CESO 2009 - CCHLA/UFRN

Transcripción

CESO 2009 - CCHLA/UFRN
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DE NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
GRUPO DE PESQUISA CULTURA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO
RELATÓRIO DO III CICLO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS
SOCIAIS
(CESO 2009)
NATAL / 2009
3
EXPEDIENTE
Reitor
José Ivonildo do Rêgo
Vice-Reitora
Ângela Maria de Paiva Cruz
Pró-Reitoria de Pesquisa
Maria Bernardete Cordeiro de Sousa
Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Edna Maria da Silva
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Márcio Moraes Valença
Departamento de Ciências Sociais
Irene Alves de Paiva
Realização
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Orivaldo Pimentel Lopes Júnior
Coordenador
Alexsandro Galeno Araújo Dantas
Vice-coordenador
Apoio e Organização
Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação
José Willington Germano
Coordenador
Vânia de Vasconcelos Gico
Vice-coordenadora
Comissão Organizadora do III CESO
Adriana Aparecida de Souza
Anderson Cristopher dos Santos
Dalcy da Silva Cruz (Coordenação)
Ana Maria Morais Costa
José Gllauco Smith Avelino de Lima
Gilcerlândia Pinheiro Almeida Nunes
Lenina Lopes Soares Silva
Mércia Maria de Santi Estácio
Simone Cabral Marinho dos Santos
Dalliva Stephani Eloi Paiva
Joicy Suely Galvão da Costa
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(HOMENAGEM A CLADUDE LÉVI-STRAUSS)
RELATÓRIO DO III CICLO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS
SOCIAIS
Relatório apresentado à Coordenação do
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais como comprovante e prestação de
contas da realização do evento de 7 a 9 de
outubro de 2009.
Natal/2009
5
A universidade no século XXI será
certamente menos hegemônica, mas não
menos necessária que o foi nos séculos
anteriores. A sua especificidade enquanto
bem público reside em ser ela a instituição
que liga o presente ao médio e longo prazo
pelos conhecimentos e pela formação que
produz e pelo espaço público privilegiado de
discussão aberta e crítica que constitui.
Boaventura de Sousa Santos
6
PROGRAMAÇÃO
III CESO 2009 – HOMENAGEM A CLAUDE LÉVI-STRAUSS
Abertura:
LÉVI-STRAUSS: UM PENSADOR DO SÉCULO XX
Dia 07/10 (quarta-feira) 19h Auditório Consequinho
CCHLA
Mesa-Redonda:
Professor doutor Vanderlan Francisco da Silva (UERN)
Professora doutora Wani Pereira Grecom/UFRN
Mediadora:
Professora doutora: Dalcy da Silva Cruz
-
Dia 08/10 (quinta-feira) – MiniCursos – 14 às 18h
MC1 - Avaliação e formação no ensino de Ciências Sociais e
Humanas - Auditório C - CCHLA
Lenina Lopes Soares Silva
José Gllauco Smith Avelino de Lima
[email protected]
MC2 - Propriedade Intelectual e Ciências - Auditório de Geografia CCHLA
WELLINGTON FONTES MENEZES (Mestrando em Economia pela
Universidade Estadual Paulista FCL-Ar/UNESP)
[email protected]
MC3 – Biodanza: as razões do corpo na dança da vida - Auditório A
- CCHLA
Kenia Almeida Nunes (Graduanda em Ciências Sociais e bolsista do
Programa de Educação Tutorial (PET) pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte) [email protected]
Denise Salgado (Graduanda em educação Física pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte e praticante de Biodanza)
MC4 – Exclusão digital na era da Internet - Sala C6 – Setor II
MARIA APARECIDA RAMOS DA SILVA – MESTRANDA PPGCS
Carga horária 4 horas
MC5 – Avaliação de Políticas Públicas - Auditório de Psicologia CCHLA
Lincoln Moraes de Souza
[email protected]
7
Dia 09/10 (sexta-feira) Grupos de Trabalho – 14/18h
Salas do Setor II:
GT1 – História Oral, Memória e Identidades - Sala D2 – Setor II
JOSÉ ANCHIETA BEZERRA DE MELO
(Mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em
Sociologia da UFPB).
JOSÉ MÁRCIO DA SILVA VIEIRA
(Mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais da UFCG).
[email protected]
GT2 – Subjetividades, práticas sociais e contemporaneidade - Sala
E2 – Setor II
Julimar Gonçalves (UFRN); Rejane Guedes (UFRN); Vergas Vitória
Andrade (UFRN)
[email protected]
GT3 – Momento de reflexão: pesquisas realizadas ou em
andamento - Sala F2 - Setor II
Gilcerlândia Pinheiro Almeida Nunes – Mestranda do PPGCS-UFRN
Maria Lúcia Bastos Alves – Profª Drª. Docente PPGCS-UFRN
Rainolenes Melo Silva – Mestrando do PPGCS-UFRN
[email protected]
GT4 – Segurança Pública com enfoque no sistema penitenciário
brasileiro – Sala F3 – Setor II
Profª. Ms. Hilderline Câmara de Oliveira – UFRN/FACEX
Ms. Eduardo Franco C. Cruz – UFRN/PMRN
Profª. Ms. Joseneide S. Pessoa dos Santos – UFRN/FACEXGT
[email protected]
GT5 – Balcão TCC REUNI: práticas e experiências na elaboração da
monografia em Ciências Sociais – Sala G1 – Setor II (CANCELADO)
[email protected]
GT6 – Educação e Diversidade – Sala H7 – Setor II
Simone Cabral Marinho dos Santos (Mestre em Sociologia
UFRN/UERN)
Ana Maria Morais Costa- Especialista em Antropologia UFRN/UERN
[email protected]
[email protected]
GT7 – Imagem, Cultura e Sociedade – Sala H8 – Setor II
8
Prof. Dr. Itamar de Morais Nobre
[email protected]
GT8 – Desenvolvimento, Políticas Públicas e Terceiro Setor – Sala
A4 – Setor II
Prof. Dr. João Bosco Araújo da Costa (UFRN)
Profª. Drª. Maria Ivonete Soares Coelho (UERN/UFRN)
[email protected]
GT9 – Tecendo e vivenciando histórias de violência – Sala H10 –
Setor II
Drª. Teresa de Lisieux Lopes Frota (IBRAPESUVA)[email protected]
Ms. Adriana Aparecida de Souza (UFRN)
GT 10 – Sociedade, Memória e Educação no Brasil - Auditório A CCHLA
Prof. Dr. José Willington Germano (UFRN)
Profa. Dra. Dalcy da Silva Cruz (UFRN)
[email protected]
Encerramento:
LÉVI-STRAUS: NATUREZA E CULTURA
Dia 09/10 (sexta-feira)19h – Auditório Consequinho CCHLA
Mesa-Redonda:
Professora doutora Dalcy da Silva Cruz (UFRN) e
Professor doutor Ailton Siqueira Fonseca (UERN)
Mediação:
Professora: Simone Cabral Marinho dos Santos (UERN/UFRN)
CESO EM SOCIEDADE (Atividade desenvolvida fora da UFRN
Coordenada pelo Grupo de Pesquisa Cultura Política e Educação)
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SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO
10
2 ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O III CESO
12
2.1 ABERTURA DO EVENTO
14
2.2 MINICURSOS
22
2.3 GRUPOS DE TRABALHO
27
2.4 ENCERRAMENTO DO EVENTO
336
2.5 CESO EM SOCIEDADE
357
3 RESULTADOS III CESO/2008
358
3.1 COMPARATIVO DE PRODUÇÃO ENTRE O I, O II CESO E DO
359
III CESO
4 III CESO: PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO
360
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
361
REFERÊNCIAS
362
ANEXOS
363
ANEXO 1 PROJETO DO CESO
ANEXO 2 MODELO DE CERTIFICADO
ANEXO 3 LISTA DE PARTICIPANTES
ANEXO 4 CD ROOM CÓPIA DO SITE III CESO
ANEXO 5 CD ROOM ANAIS III CESO
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1 APRESENTAÇÃO
Este Relatório Geral do III Ciclo de Estudos em Ciências Sociais (III
CESO)1 encerra a participação do Grupo de Pesquisa Cultura, Política e
Educação como organizador deste evento. Em sua terceira edição o CESO
trouxe mais uma vez a preocupação do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais (PPGCS) com o compartilhamento e a discussão do
conhecimento produzido por professores, pesquisadores e alunos do
Mestrado e do Doutorado. De igual modo, de professores e alunos do Curso
de Graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura) e dos
diversos Grupos de Pesquisa do Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ressaltamos nesta
edição, a participação direta de professores do PPGCS/UFRN, bem como de
professores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
No ano de 2009, o antropólogo Claude Lévi-Strauss foi o
homenageado. Nascido no ano de 1908, o autor completou 100 anos, em
2008. É autor de uma obra direcionada para compreender o homem, a
natureza e a cultura de forma indissociada da construção de saberes. No III
CESO, Lévi-Strauss e seu legado, foram discutidos com o intuito de
reafirmá-los como partes indissociáveis de uma ciência humana e social
mais voltada para as questões transdisciplinares que envolvem a ciência e a
produção de conhecimentos em um mundo globalizado.
O III CESO ocorreu em Natal/RN, nas dependências do Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), do Campus Central da UFRN,
nos dias 07, 08 e 09 de outubro de 2009 e também em espaços
selecionados para as atividades do Projeto de Extensão CESO em
Sociedade sob a coordenação do Grupo de Pesquisa Cultura, Política e
Educação. O evento é uma promoção anual do Programa de PósGraduação em Ciências Sociais, com o objetivo de compartilhar os
conhecimentos produzidos pelos estudantes do PPGCS e da Graduação em
Ciências Sociais (Bacharelado e Licenciatura) da UFRN, possibilitando
1
Relatório elaborado/organizado, a partir do site do III CESO, www.ccha.ufrn.br/ceso .
11
também o intercâmbio de conhecimento com pesquisadores de distintas
áreas e de outras instituições.
Destacamos que o ISSN do CESO é 1982 7210. Informamos que o
evento ainda não tem Qualis e que para isto, dentre outras exigências, terá
que ser informado no Relatório DATACAPES do PPGCS.
Deste modo, o CESO mais uma vez promoveu a integração no
espaço acadêmico de estudiosos das mais diferentes temáticas e, destes,
com a comunidade externa.
A realização do evento compõe a agenda de atividades do Programa
de Pós-Graduação em ciências sociais e organização teve o efetivo apoio do
Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação, do Departamento de
Ciências Sociais com a colaboração de professores e alunos da PósGraduação e da Graduação em Ciências Sociais da UFRN, e de professores
da UERN. A coordenação da comissão organizadora foi feita pelos
professores Dalcy da Silva Cruz e José Willington Germano.
12
2 ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O III CESO/2009
A abertura do III Ciclo de Estudos em Ciências Sociais realizou-se
no dia 07 de outubro de 2008, às19 horas, no Auditório de Ciências Sociais
do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN, com a presença
de professores e alunos da Graduação e da Pós-Graduação em Ciências
Sociais. Nesta ocasião, aconteceu uma homenagem dos organizadores à
professora Dalcy da Silva Cruz por sua dedicação ao CESO desde sua
primeira edição em 2007.
Na abertura foi realizada uma mesa-redonda intitulada LÉVISTRAUSS: UM PENSADOR DO SÉCULO XX que teve como debatedores
os professores: Vanderlan Francisco da Silva (UERN) e Wani Pereira
(Grecom/UFRN) com a mediação da professora Dalcy da Silva Cruz
(UFRN). Os dois professores fizeram suas apresentações2 sobre a obra de
Claude Lévi-Strauss e em seguida foi feito um debate que durou
aproximadamente 50 minutos e contou com a participação de professores e
alunos da UFRN que levantaram questões sobre a atualidade do
pensamento de Claude Lévi-Strauss. Para encerrar a mediadora apontou as
diferenças de estilo de leitura das duas apresentações, quais sejam uma
mais imagética, informativa, pontual e outra mais voltada ao estilo de
produção de Lévi-Strauss.
No encerramento, no dia 09 de outubro de 2009, no já referido
auditório, foi também realizada uma mesa-redonda intitulada: LÉVISTRAUS: NATUREZA E CULTURA que teve como apresentadores a
Professora doutora Dalcy da Silva Cruz (UFRN) e o Professor doutor Ailton
Siqueira Fonseca (UERN), sob a coordenação da professora da UERN e
doutoranda em Ciências Sociais da UFRN, Simone Cabral Marinho dos
Santos e com a colaboração do professor do PPGCS Homero Costa.
2
Na Revista Inter-legere edição 6 será publicada na íntegra a comunicação feita pelo professor
Vanderlan Francisco da Silva (UERN): www.cchla.ufrn.br/interlegere e nos Anais do III CESO:
www.cchla.ufrn.br/ppgcs
13
No encerramento destacamos as apresentações culturais a cargo do
Grupo Octo Voice da Escola de Música da UFRN e do poeta Antônio
Francisco, historiador e cordelista da Academia Brasileira de Cordel,
ocupante da cadeira de Patativa do Assaré.
As demais atividades foram realizadas nos dias 08 e 09 de outubro
nos espaços dos Auditórios do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
(CCHLA) e em algumas salas de aulas do Setor II, do Campus Central da
UFRN. Constaram da programação minicursos e Grupos de Trabalho.
Também foram realizadas atividades extensionistas por alunos de
graduação e de Pós-Graduação em Ciências Sociais/UFRN, denominadas
de CESO em sociedade, realizadas em vários espaços educativos em Natal
e em outras cidades do Rio Grande do Norte.
A estrutura de organização contou com a participação ativa de 08
alunos do PPGCS/UFRN, 2 professores da UFRN e 3 da UERN (sendo 2
alunos do PPGCS) e 2 alunos da Graduação em Ciências Sociais, que
planejaram a programação do evento, criaram o site, fizeram as inscrições,
organizaram os anais, expediram certificados e cuidaram do atendimento
aos participantes durante o evento.
Os
equipamentos
técnicos,
tecnológicos
e
de
expediente
disponibilizados para o evento foram os do Grupo de Pesquisa Cultura,
Política e Educação, do PPGCS e alguns dos próprios alunos que
participaram da Comissão Organizadora.
Os espaços físicos solicitados para a realização do evento foram e
são adequados para tal. A capacidade instalada, de maneira geral, excedeu
a demanda, dada a baixa participação de alunos da Graduação e
particularmente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais,
organizador do evento. Compreendemos que se deve a partir desta
constatação se buscar aumentar tal participação tendo em vista o objetivo do
evento e a quem e a quê se destina.
Quanto às despesas financeiras a de maior valor referia-se a
passagens e hospedagem dos participantes externos para abertura e
encerramento do evento e estas foram cobertas pelo PPGCS/UFRN.
14
A Comissão Organizadora nesta edição optou por não arcar com as
despesas de divulgação, que foi feita apenas em mídia eletrônica e
impressa, através de cartazes e de um banner reaproveitados. As inscrições
e os certificados foram exclusivamente feitos em meio eletrônico, visando
diminuir os custos do evento, tendo em vista que não são cobradas
inscrições.
2.1 ABERTURA DO III CESO: LÉVI-STRAUSS: O PENSADOR DO
SÉCULO XX
Dia 07/10 (quarta-feira) 19h – Auditório Consequinho - CCHLA
Mesa-Redonda:
Professor doutor Vanderlan Francisco da Silva (UERN)
Professora doutora Wani Pereira (GRECOM/UFRN)
2.1.1 Comunicação Professor Doutor Vanderlan Francisco da Silva
LÉVI-STRAUSS, UM PENSADOR ENTRE TRÊS SÉCULOS
Dr. Vanderlan Silva
Este texto procura discutir as principais idéias DE Claude Lévi-Strauss,
antropólogo francês, cuja influência se faz notar nos mais variados campos
de estudos das Ciências Humanas. Lévi-Strauss produziu uma obra vasta e
densa, partindo das contribuições de autores clássicos da Filosofia, da
Sociologia, Antropologia, Linguistica, Geologia, Psicanálise, entre outros, às
quais incorporou também contribuições de estudiosos contemporâneos de
um vasto leque de disciplinas. Foi a partir dessa junção de várias influências
intelectuais que ele elaborou uma nova perspectiva no campo dos estudos
da cultura, tendo como preocupação sempre entender as singularidades
sociais, ao mesmo tempo em que pautava suas pesquisas pela busca de
elementos universais presentes na configuração dos significados sociais. A
densidade e a influência de sua obra alcançaram patamares que poucos
estudiosos das Ciências Humanas conseguiram ao longo do último século.
Isso certamente se deu graças à força de suas idéias e à originalidade da
perspectiva teórica que ele defendeu. O Estruturalismo teve grande força
durante o século XX, entretanto, poucos foram os autores estruturalistas que
galgaram o patamar atingido por Lévi-Strauss ao longo de sua extensa
trajetória intelectual e existencial, o que demonstra como este é um autor
singular.
O que faz com que alguém possa ser considerado um gênio? O que leva um
pesquisador e escritor a ocupar um lugar de relevância em um meio de
tanta competição e desafios como o meio acadêmico europeu?
Lévi-Strauss é um dos mais admiráveis, produtivos e influentes pensadores
do século XX. A disciplina que escolheu e a teoria que ajudou a construir,
15
não pareciam, inicialmente, ajudar-lhe muito a se transformar em um grande
pensador do século XX. Todavia, aquilo que parecia obstáculo, foi
enfrentado com muito esforço, disciplina e ousadia. No início da carreira
acadêmica, quando manifestava o desejo de estudar os indígenas
brasileiros, foi desaconselhado por um diplomata brasileiro residente em
Paris, que lhe dissera, na década de trinta do século passado, que ele não
iria encontrar índios no Brasil, pois esses tinham desaparecido. Esse
conselho representava uma percepção etnocêntrica da elite brasileira em
relação aos indígenas. Mesmo vindo de um brasileiro, tal ''conselho'' não
chegou a influenciar Claude Lévi-Strauss, que sendo professor na USP
naquela década, fez-se também etnógrafo, mergulhando na floresta
amazônica. Lévi-Strauss buscava não uma humanidade perdida nos mais
longínquos recantos do mundo, situada à margem da sociedade ocidental.
Ao contrário, quem já leu Tristes Trópicos, bem pôde ver que esse jovem
etnógrafo, até então uma promessa da antropologia, encontrava ali vários
povos originais, que construíam e seguiam outros modelos de existência,
sem que nada ficassem a dever a outras populações, inclusive às sempre
autocelebradas sociedades de modelo europeu. Muitos foram os
pesquisadores que antes e depois de Lévi-Strauss tiveram experiências
semelhantes, sem que possamos lhes atribuir a mesma capacidade de
compreensão. As várias expressões de humanidade que Lévi-Strauss nos
revela, em parte se deve a fineza do seu olhar, à generosidade do seu
espírito.
Se a experiência etnográfica tida no Brasil permaneceu como sendo a mais
expressiva de sua vida, foi sobretudo com sua ida para os Estados Unidos,
por ocasião da Segunda Guerra mundial, fugindo da França recém invadida
pelos nazistas, que a perspectiva estruturalista por ele abraçada e
construída ganharia corpo.
Uma das grandes virtudes de Lévi-Strauss foi a de ser um grande leitor. Em
sua obra, é sempre possível cruzarmos com os grandes clássicos da
Antropologia, a exemplo de Lewis Morgan, James Frazer, Marcel Mauss,
Malinowski e Racliffe-Brown; da Sociologia: Durkheim, Spencer, Robert
Hertz e da Economia e Filosofia, tal como Karl Marx, da Psicanálise, da
Linguistica etc.
Antes de ser um grande autor, Lévi-Strauss é um grande leitor, desses
atentos e dispostos a sempre encontrar contribuições que façam suas
reflexões progredirem. A sua obra ―As estruturas Elementares do
Parentesco'', originalmente sua tese de doutorado, é uma prova concreta
desse legado de leitura e de diálogo com autores fundadores da
Antropologia e da Sociologia, mas também com os autores contemporâneos
dessas e de outras disciplinas.
Nesta obra, Lévi-Strauss apresenta uma interpretação inovadora e
surpreendente à questão da relação entre natureza e cultura. Ao contrário de
muitos que o precederam, ele não procurou pensar o homem como um ser
afastado da natureza, como se esta restasse tal qual uma herança da qual o
homem não podia fugir, embora fizesse de tudo um pouco para diminuir sua
influência. Para Lévi-Strauss, o homem é uma bela construção, nascida
deste entrecruzamento entre a natureza e a cultura. Para ele não há um
homem no sentido antropológico que seja apenas natural. A natureza, bem
16
disse o pai do Estruturalismo, oferece ao homem e as mulheres elementos
dos quais eles não podem fugir, sob o risco de não poder se constituir
enquanto ser cultural. Diferentemente de outros animais, no caso humano, a
proposição da natureza não pode ser confundida com determinação, pois se
os elementos naturais são universalmente dispostos, a configuração que
eles assumirão dependerá dos valores que cada grupo social elabora para
lhes atribuir sentidos, significados. Na natureza, há uma ordem que se
apresenta regulando a vida dos animais, das plantas, das rochas etc. O
homem não é alheio a isso, mas no seu caso, a natureza lhe dá a vida, mas
não ordena a sua existência.
A constância e a regularidade existem, a bem dizer, tanto na
natureza quanto na cultura. Mas na primeira aparecem
precisamente no domínio em que na segunda se manifestam
mais fracamente, e vice-versa. Em um caso, é o domínio da
herança biológica, em outro, o da tradição externa. Não se
poderia pedir a uma ilusória continuidade entre as duas ordens
que explicasse os pontos em que se opõem (LÉVI-STRAUSS,
1982, p. 46).
No reino da cultura, ela é fruto do conjunto de valores classificatórios que
são cultural e socialmente estabelecidos. Vejamos os eventos da proibição
do incesto e da violência. Entre os animais, onde quer que se vá,
observamos que esses, via de regra, jamais copulam e se reproduzem com
os seus genitores. Algo semelhante ocorre com os conflitos entre animais de
uma mesma espécie. Como observam Girard (1990) e Lorenz (2003), jamais
um animal da mesma espécie mata o outro durante um conflito. No caso da
cultura, ao contrário da natureza, não há uma espécie de freio que impeça o
incesto, inversamente, como nota Lévi-Strauss, há mesmo um estímulo, um
desejo natural para que isso ocorra. A mesma ausência de impedimento se
mostra presente nos casos dos conflitos, da violência, cujas conseqüências
mais graves dos embates relacionais podem conduzir à morte. Portanto,
também aqui, inexiste um freio natural, mas não uma ordem que regule, pois
a sociedade, a cultura, tomam para si tal responsabilidade, criando
mecanismos que possibilitem a ordenação da existência. Assim, a proibição
do incesto cria a necessidade da aliança entre grupos de indivíduos, na
medida em que o sujeito A não podendo contrair uma esposa no seio do
próprio grupo (a não ser que esteja disposto a enfrentar todo tipo de coerção
social), ele é obrigado a buscar sua parceira em outro grupo. Como afirma
Mauss, autor no qual Lévi-Strauss foi buscar a idéia de contrato a partir das
trocas, ―Recusar-se a dar, deixar de convidar ou recursar-se a receber
equivale a declarar guerra; é recusar a aliança e a comunhão‖ (1974: 57-8).
Mais à frente, Mauss se refere à importância das trocas, afirmando:
―misturam-se as almas nas coisas; misturam-se as coisas nas almas;
misturam-se as vidas, e é assim que as pessoas e as coisas misturadas
saem cada qual de sua esfera e se misturam: o que é precisamente o
contrato e a troca‖ (Idem: 1974:71). Assim, na medida em que um indivíduo
é levado a participar de um circuito de trocas, ele não pode copular com sua
irmã e recebe uma mulher de outro grupo, sendo obrigado a ofertar sua irmã
nesse jogo de relações sociais e de trocas sexuais. E é sempre importante
17
lembrar, que no jogo das relações o mais importante não são os atores, mas
as regras.
Portanto, a proibição do incesto, tal como pensada por Lévi-Strauss,
constitui uma intervenção da cultura na natureza e essa intervenção se faz a
partir da construção de um edifício fundador da vida cultural, qual seja, o
sistema de trocas que para o antropólogo francês se faz sempre a partir da
troca de mulheres, de mensagens e de bens e serviços. Para ele, essa é
uma regra cuja manifestação é universal, mesmo que assuma
singularidades particulares nas mais variadas culturas.
A obra de Levi-Strauss, numerosa e densa, expressa bem a virtude de um
espírito curioso, que não se contentou em restar ''prisioneiro'' das fronteiras
disciplinares. Mas do que um antropólogo, ele é um dos grande pensadores
do Século XX, desses intelectuais raros, cuja influência se espraia muito
além da disciplina que
viu nascer suas reflexões. Em sua obra,
encontramos influencias dos mais variados domínios científicos, desde as já
citadas Antropologia e Sociologia, passando pela Economia, Psicanálise,
Filosofia e Linguistica e chegando até à Geologia. Ler Lévi-Strauss é um
desafio e um convite a percorrer caminhos nem sempre tão fáceis de serem
traçados, mas certamente lê-lo e relê-lo, constitui um convite à reflexão
provocante e ao crescimento intelectual. Não dá para ler suas obras e ficar
indiferente às suas reflexões, aos seus questionamentos, à sua respeitosa,
densa, sútil e por vezes corrosiva crítica aos tabus entrincheirados dos
modelos ocidentais.
A originalidade de um autor, muitas vezes consiste em oferecer ao público
acadêmico uma nova leitura para velhas questões. No caso de Lévi-Strauss,
ele foi muito além disso, não apenas apresentou novas interpretações às
obras de Durkheim e Marcel Mauss, de Morgan, Frazer, entre outros, mas a
partir delas criou uma nova leitura das cultura e das sociedade humanas. O
prefácio que elaborou à coleção Sociologia e Antropologia, publicada em
vários países, inclusive no Brasil, onde encontramos textos da magnitude de
o Ensaio sobre a Dádiva, de Marcel Mauss é uma apresentação tão
competente e refinada quanto à própria obra do sobrinho de Durkheim. Do
mesmo modo, a entrevista que concedeu sobre a obra de Jean de Léry
(Viagem à terra do Brasil) e publicada como prefácio à edição francesa de
1994, repleta de reflexões refinadas e de emoções que jorram enquanto fala
do fato de ter percorrido, séculos depois, parte dos mesmos lugares trilhados
pelo cronista do século XVI. Essas duas obras, entre tantas outras que ele
produziu, acrescentam contornos singulares à sua produção, difíceis de
serem encontrados em outros autores e obras. Paralelamente, são
testemunhos do espírito vivo, da capacidade reflexiva e da paixão com os
quais o pai do estruturalismo antropológico sempre fez Antropologia e
pensou o outro.
Linguagem e Sociedade: Foi na Linguística que Lévi-Strauss foi buscar
uma das principais contribuições à Antropologia Estruturalista. Para ele, a
Linguistica oferece um exemplo de ciência a ser seguido pela Antropologia,
pois ela estuda fenômenos que em muito se assemelham às características
dos fenômenos estudados pelas Ciências Sociais. Uma primeira semelhança
é que os fenômenos linguisticos (fonemas) se situam a nível do inconsciente
e segunda, se constituem como um objeto independente do observador (o
18
que faz lembrar os fatos sociais como coisas, tal como defendido por
Durkheim). Ora, aquilo que é dado a pensar, e que independente do
observado, aparece como um desafio, uma incitação à racionalidade
humana, não a racionalidade em oposição à afetividade, mas enquanto
refinamento da capacidade humana de criar o mundo enquanto
representação simbólica. Pensar, desejar entender, construir, é querer
classificar, e classificando, ordenamos o mundo que nos rodeia, mundo que
ajudamos a formar a cada dia, como autores e atores, paradoxalmente
silenciosos e barulhentos, herdeiros de tradições e criadores de inovações.
Continuando a pensar o paralelo entre Linguistica e Antropologia, os
fonemas, tal como os fatos sociais, ganham vida, sentido, a partir dos
conjunto de relações que estabelecem entre si e da estrutura que os
estruturam. Para Lévi-Strauss, ''As relações sociais são a matéria prima
empregada para a construção dos modelos que tornam manifesta a própria
estrutura social'' (1967:316). E nunca é de mais lembrar, que para ele, a
estrutura não se reduz a algo empírico, tal como pensava Radcliffe-Bronw,
para quem a estrutura social era o resultado do conjunto de relações sociais.
Para Lévi-Strauss a estrutura é uma construção do espirito, não de um
individuo, mas de uma coletividade, baseada em modelos conscientes e
inconscientes. Os modelos conscientes, também chamados de pobres, de
nativos, apontam para a reprodução imediata da vida social, para a
manutenção das regras sociais. Ao contrário do que possa parecer num
primeiro momento para um leitor desavisado, os modelos conscientes não
devem ser rejeitados pelo pesquisador, pelo contrário, eles representam vias
de acesso aos modelos inconscientes; são documentos, contribuições,
portas de entradas para os níveis profundos e inconscientes de uma dada
sociedade. Mesmo Clifford Geertz, crítico de Lévi-Strauss e do
Estruturalismo, que, empregando a seu modo a idéia de interpretar os
significados nativos, parece se aproximar das idéias francesas em algum
momento.
O truque é não se deixar envolver por nenhum tipo de empatia
espiritual com os seus informantes. Como qualquer um de nós,
eles também preferem suas almas como suas, e, de qualquer
maneira, não vão estar muito interessados neste tipo de
exercício. O que é importante é descobrir que diabos ele acham
que estão fazendo (GEERTZ, 1997, p. 89).
São os modelos que organizam, classificam e dão sentido às relações
sociais. Por sua vez, eles estão diretamente relacionados à estrutura, essa
espécie de espirito imanente da mente humana que organiza a existência e
produz em cada um a sensação de que fazemos parte de uma grande
ordem social.
Certamente uma das afirmações mais cara à Antropologia Estruturalista é
aquela que assevera ''a noção de estrutura não precisa de tempo'' (1967:
324), pois ela se situaria para além do tempo de cada geração ou sociedade.
Esse grande ''espírito organizador'' se constitui para Lévi-Strauss como
resultado do poder de classificar, de atribuir sentido à existência; poder esse
que se encontra impregnado em toda e qualquer sociedade. Ora,
perspectiva semelhante é defendida por Gibert Durand, em ''As Estruturas
19
Antropológicas do Imaginário'', quando chama atenção para a existência
universal de imagens imperativas (ou imagens arquetípicas), fundadoras da
psiquê humana, e que uma vez tomadas pelas cultura, ganhando assim
significados particulares, formariam o que ele nomina de ''trajeto
antropológico''.
No fundo, as rejeições e críticas feitas à noção de estrutura defendida por
Lévi-Strauss parecem repousar na não aceitação da existência de elementos
não culturais, que de um modo ou de outro se fazem presentes na
configuração das relações sociais.
Uma outra afirmação polêmica é a de que os mitos independem dos
homens. É claro que se os homens não existissem como espécie, os mitos
também não estariam por aqui. Todavia, o mito se insere nessa perspectiva
de um fenômeno que num certo sentido independe do observador. Assim,
não somos nós que damos vidas aos mitos, ao contrário, são os mitos que
se servem dos acontecimentos históricos e culturais para ajudar a organizar
a vida social, para reordenar configurações e indicar caminhos. Os mitos, tal
como a estrutura, independem do tempo, e não por acaso, pois são
expressões desse grande ''espírito organizador''.
Para além das divergências entre asseclas e críticos do antropólogo francês
centenário, existe uma ''quase unanimidade'' em reconhecer que LéviStrauss é um dos mais importantes antropólogos do século XX, e porque
não dizer, um dos grandes pensadores dos últimos séculos. Nascido há
cento e um anos, ele continua fisicamente presente entre nós e suas idéias
permanecem como referências importantes no campo das Ciências Sociais
e fontes de estudo para todos àqueles que procuram estudar as culturas. Na
sua trajetória de etnógrafo, professor e escritor, Lévi-Strauss parece ter
incorporado à sua trajetória uma marca tão singular aos pioneiros da
Antropologia, pois foi com o espírito aventureiro e sempre trilhando
caminhos que o ajudassem a entender a universalidade do espírito humano
que construiu uma obra ''incontournable''.
Pela dimensão da obra que ergueu e pelo impacto que suas idéias tiveram
no cenário intelectual mundial ao longo das últimas décadas, é possível se
afirmar, sem hesitações, que Claude Lévi-Strauss é um dos grandes
pensadores do Século XX, e ele o é, certamente, com um espírito do Século
XIX.
Eis um autor, singular, desses cuja leitura da obra nos faz pensar
profundamente, ajudando a quebrar paradigmas. As idéias do pai do
estruturalismo tiveram e continuam tendo grande influência no campo de
estudos antropológicos e de muitas outras disciplinas que procuram
compreender, perceber e visualizar os segredos desse grande espírito
organizador, que em uma palavra, pode ser dito: humano.
Ao contrário de certos modismos comuns no mundo acadêmico, o
Estruturalismo nunca se constituiu em uma ''religião científica'', fechada ao
diálogo com outras disciplinas e formas de organizar e explicar a vida. Ao
contrário, o Estruturalismo de Lévi-Strauss nasce nesse carrefour de
encontros com outras ciências e com outros povos, para além daqueles do
velho continente ou dos grandes centros urbanos.
Lévi-Strauss não hierarquiza sociedades, nem formas de classificação; ele
coloca lado a lado razão e sensibilidade, lógica e intuição. Para ele o homem
20
é o mesmo, onde que que tenha existido, onde quer que vá, embora se
apresente sempre de formas singulares, em consonância com os valores
particulares da cultura da qual participa. Somos todos membros de
sociedades que formam um único clube. Caminhamos em muitas direções,
cada grupo/povo/sociedade repleto de sentidos e de espíritos, razões e
sensibilidades que nos ajudam a organizar a existência, a dar sentido à vida.
Ao propor isso e pela força dos argumentos que expôs, além da erudição
sempre presente em seus textos, Lévi-Strauss acabou por se constituir como
um dos mais refinados representantes de uma disciplina cuja vocação
principal, desde os seus primórdios, sempre foi tentar entender o humano
em toda a sua plenitude, a partir de suas mais variadas formas de expressão
e de ordenação do mundo.
Há uma tocante passagem em Tristes Trópicos, essa obra, que como já
disse alguém, ''condensa toda a beleza de uma obra magistral,
inclassificável em sua grandeza humana'' e que vale a pena sempre retê-la,
pela atualidade e profundidade com que se apresenta, exatamente por
apontar para aquilo que funda a vida social a cada instante, aqui e alhures.
Nenhuma sociedade é perfeita. Por natureza, todas comportam
uma impureza incompatível com as normas que proclamam, e
que se traduz de modo concreto numa certa dose de injustiça, de
insensibilidade, de crueldade. Descobre-se então que nenhuma
sociedade é fundamentalmente boa; mas nenhuma é inteiramente
má. Todas oferecem certas vantagens a seus membros, tendo-se
em conta um resíduo de iniquidade cuja importância parece
relativamente constante e que corresponde talvez a uma inércia
específica que se contrapõe, no plano da vida social, aos
esforços de organização (LÉVI-STRASS, 1996, p. 365).
E mais, ''Nada é definitivo; podemos tudo recomeçar. O que foi feito e falhou
poder ser refeito: 'A idade do ouro que uma cega superstição colocara atrás
[ou na frente] de nós, está em nós''. A fraternidade humana ganha um
sentido concreto ao apresentar-nos, na tribo mais pobre, nossa imagem
confirmada e uma experiência da qual, junto com tantas outras, podemos
assimilar as lições. Inclusive reencontraremos nestas um antigo frescor. Pois
sabendo que há milênios o homem só conseguiu se repetir, alcançaremos
essa nobreza do pensamento que consiste, para além de todas as
repetições, em tomar como ponto de partida de nossas reflexões a grandeza
indefinível dos começos'' (Idem).
O percurso intelectual de Lévi-Strauss e as contribuições que deu às
Ciências Humanas são um fragmento desse percurso humano, onde tudo se
repete e onde tudo pode ser inovado. Como poucos, ele se fez tão grande
como muitos dos pensadores, filósofos e antropólogos que o precederam.
Como pensador raro, ele se fez e faz singular, inovador e criador de uma
linha de reflexão refinada, que encontra, entre muitos de nós, críticos,
súditos e admiradores do legado que ele nos oferece.
REFERÊNCIAS
Cronos: Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da
UFRN, v. 9, n. 2 (jul./dez.2009) Natal (RN): EDFURN – Editora da UFRN,
2000.
21
DOSSE, François. História do Estruturalismo I. O campo do signo,
1945/1966. tradução Alvaro Cabral, São Paulo: Ensaio; Campinas: Editora
da Unicamp, 1993.
DURAND, Gilbert. Les Structures Anthropologiques de l'imaginaire.
Introduction à
L’archétypologie générale, 11e Édition, Dunod, Paris,
1992.
GEERTZ, Clifford. O saber local. Petrópolis, Editora Vozes, 1997.
GIRARD, René. A violência e o Sagrado. São Paulo: Editora Unesp/Paz e
Terra, 1990.
LEVI-STRAUSS, Claude. As Estruturas Elementares do Parentesco.
Petrópolis: Vozes,1982.
LÉVI-STRAUSS, Claude. A Noção de Estrutura em Etnologia em
Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.
Lévi-Strauss. Claude. Entrétien sur Jean de Léry em LÉRY. Jean de.
Histoire d'un voyage faict em la terre du Brésil. Paris: Livre de Poche, 2004.
LEVI-STRAUSS, Claude. Linguagem e Sociedade em Antropologia
estrutural I. Rio de Janeiro, Edições Tempo Brasileiro, 1967. pp. 71-84.
LORENZ, Konrad. L'Agression. Paris: Flammarion, 2003.
MAUSS, Marcel. O Ensaio Sobre a Dádiva. Formas e razão da troca nas
sociedades arcaicas em Sociologia e Antropologia, com introdução de
Claude Lévi-Strauss; tradução de Lambeto Puccinnelli. São Paulo: EDUSP,
1974.
PACE, David. Claude Lévi-Strauss. O guardião das cinzas. Tradução de
Maria Clara Fernandes, São Paulo: Bertrand Brasil, 1992.
2.1.2 Comunicação
GRECOM/UFRN
Professora
Doutora
(Texto não disponibilizado para publicação).
Wani
Pereira
22
2.2 MINICURSOS - Dia 08/10 (quinta-feira) – 14 às 18 horas
MC1 - Avaliação e formação no ensino de Ciências Sociais e
Humanas - Auditório C (CCHLA)
Lenina Lopes Soares Silva
[email protected]
José Gllauco Smith Avelino de Lima
[email protected]
Ementa: As mudanças e as transformações tecnológicas nas
últimas décadas têm demandado que as instituições de ensino
superior reorientem suas práticas no sentido de formar
profissionais com competências para produzir e socializar
conhecimentos em diferentes espaços socioculturais e econômicos.
Aliadas a estas problemáticas estão às questões éticas e a busca da
docência preocupada com a formação cidadã, articulada ao
processo de humanização de sujeitos que atuarão em um mundo
globalizado e multicultural. Partindo-se desta visão contextual,
observa-se que o ensino de Ciências sociais e humanas em nível
superior deve inserir em suas atividades docentes um processo de
avaliação que privilegie a formação dos alunos de forma
significativa, inserida em um processo mais amplo de crescimento,
desenvolvimento e envolvimento pessoal e social, em um computo
de conhecimentos, habilidades e atitudes.
Objetivos: Refletir sobre a avaliação e a formação em Ciências
Sociais.
Propor estratégias e procedimentos de avaliação para além das
provas objetivas e subjetivas de natureza apenas aprobatórias.
Conteúdos: Avaliação em Ciências Sociais e Humanas:
re/conhecendo uma prática.
Estratégias e procedimentos avaliativos: valorização do processo
de aprendizagem em comunicação com o conhecimento já
produzido.
Metodologia: Aula expositiva dialogada
Apresentação de estratégias e procedimentos avaliativos
considerados inovadores.
Referências
DEPRESBTERIS, L. O desafio da avaliação da aprendizagem:
dos fundamentos a uma proposta inovadora. São Paulo, EPU, 1989.
MEDEIROS, E. B. Provas objetivas, discursivas, orais e
práticas: técnica de construção. 9. ed. Rio de Janeiro. Fundação
Getúlio Vargas, 1989.
RIOS, T. Compreender e ensinar – por uma docência da
melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001.
23
MC2 - Propriedade Intelectual e Ciências - Auditório de
Geografia - CCHLA
(CANCELADO)
Wellington Fontes Menezes
(Mestrando em Economia Universidade Estadual Paulista FCLAr/UNESP)
[email protected]
Ementa: Compreender o papel das Ciências Sociais em face das
novas tecnologias da informação e patentes emergentes na ordem
econômica internacional. A abordagem do curso dará particular
ênfase a respeito dos conflitos entre direitos patentários e políticas
de patentes em saúde pública com relação ao acesso público à
medicamentos.
Objetivos: O curso tem como objetivo fornecer uma breve
exposição dos conceitos básicos da Propriedade Intelectual, no caso
específico das patentes, sem perder de vista a sua função social e a
perspectiva desenvolvimentista, de forma a possibilitar uma análise
crítica dos sistemas de propriedade intelectual brasileiro e
internacional. Ao final do curso, espera-se dar uma visão mais
específica das questões relativas do caso das patentes de
medicamentos e o entendimento dos conflitos de interesses
existentes a respeito do monopólio das indústrias farmacêuticas e
saúde pública na sociedade.
Conteúdos: Propriedade Intelectual: Noções gerais. Propriedade
Intelectual: Das origens agrárias ao capitalismo mundializado. As
Convenções Internacionais, Acordo TRIPS e regras de Comércio
Internacional. Propriedade Intelectual: A barreira do monopólio.
Sistema de Patentes. Contradições em processo: monopólio,
transferência de tecnologia e difusão do conhecimento. Proteção
patentária: assimetrias entre países desenvolvidos e em vias de
desenvolvimento. Licenças compulsórias e a legislação brasileira
sobre patentes. Patentes em Saúde Pública. Considerações sobre o
sistema de patentes em saúde humana. Acordo TRIPS e as
Patentes Farmacêuticas. Política de medicamentos, patentes e
questões a fins. Patentes e o caso dos medicamentos antiretrovirais.
Metodologia: O conteúdo do curso será desenvolvido através de
aulas expositivas, aulas com a utilização de recursos audiovisuais e
leitura de textos específicos de apoio.
Referências
DOMINGUES, Renato Valladares. Patentes Farmacêuticas e
Acesso a Medicamentos no Sistema da Organização do
Comércio: A aplicação do Acordo TRIPS. São Paulo: Lex Editora,
2005.
24
FIANI, Roberto. Sobre patentes e desenvolvimento. In: Ciência
Hoje, n. 258, v. 43, abril. Rio de Janeiro: Instituto Ciência Hoje,
2009.
MENEZES, Wellington Fontes. Propriedade Intelectual: Das
origens agrárias ao capitalismo mundializado. Anais do V Colóquio
Internacional Marx-Engels. Cemarx/UNICAMP, 2007. Disponível
em:
www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/com
unicacoes/gt3/sessao1/Wellington_Menezes.pdf
MENEZES, Wellington Fontes. Capitalismo, monopólio e patentes:
propriedade intelectual e a desmedida exploração dos bens
intangíveis. Anais do VI Colóquio Internacional Marx-Engels.
Cemarx/UNICAMP, 2009 (no prelo).
