalle a una visón -por medio de una especie de vuelo mefistofélico de Walpurgis- periscópica, aérea, ubicua, omnisciente, infinita, cósmica. El detalle realista se exacerba a tal magnitud que la mirada penetrante del azor (poeta) logra otra dimensión poética: una introyección en la realidad a través del microscopio telescópico de la lengua que crea una técnica (recuerda a la de Derek Walcott) que comunica -uniendo como los puentes de San Peterburgo- la realidad (real) con la poética. Fundiéndolas sólidamente, de tal manera que las imágenes son más potentes y verosímiles y las visiones del mundo (tanto hiperrealista como sensible) se amplían mutuamente, se potencian. Resulta un poderoso universo poético que a través del mínimo detalle observa al infinito, e inversamente, la inmensidad da cuenta de la verdadera grandeza de lo minúsculo: humano o cosa (e aquí una connotación política -indirecta, pero más poderosa, como debe de ser en la gran poesía-: Stalin y la dictadura militar no entendían lo sagrado de una vida humana, por su misma individualidad irrepetible). Todo esto va aunado, además, con metáforas sencillas, comparaciones de tipo clásico y con el hecho de que el detalle realista pasa a ser un concepto metafórico y viceversa, para reforzar el tejido de una trama mayor: una gran metáfora conceptual, globalizadora, moderna y clásica, del poeta y su geografía, el poeta y su tiempo, el poeta y la historia, el poeta y el tiempo, el poeta y la lengua que también transforma al tiempo, el poeta y su tradición, el poeta y el sentido verdadero de la poesía. De las maravillosas figurillas de porcelana que traía su padre el capitán de la marina rusa, Alexander Brodsky- de la mítica China, y que coleccionaba con sus paisajes y escenas diminutas, pero vivas, dentro del pequeño “cuarto y medio”; heredó el gusto por el detalle, la lejanía y la libertad: un arraigado vicio por el azul del horizonte. También los uniformes-brisa, altamente varoniles y elegantes, con dos hileras de botones dorados como iluminadas avenidas interiores “tenían todo el aire de ser los instrumentos de un ideal perfecto y abstracto, en nada menos precisos que los astrolabios montados en bronce, las brújulas, los catalejos y los sextantes que relucían a su alrededor. <En el museo de fotografía de la marina que dirigía su padre, además excelente fotógrafo> ¡Sabían calcular la situación de una persona bajo los astros con un margen de error más pequeño que sus amos! Y uno no podía por menos que desear que gobernasen también las aguas humanas: ponerse a merced de los rigores de su trigonometría antes que de la burda planimetría de los ideólogos, ser una ficción de la visión, tal vez de un espejismo, en lugar de ser parte de la realidad” [7] Si esa era la ciudad, sin embargo, “donde resulta algo más difícil soportar la soledad en comparación con cualquier otro lugar, porque la misma ciudad está solitaria”, por lo mismo, como equilibrio y armonía, el espacio “tiene mente propia y genera su distribución, existe la posibilidad de que esos metros cuadrados (de su departamento familiar de juventud) también me recuerden con cariño”. El espacio piensa para hacer más trascendente, superando la lógica matemática, una ya mítica ecuación: Menos que uno = a Uno y medio. La misma operación de Nostalgia de Tarkovsky: 1+ 1 = a tres, trinidad poéticodivina. No volvió a ver a sus padres después del exilio, pero les hablaba semanariamente esperanzado -como ellos- cruel y eternamente en el reencuentro. Al morir estos, se transformaron en las negras cornejas que posadas en el hilo del teléfono, su cordón de plata umbilical, del bosquecillo del patio de su casa americana, lo acompañaban en su doble soledad de exiliado. El poema “La mariposa”, (sus catorce estrofas conforman la figura del vuelo de la sombra del coleóptero -las palabras- sobre la página en blanco), una de las más grandes reflexiones existenciales de la literatura, surge del detalle diminuto observado por la lupa cósmica de la muerte -comparable filosófica, simbólica y estéticamente con la altura alcanzada, la mayor del género, por los poemas nahuas-, donde a lo efímero de la vida-materia, escritura-vuelo, le asigna el valor de reflejo espejeante de la trágica eternidad. Está escrito intencionalmente con un ritmo seco, solemne, filosófico, casi antipoético. No así la elegía a John Donne, que parece reflejar el ritmo más hondo del alma de las cosas, los más de 160 movimientos secretos del planeta, que conmovidos, son tocados por la inercia de la muerte del poeta. Sus maestros vimos- fueron sobre todo los poetas de Leningrado, los akmeístas o adamistas (puristas), la escuela contraria a los futuristasvanguardistas moscovitas, que, unidas alzaron el mayor destello poético ruso después de Pushkin: la Generación de Plata (aunque la contienda poética y la historia final no fue tan cerrada, como la de los contemporáneos y los estridentistas, grosso modo si podríamos hacer un parangón). El poeta Pasternak al que se refería Joseph Brodsky despectivamente -no sin reconocer su gran importancia- pertenecía a la escuela moscovita (con éste coincidía en la tradición rusa de escribir cada año un poema la víspera de Navidad). La otra escuela, vimos, más apegada a la tradición clásica (tanto griega como rusa), más suya, tenía como cabezas a Osip Mandelshtam y a Ana Ajmatova. Quizá esto explica su actitud, porque el poeta criticado por él severamente nunca tuvo tan abisales altibajos ni la cantidad de versos simplistas que, en ocasiones, tuvo el hijo predilecto de los akmeístas. No voy a caer, entre otras cosas, por el poco espacio no del departamento de Olga sino de estas páginas, en el casi amarillismo político de muchas de las notas sobre Brodsky aparecidas después de su muerte: todo gran poeta -sobre todo rusotiene su leyenda (aún poetas como Wallace Stevens: su antileyenda de vida y poesía diltheyana es su leyenda). No abundaré en su encarcelamiento (de 1963 al 65) y su posterior exilio en los Estados Unidos (1972, antes recibió el valeroso apoyo de Marshak, Shostakovich y Ajmátova, entre otros) por juzgarlo la corte soviética un parásito social: -“Qué hizo usted de tal año a tal año” interrogó el fiscal. -“Escribí libros de poemas” contestó el poeta. -“No se burle de la corte eso no es trabajo” gritó indignado el juez. No insistiré en que después del exilio su mayor castigo fue no ver jamás a sus padres, ni hablaré de su niñez judía-rusa marcada con el cerco nazi a Leningrado, de su juventud a veces desordenada como cuando no lo recibió, por llegar borracho, “la reina” , su querida maestra, Ana Ajmátova: fue la última vez que pudieron verse. Ni volveré a criticar su afición estadounidense por el filósofo ortodoxo ruso Shestov. [8] Que además se contradice o vuelve compleja porque Brodsky (como verdadero poeta) sentía atracción por las culturas idólatras, por las diosas y dioses, el monoteísmo le parecía peligroso en su forma pura, el estado democrático -era para él- “el triunfo histórico de la idolatría sobre el cristianismo” Diré que como Mayakovski y Pasternak, en su tiempo -de la contraria escuela, renovó el metro ruso de manera notoria: para liberarse un poco de la obligada rima en esta lengua, enriquecer su cadencia, variar radicalmente su ritmo y musicalidad (así contribuyó de manera universal a una nueva forma métrica entre el verso blanco y el clásico, soporte de un audaz sistema de imágenes y compleja gramaticalidad poética -como la entendería Roman Jakobson), alargó los versos hasta donde su aliento de ígneo iceberg resistió según el mismo describiera en su discurso de recepción del premio Nobel en 1987- [9] como si intentara extender puentes desde la orilla de su asediada, incendiada y reprimida Leningrado-Sankt Piterburgo hasta los brillos visibles de las libres costas de Finlandia y de Suecia. Diré que aconsejaba a los poetas poseer por los menos dos lenguas madre, como él el ruso y el inglés, escribió sus memorias-ensayo, verdadero arte de la fuga, autobiografía moderna innovadora, en la fluida y pragmática lengua de Albión para alejarse aún más del blindaje de la profusa pro rusa prosa soviética, de una mínima relación posible entre el rigor sintáctico y semántico de su bella lengua madre original con el régimen dictatorial sórdido que testificó. Así superó el dolor y pudo escribir. Diré que con él muere toda una época, todo un siglo, el último gran poeta soviético y más: mueren casi todas las utopías que construyó nuestra historia. “No quiero escoger país ni camposanto, iré a morir a la isla Vasilievski” escribió de joven. Al detenerse su ritmo, no sólo se estremecieron los abedules de su tierra, también se apagó el corazón de los sueños de su era. Su voz trágica -plena de vitalidad- y la fecha reciente de su muerte, alumbrada con un diluvio de estrellas -28 de enero-, herida de fuego, alas desplegadas de mariposa parto y límite seglar, marcan aún más la imposible pero imperiosa necesidad de terminar con la historia -tal como la conocemos- y fundar otro día sostenido en la brillante conciencia poética. NOTAS 1. Brodsky en su libro Menos que uno (p.82), también se refiere a la poesía de Neruda (tan admirado por Octavio Paz) como “insípida”. Creo que el error consiste en lo que él le reprochaba a los traductores ingleses de Mandelshtam: su falta de probidad, de comprensión profunda de la lengua vertida, de sus imágenes y de su ritmo. También al inglés, lengua en que seguramente leyó al bardo andino (de los traductores oficiales al ruso lo puedo afirmar), los traductores del español, sin duda, fallaban. 2. Los akmeístas o acmeístas, del griego akmé : punta. En medicina es el periodo de mayor intensidad de una enfermedad; los acmeístas ( Nicolai Gumiliov, su esposa: Ana Ajmátova, Osip Mandelshtam, etc.), reaccionaron contra el simbolismo “decadente” de Vladímir Soloviov, Innokenti Annesky, Viacheslav Ivanov, Valeri Briusov, Fiódor Sologub, Andréi Bieli y Konstantín Balmont, entre otros. Buscaban un mayor compromiso con la historia y la sociedad, y pusieron más atención al estilo y a la claridad de la expresión; como Mandelshtam era el poeta de la civilización, definió a este movimiento fundamental como “la nostalgia de una cultura mundial” y Brodsky como “una versión rusa del helenismo”, “en cierto sentido”. Los tres primeros, junto a Marina Tsvietáieva, Vladímir Mayakovsky, Sergueí Yesenin, Borís Pasternak y Velimir Xlébnikov, entre los más destacados -éstos últimos a excepción de Yesenin- eran moscovitas-, formaron, por su brillo, la llamada Generación de Plata, pues la de Oro es la de los clásicos: Pushkin, Lermontov, Gógol, etc. Mayakovsky y Pasternak (en un principio seguidor del primero) junto con Xlébnikov (el más experimental en cuanto a la lengua) fueron los futuristas: los más revolucionarios, la vanguardia rusa. El puente entre los simbolistas y esta Generación de Plata, sería Alexander Blok, maestro reconocido por todos. 3. Joseph Brodsky, Menos que uno, Biblioteca de Premios Nobel 1987, Altaya 1995. p.p. 53-54 4. Tatiana Bubnova, Joseph Brodsky poemas, Alción editora, Argentina, 1996. p.9 5. Idem. p. p. 10-11 6. Menos que uno, p. 58 7. Idem, p. 187. 8. Octavio Paz en El ogro filantrópico, relata que cuando conoció a Brodsky no lo quiso decepcionar ante su entusiasmo por recordar a Shestov, maestro de Berdiaev y de Brodsky . “ (…) haber reconocido -dice Paz- un eco de Chestov en sus palabras no significaba que yo estuviese de acuerdo con todo lo que el había dicho. Brodsky el perseguido por una ortodoxia estatal, no se daba cuenta de lo que nos proponía, en el fondo, era cambiar el Estado-Partido por la Iglesia-Estado. Disiento de los disidentes: el regreso a la antigua sociedad, en el caso de que fuese posible, significaría la sustitución de una ortodoxia por otra”. Renglones arriba escribió: “ Mi admiración por los disidentes del este no implica (…) coincidencia con sus ideas. Me refiero a Solyenitzin más que a Sajarov o a Kolakowsky. Las críticas de Solyenitzin a Occidente son, en general, justas; su nostalgia por una nueva Edad Media, eco de Chestov y Berdiaev, revela entre otras cosas una singular ignorancia de la Historia. El triunfo del monoteísmo cristiano inició una larga serie de persecuciones que opacaron a las de los emperadores romanos. ¿Ha olvidado Solyenitzin a los gnósticos y a los albigenses? La intolerancia contemporánea no es, en su esencia, distinta a la de la antigua Iglesia: consiste en la fusión de ideología y poder político. Entre el comisario y el jesuita hay más de una semejanza. El Estado-Iglesia estaba servido por teólogos; la ideocracia comunista por ideólogos”. (p.p. 290-291, Joaquín Mortiz, Méx., 1981). La inclinación, por otra parte, a la filosofía religiosa ortodoxa de Brodsky, Alexander Solyenitsin y otros miembros de la intelillentzia, por Shestov, es muy rusa; sobre todo como una reacción al largo periodo de prohibición religiosa sufrida, a un intento de reencuentro con las auténticas raíces culturales, espirituales y místicas, a una búsqueda desesperada de la identidad, muy actual, de este eslavismo, cortado por el periodo soviético de “identidad” forzada y artificial. También se puede explicar por la profunda conciencia expresada en Nueva Edad media. Reflexiones sobre el destino de Rusia y Europa (Berlín, 1924) por el mencionado filósofo religioso Nicolai Berdiaev, que pensaba que la revolución rusa tenía una misión negativa porque su pueblo había traicionado, por carecer de suficiente fortaleza, su verdadera misión “mística”, que, sin embargo, había quedado plasmada en el “pensamiento cósmico”, para cumplirse, cuando Rusia una Rusia ortodoxa, desde luego- superara su propia traición, encabezando mundialmente esta fe, verdadera o falsa, sobre que el pueblo ruso -trágica, inevitablementepara poder ser gobernado, necesita de una mano fuerte y extranjera. Contradictoriamente, como todo pensador político religioso, se asumía como antitotalitarista. En el caso del poeta de San Piterburgo, quizá, esto se concretaba en la siguiente utopía: “¿No debería ser más fácil ejercer y distribuir la cultura en un estado centralizado? Teóricamente, un gobernante tiene más acceso a la perfección (que en cualquier caso reclama) que un representante (…) Ese país, con su lengua magníficamente declinada, capaz de expresar los matices más sutiles de la psique humana, con una increíble sensibilidad ética (fruto positivo de su historia, por otra parte trágica), tenía todos los ingredientes de un paraíso cultural y espiritual, un auténtico receptáculo de civilización. En lugar de ello se ha convertido en un infierno de monotonía, con un dogma materialista ruin y de patéticos aspirantes a consumidores”. (Menos que uno. p. 34). 9. Un periódico ruso encabezó alegremente la noticia: “Al holgazán se le da su merecido”. Víctor Toledo (México, 1957). Poeta, filósofo e ensaísta. Autor de livros como A la memoria del demonio, Itinerario de poesía rusa (1999), Poética mexicana contemporánea, antología-ensayo (2000), e Abla o nadA (2002). Ensaio integrante do livro La luna y el lobo (Ensayos y traducciones de poesía), gentilmente cedido pelo autor. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 La novela policial escrita por mujeres en Chile Daniela Aspeé Venegas . La narrativa policial escrita por mujeres en Chile es muy escasa, siempre se menciona casi como una anécdota al interior de la historia de la literatura policial chilena. Las mujeres en Chile están completamente ausentes de la novela de enigma. Sólo aparecen en la década de los noventa formando parte del género negro. Dos autoras han usado el género y su incursión se menciona escasamente en algunos textos críticos. Alejandra Rojas y Marcela Serrano corresponden a las únicas exponentes mujeres de literatura policial en Chile. Las razones de esto no busco explicarlas ahora, sólo pretendo otorgarles a estas escritoras el mérito que merecen y que nunca han tenido por culpa de formar parte de un grupo reducido. Lamentablemente en Chile, a las mujeres que incursionan en un género considerado como masculino desde su formación, si no participan en masa, las que lo hacen prácticamente no son consideradas. Alejandra Rojas Alejandra Rojas, escritora chilena nacida en Viña del Mar en 1958, posee tres novelas pertenecientes al género policial dentro de sus cinco publicaciones. Hija de arquitectos y la cuarta de cinco hermanos, se tituló en 1982 de médico en la Universidad de Chile, sede Valparaíso, realizando su ejercicio como médico general y una residencia en siquiatría. Se casó con un ejecutivo inglés de una transnacional que la ha mantenido, junto con sus dos hijos, en constante peregrinaje por el mundo. Su producción literaria se compone por Legítima defensa (1993), Noches de estreno (1995), El beneficio de la duda (1997), la fotobiografía Salvador Allende: una época en blanco y negro (1998) y Stradivarius Penitente (1999). La estudiosa chilena, Carolina Pizarro, analiza las dos primeras novelas de esta autora, Legítima defensa y Noches de estreno, como una adaptación del formato policial “al personaje femenino y que puede ser leído como una forma de develar la realidad de ser mujer” (Pizarro 131). Sin embargo, reconozco esto en la primera obra, mientras que la segunda me parece más ser una transición desde el enigma interior, que bien identifica Pizarro, al misterio detectivesco que protagoniza Stradivarius penitente. En Noches de estreno, ambos enigmas se conjugan en una sola investigación: el principal sospechoso en la historia es el esposo de una improvisada detective, cuyo delito es la extensión del fracaso emocional de su vida de pareja. La influencia más evidente en la obra de Alejandra Rojas es la novela negra norteamericana, cuyo aporte al género fue el agregar a los elementos del raciocinio y el misterio que distinguían a la novela de enigma, la violencia y la crítica social fuertemente caracterizada por una carga ideológica. En Noches de estreno estos elementos particulares de la novela negra están muy marcados y desarrollados en forma aguda, pero alcanzan una madurez especial en Stradivarius Penitente. La única pista que Nicole, la protagonista, tiene con respecto a la desaparición de su esposo es un video-thriller, en el cual surge un elemento característico de la novela negra: la violencia. Pero no sólo es observable una violencia evidente y física, que encontramos en los crímenes, sino que además es observable una violencia de imágenes en el patetismo que Nicole manifiesta frente a sí misma, frente a su presente y frente a una imagen de ella que no reconoce. La aguda crítica social presente en la novela se distingue como otro elemento procedente de la novela negra. Aquí, la obra utiliza con gran certeza la ironía para analizar su generación y su sociedad y la actitud equivocada que han tomado para enfrentar el problema de la identidad. La asimilación que Noches de estreno hace del género negro es, en términos bajtinianos, una asimilación híbrida, ya que utiliza estos elementos, pero los enfoca según sus propios propósitos. Así, la crítica social, basada en una fuerte ironía, no está cargada de política ni ideologías, sino que está enfocada en presentar el problema de identidad de la sociedad chilena y postular el fracaso de la pareja. Además de esto, en la novela de Rojas hay una mirada caracterizada por el género, lo que hace que la asimilación de esta obra con la novela negra sea un híbrido de conceptos ajenos, expresados en un idioma femenino, con intereses femeninos y desde un punto de vista con igual característica, lo que transforma a esta novela en una creación que se desprende casi totalmente de su influencia. La asimilación que Rojas hace de la novela negra, se especifica en la asimilación híbrida que se da en Noches de estreno del personaje clásico de Patricia Highsmith, protagonista de El talento de Mr. Ripley. En el personaje de Tomás, el esposo desaparecido, pueden identificarse los conflictos y el modo de comportamiento de Thomas Ripley (Tomás>Thomas), pero con una configuración y un desarrollo del personaje particular, presentado desde el punto de vista femenino, un punto de vista que es externo al personaje en sí. La historia de Tomás está determinada, según los antecedentes que posee Nicole, por su infancia. La muerte de su madre y el rechazo de su padre lo condujeron a refugiarse en lo ajeno: una madre ajena o historias ficticias ajenas, manifestadas a través de las películas en VHS. Esta última opción se transformará en su estilo de vida y en su modo de comunicarse, anulando una vida personal desarrollada en todos sus aspectos. Así, Tomás se anula a sí mismo con el fin de no cargar con una existencia que viene carente desde la infancia. La carencia de la que Tomás es víctima es la carencia de afecto, que lo imposibilita de entregarlo. Entonces, detrás de la historia de Tomás encontramos una carencia inicial que desemboca en la búsqueda de otras alternativas de vida en las cuales refugiarse, procurando anular la propia, absolutamente rechazada. Este principio que configura la historia de Tomás es el mismo que encontramos como configurador de la historia de Thomas Ripley. Alejandra Rojas utiliza el concepto de pareja para enfrentar el tema de la evasión existencial de Tomás. Es la pareja la que toma protagonismo en Noches de estreno. Highsmith desarrolla la evasión existencial de Thomas Ripley enfocándose en él mismo, teniendo como protagonista su desarrollo psicológico. Thomas Ripley crece en la carencia de afecto y el rechazo, lo que lo lleva a rechazar su propia existencia, buscando constantemente otras vidas que profanar y robar. Cuando quiere enfrentar la vida con su propio rostro es rechazado y entonces se convierte en un asesino. La muerte se transforma en el método de sustentar la primera vida que roba, la de su amigo Dickie Greenleaf. Entonces, observamos en Thomas Ripley, con modos de desarrollo y puntos de vista distintos, el mismo principio que configura el personaje de Tomás. La asimilación híbrida es evidente. Marcela Serrano Marcela Serrano, nacida en Santiago en 1951, tiene dentro de su exitosa producción literaria sólo una de corte policial, Nuestra Señora de la Soledad de 1999. Hija de la novelista Elisa Pérez Walker y del ensayista Horacio Serrano, es la cuarta de cinco hermanas. Con dos de ellas vivió durante un año en París siendo estudiantes. Tras el golpe de estado en Chile (1973) se exilió en Roma, donde trabajó para los viveros municipales durante un tiempo. Regresó a Chile en 1977, entrando en contacto con grupos artísticos. A principios de los ochenta montó su primera exposición. Se licenció en grabado en la Universidad Católica entre 1976 y 1983, y trabajó en diversos ámbitos de las artes visuales. Su obra literaria se compone por Nosotras que nos queremos tanto (1991), Para que no me olvides (1993), Antigua vida mía (1995), El albergue de la mujeres tristes (1997), Un mundo raro. Dos relatos mexicanos (2000) y Lo que está en mi corazón (2001). En Nuestra Señora de la Soledad, una detective es encargada de encontrar a una escritora desaparecida. En un punto de su investigación, la detective deja de buscarla porque se identifica con ella y comprende que la desaparecida no quiere ser encontrada. La razón por la cual le dieron el caso era su género, y al final de la obra esto se extiende adquiriendo un mayor sentido: sólo una mujer puede encontrar a una mujer. La obra de Serrano tiene dos influencias particulares, que son manifestaciones del género negro: Sue Grafton y Ramón Díaz Eterovic. La configuración de la detective Rosa Alvallay es una variación del famoso detective chileno Heredia. Su vida, siempre al borde de la miseria, la soledad y el desengaño, su concepción de la labor detectivesca como un trabajo hecho para mal sobrevivir y además su persistente crítica contra la dictadura y sus consecuencias, la transforman en una versión femenina del detective de Díaz Eterovic. Cuando Rosa se compara con Pamela Hawthorne, la protagonista de las novelas de la escritora desaparecida, deja a la vista sus coincidencias con Heredia: tampoco yo llegué a esto por vocación –como ellasino por una cadena de fracasos consecutivos desde el día en que, esperanzada, hice mi retorno al país, poco antes de comenzar la transición a la democracia. Tampoco trabajó Pamela en organizaciones de Derechos Humanos ni aprendió a investigar por la primitiva y loca razón de querer ayudar a sus semejantes. Y si sigo con las comparaciones, ella no es madre de dos hijos, no dejó a su marido en el otro hemisferio ni atiende sola una casa, amén de financiarla. Y por supuesto, dato crucial, yo no cuento con los esplendorosos treinta años de Miss Hawthorne (Serrano Nuestra 41-2). Hay otro detalle en la obra de Serrano que recuerda obligadamente a Díaz Eterovic: la primera novela de Carmen Ávila, la escritora desaparecida, se llama Los muertos no tienen nada que decir. Realizar la conexión con Nadie sabe más que los muertos, tercera novela del creador de Heredia, es demasiado fácil: en la obra ficticia los muertos si pudieran no sabrían que decir, en la verdadera los muertos, si pudieran, dirían mucho. Su método de investigación, sin embargo, me lleva a su segunda influencia. Rosa busca las primeras pistas en la lectura de las obras de la autora desaparecida, obras detectivescas donde la protagonista es un personaje que parece haber sido calcado de la figura de Kinsey Millhone, detective de las novelas de Sue Grafton. Aunque, como bien intuye el experto en literatura policial Clemens Franken,[1] la protagonista de las novelas de Carmen Ávila, Pamela Hawthorne, parece ser en su nombre un homenaje a Patricia Highsmith (Pamela Hawthorne/Patricia Highsmith), sus características configuradoras son los mismos rasgos que determinan a Kinsey Millhone: es una mujer de treinta y dos años, sola, independiente y liberal, divorciada en dos ocasiones, sin hijos, empeñada en decidir su vida. Al igual que Kinsey, Pamela Hawthorne bordea los treinta años, no tiene hijos, es sola y, junto a los casos, enfrenta siempre las pretensiones de algún enamorado que sucumbe frente a la fortaleza e independencia de una mujer detective. Por lo tanto, en Nuestra Señora de la Soledad, el personaje que Rosa lee en Pamela, parece ser el personaje que Marcela Serrano lee en Kinsey. Una bonita caja china, como diría Vargas Llosa, que deja en evidencia una asimilación que, según los términos bajtinianos, correspondería a la variación. Así, en Nuestra Señora de la Soledad, la novela negra está presente mediante la utilización de elementos ya híbridos para hacerlos coincidir en un lenguaje que pretende ser absolutamente femenino. Por eso, coinciden dos tipos de detectives, uno al estilo latinoamericano y otro al estilo feminista, en una misma obra que busca como fin transformar el formato policial en un reclamo femenino por el espacio privado de las acciones personales, sin recibir críticas ni dar explicaciones. Por lo tanto, si bien la asimilación que Serrano hace de Díaz Eterovic y de Grafton es una variación, la asimilación que hace del género negro es híbrida, porque los modelos que utiliza son ya híbridos y los adapta a conflictos que en su contexto original producirían choque y no coexistencia. Características generales Además de Alejandra Rojas y Marcela Serrano, otra autora utilizó el género policial en Chile. Aunque lo hace sólo en una ocasión, Alejandra Basoalto se transforma en la segunda escritora en utilizar el género policial en su obra, después de Alejandra Rojas, ya que Serrano lo haría posteriormente. El cuento “El trino del diablo”, perteneciente al libro Desacato al bolero de 1994, [2] es un relato policial que, para una presencia femenina en el género tan escasa en Chile, se hace muy importante de mencionar. Clemens Franken incluye a Alejandra Rojas y Marcela Serrano en lo que llama la vertiente del “crimen pasional privado”, vertiente que utiliza el formato policial “para investigar más especial y detalladamente la relación de pareja y de género en el ámbito privado” (Franken 10). Por su parte, Rodrigo Cánovas en su libro Novela chilena, nuevas generaciones: el abordaje de los huérfanos sólo considera a Alejandra Rojas dentro de la manifestación negra de lo que llama la imaginación folletinesca de la novela chilena de las últimas generaciones, mientras que a Marcela Serrano la ubica dentro de la manifestación rosa. La obra de Canovas fue publicada el año 1997, fecha en que Marcela Serrano aún no presentaba incursiones en el género. Al interior de este libro, Magda Sepúlveda presenta el género negro nacional, ubicando a Alejandra Rojas dentro de la etapa actual, pero no le otorga un análisis particular que su obra ciertamente merece, partiendo de la premisa de que su producción literaria, aunque es parte de una tendencia negra, posee características identitarias basadas en lo femenino. Claramente, las autoras de literatura policial en Chile buscan desarrollar a través de un misterio, conflictos de género que no encuentran solución en la resolución del misterio. Ser mujer implica para el mundo de estas novelas conflictos con respecto a ciertos temas: ser mujer independiente significa ser mujer sola, el fracaso de la pareja es evidente; ser madre se transforma en algo obligado y ser sola se transforma también en un fracaso. Los crímenes en estas novelas son medios de difusión de estos conflictos, son el medio perfecto porque al transformar a la mujer en detective, esta se convierte en el ejemplo ideal de una mujer golpeada constantemente por estos conflictos, porque para ser detective hay que ser independiente, inteligente, sola y aparentar ser hombre. NOTAS 1. Crimen y verdad en la novela policial chilena actual, p. 220. 2. Dato obtenido de: Díaz Eterovic, Ramón. “Bibliografía de la narrativa criminal en Chile”. Daniela Aspeé Venegas (Chile, 1980). Ensaísta, inédita em livro. Tem publicado diversos artigos nas revistas Archivos del sur [Argentina] e Espéculo [España]. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 La seducción de las palabras Thelma Nava . El copioso estilo de la realidad no es el único: hay el del recuerdo también, cuya esencia no es la ramificación de los hechos, sino la perduración de rasgos aislados. Esa poesía es la natural de nuestra ignorancia. Jorge Luis Borges Espacios de fantasía y fabulación Como una niña y adolescente solitaria que fui, aprendí a crear mi propio mundo. Tuve la fortuna de disponer siempre de un cuarto propio, un lugar donde el tiempo se detenía cuando me encerraba los domingos a escuchar la XELA, lo que casi me convirtió en una consumada melómana. Allí escribí también mis primeros poemas, de los que nunca guardé copia, afortunadamente. Los cuentos que mi padre me contaba o leía noche tras noche contribuyeron a despertar mi imaginación. Mi avidez por aprender no tenía límite y casi a diario le preguntaba a mi padre cuándo me iba a inscribir en la escuela primaria. Llegó por fin el tan deseado día y para entonces ya sabía leer y escribir. Recuerdo las montañas de libros de cuentos que mi padre me llevaba de las ferias del libro (que ya desde entonces se realizaban en la ciudad de México), y que yo devoraba en una tarde. Mi afán de encontrar palabras que nombraran la vida surgió de esas lecturas. Inevitablemente, la poesía se gestaba en mi imaginación avivada por el descubrimiento de Andersen, Salgari, Verne y los hermanos Grimm, entre otros. La revista argentina “Billiken”, que llegaba puntualmente a México y que se convertiría en lectura obligada de los escritores de mi generación, ocupa un lugar destacado en mi memoria junto con algunas lecturas prohibidas por mi madre, como lo eran el “Pepín” y el “Chamaco”, cómics de la época. En mis primeros libros de texto recuerdo que se presentaban fragmentos de poesía del Siglo de Oro e inclusive aparecían los escritores mexicanos: Ignacio Manuel Altamirano y Juan de Dios Peza. Vocación originaria Mis padres eran decimonónicos en su forma de ver la vida, en especial mi madre. Fui hija única de un matrimonio mayor y desafortunadamente jamás pude conocer a ningún abuelo. De vez en cuando veía a algunas tías y primas. Casi no tenía amigos y cuando llegaba a reunirme con ellos, siempre era con la inevitable presencia de mi madre, constante chaperona. Gracias a un precoz enamoramiento empecé a escribir poesía un poco más en serio. Este ritual solitario era mi alimento secreto. Era como hurgar en el cofre del tesoro donde me deslumbraba la seducción de las palabras, sus ritmos y significados. La poesía, encontrada como a la ballena blanca del capitán Ajab, me daría la definitiva certeza de que es lo único que nos mantiene vivos y nos rescata del olvido. Hubo un tiempo en que leía ávidamente todo cuanto encontraba en la pequeña biblioteca de mi padre, en la que predominaban libros de psicología y filosofía, junto con obras maestras de la literatura. Fue allí donde se me revelaron El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha y las Novelas Ejemplares, de Cervantes. Allí encontré también la Biblia, compendio de sabiduría que hasta mucho después habría de valorar debidamente. Las obras completas de Goethe me tentaban desde entonces, pero en esa época sólo me cautivó el Werther. Los títulos de los libros se agolpan en mi memoria: Los bandidos de Río Frío, Las calles de México, y El conde de Montecristo son apenas un ejemplo de todo cuanto me interesaba. Disfrutaba tratando de interpretar a Freud y Jung, a quienes leía con enorme interés y apasionamiento. Eran mundos alucinantes que se ofrecían a mi interés y que gozosamente iba descubriendo de a poco. Recuerdo que en una ocasión una amiga de mi padre (quien por cierto se apellidaba Asúnsolo y era prima de Dolores del Río) le dio a guardar un librero repleto de libros donde encontré de todo, menos poesía, pero por supuesto me leí completo ese inesperado tesoro que estuvo a mi disposición por un buen tiempo. Encontré, novelas, cuentos, ensayos y qué se yo cuántas cosas que significaron un verdadero festín para mi incipiente curiosidad. Incursiones vislumbradas Publiqué mis primeros poemas en el Suplemento “México y la Cultura” y en las revistas “América”, “Metáfora” y “Nivel”, así como en algunas otras de la época.. Mi relación con Jesús Arellano, editor de “Metáfora”, se dio a través de Efraín Huerta. Eran famosas esas tertulias irreverentes, que se realizaban en lo que llamábamos la cueva, una habitación en la que las reuniones eran presididas por un altar a don Alfonso Reyes, a quien todo el mundo le llevaba “milagritos” para que lo volviera escritor o bien para agradecerle “los favores concedidos”. Allí conocimos a Jaime Sabines, quien acababa de llegar a la ciudad de México, así como a muchos otros escritores y pintores, entre los que recuerdo a Juan Rulfo, Rubén Salazar Mallén, Amparo Dávila y las hermanas Olga e Irene Arias. La revista era muy polémica por sus comentados colofones, redactados por Jesús Arellano y A. Silva Villalobos. Por esa razón era la única revista que se comenzaba a leer por el final. Era la voz disidente de la época por sus venenosas críticas a escritores famosos. Para mí, que me iniciaba en las letras, esas reuniones me permitían conocer a personalidades del mundo de la cultura y eran, además, muy divertidas. No existían entonces los talleres literarios, salvo el de Juan José Arreola, por el que pasé de manera fugaz. Mi formación literaria se dio inicialmente en la Casa del Lago de la UNAM, a la que era asidua. Allí tomé cursos de preceptiva literaria con ese escritor extraordinario que es Tomás Segovia y conocí a Juan Vicente Melo, Isabel Fraire y Rita Murúa. A la fecha sigo manteniendo la amistad con Isabel Fraire, que se ha afirmado a través de los años como una destacada poeta. Posteriormente asistí al Centro Mexicano de Escritores, donde tomé algunos cursos con Juan Rulfo, quien nos dio una formidable visión de la literatura norteamericana a partir de Dreisser. Tuve allí compañeros que fueron posteriormente mis grandes amigos: Tomás Mojarro, Vicente Leñero, Carmen Rosenzweig y Manuel Echeverría (el benjamín del grupo), que luego llegarían a ser famosos. También tomé cursos con Ramón Xirau, quien además de ser un gran escritor y con una profunda calidad humana, fue asimismo un extraordinario maestro. Más adelante me inscribí en la Facultad de Filosofía y Letras, pero por diversas circunstancias no pude terminar la carrera. Las influencias determinantes en mi vida fueron inicialmente, entre otras, las de Vallejo, Rilke y Milosz. Cuando uno empieza a descubrir el mundo de un poeta, el hallazgo es de tal magnitud que uno se ve arrastrado vertiginosamente; en tanto no logre ordenar en su interior esas sensaciones y asimilarlas. Son esos autores quienes estarán presentes en la creación literaria e incluso en la vida cotidiana. Después uno llegará a encontrar su propia expresión, esa voz a la que con los años uno le va dando diferentes registros. Como he sido una lectora voraz, me ha sido siempre muy difícil ordenar mis lecturas. Siempre leo dos o tres libros simultáneamente y de diversos géneros: novela, ensayo, poesía. La cuestión de las influencias es un asunto de empatía, algo así como sintonizarse en una misma frecuencia. Es como la química en el amor. Y habrá siempre poetas, por extraordinarios que sean, con los que uno nunca se va a identificar, que no le tocan a uno el corazón aunque pueda admirárseles como personas. Nunca he sido muy disciplinada para escribir y quizá esa sea la razón de que mi obra no haya sido hasta el momento muy prolífica. Sin embargo, todos mis quehaceres se han relacionado siempre con la literatura, ya sea a través de mi participación en congresos o festivales de poesía nacionales e internacionales (Cuba, Nicaragua, Argentina, Panamá, Perú y Puerto Rico), de mi trabajo permanente como jurado de poesía o de otras disciplinas. Durante la década de los 60 ejercí el periodismo cultural en el periódico “El Día” durante casi tres años. Gozaba allí de una gran libertad para escribir sobre el tema que quisiera. Comencé haciendo reseñas de libros y de revistas culturales y paulatinamente mi inquietud me llevó a escribir comentarios sobre obras teatrales y actividades de todos aquellos acontecimientos que capturaban mi atención. Publicaba también selecciones de poesía de varios países de América Latina en particular, y realicé entrevistas a grandes poetas de nuestro tiempo. Por aquel entonces realicé un viaje a América del sur y conocí a escritores extraordinarios como Raúl González Tuñón, a quien lamentablemente no tuve la oportunidad de entrevistar. Atesoro en mi memoria particularmente la que le hice por vía telefónica a Juana de Ibarbourou en Montevideo. Yo estaba de paso por allí y el día que le llamé ella salía de viaje con su hijo a una granja en la cercana ciudad de Colonia, en busca del sol y el calor del mar para sus huesos adoloridos. Decía que “Montevideo sin sol no es Montevideo”. De todo cuanto conversamos se me quedó muy presente que cuando le hablé de mi incipiente labor literaria me señaló que “la autocrítica es criminal para lo propio”. Luminaria amorosa En ese entonces trabajaba yo en la industria del cine, en la que tuve grandes amigos como Simón Otaola, asiduo visitante de la librería de Polo Duarte, adonde llegaban las principales novedades literarias de diversas partes del mundo. Otaola fue para mí un mentor que me descubría a muchos nuevos autores. En mi trabajo realizaba diversas labores y entre ellas colaborada con Efraín Huerta en un boletín cinematográfico. Con él compartí inicialmente el asombro literario. Solía regalarme hermosos libros de poesía, empezando con la suya. Un día, sin saber cómo, Efraín y yo nos descubrimos amorosamente. Fue el nuestro un amor apasionado en verdad. A pesar de que nos veíamos frecuentemente nos escribíamos cartas casi todos los días. No las conservo todas, lamentablemente. Después de dos años de noviazgo nos casamos el 6 de septiembre de 1958 y compartimos más de 25 años de vida. El 21 de mayo de 1959 nació nuestra primera hija, Thelma, y cuatro años después, el 29 de junio de 1963, nació Raquel quien ha seguido el hermoso camino literario. Efraín fue siempre un excelente padre, amoroso y consentidor. Nuestras hijas siempre tuvieron la cercanía con la literatura y con el arte y crecieron en un ambiente muy sugestivo en cuanto a todo lo relacionado con la creación. Thelma se inclinó más por las artes plásticas y Raquel por el mundo de los libros. En cuanto a mi relación con Efraín, nunca hubo dificultades entre nosotros con respecto a nuestro quehacer literario. Aprendimos a manejar la situación de ser dos poetas con su mundo personal muy bien establecido y definido. Viajamos mucho por diversos países de América Latina y compartimos diversas tareas culturales y solidarias. Espacios de ruptura Como para mí el compromiso es la vida, al igual que el resto de los escritores de mi generación tuve una activa participación en el Movimiento Estudiantil del 68 a través de la Facultad de Filosofía y Letras, al lado de José Revueltas, quien además de ser el destacado dirigente político que todos conocemos tenía algunas propuestas muy novedosas que entusiasmaban a los estudiantes, como la famosa “Operación Perro” que consistía en hacer pintas políticas sobre los perros callejeros que en su andar por las calles de la ciudad hacían propaganda al movimiento. Organizábamos muchas actividades y reuníamos fondos para los “muchachos” de la Facultad, como les solíamos llamar a nuestros líderes estudiantiles. Cuando encarcelaron a Revueltas, a quien tuvimos escondido un tiempo en la casa del poeta Carlos Eduardo Turón, y a raíz de la matanza del 2 de octubre nos dispersamos todos. Un tiempo después empecé a participar en la solidaridad con Cuba, a instancias del poeta cubano Fayad Jamís y posteriormente con Nicaragua y El Salvador. Curiosamente viajé mucho a Cuba y a Nicaragua, pero jamás he estado en El Salvador. Fui jurado del Premio Casa de las Américas de Cuba y con Efraín y Ernesto Mejía Sánchez del Premio “Rubén Darío” en Nicaragua, donde por cierto fui condecorada en dos ocasiones, lo que significó para mí una de las mayores satisfacciones de mi vida. En Cuba conocí y me hice amiga de grandes escritores: Julio Cortázar, Mario Benedetti, Juan Gelman, Claribel Alegría, Nicolás Guillén, Loló de la Torriente, Alejo Carpentier, Eliseo Diego, Cintio Vitier, Roberto Fernández Retamar y muchísimos otros que sería largo enumerar. A Julio Cortázar volvería a encontrarlo en Roma y en Nicaragua, a Juan Gelman y a Mario Beneditti los volvería a ver en México en muchas otras ocasiones, lo mismo que a Roberto Fernández Retamar. Desde mucho antes de la solidaridad con el sandinismo llevé una profunda amistad con Ernesto Cardenal con quien viajé a Roma, al Tribunal Russel, para llevar la denuncia sobre las violaciones a los derechos humanos en Nicaragua a manos de la dictadura de Anastasio Somoza. Nicaragua para mí es un país mágico con poetas entrañables como Gioconda Belli, Francisco de Asís Fernández, Julio Valle Castillo y Carlos Martínez Rivas entre otros. Entre mis amigos salvadoreños puedo mencionar a Roque Dalton a quien conocí desde los años sesenta en la ciudad de México, a Manlio Argueta a quien vi por primera vez en Nicaragua y a Rafael Goches Sosa, quien vino a México en alguna ocasión, para afinar los detalles de la publicación de un libro suyo en alguna de las colecciones de “Pájaro Cascabel”. En la década de los 60 fundé, con el destacado crítico Luis Mario Schneider, la revista “Pájaro Cascabel” y la editorial del mismo nombre. Ésta fue una de las revistas independientes más importantes de la época, junto con “El Corno Emplumado”, “Cuadernos del Viento”, “Snob", “Siglo I Poesía” y “El Rehilete”, en la que tuve una breve participación. La publicación de “Pájaro Cascabel” implicaba un verdadero reto que logré superar poniendo en esta tarea la misma pasión que he puesto en todo cuanto emprendo, sin descuidar por supuesto a la poesía, a la que nunca he abandonado porque ha sido siempre parte fundamental de mi vida. A través de la revista me mantenía en contacto con mis amigos poetas y editores de las otras publicaciones. Puedo asegurar a la distancia que jamás hubo entre nosotros la menor sombra de envidia o mezquindades, tan frecuentes en ocasiones en el medio. Por el contrario, nos ayudábamos entre todos generosamente. Sergio Mondragón, Margaret Randall, Huberto Batis y Margarita Peña fueron amigos y compañeros que mucho nos ayudaron a realizar nuestra tarea, al igual que Jesús Arellano, quien me dio todo su directorio de críticos de universidades de los EEUU que se interesaban en nuestra labor. A propuesta de los editores de “El Corno Emplumado” y del argentino Miguel Grimberg, editor de “Eco Contemporáneo” realizamos en México el “Primer Encuentro Interamericano de Poetas” que tuvo una enorme resonancia en nuestro país. Fue la primera vez que se hacía un encuentro de esta índole y por supuesto no había ningún apoyo institucional. Los poetas llegaron de distintos países por sus propios medios, hubo una poeta sudamericana que llegó a vender un piano para pagarse el viaje. Hospedamos a los poetas en casas amigas. A todos les encontramos alojamiento. Los trabajos se llevaron a cabo en el Club de Periodistas de México, donde se realizaron conferencias y mesas de discusión sobre la poesía. Tuvimos una gran cobertura de prensa ya que en esos años un encuentro de poetas era algo novedoso. Realizamos, a iniciativa de Efraín Huerta, lecturas en la Calzada de los Poetas del Bosque de Chapultepec. Fue la primera vez que la poesía salía a espacios abiertos. Después hubo otra lectura en Malinalco. El subdirector del periódico “Excélsior” cubría diariamente todas nuestras actividades. El Encuentro lo presidieron honorariamente Henry Miller y Thomas Merton. Guardo con enorme cariño la carta de aliento que me envió Julio Cortázar, junto con su mensaje “A los cronopios de la Acción Poética Interamericana”, fechado en París en 1964, escrito a máquina. Es increíble la gran comunicación que existía entre todos los escritores en aquella época en que no teníamos más que el a veces exasperadamente lento servicio postal para comunicarnos Sin embargo, la comunicación era bastante fluida entre nosotros. Mantuve siempre una excelente comunicación con los poetas de otras latitudes, a quienes les enviaba regularmente “Pájaro Cascabel”, ya que tenía corresponsales en muchos países iberoamericanos. Mandaba los ejemplares a gente clave que distribuía convenientemente la revista, que luego era reseñada por los críticos en suplementos y revistas de esos países. Llegamos a publicar más de treinta libros de poesía en las diversas colecciones que teníamos, no sólo de autores mexicanos sino también de escritores iberoamericanos que deseaban publicar con nosotros por la distribución que tenían nuestros libros en los medios. A raíz del Movimiento Estudiantil del 68 y debido a nuestra participación en él, no pudimos seguir publicando las revistas “El Corno Emplumado” ni “Pájaro Cascabel”, ya que se nos negó la ayuda oficial que teníamos para la edición de las mismas, que si bien no cubría todo el costo, sí una parte importante del mismo. El escritor y amigo Edmundo Valadés, quien por aquel entonces trabajaba en la Presidencia de la República, nos había conseguido esa pequeña ayuda a la que he hecho mención y que por supuesto, ya no tuvimos más. Siempre he afirmado que las revistas literarias son como los grandes amores, es decir, tienen alguna vez un término, por una u otra razón. Me ha interesado en forma permanente la creación de los jóvenes poetas de nuestro país y por la índole de mi quehacer literario como jurado de poesía, me he mantenido siempre al tanto de lo que escriben muchos de ellos. Desde la época que editaba “Pájaro Cascabel me preocupaba por la poesía joven, particularmente me interesaba en aquel entonces lo que estaban escribiendo las poetas, a las que me interesaba publicar. El panorama no era muy amplio, todo lo contrario de la época actual en la que verdaderamente las poetas han ganado grandes espacios en todo nuestro territorio lo que me da una gran satisfacción personal. Futuro e incertidumbre Como lo expresé en algún poema: “Voy hacia la vida como se va a la muerte o al amor, sin saber nada”. Todos los días nos encontramos al pie de la sorpresa. La vida ha ido dispersando a mi pequeña familia por diversas partes del mundo. Mi hija mayor vive ahora en Canadá, felizmente casada. A pesar de la distancia nos mantenemos siempre muy cercanas y su permanente apoyo y solidaridad acompañan mi transcurrir por la vida. Mi nieta mayor, que es Psicóloga, estudia ahora en Canadá y trabaja con niños de preescolar. Mi nieta menor vive desde hace algunos años en España, con su padre. Estudia artes gráficas y se siente muy orgullosa de sus abuelos escritores. Me acompañan sus dibujos y pequeñas tallas en madera. En México se encuentra afortunadamente mi hija Raquel, con quien comparto poesía e intereses comunes, así como viajes y sueños. Trabajo en la preparación de nuevos libros de poesía. Busco siempre renovarme en mi expresión poética, ya que no me gusta repetirme. Odio la soledad de los sábados en que el mundo parece detenerse. Me inquieta el futuro de nuestro país y leo todas las mañanas los diarios para saber qué sucede en el mundo, qué se escribe y se piensa frente a nuestra realidad de país tercermundista, al que amo por sobre todas las cosas y no cambiaría por ningún otro. Jamás he tenido la experiencia de vivir en otro sitio, ni siquiera temporalmente. Trato siempre de organizar mi tiempo, sin lograrlo del todo. Tengo muy buenos amigos, en el medio literario particularmente, a los que suelo ver con alguna frecuencia (salvo aquellos que no residen en esta ciudad). No hay nada más cautivador que conversar con un buen amigo o amiga ante una copa de buen vino o un humeante café. Los amigos, cuando son sinceros, son parte, de alguna manera, de nuestra familia. Thelma Nava (México, 1932). Poeta. Con el crítico Luis Mario Schneider fundó la revista Pájaro Cascabel y la editorial del mismo nombre (19621968). Participó también en la dirección colectiva de las revistas Manatí (1974-1984), Xilote (1969-1977) y La Brújula en el Bolsillo (1982-1984). Organizó conjuntamente con Sergio Mondragón y Margaret Randall, editores de la revista El Corno Emplumado, el Primer Encuentro Interamericano de Poetas, que se llevó a cabo del 6 al 13 de febrero en el Club de Periodistas de México (1964). Ha publicado libros como La orfandad del sueño (1964), Paisajes interiores (2000), y Para volver al mar (2004). Contacto: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Liduíno Pitombeira: duas russas, entre três américas e um prêmio [entrevista] Luciana Gifoni . O compositor cearense Liduíno Pitombeira ganhou o prêmio Inter-Americano de Música 2005, uma competição trienal criada, em 1948, pela fraternidade Sigma Alpha Iota que envolve a participação de compositores residentes na América do Norte, do Sul e Central. O resultado saiu no dia 30/08, quarta-feira, via email. A entrega oficial do prêmio vai ocorrer durante a Convenção Nacional da fraternidade, em Orlando, Florida, em fins de julho de 2006. Pitombeira concorreu com um quinteto para metais, Brazilian Landscapes N. 2. A obra contém dois movimentos de características contrastantes entre si, Santo Antonio e Ingá. Os nomes são uma homenagem aos locais de nascimento da mãe e do pai do compositor, respectivamente. Pelas normas do concurso, a obra não pode ser gravada nem executada até a data da premiação, mas quem conhece o estilo do compositor e a diversidade de “atmosfera cultural” daqueles dois lugarejos cearenses, pode ter uma idéia da instigação auditiva presente na obra. Como parte do prêmio, o músico, natural de Russas, terá sua peça publicada e o registro dos direitos autorais pago pela C. F. Peters Corporation, editora que publica nomes como Schoenberg, Stravinski, Satie, Charles Ives, Joaquin Rodrigo, John Cage, dentre outros. Em 2003, Pitombeira foi eleito o "compositor do ano" pelo Music Teachers National Association, por sua Brazilian Landscapes N. 1, e a N. 3 foi estreada na Grécia no ano passado. A série completa é constituída de seis peças. Pitombeira tem um catálogo de 104 obras, dentre as quais duas sinfonias, uma opera, três concertos e diversas formações instrumentais e corais. No Ceará, foi um dos fundadores do grupo camerístico Syntagma em 1986, para o qual continua compondo, e também atuou como professor da Universidade Estadual do Ceará. Reside nos EUA desde 1998, é Ph.D. em Composição pela Universidade de Louisiana, onde leciona atualmente como professor visitante. O prêmio veio como uma boa surpresa em meio ao clima intempestivo do furacão que por lá atravessou. A entrevista a seguir foi realizada em três sessões, nos dias 8, 9 e 10 de setembro, por meio de webchat e ligação telefônica via Internet. [LG] LG - Gostaria que você falasse um pouco sobre o estilo, os materiais e a forma da Brazilian Landscapes N. 2, já que não é possível ouvi-la até a premiação. LP - Esta peça surgiu a partir de um esboço de sonata para saxofone e piano que eu mantinha no meu banco de dados composicional. Sempre mantenho nesse banco uma média de trinta obras inacabadas ou que foram retiradas do catálogo para serem reconstruídas, como a série Zodíaco, que está sendo toda reciclada. O elemento gerador desta sonata era um acorde menor com sétima maior e sexta no baixo, o qual, após ser distribuído temporalmente, se constituía na primeira linha melódica da peça. Este elemento inicial se manteve depois que a sonata se transformou no segundo movimento do quinteto de metais “Brazilian Landscapes No.2” e ficou funcionando como o refrão de um rondó, que é a forma aproximada deste movimento. Depois disso eu adicionei um primeiro movimento lento que contrastasse com a energia rítmica do segundo movimento. Este primeiro movimento tem uma forma livre, como uma fantasia, e tem como idéia estrutural tríades maiores e menores encadeadas sem rigor sintático, não-funcional. Antes do primeiro movimento ser adicionado, eu já tinha mais ou menos uma idéia da metáfora programática da obra, por conta de sua inserção na série “Brazilian Landscapes”. Diferentemente de uma outra série nacionalista que estou compondo, as “Serestas”, que se propõem a ser um “catálogo” de danças e gêneros musicais brasileiros, a série “Brazilian Landscapes” enfoca mais impressões e referências extra-musicais brasileiras e é, digamos, mais voltada à “exportação” deste objeto imaterial, daí o título em língua estrangeira. Assim sendo, na “Brazilian Landscapes No.1”, eu fiz referência a três compositores brasileiros: Egberto Gismonti, Antônio Calado e Camargo Guarnieri. Nessa segunda peça da série, eu fiz referências familiares, ao utilizar como títulos os nomes dos lugarejos de nascimento de meus pais. São locais bem diferentes, atmosfericamente e populacionalmente falando. Em Ingá, moram remanescentes de tribos que habitaram o Vale do Jaguaribe, principalmente da tribo Araribu, que antes habitava o local onde é, hoje em dia, o município sede de Russas, até que foram afastados pela "civilização" quando chegou o Forte São Bernardo das Russas. Desta forma, o povo de Ingá é mais relaxado, mais "filósofo". Minha avó, mãe do meu pai, fumava cachimbo e sentava naquela famosa posição tradicional indígena, de cócoras. Do outro lado, indo pra Fortaleza, fica Santo Antonio de Russas que foi estabelecido, ao que parece, pelo meu bisavô Antonio Jose Rodrigues Pitombeira. Ainda estão lá a capela, a casa grande e o que restou da senzala. Ou seja, o pessoal de lá era a "civilização". Esse é o lado da minha mãe. Por isso, o primeiro movimento é meio austero e os metais em certa hora lembram órgão, sem vibrato. Não sei como rotular o estilo da peça, mas tenho simpatia filosófica pelo pósmodernismo, como foi definido por Jonathan Kramer num artigo para a revista “Indiana Theory Review”, em 1996: o pós-modernismo não considera válidas as barreiras de tempo, espaço e cultura que dividem a música, nem respeita os dogmas de direcionalidade e unidade estrutural. Portanto, minhas obras nacionalistas resultam de uma mistura livre de estruturas tonais, atonais e modais e nascem quase sempre sem um planejamento intelectual. Uma análise mais profunda da obra, a qual eu não fiz nem pretendo fazer, por enquanto, pode revelar com mais clareza os sotaques nacionalistas e as influências mais universais. LG - No ano passado, o MTNA lhe concedeu o prêmio de "compositor do ano" pela BL n. 1. Em geral, a série vem agradando bastante o público, não somente nos EUA. A que você atribuiria esta aceitação? Você acredita que o conceito desenvolvido na série, essa idéia de apresentar o Brasil, continua constituindo um diferencial na prática? LP - Na verdade, o público não tem nenhuma participação nesse processo de escolha. A não ser que se defina público como as pessoas que tiveram acesso à obra, os jurados, enfim, pouquíssimas pessoas. Aliás, este é um ponto de constante polêmica nos círculos composicionais que tenho vivenciado na prática: o público é importante? pode uma obra de arte viver no vácuo sustentada e apreciada única e exclusivamente por uma elite acadêmica e pelo dinheiro das universidades? A resposta é clara para muitos compositores: uma obra de arte é expressão pessoal e com absoluto compromisso com o novo e, portanto, mesmo sendo muitas vezes produzida a partir de arquétipos da vida comum, é algo a ser apreciado somente pelo cérebro e não pelos sentidos. Assim sendo, a música, antes de ser um fenômeno auditivo, é uma rede de estruturas gestálticas e gráficas. Uma boa explicação sobre a obra basta, o som é o de menos. Esta tendência não é algo criado pelos modernistas do século XX, mas é a revivificação de um conceito que tem suas bases na escola pitagórica: os sentidos são impuros, só a mente pode julgar e apreciar a beleza. Mas, como Pitágoras teve um opositor, Anaximandro, que pensava exatamente o contrário, ou seja, a mente é impura e os sentidos são uma referência mais segura, assim também existe uma corrente contrária a este movimento hiper-intelectualista que se manteve viva até hoje. Para identificar os compositores desta linha pitagórica, basta buscar em qualquer compêndio de história da música contemporânea em que certos compositores são deixados de lado: Poulenc, Prokofiev, Milhaud, Villa-Lobos, Guarnieri. Eu gosto de beber de ambas as fontes. Voltando ao ponto sobre o público, antes de voltar à resposta, muitos compositores, em discussões que tenho participado, definem o público simplesmente como eles mesmos, numa mistura de Narciso com Luix XIV: o público sou eu. E assim fica resolvido o dilema: se o público sou eu e eu gosto da peça, o sucesso é de 100%. Polêmica resolvida. Agora, falando sobre “Brazilian Landscapes No.1” e porque eu acho que ela agradou à academia americana. Existe aqui nos Estados Unidos, pelo que tenho observado, duas febres paradoxais que circulam no corpo acadêmico: uma que se agarra com unhas e dentes ao modernismo ultra-intelectual e dissonante de Elliot Carter e Milton Babbitt e outra que cultua o que se chama de “world music” como parte de uma manifestação pósmoderna, que é o neo-romantismo e o minimalismo. “Brazilian Landscapes No.1” tem tipos paradoxais de sonoridades reunidos numa unica peça: modalismo, dodecafonismo livre, tonalismo, atonalismo, notação gráfica, massas sonoras, efeitos e exploração timbrística etc, e com uma referência extra ao Brasil, que é muito respeitado aqui, do ponto de vista musical. O Camargo Guarnieri recebeu da OEA, no final de sua vida, o prêmio “Gabriela Mistral” de maior compositor contemporâneo das três Américas. Ou seja, acho que essa referência ao Brasil foi um fator importante. Uma preferência pós-moderna por parte dos jurados também foi importante na hora da escolha. Além disso, a BL No.1 agrada muito aos músicos e, como consequência, eles produzem um resultado sonoro bastante positivo. Mesmo os trechos bem angulares, a que muitos músicos resistem, são inseridos em contextos onde o intérprete pode mostrar sua voz, e isto é também um fator que o liga a obra e produz mais qualidade interpretativa. Voltando ao conceito de público, para fechar, acho que BL No.1, pela variedade sonora que apresenta, consegue atingir um público maior: compositor, intérprete, e por vezes audiência. A peça foi gravada pelo selo Magni e está disponível no mercado estadunidense desde outubro de 2004 e tem sido executada no Brasil pelo Jacob Herzog Trio desde essa época. LG - Mas a BL N. 3 foi executada na Grécia, não? LP - Sim. Na época, eu estava terminando o doutorado e meu orientador, Dinos Constantinides, que é grego, levou diversas peças de alunos seus para serem executadas pela Orquestra do Conservatório Synchrono de Atenas. Ele foi o regente e a flauta foi executada pela flautista americana Sarah Beth-Hanson. A peça também foi executada em janeiro de 2005 nos Estados Unidos, com a Louisiana Sinfonietta, sob a regência dele novamente, e com a mesma flautista. Estou estudando a possibilidade de uma execução no Brasil, em Goiânia, mas ainda não tem data definida. A Brazilian Landscapes N. 3 é bem diferente das BL anteriores. Os dois movimentos são conectados sem pausa e a fonte de inspiração é, pasme, a novela “Éramos Seis”, do romance de Maria José Duprée, que foi exibida na Tupi entre 6 de junho de 31 de dezembro de 1977, quando eu tinha 15 anos. Os grandes atores, entre eles Gianfrancesco Guarnieri e Nicete Bruno, e a trilha sonora, devem ter me marcado de alguma forma. A Banda, de Chico Buarque, era uma das canções, e, além disso, eu fiquei com o som da abertura na minha cabeça que foi se tornando indefinido com o passar do tempo e, depois, intuitivamente filtrado pelas minhas experiências musicais, se transformou no tema inicial da obra. LG - Fale um pouco sobre a sua formação musical e humanística no Ceará. LP - Minha base musical vem da música popular e instrumental. É uma das poucas portas abertas que se tem, principalmente no Ceará, quando não se é rico ou não se teve a sorte de obter um patrocínio externo, desses que se dão a potenciais nascentes. No caso do Ceará a situação é um pouco mais grave porque não existe ainda uma estrutura, ligada ou não às instituicões acadêmicas, de produção e consumo de música de concerto e assim sendo, o êxodo dos artistas é quase inevitável. Excetuando-se a iniciação ao violão, com o Paulo Santiago, ainda em Russas, por volta de 1974, fui autodidata até 1985, quando iniciei estudos de harmonia com os compositores Tarcísio José de Lima e Vanda Ribeiro Costa, que me orientou até 1991. Paralelamente, eu cursava o bacharelado em música na UECE e participava do Syntagma, o qual ajudei a fundar em 1986. Estudos mais intensos nas áreas de contraponto, forma, estética, orquestração, harmonia e composição vieram quando passei a estudar com o compositor José Alberto Kaplan, compositor e pianista argentino radicado na Paraíba. Estudei de 1991 a 1998 com o Professor Kaplan. O duro era enfrentar 20 horas de ônibus, ida e volta, para ter uma aula mensal. Foi no meio dessa rotina dura de Coelce, aonde eu trabalhava das 8:00 às 18:00 de segunda a sexta, curso noturno da UECE, primeiro como aluno, depois como professor, e o Syntagma, que compus minhas primeiras trinta peças, as quais me abriram a porta para um mestrado no exterior, graças a uma bolsa de ensino que recebi da Louisiana State University no segundo semestre de 1998. A intenção inicial era ter ficado na UECE, passando de substituto à efetivo através de um concurso que foi oferecido em 1998, mas as autoridades de lá não acharam que meu currículo era suficientemente bom para pertencer aos quadros do curso de música, então parti. Cursei o mestrado e o doutorado em composição com o “minor” em teoria de 1998 a 2004. Como parte do meu contrato de bolsista, iniciei atividades docentes na Louisiana State University em 2001, ministrando aulas de composição e monitorando as sessões de treinamento auditivo dos cursos iniciais de teoria. Em 2003, já com o status de ABD, “all but dissertation”, passei a ministrar o curso de técnicas composicionais contemporâneas para os alunos de mestrado e doutorado. Com o término do doutorado, no primeiro semestre de 2004, seguiu-se a contratação como instrutor e, agora, como professor assistente visitante. Minha formação humanística foi ainda mais irregular: não tive acesso fácil a áreas importantes como filosofia, antropologia, semiótica e literatura. A formação que tive paralelamente à musical foi de caráter tecnológico, em Eletricidade e Eletrônica, cursado na antiga Escola Técnica Federal, atual CEFET-CE, e confesso que isto me ajudou bastante quando tive os primeiros contatos com a música eletroacústica. Entre os planos futuros, com relação à minha formação, está a idéia de potencializar um contato mais profundo com disciplinas humanísticas que possam ampliar minha visão musical como teórico e servir de base intelectual para minha produção composicional. LG - Que dificuldades principais você atravessou no processo de mudança para os EUA? LP - A língua é a grande dificuldade inicial, especialmente quando este contato se dá depois dos trinta anos de idade, como foi o meu caso. A língua inglesa, pela sua falta total de foneticidade, é uma barreira imensa à comunicação verbal para alguém acostumado a uma língua quase fonética como o português. Eu já tinha certa familiaridade com o inglês escrito, mas este é, na minha visão, totalmente desconectado do inglês oral. É como se fossem duas línguas numa só e, se as línguas são instrumentos de filtro e poder das elites, imagine a complicação quando este filtro é duplo. Embora a dificuldade se amplie mais ainda quando se depende desta língua para frequentar os cursos de uma universidade, compreendo que a ênfase positivista do sistema educacional americano facilita a adaptação inicial de certo modo, porque não se discutem muito as causas e as consequências dos fenômenos, com medo talvez que a coisa desemboque em Adorno, Sartre, ou mesmo no “perigoso” Marx. Deixei as disciplinas mais filosóficas e com vocação polêmica para o final do curso, quando já tinha um domínio melhor da língua. Outra dificuldade é a financeira. Como eu vim sem nenhum apoio do Brasil, tive que gerenciar bem os recursos da bolsa e dos trabalhos realizados na universidade. Como bolsista, só se pode trabalhar 20 horas semanais, então a entrada de dinheiro é mínima, e os recursos se esvaem rapidamente com coisas básicas que no Brasil são muito mais baratas e de melhor qualidade, como alimentação, por exemplo. A cultura e as relações também se constituem numa dificuldade que muitas vezes faz o processo andar mais lento. Tenho o exemplo de dois alunos meus de composição que eram membros do coral da escola. Estes dois indivíduos cantavam nesse mesmo coral, no mesmo naipe de tenor, já havia dois anos e, um dia, um deles precisou de carona para ir a um concerto. Ambos estavam na minha sala e, por incrível que pareça, não se conheciam. Eu fiz a apresentação e ficou resolvido o problema do transporte. Uma cena dessas é totalmente impossível de acontecer no Brasil. Imagine se existe algum coral no Brasil, em que os membros não se conhecem. Transferindo isso para o dia-a-dia, dá para se ter uma idéia do nível de solidão por que se passa aqui. A solução é se organizar, principalmente com relação a prazos e regras, as duas palavrinhas fundamentais da cultura americana, porque as informações nunca virão por meio de conversas ou comentários, mas sempre através de um calendário ou de um “website”. Uma dificuldade extra no meu caso é com relação à saúde e alimentação. Como sou adepto de uma cultura mais alternativa neste sentido, tive que improvisar bastante porque os sistemas holísticos, homeopatia, vegetarianismo etc, ainda são muito incipientes, principalmente no estado de Louisiana. LG - Que críticas você apontaria, a partir de suas experiências pessoais, no sentido de melhorar o ensino de composição nos EUA? E no Brasil? LP - O estudo da composição só se firma em bases sólidas quando existe realimentação de conhecimento, ou seja, quando o compositor ouve o resultado de sua produção, ouve os comentários dos intérpretes, e aplica estes resultados e estas sugestões diretamente no processo composicional. Isto envolve, principalmente, o aspecto orquestração, com relação às combinações de instrumentos. Como se pode escrever um dueto para oboé e fagote quando não se tem uma clara idéia mental dos registros destes instrumentos, de como suas sonoridades se equilibram relativamente? Este tipo de enfoque é deficiente tanto nos Estados Unidos como no Brasil por conta dos custos elevados com cachês, especialmente no que diz respeito aos músicos de cordas. Ao que parece, este era um ponto forte na educação composicional dos países do leste europeu há alguns anos, como a Polônia, por exemplo: os compositores tinham um acesso mais imediato aos resultados sonoros de suas obras. Um outro aspecto importante é o contato direto do compositor com os diversos instrumentos, como instrumentista. Esta vivência facilita o trabalho do compositor no momento de expressar idiomaticamente suas idéias com relação a determinado instrumento, e isto evita certos absurdos que só funcionam no papel, mas que podem ter uma solução mais exeqüível, mais fisicamente lógica, e que cause menos sofrimento ao intérprete. Parece que há alguns currículos no Brasil que abordam este problema, como o do Rio Grande do Sul, por exemplo. Nos Estados Unidos, também é possível encontrar escolas de composição com esse enfoque. Um outro ponto importante é o contato do compositor com a área tecnológica e com as ciências exatas. Diversos aspectos da música atual, como teoria dos conjuntos, música estocástica, música eletroacústica, composição espectral, acústica, precisam que o compositor se sinta confortável com equações e teoremas, não necessariamente como um profundo conhecedor da área, mas como um usuário de processos que são muitas vezes auxiliares à composição. Complemento estes três tópicos com a necessidade de se reforçar o estudo da percepção, da improvisação, do contato constante com um instrumento, e de se criar um gosto de pesquisa por disciplinas humanísticas que, se não atuam diretamente no ato composicional, formam a longo e médio uma consciência artística mais madura. A música, que nos sistemas educacionais medievais era classificada com uma disciplina do quadrivium aritmética, geometria, astronomia e música – passa, a partir das conexões com a retórica, a partir do barroco, a integrar também o tradicional trivium - gramática, retórica e lógica. Desta forma, pode-se abordar o fenômeno composicional partindo de ambos os lados: um mais matemático, outro mais literário. Um bom curso de composição permite o acesso do aluno às duas áreas. LG - Mas, na prática, como professor, que tipo de abordagem você considera capaz de atingir esse ideal? Em que aspectos os desafios que você encontra enquanto professor são parecidos e em quais são diferentes, nos EUA e no Brasil? LP - Dois fatores podem alterar esta situação na prática: recursos financeiros e mudança no currículo. Com recursos financeiros, as bibliotecas podem ser melhor equipadas, especialmente com partituras e gravações, grupos de instrumentistas podem ser contratados e melhor remunerados para proporcionar as retroalimentações necessárias aos compositores, e pesquisadores de outras áreas, humanas e tecnológicas, podem ser inseridos num contexto de maior interdisciplinaridade, o que favoreceria uma maior integração da composição com estas áreas afins. A mudança curricular seria uma consequência natural da injeção de recursos na estrutura de formação composicional. Estes recursos já existem, na realidade. O fato de se pôr em prática ou não é somente uma decisão política. Exemplificando o caso do Ceará, para dar uma idéia prática do processo: a arrecadação tributária do Ceará, ICMS + IPVA + outros impostos, foi, no ano de 2004, de aproximadamente R$ 2.724.000.000,00. Este é um dado público, disponível na página da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará. Se extrairmos desse valor, por exemplo, o percentual de apenas 2%, como era sugerido pela Lei Jereissati, teremos cerca de R$ 54.480.000,00, ou quase R$ 4.540.000,00 mensais que podem tranquilamente financiar milhares de projetos culturais, incluindo uma orquestra sinfônica de altíssimo nível, e ainda de sobra pode financiar esta estrutura de ensino da composição que mencionei na resposta anterior. Ou seja, a solução para este problema não é algo utópico, inantigível: é algo possível de acontecer a curtíssimo prazo. Amanhã, pode-se ter tudo isso, não somente no Ceará, mas no Brasil inteiro. Agora, com relação à segunda parte da pergunta: as dificuldades no Brasil são ligadas à estrutura física e de apoio, por exemplo, falta de partitura, falta de livro, falta de gravação, falta de músicos, baixo salário dos professores, etc. Quando dava aula de contraponto, harmonia e análise na UECE, eu trazia um garajau cheio de livros de música e livros de outras áreas, que eu comprava com meu salário, para fundamentar pontos disciplinares e interdisciplinares, como por exemplo: porque utilizar uma abordagem materialista em oposição a uma abordagem idealista no ensino do contraponto? O aluno brasileiro, em geral, questiona essas coisas. Já o típico aluno americano, educado numa cultura calvinista, se contenta em decorar nomes, datas e regras de contraponto. Por outro lado, a estrutura educacional nos Estados Unidos, especialmente a de bibliotecas, é muito bem equipada materialmente. Por exemplo, na biblioteca da universidade onde eu leciono, é possível encontrar obras completas de diversos compositores, incluindo gravação. Em suma, a estrutura material é o fator que mais diferencia o ensino norte-americano do brasileiro. LG - Você apresenta um catálogo numeroso, com 104 obras. Você poderia falar um pouco sobre o amadurecimento desta produção? Que alterações e reflexões foram surgindo ao longo do tempo no seu processo composicional? De que modo a mudança do Ceará para Louisiana afetou este processo? LP - O amadurecimento tem pra mim um lado prático e outro mais abstrato. O lado prático se refere à notação, clareza estrutural, rapidez nas decisões, escrita idiomática, etc. O lado abstrato se relaciona com questões de identidade, nacionalismo versus universalismo ou uma mistura das duas tendências, linguagem, abordagem, intelectualismo versus intuição ou um equilíbrio entre os dois princípios, etc. A vinda para Louisiana foi fundamental para o amadurecimento prático, por conta do contato intenso com os intérpretes. Se você olhar o meu catálogo de performances, vai ver que, nesse período de 1999 a 2005, tive mais de 150 execuções de minhas peças. Esta retroalimentação, que eu mencionei anteriormente, é fundamental para o amadurecimento da técnica composicional. A clareza na notação é o ponto onde mais se evolui quando se tem constante retorno por parte dos intérpretes. Quando o intérprete pergunta verbalmente alguma coisa sobre a notação, é sempre um sinal de que as instruções precisam ser melhoradas. É um processo lento de revisão constante dos originais, e que sempre ocasiona uma evolução positiva na técnica do compositor. A dedicacão integral à composição também favoreceu a esse amadurecimento. Até o primeiro semestre de 1998, eu compunha na hora do almoço, de madrugada, depois de chegar da UECE ou do Syntagma, e nos fins de semana. Depois que cheguei aqui, pude me livrar um pouco da condição de “compositor-fugitivo”, e algumas vezes sentar calmamente durante um dia de semana qualquer e produzir horas à fio. O requisito semestral aqui para um aluno de composição é compor dez minutos de música, eu sempre compunha três vezes mais. Também é exigida uma peça orquestral de vinte minutos para o mestrado, e outra para o doutorado. Eu compus duas sinfonias, uma ópera, dois poemas sinfônicos e dois concertos. Foi uma questão de inércia: eu já vinha num ritmo tão intenso que, quando vi condições favoráveis, não consegui parar. Sobre o lado abstrato, a distância do Brasil, e o contato com outras culturas - porque aqui é uma Roma dos tempos modernos, se toma contato não só com a cultura americana mas com as mais diversas culturas favoreceu este amadurecimento na identidade, na definição do estilo e na abordagem. É possível encontrar, na minha produção atual, traços nacionalistas e universalistas. É possível, também, encontrar obras totalmente construídas a partir da intuição, e outras que foram projetadas cerebralmente. O acesso à partituras e gravaçoes, e o contato constante com outros compositores, também facilitaram este processo de amadurecimento. LG - Gostaria que você comentasse a presença do imaginário do sertão em suas composições. Aproveitando o comentário, queria voltar na questão da sua formação cultural, não exatamente a acadêmica, mas de sua vida em Russas, e da mudança para Fortaleza, pois essa temática do sertão nordestino é recorrente em suas obras, e me parece que aquele aspecto da sua formação é muito forte e espontâneo na sua criação musical, independente dos recursos que você utiliza. Você poderia falar um pouco mais dessa fase inicial da sua formação musical? LP - Eu creio que a cultura popular das pequenas cidades do interior do Ceará é um misto de cultura urbana, com diversas influências externas, e a cultura do sertão. Não sei ao certo o quanto assimilei de ambas as vertentes, mas o primeiro contato consciente com a música nordestina veio em 1979, na Escola Técnica Federal do Ceará, quando fundei com mais cinco amigos músicos, Poty, Alcântara, Nicodemos, Fernando e Mônica, um grupo chamado Inhamuns. No repertório, havia compositores nordestinos como Fagner e Luiz Gonzaga, e como o grupo era basicamente instrumental, nós tínhamos de destrinchar o material harmônico, melódico e rítmico das canções, e então terminávamos por analisa-las informalmente. O contato inicial com a música nordestina, nesse grupo, e nos grupos instrumentais subsequentes de que participei, foi fundamental no meu desenvolvimento como compositor. LG - Que projetos, trabalhos e leituras você está envolvido no momento? LP - Na área de composição, estou trabalhando em algumas encomendas: Seresta No.14 para tuba e piano, para o grande tubista Joseph Skillen. Sonata para violoncelo e piano no.2, que vai ser gravada pelo violoncelista paraibano Felipe Avelar de Aquino, no próximo semestre. Uma peça para saxofone, sons eletroacústicos e dançarino, para o saxofonista Michael Straus. Uma valsa para o pianista brasileiro Ivan Pires, que atualmente reside em Paris, e um duo para violino e trompete para Lisa Snyder e Brian Mcwhorter. Há também diversos projetos composicionais paralelos que andam em ritmo mais devagar. Gosto de trabalhar em várias peças ao mesmo tempo. Na área de pesquisas, estou revisando diversos artigos que escrevi nestes últimos sete anos, e também escrevendo novos artigos. Um assunto que me interessa no momento é a similaridade entre conjuntos de classes de notas como ponto de partida para uma classificação mais compacta das harmonias atonais. Uma boa taxonomia, mesmo sendo uma etapa positivista da análise, é um ponto realista de partida, sem muitos floreios poéticos prematuros beirando o charlatanismo ou estupefações oriundas de analogias tendenciosas, advindas de uma falta de conhecimento, e pode revelar muitas interligações estruturais numa obra musical: poesias e fantasias surgem naturalmente no decorrer do processo, sustentadas por uma base sólida, se é que existe solidez alguma quando tudo que se faz no mundo da análise é construir idéias a partir de modelos. Quanto às leituras, estou buscando um contato maior com a semiótica, a matemática e a filosofia para ampliar o meu repertório de ferramentas analíticas e composicionais. LG - Quais os projetos futuros? LP - Continuar os trabalhos na minha terceira sinfonia, e revisar e reeditar algumas peças anteriores ao Opus 30. Retomar os estudos da língua francesa, para ter acesso à obra de Koechlin sobre orquestração e às novas tendências composicionais contemporâneas, como composição espectral, por exemplo. LG - Você apontaria que rumos para a música do século XXI? LP - Se o período conhecido como tonal pode ser sintetizado na idéia de prática comum, e a música do século XX na incessante busca pelo novo, mesclada à uma espécie de ditadura do determinismo, no século XXI, creio que a chave será a fusão do presente com o passado, do consonante com o dissonante, do popular com o erudito, do ocidental com o oriental. Simultaneamente e paradoxalmente à essa fusão, creio que haverá uma valorização maior das culturas locais, dos nacionalismos. Haverá também um melhor equilíbrio entre as tendências intelectualistas e intuitivas, e um maior acesso das pessoas à composição musical como instrumento de expressão, graças principalmente à tecnologia e facilidade de comunicação. LG - Você também se interessa por pesquisa? Como é o seu relacionamento com as outras áreas de conhecimento na Música? LP - Interesso-me por análise. Quando cursei o doutorado em composição, tive que optar por uma subárea de estudos, e então escolhi teoria, que é uma disciplina que fornece a base inicial para a análise. Foi quando pude ter um contato maior com ferramentas importantes, como análise schenkeriana e teoria dos conjuntos de classes de notas, e também acompanhar em detalhes a evolução da teoria musical de Zarlino até hoje. Luciana Gifoni (Brasil). Música, jornalista e pesquisadora de música. Atualmente cursa mestrado em Música no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Nadja (1928), de André Breton: atracción demencial de la piedra imantada Carolina A. Navarrete González . Intento acercarme a la obra Nadja de André Bretón con la intención de desentrañar la dimensión de la locura en tanto configura líneas de sentido que posibilitan el cruce de la surrealidad con la vertiente de la inspiración poética del pensamiento platónico. En primera instancia, se procederá con la caracterización de los rasgos demenciales presentes en la obra, especialmente en la relación que establece Nadja con la ciudad y el amor para continuar con la propuesta platónica de la demencia presente en el diálogo Ion y su correspondiente conexión con la dimensión surreal. La particularidad de la dimensión demencial presente en la obra es vislumbrada principalmente a través del trazado del encuentro fortuito, de la visión de lo momentáneo y de la propuesta de libertad presentes en el personaje Nadja. El libro propone un modelo de mundo singular, cercano y lejano a la vez de la experiencia ordinaria, donde el azar y el don visionario juegan un papel importante; y otro, más extraño, donde la locura es un dato de la realidad. [1] En este sentido interesa adentrarse en la ciudad, específicamente en la calle, identificándola como aquel espacio de la realidad donde se vuelve posible acceder a la experiencia del amor y de la belleza como antesalas de la libertad creadora y del ilimitado campo de la locura. Lo interesante es que esta experiencia demencial le es revelada al narrador de esta obra [2] no sin antes plantearse el tema de la identidad y de su diferenciación como paso necesario para la revelación de su tarea dentro del mundo: Me esfuerzo en saber en qué consiste, o, más bien, qué tiene de propio mi diferenciación. ¿No es en la medida exacta en que tome conciencia de esta diferencia que se me revelará lo que, entre todos los hombres, yo he venido a hacer en este mundo y cuál es el mensaje único que traigo conmigo? La inquietud inicial del narrador por encontrar ese rasgo diferenciador que le permita responder a la pregunta ¿Quién soy? le remitirá indefectiblemente a la fuente diferenciadora por excelencia: el otro. Es a través del encuentro con Nadja y de su paulatino develamiento (¿quién es ella?) la forma en que el narrador irá desentrañando aquella diferenciación que le permita revelar el mensaje que le está encargado entregar a sus semejantes. Sin duda, este mensaje correrá por las vías de la propuesta de la surrealidad: la figura del encuentro fortuito, del azar, del amor, de la libertad, es decir, de lo incondicionado, de la visión de lo momentáneo y sobreviniente, y de la locura, rasgos que Bretón habría emblematizado en dos libros que porta en su encuentro de 1926: Manifiestos del Surrealismo y Los pasos perdidos. [3] Ahora bien, el narrador, junto a Nadja con la cual lleva a cabo diversos recorridos por las calles de París, aprenderá a asir un mundo donde cada acontecimiento se revestirá con la apariencia de señal por lo que se verá obligado a multiplicar su atención a los hechos palpables a través de sus sentidos, ya que serán éstos los que le permitan una comunicabilidad con dimensiones ocultas de su inconsciente: Me introduzco en un mundo de las súbitas aproximaciones, el de las petrificantes coincidencias, el de los reflejos que priman sobre cualquier otro impulso mental, el de los relámpagos que permiten ver verdaderamente. […] Se trata de hechos que, aunque fuesen del orden de la comprobación pura, presentan siempre todas las apariencias de una señal, sin que pueda decirse con justeza de qué se trata, lo que hace que en plena soledad yo me descubra inverosímiles complicidades, las que me convencen de mi ilusión cada vez que me creo a solas en el timón del navío. Esta constatación remite a una concepción del mundo como aventura tanto en el plano físicosensorial como en el mentalimaginario, donde cada acontecimiento de la realidad tiene la potencialidad de conducir a planos desconocidos. En este sentido habría para el narrador una ciudad propiciadora de este tipo de experiencias: Nantes será la ciudad donde “ciertas miradas arden por sí mismas con demasiado fuego […] allí un espíritu de aventura más allá de todas las aventuras reina todavía en ciertos seres”. Los recorridos por ciudades como ésta junto con París parecen ser la condición necesaria para la aproximación, a veces obsesiva, en el oscuro fondo de las miradas de sus habitantes. La fijación en los ojos de Nadja constituye una ventana hacia la visión de aquellos aspectos que escapan a la cotidianeidad: “¿Qué es lo que tienen de extraordinario estos ojos? ¿Acaso hay en ellos reflejos simultáneos de oscura miseria y de luminoso orgullo?”. Nadja, poco a poco se convierte en la fuente inspiradora de André, éste aprehenderá de ella las experiencias súbitas de lo extraordinario y el aliento de libertad: “Consideré a Nadja, desde el primero al último día, como un genio libre, algo así como uno de esos espíritus del aire que determinadas prácticas de la magia permiten momentáneamente vislumbrar pero nunca someter a sus designios”. En este punto, Nadja como el alma errante que sólo se vislumbra sin posibilidad de retener, introduce el tema de la libertad. Nadja se mueve fuera de los límites de la temporalidad para interrogar a André sobre su reclusión en la cárcel, la que podríamos interpretar con la carga simbólica de las ataduras de la razón: “Pero, dime, ¿por qué tienes que estar prisionero? ¿qué habrás hecho? Yo también he estado en la cárcel. ¿Quién era yo? Hace siglos. Y entonces, ¿tú quién eras?”. Esta interrogante remite al ámbito de lo demencial en tanto revela un alejamiento del campo de una racionalidad reconocible. Nadja se sitúa en la perspectiva de la locura reflejándola como un estado, como una manera de comportarse basada únicamente en la intuición más pura, en la libertad como completo desencadenamiento: Por muy maravillado que yo estuviese ante esta manera de comportarse, basándose únicamente en la intuición más pura, no dejaba de sentirme alarmado al comprender que, cuando la dejaba, Nadja volvía a ser arrastrada por el torbellino de la vida corriente, la que parecía desenvolverse aparte de ella. La intuición de Nadja, como base de su comportamiento, determina también la noción de amor que transmite la obra. Nadja propone el amor en el sentido de su unicidad e improbabilidad: “Es posible que no halla estado a la altura de lo que Nadja me proponía. Pero, ¿qué me proponía? No importa. Sólo el amor, en el sentido que yo lo entiendo –misterioso, improbable, único, confundidor e indudable amor-, el amor, en fin, a toda prueba”. Estos rasgos perturbadores derivados del principio intuitivo emanado por Nadja no sólo afectan a la noción de amor sino también a la inspiración creadora, tema especialmente apreciado por Bretón para su concepción surrealista. Nadja sostiene el báculo de la inspiración como un juego, una fuerza imantadora de lo momentáneo y sobreviniente: Nadja me acompaña en taxi. Permanecimos algún rato en silencio, después ella me tutea bruscamente: “Un juego. Dime cualquier cosa. No importa qué, un número un nombre de persona. Como esto (ella cierra los ojos): Dos, ¿dos qué? Dos mujeres. ¿cómo son estas mujeres? Visten de negro. ¿Dónde se encuentran? En un parque... Y además, ¿qué hacen? Vamos, si es muy fácil, ¿porqué no quieres jugar? Es así como me hablo cuando estoy sola, contándome toda suerte de historias. Y no sólo historias vanas: es enteramente de este modo que yo vivo. Esta declaración de Nadja implica la idea de la elucubración como modo de sostén de la experiencia. La invención de historias bajo el manto de la ocurrencia inmediata, equivale a dejar al descubierto el funcionamiento de los mecanismos del inconsciente, del más oscuro y pedregoso ámbito de la existencia. Allí, lejos de la racionalidad, se mueven los hilos de la(s) historia(s) de Nadja. En este sentido, sería pertinente la vinculación entre esta inspiración creadora con la alusión a los mecanismos inconscientes de la creación artística enunciados por Platón a través de la piedra que Eurípides llamó magnética y la mayoría heraclea. Para Sócrates no existiría una técnica en el rapsoda Ión para hablar sobre las hazañas ilustradas por Homero sino que existiría una fuerza divina que le mueve parecida a la que hay en la piedra imantada. Sócrates explica que esta piedra, no sólo atrae a los anillos de hierro, sino que mete en ellos una fuerza tal, que pueden hacer lo mismo que la piedra, o sea atraer otros anillos, de modo que a veces se forma una gran cadena de anillos de hierro que penden unos de otros. Así, a todos ellos les viene la fuerza que los sustenta de aquella piedra. De este modo, la Musa misma crea inspirados y por medio de ellos empiezan a encadenarse otros en este entusiasmo. De ahí que todos los poetas épicos, los buenos, no dicen todos sus bellos poemas gracias a una técnica sino porque estarían endiosados, dementes y posesos. Este postulado contenido en el diálogo Ión de Platón permite establecer la relación entre la concepción demencial de la inspiración creadora de Nadja, quien efectivamente actuaría bajo el signo de la posesión en su continuo relatar de historias, y la imantación que ejercería la piedra heráclea, situación acaecida a los poetas durante el misterio de su creación artística. Bajo este prisma, vincular el surrealismo bretoniano con una de las directrices del pensamiento platónico resultaría coherente sobretodo si tenemos en cuenta el automatismo psíquico al que alude Bretón como rasgo característico de su movimiento. En este punto cabe preguntarse si la demencia que provoca la piedra imantada y la locura de Nadja podrían convertirse en ventanas mediante las cuales se volviera posible poner al descubierto aquellas perturbaciones y universos caóticos que nos habitan. NOTAS 1. Cedomil Goic. “Cartas poéticas de Gonzalo Rojas”. Estudios filológicos # 36 Valdivia, 2001. 2. Recordemos que esta obra presenta, en cuanto a su clasificación, una riqueza de interpretaciones muy variada: puede ser leída como un documento, un diario de vida, un informe médico, una novela autorreflexiva o una metanovela. 3. Para comprender la dimensión surreal a que hacemos referencia, conviene tener presente, además de estas dos obras de Bretón, una de las obras capitales del surrealismo publicada en 1926: Le Paysan de Paris. Entre sus variadas direcciones, se puede encontrar el tema relacionado con los paseos, deambulaciones o derivas del autor por París, para encontrar, sin proponérselo, lo maravilloso cotidiano, el azar objetivo y los lugares metafísicos que la ciudad puede procurarle. Carolina A. Navarrete González (Chile). Doctoranda por la Pontificia Universidad Católica de Chile. Actualmente colabora en la redacción de la revista Anales de Literatura Chilena de la PUC y coordina la edición de la revista Digital de Crítica, Ensayo, Historia del Arte y Ciencias Sociales Crítica, específicamente el Área de Literatura Latinoamericana Contemporánea. Dentro de sus publicaciones se encuentran una serie de artículos en revistas nacionales e internacionales donde ha enfocado su interés en diversas áreas de la literatura hispanoamericana. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Pablo Valarezo: el marimbero de la mitad del mundo para todo el mundo [entrevista] Edwin Madrid . embarga a toda su familia. Pablo Valarezo (Ecuador 1955), en estos días, vive más en Guayaquil que en Quito debido a que ensaya la última obra del año que la Orquesta Sinfónica Nacional estrenará en esa ciudad. Sin embargo, en una de sus visitas furtivas a Quito, logramos contactarle para conversar de la música que para él es una pasión que Músico con formación académica, percusionistas de la Sinfónica, amante de la música nacional y esposo de una de mayores cantantes ecuatorianas, el año pasado presentó su ópera prima: Los ecuatorianos, un CD de música instrumental que recupera los ritmos más tradicionales de nuestro país. Los ecuatorianos, título preciso para hablar de la música de esta parte del mundo con un proyecto que Pablo Valarezo lo vino pensando desde hace mucho tiempo, es uno de los discos más logrados de los últimos tiempos por un músico ecuatoriano. Una pequeña joya que deleita a propios y extraños, tanto que mi amigo, el poeta brasileño Floriano Martins, al escuchar por primera vez, me pidió inmediatamente contactar a Pablo para arrancarle algunas de sus sensaciones al respecto. [EM] EM - Tu disco tiene un nombre inequívoco: Los ecuatorianos, ¿cómo surgió? PV - Yo siempre he tenido esa inquietud con la música ecuatoriana, independiente de los géneros que existen. Recordando lo que ha sido mi vida desde la niñez, miro que de mi padre obtuve una amplia información sobre nuestra música. Él creó la primera radio emisora en Loja, y allí trabajaba mucho con el compositor Segundo Cueva Celi, uno de los mayores músicos de nuestro país. Desde entonces, para mí ha sido muy importante la música popular del Ecuador a pesar de mi formación académica. EM - Hablando de tu formación, ¿por qué elegiste ser percusionista? PV - Bueno, a mí siempre me gustó la percusión y esa fue mi elección. Sin embargo, yo no sabía qué no más abarcaba la percusión y cuando llegué al conservatorio en Europa, me di cuenta de la amplia gama de instrumentos que abarca la percusión, entre esos la marimba, el vibráfono, el xilófono, la celesta, todos instrumentos melódicos. Y la marimba, como instrumento desarrollado con toda la escala tonal, me cautiva. EM - Tu primer disco: Los ecuatorianos, es un paseo por ciertos ritmos nacionales donde la marimba los atraviesa todos con un virtuosismo no muy frecuente en la ejecución de nuestra música. ¿Cuéntame cómo hiciste la selección de los temas en este primer disco? PV - Fundamentalmente parto de la idea de rescatar la música ecuatoriana instrumental, que es mucha y variada, entre ella la de Carlos Amable Ortíz, un virtuoso violinista y compositor quiteño de finales del siglo XIX pero también está la música de otros compositores de quienes comparto en este primer disco. Una música ejecutada en la marimba, que sin ser un instrumento étnico como la marimba esmeraldeña, no deja de tener relación con esta. EM - ¿Entonces, no se trata solo de hacer música afroecuatoriana por esa relación que tiene, llamemos la marimba profesional con la marimba esmeraldeña? PV - Los negros esmeraldeños son quizá los personajes más musicales de nuestro país, gente que tiene una musicalidad y un ritmo en el área de la percusión que lamentablemente, no han tenido una formación, una instrucción para que la marimba esmeraldeña se desarrolle; porque quienes deberían tocar la marimba en este país, son los esmeraldeños. Entonces queremos impulsar a los constructores de marimba esmeraldeña para que habiliten una marimba vromática. Esto implique que marimba esmeraldeña se vuelva un instrumento más versátil, para tocar cualquier música en cualquier tonalidad. Tanto es así que la gente en las academias de música, los conservatorios, etc; aprenda a tocar marimba. EM - ¿Quisiéramos saber cuáles son las referencias que tienes de la percusión en la música del Brasil? PV - Creo que la riqueza percusiva de la música brasileña es muy amplia y alimentadora para todos los que estamos vinculados a la música. Yo por suerte he tenido amigos y compañeros percusionistas brasileños y es un deseo aprender más de la versatilidad de instrumentos de percusión que tienen. Es así como lo primero que yo conocí como piezas dedicadas para marimba fue la obra de Ney Rosauro, compositor y percusionista brasileño, de los grandes marimbistas que hay en el mundo, y de él he ejecutado un Concierto para Marimba y Orquesta, con la Orquesta Sinfónica Nacional que se lo ha escuchado en todo el país y en diferentes partes de Iberoamérica. EM - ¿Antes de llegar a plasmar el concepto musical que desarrollas en Los ecuatorianos qué habías hecho? PV - Después de terminada mi carrera universitaria me dediqué por entero a la Orquesta Sinfónica Nacional del Ecuador, esto es desde hace 22 años, pero paralelo con esto, he participado en grupos de música popular, sobre todo, con Pueblo Nuevo, al que estuve vinculado por varios años. He tenido muchas grabaciones con distintos artistas y, desde luego, con la percusión, aunque con ninguno con la marimba. Porque cuando yo llegué a Quito en 1981, no había marimbas aquí. Solo en 1990 logro que el Conservatorio de Música, donde dictaba clases, compre una marimba, y desde entonces se empezó a trabajar en la marimba. EM - Finalmente, querido Pablo, háblanos de tu relación en la producción musical de tu esposa, Margarita Laso (www.margarita.com.ec). PV - Creo que me hice cargo muy tarde de la dirección musical de Margarita, solo a raíz de Carpuela me vinculo a su trabajo. Definitivamente, Margarita tiene mucho criterio para hacer su música, y cuando se trata de hacer un arreglo, lo que discutimos es cómo quisiéramos que salga, cómo quisiera ella que sea el acompañamiento, qué instrumentos quisiera utilizar. En ese sentido, tenemos un diálogo muy directo y vamos probando de distintas formas lo que más nos satisfaga hasta lograr lo mejor. Así que yo estoy muy contento porque los discos que han salido bajo mi responsabilidad, han tenido mucho éxito. Y eso nos hace sentirnos más atrapados por nuestra música. EM - Ahora abandonamos a Pablo Valarezo, son casi las 20:0H y mañana tiene que volar muy temprano hacia Guayaquil para seguir en los ensayos de Orquesta Sinfónica Nacional. Le decimos que nos debe la nota de su nuevo disco: Ven te abrazo, los ecuatorianos II en el que le acompaña su hija Martina Valarezo y que el próximo año será presentado oficialmente. Un abrazo. Edwin Madrid (Ecuador, 1961). Poeta e ensayista. Ha publicado Enamorado de un fantasma (1991); Tambor sagrado y otros poemas (1995); y Puertas abiertas/ Open Doors (2000). Premio Casa de América de Poesía Americana. Contacto: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 Panorama da dramaturgia brasileira Paula Valéria Andrade . Ao falarmos de teatro no Brasil, não podemos simplesmente mencionar as bem sucedidas e qualificadas montagens de adaptações. Precisamos falar de nossa realidade brasileira. E entre muitos temas para abordar escolhi exatamente tocar na questão dos autores teatrais, os dramaturgos. Eles são o eixo paradigmático de qualquer montagem, direção ou interpretação e, a sua estética, de acordo com seu tempo. Tudo surge da palavra. “A língua é minha pátria.” E ela traz o código da nação em suas mais sutis expressões sociais. Abra-se a pala. E lavra-se. Por isso proponho revermos, em breve resumo, a história do teatro no Brasil, em termos de lembrarmos quem são os nossos dramaturgos e em que contexto se enquadravam ou des-enquadravam. Como eram os caciques-diretores dos caciques-atores da taba? Vamos começar bem lá do começo. Índios, selva. Terra Brasilis. Parte 1. Sabemos do século XVI as manifestações primeiras de teatro no Brasil, eram aquelas dos jesuítas com fins de catequese, onde se apresentavam, sobretudo, autos consagrados à vida de santos, entre os quais se destacaria o exemplo do padre José de Anchieta. Já no século XVII, houve o natural declínio do teatro jesuítico resultando em escassas manifestações teatrais. O que se via eram representações em homenagem às comemorações cívicas ou religiosas, embora já começassem a surgir por ali alguns autores, com marcada influência do teatro espanhol. Só mesmo no século XVIII apareceu um teatro considerado regular, com o estabelecimento das primeiras casas de espetáculos como empresas e com seus elencos estáveis. Mas a repercussão do teatro francês e italiano ainda era ponto de referencia estética muito forte. Totalmente dominante. A figura considerada como mais notável do período é o dramaturgo Antônio José O Judeu (1705-1739) cujas comédias e tragicomédias, embora ainda ao gosto ibérico, teriam papel importante na formação do teatro brasileiro. 1. O autor e a tal da nacionalidade No século XIX, até o ano de 1838, inicia-se a esperada transição a um teatro nacional impulsionada pelos sucessos políticos da Independência em 1822 e da abdicação de D. Pedro I em 1831. Finalmente organizase o primeiro elenco dramático brasileiro a seguir em 1833 e a primeira regulamentação do teatro. Impulso fundamental dado. Início de uma organização mais oficializada. Começando a fazer a história toda funcionar. Aqui nesse momento, foi traçado o destino do que viriam a ser nossos direitos, nesse aspecto artístico e político das regras do jogo cênico. Mas foi mesmo com Artur Azevedo que a reação nacionalizadora e a criação de uma estética brasileira chegou ao seu auge, com o desenvolvimento da comédia e do gênero "revista", a partir de O mandarim, lançada em 1884 e a que se seguiriam inúmeras outras, trazendo ao teatro um público popular dele habitualmente ausente. Artur, aqui, faz a ponte e atrai para o teatro o público não-teatral e começa a falar uma nova linguagem. Uma estética só para brasileiros. 2. Drama, luz, decadência e alguma anarquia Entre o período de 1900 a 1930, permaneceu em destaque a comédia de costumes com seus textos muitas vezes escritos em função do intérprete a que se destinavam e o chamado "teatro ligeiro", também sem maior definição estilística e formal, levando os críticos e historiadores a falarem em "decadência". Apenas em paralelo a isso, crescia o número de empresas dramáticas que exploravam as revistas, operetas, farsas e dramas de capa e espada, e a elevação de uma consciência nacionalista, que confrontava as companhias estrangeiras que voltaram ao Brasil no pós-guerra de 1918, com a instalada "comédia brasileira". O quadro em São Paulo era o seguinte: a cidade onde o proletariado urbano mais crescia por obra da industrialização nascente e o lugar do teatro anarquista, influenciado por imigrantes italianos. Esse teatro era porta-voz das sérias lutas políticas do período de 1917 a 1920. Mas o teatro em geral se mantinha isolado. Seja o que for. Quer seja dos movimentos estéticos de renovação que ocorriam na Europa e aqui repercutiam na literatura e artes plásticas (como no caso da Semana de Arte Moderna, em 1922), quer dos sérios acontecimentos políticos da recém-implantada República de 1889, que a literatura refletia (como no caso de Euclides da Cunha, com a guerra de Canudos). Havia uma ligação direta nessas artes que não ocorria com o teatro, não ainda. Mas estava para chegar essa tal revolução. Tentativas individuais de renovação, pelo menos temática, surgiram com Deus lhe pague, de Joracy Camargo, incorporando idéias marxistas ou Sexo, de Renato Viana, aportando teses freudianas, ou ainda Amor, de Oduvaldo Vianna, trazendo o tema-tabu do divórcio em uma estrutura dramática já ligeiramente modificada. Tentativas competentes, porém localizadas. Uma iniciativa pioneira digna de registro foi a de Flávio de Carvalho: em seu Teatro de Experiência montou O baile do deus morto, em 1933, que, por levantar aguda crítica ao poder e suas implicações, à moral e à religião, foi fechado pela polícia em sua terceira apresentação. Mas suas sementes frutificaram em A morta e O rei da vela em 1937, de Oswald de Andrade. Alegoria tropibacana de Oswaldo entre antropofagismo e tropicália, já no embrião. À medida que o século avançava foram surgindo tentativas de desenvolvimento. Crescia cada vez mais a preocupação com um teatro infantil com formas específicas de texto e montagem. Fundavam-se e desenvolviam-se associações de classe, como a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais/SBAT em 1917, a Casa dos Artistas em 1914, ou entidades culturais como a Academia Brasileira de Teatro em 1931 e a Associação Brasileira de Críticos Teatrais em 1937. Expandia-se cada vez mais a atividade teatral, por todo o país e através de grupos amadores e formas de teatro experimental. Criou-se um órgão governamental, o Serviço Nacional de Teatro, em 1937. Crescia, em outros pontos do país, o número de escolas de arte dramática. E aumentavam as chances de mais autores, os tais chamados dramaturgos, encenarem cada vez mais os seus trabalhos. 3. O tal do Estado que foi dito Novo Mas foi durante a ditadura civil de 1937-1945 (implantada no país por Getúlio Vargas, renomeada eufemisticamente de "Estado Novo") que um novo grupo amador formado por profissionais liberais e personalidades da sociedade, sob direção de Brutus Pedreira e Santa Rosa, realizou a encenação que do seria considerada o início da modernidade: Vestido de noiva, em 1943, de Nelson Rodrigues, com direção de Ziembinski. Foi um escândalo de moderno. Aqui foi instituído o uso do foco na iluminação brasileira. O diretor, um gênio que o Brasil teve a chance de poder aproveitar o talento. Mesmo em duros tempos populistas de Getúlio. Em seguida, pouco depois o eixo deslocou-se do Rio de Janeiro para São Paulo, onde um grupo de profissionais italianos vindos para o Brasil montou, em 1946, o Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC que, com a competência de um elenco fixo de 15 atores, alternou montagens clássicas e comerciais sempre tecnicamente bem cuidadas, iniciando a moderna indústria do espetáculo e contribuindo para a renovação técnica e formal do teatro brasileiro. Cacilda Becker, Sérgio Cardoso e muitos talentos da era pré-tropicalista. 4. Arena e Oficina E foi exatamente logo após este momento, com o Teatro de Arena, em 1953, que surgiu realmente uma nova estética, através de um Seminário de Dramaturgia, que lançou inúmeros autores novos como Vianninha, Roberto Freire, Guarnieri, Benedito Rui Barbosa, Chico de Assis, tudo isto com uma preocupação com a nossa identidade representada e com o apoio de um Laboratório de Interpretação, que trabalhou as características brasileiras dos personagens na cena e inclusive as possibilidades de uma leitura nacionalizada dos clássicos. Leituras e Releituras. Em função das repercussões do Arena junto a um grupo amador de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, na USP, surgiu o Teatro Oficina em 1958, preocupado em estudar a formação cultural do país e investigar a estrutura do capitalismo e suas repercussões sócio-culturais, com um repertório e técnicas próprios de uma concepção antropológica. Entre lebres e lagartos, de Zé Celso como grande encenador que inclusive dirigiu Roda Viva de Chico Buarque de Hollanda, passando depois fora do Arena, pelo expressivo trabalho sócio-político-teatral dos textos da dramaturgia de Plínio Marcos, Ariano Suassuna e João Cabral de Mello Neto.E embora sempre tambem muito politizados, os textos irreverentes entre as gostosuras geniais de Dias Gomes e Jorge Amado. 5. Boal e Guarniere, figuras parceiras e de caminhos paralelos Recentemente, o jornal inglês The Guardian afirmou que Augusto Boal “reinventou o Teatro Político e é uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislawsky”. Para o diretor de The Drama Review, Mr. Richard Schechner, “Augusto Boal conseguiu fazer exatamente aquilo que Brecht apenas sonhou e escreveu: um teatro alegre e instrutivo. Uma forma de terapia social. Mais do que qualquer outro homem de teatro vivo, Boal está tendo um enorme impacto mundial.” Boal tem em sua obra a marca de uma grande expressividade na década de 60, quando também esteve ligado ao Teatro de Arena de São Paulo até final dos anos 70. Seu trabalho de criação como dramaturgo desenvolveu um sistema inovador de encenação no Brasil; além de ser reconhecido internacionalmente com suas traduções presentes em mais de vinte línguas. Suas teorias, histórias, textos e personagens em livros sobre o Teatro do Oprimido, [1] são internacionalmente conhecidas como parte integrante de sua metodologia cênico-pedagógica. Da mesma geração que revolucionou nossa dramaturgia no famoso Teatro de Arena, Augusto Boal foi o responsável pela formação de muitas cabeças. Ele inspirou e foi até o mestre de muita gente talentosa. Após cursar dramaturgia e teatro com John Gassner, em Nova York, Boal comecou a dirigir, no Teatro de Arena de São Paulo, assim que regressou dos Estados Unidos. Com suas habilidades, passou a exercer natural liderança e acabou responsável pela orientação do grupo: aprofundou o trabalho de interpretação, aclimatando o método de Stanislavski às nossas condições brasileiras e propiciando o surgir de uma interpretação mais naturalista; além de tudo, também investindo na solidificação da formação dramatúrgica do cast, enfim, o elenco como um todo. Sua primeira direção, Ratos e Homens, de John Steinbeck, foi um sucesso em 1956. A seguir, vem Marido Magro, Mulher Chata, uma comédia de costumes bem despretensiosa e de sua autoria e, ainda em 1957, a direção de Juno e o Pavão, de Sean O'Casey, ja no sentido de orientar o grupo para preocupações mais sociais e políticas. Também realizou a estréia de sua peça Revolução na América do Sul, em 1960, com direção de José Renato. Em forma de revista e de musical, o espetáculo foi baseado nos princípios brechtianos da composição dramatúrgica, onde o protagonista, um homem do povo, o José da Silva, era a vítima de todas as explorações da classe dominante. Com seu talento irreverente e uma incrível verve, ele chega a apelar para o épico talvez até quem sabe para enfim alcancar a farsa fanfarrona e o “quase que” riso circense. A forma como coloca as situações em si e o modo como as desenvolve, revelam o poder, perfazendo o portrait do lado corrosivo com seus jogos, tudo ali expresso de forma rasgada e única. O dramaturgo também foi parceiro de sucesso de Gianfrancesco Guarnieri. E um de seus grandes feitos juntos foi a montagem de Eles Não Usam Black-tie. Após o grande sucesso do texto de Gianfrancesco, dirigido por José Renato, Boal sugeriu a criação de um Seminário de Dramaturgia, empreendimento que não só sedimentou os conceitos exercitados, assim como também atraiu as atenções sobre a realidade nacional, aplicando-se nos trabalhos dos anos seguintes, através do repertório da fase nacionalista do grupo. E nessa proposta, sob sua direção estrearam: Gente como a Gente, de Roberto Freire e Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho, em 1959; Fogo Frio, de Benedito Ruy Barbosa, em 1960. Depois, seguindo na linha nacionalista do Arena, ele lançou Arena Conta Zumbi, em seguida Arena Conta Tiradentes, utilizando dois fortes heróis históricos, sacrificados na luta pela liberdade, como metáfora contra a opressão vivida do momento. Seus trabalhos sempre foram uma luta contra a opressão e a falta de liberdade. Para falar de Gianfrancesco Guarnieri, precisamos lembrar, antes de mais nada, que ele foi um ator e dramaturgo totalmente engajado com as questões políticas e sociais de sua geração no Brasil. Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Marinenghi de Guarnieri, nasceu em Milão, Itália, em 1934, tornou-se um dos mais importantes autores teatrais brasileiros dos anos 60, apesar de ser italiano. Filho de imigrantes, chegou ao Brasil aos dois anos de idade e viveu no Rio de Janeiro. Mudou-se para São Paulo em 1954 e como ator integrou, em 1955, o Teatro Paulista do Estudante, grupo amador que, no ano seguinte, fundiu-se com o Teatro de Arena. Foi ali, nos elencos de Escola de Maridos e Dias Felizes, em 1956, e em Ratos e Homens, em 1957, que o ator se projetou como bom intérprete e ganhou espaço intelectual no grupo. Suas peças transmitem genuína emoção e uma lúcida crítica à realidade nacional e foram participativas do processo de renovação do teatro brasileiro promovido pelo Teatro de Arena de São Paulo. Até este momento, o rigor formal era a dominante tendência no teatro, uma tradição quase solene. O então conhecido e que se tinha acesso, era uma dramaturgia apenas voltada para a forma dramática, com base no modelo artístico francês. Política também não era assunto para os palcos nacionais. Mas foi através de Glauber Rocha, Guarnieri e Augusto Boal, entre tantos outros nomes que faziam teatro com o vigor e a visão de quem busca (e pode) transformar o (seu) mundo, que esse círculo elitista e hermético imposto anteriormente foi deliberadamente quebrado e superado. A partir desses autores, foram implementadas novas perspectivas de personagens e temas, revelados pela arte agora atenta aos sentimentos populares. Guarnieri era filho de artistas de esquerda e sempre estava envolvido em movimentos estudantis. Esse, entre outros motivos, o levou a pensar no teatro a discussão da realidade da política nacional. Tudo isso, muito antes da queda e ruína do comunismo, hoje já comprovado como um – também – regime manipulativo das massas. A partir da leitura e influência de Brecht e seu ponto de vista sobre a relação entre política e cultura, arte e revolução, e entre música e teatro, essa geração de autores dramaturgos, acreditando nesse conceito, simplesmente mudou a forma brasileira de se fazer teatro sem os academicismos ou imperialismos de uma dramaturgia convencional. Porém, na época em que escreveu Black-tie, Guarnieri não conhecia o teatro épico de Bertold Brecht. Como algo novíssimo na ocasião, o dramaturgo alemão era quase desconhecido entre nós, salvo por alguns críticos mais antenados e duas apresentações de grupos amadores. Entre os anos 60 e 70, também emergiram para a vida política e cultural novas gerações de estudantes e de trabalhadores, gente jovem, gente simples, gente que reformatou o pensamento vigente e fez com que o teatro desempenhasse um papel tão importante quanto a música e o cinema nacional. Dessa forma, o público era convidado a compreender, interagir e até mesmo a protagonizar a nossa história brasileira. Esse momento criativo e libertário só foi interrompido por força de armas, pela ditadura militar. Seu trabalho em particular introduziu nova perspectiva temática com a peça Eles não usam black-tie (1958), levando aos palcos conflitos modernos e urbanos em seus problemas sociais originados pela era industrial, a luta pela sobrevivência no emprego e por melhores salários. O famoso texto retratou o conflito de gerações entre duas pessoas de uma mesma família do ABC paulista (zona industrial): um jovem operário e seu pai, líder sindical. Embora na convencional teoria de dramaturgia teatral não se enquadre essa abordagem, pois segundo Peter Szondi – que é categórico em afirmar – vemos que: “o drama social é de natureza épica e por isso mesmo uma contradição em si mesma” –, aqui novamente Guarnieri quebrou também outra regra essencial, presente nos manuais do “bom drama”: ao invés de trazer personagens "superiores" como protagonistas, ele se utilizou de gente humilde, trabalhadores comuns, para conduzir sua história. Mesmo as mais simples metáforas foram pinçadas nos mais básicos valores de nossa cultura popular, como por exemplo, na metáfora do amor, o feijão – prato massivo na America do Sul – teria um "coração de mãe". Aqui no caso faz sentido, na cena final de Eles Não Usam BlackTie, que o casal interpretado por Gianfrancesco Guarnieri e Fernanda Montenegro celebre seu amor – e cumplicidade – de anos de vida em comum, reconfortando-se de suas dores e frustacoes, no ato de catar feijão juntos na cozinha. Típica leitura/imagem do cotidiano de um casal brasileiro de baixa ou média classe que batalha pela sobrevivência e, como diz o poeta Chico Buarque, “põe mais água no feijão” pra mais um comer. Em seguida, o autor desenvolveu em parceria com Augusto Boal o texto Arena conta Zumbi (1965), onde aplicou o famoso método brechtiano do distanciamento. Guarnieri, Augusto Boal e Edu Lobo optaram pelo modelo dramático de um “seminário histórico”, que possibilitou a inclusão do narrador contemporâneo que interliga e comenta os episódios representados, estabelecendo outro patamar – até então inovador – de comunicação com a platéia. Essas técnicas, de cunho brechtiano, dão forma ao chamado sistema coringa. Dois anos depois, renovando o mesmo texto, surge Arena Conta Tiradentes, um aperfeicoamento dessa mesma proposta e sistema que revela o protomártir da Independência como herói. Esses dois sucessos na época promovem o Teatro de Arena à condição de liderança junto ao teatro de resistência. Podemos ver, em outro texto de Boal bem mais tarde – mas também marcante em sua carreira e bem representativo – o Murro em Ponta de Faca, realmente o que é o autor Boal escrevendo revoltado, contra os esquemas de manipulação e de poder. Assim como seu parceiro e toda a sua geração de dramaturgos. Após os heróis, Boal em seguida dirige, em 1961, Pintado de Alegre, de Flávio Migliaccio, e O Testamento do Cangaceiro, de Chico de Assis, e assim completa sua expressiva fase nacionalista. A partir do próximo ano, decidem-se mudar do eixo da linha de encenação do Arena para iniciarem então uma nova fase, agora de nacionalização dos clássicos. Marcam esse novo capítulo as montagens bem realizadas nas encenações de A Mandrágora, de Maquiavel, 1962; O Noviço, de Martins Pena; O Melhor Juiz, o Rei, de Lope de Vega, e O Tartufo, de Molière. Entre os anos de 1969/1970, Augusto Boal escreveu e dirigiu o espetaculo Arena Conta Bolívar. As montagens, somente foram apresentadas no exterior, em longa excursão por vários países da América Latina e Europa. Retornando ao Brasil, em seguida criou com uma jovem equipe o Teatro Jornal – 1ª Edição, com a publicação das experiências de leitura de textos acompanhadas de comentários, com técnicas do agitprop e do Living Newspaper; equipe essa, que se desenvolve e mais tarde vem chamar-se Teatro Núcleo Independente. Vemos em ambos os autores não só a cumplicidade política de sua geração como também uma forte parceria estética e poética, na construção de seus textos e personagens. Estes ilustraram bem, entre os anos 60 e 70, o que de melhor o teatro de resistência poderia retratar sobre as questões sociais brasileiras. Entre parcerias e caminhos paralelos eles fizeram da moderna dramaturgia brasileira algo inovador e bastante irreverente. 6. Dramaturgas desde os anos 60 até hoje Para completar sobre esta década gostaria de citar as seguintes e importantes dramaturgas: Maria Adelaide do Amaral, Hilda Hilst e Renata Pallottini em São Paulo e Leila Míccolis no Rio de Janeiro. Representantes femininas da consistência na criação de textos teatrais nacionais e em alguns casos também televisivos, assim como o colega escritor Dias Gomes. Maria Adelaide do Amaral tem uma obra teatral de sucesso que inclui 14 peças, das quais se destacam Resistência, 1974 que foi sua estréia profissional nos palcos; Bodas de Papel, 1976 (recebendo os prêmios Moliére, Ziembinsky, Governador do Estado e da Associação dos Críticos de Arte na categoria melhor autor nacional); Chiquinha Gonzaga, 1982; De Braços Abertos, 1984 e Querida Mamãe, 1994; todas vencedoras do Moliére de melhor autor nacional. A poeta e dramaturga Hilda Hilst, sempre muito intensa e irreverente em todos os aspectos e que, em 1967 redigiu A possessa e O rato no muro, iniciando uma série de oito peças teatrais que escreveria até 1969. São elas O visitante, Auto da barca de Camiri, O novo sistema e As aves da noite todas escritas em 1968 quando também O visitante e O rato no muro são encenadas pela primeira vez no Teatro Anchieta, em São Paulo. E em 1969 finaliza com O verdugo e A morte do patriarca. Esta primeira recebe o Prêmio Anchieta e é encenada no Teatro Oficina em São Paulo, sob a direção de Rofran Fernandes em 1974. Anos depois em 1999 O caderno rosa de Lori Lamby, originalmente em prosa, é levado aos palcos sob direção de Bete Coelho com a atriz Iara Jamra no papel principal. No ano de 2000, foi lançado o Teatro reunido (volume 1). No mesmo ano, ocorreu a estréia, em Brasília, da adaptação teatral de Cartas de um sedutor e também na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, o espetáculo HH informese, reunião e adaptação teatral de textos da autora foi encenado com sucesso. Hilda faleceu recentemente em 2004 aos 73 anos em Campinas. Já sobre Renata Pallottini, também poeta e dramaturga, sabemos que em 1960 ocorreu a montagem de sua peça A Lâmpada, em Campinas SP. E que ela lecionou História do Teatro Brasileiro na Escola de Arte Dramática da USP, em 1964. Um ano depois foi encenada sua peça O Crime da Cabra, sob direção de Carlos Murtinho, sua estréia no teatro profissional. Entre 1969 e 1982 publicou oito peças de teatro e foi roteirista do programa infantil Vila Sésamo e diretora da Escola de Arte Dramática da USP. Teve uma parceria com Chico Buarque e escreveram juntos o espetáculo Pedro Pedreiro. Em 1987, publicou o texto da peça Colonia Cecilia. Sem contar que além de peças teatrais, Renata também escreveu, em prosa, Cacilda Becker - o teatro e suas chamas, 1997 e o ensaio O que eh dramaturgia, 2005, este um texto revisado e compilado do seu livro anterior Dramaturgia: construção do personagem, 1989. Como vemos, sua contribuição para o teatro brasileiro e sua dramaturgia se estendem muito além dos palcos. Por último, a carioca e poeta Leila Míccolis, que também trabalhou bastante com teledramaturgia, realizando entre outras a novela Kananga do Japao e, em teatro, escreveu 15 peças, recebendo o prêmio "Os Melhores de 1997 Teatróloga do Ano" (pelo conjunto de sua obra em dramaturgia), da Sociedade de Cultura Latina do Brasil – SP. Entre seus escritos teatrais destacamos O Barco Bebado, 1994, sobre a vida e obra de Arthur Rimbaud; O último bolero (e o primeiro delirium tremens), 1995 peça teatral encenada sob a direção de Márcio Vianna (espetáculo sobre a poesia contemporânea da mulher brasileira que recebeu indicação do Jornal do Brasil como uma das melhores peças da temporada), na Casa de Cultura Laura Alvim, Rio de Janeiro; Por todo o canto, 1999 roteiro composto de 35 textos de 15 autores, em homenagem ao artista plástico Arthur Bispo do Rosário (falecido há 10 anos) peça teatral encenada no Museu Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Sua dramaturgia estaria de certa forma alinhada e até, eu diria, com o mesmo viés poético de suas escrituras de poeta. 7. Contemporâneos Agora chegamos aos trabalhos dos contemporâneos Mário Bortoloto, Leo Lama, Aimar Labaki, Bosco Brasil, Caio Fernando Abreu, Fernando Bonassi entre outros bons nomes da escrita dos proscênios; e temos hoje, início de milênio em pleno vapor de anos 2005, uma liberdade de expressão solidificada e alcançada através de muitos desafios com a censura militarista, com a necessidade de atrair sempre mais público. Mas com a certeza de que, comunicar diretamente com a platéia, em voz ativa e direta, no tom da nossa (local) voz, é uma conquista e um privilégio pra quem chega. Essa geracao de dramaturgos citada acima e que esta amadurecendo agora e acontecendo entre os anos 90 e 2000, esta toda na faixa dos 40 anos ou um pouco mais. O único um pouco mais precoce foi o Leo Lama. Então aproveite essa fase da voz do dramaturgo em cena, do minimalismo de artefatos, da necessidade da palavra na boca do ator como simbiose poética entre corpo e fala. Vivemos um período onde o que mais conta é ter um bom texto para que se possa revelar o verdadeiro trabalho de ator do bom ator. Exatamente o oposto do que aconteceu logo após a efervescência dos anos 60. Houve um longo hiato de genialidades. Digamos assim, um longo inverno. Entre os anos 70 e 80, o que aconteceu muito foi que, os dramaturgos que nao tinham grupos teatrais permanentes nao amadureceram o suficiente para evoluírem com seu trabalho. A chance do aperfeiçoamento através do processo ficou perdida na estrada. E quando os grupos existentes montavam seus trabalhos, o viés das encenações era outro. Mais cênico, mais visual e físico. Não podemos deixar de citar aqui os nomes dos diretores-encenadores Cacá Rosset e Gerald Thomas que, embora pouco (ou quase nunca) se utilizassem de dramaturgos brasileiros para os seus projetos, ou tão pouco escrevessem, ainda assim realizaram um sério trabalho teatral, com um teor brasileiro na simbiose das interpretações, de adaptações e também na conquista do reconhecimento internacional. Tanto pela criação de uma estética nacional de alta qualidade em suas montagens quanto pela excelência na direção de atores. Estética essa, de linguagem de corpo (marcações de cena ou coreografias) ou de efeitos visuais cênicos em luz, cenários e figurinos, passando também pela qualidade da direção musical ou sonoplastia envolvidas nas montagens. Mesmo que ainda representando a universalidade de Shakespeare, Beckett, Frederick Knott, Gorky, Bertold Brecht, Tchecov e falando pouco de nossa realidade com textos brasileiros. De certa forma, ao representar Shakespeare no Central Park, em Nova Iorque, Cacá Rosset inovou e revelou uma nova versão absolutamente apimentada e abrasileirada para o tão encenado autor inglês. Entre os diretores-encenadores de grande expressividade para com a cultura nacional, faço ressalva para Antunes Filho, que encenou Mário de Andrade (Macunaima), Nelson Rodrigues (Paraíso Zona Norte), Jorge Andrade (Vereda da Salvação), e Luis Alberto de Abreu (Xica da Silva), assim como também escreveu os recentes textos de suas montagens, Gilgamesh e Drácula e outros Vampiros, porém ambos baseados em contos e histórias de autores estrangeiros. Mas mesmo Antunes não foi dedicado somente ao purismo de autores brasileiros e encenou bastante dramaturgia estrangeira, conforme ocorreu neste período dos anos 80 e início de 90. Ainda bem que ao final do anos 90 e início de 2000 percebemos o despontar de uma nova perspectiva dramatúrgica e a preocupação com a palavra pensada em nossa língua. Vemos, por exemplo, em Bortoloto (prêmio APCA pelo conjunto de obras) uma dramaturgia mais concisa e voltada para nosso público, nossas raízes, mesmo que na abordagem da urbanidade e sua decadência. O Brasil não necessita somente de temas rurais para ser legítimo. Ele precisa ter na voz dos dramaturgos a sua fala. A sua pala. E lavrar-se. Não importa se no campo ou na cidade. Mas definitivamente para o público espectador brasileiro. NOTA 1. Teatro do Oprimido. Existe farta literatura sobre o Teatro do Oprimido, podemos citar aqui alguns deles como os mais recentes Stop: C'est Magique e O Arco-Íris do Desejo (Método Boal de Teatro e Terapia). O uso de seu teatro e suas técnicas, atravessaram fronteiras e são aplicadas diversificadamente, para situações e “dramas” que variam conforme o grupo envolvido. A melhor definição para ele "seria a de que se trata do teatro das classes oprimidas e de todos os oprimidos, mesmo no interior dessas classes". Suas técnicas para desenvolvimento compreendem o tripé: teatro-imagem, teatro invisível e teatro-foro. E nada mais visam do que transformar o espectador e assim trazê-lo para ser o REAL protagonista da ação dramática e, "através dessa transformação, ajudá-lo a preparar ações reais que o conduzam à própria liberação". Paula Valeria Andrade (Brasil, 1967). Formada em Desenho Industrial e Comunicação Visual. Tem 6 livros infantis publicados, todos com exposições de suas ilustrações na Itália, Holanda e Alemanha, e prêmios FNLIJ, APCA e White Ravens (Alemanha). Autora de A Arte em Todos os Sentidos (2000) e IriS digiTaL Poesy(a) (2005). Desde 1998 é colunista em websites sobre artes, teatro e literatura. Contato: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 artista convidado: luis manuel serrano Luis Manuel Serrano: la realidad y el sueño en cajas José Ángel Leyva . ¿Acaso el cuerpo no es una caja llena de órganos, de sentimientos y deseos, pensamientos y recuerdos, fantasías y preguntas? Y la vida, una constante búsqueda por encajar en algo, por hacer que otras existencias encajen en la propia. ¿Y la memoria?, un cajón donde se guardan los trebejos y se archivan delicadamente las imágenes, las palabras, los susurros, los pendientes. Poner en cajas o encajar, acomodar el mundo, acoplarnos y ordenar el caos con absoluta libertad, con la conciencia del juego y del lenguaje, del azar y de la búsqueda. Estas parecen ser las guías de Luis Manuel Serrano en su elaborado trabajo de fragmentación, ensamblaje, pegado, articulación, codificación, escenografía y poetización de la realidad. El lenguaje de Serrano es sincero en su extracción surrealista. No pretende ocultar sus orígenes ni sus exploraciones en un camino transitado por las vanguardias. Es, quizás como él lo reconoce, su formación cinematográfica y las escasas oportunidades de hacer cine la causa principal de haberse hallado ante un oficio plástico que no le exige, además de dibujar y pintar, para lo que no está hecho, grandes recursos económicos y complejas tecnologías visuales. Le basta asumir una vocación de coleccionista, pepenador de objetos, recortador de imágenes, sastre remendón, diseñador, escenógrafo, poeta, niño con espíritu creativo, para acoplar sus delirios y sus hallazgos en hábitats sensoriales, en espacios delimitados por la significación. Puede uno descubrir en su trabajo las enseñanzas y las estéticas de Max Ernst, Kurt Schwitters, Joseph Cornell, De Chirico, y en algunos momentos esas imaginerías de Magritte, o las utilerías en miniatura de Isamu Noguchi. También nos vienen a la mente Marcel Duchamp con su “Caja en maleta” (Boîte en valise, 1936-1941) y Joseph Renaud con sus collages de artesanía impecable. Cornell es con certeza el más próximo a su lenguaje, de quien es tributario en la idea fundamental sobre la cual construye sus cajas y vitrinas. Sin el propósito de trasgresión que impulsaba a las vanguardias, Luis Manuel asume su trabajo como un recurso creador donde desembocan una buena parte de sus sentimientos, presentimientos, añoranzas y sueños. Cada caja es con mucho un pequeño ataúd donde coloca fragmentos de vida que recogen los significados de un suceso, de una persona o de una existencia completa. Para muchos, los ensamblajes con volumen o casi planos de Serrano corresponderían a la poesía visual. Y no se equivocan, pues Luis Manuel también hurga en la literatura para entresacar líneas que luego inserta y magnifica en esa dimensión de los objetos y de las emociones. Los poemas forman parte de su discurso visual en donde las cosas acomodan sus pertenencias y abandonos, encajan sus registros y apariencias de contextos cercanos o distantes. En la estética de Serrano hay un lirismo conmovedor, un aliento íntimo en cada pieza seleccionada y dispuesta en el conjunto de elementos que constituyen su obra. La gramática objetal de Serrano adquiere una dinámica personal y auténtica, en la medida en que otorga a las escenas congeladas un movimiento fílmico y nos sugiere una recreación de historias y de situaciones espirituales y mundanas. El ojo oracular, el globo visionario, la esfera mágica, la cámara fantasmal, la óptica de los presagios y de las formas invisibles aparecen como leitmotivs en la configuración de sus universos poéticos, amorosos, orgánicos. Lo industrial empata con la naturaleza, la rueda metálica de un mecanismo cualquiera puede ayuntarse con un hueso, espinas de pescado adherirse o penetrar la basta corteza del cartón; una cuchara, un trozo de madera, unos anteojos pueden representar la carnalidad de sus facturas, el ánima de sus fabricantes y sus dueños. En tal sentido podemos vislumbrar también el carácter exorcizante de sus cajas, el ritual evocador e invocador del ensamblaje, de la identificación del mensaje que los objetos llevan inscritos en sus formas y volúmenes, texturas y colores, expresiones y pertenencias. Para Luis Manuel Serrano las cosas revelan sus misterios, se animan en nuevos contextos donde acomodan sus vidas anteriores y se abren a nuevos horizontes donde la mirada del espectador encaja, es decir, se acopla al tamaño y a la profundidad del campo visual, imaginativo, conceptual de cada caja. José Ángel Leyva (México, 1958). Poeta, ensaysta y editor. Es uno de los directores del grupo Alforja – revista e casa editorial. Ha publicado libros como: Botellas de sed (1996), El espinazo del diablo (1998), y La noche del jabalí (2002). Contacto: [email protected]. Página ilustrada com obras do artista Luis Manuel Serrano (México). revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 livros da agulha 1. Abla o nadA (Fábulas del Universo), de Víctor Toledo. Benemérita Universidad Autónoma de Puebla. 2002. La poesía de Víctor Toledo sorprende por la fuerza que tiene su lenguaje, por su aire de novedad, por la capacidad de transformación que potencia al máximo la lucidez y el conocimiento de la expresión poética. Una transformación que se centra en el sentido y la plenitud de cada palabra. Es decir, de una palabra que se erige como centro de un imaginario poético que, como las aguas de un río caudaloso, nos lleva en la incesante búsqueda de la pureza del signo lingüístico. Sobre la esencia misma de esta palabra poética gravitan los temas y motivos que configuran la estructura individual e intrínseca de cada texto. Por eso, la realidad y las posibilidades interpretativas que ofrece la poesía de Víctor Toledo, son varias y numerosas. Hacen que el lector también asuma una lectura que sea capaz de desentrañar el rigor de un discurso poético que no simplemente busca fijar el sentido y la imagen de las cosas que nombra, sino explorar la riqueza y la pluralidad de matices de la palabra (como lo hacen –por decir un parangón-, en la música, Bach, Berlioz, Debussy, Borodín, Stravinsky o Shönberg por citar algunos, y la más audaz y experimental renovación actual que explora la esencia tímbrica y semántica de cada nota dentro de la melodía). Esta exploración, esta simbiosis de palabras que cristalizan los tópicos que fija la poesía de Víctor Toledo, no sólo es una realidad que se percibe en su última antología Abla o nadA (Fábulas del Universo), [Puebla: Benemérita Universidad Autónoma de Puebla, Colección Asteriscos, 2002]. También notamos estos procedimientos de estilo, en los motivos y asuntos que tratan sus libros anteriores. Véanse, por ejemplo, Del mínimo infinito (Poemas 1977-1998) [Veracruz: Instituto Veracruzano de Cultura, Colección Atarazanas, 1998], y Retrato de familia con algunas hojas (Antología mítica) [Veracruz: Instituto Veracruzano de Cultura, 1999]. Esta poesía proyecta la sincronía que nace de la intimidad del poeta con el mundo. Y en esta armonía, en esta multiplicidad de imágenes, se unifica también su yo con el universo. “El poeta vive en sincronía, sin tiempo concreto, entre la tierra y el cosmos, entre vida y poesía…”, nos dice en el “Prólogo” a Retrato de familia con algunas hojas…Su decir consiste en la unidad y la armonía que rige el movimiento del cosmos dentro de un tiempo y un espacio que funden la mirada del poeta con la génesis del universo mismo. Todo esto se nos revela con intensidad en Abla o nadA: (Adán o abla), “Yo creo en el poder de la escritura brizna de menta inaugurando / el mundo”, señala en “Escritura de agua”, (p. 35). De ahí que esta aptitud hacia el universo cristalice una de las claves de este lenguaje impregnándolo siempre de un sentido mucho más profundo de lo que se nos revela en cada lectura que hacemos del libro. Lo que el poeta le exige a la palabra es que integre en un mismo sentir la sincronicidad del cosmos. Esto ocurre en un lenguaje poético que se convierte en la estética de un universo que existe gracias a la palabra misma. Por eso las cosas de apariencia más insignificantes están poseídas de una enigmática intensidad que nos sobrecoge como una grata sensación al descubrir una nueva y alentadora forma de entender el cosmos. Desde esta perspectiva “Escribir sería imposible sin la brizna de hierba…”, es decir, sin comprender lo más elemental de la naturaleza de ese cosmos, y de una escritura que no desaparece sino que se reinventa a sí misma en todo lo que la naturaleza misma representa (el agua, el viento, el mar, la luz., el rumor de la lluvia, el pasto y las flores que cubren las colinas), en esa “brizna de menta inaugurando el / mundo”. Y si bien es cierto que el lenguaje figura como una imagen emblemática del cosmos no todo siempre se presenta como manifestación y goce de los sentidos. Hay excepciones, por ejemplo, los dos primeros poemas, “Retrato de mi padre en medio de la zafra” y “Retrato de mi madre con meningioma”, son elegías que encierran una visión impregnada de un sentimiento doloroso por la pérdida del padre y de la madre. Ambos textos están definidos por la ineludible presencia de la muerte, (“Presencia de la Nada” la llama el poeta), y en lo referente al padre, el poeta proyecta el sentimiento de esa gran pérdida como una forma de reconocimiento hacia su amor y bondad. Un sentimiento doloroso padecido ahora desde la desolada experiencia de la adultez: “Padre mío, hijo mío, mi dulce niño, tanto he sufrido que ya no quiero oír mi corazón a la deriva tropical”. El poema encierra una doble experiencia, describe la imagen del padre, su fortaleza física, su vitalidad fundida en un paisaje donde su recuerdo permanece, y el niño que lo contempla en la huidiza presencia del tiempo. […] Por otro lado, en el poema “Retrato de mi madre con meningioma” el poeta siente la muerte, al menos en ese momento, como si hablase desde una postura impersonal. Desde la carencia y la angustiosa soledad recrea la imagen de la muerte en un lenguaje donde se mezclan otras voces, contrastes de palabras y signos lingüísticos, además de la intertextualidad y el diálogo condicionados por el tema de un lenguaje que causa una gran sensación de impotencia y vacío. […] Son varios los poemas que tratan el tema de la muerte desde la carencia y la soledad hasta el sentido místico de su presencia desoladora. Véanse, por ejemplo, los poemas del libro Retrato de familia… que versan sobre este tema. Pero lo que quiero subrayar en esta reseña es la aptitud del poeta hacia el sincronismo que configura su obra poética. La sincronización del ese instante supremo, infinito y eterno donde transcurre la vida y el destino de quienes compartimos el universo. Parece ser que en el entramado de ese sincronismo el lenguaje mismo refleja la armonía de las cosas restituyéndole al universo su esplendor original. De ahí esta expresión que libera el pensamiento. Ya no hay para el poeta un “yo”, ni una palabra aislada, ni una montaña, ni la lluvia, ni el lapislázuli del cielo más luminoso, ni la más humilde hierba de campo, ni el ruiseñor que se alejó envuelto en el leve esplendor de su canto, porque todos somos este lenguaje que nos posee en esta mística unidad del cosmos. Es en esta unidad donde el poeta encuentra el luminoso hallazgo de esas palabras y el sentido más puro de su experiencia poética. No para crear una especie de “neobarroquismo” explorando las infinitas posibilidades de asociaciones de códigos lingüísticos o estableciendo relaciones con la raíz de éste o aquel vocablo, o incluso para buscar una “poética de la exactitud” en una “etnia verbal común”, pues el poeta siente las palabras como si fueran formas inherentes de su vida y del universo. […] ¿Qué pretende decir el poeta en estos versos? Que somos también la naturaleza que contempla a su paso, pues todo lo visible y lo no visible se reconoce como una realidad en este lenguaje donde se funde la vida misma: “pero ya lo olvidé y no sé cómo se escribe mi irbiente nombre”, nos dice aludiendo a ese tiempo donde su existencia es un fluir ininterrumpido en esa imagen del universo. […] El tiempo también se siente como un espacio físico donde se anulan todos los instantes, donde las cosas parecen estar suspendidas eternamente: “Así que el tiempo no existe / Lo real es más que la racionalidad / Y más rico que la irracionalidad. / Dentro de cada cosa hay un reloj de arena…” (p. 67). Pero las cosas también se transforman o vuelven o desaparecen definitivamente para que acontezca el hallazgo de una nueva y deslumbrante apariencia: “La lluvia regresa al tiempo cuajado de la nieve” (p. 68), nos dice en este verso, y en éste: “Apareciste ante mi puerta como un rayo deslumbrante / por ti deseaba ser un gran poeta y alcanzarte / un viento liberando a su país / y el ritmo del cosmos, algoritmo marino, giró en mi corazón”, (en “Paráfrasis de Pushkin”, p. 72 ). La figura de otros poetas con quienes el hablante se identifica aparecen como presencias que nos comunican una sensibilidad, una dimensión de la naturaleza y del cosmos no desligada de las palabras, sino como una presencia física y real: He aquí el canto de un ruiseñor entre los abedules y “la zorra azul que se estira como una hierba larga” y un poco más, “Schubert sobre el agua, Mozart en la algazara de pájaros…”, y aparece el delicado Schiller y el silencioso Hölderlin como sustentadora luz, y el cielo luminoso de Rusia como “la dulce sensación / la orilla de la ribera” que entra en esta poesía donde la palabra más humilde adquiere la dimensión del mundo. […] Lector, ¿no vemos la gota de luz sobre la hoja que el viento del otoño lleva silbando? Somos el infinito acontecer que Dios imaginó, esa presencia “donde lo mínimo infinito y lo máximo finito se abrazaron” (p.83), pues todo se nos revela en el lenguaje del universo. En “Canto del cuarzo”, las características de este elemento se transformarán hasta identificarse con el ser: “…la esencia de la vida es sueño de cristales”, nos dice, y en el mismo poema señala: “Yo soy los otros es ser y no ser / el ser herido por donde se cuela / la luz viniéndose / de las partículas de los cristales de esta muerte / que encendió el sueño…” (p.90). Es en esta frontera entre la vida y la muerte, el cosmos y la naturaleza donde convergen en jubiloso cántico las palabras y las imágenes que nos devuelven el verdadero sentido del universo. La poesía de Víctor Toledo no es una búsqueda sino el encuentro de esa nueva imagen. Lo demás es puro ardid, un juego bienintencionado de un poeta que conoce a perfección la plenitud del lenguaje. El título mismo, Abla o nadA, enfatiza ese juego de palabras, esa relación simbiótica entre el signo lingüístico y la imagen que lo caracteriza. Por eso el uso de vocales abiertas acentúa un sonido que parece alargarse hasta el infinito. Este aparente juego verbal va sugiriéndonos, a través de muchos de los poemas, otras cadencias, otras matizaciones que entrelazan y expanden el sentido de la imagen y de un léxico capaz de transformarse y transformar nuestra manera de entender la poesía como cuando escribe, por ejemplo: “…agua dormida / azul ausencia / pre esencia / Presencia” (En “Canto del cuarzo”); o, “La rama del instante oro derrama / mariposa de luz rosa anidada / La rosa de la tierra lluvia tierna / -labios que amenazan reventar- devino mariposa y flor de vino… (“Canción de mar y tierra”, p. 99) En “Fábulas del Uni-verso” el concepto de fábula tiene un sentido contrario a lo que mayormente conocemos al leer, por ejemplo, las fábulas de J. M. Samaniego o las de Tomás de Iriarte, donde predomina siempre una moraleja, una aptitud condicionada por una enseñanza moral. En Abla o nadA el concepto encierra una dimensión mucho más profunda que excluye cualquier tipo de idea moralizante y, además, deja de lado la rigidez del pensamiento científico para otorgarle a la poesía su poder fundacional como la única forma capaz de encarnar la imagen del universo. La idea del universo rehaciéndose en la palabra ilumina las regiones más vastas y misteriosas de esta poesía: “La letra ardío en la arena / La luz sobre la luz / El yermo ayudado por el viento / Reunió sus signos cuneiformes / Su alfabeto hebreo todos sus astros / Para contar la historia / (En pergaminos que deshechos / Formaron ríos de arena / Mares áureos / Indescifrables maremágnum / cascadas cascadas / Oleajes tallando el silencio.”, (p. 105), nos dice el poeta en estos versos. Y más adelante reitera el concepto de la nada vista no ya como un lugar de la no existencia, sino como ese lugar misterioso e inconmensurable donde transpira también el universo: “El paraíso anidó sobre la nada”, dice en este verso. Y es que ese paraíso encarna también la imagen de un lenguaje que les es dado a los hombres como reflejo de su propia identidad. […] El universo como un reflejo de la mirada de Dios se proyecta en un tiempo fundado sólo por la ilusión misma de esa mirada, en un lenguaje que con toda su tensión humana nos rescata de la monotonía de la vida y del tiempo y nos instala donde la palabra alcanza su mayor esplendor: “Dicen que el universo / Es un puñado de arena que arrojó Dios / A los ojos de los hombres…” (p. 114), señala en estos versos. […] Además, el concepto mismo del universo se presenta como una especie de metáfora de la escritura: “Todo ya se está escribiendo / Todo se escribe por sí solo / Y está ya rescribiendo. / ¿Lo volveremos a escribir / O añadiremos algo…” señala en estos versos. “De cualquier forma el Libro para mí era el mar / Las playas, el éter y las mubes / Tersas páginas también / La selva silbante su encuadernación…” (p. 144), apunta en el mismo poema donde proyecta la imagen del universo como un gran libro abierto o como una revelación de la palabra poética: “Gracias a los oscuros poetas / la Tierra respira el Cosmos” (p. 146), llega a decir, no sin cierta ironía, y como si profetizara una realidad sólo posible porque existen los poetas. Y es que sentimos la imagen del universo como si fuera una especie de revelación, como si al leer estuviéramos reconstruyendo un paisaje que existe gracias a la palabra. Abla o nadA es una antología que cristaliza el sincretismo que marca el ritmo y la armonía de la naturaleza, el aliento revelador de la vida, el esplendor de la palabra y del universo, el misterio de la muerte y la existencia como una posible abolición de la nada: “Existencia: / ligero hilo de aire / que detiene a la nada” (p. 148), nos revela en estos versos que proyectan la palabra como una conciencia reveladora de la sincronía del universo: “Abecedario: / Río Infinito movimiento / De la luz” (p. 155). La sincronía de un universo que en el relampagueante mar de estas palabras nos devuelve la “voz original” donde, “Sólo los peces, guiados por la Luna, por las dulces caricias mortales, / desovan a ciegas videntes vocablos: el día justo llega al lugar exacto, / pues en las playas del mundo, se extienden aladas, las luminosas / oraciones: las hadas, las amadas palabras.” (p. 169). [David Cortés Cabán] 2. Alta traição (poemas traduzidos), por Carlos Felipe Moisés. Unimarco Editora. São Paulo. 2005. Alguém já definiu “poesia” como aquilo que se perde na tradução. Tirante o exagero, eu tenderia a concordar, tal como sugere, aliás, o título da coletânea, tomado de empréstimo a um dos poetas traduzidos, o mexicano José Emilio Pacheco. A justificativa para continuar traduzindo poemas – exercício intermitente a que me dedico, há anos – reside exatamente no desafio de tentar evitar a perda. As traduções aqui reunidas cobrem mais de 30 anos desse exercício e quase todas dormiam numa pasta antiga, crivadas de rabiscos e hesitações. A presente antologia só existe graças ao estímulo e encorajamento do poeta e editor (e também tradutor) Reynaldo Damazio. Um dia, por acaso, conversávamos a respeito de traduções, em geral. Falei-lhe dessa pasta “secreta” e ele generosamente insistiu em vê-la. Passei tudo a limpo, eliminei umas tentativas malogradas, acrescentei outras (espero que menos mal sucedidas), converti as hesitações em soluções provisoriamente definitivas, redigi umas breves notas de apresentação dos poetas e o resultado aí está, agora submetido à apreciação do leitor. Mescla heterogênea de épocas, tendências e estilos, os poemas que aí estão contam, todos, com minha particular admiração, embora nem todos pelas mesmas razões. Mas não se trata de uma seleção exclusiva dos poetas que mais admiro. Tal seleção conteria outros nomes, além dos que aí comparecem, e destes, quem sabe, um ou outro eu até pensasse em excluir. Traduzir estes poemas me proporcionou uma experiência estética inestimável. Primeiro, a tentativa de apreender, no original, o que seria sua substância íntima – rigor a que a leitura pura e simples, descontraída, nem sempre se obriga. (Traduzir, enfim, nos induz a ler melhor.) Segundo, o desafio de converter essa substância (bem ou mal apreendida, como saber?) em algo que seja, na medida do possível, fiel ao original e, ao mesmo tempo, literariamente convincente, no idioma de chegada, isto é, que o resultado atenda também aos padrões lingüísticos e poéticos deste idioma. O leitor dirá se a experiência (para mim, repito, inestimável) tem chance de se reproduzir. E se algo da poesia aí presente se manteve na (apesar da) tradução. [Carlos Felipe Moisés] ___ Carlos Felipe Moisés é poeta, tradutor, ensaísta e professor de pósgraduação da Universidade de São Marcos. Autor de Desconcerto do mundo: do renascimento ao surrealismo, Lição de casa e Alta traição, entre outros. 3. Amor quanto baste, de Rosa Alice Branco. Edições Gêmeo. Porto. 2005. Camões, estando a nau em que navegava a naufragar, escolheu salvar os originais dos Lusíadas em vez de sua amada, Dinamene. A presente série de poemas da poeta portuguesa Rosa Alice Branco parece ter sido escrita por uma Dinamese rediviva, saída das águas como uma sereia imbuída da natureza líquida das lágrimas que perfazem o mar salgado de Portugal. Os poemas são como que uma réplica aos delírios lírico-criminosos do bardo luso, o qual, da mesma forma que trocou Dinamene pelos Lusíadas, escreveu um soneto em que ele, o amador, se transforma na coisa amada, “por virtude do muito imaginar”. Da contracorrente de tal “transformação” metafísica ou poética, em que uma coisa se anula na outra, fluem os belos poemas de Rosa Alice Branco. O ato de sorver um líquido é um ato de absorver este mundo, suas faces maravilhosas, suas faces tenebrosas. A linguagem poética moderna distancia-se de uma adequação do intelecto à coisa ou vice-versa. No campo poético, não haveria adequação, mas colocação dos opostos como opostos, sem conciliação a não ser que a dissolução seja uma forma de conciliação. O poema não salva uma suposta identidade, mas a perde no redemoinho da linguagem, que é, outrossim, a prolixidade do entes e a “eventualidade do ser”. Tal premissa assoma quando nos deparamos com a série de poemas da sobredita poeta portuguesa. Os poemas configuram-se como manchas, manchas em marcha para a desmancha. Essas manchas são manchas líquidas, que desembocam numa “liquidação”. Há uma aniquilação no ato de criar, mas, na medida em que a criação deveras cria, a aniquilação, sendo alimento e excremento, é, também, sacramento, encantamento mesclado ao assombro de ser – ser para a morte, mas para o mundo e para a instável eternidade do tempo. O primeiro poema da série compara a dissolução do açúcar no café com a água que não se mistura com o azeite. Para a poeta, o amor é “untuoso” – termo que significa gorduroso, oleoso, mas, também, adquire as conotações de doce, meigo, sedutor. Todavia, justamente por ser untuoso, o amor é da natureza da relação entre água e azeite: não haveria, pois, uma fusão com o ser amado e, sim, um jazer “em parte incerta”, mancha cambiante, liquefeita. Nesta mesma linha, o segundo poema da série começa nos dizendo que “a rocha esquiva-se no rosto à carícia da água” e acaba declarando que “só os intestinos sofrem de clarividência”, pois “só eles atiram pra fora o mais íntimo de nós.” No duro rosto da rocha, inabalável, infenso às delicadas e vãs investidas da água, o desejo delineia-se como o avesso do encontro, redundando no dejeto, “o mais íntimo de nós”, como sentencia a autora. Mas não há só dejeção ou deserção do desejo, reverbera, “entre o possível e a sua morte”, “um instante de beleza”, no qual o amor baixa a guarda. Se no segundo poema, a rocha aparece como inexpugnável, no quarto texto a água mole, encarnando o velho ditado, acaba vulnerando a pedra dura. É somente por ignorância que a rocha desconhece que “está presa aos confins do chão”. A ignorância é o luto do mentecapto, do lunático dessa lua acéfala, nova, negra. Atrás do rosto há o esfacelamento da noite e o vinho acaba não sendo bebido, virando vinagre. Mas, ainda que tenha sido bebido, “a emulsão logo se desfaz”, e a identidade da pedra e da água desoladas jazem preservadas. Em consonância com o acorde inicial, o andamento dos poemas induz o leitor a ver na pedra o ser humano de gênero masculino e na água o feminino. O feminino costuma aparecer como algo lacunoso, lacustre, poroso, mole, ao passo que o masculino seria maciço, erétil e seco: uma molhada, lagrimosa, lírica, mítica, doce e salerosa Dinamene em face de um Camões empedernido, épico, ressequido, estátua deitada nos próprios louros, ao arrepio da percepção das divinas raízes chãs e atado a uma atrabiliária destilação de alcatrão. O último verso do quinto poema evoca o “vinho de missa: sangue que não pára de jorrar.” Na missa, a Eucaristia é a invocação do sacrifício de Cristo, a hóstia é o seu corpo e o vinho o seu sangue, ingeridos pelos fiéis. Sendo um ritual e, portanto, cíclico, a missa é um jorro do sangue de Cristo vertido para redimir os homens. Na Eucaristia, a redenção advém de uma antropofagia: o corpo de Cristo é devorado e seu sangue é bebido. Foi o pecado, foram os pecadores, que mataram Cristo. Ao praticarem o canibalismo simbólico, os cristão admitem que mataram Deus e que devem se nutrir de sua morte. Há, pois, um vínculo entre o sacrifício e o crime de ser sacrificado o divino, o amado. Daí, dentro da lógica do poema, o poema seguinte aludir à “violência que se comete contra o açúcar” quando o despejamos numa xícara de café e tragamo-lo. O poema diz que não pensamos nessa violência “porque alguém já matou antes, muito antes e depois de nós”. Há uma violência essencial permeado o ser humano e o ser em geral. Essa violência é escamoteada ou transfigurada pelas rotinas e rituais, pelos ciclos. De modo que o vinho da missa faz par com as menstruações: se a alma alhures está salva, o corpo que sorve o vinho eucarístico permanece sob uma sanha irredimível, sempre a sangrar sequioso de sangue. O pecado que antes, muito antes e depois de nós foi cometido é o pecado original, esse pecado é uma cisão trágica que implica que eu não sou tu nem sequer sou eu mesmo, condição existencial que resulta na intransitividade do desejo e do Ser, cujo corolário é a solidão. Por isso, “o brinde dos copos que se tocam não deseja a transparência do vidro: a pele é o cálice que nos esconde para todo o sempre.” Mas “o vinho derrama sobre a mesa uma réstia de esperança”, ou seja, a intransitividade não se quer intransitiva – espera uma “doçura transitiva [grifos meus]”, “incompreensível para os diabéticos da alma”. Essa transitividade é uma absorção da intransitividade sem, todavia, negá-la: “somos insolúveis uns nos outros como somos insolúveis em nós”. O desfecho da série de poemas aponta para uma disjunção como a doçura transitiva que os diabéticos da alma não compreendem. Essa doce disjunção intransitiva é intragável para os diabéticos da alma. Como se sabe, os diabético não podem consumir açúcar. Os diabéticos da alma seriam aqueles que não suportam a amarga doçura da vida, pois, aferrados ao sim ou não, não sabem jogar, só querem ganhar e não entendem que a “transformação” do vinho em uva, em árvore, em terra não é deveras transformação, mas perdição de um ente em outro, dos entes no ventre vazio do Ser. Como todos poemas, estes tem uma “moral”, uma moral em marcha, em manchas e desmanche, gerando outras manchas, nunca as mesmas. O lugar onde a rocha macha e os efluxos fêmeos se encontram é um lugar sempre e intrinsecamente incerto, o extremo oposto do desiderato camoniano, no qual “o amador se transforma na coisa amada”. [Mario Dirienzo] 4. Artaud, a revolta de um anjo terrível, de Alex Galeno. Editora Sulina. Porto Alegre. 2005. Interessante, a trajetória editorial de Antonin Artaud no Brasil. Primeiro, em uma distorção tipicamente brasileira, vieram ensaios e estudos biográficos, com a metalinguagem precedendo a linguagem propriamente dita. Na década de 1970, os ensaios de Derrida em A Escritura e a Diferença, a biografia por Martin Esslin, o estudo sobre Artaud e o teatro, cotejando-o com outras tendências, de Alain Virmaux. Lia-se sobre Artaud antes de se ler Artaud. Depois é que veio o Artaud propriamente dito, o que interessava, a obra dele: meu Escritos de Antonin Artaud de 1983 (e reedições, pela L&PM), logo a seguir, O Teatro e seu Duplo, traduzido por Teixeira Coelho (Max Limonad e depois Martins Fontes), e mais recentemente, em 1995, a coletânea Artaud: Linguagem e Vida, organizada por Jacó Guinsburg e outros (Perspectiva). E, retomando o curso correto das coisas, em seguida veio uma ensaística brasileira de qualidade: Entre outros, Vera Lúcia Felício com A procura da lucidez em Artaud (Perspectiva, 1996), Daniel Lins com Antonin Artaud: O Artesão do Corpo sem Órgãos (Relume Dumará, 1999), e agora este Artaud, a revolta de um anjo terrível, de Alex Galeno (Sulina, 2005). Como dialogam esses ensaios? Aí está um tema para um estudo mais extenso. Mas, onde Daniel Lins escolheu uma abordagem consistentemente (e densamente) psicanalítica, Alex Galeno, o mais novo integrante da bibliografia e confraria artausiana no Brasil, parece vocacionado para o comparatismo literário. É uma boa escolha: Literatura Comparada é o campo onde a crítica literária respira, menos sujeita à ditadura do paradigma. Comparações não faltam em Artaud, a revolta de um anjo terrível: o autor de Heliogábalo é confrontado com Rilke (o anjo terrível é, sim, aquele da primeira elegia de Duino), Pessoa, Breton, García Márquez, Kafka, Baudelaire, é claro, e Camus, Rimbaud, Dostoievski, entre outros. A boa ensaística sobre Artaud também comparece, assim como a boa ensaística em geral: Foucault, Benjamin. Tantas comparações não diluem Artaud; ao contrário, fazem com que seu perfil se destaque com mais nitidez. Inserindo-o na História, Alex Galeno ajuda a perceber sua particularidade, e, através dele, e isso é o mais importante, a recuperar o grito da revolta. Mostra Artaud como autor, não da primeira metade do século XX, mas de hoje, dizendo coisas que se referem ao aqui e agora. As últimas 50 páginas de Artaud, a revolta de um anjo terrível têm a forma de cartas dirigidas a Artaud. Esse tom personalíssimo encontra várias justificativas. Afinal, o ensaio literário de qualidade é mesmo um modo do seu autor dialogar com o escritor escolhido como tema, que está sendo estudado. Alex Galeno, com esse recurso, exibe uma característica essencial de todo ensaio de qualidade – categoria na qual se inscreve, sem dúvida, seu Artaud, a revolta de um anjo terrível. [Claudio Willer] 5. Assinatura do sol, de Rodrigo Petronio. Edições Gêmeo. Porto. 2005. Assinatura do Sol é uma série de poemas assinada por Rodrigo Petronio. Na medida em que os poemas são assinados por alguém, permito-me parodiar o múltiplo poema e dizer que, na verdade, “é uma assinatura do sou”. Mas esse “sou” não é uma expressão subjetivista ou solipsista, mas, o “Eu sou o que sou”, o bíblico Iahweh, indicado pela epígrafe de Edmond Jabès, poeta vinculado à tradição judaica, a qual é uma crítica radical à deificação da natureza e dos homens. O eu do poeta, seja ele Rodrigo Petronio, Mário Dirienzo, Dora Ferreira da Silva ou Hölderlin é como Jacó naquela sua luta com o Anjo de Iahweh, narrada pelo Gênesis. O eu, nada diante do infinito, mas tudo em face do nada, trava, no campo do mito, sua luta contra o divino, pelo divino. Com efeito, poema é polêmica. O poema é uma visceral expressão da vida, a qual se define pelo conflito, se um deles é luta do eu com Deus, outro é a “teomaquia”, a luta entre deuses. Daí, ao lado do invisível, irrepresentável, inimaginável Deus bíblico, aparecerem nos poemas divindades afrobrasileiras, as quais vinculam-se de forma imediata a forças da natureza. O Deus sem rosto evocado por Jabès é sobrenatural, transcendente, paira acima da imanência e naturalidade dos deuses pagãos. O pensador italiano Vicenzo Vittielo coloca o poeta Edmond Jabès como um excelente exemplo da experiência hebraica do divino como ausência, experiência que se contrapõe à greco-romana, na qual a Natureza estava cheia de deuses. O hábitat “natural” do Deus judaico é o deserto, o exílio de Seu povo, à espera de um Messias – sempre futuro, nunca presente. Versos de Jabès, citados por Vittielo, ilustram essa visão da invisibilidade de Deus, que toma como “idolatria” toda assimilação de Deus a qualquer criatura. “Ninguém viu Deus, mas as etapas de Sua morte são, para cada um de nós, visíveis.” “O Criador é rejeitado pela criação. Esplendor do universo./O homem se destrói criando.” Por outro lado, no Ocidente, o Deus do monoteísmo foi assimilado ao Primeiro Motor aristotélico. Essa assimilação passou a designar Deus como a causa das coisas. A famigerada lei de causa e efeito teria, ao longo dos séculos, retirado a vivacidade da vida, transformando os entes encantados em dados objetivos, cuja causa emigrou da onipotência de Deus, radicando-se na prepotência humana. Contra essa monomania e monotonia (pós-)monoteísta Assinatura do Sol, com a “delicadeza de um deus que morre”, vocifera. Personifica essa peleja o bíblico Can, cuja pele escura traz a assinatura do sol. Can é o filho de Noé que foi por este amaldiçoado, pois viu Noé nu e embriagado. De Can vem os camitas, etíopes, egípcios, os africanos: a raça dos homens escuros e seu culto politeísta. De Can viria tudo o que é negro, os orixás, a noite, a “noite dos tempos”, “do universo origem e suporte”. O rosto escuro pode ser o rosto de alguém da raça negra, alvo de repulsa e/ou atração. Nós brasileiros temos sempre um rosto negro no nosso rosto, por mais brancos que sejamos, por mais que consideremos o rosto negro uma alteridade, pois essa alteridade é parte de nossas raízes. Aprofundando a idéia da alteridade como raiz, encontramos Deus como o rosto negro, que se furta aos rosto de todos os matizes, pois o negro é a negação da cor. Por outro lado, o rosto divino contém todos os rostos, assim, o seu rosto é branco, soma de todas as cores. Sendo tanto branco quanto negro, o rosto de Deus é um paradoxo, que não devemos decifrar, mas viver. Neste diapasão, a polêmica entre monoteísmo e politeísmo perde o sentido: tudo é uno e múltiplo, simultaneamente. Há deuses e/ou os deuses são as faces de Deus. A própria Bíblia, o livro do monoteísmo, diz num salmo de Davi, também citado por Jesus, que os homens são deuses, são deuses porque julgam e são filhos do Altíssimo. E o conceito cristão de Trindade implica uma tripartição de Deus em Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, digressões teológicas à parte, o que importa na existência de quem realmente vive é que o entusiasmo não morra, pois, como assinala Assinatura do Sol, “tudo o que morre é o riso de um deus”, assim como “tudo o que existe nasce da delicadeza de um deus que morre”. Esse deus que morre rindo é o Deus da Graça e não o da Lei, isto é, não é o Deus que julga e paga o salário do pecado – que é a morte –, mas é o Deus que salva, que não exige oferendas, dando-se ele próprio como oferenda. Seria o Deus cristão, que está dentro e fora do cristianismo, assumindo inúmeras formas, do Crucificado a Dioniso. Nós poetas – no fundo todo ser humano é um poeta – morremos junto com esse deus, como quem, já sendo dia, dormiu na noite anterior, pois “tudo o que existe é sol de um sol mais claro”. A noite é um sol de um sol que ainda é noite. A assinatura do sol é uma queimadura e/ou um aquecimento, um efeito que revela sua causa, mas essa causa é por acaso, é uma ordem que não renega o caos de sua origem. A “eventualidade do ser”, para além e aquém de qualquer conceito, é o que a verve poética, em uníssono com o estro cósmico, revela sempre e sempre, não obstante a fluência inexorável e a influência ferrenha das idéias fixas, que forcejam à exaustão por ajustar o intelecto à coisa, escamoteando o tragicômico qüiproquó que perfaz e desfaz todos os entes. Deveras! Só um “deus”, minúsculo em sua representação e que assume a condição de feto, deixando-se afetar pelo amor e morte, pode, verdadeiramente, ser DEUS. Até agora, Rodrigo – já me permito o vocativo –, pensei como um filósofo ou um teólogo, ou melhor, como um arremedo desses dois operários do pensamento, a partir deste instante, quero pensar como uma abelha, não uma abelha-operária, mas como um zangão, cuja única função é voar, reproduzindo-se. Espero que meu narcisismo, que vê em cada imagem poética apenas o reflexo do meu rosto vaidoso e do meu estro canhestro, seja aniquilado pelo gozo nupcial e que eu morra risonho e delicado como o deus de Assinatura do Sol, deixando o pólen espraiar-se vida afora, vida adentro. Eu sigo com os olhos e o coração as linhas, os alinhavados dos poemas. A linha é o prolongamento de um ponto. Em Assinatura do Sol não há ponto-e-vírgula. As vírgulas e os dois pontos, na medida do possível, são eliminados. Esse modo de pontuar o texto tem o condão de privilegiar a coordenação, a analogia, em detrimento da subordinação, do silogismo. Há um magnetismo de imagens: uma imagem se casa com outra. Nos poemas só há casamentos e não causas gerando efeitos. A realidade não é efetiva: “o mundo ainda está para ser criado.” O casamento é um cruzamento. Linhas, linhagens que se interpenetram, multiplicando-se. O texto é têxtil, trama ou teia de fios: labirinto por onde perambulam Teseu e o Minotauro. Outrossim, o texto é o fio de Ariadne. Eu, também incorporando um monstro que é, ao mesmo tempo, Teseu, Minotauro e Ariadne, sigo os fios de luz e trevas que perfazem a Assinatura do Sol. Perfilho a linhagem de Can, sem abdicar do semítico Deus sem rosto, de rostoespelho-da-noite onde esplendem as estrelas. “No espelho de terra”, filial do espelho da noite, lavro a minha cara: não me limpo da terra nem me livro da noite. Das “veias verdes de Ogum” cresce o mundo e peixes grafam tatuagem na pedra. As linhas assinadas pelo sol circulam pelo globo; as linhas ondulam, encaracolam-se e tornam-se corolas de belas flores. Eu, em meus vôos ociosos de zangão, sempre me deparei com os hibiscos, essas flores em forma de bailarinas, que vermelhas, rosadas, alaranjadas, brancas esplendem em virtude da luz do sol. Eu vi os hibiscos, mas “só a lua conhece o interior dos hibiscos”. A nudez dos entes é o visível, veste-se de pele, pêlos, pétalas, mas a nudez mais nua é a nudez do invisível, vértebra invisível de um cesto de vime, os dedos diáfanos da luz, que luz com mais brilho na escuridão da noite. A linha da luz costura todas as coisas, forjando o espaço e os símbolos, mas a poesia às vezes se cansa das metáforas e prefere andar nua sem a sua túnica bordada de mitologia, de esférica e estratosférica música ou princípios aristotélicos. O mito, todavia, em razão de seu condão centrípeto, impede que a poesia caia na muda aridez das coisas simplesmente dadas. E o alinhavo e a linhagem de Assinatura do Sol prosseguem: as veias verdes de Ogum fluem num “assobio”, linha melódica que se alonga além de si mesma. Esse assobio é um sinuoso e erétil sibilo; é uma serpente, uma serpente entre rosas, uma agulha que volta a costurar com notas musicais a veste florida dos seres. A serpente que incita à ciência do bem e do mal é uma deidade da qual nasce, precária como o pecado, a beleza, beleza que pode ser a de um par de seios, sóis brancos munidos de duas mamilares luas negras. São dados zoológicos: o zangão não produz mel nem tem ferrão, sua função na colméia limita-se à reprodução. Para ele a flor é uma genitália, a genitália da abelha-rainha. Sem o ferrão guerreiro, sem o mel operário, o zangão pode ser espelho do poeta, que reproduz o mundo mediante metáforas, hauridas das musas e da mãe das musas – a Memória. “Deus morre para que a manhã se levante. Erga sua toalha e banhe nossos corpos nus./ Para que toda a excentricidade retorne ao destino do mel. A abelha trabalhe.” Esses versos de Assinatura do Sol retornam à idéia do “deus que morre” e, segundo Jabès, assim como a criação rejeita o Criador, “o homem se destrói criando”. O gozo procriador do zangão é letal. O poeta é um deus, um demiurgo, que morre na sua obra, excentricidade sibilina, a qual está imbuída de fel, mas que desemboca na simplicidade e na doçura do “destino do mel”, que nutre a colméia humana, a colméia cósmica. Destino do mel – destino de mel. Gostei do sabor que você extraiu do Fado, Rodrigo. Se nossa sina sabe a dor e a angústia, um mel maior é aquilo que alimenta a plenitude da vida, para além do inevitável azedume que nos tiraniza. A vida é agridoce, e quem é sábio agradece. Encerro estas linhas como “a pele que fecha sua pupila”, como um deus falho, que morre, para que a existência em êxtase insista. Eu não estou nestas linhas, como você, Rodrigo, não está nos “seus” poemas. A criação nos rejeita, nos destrói, todavia, Deus está conosco, neste calvário – na Ressurreição. [Mario Dirienzo] 6. Decíamos ayer… Poesía 1980-2000, de Eduardo Langagne. Lecturas Mexicanas, CONACULTA. México. 2005. Eduardo Langagne era joven aún cuando, en 1980, ganó el Premio Casa de las Américas, de Cuba, con su libro inaugural, Donde habita el cangrejo. Digamos, de paso, que Langagne es el único poeta mexicano, en 45 años, que ha obtenido este premio que se entregó por vez primera en 1960. En España, Hiperión publicó no hace mucho la antología Cuarenta años de poesía en el Premio Casa de las Américas, libro que es antecedente de otro: la antología mínima que Saúl Yurkievich hizo en México para Siglo XXI. Lo cierto es que Donde habita el cangrejo es de los seis o siete libros de este premio, para mí recordables por algún motivo, alguna página o por el conjunto de poemas, junto con los de Fayad Jamís (Por esa libertad), Félix Grande (Blanco spirituals), Antonio Cisneros (Canto ceremonial contra un oso hormiguero), Roque Dalton (Taberna y otros lugares), Armando Tejada Gómez (Canto popular de las comidas) y Jorge Boccanera (Contraseña), entre una buena cantidad de poemarios en los que la retórica a la moda de la izquierda se propuso conquistar el olvido con temas como las líneas de fuego, las balas y los fusiles, y, para no dejar, la zafra, Playa Girón, Bahía de Cochinos, Papá Fidel y la Madre Revolución. Quizá por esto último que digo, a no pocos sorprendió que un libro del lirismo lúdico como el de Eduardo Langagne hubiese obtenido ese premio; un libro donde el poeta, con la segura audacia de su juventud, escribe por ejemplo: “hoy amo a una mujer que no está cerca/ que no está lejos siquiera/ que no está/ y dondequiera que exista si es que existe/ será inútil pensar que me conoce/ que ha escuchado mi desorden o mi grito/ no queda mucho más:/ inventar que en la casa alguien espera/ y pensar que el amor seguramente existe/ si uno ha sentido un odio inexplicable”. Luego, a lo largo ya de cinco lustros, cuatro de los cuales están representados en Decíamos ayer..., este libro que hoy, con el eco de la famosa frase de Fray Luis, nos convoca, Eduardo Langagne ha evolucionado en su poesía pero una cosa es cierta: nunca ha perdido ese lirismo, esa música del poema y ese afán de hacer suyas las palabras con las que se inició como poeta. Langagne es de los poetas que todavía cree que un poema debe contener una historia, una parte de vida o, mínimamente, nombrar y comunicar algo. Y como es un poeta cuyos temas vienen desde la infancia, sus libros son su biografía y su carta de existencia de que ha sido, como lo dice en un poema, un obstinado de la vida. Hoy, mirando hacia las primeras dos décadas que han quedado reflejadas en este libro que nos reúne, el poeta puede escribir: “Han pasado veinte años de los primeros versos/ que escribió aquel muchacho de la barba rojiza,/ con su tinta nerviosa. Han pasado veinte años,/ acaso la hora exacta era la más oscura/ pues su barco zarpaba en busca del océano/ sin saber si existía. Y en esas condiciones/ él sin miedo cantaba como si tal empresa/ requiriera su vida. Así era aquel viaje”. Si el poema lírico no canta, si no contiene música, así sea secreta, entonces es un ensayo o cualquier otra cosa pero no un poema lírico. Y conste que hay ensayos llenos de música (los de Torri, los de Arreola, por ejemplo) que en su delicada y profunda prosa parecen más poemas que algunos poemas en verso. Langagne siempre ha sabido esto: que un poema, para que lo sea, debe contener la música que, decía Pellicer, es su principio. De oídos de artillero nadie puede acusarlo. Tan consciente está de ello que él mismo insiste constantemente en este don que debe cultivarse, como cuando anuncia: “Vengo a cantar./ Con esta terquedad vengo de nuevo./ Esta vez trovaré/ a la manera del viejo escarabajo,/ que solía siempre cantar/ y a veces conseguía que su sonido/ fuera como el del grillo melodioso/ o grave y rudo como el de la cigarra/ y su voz se distinguía/ entre todas las voces del jardín”. Asimismo, dirá: “Diez de nosotros cantábamos al aire/ ocho callaron/ dos seguimos/ sabemos que el más terco podría lograr un canto/ que diga lo que todos pretendíamos”. Y en un epigrama, escribe: “Entre la multitud/ puedes reconocerme, amor:/ yo soy el que va cantando”. No en vano muchos poemas y libros mismos de Langagne declaran enfáticamente su vocación de canto y de música desde los títulos mismos: “Percusiones (Canto grave para tambor solo)”, “Vengo a cantar”, “Balada de los diez de nosotros”, “Tocabas tu tambor”, Para leer sobre un tambor y, por supuesto, Cantos para una exposición. Ese cantar y ese decir de Eduardo Langagne es el que tenemos en esta antología personal que ahora le acompañamos, con mucho gusto, a presentar y que en sus dos décadas de escritura revela a un poeta maduro pero no anquilosado; un poeta que sigue cantando y haciendo que las palabras comuniquen, digan siempre algo. Desde su primer libro, Langagne está consciente de que “las palabras no siempre llevan música”. Por ello se esfuerza en dotarlas de la gracia que la rudeza muchas veces les niega y las torna flexibles para que sepan entonar al más desentonado de los lectores. No es posible, digo yo, leer, por ejemplo, este poema sin música, sin cadencia, sin ritmo: “Mis amigos y yo/ éramos niños./ Alegres y floridos/ comenzamos a andar/ para saber qué había/ más allá de la montaña./ Fáciles nunca fueron los senderos,/ hubo piedras y ramas,/ espinas que obligaban/ a un andar más pausado./ Hubo quienes quedaron en la orilla./ Curiosos los demás,/ asomamos al fondo del barranco./ Algunos tropezaron:/ intentaron un viaje/ que nunca resultó./ Yo vengo aquí./ Aquí quería llegar”. No son pocos los que han señalado las deudas poéticas de Langagne, y no quiero ser yo quien las repita. Pero una de ellas, asumida y declarada por el mismo Langagne es la que le viene de Juan Gelman. Ojalá todos fuéramos, aunque sea un poquito, deudores de Juan Gelman. Pero aquí lo importante no es cuánto te prestan sino cómo lo usas y de qué modo lo enriqueces para pagar la deuda y que además algo te quede. Lo que queda en la poesía de Langagne, luego de pagar deudas, es una obra poética muy suya que sus lectores celebramos; una poesía llena de música y de sentido, donde la historia personal amplía sus significados para hacerse historia de otros que, cuando lo leen, se reconocen e identifican en una experiencia. [Juan Domingo Argüelles] 7. Biografias Beat, dois livros: a] Jack Kerouac, o Rei dos Beatniks, de Antonio Bivar. Editora Brasiliense. 2005; b] Quando eu era o tal - minha vida na Jack Kerouac School, de Sam Kashner. Editora Planeta. 2005. Beats não foram incultos, como bem frisa Sergio Cohn em seu prefácio para o recente A Nova Visão de Blake aos Beats de Michael McClure (Azougue, 2005) ao criticar a “imagem caricata, que vê seus escritores como talentosos porém ingênuos”. Ao contrário: acreditavam no signo literário; por isso viveram o que liam. Kerouac, por exemplo, confundiu literatura e vida e promoveu a troca de sinais entre as esferas do simbólico e do mundo das coisas. As aventuras relatadas através de sua prosódia bop em Os Subterrâneos (Brasiliense, 1985) foram conseqüência de leituras de Dostoievski: queria realizar o que havia lido. Contradições são matéria literária por excelência. Talvez sejam a matéria literária. Personagem de si mesmo, Kerouac tornou-se cliente de biografias. Chega-se a ter a impressão de que a leitura de Kerouac, uma biografia, de Ann Charters (Editora Globo, 1989 e reedições) – um trabalho pioneiro, de 1973, dos melhores em um sem-número de títulos disponíveis narrando a mesma história, ao mesmo tempo triunfal e trágica – é tão empolgante quanto suas próprias obras. Isso, pelos episódios espantosos que foi revelando: a relação a quatro por volta de 1950 entre Kerouac, Allen Ginsberg, Neal Cassady e Carolyn Cassady, além de outras das companheiras de Cassady, o Dean Moriarty de On the Road (na edição brasileira, Pé na Estrada, L&PM Pocket). Ou a comuna de plantadores de maconha de William Burroughs no Texas, juntando esses personagens, mais alguns delinqüentes em tempo integral. Essas histórias são mencionadas e retomadas em Jack Kerouac, o Rei dos Beatniks, de Antonio Bivar (Brasiliense, 2005). Dramaturgo, narrador e ensaísta, Bivar combina de modo equilibrado empatia e reflexão. É capaz de falar da vida de Kerouac, do seu contexto, a geração Beat, e do que mais importa, sua contribuição literária. Kerouac foi desigual, oscilou do genial ao medíocre, passando pelo banal. Mas o leitor menos preconceituoso reconhecerá em Visions of Cody, seu livro mais extenso e complexo, publicado postumamente, uma narrativa de um fôlego extraordinário. E perceberá como, naquele capítulo de Pé na Estrada em que seus protagonistas vão chegando ao México, insetos esborrachando-se no pára-brisas do automóvel à medida que o calor aumenta e a noite avança, o próprio ritmo do texto, encadeando longas frases, transmite a impressão de velocidade desenfreada. Além das obras sobre Kerouac, como as de Ann Charters e de Gerald Nicosia (Memory Babe, a critical biography of Jack Kerouac), há pelo menos uma biografia importante de Allen Ginsberg por Barry Miles, Ginsberg, a Biography e outra sobre William Burroughs, Literary Oulaw - The Life and Times of William S. Burroughs, de Ted Morgan. Em acréscimo, acaba de ser lançada no Brasil Quando eu era o tal - minha vida na Jack Kerouac School de Sam Kashner (Planeta, 2005). Onde biografias abarcam uma extensão temporal, do nascimento à morte do biografado, esse livro de Kashner relata um segmento, um período limitado, de 1975 a 77, como se visto através de uma lente de aumento. Foi quando o então adolescente Sam Kashner, fascinado pela Beat, decido a ser poeta, matriculouse na Jack Kerouac School of Disembodied Poetics, Colégio Jack Kerouac de Poéticas Desencarnadas, o curso de poesia criado por Allen Ginsberg, anexado à universidade budista em Boulder, Colorado, o Naropa Institute, dirigido pelo guru tibetano Chogyam Trungpa. Kashner foi não apenas o primeiro aluno da Jack Kerouac School. Por um tempo, foi o único. Seus professores, o próprio Ginsberg, seu amante Peter Orlowski, Anne Waldman, sua dirigente até hoje, William Burroughs e Gregory Corso. Junto com Kerouac e Neal Cassady, Ginsberg e Burroughs foram: o núcleo do qual se originou a Beat, ainda em 1944, para depois receber o acréscimo da vertente californiana, com Gary Snyder e McClure, de quem acabam de ser lançadas coletâneas pela Azougue, Lawrence Ferlinghetti e Philip Whalen. Nessa escola e com esses professores, Kashner teve de tudo, exceto ensino sistemático, que se assemelhasse a um curso de Letras ou oficina literária convencional. Passou por cenas e episódios cômicos, grotescos e também dramáticos. Viveu aventuras e foi testado através de toda sorte de provocações. Aula com Burroughs era fazer colagens de textos, procedimento hoje comum em oficinas de criação, ou escutar gravações de vozes de ETs e fantasmas. Com Gregory Corso, aula podia ser ajudá-lo a ir atrás de dinheiro e drogas pelos submundos de Boulder e Denver. A vocação dos Beats era a mística do excesso, especialmente com o ex-presidiário Corso e sua moralidade às avessas, uma ética da transgressão, desconhecendo limites. Para quem conhece mais sobre Beat, tudo o que Kashner conta soa familiar. Ginsberg, Burroughs, Corso e Orlowski eram assim mesmo. Pena a quantidade de erros de tradução (por exemplo, à pg. 117, não é um despertar irlandês, mas um velório irlandês: a expressão wake pode ser uma coisa ou outra), sintaxes esquisitas e outras falhas. Quando eu era o tal retrata um momento de refluxo da Beat. Encerrara-se o ciclo das grandes rebeliões juvenis da década de 1960. Escândalos suscitados pelos processos por obscenidade contra Howl, Uivo, de Ginsberg, e Naked Lunch (Almoço Nu na tradução pela Brasiliense) de Burroughs, e pelo comportamento de seus autores, haviam sido assimilados. Em 1976, pareciam ícones de um passado recente. Uma perspectiva diferente da nossa. Escândalos dos Beats podem ter sido episódicos, com sentido em um dado contexto; mas sua contribuição literária permanece. Suas obras resistiram e cresceram, não mais pelo fascínio da mochila às costas, mas por serem substanciosas. A publicação de Quando eu era o tal de Kashner e Jack Kerouac, o Rei dos Beatniks de Bivar deverá instigar leitores, fazendo-os querer chegar mais perto, ler mais. Material não falta. Além dos lançamentos das coletâneas de McClure e Snyder pela Azougue, e de novos Kerouac pela L&PM, como Os Vagabundos de Dharma, há os relançamentos, como Uivo, Kaddish e outros poemas, de Ginsberg (a edição que preparei, em versão reduzida da L&PM Pocket), e de Pé na Estrada de Kerouac e Junkie de Burroughs. Que o interessado revire bibliotecas e alfarrábios e vá atrás do que já foi publicado e está esgotado: pela L&PM, Gasolina & Lady Vestal de Gregory Corso; A Queda da América de Ginsberg e As Cartas do Yage, seu livro em parceria com Burroughs sobre o aiauasca; e mais o nonsense em De Repente, Acidentes de Carl Solomon; O Primeiro Terço de Neal Cassady; O Livro de Sonhos de Jack Kerouac; Um Parque de Diversões da Cabeça de Lawrence Ferlinghetti, além da coletânea Alma Beat, por autores brasileiros. E, ainda, Os Subterrâneos de Kerouac, Almoço Nu de Burroughs e a coletânea de poemas de Ferlinghetti, Vidas sem Fim, da Brasiliense. Essa viagem pelo extenso mundo da criação Beat valerá a pena. [Claudio Willer] 8. Los años de la fiebre, de Ulises Estrella (editor). Libresa. Quito. 2005. Este livro recolhe uma série de depoimentos sobre as atividades culturais dos anos 60 em vários países do continente americano. O próprio organizador, o equatoriano Ulises Estrella, foi uma figura-chave em tais acontecimentos, considerando que esteve à frente da vanguarda em seu país. Valiosa a sua iniciativa de convidar a vários dos agentes desses movimentos para um balanço, uma retrospectiva, o que ajuda a configurar corretamente seus aspectos históricos já incontestáveis. Ele próprio nos diz, no prólogo do livro: “responderam a este chamado: Margaret Randall (fundadora e impulsionadora da célebre revista mexicana El Corno Emplumado); Cláudio Willer (notável promotor das vanguardas poéticas no Brasil); Miguel Grinberg (gestor do Movimento Nova Solidariedade e editor da revista argentina Eco Contemporáneo); Rodolfo Izaguirre (próximo do famoso movimento Techo de la Ballena, da Venezuela), e os equatorianos Alfonso Murriagui, Raúl Pérez Torres e Francisco Proaño Arandi, todos envolvidos nos anos da febre”. O livro se completa com ensaios que foram recolhidos de outras fontes editoriais, e que ajudam a compor um quadro bastante límpido e substancioso deste momento recente de nossa história. A publicação de Los años de la fiebre coincide com dois outros momentos essenciais: a publicação de uma edição especial da revista Generación (g # 61, México, 2005), homenagem a El Corno Emplumado, e o aparecimento de um DVD realizado por Anne Mette Nielsen e Nicolenka Beltrán, intitulado El Corno Emplumado – Una historia de los sesenta (Angulus Produktions, 2005). Nos dois casos, sobretudo na revista, embora o foco se concentre na revista mexicana, é plenamente possível traçar uma linha de compreensão acerca das atividades culturais em vários países, considerando um aspecto comum, a indignação que movia a juventude em toda a América Latina. Segundo Ulises Estrella, em meio a este ambiente “se formaram grupos, vanguardas culturais, alentadas pela grande sacudida de 1959: a Revolução Cubana”. Lembra ainda que “o vislumbre surrealista de transformar a sociedade e mudar a vida, se definia com a idéia do homem novo que necessitava despojar-se de suas aderências egocêntricas para tratar de entender o mundo e atuar, assumindo os riscos, com afã diário e tenaz de desempenhar um papel na História”. Neste sentido, o livro orquestrado por Ulises Estrella se configura como um aporte indispensável à compreensão deste momento. A estadunidense Margaret Randall, que juntamente com o mexicano Sergio Mondragón, criou e dirigiu a célebre El Corno Emplumado, além de haver realizado, em 1962, na capital mexicana, o Primeiro Encontro de Poetas, recorda aquele tempo em que “jovens poetas na Cidade do México, Buenos Aires, Caracas, Manágua, Havana, Santiago, Kyoto, Helsinki, Nova Delhi, Nova York, Paris e muitos outros centros culturais, acreditaram que nossas palavras e a comunidade podiam transformar o que percebíamos como valores estancados e atitudes conformistas na vida que tão desesperadamente necessitávamos”. Por sua vez, o argentina Juan Antonio Vasco, em conferência que deu em 1971, em Buenos Aires, chama a atenção para a importância do grupo venezuelano El Techo de la Ballena, recordando que este grupo significa “o momento de protesto mais ativo da América Latina, o mais eficaz, o mais arriscado, o que pôs em jogo maior variedade de meios e o que levou sua ação até as conseqüências mais extensas dentro do campo em que se desempenhou, fiel a um de seus lemas: mudar a vida, transformar a sociedade”. O brasileiro Claudio Willer também rememora as atividades de que participou, nos anos 60, em São Paulo, e referese ao surrealismo evocando o mesmo princípio motor que menciona Vasco, ao dizer que tal movimento foi fundamental em dois níveis: “como criação, e é isso o que importa realmente, a criação poética; e como movimento de idéias, como prosseguimento da rebelião romântica e tentativa de unir a rebelião à transformação da sociedade”. O livro continua por essa trilha de fogo da memória, escutando os protagonistas de cada momento em particular, o que inclui ainda os nadaístas colombianos, a revista mexicana Pájaro Cascabel (editado por Thelma Nava), os beatniks nos Estados Unidos, a revista nicaragüense El pez y la serpiente (que tinha à frente Pablo Antonio Cuadra e Ernesto Cardenal), dentre muitos outros exemplos, inclusive a presença destacada de Ulises Estrella junto ao grupo Tzántzicos, em Quito, que editou revistas como Pucuna e La Bufanda del Sol. Havia, portanto, um sentido amplo de confluência, um intercâmbio incansável que ajudava a compor um cenário de afinidades. É o que recorda um dos equatorianos, Francisco Proaño, ao dizer que “não em vão nossos congêneres, confluentes ou não quanto ao pensamento, mas sim naquilo de transformar a vida, se chamavam, segundo a latitude, nadaístas, mufados ou beatniks, agrupados em movimentos, grupos ou células ao largo do universo”. Los años de la fiebre aponta ainda algunas falhas cometidas por este ambiente agitado, sendo a principal delas, no dizer de Francisco Proaño, a “de não reconhecer legado algum a nossos antepassados”, o que ele considera “uma de nossas equivocações sem dúvida deliberada”. Também o argentino Miguel Grinberg reconhece que muito daquele momento ficou detido entre a proclama e o grito, e conclama: “sejamos a consumação, a celebração da liberdade sem fronteiras”. Estes são aspectos a serem avaliados, o que o livro nos permite bem, e mais ainda se o leitor se cercar não somente das duas outras publicações aqui mencionadas, mas também de uma outra, anterior, a autobiografia de Ulises Estrella, publicada em 2003, intitulada Memória Incandescente. Aos poucos se inicia uma reconstituição desta que foi talvez a década mais vibrante, se pensarmos em sua abrangência, em todo o continente americano. Está dada a contribuição singular e valiosa de Ulises Estrella. Seu livro é um marco de reconhecimento e de abertura para desdobramentos os mais variados e igualmente significativos. [Floriano Martins] 9. Nos Joelhos do Silêncio, de Heliodoro Baptista. Editorial Caminho. Lisboa. 