PICARELLI, Márcia Flávia Santini; ARANHA, Márcio Iorio
(Organizadores). Política de Patentes em Saúde Humana. São
Paulo: Atlas, 2001.
PHILIPS, Jeremy; FIRTH, Alison. Introduction to Intellectual
Property Law. Great Britain: Oxford University Press, 2006.
SHERWOOD,
Robert
M.
Propriedade
Intelectual
e
Desenvolvimento Econômico. São Paulo: EDUSP, 1992.
MC3 – Biodanza: as razões do corpo na dança da vida Auditório A – CCHLA
Kenia Almeida Nunes
Graduanda em Ciências Sociais
Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
[email protected]
Denise Salgado
Graduanda em Educação Física
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Praticante de Biodanza)
Ementa: A Biodanza, sistema criado por Rolando Toro, que
designa em português a dança da vida. É um sistema de
autoconhecimento, de integração e crescimento feito através dos
afetos que construímos ao longo da vida com os outros, conosco e
com a natureza, o que possibilita um resgate da identidade do ser.
A música, o movimento e a emoção compõem esse sistema que
leva o aluno a redescobrir o prazer de sentir e a capacidade de se
expressar, percebendo que há uma gama de formas de se
conhecer o mundo e as coisas do mundo.
Objetivos: Esta oficina tem por objetivo fazer uma discussão em
torno do corpo e de suas definições difundidas no meio
educacional. Um corpo que fora relegado pela educação, de um
modo geral, a um lugar de passividade, como mero receptor dos
25
conteúdos. Essa discussão será feita em conjunto com uma
experiência corporal, a Biodanza.
Metodologia: Para o andamento da oficina em questão será
necessário da utilização de materiais, textos base elaborados pela
organização da oficina, que envolvam as temáticas de corpo e
educação, com base no livro Corporeidade e Educação Física: do
corpo-objeto ao corpo-sujeito de Petrúcia da Nóbrega, em conjunto
com uma apresentação de slides para melhor esclarecer os
conteúdos que a oficina objetiva.
Aos participantes recomenda-se roupas leves para a prática da
Biodanza.
Referências
NÓBREGA, Teresinha Petrúcia da. Corporeidade e Educação
Física: do corpo-objeto ao corpo-sujeito/ Teresinha Petrucia da
Nóbrega. – Natal, RN: EDUFRN, 2005.
MC4 – Exclusão digital na era da Internet - Sala C6 – Setor
II
Maria Aparecida Ramos da Silva
Mestranda PPGCS/UFRN
Ementa: Expressão da revolução científica e tecnológica
constantes no mundo moderno, as novas tecnologias de
informação e comunicação, principalmente o computador e a
internet,
provocaram
significativas
mudanças
nas
forças
produtivas, nas relações de produção e nas formas de sociabilidade
humana. Como conseqüência desse fenômeno, que permeia as
relações econômicas, sociais e culturais, surgiram novas formas de
exclusão social, pois a falta de acesso às novas tecnologias priva as
pessoas de um elemento fundamental para estar integrado a esse
universo.
Objetivos: Demonstrar que as novas tecnologias da informação e
comunicação trouxeram também em seu âmago uma nova forma
de desigualdade social: a exclusão digital, que recapitula e reforça
as diferenças pré-existentes.
Conteúdos: Abordar o surgimento da internet e as novas
tecnologias da informação; Mostrar as alterações na sociedade
surgidas com a internet; Debater o fenômeno da exclusão digital
como uma exclusão social; Apresentar as definições de exclusão
digital; Discutir projetos e iniciativas de inclusão digital.
Metodologia: Leitura de textos;Discussão em grupo; Utilização de
tarjetas para descrever como a exclusão digital ocorre na
sociedade contemporânea; Discussão com todos os participantes
26
sobre o resultado das tarjetas; Elaboração de uma carta com
propostas para inclusão digital
Referências
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A Era da
Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1. 8. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1999.
_______. A Galáxia da Internet: reflexões sobre internet,
negócios e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: o Futuro do
Pensamento na Era da Informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
WAISELFISZ, Júlio Jacobo. Mapa das Desigualdades Digitais no
Brasil. Brasília: 2007. Disponível em <http://www.ritla.net>.
Acesso em: 22 jul. 2009.
WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e inclusão social: a exclusão
digital em debate. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2006.
MC5 – Avaliação de Políticas Públicas Psicologia – CCHLA
Auditório de
Dr. Lincoln Moraes de Souza
[email protected]
Ementa: Em termos gerais, a avaliação de políticas públicas, no
sentido da utilização da literatura especializada da área, ainda é
algo bastante recente no Brasil e daí a importância do tema. Além
do mais, quando a avaliação é feita a mesma é vinculada apenas a
um tipo das várias existentes. Neste sentido, trabalhar com a
concepção geral de avaliação e as avaliações de impacto e de
processo, simultaneamente no mesmo evento, confere um
significado mais amplo e fornece um quadro melhor do assunto.
Objetivos: Divulgar a literatura especializada de avaliação de
políticas públicas; Mostrar as dissertações de mestrado no Programa
de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN que trabalharam
com avaliação de políticas públicas; Exemplificar a aplicação da
avaliação no Rio Grande do Norte.
Conteúdos: Caracterização geral da avaliação de políticas públicas ;
avaliação de impacto ; avaliação de processo.
Metodologia: Exposição dos temas e experiências de avaliação
utilizando recursos áudio-visual (data show);Debates.
Referências
BARREIRA, Maria Cecília Roxo Nobre; CARVALHO, Maria do Carmo
Brant de (orgs.). Tendências e perspectivas na avaliação de
políticas e programas sociais. São Paulo; IEE/PUC-SP.,2001.
Pág.13/42.
COHEN, Ernesto, FRANCO,Rolando. Avaliação de Projetos
Sociais. Vozes.São Paulo;1993.
27
DRAIBE, Sônia Miriam. A importância da avaliação das políticas
públicas. In: VIVARTA, Veet (coord.). Que país é este? Pobreza,
desigualdade e desenvolvimento humano e social no foco da
imprensa brasileira. Cortez. São Paulo. 2003.p. 94/95
FIGUEIREDO, Marcus Faria; FIGUEIREDO, Argelina Maria Cheibub.
Avaliação política e avaliação de políticas: um quadro de
referência teórica. Análise & Conjuntura, v. 1, n. 3, Belo Horizonte,
set./dez. 1986.
28
2.3 GRUPOS DE TRABALHO
Dia 09/10 (sexta-feira) – 14 às 18 horas Salas do Setor
II/CCHLA/UFRN
GT1 – História Oral, Memória e Identidades - Sala D2 – Setor
II
José Anchieta Bezerra de Melo
Mestrando /Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB
José Márcio da Silva Vieira
Mestrando/ Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFCG
[email protected]
Ementa: O Grupo de Trabalho pretende constituir um ampliado
espaço de discussão e reflexão dos pesquisadores que utilizam
perspectivas teórico-metodológicas variadas de História Oral, seja
como forma de recobrir fatos não registrados por outro tipo de
documentação, ou cuja documentação se quer complementar.
Nesse sentido, propomos ainda uma articulação entre Memória e
Identidades com o propósito de implementar um diálogo
interdisciplinar, estimulando a troca de experiências entre os
diversos profissionais que se utilizam da História Oral na
investigação dos mais variados temas.
TRABALHOS APROVADOS – RESUMOS SIMPLES
01 - HISTÓRIA ORAL: REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE
UM CAMPO METODOLÓGICO
José Anchieta Bezerra de Melo
Mestrando/ Programa de Pós-Graduação em Sociologia - PPGS / UFPB
[email protected]
José Márcio da Silva Vieira
Mestrando/ Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais PPGCS/ UFCG
[email protected]
Resumo: Ao longo dos séculos, a História Oral se constituiu como
a maior fonte humana de produção, conservação e difusão do
conhecimento. Nas ciências sociais, a fonte oral obtida através das
técnicas de histórias de vida, entrevistas estruturadas e semiestruturadas é utilizada desde os primórdios da disciplina no início
do século XX, como instrumentos da metodologia qualitativa. Em
sua origem, a História Oral foi associada ao estudo das minorias e
dos marginalizados, atualmente, incorporou uma variedade de
29
temas, criando em torno de si um profícuo debate teóricometodológico. É no âmbito dessa discussão que situaremos nossas
reflexões, observando o uso e os freqüentes abusos praticados por
alguns pesquisadores que utilizam essa metodologia de pesquisa
na elaboração de trabalhos acadêmicos. Se por um lado há
divergências com relação ao uso da História Oral, podemos
considerar como positiva a extensão do campo que ela conquistou.
O reconhecimento e a adesão por um considerável número de
pesquisadores de diferentes áreas demonstram o seu êxito.
Palavras-chave: História Oral. Teoria. Metodologia.
02 - SIGNOS E LINGUAGEM CORPORAL NA CONSTRUÇÃO DE
UMA IDENTIDADE SOCIAL NO INTRAMUROS: A PRÁTICA DA
TATUAGEM CARCERÁRIA
Adriana Pereira de Sousa/PPGCS/UFPB
[email protected]
Resumo: A tatuagem carcerária traz em si uma prática de uso
cultural e social delineada pelos conflitos interiores e exteriores na
construção da identidade individual e social do indivíduo, estes
resultantes das inter-relações sociais. Portanto, essa nova
identidade será construída no limiar tênue entre a ruptura brusca
da identidade do eu do mundo em sociedade o qual ele vivia e a
nova identidade que passa a ser construída a partir da entrada no
cárcere, onde, a mutilação do eu acontece a todo instante e em
todos os aspectos da vida social. É nesse limiar tênue em que os
signos que representam à criminalidade são inscritos a flor da pele.
O desenho escolhido e o local a ser tatuado denunciam as
características particulares da personalidade de cada indivíduo, um
ritual de identificação do apenado enquanto tal. A tatuagem
carcerária é reconhecida pelos seus traços grossos e desenhos mal
acabados, resultado das técnicas rudimentares utilizadas nas
prisões.
Palavras Chave: Tatuagem; Apenado; Identidade Social.
03 - VELHICE E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE AS
EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS VIVIDAS POR IDOSOS EM
PROGRAMAS DE ALFABETIZAÇÃO
Elânia de Moura Rocha
[email protected]
Mestra em sociologia(UFCG/FAESF)
Resumo: O presente trabalho evidenciou as experiências de
alfabetização para idosos beneficiados por políticas de inclusão e
participação em grupos para terceira idade. Teve como ponto de
referência os discursos de 08 (oito) idosos, que frequentaram
assiduamente as atividades de alfabetização do Centro Municipal de
30
Convivência do Idoso da Prefeitura Municipal de Campina Grande –
PB. O objetivo geral deste trabalho foi analisar as experiências
cotidianas de idosos em programas educacionais para terceira
idade. A metodologia etnográfica baseou-se em observação direta
da prática pedagógica no projeto de Educação de Jovens e Adultos
realizado no Centro Municipal de Convivência do Idoso, no período
de 2006, como também a entrevista semi-estruturada para
analisar o perfil dos sujeitos pesquisados. Durante o período de
coleta de dados foi possível registrar a história pessoal de cada
idoso que expressaram fatos do seu cotidiano, destacando
acontecimentos que marcaram suas vidas desde a infância até a
velhice. O referencial teórico abordado neste trabalho foi o da
teoria do letramento e da velhice, na qual consideramos o
pensamento teórico de Paulo Freire, Kleiman, Tfouni, Derbert,
Motta, Cabral, entre outros. As conclusões permitem mostrar que
mesmo tardiamente a educação é benéfica, trazendo resultados
positivos para os idosos. Além disso, verificou-se que a
alfabetização contribuiu para qualificar o idoso, tornando-o um
novo cidadão, consciente de seus direitos, melhor sintonizado com
as transformações sociais e mais determinados a lutar contra
preconceitos.
Palavras-chave: envelhecimento; idoso; educação; alfabetização.
04 - REFLEXÕES SOBRE AS MEMÓRIAS DE UM GRUPO DE
ASSENTADOS NA PARAÍBA
Francisco Fagundes de Paiva Neto
Doutorando Em Ciências Sociais/UFCG
Prof.: Depto História/UEPB)
[email protected]
Resumo: Trata-se de um estudo de caso que privilegiou as
narrativas de um grupo de camponeses, cuja atuação pela reforma
agrária se deu na década de 1980. Através da produção de fontes
orais e do uso da metodologia qualitativa, analisamos as memórias
dos camponeses a partir da dinâmica da heterogeneidade política
grupal, cuja expressão pode ser associada a noção de ―memória
dividida‖, conforme Portelli. O ato de narrar dos camponeses nos
levou a percepção de estratégias de preservação ou de
apresentação das memórias como a definição de um capital
político/religioso em constante disputa.
Palavras-Chaves: Reforma Agrária-Conflitividade.
05 - “ELES NÃO TINHAM CIVILIZAÇÃO...” A RECONSTRUÇÃO
DA HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO DO OESTE DO PARANÁ A
PARTIR DA MEMÓRIA DOS COLONOS NO MUNICÍPIO DE
CASCAVEL
31
Vilson Cesar Schenato
[email protected]
Mestrando PPGCS- UFCG
Resumo: A ocupação da fronteira Oeste do Paraná foi marcada por
um processo conflituoso de expropriação, grilagem e violência, que
não é informado pelas fontes jornalísticas e da história oficial sobre
o processo de colonização daquele lugar. Tais fontes negam a
existência dos conflitos, fabricando uma memória de um passado
de glória, desbravamento e pioneirismo por parte dos colonizadores
com um tipo étnico específico que era o migrante de descendência
Européia, sinônimo de trabalho produtivo, progresso e civilização.
Naquele cenário, no entanto, havia a presença dos chamados
posseiros, (caboclos e indígenas) que foram explorados, silenciados
e expulsos de suas terras, por não ter a posse cartorial da
mesma.(SCHREINER, 2002) O discurso dominante, exclui, em sua
construção, a visão desses grupos, que foram só recentemente
recuperados por algumas fontes da história crítica.(RIBEIRO, 2000
e LAVERDI, 2005, MENEZES, 1987) Evidenciamos nos discursos
orais dos colonos que habitam hoje aquele espaço, uma referência
negativa aos indígenas e caboclos, como sendo, aqueles que não
seriam portadores de valores que os classificaria como humanos:
uma ética específica de trabalho, uma forma de se comportar
perante os outros, a civilidade e a humildade. Nesse artigo, iremos
abordar a forma como os colonos legitimaram a posse da terra,
afirmando-se a partir da des/legitimação e desqualificação do
outro, no passado recente como no presente. Temos aqui como
metodologia a reconstrução oral da história (MONTENEGRO, 2001,
MENEZES, 1987) da ocupação do lugar pelos colonos.
Palavras-chave: Colonos; Ocupação; Des/legitimação.
06 - A FIGURA FALADA: UMA EXPERIÊNCIA SOBRE
DEPOIMENTOS ORAIS ACERCA DO ESCRITOR ALLYRIO
MEIRA WANDERLEY
Mário Gregório Cabral Diniz
Mestrando em Teoria e História Literária
Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária do Instituto de
Estudos da Linguagem, Unicamp.
[email protected]
Resumo: A presente comunicação não faz parte da minha
pesquisa ―oficial‖ sobre o prosador, ensaísta e crítico literário
paraibano Allyrio Meira Wanderley (1906-1955). As fontes
principais tem sido cartas, críticas e artigos publicados em jornais
da época da produção intelectual do autor e seus próprios livros
(quatro romances e dois ensaios). Todavia, conforme surgiram
32
possibilidades de encontrar pessoas que dessem algum testemunho
sobre ele, a pesquisa abriu exceção de sua ―oficialidade‖ para
acolher essas falas que ora tem ajudado a elucidar pontos do meu
estudo. Assim, em João Pessoa encontrei o filho de Allyrio, o exprofessor da UFPB, Sandro Meira Wanderley. Apesar de ser um dos
mais novos e de ter convivido pouco com o pai, consegui nesse
diálogo colher dados importantes da vida pessoal e da produção
intelectual do escritor. Em Patos, onde nasceu Allyrio, um senhor
de 95 anos ainda possuía lembranças do amigo mais velho, o
―esquisito Allyrio‖, segundo ele. ―Seu‖ Simplício (a quem dedico in
memoriam esta comunicação), ainda me cedeu informações
valiosas sobre a família Meira Wanderley, com a qual se relacionou.
De idade avançada e com dificuldade típica de evocar e comunicar
as lembranças, em seu auxílio veio dona Fátima Simplício, sobrinha
do depoente e que, em tempos anteriores, quando a memória fluía
com mais vigor, escutou muitas histórias que este contou sobre o
amigo ilustre. Agradeço a ela a contribuição. Faço aqui, portanto,
um relato dessa experiência e é possível adiantar, pelo menos, a
conclusão de que, comparando as duas entrevistas, a figura de
Allyrio Meira Wanderley construída a partir dos relatos orais
permanece tão intrigante quanto aquela encontrada nas pesquisas
de documentos escritos.
Palavras-chave: Allyrio Meira Wanderley; fontes orais; história
intelectual; literatura brasileira.
07 - OS SERTÕES, DE EUCLIDES DA CUNHA: HISTÓRIA,
ESTÓRIAS & “CAUSOS”
Sandra S. F. Erickson
Letras - UFRN
[email protected]
Resumo: Magnus opus da literatura brasileira, Os sertões (1902),
de Euclides da Cunha (1866-1909), é o texto paradigmático para
definir/problematizar a/uma identidade brasileira. A história de sua
fortuna crítica e sua recepção na língua inglesa é tão fascinante
quanto a história do massacre da comunidade camponesa cristã de
Canudos que o autor resgata e denuncia. Resumido e ―copiado‖ (no
sentido técnico de copião) em A Brazilian Mystic (Robert Bontine
Cunninghame
Graham,
inglês-escocês,
1922),
traduzido
integralmente em 1944, inspirador de outras obras importantes (La
guerra del fin del mundo [1981, Mario Vargas Llosa, espanhol],
Veredicto em Canudos [1970, Sandor Marai, húngaro], The Vale of
Tears [Robert Levine, inglês, 1992) ainda assim, acaba excluído do
―cânone ocidental.‖ Interessa-nos discutir a recepção da obra em
relação à sua força poética e seu lugar no cânone da crítica literária
enquanto instituição cultural cujo papel é, não apenas de preservar
(selecionando os textos para a memória cultural), mas de defender
33
e, se for caso, impor ao cânone, obras que representem o espaço
da identidade cultural de um povo. Propomos a história da
recepção crítica de Os sertões como personificada em La guerra, no
personagem Jurema que simboliza, do ponto de vista estético e
ideológico, a relação do texto de Cunha com um novo tipo de
exploração do sertão, a saber a de sua cultura. Como Iracema,
Jurema se torna, em La guerra, um porta-voz simbólico da
exploração do sertão.
Palavras Chaves: Os sertões; ciclo narrativo; recepção crítica na
língua inglesa; Canudos.
08 - QUILOMBO URBANO DA MALOCA: MEMÓRIA ORAL E
RESIGNIFICAÇÃO DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS
Franklin Timóteo Souza do Espírito Santo/UFRN
[email protected]
Resumo: Em sete de fevereiro de 2007, a Comunidade Maloca,
situada no Bairro Getúlio Vargas, vizinho ao Centro de Aracaju SE, foi reconhecida como Comunidade Remanescente de Quilombo.
A Maloca detém uma característica distinta da maioria das
comunidades quilombolas por estar inclusa em um centro urbano,
sendo intitulada como o segundo Quilombo Urbano certificado pela
Fundação Cultural Palmares no Brasil. A intitulação da comunidade
foi contextualizada a partir de um processo judicial que se
desencadeava desde 1993.O senhor José Getúlio, morador da Rua
N. Sra.das Dores, e que sua residência faz limite com comunidade,
alegou que Dona Lundinara tinha invadido 2 m2 de seu quintal.
Após um pedido de reintegração de posse, e da devolução dos 2
m2 por D. Lundinara, mesmo essa alegando não tê-los invadido,o
resultado da sentença foi a devolução de 198 m2,totalizando toda a
área territorial da Comunidade Maloca.Algumas residências por
terem suas demarcações de terra muito antigas,desde 1920,não
tinham escritura ou documentação similar, facilitando o resultado
do processo contra os moradores, recebendo esses em novembro
de 2006 ordem de despejo pela justiça municipal de Aracaju.Após
catalogação de dados e documentos com moradores,tendo muitos
desses uma ascendência familiar escravista oriunda de antigos
engenhos do estado de Sergipe; dados esses repassados a
Fundação
Palmares
pela
Associação
CRILIBER(Criança
e
Liberdade), órgão que responde pela comunidade; o grupo foi
reconhecido como Remanescente de Quilombo.
09 - CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS NAS CARTOGRAFIAS DO
CENTRO DE CONVIVÊNCIA EM CAMPINA GRANDE
34
Valdirene Pereira de Sousa
[email protected]
Resumo: O presente estudo é parte de uma dissertação de
mestrado que tem como objetivo investir em indagações sobre as
trajetórias tecidas pelas sensibilidades senescentes cartografadas
na contemporaneidade. Esse estudo traz como um de seus
objetivos pensar a construção dos sentimentos de velhice
partilhados pelos participantes do Centro de Convivência- espaço
que congrega grupos de terceira idade em Campina Grande -, e a
construção das identidades corpóreas, que vão delineando as
subjetividades e as relações de um grupo que se une nas práticas
de sociabilidades partilhadas. Assumir o desafio de pesquisar o
universo dos idosos participantes dos grupos de terceira idade e
deflagrar discussões que transitam em meio a relações de poder é
adentrar nas ambivalências da história oral, é perceber a história
como invenção, como incentivadora da imaginação e não como
portadora de uma verdade fixa. A história oral precisa ser vista
enquanto possibilidade metodológica não-dicotômica às fontes
escritas, pois elas se contaminam e se entrelaçam na tecitura da
História. A pesquisa que desenvolvi encontra na história oral aporte
metodológico e, a partir das entrevistas realizadas com a equipe
responsável pelo Centro de Convivência e com os idosos
participantes, se distende a materialização, em texto, das
experiências que compartilhei e compartilho nessa pesquisa.
10- A MEMÓRIA MIDIÁTICA NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE: O CASO DA RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA
MISTA DA UFCG
Jéssica Lôbo Sobreira¹
[email protected]
Resumo: Este trabalho nasceu com nossa curiosidade em saber
como eram estabelecidas as interações sociais dentro da
Residência Mista da Universidade Federal de Campina Grande,
tendo este ambiente como um local ―mistificado‖ pela sociedade de
um modo geral, principalmente, na memória das pessoas mais
antigas de nossa sociedade. Assim como, pelo nosso interesse em
analisar as interações sociais dentro deste ambiente e da
necessidade de promover um melhor conhecimento das
problemáticas existentes neste cotidiano, tendo-as como fenômeno
de grande relevância dentro do campo da Sociologia. É sabido que,
os estudantes carentes que são privilegiados com o benefício da
Residência Universitária são constantemente vítima de preconceitos
35
pela sociedade em geral, sendo estas discriminações mais
freqüentes dentro do ambiente universitário, principalmente à
memória do local onde está situada a casa e ausência de
conhecimentos à cerca deste benefício. Devido a isso, a casa e os
indivíduos que moram nela são tidos como ―excluídos‖ da
sociedade,
marginalizados
principalmente
no
ambiente
universitário. Foi-se feita uma revisão bibliográfica acerca das
interações sociais e sociabilidade; além de fontes históricas,
jornalísticas entre outras, sobre acontecimentos e notícias que
envolveram a Residência em questão e os indivíduos pertencentes
e ou envolvidos nesse ambiente. Os estudos teóricos e empíricos
foram empreendidos a partir de atividades voltadas a compreensão
do estabelecimento das interações sociais enquanto uma dimensão
sociológica e como perspectiva histórica. O presente artigo busca
investigar como são estabelecidas as interações sociais no
ambiente da Residência Universitária Mista da Universidade Federal
de Campina Grande, procurando ―desmistificar‖ o enfoque da mídia
neste cotidiano,analisando como estas ocorrem e de que modo se
origina a criação de supostos grupos dentro deste ambiente,
inserindo tais processos nas dinâmicas de sociabilidade dentro do
mesmo, bem como considerando também a esfera subjetiva dos
sujeitos que experenciam estas.
Palavras-chave: Construção da Identidade; Memória; Juventude;
Interação Social.
11- ENTRE CÁQUIS E LEMBRANÇAS: O COLÉGIO ESTADUAL
DA PRATA COMO ESPAÇO DE MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
EDUCACIONAL CAMPINENSE
Ramon de Alcântara Aleixo
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB. ¹
[email protected]
Profa. Patrícia Cristina de Aragão Araújo
Universidade Estadual da Paraíba- UEPB. ²
Resumo: Este estudo se destina a analisar, a partir do conceito de
memória coletiva, as múltiplas percepções de ex-alunos/as acerca
da vivência discente à frente do Colégio Estadual de Ensino Médio
Dr. Elpídeo de Almeida, mais conhecido como o ―gigantão da
Prata‖, em virtude de suas instalações físicas –uma das maiores do
estado da Paraíba- e de sua localização no bairro da Prata, na
cidade de Campina Grande-PB. Dessa forma, propomos, a partir de
depoimentos dos sujeitos históricos atuantes na tessitura da trama
cotidiana desse espaço educacional, buscar compreender a
dinâmica social em que este espaço de aprendizagem está imerso,
36
bem como as múltiplas experiências vividas nesta instituição;
objetivando, dessa forma, a elucidação de uma perspectiva
patrimonialista que vise perceber, a partir da memória coletiva
presente em seus relatos, esta instituição de ensino como lugar de
memória
acerca
da
instrução
publica
campinense
e,
consequentemente, atentarmos para a efetivação de políticas
públicas de preservação histórica atinentes a esta instituição de
ensino.
Referenciamo-nos
teoricamente
nos
trabalhos
desenvolvidos
por
CERTEAU
(1994),
FOUCAULT
(1999),
HALBWACHS (1990), e NORA (1993). Como procedimento
metodológico, recorremos aos arquivos da referida instituição
(fotografias, diários de classe, ofícios da inspetoria federal e
estadual de ensino), bem como aos relatos de ex-alunos/as acerca
de suas experiências e percepções no que tange a tessitura da
história da educação campinense, em especial às suas vivências
nessa instituição educacional. Os resultados preliminares apontam
para a iminente necessidade de efetuarmos políticas publicas que
visem à percepção da referida instituição como patrimônio
educacional campinense, no qual estão imersos histórias de vida
que necessitam vir à tona, sob pena de ficarem esmaecidas e se
perderem na dinâmica social bastante fluida em que estamos
inseridos nesses tempos para além da modernidade.
Palavras-chave: Memória; Patrimônio educacional; Colégio
Estadual da Prata.
12MEMÓRIAS
(RE)EDITADAS
E
IDENTIDADES
INSTITUÍDAS: RASTREANDO BIOGRAFIAS SENTIMENTAIS
Silêde Leila Oliveira Cavalcanti3
[email protected]
Resumo: O desafio de investigar temáticas no campo das
subjetividades e dos sentimentos, tendo como recorte temático as
sensibilidades afetivas de idosos(as) na contemporaneidade,
articuladas as identidades de gênero e de família, me conduziu ao
encontro de biografias, lembranças, narrativas e memórias como
suporte documental imprescindível de minhas análises e
elaborações teórico- metodológicas da pesquisa do trabalho de
doutoramento que ora realizo. A crença do direito/dever da
memória como caminho de reconhecimento social tem sido
enfatizada por movimentos sociais e atitudes políticas de
3
A autora é professora da unidade acadêmica de História e Geografia do Centro de Humanidades da
Universidade Federal de Campina Grande e doutoranda pela Universidade Federal de Pernambuco
37
determinados grupos sociais marginalizados e silenciados sócio e
historicamente em seus valores, demandas e desejos. Debruço-me
sobre as memórias involuntárias, fugidias, abandonando o campo
da memória voluntária, já historicizada e consagrada na
contemporaneidade, visto que na operacionalização historiográfica
das memórias, tem se dado ênfase e consagração a memória como
faculdade intelectual e cognitiva, como produtora do conhecimento,
mutilando a polissemia das memórias em suas várias dimensões e
estatutos, tão bem enfatizados por Proust e Bérgson, e
considerando sua trifuncionalidade que seriam a memória-ação, a
memória-afetiva e a memória conhecimento.
Palavras - chave: Memórias; identidades; sentimento.
13- “...E SEM O SEU TRABALHO O HOMEM NÃO TEM HONRA”
NOTAS SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO
TRABALHO, DESEMPREGO, POLÍTICAS DE PROTEÇÃO
SOCIAL E IMPACTOS NA IDENTIDADE SOCIAL E MOVIMENTO
SINDICAL
Ana Maria Morais Costa
Mestranda do PPGCS/UFRN
[email protected]
Dr. José Willington Germano
Orientador
[email protected]
Resumo: Este trabalho apresenta algumas reflexões sobre as
transformações no mundo do trabalho e os impactos na
sociabilidade contemporânea, destacando as identidades sociais e a
organização política e sindical das pessoas que vivem do trabalho.
Discute as implicações da revolução tecnológica sobre os empregos
e os efeitos sociais que se apresentam como altas taxas de
desemprego, exclusão social, insegurança e precariedade das
novas formas de ocupação, queda dos salários reais, que afetam as
dimensões materiais e subjetivas da classe trabalhadora. As
ferramentas de análises aqui empreendidas foram construídas a
partir da leitura da obra de Robert Castel: As metamorfoses da
questão social – uma crônica do salário, ampliada com a revisão da
bibliografia específica desta temática. O enfraquecimento da
condição salarial é abordada por Castel (2001) como uma questão
social. A condição do trabalhador assalariado esteve por muito
tempo à margem da sociedade; em seguida subordinada. Porém no
momento em o trabalho é reconhecido como principal atributo para
caracterizar o status que situa e classifica um indivíduo na
sociedade em detrimento do pertencimento familiar e comunitário,
a centralidade do trabalho é recolocada em questão. Para o autor,
38
o trabalho seria uma forma de coesão social, muito mais, que uma
condição de tarefa remunerada. De modo que, o perfil de
―trabalhadores sem trabalho‖, resulta no enfraquecimento da
condição salarial e fragilização da solidariedade social.
Palavras-Chave: Trabalho assalariado; Identidade social;
Movimento sindical.
14- EXPERIÊNCIAS DE VIUVEZ NA VELHICE
Kátia Ramos Silva (UFCG)
Benedita Edina da Silva Lima Cabral
(Orientadora/UFCG)
[email protected]
Resumo: O acentuado aumento da expectativa de vida da
população mundial e brasileira, em particular, provoca sensíveis
alterações na dinâmica familiar e relacional, que caracterizam a
sociedade contemporânea. É neste contexto que o segmento
populacional que adquire cada vez mais espaço nos debates
acadêmicos e nas políticas públicas é aquele que atinge a faixa
etária dos 60 anos de idade. Na discussão sobre o tema idoso e
família, um aspecto desperta a atenção dos estudiosos é o estado
conjugal da população idosa, na medida em que dados
demográficos apontam para a significativa prevalência da viuvez na
velhice. Esse dado, portanto, adquire importância expressiva na
análise da velhice na contemporaneidade, visto que essa condição
conjugal modifica, de maneira singular, a dinâmica familiar e as
estruturas da sociedade. Partindo desse pressuposto, esse trabalho
tem o objetivo de atentar para as experiências de viuvez, de
homens e mulheres com 60 anos e mais de idade, que passaram
de uma condição de conjugalidade para a de viuvez na velhice.
Para tanto, entrevistamos sete mulheres e três homens e os
registros coletados durante a realização das entrevistas foram
analisados à luz de um referencial teórico referente aos temas:
velhice, família, viuvez e morte. Assim, as experiências de tornarse velho e vivenciar a condição de viuvez conduzem a uma maior
reflexão sobre essa condição peculiar e apontam para um universo
denso da vida conjugal.
15- OPERAÇÃO DEMOCRÁTICA: GILBERTO FREYRE E SEUS
ARTIGOS NA IMPRENSA NO PERÍODO 1964-1979
Rachel Soares Cavalcanti
[email protected]
Jean Carlos
UFPB – PPGS
39
CAPES
Resumo: Este trabalho consiste em analisar como Gilberto Freyre
utilizou particularidades teóricas contidas em sua obra como
elemento de legitimação de um regime de poder; utilizando como
base seus artigos publicados na imprensa no período de 1964 a
1979. Com base em algumas abordagens oferecidas por Freyre,
tais como as relações entre o nacional e o regional, o
patriarcalismo, o embate do tradicional face ao moderno, entre
outras, procuro identificar como o autor reproduziu e incorporou
temáticas encontradas em sua obra para legitimar o Golpe Militar.
Utilizo os artigos publicados no Diário de Pernambuco, Jornal do
Comércio e na revista O Cruzeiro como suporte do presente
estudo. Procuro perceber o que tem em comum na obra freyriana e
em seus escritos na imprensa durante o período citado. Em seus
artigos publicados na imprensa durante o regime militar, Freyre
expande essa idéia de região para nação, e partindo de um mesmo
artifício, o autor faz um chamado à população para deter o
movimento comunista e fazer uma ―reconstrução social‖. A
fundamentação teórica utilizada em ambos os casos é a mesma, o
que difere são as condições históricas, o posicionamento de Freyre
diante um novo quadro político e o modo de como ela é utilizada. É
interessante pensar como um autor tão conhecido pela sua
ousadia, principalmente em Casa Grande & Senzala, abarrotou a
imprensa de escritos legitimando a Ditadura. Este estudo também
se propõe a analisar essa ―aparente‖ dualidade que existe entre o
seu pensamento teórico e seu posicionamento político durante o
Regime Militar. Utilizo como referencial teórico autores como
Ricardo Benzaquen, Jessé Souza, Carlos Guilherme Mota, entre
outros. Sendo assim, procuro fundamentar o objetivo o qual me
proponho. Além das obras do próprio Freyre e dos seus artigos
publicados durante a Ditadura. Este trabalho tentará construir uma
discussão acerca de várias questões que permeiam a formação do
pensamento social brasileiro.
Palavras-Chaves: nacionalismo; regionalismo; regime militar;
democracia
16“MÃE
É
TUDO
IGUAL”:
ESTRATÉGIAS
DE
DESLEGITIMAÇÃO MORAL DE MULHERES COM FILHAS EM
UMA INSTITUIÇÃO ABRIGO
Gilson José Rodrigues Junior
Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE)
Graduado em Ciências Sociais (UFRN)
Mestrando em Antropologia (Bolsista CAPES)
[email protected]
40
Resumo: A presente pesquisa é fruto da elaboração da dissertação
de mestrado, que tem como foco pensar sobre as estratégias de
deslegitimação, quando não legais, morais, que estigmatizam
algumas mulheres com filhas (crianças e adolescentes) assistidas
por uma ONG de orientação católica – Escola Profissional Lar de
Nazaré (LN)- em caráter de abrigo. Neste sentido, busquei manter
conversas informais com os diferentes atores que compõe este
universo: equipe que coordena o LN, juiz e promotor da infância e
juventude, técnicos sociais (psicólogos, pedagogos, assistentes
sociais), conselheiros tutelares, e algumas das referidas mulheres.
Isto tem permitido pensar sobre a construção da cidadania
moderna enquanto parte de um ―processo civilizador‖, que não
ocorrendo de forma homogênea, exaltará certos indivíduos em
detrimento de outros. Neste trabalho específico, as crianças e
adolescentes são percebidos como os principais alvos desse
processo, a partir de uma gramática moral naturalizada, enquanto
as mulheres, quando não correspondem aos ideais de ―eterno
feminino‖ e ―amor materno‖, são rebaixadas socialmente, passando
por um tipo de processo ―descivilizador‖.
Palavras-chave:
Cidadania;
Instinto
materno;
Processo
civilizador;
Invisibilização social.
17- O MESTRE DE CAPOEIRA: GENEALOGIA, RITUAIS E
VALORES
Juliana Carmen Brito Rodrigues
Mestranda em Sociologia – UFPB
Prof. Dr. Antônio Giovanni Boaes Gonçalves (UFPB)
Orientador
Resumo: Este artigo propõe a análise da figura do mestre de
capoeira. Com base na literatura referente ao tema, procura
investigar a origem histórica dessa figura, bem como a sua
importância, no meio em que está inserida. Dialogando com
autores das Ciências Sociais, busca compreender o imaginário que
se constrói em torno do mestre e propõe uma discussão sobre a
maneira como esse simbolismo é construído. Os rituais da
hierarquia e do respeito, que estão entre os valores transmitidos
pelos mestres, através das gerações, por meio da oralidade
(tradição oral), também serão analisados, na tentativa de
demonstrar que, em meio a esse vasto universo de sabedoria,
existem questões que são comprovadas historicamente (fatos) e
outras que são parte do imaginário popular (mitos).
41
Palavras-chave: Mestre de capoeira; Hierarquia; Tradição oral;
Fatos; Mitos.
18 - MEMÓRIA:
IDENTIDADES
VESTÍGIOS
PARA
CONSTRUÇÃO
DE
Paula Rejane Fernandes UEPB [email protected]
Resumo: Os marcos temporais contribuem para a produção de
identidades. Eles, dentro de uma cidade, são bastante visíveis uma
vez que são edificados a partir de alguns acontecimentos elegidos
como sendo importantes e marcantes na história da cidade. A
memória tem um papel político, por isso, para nós historiadores, a
importância de pensarmos o porquê de uma sociedade, grupo
étnico, cidade, nação lembrar muito de algo, de determinados
fatos, datas e esquecer outros. Devemos entender e investigar as
memórias como sendo uma ―moeda‖ valiosa na construção de
identidades e legitimação de poderes sejam eles políticos ou
simbólicos. Sendo assim, devemos não cultuar as memórias, mas
estabelecer
com elas
uma
relação
de
investigação
e
problematização que possa nos ajudar a entender a passeidade,
entender como uma época, uma sociedade, uma cidade nomeia a
si mesma, as mudanças pelas quais passa e forja marcos
identitários.
19- UM OUTRO OLHAR SOBRE A VIDA ASILAR
Carla Gabriela Mendes de Azevedo (UFCG)
Thaiany Evangelista da Costa (UFCG)
[email protected]
Resumo: O Asilo é uma Instituição burocrática cuja organização é
fundada em normas e regulamentos voltados para atender o idoso
razoavelmente confortável.
Abrigam idosos que por vontade
própria escolhem ali viver e aqueles abandonados por suas
famílias, dentre outros motivos. Neste trabalho discutimos o
impacto do abandono de idosos por suas famílias, buscando
analisar o significado a fragilidade dos laços familiares, bem como
perceber como o asilado assimila a distância da vida familiar e
social.
Palavras-chave: Idoso; Asilo; Família
20- “O TEMPO DO CATIVEIRO, O TEMPO DA LIBERDADE”:
HISTÓRIAS DE VIDA DE TRABALHADORES RURAIS
ASSENTADOS
José Márcio da Silva Vieira
42
[email protected]
José Anchieta Bezerra de Melo
[email protected]
Resumo: Este trabalho resulta de uma pesquisa realizada em
assentamentos rurais situados no município de Sumé, microrregião
do Cariri do Estado da Paraíba. Intenciona analisar relatos orais de
agricultores ―ex-sem-terra‖, atualmente assentados da reforma
agrária, a partir da oposição entre dois períodos distintos na
história de suas vidas: o chamado ―regime de patrão‖ versus ―a
vida de assentado.‖ No primeiro caso, os trabalhadores rurais
relembram e atribuem significados àquele período, em que
trabalhavam na condição de ―parceiros‖, ―meeiros‖, ―moradores‖
de latifundiários da região, época geralmente descrita a partir de
expressões do tipo ―tempo do cativeiro‖, ―tempo da sujeição‖ em
que se ―trabalhava para os outros.‖ No segundo, por sua vez, os
mesmos o vêem como o ―tempo da liberdade‖, em que tudo que se
produz ―é para a família.‖ Como embasamento teórico, utilizamos
autores como Sidersky, para quem, o camponês se diferencia dos
demais trabalhadores assalariados, pelo fato de deter, ainda que
de maneira relativa, o controle sobre os instrumentos de produção,
o tempo e organização do trabalho etc.
21- ESTUDOS CULTURAIS, INFÂNCIAS E IDENTIDADES
ETÁRIAS
Keila Queiroz e Silva (UFCG)
Jannefrance Gonçalves da Costa
[email protected]
Resumo: Os estudos culturais sobre infância têm contribuído para
o processo de relativização das experiências infantes considerandose suas diversidades espaço-temporais. A nossa pesquisa
etnográfica acerca das cartografias infantes paraibanas partiu do
pressuposto teórico-metodológico de que as identidades são
relacionais, portanto do reconhecimento de que só é possível dar
visibilidade às diversas sensibilidades infantes se assumirmos uma
leitura destas em relação às outras identidades etárias. Conforme
dispôs Sacristan (2006) quem inventou historicamente o menor
foram os adultos da sociedade moderna ocidental, colocando-os na
condição dos que ainda vão ser. Os sujeitos da nossa pesquisa,
além das crianças foram os idosos cuidadores e provedores destas
que constroem as suas identidades no cotidiano de famílias que
denominamos de avoternais (SILVA,2008). A reconfiguração das
identidades senescentes foi possível, não reproduzindo os discursos
que inventaram a terceira idade ou a velhice bem-sucedida, mas
tendo como referência simbólica as experiências de mulheres
43
idosas pobres que vivem situações diárias de risco e fragilidade
tentando assegurar aos seus netos e bisnetos o mínimo de
segurança, dignidade e sentimento de família.
Palavras-chave: infâncias, estudos culturais, identidades etárias
GT 1: HISTÓRIA ORAL, MEMÓRIA E IDENTIDADE
RESUMOS EXPANDIDOS
01 - HISTÓRIA ORAL: REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE
UM CAMPO METODOLÓGICO
José Anchieta Bezerra de Melo
Mestrando/Programa de Pós-Graduação em Sociologia - PPGS / UFPB)
[email protected]
José Márcio da Silva Vieira
Mestrando/Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - PPGCS/ UFCG).
[email protected]
Ao longo dos séculos, a História Oral se constituiu como a maior
fonte humana de produção, conservação e difusão do
conhecimento. Muitos estudiosos buscam na Grécia antiga as suas
origens, apresentando Heródoto como o pai da história oral
(TREBITSCH, 1994:25). No entanto, é apenas na década de 1960
que a construção de um campo metodológico nomeado ―História
Oral‖, é defendido por historiadores que começaram a utilizar a
fonte oral, o que gera um debate intenso e polêmico com aqueles
pesquisadores que utilizam basicamente os documentos escritos.
Nas Ciências Sociais, no entanto, a fonte oral obtida através das
técnicas de histórias de vida, entrevistas estruturadas e semiestruturadas é utilizada desde os primórdios da disciplina no início
do século XX como instrumentos da metodologia qualitativa. A
utilização de fontes orais pelos historiadores aproxima a História
das
ciências
humanas
particularmente,
da
Antropologia.
(HAGUETTE, 1997). Na antropologia, o trabalho de campo, que
inclui tanto as falas dos sujeitos pesquisados quanto a observação
de comportamentos é constituinte da própria disciplina, no entanto,
as fontes orais são colocadas sob suspeita por alguns historiadores.