2005. «Nos joelhos do silêncio» nasce a palavra iluminada. Dessa textura de solidão, de desamparo, irrompe, soberana, a esperança no futuro. Heliodoro Baptista é um arquitecto da luz que brota da grande mãe humilhada: África. Porque «os continentes são da mesma raça» e «os homens do mesmo barro», a aldeia e a estrada deste poeta moçambicano são também o nosso sítio e um caminho nosso. Tanto mais que a palavra que caminha é de expressão portuguesa. Mia Couto, que prefacia este livro, escreve que «Nenhum silêncio cala a poesia. A única verdadeira prisão de um poeta é não haver luz. Essa luz que constrói a vontade de futuro. E essa luz está dentro dos poetas.». Heliodoro diz que «Depurar a escrita, a casca das palavras, é ensinar ao leão que temos no peito, a comer, sempre primeiro, o fígado, mas especialmente o coração.». Dizemos nós que só a poesia entende o coração. E esse entendimento tem-no este livro. Ajoelhado no chão africano, a prece do poeta tem a raiva da insubmissão e o arrebatamento apaixonado pela terra: «Moçambique expatriou-se. É possível / encontrá-lo num mapa por fazer. / Ou, numa esquina do mundo, a tocar / viola com os dedos dos pé.», porque as mãos lhe foram usurpadas. Sempre país dos outros, território a quem «enforcaram o céu e o sol», é uma terra, «um lugar de abandono, / Naufragado: sem rios nem mares», onde não há nem mortos nem vivos, onde se construiu «o limbo da estupidez». Porém, Heliodoro é o poeta que sabe que o poema é uma arma carregada de futuro. E, «sonhador subversivo de verve em riste», «Coaxa o poeta em frenesim demencial. / Ele, ontem lagartixa, é já desenvoltura.». Entende-se porque escolheu algumas palavras de Gabriel Celaya, para introdução da sua própria poesia. Diz este autor que a poesia «Son gritos en el cielo, y en la tierra son actos.(...) canto respirando». É pela palavra que o poeta moçambicano respira. É com ela que se liga à vida. É com ela que reaprende o amor: «Queremos confiar no amor (melhor, na paixão!) / sem nada perguntar: apenas saber, pedir e receber / um pouco do que damos. Que não nos roubaram!». E assim, num diálogo de sabedoria, o poeta abarca o mundo para revelar a esperança: «Nos meus escuros acrílicos impera o pincel; / só a alegre voz ressumbra: Bebe o mel do fel!». Perseguido e aprisionado na sua terra, nela persistiu, teimosamente, sem nunca a abandonar. Mas a poesia não se faz de pão ázimo, e em Heliodoro isto é manifesto: «Recordo o tanto mal que me fizeram/ como se bebesse um misterioso vinho. / Até à última gota da garrafa.». Contra os poderosos, tem o fel que não guarda, pois tem também a palavra que o depura: «Batem à porta; uma pancada com odor perverso; /pombos em voo, se pintam de êxtase do poente. / Já não há nada debaixo do sol, excepto este verso, / fugaz calorescência, impressão digital de mim». Mia Couto diz que Heliodoro dá visibilidade aos recantos sombrios da alma moçambicana. Com efeito, ele parece estar «onde o coração do povo chora / águas das lágrimas da chuva», numa cumplicidade com o povo que «está nas mãos / dos que fazem orgias com as barrigas da fome». E esclarece que «Se os governos não decapitam o povo / é porque, sem ele, nem se designavam: / até os abutres bateriam em retirada.». O poeta conhece «homens e mulheres que, na água / afugentam até os maiores crocodilos.». Sabe que «Hoje, os cães passam e a caravana ladra.». Por isso, «solta a profecia da indulgência e do amor. / Não devemos ter medo nem da pobreza; jamais / da prisão e do exílio.». Perante os opressores, o «Desfecho» só pode ser assim: «Como em outros poetas, também em mim, anuí: / não há a probabilidade de me render. / E se o horizonte oscila, em seu remexer, / me cago no tédio, para todos e para ti!». [Teresa Sá Couto] 10. Poesía y prosa selectas, de Eliseo Diego. Fundación Biblioteca Ayacucho. Venezuela. 2005. En el inmenso árbol de la poesía y de los poetas, Eliseo Diego (La Habana, 1920-1994) tiene un lugar para cantar y evocar el mundo, como diría en su primer libro, En las oscuras manos del olvido. En la poética, tal como argumenta Coleridge en su Biografía literaria, tanto el entendimiento como el placer derivan del tenso equilibrio que se establece entre lo esperado y la sorpresa de lo nuevo, que es, en sí misma y en sus mejores manifestaciones, una sorpresa de reconocimiento, un déjà-vu. En el sentido psicológico y epistemológico el lenguaje del poeta nos hace sentir en casa con algo que no conocíamos; la poesía de Diego tiene esa totalidad que posee la literatura de contener el pasado, el presente y el futuro en su perfección. Observador sereno, Eliseo Diego sólo agrega con su mirada la transfiguración de la naturaleza ensimismada que únicamente el poeta puede revelarnos en su lenguaje hecho con las mínimas cosas; la ausencia de los trenes en los viejos andenes, viejas imágenes descritas en los daguerrotipos, las casas familiares, los objetos cotidianos, los sueños tontos de las vacas que “escogidas de pronto, reflejan / el inmenso candor de la tarde”; de aquella lucecilla que salva y enamora está hecha la poesía del poeta cubano; deslizándose morosamente por las calles sólo para nombrarlas en su asombro de cal y sol, y como afirma Aramís Quintero, preparador de esta edición, “penetrar en el silencio, en el delgado silencio” sin tiempo, como el niño que juega contemplando la ciudad y la naturaleza. Eliseo Diego es un sello de individualidad dentro del legendario grupo Orígenes, que junto con José Lezama Lima, Cintio Vitier, Fina García Marruz, José Rodríguez Feo, Virgilio Piñera, entre otros, renovaron la literatura cubana; su cercanía con el mundo cotidiano y su búsqueda del recuerdo lo hacen fiel a la nostalgia en toda su poesía, hecha de recuerdos, edificando lentamente como dice uno de sus antologistas, Enrique Saínz, “delicadas presencias y hermosísimos poemas”. [Julio Bolívar] 11. Obras reunidas, de Roberto Piva. Volume I: Um estrangeiro na legião [Organização de Alcir Pécora]. Ed. Globo. Brasil, 2005. Neste primeiro volume da obra reunida de Roberto Piva, além da nota inicial do organizador da colecção, Alcir Pécora, temos ainda, em matéria de acompanhamento ensaístico, um texto de Claudio Willer - Uma introdução à leitura de Roberto Piva - que nos encaminha os passos para vários tópicos, entre eles um que de resto abre o volume, na epígrafe de Sarane Alexandrian. Talvez esperássemos uma citação da sua obra sobre o Surrealismo, uma vez que Piva, como qualquer outro poeta contemporâneo, não podia ficar à margem de um movimento que lhe estava no sangue, daí que na antologia de textos sobre o Surrealismo, no TriploV, seja mencionado inúmeras vezes, e objecto de dois trabalhos de fôlego: um ensaio de Claudio Willer e uma entrevista conduzida por Fabio Weintraub, autor que fornece uma bibliografia para fecho do primeiro volume das obras de Piva, "Um estrangeiro na legião". Mas não: o organizador da presente edição das obras reunidas de Roberto Piva, Alcir Pécora, tal como escolheu para o primeiro volume o título "Um estrangeiro na legião" (a Legião Estrangeira é apenas uma referência na memória para melhor apreensão do que implica um anjo na legião de demónios ou vice-versa), também não foi buscar epígrafes à obra de Sarane sobre o surrealismo, sim sobre religião: "História da filosofia oculta". Para voltar ao pensamento interrompido, sobre os tópicos escolhidos por Claudio Willer, é claro que de um especialista em temas esotéricos na literatura, como ele é, só podíamos esperar o filão do ocultismo e da magia, áreas do ser e do viver bem próprias dos surrealistas. O poeta não escolhe a poesia para nela desenvolver ideias oriundas do esoterismo, a poesia é uma fonte vertente desse esoterismo. O poeta não transmite esoterismo à poesia, ele recebe conhecimento da palavra, quando escreve. Ora Roberto Piva parece um desses espíritos mediúnicos que não oferecem resistência ao discurso do estrangeiro - o estranho - quando ele quebra o domínio do normativo, da normalidade desinteressante. E por isso devolve à letra o que da letra recebeu, num clima de discurso que os autores que o dão a ler, neste volume, Alcir Pécora e Claudio Willer, sugerem no termo "alucinação". Eis uma palavra com luz dentro, a dar a mão a essa outra linha de força, declarada por Alcir Pécora, segundo a qual Piva era um poeta iniciado. Iniciado é aquele que recebeu a Luz, por isso a sua alucinação pertence ao registo do sagrado. E é nesse registo alucinado que se verifica a fúria destruidora do poeta, ou a Fúria, apenas, enquanto manifesto dionisíaco - ou da legião... É magnífico o livro, quer pela beleza de objecto bibliográfico, quer pela dos poemas, que elevam Roberto Piva à altura dos grandes poetas, modernistas, neste caso, para eu sair de cena com um dos mais conhecidos, português, poeta d'Orpheu como Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro, esse Álvaro de Campos que Roberto Piva encarna para assinar a sua "Ode a Fernando Pessoa" "mas é como Campos que vou saudar-te", escreve ele, logo no início da "Ode". Campos, o frenético engenheiro, o poeta das máquinas e paisagens urbanas que Piva transfere para uma São Paulo paranóica. Piva encarna Álvaro de Campos num acto absolutamente estrangeiro à ideia de plágio, sim acto teatral, orgíaco, de ser possuído por essa outra Fúria, Demónio ou "Mago Vermelho", como o considera José Manuel Anes - Fernando Pessoa, amigo, irmão, de Aleister Crowley, que a si mesmo se intitulava a Besta 666. Fora da legião das teatrais Fúrias, ou da "orgia insaciável e insaciada de todos os propósitos-Sombra", como escreve Piva na "Ode a Fernando Pessoa", não ficam os bastidores da prisão nem do manicómio, embora, casualmente, lá possam estar. Afinal tais estabelecimentos constituem a fronteira da Poesia. Mas não, fora do espaço sagrado em que as Bacantes gritam Evoé!, o que costuma ficar são Ofélias, a timidez natural de tantos artistas, anjos, a ternura quase criancil com que o poeta brasileiro trata o português: "Tudo dói na tua alma, Nando"... [Maria Estela Guedes] 12. Un nuevo continente, antología del Surrealismo en la poesía de Nuestra América, de Floriano Martins. Muestra gráfica de Fabio Herrera. Ediciones Andrómeda, San José Costa Rica, 2004. La poesía es esa extraña conciencia de mundo, donde las formas de vuelo se hacen cartografías hechizadas de imágenes de fuego. En el caso del surrealismo, la imantación tiende a diluir a los sujetos, hacer desaparecer la insoportable intolerancia de un creador como demiurgo individual. La creación poética es un bien común, como lo afirma el prólogo del libro Un Nuevo Continente, Antología del Surrealismo en la Poesía de Nuestra América. Hace su aparición el surrealismo sin un yo testigo que ejecute el pulso de todo un continente. Carga onírica de muchas razas y culturas, paisajes abrumadores hasta convertirse en cadáveres salpicados de luz entre las selvas. Catedrales de un barroquismo bestial al lado de los serpentarios de la usura, migas de pan sobre una mesa de arena, donde el cactus se convierte en un conversador espiritual y los licores dejan perfumada la memoria del desierto y antiguos tapiales se derrumban sobre una historia despiadada con sus crímenes y sus bajas glorias. Un Nuevo Continente, nos habla de la libertad y el amor, de esas voces que se expresan desde su tiempo y su territorialidad con profunda provocación, sin concesiones con lo rutinario, "perpetuando el desorden, la transgresión, al mismo tiempo erótica y misteriosa (voluptuosa) no religiosa" (Sergio Lima) de la palabra hecha poesía. Obra lograda por seres valientes y generosos, de distintas épocas y lugares de esta América torrencial, donde deseo y locura, invitan a liberar el espíritu de toda servidumbre intelectual, Enrique Gómez Correa lo advierte, es una tarea mayor, un compromiso inquebrantable contra todo tipo de intolerancia y ortodoxia: "Será preciso tener la valentía y la generosidad del corazón y del cerebro para sobrevivir a este vendaval que habrá de arrastrarnos a la Edad de Oro del pensamiento", la fusión, la madeja, los meandros entre la poesía, el amor y la libertad. En muchos el yo negro aparece como un estallido donde sólo queda esa experiencia mágica de sus ancestros, humo y tambor, rebelión permanente contra todo tipo de oprobios, sólo el abismal estado del viaje onírico, la risa como cuchillada a la rutina, el azar como fiesta y el automatismo como reencuentro con el pozo común de la humanidad de todos los colores. De la Patagonia donde se decía que existían seres de un pie y un ojo en el cuello, pasando por un mar de plata y una pampa sangrante, entre el viñedo chileno y las míticas ciudades de los andes bolivianos, en el centro del sol Inca del Perú, o en la línea divisoria del planeta, como muestra casi surrealista de partir la tierra como una manzana expuesta, el Ecuador besando los pies de las cordilleras, Colombia y Venezuela, imaginadas patrias de nadie y con todos entre el tormento y la seducción enloquecida de la belleza. Martinica, Costa Rica, Cuba, Panamá, Nicaragua, México, Estados Unidos, Canadá, Haití, República Dominicana, entre otros lugares y paisajes, constatan que existe un Nuevo Continente donde el surrealismo se festeja y se renueva, más allá del texto mismo es la celebración de una forma de vivir de convivir la tierra. Los credos que fragmentan el cuerpo en derechos e izquierdos, entre pensamientos de academia y placeres de fogón, desaparecen con las líneas de estos poetas, que más que sumatoria de personas es un respiro común que nos devuelve el veneno necesario para no dejar dormir la vida en las higiénicas posturas del conformismo. No andamos por Paris con el gabán negro cubierto de cristales, ni sabemos donde quedó el sombrero y la máquina de escribir de Lautréamont, el pez soluble nos habla en los bares de Ayacucho y la magia cotidiana se presenta en un ferrocarril sin estaciones, donde sólo se pasea la sombra de un indígena interrogando su alma con la coca. Esa bella influencia se vino con todos sus mentores con viajeros americanos en Europa, con visitantes Europeos en América, con la danza posibles de los textos y las pinturas, con el cine y la música, un surrealismo vivo que redescubrió la América. Con nuevos ojos, con la capacidad feroz y certera de criticar conservadurismos, con la palabra esclarecedora como un diamante, que se lanza al rostro del impávido, esta poesía se hace en ese continente para llenarse de contrastes, accidentes nerviosos del alma, crepitación y estremecimiento de todos los sentidos, sueño que camina con el machete y la corbata, con la belleza de garotas y la lucidez de un viejo Maya. No se trata de condicionamientos geográficos en el sentido de la vieja antropología de hacer aparecer las "razas" como un problema de climas y de paisajes. Aquí se trata de una poesía que se vive, la risa, la canción y el llanto, son viento, agua y piedra, colosales formas que rayan la imaginación y nos dejan perplejos como solo puede dejarnos la seducción del amor y el escalofrío de un poema. La presente muestra de poesía surrealista de América no da enteramente cuenta de esa asombrosa nueva realidad, pero queremos poner ante los ojos del lector de nubes, esta selección extraída del libro antológico del surrealismo, logrando con el esfuerzo de muchos poetas de todo el continente y la aguda visión de Floriano Martins del Brasil [Luis Fernando Cuartas] revista de cultura # 48 fortaleza, são paulo - novembro de 2005 discos da agulha 1. Tudo coreto, de Carlos Malta & Coreno Urbano. Selo Rádio MEC. Brasil, 2001. Contato: [email protected]. Idealizada e dirigida por Carlos Malta, a banda Coreto Urbano, um grupo de músicos sinfônicos apoiados por três percussionistas, vem preencher a lacuna deixada pelas pequenas orquestras que encantavam as tardes nas praças de todo o Brasil. Virtuoso em todos os instrumentos de sopro, Malta passeia por vários estilos musicais, sempre com uma sonoridade vigorosa. Aliada ao talento de Malta, a capacidade criativa de improvisação do grupo faz deste "Tudo Coreto" uma obra única, que concilia técnica e lirismo. 2. Introvisation, de Dimos Goudaroulis. Zabumba Records. Contato: [email protected]. De nacionalidade grega, tendo como instrumento o violoncelo, este virtuoso músico erudito, nos proporciona através das quatro cordas de seu instrumento, momentos de introspecção, através de peças solo, escritas ao longo de sua carreira, explorando ao máximo a sonoridade do instrumento. Uma experiência regada de influências da musica erudita, do jazz, da musica de câmara e contemporânea. Segundo o produtor, José Henrique Mano Penna, este se trata “de um trabalho com múltiplas referências, que vão das linhas de improvisação do free jazz à introspecção contida em mitos da cosmologia grega e árabe”. Conclui ainda que “este CD marca a introdução do Dimos no meio fonográfico brasileiro e representa para ele um marco, um divisor de águas em seu processo criativo”. 3. Miracula, do Grupo Syntagma. Selo Letra & Música. Brasil, 2005. Contato: [email protected]. O Syntagma surgiu em 1986, em Fortaleza, com a proposta de resgatar e recuperar as sonoridades da música antiga (medieval, renascentista e barroca), fazendo um elo com a música nordestina atual. O grupo mostra nossas raízes ibéricas, provando a tese de Aruano Suassuna de um nordeste armorial. Desde então, conquistou um público cativo e obteve sucesso no meio artístico cearense. Atualmente composto por dez músicos, o grupo Syntagma sempre serviu como um laboratório para os mais de 50 instrumentistas que já passaram por ele; e para os que o compõem atualmente. Sua formação tem como base um quinteto de flautas doce; o baixo contínuo representado pelo cravo, a gambá e o violão; a voz e a percussão. Segundo o músico e compositor Liduíno Pitombeira, “em quase 20 anos de atuação, o Syntagma continua sendo uma proposta de resistência e um importante agente de produção cultural no Nordeste do Brasil”. Diz ainda o compositor brasileiro hoje residente nos Estados Unidos, ele próprio um dos integrantes da formação originário do grupo: “propondo-se a vivenciar, por uma leitura própria e pela fusão estética, o elo que existe entre a música antiga européia e a música nordestina, o Syntagma é um grupo maduro que encontrou com independência sua própria voz, apesar do emaranhado de problemas sócioeconômicos que a todos atinge, e é um ponto de referência pósmoderna nesse Nordeste armorial”. 4. Guitarra I, de Marco Morel. Asociación Cultural Xquenda. México. 2004. Contato: [email protected]. Marco Morel es un guitarrista de muchos andares y en esta ocasión nos deleita con una nueva producción independiente titulada "Guitarra1". Este discreto y extraordinario músico ha acompañado a cantantes de talla de Guadalupe Pineda, Tania Libertad y Eugenia León. Discipulo del maestro Juan Helguera, ha trabajado con músicos de alto nivel como Omar Guzmán, Enrique Neri, Héctor Infanzón, Roberto Cárdenas, Roque Carbajo y Carlos Maceiras. Además de haber participado en diversos proyectos musicales, entre ellos el grupo de Jazz Astillero, ha sido guitarrista de Guadalupe Trigo y Armando Manzanero."La guitarra es compañera de alegrías, así como de nostalgias y tristezas… todos los maestros de guitarra, como tú, tienen que inundar al mundo de ese sonido tan cristalino y límpido ", comenta el maestro Manzanero en una pequeña carta dirigida a Morel, incluída en el bootlet del disco. El primer track es crisálida. Morel busca describir en esta pieza "el estado intermedio en que la oruga se cierra en su capullo para convertirse posteriormente en mariposa ", y como " los seres humanos, de la misma manera deberíamos encerrarnos en nuestros pensamientos para poder crecer y dejar que nos salgan alas". La dulzura que este guitarrista imprime a sus rasgueos y punteos es notable. Esta se manifiesta en el cálido y confortable movimiento melódico que tienen sus piezas."Angie" es un tema dedicado a su esposa. Como él mismo describe en los comentarios del disco "es un documento de amor, escrito con la mayor sencillez, tratando de que la guitarra exprese muy suavemente al oído, lo que no sé decir con palabras". En esta composición Morel nos regala una excelsa interpretación."Distancia" tiene un sabor gitano en los rasgueos y crece con la limpieza de la flauta de Abel Sánchez y el bajo eléctrico de Daniel Calderón. Sutiles arreglos dan vida y color a la guitarra de Marco en cada pieza. El álbum incluye el tema de "Esta Tarde vi Llover" de Armando Manzanero. En él Morel hace alarde de sus dotes de improvisación jazzística, al crear un interesante chord melody al estilo Joe Pass que logra recrear las imágenes poéticas descritas por el autor. "Pirámides" es una pieza rítmicamente atractiva que descifra el entrañable sentimiento de identidad nacional y evoca las raíces indígenas que nos abrazan. "Usumacinta", tema dedicado a ese famoso río al Sur de nuestro País, incluye un interesante solo del pianista Héctor Infanzón, acompañado del contrabajo de Paolo Marcellini y la sincopada percusión de Carlos García. En"Tema para una niña triste" alude con sus cuerdas a una pequeña infanta latinoamericana cuya única diversión consiste en cantar, y a través de su canto, soñar que viaja a lugares lejanos. Otras piezas son "Esta Lágrima", "Balcones" y "Nostálgico", tema dedicado a Enrique Neri. Marco Morel lleva en sus dedos la voz de una guitarra. [Pablo Reyes] 5. Tigres da Lapa, de Marcos Ariel. Rob Digital. Brasil, 2005. Contato: [email protected]. De volta às origens, Ariel reencontra o início da sua carreira, quando acompanhou como flautista o mestre Cartola, em 1978 durante uma temporada no Teatro Clara Nunes. Em seus 25 anos de carreira, piano e flauta sempre estiveram presentes nos arranjos e composições do artista. Seu coração, então, vivia um dilema: “Houve uma fase em que eu achava que tinha que optar e pensava: não há espaço para multiplicidade. O mundo pede identidades, você tem que resolver... pianista ou flautista? Graças a Deus não me resolvi e em 1996 a flauta voltou a pulsar no meu coração com toda intensidade”, conta Ariel. Surpreendendo o público, o renomado pianista relembra sua veia flautista em 14 faixas de puro choro, trazendo quatro composições próprias e releitura de clássicos, como Tico-Tico no Fubá, Ingênuo (Pixinguinha), Bebê (Hermeto Pascoal) e Perplexo (K-Ximbinho). Seguindo a tendência do choro jovem do bairro da Lapa, o repertório apresenta levadas dançantes com o violão de José Paulo Becker e a percussão de Beto Cazes. O trio, formado em 1996, inaugurou o bar carioca Coisa da Antiga, hoje Carioca Da Gema, com animadas rodas de choro e convidados especiais, alguns destes presentes no disco, como João Baptista (baixo), Henrique Cazes (cavaquinho) e o mitológico Juarez Araújo (sax). O pianista tem 17 discos gravados, lançados nos EUA, Europa e Japão. Pela Rob Digital, lançou Piano com Tom Jobim, uma homenagem ao inesquecível compositor, e o recente Diplomatie, um dueto com o saxofonista canadense Jean Pierre Zanella. Suas composições desde cedo atravessaram fronteiras. Seu primeiro LP, Bambu, foi lançado na França em 1986, e o disco Terra do Índio foi eleito pela revista Jazziz como um dos melhores discos do Jazz nos Estados Unidos. A partir de 1989, Marcos Ariel passou a dividir a sua carreira entre o Brasil e os EUA. 6. Live in Montreal, de Marcos Valle e Victor Biglione. Rob Digital. Brasil, 2000. Contato: [email protected]. Um encontro extraordinário entre um artista fundamental da bossa nova e um guitarrista dos mais versáteis da música brasileira. O trânsito internacional de ambos levou ao convite para esta apresentação no Canadá. O CD é o registro impecável deste belo concerto com as fabulosas composições de Marcos Valle e o virtuosismo de Victor Biglione. No repertório 10 grandes canções da MPB como Samba de Verão, Preciso Aprender a Ser Só, Ao amigo Tom e Viola Enluarada e empolgantes releituras de Biglione para clássicos como Manhã de Carnaval e What are you doing the rest of your life. Os arranjos, um dos pontos fortes deste trabalho são assinados pelos dois. Enriquecendo o encontro, destacam-se o brilho das participações do saxofonista canadense Jean Pierre Zanella e da vocalista brasileira Patricia Alví.Ao final do show o Théâtre Corona de Montreal,totalmente lotado, aplaudiu de pé e pediu bis. 7. Miguel Briamonte, de Miguel Briamonte. Zabumba Records. Brasil, 1998. Contato: [email protected]. Com formação bastante original - piano, flauta, bateria e percussões - o maestro Miguel Briamonte apresenta seu trabalho autoral reunindo composições instrumentais que circulam entre o popular, o jazz e o erudito. Destaque para o arranjo de Astor Piazzola em "La Muf". 8. Los ecuatorianos, de Pablo Valarezo. Producción ejecutiva y dirección artística de Margarita Laso. Ecuador, 2005. Percussionista académico y músico popular, Pablo Valarezo tiene años de ejercicio profesional en diversidad de escenarios. perteneció desde niño a orquestas de baile, de cámara y agrupaciones populares, y también se integró a instituciones formales como alumno, instrumentista y profesor, en el país y fuera de él. Es miembro de la Orquesta Sinfónica Nacional desde hace más de 15 años y ha creado una escuela de percusionistas en este medio impulsando la difusión de esta rama de la música exuberante y dinámica. El desarrollo de la percusión, de origen primitivo y siempre novedoso, demanda enormes espacios escénicos y mucha musicalidad. Pablo Valarezo constituyó el primer ensamble de percusión en el país que deslumbra con la utilización de múltiples instrumentos cuyos tamaños, formas y timbres caracterizan la música académica actual. Asimismo, se ha dedicado a la recuperación, adaptación, investigación y creación de un repertorio para teclados de madera, chonta o metal, y también se ha entregado a la ejecución de la marimba sinfónica solista. En este disco Los ecuatorianos se vislumbra un significativo aspecto de su horizonte artístico, y se traza un nuevo camino en el catálogo interpretativo de la música del Ecuador. Su experiencia en los escenarios de música popular y académica, su versatilidad y su permanente trabajo de investigación, hacen de él uno de los más sólidos músicos ecuatorianos contemporáneos. [Confira aqui nesta Agulha entrevista com Pablo Valarezo] 9. Telma Tavares, de Telma Tavares. Selo Rádio MEC. Brasil, 2001. Contato: [email protected]. Telma Tavares teve seu talento reconhecido ao ter aulas de voz e violão com o compositor Claudinor Cruz. Ele se encantou com sua capacidade de interpretação e a incentivou a cantar, além de apresentá-la a diversos músicos e cantores. Ao criar o grupo de samba Elas por Elas, na década de 80, composto apenas de mulheres, convidou-a para participar e levou-a definitivamente para o universo da música. Pouco tempo depois, Telma daria início a sua carreira como cantora. Nesta fase, ela conheceu Hermeto Pascoal, com quem teve imediata afinidade musical, tornando-se sua amiga e parceira em diversas apresentações. Um exemplo disto é a música Dois Cardumes, escrita por Telma e Paulo César Feital, que ganhou o primeiro lugar em composição no Festival de Americana, em SP, no ano passado. A canção está no seu primeiro cd (que leva seu nome "Telma Tavares") com arranjo e execução de Hermeto. Além desta parceria, trabalhou durante cinco anos como backing vocal de Beth Carvalho, acompanhando-a em seus shows por diversos países, como Argentina, Uruguai, Marrocos e Cuba, onde, durante o Festival de Varadero, dividiu o palco com grandes nomes da música cubana, como Pablo Milanês e Silvio Rodriguez, interpretando canções brasileiras. Sua voz também já chegou ao Japão, em um cd com sua participação, que reúne sucessos de 10 anos de samba enredo, produzido por Roberto Menescal no início dos anos 90. Sua trajetória é bastante diversificada, e inclui participação em inúmeros festivais (tem quase 100 toféus como intérprete e compositora) e em eventos universitários e musicais. Foi durante a turnê de um de seus últimos shows, que homenageou Gonzaguinha, e rodou o Brasil, que Telma recebeu o convite de Ricardo Cravo Albin para participar do evento "100 Anos de MPB", no CCBB, em 2001, no qual dividiu o palco com Johnny Alf na série "A bossa e a fossa". Além de interpretar, ela trabalha também como compositora, abordando temas da cultura brasileira em suas canções, misturando elementos de percussão, samba e pop. Seu primeiro cd, recém gravado pelo selo MEC, apresenta algumas de suas composições e conta com arranjos de Leandro Braga, além da participação especial de Chico Buarque, Carlos Malta, Délcio Carvalho e do maestro Maurício Einhorn. O disco tem músicas como Extra de Gilberto Gil, Nova Ilusão de Claudionor Cruz e Pedro Caetano, Vai Vadiar de Monarco e Ratinho, Zelão de Sergio Ricardo (com participação especial de Chico Buarque) e Quebradeira de Coco, de Roque Ferreira, além de suas próprias composições. 10. Mistérios, de Zarabatana. Zabumba Records. Contato: [email protected]. Mário Carvalho: Pianista, arranjador, produtor e compositor. Atua desde 1975 como músico e professor no Brasil e na França. Tocou e gravou com inúmeros artistas, como Nico Resende, Paulo Freire, Luís Melodia, Skowa, Paulo Moura, Ulisses Rocha, Chico Batera, Rosa Maria Colyn, Manolo Otero, Nenê, Sérgio Rossoni, entre outros. Cláudio Vecchiato: Baterista, percussionista e compositor, sua carreira já o levou a atuar na Itália e em Portugal. De volta ao Brasil, entre gravações e shows, trabalhou com Johnny Alf, Cauby Peixoto, Jamelão, Zeca Pagodinho, Bocato, Miriam Mirah, Sandy e Júnior e Trio Mocotó, entre outros. Mauro Wagner: Contrabaixista, violonista, arranjador e compositor. Iniciou sua carreira em 1983 e atuou como instrumentista em palcos brasileiros e europeus. Entre os artistas que contaram com o seu trabalho destacam-se Johnny Alf, Bocato, Hector Costita, Alaíde Costa e Ronnie Von. Paulo Oliveira: Saxofonista, flautista, compositor e arranjador. Profissional desde 1977, vem desenvolvendo seu trabalho tanto na área erudita como na popular. Já tocou ou gravou com muitos artistas, como Fábio Jr., Johnny Alf, Trio Mocotó, Wanderléa, Zezé de Camargo e Luciano e Marcelo D2. Destacam-se suas atuações no exterior com Olmir “Alemão” Stocker (Canadá e EUA), Toninho Ferragutti (Portugal), Ana Caram (Japão) e Orquestra Popular de Câmara (Espanha, Bélgica e Alemanha). . galeria de revistas . exégesis (Porto Rico) [Floriano Martins] três revistas hispano-americanas: Archipiélago (México), Maga (Panamá), Matérika (Costa Rica) [F.M.] revistas hispano-americanas, I: um olho no passado recente [F.M.] revistas hispano-americanas, II: um encontro de duas linguagens [F.M.] triplov (Portugal): diálogo com Maria Estela Guedes [F.M.] rascunho (Brasil): diálogo com Rogério Pereira [Claudio Willer] blanco móvil 1 (México): diálogo com Eduardo Mosches [F.M.] jornal de poesia (Brasil): diálogo com Soares Feitosa [F.M.] digestivo cultural (Brasil): diálogo com Julio Daio Borges [C.W.] el artefacto literario (Suécia): diálogo com Mónica Saldías [F.M.] Jornal da ABCA (Brasil): diálogo com Alberto Beuttenmüller [F.M.] O Escritor (Brasil): diálogo com Erorci Santana [F.M.] Fokus in Arte (Brasil): diálogo com André Lamounier [F.M.] Storm (Portugal): diálogo com Helena Vasconcelos [Maria João Cantinho] Punto Seguido (Colombia): depoimento de Oscar Jairo González Babel (Brasil): diálogo com Ademir Damarchi [C.W.] Corner (Estados Unidos): diálogo com Carlota Caulfield [Maria Esther Maciel] Arquitrave (Colombia): diálogo com Harold Alvarado Tenorio [F.M.] Fronteras (Costa Rica): depoimento de Adriano Corrales Arias Salamandra (Espanha): apresentação de Lurdes Martínez Tropel de Luces (Venezuela): diálogo entre Pedro Salima & amigos (Antonio Guerra, Luis Aníbal Velasquez, Mirimarit Parada, Jesús Cedeño y Eduardo Gasca) Iararana (Brasil): diálogo com Aleilton Fonseca [F.M.] Amauta (Peru): ensaio de Carlos Arroyo Reyes Portal de Poesía Contemporánea (Espanha): depoimento de maría martín arévalo Alforja (México): diálogo com José Vicente Anaya & José Ángel Leyva [F.M.] Capitu (Brasil): diálogo com Edson Cruz [F.M.] Común Presencia (Colombia): diálogo com Gonzalo Márquez Cristo & Amparo Osorio [F.M.] Cult (Brasil): diálogo com marcelo rezende [C.W.] Malabia (Espanha): diálogo com Federico Nogara [F.M.] Vaso Comunicante (México): diálogo com Ludwig Zeller & Susana Wald [F.M.] Matérika (Costa Rica): diálogo com Alfonso Peña & Tomás Saraví [F.M.] Palavreiros (Brasil): diálogo com José Geraldo Neres [C.W.] Piel de Leopardo (Argentina): diálogo com Jorje Lagos Nilsson [F.M.] Blanco Móvil 2 (México): diálogo com Eduardo Mosches [F.M.] Literatura on line (Brasil): diálogo com Laudemir Guedes Fragoso [Edson Cruz] Suplemento Literário Minas Gerais (Brasil): artigo de José Aloyse Bahia Telescópio (Brasil): diálogo com Everi Rudinei Carrara [C.W.] Alpha (Chile): depoimento de Eduardo Barraza Agulha (Brasil): diálogo entre os editores Decir del agua (Estados Unidos): diálogo entre Reinaldo García-Ramos & Jesús J. Barquet Tsé-tsé (Argentina): diálogo entre Reynaldo Jiménez & Pedro Favaron editores da agulha . revistas em destaque . .. exégesis (porto rico) Ao traduzir alguns ensaios de José Luis Vega (Três entradas para Porto Rico, Fund. Memorial da América Latina, São Paulo, 2000), observei que a realidade política e cultural de Porto Rico possui um radical de violência, cujo marco é o despejar de forças militares estadunidenses em suas praias, em 1898. Até hoje o país não existe como tal, e sofre as adversidades da colonização em seu cotidiano – imposição de cidadania estadunidense, recrutamento militar, ameaça de distorção do próprio idioma nas escolas, cerceamento dos direitos políticos etc. Em meio a tudo isto, impressiona a condição de resistência cultural daquele povo. Talvez tenhamos perversamente nos acostumado àquela situação, sendo raro que uma voz de eco internacional repercuta sua indignação. No entanto, as principais vozes internas, em Porto Rico, estão sempre alertas e atuantes, e graças a elas uma cultura se produz e se individua, ao longo dos tempos, quando menos intrigando aqueles que pensem o contrário. O próprio José Luis Vega, ao fundar a revista Ventana, nos anos 70, logo em seu segundo número alertava: "Os artistas e escritores porto-riquenhos de hoje devem ter um compromisso moral, um pacto digital, com a libertação de nosso povo", ao mesmo tempo em que lembrava que "esse pacto não pode nem deve significar a míngua da qualidade artística de sua obra; pelo contrário, deve significar a superação constante de sua obra e de si mesmo como indivíduo". Politicamente Porto Rico é um fantasma. Não existindo como nação, tampouco existe como célula estadunidense. Sua cultura, no entanto, firmou-se e afirmou-se, podendo contar com uma leitura consistente no tocante aos inúmeros desdobramentos desde o Modernismo até os dias de hoje. Em cada uma das etapas vencidas por essas instâncias estéticas, encontramos vozes importantes (sobretudo na literatura e nas artes plásticas) destacando-se naquela região. Como costuma ocorrer em diversas instâncias, é de suma importância a presença de revistas de cultura, que calibram as relações entre criação e produção. Dentre as que alcançaram destaque na trajetória cultural portoriquenha, cito Ventana, Guajana, Mester e Zona: carga y descarga, que desempenham destacado papel nos anos 60 e 70. Nas duas últimas décadas, podemos pensar tanto em Mairena quanto em Exégesis. A primeira, criada e dirigida por Manuel de la Puebla, há poucos meses encerrou um ciclo de 20 anos de existência, fechando suas páginas e propiciando o surgimento de outra publicação, Julia –homenagem a Julia de Burgos, uma das máximas expressões literárias daquele país. Já Exégesis, surgiu em 1986, animada por um grupo de intelectuais vinculados ao Colégio Universitário de Humacao, tendo à frente Andrés Candelario. Desde o princípio, havia entre eles o poeta Marcos Reyes Dávila, que viria a dirigir a revista em 1990, mantendo-se no cargo até hoje, exceto por uma curta passagem de Carmen Alverio e Rogelio Ruiz Gómez, no período de 1994/95. Tendo sido concebida como veículo de expressão pública das atividades intelectuais da referida intelectualidade, Exégesis, no entanto, não se fechou àquele mundo acadêmico, desde cedo compreendendo que "o crescimento intelectual só é alcançado no plano bidirecional do diálogo" – no dizer justamente de Marcos Reyes Dávila –, ao mesmo tempo em que seu corpo editorial buscava uma perspectiva de expansão editorial que não se viabilizaria caso reflexão e investigação de cunho científico não se aliassem à criatividade intelectual e artística. Assim é que Exégesis, desde o princípio, mostrou-se visceralmente comprometida em romper o muro que separa academia e cultura. E o fez com base em um rígido critério tripartido, que permite igualdade de espaço para autores da instituição que a publica, do país e do exterior, em momento algum limitada essa participação a vínculo acadêmico. Logo nos perguntamos como se viabiliza um projeto desses, e seu diretor nos informa que Exégesis tem recebido "o auxílio espontâneo de toda a comunidade acadêmica". Compreendida como um bem comum, deve ser zelada por todos. A este respeito, segue afirmando Reyes Dávila que "as revistas são tanto instrumentos de expressão e divulgação como o são de projeção e promoção", de maneira que "estão sempre articuladas a partir de circunstâncias invariavelmente diferentes que as definem". Partindo inicialmente para ousada aposta em manter correspondência com outros países, logo Exégesis teria suas páginas marradas pela presença de nomes como Elvio Romero, Ernesto Cardenal, Floriano Martins, Isabel Allende, Jorge Rodríguez Padrón, José Donoso, José Roberto Cea, Manuel del Cabral, ao mesmo tempo em que aí estabelecia um diálogo que viria a propiciar a difusão, no exterior, daqueles nomes essenciais da cultura porto-riquenha. Compreensão bidirecional do diálogo, algo bem distante do mero jogo de troca de favores que se enraizou na cultura brasileira. Graças a essa atitude despojada – admirável lição para o resto da América Latina –, uma pequena comunidade acadêmica tem conseguido dialogar com o mundo. Exégesis hoje se encontra inteiramente disponível na Internet, ao mesmo tempo em que segue recebendo pedidos de assinaturas de vários países, o que prova, além do mais, que as mídias são conjuntivas e não disjuntivas. Vale ainda citar as lúcidas palavras de seu diretor, Marcos Reyes Dávila: "Cremos em Exégesis que o peso posto sobre uma noção fátua e flatulenta da incerteza é um lastre, uma rémora, um freio e um retrocesso histórico a formas análogas à da torre de marfim modernista de finais do século XIX. Cremos que a reflexão e compreensão da realidade não se robustece em um meio inativo, porque a reflexão resulta fenomenologia, elucubração de imagens vácuas, placebo inerte e desnutridor – como o observou Marinello –, além de galã ou vedete – conforme seja o caso – que se esgota na figuração retórica." As revistas chegam à nossa mesa de maneira diversa. É possível que não percebamos além daquele número que folheamos. No entanto, carregam em si toda uma história, espelhos preciosos da cultura de um país. Nos habituamos, por alguma perversão quase irreversível, a estabelecer padrões de cultura. A telenovela no Brasil, nos Estados Unidos e no México, por exemplo, é um recorte magnífico de uma aparentemente distinta forma de decadência cultural nos três países. Outro exemplo: o Uruguai vive hoje, em sua imprensa diária, o fantasma da contenção de despesas, que rouba fôlego da área menos importante à vida útil de uma empresa. Qual? A cultura. A imprensa no Brasil já se curvou a todas as exigências de mercado – na verdade, ajudou a fundar todas elas. Por que misturo os assuntos? Porque o fluxo de capital, de alguma maneira, acabou nos convencendo que o homem não é mais o lobo do homem, mas sim o agiota do homem. Floriano Martins Exégesis. Revista del Colegio Universitario de Humacao, UPR. Diretor: Marcos Reyes Dávila ([email protected]). Acesso virtual: http://cuhwww.upr.clu.edu/exégesis. 2.000 exemplares, formato 21,5x28 cm, 100 páginas, periodicidade quadrimestral. Matéria gentilmente cedida pelo jornal O Escritor, da UBE - União Brasileira de Escritores. . revistas em destaque . .. três revistas hispanoamericanas: archipiélago, maga, matérika 1 Investimentos na produção cultural tendem a crescer ou diminuir de acordo com o influxo de nomes envolvidos ou com a solidez das propostas apresentadas? Predileção por aquelas produções com maior potencial de visibilidade definiria o assunto? A questão giraria unicamente em torno do estratégico lobby? Essas indagações me vêm à tona quando penso nas razões da rara circulação de revistas de cultura no Brasil. Rigorosamente não temos tradição alguma nessa área de produção cultural. Se penso no aspecto da credibilidade, logo me pergunto o que leva o Banco Santander Mexicano a investir em uma publicação naquele país. O próprio estado mexicano, através do IMSS – equivalente de nosso INSS –, com alguma freqüência patrocina revistas de cultura. Igualmente contribuem as universidades, privadas ou não. Caberia então pensar no impedimento de circulação de informação e reflexão cultural, no Brasil, através desse veículo de comunicação. Em 1997 a UNESCO deu respaldo cultural à revista Archipiélago, do México, considerando-a importante instrumento de integração cultural latino-americana. O fato coincidia com o segundo aniversário da publicação, e seu diretor, Carlos Véjar Pérez-Rubio, sentia orgulho ao dizer que Archipiélago se trata de "uma publicação nascida no México em 1995 como expressão de um vasto projeto cultural que tem o propósito de contribuir para a unidade dos povos da América Latina e do Caribe, incluindo as comunidades de origem hispana residentes em países como Estados Unidos e Canadá". É bem verdade que a revista surgiu em 1992, quando teve o número zero publicado, e desde aquele momento buscou articulação entre os vários países estabelecidos como meta, até finalmente definir uma política de ação e conta hoje com 31 números publicados, rigorosamente dentro de uma circulação bimestral. Carlos Véjar nos informa um pouco mais: "O projeto Archipiélago e sua revista tem se apresentado até aqui em importantes eventos culturais realizados em Barbados, Bolívia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, França, México, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela. Sua proposta de articular uma rede de centros culturais onde se possa desenvolver o movimento cultural integrador, intitulada Casas de Nossa América, tem sido recebida com grande interesse e várias instituições se manifestaram dispostas a apoiá-la." Archipiélago surge não isoladamente como uma revista de cultura, mas antes como um sólido projeto de integração cultural, que envolve tanto a criação de um programa editorial como o fluxo de navegação, a circulação pelos vários países, troca de idéias etc. A revista em si tem desempenhado um duplo e importante papel, o de informar acerca de produções culturais em praticamente toda a América e discutir mais detidamente aspectos essenciais à compreensão dessa realidade. Tanto encontramos abordagens genéricas – a dimensão cultural da globalização, a cosmovisão centro-americana – como específicas – estudos sobre a obra de inúmeros artistas, ao lado de ensaios fotográficos, poemas, entrevistas etc., abrangendo um universo amplo de criação e crítica. Some-se a isso a realização de encontros que propiciam a discussão em torno de perspectivas culturais envolvendo o continente de fala hispânica e suas relações complexas. Naturalmente que o Brasil poderia participar desse importante projeto não fosse tão leviana a concepção de si mesma que define nossa cultura. A complexa leitura que nos cabe acerca de uma unidade latino-americana é assunto tratado com diversidade e freqüência em Archipiélago, o que permite compreender melhor a trama que envolve matizes culturais que se aproximam e se distanciam entre si. Haverá aspectos de ordem política ou econômica separando o Brasil da América Hispânica? Como aplicar a estatística em nossa condição irmanada de terceiro mundo? O idioma definirá o panorama cultural? Naturalmente não se pode aqui falar em unidade perdida. Quando menos o assunto seria da ordem de uma falha estratégica, de uma veleidade cultural. As páginas de Archipiélago estão tomadas de discussão dessa ordem, buscando elucidações e ambientação prática para o tema. Ao mesmo tempo, em momento algum se deixa de considerar a criação artística, reproduzindo obras plásticas e versos, sempre cuidando de não se tornar refém dos nomes recorrentes, buscando uma cumplicidade de pauta entre o conhecido e o desconhecido, papel fundamental que deve desempenhar um editor em qualquer circunstância. Archipiélago bem poderia encontrar entre nós uma correlação de interesses com a revista Nossa América, da Fundação Memorial da América Latina. Não resta dúvida que há um aspecto aproximativo, quase confluente, na leitura de pauta de ambas publicações. E logo ressurgem as inquietações: por que não abraçamos uma causa – qualquer uma – com veemência? Com que gratuita indiferença ou superioridade observamos os hispano-americanos? E o que impede uma produção consistente que permita a circulação sistemática de Nossa América? Romper isolamentos provocados pela presunção talvez seja um bom estopim. 2 Ao contrário do México, onde se pode contar com uma larga tradição na circulação de revistas culturais, no Panamá o que encontramos é um território bastante inóspito, onde a atividade intelectual carece de condições diversas de produção e difusão, não havendo editoras e sendo bastante reduzido o número de livrarias. Em meio a este quadro, torna-se ainda mais abnegado o esforço do poeta e prosador Enrique Jaramillo Levi em manter funcionando a revista Maga, criada por ele há quase duas décadas. Em conversa com ele, revela-se a origem da revista: "Maga nasce em fevereiro de 1984, o mês em que morre esse grande escritor argentino, Julio Cortázar. Seu nome tem dois significados: é uma homenagem a ele pelo personagem de La Maga em seu famoso romance Rayuela; mas também esta revista é, e tem sido desde o princípio, uma verdadeira maga da cultura literária no Panamá, pela dificuldade que significa fazer cultura neste país, ter estímulos, receber apoio econômico, inclusive ter leitores fiéis ou permanentes… é como tirar coelhos de cartola e lenços das mangas, embora seja muito mais difícil, porque vivemos ainda a fazer malabarismos e aparentes mágicas para seguir adiante sem cair o nível de qualidade gráfica e de conteúdos, sem deixar-se vencer pelos numerosos obstáculos." Maga tem representado um papel fundamental na cultura panamenha, sobretudo no que diz respeito à literatura e à reflexão crítica sobre cultura e sociedade. "Espaço aberto à criatividade literária e à análise crítica", como ressalta Jaramillo Levi, em sua página receberam acolhida generosa tanto escritores já conhecidos como também tem sido palco de estréia de muitos deles, mostrando-se igualmente aberta ao dialogar com a cultura de outros países. Pergunto-lhe então como tem funcionado Maga durante tantos anos: "Maga já morreu duas vezes, e por duas vezes ressuscitou. Sempre por motivos econômicos. Suas três etapas são: 1984-1987; 1990-1993; 1996 até o presente. Agora é uma co-edição entre a Fundação Cultural Signos, que presido, e a Universidade Tecnológica do Panamá, onde sou coordenador de difusão cultural. Mas estamos entrando uma vez mais em uma etapa difícil. Há uma forte contração econômica no país e os empresários estão fechados no apoio à cultura (nunca fizeram muito por ela), de maneira que no momento estamos circulando sem anunciantes." - O que representa esta Fundação no âmbito da cultura panamenha? "A Fundação Cultural Signos nasce em abril de 1997 como uma alternativa à indiferença e incapacidade dos governos de turno para implementar uma política editorial coerente e sólida que contribua para tirar do anonimato um número considerável e crescente de novos escritores panamenhos que, já a princípio da década de 90, têm material literário de uma qualidade mais que decorosa e, além do mais, desejos de dá-la a conhecer como um primeiro passo para seu desenvolvimento intelectual e humano." - Além da função editorial e da co-produção da revista Maga, o que mais tem realizado? "Como complemento às iniciativas editoriais desta Fundação, também propusemos, desde o princípio, duas outras, igualmente importantes para a formação de novos escritores de talento: a docência – criação de seminários, oficinas literárias, conferências e mesas-redondas com temas afins à literatura, organização de encontros de escritores e lançamento de livros – e a criação de incentivos literários específicos." Nos 45 números até aqui publicados, a revista Maga é o mais sólido veículo de difusão da literatura no Panamá. Deveria haver um esforço conjunto de toda a parcela da sociedade panamenha que lida com cultura, no sentido de não se permitir a extinção desse empenho estóico de Jaramillo Levi, pelo notável estímulo à criação literária em que se converteu. Fato é que as duas entidades que a mantêm hoje são responsáveis pela produção majoritária de livros no país. E Maga é a câmara de eco de toda essa produção. Eventuais discrepâncias devem ser consideradas em aberto, e levadas a público, o que só reforçará o panorama cultural no Panamá. 3 Quaisquer dificuldades apontadas até aqui em nada justificam a inação e a má aplicação de recursos. Em muitos países a condição é quase inteiramente nula no que diz respeito à produção de uma revista de cultura. Em outros simplesmente o obstáculo radica em uma sutil manifestação da usura, o inconciliável ego daqueles que detêm situações decisivas de poder (qualquer poder). Vem da Costa Rica um exemplo de desprendimento e compreensão da realidade dada. O contista Alfonso Peña, hoje ao lado do poeta Guillermo Fernández, edita a revista Matérika. Com apenas três números publicados, a revista já afirma uma ousadia estética, ao somar obra gráfica e literária em um objeto que se destaca pela contundência plástica e intelectual. A cada edição é convidado um artista plástico, que a ilustra completamente. Os dois primeiros números foram ilustrados pelos artistas costarriquenhos Mario Maffioli e Hernán Arévalo, enquanto que o terceiro esteve a cargo do brasileiro Eduardo Eloy. Em suas páginas já foram publicados escritores como Saúl Ibargoyen, Alfonso Chase, Mario Camacho, e inclusive uma larga apresentação de poetas brasileiros, incluindo Claudio Willer, Dora Ferreira da Silva e José Santiago Naud, dentre outros. Contudo, o que importa aqui destacar é a antecedência deste projeto, cujo primeiro momento encontramos ainda nos anos 80, quando o mesmo Alfonso Peña cria a revista Andrómeda, aventura originária que circulou em duas dezenas de números e propiciou um diálogo entranhável entre escritores e artistas na Costa Rica e diversos outros países. Diante de impedimentos corriqueiros, a revista acabou deixando de existir. Nos anos 90 surgiria um segundo momento, desta vez em forma de jornal, cujo nome era International Graphiti, também com circulação de mais de 10 números. Em todos estes momentos esteve sempre presente a determinação de Alfonso Peña pelo estímulo ao diálogo como maneira decisiva de se fazer uma determinada cultura compreender-se a si mesma, vindo então a afirmar-se como tal. O registro de marca Andrómeda hoje foi convertido em uma galeria de arte que igualmente desempenha funções editoriais, por onde se publica a revista Matérika. O que melhor caracteriza uma defesa estética de Matérika é a abertura para um diálogo internacional, talvez medida de um cosmopolitismo que encontramos em San José, mas sobretudo uma compreensão de que os governos em nossos países, na América Latina, já são suficientemente responsáveis por toda forma de isolamento. Sendo uma afirmação de pluralidade, Matérika é igualmente uma afirmação da cultura costarriquenha. Ao lado da revista, confirmando o projeto inaugural de Alfonso Peña, que reúne nomes de peso na cultura daquele país, consolida-se galeria de arte, produtora de vídeos e editora, permitindo um raio de ação mais amplo e consequentemente um diálogo mais consistente. Floriano Martins Archipiélago. Revista Cultural de Nuestra América. Diretor general: Carlos Véjar Pérez-Rubio. Av. Baja California 349, Colonia Condesa, México DF 06170 México. Acesso virtual: http://www.archipielago.com.mx. Endereço eletrônico: [email protected]. 4.000 exemplares, 90 páginas, periodicidade bimestral. Maga. Revista Panameña de Cultura. Editor: Enrique Jaramillo Levi. Apartado Postal 10276 Panamá, 4 Panamá. Acesso virtual: http://www.utp.ac.pa/revistas/maga_actual.htm. Endereço eletrônico: [email protected]. 1.000 exemplares, 80 páginas, periodicidade quadrimestral. Matérika. Editores: Alfonso Peña e Guillermo Fernández. Apartado Postal # 159-1002, Paseo de los Estudiantes, San José, Costa Rica. Acesso virtual: http://www.zurqui.com/crinfocus/and/art.html. Endereço eletrônico: [email protected]. 2.000 exemplares, 80 páginas, periodicidade trimestral. Matéria gentilmente cedida pelo jornal O Escritor, da UBE - União Brasileiras de Escritores. . . revistas em destaque . .. revistas hispanoamericanas, I: um olho no passado recente São duas as circunstâncias básicas que norteiam a criação de uma revista literária: concentram em suas páginas os postulados estéticos de um determinado movimento ou escola, ou então se realizam na simples difusão eclética de textos. Os dois casos são perfeitamente corretos desde que o editorial defina e assuma a tendência escolhida. Mais recentemente as revistas se inclinam pela segunda opção, o que nos leva a uma aparente digressão: o que há por trás da reduzida ocorrência de movimentos literários ao longo das últimas décadas, hoje praticamente extintos? Entre os muitos valores que perdemos encontram-se o da palavra dada e o de compartilhar interesses. De todas as formas o homem foi levado a isolar-se em si mesmo e a não encontrar mais significado em honrar princípios e compromissos. Isto se deu de maneira tão simples que é um absurdo que tenhamos caído em artifício tão pouco engenhoso. E qual foi este astuto mecanismo? Isolar imagens, conceitos, significados, ecos. Tudo passa a ter sentido isoladamente, esdrúxula falácia, como se tivéssemos um homem aqui, uma cadeira ali e uma revista mais à frente. À medida em que ganha terreno esta falácia, deixamos de nos ver. Desacreditamos na idéia compartilhada e nos tornamos vassalos de uma auto-suficiência inóspita. Muitas vezes sem que nos apercebamos, comemoramos mais o surgimento de uma nova revista do que o marco de uma outra haver chegado a seu número 100. Este número para nós soa como um escândalo. Como algo pode durar tanto? Esta é a heresia pós-moderna: que algo dure mais que um instante. Então deveríamos queimar na fogueira do esquecimento um equatoriano chamado Fredo Arias de la Canal, por haver publicado no mês passado o número 424 da revista Norte, que edita no México desde 1929. Trata-se verdadeiramente de um escândalo e não pode aqui ser tomado como base para a nossa conversa. Contudo, podemos pensar no esforço do paraguaio Marcos Reyes Dávila que há mais de uma década edita em Porto Rico a revista Exégesis, mesmo país em que Manuel de la Puebla dirigiu, por 18 anos, a revista Mairena. E quase duas décadas levou Octavio Paz envolvido com a direção da revista Vuelta, por ele fundada. Há mais de dez anos o argentino Eduardo Mosches edita no México a revista Blanco Móvil e também há mais de um decênio Luis Alberto Crespo dirige na Venezuela a revista Imagen. Quando se fala hoje no nome do venezuelano Juan Liscano fatalmente o vinculamos ao largo período em que esteve à frente da revista Zona Franca, uma das mais importantes de seu país. Mais recentemente não se pode deixar de mencionar os esforços de Juan Riquelme ou Gonzalo Márquez Cristo, que se encontram à frente da venezuelana Babel e da colombiana Común Presencia. São muitos países e a referência a todos seria obviamente infrutífera, quando menos cansativa. Tenho me referido antes ao diretor do que à revista em si. Isto se dá porque intencionalmente citei revistas que pertencem àquela segunda instância inicialmente tratada, ou seja, que não se encontram diretamente vinculadas a um movimento ou a uma escola literária. Não quer dizer que não tenham um conselho executivo, a compartilhar idéias. Mas sabemos que é forte e decisiva a presença do diretor, ao mesmo tempo em que ali estão definidas linhas editoriais desvinculadas desta ou aquela tendência estética. São revistas que buscam uma medula a partir da abrangência. E o fazem por uma razão muito simples: entendem que representam, cada uma para seu país e seu tempo, o importante papel de catalisador de tudo o que se passa à volta delas, em todo o mundo, em termos de valores literários. Nenhuma das revistas até aqui mencionadas pôs em confronto aspectos regionais, políticos, etnográficos ou quaisquer outras formas de eventual reducionismo cultural. Isto quer dizer que souberam reconhecer igual importância a uma expressão local e outra oriunda do exterior. Encontro em algumas revistas hispano-americanas uma relevância do texto e uma despreocupação com a insustentável contagem de páginas, linhas ou caracteres exigida em outras instâncias. Não raro encontramos edições inteiras dedicadas a um único autor, ou mesmo um largo espaço destinado ao diálogo sobre determinada circunstância literária. Exemplos temos na venezuelana Babel, que ocasionalmente surge com edição inteira destinada à revisão crítica de alguns dos principais movimentos ou grupos decisivos à história da literatura em seu país; assim como as revistas Auditorium, da República Dominicana, ou Lotería, do Panamá, costumam realizar homenagens, que tomam toda uma edição, a seus principais escritores. Surge aqui um outro aspecto a ser destacado. Estas duas últimas revistas pertencem ao Estado, a exemplo da mexicana Fronteras e tantas outras mais, ou seja, são iniciativas de uma instância governamental. Mesmo assim, alcançam isenção suficiente para avaliar a trajetória estética de determinado autor sem prejuízo de ordem alguma. O aspecto a destacar seria a propriedade do Estado entender que não pode interferir no substrato da cultura que orienta a tradição de uma zona por ele administrada apenas circunstancialmente. Em outras palavras: nenhum governo, qualquer que seja a apetência política do mesmo, deve interferir no desdobramento estético de uma cultura. Mas não nos esqueçamos daquela outra circunstância que norteia a criação de uma revista literária: o vínculo a movimentos, escolas, tendências. Em nome desta ligadura importantes revistas foram criadas na América Hispânica. Vou me referir a cinco delas em particular apenas para não tornar-me mais impertinente ou enjoativo que o devido. A cubana Orígenes, a mexicana Contemporáneos, a argentina Poesía Buenos Aires, a colombiana Mito e a chilena Mandrágora. Exceção feita a esta última, que trazia manifesta uma defesa do Surrealismo, as demais foram súmulas da efervescência cultural que lhes demarcava a existência. Todas estiveram vinculadas a um grupo. E surgiram como um ideal comum, ou seja, como a fonte possível de um diálogo, o que se pode fazer brotar a partir da convivência de idéias. Neste sentido, creio que são as mais importantes revistas surgidas na América Hispânica. É curioso que nenhum historiador se deteve a estudá-las conjuntamente. Mais grave ainda: a fortuna crítica de algumas delas foi arregimentada pelos próprios diretores, não despertando até hoje a merecida atenção por parte de estudiosos do assunto. A mexicana Contemporáneos foi fundada em 1929 graças a um frutífero diálogo entre poetas como Jaime Torres Bodet e Xavier Villaurrutia. Jaime havia viajado a Cuba, onde tomara conhecimento de uma outra publicação, a polêmica Revista de Avance (1927-1930). Entendiam então que o prestígio internacional alcançado por algumas publicações européias poderiam se repetir a partir do México, desde que a aventura possuísse uma definição estética e fosse bem apresentada. Surgia assim revista e grupo, definindo uma das mais consistentes gerações em toda a América Hispânica. No Chile, dez anos depois, quando já surgira o grupo Mandrágora, que tinha entre seus articuladores Braulio Arenas e Enrique Gómez-Correa, ao final de 1938 resolveram criar a revista homônima, dando seqüência a um projeto editorial proposto pelo grupo. Por sete números editaram então a revista Mandrágora. Em 1944, o cubano José Lezama Lima funda a revista Orígenes, juntamente com o crítico José Rodríguez Feo. A inquietude de Lezama já o levara a fundar três outras revistas: Verbum, em 1937, da qual saíram três números; Espuela de plata, em 1939, que alcançaria a marca de seis números editados; e Nadie parecía, com Angel Gaztelu, em 1942, que chegaria ao décimo número. Segundo o próprio Lezama, a raiz dessas publicações foi a amizade, o diálogo freqüente e o respeito mútuo pelas opiniões peculiares. O nome da revista acabou confundindose com o de toda uma geração de escritores e artistas plásticos. Orígenes alcançou a marca de 40 números, durando até 1955. O grupo de intelectuais arregimentado por Raúl Gustavo Aguirre na Buenos Aires de 1950 insurgia-se contra toda forma de ortodoxia, ao mesmo tempo em que refutava ingerências acadêmicas no mundo da criação literária. Assim surgia Poesía-Buenos Aires, que por dez anos se manteve em franca atividade. A revista possuía textos programáticos, o que lhe dava um caráter de movimento. Em seu decorrer, ali próximo, em Bogotá, Jorge Gaitán Durán e Hernando Valencia Goelkel propunham um arrojado plano de desdobramento cultural. Pode-se dizer que a formação do grupo Mito, que logo sustentaria a publicação de uma revista homônima que atingiria a circulação de 25 números, foi o acontecimento mais marcante em toda a cultura colombiana, tanto pela dimensão estética quanto pela interferência no plano político. Esta é a geração de Alvaro Mutis e Gabriel García Márquez, os dois mais conhecidos dos brasileiros. Estas revistas tinham uma raiz comum: o entendimento de que cabe ao poeta zelar pela firmeza da cultura. A partir desta frase tão simples surge uma curiosidade: qual o limite de uma cultura? Até onde a minha orelha supura por má influência da cultura alheia ou me embriago glorioso sobre os restos de uma cultura dizimada por mim? Parece que não entendemos mais a ação da rosa dos ventos sobre o território da cultura. A defesa de uma expressão artística não pode estar vinculada a uma ramificação estética, mas o contrário jamais será dispensável. Não importa o quanto Velázquez era barroco, mas sim o quanto que o barroco espanhol foi expresso a partir da obra de Velázquez. Este deslocamento indevido tem sido a raiz de grande parte do prejuízo que hoje resulta de um inventário da produção artística em nosso tempo. De volta às revistas, hoje raridades só encontradas em coleções especializadas, como vimos, à frente delas estiveram alguns dos mais destacados poetas hispano-americanos deste século: José Lezama Lima, Xavier Villaurrutia, Raúl Gustavo Aguirre, Jorge Gaitán Durán e Enrique Gómez-Correa. Mas não as tenhamos aqui como casos isolados. No áureo período das vanguardas surgiu um verdadeiro enxame de revistas, algumas das quais com amplo destaque, a exemplo da peruana Las Moradas, dirigida por César Moro e Emilio Adolfo Westphalen, ou a argentina Ciclo, que trazia Enrique Molina e Aldo Pellegrini à frente. O que nos cabe aqui, além do informe geral, é compreender que as revistas literárias não se apartam de um leque de plumas sagradas da atividade humana na terra. O que isto quer dizer? Que não fazemos revistas e fazemos cadeiras e fazemos amor, como aspectos isolados de uma mesma natureza humana. Somente a estultice crê em uma gaveta desorganizada combinando com paz de espírito. O que isto quer dizer? Que revistas literárias não são anfetaminas ou jogos de guerra. Como somos dados à fraude, sempre levamos o meio para cama e o tratamos como fim. O que isto quer dizer? Que o empecilho real na edição de uma revista não é seu aspecto financeiro, mas antes o caráter da iniciativa. Mesmo diante da dificuldade financeira, o que se tem que discutir é como validar meios. Embora seja imenso o abismo procriado pelo equívoco entre os valores da fé e a fé em valores, a verdade é que o homem não é nada senão aquilo em que acredita. As revistas literárias nada são a não ser uma das formas de crença do homem nos valores humanos. Floriano Martins Matéria gentilmente cedida pelo jornal O Escritor, da UBE - União Brasileiras de Escritores. . . revistas em destaque . .. revistas hispanoamericanas, II: um encontro de duas linguagens Já por três números seguidos tenho comentado aqui em O Escritor a respeito de importantes revistas literárias e de cultura existentes na América Hispânica. Reitero que o trabalho que seguem realizando os diretores dessas publicações assume um peso extraordinário - e talvez único quando o assunto em pauta é o relacionamento das inúmeras culturas que constituem o continente americano. Mais curioso ainda é observar que, em grande parte, esses editores são poetas, ou seja, uma vez mais a poesia situada como uma ponte erguida acima de todas as eventuais dispersões, impedindo o homem de realizar-se em sua plenitude. Já havia comentado aqui nestas páginas sobre a revista mexicana Alforja, mas agora devo mencioná-la uma vez mais, apenas para registrar que a edição # 19 desta notável publicação dedicou a totalidade de suas 170 páginas à poesia brasileira, ali incluindo mais de 40 poetas de distintas gerações e tendências. Também uma outra revista já destacada nesta série de artigos, Archipiélago, prepara-se agora para a circulação de uma edição especial dedicada à cultura brasileira. Em função do lançamento de Alforja, em maio passado, estive no México, e ali pude conversar com os editores de ambas publicações, o que naturalmente reforçou nossa cumplicidade no sentido de se buscar uma interação entre nossas culturas. Nessa ocasião, pude ainda encontrar-me com Eduardo Mosches, editor de uma terceira revista, Blanco Móvil que, por duas vezes (anos 80 e 90) dedicou números especiais à poesia e à prosa no Brasil. Com todos eles conversei e pude sentir o carinho imenso que têm por nossa cultura, um profundo e, por vezes, excessivo respeito. E justifica-se o excessivo justamente pelo que nos falta de perceber a própria importância do que fazemos, sem falar no fato de que o empenho dos mexicanos, por exemplo, em buscar um diálogo com a cultura brasileira não é compensado por nós em momento algum. A partir da conversa que tive com Eduardo Mosches, de Blanco Móvil, surgiu-me a idéia de sistematizar uma enquete para as páginas de O Escritor, algo que nos permitisse uma leitura mais dinâmica desse jogo mútuo de conquistas e obstáculos que temos que enfrentar os editores de revistas. Parti de quatro indagações básicas, a respeito da origem, concepção editorial, relações com publicações similares e com a imprensa de uma maneira geral. Uma outra perspectiva a ser acrescentada aqui é o surgimento de revistas virtuais ou de publicações que circulam, utilizando os dois meios, impresso e virtual. O Brasil tem uma dificuldade, bastante coerente com nossa política de alheamento, de perceber a importância crucial de fazer circular bens de cultura pela Web. Esta é uma etapa da contemporaneidade em que apenas a marginalidade cultural lhe há compreendido os mecanismos de ação. Nem mesmo as agências de publicidade ou os godmakers que comandam as campanhas eleitorais perceberam ainda a importância do veículo. Observemos, por exemplo, em uma Argentina que vive hoje uma situação bastante reveladora dessa ausência de diálogo entre culturas latino-americanas, como funciona o grupo Paginadigital, de circulação apenas virtual, mas com uma penetração extraordinária dentro e fora do país. Ao conversar com seu diretor, Pablo Castro, me disse que "o crescimento de Paginadigital superou nossas expectativas e tem se diversificado bem além do que havíamos planejado no princípio, estando atualmente com um volume de 3.500 visitas diárias e um total superior a um milhão de visitas desde a data de criação do site, ao final de 1999". Paginadigital é um veículo de circulação de textos que lhes são remetidos por outras publicações. Me disse ainda Pablo que o site foi criado "basicamente como um meio solidário para unir idéias e forças para resistir à desumanização do sistema capitalista e liberal atual". Esta compreensão de uma atuação política, sem descaracterizar o conteúdo estético veiculado, lhe dá uma solidez extraordinária. Paginadigital tem sido um valioso veículo de informação acerca das atividades culturais dentro e fora da Argentina. Penso nisto quando, na conversa com Eduardo Mosches, da mexicana Blanco Móvil, ele me diz que "as relações com as revistas do continente, lamentavelmente, são poucas, e espero que através de vocês possamos abrir nossa comunicação e participação em outras revistas". Ora, esse isolamento deve ser rompido em suas duas margens. É curioso que Mosches me diga isto, porque justamente a Blanco Móvil tem sido revista a dedicar seguidamente edições especiais à literatura de vários países, incluindo os latino-americanos. Conheçamos um pouco mais de Blanco Móvil. Nos diz Mosches: "A revista nasce em 1985, como publicação de uma livraria foro, que é a Gandhi. Logo no princípio é de um tamanho pequeno, como um folheto teatral, de 24 páginas, com uma seção central dedicada a um escritor. A relação com a livraria durou até 1988, momento em que nos separamos dessa empresa e nos tornamos independentes. Já havíamos modificado o formato, já se encontrava no tamanho carta. A partir da independência realizamos uma mudança de capa e ampliação do volume, chegando a 56 páginas. A capa passava a ser a cores. Foi difícil esse processo de independência, mas pouco a pouco obtivemos certa estabilidade econômica, que tornou possível, nos melhores momentos, uma circulação de quatro números por ano." Em seguida lhe indaguei a respeito de um balanço possível entre o buscado e o alcançado, ao que me respondeu: "A concepção editorial era a de apresentar o afazer literário de setores menos conhecidos, seja em âmbito nacional ou internacional. Com isto se quer dizer que a intenção era a de apresentar escritores de qualquer parte, que não necessariamente formem parte do aparato e presença editorial internacional. Não há excessivo interesse em mostrar os que já são conhecidos, mas sim aqueles que vão concretizando suas apostas literárias em cada país, inclusive o México. Por outro lado, buscamos temas que não são tão recorrentes. A partir daí podemos dar exemplo nos números dedicados a Utopia e Literatura, Poetas e Narradores Catalãos, Literatura Danesa, Boliviana, Filosofia e Literatura, Literatura Indígena no México e na América Latina. Angola, Israel, enfim, nos aproximamos de múltiplos segmentos e aspectos da literatura, sem nos tornarmos seguidores dos boom literários. Além do que há um marcado interesse em apresentar a produção poéticas das gerações mais jovens." E logo falamos sobre as recepções na imprensa do trabalho magnífico que vem realizado: "Ao longo dos 17 anos de existência de Blanco Móvil, tivemos, no geral, uma boa acolhida da imprensa e diversos meios de comunicação. A primeira etapa era de enviar a revista aos jornalistas relacionados com o meio literário e cultural, mas percebemos que isto não era suficiente. Portanto, se decidiu realizar uma ou duas apresentações públicas com a aparição de cada novo número. Esses lançamentos eram realizados com um caráter interdisciplinário, uma vez que deles participavam, além de alguns autores incluídos na edição, um par de atores que lêem os textos literários, poemas e contos, e a noite se completa com a apresentação de algum músico. Isto há gerado um apoio maior por parte da imprensa, rádio e televisão, através de crônicas, entrevistas ou simplesmente notas de informação." Como disse anteriormente, esse primeiro diálogo com Eduardo Mosches me levou a sistematizar uma conversa mais detida com editores de várias revistas. Algumas delas são frutos de um convívio pessoal, cujo componente mais importante é a realização de projetos comuns. Exemplo disto foi a maneira com que me recebeu na Costa Rica o editor de Fronteras, Adriano Corrales. Ali podemos planejar umas tantas ações que começamos a concretizar em termos de aproximação de nossas culturas. Porém ladeio aqui seu depoimento do que me enviou por meio eletrônico o chileno Omar Lara, editor da revista Trilce. Julgo importante destacar o trabalho de ambas, a costarriquenha inteiramente patrocinada por uma universidade, enquanto que a chilena sem apoio institucional de espécie alguma. Não as situo aqui como ações contrapostas, mas antes como uma referência a distintas maneiras de se produzir algo consistente. Vejamos o que nos diz primeiramente Adriano Corrales: "A revista Fronteras nasceu como um projeto de extensão cultural de um departamento do Instituto Tecnológico da Costa Rica (ITCR), no ano de 1994. Seu primeiro objetivo foi converter-se em um espaço editorial para dar a conhecer as distintas investigações que vinham realizando nossos professores no que respeita ao âmbito das culturas populares. Até o presente foram publicados 9 números semestrais. Porém, na medida em que se foi desenvolvendo o projeto (a partir do terceiro número), fomos nos inteirando da existência de um vazio em relação a revistas culturais que mantivessem um perfil intermediário entre a revista especializada e a revista popular, formato que perseguíamos desde o princípio. Assim é que, além da ênfase antropológica, histórica e sociológica, fomos abrindo espaço para outros aspectos, tais como a literatura e a arte em geral. Por outro lado, começamos a receber colaborações de distintos países latino-americanos onde, imprevisivelmente, a revista foi chegando graças à ação de amigos e colaboradores." Indaguei a Adriano como a revista sobrevive: "Fronteras hoje se financia basicamente com a verba do ITCR e com a venda de exemplares, mas estamos abrindo a venda de publicidade como uma colaboração e apoio a este projeto editorial. Ela é distribuída em várias livrarias de San José, Heredia, Ciudad Quesada e Cartago. Mas também pode ser encontrada em Bibliotecas, Centros Culturais e Salas de Teatro. E as assinaturas estão franqueadas segundo anúncio no próprio expediente da revista." E agora nos fala o chileno Omar Lara, editor de Trilce: " A revista nasceu paralelamente ao grupo de poesia Trilce, em março de 1964, em Valdivia (Chile). Até 1973, quando praticamente toda a nossa geração desapareceu do mapa literário chileno, a revista publicou 16 números, com uma regularidade muito irregular. Ocorre que a revista era um de nossos afãs, não o único. Nos anos 1965 e 1967 organizamos os primeiros encontros da Jovem Poesia Chilena, em Valdivia. Também foram publicados alguns livros individuais de membros do grupo e nos sentíamos bem envolvidos com os movimentos sócio-políticos daquele momento." E como seguiu a revista, que novos rumos tomou? "Depois, no exílio em Madrid, publicamos três números, entre 1981 e 1983. De volta ao Chile, já em Concepción, reiniciamos a publicação dentro do que chamamos de uma Terceira Época. E nisto seguimos empenhados até hoje. Uma vez que não temos auspício institucional nossa freqüência é imprevisível. Quis torná-la quadrimestral, mas a realidade nos impõe uma circulação semestral. Mesmo ciente de que defenderei até onde possa essa periodicidade, não tenho nenhuma garantia quanto a isto. Trilce tem sido apresentada diretamente em países como Peru, Equador, Espanha, Alemanha, Argentina, e através de amigos em vários outros: Estados Unidos, México, Uruguai, Portugal. A rigor, a revista é uma revista de amigos, o que não está mal, certamente. Temos muitos leais entusiastas, generosos amigos. Sempre pensei em Trilce como uma publicação propiciadora de diálogos. Tenho consciência de que em vários momentos fomos uma janela através das qual muitos poetas e leitores em geral puderam conferir as ocorrências poéticas de outros lugares, através de entrevistas, poemas, traduções, correspondência etc." As duas possibilidades de condução de um processo editorial permitem aclarar que em nada se justifica a inércia encontrada no Brasil. Dentro ou fora do que nos habituamos a chamar de "sistema", apenas reagimos e mesmo assim com um ar paranóico (presunçoso) que pouco ou nada constrói. A seguir incluímos a montagem em dez blocos de um auto-retrato da revista Lote, argentina, desenhado por seu editor, Fernando Peirone: "1 - Tipo de material que publica. - Em traços gerais se poderia dizer que é uma revista de crítica cultural e política. 2 O rol das revistas culturais na Argentina. - O papel das revistas culturais, que na Argentina têm uma grande tradição, é o de dar circulação a um saber e um agir que não se movem no mundo oficial, o papel de introduzir debates e traduções que habitualmente não são manuseados nos círculos comerciais, o de proporcionar ferramentas alternativas para a abordagem do público (e do privado), o de dar a conhecer as expressões artísticas e culturais novas, diferentes. 3 A qual público se dirige? - Dirige-se a um público heterogêneo. A invenção dos convênios revistas para repartir entre sócios, clientes etc. - como forma de distribuição, nos possibilitou que a revista não dependa das vendas e que em menos de dez dias esteja completamente distribuída, em mãos de jovens, velhos, empresários, professores, intelectuais etc., obrigando àqueles que participam conosco a rever sua linguagem e suas maneiras de dizer; o mesmo ocorre com os leitores que, ao recebêla, se dão conta que é uma revista que - no pólo oposto do videoclip demanda tempo daquele que se disponha a lê-la. Este sistema de distribuição ingressa na revista em uma paisagem que de outra maneira - se dependesse exclusivamente da venda - não chegaria. 4 Como se relacionam com a realidade? - Não nos relacionamos com a atual nos tempos de imediatismo que exiege um diário, mas sim com a distância e a implicação necessária para discorrer criticamente sobre a época que nos tocou viver. 5 Lote é lida por gente jovem? - Sim. A revista tem um suplemento jovem de educação cooperativa que chega gratuitamente (subvencionado por distintas cooperativas do sul de Santa Fe) aos terceiros e quartos anos das escolas secundárias, provocando debates e sendo utilizado como material complementar de estudo. 6 Busca consagrados ou busca descobrir vozes novas? - Em Lote participam consagrados em meio a um coro de vozes anônimas - como a daqueles que fazemos a revista - e politonais que lhe dão um perfil diferente, do interior, não dando ouvidos aos mandatos portenhos de correção cultural. 7 E esses jovens buscam algo distinto do que procuram os de gerações passadas? - Sim, há um conceito diferente do que é cultura. Não lhes interessa tanto a praxis social do pensamento quanto a possibilidade de aplicá-lo a uma qualidade de vida mais digna. Embora menos comprometida politicamente - no sentido tradicional do termo -, a juventude edifica seus entornos com modelos políticos explícitos, tolerantes, abertos, à medida de um mundo que sonham e não conseguem trasladar além de seus grupos de origem. Este é um pouco o padecimento que lhes obriga a pos-modernidade. 8 Lote promove polêmicas, debate, intercâmbio de idéias? - Permanentemente. Em cada número se questiona o status quo e são liberadas salvas de pensamento crítico. 9 Em um passado não muito para trás, os escritores reconhecidos colaboravam neste tipo de publicações. Com reagem hoje? - São reticentes, estão em seu lugar e pouco lhes dá que as revistas culturais dediquem-se à difusão de seus trabalhos. Menos ainda lhes importam ler manuscritos de novos escritores. Existe, no entanto, uma tradição que se conserva viva e ativa, participando em cada um desses empreendimentos. Grande parte dos colaboradores de Lote pertencem a essa casta de descastados. 10 Há uma disputa entre as versões impressa e virtual? - Até o momento não. Nossa revista tem uma página web desde o número inaugural, onde são publicadas as matérias mais importantes de cada número e, se temos uma acentuada visita diária ela quase sempre corresponde a leitores estrangeiros - porque lhes resulta mais fácil e menos custoso visitar a revista na tela do que assinar a versão impressa. Mas são, até o momento, públicos diferentes." Esta conversa com Fernando Peirone, editor de Lote, é bastante revelador de uma série de aspectos que seguiremos tocando nos próximos artigos. O que estamos propondo aqui, nas páginas de O Escritor, não tem caráter conclusivo, mas antes arregimentador de um diálogo essencial entre editores de revistas em âmbito continental. Fujamos das relações de bairro ou quadrilhas, e busquemos a representação mais substanciosa de uma cultura. A realidade constituída de uma nação não se encontra definida por seus políticos ou economistas, mas antes por aquela fatia empenhada, sob diversos enfoques, na formação e identificação de um caráter cultural. Floriano Martins Lote. Diretor: Fernando Peirone ([email protected]). Pellegrini 560 - Benado Tuerto - Santa Fe (2600) Argentina Trilce. Diretor: Omar Lara ([email protected]). Casilla 2501 Concepción, Chile Blanco Móvil. Diretor: Eduardo Mosches ([email protected]). Apartado Postal 21-063 México DF (04000) México Página Digital. Diretor: Pablo Castro ([email protected]). http://www.paginadigital.org (Buenos Aires, Argentina) Fronteras. Diretor: Adriano Corrales ([email protected]). Apartado Postal 223-4400 - Ciudad Quesada - Costa Rica Matéria gentilmente cedida pelo jornal O Escritor, da UBE - União Brasileiras de Escritores. . . revistas em destaque . .. triplov (portugal) diálogo entre editores: maria estela guedes & floriano martins A revista TriploV é hoje, ao lado de duas outras, Ciberkioski e Storm Magazine, os veículos virtuais mais substanciosos na imprensa cultural portuguesa. É projeto da Agulha firmar cumplicidade com revistas em vários países, diálogo que já se estabelece de outras maneiras, a exemplo da seção «Resto do Mundo», que assino para o jornal O Escritor, da União Brasileira de Escritores. Neste encontro de dois editores, com a portuguesa Maria Estela Guedes, damos a conhecer os meandros de nossa aventura editorial, permitindo ao leitor conhecer um pouco mais de ambas publicações. [F.M.] - Como nasceu o TriploV, perguntas tu? Tinha obrigatoriamente de sair do ovo, dada a crise da edição em papel: em Portugal há só meia dúzia de escritores que vivem da escrita. Eu nem pretendia viver da escrita, queria apenas ter um editor que não cobrasse pela edição… De outra parte, o livro e as revistas em papel têm tiragem limitadíssima. O TriploV, num ano, criou-nos um público ávido, e isso é reconfortante, é bom saber que a leitura não morreu, as pessoas querem mesmo ler, enriquecer-se, partilhar conhecimentos, trocar colaborações, e isso um pouco em toda a parte do mundo, mas em especial no Brasil. Esse foi o meu desafio aos outros responsáveis pelo site, José Augusto Mourão, Maria Alzira Brum Lemos e Magno Urbano: «Vamos reconquistar o Brasil!» E acho que estamos a conseguir… É claro que tive de aprender a lidar com o PC de outro modo, mas ESTELA felizmente o Magno Urbano, nosso operador de sistema, tem tido a paciência de me ensinar. E tirei uns cursos on-line. Mas ainda falta muito para estar apta. Sabes tu, Floriano, aqui só eu é que mexo no site, tenho de fazer tudo, desde compôr o texto até pô-lo no ar. Como é com a Agulha? Tens alguns conhecimentos avançados de informática e criação de webpage ou a revista é entregue a profissionais? - A Agulha é dirigida por mim e o Claudio Willer, isto em termos de definição de pauta. Mesmo residindo a 3 mil quilômetros de distância um do outro (São Paulo e Fortaleza), nos falamos diariamente e assim afinamos este e outros projetos nossos. Em termos de designer, a revista é toda feita por mim, da idealização ao acabamento. Ao final, no momento de atualização de sistema junto ao provedor, contamos com a terceira fatia de nossa cumplicidade, o Soares Feitosa, que dirige o Jornal de Poesia, onde a Agulha está ancorada. Os três somos escritores e tivemos que aprender todos os meandros dessa complexa atividade de editor, o que inclui ainda a parte de contatos e difusão. Evidente que a circulação virtual tem maior abrangência que a impressa, mesmo considerando o reduzido percentual de utilização de Internet em um país como o Brasil. Contudo, é ainda impossível se pensar em um veículo como a Agulha em termos empresariais, alcançando condições básicas como o pagamento de matérias. Somos todos, incluindo nossos colaboradores, uns abnegados dispostos ao trabalho intelectual sem remuneração, o que seria impossível em uma publicação impressa. Mas veja: quando começamos a fazer a Agulha, sentimos uma necessidade de estabelecer uma rede bem ampla de contatos, daí que criamos a «Galeria de Revistas», onde reproduzimos capa e link de revistas em várias partes do mundo. Neste sentido, como se relaciona o TriploV em Portugal? E não quero aqui restringir-me apenas a veículos virtuais. FLORIANO - Olha, Floriano, eu não tenho tempo para tudo. A difusão inicial do TriploV foi feita pelo Magno Urbano aos motores de busca, eu mando de vez em quando a newsletter do site, «Ser Espacial», a umas mil pessoas, e nada mais. O feedback em Portugal tem sido bom, saiu um artigo de João Barrento no "Público" muito favorável ao site, o «Jornal de Lamego» descobriu-me no ciberespaço, quando em tantos anos de tarimba os meus conterrâneos não me tinham descoberto em centenas de números de jornal, nem na rádio, nem na televisão. Algumas revistas virtuais e sites têm referido o TriploV, como a «Storm-Magazine», e também retribuo links, mas o principal retorno do investimento é o programa de estatística: num ano, temos vindo a subir da dezena para os milhares de visualizações de página por dia, etc.. Eu não estou interessada em ampliar muito os contactos internos; a audiência, sim. Muitos colaboradores significam muitas páginas para pôr no ar e já agora começo a não ter capacidade de resposta. A ideia é manter poucos contactos, mas escolhidos e diversificados no planisfério, e investir no ensaísmo de todo o género. A poesia, devo dizer-te, é o sector menos lido do TriploV, e no capítulo da ciberarte, que era a minha grande motivação, o desastre é total: não aparecem ESTELA colaboradores, as minhas próprias experiências ainda mal começaram porque há outras prioridades, e antes de começar eu devia ter aprendido o que ainda não sei: a trabalhar com o Photoshop e o Image Ready. Não sei o que se passa convosco, mas por aqui sinto imensa dificuldade em fazer com que os cibernautas leiam poesia, e não posso sequer chamá-los através das metatags porque não há nada específico para pôr nos campos description e keywords - a poesia não tem pontos de referência, forçar com palavras-chave do tipo «cerejas», «beijos» ou «mar» é enganar quem procura saber como cultivar cerejeiras, onde encontrar um site pornográfico ou a tabela das marés; de qualquer modo, os termos são tão extensos que o poema não apareceria nos primeiros lugares dos motores de busca, a quem pesquisa. A poesia não tem referentes, pelo menos a mais despojada, a não historicista. O dossier «Herberto Helder» é muito lido porque as pessoas já conhecem o poeta e nas caixas de pesquisa dos motores de busca escrevem «Herberto Helder». Uma estreia absoluta como a Tília Ramos não tem pesquisa possível, só será descoberta por quem entrar pela página principal, e esse público é minoritário. - Certa vez uma revista virtual no Rio de Janeiro nos procurou empenhada em fazer uma matéria sobre a Agulha. Este rigorosamente é um caso único. Temos estabelecido com outras publicações virtuais, em vários países, uma permuta de links. Além disso há uma barreira entre veículos impressos e virtuais, ao menos no Brasil. Ainda não perceberam o que há de complementaridade entre eles. Um ponto de cegueira só lhes permite entender uma inexistente condição de concorrência. Hoje a Agulha conta com um mailing de mais de 60 mil endereços, é nossa mala ativa e raramente recebemos pedido de exclusão. Nós circulamos na extensão de dois idiomas: português e espanhol, com um buscado equilíbrio entre ambos, contando ainda com um expressivo reforço de outro site que coordeno, a Banda Hispânica, este último um banco de dados sobre a poesia de língua espanhola. Isto dá à revista uma expressiva visibilidade, inclusive envolvendo uma ativa cumplicidade de correspondentes em dezenas de países. Nossa opção pelo ensaísmo em grande parte definiuse pela ausência de uma reflexão mais substanciosa sobre temas ligados à arte e à cultura no Brasil. De uma maneira geral, a poesia que se publica entre nós, nos veículos de imprensa, é um verdadeiro festim de epígonos, textos com artifícios poéticos desgastados que se repetem à exaustão. Mas independente disto, em muito me atrai essa característica de arte de exceção - ou ausência de referentes, como dizes - da poesia. Há uma lista inesgotável de grandes poetas que enfrentaram - e enfrentarão sempre - esse obstáculo de veiculação de suas obras. É natural que os estreantes comam a fatia maior desse pão amassado pelo Diabo, o que não quer dizer que não devamos, editores, estar atentos ao trabalho deles. Um outro aspecto que começa a proliferar, Estela, é o surgimento de editoras virtuais. Nós mesmos na Agulha, durante alguns meses, experimentamos a publicação de uma série de e-books, projeto com grande receptividade junto aos leitores mas que lamentavelmente foi abortado ao perdermos nosso parceiro FLORIANO em tal empresa. - Vou contar em segredo, s.f.f. não divulgues por aí: o site nasceu poeticamente falido, e eu preciso de dinheiro, a informática devora o meu ordenado. Sou eu que estou a suportar todas as despesas e são muitas. Ainda não me dispus a pedir subsídio, e agora o Governo português também está teso… Não pago direitos de autor, mas também não exijo dinheiro para editar… Já fiz uma experiência de carrinho de compras, falhou porque era preciso eu montar uma empresa de e-commerce, passar facturas… Ora eu não tenho tempo nem para escrever os meus versos, quanto mais para redigir nessa língua bárbara dos algarismos! Contar, só histórias. Uma das ideias era a dos e-books e cheguei a verter para pdf o livro Francisco Newton, que soma já muitas leituras. Outra ideia, aliás sugerida pelo Magno Urbano, é a de vender todo o site em CD. Esta ideia é fabulosa porque eu actualizo-o quase todos os dias e então podíamos vender uns 200 TriploVs diferentes por ano… Estou na disposição de alinhar numa qualquer hipótese rentável, se só tiver de dar material, meu e dos colaboradores do site… E como só dou isso, não peço metade dos lucros, apenas uma percentagem compatível… Há uns quatro ou cinco livros no TriploV, alguns inéditos, outros esgotados, e de qualquer modo tudo o que é impresso em livro é inédito à escala do planeta. Eu deixei de me ralar com ineditismos, publico o que acho instrutivo, bom e conveniente. Também deixei de me ralar com esse fantasma do roubo, os escritores não publicam na Internet porque há muitos ladrões!