Nos Estados Unidos da América, a História Oral, teve sua origem
datada em 1984 com a fundação do Columbia History Office que
visava preservar a memória das elites econômicas e culturais do
país. Mas somente em 1964 é que passaria por um momento de
extensa produção e criação. De um número de 80 centros no ano
de 1961, em 1965 esta quantidade irá atingir quase 300
44
departamentos. O clima contestador e revolucionário da década de
1960 contribui para o uso cada vez mais freqüente da História Oral.
A América não estava resumida apenas á guerra do Vietnã,
paralelamente ao nacionalismo de muitos americanos, uma outra
America surgia, revelada através do movimento negro, feminista,
das minorias étnicas, dos imigrantes latinos e daqueles taxados de
―delinqüentes‖, também possuidores de um nacionalismo, porém,
marcado por uma visão idealista e existencialista. Assim, cientistas
políticos e historiadores pretendiam ―dar voz‖ às minorias,
construindo, assim, a chamada história ―vista de baixo‖, história
dos humildes e dos sem história. Ela tira do esquecimento aquilo
que a história oficial sepultou (TREBITSCH, 1994:23), e se
posiciona contra a ficção da subjetividade defendida pelos
positivistas. Esta atenção que a História Oral dedicou às chamadas
minorias sociais,
ressaltou a importância de
memórias
subterrâneas que vão de encontro com a memória oficial e a
memória nacional. (POLLAK, 1989:04).
A década de 80 representa a consagração da História Oral no
mundo. Em Bucareste, no Congresso Internacional das Ciências
Históricas, ela vai finalmente tornar-se legitima no cenário
cientifico histórico. Em 1980, com a fundação do International
Journal of Oral History, teremos a institucionalização e
mundialização da História Oral, com a publicação de grandes obras.
O desenvolvimento de análises de caráter metodológico, no
entanto, não significará um rompimento com a perspectiva
militante. Ao contrário, nos países do leste europeu, logo após a
queda do comunismo, a História Oral vai surgir como um recurso
libertador para povos que permaneceram em silêncio por meio
século.
No caso brasileiro, a História Oral segue mais ou menos as trilhas
dos europeus e norte-americanos. O seu desenvolvimento por aqui
data de 1970. Em 1974 é criado o grupo de documentação em
Ciências Sociais (GDCS). A idéia era criar arquivos na área de
Ciências Sociais, com o objetivo de contribuir para a preservação
de documentos necessários aos estudiosos das ciências sociais no
Brasil. Em 1975, patrocinada pela Fundação Ford, é realizada a
primeira experiência com História Oral no Brasil. (FERREIRA,
1998:19: 30).
Nos anos 1975 e1977, após dois primeiros cursos, tentou-se
alargar as fronteiras da História Oral no Brasil, mas isto se deu de
forma precária e desorganizada. A partir dos anos 1990, ela
ascende com força suficiente para ser reconhecida, nacional e
internacionalmente numa articulação da academia com um
crescente número de encontros promovidos, pautados na criação
da Associação Brasileira de História Oral, e frente a uma demanda
social ampla que passou a abranger a disciplina.
45
O boom da História Oral nos anos 1990, com sua incorporação
pelos programas de pós-graduação em história, a disseminação de
cursos e a multiplicação de seminários em todo o mundo. Por outro
lado, o estabelecimento e o aprofundamento de contato com
pesquisadores estrangeiros e com programas de reconhecido
mérito internacional, propiciados por esses encontros, criaram
canais importantes para o debate e a troca da experiência.
(FERREIRA, 1998:23).
A História Oral foi alvo de diversas criticas, principalmente de
historiadores que utilizam e apenas legitimam fontes escritas como
documento na história. Uma das criticas mais sérias é o
questionamento da legitimidade dos documentos orais devido a
influencia da subjetividade dos informantes. No entanto, os
documentos escritos também não estão isentos da subjetividade de
quem os produzem, bem como dos interesses e intenções dos
envolvidos na elaboração do documento. Os trabalhos baseados
nos relatos orais tentam incorporar as vantagens da subjetividade
dos documentos produzidos pela metodologia da História Oral.
Se por um lado há divergências com relação ao uso da História
Oral, podemos considerar como positivo a extensão do campo que
ela conquistou. Se na origem, ela foi associada ao estudo das
minorias, dos marginalizados, atualmente, incorporou no seu
campo um debate teórico-metodológico profícuo. O reconhecimento
e a adesão por um considerável número de pesquisadores de
diferentes disciplinas demonstram o seu êxito.
REFERÊNCIAS
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ed., São Paulo, Companhia das Letras, 1994.
FERREIRA, Marieta de M. História oral e tempo presente. In: (Re)
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Paz e Terra, 1992.
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relação entre História Oral e as memórias. Projeto História, São
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história oral no discurso da história contemporânea". In: Marieta de
Moraes Ferreira (org.), História oral e multidisciplinaridade. Rio
de Janeiro, Diadorim/Finep, 1994, p.19-43.
O2 - SIGNOS E LINGUAGEM CORPORAL NA CONSTRUÇÃO DE
UMA IDENTIDADE SOCIAL NO INTRAMUROS: A PRÁTICA DA
TATUAGEM CARCERÁRIA
Adriana Pereira de Sousa
Mestranda em Sociologia – PPGS – UFPB
Este trabalho é uma reflexão prévia do resultado parcial da
pesquisa de campo realizada sobre ―a prática da tatuagem
carcerária‖ em João Pessoa – Estado da Paraíba, tendo como seu
principal objetivo analisar a prática da tatuagem carcerária como
signos de representação de poder, demarcação de território,
subjetividade do indivíduo e construção de uma identidade
individual e social no intramuros do Instituto Penal Desembargador
Silvio Porto. A partir de entrevistas livres e direcionadas com os
reclusos, foi possível constatar que a tatuagem carcerária pode ser
entendida como uma linguagem específica e codificada entre a
comunidade de cativos, porém, a sua prática se reveste de várias
nuanças e significados de acordo com o lugar e o resultado
pretendido pelo ator. Dentro dessa sociedade a tatuagem traz em
si uma prática de uso cultural e social delineada pelos conflitos
interiores e exteriores na construção da identidade individual e
social do indivíduo, estes resultantes das inter-relações sociais.
Partindo do pressuposto que o poder não é um atributo exclusivo
do Estado, e sim, um exercício constante que se realiza de várias
maneiras e em locais distinto estando sempre presente nas
relações sociais, a prática da tatuagem carcerária encontra-se
dentro desse contexto. O indivíduo tem a possibilidade de marcar o
seu corpo de acordo com a simbologia que ele queira representar
em relação ao crime cometido, sendo esta uma forma de exibição
47
de periculosidade, exprimindo um sentido de intimidação e ao
mesmo tempo de poder sobre àqueles que são considerados mais
fracos (FOUCAULT, 1987).
Quando o indivíduo adentra ao intramuros, a partir do momento
em que ele cruza o portão de entrada da sociedade dos cativos há
uma ruptura brusca da sua identidade individual e social, a partir
de então, este desenvolverá novas formas de comportamento e
novas redes de sociabilidades independentemente da sua vontade,
construindo sua identidade individual e social a partir das regras
estabelecidas no intramuros, sendo estas regras a imbricação das
regras institucionais com as regras estabelecidas pela própria
comunidade dos cativos que já estavam postas e estabelecidas
muito antes da sua chegada nesse mundo novo.
Segundo Goffman (2005), a barreira que as instituições totais
colocam entre o internado e o mundo externo assinala a primeira
mutilação do eu. Portanto, essa nova identidade será construída no
limiar tênue entre a ruptura brusca da identidade do eu do mundo
em sociedade o qual ele vivia e a nova identidade que passa a ser
construída a partir da entrada no cárcere onde a mutilação do eu
acontece a todo instante e em todos os aspectos da vida social.
Assim, ―a vida do internado é constantemente penetrada pela
interação de sansão vinda de cima, sobretudo sobre o período
inicial de estada, antes de o internado aceitar os regulamentos sem
pensar no assunto‖ (GOFFMAN, 2005, p. 42).
Para esse indivíduo, o conflito entre o mundo externo e o mundo
interno o qual agora ele pertence mesmo contra a sua vontade o
levará a uma crise de identidade sem precedentes, esta muitas
vezes caracterizada com sentimento de revolta, violência,
amargura, angústia e solidão. Resultante desses conflitos entre o
eu individual e o eu social que está em transformação e em
desenvolvimento constante aparecem às primeiras tatuagens do
cárcere. Pude observar que a maioria dos indivíduos que trazem
tatuagens em seus corpos ligadas a criminalidade foram feitas nos
primeiros anos de estada, período de adaptação das regras
institucionais e das regras sociais criadas pela própria comunidade
dos cativos, as quais na maioria das vezes vão de encontro com o
seu eu que foi expropriado sem o seu consentimento enquanto
indivíduo e sujeito.
Considerando o intramuros como uma sociedade específica a ser
analisada, a inter-relação entre os próprios cativos e estes com a
instituição propicia a construção de uma história que segue um
curso não pretendido ou planejado por qualquer dos indivíduos que
compõem essa rede de sociabilidades (ELIAS, 2004). Dentro desse
contexto singular a sociedade dos cativos é o resultado das interrelações entre os próprios cativos, entre os cativos e o corpo de
funcionários, entre os cativos e a própria instituição e entre o corpo
48
de funcionários e a instituição, onde o poder perpassa por todas as
esferas das inter-relações sociais.
No sistema prisional o indivíduo é considerado singular em seu
modo de ser, agir e pensar, mas, ao mesmo tempo ele compartilha
comportamentos, pensamentos e sentimentos em comum dentro
da sociedade da qual está inserido. Todos os aspectos da vida são
realizados num mesmo local, sob uma única autoridade, todos
recebem o mesmo tipo de tratamento e são obrigados a fazer as
mesmas coisas em companhia de muitos outros com regras e
horários rigorosamente estabelecidos independentemente da sua
vontade. Toda atividade é imposta de cima, por um sistema de
regras explícitas vigiadas por um grupo de funcionários (GOFFMAN,
2005).
Dessa forma, a construção da identidade social torna-se conflitante
para o indivíduo, uma vez que, cada indivíduo interage de acordo
com a sua singularidade e é visto e tratado sem distinção
individual, o tratamento dispensado é comum a todos, sem
diferenciação alguma, aos olhos da instituição são considerados
apenas como um único corpo social.
A tatuagem carcerária também é uma prática resultante da
construção de uma identidade individual e social que perpassa
pelas redes de poder e de relação entre seus pares e o corpo
institucional. Sendo esta apresentada como uma imbricação dessas
relações, onde o indivíduo inscreve em sua pele a partir da sua
subjetividade, exteriorizando o conflito entre o eu individual e o eu
social dentro dessa sociedade específica.
Ao adentrar numa instituição total, durante o processo de
aniquilação do eu em sociedade e a construção do eu no
intramuros o indivíduo vive um conflito interior em relação a sua
identidade, quem ele era não pode ser mais, assim, este eu social
ficará em sua memória, pois, não condiz com a sociedade da qual
esse indivíduo passou a fazer parte.
É nesse limiar que as
primeiras inscrições na pele dentro do cárcere decorrem com um
caráter especificamente ligado a pessoa do criminoso e que mais
tarde perante seus pares essas inscrições a flor da pele ganhará o
respaldo de virilidade, força e masculinidade atribuindo-lhe status
social.
Alguns desenhos demonstram claramente essa evidência devido a
sua especificidade. A parte do corpo escolhida para ser tatuada faz
parte de um ritual de identificação do prisioneiro enquanto tal, na
intenção de exibir em seu corpo a sua periculosidade, ser temido e
respeitado, uma imposição velada, onde o indivíduo não precisa
dizer quem é, basta olhar-lhe para temê-lo e não ousar enfrentálo. É um tipo de aviso estampado no corpo, para ser temido,
respeitado e obedecido.
49
A tatuagem carcerária pode ser entendida como uma linguagem
específica e codificada entre a comunidade de cativos, porém, a
sua prática se reveste de várias nuanças e significados de acordo
com o lugar do ator e o resultado pretendido. Alguns se tatuam
apenas pelo simples fato de gostarem de tatuagem, ou ainda para
passar o tempo. Outros na intenção de forjar uma identidade para
ter ―consideração‖ perante seus pares. Alguns desconhecem os
significados dos desenhos relacionados com a criminalidade, só
depois de tatuarem-se é que então tomam ciência, porém, os casos
mais comuns são àqueles em que a tatuagem representa signos de
criminalidade, e esta está ligada diretamente ao conflito entre o eu
individual e social do indivíduo em sociedade e a construção da
identidade individual e social do recluso no intramuros.
O desenho escolhido e o local a ser tatuado denunciam
características particulares da personalidade de cada indivíduo,
falando por si só, o desenho expressa na maioria das vezes os seus
sentimentos mais íntimos. A tatuagem carcerária é a expressão
mais significativa do ser humano que está por trás do criminoso,
onde este inscreve em sua pele a sua história de vida e do cárcere,
através dos signos o indivíduo revela os seus sentimentos e
segredos mais secretos que jamais ousaria revelá-los.
REFERÊNCIAS
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Vozes, 2007.
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UNESP; Brasília: Paralelo 15, 2006.
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ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1994.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 16 ed. Petrópolis: Editora
Vozes, 1997.
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da
Identidade Deteriorada. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge
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_______ Manicômios, Prisões, e Conventos. 7ed. São Paulo:
Perspectiva, 2005.
MARQUES, Toni. O Brasil tatuado e outros mundos. Rio de
Janeiro: Rocco, 1997.
OSÓRIO,
Andréa
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O
Gênero
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Tatuagem:
Continuidades e novos usos relativos à prática na cidade do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006. Tese (Doutoramento em
Antropologia Social) Programa de Pós-Graduação em Sociologia e
50
Antropologia – PPGSA, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais –
IFCS, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
RAMALHO, José Ricardo. Mundo do Crime: A Ordem pelo
Avesso. 2 ed. Rio de Janeiro: Grall, 1983.
RODRIGUES, Guilherme Silveira. Código de Cela: O Mistério das
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SOUSA, Adriana Pereira. O uso do corpo como tela de arte: a
trajetória da tatuagem em João Pessoa. João Pessoa, 2007.
Monografia (Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso em
História), Universidade Federal da Paraíba.
03 - VELHICE E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE AS
EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS VIVIDAS POR IDOSOS EM
PROGRAMAS DE ALFABETIZAÇÃO
Elânia De Moura Rocha
(MS. SOCIOLOGIA -UFCG/FAESF)
[email protected]
Introdução: O crescimento acelerado da população idosa no Brasil
nas últimas décadas pôs em evidência a problemática relacionada à
velhice, tanto do ponto de vista estritamente médico, quanto do
socioeconômico. A questão ganhou nova relevância entre as
preocupações dos governos, da sociedade e dos meios científicos.
Face ao quadro atual e prospectivo do envelhecimento populacional
e sua transformação em ―problema social‖, passaram a ser
preocupações da sociedade as questões relacionadas à promoção
da saúde e bem estar de idosos; a integração das diversas
gerações, bem como a busca para reduzir os preconceitos com
relação à idade cronológica e a vida de aposentado, dentre outras.
Desse modo, a educação para idosos passou a fazer parte das
políticas públicas e das mais diversas propostas associativas,
tornando-se uma via para manter ativos socialmente os que
envelhecem. Os Grupos de Convivência e as Universidades da
Terceira Idade amparadas pela Política Nacional do Idoso (Art. 10
da Lei n. 8.842 de 04/01/1994) têm desempenhado um papel
importante com a criação de programas educacionais para atender
esta camada da população. Esses programas se tornaram modelos
aceitos e implementados pela ação estatal, consolidando-se como
alternativas de uma política social que legitima essas atividades.
Segundo dados do IBGE (2004) constata-se, que existiam no Brasil
15,1 milhões de analfabetos acima dos 15 anos. Entre a população
idosa o analfabetismo funcional totaliza 49%, 23% declaram não
saber ler e escrever, 4% afirma só saber ler e escrever o próprio
nome e 22% considera a leitura e a escrita atividades penosas.
Tfouni (2004) mostra que as conseqüências do analfabetismo na
conjuntura das sociedades contemporâneas são amplas: constitui
51
um empecilho à liberdade plena das pessoas, afeta a auto-estima,
e é também um impedimento concreto ao exercício da cidadania.
Inegavelmente, em uma sociedade de conhecimento cada vez mais
socializado e diversificado, a educação se torna imprescindível para
a melhoria da qualidade de vida de todas as pessoas e também das
mais velhas, sendo essencial para desmistificar verdades
consolidadas e construir novos significados sobre o envelhecimento
e outros aspectos da vida humana.
Diante disso, este estudo teve como objetivo analisar as
experiências de alfabetização vivenciadas por idosos beneficiados
pelas políticas de inclusão realizadas em grupos para terceira
idade.
Materiais e Métodos: Este estudo se caracterizou por uma
abordagem etnográfica para construir um estudo de caso sobre
alfabetização de idosos. Optou-se por esse procedimento para
desvelar os significados que indivíduos idosos atribuem às
experiências de aprendizagem, uma vez que a pesquisa etnográfica
pressupõe a descrição e a interpretação em busca de explicar o quê
as pessoas fazem em um determinado ambiente (a sala de aula,
por exemplo), quais os resultados de suas interações, e qual o
entendimento têm do que estão fazendo (GEERTZ, 1989). O lócus
de investigação empírica o Centro Municipal de Convivência do
Idoso - CMCI , da Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB é o
cenário real onde a atividade especifica de alfabetização e
letramento se desenvolveu e tornou-se objeto desse estudo
durante o ano de 2006 e 2007.
Foram selecionados para pesquisa 08 idosos (01 homem e 07
mulheres) na faixa etária entre 50 e 79 anos que freqüentavam
assiduamente as aulas do Projeto EJA do Centro Municipal de
Convivência do Idoso. Para apreender as significações que os
idosos atribuem as suas experiências de alfabetização, priorizamos
como instrumentos de coleta de dados: 1) a observação direta, o
que permitirá o contato face a face com os sujeitos da pesquisa,
para acompanhar as ações dos atores em seu contexto natural, a
partir de suas perspectivas e seus pontos de vista (CHIZZOTTI,
1998); 2) a entrevista semi-estruturada em que nos dirigimos aos
sujeitos através de algumas perguntas iniciais pré-estabelecidas,
que servem para desencadear uma conversa sobre suas práticas de
alfabetização. Para sistematização dos dados e análise do conjunto
de informações obtidos no trabalho de campo utilizamos à
abordagem qualitativa visando ―interpretar a compreensão dos
atores sociais no contexto cultural em que produzem a informação‖
(op.cit., 99).
Resultados e Discussão: Constata-se que os alunos pesquisados
têm idades compreendidas entre 50 e 79 anos. Como já
demonstrado por diversas pesquisas (MOTTA, 1997; CABRAL,
52
1997; DEBERT, 1999) também registramos concentração maior do
sexo feminino. Apesar da diferença etária no grupo remanescente
demonstra disposição e desejo de participar de atividades
educacionais, certamente para dar um novo sentido à vida, e
ainda, superar estereótipos da velhice, tão discriminada em nossa
sociedade. Constata-se ainda que 75% dos participantes moram
com a família, enquanto 25% residem sós. Conforme esclarecido
nas entrevistas a maioria reside com os filhos, netos, genros e
noras. Vários estudos mostram a importância da família,
considerando-se as relações familiares como imprescindíveis para
os idosos.
Quanto ao estado civil, encontramos um número maior de
mulheres viúvas 37,5%, 25% casadas e 25% são solteiras.
Segundo dados do IBGE em nossa sociedade prevalecem um
elevado contingente de viúvas, as quais contrastam com a alta
proporção de homens casados. Quanto aos padrões de renda
econômica constatamos que 37,5% recebem aposentadoria, 12,5%
são aposentadas e pensionistas. Sendo que 12,5% são assalariadas
e 12,5% são pensionistas. Dos motivos de vir para o CMCI
identificamos
que
os
idosos
declaram
querer
adquirir
conhecimentos e conquistar novas amizades. Muitos reclamam de
tristeza e depressão, mesmo que em família, ou da falta de
atividade, em decorrência da aposentadoria. Verificamos também
que embora a maioria não tenha estado no mercado formal de
trabalho, as que estiveram, declaram profissões como professoras,
costureiras, artesã e empregada doméstica.
Verificamos que a renda da maioria pesquisada (62,5%) varia de 1
a 2 salários mínimos. Esta renda visivelmente baixa denota que os
idosos pesquisados fazem parte das camadas populares da
sociedade. Sendo que 12,5% sobrevivem com uma renda inferior a
1 salário mínimo. Em relação á escolaridade do grupo pesquisado
verifica-se na tabela 6 o pouco tempo de escolarização dos alunos.
Constata-se que 50% dos participantes sabem assinar o nome.
Entre as mulheres 12,5% cursaram até 3ª do primário, e 12,5%
tem a 4ª do primário.
Considerações Finais: Um dos grandes problemas vividos pelos
idosos hoje é sua adaptação às exigências do mundo moderno. Isto
se deve, em parte, à falta de oportunidade educacional desta
geração, de uma época em que freqüentar escola era um privilégio
de poucos. Segundo IBGE (2004) entre a população idosa o
analfabetismo funcional totaliza 49%, 23% declaram não saber ler
e escrever, 4% afirma só saber ler e escrever o próprio nome e
22% considera a leitura e a escrita atividades penosas. Esses
dados mostram que o número de idosos analfabetos ainda é muito
alto. As experiências resultantes da prática de atividades
educativas propostas no projeto EJA do Centro Municipal de
53
Convivência do Idoso na cidade de Campina Grande-PB, foram
comentadas pelos idosos remanescentes como importantes ganhos
em diversos âmbitos de suas vidas porque, intensifica os contatos
sociais, a troca de vivências, de conhecimentos e de
aperfeiçoamento pessoal.
REFERÊNCIAS
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Campinas, Papirus, 1995.
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BERQUÓ, Elza. ―Considerações sobre o envelhecimento da
população no Brasil‖. In: Velhice e sociedade. Anita L. Neri e
Guita G. Debert (Orgs.). Campinas, SP: Papirus, 1999.
BRANDÃO, C. R. O que é educação? SP. Brasiliense, 1984.
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CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São
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FREIRE. Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à
prática educativa.SP: Paz e Terra, 2001.
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GEERTZ, A. G. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro:
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MOTTA, Alda B. ―Palavras e convivência – Idosos hoje‖. In:
Estudos Feministas, n.1/97; v. I, IFCH/UFRJ, Rio de Janeiro,
1997.
TFOUNI. Leda V. Letramento e alfabetização. SP: Cortez, 2004.
04 - REFLEXÕES SOBRE AS MEMÓRIAS DE UM GRUPO DE
ASSENTADOS NA PARAÍBA
Francisco Fagundes de Paiva Neto
Doutorando em Ciências Sociais/UFCG
Prof.: Depto História/UEPB
O nosso interesse pela área de assentamento decorreu de
entrevistas com religiosos e leigos militantes da teologia da
54
libertação nos anos 80.
A realização de entrevistas sobre a
trajetória de um religioso estrangeiro nos demonstrou uma relação
entre um padre e um leigo, que auxiliava na mobilização dos
camponeses na área que chamaremos de Soledade Vasca. O padre
portava um carisma, que auxiliava na organização da luta
camponesa, através do apoio material, pedagógico e do
estabelecimento de estratégias. O leigo em questão tornou-se o
alter ego do religioso, pois realizava façanhas que causariam
problemas se fossem praticadas por um padre.
A realização de outras entrevistas com outro religioso nos acentuou
a curiosidade pela área, quando ocorreu a referência a uma
―procissão‖, na qual os participantes levavam um andor, o padre ia
ao centro do grupo dos caminhantes e nas extremidades alguns
camponeses traziam as suas espingardas de soca carregadas e
prontas para defender o religioso de um possível ataque de
pistoleiros. Os cânticos assustavam as aves noturnas e as luzes de
velas, de lamparinas e de ―flashlights‖ exorcizavam as trevas e
revelavam os insetos em seus vôos noturnos. O religioso que fez a
revelação recordou da cena e nos assegurou da ciência do colega
das ações do alter ego em relação a expulsão de jagunços da área,
a partir de uma ação mais audaciosa. Pode nos narrar esses
eventos porque nessa ocasião teve a incumbência de ir até a área
com um carro para trazer o colega em segurança. Outro padre,
por sua vez, mencionou que também chegou a ir com um colega a
uma área e de serem vítimas de disparos no carro, que
provavelmente foram deflagradas por pessoas contratadas por
algum fazendeiro incomodado com as ações políticas em torno da
reforma agrária na sua propriedade.
A quebra da obediência as normas da CPT, em relação a prática de
escaramuças armadas, segundo o sacerdote nos afirmou foi uma
prática que fugiu aos conselhos dados aos camponeses para não se
confrontarem com armas; da afirmação pelo coletivo de
trabalhadores rurais ou de camponeses ―de que não se
preocupasse que saberiam o que fazer‖ e de que ―até hoje não
soube quem eram os homens que realizaram a expulsão dos
jagunços‖.
As assertivas, o olhar e a expressão facial nos
acentuaram a impressão de indícios de conhecimento da
movimentação, mas demarcava um espaço de ocultação do alter
ego (que posteriormente comprometeu a amizade, ao querer impor
aos demais assentados as suas vontades) e de preservação de
algumas dinâmicas de estratégias, que não deveriam ser reveladas
a um estranho, mesmo sem ter havido nenhum incidente grave.
Intuímos que podíamos nos servir daquela inferência para tentar
desvelar os caminhos percorridos pela gente de Soledade Vasca
para realização da passagem da condição de foreiros para
assentados, garantindo a preservação dos seus vínculos com
55
aquela área, que por algumas gerações já vinha sendo trabalhada.
A permanência no âmbito daquele município tende juntamente a
preservação de vínculos familiares e culturais, pois há anos tem
ocorrido uma sagria populacional para áreas metropolitanas das
regiões Centro-oeste (colheita e encaixotamento de tomate) e
Nordeste (trabalho sazonal das usinas). Partimos para o campo
―deslocar a nossa própria subjetividade‖, podendo ―distinguir o
piscar mecânico e fisiológico de uma piscadela sutil e comunicativa‖
no cruzamento dos ―caminhos da empatia e da humildade‖ (DA
MATTA, 1978, p. 35).
Alguns questionamentos nos surgiram: como um agente social se
torna uma liderança político-religiosa para os camponeses de um
rincão paraibano? Como a luta pela terra foi um meio de forjar as
condições para um padre se tornar um líder religioso e político
entre os camponeses?
Como através de uma perspectiva
etnográfica as memórias se dispuseram em transmitir relatos sobre
essa experiência? (Como os relatos unificam e afastam os
narradores no assentamento?)
A realização de uma pesquisa com uma metodologia qualitativa
exigiu-nos algumas condições fundamentais, dentre elas uma boa
interação com os nossos narradores. Essa fase nos fez rememorar
as reflexões de BERREMAN (1980, p. 125) sobre a questão da
apresentação pesquisador/grupo e o processo de interação com
toda a sua pluralidade de caracteres: a disponibilidade em falar
certas coisas ou a arte de também negaceá-las, quando é
necessário ante a possível e provável intromissão em assuntos
internos ou que exigem algum grau de iniciação.
A partir dessa reflexão, queremos acentuar um ponto, que esteve
presente na nossa experiência. A questão da impressão a cerca
dos membros do assentamento, a partir da construção de
determinadas narrativas, que foram assumindo gradativamente
uma disputa em torno de determinados eventos referentes a
própria dinâmica da luta política para constituição do
assentamento. O ato de narrar assumia, cada vez em que se
realizava uma entrevista, um espaço de disputa em relação a
outras
falas
e
a
outras
versões,
embora
ocorresse
complementariedades narrativas, ao nosso julgamento de grande
importância para se compreender a dinâmica das disputas internas
e da especificidade da participação em cada um dos grupos
envolvidos. Conforme LEVI (1992, p.153):
os micro-historiadores concentraram-se nas contradições
dos sistemas normativos e por isso na fragmentação, nas
contradições e na pluralidade dos pontos de vista que
tornam todos os sistemas fluidos e abertos.
56
Essa preocupação nos acentua a percepção para uma visualização
mais plena no que se refere aos envolvidos nas disputas políticas
da área em questão.
A normatividade institucional, como,
veremos, também foi esgarçada pela autonomia dos agentes.
Considerando a área do nosso estudo, as sociações em grupos
religioso-políticos foram rememoradas nas suas modalidades de
estratégias de subversão, tendo a forma de um importante capital
no que tange a memória dos participantes. Por outro, lado houve
participantes cujas ações, diante de condições que aviltavam ainda
mais as suas condições sociais e a sua dignidade humana,
recorreram as escaramuças para tentar trazer a intranqüilidade
contra um bando promotor de violências contra os camponeses
acampados na área. Scott (2000) entende que as noções de
―dignidade‖ e de ―autonomia‖ colaboram para se compreender
diretamente as complexas interelações entre os grupos sociais.
Quando se referiu as resistências de escravos mencionou que a
dignidade humana em uma situação de servidão pode ser
severamente afetada, porque o amo tem o poder de vida e de
morte sobre o seu escravo. Na área em que estudamos a noção de
―dignidade‖ aviltada não se refere apenas aos escravos, mas a
homens livres em condições sociais aviltantes. De toda forma,
concordamos com Scott (op. cit) quando afirma que a solidariedade
entre subordinados, se se obtém, se deve paradoxalmente a certo
grau de conflito. Compreendemos que esse capital memorial, as
memórias dos participantes, não pode ser olvidado, sob pena de
empobrecer e solapar a memória dos grupos. Optamos por buscar
a polifonia dos discursos.
Os conflitos entre os grupos de acampados em torno de estratégias
individuais e coletivas diversas exercem um protagonismo
importante, que nos permite entender como se processava a luta
pela reforma agrária. Ao mesmo tempo, há que se notar como
esse grupos se unificavam diante de um grupo mais forte, como
um ―indivíduo-coletivo‖ para reivindicar o direito a terra, que só
poderia
naquelas
circunstâncias
ser
viabilizada
pelo
empreendimento comunitário. A nossa discussão se aproxima a de
Grendi e E. Thompson sobre a compreensão ―relacional‖ de classe.
A perspectiva de Grendi no âmbito da micro-história faz ver a
história social como uma ―história das relações entre pessoas e
grupos‖, pois um recorte temporal/espacial (urbano ou rural) falanos sempre de séries ou redes de relações interpessoais.
A nossa experiência etnográfica nos fez refletir sobre as negaças
dos nossos entrevistados em relação a preservação de informações
concernentes a dinâmica do conflito em Soledade Vasca, mormente
quando ocorreram as rusgas entre os pistoleiros e os acampados.
Acreditamos da prática do que chamamos aqui de estratégia do
silêncio tenha por base alguns preceitos: 1º) Não associar as
57
reivindicações a atos violentos, pois não havia uma unanimidade
entre os acampados da expulsão por meio do uso da violência,
devido as orientações constantes da Igreja de não se contraporem
por meio de armas de fogo; 2º.) Quando ocorreram as menções
aos tiroteios e ao cerco resultante na expulsão, o narrador sempre
presenciava, mas nunca estava participando ativamente, ou seja,
portanto uma arma; 3º.) Os nomes dos participantes eram sempre
ocultados, exceto o de C. e de A.; 4º.) Quando uma narradora
afirmou sutilmente a ocorrência das trocas de tiro, atribuiu a
organização da ação a um agente que não fazia mais parte da
comunidade e de um homem já falecido, que havia feito um
―favor‖; 5º.) As armas que eram portadas para fazer a guarda dos
tijolos tinham como fim, eventualmente, caçar algum animal de
pequeno porte; 6º.) O temor as sanções sociais ao uso de armas,
sobretudo, devido a possibilidade de criminalização dos
movimentos sociais quando se afirmam publicamente como
armados; e, 7º.) A mediação da Igreja visava exatamente um
compromisso explícito de não se utilizar armas, porque o objetivo
da pastoral se voltava para uma reforma social, na qual a
preservação da vida dos militantes e dos adversários deveria se
circunscrever. Assim, temos consciência de que as revelações
foram parciais, limitadas pela própria forma de organização grupal
em relação com aqueles que não pertencem ao assentamento e
tampouco foram participantes dos eventos. Os narradores, como
forma de preservar o conteúdo das refregas, tendiam sempre a
elaborar um jogo lingüístico para driblar a própria participação;
atribuir a pessoas que vieram de fora.
Para Alessandro Portelli a memória é dividida entre a
instituicionalizada e a comunitária, mas dela também faz parte a
pluralidade dos inúmeros fragmentos das diferentes memórias, que
não podem jamais ser ignorados pelo pesquisador, sob o pena de
deixar de lado o fato da elaboração da memória e do ato de
lembrar como individuais. Entre a memória oficial e a comunitária
existem outras memórias que precisam ser ouvidas.
REFERÊNCIAS
BARTH, Fredrick. O guru, o iniciador e outras variações
antropológicas. Rio de Janeiro: Contra capa Livraria, 2000.
BERREMAN, Gerard D. Por detrás de muitas máscaras.
In:
Desvendando máscaras sociais.
Rio de Janeiro: Editora
Francisco Alves, 1980, p. 123-172.
BOURDIEU, Pierre. Outline of a Theory of Pratice. Cambridge,
1977, p. 192.
DAMATTA, Roberto.
O ofício de etnólogo, ou como ter
“Antrhopological Blues”. In:
58
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro:
Zahar, 1989.
GRENDI, Edoardo. ―Micro-analisi e storia sociale‖. In: Quaderni
Storici, n. 35. Oral History fra Antropologia e Storia. Ancona,
Maggio. Agosto 1977
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: Burke, Peter. (Org.). A
escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Ed. Unesp,
1992, p. 153-155.
PORTELLI, Alessandro. O massacre de Civitella Val di Chiana
(Toscana, 29 de junho de 1944): mito e política, luto e senso
comum. In: Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro:
Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996.
SCOTT, James. Los dominados y el arte de la resistencia:
discursos ocultos. México: Ediciones Era, 2000.
05 - “ELES NÃO TINHAM CIVILIZAÇÃO...” a reconstrução da
história da ocupação do Oeste do Paraná à partir da
memória dos colonos no município de Cascavel
Vilson Cesar Schenato
Mestrando PPGCS/UFCG
Este artigo pretende contribuir com a recuperação da história não
oficial da ocupação de terras no Oeste do Estado do Paraná. Tendo
a História Oral como suporte metodológico, busca-se aqui
demonstras a complexidade da memória sobre a colonização
ocorrida naquela região entre a 2ª metade do século XX, que foi
marcada por disputas e negação de sujeitos ali presentes.
A metodologia da História Oral foi utilizada por meio de entrevistas
com colonos da comunidade Linha São Roque no município de
Cascavel/PR.
De acordo com Montenegro (2001), o trabalho da história oral
junto aos segmentos populares resgata um nível de historicidade
que comumente era conhecida através da versão produzida pelos
meios oficiais e é com esse sentido que vamos recuperar aqui os
relatos orais.
É necessário considerar que a representação do passado que
predomina na memória coletiva e individual tem uma significativa
participação no governo individual e social (MONTENEGRO, 2001).
Assim, ao resgatarmos os relatos orais dos colonos, estamos
recriando uma realidade que apesar de selecionado da memória
destes, diz respeito aos processos sociais e históricos daquele
contexto social.
A ocupação da fronteira Oeste do Paraná foi marcada por um
processo conflituoso de expropriação, grilagem e violência, que não
é informado pelas fontes jornalísticas e da história oficial sobre o
processo de colonização daquele lugar.
59
Os discursos oficiais geralmente ―apagam‖ da memória este
passado recente e conflituoso, querendo além de ressaltar o
desbravamento das terras ―despovoadas‖ pelos migrantes,
reconstruir uma imagem e identidade regional harmônica e
homogênea, escamoteando os conflitos ou culpando os posseiros
por qualquer conflito que por ventura aparecesse, eximindo assim,
os grileiros, as colonizadoras e os próprios governos do Estado do
Paraná. Abrindo-se, um espaço importante para investigar o modo
como num local pré-determinado pode-se recuperar o modelo pelo
qual se atribui identidade ao outro e como se constrói ou se reforça
uma identidade portada nas transações sociais.
É também na memória oficial que temos a heroicização do
―pioneiro‖ em uma identidade formada por ―gente que faz‖,
anulando-se a possibilidade de evidenciar outros sujeitos que não
compartilham dessa ―identidade‖ regional. Além dos posseiros, os
indígenas são ―outros‖ que não são lembrados, mas sim silenciados
nas versões oficiais da história e do imaginário social hegemônico.
Apesar de ali estarem anteriormente, os Guarani são vistos como
―intrusos‖ e obstáculos a serem removidos pelos colonizadores para
a instalação dos colonos (RIBEIRO, 2000: 96).
Incentivados pela campanha de Marcha para Oeste, estes colonos,
para continuarem se reproduzindo socialmente enquanto
camponeses, compartilharam dessa ideologia de povoamento que
deveria ser realizada por aqueles que eram ―afeitos ao trabalho‖,
―construtores do progresso e de uma Nova Pátria‖, que ao se
excluía os caboclos e os indígenas destes projetos de colonização
controlados pelo Estado.
As empresas colonizadoras na região Oeste do Paraná seletividade
de colonos elegeu o migrante como propulsor do moderno, do
progresso e este interiorizou uma ética de trabalho árduo e
competitiva que lhe garantia o acesso à terra e a sua permanência
naquele espaço enquanto fosse considerado um personagem
―civilizatório‖ e ―moderno‖.
Um recorte étnico que deslegitimou a terra dos ―caboclos‖ pode ser
ainda hoje buscado na memória de alguns colonos que para se
auto-afirmarem naquele espaço desqualificavam e negavam a
humanidade do ―outro‖. É o que se percebe ainda hoje na fala
deste colono da Linha São Roque em Cascavel PR:
Caboclo, aquele povo sem conhecimento, sem cultura. É a onde
que sumiu, tinha dois. Disse que era meio brabo ainda. Mas foram
sumindo também, nem sei pra onde foram essa gente, sumiram.
(...) Era, não tem conhecimento das coisas né, tem que ser isso daí
né, por que a pessoa com conhecimento não é bravo, é fácil você
mexer com quem tem conhecimento, a verdade, onde é que ta o
erro, e a onde ta a verdade né, e esse povo é o seguinte, eles
acham que o certo é o que ele imagina né. O certo é o que eles
60
pensar e pronto. (...) Eram, gente mais conhecido, que falavam,
que eles eram gente meia, andavam com revolver na cinta,
armado né, é isso ai né. Eles sempre queriam ser mais que os
outros aqui, eles tinham um jeitinho diferente, não tinham
civilização não. (Colono A.M, 66 anos).
Lembramos autores como ELIAS E SCOTSON (2000), discutem
sobre o estigma, em que o grupo que detém mais poder afirma sua
superioridade ao estigmatizar o―outro‖ como pessoas de origem
inferior ou ―sem origem‖, ―sem conhecimento‖, ―incivilizadas‖. Isso
não se deve ao acaso, mas num contexto em que o grupo que
detém mais poder, tenta manter sua superioridade social por meio
do estigma étnico ao grupo menos poderoso que ao incorporá-lo se
vê com os olhos dos vencedores que adentram em suas almas,
para se apropriar de suas terras. Não seria esse o segredo de
como de repente aqueles caboclos sumiram? Muitos ficaram pela
região trabalhando como ―peões‖ nas fazendas ou migraram para
outras regiões ou para a cidade, alguns com raras exceções
viraram arrendatários e conseguiram adquirir uma posse
escriturada, outros ainda lutaram pela terra e alguns poucos foram
assentados.
As representações altamente negativas que os brancos elaboravam
(e continuam a elaborar em contextos parecidos) para aqueles
nativos, sintetizadas na categoria de ―caboclo‖ que ao ser adotada
pelos próprios indígenas, seria também a interiorização dos termos
etnocêntricos dos brancos. O ―caboclo‖ para os civilizados seria o
sinônimo do intruso, preguiçoso e não-confiável e que portanto não
mereceria a terra em que estava. (OLIVEIRA, 1976).
A negação, ou pormenorização na própria historiografia, tanto de
conflitos sociais agrários, bem como da existência de indígenas na
região revela tanto a construção oficial de um passado mais
harmônico do que foi, e ao mesmo tempo, o apagamento de outros
sujeitos da memória oficial, elaborada muitas vezes por
encomendas das prefeituras . Esta história enviesada a partir de
interesses políticos encontra-se também em certos trabalhos
acadêmicos, sobre a região, que com a chancela da ciência acaba
por fabricar uma ―verdade‖ que só incluiu como agentes da história
aqueles que os atores sociais que os convém. É preciso ver esses
documentos enquanto monumentos no sentido proposto por Le
Goff (1996) e perceber que estes são construções que carregam
intencionalidades, remetem ás condições sócio-históricas em que
foram fabricados, sabendo-se que todo documento pode ter sido
manipulado inclusive pelo silêncio.
Tentando colocar a luz esta problemática da invisibilidade do
elemento indígena em um passado não muito distante, Ribeiro
(2000) por meio de uma perspectiva crítica defende que ao invés
de uma história que mascara os conflitos e as contradições, é
61
importante perceber uma história com a presença de ―outros‖ na
região e com relações de poder que chegam aos dias de hoje. O
―outro‖, neste caso, o indígena desmascara a idéia de uma
identidade regional homogênea, ou uma visão única de identidade
na região. (RIBEIRO, 2000).
Além de não reconhecerem o trabalho daqueles indígenas no
passado, a população em geral desconhece que existia indígenas
na região, pensando que os mesmos foram trazidos de outros
lugares para as reservas em que hoje estão ―confinados‖. O
empreendimento colonizador após utilizar o indígena, se
encarregou de desencadear um processo de ―limpeza étnica‖ em
que os que fossem ―sem origem‖ não podiam conviver com o
migrante. ―A idealização do modelo de colonização e do grupo
humano escolhido, acaba por perpetuar até a contemporaneidade a
imagem de região etnicamente homogênea‖. (RIBEIRO, 2001)
Os argumentos utilizados pelos colonizadores são de que o
indígena seria ―primitivo‖, ―selvagem‖ ―incivilizado‖ ou como disse
certo colono sobre os caboclos ―sem cultura‖, desta maneira ao
negar a humanidade do ―outro‖ é também lhe negar que o mesmo
tenha direito a disputar aquele espaço, lhe negar o direito à terra,
que ficaria livre para as frentes de expansão re-ocuparem, repovoarem aquele lugar.
A sucessiva redução dos territórios indígenas se deu em meio a
processos dinâmicos e complexos com muitos conflitos, e não de
maneira simplista como apresentada na história oficial de
prefeituras. (RIBEIRO, 2000:94). A ideologia do trabalho árduo e
produtivo que desenvolveria o progresso, ora utilizada como um
diferencial frente à outros povos e etnias da região, vai se mostrar
falaciosa pela própria história, mesmo no momento da colonização
em que os conflitos por terra e a expulsão vão se configurar até a
contemporaneidade por razões diversas, o que expõem a
fragilidade do modelo de colonização.
Por parte dos grupos
dominantes há a necessidade de se manter escondido esse
passado, emitindo discursos que de maneira repetida faça se
impregnar no imaginário social como a realidade naturalizada, uma
vez naturalizada impede-se o questionamento, a desconstrução de
um passado que quem conta foi quem venceu. Ou seja, quem foi
negado, expropriado, humilhado, expulso ou morto ficaria no
silencio imposto pelos que venceram.