… Venham os ladrões, aprecio quem me rouba, é porque leu e adorou! E fora com esses vírus Nimda dos que só vêem montras e é quando saem a passear ao domingo! ESTELA - Na verdade enfrentamos os mesmos obstáculos, excetuando o fato de que a Agulha, se não gera lucro, também não gera despesa, isto do ponto de vista financeiro. Claro que há um investimento imenso de tempo. Tanto eu quanto o Willer temos outra atividade, ainda que ambientada em uma mesma perspectiva editorial. Agora, o ineditismo assume uma proporção algo falaciosa, cabendo aí observar apenas o aspecto ético da reprodução de textos já publicados, ou seja, solicitação de autorização, referência de fontes, etc.. Ensaios reproduzidos de livros ou mesmo de outras revistas habitualmente conquistam novos leitores, pois ampliamos o raio de circulação dos mesmos. O roubo é inevitável e inestimável, além do que está colado à pele do conceito de propriedade privada. Não cabe generalizar, mas antes verificar de quais inúmeras maneiras ele vem sendo praticado algumas delas bastante aceitas por nossas sociedades. Agora, como tens conduzido o TriploV em termos de orientação de pauta? Editorialmente, há algum tema ou abordagem que desperte mais interesse teu? Penso na coincidência existente entre tua revista e a «VVV» editada nos anos 40 por Breton, Duchamp e Ernst, nos Estados Unidos, ou seja, haveria aí alguma coincidência também com os ideais surrealistas? FLORIANO - Eu republico muito, com autorização, e textos de séculos transactos, porque preciso. As pessoas tratam o TriploV como revista, mas não é. Estou a fazer um depósito, e há bases de dados no site, para os meus trabalhos em História do naturalismo. Isso recorda-me que estudo a língua das gralhas, língua das aves ou língua de ponta nos textos científicos. A Agulha não é de costura… Na ponta da língua tem pimenta, pelo menos… O meu vínculo mais forte é com o modernismo português e descendentes, e mais indirectamente com o surrealismo, aliás agrada-me que estabeleçam essa relação, é legítima. Uma das pessoas mais importantes para mim, porque me rasgou horizontes e deitou por terra preconceitos, o Ernesto de Sousa, cineasta que fez o filme português dar o salto do cinema de pátio para o novo cinema, mas foi também artista de multimédia, homem que despoletou o florescimento da vanguarda em Portugal, etc., criou, comigo e com o Fernando Camecelha, um grupo, o VVV, de cuja actividade artística resultaram festas e as caixas Pipxou - há imagens e informação no directório dele. Dediquei-lhe o site, e quando tive de escolher um nome, lembrei-me do VVV, pensando: vou continuar a nossa obra, apesar de o Ernesto já ter morrido. «VVV» também quer dizer Ego sum Via et Veritas et Vita, segundo a interpretação esotérica de outro cineasta, António de Macedo. Nós pronunciamos triplov, à russa, e o meu contributo para o alargamento do campo semântico do nome foi o ovo alquímico, o «triplovo», como o Magno Urbano designa o logotipo que criou. O elo de ligação entre todos os movimentos da modernidade é a agulha, que também se exprime no Morra o Dantas, morra! Pim!, de Almada Negreiros. Sempre estive nessa onda de guerra ao convencional. Quanto a definição de pauta, ou programação, recordo que Breton fala do acaso feliz. Pois bem, a única pauta do TriploV é esse acaso luminoso, como este de estarmos agora aqui sem o termos premeditado. Nunca me envolveria em nenhum projecto editorial que implicasse programação e periodicidade rígida, porque isso é inviável no perímetro da minha acção. Parte dos nossos conteúdos, o segundo mais aliciante de todos, é constituído pelas comunicações ao Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas. Os participantes não entregam os trabalhos. Por isso criar uma revista dentro do TriploV, como era desejo do José Augusto Mourão, por exemplo, está fora dos meus propósitos. Prefiro que o site seja tratado equivocadamente como revista, porque a classificação pode vir a ser útil para fins de patrocínio. Além disso, deixar o triplovo a chocar durante um mês ou mais, para só em data certa ver os pintos a bater as asas, não se acomoda ao meu sistema nervoso. Quando aparece um novo pinto, lanço-o imediatamente no céu. ESTELA - E está perfeito que seja assim, mais abrangente o tríplice V do que no caso de Breton, onde aliava o V da Vitória ao Voto no sentido de energia vital ou Volta «a um mundo habitável e imaginável». E cabe bem a lembrança ao Almada e seu manifesto, ele que soube ver bem o valor intrínseco da antecipação a tudo. Admirável Almada que vivia a lembrar o essencial que é a poesia fazer «nascer asas em Nós». Pode-se dizer de Agulha que seja uma revista, tem estrutura e FLORIANO perspectiva estética que atende ao objeto. Ao contrário, o que faço na Banda Hispânica deve ser visto como um banco de dados, uma fonte virtual de consultas acerca da poesia de língua espanhola. Tua referência à pimenta («pelo menos»), eu a entendo como uma aguda visão crítica que se alimenta dessa entrega ao outro, de buscar a integridade das coisas. De buscar a verdade em vida e em toda a vida. É exatamente o que estamos fazendo aqui, neste nosso breve diálogo inicial, quando aproximamos nossos projetos editoriais, Agulha e TriploV. Lisboa, Fortaleza. Outubro de 2002. Maria Estela Guedes (Lamego, 1947). Tem colaborado em quase todos os mais importantes jornais portugueses, na rádio e na televisão. Em 1987 foi levado à cena um espectáculo multimédia da sua autoria, O lagarto âmbar, na Fundação Calouste Gulbenkian. Entre os seus livros, encontram-se: Herberto Helder, poeta Obscuro (1979), Crime no Museu de Philosophia Natural (1984) e À Sombra de Orpheu (1990). Dirige a revista TriploV (www.triplov.com). Contato: [email protected]. . . revistas em destaque . .. rascunho (brasil) diálogo entre editores: rogério pereira & claudio willer Jornalismo literário pode ser apaixonante? Não, responderão os leitores de suplementos de nossos grandes jornais, frios, burocráticos, universitários em excesso. Sim, responderão os leitores de Rascunho, publicado em Curitiba, Paraná, a julgar pela seção de cartas desses leitores, estuante, prolífica, com adesões entusiásticas e protestos indignados referentes aos ensaios e resenhas nele publicadas. Rascunho já ultrapassa trinta edições em três anos de existência. Lembra bastante o que se publicava há vinte anos no Brasil, no tempo da imprensa alternativa e da assimilação da sua contribuição pela grande imprensa. Isto, lembrar o que outrora já foi feito, é uma qualidade, e não um defeito desse periódico; é um dos motivos para muita gente o considerar o melhor jornal literário brasileiro, neste momento. E, conforme pode ser entrevisto na conversa com ele, preparada para esta Agulha, o que seu editor, Rogério Pereira, tem de combativo, idiossincrático, voluntarista, está diretamente relacionado a esse bom resultado. [C. W.] - Você não veio do nada, ou de algum vazio interplanterário. Já fazia jornalismo antes, não é? Conte algo sobre suas origens e procedência. Apresente-se. CLAUDIO WILLER - Tenho 29 anos (beirando os 30), os pés rumam para o altar, com a bela Cristiane. Cheguei em Curitiba, aos 6 anos, vindo do sudoeste de Santa Catarina (meus pais eram pequenos ROGÉRIO PEREIRA agricultores). Dedico-me ao jornalismo há muito tempo. Aos 13 anos, já era office-boy da Gazeta Mercantil, em Curitiba. Antes disso, fui vendedor de flores em frente a um cemitério (muito poético, por sinal), fabriquei móveis e matei muito passarinho nos matagais de Curitiba. Trabalhei durante oito anos na Gazeta Mercantil. Cursei Filosofia e Jornalismo. Comecei a trabalhar como repórter em 1996. A partir daí, embrenhei-me por várias redações. Fiz campanhas políticas (Lerner, Taniguchi e, recentemente, Beto Richa). Ganhei algum dinheiro, fiz as malas em 1999 e fui fazer pós-graduação em jornalismo político em Madrid. Voltei a Curitiba. Dirigi um jornal popular (o Primeira Hora). E cá estou agora a matar sabiás. - E como é que surgiu essa idéia de fazer Rascunho? Você já tinha essa intenção, de fazer um suplemento literário, faz tempo, ou foi algo que aconteceu assim, de repente, num estalo, em um ímpeto de inspiração, em uma mesa de bar? CLAUDIO WILLER - Quando voltei da Espanha, no começo de 2000, fui trabalhar como assessor de imprensa na Prefeitura de Curitiba, um mausoléu repleto de teias de aranha. Lá, ficava a tecer matérias sobre ruas asfaltadas, praças inauguradas etc. Então, resolvi escrever uma coluna de resenhas/críticas literárias no Jornal do Estado, em Curitiba, todas as segundas-feiras. Ah! Esqueci de dizer que além dos sabiás, sempre me dediquei à leitura e à escrita (na escola, vendia resenhas dos livros e redações para os alunos mais vagabundos; às vezes, o pagamento era em dinheiro, outras, em lanche). Depois de algum tempo com a coluna semanal, na "tranqüilidade" do serviço público, resolvi juntar um bando de malucos e criar o Rascunho, pois nunca gostei muito dos suplementos existentes. Juntamo-nos na mesa de um bar: apresentei a idéia, fiz o projeto gráfico (em parceria com o jornalista Fabrício Binder), e apresentei ao Jornal do Estado. Depois, muitas noites de insônia e café a cada edição mensal. ROGÉRIO PEREIRA - Você partiu de alguma reflexão crítica sobre o jornalismo literário atual, uma intenção de preencher um espaço vazio, cobrir uma lacuna, algo assim? CLAUDIO WILLER ROGÉRIO PEREIRA - Isso pesou muito, mas a vontade de fazer um bom jornal literário pesou mais. Nunca concordei muito com o tom conciliatório dos suplementos literários, sempre jogando a sujeira para baixo do tapete. Considero os suplementos um grande salão de baile de confraternização, um passa a mão na cabeça do outro. Pura bajulação. Falta a discussão, o apego à polêmica. As idéias opostas são sempre bem-vindas. É claro que a responsabilidade deve estar implícita. O que se vê por aí é um bando de compadres a tomar chá no fim da tarde. Os suplementos literários dos grandes jornais são o quintal para um churrasco literário, com carne de segunda e muita lengalenga. CLAUDIO WILLER - E esses colaboradores, esse grupo tão diversificado, como você os achou? Você procurou ou escolheu a dedo gente disposta a escrever de modo passional, veementemente contra ou a favor algum texto ou autor? - Para começar o Rascunho, chamei jornalistas (todos bons amigos) em quem confiava muito: Paulo Polzonoff Jr., Adriano Koehler, Paulo Krauss, Andrea Ribeiro, Alessandro Martins, Eduardo Ferreira, Jeferson de Souza, entre outros. Precisavam ser bem amigos mesmo, pois não receberiam (e até hoje não recebem) um centavo furado para escrever resenhas/críticas/entrevistas para um jornal literário chamado Rascunho, que até agora não foi passado a limpo. Com o tempo (não sejamos modestos: o Rascunho cresceu, ganhou vida, melhorou muito. Passou de oito para 16 páginas), muitos outros nomes foram se juntando, pois acreditaram no projeto: José Castello, Fernando Monteiro, Nelson de Oliveira, Álvaro Alves de Faria, Fabrício Carpinejar, entre tantos outros. São colaboradores fiéis e de suma importância. Sem eles, o Rascunho seria apenas um sonho. Ninguém ganha nada, mas se diverte um bocado. Acho. Todos os meses, aparecem novos colaboradores. Conseguimos criar um grande canal de discussão literária, e, assim, as pessoas sentem-se motivadas a participar, apesar de o pagamento ser um "muito obrigado" por e-mail ou telefone. E nessa tropa, sempre há espaço para novos colaboradores. ROGÉRIO PEREIRA - Quem teve a idéia de cotejar matérias pró e contra algum autor ou obra? Continuarão, esses exercícios de pluralismo? CLAUDIO WILLER - Criar um jornal para ser morno e insosso como tantos outros estava fora dos planos. Sempre fui a favor da polêmica. O primeiro grande "cacete" foi no Décio Pignatari, com o texto "50 anos de enganação", escrito em parceria com o Paulo Polzonoff Jr. Aí, o Rascunho deixou claro o seu "desprezo" pela poesia concreta. Mas, mesmo assim, abrimos espaço para os amantes concretistas. O Rascunho é um barco furado que teima em não afundar. Portanto, sempre cabe mais um. Depois, veio o texto sobre o Valêncio Xavier: "Equívoco", novamente assinado por mim e pelo Paulo. Acho que somos os "grandes" polemistas: ele mandou bala no Scliar e no Loyola. Eu escrevi um texto polêmico sobre o Marcelo Mirisola, que sonhou que era escritor e até hoje continua acreditando. O Rascunho tem essa característica polêmica, mas sempre com muita dose de humor e responsabilidade. O pluralismo vai imperar até o fim, até os últimos dias. ROGÉRIO PEREIRA - Suplementos culturais e jornalismo literário têm história, grandes antecedentes - Suplemento do Estadão, o do JB, etc. É possível especificar relações de Rascunho com esses antecedentes, comentar algum que tenha influenciado ou servido como referência? CLAUDIO WILLER ROGÉRIO PEREIRA - Acho que não sofremos influência de nenhum suplemento das "antigas". Até mesmo porque não conheci nenhum deles no dia-a-dia. É claro que conheço a história dos grandes suplementos culturais, mas a minha idéia era fazer um jornal que valorizasse o texto, em contraponto à frugalidade, rapidez e concisão do jornalismo em geral. Adoro ver uma página do Rascunho cheia de letras, de idéias, de discussão. Meu lema: entre o texto e a ilustração, mate a ilustração. Questão de gosto. É claro que às vezes exagero na dose, mas a overdose rascunheira é benéfica à saúde. - E de lá de fora, publicações de outros países, mencionaria alguma? CLAUDIO WILLER - Morei na Espanha e conheço muito bem a imprensa espanhola, em especial o El País, que mantém o excelente suplemento literário Babelia. Lá, o texto é valorizado e as idéias são amplamente discutidas. Até acho que tenha me influenciado de alguma maneira. Mas não sou um grande conhecedor do jornalismo feito em outros países. Conheço-o como qualquer navegador de Internet. Clico aqui e ali e vou descobrindo coisas. ROGÉRIO PEREIRA - Com relação ao presente, ao momento atual: você faria comentários sobre os suplementos, periódicos literários e revistas atuais? CLAUDIO WILLER ROGÉRIO PEREIRA - Como te disse, não acompanho os suplementos e revistas de outros países, a não ser o El País, uma paixão irresponsável. - Que tal lhe parece o atual crescimento, quando não proliferação de revistas de poesia e periódicos literários? Teria destaques, comentário sobre algum deles? CLAUDIO WILLER - Recebo uma grande quantidade de jornais e revistas literárias/poesia. Há coisa muito boa, como o Suplemento de Minas Gerais e a revista Continente, de Pernambuco. Também gosto muito da Bravo!, apesar de seu pedantismo almofadinha. A Cult não está entre as minhas preferências, mas às vezes acerta a mão. De um modo geral, acho que há um grave problema nos projetos considerados "independentes", principalmente em relação às revistas de poesia. Aqui em Curitiba, existia uma revista, que era um emaranhado de coisas, muitas vezes sem pé nem cabeça, para agradar a certos grupinhos de amiguinhos (assim no diminutivo). Há várias publicações editadas por grupinhos. Esse tipo de iniciativa me parece a masturbação do elefante com o avestruz (Que fique bem claro, nada contra os poetas fundadores; alguns muito bons, por sinal). Mas algumas revistas servem de muralha para atacar outros grupos ou preservar "idéias" consideradas indissolúveis. São, na verdade, frágeis fortalezas. E isso acontece em São Paulo, no Rio de Janeiro (com o grupinho dos cariocas da gema), em Brasília, em Garanhuns, em Jaboatão dos Guararapes, no ROGÉRIO PEREIRA fim do mundo. O problema é a falta de abertura: a quem pertence ao grupinho, loas; aos demais, pedras no sapato molhado. Assim não há discussão, não há avanço, não se dilata a consciência (como diz Fernando Monteiro). Revistas e jornais precisam ter abertura, uma janela para se respirar. Caso contrário, todos morrem asfixiados no ocre cheiro dos corpos putrefatos. - Já estava em seu projeto originário ser tão polêmico assim, ter uma seção com tantas cartas de leitor pró ou contra alguma matéria? Você tem uma vocação de incendiário, iconoclasta ou polemista? Enfurecer gaúchos, isso o agrada especialmente? CLAUDIO WILLER - Meu esporte preferido é enfurecer o vizinho, jogando pedras no telhado em dia de chuva. A polêmica é necessária. A polenta sem molho é massa sem graça. Os leitores participam porque sentem a necessidade da discussão, de expor idéias, de criticar, de reclamar. Tudo isso faz muito bem à cultura. É triste quando se vai fechar a edição e há poucas cartas nos ofendendo, falando que somos imbecis, terroristas etc. Somos terroristas para o bem de alguns e desgraça de outros. Se pudesse, faria um incêndio a cada dia. Ainda mais aqui em Curitiba que é frio à beça. Temo uma invasão gaúcha, mas os arames de Curitiba hão de agüentar. ROGÉRIO PEREIRA - Como é viver, trabalhar e publicar algo em Curitiba? Como você se relaciona com o ambiente literário local? É verdade que Curitiba é uma cidade provinciana? O mito e a realidade têm correspondência? CLAUDIO WILLER - Curitiba é a sonolência do morto. Viver em Curitiba é uma maravilha. Não acontece nada, não ocorre nada, a não ser as mortes nos botecos da periferia. Curitiba é a capital da arrogância, da classe média alta de parca visão, das meninas encostadas no muro à espera do marido, do vampiro solitário sem um pescoço para desfrutar. Não há discussão literária nessa terra. O Rascunho não é conhecido e, tampouco, reconhecido. Somos um holograma. Mesmo assim, Curitiba tem vários bons escritores: Jamil Snege, Cristovão Tezza, Roberto Gomes, Miguel Sanches Neto, Manoel Carlos Karam, José Castello, Dalton Trevisan, e mais uma meia dúzia. Mas não há vida literária, discussão etc. Cada um em sua toca. É o jeito curitibano. Eu mesmo sou assim, mas da minha toca mando alguns mísseis. ROGÉRIO PEREIRA - O que você gostou mais de publicar em Rascunho, qual matéria ou quais lhe proporcionaram especial prazer por ter podido fazê-las saírem? CLAUDIO WILLER ROGÉRIO PEREIRA - Há várias. Sou suspeito em falar, pois vivo a lamber a cria. Mas acho que as matérias polêmicas (em relação a Décio Pignatari, Valêncio Xavier, Scliar, Mirisola, Augusto de Campos, entre outras) foram as mais prazerosas, pelo liberdade com que foram escritas. É claro que grandes entrevistas também prazerosas, como a com José Saramago. Também é sempre uma alegria muito grande publicar inéditos de grandes escritores, como aconteceu com Dalton Trevisan e Lygia Fagundes Telles. O bom desse Rascunho é que sou eu quem decide o que será publicado. Até hoje, não censurei nenhuma matéria. Minha vocação para censor do DOPS está adormecida. - E o futuro? Quais serão os próximos passos? Há planos de expansão, haverá crescimento de Rascunho? Quantitativo, qualitativo ou ambos? Algo deverá ou deveria mudar? CLAUDIO WILLER - Acho que o próximo ano será decisivo para o Rascunho. Hoje, o Rascunho é enviado para 3 mil pessoas em todo o Brasil, por meio de uma parceria com a Imprensa Oficial do Paraná. Com o novo governo de Roberto Requião, não sei se tal parceria será renovada. Hoje, o jornal não tem condições de arcar com despesas de correio. Será a morte do Rascunho, caso ele circule apenas em Curitiba e região. Mas por outro lado, vamos entrar com um projeto de apoio da lei de incentivo à cultura. Aí, a sobrevida será maior. A intenção é ampliar o número de páginas de 16 para 24. E também aumentar o número de "assinantes" do jornal. Uma alternativa para capitalizar o Rascunho é criar uma carteira de assinantes pagantes. Hoje, todos recebem gratuitamente o jornal. Talvez seja a hora de pedir uma contrapartida dos leitores. De resto, é continuar ateando fogo e chateando alguns gaúchos. ROGÉRIO PEREIRA - Para terminar, faça alguns comentários interessantes e simpáticos sobre periodismo eletrônico em geral e Agulha em especial. Aliás, a propósito, conexão ibero-americana nunca o interessou especialmente? E conexão lusófona? CLAUDIO WILLER ROGÉRIO PEREIRA - O jornalismo eletrônico é importante para facilitar as discussões. Ainda não sei de sua capacidade para discussões de grande fôlego. Mas não há dúvida da importância que tem. Agulha é uma prova disso. Sempre com temas interessantes e textos com qualidade, longe da superficialidade tão característica à Internet. Nunca me interessou a conexão ibero-americana e lusófona, pois acho que o Rascunho tem muito chão a percorrer no Brasil. Ainda vamos quebrar muitas vidraças e matar muitos sabiás. São Paulo, Curitiba. Outubro de 2002. Rogério Pereira é jornalista. Rascunho é publicação mensal da Editora Letras & Livros. Rua Filastro Nunes Pires 175 Curitiba PR 82010-300 Brasil. É encartado no Jornal do Estado do Paraná, mas tem distribuição complementar e pode ser solicitado envio gratuito diretamente ao editor. Contato: [email protected] . revistas em destaque . .. blanco móvil (méxico) diálogo entre editores: eduardo mosches & floriano martins Eduardo Mosches nace en 1944, mexicano de origen argentino. Estudió Ciencias Políticas en Berlín y Cinematografìa en la Ciudad de México, en la UNAM. Trabajó varios años de obrero agrícola en un kibutz en Israel, más tarde, como impresor y en producciones cinematográficas. Fue maestro universitario en Ciencias de la Comunicación y laboró como promotor cultural en la Casa del Lago de la UNAM. Ha realizado traducciones del alemàn y del portugués. Fue director del Foro Cultural Gandhi, y editor en Folios Ediciones, Nueva Imagen y Plaza y Valdés. Es director y fundador de la revista literaria Blanco Móvil, desde 1985 y director editorial de la revista, especializada en derechos humanos, La memoria y el parteaguas. Actualmente es Coordinador del área de publicaciones de la Universidad de la Ciudad de México. Ha publicado diversos libros de poesìa, entre los que se encuentran Los lentes y Marx, Los tiempos mezquinos, Cuando las pieles riman, Viaje a través de los etcéteras y Como el mar que nos habita. Desde hace años imparte talleres literarios en diversos estados del país. Ha publicado en periódicos y revistas en México, Estados Unidos, Israel, Brasil, Chile, Argentina, entre otros. Ha recibido el premio de poesía Anita Pompa de Trujillo, Sonora, 1995. Fue premiado como editor literario por el Instituto de Bellas Artes (1993) y por el Fondo para la Cultura y las Artes (1993 y 1994). FM - Eduardo, és argentino de nascimento. Desde quando e por quais razões foste morar no México? EM - Vivo en México desde 1976. Mi llegada a la Ciudad de México fue fruto de la casualidad, una mezcla de amistad y microcontrabando. Mi pasaje fue pagado por la madre de una amiga mexicana con la condición de que trajese dos maletas llenas de ropa nueva para ser vendida en México. La calidad de la ropa era muy buena y los precios relativos para el México de esos años muy económico. Por esas razones llegué, la política de la supervivencia a la latinoamericana. El porque me quedé fue diferente. Estando todavía en México, se da el golpe de Estado en la Argentina por parte de la Junta Militar, ese hecho me hace reflexionar sobre mi regreso, puesto que en esos años militaba en la izquierda trotskista y había sido detenido dos veces. Sentí que no debía regresar en esos momentos. Así inició mi larga estancia y asentamiento en México. FM - E em que circunstâncias nasceu o projeto editorial de Blanco Móvil? EM - El proyecto de la revista nace en el ámbito de una librería, la Gandhi en la Ciudad de México, como una especie de boletín literario bibliográfico de la librería. El tamaño era como el de un libro de bolsillos. La idea era la de dedicar cada número de la misma a un escritor/ra. Aparece el número cero en julio de 1985, dedicado a Julio Cortazar. Y en los primeros 14 números los creadores que aparecieron, con todo y una somera presentación, fueron desde Augusto Roa Bastos, Camilo José Cela, Juan Rulfo, Agustín Yañez, Claude Simón, José Revueltas, Elena Poniatowska, Felisberto Hernandez, Nadine Gordimer y Luis Cardoza y Aragón. Ya en estos iniciáticos intentos ya se notaba la vena de aventurarse en los recovecos literarios, que se aventuraban mas allá de lo mexicano, pero incluyéndolo. Debo decir que esta tendencia en esos momentos en México, era diferenciadora. La mayor parte de las revistas literarias abrevaban en sus propias fuentes, se editaban a sí mismo o a los amigos y conocidos. La gran diferenciada sería Vuelta, aunque ya su perfil literario se estaba desvaneciendo, para convergir más hacia el ensayo político o filosófico. Por nuestra parte, se daba el intento de abrir ventanas poco conocidas. Quizá, mi propio periplo personal, el de ya haber vivido en cuatro países, en diferentes continentes, cierto aromilla objetivo del exilio, me hacia inclinarme por acercarme a tejidos literarios mas allá de lo nacional, tanto mexicano como argentino (esto lo digo por mis origenes) y tampoco, cerrarme al ámbito de lo latinoamericano, por esto del pensamiento bolivariano y socialista, que era fuerte su influencia en esos años… En fin, es posible decir, que desde esos muy humildes inicios la visión de relación con y hacia la creación literaria internacional siempre estuvo presente, aunque fuese inconcientemente, no conceptualizado desde su inicio, pero así se dió. Creo que así fueron los inicios en la revista Blanco Móvil. FM - Quer dizer que Blanco Móvil antecede toda essa espécie de boom de revistas literárias e de cultura surgidas no México e que viria a tornar este país possivelmente o maior celeiro de publicações dessa ordem em toda a América Latina? EM - De cierta forma sí, puesto que llevamos ya algo más de 17 años galopando en las planicies literarias. Da un gusto sobrevivir y continuar más o menos rozagante, aún a pesar de las penurias, angustias y apretones que implica llegar a conseguir el dinero para pagar la edición. Esa es otra aventura en el proceso de existencia de una revista independiente. Por otro lado, creo que es magnífico que en México se de esa presencia de varios centenares de revistas literarias y culturales a lo largo del territorio nacional. Es una muestra de la búsqueda de expresar la pluralidad y hasta el ánimo democrático, en un país que recién se está iniciando en una concepción y actitud democrática, o sea la aceptación de la pluralidad de pensamiento. FM - E fora do México, com quais outras publicações similares vocês mantinham contato? EM - Lamentablememte tenemos poco contacto con revistas en el exterior. Fuera de esta excelente relación y constante realación con Agulha, es poca y esporádica, por ejemplo, con Atlántica en España y Periódico de Poesía en Argentina. Espero que se pueda abrir un nuevo sendero y a través de esta relación con ustedes podamos llegar a contactar otras revistas. Para crear una especie de internacional de revistas alternativas y literarias. Formar un bloque activo ante la estupidez de los gobernantes en la mayor parte de los países. En nuestro continente, quiero decir la única figura de gobernante esperanzador es la de Lula en Brasil. Lo demás da lástima, por su mediocridad en parte y por inclinación al servilismo ante los Estados Unidos por otra. Bueno, adelante con la literatura y la cultura. FM - Eu acho no mínimo curioso que Blanco Móvil ressinta-se da falta de um diálogo mais amplo com publicações similares em outros países, justamente quando ela cumpre o digno papel de levar ao leitor mexicano o mais expressivo da literatura desses países. Todos deveríamos ter para contigo um largo gesto de gratidão. Crês que o assunto é pura e simples da ordem de uma ausência de reconhecimento, ou haveria aí em pauta algum outro componente? EM - Quizá, una actitud personal, cierta timidez, de ampliar mis contactos hacia el exterior. Aunque quizá, y tu pregunta me ha hecho meditar, los correspondientes representativos de otros países no han demostrado una acertada actitud solidaria, de colaboración, de participación, en fin, quizá de reconocimiento. Valdrán más los proyectos propios, los celos profesionales, que la difusión de la propia literatura, de la ampliación hacia el exterior y hacia otros lectores? Es posible que el ánimo de la propiedad privada, de la pertenencia, esté más internalizado en muchos editores y en los escritores, que una actitud socialmente abierta, gregaria. Socializante. FM - E como é o relacionamento com a imprensa, dentro e fora do México? EM - En méxico ya se ha dado un cierto reconocimiento. La persistencia de tantos años ha servido para esto, que los medios reconozcan este trabajo. En el exterior ha tenido algo de presencia, muy diminuta, en España - España, especialmente Cataluña -, en Estados Unidos, gracias a la presencia de mi padre como periodista en Washington en la prensa en español, en fin, sólo en parte se reconoce. FM - Blanco Móvil tem projetos de vir a circular também na Internet? Qual relevância este veículo de difusão virtual representa hoje para a cultura mexicana? EM - Sólo se da el deseo, estamos en proyecto de crear una pagina Web. No estoy muy empapado, inmerso en los aconteceres de difusión virtual. Siento que es importante, pero me siento en mi interior todavía muy guttenberiano. FM - Quais os planos futuros da Blanco Móvil? EM - Para el próximo año tenemos en preparación números sobre la literatura de Belice, ciencia ficción latinoamericana, literatura contemporánea de Portugal y cerrando con cuentistas canadienses, de lengua inglesa. FM - E como são possíveis essas edições? Contas com apoio financeiro de algumas instituições dos países contemplados? EM - Es parte de la aventura literario editorial. Sobre Belice, por ejemplo, una amiga escritora muy cercana, Francesca Gargallo, conoce ese país desde hace muchos años y nos dijimos: vamos a hacer un número sobre la cultura y literatura; por ahí aparece un apoyo, pero no es seguro. Sería magnífico tenerlo. En el caso de los portugueses, nuevamente se pensó primero en el proyecto y no pensamos ante todo en el apoyo, por otro lado, con los canadienses, ahí si hay una posibilidad amplia de obtener apoyo por parte del país, en fin, la aventura de navegar por, con y hacia la literatura es realmente apasionante. Es lo importante, sin desechar para la nada la necesidad, hecho sustancial de esta sociedad, que todo producto es mercancía y debe pagarse. Y también es una aventura y reto, poder encontrar el apoyo económico para que cada número de la revista pueda estar en manos del futuro lector. Además, es parte de la amistad hacia los amigos escritores, el reencuentro a través de la revista. Fortaleza, México - novembro de 2002. Blanco Móvil. Criada e dirigida por Eduardo Mosches. Apartado Postal 21063 México DF 04000 México. contato: [email protected]. . . revistas em destaque . .. jornal de poesia (brasil) diálogo entre editores: soares feitosa & floriano martins FM - O que exatamente te levou a criar o Jornal de Poesia? SF - Em 1996, a Internet aqui no Brasil era uma realidade muito distante. A surpresa de praticamente nada haver em língua portuguesa. Para suprir esse problema, é que resolvi inventar o Jornal de Poesia. Inicialmente, pensei no nome Armazém de Poesia, porque, a rigor o JP não é um jornal, no sentido estrito de notícias novas substituindo notícias velhas. Não, no JP as primeiras páginas ainda estão lá, intactas. A escolha do nome "jornal", pensamento meu na época, daria mais força de divulgação... Valeu, sim. É ponto de encontro de muitos pesquisadores, jovens, estudantes, velhos e saudosistas. Recebo muitas cartas. Respondo-as todas. FM - Como se deu todo o processo de criação? SF - Foi pei-pei!, que isto de criar, na minha cabeça, não comporta muita estrumação. Como se fora um fiat daqueles do Senhor Deus dos Exércitos... Faça-se o JP! Pronto, está feito, taqui o bichim, bem feitim, bem bonitim. Claro que deu uma trabalheira dos diabos. Equipe e dinheiro. Era uma época em que eu ainda não havia quebrado, de modo que contratei quatro operadores, comigo cinco, e metemos o pau. O sacrifício (e prazer!) de digitar tudo. Eu mesmo digitei o Navio Negreiro e muito de Pessoa. Depois veio a quebra dos açougues, comigo dentro, também quebrado. Os operadores reduziram-se a dois; depois a um, finalmente nenhum. Hoje, até já "desquebrei", mas não voltei a contratar ninguém, mesmo porque a proposta inicial do JP, com o tempo deixou de ter maior urgência. Já não há aquela "orfandade", há sites e sites na Internet afora. Digamos, a necessidade de recuperar coisas descuidadas, autores perdidos, mortos, não mais editados. Aos novos, sugiro-lhes que façam eles mesmos suas pages. Coloco link e me poupo da trabalheira. Nesse meio tempo, surgiu a Usina de Letras, com um programa interativo, o autor vai escrevendo, e o bichocomputador aprontando tudo... Encaminho o pessoal para lá; tem dado muito certo. Houve um tempo, de plena liseira, em que cogitei cobrar uma colaboração mínima. Poucos toparam, é certo, mas foi muito oportuna: ajudou a pagar os operadores. Por falar em operadores, qualquer dia destes abro-lhes uma página de agradecimento: Jurandir, Alisson, Marcone, Massa, Rosemberg e mais dois cujo nome a velhice me atrapalha agora. Não, hoje não há mais cobrança alguma. FM - A criação de um site tão amplo implica em uma manutenção algo complexa. De que maneira ela vem sendo realizada? SF - Inicialmente, a equipe. Era um tempo de Bahia, de muitas saudades até, contei com a colaboração do provedor E-net, um canadense (Christian), um japonês (Raul), uns caras finíssimos. E veja, naquele tempo, era tudo muito caro. Pois eles hospedaram o JP sem nada me cobrar. Depois, quando vim embora para Fortaleza, a Secrel, através do Messias, um cara também gente finíssima, deu-me todo o apoio. Posso dizer, resumindo a conversa, que da parte dos provedores, inicialmente a E-net, de Salvador, depois a Secrel, daqui, Fortaleza, o apoio tem sido absoluto. Hoje, eu-xozim é que faço tudo. Inclusive a atualização diária da página. Claro que tudo isto me toma um tempo danado. Aposentei-me, mas tanjo um escritório de advocacia tributária, de manhã, de tarde e de noite... Se você me perguntar de onde tiro tempo, responderei que sou um lobisomem, corro as sete partes do mundo de noite e, de manhã bem cedo, sou o primeiro que chega ao escritório, o último que sai, com escuro... a tempo só de virar lobisomem do JP outra vez. Mais nada. FM - Como deve proceder aquele poeta que queira participar do Jornal de Poesia? SF - Hoje encaminho a turma para a Usina de Letras: http://www.usinadeletras.com.br/. Como eu disse, é tudo muito fácil e gratuito. Depois, o poeta me passa o endereço e então coloco o link no JP. Mas há a estimadíssima figura do cupinchato. Claro que meus amigos não hão-de ficar na chuva. Homenageio-os, pois. Hoje mesmo coloquei a página do Dimas Macedo sobre o poeta Alcides Pinto, cupinchíssimos, meus e seus. Se deu trabalho? Mas eu é que fico devendo o favor a eles... FM - E no caso de instituições, editoras, fundações, que acaso queiram estabelecer algum tipo de parceria, ou mesmo enviar-te sugestões de novos autores a serem incluídos, como tens reagido a esse tipo de diálogo? SF - Em aberto! Estou só aguardando. Mas quem disse?! Vamos ver se aparece algum doido. Gastar dinheiro do próprio bolso para um empreendimento como o JP não é coisa fácil de encontrar. FM - Hoje o Jornal de Poesia é site indicado pelo Instituto Camões, em Portugal. Como se deu tal conexão? SF - O JP hoje é referência mundial em literatura, sobretudo na lusofonia. Faço questão de não colocar contadores na página. Os amigos, penalizados e generosos, sempre dirão que é pouco; os inimigos, de inveja, que é mentira... De modo que prefiro desconfiar que é lido, bastante lido. O pior é quando vou fazer uma pesquisa sobre um assunto qualquer; volta e meia, caio no JP. Uma chatice, uma desmoralização, claro que é, achar aqui em meus pés o que busco tão longe... Espio no espelho, tomo um gole d’água... Se fumasse acenderia um; se bebesse emborcaria goela abaixo uma lapada de aguardente. FM - Quais outras relações tem conseguido estabelecer o Jornal de Poesia, nacional e internacionalmente? SF - Ah, como tem sido gratificante! Esta semana apareceu no escritório um amigo do JP, brasileiro de Pacoti, Ceará, morando em Bufalo, Colorado, há uns 50 anos. Foi festão! Ainda nos começos, Bahia, apareceu por lá um luso-canadense, Vasco, desviando roteiro só para conhecer o editor do JP. A festa? Sou inteiramente a favor. FM - Sendo reconhecido como o site mais abrangente sobre o tema, o Jornal de Poesia chama a atenção por ser atividade privada e fruto basicamente do trabalho de uma única pessoa. Institucionalmente o país não conta com algo similar, independente da extensão ou complexidade do projeto. Alguma vez foste procurado, seja pelo MinC ou mesmo por uma secretaria de cultura local, municipal ou estadual? SF - Tenho pensando seriamente nisto. Mas, o tempo que vou gastar para correr atrás de um político, melhor corrê-lo atrás de um cliente do escritório... Assim tem sido. Não, por enquanto não vou atrás deles não. FM - Qual papel poderia acaso desempenhar a Internet no estabelecimento de laços culturais entre o Brasil e a América Hispânica? SF - Bom, a grande notícia do JP foi a chegada de Floriano Martins como responsável pelo intercâmbio hispânico. De um projeto inicialmente só luso, podemos dizer que o JP é ibérico, a ampla navegação de Espanha e Portugal. Realmente tem sido um verdadeiro absurdo darmos as costas aos hispânicos, que têm uma literatura tão rica. A escolha não poderia ter sido melhor, justamente aquele que, também sozinho, fazia, via correio, esse intercâmbio. Não há limites! Por outra, a hospedagem da Agulha dentro do JP é apenas o coroamento daquele ditado nordestino: Quanto mais cabras, mais cabritos. E bons cabritos, diga-se de passagem. FM - Como se mantém hoje o Jornal de Poesia em termos de suporte e difusão? SF - Apenas no boca-a-boca. O JP está nos buscadores de toda a orbe, desde o Cadê, Brasil, ao mundial www.google.com. Claro que quanto mais divulgado, melhor. É hora de passar um mail-geral sobre as novidades, pelo menos as do mês. Vamos pensar nisto. Fortaleza, dezembro de 2002 Jornal de Poesia. Criado e dirigido por Soares Feitosa. Endereço: http://www.jornaldepoesia.jor.br/. . . revistas em destaque . .. digestivo cultural (brasil) diálogo entre editores: julio daio borges & claudio willer Em Agulha já foi comentado, várias vezes, o risco representado pela concentração e pelo crescimento dos monopólios de comunicação, especialmente para o Brasil, país cuja legislação é frouxa, tornando-o uma preferência eletiva de aventuras irresponsáveis e empreendimentos temerários (bastando observar o que se passa, neste país, com a televisão paga, a cabo, com as redes de TV, e com a telefonia, inclusive em sua intervenção na transmissão pela Internet). Nesse contexto, é um motivo de satisfação apresentar Julio Daio Borges do Digestivo Cultural, www.digestivocultural.com e www.digestivocultural.com/blog/. É o típico free-lancer de si mesmo, capaz de levar a bom termo um projeto pessoal, em um empreendimento que conta com toda a simpatia de Agulha. CW - Depois da saída de cena de no. - entre outros projetos - o foco de uma entrevista sobre o Digestivo Cultural forçosamente acaba incidindo na questão da viabilidade. E, em uma publicação híbrida como o Digestivo, com algo de newsletter, de periódico eletrônico, e de ecommerce, também sobre sua identidade. Antes de qualquer outra coisa, um pouco de biografia: de onde emergiu Julio Daio Borges, o que fazia antes, em resumo, quem é você? Em especial, antes do Digestivo, seu campo de atuação era mais o jornalismo impresso, marketing, informática? JDB - Sou engenheiro por formação. Estou ligado aos computadores desde os onze anos de idade. E às letras, desde os dezessete. Mantive sempre essa dualidade. De 1996 até 2001, trabalhei em bancos, consultorias e empresas de telecomunicação. O lado engenheiro prevaleceu nessa época. Mas eu nunca parei de escrever. Montei um site pessoal (jdborges.com.br, em 1999) e o Digestivo Cultural (Digestivocultural.com, em 2000). No entanto, foi só em meados de 2001 que o jornalista emergiu, e subjugou o engenheiro. (Quer dizer, em termos: para estruturar o Digestivo, eu precisei muito da minha "expertise" de engenheiro.) CW - Examinando tudo o que você apresenta, fica-se com a impressão de que é simples manter à tona um periódico eletrônico. Basta trabalhar 26 horas por dia. É isso mesmo? JDB - Considero uma profissão de fé. Um verdadeiro ato de heroísmo. Trabalhar com cultura no Brasil. Ainda é aquele negócio da cereja no bolo. Quando você fala sério, é considerado chato, difícil, prolixo. Quando você faz piada, acaba atraindo um leitor ou outro, mas corre o risco de se repetir e cair no entretenimento puro e simples. Na Internet, mais ainda. Já reparou que nós somos os "filhos do jornalismo impresso" falando para os "filhos da televisão"? O diálogo parece impossível (e é), mas, ainda assim, existe (embora pouca gente queria investir nisso). CW - Dê algumas coordenadas cronológicas: quando foi que você começou a pensar em fazer um informativo, jornal ou boletim, eletrônico? Como surgiu a idéia? Digestivo? De onde saiu esse título? Anglicismo, é? De digest, um sumário ou condensação de informações? JDB - O Digestivo propriamente dito surgiu em setembro de 2000. Eu estava tentando resolver esse enigma: por um lado, o desejo de escrever e seguir carreira em jornalismo; por outro, a Internet se abrindo como um mar de possibilidades. Então pensei num formato relativamente breve, falando de cultura, num sentido utilitarista e, ao mesmo tempo, crítico. O nome vem daí. É contraditório, na verdade. Mas é também simpático e as pessoas, em geral, apreciam. Eu queria que o Digestivo - como boletim - fosse auto-sustentável e, portanto, me direcionei a um público mais amplo. Não queria apenas os iniciados, nem só os especialistas. CW - Quais as razões da escolha do segmento cultura, e não economia e/ou política, ou negócios em geral, por exemplo? Em tese, dariam mais Ibope. Aliás, é cultura, ou cultura e variedades? JDB - Por que "cultura"? É o mesmo que me perguntar por que "azul" e não "vermelho". Simplesmente porque me pareceu o caminho mais natural. Nunca me vi editando um semanário sobre economia ou política. Fora que o efêmero não me atrai. A informação, a notícia. Prefiro a análise, a reflexão. Admiro os repórteres, claro, mas sempre preferi o lado mais autoral do jornalismo. O subjetivo invés do objetivo. Sem dizer que economia e política não são assuntos que eu domino (ou que tenho pretensão de dominar). Sobre cultura dar pouco Ibope, não concordo. Basta pensar em três dos colunistas mais populares no Brasil: Diogo Mainardi, que "mexe com cultura"; José Simão, que escreve na Ilustrada; e Luis Fernando Verissimo, que escreve no Caderno 2. CW - Quanto tempo levou, entre definir as principais características do Digestivo, e pô-lo no ar? Houve modelos, veículos nos quais se inspirou? JDB - O Digestivo Cultural, como ele é hoje - falo do site como um todo , resultou de um trabalho de mais de dois anos. Como eu disse, a minha referência e a dos Colunistas era fundamentalmente a imprensa escrita. A partir disso, a idéia foi dinamizar alguns processos aproveitando as facilidades da internet. Em termos de publicação, por exemplo: cada um hoje publica, controla e modifica o seu texto automaticamente. Em termos de interatividade, outro exemplo: por meio de fóruns, e-mails, número de acessos, lista dos mais lidos, etc. Foi um grande aprendizado - e continua sendo. Algumas idéias mirabolantes se revelaram inúteis; outras, nem tanto, produziram resultados surpreendentes. CW - Quando o Digestivo Cultural foi lançado, há pouco mais de dois anos, as expectativas sobre o crescimento de veículos eletrônicos eram outras. Hoje, reverteram-se. Havia uma previsão, talvez apocalíptica, de substituição total ou parcial do jornalismo impresso pelo eletrônico, que não se cumpriu. Você não acha que está pisando em um campo minado? Você chegou a fazer uma análise crítica de outros projetos, a diagnosticar onde falharam? JDB - Quando o Digestivo apareceu, a Internet já claudicava (estamos falando do final de 2000). Quando chamei os Colunistas, e decidi implementar a revista eletrônica (início de 2001), ninguém pensava em faturar milhões. Queríamos fazer barulho, mostrar um trabalho digno de nota, provar que havia novos talentos não contemplados pela imprensa, agitar o meio, derrubar alguns paradigmas, etc. Nesse sentido, diria que conseguimos. Óbvio que, em outros tempos, o conteúdo do Digestivo seria remunerado por um portal - e, quem sabe, poderíamos viver disso (o que não acontece hoje). Sobre a análise crítica de outros sites, ela é feita constantemente e nos ensina muito. CW - Quando, nos informativos sobre o Digestivo Cultural, você declara viabilidade econômica, o que isso significa? Cobertura de custos de manutenção, ou que dá para viver bem disso? Quanto por cento da sua receita é diretamente ligada ao Digestivo (anunciantes, patrocinadores, assinantes), e às vendas ou à prestação de serviços, do tipo construção de sites? (isso, mesmo considerando a óbvia sinergia entre ambos, que um puxa o outro, que a circulação do Digestivo o fortalece em prestação de serviços e vice-versa). JDB - Quando falo em viabilidade econômica, falo em custos muito baixos se compararmos o Digestivo a uma publicação equivalente em papel. Como a estrutura já está montada, não há quase manutenção. Fora que o site e as facilidades que a internet proporciona eliminam uma porção de intermediários. Há basicamente a redação, para se remunerar - o que é, convenhamos, a parte menos onerosa de uma revista ou de um jornal. Quanto às receitas, o grosso vem do ecommerce (no entanto, muito longe daquilo que você está imaginando). Já a publicidade em internet foi praticamente banida - ficando restrita aos grandes portais (às vezes, nem isso). E a parte de serviços vai crescendo aos poucos, embora tenha sofrido um baque com a desaceleração geral da mídia. CW - O Digestivo Cultural apresenta textos e informação, mas também bastante e-commerce. Em parte, não seria um Submarino terceirizado? (ou seja, assumindo funções de que Submarino desistiu, diretamente, como sua própria revista) JDB - A pergunta é interessante. Sérgio Buarque de Holanda tentou introduzir Weber no Brasil, mas tudo indica que não foi feliz. Aqui, ganhar dinheiro ainda é pecado. Entre a intelectualidade, então, pecado mortal. Assim, se um "site de cultura" se propõe a faturar alguns trocados com os produtos que gratuitamente divulga, logo é tachado de "vendido" ou de "mercenário". O que existe entre o Digestivo Cultural e o Submarino é uma relação de parceria comum, e nada mais. Acontece que nos pareceu lógico oferecer a facilidade de se adquirir livros, CDs e DVDs via internet, através do nosso site, e receber uma comissão por isso. Os intelectuais brasileiros precisam perder esse preconceito. Quem sabe abandonando o voto de pobreza e pensando em soluções comercialmente mais viáveis. Teríamos, inclusive, publicações financeiramente mais saudáveis. CW - O que lhe deu maior prazer publicar, lhe provocou maior satisfação? Do Digestivo atual, o que lhe agrada mais? Fale um pouco mais sobre a contribuição propriamente cultural do Digestivo, o que ele acrescenta, além de possibilitar acesso a mais informações via net e, portanto, dar sua contribuição para a democratização da informação. JDB - Não vou falar de um texto ou outro, porque cometeria certamente alguma injustiça com algum colaborador. O que me orgulha mais é termos construído, a partir do zero, um periódico que hoje é referência em termos de jornalismo cultural, tanto dentro quanto fora da Internet. Veja bem: eu sou praticamente um "outsider", não venho de nenhum jornal, nunca tive ligações na grande imprensa, entrei como novato nesse negócio. A maioria dos Colunistas também (começaram como eu). De repente, recebemos elogios do Millôr Fernandes, felicitações do Mino Carta. Depois uma citação honrosa do Sérgio Augusto, uma indicação do Ruy Castro. Uma menção do Daniel Piza, uma consideração do Sérgio Dávila, um voto de confiança do Luís Antônio Giron. Por fim, as mensagens do Diogo Mainardi, da Ana Maria Bahiana, o apoio da Sonia Nolasco. Tudo isso não é mera coincidência e eu não acredito que aconteça por acaso. Em termos de reconhecimento, ninguém acreditou que chegaríamos tão longe. Nem nós mesmos. Pessoalmente, acredito que nem ninguém mais chegue. É o tipo de coisa que não acontece duas vezes. . revistas em destaque . .. el artefacto literario (suécia) diálogo entre editores: mónica saldías & floriano martins FM - Como situar a atividade cultural de uma uruguaia que vai residir na Suécia e ali acaba projeto editorial de difusão da literatura iberoamericana? MS - Mi propia condición de poeta es sin duda y en primer lugar lo que me lleva a la concreción de un proyecto editorial como El Artefacto Literario, pero también sin temor a equivocarme puede decir que es mi propia situación de distancia geográfica y psicológica del sitio de mis origenes lo que da, o busca dar, desde el primer momento un contenido especial a El Artefacto Literario: la búsqueda de perspectivas de tiempo y espacio, la contextualización de calidades literarias independientemente de la pertenencia a tal o cual grupo, la apuesta por una trascendencia literaria que no depende de quién escribe sino de lo que se escribe. Lo que escribimos es apenas una gota en un inmenso mar, y estoy convencida de que si pudieramos de verdad comprender esto de corazón, de una forma totalizadora… si pudieramos comprender cuál es nuestro lugar en una perspectiva realmente abarcadora de tiempo y espacio podríamos también ser mejores creadores, sin estar demasiado ocupados y preocupados por la difusión y promoción de nombres, y más atentos a la difusión de calidad. Si no hay calidad entonces no hay nada para difundir. Y si como creadores tenemos la inmensa dicha de alcanzar una trascendencia literaria de tal envergadura que dentro de dos mil años las gentes integren nuestros versos en su vida cotidiana poco importa cuál ha sido nuestro nombre. Son estos al menos algunos de los ingredientes que impulsan y renuevan El Artefacto Literario, como proyecto editorial. FM - E em quais circunstâncias consegues concretizar as bases desse projeto editorial? Indago como ele se estrutura e quais as tuas condições de trabalho. MS - De ninguna forma es posible hablar de una única circunstancia o de varias circunstancias que se dan en un solo y único momento. Las circunstancias y las bases que dan nacimiento y van estructurando un proyecto editorial se van dando de a poco, paso a paso e incluso de manera intuitiva. En un primer momento y durante algunos meses El Artefacto Literario fue un espacio que incluía distintos géneros: no solo poesía sino también prosa y dramaturgia. Poco a poco el proyecto editorial se fue abriendo, concretando y limitando a la poesía. Así se han ido construyendo las bases; poco a poco, pero siempre desde la idea principal: la difusión de literatura de calidad. Y como la gran mayoría de los proyectos culturales El Artefacto Literario ha sido desde el comienzo y sigue siendo un proyecto altruista, que permanece y crece a partir del esfuerzo editorial. Esas son las "condiciones de trabajo": inversión personal en lo económico y en tiempo de trabajo. FM - Em que exatamente baseou-se a definição pela poesia, e não pela prosa ou a dramaturgia? MS - Creo que es importante apostar por un decantamiento paulatino de uno de los géneros, aunque por supuesto que en muchos casos es imposible establecer las fronteras entre uno y otro. No digo que sea imposible llevar adelante un proyecto de calidad que ampare diferentes géneros, pero sí creo que es una tarea imposible cuando una publicación no cuenta con medios ni humanos ni económicos como para enfocar en varios ámbitos y no correr el riesgo de entrar en un proceso de pérdida de calidad literaria. Mi tiempo es tremendamente reducido y en ese sentido creo que lo mejor que puedo hacer como editora es buscar focalizar, y elegir un campo, en este caso la poesía. Si la revista tuviera medios económicos entonces también podría contar con recursos humanos que permitieran una propuesta más amplia. Sin embargo, este es apenas uno de los aspectos en cuanto a por qué poesía y no prosa o dramaturgia. Si El Artefacto Literario recibiera en algún momento apoyo económico de algún tipo tampoco que implicara la posibilidad de disponer de recursos humanos creo que continuaría optando por la poesía. Dar un perfil y limitar los campos siempre es necesario e incluso deseable. FM - El Artefacto Literario possui algum apoio institucional? Como é mantido o projeto editorial? MS - Como mencioné ya en algunas de las preguntas anteriores El Artefacto Literario no cuenta con ningún apoyo económico. En Suecia muchas actividades o proyectos culturales reciben -aunque no siempreapoyo de organismos culturales estatales, pero no es así cuando se trata de medios digitales. Por otra parte está claro que por definición y por la propia característica de un medio y otro -digital y de papel-, una propuesta digital implica costos menores que una publicación de papel. Esta última debe contar con gastos de impresión, de papel, de encuadernación y ni hablar luego del costo de distribución y marketing. Los medios digitales ofrecen en ese sentido una posibilidad muy diferente: los costos se reducen en comparación enormemente y las posibilidades de difusión se multiplican. Claro que siempre de todas formas es necesario asumir costos fijos y en la medida en que la revista va creciendo se necesitan medios económicos sobre todo para el desarrollo del proyecto editorial. FM - Há intercâmbios com outras publicações similares? De que maneira vem sendo feita a difusão de El Artefacto Literario? MS - La difusión de un medio digital se realiza, en primer lugar, por vía digital. En este sentido y luego de un año y medio de vida he podido comprobar como editora que la revista ha hecho caminos impensables y ha llegado a gran cantidad de lectores. Semanalmente recibo enormidad de cartas postales y e-mails desde todo el continente latinoamericano; de países europeos como España, Portugal, Italia, Suiza, Alemania, Inglaterra, Noruega, Dinamarca y por supuesto Suecia; de Angola, Mozambique, Sudáfrica. No hay semana que no me llegue por correo postal algún libro de poesía, y de la misma forma material por vía digital. Por otra parte, y de manera natural, la conformación de un consejo editorial ha llevado también a una difusión importante de la revista. El apoyo que de manera permanente ofrecen a la revista poetas como José Kozer, Reynaldo Jiménez y Saúl Ibargoyen Islas es de gran valor para El Artefacto Literario. El aporte que el joven peruano José Ignacio Padilla también de manera permanente ha dado y da a la revista ha sido por ejemplo fundamental para la difusión de El Artefacto Literario en el Perú, entre poetas de calidad de este país y no menos entre el público lector. De alguna manera todos los miembros del consejo editorial, cada uno de manera diferente han significado un apoyo valioso para la continuación y maduración de la revista. Cuando se trata de publicaciones similares creo que aún estamos en los comienzos. Creo que un intercambio natural que se ha dado es el apoyo mutuo entre la revista cultural Agulha, de la cual tú mismo eres editor, y El Artefacto Literario. Otros intercambios y/o cooperaciones se están gestando en muchas direcciones, geográficamente en lo interno y hacia afuera. FM - Muitos leitores da Agulha indagam quando teremos uma edição em papel. Confesso que já não tenho essa possibilidade como uma meta, interessando bem mais a ampliação de circulação no meio digital. Acaso El Artefacto Literario tem planos para futuras edições impressas? MS – Creo que en el reclamo de tantos lectores siempre hay un fondo de sabiduría muy sana, porque es indudable que el medio digital ni ha sustituido ni sustituirá la magia del papel, así como los mensajes electrónicos no sustituirán la carta postal ni la tarjeta rústica. Si bien es imposible saber y predecir qué sucederá en dos mil años, lo cierto es que a esta altura probablemente el ser humano cuenta, en su relación con el papel, con una afinidad casi genética. En cuanto a El Artefacto Literario por el momento no tengo planes de ediciones impresas, pero tampoco cierro las puertas a esa posibilidad. Creo que especialmente se trata de problemas de recursos económicos y humanos para que esta tarea pueda ser posible. De todas formas pienso que ante la posibilidad de elegir alguna via impresa probablemente lo que más ayudaría a la poesía de calidad sería la opción por el libro impreso. Esta es una posibilidad que la revista viene madurando en realidad ya desde los comienzos, pero para esto es fundamental contar con una infraestructura mínima y una financiación económica que haga posible la cobertura de los gastos, cosa que al menos por el momento no resulta posible. FM - Como tens sentido a reação dos leitores? Quais os indicativos que mais se destacam nas inúmeras cartas que certamente deves receber? MS - Me resulta difícil sintetizar en pocas palabras la reacción de los lectores, porque en el mar de cartas encuentro cosas muy diferentes. Desde autores realmente de calidad pero desconocidos o muy poco conocidos que valoran enormemente la tarea editorial que El Artefacto Literario ha emprendido hasta autores ya establecidos que luego de haber visto mucho y tal vez demasiado en esto del quehacer literario, perciben este proyecto editorial como algo fuera de lo común dado el abanico de propuestas estéticas diferentes. No pocos lectores se sorprenden buenamente, por ejemplo, por la sobriedad del diseño gráfico de la revista, pero en especial se sorprenden de que yo en mi calidad de poeta no incluya en mi revista una sección mía, con mis propios poemas; es decir, aplauden y saludan el hecho de que no use mi proyecto editorial para promover mi propia poesía. Yo siempre respondo que en realidad no ha sido lo que me ha movido en lo personal a concretar un proyecto editorial. Y en este sentido vuelvo al tema que te mencionaba al principio: la perspectiva individual y colectiva, en tiempo y espacio. Creo que mi mayor preocupación como poeta y como editora (entre otras cosas) es la de intentar comprender cuál es nuestro rol como seres humanos y en nuestro quehacer, sea cual sea, en una perspectiva histórica; aquí, allí, en este tiempo en el que nos ha tocado vivir. Y estoy convencida de que esa perspectiva, o al menos el atisbo de esa perspectiva, no es posible de alcanzar desde los éxitos circunstanciales, o reconocimientos que con la mejor de las intenciones vienen de voces amigas. Los éxitos o reconocimientos circunstanciales son por supuesto estímulos humanamente necesarios, pero en el fondo no son más que espejismos de algo que puede no ser muy real en una perspectiva de tiempo y espacio. Probablemente allí nos asiste en especial la pregunta que creo todos deberíamos hacernos y responder con total sinceridad (al menos ante nosotros mismos): qué es lo que buscamos con nuestra escritura? Qué buscamos con la difusión de nuestros versos? FM - Para encerrar, qual a periodicidade de atualização de El Artefacto Literario, em que se baseia a definição de pauta da revista e quais novas perspectivas imaginas para ela neste 2003? MS - Actualmente y desde ya hace un par de meses El Artefacto Literario se ha planteado una periodicidad de tres o cuatro números al año, con ciertas variaciones dependiendo de las posibilidades. En este sentido creo que hay que ser lo más flexible posible, pero sin despistar al lector. Un medio como el digital a veces nos propone casi el vértigo de la frecuencia a extremos algo alarmantes. Es cierto que es necesaria una dinámica diferente a la que exige una publicación impresa pero pienso que de ninguna manera la frecuencia ha de estar por delante de la calidad y del rigor en el trabajo editorial. La periodicidad de tres o cuatro números al año permite una planificación y una selección más rigurosas, y una maduración de la idea detrás de cada número que ayuda enormemente a no perder de vista el objetivo principal. Es en este contexto y en este ánimo donde se definen las pautas de la revista. Este seguirá siendo en lo fundamental el camino a recorrer durante el próximo 2003, y seguramente habrá también buenas sorpresas. Entrevista realizada em dezembro de 2002. La revista digital de poesía El Artefacto Literario nace en Suecia en agosto del 2001, bajo la dirección editorial de Mónica Saldías. Consejo Editorial: José Kozer, Víctor Sosa, Reynaldo Jiménez, Saúl Ibargoyen Islas, Floriano Martins, Eduardo Espina, José Ignacio Padilla, Claudio Daniel. Dirección electrónica: http://go.to/artefacto E-mail: [email protected] . . revistas em destaque . .. jornal da abca (brasil) diálogo entre editores: alberto beuttenmüller & floriano martins FM - O Jornal da ABCA inicia atividades em setembro de 2001, após uma gestão anterior em que a entidade contava com outra publicação, o Jornal da Crítica. Quais os traços essenciais que distinguem um periódico do outro? AB - O primeiro traço foi de divergência editorial. O Jornal da Crítica não identificava a Associação Brasileira de Críticos de Arte nem demonstrava identidade com qualquer tipo de crítica. De quê crítica se tratava? De música, de teatro, de artes visuais? Além disso, todo jornalista sabe que há um formato de jornal que já é clássico. Este foi outro fator negativo do JC. Pelo formato, o JC era mais uma news letter ou um boletim do que um jornal, o JC assumiu o formato desses tipos de periódicos, com fotos pequenas, pequenas manchetes e mini-colunas. FM - Com periodicidade aparentemente semestral, é possível observar, nos três números até aqui publicados, uma melhor definição editorial, sobretudo no que diz respeito à presença de matérias e informações, que extrapolam a órbita enfadonha e viciada dos dois centros hegemônicos, Rio e São Paulo. Como tem sido possível articular uma pauta mais abrangente a partir dos diversos segmentos da ABCA em todo o país? AB - A periodicidade é fato importante em um jornal de grande circulação, mas na ABCA temos um jornal de críticos específicos, voltados para as artes visuais de seus Estados de origem. Temos críticos espalhados por todo o Brasil, não seria justo privilegiar apenas o eixo do Sul Maravilha. Temos hoje atividades no Nordeste, como a Bienal do Ceará, do Museu de Arte Moderna da Bahia, do Instituto Joaquim Nabuco do Recife, tanto quanto a Bienal do Mercosul, de Porto Alegre e a Bienal de São Paulo. Como editor, procuro cobrir todas as regiões. Um jornal deve ser democrático e o Brasil é um país continental; há enorme dificuldade de saber o que se passa longe do eixo Rio - São Paulo, que sempre recebeu cobertura total da grande imprensa. Somos um jornal alternativo em todos os sentidos, um periódico mais de ensaios que de notícias e de reportagem, mas gosto de sempre editar entrevistas com personalidades do setor de arte visual. O Jornal da Crítica privilegiava notas internacionais, o Jornal da ABCA quer ver o país unido e respeitado como um todo, só depois olhamos para os fatos internacionais de importância. O editor desenha o jornal durante meses, a colher aqui e ali os fatos mais relevantes e variados. Como não é um jornal feito somente por jornalistas, ele tem mesmo um aspecto incomum, talvez insólito, mas já tem uma diagramação própria, tem um rosto. FM - Por outro lado, dada a conexão existente entre ABCA e AICA, de que maneira a publicação de um jornal que represente a entidade brasileira tem encontrado chances de um diálogo mais intenso com seus pares em outros países? AB - A AICA está dividida. Antes, o presidente ficava em Paris, sede da entidade; agora a presidência permanece em seu país de origem, ou pelo menos era assim até bem pouco tempo. Nós temos correspondentes na França, Itália, Alemanha, atentos aos fatos mais importantes da Europa. Prefiro um texto vindo de lá a copiar notas de jornais estrangeiros. Nós da América Latina somos vistos com restrições pela inteligência européia da mesma forma que pelos Estados Unidos. Entretanto, elogiaram o jornal. Nós temos de provar que somos superiores a essas questiúnculas. Por outro lado, eu não elogiaria a news letter da AICA, falta-lhe um caráter próprio, para dizer o mínimo. FM - Não me parece que tenhamos que provar nada exceto a nós mesmos, sendo este um dos dilemas centrais da cultura brasileira: a baixa auto-estima. Mas como se relaciona então a direção do jornal com os críticos latino-americanos de uma maneira geral? Há outras publicações desta natureza na América Latina ou, a exemplo, da AICA, tudo se resume a mera circulação de news letter? AB - A América Latina é formada de países que sofrem a História e não de países que fazem a História. A globalização serviu, pelo menos, para que isso ficasse claro. Eu criei a Bienal Latino-Americana em 1978, para unir a AL muito antes do atual Mercosul, mas os doutores da USP Aracy Amaral e Walter Zanini convidaram os críticos e historiadores da AL para um conclave cuja decisão já estava tomada, ou seja, acabar com a Bienal Latino-Americana. Não perceberam que os demais países não queriam reforçar a liderança do Brasil. A primeira edição tinha caráter antropológico, daí o tema Mitos e Magia, um dos cernes da Arte na AL. Era para melhor nos conhecermos e partir para projetos exclusivos e sair dos vícios da Bienal Internacional, na qual havia uma espécie de acordo, no qual só os grandes venciam. Para ter-se uma idéia, de 1951 até 1977, ou seja, em 25 anos de existência da Bienal de São Paulo, só a Argentina ganhou o Grande Prêmio, em 1977, quando eu era curador; ano em que o Conselho de Arte e Cultura resolveu terminar com os prêmios, já que não se tratava de atletismo, mas, sim, de cultura. Não há como discutir um prêmio entre pintura e escultura, são coisas distintas. Como saber o que é melhor entre vídeo e instalação? Os críticos da América Latina sobrevivem a duras penas, não recebem os altos salários dos países que fazem a História. Por isso, o interesse pessoal é maior do que o interesse cultural. Há muito pouco intercâmbio entre as Nações da AL. Os críticos da América Espanhola, quando escrevem livros, deixam o Brasil de fora, porque desconhecem a arte que se faz aqui. Com tantas bienais no Brasil isso talvez mude. Nós estamos dando exemplo: a AICA devia ter um jornal e uma revista on-line, mas não fazem nem um nem outro. A divisão da AICA na AL, criada há cerca de cinco anos, sumiu como por encanto, sob a presidência de Horacio Saffons, da Argentina. O nosso representante nessa Divisão Latino-Americana nem fez um relatório sobre as atividades dessa entidade fantasmática. Há muito que fazer e poucos que querem realizar algo nos nossos Tristes Trópicos, como dizia Levy Strauss. FM - Como se dá a circulação/distribuição do Jornal da ABCA, nacional e internacionalmente? AB - Infelizmente, de forma aleatória. Não há ainda uma distribuição correta e muita gente, por isso, nem sabe da existência do jornal. A ABCA tem problemas de verbas e de verbo. Não há dinheiro e somos poucos colaboradores no jornal. FM - No editorial do número 3 do Jornal da ABCA mencionas certa dificuldade no envio de matérias para o fechamento de pauta no sentido de uma maior abrangência dos críticos vinculados à entidade em todo o território nacional. A que atribuis essa participação ainda reduzida dos críticos em todo o país? AB - Falta de interesse. Quando há interesse na matéria, o texto chega rápido. Se não há interesse pessoal, jamais virá. Há certo pessimismo de minha parte, mas é uma avaliação correta. Há associados que enviam pesquisa em andamento, para mostrar que estão a pesquisar, assim, recebem créditos junto aos seus amigos. Outros reaproveitam matérias que já saíram em jornal, não têm amor pela associação. Nesses casos eu não edito. Vou criar normas de redação e enviar para todos. A primeira regra é a de que a matéria deve ter interesse nacional, caso contrário não sai. Aumentou o número de colaboradores. Os associados estão interessados no Jornal da ABCA porque ele vem sendo elogiado. Eu agradeço, pois faço tudo sozinho, sem a ajuda de nenhum associado, apesar de que há uma comissão editorial. Assim é a América Latina, assim é o Brasil. FM - Como entendes a importância da Internet na reflexão e difusão de bens culturais e artísticos? Acaso a ABCA já não começa a ressentir-se de uma ausência de circulação através da Internet? Há planos para a criação de um site da entidade? Quais fatores determinam a inexistência de atuação nesse veículo? AB - Quando assumi a editoria do jornal, chamei a atenção para este fato: o jornal escrito depende de uma boa circulação e esta de verba. Propus, de início, uma revista on-line, pois a circulação já não seria problema, mas a diretoria, da qual não faço parte, entendeu que não poderíamos ficar sem o jornal impresso, pois já era uma conquista da ABCA. Eu insisti que deveríamos, então, fazer ambos. A revista on-line ainda vai demorar, mas creio que sairá em 2003. FM - Por último te deixo a tribuna livre, para o comentário de algo que acaso tenhamos esquecido de abordar. AB - Gostaria de pedir aos colegas da ABCA cooperação. Sei que fazer cultura em um país que não se importa com ela, é difícil, mas temos de acreditar no futuro do país. A ABCA precisa fazer algo pela comunidade, já que foi esta mesma comunidade que pagou os estudos universitários da maioria dos associados. Este jornal precisa percorrer escolas, universidades, museus e bienais. Precisamos crer na ABCA e, principalmente, em nós próprios. Entrevista realizada em dezembro de 2002. O Jornal da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte) surge em São Paulo em setembro de 2001, dirigido pelo crítico Alberto Beuttenmüller. E-mail: [email protected] . . revistas em destaque . .. o escritor (brasil) diálogo entre editores: erorci santana & floriano martins O poeta e jornalista mineiro Erorci Santana tem se destacado sobremaneira pela direção do jornal O Escritor, da União Brasileira de Escritores, tarefa que divide com Ieda Estergilda de Abreu e que requer um tato especial considerando que as entidades de classe costumam ser lugares onde todos se sentem no direito de reclamar de algo enquanto que praticamente ninguém se dispõe a ajudar. Erorci tem publicado alguns livros de poesia, dentre os quais Carnavras (1986), Concertos para Rancor (1993) e Maravilta e outros cantares (2002). A seguir, uma conversa rápida em que nos conta algo a respeito dos meandros editoriais no tocante ao jornal O Escritor. [F. M.] FM - Desde quando se publica O Escritor? ES - O Escritor foi criado em janeiro de 1980, quando o número zero foi lançado junto com a candidatura do poeta Péricles Prade à presidência da UBE. A pauta consistiu em um debate com escritores, do qual participou Jamil Almansur Haddad. FM - O que tens acrescentado à pauta essencial do jornal desde que assumiste a direção? ES - Assumi a edição do jornal a partir do número 81, lançado em julho de 1997, após a morte de Henrique L. Alves, que o editava, com a percepção adequada de tratar-se de um jornal realizado por uma agremiação de escritores e que, portanto, mais que estender-se ao que é universal deveria espelhar o que era doméstico, minha preucupação inicial foi melhorar a projeto gráfico da publicação, cuja precariedade era evidente. Num segundo momento, procurei ampliar o corpo de colaboradores voluntários, à duras penas, pois a escassez de articulistas qualificados, que se proponham a trabalhar graciosamente, é o principal problema a ser resolvido para que existam publicações literárias no país, pois é sabido que os cofres estão fechados para o financiamento do jornalismo cultural. Em data mais recente, em ação conjunta com o diretor da publicação e presidente da UBE, o poeta Claudio Willer, logramos a formação de um Conselho Editorial ativo e a participação da escritora Ieda Estergilda de Abreu na co-edição. A ampliação do leque de pessoas envolvidas na discussão e produção do jornal (ainda que não possamos fazer isso em tempo integral, pois precisamos lidar com outros ofícios para sobreviver) viabilizará uma pauta mais consistente. FM - Há um abismo intrigante entre os associados da UBE e os colaboradores do jornal. A que atribuis isto? ES - Reflitamos sobre o gosto amargo de nossa condição. O exercício da literatura no Brasil é árduo, sem o mínimo incentivo ou apoio. Quantos escritores potenciais não se diluem nessa sociedade tecnocrática e retrógada? A maioria dos escritores (assim chamados porque comprovaram essa condição com a mínima escrita) associados à UBE são latentes, embrionários. Ingressam na entidade em busca de apoio logístico e social. Querem alguém que leia e comente seus rudimentos literários, diga-lhes que estão em bom caminho e que não estão sozinhos nessa tresloucada aventura. Há os bons escritores nas fileiras da UBE, sim, veteranos e assentados, gente que poderia, se tivesse boa vontade, agregar-se à essa plataforma de manobras coletivas em torno do fenômeno literário, serem transformados em agentes da difusão e da discussão dessa produção. Mas escritores, mercê de juízos de valor agregados ao seu ofício e à sua personalidade é um ser pouco inclinado a expandir-se à esfera coletiva, romper seu casulo. Viciamse em demarcar posição destacada e individual. Escritores fingem ouvir escritores, com freqüência fingem a condição de aprendizes quando são orgulhosos e arrogantes. De modo que a existência de agremiações de escritores fundadas na suposta necessidade da defesa de interesses comuns chega a ser uma traição de intenções individuais. O escritor vive o dilema entre o individual e o coletivo, na incerteza que se faz entre a pujança do ser e a eventual necessidade de alinhamento para sobreviver. Associa-se às UBEs e dá o assunto por resolvido. São poucos os que se lançam ao trabalho abnegado pela classe. Mas a dimensão da luta do escritor no mundo hoje é pra não morrer à míngua, é a da própria sobrevivência do prestígio da ficção, garantir o leitor do futuro num sistema que parece apostar impiedosamente na imbecilização da espécie. Respondendo à pergunta, colaboradores graciosos têm mesmo que ser capturados à laço. FM - Qual recepção crítica o jornal tem encontrado, dentro e fora dos muros da entidade? ES - Melhorou bastante. Os leitores têm elogiado o conteúdo e a apresentação. E precisamos acreditar e trabalhar pensando na progressão qualitativa, fugir sempre do engessamento diversificando os temas e os membros do corpo de colaboradores. FM - Considerando a existência de uma grande limitação de espaço para a manifestação de obra e pensamento do escritor brasileiro em nossa imprensa, não interessaria a O Escritor buscar um projeto editorial mais ousado, através de uma lei de incentivo, algo assim? ES - Interessa, sim, e é da ordem do dia esse pensamento. Precisamos trabalhar para que isso aconteça. Mas um grande jornal de debate da causa do escritor e da literatura, plural e aberto, deveria vir na esteira do fortalecimento da representação política da classe, com a criação de uma federação de escritores, ampliação de seu poder de intervenção na distribuição dos recursos, na implantação de projetos nacionais de incentivo à produção literária e de edição de obras dos autores brasileiros, de barateamento da produção e distribuição do livro, de projetos de sedução e formação de leitores. Lembra-me que a UBE recebeu do INSS um casarão em comodato na Rua Marquës de Paranaguá, 124, em São Paulo e até agora não conseguiu os recursos financeiros necessários para promover o restauro. A maior agremiação de escritores do país sequer têm uma sede social e isso é no mínimo deplorável. Jornal O Escritor. Órgão da UBE - União Brasileira de Escritores. Editores: Erorci Santana e Ieda Estergilda de Abreu. Rua Barão de Itapetininga 262 Sala 326 São Paulo SP 01042-447. Acesso eletrônico: www.ube.org.br. Contato: [email protected]. . . revistas em destaque .. fokus in arte (brasil) diálogo entre editores: andré lamounier & floriano martins André Lamounier é músico profissional, Professor, Arranjador, Produtor Musical, Compositor de um estilo próprio com mais de 400 composições, destacando-se inúmeras peças para piano popular e clássico, canto popular e lírico, ballets, oratório e peças sinfônicas. Também autor de musicais com estilo “Broadway/Hollywood” e Diretor Presidente/Fundador da Editora Fokus in Arte. FM - Como surge Fokus in Arte e o que lhe justifica o nome? AL - Fokus significa enfocar em alemão. “Enfocar a arte” é a tradução do nome de nossa revista. A Arte está em toda parte, em tudo que fazemos. Seja no dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, no cinema, estamos em constante processo de criação do mundo e de nós mesmos. Nosso propósito é levar ao leitor esta visão: Somos protagonistas de nossa história e vivemos construindo o que amanhã denominarão como Arte. Partindo do princípio de que os personagens de ontem, que criaram e recriaram nosso jeito de ver o mundo, de ler, ver as horas; inventaram a roda, o automóvel, a tecnologia; descobriram a música, a pintura, a dança e a poesia; desenharam o que viam, descobriram a fotografia; enfim, em tudo a ARTE estava presente e fora criada pelo homem que foi ontem igual a mim e a você. Hoje, somos os artistas que estamos inventando e criando o amanhã. Queremos, através da Revista Fokus in Arte, registrar estes personagens que estão criando uma nova etapa da História de nossa Humanidade, ao mesmo tempo, que levar ao leitor a possibilidade dele entender o que nos cerca e permitir que ele também registre suas conquistas, seus desejos e suas verdades. FM - No editorial do segundo número se fala em “variedade, entretenimento e muita informação” como uma preocupação básica da revista. Que tratamento é dado ali ao conceito de “entretenimento” em um projeto editorial que centra seu foco na arte? AL - Muito bom! A arte quando é vivida em seu dia-dia, transparece em tudo que fazemos. Desta forma, o entretenimento, é focado como uma vertente do “fazer a arte”. Assim como um trabalho pode ser considerado um lazer, se este for um projeto de realização e sonho profissional. Matérias como a que encabeça o segundo número, “Swing – Uma explosão de Prazer” fazem parte da editoria de Comportamento. No entanto, podem divertir além de informar o leitor para que ele compreenda melhor o mundo atual. Cada ser humano é único, próprio e individual e percebe o mundo de maneira diferente e também individual. Aí está a arte. O que para uma pessoa é informação, para outra pode ser apenas uma leitura de entretenimento. Porém, dentro deste processo, colocamos à disposição do leitor um aprendizado lúdico onde a cultura é propagada e onde a arte passa a ser vista de maneira natural e instantânea. FM - Como te parecem que se relacionam hoje no Brasil as mídias impressa e virtual? AL - A mídia impressa ao meu ver, ainda tem a possibilidade de propagar matérias mais longas e prolixas enquanto as informações dos noticiários virtuais se restringem a “pílulas” de notícias. Nestas pílulas, o leitor direciona sua pesquisa numa rede própria de conhecimento e muitas vezes ele pode até chegar a informações mais profundas do que aquela encontrada pronta na mídia impressa. Porém, vivemos em ritmo alucinado de produção onde o capital é a vedete dos dias atuais. Neste processo, o leitor ansioso por dados enxutos, vê na mídia impressa a idéia pronta e completa enquanto as pílulas da Internet se tornam superficiais a primeira vista. Mesmo que superficiais estes dados virtuais podem atender as necessidades do leitor mais afoito por tempo e capital e, sem ocasião para continuar sua pesquisa ele pare nos primeiros informes encontrados no mundo virtual e dê como finalizada sua rede de sabedoria, embora o consumo de elementos encontrados não contribua tanto para seu capital intelectual. Há assim, dois lados da moeda. De um, a informação mais profunda, porém, aquele que necessita de maior pesquisa (Internet).De outro, a mídia Impressa, a ciência completa, entretanto, sem interatividade. Neste novo mundo que se desenha, as duas mídias, em minha opinião, tem a somar e subtrair para nossos leitores. Mais uma vez depende de cada ser humano – próprio, único e individual – escolher que rede (ou redes) de conhecimento deseja escolher para seu crescimento próprio. FM - Como vocês têm sentido o retorno do trabalho que estão realizando? AL - Ainda é muito cedo, estamos firmando nossa marca neste diversificado mercado. No entanto, já pudemos perceber, nestas primeiras edições, que o público está pronto para coisas novas, feitas com carinho, independência e preocupada com o aprendizado mais intelectual, menos consumista. Nossos leitores têm encontrado um espaço para expor sua visão do mundo, sua arte, seu jeito de viver, muitas vezes vetado por publicações que se preocupam apenas por aquilo que vende, mesmo que não seja interessante para a vida de quem lê. Desta forma, estamos recebendo e-mails, cartas e telefonemas de jovens, intelectuais, artistas e universitários que vêem nosso veículo como um instrumento vanguardista, uma arma para a formação de opinião culta, artística e engajada na política do mundo atual. FM - Quando fizemos, Adriano Espínola e eu, a revista Xilo (1999) - impressa e de circulação nacional em bancas (projeto lamentavelmente abortado em seu número inaugural por ingerência do grupo empresarial que nos contratou como editores) - também constatamos, de imediato, essa expectativa do leitor por um tratamento não mais viciado em relação a arte e cultura. Sigo defendendo, desde então, que há que romper essa barreira do lugar-comum que não é determinada em isolado pelo mercado, mas sobretudo é fruto de uma conivência da parte de quem faz cultura neste país. O que pensas a respeito? AL - Penso que nosso povo - musical, inteligente, curioso e essencialmente alegre - está sempre apto a conhecer tudo que é novo e a descobrir o que aqui se cria. É obrigação de todos aqueles que possuem algum veículo de comunicação, criar espaço para a difusão de nossa cultura tão farta. A liberdade de expressão seja ela através da música, da dança, das artes plásticas ou da literatura deve ser respeitada, pois falam diretamente do coração de quem cria, seu jeito de pensar, de agir e de compor a Humanidade para aquele que o consome - parte inerente do dia-a-dia, já que caracteriza aquele que registra em sua memória a criação e sua evolução. Infelizmente, hoje em dia a aquisição da arte e sua divulgação estão acopladas ao consumo exagerado do mundo capitalista impedindo um olhar para a arte pura e simples. O giro rápido de capital e a aceleração do ritmo cotidiano fazem com que muitos veículos de comunicação prefiram a divulgação do lucro certo e rápido ao invés de propagarem quem realmente está fazendo história em nossa Cultura e em nossa Arte. FM - Gostaria ainda de observar que acho uma grande lição a que transmites aos intelectuais deste país, que seja justamente um músico a preocupar-se de maneira tão substanciosa com a difusão e reflexão em torno de nossa cultura. Nossos escritores, por exemplo, caíram no ardil da especialização, de tal forma que hoje podem melhor ser entendidos como autistas do que como artistas. A Agulha te recebe, assim, com imenso carinho e respeito. A palavra final é tua. AL - Agradeço à Agulha, mas considero vocês, merecedores de tais elogios. A Agulha sempre foi um espaço aberto para artistas de diferentes vertentes e precursor no que tange a liberdade de criação e sua propagação. Como músico, quero resgatar a beleza da música pura sem ser nostálgico ou copiar estilos. Afinal, vivemos em um novo mundo delineado pela tecnologia avançada, pela Globalização e pelo exaltar da Publicidade. No entanto, continuamos seres que pensam, que sentem, que refletem e principalmente que criam... Resgatar a criação (não me refiro à criatividade, mas a criação como algo mais profundo) aliada ao desenvolvimento da atualidade e a liberdade de expressão são, para mim, um desafio extremamente prazeroso. Em minhas composições, pretendo resgatar a sensibilidade melódica, a estrutura complexa dos grandes mestres da Música Mundial, a Tecnologia de nosso tempo, a Alegria dos musicais, a naturalidade e a liberdade em encarar o mundo como ele se desenha para nós e a leitura de nossa história. Enfim, quero mostrar ao mundo que o ‘hoje’ pode ser mais culto sem ser chato, pode ser mais sensível sem ser “piegas”, pode ser complexo, fino e bonito sem ser caro. Desejo, através da Revista Fokus in Arte propagar que, assim como eu, muitos artistas, intelectuais e pessoas comuns anseiam por escrever nossa história e assinalar para o mundo quem somos - um povo preocupado com a preservação de nossa obra e com o ambiente em que vivemos. Um povo que deseja registrar o jeito com que enfrentamos nossas angústias (naturais do ser humano), a maneira como avançamos nossas tecnologias e o modo como buscamos a felicidade para que futuramente nossos netos possam ter orgulho de seus antepassados. Revista Fokus in Arte Diretor-Presidente/Fundador André Lamounier van Lammeren Editora Chefe e Jornalista Responsável: Carla Braga - Reg. MTB no. 18.348 Direção de Arte e Diagramação: Slavisa Rupar Lamounier Colunistas: André Lamounier - Sérgio Madureira - Silvio Alvarez - Dr. Vanor Cosme da Silva Assinaturas: As assinaturas poderão ser feitas pelo tel: (22) 2523-2252 ou através do e-mail: [email protected] Distribuição exclusiva para todo o território Nacional pela Fernando Chinaglia Distribuidora S/A. A Revista Fokus in Arte é uma publicação da Editora Fokus in Arte Ltda. CNPJ 05.271.786/0001-03 Rua Duque de Caxias no 46 - sala 07 Centro - Nova Friburgo RJ 28.613-060 BRASIL Telefax: (22) 2523-2252 15.000 exemplares de circulação trimestral . jornal de poesia triplov alô música . revistas em destaque .. storm magazine (portugal) diálogo entre helena vasconcelos & maria joão cantinho MJC - Quase dois anos após o aparecimento da Storm Magazine, um evento cultural bem significativo no universo virtual português, qual o balanço que fazes dessa aventura? Porque sentiste a necessidade de criar um “espaço” virtual, neste meio em que o virtual é tão desvalorizado, face à imprensa? HV - A Storm Magazine tem bases totalmente idealistas o que quer dizer que são, também, em parte, irrealistas. Mas esse detalhe não me preocupa. Os factos aí estão : uma publicação que se tem mantido sempre on-line, a excelência dos textos e das imagens – não posso permitirme ser modesta – os contactos, as amizades, as cumplicidades que se estabelecem. Pode haver colapsos nas estradas virtuais, chuvas ácidas de vírus perversos, muitas horas em frente ao monitor, nenhum provento material. Mas que diabo! Ter uma revista a funcionar na Net com muitos milhares de leitores dá muito gozo. Há vinte anos que escrevo para jornais e revistas. A minha formação tem-me permitido expressar ideias sobre a cultura em geral, a literatura e as artes plásticas em particular. Já escrevi também sobre problemas sociais, sobre moda, sobre viagens a lugares distantes, sobre sexo, sobre cidades, sobre a vida, em suma. Tenho tido sorte. Mas, ao longo destes anos, também percebi que há muita gente que não tem as mesmas oportunidades que eu. Viver num local como Lisboa, que é um centro de cultura, ajuda muito. Mas... e os outros? Os que estão longe, isolados, os que não têm “contactos”, não vão às festas do momento, não conhecem esta ou aquela figura que naturalmente lhes pode “abrir portas”? Na Storm, as portas estão abertas às pessoas, em todo o mundo, que queiram participar. Imaginei a Storm assim. Eu e os meus amigos, em Portugal, no Brasil e no resto do planeta – sim, temos leitores nos cinco continentes – podemos, neste espaço virtual, publicar textos, exprimir opiniões, trocar impressões uns com os outros. Orientamonos pelos nossos gostos e interesses. Faço questão de me guiar pela ausência de preconceitos e pela busca da qualidade e de uma espécie de “iluminação” que a cultura dá de mão beijada, naturalmente. Tudo isto só é possível em clima de paz e entendimento. Na Net não há fronteiras físicas nem barreiras discriminatórias. Não creio que haja maior liberdade do que esta. Quanto à questão contida na pergunta e relacionada com a “desvalorização do virtual pela imprensa”, suponho que essa desvalorização não existe. Qualquer publicação em suporte tradicional que se preze tem, também, o seu contraponto virtual. O que quer dizer que sentem a necessidade de se “virtualizarem”. Tenho uma relação sentimental, romântica, apaixonada, com os livros, com as revistas, com os jornais. Ler em suporte papel continua a ser um prazer absoluto. Mas também acho que se publica em demasia e que, por contraste, a reflexão e a crítica são escassas e muito limitadas. Por isso, a Storm publica um pouco de tudo. Parece-me bem, não achas? MJC - A imagem da Storm, neste momento em que tu confessas um dos objectivos fundamentais, é a procura de uma cultura virada para a comunicação e para essa “iluminação” que, naturalmente, só pode nascer de uma visão despreconceituosa da realidade. Onde a cultura nasce da confluência e do confronto crítico. É essa a visão que tens da cultura? E parece-te ser essa o exemplo da cultura portuguesa? Repara que me refiro, não apenas à arte, mas também à literatura... HV - Acho que não sei bem o que é a Cultura num sentido lato, ainda continuo à procura; é uma busca incessante, como no amor, como na amizade. Só sei que é um projecto de vida. É o que nos faz sermos únicos porque dá ímpeto e vigor ao pensamento, despoleta emoções. Acho que cultura não é sabermos tudo, é procurarmos compreender. Isto pode parecer pretencioso mas não sei explicar melhor. A Cultura, como a que tento veicular através da Storm, não é uma coisa abstracta, é algo que todos construímos, (ou destruímos) a cada momento. Quanto ao que chamas cultura portuguesa só sei que o nosso país está cheio de pessoas extraordinárias em todas as áreas das artes, da literatura, do pensamento, da ciência. Temos a vantagem de sermos um país muito antigo, muito cosmopolita, simultaneamente europeu e virado para a imensidão do oceano. Só quem não quer é que não tira partido desses factores. Felizmente vejo cada vez mais intelectuais, escritores, artistas, cientistas a pensarem pela sua própria cabeça e a agirem com mais eficácia, contrariando a tendência para o queixume – que não é apanágio exclusivo do meio cultural português. Curiosamente, é nas grandes cidades, onde existem mais meios, que se concentra um maior número de “vencidos da cultura”. Tenho muito pouca simpatia por quem proclama que “tudo é muito difícil”, que este é um “país de incultos” mas não levanta um dedo para mudar o estado das coisas. MJC – A tua experiência e convívio com artistas plásticos deu-te uma visão, não apenas da literatura, como da cultura em geral, diferente? O facto de não teres sido criada em Portugal deu-te uma outra perspectiva e uma consciencialização da cultura como diversidade? Gostava que me falasses dessa experiência, da tua infãncia e adolescência e no modo como isso influiu na tua formação. Como é que era chegar a Portugal nos teus 18, 20 anos? HV - Tive a sorte de ter crescido sujeita às boas radiações, por um lado da Literatura – o meu pai deixava-me (e até me incentivava a) ler tudo – e , por outro, do efeito directo de culturas muito diversificadas. Li muito nova Homero, Platão, Montaigne, sem perceber nada. Mas alguma coisa ficou. Devorei Conrad, Melville, Dickens, Faulkner, Kafka, Mann e , naturalmente, Dostoievsky, Tolstoy. Nunca tive grande inclinação para literatura infantil e juvenil, embora tivesse passado por um ou dois anos – quando começei a interessar-me pelas incríveis mudanças que estavam a acontecer no meu corpo – em que li coisas mais “leves” (Colette, as irmãs Brontë, Somerset Maugham) porque não me concentrava nada e só pensava em namoros e coisas assim. Mas, para além dos livros e de gostar de desporto (fazia natação de competição) e de andar à pancada com rapazes vivi em lugares (na Índia e em África) onde as pessoas me comunicaram uma cultura oral e visual fortíssima. Por isso, houve sempre o lado “estudioso” ligado aos livros e um lado dos “sentidos”, ligado ao mundo e às pessoas que me rodeavam. Para mim, Portugal não existia, era o lugar onde viviam umas pessoas muito antigas, os meus avós. Vinha a Portugal regularmente, nas férias grandes para ir à praia – horrível, fria, enevoada – e passar uns dias no campo, por altura das vindimas. Quando fui obrigada a vir para ficar – para a universidade – passei um tempo sinistro. Experimentei pela primeira vez o inverno, o olhar fechado das pessoas, o cinzento chumbo do ambiente. E é preciso não esquecer que eu entrei para a Faculdade ainda com 16 anos. E vim sózinha, de África. Parecia-me que, aqui, não havia nada que me interessasse. É claro que me meti em todas as revoluções que me passaram diante do nariz: a estudantil (muito animada), a sexual (muito excitante), a política (muito empolgante); a social (muito frustrante), a cultural (muito diversificada). Não perdia sessões de cine-clubes, o cinema era o grande veículo de conhecimento e de conscencialização, antes de 1974. Portugal era um país absolutamente chato com meia dúzia de pessoas geniais. Eu fui à procura delas e deixei-me ficar, a observar. Quanto ao meu contacto com as artes plásticas foi posterior quando conheci o Julião (exactamente em 1974) e fui viver com ele. Mas, entretanto, já tinha corrido a Europa à boleia, só para ver Museus. MJC – Não metas já o Julião, porque quero pegar nessas vivências e explorarmos/avaliarmos o peso da revolução. Conta-me como influiu toda essa loucura, essas revoluções várias, ao nível da tua formação. Sentes que elas te marcaram definitivamente? Como? Que cicatrizes deixou essa época na tua geração? HV - Sex, drugs and rock n’ roll. Foi tudo muito e MUITO bom. Agora, que já se passaram uns anos, vejo tudo isso como um tempo muito breve, muito “explosivo” cujos estilhaços ainda conservo no meu corpo como pedaços de cristal ou luzes fosforecentes. Mas não me parece que tenha sido “loucura”. Louca da vida fico eu, agora, quando vejo muita gente a andar de um lado para o outro sem paixões, sem experiências, sem desejos intensos. Fico sempre espantada quando deparo com pessoas inteligentes a “guardarem-se”, a retrairem-se para não correrem o perigo de estarem vivas. Não vá o Diabo tecêlas... Fico abismada quando percebo que essas mesmas pessoas boas e inteligentes acham que podem evitar o sofrimento e atravessar este mundo sem um arranhão, agarradas aos seus carros, às suas casas, aos seus “bens”. É claro que tudo isso é muito bom, eu também gosto e defendo acerrimamente o direito à felicidade. Mas creio que não me estou a contradizer.É interessante passar por revoluções, correr perigos, sofrer, ser-se deixada por amantes, ver ideais desfeitos, ser-se traída e poder sobreviver para o contar. Ah! E fazer revistas de cultura na internet onde, curiosamente, encontro pessoas e não avatares de catálogo de jogos de computador. MJC - Achas que essas vivências deram mais responsabilidade aos intelectuais e artistas da época? HV - Não sei. Terás de perguntar aos intelectuais e aos artistas. Não sou nem uma coisa, nem outra. MJC - Depois começou a tua relação com o meio artístico. Qual foi a tua formação nesse campo e como foi a tua experiência de crítica de arte? HV - A minha relação com o meio artístico, como dizes não teve um começo. Sempre tive esse fascínio por aquilo que sai das mãos das pessoas como se viesse directamente de um lugar qualquer, misterioso e fantástico. Em criança, o meu pai mostrava-me as imagens dos grandes artistas em livros sumptuosos e à noite, quando fugia do meu quarto para me juntar a quem vivia nos anexos – os “criados” – observava o que eles faziam num pedaço de madeira com um canivete ou os “brinquedos” que construíam e me ofereciam a partir de um cordel, de um trapo, de um fio eléctrico – pássaros, bicicletas, pessoas, barcos, formas abstractas - e sentia a mesma emoção. Eu nunca soube fazer nada assim. Mais tarde, na faculdade, a Literatura não era suficiente. Quando passei a ver obras de arte “ao vivo” e não em reproduções, tive um choque. Tive ataques de choro e riso, tremuras incontroláveis e paralisias que duravam eternidades perante coisas que vi. Ainda hoje sou assim: não consigo controlar esta reacção absolutamente romântica e nada “fashionable”. E li sobre o Pater, o Ruskin, o Berenson – é claro que não tinha as obras deles, as propriamente ditas – mas arranjei o Gombrich que me ensinou muito, embora a sua “História de Arte” tivesse parado muito atrás, no tempo. (Curiosamente, estou agora a ler o livro dele sobre “Primitive Art”, que é bastante interessante).E, é claro, havia o Herbert Read e o seu “The Meaning of Art” que me parecia tão “moderno”! E depois, encontrei o Julião e tudo deu uma reviravolta estonteante... MJC - Paixão e conhecimento, tudo em simultâneo? Foram anos intensos, esses que viveste? Talvez seja bom lembrar a “revolução artística” que irrompeu nesses anos em Portugal, ainda fresquinho da revolução? HV - Sabes, acho que as revoluções são “feitas” por pessoas com motivos muito práticos – ter o que comer, receber melhores salários, fazer pagar caro aos que usaram o poder de forma abusiva – e são “seguidas” por pessoas cujo motivo principal é o sexo. Não há nada mais sexy do que uma revolução. Imagina o que é isso acontecer quando se tem vinte anos, como era o meu caso e o do Julião! Imagina o que é duas pessoas encontraremse num momento daqueles em que tudo palpitava e estava vivo e descobrirem que tinham os mesmos interesses, as mesmas paixões! É claro que, como nós havia muitas outras pessoas, mais velhas – mais receosas ou mais novas – “mais inconscientes”. É natural que, logo após o Abril de 1974 se tenham criado imediatamente movimentos e correntes, umas mais conservadoras, outras totalmente vanguardistas. Quanto a nós, não estávamos preocupados com etiquetas, como deves calcular. Conto isto muita vezes mas não me posso esquecer: conheci o Julião porque o meu namorado da altura me disse que mo ía apresentar – eram (são) muito amigos – acrescentando que eu de certeza ía ficar melhor com o Julião “porque eu era maluca demais para ele” ( o meu namorado que deixou rapidamente de o ser). É evidente que este termo “maluca” era um elogio e até hoje o sinto como tal. E ser-se doida era fazer o que eu e o Julião fazíamos: amar intensamente. Sabes, ele é que me ensinou a olhar a arte. Eu estava cheia de Literatura até aos ossos. O Julião agarrava em mim e levava-me para a zona do porto e ficávamos horas a olhar para os guindastes e principalmente para aqueles contentores enormes a brilharem como prata com aquele canelado regular, macio, despojado e imponente. E ele dizia-me. “isto é tão bom como um Donald Judd, um Walter de Maria, um Richard Serra!” E eu ficava com cara de parva: “Espera aí, e os Tiepolo, os MichelAngelo, os Rembrant, os Goya, os Grecco, os Breughel?”