Longe aqui de colocar de um lado o carrasco e do outro lado as
vítimas, trazer à tona essa discussão, significa é perceber que
nesses processos sócio-dinâmicos de disputa, principalmente por
território, se deu um encontro de culturas na situação de contato,
lutando para impor uma visão e di-visão do mundo, é também uma
luta de classificações e desclassificações do ―outro‖, com quem se
disputa, sobretudo a posse da terra. Há nessas relações lutas
62
simbólicas, onde quem possui um maior quantum de capital
simbólico consegue legitimar a ordem social, enquanto uma ordem
legítima, evidente, natural. (BORDIEU, 1990: 159 – 163).
Deste modo, visualiza-se que o cenário conflituoso que se
configurou na história oestina também teve como enredo os
confrontos diversos entre grupos indígenas, caboclos e brancos e
que apesar dos primeiros serem relegados ao esquecimento pela
memória oficial, resistem e continuam existindo enquanto tais,
constituindo parte da heterogeneidade étnica e social que compõe
o oeste do Paraná.
REFERENCIAS
BOURDIEU, Pierre. Espaço Social e Poder Simbólico, In: Coisas
Ditas 1. ed., Brasiliense São Paulo, 1990
ELIAS, Norbert; e SCOTSON, John. L.; Os estabelecidos e os
outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma
comunidade; – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000, 224 p.
LE GOFF, Jacques. ―Documento / Monumento‖ In: História e
Memória. 4. ed. Campinas: Unicamp, 1996.
MONTENEGRO, Antônio Torres. História Oral e Memória. A
cultura popular revistada.Contexto: São Paulo, 2001.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. Identidade, Etnia, Estrutura
Social. 1. ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora,1976.
POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos
históricos, Rio de Janeiro: CPDOC, n.3, 1989.
RIBEIRO, S.I.G. Índios e brancos no Oeste do Paraná:
Fronteira e fricção interétnica. Revista Tempos históricos, v. 02, n.
01 pg. 93-116. M.C. Rondon, Mar/2000.
______, Um passe de mágica: Breve ensaio sobre a construção da
inexistência de índios no Oeste Paranaense, Revista Tempo da
Ciência – CCHS – UNIOESTE: Toledo, v. 8 n. 15 p. 59-68 jan/jun.
2001.
07 - OS SERTÕES, DE EUCLIDES DA CUNHA: HISTÓRIA,
ESTÓRIAS & “CAUSOS”
Dr. Sandra S. F. Erickson
Departamento de Letras, UFRN
A saga de Canudos apareceu pela primeira vez na língua inglesa
em 1920 através de uma obra entre o romance histórico e biografia
intitulado A Brazilian Mystic: Life and Miracles of Antonio
Conselheiro, do escritor escocês Robert Bontine Cunninghame
Graham (1852-1936, daqui em diante ABM). Conforme o autor
relata no Prefácio, tendo visitado os pampas argentinos e
brasileiros alguns anos antes, ele tinha tomado conhecimento dos
63
episódios de Canudos. Graham foi encorajado a escrever sobre o
assunto para o público inglês por seu amigo, o então presidente
Norte-Americano, Theodore Roosevelt (1858-1919), já que, lhes
disse Roosevelt, Graham ―entendia sua [dos brasileiros] lingo.‖
O que Graham fez, todavia, foi apenas copiar, e de forma bastante
simplificada, o livro de Euclides da Cunha, Os sertões (1902; daqui
em diante OS). Conforme observou Frederic C. H. Garcia, em
―Duas apresentações de Euclides da Cunha‖ (1972), não é difícil se
verificar que a citada obra constitui um plágio—mal feito—do texto
de Cunha, o qual somente em 1944 foi traduzido para o inglês por
Samuel Putnam (1892-1950) como Rebellion in The Backlands.
Traduções deixam sempre a desejar e essa não é exceção;
entretanto, salvaguardadas as dificuldades de se traduzir vocábulos
essenciais para a formação do imaginário e para o desenvolvimento
da temática de Cunha (como
―sertanejo‖ e ―sertão,‖
respectivamente traduzidos por backlander e backlands), a
tradução de Putnam é excelente. Ele tenta o mais possível dar ao
leitor o texto original, sem nenhuma intenção de ―corrigir‖ e,
assim, modificar o estilo, as imagens, conceitos ou acontecimentos
relatados no texto original. Inúmeras notas tentam dar conta da
difícil tarefa de informar o leitor ―alienígena‖ o mais fielmente
possível das escolhas léxicas, do contexto sociológico, histórico e
lingüístico do texto.
OS, referência obrigatória em toda escritura sobre o Brasil, tem
uma trajetória interessante na língua inglesa. Resumido e
―copiado‖ (no sentido técnico de copião) em ABM, finalmente
traduzido integralmente, ainda assim, acabou excluído do ―cânone
ocidental‖ de Harold Bloom não só em O cânone ocidental (1994),
mas em suas subseqüentes reformulações e eventuais inclusões de
alguns outros autores brasileiros. Bloom justifica a não inclusão de
mais autores brasileiros no grande cânone com o argumento de
que é difícil avaliar competentemente a literatura brasileira porque
existem poucas e más traduções dos clássicos brasileiros no inglês.
Todavia, considerada ―clássica‖ em seus próprios termos, a
tradução de Putnam disponibilizou a obra para a comunidade
internacional e a partir dela um ciclo de narrativas sobre Canudos
se gerou (Itebelet Canudosban [Veredicto em Canudos], Sandor
Marai, 1967; La guerra del fin del mundo, 1985; Três Versões de
Judas, Jorge Luis Borges, 1944; Vale of Tears, Robert Levine,
1992).
Considerado o livro mais importante de nossa língua, é de se
estranhar o fato de que seu plágio (ABM) é encoberto e celebrado
como uma grande obra e que sequer o artigo de Garcia conste nas
discussões e listas de referências. A situação do plágio é tão óbvia
que foi percebida por Vargas Llosa, o qual a adotou como tema
central de sua revisitação de OS, La guerra del fin del mundo
64
(daqui em diante LG), onde aparece personificado em Jurema.
Como Iracema, Jurema se torna um porta-voz simbólico da
exploração do sertão (sua propriedade cultural) e se constitui em
um meta-comentário da história crítica de OS na língua inglesa
(ver Erickson, 2006).
Mnemosine: a fortuna crítica de Cunha na língua inglesa:
Garcia sugere, no ensaio citado, que a demora da tradução de OS
para o inglês se deveu ao fato de que Graham ―roubou‖ o interesse
da história; pois como seu texto foi um copião, e já que tinha sido
relativamente bem sucedido junto ao público, editorialmente não
se justificou, por muito tempo, a tradução completa de uma obra
reconhecida como hermética inclusive na própria língua nativa.
Quando finalmente recebeu a tradução integral (1944) a obra foi
prefaciada pelo reputado brasilianista Isaac Goldberg (1887-1938),
que menciona ABM somente en passeant e sem se referir ao
plágio. Talvez Goldberg não tenha tido coragem de ―dar nome ao
boi‖ por causa do prestígio político e da popularidade literária de
Graham, que além de ser amigo e admirado por escritores como
Joseph Conrad e Bernard Shaw, foi também respeitado
representante do parlamento inglês. Talvez Goldberg não
compreendesse português o suficiente para defender a tese. A
questão ficou adormecida e a indignação de Garcia passou
despercebida.
Embora Graham tivesse certa reputação e apreço entre os
interessados na espécie genérica bastante popular no século XIX do
sketch e travelling literature (literatura de informação e viagem),
ele nunca se tornou um escritor de porte no cânone inglês—nem no
escocês. Recentemente, dois críticos o estudam mais de perto:
Cedric Watts e John Walker, os quais, ainda que sistematicamente
ignorando, os comentários pertinentes, competentes de Garcia não
puderam deixar de notar ―a pedra no caminho‖ de uma possível
fama de Graham. Esses críticos, sem mencionar Garcia, se referem
à sua acusação de plágio veladamente, refutando-a com
argumentos falaciosos e a sugestão de que tal comentário não
passa de histeria alegando que ele escreve com furor trágico,
sempre defendendo os jagunços e a eles solidários; seu texto ―é
[sic] uma versão literária de Os sertões‖ (WALKER, 1986-87). Ou
seja, eles insinuam que OS não possui essas qualidades
(tragicidade, simpatia e defesa dos jagunços) e não é um texto
literário.
Esse ponto importante da fortuna crítica de OS na língua inglesa
começou a vir à tona a partir da publicação de LG, onde, conforme
apontou J. A. MacAdams (1987) consta uma alusão direta a
Graham (ver ABM, p. 48 e LG, p. 68). Esse episódio indica a
familiaridade de Llosa com o escocês. MacAdams ainda atribui a
65
Graham o pioneirismo na ―técnica‖ pós-moderna do pastiche (tema
extensivamente tratado em ERICKSON 1995, 1999, 2006).
Para o presente propósito vale à pena ressaltar que 1. as suspeitas
de Garcia procedem e suas essas assertivas podem ser facilmente
verificadas por qualquer conhecedor dos dois textos; e 2. a
sugestão de que Graham foi um pioneiro no uso de técnicas pósmodernas é absurda e insustentável à luz de qualquer estudo
competente da estética pós-moderna e de outras obras e ―técnicas‖
do escritor. Vale ainda observar o comentário de Jorge Luis Borges
de que ―após haver lido esse [OS] livro, li um derivado de Os
sertões que é A Brazilian Mystic, de Graham, o qual conta a mesma
história, porém de um modo simples‖ (Oleone Coelho, 2001).
Esse assunto importante e a valiosa observação de MacAdams
sobre a referida alusão de Graham no texto de Llosa não tem
merecido tratamento adequado da crítica contemporânea. Leopoldo
Bernucci, um conhecido contribuinte da fortuna crítica de OS
levantou a curiosa tese de que a composição de OS teve por
princípio estrutural a ―reciclagem textual‖ (BERNUCCI, 1995).
Assim, ao invés de resgatar OS, ele fez de Cunha um Graham,
trataandor o próprio OS como plágio, pastiche e paráfrase
enfraquecendo e deslegitimando a questão para os estudiosos.
Veja-se a seguir alguns exemplos gritantes de Bernucci: discutindo
a prersença de outros textos em OS (O sertanejo e O gaúcho, de
José de Alencar, e Os jagunços, de Afonso Arinos), Bernucci
conclui: ―não quero com isso sugerir que haja descuidos ou erros
de composição cometidos por Euclides da Cunha. Não se trata,
portanto de ‗equívocos‘, mas sim de um plano‖ (p. 20; grifo
nosso). Bernucci cria o moto ―dize-me de onde vens e eu te direi
como és‖ para o que ele cognomina ―fórmula‖ de apropriação
textual euclidiana (p. 33).
A imitação dos sentidos faz várias insinuações que colocam a
criatividade, originalidade e idoneidade de Cunha em cheque:
―trabalhou para o governo e teve tempo ainda para praticar sua
sempre esquiva literatura‖ (p. 39; grifo nosso); a publicação de OS
foi apenas uma ―estratégia política de Euclides‖ que ―sem dúvidas
queria projetar-se nacionalmente não só como reconhecido
escritor, mas também como o escritor ‗oficial‘ da Guerra de
Canudos‖ (p. 1). Comentando o uso de Cunha dos jornais da
época, ele observa ―dispensando-se mais uma vez, de identificar a
fonte‖ (p. 59). Como último exemplo, Bernucci observa sobre o uso
de Cunha de seu diário da expedição a Canudos, ―Frente a uma
citação [...] cuja sintaxe ou morfologia lhe desagradava, ele a
modificava sem escrúpulos [...] para dar-lhes um contorno ora
mais suave ora mais claro que, afinal, já deixava ver ligeiramente
diferente no que diz respeito ao seu conteúdo original‖ (p.115;
grifo nosso). Assim, de maneira falaciosa, Bernucci representa o
66
próprio Cunha como um plagiador, Bernucci questiona o estatuto
de OS na crítica literária inglesa e justifica os atuais críticos de
Graham que tentam defendê-lo de Garcia.
História, estória & memória: Um dos aspectos mais
interessantes do romance de Vargas Llosa é sua estrutura, qual
seja as diversas sub-narrativas paralelas do texto (a estória de
cada personagem) convergindo para a narrativa principal
(Conselheiro e a comunidade de Canudos), constituindo uma
espécie de ―árvore de textos‖, os quais têm como tronco central
OS; ou seja, Llosa procurou catalogar criativamente textos sobre
Canudos inspirados em OS, fazendo em sua narrativa o que fez
Geoffrey Chaucer em Canterbury Tales: cada história individual é
contada como parte de uma peregrinação em direção à ―catedral‖
de taipa de Conselheiro—ou seja, em direção às relações de cada
texto com OS.
Enquanto Jurema, árvore típica do sertão, simboliza a terra
sertaneja, Graham foi o primeiro estrangeiro a se apropriar to texto
de Cunha para beneficio próprio. Ele é um exemplo da invasão da
cultura Européia, prevista na dialética da terra na Parte I de OS
(ver ERICKSON, 2006). Os episódios envolvendo os personagens
Jurema, Rufino e Galileo Gall, especificamente o assalto sexual
sofrido por Jurema e perpetrado por Gall representam a relação de
exploração do sertão pela ―civilização‖ vindo de fora. Gall, o
militante esquerdista escocês que vem para o Brasil para se aliar
aos Conselheristas, é descrito como pedântico e arrogante; apesar
de sua ideologia antiburguesa e antiimperialista, seu olhar sobre a
terra (sertão) é sempre colonizador. A relação do sertão com esse
tipo de exploração (cultural, histórica) que o plágio de Graham
representa é dramaticamente simbolizada, em La guerra, pelo
estupro de Gall (Graham) sofrido por Jurema (OS) e que seu
marido, o sertanejo Rufino, tenta a todo o custo vingar. Como
Iracema se tornou um símbolo da terra brasileira, Jurema se
tornou um símbolo do sertão; ela representa a terra sertaneja e
seu território literário, OS. Vale a pena lembrar que em OS, a
descrição da jurema ocupa um lugar destacado na narrativa.
Jurema é o ―tropo vingador‖ e a presença de Graham, no
personagem Galileo Gall representa, conforme já observado, um
metacomentário da fortuna crítica de Cunha na língua inglesa.
Observe-se que ABM não tem merecido o escrutínio de nossos
críticos e foi traduzido para o português apenas em 2002, como
parte das celebrações do centenário da publicação de OS. Carlos
Eduardo Lins da Silva, saudou assim, a tradução do plágio: ―A
crítica literária internacional coloca Um místico brasileiro entre a
tríade das grandes obras sobre Canudos (ao lado de Os sertões e
de Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa).‖ A
importância da questão é auto-evidente. Para cumprir, como diz
67
Martin Heidegger, o papel de guardar e preservar os objetos
culturais de uma comunidade e, assim, acrescentar-lhes o valor
que a canonicidade manterá para as próximas gerações é preciso
que a comunidade crítica vele por esses objetos; que se mantenha
atualizada em seus destinos e usos públicos. Cuidar de nosso
patrimônio histórico quer dizer cuidar dos nossos textos, estar
atento a suas ―revisitações‖ e suas repercussões no cânone maior.
OS é um dos nossos melhores candidatos ao cânone universal. Vale
à pena para a crítica se debruçar sobre esses textos e sobre suas
repercussões críticas, tanto no Brasil, como fora.
No agon constante de se inscrever no cânone universal, nossos
escritores têm feito sua parte. Temos canônicos em todos os
gêneros literários que poderiam facilmente ocupar seus lugares no
panteão dos grandes. Falta os críticos fazer a sua.
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08 - QUILOMBO URBANO DA MALOCA: MEMÓRIA ORAL E
RESIGNIFICAÇÃO DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS
4
Franklin Timóteo Souza do Espírito Santo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
[email protected]
Em sete de fevereiro de 2007, a Comunidade Maloca, situada no
Bairro Getúlio Vargas, vizinho ao Centro de Aracaju - SE, foi
reconhecida como Comunidade Remanescente de Quilombo. A
Maloca detém uma característica distinta da maioria das
comunidades quilombolas por estar inclusa em um centro urbano,
sendo intitulada como o segundo Quilombo Urbano certificado pela
Fundação Cultural Palmares no Brasil.
A intitulação da comunidade foi contextualizada a partir de um
processo judicial que se desencadeava desde 1993.O senhor José
Getúlio, morador da Rua N. Sra.das Dores, e que sua residência faz
limite com comunidade, alegou que Dona Lundinara tinha invadido
2 m2 de seu quintal. Após um pedido de reintegração de posse, e
da devolução dos 2 m2 por D. Lundinara, mesmo essa alegando
não tê-los invadido,o resultado da sentença foi a devolução de 198
m2,totalizando
toda
a
área
territorial
da
Comunidade
Maloca.Algumas residências por terem suas demarcações de terra
muito antigas,desde 1920,não tinham escritura ou documentação
similar, facilitando o resultado do processo contra os moradores,
recebendo esses em novembro de 2006 ordem de despejo pela
justiça municipal de Aracaju.Após catalogação de dados e
documentos com moradores,tendo muitos desses uma ascendência
familiar escravista oriunda de antigos engenhos do estado de
Sergipe; dados esses repassados a Fundação Palmares pela
Associação CRILIBER(Criança e Liberdade), órgão que responde
4
Aluno do Programa de Pós – Graduação (mestrado) em Ciências Sociais – UFRN.
69
pela comunidade; o grupo foi reconhecido como Remanescente de
Quilombo.
A Maloca e suas Estruturas Sociais: A Comunidade localiza-se
em uma área geográfica de morro (antigo Morro do Cruzeiro),
próximo ao centro de Aracaju, hoje Bairro Getúlio Vargas. Em sua
estrutura territorial, segundo moradores, havia quatro acessos na
Maloca, que caracterizavam numa visão aérea, uma cruz. Hoje
existem apenas dois acessos: um pela Rua Nossa Senhora das
Dores e o outro pela Rua Riachão.
Figura 1 – Foto aérea do Centro de Criatividade de Sergipe.1985. Vista da comunidade
Maloca
( Fotógrafo desconhecido)
Vivem na Maloca hoje em torno de 45 (quarenta e cinco) famílias,
totalizando 188 moradores. Segundo informantes, foi Andrelino
José dos Santos o primeiro morador e demarcador do espaço
geográfico da Maloca. Sr. Andrelino teria vindo do Povoado Central
em Riachuelo – SE (antigo engenho de cana-de-açúcar), em busca
de nova perspectiva de vida na capital em meados de 1930. O
Morro do Cruzeiro onde localizava-se a Caixa D´água era um local
de concentração de migrantes negros (escravos). Tal proximidade
com a Maloca trouxe naturalmente futuras relações sociais com os
próprios moradores, relações essas ligadas à alimentação, moradia
e matrimônio. Supõe-se que os primeiros moradores limparam o
terreno, demarcaram o território (acredita-se que não encontraram
maiores resistências na demarcação do espaço) e constroem suas
moradias5.
5
Segundo Dona Maria das Virgens dos Santos (Dona Caçula), supostamente a nomenclatura Maloca
deu-se por a grande maioria das casas formadas de palhas e caibros assemelharem-se a ocas
indígenas, dando enfim, origem ao nome Maloca.
70
Figura 2 – Foto aérea do quarteirão onde se encontra a “Comunidade Maloca”
(Google Earth,2009)
Marco Teórico Preliminar: Entendo que analisando as narrativas
orais de alguns moradores poderíamos assim, entender momentos
criados e vividos no contexto da comunidade no seu processo de
identidade. Lévi Strauss ( 1996) já afirmava que o conceito de
identidade não deveria ser construído sobre um referente empírico,
mas simbólico e cultural, pondo-se em questão não apenas o
discurso, mas também o lugar e a ótica de interação com o grupo.
O lado étnico é valorizado no discurso dos moradores. Eles
assemelham a sua etnia ao lugar. Valorizam suas práticas culturais
e reconhecem suas ascendências familiares. Já no que se refere à
etnia Stuart Hall define-a ―pelas características culturais – língua,
religião, costumes, tradição, sentimento de lugar – que são
partilhados por um povo‖ (1997p.67). Para o autor não se pode
entender a identidade como algo dado, ou simplesmente definido,
devemos entendê-la a partir da reconstrução de um processo
histórico do grupo ou lugar, no nosso caso, a Maloca.
O trabalho de campo, processo através do qual o cientista social
observa de perto a comunidade pesquisada para de algum modo
interpretá-la, desempenha um papel de fundamental importância
na definição de conceitos antropológicos, sociológicos e de
levantamento da memoria oral. A afirmativa que tange à obra de
Maurice Halbwachs nos mostra que a memória individual é
constituída sempre a partir de uma memória coletiva, sendo tais
lembranças estabelecidas no interior e na identidade do grupo.
Diferentemente de estudos históricos onde temos a compreensão
de acontecimentos vividos num país por exemplo, as lembranças
contidas por indivíduos de certo grupo a ser observado nos
personificam a reconstrução de vivências e experiências , podendose a cada momento das observações serem descobertos novos
fatos e interpretações.Para Halbwachs:
71
a história começa somente do ponto onde acaba a
tradição, momento em que se apaga ou se decompõe a
memória social. Enquanto uma lembrança subsiste, é
inútil fixá –la por escrito‖ ( HALBWACHS, 2004: p.85)
É notório aspectos e interpretações da comunidade. O meu campo
empírico vai além da análise da estrutura social da Maloca, mas em
particular, pretendo entender como interrelacionar situações
vividas com aceitação de uma identidade negra, sintetizando
informações, sabendo que esta mesma age como movimento
social. Ainda para Halbwachs:
Toda a arte do orador consiste talvez em dar àqueles que
ouvem a ilusão de que as convicções e os sentimentos que
ele desperta neles não lhes foram sugeridos de fora, que
eles nasceram deles mesmo, que ele somente adivinhou o
que se elaborava no segredo de sua consciência e não lhes
emprestou mais que sua voz. (HALBWACHS, 2004: p.47)
Não pretendo narrar, mas catalogar vontades, lembranças e
vivências de tais atores sociais. Não penso na observação
participante como uma técnica ou apenas um procedimento
realizado pelo cientista social. Analiso a observação participante
conforme Vagner Gonçalves da Silva:
O grupo também mobiliza seu sistema de classificação
para tornar aquele que inicialmente era um ―estrangeiro‖
em uma ―pessoa de dentro‖, isto é, um sujeito
socialmente reconhecido. Este processo é de mútuo
reconhecimento entre o antropólogo e o grupo investigado
ocorre em todas as pesquisas nas quais a observação
participante é uma exigência para a produção de
conhecimentos, porém, tende a variar de acordo com
certas especificidades(SILVA, 1998).
Como mostrou James Clifford (1988), as referências ao trabalho de
campo nas etnografias, em geral, ficam restritas as introduções
metodológicas ou notas de rodapé, nas quais se quantifica o tempo
de convivência do cientista social com o grupo pesquisado, a forma
como esse profissional chegou ao campo e como se iniciou sua
pesquisa, enfim, ―dados objetivos‖ que pretendem mostrar ao leitor
a grande ―proximidade‖ atingida pelo sociólogo/antropólogo em
relação ao grupo que descreve.
Na Maloca6 estratégias conjuntas foram elaboradas para
concretização de seu espaço, mas confunde-se a resignificação da
sua identidade em relação à realidade urbana e a processos de
legitimação de comunidades quilombolas de característica rural.
6
Na Maloca pelo INCRA foram reconhecidas apenas 20 famílias, por essas, terem suas origens e
permeações com mais de 20 anos no local, sendo necessário por essas, uma auto-afirmação e/ou
auto – reconhecimento étnico – cultural aferidos na comunidade.
72
Para que se entenda a identidade dos moradores da comunidade é
necessário que se entenda o contexto social no qual esta
identidade encontra-se inserida, sendo a memória responsável por
muitas significações e interpretações do lugar. O contato com a
vida urbana do centro de Aracaju pode ter sido capaz de modificálas. A respeito disso Gilberto Velho afirma que:
(...) a construção de identidades básicas subordina-se a
constelações culturais singulares e conjuntos simbólicos
delimitáveis. O que está em jogo é o processo histórico
abrangente, e a dinâmica das relações entre sistemas
culturais com repercussão na existência de indivíduos
particulares. (VELHO, 2003, p.39).
Expectativas: Este trabalho consiste em coletar dados e
informações através de análises e entrevistas aos atores sociais da
comunidade baseando-se em suas próprias práticas sociais dentro
da comunidade Maloca, nos cabendo como observador, a
transcrição desses fatos e a interpretação de alguns deles e
concomitantemente a análise comparativa aos dados coletados no
trabalho monográfico : ―Introdução ao estudo da memória social e
identidade dos moradores da Maloca /Aracaju /SE (SANTOS,2008).
Entendo as relações sociais como princípio empregado para
modelos que tornam e manifestam a sua própria estrutura social. A
descrição de mitos, contos, fatos, enfim, a descrição da memória
social7 e de valores construídos pelos moradores da Maloca é
fundamental para o andamento desse projeto onde por
conseqüência nos trará as origens e o entendimento da formação
social, estrutural e matrimonial resignificando a idéia de
identidade8 e memória social de tais atores sociais; a origem de
seu espaço territorial, suas crenças, seus ideais religiosos e sua
diversidade cultural concomitantemente.
A idéia do projeto nos mostra inúmeras possibilidades de
interpretação da experiência vivida no campo e da dificuldade que
senti no exercício das transposições e análises das entrevistas no
trabalho monográfico. Como mostrou James Clifford (1988), as
7
Entendo que analisando as fontes orais de alguns moradores, poderia assim, entender momentos
criados e vividos no contexto da comunidade. A partir das entrevistas feitas no grupo na execução do
trabalho monográfico, essas, me permitiu o conhecimentos de valores religiosos, educacionais,
matrimoniais e culturais preservados na comunidade, esses, mantidos como patrimônio simbólico da
Maloca.
8
A identidade expressa pelos moradores da Maloca que pretendo identificar no projeto se constrói
também a partir de um processo de comparação social. À medida que analiso as lembranças, tais
sujeitos comparam também as diferenças e semelhanças com o outro, construindo sua identidade
dentro de seu processo de formação de identidade. Nos é satisfatório dizer que a presença do outro
num convívio social ora facilita o desempenho na transcrição das lembranças, ora dificulta, para que
livremente sejam encontrados possível divergências de fatos e ações em conjunto.
73
referências ao trabalho de campo nas etnografias,em geral, ficam
restritas as introduções metodológicas ou notas de rodapé, nas
quais se quantifica o tempo de convivência do cientista social com
o grupo pesquisado, a forma como esse profissional chegou ao
campo e como se iniciou sua pesquisa, enfim, ―dados objetivos‖
que pretendem mostrar ao leitor a grande ―proximidade‖ atingida
pelo sociólogo/antropólogo em relação ao grupo que descreve. Na
Maloca estratégias conjuntas foram elaboradas para concretização
de seu espaço, mas confunde-se a resignificação da sua identidade
em relação à realidade urbana e a processos de legitimação de
comunidades quilombolas de característica rural.
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09 - CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS NAS CARTOGRAFIAS DO
CENTRO DE CONVIVÊNCIA EM CAMPINA GRANDE
Valdirene Pereira de Sousa
9
O presente estudo é parte de uma dissertação de mestrado que
tem como objetivo investir em indagações sobre as trajetórias
tecidas pelas sensibilidades senescentes cartografadas na
contemporaneidade. Esse estudo traz como um de seus objetivos
pensar a construção dos sentimentos de velhice partilhados pelos
participantes do Centro de Convivência- espaço que congrega
grupos de terceira idade em Campina Grande -, e a construção das
identidades corpóreas, que vão delineando as subjetividades e as
relações de um grupo que se une nas práticas de sociabilidades
partilhadas.
A nossa sociedade torna-se cada vez mais marcada pela
valorização das culturas juvenis performáticas (Pais, 2006). A
juventude vem deixando de ser apenas uma categoria etária,
devido à perda de conexão com um grupo etário específico, e vem
se transformando em valor (DEBERT, 2004), um valor que cada
vez mais é perseguido pelas biossociabilidades contemporâneas. O
culto à juventude se presentifica no meio social através de
propagandas, revistas, programas televisivos, filmes, músicas,
enfim, vários instrumentos sociais que canalizam constituições de
subjetividades avessas à senectude. As imagens de juventude
veiculadas socialmente representam um mundo maravilhoso, com
histórias de felicidade que aparentam nunca chegar ao fim e são
marcadas por uma ambiência (MAFFESOLI, 2005) contemporânea
que (re)afirma esses valores nas práticas cotidianas dos indivíduos.
9
Mestranda vinculada ao Programa de Pós-graduação em História da UFCG; Bolsista da
CAPES/UFCG.
75
É dentro desse corpo coletivo que partilha valores em comum sem perder de vista as particularidades e especificidades existentes
-, que se insere a imposição de uma imagem de velhice enquanto
prática política cotidiana fundamentada em moldes de juventude e
determinada enquanto um ideal a ser seguido. Os discursos
imagéticos que são representados pela cultura midiática ditam uma
tirania da beleza que aprisiona os corpos, determinando um ideal
padronizado a ser seguido, um modelo que precisa ser perseguido
obrigatoriamente por aqueles que desejam se sentir inseridos e
aceitos socialmente. Ser velho significa, de acordo com os ideais
éticos e estéticos jovens, estar à margem, ser um ―outro‖
desarraigado socialmente; segundo Bauman (2005) aqueles que
não comungam e não partilham dessa concepção constituída e
reafirmada pela sociedade de consumo precisam, segundo a lógica
contemporânea, ser ―removidos‖, pois se tornam ―excessivos e
redundantes‖, sem espaço social, são os ―refugos humanos‖,
denominação usada por ele em sua obra Vidas Desperdiçadas. Há,
no entanto, uma tendência em nosso meio social de fuga e
silenciamento daquilo que nos incomoda, segundo Bauman (2005,
p.38) ―removemos os dejetos da maneira mais radical e efetiva:
tornando-os invisíveis, por não olhá-los, e inimagináveis, por não
pensarmos neles‖.
Pensar as práticas discursivas que incidem sobre o processo de
envelhecer na nossa sociedade; as novas sensibilidades investidas
sobre a velhice, os discursos que determinam a emergência de
políticas públicas destinadas a idosos como é o caso dos grupos de
terceira idade e sua ênfase numa velhice satisfatória, são questões
que precisam ser problematizadas e repensadas dentro de um
contexto marcado pelo ―hiperconsumo‖, pelo ―hipernacisismo‖ e
pela ―hipermodernidade‖ (LIPOVETSKY, 2004), onde as relações
são fluídas, mas não impedem a formação de ―comunidades
emocionais‖ (MAFFESOLI, 2006) e a busca de relações
interpessoais.
,Assumir o desafio de pesquisar o universo dos idosos participantes
dos grupos de terceira idade e deflagrar discussões que transitam
em meio a relações de poder é adentrar nas ambivalências da
história oral, é perceber a história como invenção, como
incentivadora da imaginação e não como portadora de uma
verdade fixa. A história oral precisa ser vista enquanto
possibilidade metodológica não-dicotômica às fontes escritas, pois
elas se contaminam e se entrelaçam na tecitura da História. A
pesquisa que desenvolvi encontra na história oral aporte
metodológico e, a partir das entrevistas realizadas com a equipe
responsável pelo Centro de Convivência e com os idosos
participantes, se distende a materialização, em texto, das
experiências que compartilhei e compartilho nessa pesquisa. Os
76
métodos da História oral me deram os aportes para a construção
dos caminhos que seguem a pesquisa, apesar de todo o
silenciamento e da ―impossibilidade de fazer história oral sob o
império da sociedade escriturística‖ (ALBUQUERQUE JUNIOR,
2007). Para fundamentação da pesquisa foi importante o diálogo
com alguns autores que trabalham com a História oral, Michel
Trebitsch, Gwyn Prins, Olga Von Simson, Monique Augras,
Alessandro Portelli dentre outros.
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10 - A MEMÓRIA MIDIÁTICA NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE: O CASO DA RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA
MISTA DA UFCG
Jéssica Lôbo Sobreira
[email protected]
Introdução: A Residência Universitária Mista da Universidade
Federal de Campina Grande pertencente ao campus de Campina
Grande nesta respectiva cidade, surgiu em meados de 1980, época
em que esta Universidade ainda era denominada Universidade
Federal da Paraíba, surgindo inicialmente não como uma residência
propriamente dita, mas como uma alternativa a um grupo de
estudantes oriundos de regiões carentes do interior do Brasil e
recém aprovados no vestibular para essa mesma instituição. Não
tendo como custearem as despesas para dar continuidade a seus
estudos, resolveram como alternativa invadir uma casa, cujas
dependências eram pertencentes a esta universidade, porém esta
casa era destinada para a construção de um almoxarifado, não
tendo pessoas
Não podemos afirmar ao certo como ocorreu a ocupação da casa
que se tornou a Residência Universitária posteriormente, pois, o
acervo disponível de documentos arquivados se constitui apenas de
recortes de jornais da época e de estudantes que fizeram parte das
primeiras invasões, assim como alguns relatórios formulados pela
78
diretoria da casa, na época, a partir destes recortes de jornais,
entretanto ninguém se preocupou em etnografar o que estava
acontecendo.
A Residência como moradia estudantil é uma alternativa concreta
que permite ao estudante de baixa renda, portanto, marginalizado,
ter acesso à educação. Tal definição nos leva a concluir que a
moradia estudantil é uma situação visível de democratização do
Ensino, especificamente a Residência Universitária dentro do
contexto educacional representa uma luta contra o processo
crescente de elitização e privatização do ensino.
A moradia estudantil possui dois objetivos específicos. O primeiro é
de caráter material, isto é, prestações de assistência a estudantes
economicamente carentes, que, devido a sua condição econômica,
tornam-se marginalizados do acesso à educação. A segunda é de
caráter formal. A forma pela qual a moradia estudantil deve prestar
seus serviços deve ser autônoma. (SENCE, 1987-1988)
No passado, falar na Residência Universitária nos remetia a pensar
automaticamente no conceito formal de bagunça, imaginar um
lugar, uma casa formada só por jovens, aonde todos os indivíduos
poderiam ter a liberdade para fazer o que quisessem, sem que se
considerassem as suas especificidades, ou seja, essa casa e os
estudantes que lá residiam eram postos à margem da sociedade,
discriminando-os, como ocorre em alguns casos atualmente,
especialmente entre as pessoas mais antigas da sociedade que
conheceram essa realidade e ainda mantém essa imagem das
pessoas que lá residem.
Atualmente essa relação da Residência com valores pejorativos
prevalece e, seja entre as pessoas circunvizinhas ou mesmo na
comunidade acadêmica em geral, a Residência e os estudantes que
lá habitam continuam a ser referência para prostituição, consumo
de drogas, marginalização... herança das décadas de 80 e meados
de 90, época em que a residência era um referencial a todas essas
questões e, também, onde neste período houve inspeções da
polícia federal visando ―solucionar‖ essas questões. Porém, passada
esta fase da Residência nas suas práticas cotidianas, encontramonos, pois, diante de um cenário regido por preceitos diferentes dos
que são veiculados corriqueiramente nos mais diversos tipos de
ambiente da sociedade. Desse modo, para que se possa
compreender às múltiplas dimensões das interações sociais nesse
local, assim como, as focalizações da mídia e sua influência na
constituição da identidade dos indivíduos que pertencem a este,
consideramos as esferas presentes no universo deste cotidiano nas
suas fontes históricas.
Metodologia: O trabalho se inicia com a revisão bibliográfica
acerca das interações sociais, em especial fontes acadêmicas, bem
como, os estudos sobre interações sociais, sociabilidade, relações
79
sociais na juventude em geral, em especial, os de enfoques
antropológicos e sociológicos, além de fontes históricas,
jornalísticas entre outras, sobre acontecimentos e notícias que
envolveram a Residência em questão e os indivíduos pertencentes
e ou envolvidos nesse ambiente.
Além dos citados, consideraremos ainda os estudos a cerca da
identidade do eu e a questão referente ao cotidiano.
Resultados e Discussões: A presente pesquisa significa a
materialização da nossa curiosidade em saber como são
estabelecidas as relações sociais dentro de uma residência
universitária mista e como ocorre o processo da construção da
identidade nesse ambiente por se tratar de um local com uma
estrutura constituída por jovens em formação, com sua primeira
experiência com a Universidade e que, muitas vezes constitui-se a
primeira formação em nível superior na família.
Neste trabalho buscamos investigar as particularidades sociais
existentes no âmbito da residência universitária mista da
Universidade Federal de Campina Grande, bem como a formação
de supostos grupos como ―resultado‖ destas interações.
Propomos, portanto, uma análise das interações sociais ocorridas
no âmbito da Residência Universitária analisando como as mesmas
acontecem, assim como se dá a formação de supostos grupos e de
que modo as ―mistificações‖ deste cotidiano impostas pela mídia e
pela própria memória deste local, influenciam o processo de
construção da identidade. Nesse sentido, concordamos com autores
como Simmel quando faz referência à sociabilidade como uma
condição inerente e gerada pelas formas sociais, as quais são
resultantes das múltiplas combinações interacionais acionadas
pelos propósitos, impulsos e desejos dos indivíduos e dos grupos e
classes sociais sintetizadas pela própria formação de uma dada
sociedade (SIMMEL, 2006: 59-72).
Conclusões: Nos mais diversos sistemas de moradia estudantil os
processos de sociabilidade são recorrentes, seja considerando as
interações sociais ou a dispersão de grupos dentro desse ambiente.
A dinâmica da Residência se marca essencialmente pelos processos
de interações sociais , neste sentido, esses ―encontros‖ se situa no
que diz Goffman (1975) ―papel social‖ apresentando-se deste
modo enquanto uma das diversas opções postas nesse espaço para
a vivência do cotidiano. Buscamos compreender como estes
processos são vivenciados na Residência Mista da Federal de
Campina Grande.
A busca por um sentido subjetivo atribuído as dinâmicas de
interação social e no cotidiano de sociabilidade no âmbito da
residência universitária será nosso foco de análise, por isso
Goffmann nos foi tão caro.
80
Com efeito, de acordo com Simmel, a sociabilidade é uma condição
inerente e gerada pelas formas sociais, as quais são resultantes
das
múltiplas
combinações
interacionais
acionadas
pelos
propósitos, impulsos e desejos dos indivíduos e dos grupos e
classes sociais sintetizadas pela própria formação de uma dada
sociedade (SIMMEL, 2006: 59-72).É nesse sentido que propomos
a criação de uma categoria teórico-analítica que seja capaz de dar
conta do nosso objeto de estudo.
Isto é plenamente justificável em nosso caso, tendo em vista que o
processo de produção dos discursos que envolvem o universo da
residência se deu num contexto, intermediado por situações
semelhantes, seja pelo aspecto econômico, seja pelo aspecto social
Falamos de identidade social como uma construção simbólica que
se dá em relação ao outro e se constitui num processo histórico e
cultural que, operando com o passado, com a ancestralidade e a
hereditariedade, processa o presente e transforma-se a cada
momento e a cada contexto da história (Silva, 2002).
Por fim, invertendo valorativamente alguns aspectos sociais e
culturais oriundos das relações de sociabilidade, os indivíduos
buscam, através deste processo, legitimar-se no campo social mais
amplo.
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Simmel e as sociabilidades do moderno: uma introdução.(Org.)
João Carlos Tedesco, Passo Fundo,RS.
BRYM, Robert. et all. Sociologia: uma bússola para um novo
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SENCE. Boletim da, Orgão de divulgação da Secretaria Nacional
das Casas de Estudantes. Gestão, RS : 1987/1988.500
exemplares
81
SILVA, Jaime José da. Mestiçagem e Identidade: o desafio
brasileiro. Monografia de conclusão de curso de graduação em
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SIMMEL. Georg. Questões fundamentais de sociologia. Rio de
Janeiro, Jorge Zahar Editor,2006.
11 – ENTRE CÁQUIS E LEMBRANÇAS: O COLÉGIO ESTADUAL
DA PRATA COMO ESPAÇO DE MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
EDUCACIONAL CAMPINENSE
Ramon de Alcântara Aleixo
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB ¹
Profa. Patrícia Cristina de Aragão Araújo
Universidade Estadual da Paraíba- UEPB ²
Introdução: Em meio às bruscas transformações sócio-históricas
nas quais estamos imersos nesse início de século XXI, observamos
a tessitura de uma dinâmica espaço-temporal cada vez mais fluida,
onde os acontecimentos disseminados pela mídia esvaem-se em
meio
ao
que
poderíamos
denominar
de
―bombardeio
epistemológico‖ no que tange às mais variadas nuances da vida
cotidiana, contribuindo, dessa forma, para a emersão de práticas
que visam à ―preservação‖ de arquivos, museus e demais lugares
que representam uma importante significação histórico-social
direta ou indiretamente ligada às histórias de vidas de determinado
local.
Nesse período de profunda valorização das questões identitárias,
somos intuídos por uma expressiva necessidade de reinventarmos
nossos passados, com vistas a nos perceber enquanto sujeitos
históricos pertencentes a uma dada organização sócio-cultural a
qual nossas vivências e lembranças necessitam serem (re) escritas,
sob pena de se perderem em meio ao dinâmico fluxo informacional
em que estamos envoltos.
A escrita da História, dessa forma, assume importante papel
nessas sociedades para além da modernidade, onde a relação entre
vivência cotidiana e a memória dos mais diversos âmbitos da
vivência humana consiste no binômio bastante disseminado pelas
políticas públicas de conservação, bem como pelos estudos
acadêmicos que versam sobre essa perspectiva epistemológica.
Sendo assim, destacamos a falência de certo projeto escriturário da
História que assentado na perspectiva positivista/historicista
acreditava poder reproduzir determinado acontecimento tal como
se passou, como uma espécie de mímesis do real; segregando,
dessa forma, as fontes históricas numa categoria em que relatos
orais e reminiscências estavam pretensamente excluídas, sob pena
82
de comprometimento da tessitura de um projeto científico para o
saber histórico.
Contudo, as inúmeras transformações teórico-metodológicas
advindas a partir da emersão da Escola dos Annales, na década de
1920, contribuíram para o despertar da percepção da diversidade
das fontes históricas, bem como para o estabelecimento de um
diálogo bastante necessário com as demais ciências humanas, tais
como a sociologia, antropologia, dentre outras que, influenciadas
pelas transformações advindas a partir da virada lingüística linguistic turn- contribuíram para a percepção da escrita e
produção textual, em nosso caso para a escrita da história, não
como uma superfície lisa que refletia a realidade dos eventos
passados trazidos à tona pelo trabalho de pesquisa documental,
mas como uma superfície cheia de altos e baixos, silêncios e
lacunas que deveriam ser interrogados como elementos
constitutivos acerca da narrativa do passado.
Somos levados, dessa forma, a perceber a subordinação do texto
histórico a uma gramática e semântica que contribuem, em certa
medida, por estalar uma situação de tensão/apreensão no processo
de escrita da história; alterando-se, dessa forma, a compreensão
do trabalho do historiador, onde a dimensão evocativa passa
assumir o primeiro plano, inscrevendo o trabalho de narrar o
passado como parte dos esforços voltados à lembrança e à
recordação.
Lembrança e recordação constituem, nessa perspectiva, a condição
sine que nom para o exercício do ofício do historiador, visto que é
na dimensão evocativa que a história passa a ganhar vida, tal
como em um cenário escuro, no qual incidimos as luzes da ribalta
para tornar possível o desenrolar do espetáculo cotidiano de nossas
vivências.