.E ele ria-se e dizia, “Pois, isso já está tudo feito. E agora?” Por isso, convíviamos todos em alegre fricção, os que guardavam a reverência ao passado e os que sabiam que ele, o passado, existia mas... já estavam noutra. Procurávamos o que mais nos interessava, o que nos arrebatava, onde quer que estivesse. Viajávamos, líamos, íamos a exposições, passávamos noites inteiras a discutir com os amigos. Não havia barreiras, íamos ao encontro de quem quisessemos. Ainda conheci o Almada (Negreiros) um velhinho mirrado e havia o “guru” que era o Ernesto de Sousa, um verdadeiro revolucionário, uma figura romântica que nos falava de “body –art”, “land-art” , “mailart”. Mas devo dizer que o Julião e o Fernando (Calhau) eram uma espécie de discípulos que nenhum mestre quer. Aprendiam demasiado depressa, sempre muito à frente dos acontecimentos. Já estavam, cada um à sua maneira, a anos-luz de tudo o resto. Acho que não tinhamos medo de nada. MJC – Parece-me que essa última frase te revela...Tu permaneceste uma aventureira. Porque não seguiste uma cómoda, embora laboriosa, vida académica, já que te interessava tanto a arte e a literatura? HV - A via académica nunca me seduziu, embora essa seja uma opção para muitas pessoas cujo trabalho valorizo grandemente. Para mim não dava, nunca deu. Talvez seja uma falha, no meu carácter, esta maneira de ter de estar absorvida, “arrebatada” por tudo aquilo que me proponho fazer. De contrário, mal entro na rotina – uma imagem que eu sempre associei à vida académica – sinto-me a morrer. Não estou para aqui a dizer que sou capaz de levar uma existência sempre ultra excitante mas pelo menos, evito a passividade e o conformismo. Sempre que posso. É a minha disciplina. Talvez seja interessante recordar que com o 25 de Abril de 74, deu-se em Portugal um fenómeno semelhante, talvez, ao que está a acontecer agora no Brasil. Isto é, artistas e intelectuais que eram vistos como “outcasts” pelo regime anterior, foram chamados para ocupar cargos públicos e para intervir política e socialmente. Creio que essa é que foi a verdadeira revolução. Subitamente, tinhamos os Gilberto Gil de Portugal com poder para mudar o estado de coisas. E foi o que fizeram, uns melhor e outros pior. Mas creio que o balanço possível, hoje em dia, é muitíssimo positivo. É um pormenor muito esquecido ou até mesmo ignorado. O Julião, por exemplo, foi para a Secretaria de Estado da Cultura e durante o pouco tempo que lá esteve – largou o cargo, alguns anos mais tarde, para se dedicar só à arte – organizou eventos extraordinários e trouxe a Portugal gente que nem sabia onde o nosso país ficava, no mapa. Ele tinha os conhecimentos e o instinto natural para saber quem era quem e o que era preciso fazer para dar um murro certeiro na estagnação em que viveramos. Acompanhei todo esse processo e participei activa e directamente – com muitas outras pessoas, evidentemente – em acontecimentos que marcaram a história artística de Portugal, como, por exemplo, a Alternativa Zero do Ernesto de Sousa, as Bienais de Desenho e, mais tarde o Depois do Modernismo, com o Luis Serpa. MJC – E houve também essa abertura fantástica para a introdução da arte pós-moderna, que essa geração protagonizou, talvez entre todas a mais eufórica aventura. Achas que a mentalidade dessa época mudou realmente, relativamente à arte e à cultura? Lembro-me da euforia que causaram um Lyotard, um Gianni Vattimo, trazidos a Portugal e que enchiam as salas dos auditórios... HV - Creio não ser capaz de estar à altura para dar uma visão tão panorâmica como desejas. Só gostava de lembrar que a segunda metade dos anos setenta passouse em tempo de “arte conceptual” que deve ter sido o tempo mais romântico da história da arte. Tudo porque o que contava era a ideia, a emoção criada. As “peças” eram todas efémeras, destrutíveis, lixo. As referências eram evidentemente o Joseph Beuys – com a sua história de piloto de guerra abatido e salvo da morte por ter sido recolhido e envolto em gordura e peles), Duchamp, como santo patrono. (O “Urinol” – é uma peça tão poética e sensual!) Mas imagina que havia um qualquer cataclismo e se perdiam os museus, os livros de História de Arte, as referências “intelectuais”. O urinol, os trenós do Beuys acabariam, provavelmentem numa lixeira. Este conceito de morte imediata da obra de arte será talvez a derradeira tentativa de contrariar a ideia que o artista tem da permanência , da imortalidade. Claro que houve peças de arte conceptual que ainda permanecem e permanecerão. E o mais curioso é que nos ferozes economicistas anos oitenta, estes artistas são absorvidos pelo sistema – a “arte povera” passa a ser arte rica – e acaba-se a inocência. E, é claro, houve o famoso “regresso à pintura”. Ao fim e ao cabo os museus e os coleccionadores estavam a ficar fartos de ter objectos que estavam a perder o brilho, a atravancarem as salas... MJC - Mais tarde houve a tua entrada no meio literário, com o livro de contos Não há horas para nada. Como foi essa primeira experiência, a tua recepção? HV - Não foi uma “entrada no meio literário” nem nunca pensei nisso. Sempre escrevi, o livro foi um acidente de percurso e não teve sucesso algum. Certamente não me forneceu qualquer passaporte para a “cena literária” que não estava interessada em mim. E eu nem sabia bem o que era essa “irmandade” restrita. Eu costumo dizer que falhei completamente com o meu livro: os contos eram suposto ser, por um lado, uma crítica divertida a certos tiques da sociedade de então e, ao mesmo tempo, uma tentativa séria de eu “treinar” uma determinada forma narrativa. Pois bem: os críticos riram-se do meu esforço e não acharam graça nenhuma ao que eu achava cómico. Não sei bem porquê!!! É verdade que eu passava a vida a viajar – trabalhava nos aviões – e, quando não estava a trabalhar, estava na mesma a apanhar aviões para ir a festas, a jantares, a inaugurações nos quatro cantos do mundo. Em minha casa também havia sempre gente, passavam-se semanas, meses, em que havia pelo menos uma dúzia de pessoas para jantar. Era muito divertido, muito louco, muito estimulante, muito cansativo. Eu escrevia nos intervalos, a correr, em pedaços de papel dos museus e dos hotéis. Só me lembrava do Raymond Carver – passe a comparação – que nunca escreveu um romance porque nunca teve tempo, tinha de escrever nos intervalos do trabalho. Coitado, morreu quando ficou famoso. Eu nunca fiquei famosa e ainda cá estou... por enquanto. Nessa altura não conhecia escritores e os que conhecia não me interessavam, à parte o (António) Lobo Antunes. O problema não era dos escritores, era meu. Fui criada e educada no universo da literatura anglo-saxónica. A literatura portuguesa, muito influenciada pela francesa, não conseguia prender a minha atenção. Achava tudo muito centrado no umbigo de cada um, muito discursivo, muito misógino, muito preconceituoso, muito circunscrito, muito fechado, muito bairrista. Claro que, no que diz respeito aos franceses, havia a Duras – que eu devorava – e, noutra área, o Roland Barthes, o Philippe Sollers, o Michel Foucault, cuja “Histoire de la folie à l’âge classique” me interessou muitíssimo. Mas eram leituras complementares, importantes, sim, mas não definitivas. . revistas em destaque .. punto seguido (colombia): depoimento de oscar jairo gonzález Punto Seguido se inicia en 1979, cuando concurren en una misma obsesión y en un mismo sentido, en la ciudad de Medellín -que llamamos Med-yin- los poetas John Sosa, Luis Fernando Cuartas y Jesús Rubén Pasos. Toda su visión se relaciona -cantidad relacionable, como la llama Lezama Lima- y se hace desde una mezcla de las lecturas que ellos hacen de Rimbaud, Lautreámont, Baudelaire, Vallejo, Huidobro, Genet, Gaitán Durán, Trakl, Celan; con lo que ellos conciben y realizan como una forma de hacer la revolución, de crear y causar en el mundo las formas nuevas y los nuevos ideales, por la vía entonces del sueño, lo inconsciente, lo real, lo ideal, la rebeldía y la irreverencia. Es pues, todo esto una mezcla escandalosa y crítica sobre el mundo, sobre nuestra realidad y sobre lo que se hace en la ciudad. Intentos y tentativas de dar a “conocer” lo que se estaba haciendo aquí, sin mediaciones de nada y sin apoyo de nadie, que hoy todavía se mantiene intacto para con ello mantener siempre una postura crítica y sin adhesiones inconedicionales a nada. El principio y el hilo conductor entonces es el de la libertad, de lo que Stefan Baciu, llamaba lúcidamente: “Palabras en libertad”. Entonces desde allí, la revista ha sido y será, sin duda, un medio de catharsis, de exploración y de aventura contra todo lo establecido y contra la impostura y la imposición de estilos y estéticas literarias academicisitas, retóricas, realistas y anacrónicas. Formas nuevas para mundos nuevos, por lo cual se práctica de manera totalitaria, si así podemos hablar, aquel principio baudelairiano: “Id al fondo de lo desconocido, para hallar lo nuevo”. En ese sentido y en esa perspectiva una de las inquietudes principales que se intentan resolver aquí, es también la manera de hallar y halonar hilos conductores de nuestra tradición americana, de instalarnos en una “historia de la sensibilidad”, para decirlo con Raymond Klibansky, y esta no podría hacerse sino no sabemos lo que hacemos. Entonces ella misma ha creado esos hilos de comunicación, que son más que nada de nuestra comunidad americana. Y por eso mismo entonces, no solamente da a conocer lo que se hace aquí en la ciudad, sino también lo que se hace en nuestra América y en el mundo, mucho antes de que se hablara de la Globalización y de otras mentiras, como la de “ciudadanos del mundo”, o cosas así. De allí pues, que aquí se han hecho visibles poetas y escritores de todo el mundo, se ha dado cabida a movimientos insólitos, se ha escuchado la otra voz, la de los outsider, de los “anónimos”, de los nuevos, de los que no pueden ser escuchados. O sea, que se propuso en su principio ser Internacional, cosa que hasta el momento se ha realizado y se ha concretado maravillosamente. Desde Suecia hasta Canadá, de Rumania hasta Francia, de Estados Unidos -el nuestro- hasta Chile, de México hasta Panamá, se ha construido una “red” de relaciones que le han dado una forma y una estructura muy concreta a la revista. Lo que se ha hecho también desde la contradicción y como contradictores, y lo que se ha hecho con poetas de todo el mundo y con movimientos poéticos que han alcanzado también la proyección del sol de su trayecto, de su, para decirlo con Paul Eluard: “andadura poética”. Movimientos y poetas libertarios y libertinos: Pizarnik, Orozco, Eunice Odio, Breton, Enrique Molina, Pelleqrini, Ceselli, Reznicek, Aquirre, Gilbert Lecomte, René Daumal, César Moro, Emilio Adolfo Westphalen, Díaz Casanueva, Goméz-Correa, Cáceres, Braulio Arenas y así. Entonces, es demostrativo que ese trayecto se ha hecho en la tensión del temblor que proporciona y provoca el encuentro con lo desconocido, en nuestro bosque de símbolos. Lo simbólico y lo real se han hallado siempre en tensión, esa es nuestra temperatura y nuestro temperamento. Y no solamente se han incluido poetas, sino también músicos -Caqe, Hendrix, Morrison, Joplin, Satie- y lo mismo el teatro, y en el mismo orden de lo sensible y lo místico, lo hermético y lo surreal y nuestro sentido de la justicia y de la protesta contra la mediocridad y las masacres, porque la condenación, la censura y la muerte se hallan aquí, se hablan en ella. También habla de la desaparición, el exilio, el extermino y la exclusión, porque siempre ha sido este también un hilo que nos tensiona y nos reclama. O sea, hay en ella invocación y reclamo, la invocación a los dioses de nuestra tradición y a nuestros dioses -La Diosa Blanca, Robert Graves- y el reclamo a los hombres. Hay que reclamar y protestar ante los hombres e invocar a los dioses. De esa manera podemos decir, que la revista desde su principio y en sus principios ha mantenido contra cualquier intromisión, condicionamiento y coherción sea la que sea, proviniere de donde provienere, una total libertad para hacerse con lo que ha querido y con los ha querido, o sea, aquellos que hablan del sentido de su búsqueda y de su experiencia, por eso es muy ecléctica y muy heterodoxa. Ni expresionismo, ni surrealismo, ni dadaísmo, ni nadaísmo, ni estridentismo, sino que por medio de ella se exploran y se explotan, hacen para decirlo de otra manera, explosión e implosión estéticas muy diversas y muy diferentes, que como por azar y causalidad van encontrando su similitud, su semejanza en el poder incantatorio de la imaqen, de la imaqinación. El poder, es el poder de la imaqinación y la experiencia real es la experiencia de la videncia, de lo visionario, como lo llama Rosamel del Valle. Todo es pues, un comienzo, todo se halla siempre en el comienzo. Lo que continúo. Tras esta momento inicial, de mezcla del ideal-real poético y del idealreal de la rebeldía, que se lee en los números iniciales de la revista, comienzan a participar a intervenir: Raúl Henao, Carlos Bedoya, Oscar González y Wilson Franck. Y nos reunímos desde 1986, todos los Lunes a las 7 de la noche, en el bar de Don Lao, a hablar de los proyectos y de la forma que llevará un próximo número. Es en ese bar donde la soñamos, la construimos y la hacemos. Queremos decir, la revista siempre se esta haciendo en cada uno de nosotros, ella se forma en cada uno y eso es lo que te hace hablar y decir hacia donde queremos ir y con quienes queremos hacerlo. Ello provoca y suscita controversia, contradicciones y hasta imposiciones, pero se obedece cuando se ha alcanzando el consenso, si podemos llamarlo así. Yo diría más bien: cuando la contradicción se hace más tensamente irresoluble e irrenconciliable. Mientras esto ocurría yo estaba haciendo una revista que llamé “cantidad hechizada”, de la cual entre 1986 y 1989 hice solamente tres números, dadas las condiciones económicas y los problemas que en ese orden se dieron, lo cual obstaculizaron el poder continuar haciéndola y construyéndola. Quería hacer una revista más universal, con más elementos heterodoxos y eso fue importante, al menos así lo dicen aquí, a los pocos que escucho. Ahí me le medí a una cosa totalmente rara y extraña, una combinación, un intento de ars combinandi -Raimundo Lulioentre lo Uno y lo Otro, Oriente y Occidente. Y lo mismo lo que el medio académico de la ciudad daba y hacía, no porque yo lo fuera y que nunca lo he sido, no obstante lo esté en este momento de la vida -¿y de la muerte?-; entonces hubo, para mayor herejía, profesores de filosofía que no lo eran a la manera clásica y formal-, y eso hizo mayor concrección del intento de abordarlos en otra dimensión y en otras posturas, en los intersticios como los llamaba Ernst Bloch. Era buscar en ellos tesis que nos interesaban sobre Beckett, Artaud, Kafka, Dostoiveski, Kleist, etc. Después te hablaré un poco más de eso, porque lo que nos interesa es Punto Seguido. De la misma manera, ya se publicaba Prometeo, más hacia la tendencia de izquierda, pero que son promovidos a través de un libro que hizo y determino en su totalidad el poeta Juan Manuel Roca y se título: Disidencia del Limbo. Todos estos poetas, excluyendo a Eduardo Pelaéz, Carlos Bedoya continuaron en lo que hoy es Prometeo. Ya también con las disidencias de Caro y otros, que proyectaron de otra manera: Tras la sombra y no tras la boca del hambre y la necesidad, como lo han hecho otros, de los que después hablaremos, que han equivocado -¿o no? la vía que habían iniciado y de la que hablaban con incandescente intolerancia y con quemante verdad. La necesidad económica y el deseo del nombre o del éxito les han hecho cambiar de decisión y de destino. Uno no tiene sino que hacer su destino, que en esencia, lo que Heinrich von Kleist, fundía hermosamente con el carácter. Destino y carácter. Eso es otro tema, porque yo no “historiador” de nada y menos de la azarosa vida y muerte de mis contemporáneos. “Los contemporáneos” son mexicanos. Desde allí se constituyó pues, como un nuevo momento de la revista, en donde la visión se extendió y se dimensiono, ya no era tanto la rebeldía, la cantidad de irreverencia que se necesitaba y se requería, sino más bien una tensión medida y contenida de lo que se quería hacer. Entonces se llevo a cabo, con muchas contradicciones y muchas disidencias momentáneas, la realización de otros números, lo cual ocurre hacia mediados de 1998. Allí se involucran entonces con mayor visión pintores y fotográfos -Serqio González, Yamile Bedoya, Tony Pusey, Jorqe Camacho, Paul Delvaux y Juan Fernando Ospina, por no mencionarlos sino a ellos, que se van a relacionar con los “collages” que para entonces solo hacia y maravillosamente Luis Fernando Cuartas. Todo esto cambió y se llevó entonces el hilo sin Ariadna, hacia otro momentum que fortaleció lo que se llevaba hasta allí. -En este momento me acaba de llamar Luis Fernando y le he dicho que te hable un poco también él sobre esto. Es el azar objetivo, son las 9 y20 de la mañana: unas pocas tórtolas, una piscina, unos árboles, un poco de frío constituyen mi porción de paisaje: el sucederse o la vida. Recuerda el ensayo que hiciste sobre Enrique Molina, en ese devenir de este otro momentum, o instante de revelación. Eso es lo que ha movido la revista hasta aquí. Lo tenemos hoy, ya con otro momentum que es el de la intervención de Gabriel Jaime Caro y Eduardo Pelaéz, que se involucraron hacia 1976 en una experiencia también maravillosa que se llamo Siglótica, y que Caro continúo en Nueva York, cuando se instalo allí y que se llamo Realidad aparte, donde tú has participado. Ese nuevo momentum, ha comenzado ahora con el número 42, que próximamente tendrás. Observa como se dan las cosas, los que una vez no estuvieron y no pudieron estar en la comunidad y los que después de hacer sus propios viajes, viajeros de su sombra para decirlo al hilo de Nietzsche, de nuevo retornan al principio, lo cual indica que nunca abandonaron y huyeron de la verdad y de la esencia de su experiencia poética. La poesía es lo que es esencial y lo que importa, lo demás, son, sin duda los poetas. Punto Seguido, ha sido pues una experiencia y una búsqueda entre la realidad y la irrealidad, el sueño y la visión, la revolución y la rebeldía, contra el arribismo y la mediocridad, contra toda adhesión y adherencia, contra el formalismo y la vacuidad de la retórica. Esa ha sido su prueba y su condena, pero de la misma manera su liberación y su libertad.No ha cedido nunca a la extorsión ni a la mediocridad de nuestro medio. triplov alô música . revistas em destaque .. babel (brasil) diálogo entre editores: ademir demarchi & claudio willer CW - Conte algo sobre suas origens e procedência, inclusive sobre sua vida itinerante, de múltiplas residências e procedências. Apresente-se. Já havia feito periodismo literário antes de Babel? AD - Nasci em Maringá, no norte do Paraná, cidade relativamente nova pois tem apenas 56 anos de fundação – quase nasci com ela pois estou com 43 anos. Maringá foi criada de forma planejada a partir de loteamento feito por ingleses e julgo ser sua característica principal a belíssima arborização que chega a fazer túneis verdes em várias ruas ou nas amplas avenidas tomadas por ipês roxos e amarelos e sibipirunas, entre outras espécies. E há também uma catedral de 125 metros de altura, cônica, inspirada no Sputnik pelo bispo que a construiu, um símbolo fálico do poderio econômico daquela região de muita gente rude, inculta e gananciosa que, por isso, muito odiei. Vivi lá 25 anos, até me formar em letras/francês na universidade estadual local, que era paga – eu trabalhava durante o dia e estudava à noite indo de bicicleta dum lado pro outro. Foi um tempo muito interessante de formação sentimental, política e cultural. Iniciei na militância cultural fazendo cineclubismo, levando à frente um movimento iniciado por ex-militantes da esquerda, do PCBR, que caíram, alguns torturados e que encontravam nisso uma forma de resistência mantendo o silêncio quanto à política. Mas não durou muito isso pois naquele momento a militânica política era mais atraente. Sendo assim logo entrei para uma célula de uma organização trotskista, a OSI - Organização Socialista Internacionalista, mais conhecida por sua tendência estudantil, a Libelu, iniciada em Maringá pelo esforço do Luis Gushiken, atual ministro de Lula, que tinha lá um trabalho a ser feito por causa de um incipiente movimento sindical bancário de oposição. Fundamos o PT lá ao mesmo tempo em que começava a ser discutido no ABC e o legalizamos andando de porta em porta nos fins de semana, almoçando pão com mortadela e tubaína para fazer as filiações que o governo dos militares exigia como dificuldade para a criação do que então se acreditava ser um partido operário. Cheguei a ser candidato a deputado estadual nas eleições de 1982, cumprindo outra exigência para sua implantação. A candidatura era formal pois o que nos interessava era garantir o registro partidário e ganhar os diretórios estudantis da universidade, com aquelas chapas hoje impensáveis, como Solidariedade ou Outras Palavras – para marcar diferença com os estalinistas dos dois PCs. Esse movimento redundou em invasões de restaurante e reitoria e em queima de carnês, que levaram a uma conquista importante no Paraná: hoje as universidades estaduais são gratuitas e há uma alternância no poder – aqueles que se formaram nessa experiência hoje governam a cidade pela primeira vez pelo PT. Mas em 1985 me cansei da militância política e considerei esgotada por toda a vida a quota de tempo gasto em reuniões e fui-me embora da cidade. Morei um ano em Curitiba com a poupança que fizera em Maringá trabalhando seis anos em um escritório de contabilidade, onde era responsável pelo setor de pessoal de umas cem microempresas, e em outro de engenharia. Em Curitiba fiquei vagabundeando e vendo 3 filmes por dia nos espaços da Fundação Cutural e da Cinemateca. Cheguei a publicar com uma turma de alunos da Filosofia da Universidade Federal um jornalzinho escrachado, o Bundão, em que ironizávamos a mediocridade cultural de Curitiba e aquele cenário fake nacional em que se chorava a morte do Tancredo Neves. Fiquei nessa vida até arrumar emprego em Florianópolis, onde fui dirigir o setor de revisão do já finado O Estado, por 2 anos e meio, levemente interrompido para fazer uma viagem à Líbia, ainda por conta da ex-militância política – foi um passeio interessante ver os restos de fuselagem das bombas que Reagan jogou sobre a casa de Kadafi, sobre sua cama redonda que nos lembrava as de motel, o ódio que os muçulmanos já cultivavam aos norte-americanos desde criancinha, tal como vimos nas escolas com estudantes que mal sabiam escrever gritando palavras de ordem de ódio a Reagan; lá, olhando para o Mediterrâneo com um espanto admirado, de onde vinha um vento que sibilava pelas frestas do Hotel Bab El Bahar, passei o natal e o ano novo mais esquisito da minha vida. Em Floripa ainda fiz mestrado em literatura brasileira na UFSC estudando periódicos literários e depois vim morar em Santos-SP, seguindo minha mulher que veio trabalhar na prefeitura local. Tivemos um filho e concorri num concurso público a uma única e disputada vaga para a função de Redator na Câmara Municipal de São Vicente e passei, sendo desse trabalho que ganho a vida há mais de uma década. Durante esse tempo fiz doutorado em literatura brasileira na USP e experimentei dar aulas para ver se me afinava com essa atividade. Logo desisti diante da inviabilidade de ter dois desgastantes empregos e um projeto como o da Babel se iniciando e exigindo cada vez mais tempo. CW - Como é que surgiu a idéia de fazer Babel? Você já tinha essa intenção, de fazer uma revista, faz tempo, ou foi algo que aconteceu assim de repente num estalo em um ímpeto de inspiração? AD - A militância cultural de certa forma sempre esteve presente em minha vida, do cineclubismo à publicação de folhetos de poesia ou jornais estudantis, mas nada tão expressivo, foi acúmulo de experiência apenas. Na pósgraduação mantive esse interesse analisando vários periódicos ou suplementos como Letras & Artes (1947-53), Autores e Livros (1937-53), Pensamento da América (1937-53) (estes três do jornal A Manhã, do Rio); a Revista Americana (circa 1900 a 1925), e li várias das revistas dos modernistas, assim como me formei intelectualmente lendo O Pasquim, Versus, Opinião, Movimento, Revista da Civilização Brasileira e outros. Mas a Babel surgiu num dado momento em que, com a possibilidade da troca de e-mails, algumas amizades que estavam dispersas puderam se intensificar com uma troca mais viva e constante gerando discussões e a necessidade de um veículo que permitisse participar do debate de idéias e fundamentalmente estimulasse a reflexão e a escrita quebrando a sensação de isolamento e de falta de acesso aos veículos existentes. CW - Foi você, ou foram você e seus parceiros, Marco Aurélio, Mauro, Susana? Desde o início, o projeto teve caráter coletivo? Qual o papel ou função de cada um? AD - Sempre me correspondi com o Cremasco e o Mauro, em virtude da amizade que fizemos – o Cremasco foi colega na universidade e em folhetos de poesia que fazíamos, assim como o Mauro, que morava e estudava em Floripa, mas que só vim a conhecer depois que fui morar em Curitiba - ele fazia cinema, muito inspirado em Glauber Rocha, e escrevia em jornais e também em revistas que ele mesmo publicava, com uma postura constestadora que muito me agradava – chegamos, eu e Mauro, a discutir a publicação de uma revista, que teve um número apenas; passaram-se uns anos em que que todos ficamos equidistantes até que, com a possibilidade do e-mail, basicamente houve um reinício de conversa entre eu e cada um deles e logo isso se tornou um grupo e formou-se uma cozinha de discussão entre nós três, daí a idéia, incentivada por eles, de editarmos uma revista. Relutei mais de um ano porque não acreditava muito que isso fosse dar certo devido à absoluta heterogeneidade de idéias entre nós. A idéia por fim se impôs sobre as diferenças e decidimos que a revista devia ser aberta e não se caracterizar como sendo de um grupinho, como em geral é o que acontece, devendo se diferenciar por refletir a cena contemporânea com ecletismo de vozes, publicando alguns consagrados e muitos novos que julgássemos interessantes. Para viabilizar isso acertamos que, dado o caráter aberto da revista, convidaríamos várias pessoas para participar. Dos que convidamos apenas a Susana abraçou a causa e alguns outros se tornaram com o tempo colaboradores eventuais. Somouse a nós o Amir Brito Cadôr, de Santos, que agora mora em Campinas, onde estuda Artes Plásticas, e faz a edição gráfica da revista; e também o Paulo de Toledo, que mora em Santos e é redator de propaganda, tem dado apoio. Ela é deficitária, ou seja: pagamos do nosso bolso rachando as despesas, à exceção do primeiro número que foi pago graças a um patrocínio conseguido pelo Mauro, de uma rede de supermercados, e que possibilitou um arranque inicial importante. Quanto à função de cada um, dividimos tarefas conforme nossas possibilidades; em geral cada um tem suas leituras e traduções e sugere o que gostaria de ver publicado. O Mauro tem feito uma espécie de relações públicas com estrangeiros, enquanto eu dou mais atenção aos escritores locais, a Susana faz uma ponte na universidade, o Marco e o Amir são livres atiradores. Vamos discutindo uma pauta que vai se formando e fechamos a edição buscando alguns ganchos que dêem a ela um rosto. Com a falta de grana as edições têm se tornado anuais, o que dispersa demais a discussão, mas possibilita que cada um use o tempo em suas próprias reflexões, afinal editar uma revista toma um tempo danado pois há dezenas e dezenas de pessoas querendo publicar, saber o que achamos de seus textos e ler isso, selecionar, traduzir, responder... toma muito tempo, um tempo que tem que ser encontrado entre o trabalho pra ganhar a vida e a família. CW - A propósito, como é fazer revista com um corpo de editores translocal, cada um morando em um lugar diferente? Sem a informatização e a net, isso seria possível? AD - Moro em Santos, o Mauro e a Susana em Florianópolis e o Marco e o Amir em Campinas. A discussão vai se dando aos poucos por e-mail, até fechar a edição. Já nos encontramos várias vezes e eu pessoalmente os vejo com regularidade maior – já houve um debate intenso em grupo mas essa possibilidade se esgotou e creio não ser mais possível dada a diferença de pensamento entre todos; desse modo, tenho sido o fiel da balança coordenando a continuidade da revista, com 5 edições publicadas e a sexta em andamento – o que não quer dizer que não tenha tido desavenças com os outros editores – tive e as superamos, creio que porque já éramos muito amigos bem antes de começar essa cozinha que tem sido a revista. Com certeza fazer uma revista como a Babel seria muito mais difícil, talvez impossível, sem a internet e a fazemos com certa obstinação porque é uma referência importante, um estímulo que alimenta o trabalho de cada um. CW - Você partiu de alguma reflexão crítica sobre o jornalismo literário atual, uma intenção de preencher um espaço vazio, cobrir uma lacuna, algo assim? AD - Discutimos muito isso pois achávamos que lá por 1998 a 2000, quando começamos a pensar na Babel, havia creio que apenas a Inimigo Rumor, muito circunscrita a um grupo do Rio, que considerávamos fechada, e a Medusa, de outro grupo do Paraná, com pouco espaço, a Cult, sem espaço naquele momento e mais comercial; havia o SL-MG, e a Dimensão. O fato é que não era fácil ser aceito nesse clubinhos – todos enviamos poemas a vários e não deu liga; nunca fomos dados a lobby, de insistir até dar em alguma coisa. Diante disso concluímos que o cenário precisava de uma revista mais aberta, que mostrasse de forma mais ampla e crítica a riqueza da produção contemporânea, tida por nós como uma Babel multifacetada que não cabia mais em caixas de ferramentas tão específicas como era o caso da Inimigo publicando de certa forma apenas herdeiros do modernismo e a Medusa não muito interessada em novos desconhecidos. Era o que achávamos naquele momento. Há uma diversidade maior de publicações hoje - Inimigo Rumor, Sibila, Coyote, Sebastião, Rodapé, Etc, Cacto, Rascunho, Ácaro, SL-MG, Iararana, O Escritor, Salamandra/Camaleoa, Ponto Doc, Gazua, Cult além das inúmeras eletrônicas e blogs que já parecem apontar a revolução do celular, um homem, um celular – um homem, um site… CW - Admitida uma divisão de Babel em setores - inéditos de autores brasileiros, traduções, artigos e resenhas, entrevistas e depoimentos -, qual deles está mais bem resolvido? AD - Penso que a publicação de poesia brasileira contemporânea está bem resolvida e sempre abrangente, tendo alcançado um bom resultado na edição 5, a qual, somada às anteriores, dá um painel interessante do cenário nesta década 00; os depoimentos e entrevistas também têm sido pontos fortes na revista, assim como as traduções de estrangeiros contemporâneos que até poderia ser mais ampla se tivéssemos mais espaço, no que poderíamos reforçar ainda mais a idéia de Babel, pois o contato facilitado com estrangeiros hoje é algo concreto também – temos feito algum trabalho especificamente com argentinos, mas há contatos com norte-americanos, portugueses, franceses e escoceses. Há pouco espaço, porém, para resenhas e críticas, sendo impossível resenhar ou criticar tudo que sai publicado. CW - Continuarão os debates, provocações e exercícios de pluralismo em Babel? Há uma intenção deliberada de procurar matérias e entrevistados que possam gerar polêmica, de Waly Salomão a Raúl Antelo? AD - Trata-se de um diferencial interessante e temos buscado isso pois o que se vê em geral nas publicações são apenas entrevistas mornas, mais empenhadas em conhecer o escritor ou ressaltar o seu mais recente trabalho, fato que nem por isso as torna desinteressantes, mas pensamos que a revista deveria ter essa peculiaridade, provocar e abrir espaço para quem quer dizer o que normalmente não se diz. Temos tido boa receptividade pois as entrevistas ou depoimentos de Waly Salomão, Paulo Franchetti, Glauco Mattoso, Raúl Antelo e Daniel Muxica têm esse diferencial de sair do lugarcomum. Mas há também entrevistas interessantes como as de Luiz Nazário e Milton Hatoum e uma que considero histórica pela sua abrangência e objetividade, com Boris Schnaiderman. CW - O que você gostou mais de publicar em Babel, quais matérias e autores lhe proporcionaram especial prazer por ter podido fazê-los saírem? AD - O depoimento de Waly Salomão foi um, não só por ser incomum uma vez que ele nunca foi dado a entrevistas ou testemunhos como o que saiu em Babel, o que está bem evidenciado lá. Foi um momento de sinergia interessante, em que ele interagiu com as pessoas e o ambiente e falou do seu trabalho e de outros. Gosto dessa interatividade que a entrevista permite, por isso elas são algo que me deram prazer fazer na revista. Mas não é só isso. Não consegui, por exemplo, um depoimento do Sérgio Rubens Sossélla, um escritor algo obsessivo que mora no interior do Paraná e já publicou cerca de 300 livros de forma artesanal. Passei uma tarde tomando café e conversando com ele em sua biblioteca em Paranavaí enquanto ele fumava pequenos charutos e esse foi um prazer que não pude dividir com ninguém porque tive que desligar o gravador. Mas daí saiu uma amizade e uma troca e ele passou a ser uma espécie de colaborador da Babel pois seus textos têm sido publicados nela com regularidade. Ou seja: o trabalho com a revista tem possibilitado encontros, trocas, conhecimento e permitido que não se fique no isolamento que pode levar à estagnação. A publicação da revista levou também à elaboração de um outro trabalho que julgo importante, que foi o convite da Imprensa Oficial do Paraná, através do crítico Miguel Sanches Neto, para elaborar uma antologia que resultou no livro Passagens – Antologia de poetas contemporâneos do Paraná, com 28 escritores, que fiz buscando fazer um balanço da produção desses poetas e também para expor alguns problemas, não de todos, mas comum naquele Estado, como a sombra do Leminski e a praga do haicai. Fora essa interatividade, há o prazer de publicar novos autores ou que estejam subvalorizados ou desconhecidos, mas que são interessantes, como Jairo Batista Pereira, que ganhou um impulso positivo depois de sair em Passagens – publicou um livro pela Editora Medusa e teve uma seleção de poemas na Coyote, assim como Marcelo Ariel, um poeta humilde de Cubatão que saiu em Babel e depois na Cult e tem, com isso, obtido uma valorização que talvez não conseguisse facilmente. Mas há outros casos, como ter publicado poemas de Milton Hatoum, uma entrevista com Boris Schnaiderman bem interessante, e a possibilidade de fazer um mapeamento da produção contemporânea diferente das outras revistas, mas que a elas se soma. CW - E o que falta fazer, o que precisa melhorar? AD - O problema fundamental de uma revista como Babel é o de como pagá-la. Já tentamos via projeto pela Lei Rouanet mas não conseguimos captar dinheiro. Vamos tentar novamente. Outro problema é que geralmente os textos estão um tanto expremidos mas precisam sair naquele espaço e naquele orçamento. Se tivéssemos melhores condições os textos poderiam ser valorizados, respirar melhor na revista, poderíamos melhorar a apresentação gráfica com ilustrações que sempre estiveram subutilizadas porque o que mais importa é o texto e sobretudo há necessidade de aumentar o número de páginas para pelo menos umas 180 por edição, cuja regularidade ideal seria a semestral e não anual como ocorre atualmente. Em termos de conteúdo, a leitura crítica de livros e reflexões sobre poética mereceriam mais espaço. CW - Tiragem de algumas centenas de exemplares - isso é inserção na elite cultural ou contingência? Há chances de crescimento? AD - Certamente que é contingência pois simplesmente não existe um sistema de distribuição no Brasil que possibilite a existência de pequenas publicações. Ou se está ancorado numa editora que tem um catálogo e cuida disso (como Inimigo Rumor e Sibila) ou se está fora do mercado, mesmo porque é impraticável ficar enviando revistas a várias livrarias e ficar administrando isso, quando o mais importante para os poetas que se reúnem em torno de revistas é escrever, publicar e circular seu trabalho entre os leitores ou os que estão envolvidos com essa atividade. Com patrocínio, no entanto, fica mais fácil, como é o exemplo das revistas Medusa e Coyote que, sem precisar se preocupar com seu custo (financiadas por leis de patrocínio municipal respectivamente em Curitiba e Londrina, possibilitando também uma tiragem maior para distribuição), conseguiram distribuição via Editora Iluminuras. No caso de Babel, em que praticamente a custeamos com nossos recursos, não é possível uma tiragem maior que 400 exemplares. Porém, com essa tiragem atingimos nosso objetivo, que é fazer a revista circular entre um número significativo de escritores no país e fora dele. Ou seja, por falta de recursos a revista acaba confinada a essa elite que você menciona mas o que importa é que ela exista e circule pelo menos entre esse conjunto de leitores, o que já considero uma proeza neste país de triste miséria cultural em que nem com uma lei de incentivo que prevê resgate de 100% do total investido em livro se encontre empresário disposto ao patrocínio. De minha parte não me encanto com a falácia iluminista, ou populista, de “formar leitores”, de sair de porta em porta vendendo esse peixe, daí que quando decidimos fazer a revista um pré-requisito foi o compromisso de dividirmos as despesas quando não se conseguisse patrocínio e, resolvendo a questão da distribuição, enviá-la às pessoas mais atuantes na área. CW - Que lhe parece o aumento, quando não proliferação de revistas de poesia e periódicos literários? Teria destaques, positivos ou negativos, comentário sobre alguns deles ? AD - Temos hoje cerca de 10 revistas impressas dedicadas à poesia no Brasil (Inimigo Rumor, Poesia Sempre, A Cigarra, Azougue, Babel, Sebastião, Cacto, Sibila, Coyote e Etc; Lagartixa e Gazua, só de poemas, e outras como Cult, Rodapé, Teresa, Ácaro, Iararana, Calibán e Literatura, ou jornais que a ela dedicam espaço como Rascunho, SL/MG, O Escritor – e acho importante mencionar também a revista Medusa, que embora tenha se extinguido após 10 edições, de certa forma faz parte desse cenário, também ocupado em parte por Dimensão, graças à legião de um homem só que é o Guido Bilharinho), o que é um número insignificante para um país imenso como o nosso, em que a quantidade de leitores é irrisória e de compradores menor ainda. Por outro lado, essas publicações praticamente dão conta do registro do que há de significativo no país contemporaneamente e, como uma rede, umas se somando às outras, há interligações com escritores de outros países também. Logicamente, considerando-se que nessa economia sem sistema literário ter 10 revistas feitas por poetas, além dessas outras mais amplas em conteúdo, é um acontecimento, pois várias surgiram motivadas pela necessidade de ampliar o espaço sempre insuficiente para acomodar novos escritores. São publicações muito diferentes umas das outras, algumas mais importantes, outras menos - pelo conteúdo que estampam, mas prefiro lê-las no conjunto, de onde se extrai uma riqueza de leituras, traduções e experiências que vão do regionalismo desproblematizado, passando pelo esforço de continuidade da herança modernista, e até mesmo pelo impulso pop e contracultural vindo dos anos 60/70, que se atualiza pelo vigor acrescentado por novos meios como a internet, sites e blogues. Acho particularmente interessante a experiência ocorrida com Inimigo Rumor, a mais antiga, com 14 edições, que, depois de 10 edições, o que já é um fato a se comemorar, passou a ser co-editada com um grupo de Portugal, criando-se um novo influxo à sua existência, trazendo às páginas um calor de debate que antes não era comum, porque muito circunspecta. Na edição 12, por exemplo, um ensaio de Marjorie Perloff sobre como se resenha poesia nos EUA, traduzido pelos portugueses, abriu um debate muito relevante, perfeitamente apropriado ao Brasil, que repercutiu na edição seguinte e teve na Cacto também uma resposta. A herança modernista às vezes é um fardo que extrapola dos poemas e chega a dar a ela uma aparência acadêmica, universitária, no que acaba por ser um ótimo contraponto para as outras revistas, mais irreverentes, que apostam mais no risco e não estão tão preocupadas com “a obra”, “a biografia” e outras cenouras idealizantes. Poesia Sempre, além de estar presa aos humores oficialescos, tem tido uma história um tanto beletrista, de e com fiducidade na ABL, mais para uma literatura acomodada, no que Calibán se parece com ela, assim como Literatura e Iararana que, além disso, em doses diferenciadas, apresentam também características regionalistas, desproblematizadas, que as confinam. Acho muito boa também a Sibila – num primeiro momento pareceu girar demais em torno de Regis Bonvicino, mas cresceu em conteúdo e seu olhar para a literatura e arte norteamericanas, contra, por exemplo, uma Inimigo Rumor européia, é enriquecedor para nosso cenário. O investimento de Sebastião, assim como Rodapé, em análises das obras dos poetas em atuação é fundamental para quem está escrevendo agora (é importante frisar isso porque em geral faz-se isso na academia, nas universidades, mas em geral em relação a obras que chegaram ao ponto final da morte do escritor). Com duas edições, considero a experiência de Sebastião, além de inédita, interessantíssima por nos dar de forma específica os modos de se ler os poetas contemporâneos e seus métodos, por eles mesmos. A Cacto, com duas edições, parece percorrer o caminho da primeira fase da Inimigo Rumor, marcada até no formato pela circunspecção e com ótimo investimento em poemas e reflexão sobre poéticas brasileiras, com interesse pela geração que deu base para a Inimigo Rumor, afinidade afinal registrada no editorial do primeiro número. Já a Coyote, colocada ao lado dessas revistas todas, a Babel inclusive, causa um choque pelo tratamento visual dado ao texto, com o luxo de ter designers gráficos, os poetas Marcos Losnak e o também editor Joca Reiners Terron – cujo ótimo trabalho na editora Ciência do Acidente é um capítulo à parte nesse cenário; a poesia não é o único interesse na Coyote, pois o que a ordena é um conceito de cultura que expande a idéia de texto e assimila todas as manifestações artísticas, da poesia à história em quadrinhos, semioticamente; essa distinção em relação às outras publicações me parece explicável pelo fato de que seus editores são jornalistas, ou formados nessa área, possibilitando essa outra forma de fazer uma publicação, experiência que se verificou também na revista Medusa, embora lá a tônica visual fosse nas artes plásticas. É interessante nessas duas a postura contracultural e a predileção pela cultura beat. Na nova revista Etc o trato visual é também um diferencial, menos contaminado que na Coyote, e com exuberância para o texto, orientada pelo interesse em “literatura & arte”. Porém o que mais me chama a atenção em todas essas publicações, o que é comum nelas, é a atenção que têm dado a escritores latino-americanos - cubanos, mexicanos e outros, mas sobretudo argentinos, mantendo um interesse que sempre foi marcante em nossa cultura – um dos objetivos apregoados pela Etc é o de ser uma revista “do Brasil para as Américas”, ou algo assim, conforme vi num informe, tal como muitas revistas já fizeram no Brasil. Quanto à Cult, acho importante seu papel de formadora de leitores por ser uma revista distribuída em bancas, com outro formato – nesse sentido também é valioso o espaço nela chamado Radar, dividido em Gaveta de Guardados e Criação, dedicados a textos inéditos e a novos escritores, além do que eventualmente ela cobre com esforço o que se escreve e publica de interessante por muitas pequenas editoras que não existem para as grandes publicações, procurando ousar, como na recente edição dedicada a Paulo Coelho, resenhando sua obra e dedicando uma crítica demolidora ao mais recente livro dele – ou indo entrevistar um autor que ninguém quer saber, como é o caso de Mário Chamie, ainda que meio que se desculpando por o estar entrevistando. Finalmente, caberia uma nota ao Rascunho, que julgo importante pelo espaço que dedica à resenha do que se publica no mercado, variando em qualidade, mas com cobertura que nenhum jornal mais se digna fazer; é valioso o espaço que dá a poemas, traduções e a entrevistas que podem ser consideradas históricas pelo tamanho e amplitude – veja-se uma feita com Luis Vilela ou outra com Bernardo Carvalho, entre várias outras. Seu cacoete, porém, é um certo encanto com o opinionismo que teve em Paulo Francis seu modelo – aquele da “metralhadora giratória”, que parece encantar particularmente o Polzonoff. É um jornal feito por jornalistas – leitores -, ou seja, sob esse aspecto, de fora do meio, pois não fiquei sabendo ainda de pretensões literárias deles. A postura que muitos consideram belicista, de diatribe, comprovada em artigos contra o Marcelo Mirisola, o Sebastião Uchoa Leite e agora o Arnaldo Antunes, prefiro ver como irreverência e acho mesmo que eles têm a vocação de serem o Casseta & Planeta literário nesse cenário – há um senso de humor divertido naqueles comentários. Todas as publicações são sérias – ou circunspectas - demais, salvo uma ponta de ironia na Coyote e a irreverência da Ácaro – que por exemplo tem um suplemento chamado Menas! - Suplemento de Domingo, para gozar o Mais! da Folha e o Jornal do Brasil. Essa postura das publicações é uma expressão sintomática do próprio meio, que às vezes parece um pasto, tantas as vacas sagradas – ou elefantes.. – que não podem ser abatidas por nenhum tipo de crítica que logo se parte para a ignorância (Mirisola quis esmurrar o editor do Rascunho num bar) ou se motiva abaixo-assinados e movimentos em defesa da moral e dos bons costumes das letras – há uma contradição aí - ou tijolaços ensaísticos como os que se sucederam em defesa do Elefante e da poesia de Chico Alvim – que acho deliciosa (ocorridos na Folha, particularmente no Mais! e no Jornal de Resenhas, por Roberto Schwarz, assim como em outros veículos após crítica feita no Estadão por Paulo Franchetti.) Trata-se, em verdade, de um meio muito apaixonado, de aficcionados, o que é superlegal, em que o percentual de egos blindados por metro quadrado é muito alto, daí ser possível entender por que essa poesia que se diz nada valer motiva tanta raiva, como a exposta no debate circulado pela rede, havido entre os ex-editores da Medusa e agora entre os editores da Etc. Mas a poesia passa ao largo, como num poema: “Vai-se/ passa por uma coluna/ e outra/ não olha/ dobra um vidro/ a última pilastra/ desaparece” – e aí está. CW - Como é isso, reportando-me a conversas nossas e depoimentos seus, da concentração de novas publicações literárias na região Sul-Sudeste? Isso tem lógica, alguma explicação? AD - A maioria estão em São Paulo e Rio de Janeiro por serem naturalmente as grandes metrópoles do país e reunirem condições para isso. Mas é realmente um fato curioso que haja uma efervescência delas, principalmente no Paraná, onde hoje temos a Coyote (com 5 edições), a Etc (com 2), a Babel (com 5 e a sexta em preparo – embora não seja feita lá, ela tem quatro editores nascidos no PR e com fortes vínculos locais), além da recente e extinta Medusa (10 edições), do Radar (2 edições, pela Imprensa Oficial do PR) - certamente lastreadas numa tradição marcada pelas mais importantes que são: Joaquim, publicada por Dalton Trevisan nos anos 1946-8 (recentemente reeditada integralmente tal como era, pela Imprensa Oficial do PR), Nicolau, tablóide publicado nos anos 80 por Wilson Bueno, Raposa, tablóide publicado por Miran nos anos 80, Ran (publicada em Londrina pelos editores da Coyote, nos anos 80) e até mesmo a estupenda revista Gráfica, a mais importante, creio, da América Latina, na área de artes gráficas/arte (mais de 40 edições, ainda circulando, editada por Miran – há uma edição especial nas bancas, publicada pela Escala). Ou seja, pode-se sugerir que essa tradição seja disseminante pois é impossível fazer uma publicação de qualidade no Paraná desconhecendo a riqueza dessas outras que são exemplares na forma como se colocaram em seu tempo, sem se afundar no regionalismo e no bairrismo mediocratizante e dialogando com o melhor que se fazia no país e fora dele. O Paraná é um Estado de colonização recente – veja-se o caso do hoje rico norte do Estado em que há cidades como Londrina e Maringá, que têm cerca de 50 anos de fundação - a literatura produzida no Paraná esteve sempre circunscrita a Curitiba, por ser capital e por estar integrada de forma sistêmica à vida nacional, enquanto que o interior do Estado, de colonização incipiente, cujas maiores cidades têm poucas décadas de existência, somente começou a ter escritores e vida cultural muito recentemente. Muitas dessas publicações têm sido feitas por escritores oriundos desse velho oeste (o poeta Sossélla tem grande prazer em se imaginar um pistoleiro em seus poemas, tributário do cinema clássico mas também dessa vida no interior), que hoje é uma região de grandes cidades industrializadas, em que a pobreza não é tão evidente quanto em outros locais, embora exista, e que tem produzido artistas e escritores cuja obra é marcada pela crítica social e política e pela irreverência: Cambé, Arrigo Barnabé, Domingos Pellegrini Jr, Wilson Bueno, Itamar Assumpção, Laerte, entre tantos outros, aos quais se somam os das novas gerações. No Rio Grande do Sul curiosamente não têm havido – pelo menos que eu saiba – revistas como essas comentadas aqui, embora lá haja um importantíssimo e muito peculiar mercado editorial que tem vida própria, com escritores, editoras e o que é mais incrível, leitores. Há, claro, o Eduardo Sterzi, que é gaúcho, mora em São Paulo e coedita com o Tarso de Melo a Cacto, fato esse que não quer dizer nada naquela revista. Já em Santa Catarina há várias editoras que surgiram nos últimos anos ou década e têm publicado poesia, como a Semprelo, depois transformada em Letras Contemporâneas, cujo editor é o Fábio Brüggemann, ou a Letradágua, do Joel Gehlen, atualmente fazendo um trabalho mais importante que a Semprelo ao publicar poesia. No entanto lá também não têm havido revistas, embora haja um movimento no sentido de mudar isso, cuja tentativa importante foi a Linguarudos, publicada por Dennis Radünz e Joel Gehlen no final de 2000, mas que não teve continuidade, embora tenham a intenção de retomá-la este ano, o que seria um fato importante, tendo em vista que as publicações lá existentes que se dedicam à literatura e às artes, salvo uma ou outra exceção na universidade (Cadernos de Tradução, Travessia, Boletim do Nelic), são oficiais e inócuas e enterradas no bairrismo. A título de fait divers, como em Florianópolis moram dois dos editores da Babel, ela já foi chamada de catarinense nos jornais locais, segundo essa forma de pensar e apropriar das culturas locais, que é muito forte fora dos grandes centros mais urbanizados São Paulo e Rio, o que considero um problema pois é engessante do pensamento ao cair no regionalismo estéril, muitas vezes rural, sem problematização, reforçado pelas falácias da globalização. CW - Para terminar, faça comentários sobre periodismo eletrônico em geral e Agulha em especial. Aliás, a propósito, conexão ibero-americana o tem interessado? E conexão lusófona? AD - A Internet de fato proporcionou uma revolução de comunicação pois as mais diversas e impensáveis revistas estão às nossas mãos no mundo todo, o que é um problema, pois mal damos conta de lermos os livros e publicações impressas. Mas não poderia ser diferente, pois é muito mais simples e econômico fazer uma revista eletrônica que uma impressa, além do que o público que se atinge é infinitamente maior – o trabalho de contatos com o público e escritores e sua elaboração é o mesmo, a diferença fundamental está na sua finalização e circulação. Essa nova realidade exige versatilidade de leitura, seleção e compreensão de ainda mais línguas e linguagens, o que é desafiador e estimulante pois está havendo uma intensificação de criatividade com a proliferação de meios. Escreve hoje para a gaveta quem quer, não por imposição – ainda que se possa encontrar gente que escreve à mão por impossibilidade econômica, social e política de acesso a um computador, conforme vi recentemente em Cubatão. Tenho acompanhado o trabalho de alguns sites e revistas eletrônicas, muitos de forma esparsa, caso dos portugueses, de língua espanhola e outros. No Brasil leio regularmente a Agulha, na qual já tive ensaio publicado, com alguns ganchos em outras revistas amigáveis como o TriploV, acompanho a Tanto, a Weblivros e sempre dou uma olhada em outras publicações. Ou seja, tenho uma relação de leitor com esse meio uma vez que não me interessei em participar dele criando um site, um blogue ou uma revista eletrônica, ainda que temos pensado em disponibilizar as edições da Babel na rede. Sei que há aí um terreno imenso de possibilidades a se explorar, porém falta tempo para isso e tem sido divertido essa excrescência que é fazer uma revista impressa, o que, por enquanto, tem nos bastado. No caso da Agulha, gosto da interatividade que há nela, o tratamento gráfico é primoroso e as seções “galeria de revistas” ou “revistas em destaque” são de uma importância de registro histórico incomum, assim como o conteúdo, com particular destaque para o material sobre surrealismo, investindo num campo pouco valorizado no Brasil. Por fim, a porta de entrada que se abre para o mundo hispânico nela com links para outras publicações é instigante, estendendo um trabalho do Floriano Martins com essas publicações que já tive oportunidade de ver exposto. [diálogo realizado em julho de 2003] . revistas em destaque .. corner (estados unidos) diálogo entre carlota caulfield & maria esther maciel Carlota Caulfield é uma poeta afeita à diversidade. Cubana, de ascendência irlandesa, nasceu em Havana, em 1953. Viveu em várias cidades européias e norteamericanas e atualmente leciona literatura espanhola e latinoamericana no Mills College de Oakland, California. Em diálogo com as poéticas de vanguarda e com várias tradições do passado, como a arte renascentista, o barroco hispânico, a literatura greco-latina e o ocultismo medieval, ela vem construindo uma obra poética marcada pela experimentação de formas, pela ousadia temática, pela exuberância da linguagem e por uma erudição altamente criativa. É autora dos livros: Fanaim (1984), Oscuridad divina (1985 & 1987), A veces me llamo infancia/Sometimes I call myself childhood (1985), El tiempo es una mujer que espera (1986), 34th Street & other poems (1987), Angel Dust/Polvo de Angel/Polvere D'Angelo (1990), Visual Games for Words & Sounds. Hyperpoems for the Macintosh (1993), Libro de los XXXIX escalones/Libro dei XXXIX gradini (1995), Estrofas de papel, barro y tinta (1995), A las puertas del papel con amoroso fuego (1996), Book of XXXIX steps, a poetry game of discovery and imagination. Hyperpoems for the Macintosh – CDROM (1999), Quincunce (2001), Autorretrato en ojo ajeno (2001), At the Paper Gates with Burning Desire (2001) e Movimientos metálicos para juguetes abandonados (2003). Recebeu vários prêmios literários, dentre eles o Prêmio Internacional "Ultimo Novecento" (Italia, 1988), o Prêmio Internacional "Riccardo Marchi-Torre di Calafuria" (Italia, 1995) e o Primeiro Prêmio de Poesia Hispano-americana "Dulce María Loynaz" (Espanha, 2002) além de mençõs honrosas no "Premio Plural" (México, 1992), no Premio Internacional "Federico García Lorca" (Estados Unidos-España, 1994) e no “Latino Literature Prize”, do Instituto de Escritores Latino-americanos de New York, em 1997. É também editora da revista eletrônica Corner (http://www.cornermag.org), publicação inteiramente dedicada às vanguardas internacionais e latinoamericanas. Na entrevista que se segue, Carlota Caulfield fala sobre a pluralidade temática e formal de seu trabalho, seus trânsitos em várias tradições, a experiência do exílio e as vozes femininas da poesia cubana contemporânea. [M.E.M.] MEM - Pode-se dizer que a sua poesia, ao manter um diálogo criativo com diferentes campos do saber, é um convite sempre instigante ao exercício da pluralidade. Você não circunscreve sua palavra ao espaço apenas da literatura, mas busca na filosofia, nas ciências ocultas, nas artes plásticas e visuais, nas tecnologias contemporâneas e na história muitos elementos para o seu processo de criação. Você poderia falar um pouco sobre essas interseções de sua poesia com outras áreas? CC - Minha poesia é um coro de muitas vozes, uma pele com múltiplas tatuagens. Severo Sarduy definiu sua escritura como travestismo, metamorfoses contínuas, referências a outras culturas, mescla de idiomas, múltiplos registros de vozes, enfim muitos gestos. Estas idéias de Sarduy me seduzem e se aplicam perfeitamente à minha poesia. Com registros diferentes, minha poesia celebra muitos gestos. Na primavera de 1997, a revista norte-americana ANQ editou um número especial dedicado à influência da poesia norte-americana na obra de escritores hispânicos. Edward Stanton, o editor desse número, convidou-me para colaborar. Eu não queria escrever um ensaio tradicional, pois isso não iria responder à minha verdadeira relação com a literatura norte-americana. Ou talvez deva dizer, em meu caso, a cultura norte-americana. Ocorreu-me um ensaio bastante livre, à maneira de uma colagem, a que dei o título de “From Mickey Mouse to Jack Foley; Chorus with Multiple Tattoos” (De Mickey a Jack Foley. Coro com múltiplas tatuagens). Digo que nesse ensaio apareceram muitos autores, músicos e personagens de cartoons... me fascina o que disse John Cage sobre as influências em suas composições, esse “Here Comes Eveybody” que o compositor norte-americano tomou emprestado do Finnegans Wake de James Joyce. Assim que meu HERE COMES EVERYBODY inclui Mickey Mouse, o Gato Félix, Super Pipo (Goofy), Edgar Allan Poe, T.S. Eliot, Ezra Pound, Henry Miller, Anaïs Nin, Anne Sexton, Mina Loy, Isaac Bashevis Singer, Autor desconhecido, Louis Armstrong, Billie Holiday... para citar apenas alguns dos convidados à festa. Creio que meu pai, Francis Caulfield, foi quem me iniciou nessa dança de vozes. Não só alimentando meu apetite com certos clássicos da literatura norte-americana, mas também com a música. Talvez tudo venha de minha extraordinária paixão pelos dicionários. Meu grande tesouro quando eu tinha 7 anos era um Larousse ilustrado que eu protegia com intensa paixão. Também descobri na curiosa biblioteca de nossa casa um livro sobre Paracelso. Assim começou minha paixão pelos alquimistas. Anos mais tarde, em 1981, quando vivia em Zurique, não apenas me deleitei enormemente passeando pelos portais em que Paracelso havia pisado, como também pude consultar alguns tratados originais de alquimia na Biblioteca Central da cidade. Se você for ao meu Libro de los XXXIX escalones, um dos poemários mais “tatuados” de minha obra, vai encontrar muitas referências à alquimia, à pintura – em particular a surrealista (o livro está dedicado à pintora Remedios Varo) – e ao autobiográfico. Além das edições limitadas desse livro (uma em espanhol-inglês, publicada em Los Angeles; e a outra, em espanhol-italiano, publicada em São Francisco-Veneza,), o Libro de los XXXIX escalones saiu também em formato CD-Rom, em 1999, com o subtítulo: “ a poetry game for discovery and imagination”, pela InteliBooks, na Califórnia. O formato multimídia é quase ideal para o tipo de poesia que gosto de fazer, um tipo de poesia hipertextual. O mais importante desses poemas eletrônicos é que são interativos. Cada ação do "leitor" -- clicar uma tecla, apertar um botão eletrônico no mouse, etc.-- gera uma reação do poema. Textos que estavam ocultos se mostram ou adquirem vida própria e algumas vezes são acompanhados de música e sons. De fato, grande parte do livro está oculta à primeira vista e depende da curiosidade do leitor descobrir esses aspectos de hipertextualidade e intertextualidade latentes nos poemas. Meus trinta e nove poemas dialogam com a pintura renascentista, a poesia sufí, a alquimia, o misticismo judeu, a vanguarda e minhas memórias pessoais, tanto escritas como fotográficas. O livro foi criado como homenagem ao labirinto da imaginação e aos meus gatos, em particular a Amach, felino adivinho com poderes de parapsicologia, um total mestre Zen, que morreu em setembro do ano 2001. O teatro e a performance também influenciaram minha obra, mas acho melhor não entrar nesse tema, porque ainda há outras perguntas pelo caminho. MEM - Um outro aspecto de seu trabalho poético é o experimentalismo. Você tem buscado sempre novas configurações de linguagem para seus textos, sobretudo no campo das tecnologias contemporâneas. Como você definiria sua relação com as estéticas de vanguarda? CC - No que se refere ao experimentalismo, cito como exemplo de uma de minhas primeiras aventuras no computador o disquete Visual Games for Words & Sounds. Em 1993, desenhei com Servando González esse livro eletrônico de hiperpoemas, aos quais chamei collaged poems, termo do poeta norte-americano Jack Foley. Esse livro experimental foi pensado como uma homenagem à vanguarda internacional e ao misticismo. Há poemas na linha DADA que jogam com idéias budistas, referências à literatura espanhola medieval e a Joyce. Neles, Cage volta a ser uma presencia importante, assim como a música do compositor norte-americano Alvin Curran. Há poemas em inglês, alemão, espanhol e italiano. Os poemas ainda fazem uma homenagem à dança moderna (eu havia assistido a uma oficina de dança com uma aluna de Alvin Alley e me sentia inspirada) e, como sempre, trazem também o autobiográfico. Desse modo, viajei por diferentes temas e experiências que estão muito relacionadas com minha vida. Foi muito divertido criar esses jogos visuais, que hoje já são parte do passado. Impossível vê-los nos novos computadores. Talvez possamos falar de uma arte efêmera de computador. Meus collaged poems foram um produto típico de nosso tempo, onde tudo padece de una rápida condição de perecimento. Poderíamos seguir falando de experimentação por muito tempo. Sou uma apaixonada pela vanguarda, tanto a européia quanto a hispano-americana, e desde o ano de 1994 tenho estado muito atenta ao que acontece na poesia experimental catalã. Passei longas temporadas em Barcelona e pude participar do movimento catalão de poesia experimental. Entre meus bons amigos catalães estão alguns poetas visuais como Xavier Canals. Barcelona foi, desde 1890, um centro importante de poesia experimental (pensemos nos caligramas de Antoni Bori i Fontestá e nos caligramas e poemas visuais de Josep María Junoy y J.V. Foix), e é hoje em dia um dos centros mais dinâmicos de poesia experimental do mundo. Você encontra na Catalunha um movimento de polipoesia que tem uma grande força. O termo poesia experimental, no caso, reúne muitas tendências: poesia visual, poesia concreta, poesia objeto, poesia sonora, poesia fonética, poesia vídeo, poesia ação. Alguns dos poetas mais conhecidos são Joan Brossa e Guillem Viladot. Outros poetas inovadores são Xavier Sabater, Carles Hac Mor, Esther Xargay, Enric Casassas, Albert Subirats, Bartomeu Ferrando, Pere Sousa, Josep M. Calleja e Eduard Escoffet. Eu mencionaria ainda meu trabalho como editora de Corner, revista eletrônica dedicada a la vanguarda (http//www.cornermag.org). Corner nasceu graças ao meu interesse pela poesia visual catalã e ao grande estímulo de Xavier Canals e do fotógrafo Teresa Hereu. O primeiro número do outono de 1998 foi dedicado à vanguarda catalã, e nela os leitores podem ler uma entrevista chave de Canals com Brossa. No ano de 1999, participei com Corner na exposição Poesía visual catalana, organizada por Calleja e Canals, que foi inaugurada em 1999 no Centro de Arte de Santa M. Essa exposição também poderia ter sido intitulada Here Comes Everybody from Cataluña, já que estavam também presentes Ramon Llull com algumas de suas “figuras combinatórias”. Como você pode ver, sempre trato de estar em companhia dos experimentalistas. MEM - Você mencionou agora há pouco a presença do trabalho da artista Remedios Varo em um de seus livros e acaba de confessar sua paixão pelas vanguardas. Daí a inevitável questão: qual é a importância do surrealismo para a sua poesia? CC - Esta pergunta me leva ao ano de 1995, quando ganhei na Itália o prêmio Riccardo Marchi por uma coleção de três poemas em espanhol e italiano (traduzidos por Pietro Civitareale). Chamou-me a atenção o fato de a comissão julgadora ter considerado o “Para Cornelius” um texto surrealista. A verdade é que, quando o escrevi não pensei na poesia surrealista, mas na música experimental norte-americana e inglesa, que escutei ao escrevê-los. Não creio que minha poesia tenha muito do surrealismo. Nela há muitas presenças. Diferentes críticos a chamaram de confessional, pós-moderna, etc. A verdade é que eu adoraria ser mais surrealista. Me fascinam alguns poemas surrealistas de amor escritos por Louis Aragon, René Char, Robert Desnos, Paul Eluard, Joyce Mansour, Alice Paalen, Benjamin Péret, assim como as receitas de Remedios Varo para quem quer ter sonhos eróticos. MEM - Um dos aspectos que mais me chamaram a atenção em seu livro A las puertas del papel con amoroso fuego é o uso de estratégias ficcionais. Você cria cartas apócrifas de personagens históricos e literários, reinventa essas personagens e forja relações amorosas entre elas. Essa prática do artifício, da encenação de subjetividades fictícias, que aponta inegavelmente para os escritos de Fernando Pessoa e Borges, não tem sido muito explorada pela poesia contemporânea, mas permanece no campo da narrativa de ficção. Eu gostaria que você discorresse um pouco sobre a presença dessas estratégias em sua poesia. CC - O poeta e crítico Jack Foley disse uma vez que eu era una poeta-arqueóloga. Embora eu deteste qualquer tipo de classificação, essa denominação me encantou. Durante minha adolescência eu quis ser, além de ser alquimista, atriz; e depois, mais que arqueóloga, antropóloga. Mas ao final, o que estudei na Universidade de Habana foi Historia, para depois dedicar-me à literatura, nos Estados Unidos. Daí talvez me venha essa paixão por rastrear, por descobrir marcas deixadas por outros, em particular por outras mulheres. A las puertas del papel con amoroso fuego é um livro que se inspira em parte nas Heróidas de Ovidio. Uma de minhas leituras preferidas de todos os tempos foi A arte de amar, de Ovidio. Como você se lembra, nesse livro o poeta convida à leitura de Anacreonte, Safo, Menandro, Propércio, Tíbulo, Virgílio, e outros poetas clássicos. Ele também convoca as “estudantes” para ler seus Amores e as Heróidas, sobretudo porque o segundo livro é um gênero novo do qual se considera inventor (Ignotum hoc aliis ille novavit opus). Bem, Ovídio, contrariamente a outros poetas (veja o caso de Propércio, que fala de sua dívida poética com Calímaco) não se declara herdeiro de nenhum outro poeta na criação de suas Heróidas. Isso é certo, se bem que já existiam as elegias latinas, como as de Propércio, que falam sobretudo do poeta como amante. Entretanto, o que faz Ovídio em suas Heroides epistolae é totalmente revolucionário. Ele explora os detalhes das histórias de suas famosas heroínas (Medéia, Ariadna, Fedra...) e as transforma em amantes modernas, especialistas na arte da retórica, com personalidades muito definidas, distintas umas das outras. Digo que sou uma discípula moderna de Ovídio, a ele devo minha inspiração para o poemário A las puertas... Como nas Heróidas, meus poemas têm o eco do famoso odi et amo de Catulo (outro de meus mestres). Minhas heroínas, como a Fedra de Ovídio, falam da escrita como uma paixão que domina todo tabu, toda modéstia, conseguindo o que o discurso oral torna impossível. O livro começa com um verso de Safo que diz: “y rota / calla la lengua, mientras la mano escribe”. A las puertas... está composto de 37 cartas de mulheres conhecidas e desconhecidas. Há nelas uma espécie de “tragédia lúdica” que aprecio muito, já que o amor é precisamente isso. Devo retomar o fio de tua pergunta e responder que sim, que reinvento essas personagens de muitas maneiras diferentes, embora eu celebre muito de suas vozes reais. É possível encontrar no livro um gênero epistolar peculiar através dessa prática do artifício a que você se refere. O leitor se depara com referências a cartas existentes de mulheres famosas (Lucrecia Borgia, Isadora Duncan, Rosa Luxemburgo, Carolina Lamb, Flora Tristán, Gertrudis Gómez de Avellaneda) que se confundem (apesar dos embustes que uso muitas vezes para distinguir os textos reais dos imaginários) com minhas próprias invenções e fantasias. Entre essas mulheres não podia faltar a famosa Sóror Mariana de Alcoforado, aquela monja portuguesa do século XVII, cujas cartas causaram grande tumulto, e que mais tarde inspiraram um texto chave na historia do feminismo português: as Novas cartas portuguesas (Livro das três Marias) de 1971, obra escrita por Maria Isabel Barreño, Maria Teresa Horta ee Maria Velho da Costa, considerada uma obra-prima e censurada quase de imediato pelo governo português. Você menciona Pessoa e Borges, os grandes mestres da ficção. Interesso-me sobetudo pelas máscaras líricas, daí que a heteronímia e as ideologias estéticas de Pessoa sempre tenham me seduzido. Embora tudo já esteja nos poetas malditos, esse “ser el otro que es uno mismo para ser además ‘je suis plusieurs’”. Nas ficções de Borges há uma consciência irônica de armadilhas e abismos, que me inspira. Definitivamente, sou partidária do sujeito múltiplo. Meu poemário Oscuridad divina é outro jogo de máscaras. É um livro de 1985, data em que me inicio no “eu sou outras”, mas não com mulheres reais da história, mas com deusas da mitologia universal, muitas delas pouco conhecidas. Tanto Oscuridad divina quanto A las puertas navegaram com boa sorte no mundo literário, com prêmios e várias edições em diferentes idiomas. A editora InteliBooks publicou, em outubro de 2001, uma edição bilíngüe (español/inglês) de A las puertas... Já Oscuridad foi publicado na Itália em 1990, alguns anos depois de que receber o Premio “Ultimo Novecento” de Poesia. MEM - Ainda com relação à questão do jogo de subjetividades, como você explicaria o paradoxo do título de seu último livro, Autorretrato en ojo ajeno? Seria mais um exercício de “otredad”? CC - Você torna a me colocar no olho alheio... a refletir sobre meus olhares. A verdade é que esta é uma pergunta difícil, mas tentarei respondê-la. A abetura do livro é a chave de muitos poemas do mesmo. Optei por colocar nela um de meus quadros favoritos, que está no Kunsthistoriches Museum, de Viena, e se chama Autoritratto nello specchio convesso, de Francesco Mazzola, conhecido como Parmigianino (15031540). Comecei a escrever os poemas desse livro precisamente em Viena, depois de uma visita de mais de três horas ao meu amado quadro. O livro está dividido em duas partes: En un espejo convexo e Tríptico de furias. Pessoa aparece mencionado em um dos poemas, que se intitula “Desde una ventana de San Francisco”. Mas voltemos ao quadro em que Parmigianino olha o que o olha em um exercício de “otredad”, com um certo desafio irônico. Meu livro é esse olhar-me e descobrir-me em um jogo de sombras chinesas: “Hasta el eje sediento de mi centro / no existe ningún espejo claro”. Em meus poemas o sujeito poético usa um disfarce para não ser descoberto de todo, mas também o tira para ser descoberto. Autorretrat... é ao mesmo tempo um livro de poesia erótica e uma homenagem à pintura. MEM - Quais são os seus “livros de cabeceira”? E em que intensidade os autores que você ama interferem em seu próprio processo criativo? CC - Meus livros de cabeceira são muito variados. O Oráculo manual y arte de prudencia, de Baltasar Gracián, me ajuda a sobreviver dia a dia, e a não morrer presa nas intrigas e no caos do mundo. Outra de minhas bíblias é Il Grande Lupo Alberto, um livro dedicado ao famoso e simpático lobo italiano criado por Silver. Este é um livro em quadrinhos que me faz feliz. Outros livros que têm me acompanhado durante muito tempo são Zen in the Art of Archery, de Eugen Herrigel; uma antologia de poesia irlandesa; um livrinho de haikais; uma tradução para o inglês da poesia completa de Catulo; Open Closed Open, antologia da poesia de Yehuda Amichai; De umbral a umbral, de Paul Celan; Variaciones sobre el pájaro y la red con La piedra y el centro, ensaios de José Angel Valente; a correspondência entre Maiakovski e Lili Brik, bem como a de Kurt Weill com Lotte Lenya. Também El pulso de las cosas, antologia poética de Henri Michaux, e La casa de cartón, de Martín Adán. Eu diria que Valente, Celan y Amichai me ensinam a ser poeta. Há outros autores que me apaixonam, entre eles Trakl, mas prefiro não seguir acrescentando nomes à lista, já que teria que ir à Idade de Ouro espanhola e à poesia italiana. MEM - Como você avalia, em termos gerais, a poesia latino-americana de hoje? Quais seriam as principais linhas de força da produção poética de nosso continente? CC - A poesia latino-americana que mais conheço é a mexicana. Sempre me interessei muito pela geração dos Contemporâneos, em particular José Gorostiza e Gilberto Owen (latino-americano-irlandés como eu). Também fui, há muitos anos, uma leitora voraz de Octavio Paz. Dos poetas mais jovens, digamos dos nascidos depois dos anos quarenta, tenho alguns favoritos: Francisco Hernández, Coral Bracho, David Huerta, Elva Macías,Gloria Gervitz, Pura López Colomé e Eduardo Milán, entre outros. Do Brasil: Cecília Meireles, Adélia Prado e Maria Esther Maciel. Nos últimos meses tenho lido Floriano Martins. Da poesia argentina conheço bem a obra de Alejandra Pizarnik e Luisa Futoransky. A segunda parte de tua pergunta me obrigaria a assumir o papel de crítico literário e, além disso, não creio que conheça o suficiente de poesia latino-americana para respondê-la. A única coisa que posso comentar é que encontro na poesia latino-americana muita ousadia iluminadora. Há poetas que me surpreendem constantemente com suas explorações da linguagem, em seu dizer barrocosurrealista, em seu equilíbrio e sua desmesura. MEM - Você poderia falar um pouco sobre a poesia cubana feita nos Estados Unidos? Como você trabalha a questão do exílio em sua própria poética? CC - Da poesia cubana escrita em espanhol nos Estados Unidos a que mais me interessa é a escrita por mulheres, com a exceção da poesia de José Kozer e Jesús J. Barquet. Tenho me dedicado ao estudo crítico da obra de Juana Rosa Pita e Magali Alabau. Na poesia de Pita há muita inovação idiomática e uma linguagem coloquial que me atraem. Encontramos em sua obra uma grande insatisfação com a história oficial, e ela, com grande ousadia, a reescreve através do mito. Suas propostas inovadoras estão bem representadas em Viajes de Penélope y Crónicas del Caribe. Já Magali Alabau é uma das poetas cubanas mais transgressoras da atualidade. Sua poesia é herdeira de sua experiência cênica, já que a poeta se dedicou durante vários anos (tanto em Cuba quanto em Nova York) ao teatro, como atriz e diretora. Me interessa também em Alabau a sua reescritura audaciosa dos mitos clássicos a partir de uma posição feminista. Isto vemos sobretudo na sua Electra, Clitemnestra. Mas seus livros La extremaunción diaria e Ras é que se destacam como obras essenciais para se entender a realidade alienante e insuficiente que rodeia o escritor exilado. A cidade de Nova York é o espaço principal onde a poeta conduz seus enfrentamentos humanos/sua busca do ser. Alabau transtorna os pontos de referência do considerado “normal” e cria dimensões espantosas a partir do olhar do sujeito poético insatisfeito, um sujeito que se vale do paradoxo, da ironia e do humor negro para ler a cidade e a casa/corpo, a partir de zonas de excentricidade. Também me interessa muito o tema da violência nessa poesia. Outras poetas relevantes são Maya Islas, Alina Galliano y Lourdes Gil. Publiquei dois livros dedicados às poetas cubanas da diáspora: Web of Memories, Interviews with Five Cuban Women Poets e Voces viajeras, que é uma antologia voltada para o tema da peregrinação e da viagem em poetas cubanas. Nela incluo também outras poetas que não vivem nos Estados Unidos. Meu primeiro livro, 34th Street and other poems, escrito em Nova York nos anos oitenta, pode ser inserido, em parte, dentro do espaço da poesia cubana da diáspora, quanto ao tema da nostalgia. É um livro dedicado à minha mãe e que narra poeticamente muitas de minhas experiências na cidade de Nova York. Não com o dilaceramento que encontramos na poesia de Alabau, mas com um olhar crítico, e até certo ponto harmonioso, de um sujeito poético em viagem de descoberta e de rememoração da infância. Cheguei a Nova York, saída de Zürich, em 1981, e embora minha vida não tenha sido um paraíso do ponto de vista material, Nova York foi meu espaço cosmopolita de iniciação como poeta, uma moderna urbe que me enriqueceu culturalmente. O resto de minha obra deixa para trás essas referências do exílio, até o Libro de los XXXIX escalones, no qual regresso a Havana e a Zürich, e sobretudo à minha meninice. Mas, agora, através de jogos alquímicos e leituras de quadros surrealistas. Jesús J. Barquet, um dos críticos que com maior argúcia estudou minha poesia, disse que grande parte de minha obra resulta excêntrica dentro da poesia cubana do exílio, mas ao mesmo tempo trata de encontrar traços do cubano em minha poesia a todo custo, como um bom detetive. Barquet disse que meus malabarismos e exotismos não foram nunca alheios à poesia cubana, e menciona Julián del Casal e José Lezama Lima. O livro de Barquet, Escrituras poéticas de una nación: Dulce María Loynaz, Juana Rosa Pita y Carlota Caulfield, publicado em Havana pelas Edições Unión em 1999, é uma boa fonte para os leitores que se interessem em rastrear minha identidade cubana. Definitivamente, não me interessa defender nenhuma identidade em particular, talvez a única que me atreva a defender seja a de poeta. . revistas em destaque .. arquitrave (colombia) diálogo entre harold alvarado tenorio & floriano martins FM - ¿Cómo y porque surgió la idea de hacer una revista como Arquitrave? HAT - En Colombia hay muy pocas revistas dedicadas en exclusivo a la poesía. Las mejores sin duda fueron las que hicieron durante los años setentas Elkin Restrepo, José Manuel Arango y Luis Fernando Macías en Medellín. Pero las otras que han existido pecan gravemente por ser instrumentos de envanecimiento, celebran en exclusivo a sus directores y colaboradores. Arquitrave quiere romper esa tradición, publica sólo textos inéditos y circula entre suscriptores, garantizando su independencia de los poderes culturales nacionales que son funestos en el caso colombiano. FM - ¿Puede una revista sobrevivir sólo de suscripciones? HAT - He tratado de que Arquitrave sobreviva solo de sus suscriptores y hasta el momento lo he logrado. No se si en el futuro pueda hacerlo. De allí que extreme la campaña de suscripciones. A pesar de no tener apoyo oficial ni privado algunas entidades culturales nacionales e internacionales me ayudan con la compra de varias suscripciones. Eso sucede por ejemplo con la Biblioteca Luis Ángel Arango o con el Instituto Iberoamericano de Berlín, por citar dos casos solamente. Espero poder contar con mas apoyo en el futuro. FM - ¿Tiene un comité de redacción Arquitrave? HAT - No, yo hago todo el trabajo de recolección y selección de textos, como hago todo el trabajo de diagramación e impresión. Lo único que no hago es el refilado, pero también me ocupo del envío postal. De manera tal que estoy dedicado en exclusivo a esa pequeña aventura. FM - ¿Como elige los textos? HAT - Trato de equilibrar cada número no con mis gustos sino con los niveles de calidad de los textos que logro recoger. Y que me envían los poetas. En cada número hago un pequeño homenaje a un poeta vivo o muerto, y publicó poetas de todas las partes que puedo. FM - ¿Y de Brasil? HAT - Trato de poner un poeta del Brasil en cada edición, pero es difícil. Los traductores, los buenos traductores no abundan. Ahora por ejemplo estoy preparando un homenaje a Alberto da Costa e Silva, uno de los poetas brasileños mas queridos en Colombia, donde fue embajador. Pero en general no mes es fácil esa labor de difundir una poesía tan importante como la brasileña y tan desconocida entre nosotros. Seguiré insistiendo. FM - ¿Que ayuda necesita entonces? HAT - Que los poetas se comuniquen conmigo y que me ayuden a difundir la revista, tanto la impresa como la virtual. Le ruego poner aquí mis direcciones: www.arquitrave.com y [email protected] para que me escriban. Arquitrave, revista colombiana de poesía publicada, impresa y virtual, en Bogotá, por el poeta Harold Alvarado Tenorio, ha cumplido sus primeros dos años de vida. El nombre de la revista parece ser un homenaje al poeta español Jaime Gil de Biedma. Uno de sus poemas de los años sesenta se titulaba precisamente El arquitrabe, una suerte de metáfora de los impedimentos y prohibiciones sociales y eróticos que padecía el poeta bajo el franquismo. Arquitrave se publica cada dos meses y difunde la poesía de todos los tiempos, en especial, la que se escribe en nuestra lengua. A la fecha ha realizado, entre otros viarios, homenajes a poetas como el habanero Gastón Baquero, el sevillano Luis Cernuda, el perseguido político del castrismo Raúl Rivero, el alejandrino Konstandinos Kavafis, el sanonofreño Giovanni Quessep, el chino Bai Juyi, los alemanes Ingeborg Bachmann o Hans Magnus Enzensberger, el indio Mudnakudu Chinnaswamy, el madrileño Luis Antonio de Villena, la uruguaya Cristina Peri Rossi, el palestino Madmud Darwish, el brasileño Affonso Romano de Sant’Anna, la australiana Margie Cronin, el griego Atanasio Niarjos, la sueca Karin Boye o el colombiano Jader Rivera. En el número doce que está en circulación, se celebra al mexicano José Emilio Pacheco, al lusitano Jorge de Sena y al griego Napoleón Lapathiotis. Harold Alvarado Tenório Director Arquitrave, revista de poesía www.arquitrave.com www.arquitrave.com/hatprincipal.htm [email protected] Apartado Postal 1-36 02 81 Centro Internacional Bogotá. D.C. Móvil [310] 324 88 35 . revistas em destaque .. fronteras (costa rica) depoimento de Adriano Corrales Arias La Revista Fronteras nació como un Proyecto de Extensión Cultural del Area de Culturales del Departamento de Vida Estudiantil (DEVESA) del Instituto Tecnológico de Costa Rica, Sede San Carlos, Costa Rica, en el año 1995. Su primer objetivo fue convertirse en un espacio editorial para dar a conocer las distintas investigaciones que venían realizando nuestros docentes e investigadores en torno al ámbito de las Culturas Populares. Pero a medida que se fue desarrollando el proyecto (a partir del tercer número), nos fuimos enterando de la existencia de un vacío en cuanto a revistas culturales costarricenses y centroamericanas, que mantuvieran un perfil intermedio entre la revista especializada y la revista popular, formato que perseguíamos desde el principio. Así, además del énfasis antropológico, histórico y sociológico, nos fuimos abriendo a otros ámbitos como el de la literatura y el arte en general. Por otro lado empezamos a recibir colaboraciones de distintos países latinoamericanos, y más tarde europeos, a los cuales, imprevistamente, fue llegando la revista gracias a amigos y colaboradores. El proyecto se amplió. Hoy mantenemos diferentes secciones permanentes: El Editorial, donde consignamos nuestra posición sobre divversos temas, Tertulia, donde tenemos siempre una entrevista con un invitado especial; Raíces, un espacio para la historia y la cultura popular; Reflexiones, una sección para el ensayo o artículo de fondo sobre la teoría cultural, filosófica, literaria, política, económica o estética en general; Comunidades, espacio para grupos artísticos, étnicos, culturales, etc. y para reseñas literarias y editoriales en general; Trapiche, sección literaria con poesía y cuento; Aduana, sitio donde consignamos las publicaciones recibidas y recomendamos bibliografía; A la Tica, sitio sobre la identidad nacional y su devenir histórico. La revista se financia básicamente con presupuesto del Instituto Tecnológico de Costa Rica y con la venta de sus ejemplares, pero estamos tratando de abrir la venta de publicidad como una colaboración y apoyo a este proyecto editorial. La misma se distribuye en las principales librerías de las ciudades costarricenses de San José, Heredia, Ciudad Quesada y Cartago. Pero también se encuentra en Bibliotecas, Centros Culturales y Salas de Teatro, tales como Giratablas, Café Calicanto en el Ministerio de Cultura, galería Andrómeda, etc en la ciudad capital, San José. Hasta ahora se han publicado 14 números semestrales y ya está en preparación el número 15. Si alguien desea suscribirse o enviar su colaboración lo puede hacer a nuestros teléfonos, fax o apartados postales y electrónicos. Pra colaboraciones se aceptan artículos o narraciones no mayores de 20 cuartillas; en poesía no más de cinco poemas. Agradecemos una breve ficha bibliográfica del autor. Por lo demás, la revista Fronteras no se concibe solamente como una publicación, sino, y es lo más importante, como un Punto de Encuentro y un proyecto cultural que ya ha realizado Tres Encuentros Centroamericanos de Escritores y dos de Poetas Nicaraguenses y Costarricenses, además de diversos recitales, conversatorios, talleres y congresos. El Director y Editor es Adriano Corrales Arias, quien, a nombre del Consejo Editorial y del grupo de trabajo, agradece su atención. …Y como siempre los invitamos para que nos escriban: Apdo. Postal 223-4400, Ciudad Quesada, COSTA RICA. Teléfonos (506) 475-50 33, (506) 475-5063 extensiones 293 o 243; Telefax (506) 475-5085. Correo electrónico: [email protected] o [email protected]. . . revistas em destaque .. salamandra (espanha) apresentação de lurdes martínez Desde finales de los años 80 en que se constituyó el grupo, nuestra actividad se ha reunido principalmente en torno a la revista Salamadra, el periódico ¿Que hay de nuevo? y las ediciones de nuestra editorial La Torre Magnética, además de toda una serie de intervenciones públicas: conferencias, exposiciones, declaraciones colectivas, etc. La revista Salamandra, que podríamos decir es el órgano de expresión del grupo, ha pasado por diversos momentos. Si los primeros números se correspondieron con una etapa de iniciación donde el juego colectivo era la nota dominante, a partir del número 4 hemos perseguido una mayor ambición y riesgo intelectuales. Pero además el deseo de tomar contacto con otras corrientes de pensamiento ajenas pero afines al surrealismo nos ha impulsado a abrir la revista, especialmente a partir del número 8/9, a colaboraciones procedentes de esos campos próximos, tanto en lo que se refiere al pensamiento crítico como a la investigación en el ámbito de lo imaginario. Para el próximo número (11) hemos tomado la decisión de modificar el subtítulo de la revista, que desde el número inicial ha sido Comunicación Surrealista - completado más tarde, primero por el de Imaginario Crítico y, desde el número 8/9, por el de Imaginación Insurgente. Crítica de la vida cotidiana-; ahora será sustituido por Intervención Surrealista, manteniendo los otros subtítulos. Esta decisión responde a una evolución dentro de nuestro propio pensamiento y que atañe a la relación que queremos establecer con el surrealismo: así “comunicación” presupone, a nuestro parecer, fundarse en la posesión acrítica de una verdad de la que se hace partícipe a los demás, que se anuncia, y en este sentido supone avanzar desde una postura ideológica de la que queremos huir completamente. Mientras que “intervención”, desde nuestro punto de vista, lejos de tener el sentido pretencioso de que con nuestras acciones transformemos lo real, implica partir del surrealismo, no como sistema de pensamiento cerrado y determinado donde acudir para encontrar respuestas y soluciones, sino como plataforma desde la que encaminarnos, despojados, a actuar sobre la realidad de una manera experimental. Se podría decir que, a un nivel general, nuestras actuaciones se desarrollan en dos dimensiones que pretenden cierta resolución dialéctica: de una parte, el desenvolvimiento de una reflexión teórica, que partiendo de una postura esencialmente pesimista, se concentra en el análisis crítico de la actual sociedad espectacular, evidenciando sus mecanismos de dominación. De otra, una práctica concretada en intervenciones y experimentaciones (a un nivel colectivo o individual) inspiradas por la imaginación, que son asumidas más como estrategias de resistencia que de transformación, - acompañadas en ocasiones de su correspondiente teorización- que aspiran a quebrar o socavar la normalidad del discurso dominante entendido como incuestionable y que se hallan completamente impregnadas de una intención experimental y lúdica. En el primer apartado podríamos incluir un conjunto de declaraciones colectivas: Hermanos que encontrais bello lo que viene de lejos,(publicado en Salamandra no.6) contra el racismo y la xenofobia, donde denunciamos las construcciones mentales que el poder mantiene y fomenta para que“el otro” siga siendo el enemigo, al tiempo que indagamos en propuestas que se opongan a este estado de cosas, como pudiera ser la elaboración de mitologías o narraciones entendidas como empresas de la vida colectiva “que cohesionan los esfuerzos e individuos...saturándolos de pasiones nuevas y dirigiendolos a proyectos liberadores”(Effenberger, La Civilisation Surréaliste), mitos que ilusionen la conciencia humana y que consigan sustituir “el recelo, el miedo y la cólera por la curiosidad, la aventura y el deseo” (Hermanos...) ; Pleno Margen, a favor de la liberalización de las drogas , que reclama la liberación integral del ser humano y su derecho a desarrollarse en plenitud, abordando el peligro que ello presupone para el poder represor; Hay una luz que nunca se apaga, donde celebramos las huelgas de Corea; Todavía no han parado todos, en contra del deporte y el trabajo, donde exigimos el fin del trabajo y denunciamos la simbiosis entre los modelos del deportista y del trabajador que quieren justificar las exigencias de la economía. Una misma linea de discusión siguen otros textos individuales: Nuevas industrias de la subjetividad, de Jesús García Rodríguez, (Salamandra no.10) que pone en evidencia la manera en que el espectáculo opera en el dominio de lo sensible, convirtiendo los deseos, el placer, las emociones, las subjetividades en mercancías y analiza el papel crucial que la publicidad juega en ese proceso; La negación del espejo, de Eugenio Castro, una crítica de las nuevas tecnologías que se centra en el fenómeno de la pantalla como instrumento de separación que conduce al hombre -que había extraído su fuerza de su relación con la intemperie- a un estado de inmadurez y cobardía, y que sepulta, en todos los ámbitos de la vida cotidiana, el ciclo vital del tiempo mediante el simple gesto de su encendido. Tiempo de carnaval, de José Manuel Rojo, que intenta desentrañar los mecanismos recuperadores de la publicidad que no sólo vuelven en ofensivas las críticas y propuestas del movimiento revolucionario sino que también las reconvierten en nuevas mercancías o estímulos para el desarrollo de la economía. Por último, las discusiones y debates más recientes en el seno del grupo se han concretado en dos textos colectivos: El falso espejo, que reflexiona sobre el papel de la imagen hoy, convertida en herramienta del poder al apuntalar y reforzar el proceso de desmaterialización de lo real, instrumentalizar lo imaginario y sustituir la vida vivida, pero haciendo al tiempo que este hecho terrible se acepte sin violencia, al aparecer adornada con los ropajes de lo artístico. La orgía de imágenes que nos envuelve y fascina, afecta de modo inevitable a la creacción artística, y a ésta en el seno del surrealismo que, sin renunciar a la creación de imágenes del deseo a un nivel individual, ha de asumir la falta de eficacia de la imagen a un nivel social, debido al problema, no sólo de la recuperación de cualquier imagen subversiva, sino, lo que es peor, de la banalización de toda creacción artística. A esto sigue una reflexión sobre la oportunidad de pensar en nuevas tácticas que logren un diálogo social entre artista y público -habida cuenta de la caducidad del sistema de exposiciones- y la necesidad de ahondar en una renovación del imaginario surrealista que se libere de rasgos identitarios y de inercias especializantes, invocando la indocilidad y la no acomodación y fundandose en la experiencia de lo desconocido. Sin renunciar a la imaginación, se lanza como propuesta la práctica del materialismo poético, que materialice el ensueño utópico satisfaciéndolo en la vida concreta, entendiendo aquí lo imaginario como no separado de la realidad sino fundado en ella. En definitiva se trata de “no contribuir al proceso de fantasmagorización del mundo sino encontrar la fórmula que le permita hacerse real sin realizarse como espectáculo”. Finis Linguae, texto que abre el volúmen colectivo de poemas Indicios de Salamandra, editado por La Torre Magnética-Zambucho Ediciones (Madrid, 2000), aborda la problemática del lenguaje poético, la palabra en libertad y su naturaleza inabarcable, inconmensurable, incomunicable, desobediente, resistente, inasible a la dominación, rebelde frente a cualquier utilitarismo sin olvidar que esa palabra forma parte del lenguaje como actual mecanismo de dominación, de la comunicación de los dueños, Junto a estas elaboraciones teóricas se inscriben una serie de acciones y experiencias dirigidas a “quebrar el espacio apesadumbrado de la vida cotidiana”. Buena parte de nuestra energía se encamina hacia una crítica de la vida cotidiana, a la que nos impulsa el comprobar cómo el capitalismo ha provacado la separación del hombre de la vida en su conjunto, reduciendo y parcelando sus facultades y extendiendo a todos los campos su ética economicista y productivista. Ante esta situación de miseria vital, vemos necesario llevar a cabo la desacreditación de la realidad tal como nos es dada, mediante la vivencia de la poesía, que atenta y altera la percepción que tenemos de lo cotidiano en su expresión más miserabilista y lo somete a una crítica implacable. A un nivel colectivo se situan una serie de intervenciones callejeras que forman parte del “proyecto político de vida poética” desarrollado en el texto Los días en rojo (Salamandra no.7) y que consiste en llevar los impulsos de la poesía a la vida cotidiana y a la práctica revolucionaria: por ejemplo, pintar en las paredes constelaciones imaginarias, modificar el aspecto de ciertas estatuas, simular una procesión de fantasmas entrando y saliendo de un edificio ruinoso y cuya única huella visible son sus zapatos adheridos al suelo, realizar una deriva colectiva con el pretexto de estampar en las calles frases de contenido poético, etc.Esta introducción de elementos perturbadores en el paisaje cotidiano aspira a producir un desconcierto visual y mental que pueda movilizar el aparato afectivo del viandante; se trataría de estimular y practicar “nuevos comportamientos que anuncien el principio de una realidad en agitación. Comportamientos...que vayan cartografiando el paisaje de una subversión mental a gran escala que procure la posibilidad futura de una insurrección generalizada” (Los días en rojo). No obstante, admitiendo los incontables obstáculos que existen para que esto se produzca, contemplamos estas acciones por su absoluta gratuidad, por el simple placer que nos procura su desarrollo. Además, “al nacer de un impulso de la imaginación creadora” reivindican y apelan a “una forma de diversión inventada y libre que se opone a toda forma de deleite alienado y alienante”. Por último, buscamos en todo momento el anonimato y la clandestinidad de estas acciones para evitar que sean asimiladas o reducidas a un aspecto puramente estético. A un nivel más individual responden un conjunto de experimentaciones de lo poético (experiencias de derivas, de azares y encuentros y, en general, vivencias relacionadas con todo el material inconsciente) en las que se esboza o ensaya la posibilidad de otra vida, y hablamos de esbozos de esa vida diferente, porque somos conscientes de la dificultad de que en la actual situación de dominación se pueda manifestar en toda su plenitud, de que la poseamos efectivamente, en todo momento y circunstancia. En concreto en la revista Salamandra la sección Más Realidad. Emblemas de la magia cotidiana. recoge desde el número 5 experiencias de esta índole. Mención aparte merece la atención que hemos prestado a lo concerniente a la naturaleza y el animal salvaje, abordados desde un plano tanto teórico como poético. En Notas sobre ecología y surrealismo, J. M. Rojo (Salamadra no.5) plantea la necesidad de promover, para superar la actual crisis ecológica, una nueva ecología revolucionaria que forje una nueva sensibilidad hacia la naturaleza y el animal, una sensibilidad que recoja las aspiraciones poéticas, imaginativas e inconscientes latentes en todos los seres humanos y que deben proyectarse en la creación de un nuevo mito colectivo movilizador sobre la relación entre el hombre y la naturaleza. Una aproximación pasional hacia la naturaleza lleva a E. Castro en En la montaña del Torcal. Sésamo multiplicado (Salamandra no.4) a criticar el concepto proteccionista que sobre ella ha forjado la visión antropocéntrica, que reduce, anula y manipula el potencial mágico y recreador que recorre la naturaleza en su totalidad. De el animal, ese “Otro Absoluto, explotado, ignorado o perseguido, que arrastra en la sociedad occidental el doble estigma con el que el hombre moderno trata de defender su razón esclavizada: lo últil-lo dañino” (M.Auladen, Qui-yi-yi-yi-yi-yi-yi-yi. Luz Negra no.2), se ocupa el texto colectivo El Continente Fabuloso. Proyecto para un Bestiario Surrealista, (Salamandra no.6) donde se reconoce su absoluta autonomía, despreciando la actitud que conduce a dotarle de atributos humanos y se insiste en la necesidad de dirigir nuestras relaciones con él hacia un plano de reciprocidad, con el fin de recuperar su carácter de ser fabuloso y “emocionante”.La liberación de la vida salvaje es, en definitiva, imprescindible para la liberación del ser humano. Otro ámbito en que nos hemos dedicado de manera especial es el de la crítica al urbanismo como otro de los instrumentos de dominio sobre el espacio físico, que acota y reglamenta el ámbito urbano, lo limita en función de criterios de rentabilidad econónica y convierte a la ciudad en un lugar domesticado que ha perdido su relieve vital, pasional (El espíritu errante. Una introducción al nomadismo del ser seguido de fragmentos para un dossier psicogeográfico, coordinado por J.M. Rojo,Salamandra no.7; El Lugar revisitado.Textos psicogeográficos del Grupo Surrealista de Estocolmo, coordinado por Lurdes Martínez, Salamandra nº.10). Frente a ello nos prodigamos en explorar nuestro entorno más inmediato, buscando recuperar la magia de los lugares, sus potencialidades y particularidades en oposición a la homogeneización y normalización que impone el capitalismo: en El juego de la isla (incluido en El espíritu errante...e inspirado en un juego del Grupo Surrealista de París) asistimos a la emersión de una isla en pleno centro de Madrid, mediante la exploración de esas zonas de la ciudad que poseen una imantación afectiva indiscutible. O bien en oposición al fomento interesado del olvido: en Ruido de cadenas.El sentimiento gótico de la arqueología industrial, J.M. Rojo (en La experiencia poética de la realidad como crítica del miserabilismo. Edic. La Torre MagnéticaLibrería Asociativa Traficantes de Sueños. Madrid, 1997) analiza el proceso de decadencia de las viejas industrias -que forman hoy parte de las ciudades y cuyo único destino es ser demolidas o convertidas en museos- en la economía posindustrial y el posible reencantamiento de las fábricas vacías que se proponen como sustituto contemporáneo de los castillos, espacios donde lo imaginario puede encontrar un nuevo nido y fortalecer el deseo de rebelión de los movimientos sociales que como los okupas reutilizan sus espacios abandonados. Las experiencias de derivas sobre las que E. Castro reflexiona en El nombre ensoñado. La realidad nombrada (Salamandra no.3) y Sólo las horas.