O nosso objetivo, ao longo desse estudo, não visa a uma completa
repulsa ao documento escrito como forma de produção dos saberes
históricos. Longe disso, o que propomos nessas linhas consiste
numa espécie de mescla aonde lembrança e recordação aliadas à
fonte documental impressa possam elucidar e sanar as
inquietações que consistem a condição essencialmente detetivesca
que envolve a instigante tarefa de procurar nos indícios e sinais as
―razões de ser‖ de um tempo no qual não vivemos a não ser a
partir do diálogo com as fontes, sejam elas documentais ou fruto
das reminiscências individuais que tecerão a história coletiva de um
dado espaço-tempo.
Sendo assim, propomos a elucidação de uma discussão em torno
dos conceitos de história e memória, nas perspectivas de
Halbwachs (1990) e Pierre Nora (1993), com vista a tecermos um
diálogo assentado na compreensão dos lugares de memória como
espaços de interação entre a polifonia de vozes que ecoam dos
83
relatos individuais, vislumbrando, assim, a percepção do processo
de memória social, como algo coletivo no qual os múltiplos relatos
amalgamam-se com o intuito de ―desvelarmos‖ as percepções da
vivência histórica.
A escolha da Colégio Estadual de Ensino Médio Dr. Elpídeo de
Almeida –Estadual da Prata- insere-se no contexto da dimensão e
importância histórica educativa para a cidade e um grande
contingente de ex-alunos/as e professores/as assumida por esta
instituição, onde acreditamos ser possível a problematização de
questões inerentes à tessitura das diversas relações estabelecidas
entre os sujeitos da aprendizagem e educadores; observando,
dessa forma, as diversas nuanças, bem como as diferentes formas
de ressignificar práticas e ações processadas nos relatos de seus
sujeitos histórico-sociais.
A memória coletiva e os lugares de memória: uma
confluência necessária para a escrita da história: Em meio ao
contexto sócio-histórico marcado pela internacionalização das
relações econômico-sociais e culturais, assentadas no que Pierre
Nora (1993) chama de aceleração do tempo, observamos a
emersão dos processos de conservação e patrimonialização do
passado a partir da perspectiva de se opor ao efeito devastador e
desintegrador inerente à rapidez contemporânea que caracteriza a
sensação de hegemonia do efêmero forjada pela dinâmica
essencialmente fluída dos tempos pós-modernos.
Dessa forma, somos ―contagiados‖ por uma espécie de avalanche
de processos de ―memorialização‖, configurando uma espécie de
retorno do ―eu‖ e da subjetividade como critério de legitimação dos
discursos sobre o passado, assim como a sobrevalorização do
testemunho como fonte capaz de assegurar a veracidade das falas
sobre o passado (GUIMARÃES, 2007).
Contudo, se nos ativermos a meados do século passado,
observaremos a preocupação elucidada pelo sociólogo Maurice
Halbwachs que, ao formular o conceito de memória coletiva ou
social, já apontava para a dicotomização inerente aos processos de
percepção da memória coletiva e do processo histórico.
De acordo com essa perspectiva, a memória social e coletiva
diferiria da história, na medida em que esta acabaria segundo sua
percepção, no ponto onde a memória não mais se sustentasse, em
virtude de não haver a coexistência de um grupo como suporte
para as lembranças existentes, consistindo na única forma de
salvaguardá-las o relato escrito das experiências vivenciadas:
No instante em que o grupo desaparece, a única forma de
salvar as lembranças, que para os grupos existentes são
exteriores é fixá-las em uma narrativa seguida por sua
vez que as palavras e os pensamentos morrem, mas os
escritos permanecem. Se a condição necessária para que
84
haja memória, é que o sentido de que busca suas
lembranças num movimento contínuo, como a história
seria uma memória, uma vez que há uma solução de
continuidade entre a sociedade que lê esta história e os
grupos de testemunhas e atores outrora dos fatos que ali
estão narrados? (HALBWACHS, 1990. p. 23).
Sendo assim, a escrita da história seria marcada pela
impessoalidade, bem como pelo desaparecimento dos grupos com
suas construções que cederiam lugar a outros, na medida em que
fossem registrados pela escrita histórica.
A renovação permanente das lembranças, defendidas pelo
sociólogo, evidenciaria um outro aspecto dicotomizante entre
memória e história, ou seja, a maneira como se relacionam com o
tempo consiste na condição necessária para a existência da
memória.
Essa relação, para Halbwachs, deve ser marcada pelo sentimento
de continuidade presente no indivíduo que se lembra, visto que a
memória, de acordo com essa perspectiva, não se caracteriza pelo
sentimento de corte ou ruptura entre o passado e presente, mas
pela coexistência de elementos que se mantêm vivos na
consciência do grupo que a mantém. Seria o grupo e não o
indivíduo que garantiria a permanência do passado no presente,
configurando o tempo longo a que se refere o autor em sua obra A
Memória Coletiva.
Em meados dos anos 1980 encontramos, nas reflexões
desenvolvidas pelo Historiador francês Pierre Nora, uma nova
distinção entre memória e história, bem como a elaboração da
noção conceitual dos lugares de memória.
Baseando-se no processo denominado como ―aceleração histórica‖,
Nora permeia sua discussão acerca da relação entre memória e
história pautando-se das transformações advindas a partir do
processo de mundialização das relações econômico-sociais e
culturais, visto que a ameaça do esquecimento proporcionado pelos
avanços técnico-científicos proporcionariam o que ele denomina
como ―obsessão pelo registro, pelos traços, pelos arquivos, em
síntese pela história.‖
Aceleração da História. Para além da metáfora, é preciso
ter a noção do que a expressão significa: uma oscilação
cada vez mais rápida de um passado definitivamente
morto, a percepção global de qualquer coisa como
desaparecida - uma ruptura de equilíbrio. O arrancar do
que ainda sobrou de vivido no calor da tradição, no
mutismo do costume, na repetição ancestral, sob o
impulso de um sentimento histórico profundo. A ascensão
à consciência de si mesmo sob o signo determinando o
fim de alguma coisa desde sempre ameaçada. Falas-se
tanto de memória porque ela não existe mais (NORA
1993, p. 55).
85
Compactuando com a perspectiva trilhada por Halbwachs, Nora
aponta a diferenciação entre memória e história na medida em que
a última consiste no registro, bem como na problematização
crítico-reflexiva acerca das lembranças coexistentes na estrutura
social em que o grupo está (ou não) inserido. A memória, de
acordo com esse processo, versaria sobre o processo vivido,
conduzido por grupos vivos, em permanente mutação e suscetível
a manipulações:
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e,
nesse sentido, ela está sempre em permanente evolução,
aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável
a todos os usos e manipulações, suscetível de longas
latências e de repentinas revitalizações (NORA, 1993,
p.76).
Debruçando-se em questões aparentemente não explicitadas por
Halbwachs, Nora contextualiza, situando-nos no processo
denominado como ―aceleração da história‖ como forma de tornar
inteligível o processo de patrimonialização a que este se refere
como lugares de memória.
Assentado em conceitos como identidades e a sua perda, os
lugares de memória evidenciariam o anseio do retorno a ritos que
definem os grupos, bem como na busca do auto-reconhecimento e
da auto-diferenciação em voga no mundo pós-moderno.
Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento
que não há memória espontânea, que é preciso criar
arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar
celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas,
porque essas operações não naturais. É por isso que a
defesa pelas minorias, de uma memória refugiada sobre
focos privilegiados e enunciadamente guardados nada
mais faz do que levar à incandescência a verdade de
todos
os lugares
de memória. Sem
vigilância
comemorativa, a história depressa as varreria. São
bastiões sobre os quais se escora. Mas se o que eles
defendem não estivessem ameaçado, não se teria,
tampouco, a necessidade de constituí-los. Se vivêssemos
verdadeiramente as lembranças que elas envolvem, eles
seriam inúteis. E se, em compensação, a história não se
apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, soválos e petrificá-los eles não se tornariam lugares de
memória (NORA, 1993, p. 97).
Identificamos, na leitura de Nora, o movimento conflituoso
provocado pela necessidade de retomada dos ritos de outrora em
virtude do abandono provocado pelos grupos do presente, onde a
amplitude das mudanças advindas com os avanços técnicoinformacionais implicaria na rememoração desses fatos, sob pena
86
de se perderem diante do fluxo contínuo e abrupto inerente às
sociabilidades em tempos pós-modernos.
Entre lembranças e esquecimentos: o “Colégio da Prata”
como lugar de memória da sociedade campinense: Diante de
sua significativa importância para a sociedade campinense, tendo
em vista o grande número de intelectuais, poetas e poetisas,
professores e professaras e demais setores sociais que transitaram
por entre os portões do chamado ―Gigantão da Prata‖, a percepção
do Colégio Estadual de Ensino Médio Dr. Elpídeo de Almeida como
―lugar de memória‖ educativa da cidade de Campina Grande,
torna-se de fundamental importância, na medida em que podemos
pensá-lo como espaço de rememoração de importantes
acontecimentos ocorridos na cidade, bem como a elucidação de
diferentes percepções acerca desse espaço instrutivo.
Instituição renomada da região da Borborema, o ―Colégio da
Prata‖, como fora primeiramente denominada a instituição instalouse no contexto educacional campinense em inícios da década de
1950, onde a realidade pedagógica da cidade contava apenas com
três estabelecimentos de ensino secundário, consistindo, naquele
período no então Ginásio Alfredo Dantas, no Colégio Pio XI e
Imaculada Conceição, atual colégio das Damas.
Dessa forma, a demanda de ofertas com vistas a proporcionar aos
jovens campinenses, bem como outros oriundos do sertão e cariri
do estado a acessibilidade ao ensino secundário gratuito fez com
que em inícios da década de 1950, setores sociais da cidade
reivindicassem ao governo estadual a implantação de uma
instituição de ensino secundarista na cidade, visando a detenção do
grande afluxo de alunos que partiam para as cidades de João
Pessoa e Recife objetivando a conclusão de seus processos
instrutivos, bem como a aparente inacessibilidade dos setores
sociais menos favorecidos que diante da precária situação
instrutiva não dispunham de mecanismos com vistas ao
prosseguimento de suas jornadas intelectuais.
Em resposta à sociedade campinense, o então Governador do
Estado, Oswaldo Trigueiro, comprometeu-se em implantar na
cidade o curso secundarista público, sanando, dessa forma, a
precariedade educacional inerente à cidade de Campina Grande e
região nesse período.
Em contrapartida, o então governador exigiu a predisposição de um
terreno a ser edificado àquela instituição, o que viria acontecer
através da doação do terreno exigido pelo Sr. Raimundo Viana,
edificando-se na Rua Duque de Caixias, no bairro da Prata, a
referida instituição que passaria, em um curto espaço temporal, a
postular entre as mais renomadas instituições de ensino do estado
da Paraíba.
87
Símbolo de imponência e credibilidade de ensino, a referida
instituição contava em seu currículo prescrito disciplinas como
Filosofia, Desenho, Latim e Canto visando dessa forma à
preparação de grande parcela discente com vistas à admissão nos
exames vestibulares. Como nos relata um de seus ex-alunos
através de depoimentos escritos cedidos pela Professora Josélia
Silva:
Recordo, no seu grande quadro de professores, de
mestres que a Universidade conquistou depois, mas se
dedicavam ao Colégio como se este fosse faculdade mirim
para assuntos gerais. Ninguém, tendo freqüentado as
aula daquele tempo, consegue esquecer Dumerval
Trigueiro (História e Francês), Milton Paiva (Inglês e
Português), Antônio Oliveira (Matemática), Josemir
Castro (Física), Padre Frederico (Filosofia), Hortêncio
Ribeiro (História e Filosofia), Normando Feitosa (História
e Geografia), José Morais (Química), João Viana
(Português), Willian Tejo (Desenho), Lourdes Amorim
(Física) e muitos outros, igualmente brilhantes, capazes,
dedicados, respeitosos e exemplares (Juarez Farias apud
Josélia Silva, 2009, arquivos do Colégio Estadual da
Prata).
A suntuosidade expressa por aquela instituição recém-edificada é
constantemente relatada através das palavras de seus ex-alunos e
alunas que ao rememorarem aos dias de outrora nos relatam as
suas experiências, bem como as expectativas da sociedade
campinense diante daquele momento certamente apoteótico:
Enfim, o primeiro dia de aula. Que deslumbramento! A
grandiosidade da edificação só não superava a excelência
do corpo docente. Luminares do ensino estavam lá: Dr.
Giuseppe Goia, Dr. Lindalvo Farias, Dr. Antônio Morais,
Dr. Josemir de Castro, Dr. Hortênsio Ribeiro, Dr. Roberto
Videres, Padre Emídio Viana Correa (primeiro diretor),
Profº. Milton Paiva, Profº. João Viana Correa, Profº.
Raimundo Suassuna, Profº. Normando Feitosa, Profª.
Maria do Céu Carvalho, Padre Frederico, Dr. Max Hans,
Dr. José Marques, Profª. Lourdes Marques e tantos,
tantos outros.... Sabíamos que muitos eram professores
universitários, fundadores da Escola Politécnica de
Campina Grande, referência e orgulho da Paraíba. (Maria
Lígia Loureiro Santos apud Josélia Silva, 2009, arquivos
do Colégio Estadual da Prata).
Reminiscências saudosas da referida instituição são uma constante
nos depoimentos por nós analisados. Neles encontramos indícios de
um ufanismo latente, bem como um profundo e imenso respeito
por aquele que era um dos maiores grêmios instrutivos da Paraíba:
88
O que posso dizer à atual geração sobre o Colégio
Estadual da Prata? Tudo ouso antecipar. Orgulho-me de
ser aluno-fundador do educandário da Rua Duque de
Caixias, vizinha à Rodrigues Alves, onde vivi a minha
doce infância e vibrante adolescência. Quanta saudade!
No Colégio da Prata concluí o primeiro e segundo graus,
cuja excelência de ensino foi decisiva para o meu relativo
êxito –perdoem-me a imodéstia- na graduação de vários
cursos, na carreira de educador de gerações e na vida
pública em defesa da sociedade. (Ney Suassuna apud
Josélia Silva, 2009, arquivos do Colégio Estadual da
Prata).
Festividades integrantes do calendário escolar também são
elucidadas nos depoimentos dos ex-alunos e alunas, consistindo
em um importante momento acerca da tessitura da chamada
Cultura Escolar, tão em voga nos estudos da História da Educação
atualmente:
Entre as imagens daquela época que guardo na retina, e
no coração, destaco o desfile do sete de setembro em que
competíamos com a altivez com colégios rivais, como o
Alfredo Dantas, do saudoso Professor Loureiro e o
Imaculada, das santas religiosas. (Ney Suassuna apud
Josélia Silva, 2009, arquivos do Colégio Estadual da
Prata).
Os ―anos de chumbo‖ não viriam a tardar e provocar nessa
instituição atos ―subversivos‖ que implicariam em severas
represálias por parte das instituições militares aqui representadas.
Dessa forma, atentamos para a importância do Centro Cívico da
referida instituição no que versa à resistência diante das redes
coercitivas instaladas em abril de 1964.
Símbolo de resistência e politização, o ―Gigantão da Prata‖, como é
carinhosamente chamada a instituição por seus ex-alunos/as,
consistiu-se em importante movimento de resistência ao poder
militar através da organização de passeatas, protestos e encontros
―clandestinos‖, com vistas à discussão de tema políticos e culturais.
Contudo, as redes microbianas de poder atuariam de forma
bastante veemente na repressão às chamadas ordens subversivas,
como nos elucida uma Portaria datada de abril de 1971,
informando da proibição de matricular um aluno por três anos, por
infringir Leis do Governo Militar.
Entretanto, a utilização de táticas e astúcias, não impediu a
dinamização alcançada por seus movimentos políticos e culturais.
Como nos relata o depoimento de um dos membros do Centro
Cívico da referida instituição:
O Colégio Estadual marcou definitivamente a minha vida.
Foram dez anos de convívio. Enquanto o governo militar
ditava as regras, vivíamos o apogeu do movimento
89
Hippie, que falava de amor. Este antagonismo serviu de
esteio para a formulação do meu pensamento filosófico e
de minha postura diante do mundo, que trago atualmente
comigo (Altamir –Mica- Guimarães apud Josélia Silva,
2009, arquivos do Colégio Estadual da Prata).
Ao adentrar os anos finais da década de 1970 e inícios dos anos
1980, observamos o processo de massificação do ensino público
brasileiro, correspondendo ao aumento do número de instituições
escolares, bem como na gradativa diminuição dos quadros de
qualidade de ensino.
A partir desse período, somos conduzidos a uma aparente situação
de decadência da instituição escolar pública evidenciada em nossas
observações em algumas escolas, bem como pelo quadro de
evasão, retenção e violência escolar.
A referida instituição não escapou a esse processo de deterioração
da instrução pública nacional. Contudo, observamos, nos relatos
dos seus ex-alunos e alunas a ânsia pela conquista de uma maior
respaldo educativo acerca das políticas públicas já instituídas no
âmbito da educação básica.
Eu agora vejo o Estadual da Prata, como ele está nas
últimas décadas, enfrentando dificuldades que o impede
de atingir seus objetivos em plenitude, embora continue
exercendo a finalidade maior de educar. Mas, eu sempre
sonho com o Estadual da Prata como ele já foi e deveria
continuar sendo, prestigiado pelos poderes constituídos e
pela sociedade, pois ele é, em termos educacionais, o
porto seguro para muitos, notadamente para aqueles que
não têm condições de enfrentar os encargos de uma
escola particular. Como na História infantil. Nem tudo
está perdido, restam esperanças. (Creusolita Agra apud
Josélia Silva, 2009, arquivos do Colégio Estadual da
Prata).
Se muito dinheiro tivesse, não perderia um segundo
sequer, e traria de pôr em prática meu projeto [...] Se eu
dispusesse do dinheiro necessário, sem hesitar, botaria
preço no Colégio Estadual da Prata e, apesar da possível
indignação do secretário de educação, passaria para o
meu nome o educandário da minha juventude. Uma vez
comprado, logo, logo, trataria de reformulá-lo, visando
resgatar-lhe os traços arquitetônicos originais, que tanto
marcaram, ao longo de seguidos anos, a sala de exibição
de minhas retinas, parceiras da minha míope rebeldia. Ao
fim da reforma do colégio de minha adolescência, Oxford
da minha desesperança, reuniria meus pertences e ia
morar no Gigantão da Prata, de onde se pode, sem
incômodos, ver raiar, com intenso brilho, as auroras
campinenses. De lá eu poderia, todos os dias, como numa
oração matinal, ver a Igreja do Rosário e, a exemplo de
um milagroso filme, vislumbrar imagens de Padre
Cristóvão e seu Chico, o sacristão, até os dias atuais de
90
padres e tantos padres que lembram nostalgicamente a
minha primeira comunhão e os saborosos e ingênuos dias
em que eu e os meus amigos de infância pegamos por
empréstimo alguns valiosos cruzeiros da magra caixa das
almas fruto de nossa sempre imatura caridade cristã.
Durante o dia, convocaria meus colegas de turma (os que
ainda podem atender a uma chamada escolar) e
passaríamos as horas relembrando os nossos sonhos
juvenis, nossas músicas, contaríamos, tudo quanto
conseguimos ou não realizar. Ouviríamos nossas musicas,
contaríamos nossas piadas e daríamos, das escadas
mágicas do colégio, bananas para o mundo ou, na pior
das hipóteses, jogaríamos suas cascas nas calçadas sob
os pés da história para que ela, já que não pode parar, ao
menos levasse uma estrondosa queda, o que nos daria os
segundos suficientes para pararmos o tempo, São Jorge
das nossas fumegantes quimeras‖ (Altamir–MicaGuimarães apud Josélia Silva, 2009, arquivos do Colégio
Estadual da Prata).
Considerações Finais: Em meio ao contexto social marcado pelo
que Pierre Nora denominou de ―aceleração da história‖, torna-se de
fundamental importância (re) pensarmos a constituição dos nossos
lugares de memória. Dessa forma, devemos atentar para a
condição essencialmente precária em que se encontram nossos
arquivos, museus e espaços que guardam em suas paredes
histórias de vida que necessitam serem evocadas, sob pena de
ficarem esmaecidas e amareladas nas gavetas do tempo.
No que concerne à referida instituição, é de fundamental
importância cobrarmos das autoridades competentes a efetivação
de políticas públicas que visem não apenas conservar e tombar
casarios históricos, mas que nas diversas nuanças do fazer história
possam ser preservadas os mais diversos espaços significativos
para os mais variados lugares sociais que atuam cotidianamente no
espetáculo de nossas vidas.
A história do ―Gigantão da Prata‖ ecoa gritos de socorro. Gritos que
necessitam serem olvidos, se não pelas autoridades públicas, ao
menos por seus queridos filhos e todos e todas que se interessem
na conservação da sua bela e pujante história.
Pensar o Colégio Estadual Dr. Elpídeo de Almeida enquanto
patrimônio educacional campinense e como lugar de memória de
tantos e tantas que por lá passaram, implica em atuarmos de
forma veemente, lutando contra o esquecimento a que parece
estar relegadas as históricas escadas, as paredes tão ricas de
informações que necessitam serem ouvidas para contarem uma
outra história que não apenas as dos grandes e heróis e batalhas
nacionais, mas histórias de vida, de luta, de resistência que sem a
condição da rememoração e lembrança estariam fadadas a se
perderem por entre as sinuosas curvas da longa estrada chamada
História.
91
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da Literatura. In: História da Educação n. 14, set/2003, p. 3145. Pelotas: ASPHE/UFPel.
SILVA, Josélia Pereira da. Depoimentos de ex-alunos e alunas
do Colégio Estadual Dr. Elpídeo de Almeida. Campina Grande,
2003.
12
MEMÓRIAS
(RE)EDITADAS
E
IDENTIDADES
INSTITUÍDAS: RASTREANDO BIOGRAFIAS SENTIMENTAIS
Silêde Leila Oliveira Cavalcanti
10
O desafio de investigar temáticas no campo das subjetividades e
dos sentimentos, tendo como recorte temático as sensibilidades
afetivas de idosos(as) na contemporaneidade articuladas as
identidades de gênero e de família, me conduziu ao encontro de
biografias, lembranças, narrativas e
memórias como suporte
documental imprescindível de minhas análises e elaborações
teórico- metodológicas da pesquisa do trabalho de doutoramento
que ora se realiza. A crença do direito/dever da memória como
caminho de reconhecimento social tem sido enfatizada por
movimentos sociais e atitudes políticas de determinados grupos
10
A autora é professora da unidade acadêmica de História e Geografia do Centro
de Humanidades da Universidade Federal de Campina Grande e doutoranda pela
Universidade Federal de Pernambuco
92
sociais marginalizados e silenciados sócio e historicamente em seus
valores, demandas e desejos.
Debruço-me sob as memórias involuntárias, fugidias, abandonando
o campo da memória voluntária, já historicizada e consagrada na
contemporaneidade,
visto
que
na
operacionalização
da
historiográfica das memórias tem se dado ênfase e consagração a
memória como faculdade intelectual e cognitiva, como produtora
do conhecimento, mutilando a polissemia das memórias em suas
várias dimensões e estatutos, tão bem enfatizados por Proust e
Bérgson, e considerando sua trifuncionalidade que seriam a
memória-ação, a memória-afetiva e a memória conhecimento.
Nas três últimas décadas vivemos um verdadeiro ―frenesi da
memória‖, irrompendo-se nos campos da historiografia, da
antropologia, das ciências sociais como um todo, uma revalorização
das fontes orais como instrumento e caminho eficaz de revisitação,
reatualização das lembranças e do passado vivido e meio de
produção de saberes históricos. A crença do direito/dever da
memória como caminho de reconhecimento social tem sido
enfatizada por movimentos sociais e atitudes políticas de
determinados grupos sociais marginalizados e silenciados sócio e
historicamente em seus valores, demandas e desejos. Evidencia-se
um acúmulo de falas e uma operacionalização com grau cada vez
mais de sofisticado e eficaz, demarcando territórios identitários
como culturas afirmativas e inclusivas de grande fôlego, depurando
uma questão sensível do reconhecimento social de indivíduos,
grupos e tribos marginalizadas.
As memórias como fonte histórica e a história oral e/ou a análise
do testemunho oral são, respectivamente, os documentos e a
metodologia escolhida na construção do referido trabalho. A
questão do corpo envelhecido e suas subjetividades e cartografias
amorosas são falas muito recorrentes entre muitos dos indivíduos
que ora demarcamos como foco de análise; seja pra recordar com
saudade, para ser ouvido e fugir da solidão, ou para rejeitar,
silenciar, se arrepender, ou ainda, para pensar e viver projetos
amorosos num momento que os especialistas consideram estranho.
Esses campos de abordagens tem muitas trilhas inexploradas e
desejantes de investigação, configurando-se como caminho de
afirmação dos cientistas sociais, em especial dos historiadores,
como indivíduos comprometidos com o reconhecimento e
acolhimento das identidades e das diferenças há muito
marginalizadas e silenciadas.
Recusando o apego a memória voluntária e optando pela a
escuta/análise das memórias involuntárias, trilho um percurso que
não comunga com a desqualificação das memórias dos sentimentos
e dos (res)sentimentos, que as insere no terreno de irracionalismo
avesso à história. Nesse sentido considero as memórias menos
93
como conhecimento e razão e, mais como sensibilidade e afeto,
recorrendo a dimensão ética da memória, visto que ― lembramos
menos para conhecer do que para agir‖, afirma Ansart, recorrendo
a Todorov e Habermas. Esse atributo fortemente ético, certamente
incide sobre as condutas dos indivíduos e dos grupos sociais que
com suas memórias extremamente diversificadas irrompem e
invadem a cena pública em busca reconhecimento, visibilidade e
articulação. Mergulhar nas águas turvas e duvidosas das memórias
involuntárias, atentando para sua multiplicidade e vulnerabilidade
torna mais desafiante e enriquecedora o trabalho do historiador
que recusa simplificações e unificações de narrativas e
interpretações historiográficas.
A questão dos elos entre memória e sentimento estão ainda por ser
efetivamente tecidos e explorados em meio a tradições
historiográficas que devoram e anulam as emoções como canais de
reconhecimento, escuta e atualizações das experiências humanas.
Os sentimentos amorosos, de (des) afetos, de ódio, bem como as
marcas simbólicas e cicatrizes sociais foram recusados, por uma
abordagem racionalizante, como fontes de historicidade, produção
de sentidos e de significados na produção de saberes sociais e
históricos.
As abordagens sobre relatos de vida, de cunho (auto) biográficos,
proporcionam o desfilar de palavras- pessoas cujos propósitos de
vida não se confundem com os destinos oficiais, pois são
personagens anônimos que nada fizeram de ― histórico‖, viveram
simplesmente suas vidas como centenas e milhares de
contemporâneos, atores indizíveis pelas histórias oficiais. Mergulhar
nesses meandros, exige dos historiadores sensibilidades para
pensar o sentido estético de seus contemporâneos e para observar
como uma experiência narrada oferece fragmentos de vida.
Os personagens centrais dessa história são os narradores que não
buscam recuar-se do presente para reviver os acontecimentos, pois
rememorar é uma atividade orientada pela atualidade (BOSI,
1994), os relatos se dão na perspectiva do presente, apoiando-se
em ―fórmulas verbais para acomodar o passado‖, ocorrendo que o
trabalho de rememoração aparece ―como um ato de intervenção no
caos das imagens guardadas‖.( MALUF, 1995).
A memória como prática social e gênero literário (BOSI, 1994;
LACERDA, 2000), é marcada pelo discurso-verdade, desejo
evidenciado nas escrituras (auto) biográficas (LACERDA, 2000).
Nas histórias e nos relatos de vida as lembranças aparecem como
produtos de um testemunho ocular da história do seu tempo,
promovendo ao depoente a elaboração de seu discurso de forma
impermeável as ambivalências, subjetividades e as interpretações
pessoais. Nesse jogo de relatos de si encenam-se simultaneamente
sentidos, traços, concepções, impressões que revelam o esforço de
94
enquadramento da memória, buscando retirar as impurezas e
tensões que conspiram contra uma identidade, uma escrita de si
coerente, linear e lógica.
No trabalho de pesquisa e análise das reminiscências e marcado
pelas limitações e possibilidades do uso da memória, se faz
necessário a constituição do pacto autobiográfico, a partir da
experiência pessoal revelada a outro, num acordo tácito de um eu
autorizado pelo próprio sujeito enunciador (LACERDA, 2000). A
operação com as reminiscências é uma tarefa complexa, pois nesse
pacto autobiográfico nada é esquecido ou lembrado, logo o
trabalho com a memória é uma recriação, no presente, do passado,
ou uma reinvenção do passado no presente. Os lapsos de memória
podem, assim, ser considerados não apenas falhas ou rupturas,
mas como parte do próprio texto. Isso é bem sinaliza como ―se a
palavra é uma forma de dizer, é também uma forma de ausência.
Essa ambivalência da palavra inscreve-se diferentemente em cada
depoimento‖ (LACERDA, 2000:88).
Os relatos de experiências passadas, bem como as escritas
autobiográficas, denotam uma operação catársica, instaurando,
quase sempre, uma atmosfera de dores, nostalgia, melancolia.
Movidos muitas vezes pela saudade, velhice, temor a morte e a
sensação de ruptura irreversível do passado com o presente e a
perda de si mesmo, essas narrativas, orais ou escritas, buscam
uma nova estética de existência, como caminho para inventar
sentidos e de inventar a si mesmo.
REFERÊNCIAS
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Memória e (res) sentimento Indagações sobre a questão
sensível, BRESCIANI, Stela e NAXARA, Márcia (org.); Campinas,
SP: Editora da Unicamp, 2001.
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Identidades culturais. Uma
discussão em andamento. In: Cartografias dos estudos
culturais. Belo Horizonte: Autêntica, 2001
FELDMAN-BIANCO, Bela; CAPINHA, GRAÇA (org.). Identidades:
estudos de cultura e poder. SP: Hucitec,2000
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Memória, História, Testemunho In:
Memória e (res) sentimento Indagações sobre a questão
sensível, BRESCIANI, Stela e NAXARA, Márcia (org.); Campinas,
SP: Editora da Unicamp, 2001.
______. Lembrar escrever esquecer SP: ed. 34, 2006
JOSSO, Marie- Christine. Os relatos de histórias de vida como
desvelamento dos desafios existenciais da formação e do
conhecimento. In: Tempos, Narrativas e ficções: a invenção
95
de si SOUZA, Elizeu Clementino de e ABRAHÂO. Maria Helena
Menna (org.); Porto Alegre: Edipucrs: Eduneb, 2006.
LACERDA, Lilian Maria. Lendo vidas: A memória como escritura
autobiográfica. In: Refúgios do eu: Educação, História e
escrita autobiográfica MIGNOT, Ana Chrystina Venâncio,
BASTOS, Maria Helena Camara e CUNHA, Maria Teresa Santos
(org.) Florianópolis: mulheres, 2000.
SEIXAS, Jacy Alves. Percursos de memórias em terras de
História: Problemáticas atuais In Memória e (res)
sentimento Indagações sobre a questão sensível, BRESCIANI,
Stela e NAXARA, Márcia (org.); Campinas, SP: Editora da Unicamp,
2001.
13 - “...E SEM O SEU TRABALHO O HOMEM NÃO TEM
HONRA:”
Notas sobre as transformações no mundo do trabalho e
impactos na identidade social
Ana Maria Morais Costa
Mestranda do PPGCS/UFRN
[email protected]
Dr. José Willington Germano – orientador
[email protected]
As últimas décadas do século XX foram marcadas por profundas
transformações em todas as dimensões da vida e do fazer humano.
Porém as transformações que envolvem o mundo do trabalho se
constituem como afirma CASTEL (2001) na nova questão social. A
sua centralidade se apresenta em diversos elos que envolvem a
vida cotidiana nos aspectos econômicos, sociais, culturais e
políticos. Dentre os espectros que ameaçam a tessitura social
encontram-se o desemprego (com desdobramentos no campo da
moradia, saúde, educação, lazer, organização social, dentre
outros), insegurança e precariedade nas novas formas de
ocupação, queda dos salários reais e exclusão social.
É importante destacar que não é qualquer problema social que
possa ser analisado como questão social. Torna-se uma questão
social, aquele conjunto de problemas que ameaçam o esgaçamento
do tecido social. Para CASTEL (2001), as transformações na ordem
do trabalho se constituem uma questão social porque a categoria
trabalho é muito mais que relações técnicas de produção,
implicando num feixe de relações sociais, culturais e identitárias de
indivíduos e grupos coletivos.
Para o autor os processos de conquista e afirmação da condição
salarial, sobretudo no último século, se consolidaram como uma
das possibilidades de construção da autonomia social dos
96
indivíduos através do trabalho. As conquistas envolvendo os
direitos trabalhistas, salário mínimo garantido, proteções ligadas ao
trabalho, afirmando um estatuto do emprego exemplificam uma
perspectiva que hoje se encontra fragilizada.
Diante do novo cenário encontram-se ainda perplexos, os governos
cujas políticas de proteção social têm causado polêmicas nos
espaços de debates políticos, vivência e construção da cidadania
coletiva e organizada. Os sindicatos, que mergulharam numa crise
de orientação política e ideológica em conseqüência do movimento
de desregulamentação de leis, supressão de direitos trabalhistas,
queda das taxas de sindicalização, dentre outros. A ciência, que
necessita aprofundar os questionamentos sobre a sua capacidade
de apreender os processos naturais e sociais que se desenvolvem
no mundo, e ainda, os organismos internacionais, e os cidadãos.
Para CASTEL (2001: p. 495-497), a nova questão social tem como
eixo central o enfraquecimento da condição salarial. O autor
ressalta que a centralidade do trabalho construída ao longo da
história da produção da existência material das pessoas em suas
constantes lutas pela sobrevivência, conquista da dignidade e
felicidade social, impôs o salariado definitivamente como uma
marca em detrimento dos outros suportes da identidade. Desse
modo o deslocamento dessa centralidade provoca alterações nas
diversas dimensões que envolvem os modos de ser, pensar e viver
fundamentado numa representação da história na qual o mundo do
trabalho, o progresso, a organização social e política e a felicidade
social se encontram e se imbricam na construção dos processos
identitários.
O salariado acampou durante muito tempo às margens da
sociedade; depois aí se instalou, permanecendo subordinado;
enfim, se difundiu até envolvê-la completamente para impor sua
marca por toda parte. Mas é exatamente no momento em que os
atributos vinculados ao trabalho para caracterizar o status que
situa e classifica um indivíduo na sociedade pareciam ter se
imposto definitivamente, em detrimento dos outros suportes
da
identidade, como o
pertencimento familiar ou a inscrição numa
comunidade concreta, que essa centralidade do trabalho é
brutalmente recolocada em questão.
Para o autor, a perspectiva histórica e sócio-cultural que o trabalho
assalariado conquista lhe confere uma situação na qual o trabalho
é mais o que o trabalho e, o não trabalho é mais que o
desemprego. Ressalta que do século XIX ao século XX seria difícil
construir uma idéia de autonomia relacionada ao trabalho, porém
houve através de conflitos e lutas, uma transformação na condição
do trabalhador. Ao trabalho se associaram garantias que
possibilitariam a construção e exercício dessa autonomia. À medida
que o trabalho e a condição salarial foram evoluindo
97
historicamente, ser trabalhador não era apenas cumprir uma
jornada de tantas horas de trabalho por dia e por semana, era
também ter um estatuto.
Dessa forma, a sociedade salarial construiu no trabalho seu
principal parâmetro de sustentação de um equilíbrio social, de
modo que o seu deslocamento apresenta uma situação inédita na
escala de meio século, marcada por incertezas e desafiantes
processos de reestruturação nas relações de produção.
A novidade não é só a retração do crescimento nem mesmo o fim
do quase pleno emprego, a menos que se veja aí a manifestação
de uma transformação do papel do ―grande integrador‖
desempenhado pelo trabalho. O trabalho como se verificou ao
longo desse percurso, é mais que o trabalho e, portanto, o nãotrabalho é mais que o desemprego, o que não é dizer pouco.
(CASTEL: 2001 p. 496).
Vale salientar que a concepção do trabalho, o sentido a ele hoje
atribuído, passou por várias modificações ao longo da história. Na
origem, o termo deriva do latim, tripalium que é um instrumento
de tortura. Na Grécia, da mesma forma, o trabalho não era
valorizado. Era associado à satisfação das necessidades básicas do
homem (vestir-se, alimentar-se, produzir, comerciar) e por esse
motivo era relegado aos escravos. Para os romanos, a palavra
trabalho significava dor, sofrimento. Na Idade Média, o trabalho
continuou sendo considerado uma atividade pouco nobre, uma vez
que os realmente nobres não deveriam trabalhar.
É a partir do século XVIII que essa concepção sofre uma mudança
essencial. A idéia de progresso associada ao desenvolvimento da
indústria coloca o trabalho humano como principal motor para
transformação da natureza, das coisas, e da sociedade. O trabalho
se torna a principal referência para o desenvolvimento histórico da
sociedade capitalista, conforme MARX (2008: V.I. p. 375), o
trabalho é o ponto de partida da produção capitalista:
A produção capitalista só começa realmente quando um
mesmo capital particular ocupa, de uma só vez, número
considerável de trabalhadores, quando o processo de
trabalho
amplia sua escala e fornece produtos com
maior quantidade. A atuação simultânea de grande
número de trabalhadores, no mesmo local, ou, se quiser
no mesmo campo e atividade, para produzir a mesma
espécie de mercadoria sob o comando do mesmo
capitalista, historicamente e logicamente constitui, o
ponto de partida da produção capitalista.
As reflexões de Marx apontam também para o processo dialético
presente no trabalho, que permite ao homem criar a si mesmo, sua
própria história e o seu lugar. Conforme MARX o trabalho também
um processo que reúne o homem e a natureza e que permite ao
98
mesmo regular as relações materiais estabelecidas entre ambos, ao
modificá-la, ele muda ao mesmo tempo a sua própria natureza,
desenvolvendo forças adormecidas e direcionando-a a agir em
obediência ao seu poder. A perspectiva desenvolvida por Marx
coloca a centralidade do trabalho no debate do desenvolvimento
histórico das sociedades e da evolução do homem. Para ENGELS
(1984: p 9), o trabalho é mais do que o ato de transformar a
matéria-prima em riqueza. O trabalho ―é o fundamento da vida
humana‖. O autor afirma que ―sob determinado aspecto, o trabalho
criou o próprio homem‖.
Desta forma, ao longo dos últimos séculos o trabalho e, sobretudo,
o trabalho assalariado conquistou lugar central na sociedade. A sua
posição reconhecida na divisão social do trabalho lhe deu um
―lugar‖ na sociedade. Passou a ser identificado como meio de
realização profissional e pessoal e um dos principais instrumentos
através do qual o homem dialoga com seu meio social e com seu
tempo.
Evidentemente não se pretende aqui, apresentar uma visão
estática da história. O capitalismo como regime de produção e
organização social caracteriza-se pela constante renovação nos
métodos de produção e gerenciamento. A revolução tecnológica em
curso é sem dúvidas um dos seus grandes marcos. O que se
ressalta são algumas características da sociedade que emerge
como fruto desta revolução. Na qual, tempo e espaço são
resignificados com novas funções, favorecendo o desencaixe das
relações sociais, à descentralização da produção e da distribuição
de mercadoria, desregulamentação dos direitos dos trabalhadores e
uma série de alterações nas dimensões material e subjetivas da
classe trabalhadora.
A emergência dessas características aponta para KURZ (1992) uma
crise do sistema mundial produtor de mercadorias, colocando em
xeque a suposta situação de ―normalidade‖ do sistema capitalista
dos países do Ocidente. O autor percebe as sucessivas crises do
capitalismo como processos inerentes de regulação do mercado.
Cada vez mais os países do Ocidente estão diminuindo a
capacidade aquisitiva das massas, limitando-se a setores cada vez
menores, tendo em vista que as produções com maior
produtividade terem que se esforçar para estarem presente em
todos os lugares do mundo.
Os impactos dessa alteração se revela na correlação entre inovação
tecnológica e organizacional e o crescimento dos índices de
desemprego industrial, provocando um conjunto de fatores de
ordem política, econômica, social e cultural. Para CASTEL (2001: p.
498) entra em crise a própria representação de uma história que
associa a déia do progresso com o trabalho e o desenvolvimento:
99
Fundamentalmente, é uma representação do progresso que talvez
tenha sido levada pela ―crise‖: a crença de que o amanhã será
melhor
que o hoje e de que se pode confiar no futuro para
melhorar sua
condição; ou sob outra forma menos ingênua, a
crença na existência
de mecanismos para controlar o futuro de
uma sociedade desenvolvida, dominar suas turbulências e
conduzi-la a formas de equilíbrio organizadas de modo cada vez
melhor. Trata-se sem dúvida,
de uma herança eufemística do
Ideal revolucionário de um domínio
completo do homem
sobre o seu destino através da ambição de fazer entrar, ainda que
à força, o reino dos fins da história. Entretanto,
com
o
progresso, não se trata de instaurar `a força, aqui e agora, um
mundo
melhor,
mas
de
preparar
transições
que,
progressivamente, é oportuno dizer, permitirão que dele se
aproxime.
Desse modo, percebe-se que as conseqüências do deslocamento da
centralidade do trabalho para o fortalecimento dos elos da
identidade social, extrapola o aspecto social da desagregação
daqueles que vivem a condição de não-trabalho. A descentralização
da produção e a flexibilização das relações de trabalho modificaram
a natureza do trabalho, acabando com a relação fixa entre o
trabalho e o local de execução, bem como com a estabilidade do
trabalhador no seu emprego. CASTEL (2001: p. 531), embora
argumente a dificuldade de manejar uma relação entre identidade
e trabalho no quadro de uma argumentação rigorosa, afirma que:
Seria possível, talvez sintetizar essas transformações
recentes
dizendo que, para categorias cada vez mais
numerosas da
população ativa, e a fortiori para as
que estão colocadas em situação de inatividade forçada,
a identidade pelo trabalho está perdida (…) Certamente
é possível identificar vários círculos de identidade
coletiva fundada primeiro na profissão
( o coletivo
trabalho) e que pode prolongar-se em comunidade
de moradia
(o bairro popular), em comunidade de
modo de vida, (…) opertencimento sindical e político.
Para OFFE (1994, p. 178-9), o fato de alguém ser empregado tem
pouca importância na definição da identidade social. A ênfase recai
para outras questões como estilos de vida e preferência cultural.
Para o autor, dizer que é trabalhador informa muito pouco sobre a
pessoa. Essa discussão questiona a centralidade do trabalho como
categoria sociológica chave para a investigação social e apresenta a
possibilidade do reconhecimento da perda de espaço do trabalho
como referência das identidades sociais e importância subjetiva na
vida das pessoas.
Evidentemente a diversidade da classe trabalhadora, devido a
heterogeneidade e a fragmentação dificultam de certa forma, a
100
relação trabalho – identidade social. A atual composição interna da
classe trabalhadora inclui segmentos diferenciados que sobrevivem
de salários: operários, trabalho de capital industrial, comercial e
financeiro, empregados na produção de bens materiais e
imateriais, funcionários públicos. A identidade com base em traços
comuns não coincide. Porém verifica-se que o deslocamento da
centralidade
do
trabalho
provocou
alterações
subjetivas
relacionadas aos modos de ser e viver em sociedade com
repercussão nas formas de organização política e sindical.