(La deriva como experiencia onírica de la realidad y erotización del tiempo) (La experiencia poética...) atañen a la dimensión temporal -más que espacial-de la vivencia de lo maravilloso en este deambular extraviado hacia ningún sitio, extravío que provoca una nueva disposición sensible y mental que altera la percepción que tenemos del entorno y hace que el fluir del tiempo se antoje como en el sueño- distinto al del tiempo instrumental. Tiempo de “emoción pura”, de desocupación total, tiempo extraviado, de placer mental, de ensoñaciones eróticas... En los últimos tres años hemos intensificado nuestros contactos con el entorno radical/alternativo y fruto de ello ha sido la organización de charlas y debates en ciertos puntos del ámbito radical (C.N.T de Barcelona, C.A.O. de Alicante, la librería Liquiniano de Bilbao, Traficantes de Sueños en Madrid), conferencias que han ido acompañadas de pequeñas exposiciones entendidas como mero complemento de aquéllas; esta decisión responde a nuestra actitud de desconfianza hacia el sistema de exposiciones convencional y se perfilaría como un ejemplo práctico de una actividad de resistencia; confiamos además que se dió una correspondencia unificadora entre el discurso teórico y crítico y las obras. Al dar las charlas sobre todo en espacios políticos más que artísticos y al dar más importancia al discurso teórico que a las obras creemos haber conseguido ciertos resultados en tanto en cuanto que comunicación no espectacular. Por otro lado, con ocasión del ciclo de charlas realizadas en la Traficantes del Sueños surgió el proyecto de editar un libro con el contenido de las mismas, titulado La experiencia poética de la realidad como crítica del miserabilismo, que ha sido mencionado anteriormente. Salamandra Revista del Grupo Surrealista de Madrid [email protected] Ediciones de la Torre Magnética Torrecilla del Leal, 21, 1° izq. 28012 Madrid, España . revistas em destaque .. tropel de luces (venezuela) diálogo entre pedro salima & amigos (antonio guerra, luis aníbal velásquez, mirimarit parada, jesús cedeño y eduardo gasca) - La pregunta reglamentaria, ¿cómo surge la idea de crear una revista literaria? PS - Tropel de luces no tiene una fecha fija de nacimiento, creo que se fue dando en el tiempo, desde antes que nosotros pasáramos a formar parte de la directiva de la Asociación de Escritores. Hubo un grupo interesado en publicar una revista, el centro del grupo en aquel momento fue el poeta José Lira Sosa y creo que ese sueño quedó allí, con la idea de hacerse realidad. Una vez que asumimos la directiva de la Asociación de Escritores empezamos a concretar esta idea y luego varias reuniones en el sótano del Museo Francisco Narváez armamos lo que sería Tropel de luces. Tomamos el nombre de un poemario de Víctor Salazar, poeta que nacido en Barcelona, vivió sus años de infancia en la isla de Coche. Es un homenaje a Víctor. Debido a que somos escritores o escribidores, y con eso no basta para hacer una revista, hacía falta la parte económica, y esta se vio concretar con el nacimiento de la Peña Literaria José Lira Sosa, donde al grupo de la Asociación de Escritores se unieron varias personas vinculadas a la literatura, incluyendo a dos compañeras, Clorinda Fuente e Ima Rosa Rivas, que se empeñaron en convencer a algunos empresarios para que dedicaran parte de sus ganancias a participar en una revista literaria que en ese momento no existía. También a través de la Peña Literaria llegó una persona que se encargó de hacer el diseño de la revista. - ¿Cuál es el equipo que inicia la revista? PS - Tendríamos que mencionarnos a nosotros mismos, Luis Malaver, Luis Emilio Romero, Campito, Antonio Guerra, Eduardo Gasca, Luis Velásquez, Chevige Guayke, Gabriel Bulla, Clorinda Fuentes, Ima Rosa Rivas, Juan Carlos Chaperón, y luego se fue integrando otra gente como Maury Valerio, Mirimarit Parada, Oscar Roca, Oscar Rodríguez, Luis Miguel Patiño, Ekaterina Gameley, Omar Galbiati, Adolfo Golindano. Esto nos da una idea de una revista que, independientemente de que se le conozca como la publicación de la Asociación de Escritores del estado Nueva Esparta, va mas allá de esta institución y de la rigidez tradicional en las asociaciones de escritores, las cuales de por sí son pavosas. Creo que esta forma que le dimos a la Tropel de luces, de participación de otras expresiones culturales, ha logrado que se mantenga. El mismo hecho de que hayan participado o participen gente como Chevige Guaike, que nunca fue de la Asociación de Escritores, Antonio Guerra, un ácrata que no se asocia en estas instituciones, Adolfo Golindano, que es pintor, nos indica el grado de amplitud que hemos intentando dar. - ¿La revista Tropel de luces está por encima de la Asociación de Escritores? PS - Sí, y creo que en parte ha sido intencional. Nuestra mayor dedicación ha sido a Tropel de luces, pero no sólo como revista, sino extendida a la publicación de libros, ampliada a la formación de nuevas gente que se acerca a la literatura y puede convertirse en un nuevo autor que escriba en la revista. Colocamos a Tropel de luces por encima de la Asociación de Escritores, a la cual llegamos no para hacer una institución tradicional, sino que tomamos el nombre de la misma, ofrecido por quienes antes la dirigieron. Y Tropel de luces ha sido el resultado de este trabajo y en un momento determinado hemos tenido la intención de dejar que esta revista sea nuestra marca, nuestra huella a nivel nacional. - ¿ Tropel de luces es una revista elitesca? PS - Sigue siendo una publicación que llega a un grupo de personas, no podemos obviar que en este país la literatura es elitesca, pues no todo el mundo la ha asumido como parte de su cotidianeidad. Quizás en la medida de que el ciudadano común se vaya acostumbrando a leer, existirá un mayor acercamiento entre la revista y ese ciudadano. - ¿Se ha rebasado las expectativas con la revista Tropel de luces? PS - Nacimos sin la intención de llegar a quince números, a lo mejor fuimos pesimistas, pero no es fácil hacer quince ediciones de una revista literaria, de hecho nos son muchas las experiencias similares. En eso, creo, la expectativa se ha superado y también en la forma como ha sido aceptada en el resto del país, pese a no contar con una distribución que haga posible que llegue a todos los rincones o por lo menos a los interesados en la literatura en el país; sólo la hemos conectado con otros escritores a través de los encuentros o por medio del correo, y se nos va un dineral en el pago del servicio postal, pero es una forma de hacerla conocer. Es importante decir que la revista no se queda en lo literario, pues cuando se hace una publicación en provincia es muy difícil que la resumas a un sector, pues no hay otros medios de divulgación en el sector cultural y entonces la revista se te convierte en una expresión de lo que es la actividad o el mundo cultural. - ¿Tropel de luces pudiera ser una referencia de vanguardia en la literatura? PS - Creo que es una referencia literaria del estado Nueva Esparta, no a nivel de lo que fue para el país El techo de la ballena o alguna de esas revistas o grupos que nacieron o vivieron en momentos convulsionados, para nosotros el momento es distinto, nos ha tocado una época donde el mundo de la literatura es apacible. No somos una vanguardia. - ¿Qué opinión te merece el contenido de la revista en este contexto histórico? PS - La revista no puede escapar a lo que sucede en el país, independientemente del carácter neutral que pretendamos darle. En su contenido siempre hay una referencia a lo que está pasando en el mundo. - ¿El desorden y la desorganización es el éxito de la revista Tropel de luces? PS - Organizados no somos. Si logramos organizarnos a lo mejor tuviésemos menos problemas a la hora de editar la revista; pero quizás esa organización nos restaría espontaneidad. - ¿Hay elementos particulares en la revista? PS - Hay ciertos elementos dentro de Tropel de luces que le dan alguna particularidad, por lo menos el modo de presentar a los autores. Hemos intentando disminuir el nivel académico, hemos intentado, incluso, quitarle seriedad a la revista, cuestión que no hemos logrado, la revista todavía sigue siendo muy seria para el gusto de algunos de nosotros. Hay muchas cosas que el lector no sabe; de repente está leyendo un texto y puede creer que el autor es la persona que aparece como tal, pero pudiera ser otro, pues quizás uno de nosotros no cumple presentando su texto a tiempo, a lo mejor está consumando una misión en un burdel, entonces lo escribe otro, aunque aparezca con la firma de quien debería escribirlo originalmente. Otro elemento es la frescura que intentamos darle a la revista, queremos una publicación que se lea, que atrape al lector. No tenemos la idea de entregarle a los lectores una revista pesada. Lo más difícil es convencer a la gente que tenga la revista en sus manos, una vez logrado eso el trabajo es más fácil. - ¿Qué es lo más que te llena de la revista Tropel de luces? PS - El equipo que hemos logrado. El interés de cada uno de nosotros, en principio no fue igual en todos, pero poco a poco ese afán se ha ido consolidando alrededor de la revista, Esa es una de las cosas que mas me satisface, la revista ha logrado que el equipo se consolide. La experiencia vivida en la Feria Internacional del Libro en Caracas es una prueba. Recientemente alguien me comentaba la sensación de unidad del grupo que mostramos durante el evento. Algunos nos consideran un clan, otros una mafia. Somos una peña. - ¿Qué elementos nos hace diferente al resto de las revistas literarias? PS - La amplitud. Repito, no nos centrarnos en lo meramente literario. Además en la variedad del contenido. Para muchas personas es importante la separata. Para otros la crónica es de un valor especial. Para otros es el trabajo con los artistas. También hay sorpresas, por ejemplo hay una revista donde se hizo un trabajo sobre Reina Rada como escultora, pues ese texto causó impacto entre los docentes., muchos profesores no vieron a la artista sino a la educadora. Esas cosas le van dando una amplitud a la revista que permite que mucha gente la busque. Hemos notado es que hay personas pendientes que la revista salga para ir a comprarla, se sienten orgullosos de que en Margarita exista una revista de esta calidad. Para ellos es un producto margariteño para el mundo. No voy a decir que esta es una generalidad ni que son muchas personas, pero si las hay. - ¿Margarita se divide ante y después de Tropel de luces? PS - Eso le va a quedar a los historiadores o investigadores. A lo mejor le toca a Efraín Subero, quien en una oportunidad dijo que la Asociación de Escritores de Nueva Esparta no existía, o algún alumno de Efraín. - ¿Pedro, alguna sugerencia que tú consideres importante para mejorar la revista? PS - Hay algunas ideas que se han ido asomando en reuniones. Que la revista en el futuro vaya siendo una especie de memoria cultural del estado. Hacer un trabajo sobre lo que ha sido la danza en Nueva Esparta, lo que ha sido el teatro o la música o el cine, de manera que vaya quedando un registro para las futuras generaciones, aunque eso también nos puede conducir a fomentar la flojera entre los muchachos, pues si les mandan a hacer un trabajo sobre el cine en Margarita van y copian a Tropel de luces y no investigan nada. Claro, esto podrá pasar si no llegamos a tener un gobierno que sepa lo que hace y queme todas las revistas, acción que le correspondería a un gobierno serio: quemar Tropel de luces. - ¿Pedro, con cuál de las secciones de la revista te identificas más? PS - Una de las secciones que más me preocupa cuando va a salir la revista es “Desde la barra”, porque es quizá el espacio más fresco, el que tiene mayor contenido de humor, y otra preocupación permanente es el ensayo, que es lo contrario “Desde la barra”, más serio. - ¿Tú aplicas aquel criterio político de Bertold Brecht “ordenar el desorden y desordenar el orden”? PS - Esa vaina es muy profunda para mí. El desorden viene como una respuesta al orden que siempre se impuso en mi casa y luego el orden que se impuso en el Partido Comunista de Venezuela, donde milité hasta que me soportaron. Ser desordenado para romper con tanto orden, me suena mejor. Hemos intentado que ese desorden se manifieste un poco en nuestras actividades para no hacerlas demasiado rígidas, demasiado serias, ni formales. Ya el hecho al asumir el nombre de la Asociación de Escritores es un peso fuerte con el cual uno tiene que luchar permanentemente para derrotarlo. - ¿Pedro, qué significación tiene para ti las portadas de la revista? PS - La portada para nosotros es un reto, estamos obligados a que sea atractiva, pero aparte de eso el autor de la misma debe sentirse orgulloso del trabajo final. No es original de nosotros en Margarita lo de una obra de arte en la portada, la revista Ínsula lo hizo antes, quizá la única diferencia que nosotros le dedicamos un trabajo al pintor. No sabemos si los artistas se sentirán mas satisfechos con la recompensa que les daba Ínsula porque era en efectivo, nosotros tratamos de compensarlo con un retrato escrito. Los artistas plásticos se han interesado en ir apareciendo en portadas de Tropel de luces, hasta el punto de que ya es una cola bastante larga que espera. Quizás sea porque a uno de los autores de la portada lo sobornamos para que dijera que el cuadro más costoso de su vida lo había vendido después de la aparición de una obra suya en la portada, y los demás lo han creído. - ¿Qué es el Comité Regional Clandestino del que nos habla Ekaterina Gamaely en el editorial de la número 14? ¿Tú formas parte de ese Comité? PS - No sé en absoluto quién forma parte de ese Comité. No sabemos si quienes lo conforman son escritores o no, o son enemigos de la revista. No sabemos si son terroristas, en algún momento hemos pensado que son miembros de Al Qaeda. Lo cierto es que los textos que envían a la revista con la intención de ser publicados pasan por manos de este terrible Comité, hasta los escritos por directivos de la Asociación de Escritores o por miembros de la Academia de la Lengua. Los textos son devueltos a la revista por el Comité Clandestino destrozados, incluso aquellos que van a ser publicados. Hemos pensado en publicar los textos rechazados por el misterioso organismo para ver si los lectores coinciden o no con este Comité. - ¿De quién es la autoría de las notas que aparecen a pie de página? PS - Eso tampoco se sabe, aparecen allí sin que nadie sepa quién las hace. Un detalle que a lo mejor los lectores desprevenido no captan, y es que a un autor se le puede cambiar su sitio de nacimiento cada vez que un texto suyo aparezca en la revista. Hay autores que ellos mismos ya no saben donde nacieron. - Siendo tú un hombre de números, de finanzas ¿cuándo piensa Tropel de luces pagar a sus colaboradores ? PS - Esa pregunta sólo la puede responder el Comité Regional Clandestino. - ¿A qué dirección se pueden enviar los textos para Tropel de luces? PS - En el primer número dimos a conocer las directrices para poder publicar en Tropel de luces, en especial para los miembros de la Asociación de Escritores; y allí se vio que era más difícil que un integrante de la Asociación publicara a que lo hiciese otro escritor. En aquella oportunidad los textos podían dejarse en el restaurant La Ceiba, ahora andamos sin dirección, pero en todo caso pueden dejar los textos en el kiosko de Evelín, aquí en el Paseo Guaraguao. Los debe dejar en un sobre cerrado, sin identificarse, porque si se identifica a lo mejor el texto ni siquiera pasa por manos del Comité Regional Clandestino. Nosotros recogeremos el sobre y lo dejaremos en un sitio donde sabemos que algún día pasará este terrible Comité Regional Clandestino, el cual cada día es más clandestino, en especial cuando se sospecha que es un grupo terrorista. - ¿Cuáles fueron las razones que llevaron al diseñador a crear el diseño actual de la revista? PS - Yo creo que fue el diseñador que nos llevó hasta allí. Porque en primer lugar él nos impresionó con unas pruebas, y esa situación nos llevó a escoger el papel para la revista. Lo que si le pedimos a Gabriel Bulla, diseñador inicial, fue frescura, aire, blancos, que dieran una sensación de libertad, que la hiciese atractiva a la vista. Por experiencia, en especial por años de una militancia que nos comprometió a leer revistas muy pesadas, sabemos que los textos cuadrados, las páginas llenas de letras, resultan aborrecibles a la hora de ir a leer. - Pedro, hazte una pregunta PS - ¿Qué yo me haga una pregunta? ¿Cuándo se acaba esta güevonada de Tropel de luces? Tropel de luces nació en mayo del año 2000 (segundo trimestre de ese año). Circula trimestralmente, y siempre ha salido dentro de cada trismestre, aunque sea el último día del mismo. Un tiraje de 1000 ejemplares. Lleva 16 números. Empezó con apoyo de la empresa privada, con el cual todavía cuanta, además con el apoyo del CONAC. Cada número es presentado en un acto público. Asociación de Escritores del Estado Nueva Esparta y Peña Literaria “José Lira Sosa” [email protected] http://tropeldeluces.tripod.com.ve/ . . revistas em destaque .. iararana (brasil) diálogo entre aleilton fonseca & floriano martins FM - Quando surgiu Iararana e em quais circunstâncias editoriais? AF - Iararana - revista de arte, crítica e literatura surgiu como idéia em novembro de 1995, quando eu, que estava fazendo Doutorado na USP, em São Paulo, passava uns dias no Rio de Janeiro, e, andando ao léo, no aterro do Flamengo, para visitar o MAM, tive um estalo. Eu planejava retornar a Salvador e lembrava que a Coleção dos Novos, de 1981, que lançara vários escritores da minha geração (a chamada Geração 80), eu, inclusive, faria 15 anos em 1996. E que devíamos comemorar isso e lançar uma revista que marcasse essa geração. Em janeiro de 1996, já residindo em Salvador, procurei o contista Carlos Ribeiro, companheiro da Coleção dos Novos, e falei da necessidade de comemorarmos os 15 anos da coleção (que lançou 14 autores), com a criação de uma revista que nos representasse. Para minha surpresa, Carlos Ribeiro havia tido a mesma idéia da comemoração e da criação de uma revista. Resolvemos então reunir o pessoal e organizar uma coletânea com os 14 autores publicados pela Coleção dos Novos. Foi assim que surgiu o livro Oitenta - poesia e prosa, com textos de todos, e que foi lançada com grande sucesso. Daí Carlos e eu lançamos a idéia da revista aos demais companheiros de geração. Discutimos, eu redigi o projeto, aprovamos, saímos em busca de patrocínio. Somente em 1998, conseguimos lançar a Iararana n° 1, hoje esgotada, uma raridade (compramos exemplares de quem quiser vender). O jornalista e design Ney Sá fez o projeto gráfico, mantido até hoje. As primeiros editores foram Carlos Ribeiro, Elieser Cesar e eu. Hoje, a editoria está composta por Carlos Ribeiro, José Inácio Vieira de Melo e eu. Desde seu surgimento, a revista assumiu uma postura aberta, sem grupismo, sem sectarismo literário, e ganhou prestígio imediatamente. FM - Qual a razão de seu nome? AF - O nome é uma homenagem ao poeta baiano Sosígenes Costa (nascido em Belmonte, em 1901, falecido no Rio em 1968). Discutimos bastante sobre o nome e aprovamos, por maioria, a minha sugestão: Iararana (que significaria: aquela que tem a aparência de Iara, a divindade indígena dos rios) provém do título do longo poema primitivista, escrito em 1934, só publicado em 1979, em edição preparada por José Paulo Paes, que fez a fixação do texto. Este poema merece figurar ao lado de Cobra Norato, de Raul Bopp, e de Macunaíma, de Mário de Andrade, pelo tema e pela representação mítico-poética de nossas origens étnicoculturais. O fato é que nós queríamos um nome propositivo, que não fosse apenas uma homenagem a um escritor já entronizado no cânone. Sosígenes Costa estava esquecido, podíamos trazêlo à tona com a revista. Sosígenes Costa era avesso à publicidade pessoal, recatado mesmo. Por insistência dos amigos, publicou em vida apenas a Obra Poética, pela editora Leitura, em 1959. O livro recebeu o Prêmio Jabuti de 1960 (SP) e o Prêmio Paula de Brito (RJ). Logo esquecido, o autor foi redescoberto no final dos anos 70 por José Paulo Paes, que lhe dedicou o ensaio crítico Parlenda, pavão, paraiso (Cultrix, 1977), junto com uma antologia. Paes preparou também a edição de Obra poética I e a inédita Obra poética II, num só volume(Cultrix, 1978) e a edição, ilustrada do Aldemir Martins, do poema Iararana (Cultrix, 1979). Depois disso, o nome do poeta baiano submergiu novamente. Em 1996, Gerana Damulakis publicou o ensaio Sosígenes Costa, o poeta grego da Bahia. No centenário de Sosígens Costa, em novembro de 2001, a edição de Iararana 7 foi totalmente dedicada ao poeta. Houve mesas-redondas, palestras, publicações, matérias em jornais. A partir daí o poeta tem sido cada vez mais lido e estudado em ensaios, artigos e dissertações universitárias. Já se publicaram alguns livros sobre sua poesia. Em 2001, o Conselho Estadual de Cultura da Bahia publicou a Poesia completa do autor, com mais de 500 páginas. A revista Iararana contribuiu para este ressurgimento do poeta. FM - Como a revista convive com outros projetos similares na Bahia e também todo o país? AF - Iararana é a única revista da Bahia feita por autores. Ela não é ligada a nenhuma instituição. Desde a n° 1 até a n° 10, que sai em dezembro próximo, temos obtido apoio de empresas e instituições culturais, com isso garantimos a sua existência. Agora, as revistas no Brasil são muito isoladas umas das outras. Cada uma nasce e desaparece sem dialogar com as outras. Então não há intercâmbio, o que poderia fortalecer estas publicações, compartilhando condições de divulgação e público. Uma associação das revistas de literatura poderia conseguir muita coisa. Por incrível que pareça, Iararana faz intercâmbio e parceria com uma revista francesa, bilíngüe, a Latitudes: cahiers lusophones, editada em Paris para divulgar cultura de língua portuguesa. Iararana 8, de 2003, traz um dossiê em comum com a franecesa Latitudes, que, por sua vez, tem republicado alguns textos, informações e ilustrações nossas. Já lançamos Iararana em Paris e em Budapeste, Iararana 8 foi enviada, junto com Latitudes, para vários departamentos de língua portuguesa de universidades francesas e para outras entidades culturais interessadas na cultura lusófona. Juntas, as duas revistas já participaram de exposições, eventos literários, etc. Agora em setembro, estarei na França, participando do Colloque International Le Romantisme Aujourd'hui, na Université FrançoisRabelais, em Tours, e vou levando Iararana 8 e 9 na bagagem para lançar no evento, que terá gente de vários países. Entre outros, estarei numa mesa, ao lado do pai do Nouveau roman, Alain Robbe-Grillet, e isto será muito interessante. Darei Iararana 8 e 9 a ele. FM - Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc.? AF - A dificuldade é a de sempre, a escassez de apoio, a falta de patrocínio contínuo, falta de mais tempo disponível para dedicar à revista. Afinal, somos todos muito ocupados. Mas, de 1998 até 2004, conseguimos editar 10 números. Uma sobrevida considerada longa para a média das revistas literárias não comerciais. Iararana figura em várias bibliotecas e coleções por aí. Já foi citada e referenciada até em teses universitárias. E as conquistas são muitas: prestígio para os autores envolvidos, um lugar no panorama literário, a revelação de novos autores, a convivência de escritores de diferentes gerações e de diferentes lugares. O nosso plano é expandir os contatos nacionais e sobretudo internacionais. Já publicamos autores da Espanha, Eslovênia, Argentina, Portugal, Estados Unidos, França etc. Em 2005, a Iararana 11 trará um dossiê dedicado à Literatura Galega (Espanha) em parceria com o PENCLUBE da Galícia. Nosso plano é continuar fazendo uma revista ativa, aberta, dinâmica, comunitária. FM - Iararana circula em versão apenas impressa ou há também um módulo virtual? AF - Até o momento, a revista tem versão apenas impressa. Existe a vontade de colocá-la no cyberespaço, mas por hora nos falta tempo e coragem suficientes para o desafio. Manter uma revista no ar exige uma disponibilidade de tempo e de pessoal que talvez em 2005 consigamos ter. Vamos discutir isso e procurar uma parceria que possa sustentar o projeto. FM - Qual a sua tiragem e como funciona sua difusão? AF - A revista tira apenas hum mil exemplares. Assim, a sua divulgação é bastante seleta, nos meios literários, entre escritores, professores universitários, bibliotecas, imprensa especializada, etc. FM - Como vês as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura? AF - A internet é uma ferramenta fantástica. Um número incalculável de informações, de textos literários, de estudos críticos… tudo isso posto à disposição de um público incontável… É a grande revolução do século, que deixa muita gente ainda confusa, tonta, desconfiada, mas que é imprescindível como suporte de divulgação cultural massiva. Iararana – Revista de arte, crítica e literatura Editores: José Inácio Vieira de Melo, Aleilton Fonseca e Carlos Ribeiro Rua Rubem Berta 267/402 – Pituba Salvador BA 41820-220 BRASIL Contato: [email protected] . . revistas em destaque .. amauta (peru) ensaio de carlos arroyo reyes En el Perú que José Carlos Mariátegui (18941930) encuentra en marzo de 1923 -cuando retorna de Europa- no se sabe casi nada sobre la nueva literatura rusa. Como si las agujas del reloj del tiempo se hubiesen detenido en el momento de la caída del zarismo o el triunfo de Lenin y los bolcheviques no hubiese provocado ningún cambio cultural de importancia, muchos intelectuales peruanos todavía creen que la literatura rusa se reduce a Miguel Arzibachev o Leonid Andréiev y casi nadie conoce siquiera los nombres de Alexandr Blok, Andrei Bieli o Valeri Briúsov, los tres grandes representantes del simbolismo ruso que se adhieren a los Soviets y pertenecen al ciclo de la literatura rusa de la revolución. Tampoco se sabe nada acerca de Vladímir Maiakovski y los otros poetas futuristas que apoyan decididamente a los bolcheviques y cantan a la revolución, ni de Serguéi Esenin y los imaginistas o de Anna Ajmátova y el acmeísmo. De ahí que, aún a comienzos de 1925, en un artículo sobre Iliá Ehrenburg y la nueva literatura rusa, Mariátegui comente lo siguiente: «El escritor ruso Iliá Ehrenburg, cuyo temperamento artístico habíamos apreciado ya en la traducción francesa de su libro Juno Jurenito y en algunas de sus Historias inverosímiles, nos ha dado últimamente una prueba de su aptitud crítica en un sustancioso ensayo sobre la literatura rusa de la revolución. El tema es, sin duda, interesante, sobre todo para un público a quien no ha llegado de la literatura rusa nada posterior a Gorki, Arzibachev, Andréiev y Merezhkovski y para quien son todavía ignotos Briúsov, Bálmont y Blok». (1) La misma preocupación aflora en una carta que por esa fecha Mariátegui le escribe a su amigo Ricardo Vegas García, Jefe de Redacción del semanario Variedades, donde muestra su extrañeza ante el hecho de que muchos intelectuales peruanos todavía crean que la novísima literatura rusa es la de Andréiev: «Puede ser que se consiga usted también, en su búsqueda en las revistas extranjeras, retratos de Vladímir Maiakovski, de Boris Pilniak, de Andrei Bieli, de Ehrenburg, de Alexandr Blok, etcétera, para un artículo sobre la nueva, o mejor, la novísima literatura, ya que para muchos la nueva es todavía la de Andréiev» (2). Mariátegui no exagera cuando a mediados de la década del veinte las emprende contra aquellos que todavía creen que la nueva literatura rusa es la de Andréiev o la de Arzibachev. Conocido como «el apóstol de las tinieblas», Andréiev es uno de los más grandes escritores profesionales de la Rusia de la preguerra. Lejos de inscribirse en los rangos de la nueva literatura que insurge con la Revolución de Octubre, es un típico novelista y dramaturgo fin de síècle que se siente atraído por los tonos sombríos del decadentismo y hace gala de una morbosidad que tiene algo en común con las cavilaciones de Fiódor Dostoievski sobre el sentido del mal. Escribe diversas obras narrativas como La risa roja, Los siete ahorcados, La voz de la carne o Sacha Yegulev. De estas obras, la que prácticamente lo lanza a la fama es Los siete ahorcados, que aparece en 1908 y se agota al cabo de unos cuantos días. También incursiona en el teatro y compone piezas de la calidad de Hacia las estrellas, La vida del hombre o Judas. En sus inicios, Andréiev se muestra rebelde y misántropo e incluso es encarcelado por sus actividades políticas, pero después se transforma en un conservador que apoya la participación de Rusia en la Primera Guerra Mundial, ataca a la Revolución de Octubre y cruza la frontera con Finlandia, para desde allí escribir apasionadas denuncias contra Lenin y los bolcheviques. En marzo de 1919 lanza un desesperado llamamiento para que los aliados intervengan en Rusia y acaben de una vez con los Soviets. Fallece al poco tiempo, a raíz de un ataque al corazón (3). Arzibachev es otro de los escritores rusos que goza de mucha popularidad en el período previo a la guerra. Dominado por el culto al sexo, la muerte y la desesperación, escribe una serie de libros como La muerte de Iván Lande, Millones, Sanin, El límite o La tumba de las vírgenes. La obra que prácticamente lo saca del anonimato es Sanin (1909), cuya publicación provoca un escándalo similar al que cincuenta años después suscita El amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence. Se dice que varios de los discípulos de Arzibachev, después que leen sus cuentos y novelas, donde el fenómeno del suicidio aparece como un motivo común, llegan a quitarse la vida. También confecciona diversas piezas teatrales como Celos, La ley del salvaje o El mal. Arzibachev se inicia como un bohemio rebelde, pero, al igual que Andréiev, termina oponiéndose a la revolución y se refugia en Polonia, desde donde anima la publicación de un semanario que se distingue por sus ataques a la causa soviética. Muere en 1927, cuando la estrella de la fama y la popularidad ya lo ha abandonado (4). Andréiev y Arzibachev llegan a tener una gran influencia en España y América Latina. Tanto que hasta los integrantes de la llamada «generación del año 20», que son los que acusan el impacto directo de la Revolución de Octubre, tienen problemas para romper con el embrujo del naturalismo y el sexualismo de estos dos escritores rusos. Así, en ese hermoso libro de memorias que es La arboleda perdida, el gran poeta español Rafael Alberti deja constancia de la profunda impresión que a comienzos de los años veinte le causa la lectura de la novela Sacha Yegulev, de Andréiev, que le regala un pariente suyo que trabaja en una conocida casa editorial: «Extremadamente cariñoso conmigo -recuerda Alberti-, Luis me recibía en su oficina de la casa Calpe, editorial en la que trabajaba. A él debo el aumento de mi cultura literaria, pues, siempre generoso, rara era la mañana que no volvía a casa con un montón de libros bajo el brazo. Aquella colección Universal, de pastas amarillentas, nos inició a todos en el conocimiento de los grandes escritores rusos, muy pocos divulgados antes de que Calpe los publicara. Gógol, Goncharov, Korolenko, Dostoievski, Chéjov, Andréiev... me turbaron los días y la noche. Hubo una novela, entre todas, que impresionó profundamente a la juventud intelectual española, sobre la que soplaban ráfagas fuertes de anarquismo: Sacha Yegulev, de Andréiev, autor que por aquellos años había muerto en Finlandia, lejos de la revolución de Lenin, que no alcanzara a comprender. Yo figuraba entre esos jóvenes a quienes la juventud heroica y aventurera de Sacha quitó el sueño» (5). Por la misma época en que Alberti y otros jovénes españoles se estremecen con la lectura de Sacha Yegulev, de Andréiev, las novelas de Arzibachev inundan las librerías de América Latina y son prácticamente devoradas por la «generación del año 20». En Chile, por ejemplo, Sanin, el personaje central de la popular novela de Arzibachev, es tomado como modelo por los anarquistas, los poetas y los estudiantes. Otro tanto ocurre con Andréiev, que es el escritor de moda. Sus novelas -La risa roja, Los siete ahorcados, La voz de la carne o Sacha Yegulev- pasan de mano en mano e inquietan el sueño de muchos jóvenes latinoamericanos. Algunos de ellos, como Pablo Neruda, se sienten tan identificados con Andréiev, que cuando empiezan a escribir sus primeros artículos de crítica literaria -en 1923, para la revista Claridad- firman con el seudónimo de Sacha, tomado de la novela Sacha Yegulev. Por ese entonces, Neruda también lee con fruición El océano, del mismo Andréiev, que tanto influye en su obra El habitante y su esperanza (6). En el Perú, en mayo de 1923, tibios aún los últimos rescoldos de su pasión juvenil por este tipo de literatura decadentista y finisecular, el mismo Mariátegui declara que en materia de prosa su predilección se divide entre Máximo Gorki y Leonid Andréiev (7). De modo que cuando Mariátegui las emprende contra los que todavía se sienten deslumbrados por la literatura de Andréiev y Arzibachev quizás también está terminando de ajustar cuentas consigo mismo o, mejor, con lo que aún queda de su denominada «edad de piedra». La oportunidad para este deslinde se presenta a mediados de abril de 1927, cuando escribe un artículo sobre Arzibachev, que justo por esos días acaba de fallecer. En este texto, Mariátegui parte de una constatación fundamental: que, dentro de la historia de la literatura rusa del novecientos, Andréiev y Arzibachev ocupan un lugar menos importante que otros contemporáneos suyos, como, por ejemplo, Fiódor Sogolub, que es uno de los primeros exponentes del simbolismo ruso. A partir de esta premisa, Mariátegui trata de discutir la cuestión de por qué, a nivel mundial, Andréiev y Arzibachev llegan a gozar de un renombre un tanto desproporcionado. Su idea es que la fama mundial de Andréiev y Arzibachev se debe a que éstos logran aprehender, desde el plano de la ficción, en novelas que tienen más que nada el valor de documentos psicológicos, antes que de creaciones artísticas, todo ese estado de ánimo de desolación, frustración y escepticismo en que, tras la derrota de la revolución de 1905, cae un buen sector de la intelighentsia rusa: «El mundo de Arzibachev -escribe Mariátegui- es generalmente menos atormentado y patético que el de Andréiev, pero tiene la misma filiación histórica. Su sensibilidad se emparenta asimismo, bajo algunos aspectos, con la de Andréiev. Escéptico, nihilista, Arzibachev resume y expresa un estado de ánimo desolado y negativo. Sus personajes parecen invariablemente condenados al suicidio. Suicidas larvados y suicidas latentes, hasta los del coro mismo de sus obras. El destino del hombre es, en este mundo lívido, ineluctablemente igual. El símbolo de la Rusia agoniosa, una horca. Esta literatura reflejaba la Rusia de la reacción sombría que siguió a la derrota de la revolución de 1905. Estudiantes tuberculosos, judíos alucinados, intelectuales deprimidos, componían la escuálida y monótona teoría que desfila por las novelas de Arzibachev bajo la sonrisa sarcástica de algún nietzschano de similor que acabará también suicidándose» (8). Pero la Rusia lívida, enferma y sombría de las novelas de Andréiev y Arzibachev no es toda la Rusia de ese tiempo. Resulta que el movimiento de 1905 no es sólo una derrota, sino también una extraordinaria experiencia que es debidamente aquilatada por aquellos hombres que más tarde, en 1917, despliegan victoriosamente la bandera de la revolución sobre el Kremlin. Desgraciadamente, esa otra faz de Rusia -la de la ilusión y la esperanza- no puede ser conocida ni entendida por Andréiev y Arzibachev. Incluso, cuando el último de ellos pretende diseñar un héroe, su imaginación no va más allá de un personaje como Sanin, que aparece como un fruto de la filosofía individualista y anarquizante de Max Stirner y las ideas de Friedrich Nietzsche sobre el «super-hombre». Como dice el propio Mariátegui: «Cuando [Arzibachev] pretendió crear un héroe, su imaginación de pequeño burgués individualista inventó a Sanin, un superhombre de provincia que no sostiene ninguna lucha -ni siquiera una auténtica agonía interior- y que exhibe como única prueba de su superioridad las victorias de su instinto fuerte y de su cuerpo lozano de animal de presa» (9). La situación de Arzibachev también le permite a Mariátegui discutir la cuestión un poco más general de por qué gran parte de los escritores rusos que pertenecen al ciclo del decadentismo y el simbolismo, no obstante que en sus inicios hacen gala de cierta rebeldía, terminan oponiéndose a la Revolución de Octubre. Así, pensando sobre todo en los decadentes y los simbolistas rusos que en el San Petersburgo de comienzos del siglo XX se agrupan alrededor de las figuras de Dimitri Merezhkovski y Zinaída Hippius, escribe: «Arzibachev era un representante de la intelighentsia, como se llama en Rusia, más que a una élite o una generación, a un ciclo o una época de la literatura nacional. La intelighentsia era confusa y anáquicamente subversiva más bien que revolucionaria. Se nutría de ideales humanitarios, de utopías filantrópicas y de quimeras nihilistas. Cuando la revolución vino, la intelighentsia no fue capaz de comprenderla. No era la revolución vagamente soñada en los salones de Madame Zinaída Hippius entre la musitación exquisita de un poeta simbolista y las fantasías helenizantes de un humanista erudito. El pobre Arzibachev, como otros representantes de la intelighentsia, se apresuró a protestar. Con un ardimiento de pequeño burgués desencantado, combatió la Revolución que llegaba armada de dos fuerzas que Arzibachev no conoció nunca y negó siempre: la ilusión y la esperanza. Por esto, sobreviviente de sí mismo, exiliado de la historia, le ha tocado morir melancólicamente en Varsovia. Sobre la estepa rusa no se dibuja ya como antes el perfil de siete horcas» (10). En otra parte de su artículo sobre Arzibachev, como algo que no le compete directamente, Mariátegui lanza este comentario: «Se dice que Sanin, que extremaba y exasperaba la tragedia rusa hasta lo indecible, produjo una reacción oportuna. Muchos jóvenes revolucionarios se reconocieron estremecidos en los retratos de Arzibachev. Después de sentirse impulsados enfermizamente hacia la muerte y la nada, las almas volvieron a sentirse impulsadas hacia la vida y el mito» (11). No se necesita ser muy zahorí para descubrir que aquí Mariátegui -aunque se refiere a los jóvenes rusos que logran superar la derrota de la revolución de 1905- también está hablando de él y los otros integrantes de su generación que, en algún momento de su juventud, se estremecen con las novelas de Andréiev y Arzibachev y no pueden dormir durante varias noches. El virtual desconocimiento de la nueva literatura rusa que tanto preocupa y angustia a Mariátegui tiene mucho que ver con un factor que es más cultural que político: la barrera del idioma. Por la época en que el autor de los 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928) retorna a Lima, la literatura rusa de la revolución todavía no ha empezado a ser traducida al español. Eso ocurre recién a partir de la segunda mitad de la década del veinte, cuando varias editoriales españolas, como M. Aguilar, la Biblioteca de la Revista de Occidente, Ediciones Biblos, Ediciones Oriente, Cénit y Espasa-Calpe, empiezan a traducir y publicar algunas de las obras más representativas de la literatura rusa de la revolución. Así, en 1925, M. Aguilar publica el libro Literatura y revolución, de León Trotski, que aborda, entre otros temas importantes, la situación del arte anterior a la Revolución de Octubre, el problema del encuentro -y los desencuentros- entre el futurismo y la revolución, el asunto de la relación entre la escuela formalista de poesía y el marxismo, la cuestión de la existencia del arte proletario, y la posición de los bolcheviques ante el arte. En 1926, gracias a la iniciativa de la Biblioteca de la Revista de Occidente, circulan las traducciones al español de Los tejones, de Leonid Leónov, Caminantes, de Lidia Seifulina, y Tren blindado número 14-69, de Vsevolod Ivánov. En ese mismo año, Espasa-Calpe publica el libro La nueva Rusia, de Julio Alvarez del Vayo, donde aparecen -traducidos al español- algunos fragmentos de la obra poética de Vladímir Maiakovski, Anna Ajmátova, Serguéi Esenin y Alexandr Blok. Entre los textos poéticos, figuran «La canción del perro», que es uno de los poemas más bellos y característicos de Esenin, y algunos de los versos de Los doce, de Blok, que es una de las obras más representativas del ciclo de la Revolución de Octubre. El autor de estas traducciones de Maiakovski, Ajmátova, Esenin y Blok como el mismo Alvarez del Vayo se encarga de informar a sus lectores- es Enrique Díez-Canedo (12). Sin embargo, el proceso de traducción al español de la nueva literatura rusa aún es lento, por lo menos en comparación con lo que ocurre en Francia o Italia, donde se pueden encontrar hasta revistas -como Russia, de Ettore Lo Gatto- que se dedican exclusivamente a traducir y difundir a los escritores rusos de la revolución. Por eso, a comienzos de 1927, Mariátegui saluda a la Revista de Occidente por su iniciativa de publicar las novelas de Leónov, Seifulina e Ivánov, pero aclara que aún es muy poco lo que se ha hecho con respecto a la traducción al español de la nueva literatura rusa. Su idea es que, para tener una visión panorámica de la literatura rusa de la revolución, también se debe leer a autores como Vladímir Maiakovski, Alexandr Blok, Valeri Bríusov, Boris Pasternak, Serguéi Esenin, Boris Pilniak, Isaak Bábel o Konstantín Fedin, que todavía no han sido traducidos al español: «Empieza -escribe- a ser vertida en español la nueva literatura rusa. (Ya se sabe que la nueva literatura rusa no es la de los "emigrados" sino la de la Revolución. La que se alimenta de la savia, la emoción, el impulso, el sentimiento del orden nuevo). La Biblioteca de la Revista de Occidente ha publicado el Tren blindado de Vsevolod Ivánov y Caminantes de Lidia Seifulina. Esto, claro está, es todavía muy poco. Sólo después de conocer a Pilniak, Bábel, Maiakovski, Esenin, Fedin, Zamiántin, Lunts, Pasternak, Tikhonov, Leónov, Ehrenburg, etcétera, podrá el lector hispano enjuiciar panorámicamente la literatura rusa de la revolución. De los propios literatos del período anterior a la Revolución, tal vez los más representativos permanecen aún inéditos en español. Mencionaré a Blok, Bríusov, Remisov y Bieli. Y su conocimiento es necesario como introducción en la literatura postrevolucionaria, a la cual Blok, Bríusov y Bieli han dado su aporte, mientras Remisov, hostil al bolchevismo, ha extraído, sin embargo, de la nueva vida rusa, los temas de sus últimos trabajos» (13). El proceso de traducción al español de la literatura rusa de la revolución mejora un poco más durante los últimos años de la década del veinte, particularmente en lo que se refiere a obras narrativas. En 1927, al poco tiempo que Mariátegui escribe su comentario sobre la forma tan lenta en que avanza la difusión en español de la nueva literatura rusa, Ediciones Biblos publica Caballería Roja, de Isaak Bábel, que es uno de los libros de cuentos más hermosos, estremecedores y perdurables de la literatura rusa de la revolución, y Las ciudades y los años, de Konstantín Fedin. Al año siguiente, Ediciones Oriente entrega a la imprenta una nueva obra de Fedin: Los mujiks; mientras que la Editorial Cénit lanza al mercado un libro que causa un tremendo impacto entre los lectores de habla española y rápidamente se convierte en una suerte de emblema del emergente «realismo proletario»: la novela Cemento, de Fedor Gladkov. Por ese entonces, la Biblioteca de la Revista de Occidente también publica El farol, de Eugenio Zamiátin. En 1929, Espasa-Calpe pone en circulación El diario de Costia Riabtsev, de Nicolás Ognev; en tanto que Ediciones Europa-América hace lo mismo con La derrota, de Alexandr Fadéiev (14). Este ciclo prácticamente se cierra con Rusia a los doce años, el nuevo libro de reportajes de Alvarez del Vayo, que también aparece en 1929 y contiene abundante y valiosa información sobre la literatura, el teatro y el cine soviéticos. En esta obra, entre otras cosas memorables, Alvarez del Vayo transcribe parte de sus conversaciones con Boris Pilniak, que aparece como una especie de «diplomático» de la nueva literatura rusa, y con Sergej Eisenstein, el director de un filme que con el paso de los años se convierte en una de las obras cumbres de la cinematografía mundial: El acorazado Potemkin (15). Poco tiempo después, refiriéndose al avance que durante el segundo lustro de la década del veinte se observa en el proceso de tradución al español de la nueva narrativa rusa, George Portnoff escribe: «Actualmente -dice- están apareciendo en España autores rusos, hijos de la Revolución, y sus obras, como es natural, son también fruto de la Revolución. La Revista de Occidente publicó hace poco El tren blindado número 14-69, de Vsevolod Ivánov; Caminantes, de Lidia Seifulina; Los tejones, de Leonid Leónov; El farol, de Eugenio Zamiátin. En las Ediciones Biblos apareció Las ciudades y los años, de Konstantín Fedin, y otros como Cemento, que ha hecho gran sensación» (16). La crítica en español Otro factor que se opone a la adecuada difusión de la nueva literatura rusa en el mundo de habla española es la critica un tanto equivocada de los pocos escritores españoles que se ocupan de ella. Esos son los casos de Cristóbal de Castro, de La Libertad, de Madrid, y, en cierta forma, de Ricardo Baeza y Luis de Zulueta, asiduos colaboradores de una publicación española que tiene cierta influencia en la «formación de minorías» en América Latina: la Revista de Occidente. Al igual que los animadores de la Revista de Occidente -que llegan a difundir las obras de Ivánov, Seifulina, Leonov y Zamiátin-, Baeza y Zulueta se interesan por el fenómeno cultural ruso (17). Incluso, en algún momento de su vida -allá en 1922-, el primero de ellos colabora activamente con la misión de socorro que patrocina el explorador y naturalista noruego Fridtjof Nansen con la finalidad de llevar ayuda a los habitantes de Ucrania y el Volga (18). Pero, por sus mismos prejuicios políticos, tanto Baeza como Zulueta no pueden entender ni apreciar adecuadamente las consecuencias del fenómeno bolchevique en el arte. De allí que Mariátegui polemice con ellos en diversas ocasiones. Así, refiriéndose al ensayo «El nuevo teatro en la Rusia soviética», que en 1924 Baeza publica en la Revista de Occidente, Mariátegui escribe: «El lector hispanoamericano -dice- no puede llegar por la sola vía del español a la literatura rusa de la post-guerra. En español, de este tema no nos ha hablado, con conocimiento y con simpatía, sino Julio Alvarez del Vayo. En la Revista de Occidente, Ricardo Baeza dedicó hace algún tiempo un artículo al teatro ruso; pero, aparte de que se limitaba a reflejar las impresiones de un escritor inglés, y de que su evidente humor anti-revolucionario lo inhabilitaba para entender y apreciar las consecuencias del fenómeno bolchevique en el arte, enfocaba en su artículo sólo un género literario, tal vez el que menos ha podido desarrollarse dentro de la situación creada por la Revolución» (19). En otra ocasión, comentando el trabajo «El enigma de Rusia», que en 1926 Zulueta publica en la Revista de Occidente, Mariátegui se ve obligado a refutar la hipótesis de que en el acento apocalíptico y extremista de los bolcheviques se solapa el misticismo y la neurosis de Dostoievski. Su idea es que esta suposición de Zulueta, antes que sustentarse en un estudio sobre la nueva literatura rusa, se apoya en el prejuicioso concepto de José Ortega y Gasset de que la revolución rusa, en el fondo, no es una revolución europea, sino «un misticismo oriental»: «El misticismo, la neurosis, la exasperada búsqueda de infinito y de absoluto, que hallan su más fuerte y patética expresión artística en la obra de Dostoievski -escribe el peruano en 1929, en un artículo sobre un libro que Stefan Zweig le dedica al autor de Los hermanos Karamazov-, eran estimados como los factores morales de la Revolución, que debería a esos factores su acento apocalíptico y extremista. Recuerdo que hace tres años, Luis de Zulueta, en un ensayo de la Revista de Occidente, sobre "El enigma de Rusia", que debía su primera inspiración a Ortega y Gasset, barajaba todavía estos motivos, suscribiendo, a pesar de advertir el programa marxista y occidental de la Revolución, el concepto de Ortega de que ésta "no era, en el fondo, una revolución europea, sino un misticismo oriental"» (20). En otra parte de este mismo artículo, como corrigiéndole la plana a Zulueta y Ortega y Gasset, Mariátegui acota que no existe ningún tipo de vínculo entre Dostoievski y los bolcheviques. Resulta que éstos, al representar la fuerza de una voluntad realizadora y operante, aparecen como la superación de aquello que es tan característico en la novela dostoievskiana: la angustia, la desesperación, el misticismo nihilista. Como él mismo dice: «Dostoievski tradujo en su obra la crisis de la inteligencia rusa, como Lenin y su equipo marxista se encargaron de resolver y superar. Los bolcheviques oponían un realismo activo y práctico al misticismo espirituoso e inconcluyente de la inteligencia dostoievskiana, una voluntad realizadora y operante a su hesitación nihilista y anárquica, una acción concreta y enérgica a su abstractismo divagador, un método científico y experimental a su metafísica sentimental» (21). La situación de Cristóbal de Castro es un tanto diferente a la de Baeza y Zulueta. En su caso, se trata no sólo de simples prejuicios políticos, sino de una franca posición antisoviética. Al menos, eso es lo que se desprende de la lectura de su artículo «El hombre y los ex-hombres», que a mediados de 1928 publica en La Libertad, de Madrid. En este texto, el critico español exhuma las más mendaces versiones acerca de la actitud de Gorki ante los Soviets e incurre en la ligereza de comentar Los Artamonov, su novela más reciente, sin haberse tomado siquiera el trabajo de leerla. Así, en una parte de su trabajo, sostiene equivocadamente que el asunto y los personajes de Los Artamonov tienen que ver con el problema del «comunismo» en Rusia: «En Capri, junto al mar azul -escribe Castro-, el apóstol de los ex-hombres fue metodizando sus cóleras por la reflexión y sus juicios por el documento hasta dar en su libro Los Artamonov, un robusto resumen del comunismo a través de tres generaciones: el mujik, de la época de los siervos; el industrial dilapidador de la época zarista y el revolucionario bolchevique. Generación aldeana y crédula. Generación industrial y ambiciosa. Generación revolucionaria y tiránica. Las tres generaciones de Artamonov no sólo se dañaron a sí mismas, sino que quitaron la fe y la paz a los siervos, a los mujiks, a los obreros de toda Rusia» (22). Casi por la misma época en que La Libertad difunde el mencionado artículo de Castro, Mariátegui termina de leer la traducción al italiano de Los Artamonov, que publica la Editorial Fratelli Treves, y escribe un comentario sobre ella. Se trata de su artículo «La última novela de Máximo Gorki», que el 20 de julio de 1928 aparece en la revista Mundial. Por esa circunstancia, puede percatarse que Castro no ha leído Los Artamonov y lo critica duramente en un trabajo que lleva el título de «Máximo Gorki, Rusia y Cristóbal de Castro», pues considera que no tiene nada de ético aquello de comentar o reseñar libros que no se han leído: «Al revés de Gorki novelista -afirma Mariátegui-, el señor Cristóbal de Castro no ha menester de documentarse para tratar un tema. Tiene la osadía irresponsable del gacetillero para afirmar cualquier cosa, sin ningún temor de engañarse. Le bastan los recuerdos dispersos de sus lecturas apresuradas y vulgares para escribir la historia. Puede trazar la biografía de Gorki, sin haberse acercado jamás a su obra ni a su vida» (23). Por último, referiéndose a cuál es el verdadero argumento de Los Artamonov, Mariátegui agrega: «Y me siento en grado de suponer que el señor Cristóbal de Castro no conoce Los Artamonov sino a través de uno de esos retazos de crónica, recogidos sin ningún discernimiento crítico, de que se sirve generalmente para su trabajo periodístico. Porque en caso de haber leído Los Artamonov, su absurda interpretación lo dejaría en muy mala postura. Resulta que el escritor de La Libertad no sólo está mal informado por gacetilleros presurosos y confusos, sino que es incapaz de informarse mejor por su cuenta. Habría leído Los Artamonov, pero sin entender una palabra del asunto ni de los personajes. Remito a los lectores a mi anterior artículo. Les será fácil enterarse de que ni el asunto ni los personajes de Los Artamonov tienen algo que ver con el comunismo. Las tres generaciones de la familia Artamonov que nos presenta Gorki son tres generaciones burguesas. El fundador de esta precaria dinastía de burgueses de provincia, procede del servicio de un príncipe expropiado. Es un siervo emancipado, como los que se encuentran en los orígenes de la burguesía de otros países. Es un campesino pero no es un mujik. Proviene quizá de una generación aldeana y crédula, pero él mismo no lo es. En él se reconoce, más bien, el impulso creador que mueve el surgimiento de toda burguesía. Toda la obra de la familia Artamonov -una fábrica y su provecho-, es del viejo exdoméstico. De sus hijos, uno le sucede en el comando de la fábrica, el otro, un jorobado, se refugia en un monasterio. Su sobrino, hijo natural de un noble, se prolonga en un industrial de cierta facundia y presunción, contagiado de ideas reformadoras y progresistas, que miran al afianzamiento del poder de la burguesía contra el poder supérstite de la aristocracia. Uno de los Artamonov de la tercera generación repudia la fábrica y la familia. Los repudia por adhesión intelectual al socialismo; pero escapa por este mismo acto al argumento de la novela. Es un personaje ausente, desertor. La ruina de los Artamonov tiene un testigo implacable, el viejo portero Tikhon. Cuando la revolución sobreviene, habla por sus labios. Pero tampoco Tikhon es comunista ni es obrero. No es sino un testigo rencoroso y desilusionado del drama al que le toca asistir» (24). Más cercano de la geología que de la política La importancia que Mariátegui le atribuye a la tarea de la difusión de la nueva literatura rusa, tanto en términos de traducción al español como de una crítica adecuada y oportuna, es una cuestión que se relaciona con su original aproximación al marxismo. Resulta que él está completamente convencido que las realidades sociales también pueden ser abordadas desde el punto de la cultura y desde ese sector tan menospreciado en otras tradiciones marxistas que es la llamada «superestructura», en particular, el mundo de la creación literaria y de la ficción (25). En este caso, se trata de su convicción de que no se puede conocer la nueva Rusia de los Soviets sin conocer su nueva literatura. De allí que glose con fruición a Iliá Ehrenburg y, como algo que seguramente él mismo hubiese querido escribir, repita que «los extranjeros que no conocen la nueva literatura rusa no conocen a la nueva Rusia, pues sólo la literatura, al menos parcial o convencionalmente, podría hacerles comprender el proceso grandioso, más cercano de la Geología que de la política, que se opera en un pueblo de ciento cincuenta millones de almas» (26). Por eso, cuando retorna a Lima -en marzo de 1923-, Mariátegui se vincula a la experiencia de la Universidad Popular «González Prada» y, en las clases que dicta allí, habla no sólo de la crisis de la democracia burguesa y el surgimiento del fascismo, sino también del significado de la revolución rusa. Gracias a lo que explica en sus clases, muchos obreros y estudiantes se familiarizan con una serie de palabras que les eran desconocidas: «Lenin», «Krupskaya», «Lunacharski», «bolchevique», «soviet». Refiriéndose al impacto que provocan las conferencias de Mariátegui, Armando Bazán, que por ese entonces es un joven profesor de la Universidad Popular, escribe: «Actuábamos recuerda- solamente porque era hermoso y arriesgado enseñar por las noches a unos alumnos adultos, que salían sucios, fatigados, pero anhelantes de sus fábricas y de sus tajos; anhelantes por oírles hablar en una sola clase de dos horas largas, del aparato circulatorio, la composición de la luz, las operaciones aritméticas o del destierro de nuestro director, finalizando con un poema de corte más o menos modernista de alguno que otro bardo más o menos melenudo. De vez en cuando, también lucieron en esas clases algunas palabras que ardían como bengalas y que debían manejarse con mucho cuidado; palabras un tanto misteriosas y peligrosas, como "Lenin", "Soviet", "Bolchevique", "Lunacharski", "Krupskaya". Misteriosas bengalas que iluminaron los sueños de esos profesores de veinte años y de esos alumnos, entre los que había más de uno con el cabello ya canoso y la inocencia de un niño» (27). Pero, aparte de aquellas palabras que a Bazán le resultan como bengalas, Mariátegui también introduce otras no menos iluminadoras: «Blok», «Esenin», «Maiakovski», «Bábel», «Gladkov», «nuevo romanticismo», «realismo proletario». Esta situación se aprecia en los artículos que escribe para Mundial y Variedades, donde el tema de la literatura rusa de la revolución ocupa un lugar tan importante como el futurismo italiano, el expresionismo alemán o el surrealismo francés, y motiva algunas de sus páginas más bellas y sugerentes. Dentro de ellos, se pueden mencionar sus semblanzas sobre León Trotski y Anatoli Lunacharski, su ensayo sobre Iliá Ehrenburg, los artículos que dedica a los poetas Alexandr Blok y Serguéi Esenin, y sus comentarios sobre las novelas de Máximo Gorki, Lidia Seifulina, Leonid Leónov, Fedor Gladkov, Konstantín Fedin, Nicolás Ognev y Alexandr Fadéiev (28). Lo mismo se descubre en los diversos números de Amauta -la revista que Mariátegui funda en 1926-, donde los cuentos de Isaak Bábel, para tomar sólo a uno de los exponentes más sobresalientes de la nueva literatura rusa, tienen un espacio tan importante como los dibujos del expresionista George Grosz, los textos del surrealista André Breton o las novedades de las vanguardias artísticas europeas en general. Los otros narradores rusos que son traducidos y publicados en esta revista son Boris Pilniak y Miguel Zoschenko. Además, en Labor, que aparece como una proyección editorial de Amauta, se empieza a publicar, a manera de folletín, la novela Cemento, de Fedor Gladkov. A lo anterior también hay que sumar los ensayos de Iliá Ehrenburg y Anatoli Lunacharski sobre el proceso de la literatura rusa de la revolución que Amauta incluye en sus páginas (29). Otro tanto ocurre en las tertulias que Mariátegui anima en su casa, en el jirón Washington, en el acogedor «rincón rojo», donde, además de Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche, Erich Maria Remarque, Óscar Wilde, Bernard Shaw, Igor Stravinski, Pablo Picasso o los surrealistas, también conversa de Anatoli Lunacharski, Iliá Ehrenburg, Boris Pilniak, Alexandr Blok o Vladímir Maiakovski (30). Con el tiempo, las diversas iniciativas que Mariátegui toma para difundir a la literatura rusa de la revolución se reflejan en el gusto y las preferencias literarias de los diversos grupos intelectuales de Lima y provincias. Así, si nos guiamos por el testimonio de Luis Alberto Sánchez, se descubre cómo muchos de los más conspicuos representantes de la nueva literatura rusa, como Fedor Gladkov, Leonid Leónov, Eugenio Zamiátin o Alexandr Fadéiev, son incorporados con rapidez en el firmamento referencial de los vanguardistas peruanos y acaban disputando devociones, preferencias y simpatías con Jean Cocteau, Salvador Novo o Jorge Luis Borges (31) Esta especial atmósfera intelectual es la que también explica por qué una revista como el Mercurio Peruano, que nada tiene que ver con las vanguardias, termina interesándose en la literatura rusa de la revolución y, en 1927, con ocasión del décimo aniversario de la Revolución de Octubre, publica una selección -preparada por el poeta Alberto Uretadonde figuran «La canción del perro» de Serguéi Esenin y algunos versos de Los doce de Alexandr Blok y Aventura extraordinaria de Vladímir Maiakovski (32). De este modo, gracias al noble esfuerzo de Mariátegui, la literatura rusa de la revolución logra conquistar un lugar bajo el sol del nuevo ciclo de cosmopolitización -internacionalización o modernización, como ahora se dice- que experimenta la cultura peruana en la década de 1920. NOTAS (1) Mariátegui, José Carlos: «La nueva literatura rusa», Variedades, Lima, 20 de marzo de 1926, en El artista y la época, 12º Edición, Lima, Biblioteca Amauta, 1987, pág. 158. (2) Carta de José Carlos Mariátegui a Ricardo Vegas García (11 de mayo de 1925), en Mariátegui, José Carlos: Correspondencia (Introducción, compilación y notas de Antonio Melis), Lima, Biblioteca Amauta, 1984, tomo I, pág. 82. (3) Ver Cornwell, Neil (Ed.): Reference Guide to Russian Literature, Chicago, Fitzroy Dearborn Publishers, 1998, págs. 110114. (4) Ibíd., págs. 118-120. (5) Alberti, Rafael: La arboleda perdiada. Primero y Segundo libros (1902-1931), Madrid, Alianza Editorial, 1998, pág. 178. (6) Teitelboim, Volodia: El corazón escrito. Una lectura latinoamericana de la literatura rusa y soviética, Moscú, Editorial Ráduga, 1986, pág. 213. (7) Mariátegui, José Carlos: «Instantáneas», Variedades, Lima, 26 de mayo de 1923, en La novela y la vida, 11º Edición, Lima, Biblioteca Amauta, 1985, pág. 139. (8) Mariátegui, José Carlos: «Miguel Arzibachev», Variedades, Lima, 16 de abril de 1927, en Signos y obras, 3º Edición, Lima, Biblioteca Amauta, 1971, pág. 95. (9) Ibíd., pág. 96. (10) Ibíd., págs. 96-97. (11) Ibíd., pág. 95. (12) Ver Alvarez del Vayo, Julio: La nueva Rusia, Madrid, EspasaCalpe, 1926, págs. 232-241. (13) Mariátegui, José Carlos: «Caminantes, por Lidia Seifulina», Variedades, Lima, 15 de enero de 1927, en Signos y obras, págs. 91-92. (14) Ver Schanzer, George D.: Russian Literature un the Hispanic World: A Bibliography, University of Toronto Press, 1972. (15) Ver Alvarez del Vayo, Julio: Rusia los doce años, Madrid, Espasa-Calpe, 1929, págs. 87 y siguientes. (16) Portnoff, George: La literatura rusa en España, New York, Instituto de las Españas, 1932, pág. 47. (17) López Campillo, Evelyne: La «Revista de Occidente» y la formación de minorías, Madrid, Taurus, 1972, pág. 121 y sgts. (18) Alvarez del Vayo, Julio: La nueva Rusia, pág. 49. (19) Mariátegui, José Carlos: «La nueva literatura rusa»,en El artista y la época, págs. 158-159. (20) Mariátegui, José Carlos: «La Rusia de Dostoievski. A propósito del libro de Stefan Zweig», en El artista y la época, pág. 166. (21) Ibíd., págs. 166-167. (22) Citado en Mariátegui, José Carlos: «Máximo Gorki, Rusia y Cristóbal de Castro», Variedades, Lima, 3 de agosto de 1928, en Signos y obras, pág. 89-90. (23) Ibíd, pág. 89. (24) Ibíd, págs. 90-91. (25) Flores Galindo, Alberto: «Para situar a Mariátegui», en Adrianzén, Alberto (Ed.): Pensamiento político peruano, Lima, Desco, 1987, pág. 207. (26) Mariátegui, José Carlos: «La nueva literatura rusa», en El artista y la época, pág. 158. (27) Bazán, Armando: Biografía de José Carlos Mariátegui, Santiago, Zig-Zag, 1939, pág. 94. (28) Ver Mariátegui, José Carlos: «Máximo Gorki y Rusia», Variedades, Lima, 27 de octubre de 1923; «Trotski», Variedades, Lima, 19 de abril de 1924; «Lunacharski», Variedades, Lima, 15 de febrero de 1925; «Alexandr Blok», Variedades, Lima, 19 de setiembre de 1925; «La nueva literatura rusa», Variedades, Lima, 20 de marzo de 1926; «Caminantes, por Lidia Seifulina», Variedades, Lima, 15 de enero de 1927; «Leonid Leónov», Variedades, Lima, 26 de febrero de 1927; «Sergio Esenin», Variedades, Lima, 1º de octubre de 1927; «La última novela de Máximo Gorki», Mundial, Lima, 20 de julio de 1928; «Máximo Gorki, Rusia y Cristóbal de Castro», Mundial, Lima, 3 de agosto de 1928; «El centenario de Tolstói», Variedades, Lima, 15 de setiembre de 1928; «Cemento, por Fedor Gladkov», Variedades, Lima, 20 de marzo de 1929 Edición, Lima, Biblioteca Amauta, 1987,; «La Rusia de Dostoievski. A propósito del libro de Stefan Zweig», Variedades, Lima, 10 de abril de 1929; «Los mujics, por Konstantín Fedin», Variedades, Lima, 8 de mayo de 1929; «Rusia a los doce años», Variedades, Lima, 10 de julio de 1929; «Teatro, cine y literatura rusa», Mundial, Lima, 19 de julio de 1929; «El diario de Kostia Riabtzev», Variedades, Lima, 14 de agosto de 1929; «La derrota, por A. Fadéiev», Variedades, Lima, 25 de diciembre de 1929; y «El realismo en la literatura rusa», Variedades, Lima, 7 de enero de 1930. (29) Ver Ehrenburg, Iliá: «La literatura rusa de la revolución», Amauta,Nº 3, Lima, noviembre de 1926; Pilniak, Boris: «Arina», Amauta, Nº 3, Lima, noviembre de 1926; Bábel, Isaak: «La sal», Amauta, II, Nº 6, Lima, febrero de 1927, y «La carta», Amauta, Nº 7, Lima, marzo de 1927; Zoschenko, Miguel: «Una noche terrible», Amauta, Nº 9, Lima, mayo de 1927 yNº 10, Lima, diciembre de 1927; Lunacharski, Anatoli: «El desarrollo de la literatura soviética», Amauta, Nº 20, Lima, enero de 1929; y Gladkov, Fedor: Cemento, Labor, Nº 10, Lima, setiembre de 1929. (30) Miró, César: Testimonio y recaudo de José Carlos Mariátegui, Lima, Editora Amauta, 1994, págs. 23-24 y 28. (31) Sánchez, Luis Alberto: Testimonio personal. Memorias de un peruano del siglo XX, tomo I, pág. 207. (32) Ureta, Alberto: «La poesía rusa contemporánea», Mercurio Peruano, XVI, Lima, 1927, págs. 429-441. [Texto originalmente publicado em La Hoja Latinoamericana # 84 (Uppsala, abril/junio de 2003), com o título "José Carlos Mariátegui, Amauta y la literatura rusa de la revolución".] . jornal de poesia triplov alô música . revistas em destaque .. portal de poesía contemporánea (espanha) depoimento de maría martín arévalo El Portal de Poesía Contemporánea de la Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes incluye las creaciones poéticas más crecientes de autores iberoamericanos. Uno de sus rasgos diferenciadores es que además de textos, ofrece la posibilidad de escuchar a los propios autores recitando sus versos, de verlos en algunas lecturas e incluso de conocer cómo son y qué piensan a través de entrevistas personalizadas. El Portal de Poesía Contemporánea es uno de los 20 portales temáticos de la Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, una biblioteca digital que nació en julio de 1999 con el objetivo de publicar en formato digital obras, estudios y documentos relacionados con las culturas hispánicas. Aunque la base es la literatura, también se ofrecen materiales relacionados con la historia, el arte, la política,... Para conseguir este propósito, “la Biblioteca se ha convertido en un centro de estudio y desarrollo de herramientas tecnológicas que ya la sitúan a la vanguardia de las bibliotecas digitales”, explica su director, el catedrático de historia Emilio La Parra. Creada bajo el auspicio de la Universidad de Alicante, en España, las coordenadas de la Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes las rige el Patronato de la Fundación Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. El Portal de Poesía Contemporánea cuenta con un catálogo de más de 60 autores iberoamericanos. Según la coordinadora del Portal, María Martín, “el rasgo diferenciador del Portal de Poesía Contemporánea y de toda la Biblioteca Virtual, es que a los textos añade, imágenes, voces, sonidos, vídeos, etc, lo que completa más la visión que aportamos de cada uno de los autores”. “Es -asegura- una nueva forma de leer poesía”. El Portal de Poesía Contemporánea pretende convertirse, más que en una antología, en un diccionario poético contemporáneo multimedia, virtual y gratuito. En la actualidad el Portal une la poesía que se está haciendo en España y en América Latina y aglutina a autores que escriben tanto en castellano como en otras lenguas autóctonas como pueden ser el catalán, el gallego o el mapudungún, además de incluir algunas traducciones en portugués. En su catálogo de autores se puede encontrar desde a los grandes premiados del siglo XX como Pablo Neruda o Gabriela Mistral hasta los jóvenes, estimados o controvertidos como Carlos Marzal, Oliverio Girando, Gonzalo Rojas, Dulce María Loynáz, Mario Benedetti, Ángel Gozález, José Hierro o Nicanor Parra. Muy pronto la obra de autores como Manuel Álvarez Ortega, Marcos Ana, Aurora Luque o Luís García Montero estarán disponibles en el Portal. Uno de los principales problemas a los que se enfrenta el Portal de Poesía Contemporánea es la dificultad de contactar con los autores o los herederos legales de sus derechos. Por eso, la mayor parte de los poetas publicados son españoles, ya que la sede física de la Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes está en el Campus de la Universidad de Alicante, en la costa mediterránea española. “Somos extremadamente escrupulosos con el respeto a los derechos de autor, por lo que no se publica nada que cuente con una cesión firmada”, explica la coordinadora del portal. María Martín afirma que diariamente se reciben sugerencias y peticiones a través del correo que el Portal tiene habilitado en su página de inicio. “Es muy útil porque una pista lleva a otra y al final logramos contactar con muchos autores, lo que sin la ayuda de otros poetas, editores o usuarios sería imposible”. El Portal de Poesía empezó a funcionar en noviembre de 2002 y a fecha de agosto de 2004 ya había recibido 387.482 visitas. Autores como Manuel Gahete (Córdoba-España) han dicho del Portal de Poesía que es “una manera perfecta de acercarnos a nuevos creadores, tanto por recientes como por no conocidos” y lo ha descrito como “un oasis de luz, más que necesario” para la poesía. Por su parte, Jesús Munárriz, poeta y director de la editorial Hiperión, ha alabado el proyecto por permitir “leer y escuchar de una a los autores y a sus versos”. Para el argentino Claudio Serra Brun, cervantesvirtual.com está haciendo “una gran labor de comunicación vía Internet entre los 22 países que disfrutamos de nuestra lengua hispana”. Y es que el Portal de Poesía Contemporánea permite a usuarios y creadores, participar en foros de libre expresión para debatir sobre textos, autores u obras, estableciendo un feedback más que necesario entre los amantes de la poesía. María Martín Arévalo Coordinadora del Portal de Poesía Contemporánea Realizadora de la Unidad Audiovisual y Área de Comunicación y Atención al Usuario E-mail: [email protected] Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Universidad de Alicante. Edificio Nuevos Institutos Campus de San Vicente del Raspeig Apdo Correos, 99 E-03080 Alicante . revistas em destaque alforja (méxico) diálogo entre josé vicente anaya, josé ángel leyva & floriano martins FM - Como surge alforja, motivada por qual desejo? Falem um pouco dessa Fraternidad Universal de los Poetas. José Vicente Anaya – La revista de poesía alforja tuvo dos inicios frustrados, antes del tercero que la dio a luz en la primavera de 1997. Por 1987 convoqué a varios poetas para proponerles una revista de poesía (teniendo ya pensado el nombre de alforja como referencia a la utopía de los poetas y filósofos cínicos de la antigua Grecia, habiendo reunido los materiales que conformaron la mayor parte del que saldría impreso como número 1 y hasta las ilutraciones del dibujante Eko —cuyas ilustraciones utilizamos hasta que armamos el número 11— con la idea de que cada número fuera ilustrado por un pintor diferente como muestra de que la imagen del artista es poesía visual). Tanto en la primera como en la segunda convocatoria (ésta por 1992) los poetas convocados no hicieron nada para llevar a cabo el plan. Fue entonces que en los últimos meses de 1996 los poetas convocados trabajaron con mayor compromiso y decisión para resolver los problemas materiales que implican publicar un libro (pues alforja tiene formato de libro) cada tres meses, es decir, por cada estación del año, como lo estamos haciendo hasta ahora. Así, alforja REVISTA DE POESÍA nació primeramente con la idea de que la poesía es un territorio de la imaginación, pero vivible, y desde este punto de vista es una utopía llevada a la realidad. A ese territorio, que se diferencia y contrasta con los territorios pedestres, es invitada toda la gente que lo escribe y que lo lee. Por esto, queremos que en la revista se expresen todas las voces de quienes escriben y quienes leen poesía, todas las voces de todas las culturas y lenguas. Queremos propiciar la diversidad en todos los aspectos y sentidos, ya que el mundo y la vida no pueden estar reducidos a una sola vía, y al promover la diversidad estamos planteando un mundo completamente opuesto a todo reduccionismo como el de las vanguardias o fundamentalismos en boga. Cuando nació alforja no había en México ninguna otra revista dedicada exclusivamente a la poesía y con formato de libro, características que pretenden darle a la poesía un lugar distintivo en tanto arte de los más grandes. Sólo teníamos un antecedente: la revista El Corno Emplumado, y aunque que feneció allá por 1968 fue una publicación que unió y divulgó a poetas de todo el continente americano sin que faltaran europeos, africanos y asiáticos. Esta revista era nuestro único antecedente y buen ejemplo. Ahora ya existen por lo menos otras tres revistas con formato semejante. En El Corno Emplumado recuerdo cartas de poetas de múltiples países, y que en unade ellas se mencionaba que los poetas de todo el mundo somos hermanos (y es cierto que los hermanos de sangre también son diferentes entre sí y hasta pelean, ¿verdad?). Esta idea de hermandad la comparto y creo que es una de las pocas hermandades que han traído cosas buenas al mundo, es por eso que yo propuse declarar a alforja como una revista de la Fraternidad Universal de los Poetas. la mirada. José Ángel Leyva – En mi caso parte del anhelo de la lectura, de la inmensa necesidad de contagiar a los otros con la fascinación por la palabra que persigue la poesía. Quizás también por compartir un territorio sin dueño donde el único poder que domina es el de abrir puertas que dan hacia sin ningún lado, o por lo menos no hacia un lugar predecible. El tiempo en esa medida tiene perspectiva, y la muerte no es un muro que se topa a cada segundo con No estoy de acuerdo con Antonio Gamoneda cuando expresa que la razón de ser de la poesía sea la muerte, ni siquiera el trascenderla. Es la vida, en sus contenidos de dolor y de placer, de tragedia y de júbilo, de gozo y de pena. La poesía nos recuerda que vivimos y nos enseña, al tiempo que nos refresca, los motivos de este efímero tránsito. El poeta Nezahualcóyotl expresa ese sentimiento en un contexto prehispánico donde la Guerra Florida es parte de un ritual no para invocar la muerte, sino para cultivar, con sangre si se quiere, con el cautiverio y sacrificio de unos y de otros bandos, la existencia humana, la vida de la naturaleza. El cuerpo de Cristo de la comunión cristiana es su equivalente, un oximoron: el tiempo que se alimenta de la digestión simbólica de la inexistencia, del cuerpo torturado del Salvador, de su sangre y de su carne, es decir, del sacrificio. La poesía en ese sentido canta a la generosidad de la vida y nos revela también la dimensión del dolor, del olvido, de la estupidez, de nuestra insignificancia ante el tamaño del Universo, y al mismo tiempo de ese Yo que los románticos advertían en su integración cósmica. Me parece entonces que la fraternidad poética se da, desde mi punto de vista, en esa perspectiva de la generosidad, del anhelo de compartir las emociones que nos brinda la conciencia, los sentidos despiertos, la capacidad de soñar y de imaginar mundos alternos. También de construirlos. Hacer más público lo público, ampliar su radio de acción y de presencia. Una revista nos acerca no sólo a los libros y a sus autores, sino también a los acontecimientos y a los fenómenos relacionados con la materia que tratan dichos temas, al movimiento tangible de la historia de la emociones, de la cultura, de las mentalidades, de la palabra. alforja en ese sentido era, y es, para mí, la oportunidad de poner en práctica mis convicciones literarias más allá de mi propia sombra, de mi imagen narcisista, es la complicidad con otros poetas que, como yo, pretenden buscarle las costillas a la poesía y a los poetas, a los lectores para abrir nuevos horizontes y derrocar a la complacencia y la certidumbre. José Vicente Anaya es un especialista en eso. A mí sólo hay que buscarme un poco. Y José Vicente me encontró en 1984, cuando me propuso hacer un revista de poesía. Pero tardé en tomarle la palabra hasta 1996, tiempo en el que me sentía menos ilegítimo para una responsabilidad de tales exigencias. José Vicente fue, en ese sentido, el motor de ese comienzo y la energía que le da permanencia. FM – Como funciona alforja (estrutura financeira, distribuição, equipe, definição de pauta, relação com colaboradores etc.)? JVA – Nace alforja y se desarrolla enfrentando todas las dificultades típicas para conseguir el necesario dinero que cobra toda imprenta. Al principio los mismos miembros de la revista tuvimos que cooperar para los gastos de edición (aunque, como siempre sucede, algunas personas no aportaron nada, ni dinero ni poemas...). El pintor que lo ilustró el primer número, Gilberto Aceves Navarro, muy entusiasta en los proyectos artísticos y a quien hasta hoy en día le estoy muy agradecido, realizó un grabado cuyos cien ejemplares nos entregó para que los vendiéramos a precios módicos, más baratos que los precios de galería, con el fin de que de esa manera pudiéramos tener una entrada de dinero y así seguir publicando la revista; Gilberto nos aconsejó que hiciéramos esta propuesta a los pintores que aceptaran ilustrar la revista, y sin que sea una condición inmutable, la mayoría de los artistas plásticos han sido muy solidarios con alforja y la divulgación de la poesía en ese sentido. Al paso del tiempo hemos recibido dos veces el apoyo por un año para revistas independientes, que otorga el Consejo Nacional para la Cultura y las Artes (Conaculta), y si no es una cantidad que cubre todos los costos de impresión sí ha sido una ayuda que cubre al menos una tercera parte de los costos. También del Conaculta recibimos el apoyo para publicar ocho libros de poesía. Los problemas financieros no han estado ausentes en varias ocasiones. En el último año logramos un convenio de coedición con la Universidad Autónoma Metropolitana, y esto también nos ha salvado de la desaparición, de tal manera que ya estamos circulando con el número 30 dedicado a poetas rusos contemporáneos. No hemos logrado acumular un fondo de dinero, aunque lo deseamos, con el fin de pagar las colaboraciones, por lo cual hasta ahora quienes publican con nosotros reciben como pago ejemplares de la revista. JAL – Nadie sabe, mejor que tú cómo funcionan estos proyectos editoriales, con las uñas, con el hígado, con el corazón, con lo que tengas a la mano para empujar la piedra por la pendiente. Sí, como Sísifo. La espalda te duele no por el esfuerzo sino por las palmadas que te dan los animadores, los escépticos, los que desean tu fracaso, los que se montan en las acciones para salir en la foto, los que te adulan y los que te denostan. En fin, la espalda duele de cargar esas manos y sus resistencias. En el camino ha quedado mucha gente que ha visto a alforja no como un trabajo colectivo sino como la vía, el instrumento de su propia proyección. Somos muy pocos los que hacemos el trabajo cotidiano, el trabajo duro, la limpieza y la decoración, la reparación, la planeación y la recolección, la búsqueda de recursos para la sobrevivencia. Para no decir nombres, digamos que somos tres o cuatro, máximo cinco quienes conformamos ese núcleo de trabajo que va más allá de lo editorial. Pero debemos reconocer que hay muchas manos que también hacen su aporte y ponen su palanca para empujar la piedra hacia arriba. Todas esas manos tienen dueño, las hay en todo Brasil, y en particular en Fortaleza. Hoy en día el Consejo Editorial participa de manera más activa, más propositiva. Tiene mucho que ver el peso de sus nombres, pero también su confianza en alforja. Una ayuda fundamental, o digamos alianza estratégica, es la que establecimos con la Universidad Autónoma Metropolitana (UAM), gracias a la inteligente visión de Luis Ignacio Sáinz, director de Difusión Cultural, quien nos introduce al corredor universitario, pone en el contexto de la UAM una publicación de poesía que le cuesta únicamente la impresión y deja en libertad absoluta al núcleo directivo hacer su trabajo editorial, que ya demostró saber hacerlo. Este respeto a nuestra autonomía en los contenidos y en las políticas editoriales, determinadas en última instancia por sus consejos Editorial y de Colaboradores, y obviamente por sus lectores, es lo que más defendemos. Así, la UAM distribuye una parte y nosotros la otra mediante diversos mecanismos, uno de ellos de corte muy activista es el de los representantes. El resto fluye por las librerías. Ya estamos, por cierto en la red. FM - De que maneira o Estado mexicano tem atuado na subvenção de projetos editoriais e qual tem sido o resultado dessa atuação? JVA – Ya lo dije al mencionar el apoyo del Conaculta. Aclarando que al tratarse de una revista independiente, no hemos tenido ninguna presión ni imposición (y no lo podríamos aceptar por nuestro espíritu libertario) sobre los temas o autores que publicamos, yesta es y será condición sine qua non para aceptar cualquier tipode apoyo. JAL – Bueno, es un buen sistema de apoyo para las llamadas revistas independientes; a cambio piden unicamente espacio para la publicidad oficial relacionada con información literaria o artítica. Son nuestros impuestos, desde luego, pero debemos reconocer que esos fondos económicos destinados a apoyar a las publicaciones periódicas son muy útiles, sobre todo en momentos de asfixia material. Es decir, que no tienes para pagar el papel y la impresión. Muchas veces esos apoyos no te alcanzan para adquirir los insumos necesarios, pero reducen la onerosa cuota que los editores deben de pagar de sus bolsillos para mantener a flote la revista. Si hubiese un público lector no requeriríamos esas ayudas, pero no hay mercado y eso nos pone contra el muro. Así que el Estado nos “remunera” de algún modo y de manera parcial, la labor que hacemos para fomentar la lectura. Visto desde otro plano, el Estado mexicano pone un poco de gasolina para que le demos movimiento a su programa. FM – E qual tem sido a recepção crítica da revista, dentro e fora do México, incluindo eventuais cumplicidades com editores de outras publicações similares? JVA – De manera dispersa en la prensa mexicana han aparecido algunos comentarios favorables y reseñas breves sobre alforja. Sin embargo, en el status quo de la cultura se ha mostrado un silencio profundo, de lo cual se deduce que experimentan cierto miedo a la aparición de una revista independiente que no se ciñe a sus gustos, pretencionesy adoraciones; lo cual es un verdadero elogio para el trabajo de difusión que hemos realizado con nuestra revista. El hecho es que alforja existe y ya ha demostrado que sabe persistir, por lo cual ya tiene un lugar determinante en la cultura mexicana sin que sea ajena a lectores y poetas de muchos países donde no sólo la han leído sino que incluso han colaborado con trabajos muy importantes como las muestras de poesía brasileña (con la entusiasta colaboración de Floriano Martins), poesía griega, colombiana, chilena, española, chipriota, ecuatoriana, etc. También de manera dispersa muchos escritores mexicanos han reconocido y bien ponderado el trabajo de divulgación hecho en nuestra revista, pero ha sido sólo oralmente, en conversaciones aisladas, es decir que no lo han publicado. FM –alforja tem mostrado atenção em relação ao que se passa com a poesia em outros países, sempre dedicando suas páginas de maneira substanciosa à difusão dessa poesia. Trata-se, portanto, de projeto aberto e consciente de sua responsabilidade no entrelaçamento de experiências culturais que extrapolem a barreira dos nacionalismos. De que maneira este assunto é compreendido pelos editores de alforja, sobre a função que desempenham editores de revistas, observando a ambigüidade de uma universalização da cultura hoje tão evocada? JVA – Igual que con la idea de la Fraternidad Universal de los Poetas, estoy convencido de que todas las revistas dedicadas a la poesía en todos los países y lenguas son hermanas de alforja. Todas las revistas de poesía son los ríos que van a dar al mismo mar de la vida. Formamos redes innumerables cuyos caminos muchas veces se cruzan. JAL – No sólo consideramos la necesidad de asomarnos al quehacer literario en otras latitudes, lenguas, culturas, regiones, épocas, sino que no concebimos el desarrollo de la poesía sin esos nexos, sin ese conocimiento cada vez más amplio y profundo de la poesía desde diversas perspectivas humanas que, quizás, no encontremos en nuestro entorno, en nuestro país, en nuestro continente, si no nos asomamos por la ventanas de nuestra curiosidad, de nuestra percepción. Es necesario romper el cerco de la autorreferencia, de la provincialidad para crear nuevos paradigmas y ejercicios de trasgresión dirigida. El cambio no está sólo en lo nuevo, también se halla en lo viejo que no ha sido descubierto, descifrado en su dimensión estética y poética. Pero la apertura hacia el exterior no puede existir si antes no hay disposición a abrirse caminos desde dentro, o por lo menos que haya el camino para retornar con ánimo de transformación, de ampliación de criterios. Parecería que ser abiertos es aceptar exclusivamente los cánones europeos o estadounidenses pues todo lo demás es étnico, local. Pero pensemos por ejemplo que un Chaac Mol es una escultura singular en un mundo histórico, el maya, pero la pieza escultórica de Henry Moore, basada en esa imagen, es una propuesta novedosa en el plano estético. Ningún escultor mexicano la actualizó tanto como ese artista extranjero que tenía una gran capacidad de digerir la cultura en general. Esa misma capacidad no sólo de fagocitar, sino de digerir bien, de aprovechar los nutrimentos que se mueven en un mundo globalizado es que nos coloca en la posibilidad de ser más universales desde nuestra localidad. Por otro lado, no podríamos hacer esta labor si no contáramos con la participación y la complicidad de otros actores que hacen lo propio en sus respectivos países. Son, digamos, conexiones dendríticas, neuronales, telepáticas, sobre todo ahora que nos movemos en la Red. FM – O que pensam da idéia de criação de um fórum permanente de debates, entre editores de revistas, através da Internet? JVA – Esa es una idea que va muy bien con el espíritu de diálogo y crítica que también promulgamos en alforja como una necesidad para que las ideas sustanciosas y nuevas fluyan y despierten a este aletargado mundo. JAL – Magnífico ¿Cuándo empezamos? FM – Tribuna livre, para o que queiram comentar: JVA – Una invitación a todos los escritores y lectores de poesía para que contribuyan, en todos los ámbitos y de todas las formas, a vivir, convivir y extender el territoriuo de la poesía. JAL – Sí, es bueno ampliar los espacios para la conversación, para el flujo interactivo del pensamiento, como este que sostenemos contigo y con muchas almas en llamas que no cesan de trabajar por ese motivo llamado poesía, arte, vida. alforja es una revista de la Fraternidad Universal de los Poetas. e-mail: [email protected] página em Internet: www.alforjapoesia.com Para suscribirse hacer depósito bancario en Bital cuenta núm. 4015433113, sucursal Coyoacán, Ciudad de México, por la cantidad correspondiente (a nombre de Alforja Arte y Literatura, A.C.) Enviar comprobante o giro postal alforja: Copilco 300, edif. 2, depto. 503, Col. Copilco Universidad, Del. Coyoacán, C.P. 04360, México, D.F. Fax: 5554 5309. Correo Aéreo Nacional $ 85.00 M.N. ejemplar $ 320.00 M.N. suscripción anual Internacional $ 13.00 USD ejemplar $ 47.00 USD suscripción anual . revistas em destaque capitu (brasil) diálogo entre edson cruz & floriano martins FM - Quando surgiu Capitu e em quais circunstâncias editoriais? Edson Cruz – O Capitu surgiu, sem muita pretensão, de um desejo do Cakko (que ainda é o administrador do site) em fazer uma retrospectiva dos principais autores da literatura brasileira em comemoração aos 500 anos de descobrimento do Brasil. Ele ia reproduzir verbetes da enciclopédia Nova Cultural. Depois do trabalho pronto a editora não autorizou, é claro! O espaço estava criado e algumas pessoas se interessaram em colaborar. Um grande portal da época (4 anos atrás) o Zipnet quis hospedá-lo e a partir daí começou-se a fazer Chats com escritores e críticos. O portal tinha trânsito em quase todos os países de língua portuguesa. Foram feitos mais de 20 Chats, com repercussão em Macau, Angola, Moçambique e Portugal. Principalmente depois que o site passou para a Terra Vista Portugal, outro grande provedor. A preocupação com lançamentos veio depois e muitas pessoas vieram para agregar valor ao projeto. FM - Qual a razão de seu nome? EC – O Cakko desejava um nome que não fosse ponto com. A febre do momento. Como se tratava de literatura pensou num escritor representativo. Chegou a Machado de Assis e daí à sua personagem mais enigmática: Capitu. Tinha que ser feminino, também. Ou seja, o Capitu é o resultado de muitos ‘acasos’, se é que isto existe. As coisas foram acontecendo espontaneamente, sem muito planejamento. Com relação ao nome, cá pra nós, foi um achado de muita felicidade. FM - Como o sítio convive com outros projetos similares em todo o país? EC – Acho que estamos na vanguarda de um novo tempo para as letras em geral. Temos que trabalhar em conjunto e com camaradagem. O Capitu busca o diálogo e o intercâmbio com todos os projetos feitos com seriedade e qualidade. Temos colaboradores no Brasil inteiro, e em nossas matérias não vemos problema nenhum em ilustrá-las com links, fotos, textos de outros sítios. É como se expandíssemos exponencialmente as possibilidades virtuais da informação e da ação. Quer coisa mais bonita do que um texto sobre Cortázar, escrito por um brasileiro, que te remete aos textos originais de Cortázar disponíveis em sítios da língua pátria de Cortázar? É isto que o Capitu vem fazendo. Uma resenha não precisa ser burocraticamente profissional. Pode ter sim mais que 40 linhas. Pode ter imagens, desenhos, teses, intervenções poéticas e informar. Por que não? FM - Qual a situação atual do sítio, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc.? EC – Estamos em um novo momento e partindo para um grande desafio que é ter nossa própria livraria. Muitos sites surgiram e a maioria saiu do ar ou vive no anonimato. O Capitu conseguiu estabilidade num grande portal e chega a sua maturidade sem estar preso a nenhuma corporação de mídia. Vamos ser (pelo que eu saiba) o primeiro site de conteúdo que possue seu próprio comércio eletrônico. O que vai nos dar solidez e total independência. Vamos reunir uma comunidade literária, já formada e crítica, a possibilidade de convivência com grandes e pequenas editoras e autores. O conteúdo sempre foi nosso diferencial e continuará a sê-lo. A literatura é a flor da cultura e com ela podemos sentir o aroma de várias manifestações estéticas. É isso que queremos. Ampliar nossa apreensão do mundo e da vida através do olhar estético que a literatura nos permite. FM – Capitu circula apenas em módulo virtual ou há também uma versão impressa? EC –O Capitu é um projeto virtual. Queremos mergulhar neste universo espectral que são os módulos virtuais e expandi-lo ao limite de outras galáxias e civilizações. Mas, como sabemos que o ser humano gosta do cheiro do papel e de exercitar o tato, estamos lançando nossa revista literária, Mnemozine, que embora virtual, prevejo uma versão impressa mais para frente. Devo dizer que a Revista Mnemozine, embora no Capitu, tem voz própria e será capitaneada por mim e pelo poeta e editor, Marcelo Tápia,com trabalho gráfico exuberante do Pipol. FM - Como funciona sua difusão? EC – O Capitu está hospedado no UOL, e isso nos dá uma visibilidade que às vezes chega a assustar. Não temos patrocínio nem pagamos nenhum tipo de marketing. O site corre no boca-a-boca, ou melhor seria dizer, de micro-a-micro. Temos um mailing de umas 10 mil pessoas que são leitores ativos do site. Além disso soubemos utilizar o BlogCapitu (agora Blablablog, parodiando o título de uma matéria de Nelson de Oliveira) para gerar debates, manifestações, divulgações e alimentar uma comunidade literária que se espalha pela América do Sul. Nosso sonho é chegarmos a dialogar em todos os níveis com nossos hermanos da América, assim como, com toda a comunidade de língua portuguesa no mundo. Ambicioso, mas possível. Está dentro dos limites que a ferramenta nos oferece. Temos que usá-la. FM - Como vês as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura? EC – As possibilidades, por enquanto, são infinitas. É uma ferramenta revolucionária que deve ser usada com criatividade, ousadia e critérios. Não há limites de páginas. Não precisa se esperar pela vontade da editora. Não precisa pedir autorização da academia. Todos os limites podem ser rompidos e milhares de pessoas podem acessar o que se veicula no tempo de um piscar de olhos. O único alicerce seguro para que a casa não caia em nossas cabeças é a diversidade de opiniões e conceitos, aliado a um critério de qualidade e profundidade. Se nivelar por baixo, a meu ver, não dura. Pode até explodir em louros e aplausos públicos, mas não dura. Sem consistência do início ao fim não há permanência. Editor: Edson Cruz Rua Prof. Túlio Ascarelli, 132 casa 2 - Vila Madalena São Paulo, SP 05449-020 BRASIL E-mail: [email protected] http://capitu.uol.com.br/ . . revistas em destaque común presencia (colombia) diálogo entre gonzalo márquez cristo, amparo osorio & floriano martins FM - Quando surgiu Común Presencia e em quais circunstâncias editoriais? Gonzalo Márquez Cristo - En 1989, como una opción sensible, necesaria en un país asediado por la guerra y por los manejos excluyentes de la cultura oficial. Así, sin ningún apoyo institucional ni oficial hemos llegado al número 16 y en sus páginas han aparecido entrevistas a grandes escritores y pintores universales, realizadas todas personalmente, y a su lado traducciones de poetas poco conocidos en nuestro medio. Amparo Osorio – No ha sido fácil sacar adelante una Revista que no se parece a ninguna de las publicadas en nuestro medio. Las circunstancias editoriales han sido difíciles y casi siempre se termina publicando con recursos propios. Pero sin duda desde su primera aparición ha creado una secta de seguidores. FM - Qual a razão de seu nome? GMC - Rendir un homenaje al gran poeta francés René Char, cuya poesía filosófica siempre nos ha deslumbrado. Y proponer una común presencia, urgente para enfrentar la destrucción, la desolación y la desesperanza. AO – Como afirma Gonzalo Márquez, es concitar una obra cumbre de un poeta que como René Char siempre estará entre nosotros FM - Como a revista convive com outros projetos similares em todo o país? GMC – Cada publicación tiene su espacio definido. La nuestra de periodicidad “esporádica”, propone llevar al lector el pensamiento de creadores a través de las más de 30 entrevistas que han aparecido en sus páginas y la poesía reflexiva de autores de otras lenguas (portuguesa, francesa, italiana, inglesa…) que no han tenido difusión en Hispanoamérica. AO – Común Presencia es una revista que ofrece otros matices diferentes a las tradicionales publicaciones de Colombia. Quizá eso la hace diferente, pues su médula principal es la poesía y aunque abarca todos los géneros literarios, nunca se ha propuesto dar cabida a las nuevas tendencias light que tanto afectan al arte actual y por consiguiente a muchas publicaciones que no teniendo nada que decir, acuden al facilismo y a la frivolidad. FM - Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc.? GMC – La situación de la revista siempre es crítica. Creemos que cada número es el último y eso que pareciera ser un hecho desdichado es también propicio, pues esa suerte agónica nos condena a ser muy exigentes en la selección del material y a que todo lo publicado esté provisto de esencialidad. AO – Ya es bien sabido para nosotros que es una publicación difícil de sostener en un lapso determinado. Nunca podríamos decir que su aparición es trimestral, semestral o anual. Esto es del orden del milagro. Y aunque siempre contamos con valioso material, la consecución de la pauta cada día es más ardua. Lo importante finalmente es que cuando se logra un nuevo número, hay muchas presencias comunes que lo festejan y eso es lo maravilloso, la magia que discurre en un escenario imprevisto. FM – Común Presencia circula apenas em versão impressa ou há também um módulo virtual? GMC – Por ahora sircula sólo en versión impresa. AO – No sé qué tan perdurable podría ser una versión virtual que de hecho creo que ocupa sólo una inmediatez. Preferimos siempre de todos modos nuestra revista impresa, porque representa esa especie de tótem que puedes abrazar, oler y contemplar. FM - Como funciona sua difusão? GMC – En forma secreta y casi obsesiva, y si las palabras secreto y sagrado tienen el mismo origen como se ha dicho, creemos que es el camino necesario. Sin embargo a causa de la Colección Los Conjurados, que se edita a la sombra de la revista, la cual tiene más de 20 títulos, es distribuida ahora en cinco países, pero reitero, de manera secreta y sagrada. AO – De una forma muy marginal. Es preciso que así siga siendo. Pero siempre llega a sus destinatarios. A su destino. Es como esa botella de náugrafo lanzada al mar que encuentra al fin la playa predestinada. FM - Como vês as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura? GMC – Me parece fundamental, creo que es un magnífico medio de información, de aproximarse a nuevas voces, de estar enterado de nuevas publicaciones, del estreno de nuevas obras cinematográficas y escénicas, en fin, de conocer nuevas búsquedas, aunque creo que la comunicación tal vez se halle más en la lectura íntima de un libro impreso, que en la rápida lectura de un texto en un computador. AO – Es interesante. Pero creo que funciona más para noticias y textos breves. Para un hallazgo quizá. Pero en la extensión de un libro y en la profundidad que él requiere no creo que se den las condiciones necesarias. FM - Pediria ainda informações a respeito da criação da Fundación Común Presencia e da coleção de livros - Los Conjurados - que vocês vêm publicando. GMC – La Colección Internacional de Literatura Los Conjurados fue creada hace dos años. En el género de poesía hemos publicado más de veinte títulos entre los cuales resaltaría los libros de: Trakl, Adonis, Juarroz, Ungaretti, Rimbaud, António Ramos Rosa…, en excelentes versiones al español; además de otros poetas latinoamericanos como Rodolfo Alonso, Alfredo Chacón, Mauricio Contreras, Germán Villamizar… En el género de Testimonio hemos publicado tres tomos con los Discursos de los Premios Nobel de Literatura, autorizados por primera vez al español por la Academia Sueca, que son un verdadero legado espiritual de nuestro tiempo; allí aparecen las palabras pronunciadas en Estocolmo por: Perse, Camus, Neruda, Eliot, Faulkner, Steinbeck, Brodsky, Kertész, García Márquez, Paz… La Colección Los Conjurados es una trinchera interior para aquellos que necesitan afrontar una realidad individualista y aciaga, es un espacio imprescindible para aquellos que aún creen en la urgencia de soñar. AO – A lo que acaba de responder Gonzalo Márquez Cristo, sólo añadiría que también es una pretensión de que la poesía encuentre en su renacer, una puerta abierta, contra tantas otras que universalmente se le han cerrado. Quizá los Conjurados sólo pretenda eso, ser el paso posibitador para enterarnos de los múltiples y complejos universos del ser en todas las latitudes del planeta. Es un proyecto complejo porque la poesía así lo es. Pero maravilloso porque la poesía también es maravillosa. En esto seguiremos trabajando con toda la mística del corazón. . revistas em destaque cult (brasil) diálogo entre marcelo rezende & claudio willer CW - CULT foi lançada quando, mesmo? Em 1995? Ou foi 97? Seja como for, logo completará dez anos. Tenho a impressão de que passará a ser, se é que já não é, o mais longevo dos periódicos literários nacionais em circulação, descontados aqueles, como o Suplemento de Minas, Poesia Sempre da BN ou Correio das Artes, da Paraíba, que são subvencionados pelos respectivos governos. Isso sugere algum tipo de comentário, reflexão ou observação? (sobre duração da CULT ou pouca duração de outros periódicos). Marcelo Rezende - O primeiro número da CULT chegou às bancas em 21 de julho de 1997. Talvez seja necessário nos determos um pouco sobre o contexto nacional daqueles anos: o país vivia o que depois foi denominado como “febre do real”, na qual a sociedade e seus agentes acreditavam em uma transformação do panorama de consumo (de bens culturais ou não). Isso teve um reflexo na imprensa nacional. Enquanto os grandes grupos passaram a impor estratégias para alcançar a massa que antes se encontrava fora da esfera dos produtos culturais (os jornais são um exemplo disso), esse momento econômico possibilitou ainda que outros agentes, voltados para a segmentação, pudessem lançar seus projetos. Curiosamente, o país, que tem uma acidentada história com publicações voltadas para a cultura (de caráter nacional e com venda em banca), ganhou no mesmo período CULT e Bravo!, duas publicações totalmente diferentes em seus projetos, mas que são fruto, também, dos acontecimentos descritos acima, e que pretendem ser viáveis sem a necessidade da presença do Estado. Pouco depois, essa expectativa se alterou, com os sucessivos choques econômicos. Hoje, as grandes empresas estão com enormes dívidas e sem capital, enquanto novos empresários enxergaram nisso uma oportunidade para ocuparem um lugar na imprensa nacional. Estamos ainda em um momento de transição, no qual novos títulos se fortalecem e editoras antes tidas como pequenas passam a investir a fim de se tornarem relevantes entre leitores descontentes com as fórmulas dos títulos históricos nas bancas brasileiras. CW - A propósito, literário, mesmo? Ao longo de sua existência, CULT sempre me pareceu oscilar entre uma revista cultural geral, cobrindo também música, artes visuais e cinema, e uma revista especificamente literária e de idéias, de filosofia. O que é CULT, no plano do conteúdo? MR - Bem, estamos aqui face a uma questão que assombra um pouco a CULT e alguns de seus leitores. Antes, um esclarecimento pessoal: como estive afastado do Brasil entre 1998 e 2002 (não estive no país nem mesmo para férias ou algo desse tipo; foi um momento de ausência total), período no qual morava em Paris, não pude acompanhar de perto a história da revista. Recebia alguns exemplares, como de outras publicações, de amigos que procuravam me apresentar um pouco do que se passava aqui. Assim, se houve instantes de crise de identidade da CULT, pude observá-los não apenas de uma distância oceânica. Eu me encontrava também em uma posição específica: lia (leio) muitas publicações européias e norte-americanas que - com aproximações e afastamentos estavam tentando impor projetos semelhantes aos da CULT. Em seus primeiros anos, a CULT se assumia como uma revista de literatura, e acredito que o criador do título, o jornalista e crítico Manuel da Costa Pinto, tivesse a intenção de fazer da CULT um espaço não apenas para o comentário jornalístico de livros e autores, mas, sobretudo, um lugar no qual a crítica literária brasileira –e suas tendências- pudessem ultrapassar seu território; isto é, o da academia, o circuito universitário. Se houve a passagem editorial de “revista de literatura” para “revista de cultura” (e esses conceitos me parecem estar sempre sendo entendidos como se estivessem em um jogo de opostos; há a recusa da idéia de ser possível haver aproximação entre esses dois campos; um engano, me parece), algumas das razões estão na resposta abaixo. CW - Coisa de três anos atrás, CULT mudou de proprietário. O que mudou então, em conseqüência? (em nível propriamente editorial, é claro). MR - A CULT, a partir do número 57, deixou de ser editada pela Lemos Editorial (que controlava o título desde sua fundação) e passou para as mãos da editora Bregantini, que iniciava seu projeto de se tornar uma editora competitiva no cenário nacional. A mesma equipe editorial foi mantida, mas a revista passou então a se assumir como um título voltado para a “cultura em geral”, ainda que eu não esteja muito certo do que essa expressão possa querer dizer hoje… Mas acho ser necessário fazer algumas distinções aqui. De início, estabelecer uma diferença entre produção cultural e produto cultural. Publicações culturais (revistas, suplementos culturais) mantém um necessário (inevitável talvez seja a melhor palavra) diálogo com o mercado de cultura. Essa relação não se dá de maneira pacífica, ou ao menos não deveria acontecer assim. O fato é que publicações culturais podem terminar se submetendo ao produto cultural, acreditando não haver mais diferença entre o produto e o fato cultural. Eles podem ser o mesmo, mas não necessariamente. A tarefa de uma publicação cultural seria a de apontar para o leitor essas diferenças. Seria. Estamos no reino do condicional aqui. Essa tarefa editorial talvez seja o muro diante da imprensa cultural (as revistas universitárias são uma outra questão) hoje, e em nações periféricas como o Brasil isso se torna extremamente relevante. O analfabetismo funcional cresce no país. Há décadas. Não está diminuindo. Em sociedades que passaram por eficazes programas de educação de massa isso é um problema. O que dizer de nós, brasileiros, que nunca tivemos uma razoável educação para a população? Isso significa que a imprensa (que é uma atividade econômica privada, que visa o lucro) tem também um papel educacional. Ela deveria, ao menos em teoria, apresentar os fatos e contextualizá-los. Hoje, onde alguém pode saber quem foi (um exemplo) Pier Paolo Pasolini? Nos livros? Na universidade? E se essa pessoa não sabe quais livros ler nem em qual curso universitário encontrar o que procura? Ela poderia ser apresentada ao cinema (e aos poemas e artigos) de Pasolini pela imprensa. Mas essa imprensa depende de “um grande lançamento” (um bom produto cultural) para falar de Pasolini. E, quando esse acontecimento surge, prefere não dar muito espaço a Pasolini porque “as pessoas não sabem quem ele é”. Parece estarmos diante de um ciclo vicioso, não? Quando cheguei à CULT, em setembro de 2003, após o desligamento da antiga equipe de editores do título, fui convidado pela publisher da revista, Daysi Bregantini, para elaborar um projeto editorial que pudesse enfrentar essa desconfortável posição da revista, a fim de que ela pudesse ser um título de cultura, e não apenas de produtos da indústria cultural. A CULT deveria ser um título mais lido e comentado, indo além de seu público inicial, o da faculdade de Letras, sem, claro, perder esse leitor. Ela teria que ser menos conservadora, mais ousada e, ao mesmo tempo, agregar leitores e não perder nenhum dos já acostumados com o título. Na verdade, não estamos no mais fácil dos mundos… Esse projeto é o que a editora vem procurando implantar desde o número 74. O primeiro número que pude editar. Hoje, ela passa por um momento de crescimento, tanto em relação ao número de leitores quanto de faturamento publicitário. A CULT é um título que, segundo dados de sua distribuidora, a Fernando Chinaglia, vende em banca cerca de 20% acima da média do que o mercado de revistas no Brasil consegue. Estamos então diante de uma questão resolvida? Não, certamente. Como todos os editores sabem, a relação com o leitor é sempre delicada, e a revista deve sempre procurar ser melhor a cada número. Ou o leitor se afastará do título. Mas parece que o leitor se sente confortável diante de um título que acredita ser cultura não apenas o livro, o CD ou o filme, mas o debate, questões políticas, a filosofia e o engajamento intelectual em torno do livro, do CD e do filme. Não o partidarismo, que é outra coisa, mas o pleno engajamento intelectual. CW - Fale-nos de você. De onde você surgiu? O que fazia antes? Como aportou à CULT? MR - Minha trajetória é muito breve, na verdade. Tenho 36 anos, estudei Comunicação Social na PUC-SP e Filosofia na USP (que abandonei pouco antes de minha graduação) ao mesmo tempo. Depois, trabalhei como repórter e editor-assistente nos cadernos Ilustrada e Mais!, do jornal Folha de S. Paulo (19931998); após essa fase, recebi um convite do diário Gazeta Mercantil para ocupar o posto de correspondente em Paris (1998-2001). Permaneci nesse cargo até 2001 (me desliguei do jornal alguns meses antes de sua grande crise), mas permaneci na França terminando alguns cursos que tinha iniciado e, antes de meu retorno ao Brasil, passei ainda uma curta temporada em Roma. Quando voltei ao país, em 2002, recebi um convite para retornar à Folha de S. Paulo. Essa segunda fase durou apenas 5 meses. Após meu desligamento do jornal, passei a trabalhar em um projeto de livro sobre um certo momento da arte em São Paulo, um livro no qual trabalho ainda, e nesse período recebi o convite para editar a CULT. CW - Como é o público leitor de CULT? Quantos são os leitores de CULT? Qual é seu perfil? MR - O leitor é basicamente jovem, com passagem pela universidade ou ainda passando por ela, seja na graduação ou na pós-graduação. Logo, classes A e B. Me parece ser um leitor curioso, disposto a ser apresentado a algo que não estava em seu domínio e que talvez nem desconfiasse ser de seu interesse. Isso porque mesmo um leitor “educado” não conhece muito além de seu campo de saber. Infelizmente. Os que conhecem muito a obra de Adorno talvez não se sintam muito confortáveis diante de um texto e de uma obra do norteamericano Donald Judd, apesar dos pontos de contato entre os dois. Logo, a tarefa da revista seria apresentar Judd aos adornianos, e Adorno para os seguidores de Judd. CW - O que você gostou mais de publicar na CULT? MR - Muitas coisas, na verdade. Falando especificamente sobre temas, meu primeiro número na direção da revista, no qual procurava apresentar o leitor a uma nova e interessante geração de autores hispânicos, como Ignácio Padilla, Bolaño, Vila-Matas. Um dossier sobre SP (que contou com sua ótima colaboração), que procurava mostrar um pouco da história da cidade por meio de seus movimentos culturais em diferentes décadas, e o desejo de vanguarda que existiu no cotidiano da metrópole; um número especial sobre os 20 anos da morte do filósofo Michel Foucault, um típico caso de nome “que ninguém conhece”, segundo o círculo vicioso da imprensa cultural, e que terminou sendo uma das maiores vendagens da história da revista. Por fim, neste semestre, o número sobre os “O que pensam os Estados Unidos”, talvez o que eu mais tenha gostado de realizar até aqui. E, claro, não se trata de realizações pessoais. O resultado é uma soma de colaborações diretas, indiretas, pequenas sugestões, grandes ações e uma boa dose de acaso. Acho que o mais importante, nas publicações culturalmente relevantes, é que elas criem forma e identidade que possam seguir vivas, apesar dos nomes de seus editores. Os leitores, enfim, se aproximam do título, e não daqueles que o editam. A CULT foi criada pela força, coragem e ousadia de Manuel da Costa Pinto, hoje eu a edito e espero que após minha passagem ela continue sendo, enfim, a revista CULT reconhecida e respeitada por seus leitores, que têm, sempre, a palavra final. CW - E o leitor, do que ele gosta mais? Polêmica, intelectuais pulando na garganta um do outro, informação geral, aprofundamento temático? Cultura pop ou universitária? É possível captar indícios de preferências, pela vendagem e por comentários? MR - Essa pergunta, me faço todos os meses. Se fizermos uma análise dos números mais vendidos neste ano (isto é, que ultrapassaram a média de vendagem da revista), teríamos, pela ordem, as seguintes capas: “Foucault”, “Dostoievski” e “Literatura de Combate”. Bem, o leitor gosta de filosofia francesa? Autores russos? Tendências da cultura? Ou gosta dos três? São os mesmos leitores? Como você pode perceber, não há uma resposta simples. Talvez, essas mesmas capas, se lançadas em 2005, não teriam a mesma resposta dos leitores. Mas, ainda em meio a tantas intuições, acho que podemos extrair algumas sólidas certezas sobre esse leitor: ele se interessa por pessoas e temas que o ajudem a entender o mundo hoje, e isso, algumas vezes, significa ter na revista assuntos, reportagens e entrevistas que poderiam ser chamadas de polêmicas. Acredito que esse mesmo leitor deseja ver na CULT algo que ele não encontra em outras publicações; isto é, ele rejeitaria “os grande nomes” que podem ser encontrados tanto em revistas de informação quanto em títulos de celebridades. Quanto à cultura pop ou universitária, bom, essas diferenças são um tema de rigueur entre os litterati brasileiros, e parece existir muita confusão nessas qualificações. Hoje, no cenário da música eletrônica (e estamos falando aqui, sim, da chamada “Cultura DJ”), os conceitos do filósofo Gilles Deleuze são largamente usados. Os autores do filme “Matrix” afirmaram terem utilizado algumas idéias de Jean Baudrillard para realizarem o filme. O que é cultura pop e cultura universitária, exatamente? Acho ser necessário em algum momento ultrapassar o estágio de Guerra Fria no qual vários setores da sociedade brasileira parecem viver. Há os que pregam um antiintelectualismo militante, negando toda forma de sofisticação do pensamento e da ação, vivendo em um mundo no qual nada pode ser analisado ou estudado sem ser automaticamente rotulado como “difícil”. Do outro lado, há um sólido conservadorismo dos setores acadêmicos que acreditam estar em um território de “rigor e seriedade”, um discurso que serve apenas para disfarçar uma esclerose avançada, uma imobilidade que se traduz em algo muito perverso… Talvez por isso eu goste tanto de alguém como o esloveno Slavoj Zizek, capaz de explicar para o leitor a crise da modernidade por meio do último filme de Clint Eastwood. CW - E o que ainda gostaria de publicar? O que precisa melhorar em CULT? MR - Gostaria de publicar muitas coisas. É um clichê, mas o fato é que a lista seria interminável. Muitas coisas precisam melhorar na CULT: abrir espaço para novos críticos, explorar de maneira sistemática questões da atualidade, ter mais poesia em suas páginas, conseguir a profundidade sem hermetismo, refletir o debate em torno da arte… Trata-se de outra lista infinita. CW - Tiragem de alguns milhares de exemplares – isso é inserção na elite cultural ou contingência? Há chances de crescimento? MR - Como falamos um pouco acima, a média de vendas da CULT, em relação a sua tiragem, é superior à média do mercado. Logo, ela vem crescendo. Mas é necessário não perder de vista questões que transcendem a revista e suas intenções. O Brasil tem uma população de cerca de 190 milhões, mas seus maiores títulos impressos não chegam hoje a 1 milhão, nem mesmo os com estrelas televisivas nuas em suas capas. Logo, toda imprensa no Brasil é segmentada: é feita para o segmento que lê. CW - E o futuro? Quais serão os próximos passos? Há planos de expansão, haverá crescimento de CULT? Quantitativo, qualitativo ou ambos? Algo deverá ou deveria mudar? MR - Os planos editoriais são muitos. E ousadia é o que poderia resumir todos eles. Acho que a revista tende a ser ainda menos conservadora e mais ousada, porque toda publicação que dá o que o leitor quer ou espera está condenada ao desaparecimento e ao anacronismo. Uma revista, sobretudo uma revista de cultura, deve dar aquilo que o leitor não espera e não sabe ainda que quer. CW - Que lhe parece o aumento, quando não proliferação de revistas de poesia e periódicos literários durante esses dez anos? Teria destaques, positivos ou negativos, comentário sobre alguns deles? Faça comentários sobre periodismo eletrônico – sites, páginas, blogs, etc. MR - Esse, acredito, é um fenômeno muito novo ainda para podermos entender seu real significado. Hoje, fazer um fanzine ou uma revista literária impressa é muito mais barato do que antes. E o fato é que os meios eletrônicos se tornaram uma chance para diferentes gerações, das mais variadas tendências, poderem se expressar, pessoas e grupos que perderam seus espaços ou se desinteressaram pelos espaços disponíveis. Essa, claro, é uma situação imensamente positiva, porque tudo o que é capaz de abalar um discurso único (seja ele ditado pelo mercado, pela situação política ou pela decisão dos próprios meios) é, em si, positivo. Mas me parece que até esse métier foi atingido pelo apelo “das celebridades”. Fazer uma publicação literária, de poesia, ensaios, ok. Fazer uma publicação literária, de poesia, ensaios para ser reconhecido em festas, ter a foto publicada nos segundos cadernos ou se tornar amigo dos “autores conhecidos” não me parece ser uma boa estratégia. Para nada. CW - E sobre crítica e jornalismo literário na grande imprensa, nesse período? MR - A piada é inevitável: qual crítica? Já que falamos antes do artista minimalista Donald Judd (morto em 1994), em um dos seus textos críticos ele escreve: “Se tornou um ataque à democracia dizer que o trabalho de alguém é maior, mais desenvolvido, mais avançado, complexo (o quanto complexo esse termo pode ser), do que de outra pessoa. Não é educado dizer que meu trabalho é melhor do que o seu. Essa atitude vazia é parte de toda sociedade. A mesma pequena idéia contida nessa atitude é a de que a arte deve ser democrática, e é uma hipocrisia pretender isso”. Esse trecho é do ensaio Not about master-pieces but why are so few of them. Me parece ser a crítica e o jornalismo literário brasileiros, para usar a idéia de Judd, extremamente “bem educados”. Mas sem uma rigorosa crítica caímos em uma produção na qual tudo é aceito em nome da “convivência” e da camaradagem. Mas a arte não é democrática, ela é aristocrática. Se isso já não fosse um grande problema, há ainda o fato de que uma certa cultura literária está em crise. Há na universidade aqueles que podem escrever confortavelmente sobre o uso da narrativa em determinado autor sem jamais ter lido Claude Simon, John Barth, BS Johnson. Enfim, me parece que existe uma geração hoje, na universidade, que não vai muito além do cânone estabelecido, e isso termina se traduzindo em uma produção tímida, sem inquietação, respeitosa, “chatoboy”. E, no jornalismo, bem, toda sua função educacional deixou de existir porque nossas relações com o passado são “flutuantes”. Hoje, apenas um exemplo, o jornalismo impresso acredita que o surrealismo foi uma corrente literária. E não um projeto revolucionário a tempo pleno. As idéias parecem vir prontas, de algum lugar, de uma “enciclopédia básica da cultura jornalística”. Enfim, se na universidade há a timidez diante do cânone, na imprensa parece que tudo se reduz a clichês que são usados para não espantar os leitores; nada pode ser muito “difícil”. Por isso é que o cineasta Nani Moretti é sempre, no Brasil, o “Woody Allen italiano”. Clichê e reducionismo. Mas o que uma definição como essa pode querer dizer? Com uma crítica neste estado, como jogar a primeira pedra contra nossa pobre produção cultural? E, aliás, como apontar sua pobreza? CW - O planejamento de CULT incorpora alguma reflexão crítica sobre o jornalismo literário atual no Brasil? Há intenção de preencher um espaço vazio, cobrir uma lacuna, algo assim? MR - A revista CULT tenta e procura colaboradores, não colaboracionistas; pessoas dispostas a “não colaborar”. Ou seja, que preferem ter uma visão crítica, e lutar por ela. Há, claro, falhas, erros de cálculo, desvios, mas ao menos existe um projeto. CW - E o resto do mundo? Há publicações, do tipo Magazine Littéraire, que servem como modelos ou referências? MR - O Magazine Littéraire é uma referência no que se refere à idéia do dossier, um dos destaques da CULT. Mas a situação das revistas é totalmente diferente, as sociedades são muito diferentes. A sociedade francesa é letrada e leitora. A brasileira, não. E, entre os franceses, a intelectualidade nunca esteve acima das questões políticas (criar uma vanguarda é também uma questão política) e culturais. A própria palavra “intelectual” assume outro sentido: significa a atuação pública, significa estar presente ou contra a sociedade, e o saber não está restrito ao que é produzido na universidade. No Brasil, mais uma vez, a situação é totalmente diferente. E o Magazine é apenas uma das revistas literárias francesas; na verdade, a revista da academia, da instituição. A Lire seria mais voltada aos lançamentos, cobrindo o mercado, enquanto a nova Matricule des Anges é a que procura um caminho mais jovem e alternativo aos dois títulos citados. Modelos, referências? The Economist, Les Inrockuptibles, Granta, L´Infini (de Philippe Sollers), éditions de Minuit, Rebel Inc., Il Manifesto, The Observer, Arts & Letters Daily, Artforum, Tel Quel, The New Yorker (ainda), Courrier International. Várias, na verdade. CW - Conexões internacionais, ibero-americana e lusófona, o tem interessado? Prevê ou planeja algo a respeito? MR - Qualquer intercâmbio nos interessa, e muito. Mas gostaríamos e esperamos por ações realmente produtivas, e não apenas aproximações de ocasião. Queremos nossos colaboradores publicados em revistas de outras culturas e viceversa. Editora Daysi Bregantini Diretor de Redação Marcelo Rezende CULT– Revista Brasileira de Cultura é uma publicação mensal da Editora Bregantini Praça Santo Agostinho, 70 – 10º andar – Paraíso – São Paulo – SP – CEP 01533-070 – tel.: 11/3385-3385 – fax: 11/3385-3386. Envie seus comentários para a redação pelo e-mail: [email protected] . . revistas em destaque malabia (espanha) diálogo entre federico nogara & floriano martins FM - Quando surgiu Malabia e em quais circunstâncias editoriais? Federico Nogara – La idea de Malabia surgió en 2000, en un encuentro cultural en Brasilia. Allí conocí personalmente a Guillermo Pérez Raventós y entre los dos nos propusimos una tarea común. De las charlas salió Malabia. La revista tiene seis meses de edad. La editamos entre Guillermo y yo, sin ayuda exterior. Ahora estamos comenzando a involucrar editoriales. FM - Qual a razão de seu nome? FN – Malabia es un personaje de los libros de Onetti. Es el intelectual inconformista, enfrentado al sistema. Tiene mucho en común con Compson, el intelectual de Faulkner (de quien Onetti era admirador), y del Dédalus de Joyce. FM - Como o sítio convive com outros projetos similares em todo o país? FN – Es difícil decirlo. Recién comenzamos y los contactos con proyectos similares son muy nuevos. Las perspectivas son buenas. FM - Qual a situação atual do sítio, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc.? FN – Tenemos un tipo de lector con un nivel cultural medioalto, lo que hace el crecimiento lento. Pero al mismo tiempo nuestros inteligentes lectores comprenden el esfuerzo por mantenernos coherentes, fieles a una forma de entender la cultura. Recibimos mucho apoyo y muchas felicitaciones. Las dificultades, como siempre, son las económicas. El principal plan es mejorar en todo sentido. El más ambicioso es salir con suplementos en portugués e inglés. FM – Malabia circula apenas em módulo virtual ou há também uma versão impressa? FN – Pensaremos en una versión impresa cuando podamos financiarla. Publicar en papel es muy caro y limitado. Con internet se puede llegar a todo el mundo. Nuestra revista es abierta al mundo desde una perspectiva latinoamericana, y el mundo es ancho y ajeno como decía Ciro Alegría. FM - Como funciona sua difusão? FN – Por el momento sólo con e-mails. FM - Como vês as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura? FN – No debemos olvidar que internet fue inventada por el ejército norteamericano para mantener a sus mandos operativos. Es una herramienta del sistema capitalista. Pero, paradójicamente, es una de las pocas herramientas de comunicación con que contamos quienes queremos cambiar la realidad. La cultura en nuestros días está muy comercializada. Mucha gente se da cuenta y trata de responder. Pero falta calidad, buenas propuestas. En internet hay poca seriedad, mucha "brincadeira", y eso no nos lleva a ningún sitio. Malabia Dirección: Federico Nogara E-mail: [email protected] www.revistamalabia.com.ar . jornal de poesia triplov alô música . revistas em destaque vaso comunicante (méxico) diálogo entre ludwig zeller, susana wald & floriano martins FM - Quando surgiu Vaso Comunicante e em quais circunstâncias editoriais? LZ - Hace cinco años conocí a César Mayoral Figueroa que había tratado de hacer una revista similar y no le había resultado. Nos entendemos bien y al momento tenemos ocho números publicados. SW - César Mayoral Figueroa es un médico cirujano, psicoanalista, filósofo, escritor, y mecenas. Ha participado en el taller literario de Ludwig Zeller de donde surge la revista Vaso Comunicante en primer término. La revista ha existido con anterioridad, hace unos 18 años, cuando la dirigía un escritor de la Ciudad de México. En esa época César Mayoral era Rector de la Universidad de Oaxaca. FM - Qual a razão de seu nome? LZ - Muchas de las persona que han colaborado han estudiado medicina y es un frase común para ellos. Vasos Comunicantes ya fue empleado por Breton hace ochenta años. SW - Vasos comunicantes, de donde Breton toma también el título para su texto, son el punto de contacto entre las arterias y las venas, en el sistema capilar dentro del sistema circulatorio de nuestros cuerpos. A mí me llama la atención que se habla de sólo uno de esos elementos, de un vaso y no de la conjunción de dos, que es el caso cuando la terminología se usa en el plural. Así queda como el vaso que va hacia la conexión, o viene de ella. FM - Como a revista convive com outros projetos similares em todo o país? LZ - Tenemos poca relación y el interés principal de la revista es que tenga textos de primera calidad o material inédito en español. SW - La relación formal entre las revistas en México es poca, porque no hay una tradición de corresponsalía o de intercambio de cartas. Las personas que ven la revista, siendo editores de otras, la admiran, por su calidad. Hay muchas revistas en México. En Oaxaca hay por lo menos media docena. FM - Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc? LZ - Estamos muy interesados en hacer varios números y tenemos un espléndido material. Al momento Susana Wald y yo mismo somos los que llevamos todo el peso del trabajo, y el tiempo es escaso. SW - Creo que la revista tiene relevancia, y que se ha podido establecer como cosa que ya se conoce. La dificultad está en que la hacemos sólo dos personas. Ludwig selecciona el material y yo hago el diseño, la lectura de pruebas la hacemos los dos, y yo hago también traducciones, donde es necesario y veo la producción en preprensa y en la imprenta. FM - Vaso Comunicante circula apenas em versão impressa ou há também um módulo virtual? LZ - Sólo en versión impresa. SW - No hay versión virtual. FM - Como funciona sua difusão? LZ - La mayor parte de la revista la regalamos. También se puede encontrar en librerías de Oaxaca y hacemos envíos a otras ciudades. SW - Se vende en librerías de Oaxaca y se regala muchos ejemplares. FM - Como vêem as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura? LZ - Me parece una herramienta extraordinaria, pero frágil. SW - El Internet me parece un magnífico instrumento para las personas que tienen tres cosas: una computadora, una buena conexión telefónica y tiempo. Para las primeras dos cosas en especial se necesita tener dinero. Luego el resultado de lo encontrado, cuando se tiene tiempo, se debe almacenar o imprimir. Todo ello requiere fondos. Es poco eficaz como herramienta en lugares pobres como Oaxaca, donde la infraestructura es muy deficiente. No contamos ni siquiera con un suministro seguro de luz y conseguir teléfonos eficaces es trabajo de titanes. Yo diría que en Oaxaca si quieres hacer algo virtual, alcanzas quizás un dos por ciento de la población. ¡Eso, porque soy optimista! Colegio de Oaxaca Álamos 228 - Colonia Reforma Oaxaca, Oax. 68050 - MÉXICO [email protected] . jornal de poesia .. triplov alô música . revistas em destaque matérika (costa rica) diálogo entre alfonso peña, tomás saraví & floriano martins FM - ¿Qué motivó la aparición de Matérika? AP/TS - Tendríamos que viajar en el tiempo y ubicarnos en los inicios de la legendaria revista Andrómeda, que apareció entre 1980-1990, con 33 ediciones. Ese movimiento generó proyectos, amigos, colaboradores, canje con otras publicaciones. Transcurrió algún tiempo; se reformularon estrategias, nos adecuamos a nuevas situaciones en el ámbito de la cultura y hacia el año 2000 decidimos publicar una nueva revista. Matérika es una revista un poco diferente, es “fabricada” como un objeto artístico, donde los segmentos gráficos tienen una gran participación con la poesía, las entrevistas, la narrativa, el ensayo... Es una celebración del color, la imagen visual y la palabra escrita. En cada edición invitamos a un artista plástico a efectuar el proyecto gráfico. Por esta revista han transitado relevantes artistas de América Latina. Es un vehículo muy importante en el soporte y la divulgación de nuestras ediciones de libros de poesía, narrativa, gráfica. Por medio de las revistas literarias o de ideas, de algún modo se encuentran los escritores, los poetas, los pintores, y surge el canje, el fluido intercambio de ideas, entre publicaciones y entre países. FM - Algunas revistas han puesto especial atención a la poesía de otros países, incluso algunas dedican buena parte de sus páginas a su difusión. ¿De qué manera este asunto es encarado por Matérika? Esto tiene relación con el mundo globalizado y la ambigüedad implícita en la universalidad de la cultura. AP/TS - Para Matérika la difusión de la poesía es tan importante como la difusión del ensayo, de la narrativa, de la crítica literaria, que en otros espacios son prioritarios. Por ejemplo en el N°2 buena parte del contenido se dedica a una muestra de la poesía brasileña.. A partir de esa edición comprendimos que eso era un acierto y una deferencia con nuestros lectores y con las exigencias del mundo actual. En cada edición proponemos una muestra de la poesía continental. Por ejemplo para próximas ediciones presentaremos poesía guatemalteca y nicaragüense. Podemos añadir que en revistas amigas de otras latitudes hemos dado a conocer selecciones de la poesía actual costarricense. FM - ¿De qué manera el estado ha actuado o ha subvencionado sus proyectos editoriales y cual ha sido el resultado de esta actuación? AP/TS - La revista Matérika es respaldada por el sello Ediciones Andrómeda y el Taller de la Imaginación; es un proyecto de autogestión cultural. No pedimos ni contamos con el apoyo financiero del Estado. Consideramos que las revistas nacionales de cultura en algunos países han logrado buenos resultados: por su apertura, y difusión de las ideas. En Costa Rica hay revistas que tienen el apoyo del estado; son prácticamente “invisibles” pues no salen de las bodegas... Nuestro apoyo son los amigos, los lectores, que colaboran con nuestras propuestas editoriales. FM - ¿Matérika circula solo en su versión impresa o también tiene su módulo virtual? AP/TS - Decíamos que en las épocas anteriores a Internet “el canje” desempeñaba una importante misión. Hasta el día de hoy “el canje” por medio del correo se mantiene; es muy importante y agradable recibir la revista impresa que llega de México, Argentina, Colombia, Chile, Brasil, Cuba, España, sin embargo, en el año 2004, Matérika decidió contar con su revista virtual. Justamente en diciembre se lanzó la primera edición de Matérika virtual. Inicialmente hicimos una selección de nuestros materiales, con el propósito de que los lectores de otras las latitudes, merced a este maravilloso invento que es Internet pudieran mantenerse informados del grado de producción cultural existente en Costa Rica y Centroamérica. En la época actual resulta de gran importancia contar con una versión virtual. La respuesta ha sido impresionante. El mundo de Internet se caracteriza justamente por su carácter dinámico, masivo, independiente y libre, donde el público , los cibernautas opinan libremente. En muy pocos días “nuestro libro de visitas” reflejó las más diversas opiniomes; por medio del control que lleva Ditosoft, nuestro cómplice en el proyecto Matérika virtual, quedamos sorprendidos de la cantidad de personas que se acercan a nuestro portal. Mediante los diferentes mecanismos de captación de visitantes hemos constatado el interés que la publicación suscita en la red. Este módulo virtual es editado en Costa Rica por Andrómeda y producido digitalmente en Nicaragua por Ditosoft, lo cual demuestra una vez más, que “la cultura no tiene fronteras”. FM - ¿Qué opinan de la creación de un foro permanente de debates, entre editores de revistas, utilizando Internet? AP/TS - La invitación de Agulha a formular esta clase de opiniones enriquece notablemente el panorama. Agulha de algún modo se convirtió en un buen ejemplo para todo el continente y para el mundo. En nuestro caso la relación con Agulha es particularmente intensa por las relaciones personales que existen entre sus organizadores; eso ha llevado a que realmente se pueda multiplicar el conocimiento de la cultura costarricense, la cultura centroamericana, y la interrelación entre todas las culturas de América Latina. En realidad el foro ya comenzó y tiene un sentido concreto. Debe aplaudirse y apoyarse esta iniciativa. Es particularmente importante que mucha de la gente que se adhiere a los distintos niveles que Internet presenta, lo haga mediante la lectura de esta clase de materiales, muy cuidados, previamente editados y discutidos. Es importante que se imponga una sana discusión entre países como los latinoamericanos que tienen en algunos casos antiguas tradiciones culturales. En consecuencia la suma de este proceso analizándolo por todos los flancos es sumamente positivo. [entrevista realizada em janeiro de 2005] Editor Alfonso Peña Consejo Editor Tomás Saraví - Guillermo Fernández - Floriano Martins - Colombia Truque - Saúl Ibargoyen - Felo García - Carlos Barbarito Dirección Barrio Amón, Calle 9, Avenida 9 Apartado Postal # 159-1002 Paseo de los Estudiantes - San José - Costa Rica, A.C. E-mail: [email protected] http://www.materika.com/ www.edicionesandromeda.com . jornal de poesia triplov alô música . revistas em destaque palavreiros (brasil) diálogo entre josé geraldo neres & claudio willer De uma oficina literária em Diadema, município da região metropolitana de São Paulo, à Internet, e a um sem-número de conexões não apenas brasileiras, porém latino-americanas. Esta é a trajetória de Palavreiros, e, em especial, do poeta José Geraldo Neres, que tem se dedicado, nos últimos cinco anos, à organização e divulgação desse espaço para a poesia. [CW] CW - Você é capaz de resumir, em umas poucas linhas, o que é Palavreiros? JGN - Usando as palavras de uma amiga; Palavreiros = trabalhadores da palavra = operários/formigas. CW - Dê-nos um histórico, conte-nos como surgiu Palavreiros. Dá a impressão de ser algo coletivo, desdobramento ou conseqüência de atividades de um grupo. Quem são? JGN - Surgiu em 1999, no encerramento de uma oficina literária no município de Diadema, oficina essa ministrada pela Beth Brait Alvim. É aquela velha história (como muitas outras histórias que conheço); bem pessoal acabou a oficina e fica aquele gosto de quero mais um pouco ou está faltando algo. O que fazer? Temos em comum o gosto pela palavra. O que fazer? Onde levar esse sentimento? Existia a idéia de se forma um grupo, esse desejo foi se fortalecendo ao longo das primeiras apresentações públicas, chegando até a inusitada inauguração de uma escultura que representava a "Torre de Babel"(alunos de artes plásticas das oficinas culturais ministradas por Ricardo Amadasi, argentino radicado no Brasil). A princípio foi a experiência de Saraus(centros culturais e escolas), depois o primeiro Fanzine. Naquele momento já contávamos com cerca de 30 ou mais colaboradores: alguns se retiraram ao longo desses cinco anos, e teve a chegada de outros. São interessantes as experiências ao longo desses cinco anos: uma das maiores marcas, é sem duvida uma sarau realizado numa escola municipal de ensino de ensino para jovens e adultos. A escola parou suas atividades naquela noite. Éramos: “estranhos num ninho de curiosidade e espanto”. Além das poesias do grupo, apresentamos poetas consagrados como Cecília Meirelles, Cora Coralina, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade… Até aí nenhuma novidade, mas ao fim da apresentação: - Quando vocês voltam? Passado dois meses, voltamos a mesma escola e, para nossa surpresa, os alunos estavam organizados: tinham escolhido os poemas/poetas para leitura, fizeram jogral, participaram de um poema coletivo. Uma verdadeira comunhão. Tem outras histórias; cada apresentação tem uma em particular, mas sempre fica aquela pergunta: nunca pensamos que um dia nossa iniciativa, aquele utópico desejo nos levasse a tantos lugares: SESC, Escolas e Universidades, Encontro de Escritores de Rio Claro/SP, e além das fronteiras de terras brasilis; Uruguai. Agora deixando a parte de apresentações; o grupo atualmente é composto por(ativos e não ativos): A. Smero, Arildo Correia Lima, Beth Brait Alvim, Cleibson Carlos, Edson Aquino, José Geraldo Neres, Juan Carlos Rodriguez Latorre, Maria de Lourdes, Maria Regina Oliveira de Araújo, Marlene Pereira de Lima, Murillo Kollek, Osmar Almeida, Paula Barbosa, e Radi Oliveira (existem ainda outros colaboradores que atuam indiretamente). É verdade que há uma tendência de se reestruturar o grupo ou que ele venha a funcionar uma pouco mais. Creio que isso se deve ao fato de que num determinado momento o desejo do individuo vem influenciar o grupo, ou a aparição do velho desejo do homem de trilhar novos outros caminhos. O Palavreiros tem um filho: Formigueiros (que seria a vertente musical do grupo, e que agora dá seus próprios passos). Alguns dos participantes começam a dar suas primeiras oficinas literárias, a fazer intermediações em projeto de apreciação estética/literária "Q. Poética?" e em outras atividades culturais. E temos ainda o nosso caminhar na grande rede (que surgiu como alternativa de divulgação de nossos textos, após o rompimento de um convênio-patrocínio que tínhamos para publicação de nosso Fanzine). Fizemos nossa primeira página em 2000, e depois disso o site foi crescendo e agregando outros poetas/escritores. O site acabou sendo a grande válvula de escape e excelente ferramenta de divulgação literária e intercâmbio, sendo incluído no diretório mundial de poesia da Unesco: www.unesco.org/poetry. Creio que devo ter me estendido por demais, mesmo sabendo que existem outras histórias ainda por contar. CW - Que papel você desempenha em Palavreiros? JGN - Desde a fundação do grupo em 1999, venho desenvolvendo o papel de relações públicas do grupo, desde 2001 sou o responsável pela manutenção do site, e realização de um festival virtual de poesia que está na sua terceira edição (a última edição contou com a participação de poetas de 38 países, a edição de 2005 está ainda sendo estudada). CW - Essa conexão hispano-americana, com uma presença forte de autores e obras em língua espanhola, algo que diferencia Palavreiros de outros periódicos eletrônicos, como aconteceu? JGN - Creio que foi com a realização do festival virtual de poesia. Foi algo surpreendente: o poeta que estava participando convidava outro e esse outro. Eles acreditaram na proposta dessa antologia virtual e se organizaram para que cada país estivesse poeticamente representado. A notícia do festival saiu em programas de rádio em Puerto Rico, em jornais na Bolívia, e não esquecendo dos diversos divulgadores pela grande rede. É interessante essa cumplicidade: poetas que não tinham micro eram indicados por outros que possuíam essa ferramenta. Na ausência de poetas de um determinado país, por exemplo: no Paraguai, contei com o auxílio de Tereza Méndez-Faith. Com relação aos poetas árabes; a interlocução da poeta Belén Juárez (Coodinadora del Programa Cultural "Puerta Abierta del Diálogo Internacional", 2001-2002, Fundación Euroárabe (España). E isso foi uma constante, o círculo foi aumentando cada vez mais e mais. CW - Diga algo sobre a expansão de sites e divulgação de poesia pela internet. Quais são seus principais parceiros e interlocutores? JGN - O site foi ganhando força ao longo desses 5 anos. E algo que é necessário de se dizer: tratando-se de sites de literatura; existe sempre a divulgação ou vinculação/indicação de navegação para outros sites. E funciona também a velha forma de propaganda; um amigo apresenta outro e assim vai. Atualmente não possuímos parceiros (creio que isso deverá mudar em breve; será reformulada a seção de links e criada uma seção de destaque relativo a esses possíveis parceiros, seja ele financeiro ou divulgador.). Mas sem duvida, algo que ajudou muito no crescimento do site foi a sua inclusão no diretório mundial de poesia da Unesco. Existe ainda a divulgação/indicação de navegação do Instituto Camões - Centro Virtual- de Portugal. Na verdade seria preciso mais linhas para poder mencionar todos(as) os(as) divulgadores(as). Com a alteração/reformulação da seção links isso deverá estar solucionado, pois devemos muito a esses(as) amigos e amigas. CW - Haverá alguma expansão de Palavreiros no meio impresso, sobre papel? JGN - Na verdade não seria uma expansão e sim um retorno; começamos com um Fanzine impresso (1000 exemplares, com cerca de 18 páginas, com poesias, crítica literária e ilustrações) e depois a parceira foi rompida sem maiores explicações (até hoje não sei ao certo o motivo). Precisamos retornar ao papel. CW - Certa ocasião, você me falou que recebe 100 e-mails por dia. Em matéria de acessos, como está Palavreiros? Quem o acessa ou consulta? JGN - Com relação a conteúdo; são mais de 20.000 páginas (O grupo Palavreiros possui um espaço próprio, cada participante do grupo possui sua página. Temos uma média-mês de 15.000 visitas (houve ocasiões em que a visitação diária ultrapassou a casa de 1.500 visitas). Sendo que em torno de 40% dessa visitação é daqui do Brasil e o outro percentual representa a visitação de mais de 70 países. Nossa lista de contatos ultrapassa 6.000 contas de e-mails. CW - O que você gostou mais de publicar ou divulgar em Palavreiros? JGN - Sem contar a divulgação de livros, celebrações literárias e outros acontecimentos… O prazer apareceu em vários momentos. Um desses momentos foi o de publicar poemas de integrantes do Taller "El rincón de los niños cubanos". Te presento a cuatro hermanos,/ Cada uno es una esfera,/ Cada uno un tenue fuego,/ Aquí tienes a Vulcano,/ Viviendo junto a la Tierra,/ Aquí tienes a Mercurio,/ Habitando con Neptuno,/ Más acá te muestro a Cintia/ En un abrazo con Bóreas,/ Y por Último está Apolo,/ El grande consigo mismo,/ Para verlos perecer / Basta golpear a cualquiera,/ Pues los ligan mutuos vínculos, / De extraña naturaleza/…(fragmento do poema "Arcanos naturales" de Guillermo Badia Hernández, 15 anos). Não somente pela força mítica do poema, mas por saber que existem pessoas preocupadas com a vivência poética dos jovens. E também a descoberta da poesia de outros países, bem como o intercâmbio literário com nossos irmãos de São Tomé e Príncipe, na África. E nossos hermanos do 1º Festival Internacional de Poesía de Granada, Nicarágua. Existem ainda outros contatos, mas isso farei noutra oportunidade. E um momento triste: a morte de uma amiga e divulgadora, Yêda Schmaltz, mantivemos contato por cerca de 2 anos ou mais, e para tentar registrar essa amizade, nós criamos uma seção especial dedicada a ela. CW - O que você gostaria de apresentar ou pôr em Palavreiros e ainda não fez? JGN - Gostaria de publicar edições especiais de poesia e prosa de cada país que mantemos contato. E fazer sair da gaveta uma revista digital de literatura que a principio se chamaria: "Esfinge Móvel" O primeiro esboço dessa revista pode ser acompanhado no endereço http://www.palavreiros.org/esfinge/home.html CW - E o futuro? Quais serão os próximos passos? Há planos de expansão, haverá crescimento de Palavreiros? Quantitativo, qualitativo ou ambos? Algo deverá ou deveria mudar? JGN - Tenho planos, mas isso só deverá acontecer depois de março, 2005. (Expansão, fortalecimento, a criação de outros intercâmbios literários, um selo próprio, sede ou local de reuniões, etc. Mas isso tudo ficará na dependência dessa futura reunião.) [entrevista realizada em janeiro de 2005] Grupo Palavreiros [5 anos de atividades culturais] A. Smero, Beth Brait Alvim, Cleibson Carlos, Edson Aquino, José Geraldo Neres, Juan Carlos Rodriguez Latorre, Maria de Lourdes, Maria Regina Oliveira de Araújo, Marlene Pereira de Lima, Murillo Kollek, Osmar Almeida, Paula Barbosa e Radi Oliveira www.palavreiros.org/palavreiros.html . . revistas em destaque piel de leopardo (argentina) diálogo entre jorje lagos nilsson & floriano martins FM - Como surge Piel de Leopardo, motivada por qual desejo? JLN - Hacia 1989/90 -no lo recuerdo con exactitudconocí en Buenos Aires a un grupo de jóvenes poetas chilenos: Jesús Sepúlveda, Guillermo Valenzuela y otros. Dos años después, en Santiago de Chile, conversamos sobre la necesidad de una revista de cultura, no sólo de letras. Meses más tarde ellos logran publicar Piel de Leopardo. En 1994 (había regresado a Buenos Aires) Sepúlveda me escribe: ¿podía yo encargarme de la revista? Acepté. Pudimos imprimir dos números. No más por razones de tipo legal, contable y administrativo. Desde 2000 Piel de Leopardo es una publicación electrónica. El deseo, la gana, la voluntad detrás del esfuerzo es ayudar a construir puentes; puentes entre las regiones de América Latina y puente entre América Latina y el resto del mundo. Sí, una ambición muy grande para lo que somos, pero por algo se empieza, ¿verdad? FM - Como funciona Piel de Leopardo (estrutura financeira, distribuição, equipe, definição de pauta, relação com colaboradores etc.)? JLN - Entre 2000 y 2003 fue una revista bimensual. Existía un Consejo editorial al que llamamos Sóviet, lo que suscitó algunas protestas -que rechazamos: nunca fue una publicación marxista-. El sóviet se reunía virtualmente, puesto que vivíamos en diferentes partes del mundo, y se decidían algunas políticas inmediatas. Nunca hubo una estructura administrativofinanciera; un compañero se encargó de su distribución en Buenos Aires, para los números en papel, y cuando pudimos editarla para internet descontábamos que sería gratuita. La relación con los colaboradores era directa y horizontal. Como ocurriera en su etapa chilena, ciertas circunstancias nos obligaron a suspender su aparición en 2003. A fines de ese año un grupo de entusiastas “subió” un último número. El sueño porfiado como todos los sueños- paradójicamente no dejaba dormir. En octubre de este año de 2004 volvimos. Estudiamos mecanismos para mantenerla y poder cumplir con sus objetivos. Uno de esos mecanismos es la puesta en marcha de un aparato editorial. De hecho en Buenos Aires logramos publicar alrededor de una docena de libros de escritores de diversos países: Sylvia Vergara, Venezuela; Adriano Corrales, Costa Rica; Jesús Sepúlveda y Álvaro Leyva, residentes en Estados Unidos; Joaquín Carreras y Luis Benítez, argentinos, etc… Para esta tarea tuvimos impulso, ayuda y solidaridad particulares; en concreto de la biblioteca virtual Wordtheque. En esta etapa pretendemos ediciones compartidas con otras editoriales pequeñas, grupos culturales, etc… En Chile tuvimos este año (2004) una buena experiencia al respecto. FM - De que maneira o Estado (governo) tem atuado na subvenção de projetos editoriais e qual tem sido o resultado dessa atuação? JLN - La verdad es que no estamos muy al tanto de este asunto. Un poco anarquistas pensamos que nada bueno sale de las relaciones con los gobiernos u otros grupos de poder -o aspirantes a ser poderosos-. Alguna experiencia nos indica que los gobiernos atienden, casi exclusivamente, proyectos afines con sus objetivos. No hemos participado en esas rebatiñas. FM - Muitas revistas têm mostrado atenção em relação ao que se passa com a poesia em outros países, algumas delas dedicando suas páginas de maneira substanciosa à difusão dessa poesia. De que maneira este assunto é compreendido por Piel de Leopardo, sobre a função que desempenham editores de revistas, observando a ambigüidade de uma universalização da cultura hoje tão evocada? JLN - Piel de Leopardo -el animal para los íntimos- no se define como una revista literaria, y esta circunstancia tal vez marque la respuesta. Pensamos que en la literatura, y de manera particular en la poesía, habita buena parte de nuestras identidades culturales y memoria histórica: habitan en ella, se expresan en ella, en ella se buscan y se nombran por ella. En las próximas semanas habilitaremos sendas carpetas (secciones) nuevas. Una para intentar difundir textos literarios y trabajos de arte en pintura y fotografía; otra para procurar ampliar nuestro radio de acción a través de la publicación de las cartas de nuestros lectores. Nuestros lectores en general no son literatos. Creemos que el asunto -tan mentado en los últimos años- de la universalización de la cultura (globalización que llaman) no conduce tal como está concebida a favorecer el intercambio horizontal entre las culturas; más bien integra un arsenal ideológico estratégico para “ensimar”, si cabe la expresión, a las identidades regionales, no para “encimarlas”. Y pensamos que sólo la integración de lo regional -que no es lo mismo que lo nacional, no necesariamente- posibilitará esa universalización. Lo regional expresa la identidad en materia de habla, étnica, de producción, etc… Desde esta óptica desde luego que procuraremos difundir poesía en la medida que nuestros (escasos) recursos lo permitan. De hecho, y más allá de la aterradora experiencia económica de la editorial en Buenos Aires, esa es nuestra intención. FM - O que pensas da idéia de criação de um fórum permanente de debates, entre editores de revistas, através da Internet? JLN - Que es hora de poner a caminar la internet. La aplaudo. *** Piel de Leopardo (www.pieldeleopardo.com), cultura y política desde Latinoamérica, es una revista de información, análisis y opinión alternativa a la que suelen entregar los medios tradicionales a sus lectores. Fundada por el escritor Jesús Sepúlveda y un grupo de jóvenes intelectuales en Santiago de Chile a comienzos de la última década del siglo XX, conoció una etapa gráfica en Buenos Aires antes de consolidarse como publicación electrónica en 2000. El objetivo central de Piel de Leopardo es servir de puente para la difusión del pensamiento crítico y la opinión independiente que se genera en América Latina y para informar de lo que ocurre en la base de nuestras sociedades: movimientos sociales, naciones originarias, grupos culturales, asociaciones ciudadanas, agresiones al ambiente, etc. Nuestro mercado no se encuentra en un país u otro; nuestra nacionalidad en este sentido es el idioma en que nos lee. Y nuestra asociación con Arcoiris TV, además, nos permite enriquecer el trabajo con documentales, entrevistas y reportajes que normalmente no se pueden ver en la televisión comercial por considerarlos sin interés o porque han sido censurados. Usar Arcoiris es muy simple: Se entra en el sitio, se busca un video en categorías y se elige el tipo de conexión más adecuada al MODEM (ADSL para las conexiones de banda ancha y 56k para el MODEM analógico). Sin tiempo de espera, aparecerá la cinta, pues los lectores de archivos de video (Real Player y Windows Media Player) consienten el uso de la tecnología llamada streaming. Quien no tiene en su computador el lector adecuado, lo puede bajar sin costo y fácilmente desde la misma página de Arcoiris tv. [entrevista realizada em dezembro de 2004] Comité editorial Editor general: Jorje Lagos Nilsson Coordinación: Ximena Villanueva Ernesto Carmona, Luigi Lovecchio. Sylvia Vergara, Armando Salazar, Juan Carlos Mege, Jesús Sepúlveda Webmaster: Andrea Campagna Quienes quieran hacer sugerencias para mejorar el sitio o colaborar en él, pueden escribir a [email protected]. . . revistas em destaque blanco móvil (méxico) diálogo entre eduardo mosches & floriano martins Em www.revista.agulha.nom.br/ag31revista7.htm temos uma outra página dedicada à mexicana Blanco Móvil, o que agora se renova concierando que a revista, com 95 números publicados até o momento, está completando 20 anos de aventura editorial, tendo sempre à frente seu fundador, o poeta Eduardo Mosches, argentino de nascimento, radicado mexicano. Blanco Móvil é revista essencialmente literária, com a característica de que cada uma de suas edições é inteiramente ilustrada por um único artista plástico. As edições costumam ser temáticas e, ao longo destes anos todos, duas delas foram já dedicadas à poesia e à prosa no Brasil. A seguir, um breve diálogo com seu editor, Eduardo Mosches, realizado em fevereiro de 2005. [FM] FM - Como surge Blanco Móvil, motivada por qual desejo? EM – El nacimiento de la revista se da en una librería. En 1985 nace un proyecto de realizar una revista representativa de la librería Gandhi, en la Ciudad de México. Esta librería, en esos años, intentaba corporizar un proyecto cultural, tenía un foro cultural y asimismo, una pequeña editorial, Esta revista funcionaba como un eslabón de interés entre los potenciales lectores y la literatura. Asi fue, hasta 1988, donde decidimos independizarnos, y resolvimos continuar con este proyecto independiente. FM – Como funciona Blanco Móvil (estrutura financeira, distribuição, equipe, definição de pauta, relação com colaboradores etc.)? EM – Funciona gracias a la buena voluntad de los colaboradores, los que gratuitamente, participan en el proyecto. En el mismo se incluyen los narradores y poetas, los ensayistas, pintores y fotógrafos, los diseñadores, y se ve ayudado, hasta con la buena voluntad del mismo impresor, que pacientemente, espera a los tiempos de pago. Es una especie de cooperativa de la buena voluntad de los creadores. FM – Blanco Móvil circula apenas em sua versão impressa ou há também um módulo virtual? EM – Hubo in intento de realizar un modelo virtual, pero nos quedamos sólo en eln inicio. Esperamos retomar activamente dicha posibilidad alternativa. FM - De que maneira o Estado (governo) tem atuado na subvenção de projetos editoriais e qual tem sido o resultado dessa atuação? EM – El Consejo Nacional para la Cultura y las Artes, una especie de Secretaría de Cultura, creó un programa de apoyo a las revistas culturales independientes, desde hace unos diez años, el cual da un apoyo para las necesidades de producción de la publicación. Se puede recibir por dos años consecutivos y después hay que realizar un descanso de un año, e intentar nuevamente la obtención de dicho apoyo. Actualmente, se sigue otorgando dicho apoyo a través de un Fondo nacional, pero el actual gobierno de centro derecha, ha buscado una forma en que dicho apoyo se convierte en un pago , puesto que la revista debe expedir una factura por esa cantidad de dinero. Una concepción mercadotécnica. La revista lo recibió en 1994 y 95 y después , reincidió en recibirlo en 2002 y 2003. FM – Muitas revistas têm mostrado atenção em relação ao que se passa com a poesia em outros países, algumas delas dedicando suas páginas de maneira substanciosa à difusão dessa poesia. De que maneira este assunto é compreendido por Blanco Móvil, sobre a função que desempenham editores de revistas, observando a ambigüidade de uma universalização da cultura hoje tão evocada? EM – La concepción editorial de nuestra revista ha sido y es la de acercarse a a diferentes expresiones literarias nacionales, es parte de la intención de transmisión literaria internacional el haber dedicado números a poetas y narradores de países como Angola, Belice, Líbano, Cataluña, Alemania, Francia, Italia, Israel, y una buena cantidad a los países latinoamericanos, entre los que se encuentran Costa Rica, Bolivia, Perú, Argentina, Chile, y obviamente, Brasil. Abrir ventanas de interés y conocimiento de poetas y narradores de este tan golpeado y sufriente planera. FM – O que pensas da idéia de criação de um fórum permanente de debates, entre editores de revistas, através da Internet? EM – Me parece interesante la posibilidad de concretar esa proposición. Es una forma de acercarnos a consolidar la existencia de la República de Difusión de la Escritura Creativa. Conocernos para conocerse. La cercanía de la palabra escrita difumina tranquilamente las distancias y las fronteras políticas. Un planeta sin fronteras, en que la fuerza de la palabra escrita reúna y conjugue ese verbo de la solidaridad. Con la excelente ayuda del verbo traducir, estaremos consolidando la difusión , esta vez sí, globalizadora, de la literatura. Director: Eduardo Mosches Corresponsales Arturo Carrera (Argentina) Floriano Martins (Brasil) Carles Duarte (Cataluña) Jesús Cobo (Espanha) José Kozer (Estados Unidos) Enrique Noriega (Guatemala) Rafael Rivera (Honduras) Marcela London (Israel) Edwin Silva (Nicarágua) Eduardo Chirinos (Perú) Eduardo Espina (Uruguay) Momoluco # 64 – Santo Domingo Delegación Coyoacán, México DF Teléfono y fax: (55) 56-10-92-99 e-mail: [email protected] www.blancomovil.com . jornal de poesia .. triplov alô música . revistas em destaque literatura on line (brasil) diálogo entre laudemir guedes fragoso & edson cruz O sítio Literatura Online-LOL, dirigido por Laudemir Guedes Fragoso, é muito interessante em vários aspectos. Você encontra em suas páginas muitas dicas para vestibulandos, cursos abordando os movimentos literários, noções de competência lingüística, espaço para novos autores e - o que eu mais gostei - muitos títulos disponíveis para downloads. Laudemir é formado em Letras (Inglês-Português) pela FFLCH-USP e atualmente dá aulas no ensino Médio e em cursinhos prévestibulares. A identidade visual de seu sítio está a cargo de Luciano Santos e a programação é de Rodrigo Mondelo. Abaixo um pequeno bate-bola com ele. [EC] EC - Como e quando surgiu a idéia do site e se ele está mantendo a idéia original? LGF - O LOL foi elaborado para atender os estudantes de Ensino Médio e principalmente os vestibulandos, entretanto, conseguiu atrair a atenção dos amantes de poesia e estudantes de Letras, o que nos forçou a planejar algumas alterações, que entrarão em vigor muito em breve. O LOL surgiu há cerca de quatro anos depois que foi constatado que a internet é um meio poderoso de difusão de informações, mas sub-utilizado. Soma-se a isso a cobrança de alguns alunos com relação a reforço sobre o que era explicado em sala de aula, sobre quais elementos são mais importantes na análise de textos, comentários sobre livros de diferentes vestibulares etc. Assim, tivemos a necessidade de fazer com que os internautas entrassem em contato com textos de qualidade de maneira a aumentar o repertório cultural e a competência lingüística e, sozinhos, pudessem realizar seus próprios exercícios de abordagem da língua. Melhores informações podem ser encontradas no nosso press release, na seção LOL NA MÍDIA de nosso site. EC - Gostei daquelas salas especiais para autores. Você acha que alguém da nova geração de autores já mereceria uma sala daquelas? LGF - Quanto às salas, informo que está sendo preparada uma ampla atualizada do LOL, o que permitirá a presença de mais salas, além de uma maior abertura para participação do internauta. Com essa reformulação, grandes autores contemporâneos também serão lembrados. EC - Você acha que a nova literatura virá da Internet? LGF - Em primeiro lugar, um novo mundo está vindo da internet. Assim, a nova literatura poderá muito bem ser influenciada por esse meio. Entretanto, fica difícil prever como será sua linguagem ou a sua filosofia. Pode-se entender que a rede nada mais é do que a transposição do mundo "aqui de fora". O que a rede permite é uma maior e mais rápida circulação de idéias. Tudo se tornará mais efêmero? Mais superficial? Mais globalizado? Ainda é cedo para se afirmar algo. Entretanto, vislumbro com entusiasmo três elementos da net que podem abrir caminho para a "nova literatura". Um é o blog. Muita coisa interessante surgirá daí. Qualquer um pode colocar o que quiser na rede. Daí vem o segundo elemento: poemas, contos e romances são publicados sem a necessidade de se caçar uma editora. É maravilhoso imaginar que um enorme obstáculo foi removido aí. O terceiro é que a rede mundial permite uma maior discussão, uma maior abordagem crítica dos textos literários. Basta ver a enorme quantidade de comunidades no Orkut sobre escritores. Permite-se que gente de várias partes do mundo discuta Drummond, Machado, Nelson Rodrigues. Está-se, construindo, pois, um hipertexto cultural fabuloso e assustador. EC - Você tem acompanhado esta nova geração de prosadores da literatura brasileira. Quem você destacaria? LGF - Eu tenho uma visão muito crítica e talvez conservadora. Eu preciso de muito tempo para poder dizer se um escritor de fato é bom ou não, o que faz com que minha lista de apreciáveis não seja tão "atual". Destaco Luís Vilela, Wilson Bueno e Chico Buarque. EC - O LOL incentiva a produção literária de seus leitores? Como? LGF - A seção TALENTOS nasceu justamente para incentivar os textos de nossos leitores, além de provar que literatura não está apenas nas mãos dos "monstros sagrados". Basta, portanto, nosso usuário mandar o seu texto por meio da referida seção. E na nossa próxima versão, adianto que TALENTOS estará atrelada a um fórum em que não só o site comentará a produção publicada, mas também todo internauta que estiver disposto para tal. EC - Vejo a Internet como uma possibilidade de nos comunicarmos com outras culturas literárias. Como você vê a produção, por exemplo, de nossos hermanos latinos? O LOL está aberto para eles também? LGF - O LOL está voltado exclusivamente para a Língua Portuguesa, o que por si só é uma tarefa grandiosa. Não há projeto, por enquanto, para ampliar esse universo. EC - Quais serão estas alterações previstas por você? Você chamaria isto de amadurecimento? LGF - Em parte é um amadurecimento. Mas é também uma tomada de consciência. Fizemos o site focado para os vestibulandos. Entretanto, estudantes de Letras usam-no bastante, assim como professores. Além disso, os amantes de Literatura, que não têm vínculo algum com esses exames de admissão, são assíduos freqüentadores. Assim, prestando atenção ao nosso público, resolvemos ampliar nossas atribuições, sem nos desviarmos de nossa meta inicial - divulgar a literatura em língua portuguesa, ou seja, os tesouros que a nossa língua produz. EC - Pela sua experiência com o ensino médio e vestibulandos, dá pra se ter idéia de como são os hábitos de leitura desta moçada? A impressão que tenho é que lêem só por obrigação. LGF - Como tudo, não se pode generalizar. Há os que só lêem por obrigação. São maioria. Pior - há os que nem lêem: só querem saber de resumo. E para tornar o quadro mais dantesco: há os que não lêem resumo superior a dez páginas (Sagarana, por exemplo, que tem seu resumo comentado na seção DOWNLOADS, tem 25 páginas). Entretanto, há alunos que não querem resumo, querem ler a obra e outros que relêem com gosto. E há ainda os que lêem o que o vestibular ou a escola não cobra, como Tolstói, Rimbaud, Oscar Wilde, Goethe, sem mencionar os que têm contato - para minha alegria - com autores de que eu não tinha conhecimento. Acabam ampliando meu repertório cultural. EC - Você pensa em ter colunistas e dar mais destaque para inéditos, visto que há muitos talentos e muita criação sem espaço nas edições convencionais? LGF - Na nova versão do LOL, que está no forno, haverá mais espaço para inéditos, tanto em prosa quanto em poesia. Além disso, colunistas e matérias especiais - todos relacionados à literatura - farão parte de nosso conteúdo. O nosso site vai-se tornar, definitivamente, uma revista literária, não apenas uma página para o vestibular. EC - Você acredita mesmo que se pode ensinar Literatura para alguém? LGF - Deve-se tomar cuidado para não se provocar uma mistura perigosa aqui. A intenção do LOL não é ensinar a fazer Literatura. No máximo, o que ele poderá fazer é despertar o que já está latente em alguns internautas, como se pode ver pela seção TALENTOS. Nossa intenção é fazer com que os internautas tomem conhecimento dos melhores textos que a língua portuguesa produziu e ainda produz. É uma questão de buscar ampliar o repertório cultural de nosso usuário. Se este não conhece nada de Literatura, encontrará uma boa oportunidade. Se já for um aprendiz de literato, desenvolverá muito o seu estilo pela leitura dos textos apresentados aqui, tanto os canônicos (na seção CURSO DE LITERATURA) quanto os não-canônicos (seção TALENTOS). E os que já forem grandes literatos, não perderão nada em nos acessar. EC - O que é Literatura para você? LGF - Quanto à definição de Literatura, livros e livros e livros foram escritos com essa intenção. Se eu quisesse dar uma acepção perfeita e absoluta, seria presunção. Mas pode-se começar a entender Literatura como um conjunto de textos elaboradamente estéticos de uma determinada língua. Por isso, acabam se tornando os tesouros de toda uma cultura. Assim, o falante de Português, por exemplo, pode não gostar de Literatura, mas tem a obrigação de conhecê-la, para poder ser um cidadão crítico e consciente. EC - Não me leve a mal, mas estar atrelado a esta máquina triturante que são os vestibulares, e seus padrões de exclusão, não é (no mínimo) limitador para a Literatura? LGF - O objetivo do LOL está um pouco acima dos vestibulares. Acreditamos que se dermos insumos para o internauta manipular adequadamente a língua portuguesa, estará preparado até para os bons vestibulares. Os maus, acertando ou não a questão, ele passará de qualquer jeito. Em suma, o que queremos é contribuir para a ampliação do universo cultural dos nossos internautas. Seu trabalho com vestibular virá como conseqüência. Não se deve esquecer, entretanto, que os bons vestibulares têm a capacidade de reorientar o Ensino Médio. Basta notar que a partir do instante em que a FUVEST começou a cobrar redação em seus exames, as escolas passaram a se preocupar com esse tópico. Em suma, devese pensar no vestibular, mantendo a devida distância crítica para não se acabar limitado a ele. Direção: Laudemir Guedes Fragoso http://www.lol.pro.br/ . jornal de poesia .. triplov alô música . revistas em destaque suplemento literário minas gerais (brasil) José Aloise Bahia 1. A língua portuguesa ganha um presente valioso. A partir de agora todo o conteúdo das mais de 1.200 edições do Suplemento Literário de Minas Gerais está disponível para consulta na Internet: www.letras.ufmg.br/websuplit. Segundo Júnia Lessa França, bibliotecária da FALE/UFMG (Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) e responsável pelo projeto “Suplemento Literário, 38 anos. Acervo de 1966/2004”, o movimento surgiu numa parceria inédita da FALE/UFMG, Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte e a FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais). A FAPEMIG já investiu mais de R$ 30 mil. O sítio abrigará todos os exemplares, inclusive o inicial, lançado no dia três de setembro de 1966, pelo editor-fundador, o escritor Murilo Rubião (1916-1991), um dos introdutores do Realismo Mágico na literatura brasileira. O projeto começou em 1998. Uma equipe de bibliotecários da FALE/UFMG, num trabalho pioneiro, produziu um banco de dados, pautado em referências como ano, mês, edição, assunto, ilustrador, título de artigo e autor. Até então, não havia qualquer trabalho de indexação. As digitalizações dos textos começaram em julho de 2004. Os originais impressos, estão encadernados, serão restaurados e guardados numa sala especial da biblioteca da FALE/UFMG. O acervo será doado, através de microfilme, para o suplemento literário. 2. No começo, Murilo Rubião enfrentou vários problemas na implantação do jornal. O principal deles: na época a produção intelectual mineira era escassa. O jeito foi apelar para as colaborações de autores nascidos em Minas Gerais que moravam fora, pensadores e escritores de outros Estados e até de outros países. Guimarães Rosa, no Rio e Murilo Mendes, em Roma, foram os principais nomes. A proposta inicial do SLMG era publicar autores consagrados e desconhecidos - característica que é mantida até hoje -, mas também contemplar outras manifestações culturais como o teatro, o cinema e as artes plásticas. A primeira edição tinha ilustrações internas de Yara Tupynambá e Álvaro Apocalypse (ambos estudaram com Guignard). Os textos principais foram à interpretação de Laís Correa de Araújo sobre os livros de Clarice Lispector, o artigo “Verdade e Ficção” do escritor pernambucano Austregésilo de Athayde e o poema “O País dos Laticínios” de Bueno de Rivera. O sucesso foi tão grande que no primeiro aniversário (1967) circulou uma publicação especial com Carlos Drummond de Andrade, Dalton Trevisan, Haroldo de Campos e Benedito Nunes. As edições especiais eram de capas-duras e plastificadas. Outro destaque foi à edição dupla no segundo aniversário, com trabalhos de jovens escritores e artistas plásticos. Marcou época e ficaram conhecidos como a “Geração Suplemento”, cuja verve contista era formada por Luiz Vilela, Ivan Ângelo, Sérgio Sant´Ana, Jaime Prado Gouvêa, etc. como chama a atenção Humberto Werneck no livro O Desatino da Rapaziada: jornalistas e escritores em Minas Gerais (Cia. das Letras, São Paulo, 1992). 3. Nas décadas de 1960/70, inúmeros intelectuais e escritores participaram das publicações do SLMG. Só para citar alguns nomes, com participações assíduas: Laís Corrêa de Araújo (com a coluna de crítica literária “Roda Gigante e Informais” que permaneceu até a edição de maio de 1969), o poeta da geração de 45 Bueno de Rivera, o pensador e escritor carioca Alceu Amoroso Lima - o “Tristão de Athayde”, Abgard Renault, Emílio Moura, Pedro Nava, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Oswaldo França Júnior, Henriqueta Lisboa (primeira mulher a pertencer à Academia Mineira de Letras), Affonso Ávila, Silviano Santiago, Fábio Lucas, Márcio Sampaio (artes plásticas), Jota D’Ângelo (teatro) e Flávio Márcio (cinema). Observa-se também o namoro da literatura com o jornalismo em seções de depoimentos e reportagens literárias assinadas por Zilah Corrêa de Araújo e Neil Ribeiro da Silva (influências de Tom Wolfe e do movimento do Novo Jornalismo). Murilo Rubião foi o editor até 1969. Denunciado como subversivo, teve que deixar o cargo. Foi substituído pelo escritor, ensaísta e professor Rui Mourão (premiado em 2002 com o Jabuti da ABL com a ficção Invasões do Carrossel), que antes estava no Distrito Federal, lecionando literatura brasileira na Universidade de Brasília (UnB), criada por Darcy Ribeiro. Na imagem ao lado, da esquerda para a direita, Murilo Rubião, Rui Mourão e Paulo Campos Guimarães na posse de Rui Mourão como editor do SLMG em dezembro de 1969. Entretanto, Rui Mourão é demitido dois meses após a posse, por ordem do comandante da 11a. Região de Infantaria, sediada em Belo Horizonte, general Gentil Marcondes Filho, por não concordar com as brutalidades da ditadura militar. Foi o mais curto espaço de tempo assumido por um editor na história do suplemento. Depois de Rubião e Mourão outros nomes assumiram a direção: Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Ayres da Mata Machado, Duílio Gomes, Mário Garcia de Paiva, Paschoal Motta, Wilson Castelo Branco, etc. 4. Mais recentemente, já sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, foi definido que seria nomeado pelo governador eleito um editor e um conselho editorial. O primeiro foi Carlos Ávila que permaneceu de 1995 a 1998. Em 1999, assumiu Anelito de Oliveira que foi substituído em janeiro de 2004, por Fabrício Marques e um novo conselho editorial composto por Affonso Romano de Sant’Anna, Edimilson de Almeida Pereira, Ricardo Aleixo, Maria Esther Maciel, Otávio Ramos e Régis Gonçalves. Nesta nova fase, o SLMG lançou a edição nr. 1.264 em janeiro de 2004 com ilustrações do artista plástico Antônio Sérgio Moreira, poemas inéditos de Manoel de Barros, Fabrício Carpinejar e Ricardo Aleixo, conto de Guiomar de Grammont, artigo de Édimo de Almeida Pereira sobre a poesia de Adão Ventura, resenha crítica de Nelson de Oliveira sobre o livro “A Teia Selvagem” de Otávio Ramos, Daniel Antônio bate um papo sobre o cineasta e artista multidisciplinar Peter Greenaway com a professora da UFMG Maria Esther Maciel, além da entrevista exclusiva com o jornalista e poeta iconoclasta Millôr Fernandes, entre outras matérias. 5. Atualmente, o SLMG sempre traz em suas capas desenhos de artistas plásticos ou fotógrafos convidados (que ilustram também o restante das páginas). Novas seções foram criadas e sistematizadas: Ensaio, Conto, Poema, Entrevista, Cinema, Primeira Pessoa, Reportagem (em estilo jornalístico, com traços e características da literatura), Crônica, Perfil, Outras Pulsações (semelhante à coluna “Roda Gigante” de Laís Correa de Araújo), Novos Autores, Tradução, Cartas e Fotografia (reprodução de fotografias e textos sobre a imagem). São 24 páginas em formato tablóide. Com um projeto gráfico e programação visual (de Alexandre Mota) marcado pela “clareza” e “limpeza”, fator condizente com a estética textual e artística. Convém relembrar também que este cuidado estético esteve presente na década de 1980 - com Sebastião Nunes - e no período de Guilherme Mansur, nas gestões de Anelito de Oliveira e Carlos Ávila. 6. Enquanto a primeira fase do SLMG segue os padrões rígidos do Diário Oficial do Estado de Minas Gerais (décadas de 1960/70), a versão contemporânea surge de modo mais livre e solto, permitindo uma disposição criativa e original dos textos e ilustrações, garantindo maior leveza ao jornal (ao lado imagem da capa da edição nr. 1.275 de dezembro de 2004, de autoria do artista plástico mineiro Jayme Reis). Características do apurado senso estético nesta nova versão, que é composta de muitos “brancos” e “jogos” com a escrita, fazendo lembrar as resoluções concretistas da década de 1950. Outras observações: o número de autores publicados é maior no período atual. E a quantidade de páginas triplicou (24 na atualidade contra apenas oito nas duas primeiras décadas). Nesta nova fase, o suplemento apresenta delimitações de seções e roteiros mais consistentes e com nomes fixos. As fotos das edições das décadas de 1960/70 não possuíam créditos ao fotógrafo, que é uma característica do jornalismo tradicional (apesar de terem legendas). Hoje, o tratamento das fotografias é diferente, pois além dos créditos, a qualidade de impressão melhorou. 7. A forma dos discursos nos suplementos das décadas de 1960/70, primava por uma divulgação artística não exclusivamente literária – já que tratava com mais ênfase outros temas como o cinema e o teatro, além de contar também com ilustrações de artistas plásticos (que continuam nas edições atuais). Pode-se dizer também que, nas décadas passadas, existia uma preocupação mercadológica, pois os números que não acompanhavam o Diário Oficial, o “Minas Gerais”, eram vendidos em bancas de jornais. Nesta época o jornal possuía uma coluna com o título dos dez livros mais lidos, nacionais e internacionais. Isto pode ser interpretado como uma forma de induzir o consumo de literatura. As fontes são praticamente as mesmas das épocas passadas. O SLMG sempre contou com a participação de autores novos e consagrados, ensaístas, jornalistas, artistas plásticos, fotógrafos e colaboradores (a elasticidade de estilos dos escritores publicados é alta. As variações de assuntos são grandes e as edições especiais em suas diferentes temáticas também mesclam escritores mais experientes e novatos. A última edição especial foi no mês de julho de 2004, e contemplou a fortuna, o legado e a ponte cultural entre Minas Gerais e Portugal). Outra questão relativa às imagens: hoje, a valorização da fotografia se configura com finalidades artísticas e sugestivas. E, não meramente informativas, como nas décadas passadas. 