REFERÊNCIAS
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma
crônica ao salário. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
ENGELS, Friedrich. O papel do macaco na transformação do
macaco em homem. 2. ed. Global, São Paulo, 1984.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, V. I. tradução
de Reginaldo Sant'Anna. 26. edição. Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro, 2008.
KURZ, Robert. A crise do sistema mundial produtor de
mercadorias. In: O colapso da modernização: da derrocada do
socialismo de caserna à crise da economia mundial. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1992.
OFFE, Claus. Dominação de classes e sistema político. Sobre a
seletividade das instituições políticas. In: Problema estruturais
do Estado capitalista, pp. 140-177.
_______. Capitalismo desorganizado. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
14 - EXPERIÊNCIAS DE VIUVEZ NA VELHICE
Kátia Ramos Silva
Graduada em Ciências Sociais – UFCG
Profa. Dra. Benedita Edina da Silva Lima Cabral (PPGCS – UFCG)
Orientadora
O acentuado aumento da expectativa de vida da população mundial
e brasileira, em particular, provoca sensíveis alterações na
dinâmica familiar e relacional, que caracterizam a sociedade
contemporânea. É neste contexto que o segmento populacional que
adquire cada vez mais espaço nos debates acadêmicos e nas
políticas públicas é aquele que atinge a faixa etária dos 60 anos de
idade. Na discussão sobre o tema idoso e família, um aspecto
desperta a atenção dos estudiosos é o estado conjugal da
população idosa, na medida em que dados demográficos apontam
para a significativa prevalência da viuvez na velhice. Esse dado,
101
portanto, adquire importância expressiva na análise da velhice na
contemporaneidade, visto que essa condição conjugal modifica, de
maneira singular, a dinâmica familiar e as estruturas da sociedade.
Partindo desse pressuposto, esse trabalho tem o objetivo de
atentar para as experiências de viuvez, de homens e mulheres com
60 anos e mais de idade, que passaram de uma condição de
conjugalidade para a de viuvez na velhice. Para tanto,
entrevistamos sete mulheres e três homens e os registros
coletados durante a realização das entrevistas foram analisados à
luz de um referencial teórico referente aos temas: velhice, família,
viuvez e morte. Assim, as experiências de tornar-se velho e
vivenciar a condição de viuvez conduzem a uma maior reflexão
sobre essa condição peculiar e apontam para um universo denso da
vida conjugal.
O aumento acentuado da expectativa de vida da população mundial
e brasileira, em particular, atrai a atenção de estudiosos de várias
áreas de conhecimento – da sociologia aos direitos previdenciários,
da psicologia à antropologia – desde a década de 1970, quando
passou-se a acompanhar científica e empiricamente as paulatinas,
mas significativas alterações nos padrões demográficos vigentes
até então.
Atreladas a essas sensíveis alterações demográficas, encontram-se
as novas configurações familiares e relacionais, que caracterizam a
sociedade contemporânea. Com esses novos padrões instituídos, o
segmento populacional que adquire cada vez mais espaço nos
debates acadêmicos e nas políticas públicas é aquele que atinge a
faixa etária dos 60 anos de idade.
As discussões sobre o segmento idoso abrangem temáticas
diversas, tais como aposentadoria, fragilidade, abandono, violência,
a inserção do idoso na família, solidão, são das mais recorrentes.
Quando se trata de analisar o tema idoso e família, algo que
desperta a atenção é o estado conjugal da população idosa.
Segundo dados demográficos, na ―PNAD de 1995, as mulheres
viúvas constituíam 45% das mulheres idosas, as separadas 7% e
as solteiras outros 7%. Por outro lado, quase 80% dos homens
estavam em algum tipo de união conjugal‖. (CAMARANO, 2002, p.
7-8). Assim, a viuvez adquire importância expressiva na análise da
velhice, visto que essa condição conjugal modifica, de maneira
singular, a dinâmica familiar e as estruturas da sociedade.
É importante salientar que embora o número de homens velhos
viúvos seja proporcionalmente inferior ao de mulheres idosas que
compartilham esse status marital, a análise das experiências de
viuvez na velhice pode ser um campo fértil para o debate sobre
questões de gênero.
A pesquisa busca investigar a condição de viuvez de um grupo de
idosos da cidade de Campina Grande – PB. O objetivo é
102
compreender a vivência e as particularidades dos indivíduos na
viuvez, e nos deteremos no estudo de homens e mulheres com 60
anos e mais de idade, que passaram de uma condição de
conjugalidade para a de viuvez na velhice.
Percebemos que a viuvez além de corresponder a uma condição
permeada por estereótipos, estigmas (GOFFMAN,1980) e
liminaridades, é ainda bastante invisibilizada nos estudos dos
cientistas sociais. Quando associada à velhice, embora o peso
demográfico seja bastante expressivo, a escassez de pesquisas é
mais ―perceptível‖ e os preconceitos ditados por normas sociais
parecem ser ainda mais reforçadas.
Alda Britto da Motta, pesquisadora reconhecida na área dos
estudos de gênero, velhice e geração, se propôs a discutir a
questão da viuvez na velhice e apontou para uma das possíveis
razões para o ―mistério dessa ausência‖ da viuvez no cenário
acadêmico e social, afirmando que isso acontece ―sobretudo porque
a condição de viuvez é majoritariamente das mulheres, e
identificada, como estereótipo, basicamente a estas‖ (MOTTA,
2005, p.7).
A feminização da velhice possivelmente parece exercer uma
acentuada influência sobre esse silenciamento da experiência de
viuvez na velhice. Contudo, pesquisar um tema pouco explorado,
nos instiga a observar a realidade mais detidamente, de forma a
contribuir com as discussões ainda incipientes.
A morte do cônjuge com quem se compartilhou longos períodos e
momentos significativos da história de vida corresponde, talvez, à
mais importante perda com a qual os mais velhos têm que lidar e
superar. Deste modo, na velhice, essa perda é sentida com maior
intensidade, visto que ela atua como uma inexorável ruptura.
Ruptura de um tempo, de uma condição, de uma relação, do
entrelaçamento de uma dupla trajetória que culmina com a finitude
da vida.
A análise dos relatos dos participantes da pesquisa explicitou
importantes aspectos das experiências de viuvez na velhice.
Percepções singulares dos informantes sobre a dupla condição
social ostentada – velhos e viúvos – expuseram as formas pelas
quais eles reconstroem a passagem limiar da conjugalidade à
viuvez, elaboram sua autorepresentação, se colocam diante da
finitude da vida e se readaptam à sociedade durante o pós-viuvez.
É nesse contexto que a apreciação dos relatos dos entrevistados,
possibilitou perceber a diversidade de significados que a condição
de viuvez comporta, alternando entre situações de instabilidade
emocional e entre modificações nas relações estabelecidas com a
família e a rede de sociabilidade dos enviuvados e enviuvadas.
A ausência do cônjuge de longa data desestabiliza o cotidiano do
viúvo, já anteriormente estabelecido com o par conjugal. As
103
sensações que emergem, portanto, são de incompletude e
inconstância, repercutindo em diversas esferas da vida dos
indivíduos que vivenciam a condição de viuvez.
Reconhecidamente, a perda do par conjugal altera de forma
definitiva as estruturas familiares e os aspectos cotidianos da vida
dos indivíduos. A instauração de uma nova dinâmica na chefia do
lar, a reorganização dos recursos econômicos, mudanças
comportamentais, novas formas de relacionamento com filhos e
netos, readaptação aos hábitos cotidianos são parte das situações
com as quais os viúvos se deparam após a morte do cônjuge.
Como já referido, na velhice, todo esse processo de reinserção
social e familiar ocorre de forma mais intensa.
A partir disso, percebemos que, além das naturais variações de
ordem subjetiva nos sujeitos que vivenciaram a passagem da
conjugalidade à condição de viuvez na velhice, as distinções entre
gênero, geração e classe social, perpassam e influenciam de forma
significativa as representações de viuvez que se desenvolvem na
contemporaneidade. A discussão sobre a viuvez na velhice,
contribui, portanto, para oferecer possibilidades de debates
profícuos sobre novas dinâmicas familiares, relacionais e
comportamentais que se instauram na vida dos idosos após a
perda do par conjugal.
REFERÊNCIAS
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brasileira: uma contribuição demográfica. Texto para discussão,
n. 858, Rio de Janeiro, p. 1-31, 2002.
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Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, v. 7, p. 7-34, 2005.
15 - OPERAÇÃO DEMOCRÁTICA: GILBERTO FREYRE E SEUS
ARTIGOS NA IMPRENSA NO PERÍODO 1964-1979
Rachel Soares Cavalcanti
UFPB – PPGS/CAPES
[email protected]
O presente estudo tem o intuito de analisar como Gilberto Freyre
incorporou as idéias expressas em suas obras para legitimar, em
1964, o Golpe Militar. Por ser um assunto pouco discutido na obra
freyriana, vi a oportunidade de aprofundar o estudo de como o
autor incorpora sua obra como elemento de legitimação ideológica.
104
A pesquisa é feita com base em uma série de artigos publicados na
imprensa nacional, mais especificamente na revista O Cruzeiro, no
Jornal do Comércio e no Diário de Pernambuco, no período que vai
de 1964 a 1979. Procuro mostrar como os discursos freyrianos se
entrelaçam, não apenas teoricamente, mas também em sua forma.
Em uma visão preliminar, nota-se que Freyre procura levar ao povo
a idéia de que ―um brasileiro verdadeiro‖ é aquele que corrobora
com o golpe militar, que ama a nação verdadeiramente e quer vêla em desenvolvimento, então somente desta forma o país
retomaria seu espírito de pátria. Partindo da noção do agir
brasileiramente, faz um chamado à sociedade com o intuito de
―salvar nosso patrimônio‖ da ―onda vermelha‖ – fazendo assim
uma alusão aos ataques comunistas em oposição ao regime militar.
O autor em vários momentos apropria-se da função de levar ao
povo a noção de reconstrução social, informando que essa é a
maior preocupação do regime militarista.
A surpreendente trajetória política de Gilberto, que evoluiu da
esquerda democrática nos anos de 1930 e 1940 para a direita
autoritária a partir de 1950, tem suas raízes no conservadorismo
saudosista e aristocrático de sua obra (SOUZA, 2000, p. 225),
apesar do seu grau de inovação em termos de método, objeto e
estilo. O método cultural de Freyre contém, portanto, o seu fio
condutor: o reacionarismo exacerbado que ostentaria publicamente
anos mais tarde. Freyre concebeu, de forma idílica e harmônica, as
relações entre senhores e escravos, centradas na autoridade
benevolente dos patriarcas e na predisposição do negro à
dominação, capaz de gerar uma sociedade que favorecia a
mobilidade social entre as raças.
Com a finalidade de tornar mais clara a análise desta série de
artigos, faz-se necessária uma abordagem dividida em torno de
duas questões distintas e igualmente importantes. A primeira é
referente ao conceito de democracia na análise dos artigos
freyrianos, já a segunda remete à questão regional e como tal
discurso é inserido em seu posicionamento político-ideológico.
Falar de democracia na obra de Gilberto Freyre é um assunto
bastante delicado. Devido, principalmente, ao propagado conceito
de democracia racial que sempre esteve em meio aos debates de
inúmeros comentadores da obra freyriana, e tal conceito fora
designado como o centro das discussões acerca da teoria da
interpenetração de raças. Apesar de só ter utilizado o termo
democracia racial apenas em 1962, tal termo é atribuído a Gilberto
Freyre como uma de suas teses centrais, devido à formulação do
conceito de democracia social através de uma democracia étnica
em Casa-Grande & Senzala. Para Freyre, a democracia social é
basicamente uma democracia étnica, ou seja, um espaço de
relações onde não existem restrições quanto ao nascimento, à
105
origem, ou ao ―sangue‖ das pessoas – democratização do espaço
com a integração entre todas as raças.
A problematização acerca da teoria freyriana sobre a democracia
étnica ou social é conduzida por acontecimentos históricos e
políticos. Portanto, como Gilberto Freyre mantivera uma relação
teórica, política e ideológica com o regime salazarista em Portugal,
e por conseqüência com o governo de Vargas – é de suma
importância considerar que ambos os governos apoiaram
efetivamente e sem restrições o regime fascista da Itália, e o
nazista da Alemanha, onde a maior característica encontrava-se no
apelo da pureza étnica. Então, o conceito democrático em Freyre
através da pluralidade de raças precisara ser ―esquecido‖,
especialmente pelo próprio autor, já que o quadro político geral em
que Freyre estava inserido demandava uma outra forma de pensar
o social.
Outro assunto urgente: (...) o que eu estou achando do rumo da
Operação Democrática no Brasil nos últimos dias ou nas últimas
horas. Creio que não vai bem a Operação. Políticos e elementos
comprometidíssimos com a situação
que
os brasileiros
independentes e as Forças Armadas uniram-se para desarticular –
dado o fato de vir arruinando o Brasil – estão se aproveitando da
desarticulação realizada, como se a mesma tivesse sido
empreendida em benefício desses grupos e elementos; e não do
Brasil. O que é lamentável e parece impor às Forças Armadas o
dever de retomarem o controle da operação saneadora. O
momento – penso eu – não é para bizantinos legalistas, mas para o
início, no país, de uma nova fase de vida política e de ação
administrativa, livre de políticas e grupos demasiadamente
comprometidos com um recente, triste e vergonhoso passado.
Como foi dito anteriormente, o conceito de democracia em Gilberto
Freyre não pretende designar uma teoria política, e sim uma teoria
social através da interpenetração entre as diferentes raças.
Entretanto, baseado na análise dos artigos observa-se que o
conceito de democracia é exercido através do que Freyre chama de
Operação Democrática. Não há uma definição clara do que vem a
ser a operação democrática; no entanto, tal termo remete à idéia
de reconstrução social, de um novo rumo para a sociedade
brasileira.
Freyre deixa claro seu apoio ao novo governo, e principalmente aos
métodos utilizados pelas Forças Armadas com o intuito de conter o
movimento oposicionista. Neste momento, a democracia para
Freyre estava completamente voltada ao processo de reconstrução
social – pois, segundo o autor pernambucano, o período que
antecedera o golpe militar não era regido por um governo
―verdadeiramente‖ democrático, daí a necessidade de uma
reorganização social e política.
106
A reconstrução social é um tema sempre em evidência na obra
freyriana. No Manifesto Regionalista, Freyre fala em reconstrução
como ferramenta essencial para a manutenção do tradicionalismoregionalista em oposição ao novo sistema que se desenvolvera no
país – criticando o processo de europeização que o Brasil estava
passando devido às idéias do modernismo. Entretanto, no Golpe de
1964, a reconstrução social para Freyre possuíra um caráter
igualmente tradicional. Antes da operação militar, o Brasil
encontrava-se sob a regência e os olhares comunistas, referindo-se
ao governo do presidente João Goulart – então, com a eclosão do
golpe militar o país possuíra a oportunidade de retomar seus
valores tradicionais, e reconstruir uma realidade social sem a
presença dos ideais comunistas. É importante destacar que
praticamente quarenta anos após o Manifesto Regionalista o autor
utiliza o mesmo embasamento teórico com o intuito de tornar
legítima a ditadura militar.
Ao tratar do conceito de democracia nos artigos de Gilberto Freyre,
surge a chamada Operação Democrática que tem como principal
objetivo promover uma reconstrução social a partir dos valores
tradicionais e nacionalistas que, segundo o autor, foram
menosprezados no governo anterior. Desta forma, o regime militar
seria o principal responsável pelas mudanças e transformações
sociais que o país necessitara, além de recuperar o orgulho
nacional já esquecido por muitos cidadãos brasileiros, devido à
ausência
de
um
governo
―verdadeiramente‖
patriota,
―verdadeiramente‖ democrático.
Independentemente de datas, de acontecimentos políticos ou de
qualquer fator marcante, Freyre defende arduamente o sentimento
regional, o orgulho nacional – e baseado neste ideal de pátria, e de
apego ao solo acolhedor, Freyre incorpora e utiliza um discurso ora
regionalista, ora nacionalista, com o intuito de envolver o leitor e
fazer com que o mesmo sinta-se parte daquele ideal de nação.
Gilberto Freyre utiliza constantemente termos como ―verdadeiros
brasileiros‖, ―nacionalistas‖, ―amigos da nação‖, enfim, para tentar
construir no pensamento dos cidadãos um sentimento de pátria.
Os artigos de Gilberto Freyre têm como característica um discurso
baseado na necessidade da união nacional, sendo assim, o autor
faz um ―chamado‖ ao povo brasileiro, verdadeiramente brasileiro,
em propagar os benefícios de possuir um governo realmente
comprometido com o progresso nacional. Progresso este visando à
recuperação das tradições genuinamente brasileiras, que foram
vulgarizadas, em um curto espaço de tempo, pela tentativa da
aplicação da ideologia comunista no país, que, segundo Freyre, não
passava de uma ideologia importada e financiada pelo capital
estrangeiro, e assim denominava os oposicionistas de cidadãos
antibrasileiros. O discurso nacionalista de Freyre durante a ditadura
107
militar possuía um caráter ideológico relacionado com elementos
que demandam uma legitimação do poder. Ao invés de usufruir dos
aspectos econômicos, sociais e políticos para expor à população os
benefícios do novo governo, o autor pernambucano optou por
utilizar de um discurso patriótico reivindicando o sentimento
nacionalista daqueles que desejavam o melhor para a nação, que
estava representado no contexto da ditadura militar.
Os artigos direcionados ao regime militar concentram-se, em sua
maior parte, no ano de 1964, devido à necessidade de tornar o
regime militar concreto e efetivo, além da tentativa de angariar o
apoio da sociedade em prol do levante nacionalista. O tom
arrebanhador está constantemente presente no conteúdo de seus
artigos. No Manifesto Regionalista também está presente a
necessidade do ―clamor‖, do ―convite‖ e da ―intimação‖ da
população em prol da manutenção dos valores regionalistas e
tradicionais, do caráter identitário nordestino em detrimento ao
discurso modernista a favor de uma modernização, do progresso
nacional, no entanto, com as raízes, os valores e os costumes
importados do continente europeu.
Na tentativa de fazer um apanhado das questões mais relevantes
na obra freyriana que servem como suporte teórico na legitimação
de um regime de poder, nota-se que o argumento em Gilberto
Freyre é bastante circular, no entanto, abarca vários
direcionamentos do pensamento social brasileiro. Entretanto, todos
os artigos seguem a mesma linha teórica, política e ideológica,
chegando a tornar seus argumentos por diversas vezes repetitivos.
Podemos até considerar uma busca ―incansável‖ de auto-afirmação
do ser regional, tanto no texto do Manifesto Regionalista quanto no
conteúdo dos artigos, ou partimos da necessidade de incorporar os
ideais expostos por Freyre no imaginário da população, com a
finalidade de todos serem regidos a partir de uma mesma ordem.
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LÉPINE, C. PEIXOTO, F. A. (Orgs.). Gilberto Freyre em quatro
tempos. São Paulo: Edusc, 2003. p. 65-82.
16
-“MÃE
É
TUDO
IGUAL”:
ESTRATÉGIAS
DE
DESLEGITIMAÇÃO MORAL DE MULHERES COM FILHAS EM
UMA INSTITUIÇÃO ABRIGO
Gilson José Rodrigues Junior
Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE)
Graduado em Ciências Sociais (UFRN)
Mestrando em antropologia (Bolsista CAPES)
A presente pesquisa é fruto de inquietações, se não suscitadas,
moldadas a certo rigor acadêmico desde a graduação em Ciências
Sociais (2003-2007), as quais têm na elaboração, em curso, da
dissertação de mestrado a possibilidade de um aprofundamento,
que, certamente, não se pretende conclusivo. Busquei como marca
tradicional, porém não exclusiva, da antropologia, valer-me,
principalmente, da etnografia, esta descrição densa que vê a
cultura como um documento de atuação. Um documento público,
semelhante a [...] um manuscrito estra-nho, desbotado, cheio de
elipses,
incoerências,
emendas
suspeitas
e
comentários
tendenciosos [...], como bem ilustrado por Geertz (2008, p.8). Ao
decidir realizar o trabalho de campo em Penedo, esta pequena
cidade localizada em um estado (Alagoas) que nem é aquele onde
curso o mestrado Recife/PE – nem o local onde resido Natal/RN –,
fui questionado por diversas pessoas com a mesma pergunta: ―Por
109
que Penedo?‖. O que me leva a adentrar uma trajetória pessoal
que perpassa não apenas o ambiente acadêmico, mas outros
contextos, principalmente o religioso.
No ano de 2007, quando exerci a função de liderança –―ministro
local‖ – durante aproximadamente três anos – pela Igreja do
Nazareno em Natal, participei da reunião de líderes da referida
denominação em Aldeia – distrito de Camaragibe/PE. Dentre os
depoimentos, chamou-me atenção o do pastor Mário. Ele falava de
como começou a realizar um ―trabalho social‖ junto às crianças e
adolescentes em ―situação de risco‖ na cidade de Penedo/AL.
Narrou alguns casos nos quais explicava como havia encontrado os
―menores‖, enfatizando bastante os casos daqueles que haviam
sido vítimas de abusos sexuais e/ou se prostituíam desde os nove
anos de idade. Apesar de compartilhar, com todos os presentes de
certas revoltas e/ou sentimentos de felicidade por sua atuação, tive
minha atenção voltada para a forma como este retratava as mães
dessas crianças e adolescentes.
Percebi em sua narrativa certa demonização dessas mulheres,
caracterizadas como únicas responsáveis pela situação em que
seus filhos haviam sido encontrados. Isto despertou-me para
refletir sobre quais seriam suas trajetórias, isto é, quais as
realidades, vivenciadas, em sua singularidade, por elas em seu diaa-dia, levando em conta não apenas a situação atual em que se
encontravam, mas suas histórias de vida, inclusive como
enxergavam valores como maternidade, amor materno, cidadania,
entre outras questões a serem elencadas.
Em março de 2008 resolvi dar início a fase exploratória da
pesquisa, cheguei a Penedo na manhã do dia vinte, sendo recebido
pelo pastor Mário. Já havia lhe informado que, apesar de sua
insistência, não ficaria hospedado em sua casa. Decisão que veio
se mostrar acertada, tendo em vista que as mulheres com quem
tive meu primeiro contato, mantido ao longo de toda a pesquisa,
haviam tirado seus filhos da AME, e tinham uma visão do pastor e
sua família bastante negativa. Certamente se chegasse ao
Kamartelo por meio de Mário ou qualquer pessoa ligada a ele, não
teria conseguido acessar algumas informações, que se mostraram
relevantes no decorrer da pesquisa. Foi nesse período que tomei
conhecimento da atuação da Escola Profissional Lar de Nazaré
(LN), o que será mais bem detalhado a frente.
Em abril do presente ano, o referido pastor já havia saído de
Penedo, voltando para sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Antes
disso muitas das crianças e adolescentes por ele assistidos havia
sido entregues de volta para suas famílias de origem, sem que a
promotoria da infância ou o juizado fossem informados. Diante
disto tornou-se inviável para os fins desta pesquisa manter-se
110
focado nas duas instituições, o que me levou a desenvolver a
pesquisa apenas na relação com o LN.
As estratégias de deslegitimação que se mostram como formas de
desmoralização
do
―outro‖
e,
inevitavelmente,
de
sua
estigmatização, percebidas durante o trabalho de campo, levaramme, também, a pensar sobre a construção da cidadania na
modernidade, enquanto parte de um processo civilizador, o qual
não se dá de forma homogênea entre todos os indivíduos e grupos
de uma sociedade, como bem nos lembra Elias (1994),
hierarquizando, dessa forma, valores e praticas morais, tratando
alguns como mais ―civilizados‖ que outros, ou mesmo
―descivilizados‖ (WACQUANT, 2008).
Deparei-me com uma relação pretensamente dicotômica entre as
representações sobre garotas assistidas pela Escola Profissional Lar
de Nazaré (LN), e suas famílias. Se aquelas são alvos de
investimentos e afetividades, que visam sua disciplinarização, estas
outras são estigmatizadas como principais culpadas ―pelo triste fim
de suas filhas.‖ A prática de estigma-tização (GOFFMAN, 1982)
dessas mulheres percebida ao longo da pesquisa, como já
esperado, não foi algo presente apenas nas conversas e entrevistas
realizadas com funcionários do LN, mas em diversos outros
momentos junto a outros atores, anteriormente referidos.
Com isto não quero construir um discurso que coloque esses atores
em um lugar de vilões. Não se trata disso, mas de perceber como,
a partir de seus juízos de valor moral podem colaborar para a
construção e fortalecimento de barreiras sociais que impeçam
reflexões e uma busca mais eficaz por mudanças sociais. Esses
juízos evidenciam seu comprometimento com uma visão dominante
naturalizada como normal, devendo ser seguida por todos os
indivíduos, sem que se leve em consideração as especificidades de
seu meio social. Exemplo dis-so é a naturalização da família e dos
seus membros, em destaque para o papel da mulher como
principal cuidadora dos filhos, e que este cuidado deve se encaixar
num ideal de maternagem que advém da idéia de ―instinto
materno‖ e do ―eterno feminino‖.
Sem negar a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), e muito menos do avanço representado por essa legislação
quando comparada com as que lhe antecederam, percebo, a
exemplo de outros pesquisadores, que é dado às crianças e
adolescentes, a partir de uma gramática moral bastante concisa e
naturalizada, um patamar hierárquico superior a outros indivíduos,
especialmente daqueles que compõem suas famílias de origem.
Isto me levou, também, a contatar algumas das referidas
mulheres, conhecendo um pouco de seu cotidiano, ―estratégias de
sobrevivência‖, percepções sobre seu entorno social, relações
afetivas, etc.
111
A família, juntamente com a sociedade e o Estado, deve ser em
termos legais, um es-paço privilegiado para garantir as crianças e
adolescentes o que é descrito no ECA como ―direitos fundamentais
‖. Porém, no caso das classes populares, estes estão longe de ser
realidade vivida em seu cotidiano. Estas são em sua maioria
monoparentais, chefiadas por mulheres. A forma como aparecem
representadas parece excluí-las, quando não legal, moralmente,
daquilo se tem compreendido por ―ser cidadão‖, encaixando-se no
que Souza (2006) chama de subcidadãos. No caso das mulheres
com filhas em uma instituição abrigo – foco central desta pesquisa
– os estigmas parecem se potencializar, sendo logo apontadas
como ―mães negligentes‖, ―irresponsáveis‖, ―mães que abandonam
filhos‖ (MOTTA, 2001). O fato de não manterem suas filhas perto
de si é logo visto como algo que contraria a ―natureza humana‖
prova de sua ―fraqueza moral‖. Mesmo quando se busca mostrar
que se compreende que ―o contexto delas é difícil‖, reitera-se que
independente de qualquer coisa ―mãe é mãe‖.
Isso aponta para um projeto de normatização da família que se dá,
principalmente no início do século XIX em diante, como bem
destacam Donzelot (2001) e Costa (2004). Ambos apontam para a
parceria entre o Estado e os médicos higienistas na intenção de
normatizar as famílias. Ambos destacam o tratamento diferenciado
dirigido às famílias ricas e pobres. No caso dessas últimas, as
mulheres são eleitas as parecerias dos médicos e técnicos sociais
(psicólogos assistentes sociais, pedagogos.). Nesse contexto passase a exaltar a figura feminina como naturalmente cuidadora,
ressaltando ―[...] tendências de compaixão maternal que são, por
definição, exigidas das mulheres.‖ (BOURDIEU, p.95, 2003).
O discurso predominante sobre o amor materno, que o reduz a
função biológica de gerar os filhos, deve ser observado como forma
de dominação simbólica, dominação masculina, a qual estando
naturalizada em nossas práticas culturais será defendida tanto por
homens quanto por mulheres como sendo naturais ou até mesmo
divinas. Como destaca Bourdieu (2003, p.52) o poder simbólico
não vai se instaurar sem que se aja um consenso entre dominantes
e dominados. Esta submissão não deve ser compreendida como um
ato consciente, mas resultante de estruturas objetivas. Isto irá se
refletir na percepção de diferentes atores nos mais diversos
campos – familiar, acadêmico, jurídico, – construindo um habitus
que perpassa as diferentes classes e grupos sociais, mas que será
ressignificado
nos
diferentes
contextos.
A
maioria
dos
representantes de instituições públicas e ONGs com quem
conversei fala na existência de um ―instinto materno‖, articulando
diversas explicações para defendê-lo, assim como para sua suposta
ausência, ou pelo menos deficiência, em muitas das mulheres com
quem mantêm contato em suas atividades. Em geral essas
112
explicações apontam uma incapacidade de cuidar dos filhos, seja
devido a pobreza ou falta de amor ―já que não teriam tido isto dos
seus pais, não tem como dar a seus filhos‖, como me disse o
promotor da infância, dentre outras questões que buscarei
apresentar, ou mesmo ―falta de vergonha na cara‖, como afirmou
de forma inflamada uma conselheira tutelar.
Apesar de todos os esforços dos estudos feministas para
desconstruir com o mito do ―eterno feminino‖ e do ―amor
materno‖, estes têm grande força na atualidade, na percepção de
mundo da maioria das pessoas em nossa sociedade (SWAIN,
2004). Um cartaz dentro do Conselho Tutelar de Penedo dizia:
―Mãe é impossível existir sem você‖. Distribuído ao redor da frase
várias imagens de mulheres com crianças nos braços e ao centro
uma imagem de ―Nossa Senhora com o menino Jesus nos braços‖.
Este exemplo ilustra a expectativa que se tem sobre as mulheres.
O que se dá a partir de uma ótica naturalizante e homogeneizante,
a qual invisibiliza as diferentes realidades vivenciadas em grupos e
classes sociais diferentes (RODRIGUES Jr, 2007). Não me parece
exagero dizer que as mulheres que entrei em contato ao longo da
pesquisa parecem se encaixar na idéia de subcidadania (SOUZA,
2006), ou de cidadão de terceira classe (CARVALHO, 2001), já que,
juntamente com outros indivíduos pertencentes às camadas mais
pobres da população, não têm acesso aos direitos garantidos por
lei como sendo fundamentais para uma vida digna .
Se observarmos que ainda hoje nossa sociedade reduz as mulheres
ao útero, isto é, ao ato de concepção e cuidado dos filhos onde
aquelas que não podem ou não querem ter filhos são consideradas
como ―anormais‖ (SWAIN, 2004). O que dizer, então, daquelas que
os tendo gerado, por diversos motivos e justificativas, se
consideram e/ou são consideradas inaptas a maternagem?
Certamente se construiu e se constrói ainda hoje toda uma
gramática moral que rebaixa essas mulheres ao plano do outroabaixo, o que vai legitimar sua exclusão a certos privilégios
resguardados aos mais civilizados. Além disso, a estas mulheres no
Bolsa-Família, quando não sua única a principal fonte de renda,
encaixando-se naquilo que Loic Wacquant (2008) chama de
―welfare mothers‖, mulheres que são demonizadas, consideradas
uma ―ameaça social fantasma‖ , pois vivem as custas da
seguridade social (WACQUANT, 2008, p.48).
Estas representações parecem camuflar e enfraquecer as críticas
ao Estado, já que este aparece como o ―Grande Pai dos Pobres‖. Ao
mesmo tempo não se pode negar a importância de programas
dessa natureza, é importante que se observe que não bastam para
resolver os problemas sociais do Brasil, geralmente reduzido a
questões estritamente econômicas. Como mostra Fonseca (2006),
sem a culpabilização das mulheres, o Estado teria que assumir a
113
sua incapacidade de cuidar da maior parte de seus cidadãos, os
quais, na maioria dos casos, nem podem se encaixar nessa
categoria. Exigir dessas famílias, em especial das mulheres, que
dêem a seus filhos condições de exercerem plenamente a cidadania
enquanto sujeitos de direito, parece ignorar que elas próprias não
têm acesso a isto, podendo ser apenas consideradas, como já
referido, ―cidadãs de terceira classe‖ (CARVALHO, 2008).
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Maternidade e feminismo: diálogos interdisciplinares. SC:
Editora Mulheres, 2004.
WACQUANT, LÖIC. As duas faces do gueto. Boitempo Editorial.
2008.
17 - O MESTRE DE CAPOEIRA: GENEALOGIA, RITUAIS E
VALORES
Juliana Carmen Brito Rodrigues
Mestranda em Sociologia – UFPB
Orientador: Prof. Dr. Antônio Giovanni Boaes Gonçalves (UFPB)
A figura do mestre está presente no imaginário brasileiro desde os
tempos mais remotos, em diversos segmentos da sociedade. O
mestre sempre foi visto como aquele que detém um grande saber
sobre determinado assunto. Por isso, na maioria dos casos, assume
uma posição de comando, de liderança, adquirindo respeito e um
certo status, principalmente no ambiente do qual faz parte. A
denominação de mestre é atribuída a membros de diversos
segmentos da sociedade, como na área acadêmica (professor),
passando pela culinária (mestre-cuca), pela indústria (chefe de
fábrica), até a construção civil (mestre de obras). A presença do
mestre é um traço marcante tanto da religião (a exemplo da
jurema/umbanda) quanto da cultura popular brasileira, como é
verificado em manifestações populares como o carnaval (mestresala), o caboclinho, o cavalo-marinho e a capoeira.
Dentro do contexto histórico da capoeira, os dois mestres de maior
destaque ganharam visibilidade principalmente a partir do início da
115
década de 1930: Vicente Ferreira Pastinha (Mestre Pastinha, 18891981) e Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba, 1900-1974).
Baianos de Salvador, ambos apareceram no cenário da capoeira, e,
consequentemente, na literatura referente ao tema, já sob a
denominação de mestres. Pastinha foi iniciado na capoeira aos 10
anos de idade pelo africano Benedito (Freire, 1967) e Bimba pelo
africano Bentinho (CAPOEIRA, 2005). Da mesma forma que a
origem da capoeira possui várias versões, a introdução da
denominação de mestre ao mais antigo e detentor de toda a
sabedoria também está inserida em um contexto polêmico.
A literatura referente à capoeira não dispõe de informações
específicas sobre essa temática, nem a respeito de todo o
simbolismo criado em torno da figura do mestre e conservado até
os dias atuais pelos adeptos da capoeiragem. O que se sabe é que
a ―tradição‖ perpetuou e que cada grupo possui pelo menos um
mestre, a quem os alunos e demais professores devem respeitar
como autoridade máxima, detentora de todo o conhecimento sobre
a capoeira e de sabedoria suficiente para aconselhar os seus
discípulos sobre os caminhos que devem ser trilhados na roda e na
vida.
Como podemos verificar em Hobsbawn e Rancer (2002), ―é mais
difícil descobrir a origem das tradições quando tenham sido em
parte inventadas, em parte desenvolvidas em grupos fechados‖.
Com base na ideia de Assunção (2005), de que ―o universo da
capoeira é composto por muitos mitos que acabaram sendo
adotados como verdades absolutas‖, podemos propor uma reflexão
sobre o fato de, dentro desse universo, a figura do mestre ser
tratada como detentora de pleno conhecimento sobre o jogo (da
capoeira) e sobre a vida.
Em entrevista concedida ao jornalista Roberto Freire, da Revista
Realidade (1967), mestre Pastinha – já consagrado como principal
nome da capoeira Angola – confirma a existência de controvérsias
com relação à origem da capoeira, por meio da seguinte
declaração: ―tem muita história sobre o começo da capoeira que
ninguém sabe se é verdadeira ou não‖. Em outro momento de sua
fala, na mesma publicação, Vicente Ferreira Pastinha, então com
78 anos, cita o nome de vários capoeiristas já falecidos – Bigode de
Seda, Américo Ciência, Bugalho, Amorzinho, Zé Bom Pé, Chico Três
Pedaços, Tibirici da Folha Grossa, Doze Homens, Inimigo Sem
Tripa, Zé do U, Vitorino Braço Torto, Zé do Saco, Bené do Correio,
Sete Mortes, Chico Me Dá, Júlia Fogareira e Maria Homem –
classificando-os como ―grandes capoeiristas do passado‖, porém,
sem referir-se a nenhum deles como mestre.
Diante dessa declaração de Pastinha, verifica-se um indício de que
a ―tradição‖ de atribuir aos capoeiristas mais antigos e mais
experientes a denominação de mestre teve início – ou se fortaleceu
116
– durante o período em que a capoeira deixou de ser aprendida
quase que exclusivamente na rua – por meio da observação –, ou
de pessoa a pessoa (Capoeira, 2005), e passou a ser ensinada de
uma forma mais organizada, dentro de um contexto semelhante ao
de uma escola, em que as figuras do professor e dos alunos
estavam bem definidas. O marco desse processo de transformação
foi Manoel dos Reis Machado (mestre Bimba), que fundou a
primeira academia de capoeira da Bahia, na década de 1930
(CAPOEIRA, 2005). Bimba havia praticado capoeira Angola durante
dez anos e, em seguida, sistematizou a capoeira, ao compor um
método de ensino com 52 golpes oriundos de outras artes marciais,
a exemplo da savate, do jíu-jitsu, da luta greco-romana, do judô
(FREIRE, 1967) e do batuque (dança originária dos negros do
Congo e de Angola) (ASSUNÇÃO, 2005). A esse novo estilo de
jogo, Bimba deu o nome de Luta Regional Baiana – que depois
passou a ser conhecida como capoeira Regional.
As principais diferenças entre os estilos Angola e Regional são
verificadas no posicionamento dos capoeiristas durante o jogo. A
Angola, que possui um ritmo mais lento, é jogada próximo ao chão.
Já na Regional, o jogo é ligeiro e jogado em pé. Ao levar a capoeira
para a academia, Bimba passou a receber alunos de todas as
partes, incluindo jovens das classes média e alta. Nos anos 1960,
passavam pela academia de Bimba 150 alunos por ano, em média
(FREIRE, 1967), entre os quais estavam incluídos vários estudantes
universitários.
Bimba criou ainda um sistema de graduação, a partir do qual a
noção de hierarquia foi fortalecida e surgiram os rituais de iniciação
(batizado) e os de continuação da trajetória, tais como: formatura
e cursos de especialização e emboscada. Este último funcionava
como preparação para possíveis combates reais. Na hierarquia
introduzida por Bimba na vadiação baiana, conforme Assunção
(2005, p.34), distinguiam-se as figuras dos calouros, dos formados
e dos formados especializados. O aluno formado e o especializado
adquiriram, portanto, mais respeito junto ao mestre e aos demais
colegas.
Em 1941, mestre Pastinha abriu sua academia, ―criou um código
moral e, semelhante a Bimba, selecionou e organizou aspectos da
capoeiragem da época para criar seu estilo‖ (CAPOEIRA, 2005,
p.12). Embora houvesse adotado propostas metodológicas
semelhantes às de Bimba, o discurso de Pastinha sempre enfatizou
a importância de se preservar as raízes da capoeira e as tradições
(FREIRE, 1967).
Embora com estilos aparentemente distintos, ambos os mestres
faziam questão de enfatizar que ―a capoeira é uma só‖, como é
possível verificar em Decânio (1997) e em Freire (1967). Outra
característica comum aos ―ancestrais mitológicos de todos os
117
jogadores de capoeira‖ – Pastinha e Bimba – é que os dois
possuíam propostas ―extremamente acadêmicas‖ (CAPOEIRA,
2005, p.13).
Mais um indício de que a denominação de mestre só teria se
fortalecido a partir do momento em que Bimba e, em seguida,
Pastinha passam a ensinar capoeira de forma mais organizada é
apresentado por Nestor Capoeira (2005, p.16), quanto trata da
―Velha-Guarda da Capoeira‖:
A partir de 1950, e mais fortemente em 1960, além dos conhecidos
mestres Bimba (1900-1974) e Pastinha (1889-1981), criadores dos
estilos Regional e Angola, começaram a aparecer outros mestres –
Noronha, Waldemar, Caiçaras, Canjiquinha, Atenilo, etc. –, que
darão importante contribuição ao Jogo da Capoeira em Salvador.
Mais tarde, por volta de 1985, este grupo de mestres baianos será
conhecido como a Velha-Guarda da Capoeira.
Considerando-se a trajetória de um capoeirista até a obtenção da
graduação de mestre – que pode ultrapassar 25 anos de
treinamento e aprendizado – podemos propor uma reflexão sobre o
que Bourdieu (1998) define como ―poder simbólico‖. Nos grupos de
capoeira em que o sistema de graduação é mais rigoroso, os
capoeiristas se formam mestres com idade próxima ou superior a
50 anos. A essa altura, o mestre – que não está mais no auge de
sua forma física e, possivelmente, convive com lesões decorrentes
dos diversos anos de prática esportiva – já conta com um corpo de
contramestres e professores, responsáveis por executar parte das
delegações do grupo.
Dessa forma, é construído um sistema de prestígio e o papel do
mestre se concentra, portanto, em repassar seus conhecimentos e
sua sabedoria – por meio da oralidade – e administrar esse
prestígio adquirido. A oralidade prevalece, inclusive, na hora de dar
os comandos das sequências de golpes e movimentos corporais
que serão executados pelos alunos, durante os treinos. A maneira
com que ocorrem as relações mestre-aluno de capoeira nos remete
ainda ao que Weber chama de ―dominação carismática‖. Na
definição weberiana, o carisma corresponde a ―uma certa qualidade
que caracteriza uma personalidade individual, e em virtude da qual
esse personagem é considerado extraordinário e tratado como se
fosse dotado de poderes ou qualidades sobrenaturais, sobrehumanos ou, pelo menos, excepcionais‖ (in Giddens, 1994, p.223).
Um certo tipo de devoção dos alunos com relação aos seus mestres
– incluindo os já falecidos – iniciou-se na época de Pastinha e
Bimba e é verificado até hoje entre os adeptos da capoeira.
A partir da pesquisa bibliográfica realizada para a elaboração deste
artigo – que é parte de uma pesquisa que está começando –
percebemos que as modificações implantadas por mestre Bimba
deram início um novo processo na trajetória evolutiva da capoeira,
118
que foi desde a sua criminalização (em 1890) até sua ―oficialização
como desporto‖, em 1972 (MARINHO, 1982).
Com a esportização da capoeira, portanto, a disciplina
característica do treinamento esportivo parece ter intensificado a
hierarquia e a rigidez típicas da relação mestre-aluno. Dessa forma,
podemos afirmar que o mestre exerce forte influência no
imaginário geral – dentro do universo da capoeira e, algumas
vezes, fora dele – e que o surgimento, a evolução e a importância
dessa figura sofreram influência da sistematização da arte-lutadança, a partir da década de 1930. Com base na análise da
literatura referente ao tema, percebemos que foi nessa época que
outros elementos, oriundos da cultura urbana (como a introdução
da uniformização e do fortalecimento da noção de hierarquia),
também passaram a ocupar espaço no contexto da capoeiragem,
influenciando nos rumos seguidos pelo processo evolutivo dessa
manifestação popular que virou esporte praticado no mundo inteiro
e cujos mitos se confundem com a história e a história se confunde
com os mitos.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Camille. A Arte da capoeira. Goiânia: Kelps, 1987.
ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Capoeira: the history of an afrobrazilian martial art. London: Routledge, Taylor and Francis Group,
2005.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das trocas lingüísticas. 2. ed.
São Paulo: Edusp, 1998.
CAPOEIRA, Nestor. In: Vídeo Escola de Capoeira – A Escola
Nestor Capoeira (by Jorge Itapuã Beiramar). (livreto). Rio de
Janeiro: Saú&Magem, 2005.
DECÂNIO Filho, Ângelo A. A herança de mestre Bimba. 2 ed.
Salvador: Ed. do autor, 1997.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 12. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1996.
FREIRE, Roberto. É Luta, É Dança, É Capoeira. In: Revista
Realidade. Número 11, Ano I, Fevereiro de1967.
GIDDENS, Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. 4. ed.
Lisboa: Editorial Presença, 1994.
HOBSBAWN Eric; RANCER Terence. A invenção das tradições. 3.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
MARINHO, Inezil Penna. A ginástica brasileira (resumo do
projeto geral). 2 ed. Brasília.
119
18 - MEMÓRIA:
IDENTIDADES
VESTÍGIOS
PARA
CONSTRUÇÃO
DE
Paula Rejane Fernandes - UEPB
[email protected]
Os marcos temporais são um dos fatores que contribuem para a
produção de identidades, dentro de uma cidade esses marcos são
bastante visíveis uma vez que são edificados a partir de alguns
acontecimentos elegidos como sendo importantes e marcantes na
história da cidade.
Em Mossoró podemos citar a Abolição dos escravos em 30 de
setembro de 1883, a partir dessa data a cidade passa a ser
nomeada e representada em jornal local ―O Mossoroense‖ e por
memorialistas, a exemplo de Luís da Câmara Cascudo (1996),
como sendo uma cidade libertadora, a frente do seu tempo, amiga
da liberdade e dos homens.
Para representar o caráter emancipador do povo mossoroense, em
30 de setembro de 1904 realizou-se a inauguração da Estátua da
Liberdade em Mossoró na Praça da Redenção.
Inaugura-se, hoje, nesta cidade, á Praça da Redenção a Estatua da
Liberdade, trabalho artístico do inteligente archicteto e esculpidor
Francisco Paulino da Silva.
Foi erigida em comemoração da áurea data 30 de setembro de
1883,dia da emancipação total dos escravos de Mossoró, que, por
ter sido o primeiro municipio livre deste Estado mereceu a
denominação de Acarape do Rio Grande do Norte, tomando
igualmente a vanguarda do movimento emancipador. (Jornal ―O
Mossoroense‖ 30-09-1904 nº.56)
A idéia de liberdade, de dia memorável e que particulariza a cidade
diante das demais também é dada a ler no jornal do dia 30 de
setembro de 1910.
[...] já o Mossoró, sobranceiro na vanguarda dos pelotões
abolicionistas, constituia-se o 2º município livre do Brazil.
30 de Setembro de 1883 é e sempre será a data gloriosa
de Mossoró; pois foi n‘esse memoravel dia que o sol
ardente do nosso firmamento illuminou a primeira
parcélla livre do território abençoado do Rio Grande do
Norte. (Jornal O Mossoroense, 30-09-1910 nº 240)
Podemos ler esse acontecimento não apenas como algo que faz de
Mossoró pioneira, mas, também como um símbolo de sua
modernidade e do seu destino direcionado para o progresso, para o
avanço. Outro marco, tomado como construtor da cidade é a
expulsão do bando do cangaceiro Lampião em 13 de junho de
1927. Mais uma vez coloca Mossoró como pioneira e valente ao
120
resistir às investidas do bando de cangaceiros liderados por
Virgolino Ferreira, Lampião.
Tais marcos precisam sempre serem reforçados para que não
percam sua força simbólica. Daí a criação de festas comemorativas
e instituição de dias de feriados municipais. O 30 de Setembro
tornou-se um feriado municipal comemorado anualmente. Já a
resistência a invasão do bando de Lampião é comemorada no mês
de junho através da peça ―Chuva de Bala no País de Mossoró‖
encenada a céu aberto durante o período de festas juninas da
cidade.
Aqui podemos estabelecer uma diferenciação entre o ato de
comemorar e de rememorar. Segundo Gagnebin (2006),
comemorar consiste em um ato de repetição do passado e de
fatos, exaltação do passado como tempo de glórias e produtor de
exemplos a serem seguidos pelas gerações futuras. O rememorar
faz uso da memória ativa, uma memória que lembra do passado
não para consagrá-lo, exaltá-lo enquanto áureo ou de glórias, mas
o lembra para evitar repetições.
Proporia, então, uma distinção entre a atividade de comemoração,
que desliza perigosamente para o religioso ou, então, para as
celebrações de Estado, com paradas e bandeiras, e um outro
conceito, o de rememoração, assim traduzindo aquilo que
Benjamin chama de Eingedenken, em oposição à Erinnerung de
Hegel e as várias formas de apologia. (GAGNEBIN, 2006, p. 55)
(Grifos da autora)
Fazer essa distinção só é possível se o historiador assumir uma
postura ética diante da memória. Essa postura não se restringe
unicamente as memórias de guerra, de genocídios, pode ser (e
deve ser) expandida a outros tipos de memórias, de passados,
sejam eles de indivíduos ou de cidade. Uma vez que a memória
tem um papel político (RICOEUR apud Dosse, 2004) daí a
importância de pensarmos o porquê de uma sociedade, grupo
étnico, cidade, nação lembrar muito de algo, de determinados
fatos, datas e esquecer de outros. Por que uma cidade edifica
certos monumentos, estátuas, inauguração de praças, nomes de
ruas e edifícios em detrimentos de outros nomes?
A memória é uma ―moeda‖ valiosa na construção de identidades e
legitimação de poderes sejam eles políticos ou simbólicos. Moeda
usada não apenas por nós historiadores, mas também por outros
estudiosos como os psicanalistas e romancistas. Mas o que nos
diferencia desse trabalho? Nós, historiadores, nos diferenciamos
dos psicanalistas por usarmos a memória escrita. A escrita filtra e
ao filtrar efetua um deslocamento, pois retira a memória do seu
lugar de oralidade para transpô-la para outra lógica, uma lógica
mais racional e normatizada. Distinguimo-nos dos romancistas por
121
lermos e escrevermos dentro de normas acadêmicas bem
delimitadas que nos dar o caráter de ciência.
Para Paul Ricoeur, a memória não é aleatória, pelo contrário, ela
passa por um processo de seleção efetuado por aquele que a
enuncia através da fala ou por aquele que a escreve. Tal seleção
torna-se dupla, pois quem ouve a memória, papel do psicanalista
ou do historiador que faz uso da história oral como método de
pesquisa também efetua sua seleção, sua escolha, e quem a lê,
também efetua suas múltiplas seleções. Faz cortes, deslocamentos,
muda as coisas de lugar, deslocar, é um dos primeiros processos
do fazer do historiador.
O trabalho do historiador diante da memória não é apenas de
resgate, mas de postura crítica e ética, criar espaço para que o
não-dito seja pronunciado e perceptível bem como para evitar o
silenciamento e a perpetuação de horrores.
De acordo com Ricoeur, o historiador trabalha com os sinais
encontrados em meios aos documentos, o historiador segue as
pistas deixadas pelos rastros deixados pela memória, rastros às
vezes visíveis, outras vezes não tão visíveis. Gagnebin também
compartilha dessa idéia, para ela, o historiador é um sucateiro,
cata os restos, os vestígios deixados pelo passado e partir deles
tece sua narrativa, elabora sua escrita.
Esse narrador sucateiro (o historiador também é um
Lumpensammler) não tem por alvo recolher os grandes feitos.
Deve muito mais apanhar tudo aquilo que é deixado de lado como
algo que não tem significação, algo que parece não ter uma
importância nem sentido, algo com que a história oficial não sabe o
que fazer. (GAGNEBIN, 2006, p. 54) (Grifos do autor.)
Os sinais, os rastros não nos falam apenas da memória, mas
também do que foi esquecido e silenciado. A partir disso podemos
nos perguntar o porquê de tais silêncios bem como indagarmos a
respeito do que eles produzem e de nossa postura diante deles.
―[...] é necessário lutar contra o esquecimento e a denegação,
lutar, em suma, contra a mentira, mas sem cair em uma definição
dogmática de verdade.‖ (GAGNEBIN, 2006, p. 44)
Pois, enquanto historiadores, não escrevemos somente para
produzir livros, artigos e trabalhos acadêmicos. Ao pesquisarmos
não estabelecemos uma relação de pesquisa somente com o jornal,
com o livro lido, com as fotos analisadas, com os depoimentos
coletados, estabelecemos uma relação com indivíduos que estão de
algum modo representados em nossas fontes. Lidamos com vidas,
com seres, com identidades que alimentam a existência de
pessoas, de grupos, de sociedades, de cidades, daí a necessidade
de se ter cuidado, de se ter gentileza e ética ao escrever sobre o
passado, ao escavar as camadas do passado para produzir um
espaço para o presente, para os vivos. Cuidado ao apagar o texto
122
redigido para que em cima se escreva outra história, mas é sempre
bom lembrar que toda texto apagado ainda guarda em si traços,
vestígios, rastros que se misturam ao novo texto escrito e acaba
por criar um terceiro, quarto, quinto texto, n textos. E cada texto
abre sempre a possibilidade para a produção de novos textos,
produção de novas leituras sobre a cidade e sobre o fazer histórico.
REFERÊNCIAS
BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo:
Perspectiva, 1989.
CASCUDO, Luís da Câmara. Notas e documentos para a
história de Mossoró. Coleção Mossoroense, Série ―C‖, Volume
849, maio de 1996.
CERTEAU, Michel de. ―A operação historiográfica‖. In: A escrita da
história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. pp. 65-119.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e
representações. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1990.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História Oral: memória,
tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
DOSSE, François. História e Ciências Sociais. Bauru, SP: Edusc,
2004.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São
Paulo: Ed. 34, 2006.
FONTE DE PESQUISA: Jornal O Mossoroense.Mossoró/RN.
19 - UM OUTRO OLHAR SOBRE A VIDA ASILAR
Carla Gabriela Mendes de Azevedo (UFCG)
Thaiany Evangelista da Costa (UFCG)
O Asilo é uma Instituição burocrática cuja organização é fundada
em normas e regulamentos voltados para atender o idoso
razoavelmente confortável.
Abrigam idosos que por vontade
própria escolhem ali viver e aqueles abandonados por suas
famílias, dentre outros motivos.
Atualmente, percebemos um aumento do número de pessoas
idosas no Brasil. Este crescimento traz consigo grandes desafios
para a sociedade. Esta realidade nos mostra que o mundo se
encontra num processo de transição e por esse motivo se tem
como preocupação organizar políticas públicas para se adequar ao
novo perfil demográfico da população.
De acordo com as transformações da sociedade, ocorrem, no
mesmo sentido, alterações nas relações familiares, pois a família
acompanha as mudanças sociais. Porém, pode ocorrer também que
123
transformações dentro da família provoquem modificações de
certos padrões sociais.
A família é um grupo enraizado da sociedade que tem
responsabilidades sociais com todos os seus membros. A
Constituição Federal de 1988 apresenta a família como base da
sociedade e coloca como seu dever, da sociedade e do Estado
―amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindolhes o direito à vida‖.
Dessa forma, é dever dos membros da família atender a pessoa
idosa em seu processo de vida, modificando sua visão e atitude em
relação à velhice colaborando assim para que o idoso mantenha
sua posição junto ao grupo familiar e a sociedade.
Diante disso faz-se necessário compreender as razões que levam
famílias a deixarem seus parentes idosos em asilos ou instituições
de longa permanência se a eles é atribuída a responsabilidade e o
dever de cuidar da pessoa idosa. Para entendermos o que os leva a
tomar essa decisão teremos que investigar o lugar dos velhos na
família atual. A família como parte de um universo social que se
encontra em constante mudança, torna-se dinâmica e também se
modifica, podendo ser definida de acordo com o seu sentido social.
Essas mudanças muitas vezes provocam alterações no sentido das
relações familiares. Como afirma Áries (1981), as formas históricas
da família variam muito em termos de sua estrutura, formas de
autoridade, funções, extensão de parentesco integrado e
autonomia em relação ao meio social.
A inserção do idoso em asilos aumenta principalmente quando esse
não possui amparo familiar e por não poder exercer o auto-cuidado
encontrando no asilo a melhor opção para seguir sua vida, esses
são aqueles idosos que vêem na instituição asilar uma escolha
voluntária, para eles o asilo não representa um mal. Comumente
os idosos que vivem em asilo são deixados por parentes ou foram
por vontade própria, ou por não terem outra opção. Dessa forma
não podemos negar a importância que as instituições asilares
possui uma vez que elas fornecem proteção e cuidado.
Conforme vários estudos sobre o envelhecimento humano o fato de
viver em um asilo, para muitos idosos, é uma mudança drástica em
seu ritmo de vida. E se considera ser importante uma preparação
para a vida asilar.
O asilo ao mesmo tempo em que proporciona benefícios como à
proteção e o cuidado também representa drásticas mudanças pelas
quais os idosos terão que passar para adaptar-se sendo visto por
uns asilados como um mal e para outros como um bem, além de
ser a única opção que resta a muitos. O asilo acaba sendo um
espaço que oferece ao idoso uma nova forma de sociabilidade, de
aceitação de si mesmo, bem como de adaptação a sua nova
124
realidade de vida. Segundo Debert ―Para os velhos, estar no asilo é
buscar uma vida pública satisfatória.‖ (1991:33). È no asilo que o
idoso, que antes se sentia abandonado e solitário, passa a ver uma
nova forma de encarar a vida estabelecendo relações amigáveis ou
conflituosas com aqueles que dividem o mesmo espaço. O idoso
passa a ter uma nova inserção ―social‖ em um ambiente que lhes é
restrito.
Neste trabalho discutimos o impacto do abandono de idosos por
suas famílias, buscando analisar o significado a fragilidade dos
laços familiares, bem como perceber como o asilado assimila a
distância da vida familiar e social.
REFERÊNCIAS
ÁRIES, Philippe. História social da criança e da família. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara, 1981.
BEAUVIOR, S. de. A velhice: realidade incômoda. São Paulo:
Difusão Européia do Livro,1990a.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estatuto do idoso/ Ministério da
Saúde. 1 ed., 2. reimpressão - Brasília. M.S. 2003. Acesso em (20
Out. 2008).
DEBERT, Guita Grin. A reinvenção da velhice: Socialização e
processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo. Editora
da Universidade de São Paulo Fapesp, 1999.
DEBERT, Guita Grin. O Envelhecimento em Asilos e Práticas
Profissionais para uma Velhice Adequada. Campinas: IFCH UNICAMP - 1. Versão, 1991. 33 p.
ELIAS, N. A solidão dos Moribundos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
NERI, A. L. Bem-estar e estresse em familiares que cuidam de
idosos fragilizados e alta dependência. In: NERI, A. L. (Org.).
Qualidade de vida e idade madura. Campinas: Papirus, 1993. p.
237-85.
O papel do idoso na família. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/. Acesso em (20 Out. 2008).
SAVOIA, G.M. Org. A interface entre a Psicologia e Psiquiatria:
Novo conceito em saúde mental. São Paulo: Rocca. 2006.
125
20 - “O TEMPO DO CATIVEIRO, O TEMPO DA LIBERDADE”:
HISTÓRIAS DE VIDA DE TRABALHADORES RURAIS
ASSENTADOS
José Márcio da Silva Vieira
[email protected]
José Anchieta Bezerra de Melo
[email protected]
Este trabalho resulta de uma pesquisa realizada em assentamentos
rurais situados no município de Sumé, microrregião do Cariri do
Estado da Paraíba. Intenciona analisar relatos orais de agricultores
―ex-sem-terra‖, atualmente assentados da reforma agrária, a partir
da oposição entre dois períodos distintos na história de suas vidas:
o chamado ―regime de patrão‖ versus ―a vida de assentado.‖ No
primeiro caso, os trabalhadores rurais relembram e atribuem
significados àquele período, em que trabalhavam na condição de
―parceiros‖, ―meeiros‖, ―moradores‖ de latifundiários da região,
época geralmente descrita a partir de expressões do tipo ―tempo
do cativeiro‖, ―tempo da sujeição‖ em que se ―trabalhava para os
outros.‖ No segundo, por sua vez, os mesmos o vêem como o
―tempo da liberdade‖, em que tudo que se produz ―é para a
família.‖ Como embasamento teórico, utilizamos autores como
Sidersky, para quem, o camponês se diferencia dos demais
trabalhadores assalariados, pelo fato de deter, ainda que de
maneira relativa, o controle sobre os instrumentos de produção, o
tempo e organização do trabalho.
Sendo um fato importante na luta histórica pela democratização do
acesso a terra, o estudo dos assentamentos se constitui como de
alta relevância para o conhecimento sociológico das transformações
ocorridas no mundo rural brasileiro. De acordo com Medeiros &
Esterci (1994), traz-se para o centro do debate os dilemas e a
viabilidade da pequena produção, em um contexto de hegemonia
política da grande produção agrícola empresarial, assim como, o
papel do Estado, seu modo de atuar e as políticas implementadas.
E, principalmente, discute-se a inclusão social de milhares de
famílias camponesas, marginalizadas por uma estrutura fundiária
historicamente excludente.
A história do assentamento Zé Marcolino, situado no município de
Sumé, microrregião do Cariri paraibano, se inicia em 2001, quando
a então Fazenda Serrote Agudo entrou em processo de
desapropriação para fins de reforma agrária. Uma grande
propriedade, com dois mil trezentos e cinqüenta e seis hectares,
pertencente a uma família ―tradicional‖ da região. Até meados do
século XX, a fazenda chegou a ter mais de vinte famílias de
moradores que, entretanto, começaram a ser expulsos
principalmente a partir da década de 1960, quando se deu a
126
introdução da pecuária extensiva na região, em substituição dos
roçados. Nas palavras de um ex-morador da época: ―saímos
porque o dono daqui, ele não quis mais morador, o negócio dele
era só criatório, não queria mais morador.‖
Entretanto, a partir da década de 1990, a fazenda começa a
experimentar os primeiros sinais da decadência, entre outras
razões, pela escassez dos financiamentos a fundo perdido da
Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste),
instituição
federal
cujo
projeto
político,
de
caráter
―desenvolvimentista‖ terminou por entrar em falência.
Então, na passagem de 2001 para 2002, correu na região a notícia
de que a fazenda seria desapropriada pelo Incra. Os interessados
em obter lotes de terras no assentamento deveriam efetuar seus
cadastros através do preenchimento de formulários nas agências
dos Correios das cidades de Prata, Sumé e Amparo. Surgia a
possibilidade de, pela primeira vez em suas vidas, agricultores do
Cariri conseguir um ―pedaço de terra‖, um ―sonho‖ acalentado por
gerações de trabalhadores rurais.
Confirmados os nomes, as famílias passaram a mobilizar-se no
sentido da ocupação da terra e, levantado o acampamento,
experimentaram uma série de coações e ameaças do proprietário,
que insistia em permanecer na propriedade. Os sentimentos de
medo e insegurança estavam presentes, permeando as ações
daqueles que almejavam lugar no assentamento. O medo, por
exemplo, de uma reação violenta do fazendeiro, que poderia
mandar ―capangas‖, como já ocorrera em casos de ocupações de
outras áreas da região.
O temor da polícia, vista como a ―serviço‖ de latifundiários e
políticos, expressado pelo cuidado no não desaparecimento de
nenhum bem da propriedade, fato que poderia servir de pretexto
para a prisão dos acampados ou mesmo para a interrupção do
processo de desapropriação. Havia também um constrangimento
sub-reptício, mas que talvez represente um poder de coerção ainda
mais forte: o do comprometimento moral perante a sociedade,
representado pela idéia fortemente presente no imaginário coletivo
dos camponeses, de aqueles que ocupam terras são ―invasores‖,
―ladrões‘, ―vagabundos.‖ Em outras palavras, aparece implícita
uma ética camponesa, caracterizada pela inviolabilidade da honra,
associada à ideologia religiosa, em grande medida utilizada para
legitimar os interesses dos dominantes, de que, como disse um
agricultor,‖ a gente só tem o que Deus quer, se você tem uma
roupa mais que outro, é porque Deus te deu.‖ De maneira que,
como observou Wanderley (2003), a adesão a uma luta pela terra
supõe uma avaliação das chances de sucesso e exige a execução
de estratégias eficazes, tendo em vista ser esse um processo tenso
e incerto.
127
A saída definitiva do proprietário marca o início da conquista
efetiva da terra, permeada, todavia, por situações de precariedade.
Inicialmente os assentados abrigavam-se em barracas de lona e
palha, embaixo de árvores ou nas dependências da antiga fazenda.
Era o momento de expectativa quanto às primeiras ações do Incra,
período visto como de muita união, em que ―todo mundo ajudava o
outro.‖ O que corrobora a tese de Turner (1974), para quem
quando os indivíduos se encontram em momentos de liminaridade,
ou seja, de incerteza quanto à posição ocupada socialmente,
tendem a formar uma communitas, na qual são fortalecidos os
laços de camaradagem e igualitarismo.
O Incra, por sua vez, demorou mais de dois anos para construir as
casas e parcelar a terra, fato que dificultou sobremaneira a
produção, pois, somente com a definição do local pertencente a
cada um é que o trabalho de cultivo pode ser realizado com
segurança, podem ser construídas as cercas e introduzidos os
animais para a criação. Ser titular da parcela significa para o
assentado assegurar sua independência relativa, que o faz sentirse dono, estar no que é seu e organizar sua produção devido às
incertezas sobre o local pertencente a cada família (Wanderley,
2003).
Além da questão da morosidade do parcelamento, havia outro
problema, qual seja, a decisão entre construir segundo o modelo
―agrovila‖ ou ―casa no lote‖. A grande maioria dos assentados
preferia as casas dentro de cada um dos lotes tocados a cada
família. Segundo Caniello & Duqué (2005), este seria o modelo de
ocupação do campo que mais se aproxima do modo de vida ―ideal‖
do camponês, no Cariri paraibano, que é aquele onde a família
camponesa cultiva o próprio ―roçado.‖ Porém, os técnicos do Incra
apresentaram ―de cima para baixo‖, o modelo agrovila, mesmo a
contragosto dos assentados. Este exemplo demonstra que as
entidades mediadoras, sejam estatais ou não-governamentais,
tendem a implementar políticas públicas, por vezes, incompatíveis
com os modos de vida tradicionais e a cultura das comunidades
assistidas.
Apesar dos diversos problemas vivenciados pelas famílias
assentadas, todas as pessoas entrevistadas declararam que a vida
havia melhorado depois da vinda para o assentamento. Valorizam,
sobretudo, a importância de ter uma casa própria e uma área de
terra para trabalhar e conviver com a família. Muitos lembraram
suas trajetórias de vida. O sofrimento na época que trabalhavam
para fazendeiros da região. As sucessivas expulsões das terras. As
viagens para São Paulo, marcadas pela saudade da terra onde
nasceram e a esperança de um dia voltar. Vicissitudes da vida de
camponeses sem-terra e de famílias pobres, que parecem
encontrar nos assentamentos da reforma agrária uma possível
128
alternativa de melhoria das condições de existência. De maneira
que, o assentamento é visto como um lugar que proporciona uma
relativa estabilidade, que possibilita ficar perto da família e que
oferece moradia e uma opção de trabalho através do cultivo da
terra. Chama a atenção o fato da grande maioria dos entrevistados
concentrarem suas falas na comparação entre o modo de vida
atual, no assentamento, e o anterior, trabalhando para o ―patrão‖:
Muita, muita melhoria, depois que eu cheguei aqui no
assentamento. Lá onde eu morava, lá, bem dizer não era meu, né.
E eu ia trabalhar e mais de terça para o patrão. E ainda era sujeito
a fazer tudo... Não tinha direito de nada. E depois que eu vim pra
aqui, achei bom porque tem a liberdade. Quem tiver cuidado, quem
quiser trabalhar tem a liberdade. E lá a gente não tinha isso...
terra pra trabalhar, né, que a gente, graças a Deus, depois que eu
cheguei aqui nunca mais comprei um quilo de milho nem de feijão.
Não ser ―mais sujeito‖ a ninguém significa assumir o comando do
processo de trabalho. Escolher livremente o que, como e a que
tempo produzir, com a certeza de que parte da produção não será
mais transferida obrigatoriamente para o patrão. A sensação de
liberdade provém de uma situação objetiva de relativa
independência. Nesse sentido, os assentados fizeram uma
comparação entre o momento atual e o ―regime de patrão‖, este
expressado
por
palavras
como
―cativeiro‖,
―exploração‖,
―escravidão‖, etc. São termos que, em todos os significados,
definem uma situação de subordinação a alguém de poder, que
coage e impõe medo. Referem-se à perda do controle sobre o
processo de trabalho, sobre o cálculo que preside as operações
produtivas, comerciais e de consumo, sobre a distribuição do
tempo ente lazer e trabalho, sobre os limites da vida doméstica e
vida produtiva.
REFERÊNCIAS
CANIELLO, M. & DUQUÉ, G. PDA: a participação subtraída.
Anais do XII Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste.
UFPA, Belém, 2005.
MEDEIROS, L. ESTERCI, N. Assentamentos rurais: uma visão
multidisciplinar UNESP. São Paulo, 1994.
WANDERLEY, M. N. Morar e trabalhar: o ideal camponês dos
assentados de Pitanga. In: MARTINS, J.S. (org) Travessias:
vivências da reforma agrária nos assentamentos. UFRGS. Porto
Alegre, 2003.
TURNER, V. O Processo Ritual. Vozes. Petrópolis. 1974.
129
GT2 – Subjetividades, práticas sociais e contemporaneidade
- Sala E2 – Setor II
Julimar Gonçalves (UFRN);
Rejane Guedes (UFRN);
Vergas Vitória Andrade (UFRN)
[email protected]
Ementa: O objetivo do GT é discutir trabalhos que se articulam em
torno do tema produção de subjetividades contemporâneas. Partese do pressuposto de que a subjetividade não se reduz apenas a
interioridade do sujeito. Trata-se de um fenômeno definido por
uma relação particular com o mundo social. É uma convenção
cultural na qual não pode ser estudada desarticulada de
significados culturais. A subjetividade, portanto, é formada a partir
de um conjunto de práticas sociais. Tendo isto em vista, este GT
pretende abordar questões relativas às modulações da
subjetividade em face às mudanças sociais e históricas por que
passam as sociedades contemporâneas.
Objetivos: Abordar o tema da subjetividade enquanto questão
coletiva, social e histórica; Compreender o processo de produção
da subjetividade a partir de práticas sociais; Apreender às
maneiras nas quais formações culturais particulares moldam e
provocam subjetividades. Isto é, entender como as transformações
verificadas no mundo contemporâneo afetaram e afetam o plano
do próprio modo de subjetivação.
GT2 – Subjetividades, Práticas Sociais E Contemporaneidade
Trabalhos Aceitos Resumos Simples
01 - MERCADO RELIGIOSO: UM MERCADO QUE NÃO ENTRA
EM CRISE
Edivaldo Correia Bastos
[email protected]
Resumo: Apesar da crise mundial, o mercado de produtos, bens e
serviços religiosos não enfrenta dificuldades. Análises de
especialistas do setor indicam que o mercado deverá crescer 30%
em 2009. Neste mesmo ritmo de expansão está a maior feira de
produtos do segmento, a Expo Cristã que acontece anualmente no
mês de setembro, no Expocenter Norte (SP). A atividade religiosa
hoje vem sendo cada vez mais orientada pela competição em
mercado e, por conta disto, o que se oferece como bem simbólico,
para conforto e deleite da alma, é consagrado pela eficiência e
otimizado para que a resolução de problemas individuais seja
imediata. Este trabalho tem como objetivo analisar e avaliar, a
partir dessa perspectiva de crescimento, como tem se comportado
130
certos segmentos deste mercado. Esse comportamento abrange
fiéis consumidores e agentes produtores especializados com suas
atitudes e expressões de linguagens midiatica. Centrando-se na
teologia da prosperidade, a significação dos produtos oferecidos
para consumo, ancora-se em ―imagens‖ de mercado que passa a
alimentar a cada dia, uma forma de libertação de algum mal.
2 - PROJOVEM: CONSTRUINDO E MODELANDO OUTRAS
SUBJETIVIDADES
Edivalma Cristina da Silva
[email protected]
Resumo: Subjetividades e práticas sociais. Partindo do
pressuposto de Velho (1986) de que o interno/subjetivo é
construído a partir da influência de elementos externos aos sujeitos
sociais, a exemplo da linguagem, cultura e oralidade, esse trabalho
se propõe a analisar a influência do Programa Nacional de Inclusão
de Jovens (ProJovem), do Governo Federal, na modulações das
subjetividades de seus integrantes. Para a realização desse
trabalho, elegeu-se a cidade de Cruzeta/RN enquanto locus de
pesquisa e se delimitou como recursos metodológicos a realização
de
entrevistas
presenciais,
observações
em
sala
e
o
acompanhamento das atividades realizadas por membros do
Programa. Toda a análise aqui proposta perpassa pela discussão
acerca de culturas e produção de subjetividades, a partir dos
conceitos de Foucault (1997; 2002), Velho (1986), Ortner (2007),
Bosi (1992), Pessanha (1987), entre outros. Essa reflexão é parte
integrante de discussões para um futuro projeto de pesquisa de
doutorado, pelas quais se afirma que a produção da subjetividade
não pode ser pensada sem o estabelecimento de relações com os
contextos e grupos sociais, bem como com os discursos que
circundam a arte do educar/saber e as práticas sociais. Assim, se
pode sinalizar como conclusão preliminar, que o ProJovem atua nas
modulações da subjetividade através de mecanismos positivos
(FOUCAULT, 2002), a exemplo da disciplina, mas que essa
produção também parte das práticas sociais desenvolvidas pelos
integrantes do grupo, nas quais, as visões de mundo e as relações
sociais incidem na constituição de experiências subjetivas –
singulares – dos sujeitos sociais.
(Observação: Trabalho não apresentado).
131
3MEMÓRIAS DE LEITURA: REFLETINDO SOBRE A
AQUISIÇÃO DA LEITURA
Fernanda de Moura Ferreira
[email protected]
Ester Cavalcanti da Silva Araújo
[email protected]
Dra. Maria da Penha Casado Alves
Resumo: Todos nós temos um percurso de leitura que é
construído ao longo da vida, até mesmo aqueles que dizem não
saber ler tem um histórico de leitura, por esta não estar
exclusivamente ligada ao sistema lingüístico. Adotando esta
concepção de leitura, neste trabalho nos propomos a analisar as
memórias de leitura de docentes em um curso de formação
continuada oferecido pelo departamento de letras da UFRN. Tal
análise tem por objetivo observar como se deu a caminhada desses
professores enquanto leitores e até que ponto essa história
influenciou as escolhas feitas por eles, atentando para o modo
como eles confeccionaram suas memórias. Além disso, visa
observar a influência desse percurso nas práticas de sala de aula.
Os dados nos levaram a perceber que esses percursos interferiram
na postura dentro de sala de aula, uma vez que isso, de certa
forma, direcionava o modo de ensinar, e também fora dela. Para a
realização deste trabalho, recorreu-se às concepções de sujeito de
Bakhtin (2003), enquanto dialógico, à visão de Nóvoa (2004, 2007)
sobre as práticas docentes (2003), às teorizações sobre leitura de
Garcez (2005) e Freitas (2003, 2005) como também a outros
teóricos que concebem a leitura como construção e processo
intersubjetivo.
4O MUNDO SOCIAL: A RELAÇÃO ENTRE O SUJEITO E A
ESTRUTURA
Gustavo Henrique Bezerra Petrovich/UFRN
[email protected]
Resumo: Nesse artigo, problematizam-se os conceitos de Habitus
e Campo, conceitos profundamente caro aos estudos que o
sociólogo Pierre Bourdieu realiza, ao pensar a relação conflituosa
do indivíduo e a sociedade. Assim, tentando fugir da discussão
epistemológica entre a dicotomia subjetivismo/objetivismo,
Bourdieu nos convida a pensar relacional, refletir em sua análise do
social, que os agentes incorporam a estrutura social, ao mesmo
tempo em que a produzem, legitimam e reproduzem.
132
5A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A NOVA GERAÇÃO
DE IDOSOS
Heloísa Muller
Marilde Sievert
[email protected]
Resumo: Este artigo aborda o desenvolvimento de uma
comunicação eficaz, dirigida a uma nova geração de idosos,
composta por internautas com idade superior a 60 anos. À medida
que a pessoa envelhece, surgem transtornos que podem
desestimular o uso da Internet deixando-a à margem da sociedade
contemporânea (sociedade da informação). Os principais estão
relacionados com a perda da capacidade auditiva e visual e com
dificuldades de coordenação motora e de concentração. Para
amenizar estas limitações, de forma a atrair os idosos e fomentar
neles o interesse em navegar, foram aplicados diversos recursos na
construção de um blog direcionado a este público. Um começo de
reflexão sobre responsabilidade social e cidadania perpassando
pela inclusão digital.
(Observação: Trabalho não apresentado).
6-GABRIEL TARDE
PERTENCIMENTO
E
A
SUBJETIVIDADE
ENQUANTO
Rodrigo Sérvulo Fernandes Cunha
[email protected]
Resumo: Pretende-se retomar as teorias neomonadológicas
desenvolvidas pelo sociólogo francês Gabriel Tarde (1843-1904),
que implicam na idéia de que a subjetividade é aquilo que não está
dado a priori, mas que se adquire - ela se produz e é produzida.
Partindo desse pressuposto, iremos discutir as implicações
tardianas sobre a noção do verbo Ter em oposição à interpretação
do real fundada no verbo Ser.
(Observação: Trabalho não apresentado).
7-SUBJETIVAÇÃO E TATUAGEM
Thassio Martins de Oliveira Dias
[email protected]
Resumo: Através de nossas experiências com os acontecimentos
do dia-a-dia vamos formando aquilo que chamamos de identidade.
Podemos até dizer que certos aspectos são do nosso ―gene‖, porém
não há como escaparmos da influência das dinâmicas cotidianas
133
para a formação de um caráter. Estas vivências são formadoras de
modos de ser, definindo-nos peculiarmente, e tomamos tais modos
em certo ponto como imutáveis, ou seja, cremos que a partir de
um dado momento das nossas vidas nossos caracteres se tornam
firmes o suficiente para denotarmos como uma identidade
fundamentada. Mas, será mesmo que nossas identidades são
firmes o suficiente para não serem afetadas pelas dinâmicas
cotidianas das quais nos encontramos? Esta identidade é produto
de processos de subjetivações do mundo em que vivemos e pelo
qual todas as pessoas passam, onde elas interpretam e tomam
uma posição diante dos fatores da realidade que ocorrem
cotidianamente. Em busca de novas maneiras de viver, de pensar e
experimentar a realidade os sujeitos acabam por inventar maneiras
de se conceber o corpo e a idéia de si enquanto ser. Tomemos
como pano de fundo para ilustração de tais idéias uma das práticas
mais antigas da vivência humana no que diz respeito ao corpo: a
tatuagem. Poderíamos então, desta maneira, encarar a tatuagem
como uma tentativa de cristalização de uma identidade escolhida,
ou seja, uma tentativa de anestesiar o constante processo de
subjetivação do qual se encontram circunscritos os indivíduos,
fazendo assim com que sua atual condição lhe sirva de pedra
motriz para uma concepção daquilo que ele acredita que venha a
ser sua real e imutável identidade. Esta maneira de criação de
identidade é uma das inúmeras existentes em todas as sociedades,
uma maneira de ser notado, de fazer com que haja um sentimento
de existência, mesmo que seja através de uma efêmera identidade
impressa na pele.
8-SUBJETIVAÇÃO E DOBRAS DE FORA: TRANSITANDO PELO
“FOUCAULT” DE GILLES DELEUZE
Jean Henrique Costa
[email protected]
Resumo: O presente escrito objetiva discutir sucintamente o
conceito de ―dobras de fora‖, problematização foucaultiana que
auferiu formato singular na obra de Gilles Deleuze durante a
década de 80 do século passado. A representação da dobra em
Deleuze foi construída a partir das obras dedicadas ao próprio
Foucault (1986) e a Leibniz – Le Pli: Leibniz et le barroque (1988) e
indica, no imo de sua complexidade semântica, uma vergadura,
uma flexão do lado de fora (poder) para a constituição de ―uma
relação da força consigo, um poder de se afetar a si mesmo, um
afeto de si por si‖, conforme palavras de Deleuze. O conceito de
dobra, embora seja um instrumento teórico bastante enérgico para
se compreender a realidade subjetiva hoje, é ainda pouco notório.
Destarte, faz-se aqui o exercício de apresentá-lo. Tratar-se-á,
134
conforme expressão de Suely Rolnik, de uma ―insólita viagem à
subjetividade‖,
itinerário
cercado
pela
―indissociabilidade
inconciliável entre o fora e o dentro‖. Pretende-se aqui, deste
modo, atingir a aturada tarefa de simplificar tal úbere projeto
teórico-filosófico.
Palavras-Chave:
Subjetividade;
mecanismos
disciplinares;
tecnologias do self; dobra; sujeito.
(Observação: Trabalho não apresentado).
9MICHEL FOUCAULT E A SOCIEDADE DE CONSUMO:
NOTAS PARA UMA GOVERNAMENTALIDADE LIBIDINAL
Alyson Thiago Fernandes Freire
[email protected]
Resumo: O trabalho em apreço consiste em apresentar uma
interface embrionária entre os estudos acerca da sociedade de
consumo - mais especificamente segundo as elaborações de Jean
Baudrillard - e o pensamento de Michel Foucault. Este trabalho
objetiva abordar o tema do consumo a partir das noções de
governo e biopoder, isto é, abordá-lo enquanto um problema de
governo das condutas de si e dos outros. Inserir o tema do
consumo no âmbito do que Foucault caracterizou como
governamentalidade implica, não só mapear os conceitos de
governo, biopoder e governamentalidade, mas, sobretudo, pensar
novas articulações tendo em mira a singularidade das políticas de
subjetivação e das práticas sociais deste campo. Para tal tarefa,
este trabalho procura abordar a cultura de consumo enquanto um
modo de subjetivação singular, que, a partir de um conjunto de
signos diferenciais (Baudrillard) e suas técnicas de significação
tornam os indivíduos sujeitos – na dupla acepção da palavra. O
que, pelo mesmo gesto, coloca-nos diante de possibilidades
tentadoras de pesquisa e de prementes questões teóricas relativas
à produção contemporânea de subjetividades e suas modulações.
135
GT2 – Subjetividades, Práticas Sociais E Contemporaneidade
Trabalhos Aceitos Resumos Expandidos
01 - MERCADO RELIGIOSO: UM MERCADO QUE NÃO ENTRA
EM CRISE
Edivaldo Correia Bastos
[email protected]
Prof. Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior - Orientador
Introdução: A abordagem do fenômeno do consumo que
predomina dentro da disciplina da economia é aquela associada à
teoria microeconômica da utilidade marginal, sendo a utilidade,
aqui, o nome que se dá a essa qualidade intrínseca do item do
consumo de que o consumidor extrai satisfação, enquanto se
admite que ele, por sua vez, deva sempre comportar-se de
maneira a elevar ao Máximo sua utilidade e, em conseqüência, sua
satisfação.
Nossas considerações, neste trabalho, relacionam-se com o
individuo que vive num contexto urbano-industrial. Alguém que
sente e vive as transformações que se operam nas metrópoles
cada vez mais dominadas pela tecnologia e pelas novas concepções
de vida gerada no contexto técnico-industrial. O fenômeno urbanoindustrial não é somente uma mudança das estruturas geográficas
e sociais, nem só uma questão de aumento numérico da
população. É também uma metamorfose dos espíritos, de sua
cultura e de seus valores. Daí que aquilo que se refere, em nossa
cultura, ao problema do Sagrado e do Religioso está também sob a
influência dessas transformações.
Essas novas condições influenciam a própria vida religiosa. Diante
dessas transformações, surge um espírito crítico mais aguçado que
busca purificar a concepção mágica do mundo e de superstições
ainda disseminadas e exige uma aderência à fé cada vez mais
individual e produtiva. Por isso, muitos indivíduos se aproximam de
uma igreja ou instituição religiosa pra realizar suas aspirações e
desejos diante de uma divindade.
Objetivos: Propomo-nos, neste trabalho, fornecer alguns aspectos
das atitudes e comportamentos do homem-urbano-industrial
relacionados com a problemática do Sagrado ou do Religioso.
Trata-se, pois, de uma pesquisa que apresenta algumas pistas de
reflexão sobre o enigma do mercado religioso, isto é uma mercado
que não enfrenta crise. Fazer uma avaliação da importância,
influência e manifestações na sociedade brasileira.
Material e Métodos: A trajetória que seguimos na pesquisa que
apóia o presente trabalho nos dá um certo distanciamento das
analises frankfurtianas. Isso porque, como buscamos enfatizar os
consumidores de produtos, bens e serviços religiosos e a forma
136
como constroem sentidos e significados no exercício das práticas
consumistas. Percebemos na esfera da dinâmica das feiras
religiosas – como a Expo Cristã (feira de produtos e serviço dos
evangélicos) e a Expo Católica (feira de produtos e serviço dos
católicos que o consumo não é somente irracionalidade e
comercialização, ou seja, não só gera desejos nos Sujeitos
produtores e consumidores, mas eles próprios fazem uma
hermenêutica de seus desejos e realizações. Sendo estas
exposições como seus produtores e consumidores o material
especifico desta pesquisa.
Resultados e Discussão: O Desenvolvimento do mercado
religioso: Falar em ―Mercado‖ ou ―Consumo Religioso‖ não é
necessariamente falar em Religião. Entendemos por este termo de
aparência abstrata um filão da história do ocidente cristão, não
rigorosamente identificado como um conjunto de crenças
econômicas, de mandamentos éticos e organizativos, mas muito
mais uma estrutura complexa, um sistema de ações, um
comportamento, que caracteriza o perfil que o assume como
indicativo de sua identidade própria.
Nesse sentido, não deixa de ser relevante uma abordagem do
consumismo religioso, a partir das transformações que ocorrem na
sociedade contemporânea, movendo os fundamentos e processos
centrais das sociedades constituídas e reduzindo os quadros
classificatórios que atribuíam aos indivíduos um embasamento
sólido no contexto social.
Nos últimos cinqüenta anos, o campo religioso brasileiro passou por
profundas mudanças com o surgimento de novas igrejas,
denominações, instituições pentecostais e neopentecostais, que
apresentaram inovações nas concepções teológicas, no sistema
doutrinário, na organização eclesiástica, nas ordens litúrgicas e nos
códigos éticos eclesiásticos. Conforme Mariano (2003), a
secularização do Estado e o fim da religião oficial no Brasil fizeram
brotar à liberdade de culto, a expressão e ao pluralismo religioso, o
que contribuiu para intensificar a concorrência entre as mais
diferentes agências produtoras da fé. Diante da acelerada disputa
instaurada no mercado religioso, as igrejas atuam como megaempreendimentos empresariais que utilizam estratégias de
marketing e definem metas de produtividade para atrair nova
clientela e expandir seus lucros. De acordo com Prandi (1996), a
nova relação que se estabelece entre congregações e fiéis nada
mais é do que um acordo entre prestador de serviço e consumidor,
ambos imersos na lógica do mercado e da livre concorrência.