8. O público alvo anteriormente constituía-se de escritores, jornalistas, professores, leitores comuns, políticos, estudantes e funcionários públicos. Atualmente, a partir dos seus pontos de distribuição, o SLMG se destina aos cidadãos, consumidores de cultura e freqüentadores de bibliotecas e livrarias (as edições são lançadas normalmente, mês a mês, em livrarias, espaços culturais e feiras de livros tanto em Belo Horizonte, capitais de outros Estados e cidades do interior de Minas Gerais). O SLMG conta com uma lista de destinatários, pelo correio, elaborado e composto na sua maioria por leitores, escritores, jornalistas, pesquisadores, estudantes de letras, de jornalismo, ciências humanas e sociais, editores de revistas culturais e literárias impressas e da Internet, formadores de opinião pública cultural e literária; universidades, bibliotecas, jornais e revistas do Brasil e exterior. A distribuição é gratuita na sede do jornal em Belo Horizonte, nos eventos culturais promovidos pela Secretaria de Estado da Cultura do governo do Estado de Minas Gerais, nas bibliotecas, centros culturais, teatros, galerias de artes, nos lançamentos mensais, nas prefeituras e inúmeras bibliotecas espalhadas pelo interior do Estado de Minas Gerais. Os exemplares, como no passado são confeccionados em papeljornal e a tiragem impressa é de 15.000 exemplares. José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista e escritor. Autor de Pavios Curtos (anomelivros, 2004). Colaboraram na pesquisa em conjunto as jornalistas Carolina Ximenes Santos e Isadora Troncoso Doehler. Também colaborou o bate-papo pelo telefone com o escritor Rui Mourão, ex-editor do SLMG na década de 60. . . revistas em destaque telescópio (brasil) diálogo entre everi rudinei carrara & claudio willer Dos sites e revistas aqui examinados, na Agulha, o periódico eletrônico Telescópio é o que mais se assemelha a uma trincheira. Seu criador-editor, Everi Rudinei Carrara, de Araçatuba (SP), advogado, músico e poeta, dispara emails para uma lista de algumas centenas de interlocutores, anunciando a discussão de temas da política - um de seus assuntos tem sido o modo como o Governo Lula trai o programa e a história de seu próprio partido - e das artes, especialmente música, cinema e poesia. O leitor deste número encontrará de Sandro Garcia ao Velvet undergroud e Arrigo Barnabé, Buñuel e Pasolini seguidos por um fotogênico elogio a Elizabeth Taylor, entrevistas com o cineasta negro Jefferson De e o poeta Roberto Piva (uma das mais completas, a do Memorial da América Latina), e com a artista teatral Denise Stoklos, entre outros assuntos. Everi Rudinei Carrara montou, portanto, uma constelação eclética, onde têm seu lugar tanto o esteticismo quanto os chamados à rebelião. Vai do fetichismo à revolução. Seu inconformismo visionário resultou em uma imediata simpatia por Agulha, plenamente correspondida. [CW] CW - Você é capaz de resumir, em umas poucas linhas, o que é Telescópio? ERC - Telescópio é um meio de divulgação da cultura alternativa produzida no país e fora dele através da Internet, rádio, jornal, vídeo, leituras em lugares públicos, etc… Começamos como um jornal impresso, mas chegamos à conclusão de que não podemos nos restringir a um determinado formato, pois a própria cultura se manifesta através de vários meios. CW - Dê-nos um histórico, conte-nos faz quanto tempo e como surgiu Telescópio. É iniciativa mais individual ou algo coletivo, desdobramento ou conseqüência de atividades de um grupo? Que papel você desempenha em Telescópio? Faz tudo, ou há colaboradores regulares? ERC - A iniciativa foi exclusivamente minha em relação ao tablóide, cuja primeira edição foi lançada em 1995. Logo em seguida o amigo Marcelo Duarte tornou-se coresponsável pela diagramação e inserção de matéria visual impressa e on-line. Agimos em perfeita coesão, discutindo e trabalhando amigavelmente. Recentemente o amigo Fernando Dagolds também tornou-se um parceiro regular. Os colaboradores são os amigos e pessoas que estejam produzindo algo interessante e que procuram espaço para divulgar seus trabalhos. Há pessoas de toda parte do Brasil e alguns colaboradores estrangeiros também. CW - Quero um perfil seu, uma minibiografia. Dê-me os antecedentes dessa sua relação com poesia e com música, algo sobre sua formação. ERC - Sou advogado e músico profissional (piano e sax), minhas primeiras leituras em poesia se deram por volta dos 15 anos de idade. Sempre gostei de ler poetas e autores diversos, ouvir e tocar músicas e estilos variados, mas tenho especial carinho pelos autores transgressores, o jazz, bossa nova, blues, música oriental, latina, tropicalistas, rock, música concreta, folk, eletrônica, experimental, enfim de tudo um pouco. Os autores que sempre releio, entre outros, são Nietzsche, Voltaire, Sartre, Edgar Morin, Chomsky, Artaud, Murilo Mendes, Octávio Paz, Tchecov, Hess, Kropotkin, Piva, Pessoa, Oswald de Andrade, Ésquilo, Li-Tai-Po, toda a geração beat, e por aí vai… CW - Por que Araçatuba? Circunstância, por você residir aí, ou escolha? Araçatuba já deu algum sinal de reconhecimento por projetar-se assim através da net? Havia (parece-me) parceria com um jornal regional? ERC - Araçatuba é uma “cidade-dormitório”, circunstancialmente mudei-me para cá, vindo de Bauru no começo dos anos 70. Se eu pudesse gostaria de morar e trabalhar em São Paulo, ou em outras cidades mais relevantes que Araçatuba. Se pudesse, até sairia do país… Tivemos em Araçatuba algum reconhecimento e espaço através da extinta Agência Interior (Universidade Toledo) e Folha da Região, um jornal local. No mais, o reconhecimento se restringe a artistas consagrados do rock e da MPB, como Tom Zé, Tetê Espíndola e Arnaldo Baptista, além de jornalistas, poetas, editores, acadêmicos de outras cidades (Caxias do Sul - RS, em especial), movimentos sociais, partidos como o PCO, PSTU, estudantes, anarquistas, sites culturais, de algumas prefeituras (Ribeirão Preto - SP), bandas e gravadoras de rock, programas de rádio (Oscar Quessa Rádio Cultura e Hilda Costa -Jovem Pan). Estes são nossos maiores divulgadores e incentivadores, e ficamos contentes de estarmos inseridos dentro de um universo tão eclético. CW - O que mais diferencia Telescópio de outros periódicos eletrônicos e lhe confere identidade? ERC - A abordagem de temas que normalmente não estão na grande mídia, abrindo espaço para a divulgação de trabalhos e obras marginais. Além disso, parte do que é publicado no Telescópio não provém de fontes tradicionais como agências de notícias, por exemplo, sempre passíveis de manipulação, mas dos próprios artistas e geradores do fato em si. A independência dos meios tradicionais de comunicação é uma das características que buscamos sempre. CW - Chama a atenção Telescópio ser ao mesmo tempo selecitivo, ter preferências manifestas, e eclético. Abrange bossa-nova, com uma espécie de culto a Nara Leão e Menescal, poetas contemporâneos, com destaque para, entre outros, Roberto Piva, cinema, especialmente Glauber, algo de política, inclusive, durante uma época, com atenção ao MST, parece-me. Há uma proposta, uma filosofia ou visão de mundo que unifica ou articula tudo isso? ERC - Nara Leão é minha cantora preferida, representou a modernidade da MPB em pessoa, como advertiu Caetano Veloso em seu livro “Verdade Tropical”. Isso já seria suficiente para justificar minha admiração por Nara, que nunca fez concessões ás gravadoras e aos poderosos, e produziu ao lado de Roberto Menescal discos maravilhosos, sempre apoiando novos compositores, redescobrindo os sambistas negros do morro, esquecidos pela mídia. Além disso, Nara abriu caminho para o samba de protesto, foi irmã da Tropicália, e contestou a ditadura militar num momento crítico, quando muitos se calaram. Gravou de tudo que fosse bom, e sempre se afastou do estrelato, do glamour, da mediocridade reinante. Piva é uma inspiração constante, porque só acredita em “poetas experimentais que tenham vida experimental”, sem desvincular poesia e vida. Piva foge da idolatria, dos clubinhos e academias estéreis de poesia. Glauber também apreciava Nara, houve influência mútua. A virulência poética de filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe” ainda são imprescindíveis para quem pretende ver de perto esse país, nossa realidade miserável, nossa pavorosa colonização hollywoodiana, nossa educação cristã debilitada, nossa “esquerdalha” que emperra todas as revoluções possíveis… O MST é um movimento muito importante, na medida em que se insere de forma incisiva na realidade brasileira, na questão do uso da terra, um tema secular e sempre relegado pelas elites no poder. As conquistas nessa área só podem ocorrem através de atitudes de mobilização e organização, e o MST é extremamente atuante e corajoso nesse sentido. CW - Diga algo sobre a expansão de sites e divulgação de poesia e outros temas culturais pela internet. Quais são seus principais parceiros e interlocutores? ERC - Há na Internet uma série de sites culturais muito bons: a Barata, Agulha, Whiplash, Blocos, Jornal de Poesia, sites de Tom Zé e Tetê Espíndola, Fausto Wolff, Continental Combo, Senhor F… a lista é enorme. Mantemos contato e colaboração com todos eles. CW - Em matéria de acessos, como está Telescópio? Quem o acessa ou consulta? ERC - Temos um público restrito, mas seleto: são músicos, escritores, poetas, jornalistas, atores, curiosos ligados às artes em geral. Algo em torno de 400 a 500 visitas mensais. Considerando que a coluna não tem a visibilidade de sites mais consagrados e que é dedicada ao espaço das artes, diria que está razoável. CW - O que você gostou mais de publicar ou divulgar em Telescópio? ERC - A divulgação de bandas de rock, poesia visual, agenda cultural, protestos contra os governos Lula, Bush, Sharon, Blair… Tudo o que publicamos nos dá prazer, mas ajudar a divulgar novos artistas e novos trabalhos acredito ser o mais satisfatório. CW - O que você gostaria de apresentar ou pôr em Telescópio e ainda não fez? ERC - Maiores recursos audiovisuais: trechos de músicas e vídeos, que por exigirem muito espaço e largura de banda, não podem ser utilizados dentro da estrutura atual. Temos espaço restrito de hospedagem, basicamente só utilizamos texto e imagens estáticas, mas o espectro das artes vai muito além disso. CW - E o futuro? Quais serão os próximos passos? Há planos de expansão, haverá crescimento de Telescópio seja na própria net, seja no meio impresso, sobre papel? Quantitativo, qualitativo ou ambos? Algo deverá ou deveria mudar? ERC - Na verdade, o Telescópio surgiu como um tablóide, ou seja, versão impressa. Devidos aos crescentes custos de impressão, houve uma migração para a Internet, um meio que, além de permitir o uso mais amplo de recursos visuais e sonoros, é mais barato de se manter. O ideal seria manter as duas frentes, versão impressa e Internet, mas, uma frase resume tudo: não há dinheiro. Pelo menos não aqui em Araçatuba, onde o interesse dos patrocinadores é mínimo. Mesmo na Internet, dependemos de uma série de colaboradores voluntários, que fazem todo o trabalho por amor à arte. Isso ainda existe, acredite. Há planos de expandir a coluna, incorporando novos colaboradores e novos recursos tecnológicos, mas esse deverá ser um processo lento e contínuo, um verdadeiro exercício de sobrevivência. E estamos atentos às novas possibilidades da tecnologia, faremos uso de tudo aquilo que nos permita acompanhar a velocidade da arte. www.telescopio.vze.com [email protected] . jornal de poesia triplov alô música . revistas em destaque alpha (chile) depoimento de eduardo barraza ALPHA – Revista de artes, letras y filosofía ISSN: 0716-4254 [www.ulagos.cl/alpha/Index.html] Departamento de Humanidades y Arte, Universidad de Los Lagos Casilla 933, Osorno - CHILE. Tel. (56-64)205385; fax: (56-64).239517, e-mail: [email protected] Editores: Eduardo Barraza [[email protected]] y Sergio Mansilla [[email protected]]. ALPHA es publicada en Chile -desde el año 1985- por el Departamento de Humanidades y Arte de la Universidad de Los Lagos (Osorno). Se publica un número al año que aparece en el transcurso del último trimestre (octubre-diciembre). Durante 20 años se ha publicado de manera ininterrumpida y, actualmente, el equipo editor está preparando el N° 21 correspondiente al año 2005 que aparecerá en diciembre. Equipo Editorial Director responsable y Editor Eduardo Barraza Jara Consejo de Redacción Pilar Alvarez-Santullano Busch Nelson Vergara Muñoz Raúl Aguilar Gatica Secretario de Redacción Sergio Mansilla Torres y Editor Consultores externos Jorge Acevedo, Universidad de Chile, Santiago de Chile Fernando Burgos, Memphis State University, Memphis, U.S.A. Manfred Engelbert, Georg-August Universität, Göttingen, Alemania Daniel Lagos Altamirano, Universidad de Playa Ancha, Valparaíso, Chile. Pedro Lastra, Universidad de Nueva York, en Stony Brook, U.S.A. Amadeo López, Universidad de Paris XNanterre, Francia Portada Osvaldo Rodríguez Pérez, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, España HERNAN URRUTIA, Universidad de Deusto, España Jorge Zepeda Traducción y revisión de Gregory Lagos Montoya abstracts Supervisión de impresión Diana Kiss de Alejandro Colaboración Ricardo Ortega procesamiento de textos ALPHA publica artículos y documentos inéditos sobre teoría y crítica literaria, de lingüística, filosofía, arte, estudios culturales y, también, sobre temas que sin pertenecer exclusivamente a alguna de esas zonas del conocimiento constituyen puntos de encuentro de las Humanidades, las Artes y las Ciencias Sociales. Precisamente, ése uno de los aspectos fuertes de la revista y la distingue de otras de su mismo campo, pues, al equipo editor le asiste la convicción de que es necesario contar con una publicación que sea un espacio disponible para el ejercicio de la diversidad intelectual y académica. Para asegurar la continuidad del perfil académico de ALPHA, que le permita mantener y acrecentar su calidad de revista especializada, el Equipo Editor convoca anualmente -y de manera abierta- a autores chilenos y de otros países para que publiquen en ALPHA. Además, se invita a autores ya conocidos, con los cuales la Revista mantiene algún tipo de vínculos, para que envíen colaboraciones inéditas que garanticen un conjunto de artículos de alto nivel. En ambos casos, sin embargo, los manuscritos son rigurosamente evaluados -conforme a una pauta- por el pleno del Consejo de Redacción de la Revista, que se reúne semanalmente. Para su publicación, cada artículo requiere ser aprobado por la unanimidad del Consejo de Redacción, formado por cinco profesores graduados y competentes en el campo de estudio de ALPHA (entre ellos, el Director y el Secretario de Redacción, que actúan como editores). En el caso de opiniones divididas, se solicita la evaluación de los especialistas externos que forman parte del Comité Alterno de ALPHA, evaluación que constituye un juicio definitivo sobre el manuscrito. Por lo mismo, desde su fundación, ALPHA se ha caracterizado por ser una Revista con un alto nivel de exigencia para la admisión de manuscritos y, estadísticamente, se acepta no más de un 40% de las colaboraciones recibidas. El aspecto relevante de ALPHA es que reúne autores e investigadores de diversos centros universitarios nacionales y extranjeros, tal como se aprecia en los índices que se publican en su página weeb (www.ulagos.alpha/Index.html) y en la inclusión de esta Revista en los registros de MLA, Latindex y en el Catálogo de Revistas Científicas Chilenas de la Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica (CONICYT) y SciELO (Scientific Electronic Library on Line). Esto revela que la Revista tiene un reconocimiento internacional importante y constituye un aval para la publicación de estados de avance de tesis y de proyectos de investigación oficialmente concursados. El reconocimiento logrado a la fecha por ALPHA es importante de destacar pues esta publicación periódica revela el esfuerzo una Universidad pequeña, pero de considerable tradición, ubicada lejos de los principales centros metropolitanos de Chile. El reconocimiento internacional de la Revista se debe, pues, exclusivamente a la persistencia del equipo editor y a la sostenida calidad de sus artículos. La revista Alpha acoge artículos, notas, documentos y reseñas. 1. Los temas deben ser inéditos y apropiados para una revista de humanidades (literatura, lingüística, filosofía, artes, estudios culturales, teoría crítica) o temas que sin pertenecer exclusivamente a alguna de estas zonas del conocimiento constituyen puntos de encuentro de las mismas. 2. El tipo de trabajo puede ser en la modalidad de estudio, ensayo, documento, nota o reseña, escrito en español. 3. Extensión recomendable de los artículos: 12 a 20 carillas mecanografiadas a doble espacio incluyendo bibliografía. Para las notas y documentos se recomienda entre 5 a 10 páginas. 4. Todos los trabajos, exceptuando las reseñas y documentos, deberán enviarse con un resumen (abstract) en castellano y en inglés, de una extensión de entre 5 a 10 líneas. Incluir traducción del título del artículo y entre cuatro a seis palabras claves, en español e inglés. Los resúmenes deberán aparecer inmediatamente después del título del artículo. Asimismo, al final del artículo deberá escribirse la dirección postal y electrónica del autor, indicando la institución a la que pertenece (si corresponde). 5. Los trabajos se publican sólo sin son aprobados por unanimidad por el Comité de Redacción de la Revista. En los casos que corresponda será decisiva la evaluación de los Consultores Externos. 6. Los trabajos deben enviarse a la Secretaría de Redacción o a la Dirección de la Revista; una copia en papel y otra en disquete usando procesadores de texto (para IBM o compatible o Macintosh); la copia computacional deberá grabarse usando el formato RTF. También se pueden enviar por correo electrónico a través del sistema de archivo adjunto (attached file), igualmente en formato RTF. Si se opta por esta forma de envío, es igualmente recomendable enviar copia de respaldo en papel por correo ordinario, sobre todo, para el caso de trabajos que incluyan esquemas, tablas, gráficos. 7. Para el número 21, correspondiente al año 2005, se recibirán colaboraciones hasta el 31 de julio de 2005 y su aceptación será comunicada a los autores el 30 de octubre. La Revista aparece en el transcurso del último trimestre de cada año. 8. El aspecto formal de uso de citas y referencias debe ceñirse en lo esencial a la estilo MLA (Modern Language Association). Las especificaciones básicas requeridas son las siguientes: 8.1. Citas de libros o revistas académicas en papel. Las citas directas breves deben ir entre comillas en el cuerpo del texto. Si son extensas (cuatro líneas o más), en renglón aparte, haciendo doble retorno a inicio y final de cita, con margen adentrado y sin comillas. En ambos casos, al fin de la cita, en paréntesis se indica el apellido del autor y la (s) página (s) desde donde se extrajo la cita. Si se está trabajando con más de una obra del mismo autor, se indica el apellido del autor, el título abreviado de la obra citada escrito en itálica y la (s) página(s) desde donde se extrajo la cita. Si en el cuerpo del texto se anuncia la cita indicando el apellido (o nombre y apellido) del autor, al fin de cita en paréntesis sólo se indica la página (o el título abreviado de la obra y la página si se está trabajando con más de una obra del mismo autor); no se menciona el apellido del autor, pues, ya fue mencionado en el encabezamiento de la cita. Ejemplos (sólo se ejemplifica con citas breves): a) Según Nelly Richard, “los textos de crítica cultural serían textos intermedios que no quieren dejarse localizar según los parámetros institucionales que definen los saberes ortodoxos” (144). b) Se ha dicho también que “los textos de crítica cultural serían textos intermedios que no quieren dejarse localizar según los parámetros institucionales que definen los saberes ortodoxos” (Richard 144). c) “La sacralización del texto corresponde a la problemática de la concepción del texto como absoluto” (Carrasco, Nicanor Parra 95). d) “Para el antipoeta no sólo la escritura está en crisis; la sociedad entera lo está” (Carrasco, Para leer 88). Se procede exactamente de la misma manera si la fuente citada es de un autor institucional o corporativo (Naciones Unidas, Consejo de Libro y la Lectura). 8.2. Citas de fuentes en internet. En lo fundamental, se procede de la misma manera que con fuentes tomadas de publicaciones en papel. La diferencia es que en lugar de indicar página, se escribe la expresión “en línea”. Ejemplo: “La necesidad de preservar la biodiversidad se hace cada día más urgente, especialmente por los graves cambios climáticos y, también, por la profunda saturación existencial a la que nos está llevando una modernidad contraria al orden natural del mundo” (Poland, en línea). 8.3. Citas tomadas de comunicaciones electrónicas (e-mails). Al fin de cita, en paréntesis, se indica el autor y se escribe “correo electrónico” y la fecha que corresponda. 8.4. Cita tomada de entrevista inédita realizada por el autor del artículo. Al fin de la cita, en paréntesis, se indica el apellido del autor, y luego se escribe “entrevista personal”. 8.5. Cita tomada de un programa de televisión. Al fin de cita, en paréntesis, se indica el apellido del autor (si procede), el título del programa y la estación que lo emitió. 8.6. Cita tomada de un film. Al fin de cita, en paréntesis indicar el apellido del director y título de la película. 9. Lista de obras citadas (o bibliografía citada). Al final del artículo se hace la lista de las obras de hecho citadas cuyas referencias básicas se han dado parentéticamente en el texto del artículo. Se ordena por orden alfabético tomando como base el apellido de los autores (excepto en los autores institucionales). Si se ha trabajado con más de una obra de un mismo autor, ordenar sus obras desde la más reciente a la más antigua. Se utiliza sangría francesa. 10. Se recomienda se usen las notas al pie exclusivamente para agregar información o hacer comentarios cuyo texto no es conveniente que vaya en el cuerpo del artículo. REVISTA ALPHA – VERSION ELECTRONICA A partir del N° 20, y como consecuencia de su indexación en SciELO, Alpha tendrá una versión electrónica que reproduce los objetivos, modalidades de publicación y de evaluación de la versión impresa. Esto significa que —salvo indicación en contrario del colaborador— los artículos será presentados en estas dos modalidades de publicación. 1.- Política de Acceso Abierto. Alpha, versión electrónica, proporciona acceso libre a todos los artículos que publica de forma que estén disponibles para propósitos educativos, académicos y de investigación y, en general, para cualquier uso no comercial. Los artículos publicados en Alpha, versión electrónica, son además indexados a través de la Open Archives Initiative, con el objeto de hacer más accesibles los trabajos para otros investigadores y, en especial, proporcionar facilidades para un intercambio global y fluido del conocimiento. Para obtener más información acerca de estos aspectos, por favor, visite Public Knowledge Project, una iniciativa de la Universidad de la British Columbia en Canadá, a través de la que se diseñó Alpha, en su versión electrónica. 2.- Normas de Publicación. La publicación en Alpha está abierta a cualquier persona que quiera aportar sus trabajos, cualquiera que sea el carácter de éstos siempre y cuando estén relacionados con la temática de la revista. Las aportaciones deberán ser originales e inéditas. La protección de los derechos correrá a cargo del autor, que es el único legalmente capacitado para este cometido. Los trabajos deberán ser remitidos en formato digital, con la extensión .doc o .rtf. Se aceptarán trabajos escritos en castellano, aunque, excepcionalmente, el Comité de Redacción se arroga la capacidad de reservar el derecho a aceptar trabajos en otras lenguas siempre y cuando la calidad de los mismos justifique su inclusión en la revista. Deberán ir acompañados de un resumen (de extensión de 5 a 10 líneas) y de palabras clave (de cuatro a seis), en ambos caso en castellano e inglés. La extensión de los trabajos es de 12 a 20 carillas a doble espacio incluyendo notas y referencias bibliográficas. Para Notas y Documentos se recomienda entre 5 y 10 páginas. Las notas y referencias bibliográficas irán al final con numeración seguida y redactadas de acuerdo con las publicaciones académicas (preferentemente estilo MLA) Alpha, en su versión electrónica, no se responsabiliza de los juicios y opiniones expresados por los autores en sus artículos y colaboraciones. 1.- Requerimientos para Artículos Originales. (Todos los requisitos deben ser cumplidos) a) El trabajo no debe haber sido publicado ni estar bajo proceso de evaluación por parte de ninguna otra revista. En caso contrario se deben proporcionar las explicaciones necesarias. b) El documento debe estar en formato RTF o Microsoft Word. Todas las URL del texto (e.g., http://www.ulagos.cl/) deben estar activadas y listas para ser usadas. c) El texto debe estar escrito a doble espacio y con tipo o fuente de 12 puntos; utilizar cursiva, en vez de subrayado (excepto para las direcciones URL); y las figuras y tablas se disponen a lo largo del texto, en vez de al final. d) El texto debe reunir las condiciones expresadas en las Normas de Publicación que encontrarás en "Acerca de Nosotros". Si la sección de la revista para la que envía el texto evalúa por pares, el nombre del autor se deberá escribir al final del artículo, indicando su dirección postal y electrónica e institución a la que pertenece. 2.- Derechos de Autor. La propiedad intelectual de los artículos pertenece a los autores y los derechos de edición y publicación a la Alpha, versión electrónica. Los artículos publicados en la revista podrán ser usados libremente para propósitos educativos, académicos y de investigación, siempre y cuando se realice una correcta citación del mismo. Cualquier uso comercial queda expresamente penado por la ley. 3.- Protección de Datos Personales. Los nombres y direcciones de correo, además de cualquier otra información de tipo personal suministrada a esta revista será utilizada exclusivamente para los fines declarados de la misma. La revista no suministrará en ningún caso los datos proporcionados a terceros. 4.- Proceso de Evaluación por Pares. Todos los trabajos que sean enviados a Alpha, versión electrónica, serán tenidos en cuenta y revisados por el Comité de Redacción y por su Comité Externo. Una vez se emita el dictamen del Comité de Redacción se informará al autor de la decisión que se haya tomado y de si debe hacer alguna modificación en el trabajo propuesto. En caso de la no aceptación por razones de confidencialidad, no se remitirá al autor el dictamen de nuestro Comité de Redacción. REVISTA ALPHA INDEXADA COMO REVISTA DE CORRIENTE PRINCIPAL EN SciELO (ISI-CHILE) Recientemente Revista Alpha, publicada por el Departamento de Humanidades y Arte de la Universidad de los Lagos ha sido incorporada a los índices de la Biblioteca Científica SciELO (Scientific Electronic Library on Line), equivalente en Chile de ISI Internacional. El proceso de evaluación requirió un seguimiento de los tres últimos años de Alpha y comprendió el examen del cumplimiento de las normas internacionales de edición, establecidos por el sistema Latindex y la calidad académica del contenido. Este último indicador considera la cobertura de la revista desde el punto de vista de la disciplina, la calidad científica de los miembros del comité editor interno y alterno, la calidad y el origen de los artículos, tanto como los criterios y el sistema de evaluación que se les aplica. En consecuencia, a partir del próximo año, Alpha aparecerá en su habitual edición impresa y en la página webb de CONICYT a texto completo, con accesibilidad ilimitada para todo tipo de usuarios, versión que ya habia empezado a implementarse desde el N° 20 por intermedio de la Dirección de Bibliotecas de la Universidad de Los Lagos. En la actualidad, Internet se constituye en un instrumento clave para la investigación académica, pues, las bibliotecas virtuales y catálogos bibliográficos pueden ser consultados desde cada puesto de trabajo sin necesidad de desplazamiento hacia los archivos físicos. La versión electrónica de Alpha proporciona acceso libre a todos los artículos de manera que estén disponibles para propósitos educativos, académicos y de investigación y, en general, para cualquier uso no comercial. Aparte de esta indexación, los artículos de Alpha están disponibles en Open Archives Initiative lo que facilita un intercambio global y fluido de conocimiento en artes, letras y filosofía. Lo decisivo de esta evaluación de Alpha es que la califica excepcionalmente entre las revistas de corriente principal de nuestro país y permite que los trabajos publicados en ella sean acreedores de mayor reconocimiento académico. Además, por esta vía, la Universidad de los Lagos, incrementa sus opciones porcentuales en el Aporte Fiscal Indirecto (AFI). UNA REVISTA DE CALIDAD INTERNACIONAL Recientemente la Revista Alpha, publicada por el Departamento de Humanidades y Arte de la Universidad de Los Lagos ha sido incorporada a los índices de la biblioteca del Scientific Electronic Library on Line (Scielo), equivalente en Chile de ISI Internacional. Ello, tras un seguimiento evaluativo de tres años que comprendió el examen de cumplimiento de las normas internacionales de edición establecidas por Latindex y la calidad académica del contenido. “Este último indicador considera la cobertura de la revista desde el punto de vista de la disciplina, la calidad científica de los miembros del comité editor interno y alterno, la calidad y el origen de los artículos, tanto como los criterios y el sistema de evaluación que se les aplica”, afirmó Eduardo Barraza, director responsable y editor de Alpha. Según acotó el académico, “a partir del próximo año, Alpha aparecerá en su habitual edición impresa y en la página web de Conicyt a texto completo, con accesibilidad ilimitada para todo tipo de usuarios, versión que ya empezó a implementarse desde el número 20 por intermedio de la Dirección de Bibliotecas de la ULA”. Cabe destacar que la versión electrónica proporciona acceso libre a todos los artículos para disponerlos a usos educativos, académicos e investigativos. Aparte de la indexación mencionada, los artículos de la revista están disponibles actualmente en Open Archives Initiative, para facilitar el intercambio global y fluido de conocimientos en artes, letras y filosofía. “Lo decisivo de esta evaluación de Alpha es que la califica excepcionalmente entre las revistas de corriente principal de nuestro país y permite que los trabajos publicados en ella sean acreedores de mayor reconocimiento académico. Además, por esta vía, la Universidad de Los Lagos incrementa sus opciones porcentuales en el Aporte Fiscal Indirecto, AFI”, sintetizó Barraza. . revistas em destaque agulha (brasil) diálogo entre claudio willer & floriano martins A convite de PALAVRARTE, Floriano Martins e Claudio Willer dialogam sobre a experiência de edição da revista Agulha, surgida no início de 2000 e, originalmente, criada por Floriano Martins, como desdobramento possível de uma aventura editorial anterior, a revista Xilo - cujo ousado projeto previa 40 mil exemplares circulando mensalmente em bancas em todo o país - , estancada verticalmente por problemas empresariais. Um primeiro momento da editoria foi dividido com o jornalista Rodrigo de Souza Leão, quando a revista então era ancorada em um provedor que não lhe permitia resistir ao tempo. O próximo passo definiria a consistência do processo editorial, quando Floriano Martins e Claudio Willer estabelecem uma parceria, ao mesmo tempo em que a Agulha se transfere para o Jornal de Poesia a convite de seu criador, Soares Feitosa, configurando assim uma sólida parceria, cujo reflexo imediato foi a recuperação dos primeiros números, além do aprimoramento do projeto gráfico e a busca de uma rede mais diversificada de colaboradores. O diálogo em que discorrem sobre a publicação de uma revista caracterizada pela busca de múltiplos enfoques e vertentes artísticas distintas é um registro da inteligência do gerir e idéias e batalhas desses que são também poetas. Os editores [Luís Sérgio dos Santos e Amélia Alves] FM - Willer, quando te convidei para a editoria da revista, o que exatamente esperavas disto? Ou seja, como dimensionavas então a circulação apenas virtual de uma revista de cultura? CW - Já naquela altura dos acontecimentos, no mínimo como um complemento indispensável à publicação de textos sobre papel, em livro ou periódicos impressos. Alertou-me para isso a quantidade de mensagens em função de, por exemplo, meu endereço eletrônico figurar no Jornal de Poesia. Talvez venha a ser mais que isso, um complemento, à medida que ampliar-se o número de usuários da Net, e que, passada a atual crise econômica do setor, surjam meios de extrair retorno financeiro da iniciativa. Para mim, Net é algo em início de implantação. Por isso, estamos apenas começando. Facilidade de acesso à informação e a possibilidade de armazená-la, tornando-a não-descartável, pesam decisivamente a favor do meio eletrônico. Na verdade você demorou para conectar-se à rede, só o fez no final de 99. Mas, a partir daí, mergulhou de cabeça, passando a dedicar-se a um projeto complexo como o de Agulha. Já previa esse tipo de envolvimento, antevia o alcance que Agulha poderia ter? FM - De uma certa forma, sim. Em experiência anterior, na edição de uma revista impressa, no caso a Xilo - cujo insucesso foi de ordem empresarial e não editorial -, chamava a atenção a maneira como crescia o recebimento de e-mails, o que nos alertava para a necessidade de fazer uma versão virtual dela. Tanto que antes mesmo de começar Agulha optei por organizar um mailing inicial que permitisse uma expectativa mais ampla em termos de difusão. Agora, não resta dúvida que a Net surpreende a cada dia, tanto pelo mundo de possibilidades que cria, como também pelo índice alarmante de hipocrisia que ajuda a revelar, como no caso das campanhas contra SPAM. Mas creio que é importante falarmos um pouco dessa aparente complexidade do projeto editorial de Agulha. Em que sentido crês que seja complexa nossa aventura? CW - Complexo pelo que tinha de novo, de diferente de qualquer outra coisa, inclusive dos demais portais literários da Net. Até da dificuldade intrínseca de editar, organizar isso no meio eletrônico. Editar sempre é difícil, em qualquer meio, e cada modalidade, impressa ou eletrônica, tem suas facilidades e suas dificuldades próprias. Enfim, partíamos do zero. Evidentemente, o resultado dependeria fundamentalmente do que você tivesse de matérias e colaboradores em potencial, ou já disponíveis. Diga-me, a propósito, você antevia que, passado o reaproveitamento do rescaldo de Xilo, que ajudou a iniciar Agulha (tanto é que a minha primeira colaboração em Agulha foi mesmo reaproveitamento de material para Xilo), iria dispor de tantos colaboradores e matérias de interesse? FM - De fato, colaboradores como Carlos Nejar, Gracco Sílvio, Sânzio de Azevedo, dentre outros, inicialmente contatados para publicação em Xilo, foram aproveitados nos primeiros números de Agulha. Como uma revista surgiu em função da impossibilidade da outra, a presença crescente de novos colaboradores seria o caminho pensado como natural. O que vale observar é que havia um grande preconceito, por parte de alguns colaboradores, em função de Agulha circular apenas virtualmente. Houve casos de matérias acertadas para a Xilo que tiveram de ser devolvidas, por rejeição ao meio eletrônico. Aliás, não achas interessante que ainda hoje essas duas mídias (eletrônica e impressa) mal convivam entre si? A grande parte das revistas que lidam especificamente com um desses meios não toma em conta a existência do outro. Qual te parece ser a razão dessa ausência de diálogo? CW - Miopia jornalística, em primeiro lugar. Obviamente. Eu examinar um suplemento literário - alguns, no caso, já que estou respondendo em um fim de semana, quando essas coisas saem - e não ver - aposto que não vou ver! - nem uma, sequer uma nota sobre algo literário que tenha saído na Net, isso apenas denota o costumeiro e previsível burocratismo da imprensa. A recíproca não é verdadeira, pois o meio eletrônico, de vários modos, expande a circulação do que sai impresso. Enfim - coloca-se à disposição na rede o que sai impresso, mas a recíproca, imprimir o que sai na rede, quem faz isso é o leitor. Observei, já, que vários leitores de Agulha imprimem nossas matérias para aí, então, lê-las com calma. Até onde isso vai? Aqui, retomo algo que venho dizendo: que Net nem começou. Com equipamentos melhores e mais baratos e, principalmente, melhores conexões, aí sim, o jogo muda, o quadro vai ser outro. De qualquer modo, algo que já existe e irá expandir-se é a publicação eletrônica, com a opção, se o leitor pagar, do print on demand, em vernáculo, impresso sob encomenda. Agora, praticando uma inflexão em nossa conversa, você diria que Agulha tem uma propensão surrealista, algo assim? FM - A primeira coisa a se observar seria a intenção valorativa dessa propensão, uma vez que o Surrealismo sempre esteve golpeado por inúmeros preconceitos. Em seguida, poderíamos pensar em tal propensão como algo natural, tanto pela estreita ligação dos dois editores de Agulha com o Surrealismo, quanto pelo fato de que este movimento, em definitivo, influiu substancialmente em toda a arte que se faz desde então. Sendo Agulha um veículo que procura espelhar um âmbito mais consistente da criação artística e sua reflexão, invariavelmente ressalta o que se poderia chamar de propensão surrealista. Este é um ponto. Se observarmos o Índice Geral da Agulha (que está disponível desde a edição # 8, de janeiro de 2001), veremos que é mínima a presença de artistas diretamente ligados ao movimento (Víctor Chab, Juan Calzadilla, Cruzeiro Seixas, Antonin Artaud, Max Ernst, Francisco Madariaga, Sérgio Lima), mesmo levando em conta aqueles que poderiam dele se aproximar esteticamente (Marosa di Giorgio, Leonel Góngora, Campos de Carvalho, Xavier Villaurrutia, Eduardo Eloy). Enfim, há inúmeras linguagens convivendo no universo de Agulha. Mas poderíamos ainda falar em propensão surrealista se o enfoque for aquele da "mais realidade", essencial em tal leitura, uma vez que Agulha rejeita a pauta domesticada e por vezes frívola que salvo raras exceções tem sido a moeda corrente de nossa imprensa. De qualquer maneira, vale indagar qual o enfoque que pretendes ao referir-se a uma propensão surrealista de Agulha. CW - É que eu me lembrei de observações da crítica a sua coletânea Escritura Conquistada - tardosurrealismo, parasurrealismo, aquilo tudo - na qual, contudo, a percentagem ou índice de surrealismo per capita era mais ou menos esse, também: normal, porém alta com relação às taxas brasileiras. Associada a uma vocação pessoal, à inquietação, prática da liberdade de criação, nossa propensão surrealista é resultado, acima de tudo, de honestidade intelectual, de não trair o objeto de análise, discussão ou divulgação. Para ser mais claro: se alguém for olhar, de modo despreconcebido, a literatura hispano-americana do século XX, como você faz, ou então a poesia de Portugal na segunda metade desse (daquele) século, vai encontrar surrealismo e imagens poéticas; mostrar isso de forma despreconcebida, então, é questão de honestidade, de não falsear ou esconder aquilo de que se está falando. A mesma postura se projeta na pauta de Agulha, resultando nisso que denominei de índice elevado de surrealidade para padrões brasileiros, embora normal, tomando o fenômeno, a ocorrência em si. Associada, ainda, à necessidade de colocar pingos nos ii, esclarecer, como nas menções a surrealismo em meus artigos sobre Campos de Carvalho e Herberto Helder - não as faria se não houvesse equívocos e omissões precedentes. Veja um quase-silogismo (com ecos bretonianos): Nós mostramos o que está à margem; o surreal está à margem; o que está à margem é, associado a uma configuração mais ampla da rebelião, da criação livre, surreal. Não lhe parece? FM - Estou completamente de acordo. Assim como é inevitável falar de Surrealismo quando tratamos da grande poesia grega deste mesmo século, como, aliás, veremos a partir de ensaio sobre Kavafis que será publicado em Agulha # 10. Não poderemos jamais fugir, sob pena de preconceito e desonestidade, de sua preponderante influência sobre a criação e o pensamento em nosso tempo. Agora, as taxas brasileiras, francamente… Se pensarmos que a tiragem média de livros de poesia no Brasil é exatamente a mesma de Porto Rico, país cuja população equivale a 2% da brasileira, então veremos explicação para tanta leitura desfocada acerca de inúmeros assuntos. Mesmo escritores europeus da importância de um Robert Graves, Peter Poulsen, Marcel Schwob, José Ángel Valente ou Boris Vian - para citar apenas alguns que estão comentados nas páginas de Agulha -, são praticamente desconhecidos no Brasil, país onde seguem imperando o preconceito e a inconseqüência. CW - Acho que tocamos em alguns pontos importantes. Retomaremos, quando houver ocasião. Faltou informarmos mais sobre repercussão de Agulha, evidenciada pela quantidade de retransmissões através de outros portais e de manifestações de leitores, por email ou pessoalmente, às vezes até nos surpreendendo. Mas isso também, é algo que está no começo. Vai ampliar-se, é claro, com mais inscrições de nossas matérias nos sites de busca. Por isso, voltaremos, com certeza, ao assunto. Diálogo montado em março de 2001, e originalmente publicado na revista Palavrarte [www.palavrarte.com/index.htm]. Rio de Janeiro. 2001. . . revistas em destaque decir del agua (estados unidos) diálogo entre reinaldo garcía-ramos & jesús j. barquet JB - ¿Cómo surgió la idea de publicar una revista en formato electrónico? RGR - Fue a fines de 2002. Yo había preparado un “dossier” sobre el poeta cubano José Mario para una conocida publicación cibernética, La Habana Elegante, pero el número de LHE en que iba a aparecer ese “dossier” se demoró mucho en salir. Entonces me dominó la impaciencia y un día me puse a “jugar” con un programa de diseño digital, y organicé por mi cuenta una especie de segundo “dossier” sobre ese mismo autor y lo puse en la internet. Ese fue el primer número de Decir del Agua, la cual se puede visitar en www.decirdelagua.com, su dirección permanente. JB - ¿Qué te motivó a editar una revista únicamente de poesía? RGR - Hay numerosas revistas cibernéticas de gran calidad que abarcan todos los géneros, pero en su mayoría dan preferencia a la prosa, ya sea narrativa, ensayística, reseñas, crónicas, etc. En ellas la poesía ha ocupado casi siempre un lugar mínimo, y a veces me ha dado la impresión de que publican un par de poetas y algunas de sus obras sólo por quedar bien, para no ser acusados de menospreciar ese género; pero que en verdad la poesía no les interesa realmente. Hay excepciones, pero eso es lo que suele ocurrir, incluso en las revistas literarias impresas. Como esa situación me molestaba mucho, después del “dossier” sobre José Mario decidí seguir publicando en la internet una revista literaria dedicada exclusivamente a la poesía. JB - ¿Qué promedio de lectores tiene tu revista? RGR - A fines de agosto de este año estaba recibiendo un promedio de 6.000 visitas a la semana, lo cual es para mí asombroso. JB - Además de ocuparse primordialmente de la poesía, tu revista da mucha importancia a la pintura. ¿Qué vínculos ves entre ambas expresiones artísticas? RGR - Decir del agua comenzó siendo una “revista digital sobre poetas y pintores”, y en los primeros números me proponía destacar las obras de pintura y de poesía en pie de igualdad: por ejemplo, su segundo número está dedicado íntegramente a un pintor cubano, Justo Luis. O sea, me propuse dar a la pintura, sobre todo a la obra de pintores menos conocidos o muy jóvenes, el mismo realce que a la poesía. Por la misma razón que ya mencioné: en las publicaciones cibernéticas que existían en ese momento, la pintura (sobre todo la obra de pintores que no habían calado aún en el mercado del arte) no recibía la atención merecida. Después las cosas cambiaron. Como expliqué en mi introducción a la cuarta entrega de Decir del Agua (agosto de 2003), la poesía pasó a ser el interés exclusivo de mi revista, y las obras de artes visuales (no sólo la pintura, sino también la fotografía, el grabado, el dibujo) siguieron ocupando un lugar destacado, pero sobre todo como participantes en un diálogo misterioso con los poemas publicados en la revista. Yo siempre he pensado que ambos medios de expresión (el del poeta y el del artista visual) se mueven en la misma tonalidad del discurso creativo: ambos trabajan en el reino de la imagen, ambos buscan explorar el poder evocador e indirecto de la imagen: el poeta con la palabra, el pintor con las figuras en que refleja sus visiones y sueños. JB - ¿Por qué el título de Decir del Agua? RGR - Realmente no lo sé. Cuando buscaba títulos para mi revista, en el borrador de la primera entrega usé “Afán del Agua”, pero enseguida me di cuenta de que ese título había sido utilizado ya, poco antes, en un poemario publicado por un escritor cubano del exilio. Entonces me puse a buscar otro título, pero dentro de esa tónica, sin dejar de jugar con la idea del agua y la palabra, y entonces surgió este “decir del agua”, título que encierra un doble juego de conceptos: lo que se puede decir sobre el agua y lo que el agua nos trasmite en su “decir”, tanto en sonidos como en frescura, con su capacidad de limpieza y como símbolo de un transcurso y una renovación constantes. Además, como vivo en la playa y el mar está presente en cada uno de mis días, la alusión al agua era inevitable. JB - Sabemos que la opción electrónica que adoptaste para tu revista tiene una mayor difusión internacional, pero ¿has pensado en publicar la revista en papel? RGR - No, hasta ahora no tengo plan alguno de pasar a la impresión en papel; tal vez en un futuro, pero ahora no. La impresión en papel requiere otros recursos, supone un considerable volumen de gestión, y a eso se suman enseguida otros asuntos pavorosos: el costo del papel, la distribución, los precios de venta, etc. Para mí, la internet tiene ventajas esenciales: es un medio barato, instantáneo, universal por definición, y además me da una libertad tremenda, no sólo para diseñar y concebir cada página, sino incluso para corregir errores con rapidez. JB - Fuiste uno de los directores de la Revista de Arte y Literatura Mariel, que se publicó en Nueva York entre 1983 y 1985, y también recuerdo que, en La Habana de los años 60, participaste en las actividades de la editorial independiente El Puente, dirigidas por el poeta José Mario. ¿En qué medida esa experiencia previa te ha sido útil para Decir del Agua? RGR - Mi experiencia previa como editor, en los casos que mencionas, así como mis ocho años como redactor en una editorial de literatura de ficción en Cuba, mis nueve años como periodista en Nueva York y mis doce años como traductor en Naciones Unidas, me han facilitado mucho la tarea de redactar, revisar y coordinar mi revista digital. Pero hay que destacar también que la internet es un medio muy diferente, y uno de los placeres que siento al preparar una entrega de Decir del Agua es precisamente ir descubriendo, casi por azar, procedimientos nuevos, recursos fantásticos, que sólo la publicación digital ofrece. Para mí Decir del Agua ha sido también un aprendizaje y un disfrute constante en ese sentido. JB - Tú apareces como el único Editor de Decir del Agua. ¿Nunca pensaste en establecer un Consejo Editorial? RGR - No, no he pensado en establecer permanentemente un Consejo de esa índole. Pero extraoficialmente hay un grupo de amigos a quienes consulto en privado sobre ciertas decisiones editoriales, aunque sus nombres no siempre aparezcan mencionados en la revista. Además, he evitado que el número de páginas pase de 20, para no abrumar al lector, pero también para que el trabajo no se vuelva excesivo y pueda ser realizado por mí mismo, sin buscar ayuda de manera sistemática. Hasta ahora he logrado absorber ese volumen de trabajo, y lo hago con placer y con júbilo, en un lapso relativamente breve (me entusiasma mucho armar cada entrega: es como un juego arquitectónico). Hay, desde luego, una razón más personal para encargarme de todo el trabajo: me gusta el poder de decisión que tengo ahora sobre el material publicado (o rechazado), pues así me resulta más fácil conservar el perfil de la publicación. Sin embargo, desde la séptima entrega (julio de 2004) he contado con la cooperación de “editores invitados”, a quienes he encargado que preparen secciones especiales en determinados números. Entre esos invitados, no puedo dejar de mencionar a Maya Islas y Germán Guerra, dos poetas cubanos. El número 12, que saldrá a fines de octubre, está dedicado a destacar la obra de varios poetas brasileños contemporáneos, en una sección que ha sido preparada por otro “editor invitado”, Jesús J. Barquet. JB - Además de la calidad literaria, ¿qué otros criterios de selección sigues? RGR - La calidad literaria es el criterio fundamental. Los demás criterios son muy variados, pero secundarios (entre ellos, la extensión de los poemas). Ahora bien, una buena publicación de este tipo debe ser, fundamentalmente, un muestrario de estilos diversos, de actitudes variadas ante la creación; tiene que presentar voces múltiples, visiones sorpresivas. Un Editor no puede aprobar solamente obras que respalden sus preferencias estéticas personales, textos que se avengan o secunden sus propias aspiraciones literarias. Es decir, la calidad literaria es un criterio determinante, pero aplicado responsablemente, con perspectiva. JB - Tu revista se redacta y edita en Miami Beach, es decir, muy cerca de Miami. ¿Podrías hablarnos de Miami como espacio cultural, especialmente en lo referente a la literatura y la pintura? RGR - Miami es una ciudad en pleno desarrollo económico y cultural; un desarrollo sobresaltado a veces, a veces lento, pero palpable. El mercado de las artes visuales prospera bastante aquí; no así el de la poesía, que se difunde con menos éxito. En lo que respecta a conocer poetas jóvenes, la ciudad me ha facilitado en cierto modo la tarea, no sólo por los buenos poetas que llegan de Cuba constantemente, sino porque esta ciudad es la puerta de Estados Unidos hacia Latinoamérica, y mi revista está buscando reflejar cada vez más la actividad poética de todo el continente americano. Por otra parte, el clima sensual y la cercanía del mar contribuyen tal vez a mi inspiración, tanto para escribir mis poemas como para concebir cada entrega de la revista; pero no exageremos: todos sabemos que otra gran ventaja de las publicaciones digitales es que se pueden hacer en cualquier parte del planeta, siempre que uno tenga acceso a una computadora y pueda entrar a la internet. El hecho de que mi revista se redacte y edite en Miami Beach (donde vivo jubilado desde hace cuatro años y eso me deja suficiente tiempo libre) confiere a mi tarea de Editor cierta distensión, cierta resonancia tropical, pero te aseguro que podría hacer lo mismo en cualquier sitio. Miami Beach, Florida Septiembre de 2005 Dirección Reinaldo García Ramos www.decirdelagua.com Contacto [email protected] . .. . revistas em destaque tsé-tsé (argentina) diálogo entre reynaldo jiménez & pedro favaron PF - ¿Qué motivó, en sus orígenes, la publicación de tsé-tsé? RJ - Nació de la necesidad de cubrir un espacio que no encontrábamos. De entrada, se propuso como una acción que planteara agrupar cosas que no se hubieran reunido antes, incluyendo la mayor variedad de registros poéticos posible. Esto vale en el sentido de las complementariedades, a partir de la idea de que no hay poéticas principales, de que subsiste una pluralidad en la poesía. En ese tiempo —1995, en Buenos Aires—, solía haber publicaciones de tendencias, de grupos cerrados. Pocas en verdad, y más bien relacionadas entre sí por el encono y la desconfianza. tsétsé intenta integrarse a una red de publicaciones, de autores, de actitudes propositivas, de diferentes. PF - ¿Percibes que, cada vez más, la poesía es sólo leída por los poetas? RJ - Sí, pero prefiero verlo desde el otro lado, el expansivo: cada vez más personas escriben poesía. Una de las cualidades de la poesía es ser contagiosa. Su frecuentación genera entusiasmo y, muchas veces, ganas de escribir. Y a través de la escritura se propaga una conexión diferente con las cosas, más allá de la posibilidad de hacer “carrera literaria”. El lector de poesía tiene que ser un poeta, escriba o no, en su predisposición. PF - La sensibilidad poética se encuentra a contracorriente de la lógica cultural hegemónica, tiene poco que ver con el devenir del mundo. RJ - Pero la poesía, con toda su excepcionalidad o rareza, está en el mundo. No en otra parte. Al leer la realidad, no habría por qué obviar ninguno de sus aspectos y la poesía es uno. Se suele suponer que prevalece una visión dominante, pero la realidad prolifera, se nutre de muchísimas experiencias, visiones de toda índole. La realidad no tiene coherencia, no es unidimensional. Que las autoridades, culturales u otras (sobre todo la policía mental, la que cada uno lleva consigo como si allí no estuviera), oculten o nieguen esa pluralidad de lo sensible, no significa que no exista. Más bien creo que ese ocultamiento, esa censura que es toda supuesta indiferencia a lo distinto, a lo que no encaja, a lo que no admite una clasificación es, a fin de cuentas, un homenaje inverso, una especie de reconocimiento negativo —pero un reconocimiento. Se insiste demasiado (y esto es lo sospechoso) en que la poesía no influye, no incide. Es mentira: influye a su manera. Es parte de lo que hay, no acontece en una dimensión inefable. Acontece a nivel matérico, somático, orgánico, subliminal, afectivo, en conexión con hablas y arrastres connotativos. Es parte de la experiencia humana, indudablemente, y no un producto descorporizado, remoto, encerrado en bibliotecas por guardianes celosos de un saber excluyente y desvinculado. Es cierto, el lector de poesía fue volviéndose un ser muy raro, infrecuente, frente al común denominador. Pero ese común denominador es una patraña, sostenida bajo presión; ese supuesto punto medio que caracterizaría a una cultura, es una imposición de falsa normalidad. La noción de que algo sea normal o más real porque lo “vive” la mayoría, es fascista y es mentirosa. Ante eso, la poesía es resistencia propositiva, no meramente reactiva: genera y participa una percepción más amplia, más generosa, de la realidad. Incluso como aparente para-realidad. Cuando esa apertura ocurre, sea en palabra o experiencia, la poesía es subversiva en relación a un orden prefijado y dado como límite a la experiencia, que es la sensibilidad, justamente. No por militancia ni por aguante, sino porque la sensibilidad, consciente e inconsciente, que requiere y estimula, ya es de por sí algo en el mundo. El mundo también es sus excepcionalidades, sus grados de infrecuencia. PF - La experiencia poética, subversiva, marginal, va mucho más allá de la obra literaria. RJ - Se sobrevalora el residuo, el texto como resultado y no tanto el proceso creativo, que a veces pasa por esos inutensilios llamados poemas, pero que involucra un constante trabajar consigo mismo. Más acá de cualquier resultado, aunque éste sea, por supuesto, importantísimo. Uno pone toda la concentración en el poema. Pero lo que se cifra ahí no se puede encuadrar. No se restringe a los límites formales. Lo poético se propaga a través del texto, se cifra en la forma, como en Nietzsche cuando alude al caos dionisíaco que recién encuentra cauce a través de la forma, la voluntad apolínea. Pasa una energía por el “objeto escrito”, pero es más que eso: convoca a una conexión diferente. Existe, vinculado con todo, y trabaja el sentido a la manera de un diapasón que registra andariveles simultáneos para no adecuarse nunca a una mera descripción del mundo. El poema no añade más literatura, no surge para coagularse como acervo “cultural” ni como respaldo para cualquier tipo de sobrevaloración identitaria. Establece una huella, por otra parte casi insignificante (la menor desatención la pierde por completo), que remite a una dimensión que el punto de encaje habitual de la conciencia suele dejar de lado. Algo de lo preverbal, incluso, se filtra por la verbalidad del poema. Algo de lo informe pero no menos orgánico pasa por la forma como vibración, sugerencia, alusión diagonal. En ese sentido, puede haber una relación del lenguaje con lo alucinógeno, en la medida en que el lenguaje, en el poema, estaría disponiendo la sensibilidad para otras entradas en materia. El poema, visto bien de cerca, dejándolo resonar en la interioridad, es un ampliador de la percepción. PF - Pero la mayoría de poetas y artistas no parecen alcanzar esta conciencia, y si lo hacen, les debe ser una experiencia aislada, que no tiene implicancias en su cotidianeidad. RJ - Me parece que son un problema, a estas alturas del partido, los rótulos de Poeta, Poesía, Artista, etc. De tanto afirmar identidades sociales, aun si fueran supuestamente marginales o transgresoras —hay toda una institución actual de la transgresión, que es muy redituable y confortable, bien delimitada, de “imagen”—, terminan no nombrando nada. Al respecto, me remito a mi compañero en la revista, Carlos Riccardo, en un texto sobre los dibujos de Artaud, en el número 12 de tsé-tsé, al recordarnos la experiencia poética o artística ligada a “la parte activa y corporal del gesto mágico que se realiza ‘con el aliento’, para aniquilar el hechizamiento de la imagen, así como el primitivo pintor de cavernas, al que sólo le importaban los poderes escondidos que hay en los trazos, al manipularlos sobre un espacio, y no los bellos restos que se conservan en los museos”. PF - tsé-tsé es una revista muy ajena a los rótulos, más cercana al deslumbramiento espontáneo. RJ - Sí, nos movemos desde el entusiasmo. La revista creo que se caracteriza por su artesanalidad. Al menos mantiene un espíritu amateur, en el sentido original del término: dedicación vocacional. Nos desenvolvemos sin mucho apoyo institucional. Navegamos, el bote anda bien con el viento y la corriente, aunque permanentemente estemos con unas latitas sacando el agua que no cesa de filtrarse por montones de ínfimas fisuras. Eso es agotador. Pero es lo que es, y gracias a que personas simplemente nos apoyan y ayudan de mil maneras, sobre todo manteniendo alerta el entusiasmo, seguimos. PF - ¿Y consideran perjudicial el apoyo oficial? RJ - Si nos abocáramos a una estrategia manipuladora para obtener algún tipo de legitimación, ya sea publicitaria o de política profesional o profesoral, iría contra ese espíritu amateur de la revista. Ese tipo de apoyo, canonizador, banalizaría, de hecho, cierto nivel de verdad que hay en muchos de los textos que incluimos, pero también en la entrelínea misma del proyecto. Por otro lado, ciertos subsidios, ciertos alivios financieros, por irrisorios que sean —siempre y cuando no impliquen una intervención conceptual y siempre dentro de una escala en realidad bastante acotada—, aunque no resuelvan, suman, circunstancialmente dan una mano. Pero el alivio dura poco. Lo concreto es que, ante cada número de la revista, tenemos que empezar de nuevo, casi desde cero, a ver cómo pagamos la compra del papel, la impresión, los insumos, las películas para imprimir, el envío postal de ejemplares a los autores que participan, etc. Cumplimos, así, con aquello de Robert Fripp que salió en uno de los primeros números: pagamos para trabajar. Y seguiremos pagando. No importa. Es tan absurdo esto, que de por sí, y por la sola elocuencia de los hechos, pone en entredicho cierta lógica de circulación ambiental, disuelve de entrada cualquier asomo de estrategia. La cuestión, detrás, sería constantemente revisar qué se está jugando en un proyecto. No conformarse con los logros, que, aunque sean considerables, son siempre mínimos. También recuerdo aquello del pintor Robert Rauschenberg sobre la pasión y la necesidad interior involucradas en lo creativo: de todos modos, nadie podría pagarme para que trabaje más de lo que trabajo. PF - En el 2004 se realizó la celebración por los diez años de tsé-tsé. Estuvieron presentes muchas figuras interesantes de la poesía americana. ¿Cuál fue la intención del evento? RJ - Celebrar y recordarnos que tsétsé es celebración. Juntarse para un ritual de dos días, con gente de todo tipo, desde niños hasta personas mayores (pasaron un par de centenares a lo largo de las jornadas), en un contexto afín y aliado: Estación Alógena. Estar en un círculo así de móvil, en torno al fuego que se enciende, adquiere un sentido más allá de los individuos. Para esto, tuvieron que suceder, como sucede constantemente con la revista, muchas sincronicidades. Los autores que vinieron del exterior, vinieron por las suyas, ya fuera porque tenían millajes de vuelo en alguna línea aérea, o porque los invitaban justo entonces a Buenos Aires para otros eventos, o sencillamente se pagaban sus gastos, porque querían compartir, sintiéndose parte del proyecto. PF - Es realmente notable que todo se armase gracias al esfuerzo conjunto, la acción colectiva y, al menos en gran medida, desinteresada. RJ - Y eso iba desde el local, Estación Alógena, nave comandada por Nakar Elliff-ce y Patricia Jawerbaum, espacio físico e interno que no está condicionado por nada, desde ningún lugar. La acción tuvo que ver con un aspecto fundamental: cuando dejás de ser “poeta” y sos alguien que hace algo, un ritual celebratorio, con otros. La riqueza que hay es afecto y sueños. Como pedía Joseph Beuys, el arte tiene sentido en tanto emanación de calor. La gente que transponía la puerta de Estación Alógena, entraba a una zona donde ya no había militancias, ciudadanía: era simplemente una fiesta que la armaron los que estuvieron ahí, y no sólo hablo de los poetas y performers, y la hoguera era la poesía. PF - Creo que esta misma actitud se ve en tu labor como editor de libros de poesía. RJ - Escribir poesía y editar la poesía de otros, responde a una misma pasión. La poesía como acción en el mundo. La revista derivó en editorial, surgiendo de un mismo lugar. Por supuesto hay un nivel que tiene que ver con generar trabajo, es decir mover algún dinero que posibilite la continuidad del proyecto. Pero esto no implica que, aunque en muchos casos tenemos que recurrir a la ayuda financiera de los propios autores, o a determinados subsidios, determinadas colaboraciones económicas, la editorial esté disponible para todo tipo de publicaciones. No estamos a la pesca de cualquier propuesta, tratamos de cuidar el catálogo. Intentamos, de todos modos, y aun con sus limitaciones, expandir el sello dentro de cierto, imprescindible, criterio. PF - Siempre me ha parecido admirable tu abertura a la poesía de otros, sobre todo cuando se te compara con la gran mayoría de poetas, a los que parece hacérseles muy dificil leer la poesía de sus contemporáneos. RJ - En general, los poetas no podemos leer a nuestros colegas por una cuestión de competencia. Se trata de cuestiones muy personales, proyecciones, cosas no trabajadas a otro nivel, en el fuero interno. Pero sucede en toda profesión, supongo. PF - Pero a diferencias de otras profesiones, con la poesía, a menos que seas un poeta extremadamente comercial, nadie va a ganar mucha plata. Entonces, si no es por dinero, ¿para qué competir tanto y enojarse de esa manera con el que hace algo diferente? RJ - Son problemas menos pensables, que tienen que ver con la estructura personal. Es reflejo de la sociedad en que vivimos. No es que los poetas, por “serlo”, van a estar fuera de las pugnas por una hilacha de reconocimiento social. Tiene que ver con el extremo individualismo de los poetas, cerrarse en esa visión de ser Poeta, dueños y señores de un cierto lenguaje, que pretende instaurar de mil maneras una gramática de la dominación. También están los que se agrupan y promueven conflictos intertribales, propios de tribus endogámicas, monosemánticas. Sólo copulan, intelectualmente hablando, con los que los confirman, y ven en los diferentes al enemigo. Esto obedece a la pretensión de tener la última palabra. Y es el fin de cualquier poesía, por supuesto. Esta guerra entre las estéticas me parece de un diletantismo increíblemente añejo y, en el fondo, fofo: si existe verde, no puede existir rojo, o, en todo caso, verde será mejor que rojo si representa “lo último”, lo que vino “después” y mucho más si está avalado por algún discurso “respetable”. PF - tsé-tsé no se guía mucho por esa legitimación de lo novedoso. RJ - Y eso te permite incluso publicar a un poeta supuestamente establecido en un solo lugar, desde una apreciación diferente de su obra. PF - Pero eso se podrá hacer con los poetas oficiales que no son del país propio; con los referentes establecidos en el entorno cotidiano, se vuelve un poco improbable no entablar dialéctica. Y tal vez es hasta muy necesario hacerlo. RJ - No sé si acá en Buenos Aires hay poetas que puedan ser llamados estrictamente oficiales. Por ejemplo, al comparar la situación local actual con aquella de la coronación de Chocano, en la Lima de los años 20. Salía Trilce pero el que recibía los laureles (y bien merecidos ¿no? porque quién quiere esa corona ridícula en su cabeza) era el cantor de América, el propalador de univocidades grandilocuentes. Creo que sucede algo bastante distinto en este momentito, que tiene que ver con los códigos publicitarios, con el imperio del marketing o el marketing del imperio, no sé. Con una sobrestimación de lo masivo, bajo esa idea de que todo debe ser traficado para existir y de que sólo existe lo que “aparece” mucho en los medios. Acá y ahora lo oficial no es tanto lo que entroniza una imagen de orden en sentido conservador, reaccionario, sino lo que propone una moda, es decir un acercamiento pop, pasatista, a la poesía. Es otra convención, claro, que en lo formal liga con el antilirismo como guiño de lo políticamente correcto, con lo supuestamente transgresor, pero siempre que pueda seguir siendo medido, calificado desde las mismas convenciones discursivas que afirma transgredir. Esto redunda en lo que otro pintor, Bram Van Velde, denunciara como fabricación artística: un discurrir sobre lo seguro y previsible, interpreto, totalmente ajeno al proceso creativo, que es incertidumbre e inestabilidad. PF - Hay esta idea de que el poeta, el narrador, el artista, tiene que ser siempre un poco narcisista, que si no fuera por el ego, no haría nada, o por lo menos, no desearía hacer pública su obra. ¿Piensas lo mismo? RJ - Dificil responderlo. Uno no puede dejar de trabajar con la propia experiencia, al nivel que sea: consciente, inconsciente, provocada, victimizada, heroica, etc. Es muy dificil tomar distancia de las propias contradicciones, las cuales creo que también son materia de la poesía. PF - Creo que la idea del narcisismo necesario para escribir, resulta por ser una excusa para no combatir esos aspectos infantiles en uno mismo. RJ - La poesía puede desbaratar y desbarata todo intento de establecerse en una identidad. Si hay egocentrismo, será sólo un motor, un impulso. Pero el proceso de la composición del poema, involucra a la conciencia en la desestructuración de cualquier estabilidad o estado unívoco. Un poema no puede dejar de convocar una pluralidad de estados. PF - ¿A qué tradición poética te unes con esto del desbaratamiento de la identidad? RJ - Sin duda que no puedo evitar la marca occidental, en especial la línea del romanticismo alemán, y luego el surrealismo, básicamente. PF - Pero la tradición romántica tiene que ver un poco con la exacerbación del ego, la figura del genio, y en cambio la oriental cuadra más con la relajación del Yo, con la contemplación de quien se contempla contemplando. RJ - Es la diferencia, por dar un ejemplo arbitrario, entre Bashõ y Hölderlin. Admiro la libertad espiritual de Bashõ, pero no puedo dejar de sentirme conmovido, aludido, con Hölderlin o Artaud. La consigna de Bashõ: “no sigo los pasos de los ancestros, busco lo que ellos buscaron”, no puede dejar de convocarnos, es un llamamiento a la interioridad. Y esa interioridad, lo que en inglés se llama within, no es confirmatoria de ninguna persona social. Ahí nada mantiene un sesgo separatista, jerarquizador: es el plano para todas las conexiones. Pero ante Rimbaud, por ejemplo, no es posible negar los aspectos turbulentos de la experiencia, una realidad marcada por contradicciones extremas, nunca resueltas, en convivencia… Allí la identidad no queda fija, la lengua poética somete la identidad a innumerables “trastornos”. En todo caso, mi ideal está próximo a Bashõ, pero la turbulencia, en la que me formé, me impulsa. Vengo de ahí. Ahora: no tomo al romanticismo según los rasgos generales que le asigna cierta lectura de la historia literaria, sino por algo que lo vincula incluso con los presocráticos, o hasta con los poetas ágrafos, nuestros arcaicos contemporáneos, en el sentido que cantar y pensar en ellos no se disocian. Pensar es entonar. Y la palabra no es de nadie ni confirma a ninguno. PF - Esto también se relaciona con las prácticas chamánicas. RJ - Con determinados estadios de la percepción que no están condicionados porque escapan a su interpretación meramente racional, pero que sin duda requieren de un constante reaprendizaje y se dejan percibir en una gradualidad tonal, microtonal, transtonal, de la experiencia. Y el lenguaje en el poema se nutre de todo eso, no sólo de lo literario. Y ahí entra la posibilidad, que trajo el romanticismo, de incorporación reflexiva del inconsciente. Hacer consciente la presencia del caos, la contundencia de lo incontrolable, del destinorigen, las metamorfosis, lo inagarrable, con todas las contradicciones y contracciones que connota eso. No aparece sólo lo que predico de mí, sino todo aquello que ignoro, todo aquello que me atraviesa y no fija mis bordes en una enunciación. Por otra parte, no olvido que la imagen artística de la modernidad se monta al canon de la ruptura, el canon vanguardista. Tenemos que lidiar con eso ahora. Porque hay que destilar poesía de tanta amenaza a la sensibilidad, como cuando se traslada esa noción (colonialista, expansionista, eurocéntrica) de progreso, ya de por sí asfixiante, también a la poesía. El rupturismo es una autocomplacencia. Se satisface en logros del pasado, aunque se trate de un pasado de dos o cinco generaciones atrás, y ahí donde alguna vez hubo un gesto vital, se sitúa e impone el altarcito profano, intelectualizado, para el culto obligatorio. Es algo que Octavio Armand manifiesta con contundencia en una entrevista reciente: muchos siguen queriendo seducir a la novia del vidrio de Duchamp, dice Octavio, y no se dan cuenta de que están queriendo acostarse con su abuela. Todo ese vanguardismo envejeció, está coagulado, y por eso circula perfectamente hoy en el mercado cultural internacional. El tráfico de arte es un tráfico de cadáveres. Así que no es incongruente que haya exposiciones, ¡con gran éxito de público! compuestas con cadáveres o fetos de animales, o hasta humanos, conservados en formol o vaciados en resinas, etc. Ese todo-vale de la profesionalización, del impacto que sostiene un cierto entretenimiento, en este sentido, ha diluido la condición de presencia insumisa de los artistas. Ni hablar del caso específico de los poetas: se piensa a veces en términos de público, no en lectores. Es decir, se apela a los guiños masivos, bajo el supuesto evidentemente totalitario de que la mayoría tiene (que tener) la razón o al menos más derecho a imponerse —por la fuerza, claro. Y se oculta, se censura, se evita la actividad siempre subversiva del lector, que es una rumia inaudible pero ineludible en vistas a un ahondamiento de la interioridad. No sólo la poesía, sino ya la introversión misma, las personas introvertidas, son descalificadas en esta sociedad, dada a ese tipo de policiación tan particular que implica apagar todo foco de silencio, todo foco de inocencia, allí donde se encuentren. Incluso la pretensión de “elevar” a la poesía a un destino de saber particular, es una violencia que no lleva a mucho que digamos. La ignorancia, creo, puede ser una aliada de la poesía. Y el poeta, eslabón, es literalmente nadie, cualquiera, no aparece donde se lo espera e imposible que tuerza lo que tiene para decir en función de consolar o gratificar a un público. Ese desafío que es la lectura de un poema, se da al nivel de la intensidad de los lenguajes en juego, que es la intensidad misma de la experiencia. Pero la experiencia no se separa, si hablamos de poesía, de la inocencia, de la condición indagatoria, exploratoria, de la capacidad de asombro. Si no, ya estamos otra vez en el menú: lo programático. Así como se nos impone una lengua, acá en América, que no es Occidente, podemos desarrollar sus potencialidades transmisoras, desde lo sonoro a lo telepático, para el devenir de los lenguajes. Eso conlleva una posición flexible y una micropolítica, en el sentido de propiciar esas intervenciones, esas apuestas a otra cosa: a una ampliación, a una salida de las restricciones de apenas una cultura que afirma representar y “ser el mundo”, y en verdad de un momento cultural nada más, que exige ser, insisto, constamente replanteado. Nos podemos mover, no sin fricciones con el medio, también dentro de ese margen de contradicción e inestabilidad, y de ahí extraer otra fuerza expresiva, otra calidad de energía a ser circulada. A partir del reconocimiento de las contradicciones que nos forman, pero que no debieran conformarnos. Por ejemplo, Bartolomé de las Casas, que llega con los curas, con la cruz y la espada, y con la todavía fresca gramática, ciertamente, a la vez es el tipo que, “rescatando” algunas cosas, denuncia por contraste la masacre de una cultura… PF - El primero que aparece nombrado como Inga en una relación escrita es Gonzalo Pizarro, que se independiza de España. Bartolomé de las Casas representa un movimiento monárquico, reinstaurador. RJ - Pero a la vez es el que capta y deja testimonio de la desintegración mediante la violencia de una cultura en manos de otra. Su cometido era la evangelización o la instauración de una monarquía, pero no pudo evitar convertirse en el transmisor, eventualísimo pero definitorio, de algunas riquezas, de algunos fragmentos de esplendor. PF - Y también promueve la esclavitud negra. RJ - Por esas mismas contradicciones, digo, vale tomar en principio, y en su turbulencia germinal, todo, absolutamente todo lo que viene a la experiencia. No dejar nada fuera, ningún aspecto. Esa es la materia del poeta, donde lo obvio se combina con lo sutil, donde la delicadeza puede ser, en un ambiente tan degradado social y ecológicamente como el de nuestras grandes ciudades, de una radicalidad subversiva. Ser introvertido, hoy, es ser subversivo, aun sin que se explicite como propuesta. La posibilidad de observar y seguir sintiendo, pensando, no está ajena a la poesía que, de hecho, ejerce una crítica al interior de los significados, que son los significados al uso, en vigencia según imposiciones o rutinas. La unilateralidad del referente es un grave prejuicio que percibo en los realismos literarios en boga: suponer que “vómito” es más “real” que “colibrí” —esa sobrevaloración urbana, de circuito chico, barrial, típica de una cultura demasiado satisfecha con su malestar, su represión de la otredad. En Buenos Aires el pesimismo aparece en el menú de la demagogia. Toca a algo que es idiosincrático, lo cual no quiere decir que sea inamovible. Está claro que “colibrí”, en un contexto tan autocentrado que, en una palabra como ésa lee “poesía lírica” (es decir, algo “superado” por los hechos o la historia, supuestamente), representa a la vez la otredad, la experiencia de lo otro, del campo alterno que hace al significado en su capacidad de cambio, y aun cuando estemos nombrando simplemente, al fin y al cabo, realidades de este mundo. Sólo que, en “colibrí” se trata de una realidad no antropocéntrica; el realismo, además de su origen burgués, es antropocéntrico, y es de esta característica cosmovisional, a su vez derivada de la imagen del dios único, que surgen todos los otros racismos y exclusiones. No nos merecemos reducir nuestro caudal sensible apenas a los mandatos de un momento cultural. Si América, ante el logos del sujeto cartesiano —lo encara Paulo Leminski en Catatau—, de algún modo es el caos, el magma, el grito in-significante, resulta urgente trasponer todo esto a la lengua que nos es impuesta, para hacer otra cosa con ella. Otra realidad: la realidad no viene dada, no cierra en los significados preestablecidos. En esto, incluyendo a la imaginación y al placer mismo del juego con los significados, la poesía es intervención en lo real. Como pedía Oswald de Andrade (y seguimos hablando desde América): antropofagia, absorberlo todo para mantenerse, añado, en la desnudez, en la intensidad, recibimiento que es entrega. Ya Glauco Mattoso, otro poeta brasileño en plena escritura de su obra, da un paso más y se denomina a sí mismo coprófago: agrega la idea de comer, ingerirlo todo y a la vez excretarlo, devolver (a la tierra) lo que no se digiere, lo que no alimenta. PF - Hablemos un poco de tu recientemente publicada antología de poesía peruana, El libro de unos sonidos. RJ - El libro tuvo una primera edición en 1988 con la editorial Último Reino. En ese momento se subtitulaba 14 poetas del Perú: ahora son 37. Surge de la misma voluntad de conectar. Para mí tiene un cariz personal, que es reconstruir simbólicamente mi propia historia, mi aspecto “negado”, el hecho haber nacido en Lima junto a no haber residido allí, pese a que por muchas razones no estuve jamás desvinculado. PF - ¿Crees que la tradición poética peruana ha influido en ti? RJ - Muchísimo, aunque no la reconocería unívoca. Precisamente el libro, de algún modo, trata de mostrar una multiplicidad, la posibilidad de que se cuente la historia de esta tradición desde plurales intervenciones. No creo que un poeta sea asimilable a otro. Hay influencias, rastros, marcas comunes pero también fuertes disidencias. Hay puntos en que casi no conviven determinadas poéticas, que parecieran no compartir mucho. Por eso la importancia de abrir un arco amplio, dando lugar a estos contrastes y complementariedades. PF - En el Perú existe la idea que la tradición poética peruana es muy especial, muy rica dentro del panorama americano. ¿Piensas lo mismo? RJ - Sí, pero a ese proceso no lo llamaría Tradición Poética Peruana. Es demasiado, todo eso junto. Suena demasiado rígido, acartonado, como si ya supiésemos todo al respecto y al proceso implicado pudiésemos juzgarlo en forma definitiva. Como si no quedaran intersticios para investigar, fallas para explorar. Muchos poetas nacidos en el Perú son notables por su vivacidad expresiva, el nivel de riesgos formales que asumen, su calidad emotiva e intelectual. Pero reducir esa intensidad a las fronteras geopolíticas y militares, medio que va contra el espíritu librepensante, que asocio con las poéticas. Hay un nivel más amplio, que es el de la lengua, y aun otro, más amplio todavía, que es el de la percepción verbal, incantatoria, la poesía como una acción en el mundo. O en los mundos. En todo caso, el Perú no es unívoco, y si se acepta esa multidimensionalidad en la experiencia de lo peruano, ya lo peruano se vuelve menos definible, menos apriorístico. El problema que le veo a la denominación Tradición Poética Peruana es que fija un triple prejuicio: ¿qué es tradición? ¿qué es la poesía? ¿qué es lo peruano? Son cosas que no están definidas, por suerte, que permiten vislumbrar un horizonte, más que la obligación de sostenerlas a la manera de un estandarte. Obviamente, al leer a Westphalen o a Moro, por ejemplo, jamás se me ocurriría pensar en una Patria excluyente o en una esencia que afirme una teleología. Más bien la poesía tiende a socavar esas construcciones, y lo hace desde una praxis mucho más humilde, pero aguda, y que atañe precisamente a la posibilidad de seguir ampliando en lo conceptual, de seguir abriendo en lo perceptual, de no quedarse en lo ya encontrado. PF - El Perú es un país notoriamente no-occidental. ¿Ves eso reflejado en los poetas que has antologado? RJ - Claro. Desde las versiones más obvias como la inclusión, seguro desconcertante para algunos, de José María Arguedas como poeta (y poeta quechua), o de Gamaliel Churata, que, sin ser un aymarahablante, incorpora esa tonalidad, ese sustrato, como parte de la trama de su pensamiento, donde el aspecto formal de la composición ya es, claro, pensamiento poético. Pero también sucede en otras intensidades, porque el surrealismo de Moro o de Westphalen, o aun el trabajo con la gramática española en Adán, no son literalmente europeos, por el tipo de energías (imágenes y situaciones verbales) que plantean, por la sintaxis, por ese otro tipo de vivencias. No pertenecen a ortodoxias, no son derivativos, son altamente críticos al interior del lenguaje. Pero me refiero a un tipo de crítica práctica, no declarativa, que ocurre como plasticidad de la lengua, como capacidad de modulación. Incluso en ese francés en que escribió Moro está la insumisión, la disidencia: en el abandono del castellano y esa elección de segunda lengua. Su adopción del francés de todos modos implica un trastorno poético, donde algo del habla limeña persiste como una raíz corrosiva. En este sentido, Moro no es derivativo de lo occidental, del surrealismo y ya, sino que hace una remezcla con sus influencias. Ahí conviven registros europeos con paisajes peruanos, alta cultura con erotismo, lo ubicuo con lo de todas y ninguna parte, la modernidad con lo arcaico y lo precolombino como presencias de buena fe. Lo que sí noto es una condición de desarraigo muy grande entre la gente que se forma terciariamente dentro del Perú. Muchos intelectuales jóvenes, en todas las áreas, no sólo artísticas, tienen como parte de su proyecto personal emigrar en algún momento. Es casi una obsesión general. Eso está en Vallejo, por supuesto, y en tantos otros que fueron prácticamente expulsados por diversos autoritarismos o conjuntos de mediocridades en algún momento del Perú —Moro entre ellos, antes de su segunda salida del país, hacia México, con ese famoso allanamiento policial que padeció, junto a otros, a causa de su apoyo a la República española. Se trata de salidas definitivas, prolongadas o temporarias, pero están en el imaginario de muchos peruanos que pasan por la Universidad. Y eso también tiene que ver con lo no-occidental: una nostalgia incurable, un cierto rechazo a lo propio, además. También tenemos otros casos de autores, incluidos en la antología, cuyas obras padecen la indiferencia general, y este soslayar lo que sin duda existe por derecho propio, también es muy latinoamericano. PF - ¿Se podrá atribuir esto a la abierta hostilidad hacia las manifestaciones culturales? RJ - Por un lado… También debe ser dificil convivir con tanto sustrato de ciudades enterradas, con tanto muerto por debajo. Y además, hay innegable polarización social. En todos lados la hay, pero en el Perú es muy evidente y hay un apartheid no confesado, notorio para el que llega de fuera y para el que, desde dentro, piensa y sopesa la situación. Esa huida al francés, en el caso de Moro, es una huida poética, pero una huida que implica aceptación de una herida, en la que no se complace, en la que se trabaja, y no evasión de las contradicciones: un desarraigo incorporado que lleva hasta las últimas consecuencias el no acatamiento de un estado de cosas. Empezando materialmente, ciertos lenguajes que llamamos poéticos perforan, dentro de sus propias pautas, la lengua monolítica, utilitaria, la lengua-Estado. PF - Históricamente ha existido un fuerte desplazamiento de intelectuales peruanos a la Argentina. RJ - Parece que había una ruta comercial muy importante entre Lima- Puno-Oruro-Buenos Aires. Han vivido muchos peruanos acá, y muchos poetas han editado acá, a lo largo de todo el siglo XX, pero sobre todo en las primeras décadas. El caso más notorio es el de Alberto Hidalgo. Pero justamente él es uno de los autores más conflictivos —para Perú, que no termina de aceptarlo, y para Argentina, que simplemente lo ignora. Incluso Mariátegui hubiese continuado el proyecto editorial de Amauta en Buenos Aires, tal como lo planeaba, si no hubiese fallecido. Este interés de los intelectuales peruanos por Buenos Aires nunca implicó, honestamente, reciprocidad. No significa que Buenos Aires haya acusado recibo alguno de esas presencias. PF - Eso tiene que ver con que la cultura de Buenos Aires es muy autocentrada, aunque se pretenda muy cosmopolita. RJ - Pero un cosmopolitismo que implica “tecnología de punta”, “última generación”. Es decir, un cosmopolitismo superficial, un poco autodestructivo debido a su profundo desarraigo y falta de aprecio por lo propio. Se ve en la arquitectura de la ciudad, la manera en que el negocio inmobiliario constantemente desplaza, y reemplaza, con sus ofertas de novedades, la posibilidad de una integración con lo que había antes. Y el modo en que la sociedad acepta esto, sin pestañear ni darse por aludida. Más que una asimilación de la diversidad, prevalece en Buenos Aires una atracción miserable por la novedad, por el brillo fácil, por ese tipo de hedonismo que también denunció Néstor Perlongher. Esto también se traslada a la poesía, o a esa fabricación en serie “cortito y para abajo”, lamentablemente. Ahora estamos cercados por “poéticas pop” (el populismo en su aleación rockera, o chabona, o simplemente ornamental), el pasotismo llevado a narraciones donde la máxima experiencia a ser explorada por el texto parecen ser los personajes de historietas, de la televisión o las películas de culto y todo un imaginario juvenilista, muchas veces en manos de gente que sobrepasa los treinta años. Quieren hacernos tragar la razón de que todo surgió con la pose warholiana, la imposición de la publicidad y los códigos de manipulación mediática, típicos del Pop, mezclados con elementos populistas (útiles a la hora de captar la atención institucional, donde los gobiernos y sus “políticas culturales” constantemente requieren de carne joven), y que hasta la poesía debiera dejarse convencer por esa impostura. Se desprecia la imaginación, la posibilidad de una expresión no manipulable. Es así como prevalece una especie de realismo populista muy bien difundido e incluso apoyado académicamente, que nos remite todo el tiempo al idiolecto barrial, al código cerrado en la autorreferencia y por eso mismo defensivo. Buenos Aires, no por nada llamada “la gran aldea”, dejó hace rato de tender hacia el cosmopolitismo, si por éste entendemos la posibilidad que Borges tan bien estableciera, en su aspiración a todas las tradiciones. Aquel cosmopolitismo, en realidad a la europea que, con todas sus contradicciones, estaba sin embargo más abierto a muchas cosas, sobre todo a aquéllas que pudieran ampliar nuestro campo de referencias cotidianas, nuestra propia cotidianeidad, se ha ido desplazando al consuno del consumo. Si hemos de ser verdaderamente realistas, no podemos dejar de pensar que la poesía, como implacable cuestionadora de cualquier identidad asignada a los lenguajes, premoldeada en la lengua como en el inconsciente, existe y subsiste también para celebrar ese socavamiento, esa desmentida. Dirección Reynaldo Jiménez, Gabriela Giusti y Carlos Riccardo [email protected] editores da agulha Floriano Martins (Fortaleza, 1957). Poeta, editor, ensaísta e tradutor. Tem se dedicado, em particular, ao estudo da literatura hispano-americana, sobretudo no que diz respeito à poesia. Foi editor do jornal Resto do Mundo (1988/89) e da revista Xilo (1999). Em janeiro de 2001, a convite de Soares Feitosa, criou o projeto Banda Hispânica, banco de dados permanente sobre poesia de língua espanhola, de circulação virtual, integrado ao Jornal de Poesia. Críticas sobre sua obra, assim como entrevistas com o poeta, já foram publicadas no Brasil e no exterior, a exemplo de jornais como El Universal (Panamá), El Comércio (Peru), El Universal (México), El País (Uruguai), El País (Colômbia), O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, O Povo, Diário do Nordeste, Estado de Minas, O Globo, O Estado do Tapajós, e revistas como Prisma (Colômbia), Común Presencia (Colômbia), Paréntesis (México), Storm Magazine (Portugal), Alforja (México), Mapocho (Chile), TriploV (Portugal) e Voces (Estados Unidos) - material crítico assinado por nomes como Sérgio Campos, Carlos Felipe Moisés, Wilson Martins, José Paulo Paes, Maria Esther Maciel, Rolando Toro, Jorge Rodríguez Padrón, Ivan Junqueira, José Castello, Rodrigo Petronio, Eleuda de Carvalho, Carlos Germán Belli, Miguel Gomes, Alfredo Fressia, Maria Estela Guedes, Nicodemos Sena. Com larga trajetória de colaboração à imprensa, tem escrito artigos sobre música, artes plásticas e literatura, incluídos nas publicações citadas e também em outras, como Comércio do Porto (Portugal), Letras & Letras (Portugal), International Graphitti (Costa Rica), El Artefacto Literario (Suécia), Exégesis (Porto Rico), Crítica (México), Blanco Móvil (México), Casa del Tiempo (México), e brasileiras como Rascunho, Alô Música e Poesia Sempre. Organizou para as revistas mexicanas Blanco Móvil e Alforja duas edições especiais dedicadas à literatura brasileira, respectivamente "Narradores y poetas de Brasil" (1998) e "La poesía brasileña bajo el espejo de la contemporaneidad" (2001), bem como as edições especiais "Poetas y narradores portugueses" (Blanco Móvil, México, 2003) e "Surrealismo" (Atalaia Intermundos, Lisboa, 2003), respectivamente em parceria com Maria João Cantinho e Maria Estela Guedes. Como artista plástico participou de exposições como "O surrealismo" (Núcleo de Arte Contemporânea, Escritório de Arte Renato Magalhães Gouvêa, São Paulo, 1992), "Lateinamerika und der Surrealismus" (Museu Bochum, Köln, 1993) e "Collage - A revelação da imagem" (Homenagem ao centenário de André Breton 1896-1996, Espaço expositivo Maria Antônia/USP, São Paulo, 1996). Em maio de 2000 realizou o espetáculo Altares do Caos (leitura dramática acompanhada de música e dança), no Museu de Arte Contemporânea do Panamá. Um ano antes também havia realizado uma leitura dramática de William Burroughs: a montagem (collage de textos com música incidental), na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Dentre algumas conferências que tem proferido, destacam-se "América Latina e Identidade Cultural" (Centro de Humanidades, Universidade de Brasília, Brasília, 1998), "Linguagens contemporâneas e identidade nacional: literatura" (SESC Pompéia, São Paulo, 1999), "Algunos poetas brasileños (Ivan Junqueira, Dora Ferreira da Silva, José Santiago Naud, Sérgio Campos, Claudio Willer, Ruy Espinheira Filho, Adriano Espínola e Donizete Galvão)" (Faculdad de Humanidades de la Universidad de Panamá, 2000), "Sobre a condição editorial de algumas revistas de cultura na América Latina" (Instituto Goethe, São Paulo, 2001), "Surrealismo & Brasil" (Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 2003) e “La modernidad de la poesía hispanoamericana” (Centro de Estudios Latinoamericanos Rómulo Gallegos, Caracas, Venezuela, 2004). Participou dos seguintes volumes coletivos: Camorra (volume monográfico sobre Harold Alvarado Tenorio, Ediciones La Rosa Roja, Bogotá, 1990), Focus on Ludwig Zeller, poet and artist (Mosaic Press, Oakville-New York-London, 1991), Adios al siglo XX (Edição dedicada à poesia de Eugenio Montejo, Separata da revista Palimpsesto, Sevilla, 1992), O olho reverso. 7 poemas e um falso haikai (Edição comemorativa dos 41 anos de poesia de José Santiago Naud, Thesaurus Editora, Brasília, 1993), Tempo e antítese. A poesia de Pedro Henrique Saraiva Leão (Editora Oficina, Fortaleza, 1997), Surrealismo e Novo Mundo (Ensaios sobre Surrealismo na América Latina, org. Robert Ponge, Editora da Universidade UFRS, Porto Alegre, 1999), Festival Mundial de Poesía Venezuela 2004 (Antologia poética, org. Andrés Mejía, Monte Ávila Editores, Caracas, 2004), El Bacalao - Diatribas antinerudianas y otros textos (Ensaios, org. Leonardo Sanhueza, Edicones B, Santiago, Chile, 2004), e Escolas literárias no Brasil (Conferências, org. Ivan Junqueira, Ed. da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 2004). Livros publicados Cinzas do sol (poesia). Mundo Manual Edições. Rio de Janeiro. 1991. Sábias areias (poesia). Mundo Manual Edições. Rio de Janeiro. 1991. El corazón del infinito. Trés poetas brasileños (traducción de Jesus Cobo) (entrevistas). Cuadernos de Calandrajas. Toledo, Espanha. 1993. Tumultúmulos (poesia). Mundo Manual Edições. Rio de Janeiro. 1994. Ashes of the sun (translated by Margaret Jull Costa) (poesia). Incluído em The myth of the world (The Dedalus Book of Surrealism 2). Dedalus Ltd. London. 1994. Escritura conquistada (Diálogos com poetas latino-americanos) (entrevistas). Letra & Música. Fortaleza. 1998. O começo da busca (Escrituras surrealistas na América Hispânica) (ensaio). Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1998. Poemas de amor (antologia poética), de Federico García Lorca. Ediouro Publicações. Rio de Janeiro. 1998. [tradução e prólogo] Delito por bailar o chá-chá-chá (contos), de Guillermo Cabrera Infante. Ediouro Publicações. Rio de Janeiro. 1998. [tradução] Alma em chamas (poesia). Letra e Música. Fortaleza. 1998. Dois poetas cubanos (ensaios), de Jorge Rodríguez Padrón. Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1999. [tradução] Três entradas para Porto Rico (ensaios), de José Luis Vega. Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 2000. [tradução] Alberto Nepomuceno (biografia). Edições FDR. Fortaleza. 2000. A nona geração (contos), de Alfonso Peña. Edições Resto do Mundo. Fortaleza. 2000. [tradução e prólogo] Cenizas del sol (poemas y esculturas). [com o escultor Edgar Zúñiga]. Ediciones Andrómeda. San José, Costa Rica. Setembro de 2001. Extravio de noites (poesia). Ed. Poetas de Orpheu. Caxias do Sul. 2001. O começo da busca - O surrealismo na poesia da América Latina (ensaio e antologia poética). Escrituras Editora. São Paulo. 2001. Nós/Nudos (25 poemas sobre 25 obras de Paula Rego), de Ana Marques Gastão. Editora Gótica. Lisboa, Portugal. 2004. [tradução] Un nuevo continente (Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América). Ediciones Andrómeda. San José, Costa Rica. 2004. Estudos de pele (poesia). Editora Lamparina. Rio de Janeiro. 2004. Homenagem à realidade (poesia), de Cruzeiro Seixas. Escrituras Editora. São Paulo. 2005. [organização e prefácio] A idade da escrita e outros poemas, de Ana Hatherly. Escrituras Editora. São Paulo. 2005. [organização e prefácio] Antologia poética, de Carlos Pellicer. En Sol Editora. Recife. 2005. [tradução - juntamente com Everardo Norões, Geraldo de Holanda, Ivo Barroso, Pedro Américo de Farias e Thiago de Mello] A condição urbana (antologia poética), de Juan Calzadilla. Ed. Letras Contemporâneas. Santa Catarina. 2005. [organização, tradução e prólogo] A sair: La máquina del mundo. Obra poética de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Bilíngüe [trad. Nídia Hernández]. Fundación Biblioteca Ayacucho. Caracas. 2005. [Organização, seleção, estudo introdutório, cronologia comentada e bibliografia] Claudio Willer (São Paulo, 1940). Poeta, ensaísta e tradutor. Sua formação acadêmica é como sociólogo e psicólogo. Depois de ocupar outros cargos e funções em administração cultural, foi assessor na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, responsável por cursos, oficinas literárias, ciclos de palestras e debates, leituras de poesia, de 1994 a 2001. Dezenas de participações em congressos, seminários, ciclos de palestras, apresentações públicas de autores etc., no Brasil e no exterior. Presidente da União Brasileira de Escritores, UBE, eleito em março de 2000 para o cargo que já exerceu em dois mandatos anteriores, entre 1988 e 92; reeleito em março de 2002; além disto, também secretário geral da UBE em outros dois mandatos (1982-86), e presidente do Conselho da entidade (1994-2000). Livros publicados Anotações para um Apocalipse, Massao Ohno Editor, 1964, poesia e manifesto. Dias Circulares, Massao Ohno Editor, 1976, poesia e manifesto. Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont, 1ª edição Editora Vertente, 1970, 2ª edição Max Limonad, 1986, tradução e prefácio. Jardins da Provocação, Massao Ohno/Roswitha Kempf Editores, 1981, poesia e ensaio. Escritos de Antonin Artaud, L&PM Editores, 1983 e sucessivas reedições, seleção, tradução, prefácio e notas. Uivo, Kaddish e outros poemas de Allen Ginsberg, L&PM Editores, 1984 e sucessivas reedições, seleção, tradução, prefácio e notas; nova edição, revista e ampliada, em 1999; edição de bolso, reduzida, em 2.000. Crônicas da Comuna, coletânea sobre a Comuna de Paris, textos de Victor Hugo, Flaubert, Jules Vallés, Verlaine, Zola e outros, Editora Ensaio, 1992, tradução. Volta, narrativa em prosa, Iluminuras, 1996. Lautréamont - Obra Completa - Os Cantos de Maldoror, Poesias e Cartas, edição prefaciada e comentada, Iluminuras, 1997. Estranhas experiências (poesia). Editora Lamparina. Rio de Janeiro. 2004. Como crítico e ensaísta, colaborou em suplementos e publicações culturais: Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, revista Isto É, jornal Leia, Folha de São Paulo, revista Cult, Correio Braziliense, Xilo etc, e projetos da imprensa alternativa como Versus e revista Singular e Plural. Filmografia e videografia, com destaque para Uma outra cidade, documentário de Ugo Giorgetti com os poetas Antonio Fernando de Franceschi, Rodrigo de Haro, Roberto Piva, Jorge Mautner, Claudio Willer, exibido na TV Cultura, São Paulo e na Rede Pública de TV, disponível em vídeo, produção SP Filmes e TV Cultura de São Paulo. Textos seus foram incluídos nas seguintes antologias e publicações coletivas: Alma Beat, L&PM Editores, 1985; Carne Viva, coletânea de poemas eróticos, org. Olga Savary, Achiamé, 1984; Folhetim - Poemas Traduzidos, org. Nelson Ascher e Matinas Suzuki, ed. Folha de S. Paulo, 1987, com uma tradução de Octavio Paz; Artes e Ofícios da Poesia, org. Augusto Massi, ed. Artes e Ofícios - Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, 1991; Sincretismo - A Poesia da Geração 60, org. Pedro Lyra, Topbooks, 1995; Antologia Poética da Geração 60, org. Álvaro Alves de Faria e Carlos Felipe Moisés, Editorial Nankin, 2.000; 100 anos de poesia brasileira - Um panorama da poesia brasileira no século XX, Claufe Rodrigues e Alexandra Maia, organizadores, O Verso Edições, Rio de Janeiro, 2001; Azougue 10 anos, publicação em livro de entrevistas, depoimentos e poemas publicados na revista Azougue, organização de Sergio Cohn, Azougue Editorial, Rio de Janeiro, 2004; Paixão por São Paulo Antologia poética paulistana (comemorativa dos 450 anos de fundação da cidade), Luiz Roberto Guedes, organizador, Editora Terceiro Nome, São Paulo, 2004. Traduzido e publicado no exterior, entre outros lugares, em QuintaIntermundia, Rassegna di Poesia Internazionale, 1992, coletânea por Márcia Teófilo; Modernismo Brasileiro und die Brasilianische Lyrik der Gegenwart, antologia da poesia brasileira por Curt Meyer-Clason, Druckhaus Galrev, Berlim, 1997; Narradores y Poetas de Brasil, coletânea de Floriano Martins, revista Blanco Móvil, primavera de 1998, México, DF; Brasil 2000, Antologia de Poesia Contemporânea Brasileira, org. Álvaro Alves de Faria, ed. Alma Azul e Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, Coimbra, Portugal, 2000; Alforja XIX - Revista de Poesía, México DF, fevereiro de 2002, edição dedicada à poesia brasileira, coordenação e seleção de textos de Floriano Martins, coordenação dos tradutores Eduardo Langagne, com os poemas Poética e Llegar allá, tradução de Adolfo Ruiseñor, o ensaio Poeta en São Paulo - Paranóia de Roberto Piva, tradução de Eduardo Langagne, além de entrevista, depoimento e textos de apresentação; Cena poética - scène poétique, coletânea bilíngüe de poetas do Brasil e da Bretanha, tradução de Luciano Loprete, organização de Celso de Alencar e Yvon le Man, editora Limiar, Cena - Centro de Encontro das Artes, São Paulo, 2003; Un nuevo continente - Antologia del Surrealismo en la Poesía de Nuestra América, antologia de poesia surrealista latino-americana, organização de Floriano Martins, vários tradutores, Ediciones Andrómeda, San José, Costa Rica, 2004. Poemas e depoimentos também em revistas literárias: Poesia Sempre, Azougue, Alguma Poesia, Anto (Portugal), Continente Sul-Sur, Orion etc. Bibliografia crítica formada por ensaios, resenhas, reportagens e citação em obras de consulta por Afrânio Coutinho, Alfredo Bosi, José Paulo Paes, Luciana Stegagno-Picchio, entre outros.