As instituições e igrejas neopentecostais passaram a desenvolver
novos produtos, serviços religiosos e bens simbólicos para atender
à demanda de consumidores específicos, cada vez mais exigentes
com a qualidade do serviço oferecido. Em razão da tolerância a
137
nova formatação de crenças e cultos, da pluralização religiosa e da
conseqüente competição por novos nichos de mercado, as
instituições e igrejas diversificaram suas ofertas e serviços para
contemplar interesses e preferências de clientes que pertencem as
mais variadas classes sociais. Nesse contexto competitivo religioso,
as organizações eclesiásticas racionalizaram as atividades
administrativas, centralizaram as decisões, concentraram o poder
do clero, profissionalizaram seus quadros de funcionários e
aperfeiçoaram o uso dos mais modernos instrumentos midiáticos
para divulgar bens e serviços e comercializá-los a um público
específico.
Segundo Pierucci (1997), a retirada da religião do espaço público, a
privatização das práticas e crenças religiosas, a liberdade de culto e
a intensa competitividade pela comercialização do sagrado
reforçam
a
tese
da
secularização.
As
denominações
neopentecostais rompem com a lógica da fidelidade inexorável à
religião tradicional, cuja importância era atribuída ao fato de ser
herança familiar, ―linhagem na fé‖, símbolo do compromisso com a
origem e os laços de sangue (Pierucci, 2006). Elas se preparam
para disputar os clientes/consumidores, um a um, persuadindo-os
a aderir à nova confissão religiosa e a ingressar na nova
comunidade da fé. A conversão religiosa individual e voluntária
implica a quebra dos laços com o passado familiar, das relações
comunitárias e dos elos de parentesco. Movidas pela competição,
estas instituições e igrejas neopentecostais atacam as instituições,
igrejas e congregações tradicionais e difamam crenças e práticas
religiosas a fim de conquistar a simpatia das ―almas‖ enraizadas
nessas confissões convencionais. Além disso, utilizam mecanismos
modernos e ideologias próprias da sociedade de consumo para
permanecerem vivas, atuantes e competitivas no mercado da fé.
Esses novos movimentos religiosos, por sua vez, para se ajustar às
mudanças do mundo moderno, reformularam sua linguagem,
tornando-a veículo virtual de transmissão de mensagens
tradicionais (Jardilino, 2001). As igrejas neopentecostais adotaram
a linguagem eletrônica e virtualizada, própria da sociedade
contemporânea, para garantir sua sobrevivência e permanência em
meio à racionalidade tecnológica. Recursos técnicos sofisticados,
tecnologia altamente avançada, mídia eletrônica, estratégias de
publicidade e marketing e produção de imagens fazem parte do
sistema simbólico dos novos empreendimentos neopentecostais.
Novas técnicas foram desenvolvidas para o gerenciamento da fé e
a divulgação dos produtos religiosos. O neopentecostalismo,
seguindo a lógica do sistema capitalista, inseriu-se na economia de
mercado e utilizou estratégias de marketing para anunciar seus
novos artigos na mídia eletrônica. Como agências da fé, as novas
igrejas exibem suas mercadorias nas prateleiras das lojas e fazem
138
propaganda delas nas comunidades virtuais para atrair potenciais
consumidores. Conforme Jardilino (2001), não havia alternativa às
congregações neopentecostais senão aderir aos dispositivos e às
regras do neoliberalismo.
Nesta sociedade marcada pela padronização dos meios de
comunicação, pela tecnologia das informações e pela primazia da
imagem, parece imprescindível às organizações religiosas adotar
instrumentos mercadológicos e estratégias publicitárias para
conquistar novos mercados e sobreviver em meio à concorrência
desleal.
A religião [...] percebeu que numa sociedade massificada pelo
império dos meios de comunicação de massa e extremamente
seduzida pelo simulacro, não teria chances de competir com seus
diferentes parceiros de mercado, na oferta de seus produtos – os
bens religiosos –, se não se lançasse, de corpo e alma, nesta
empreitada. Assim, a propaganda e o marketing se constituíram
para a religião numa ferramenta de trabalho na concorrência para
a venda de seus produtos, como qualquer outro do mercado
(JARDILINO, 1997, p. 166).
Por esta via, o movimento neopentecostal criou espaços virtuais de
interação e gerou meios eletrônicos de divulgação da fé. Segundo
Gouveia (1998), apareceram as ―comunidades eletrônicas de
consolo‖, formadas especialmente por mulheres que dirigiam suas
narrativas ao público feminino. Além de difundir as novidades
religiosas, divulgar os milagres, aconselhar o telespectador e
procurar convencê-lo a visitar os templos, essas comunidades
virtuais orientam e remodelam a conduta feminina na vida diária,
produzindo um processo de redefinição da identidade da mulher
nas instituições e igrejas pentecostais e neopentecostais. Os meios
eletrônicos possibilitam, desta forma, a rápida circulação dos
produtos, serviços e bens simbólicos no mercado religioso e a
redefinição do espaço do sagrado, reforçando a desterritorialização
e virtualização da transcendência.
Como se pode perceber, as novas igrejas pentecostais, em virtude
das várias mudanças por que passaram, apresentam atualmente
uma maior adequação às condições da sociedade moderna.
Mostram-se, pois, menos sectárias, não demonstrando repúdio à
ideologia do mundo capitalista. Em vez do isolamento
intramundano, os grupos neopentecostais esforçam-se para obter
prestígio social, respeitabilidade política e poder econômico.
Almejam integrar-se ao contexto sócio-político e econômico a fim
de receber benefícios e gratificações na vida terrena. Acreditam na
vida eterna, porém não estão dispostos a esperar pelo surgimento
do paraíso prometido, para realizar seus projetos com sucesso e
alcançar a felicidade tão desejada.
139
Considerações Finais: A crise como suporte de crescimento: Uma
das transformações importantes na estrutura social da sociedade
contemporânea é a mega potencia econômica que exerce, sob o
ponto de vista material e religioso, uma imensa influencia sobre a
população global. O acelerado conhecimento científico da natureza
possibilitou o domínio progressivo da natureza pela tecnologia. A
tecnologia industrial transforma a terra e multiplica a produção e a
troca de bens e mercadorias de toda espécie. As mútuas relações
econômicas foram-se estreitando cada vez mais, os intercâmbios
tornara-se inevitáveis e mais freqüentes. Intensificado o desejo de
controle sobre a natureza, mas também cresce a consciência da
responsabilidade perante os homens e perante a história. Portanto,
há um grande interesse da humanidade pelo bem-estar, o
consumo, o tempo livre e o luxo numa rapidez fora do comum,
surgem sempre mais necessidade. Desejos e responsabilidade que
levam a novas realizações tecnológicas e econômicas.
Na esfera da religião a situação não foi diferente. A partir da
segunda metade do século XX acontece uma explosão religiosa
inesperada; antigas religiões adquiriam novo fôlego, e novas
formas religiosas foram surgindo. Para espanto dos racionalistas e
materialistas que acreditaram que Deus e a religião estavam
prestes a desaparecer da vida humana, o que se verificou nestas
últimas décadas foi exatamente o contrário, ou seja, a
redescoberta do sagrado, após tantos desencantos e frustrações,
além de problemas de toda ordem provocados pela Modernidade.
Os sujeitos consumidores procuram a religião para satisfazer
alguma necessidade, não mais para dar sentido a sua existência.
Essa realidade, que pode ser observada como fenômeno nas
grandes religiões de salvação (budismo, islamismo, cristianismo,
judaísmo), representa uma realidade complexa e uma grande
interpelação para as instituições. Hoje se fala em mercado
religioso, consumidor cristão e até privatização da religião porque
os Sujeitos consumidores fazem da religião uma escolha particular
e não mais uma opção dentro de uma coletividade. Os que
profetizaram o desaparecimento do Religioso, na era urbanoindustrial, não viram suas previsões realizadas. O fenômeno
religioso aí está: ele aparece e ressurge das mais variadas formas
e nas mais diferentes classes de nossa sociedade.
Rubem Alves observa:
[...] o que não se podia prever é que o novo fervor
religioso viesse a se manifestar justamente nos centros
onde a secularização, a burocratização e as instituições
educacionais e cientificas se haviam estabelecido de
forma mais forte. Mas, é exatamente isso que parece
estar acontecendo. (ALVES, 1974, p.13):
140
Na observação de Alves (1974), não parece isso sugerir que
justamente nos limites da consciência do desencantamento do
mundo, da exploração de suas possibilidade horizontais e
imanentes, esteja o homem-urbano-industrial se dando conta de
que talvez haja uma ―insanidade‖ na secularização e uma
―cegueira‖ na ciência? Como K. Mannheim (1972, p. 204) observa,
―[...] nada mais afastado dos acontecimentos reais que o sistema
racional fechado. Em certas circunstancias, nada contem impulsos
mais irracionais que uma visão do mundo intelectualista e
plenamente auto-suficiente‖.
Nos grandes centros urbanos de nosso país, cresce de maneira
rápida o numero de adeptos que aderem aos cultos
neopentecostais e as celebrações da renovação carismática
católica, multiplicam-se os centros de Espiritismo e Umbanda, com
densas características sacrais, atingindo todos os grupos e classes
da sociedade. Os grandes grupos religiosos institucionalizados,
Igreja Católica e principais denominações protestantes, embora
tenham sofrido profundas crises e transformações de ordem
organizacional e mesmo doutrinária, face ao processo de
secularização, apresentam aspectos novos, novas liturgias,
utilização das artes cênicas, que atraem grande contingente de
pessoas nos centros urbanos encontros de casais, grupos de
jovens, congressos, marchas etc.
Estamos diante de fatos. O progresso econômico contribuiu para o
progresso religioso. Essa nova religiosidade não se contenta apenas
com ―sermões‖ e estudos doutrinários, ela exige mais e mais.
Portanto, é necessário suprir suas carências, e para isso entra em
cena o Mercado Religioso com suas produções mirabolantes
apresentadas nas Expos Religiosas da atualidade.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Misticismo: a emigração dos que não tem poder. 7
ed. São Paulo: Vozes, 1974.
CAMPBELL, Colin. A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo
Moderno. Rio de Janeiro, Rocco, 2001.
________. ―Eu compro, logo sei que existo: As bases metafísicas
do consumo moderno‖. In: Barbosa, Lívia & Colin Campbell (orgs.).
Cultura, Consumo e Identidade. Rio de Janeiro, FGV, 2006.
GOUVEIA, E. H. Imagens femininas: a reengenharia do feminino
pentecostal na televisão. Tese de doutoramento. São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998.
JARDILINO, J. R. L. O Tempo e o Espaço Sagrado na experiência
religiosa pós-moderna: alterações do campo religioso brasileiro. In:
Santos, G. T. dos & Jardilino, J. R. L. Ensaios de psicologia e
religião. São Paulo: Editora Plêiade, 2001.
141
MANNHEIM, K. Liberdade, poder e planificação democrática. São
Paulo: Mestre Jou, 1972
MARIANO, R. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo
no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
________. ―Efeitos da Secularização do Estado, do Pluralismo e do
Mercado Religiosos sobre as Igrejas Pentecostais‖. Civitas, v. 03,
nº 1, 2003, p. 111-125.
PIERUCCI, A. F. ―Reencantamento e Dessecularização: a proposta
do auto-engano em sociologia da religião‖. Novos Estudos CEBRAP,
49, 1997, p. 99-117.
________. ―Religião como Solvente – uma aula‖. Novos Estudos
CEBRAP, 75, 2006, p. 111-127.
PRANDI, Reginaldo . Religião paga, conversão e serviço. In:
PIERUCCI, Antônio Flávio de Reginaldo PRANDI. A realidade social
das religiões no Brasil. São Paulo, Hucitec, 1996.
2 - PROJOVEM: CONSTRUINDO E MODELANDO OUTRAS
SUBJETIVIDADES
Edivalma Cristina da Silva
[email protected]
(Resumo Expandido não disponibilizado para publicação)
3 - MEMÓRIAS DE LEITURA: REFLETINDO SOBRE A
AQUISIÇÃO DA LEITURA
Ester Cavalcanti da Silva Araújo (UFRN)
[email protected]
Fernanda de Moura Ferreira (UFRN)
[email protected]
Orientadora: Profa. Dra. Maria da Penha Casado Alves
[email protected]
Ao longo de nossa vivência, construímos nosso percurso de vida.
Tal percurso engloba muitos outros que constituem essa trajetória
maior, como, por exemplo, o percurso profissional, acadêmico,
amoroso, familiar, entre outros. Observar que não temos apenas
um percurso, mas vários percursos nos ajudam a perceber que
somos formados ao longo de nossa caminhada de vida e por esse
motivo nunca estamos acabados. Assim, compartilhamos
experiências, fazemos trocas com o meio que nos rodeia e que
também nos fazem ser o que somos, não nos tornando submissos
a ele, devido ao sujeito ter autonomia sobre si, mesmo que
142
aparentemente ele esteja se submetendo a determinada situação.
Portanto, a formação dele se dá de maneira interativa, pois
ontologicamente o homem é um ser social e se confirma enquanto
tal a partir das relações que estabelece com seu meio e com o
outro, seja este a pessoa física ao seu lado ou o mundo que se
apresenta para ele como lugar de interações as mais diversas.
Dessa forma, o sujeito se forma por meio das diversas relações
dialógicas, nas quais está inserido, uma vez que ele está imerso
nas relações dialógicas presentes no mundo. Neste, habitam várias
vozes que exprimem o posicionamento de um dado grupo social
mediante as inúmeras situações, sejam elas mais corriqueiras ou
mais profundas. Por já nascer nesse mundo ―pronto‖, com
costumes e crenças definidos antes mesmo de sua chegada, o
sujeito assimila tudo com que entra em contato para construir
socialmente sua consciência, é a partir de sua interação com o
mundo e com os outros sujeitos que a consciência vai se formando
e se construindo. Essa constituição social é que faz com que a
singularidade possa ser constituída e o sujeito possa se posicionar
frente às várias situações da vida. Neste trabalho, a leitura é vista
como a interação entre subjetividades, também é vista como
construção. A leitura é uma troca entre leitor e autor, pelo fato de
o sentido do texto não estar totalmente dado, mas ser construído
no ato de ler. Assim, a leitura passa a ser um processo complexo
que engloba tanto a decodificação do código quanto as exigências
que ela faz ao cérebro e a intersubjetividade. Neste trabalho,
adotamos
uma
metodologia
qualitativa-interpretativista
e
utilizamos as considerações feitas por Bakhtin (2003) sobre sujeito,
a visão de Nóvoa (2004, 2007) sobre as práticas docentes (2003),
as teorizações sobre leitura sistematizadas por Garcez (2005) e
Freitas (2003, 2005). Concluímos, assim, que por meio da
investigação de um dos percursos, no caso, o de leitura, dos
docentes autores dos textos analisados, podemos reconstituir a
aquisição da leitura deles e compreender como se formaram
leitores na vida ou em situações formais de ensino-aprendizagem.
4 – O MUNDO SOCIAL: A RELAÇÃO ENTRE O SUJEITO E A
ESTRUTURA
Gustavo Henrique Bezerra Petrovich
(PPGCS/UFRN)
As Ciências Sociais surge fruto do paradigma do século XIX,
período caracterizado pela consolidação do capitalismo e pelo
desenvolvimento da tríade ciência-técnica-indústria, entretanto,
traz consigo uma relação mal resolvida, a qual consiste a discussão
entre sujeito e estrutura; de um lado, parte das pessoas aborda as
143
formações sócio-históricas como se tivessem sido concebidas,
planejadas e criadas. Caminho que termina por excluir as
estruturas sociais que coagem e socializam as pessoas.
Já do outro lado, a sociedade é concebida como uma entidade
orgânica supra-individual, onde a estrutura é quem prevalece sobre
os indivíduos, ela habilita a ordem social entre as pessoas,
coagindo a aceitarmos determinadas normas e valores sociais.
Para Nobert Elias (1994),o primeiro campo continua obscuro no
estabelecimento de uma ligação entre atos e objetivos individuais
nas formações históricas, no segundo, falta clareza em vincular as
forças produtoras dessas formações, ás metas e atos dos
indivíduos.
A questão segundo Antony Giddens(2003), é entender que a ação
humana produtora de significados e subjetividades, pode se
relacionar com as noções de estrutura e sujeito; já que, as
atividades humanas sociais são auto-reprodutoras, elas não são
criadas por atores sociais, mas continuamente recriadas por eles,
através dos próprios meios pelos quais eles se expressam como
atores.
O pressuposto de Giddens, de negar a filiação a qualquer uma
dessas duas correntes e pensar relacionando estes dois campos,
nos leva a pensar e refletir a cerca dos conceitos de habitus e
campo proposto pelo sociólogo Pierre Bourdieu.
Desta forma, compreender o legado e produção sociológica de
Bourdieu como um constante exercício e convite a uma sociologia
reflexiva, ao entendimento do mundo social como um jogo de
disputas simbólicas entre os agentes sociais; ele nos incita a um
novo olhar sociológico, uma revolução mental no entendimento de
ler a sociedade e interpreta - lá, nos oferecendo uma teoria do
social que ao mesmo tempo, corresponde a um jogo de moeda com
duas faces.
Antes de destacarmos os conceitos de habitus e campo, como uma
forma de relacionar a problemática do sujeito e estrutura, convém
entender como se distribui o espaço social e sua relação com os
agentes de acordo com a sociologia de Bourdieu.
Para ele, o espaço físico definido enquanto uma exterioridade
recíproca de posições, pode ser entendido como um espaço social
de exclusão mútua ou distinção dos agentes, na estrutura de
distribuição de diferentes espécies de capital entre os agentes
sociais; no qual as coisas apropriadas pelos agentes, logo são
constituídas como propriedades, situados em um lugar do espaço
social distinto e distintivo, caracterizado pela posição relativa em
relação a outros lugares.
O espaço social para Bourdieu tende a se retraduzir no espaço
físico, sob a forma de um arranjo de agentes e propriedades, onde
as divisões e distinções do social em categorias de alto e baixo,
144
esquerda e direita. Exprime-se real e simbolicamente, no espaço
físico apropriado como espaço social reificado.
Em linhas gerais, o espaço é um definidor de uma correspondência
entre certa ordem de coexistência ou distribuição dos agentes e
uma ordem de coexistência ou de distribuição das propriedades;
logo para a sociologia bourdieziana, o mundo social é um definidor
da condição do agente, no qual não possuir domicílio fixo, significa
ser desprovido de existência social.
Bourdieu define a sociedade como um espaço, um conjunto de
posições distintas e coexistentes, exteriores uma às outras,
definidas umas em relação às outras por sua exterioridade mútua e
por relações de proximidades, vizinhança ou distanciamento e
relações de ordem.
A compreensão do jogo social se insere na condição do corpo estar
no mundo, ele está ligado a um lugar por uma relação direta, um
contato que não é senão uma maneira entre outras, de se
relacionar com o mundo; o que determina a posição espacial no
campo social? Quais os princípios de diferenciação que condicionam
a ocupação do espaço social?
Para Bourdieu, nas sociedades desenvolvidas, as alavancas mais
eficientes de distinção são as posses de capital econômico e capital
cultural; logo, os sujeitos ocuparão espaços mais próximos, quando
mais similar for a quantidade e a espécie de capitais que
detiverem.
Entretanto, os agentes estarão mais distantes no campo social,
quanto maior for a discrepância do volume e do tipo de capitais;
assim, pode-se dizer que o capital econômico e o capital cultural,
geram internalizações de disposições e distinções de espaços
sociais ocupados pelo homem.
A teoria bourdieziana tem como uma de suas teses, destacar os
mecanismos de reprodução social que legitimam as diversas
formas de dominação; no qual a sociedade é um espaço de lutas e
relações entre agentes que visam impor sua visão de mundo,
interesses e referenciais determinados pela posição que ocupam no
mesmo mundo, cujo objetivo levam a transformação ou
conservação.
O agente está ligado a um espaço, o do campo, sendo este um
espaço de luta pela posse sobre um determinado capital e sobre o
poder de impor os princípios de di-visão; estes que são
instrumentos usados pelos agentes e grupos, para observar e
classificar a realidade social.
O princípio de di-visão, são categorias mentais de percepção do
mundo social, referente à incorporação das estruturas objetivas do
espaço social; o mundo se faz compreensível, porque o corpo se
acha inclinado e apto a praticar condutas que mobilizam um
145
conhecimento pelo corpo, uma garantia de compreensão prática do
mundo, a qual difere de um ato intencional consciente.
Bourdieu destaca, a ação de estruturas cognitivas incorporada
pelos agentes, onde estes por sua vez, produzem e reproduzem as
estruturas em sua cotidianidade.
Se o agente possui uma compreensão imediata do mundo familiar,
isso ocorre porque as estruturas cognitivas aplicadas por ele
constituem o produto da incorporação das estruturas do mundo no
qual ele age, e também porque os instrumentos de construção
empregados para conhecer o mundo são construídos pelo mundo.
(BOURDIEU, 2001, p. 166)
Este corpo socializado, onde Bourdieu da ênfase no seu livro ―A
dominação Masculina‖, caracterizado por uma aprendizagem da
masculinidade e feminilidade dos corpos no andar, falar,
comportar, dirigir o olhar etc.pode ser entendido como um bom
exemplo na prática, das estruturas cognitivas e objetivas que se
inscrevem no corpo, datado e situado pela experiência do social.
Entendido a ação das estruturas cognitivas e sua incorporação
pelos agentes, discutiremos a noção de habitus, cujo valor restitui
ao agente, um poder gerador e unificador, construtor e
classificador adquirido por uma realidade socialmente construída.
A discussão do conceito de habitus proposta por Bourdieu, nos leva
de inicio a descarta dois pressupostos, primeiro a de que sua ação
constitui o efeito mecânico da coerção de causas externas e a
segunda o finalismo, por conta de uma teoria da ação racional, a
qual o agente atuaria de maneira livre e consciente.
Convém ressaltar, que os agentes sociais são dotados de habitus,
por toda uma herança transmitida pelas experiências passadas, o
qual nos permite afirmar que o agente nunca é por inteiro o sujeito
de suas práticas.
Tais sistemas de esquemas de percepção, apreciação e ação
,permite tanto operar atos de conhecimento prático, fundados no
mapeamento e no reconhecimento de estímulos condicionados e
convencionados a que os agentes estão dispostos a reagir, como
também engendrar, sem posição explicita de finalidades nem
cálculos
racional
de
meios,
estratégias
adaptadas
e
incessantemente renovadas, situadas porém nos limites das
construções estruturais de que são o produto e que as definem.
(BOURDIEU, 2001, p. 169)
O hábitus é uma ordem social que se inscreve nos corpos, por meio
de uma confrontação permanente sem distinção objetivante, no
mundo e no futuro que se anuncia; ele engendra práticas que se
ajustam a essa ordem; a relação entre o habitus e o mundo social
(ou o campo), corresponde a coisas que não se pode fazer em
certas situações e outras que não se pode deixar de fazer, remete
146
a um conjunto de ações entre si, ajustados aos interesses dos
agentes afetados.
Para Bourdieu, sendo o produto de uma história, o hábitus pode ser
entendido como um arbitrário cultural, ou seja, um conhecimento
prático que é constrangido pela estrutura objetiva da configuração
de propriedades que o mundo apresenta, como também é
estruturado pelo mundo por meio de esquemas de propriedades
objetivas.
Pode ser interpretado como uma dupla relação, estruturada e
estruturante com o ambiente, a qual media os condicionamentos
sociais exteriores e a subjetividade dos sujeitos; trata-se de um
conceito que, embora visto como um sistema engendrado no
passado e orientando para uma ação no presente, ainda é um
sistema em constante reformulação.
O hábitus proposto por Bourdieu, é uma releitura da noção grega
de hexis, nasceu de Aristóteles para designar então características
do corpo e da alam adquiridas em um processo de aprendizagem.
Vale destacar que existe uma interdependência entre o conceito de
hábitus e o campo, o habitus reifica o campo, no qual o campo se
caracteriza por um espaço distinto de grupos sociais, na disputa
pelo poder; sendo então a maior parte das ações dos agentes
sociais produto de um encontro entre um habitus e um campo, as
estratégias surgem como ações práticas, inspiradas pelos estímulos
de uma determinada situação histórica.
É na relação entre o habitus e o campo, entre o jogo e o sentido do
jogo, que se engendram os móveis do jogo e que se constituem os
objetivos jamais afirmados como tais, potencialidades objetivas as
quais, embora não existam fora dessa relação, acabam por se
impor, no interior dela, com uma necessidade e uma evidência
absolutas. (BOURDIEU, 2001, p. 184)
O habitus é um instrumento conceitual que auxilia a aprender uma
certa homogeneidade nas disposições, gostos e preferências de
grupos ou indivíduos, produtos de uma mesma trajetória social;
não vem a ser uma estrutura rígida e sim, um sistema de
disposição construído continuamente, aberto e constantemente
sujeito a novas experiências.
Como uma tatuagem no individuo ou corpo biológico socializado, o
habitus se funda na relação dialética entre uma conjuntura e
sistema de disposições individuais, em processo de interação
constante com as estruturas.
O conceito age tanto no coletivo quanto no individuo, desta forma,
é que ele está em condições de intervir eficazmente no mundo
social ou num campo, ao qual esteja genericamente ajustado;
partindo então da noção habitus, visto mais como um senso prático
do que um cálculo racional, cujo Bourdieu esclarece como condutas
147
inconscientes e ações automáticas, como seria possível pensar
formas de resistência?
De modo mais geral, o habitus tem seus fracassados, seus
momentos críticos de desconcerto e de defasagem: a relação de
adaptação imediata fica suspensa, num instante de hesitação em
que pode se insinuar uma forma de reflexão que não tem nada a
ver com a do pensador escolástico a qual, por intermédio dos
movimentos esboçados do corpo, pemanece voltada para a prática
e não para quem realiza. (BOURDIEU, 2001, p. 197)
Bourdieu ainda destaca, que a aquisição dos automatismos do
senso prático varia de acordo com a posição dos agentes no espaço
social e seus domínios de atividade, já que, os agentes que ocupam
um lugar de destaque no campo, tem pouco interesse em modificar
as regras do jogo, no qual consequentemente se entregará mais
facilmente as disposições do habitus.
Isto já não ocorre com os desclassificados ou agentes que não
ocupam uma posição favorável no campo, estes têm mais chance
de tomarem consciência do jogo, pelo fato de se virem obrigados a
assimilar as regras do jogo e ter que corrigir conscientemente, um
habitus gerador de condutas pouco adaptada ou deslocada.
Desta forma, a sociedade para a teoria de Pierre Bourdieu traduz
um espaço de disputas simbólicas, o qual o ator social para se
reafirma no campo social, faz necessário conhecer e aceitar as
regras do jogo dentro do campo disposto a jogar.
Portanto, a breve interpretação da teoria do habitus e campo do
sociólogo Bourdieu, convida a ―pensar relacional‖, entender que a
sociedade como uma maquinaria, atua na socialização das pessoas
e também as pessoas são agentes na reprodução dos valores e
regras do social.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001.
_______. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2007.
ELIAS, Nobert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro:
Zahar, 1994.
GIDDENS, Anthony. A constituição da sociedade. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
148
5 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A NOVA GERAÇÃO DE
IDOSOS
Marilde Sievert
Universidade Regional de Blumenau
Heloísa Muller
Universidade do Vale do Itajaí
O novo mundo on-line dos idosos:Nas últimas décadas, verificase um crescimento acentuado da população de idosos, estimulado
pelo aumento da expectativa de vida. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000), no Brasil
existem cerca de 14,5 milhões de pessoas com idade superior a 60
anos, o equivalente a 8,6% do contingente populacional do país.
Trata-se de um público cada vez mais ativo e integrado às
contemporâneas alternativas de comunicação. Estes dados incitam
o interesse em desenvolver estudos que abordem a publicidade na
Internet, direcionada a atender às expectativas do consumidor
idoso.
Parte-se da seguinte pergunta: Como a publicidade, mediada pela
Internet, pode atingir a nova geração de idosos? Para respondê-la,
importa identificar estratégias adequadas para atrair este público,
notadamente aquelas relacionadas ao emprego de recursos
audiovisuais e de interatividade, incluindo múltiplos aspectos como
design, cor, formas, fontes e disposição destes elementos no layout
de home-pages. Outro aspecto relevante é a inserção da
publicidade, que deve ser feita de maneira natural, dentro de um
contexto envolvente que a torne atrativa e não invasiva.
Com base nestas premissas, busca-se desvendar os principais
recursos para uma publicidade on-line eficaz, com a intenção de
desenvolver um blog dirigido ao público-alvo formado pela nova
geração de idosos. Tal propósito requer investigação sobre as
dificuldades que este grupo enfrenta para navegar na Internet e as
possibilidades de superá-las.
Sabe-se que a Internet é uma estrada de informações que conduz
o navegador por um caminho de milhões de computadores
interligados. Segundo Castells (2006, p. 56), após a década de
1990, quando esta rede tornou-se acessível, a difusão mais rápida
e abrangente de seus usos ocorreu sob o domínio dos negócios.
Inserida no cotidiano de milhões de usuários em todo o mundo, a
Internet está transformando o relacionamento entre fornecedores e
compradores. O uso adequado desta ferramenta é considerado
uma fonte decisiva de produtividade e competitividade para
interações de todo o tipo. De acordo com Chleba (2000, p. 31), ela
é um meio eficiente para atingir um público em massa, mas o
149
consumidor prefere a exclusividade, requerendo, portanto, um
atendimento personalizado.
Segundo Bretzeke (2000, p. 61), a Internet está se consolidando
numa mídia viável para a comunicação e relacionamentos,
atingindo um público globalizado e altamente qualificado. A
essência dos negócios pela Internet, de acordo com Castells (2006,
p. 65), ―é a capacidade de interagir, recuperar e distribuir
globalmente de maneira personalizada, que está na fonte da
redução de custo da qualidade, eficiência e satisfação do
comprador‖.
A interação com o meio digital tornou-se imprescindível em
diversas atividades cotidianas, como sacar dinheiro, votar em
eleições e consultar benefícios. Portanto, advertem Raabe et al.
(2005, p. 418), aqueles que não dominarem as novas ferramentas
de comunicação perderão gradativamente a autonomia. Assim, é
fundamental a realização de esforços para evitar a exclusão de
pessoas com limitações de uso desta ferramenta de comunicação.
Sobre esta questão, Raabe et al. (2005) comentam que o processo
do ensino e da aprendizagem faz parte do autodesenvolvimento do
indivíduo, porém, a sociedade, por vezes, exclui o idoso desta
busca de aprimoramento, por considerá-lo erroneamente como
incapaz, perdendo, desta maneira, a grande demanda de cidadãos
representada pela nova geração de idosos que ainda têm
disposição para aprender e ensinar. Neste contexto, merecem
especial atenção as pessoas aposentadas, considerando que elas
dispõem de um tempo livre que pode ser preenchido com
navegação na Internet.
Um dos métodos que contribui para melhorar a desenvoltura das
pessoas na Internet é o design de interação que, conforme Preece
at al. (2005), mobiliza esforços multiprofissionais.
Em meados dos anos 90, muitas empresas perceberam que era
necessário expandir novamente suas equipes multidisciplinares de
design para que as mesmas incluíssem profissionais treinados em
mídia e design, como design gráfico, industrial, produção de filmes
e desenvolvimento de narrativas. Sociólogos, antropólogos e
dramaturgos foram incorporados ao quadro das equipes, todos com
uma atitude diferente dos psicólogos quanto à interação humana.
Esse conjunto de pessoas promoveria a combinação certa de
habilidades com a compreensão das diferentes áreas de aplicação
necessárias para projetar a nova geração de sistemas interativos
(PREECE ET AL., 2005, p. 30).
Constata-se, então, a necessidade que se tem de estudar a
linguagem do público que deseja atingir para obter sucesso na
implementação de suas estratégias. Por exemplo, desenvolver um
guia interativo para visitantes de uma galeria de arte requer que se
150
avalie como as pessoas agem e se movimentam em espaços
públicos.
Além do design de interação, as formas e cores que mais atraem o
público idoso devem ser levadas em consideração, assim como
limitações visuais que possam atrapalhar a navegação pela
Internet. Abordando estas dificuldades e o perfil do público, Farina
(1990) analisa a preferência manifestada por determinada cor. Ele
indica como mais relevantes o lilás, na faixa entre 50 e 60 anos, e
o roxo, preferido pelas pessoas com mais de 60 anos – idade
relacionada ao saber, à experiência e à benevolência. Portanto,
seria interessante usar estas tonalidades em sites e na
comunicação virtual voltada a este público.
À medida que o indivíduo envelhece, notam-se diferenças não
somente no seu corpo, mas também na sua mente e na vivência.
Estudo desenvolvido por Raabe et al. (2005) aponta que grande
parte dos idosos apresenta dificuldades de manuseio do teclado e
do mouse. Além da limitação física, importa também considerar a
forma com que os idosos se relacionam com a tecnologia, visto que
são comuns os episódios em que a sensação de incapacidade
provoca perda da auto-estima.
Ao analisarem esta questão, Raabe et al. (2005, p. 420) salientam
que ―a pessoa com auto-estima baixa, em geral, não se lança à
exploração do meio, tem pouca imaginação, é conformista, evita
auto-análise e costuma se auto-anular com freqüência, adotando
uma atitude passiva que dificulta a IHC‖ (interação homemcomputador).
Com base nos argumentos até aqui reunidos, infere-se que, para
atender as necessidades específicas deste público, tendo em vista o
aumento da expectativa de vida da população, é preciso promover
a conscientização do profissional de comunicação sobre os cuidados
na escolha dos recursos a serem aplicados nas páginas da Internet.
Tais constatações justificam trabalhos, como o relatado neste
artigo, que se ocupam de analisar o tema e desenvolver produtos
direcionados à nova geração de idosos. Para fundamentar este
estudo, foi realizada pesquisa bibliográfica que, segundo Marconi e
Lakatos (1996), tem o objetivo de colocar o pesquisador em
contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre
determinado assunto. Empregou-se o método de abordagem
indutivo e a técnica de pesquisa com documentação indireta.
A partir dos pressupostos científicos reunidos na fundamentação
teórica, foi desenvolvido um blog dirigido ao público idoso, com
aplicação dos recursos estudados e que visam a atender as
necessidades e expectativas deste grupo de internautas. O blog
contém facilitadores visuais e auditivos, conteúdos interativos de
interesse deste público e alternativas para
estabelecer
relacionamento com outros visitantes.
151
Cabe salientar que a escolha de um blog, e não de um site
convencional, foi orientada por dois aspectos: a interatividade que
esta página oferece e a praticidade para nela inserir conteúdos de
maneira informal. A terminologia ―nova geração de idosos‖ se
refere aos indivíduos de idade superior a 60 anos que navegam na
Internet e tem como sinônimos ―terceira idade‖ e ―idade da
maturidade‖.
Comunicação na Internet: A publicidade, segundo Farina (1990),
adapta-se ao estilo de vida e reflete no comportamento humano.
As restrições na transmissão de determinadas imagens se devem a
uma das características relevantes da publicidade, que é a de não
salientar os aspectos negativos da sociedade. Nesta perspectiva, a
publicidade pode ser considerada ilusória, por retratar apenas
pontos positivos como alegria e satisfação. Os profissionais da área
trabalham no sentido de continuamente estimular o consumidor a
satisfazer ―necessidades artificiais, como compensação de desejos
insatisfeitos, informá-lo pela motivação da existência de bons
produtos e serviços merecedores de sua aquisição‖ (FARINA, 1990,
p. 170).
Na opinião de Pinho (2000), a publicidade tem importância
fundamental no processo econômico exatamente por estimular a
demanda de um produto, permitindo que as empresas expandam a
sua atividade e conquistem mais consumidores. O autor destaca
que ela é a mais popular ferramenta do marketing e pode ser
entendida como qualquer forma remunerada de apresentar ou
promover produtos, serviços e marcas nos meios de comunicação
como rádio, televisão, cinema revista e outdoor. Em síntese, a
publicidade informa, convence, anima, motiva atitudes e
comportamentos, com objetivos de curto, médio e longo prazos,
adotando métodos em constante evolução.
Dentre os vários meios utilizados pelos profissionais de
comunicação para conquistar o receptor, ganha ênfase a Internet e
as novas oportunidades de interações que ela representa, ao
permitir contato direto com a pessoa. A Web, a parte multimídia da
Internet, apresenta, de acordo com Pinho (2000) numerosas
vantagens em relação aos materiais veiculados em meios de
comunicação tradicionais, pois nela pode ser explorada a
convergência de meios. Daí a proliferação de empresas
exclusivamente voltadas para esta mídia, as chamadas ―agências
digitais‖.
De acordo com levantamento feito pela consultoria Gartner e
divulgado pelo jornal O Globo (2008), o total de computadores
pessoais vendidos em 2007 foi de 271,1 milhões de unidades,
representando uma alta de 13,4% em relação ao ano anterior no
mercado mundial. A explicação para este fato, segundo os
pesquisadores desta empresa, é que está cada vez mais fácil
152
comprar
um
computador,
principalmente
nos
mercados
emergentes, que representam cerca de 50% de negócios fechados
em 2007.
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística –
Ibope (2008) revela que 12,2 milhões de brasileiros visitaram sites
de comércio virtual em dezembro de 2007, total que corresponde a
50% dos internautas residenciais ativos. Estes números são
históricos, pois, pela primeira vez, desde setembro de 2000, a
categoria de comércio eletrônico ultrapassa a barreira dos 12
milhões de visitantes únicos residenciais.
A dinâmica do e-commerce mostra que a tecnologia, como afirma
Pinho (2000), traz constante inovação na maneira com que a
comunicação é usada e que a publicidade on-line se transformou
em uma valiosa ferramenta de comunicação persuasiva, interativa
e com possibilidade de ser dirigida de modo personalizado,
valorizando cada indivíduo.
A nova geração de idosos: Segundo Barros (1998), há um
significativo aumento da população idosa, conjugado a um efetivo
declínio da população jovem. De acordo com Rosa (2005), este
aumento do número de idosos é conseqüência de um conjunto
amplo de melhorias na vida do ser humano, incluindo alimentação,
higiene e saneamento, acompanhadas da evolução da medicina,
que permite prevenir, diagnosticar e curar. Neste contexto,
configura-se uma nova visão sobre os idosos, que experimentam
uma etapa de vida caracterizada como um tempo de oportunidade
e reinvenção, ao invés do descanso.
Em todo o mundo, mais pessoas querem que suas aposentadorias
incluam períodos de trabalho, educação e lazer. Estudos citados
por Rosa (2005) revelam que, em sete países, este é considerado o
modelo ideal e que o Brasil apresenta a maior preferência por este
estilo de vida, seguido de França e Japão. Isto, segundo o autor, é
um importante indicativo de mudanças comportamentais entre os
idosos.
Estas transformações precisam ser analisadas, pois representam
oportunidades. É preciso reconhecer que os jovens, os adultos e os
mais velhos não cultivam os mesmos interesses. No entanto,
muitas vezes acabam por consumir determinados produtos ou
serviços, não por desejo, mas sim por falta de opção.
A respeito desta questão, Blecher (2005) comenta que até os anos
1970, os idosos ainda não despertavam interesses como uma
categoria diferenciada de consumo. Mas nos últimos vinte anos, o
que vem se delineando de forma consistente é uma visão mais
realista do idoso, de seu comportamento, hábitos, atitudes de
compra, desejos e expectativas.
Esta tendência, revelada nos anos 1990, proporciona, de acordo
com Blecher (2005), um novo fôlego na busca cada vez mais
153
segmentada por novos nichos de consumo. Este fenômeno,
nomeado pelo autor de ―revolução da longevidade‖, envolve
previsões de um contingente cada vez maior de idosos em
contraste com uma população jovem mais reduzida. As projeções
mais conservadoras relatadas por Blecher (2005) apontam que em
2025 o Brasil terá por volta de 32 milhões de pessoas acima dos 65
anos, ou seja, 15% da população total do país.
Para Barros (1998), este prognóstico estatístico é um contínuo
desafio para pesquisadores e profissionais que atuam em mercados
das mais diferentes áreas. Além do aumento significativo no
número de pessoas idosas, o censo do IBGE (2000) sinaliza
mudanças significantes nos rendimentos desta faixa etária,
apontando um crescimento de 63% em dez anos. Na avaliação de
Blecher (2005), estes valores podem ganhar uma dimensão muito
mais ampla se posicionados num contexto de um país com
enormes desigualdades sociais e econômicas.
Blecher (2005) argumenta que não há consenso entre os
pesquisadores sobre uma faixa etária para definir quem pertence a
esta nova geração de idosos. O autor afirma que esta
categorização serve para facilitar a aplicação das leis, porém, ainda
hoje no Brasil, há confusões para determinar este público. A
Constituição considera idosas as pessoas com idade superior a 60
anos. Já para a Política Nacional do Idoso, integram este grupo os
brasileiros com mais de 65 anos, e no Código Civil, a idade
aumenta para 70 anos.
De acordo com Barros (1998), as etnografias mostram que em
todas as sociedades é possível observar a presença de grades de
idade, entretanto, elas são diferentes em cada cultura. A
determinação de categorias e grupos de idade implica uma visão de
mundo social que contribui para manter ou transformar as posições
de cada um em espaços sociais específicos. Os critérios e normas
de idade cronológica são, portanto, conforme Barros (1998),
impostos nas sociedades, não por estas disporem de um aparato
cultural que domina a reflexão sobre os estágios de maturidade,
mas por exigência das leis que instituem os deveres e direitos do
cidadão.
Nesta perspectiva, Blecher (2005) assevera que os publicitários
precisam tomar cuidado ao fazer campanhas voltadas para este
público,
porque
os
idosos
geralmente
se
consideram
espiritualmente mais jovens do que a sua idade cronológica possa
indicar e podem se sentir ofendidos com a imagem retratada pela
mídia do tradicional ―vovô e vovó‖ tomando um chá, por exemplo.
Pode-se partir de várias perspectivas para estudar a linguagem dos
idosos e Petri (1991) destaca três aspectos. O primeiro envolve
uma questão cultural que se relaciona aos papéis desempenhados
pelo idoso na sociedade em que vive. O segundo, de caráter social,
154
refere-se à postura da sociedade em relação aos idosos, e por
último, a de caráter psicológico individual: uma pessoa é tão velha
quanto imagina ser.
Segundo Pretti (1991), existe uma margem de julgamento pessoal
sobre o conceito de velhice, sendo que alguns idosos ainda se
consideram jovens, ou seja, não assumem a condição reservada ao
velho na sociedade, contrapondo-se a outros casos em que o
indivíduo se considera velho precocemente. Em geral, a partir dos
80 anos é mais freqüente a conscientização da velhice.
Ao tratar do tema, Barros (1998) ressalta que o idoso sofre por
solidão, por sentir-se incapaz e por depender muitas vezes
economicamente da sua família. Mas as noções de velhice e
envelhecimento vêm se modificando e ganhando novos contornos;
exemplo disto é a popularização do termo ―terceira idade‖. Este
reconhecimento, segundo Barros (1998), faz com que o signo do
envelhecimento seja invertido e assuma outras designações, como
―nova juventude‖ e ―idade do lazer‖, que são expressões que
podem ser aproveitadas pela mídia.
Da mesma forma, transforma-se a imagem da aposentadoria, que
deixa de ser um momento de descanso e recolhimento para tornarse um período de atividade, lazer, realização pessoal. Portanto,
assevera Barros (1998), não se trata apenas de resolver os
problemas econômicos dos idosos, mas de proporcionar cuidados
psicológicos e culturais, oferecendo um espaço para integrar
socialmente uma população antes tida como marginalizada.
Considera-se que os idosos dependem da ajuda dos jovens para
lidar com a tecnologia e a comunicação digital e, por causa disto,
adverte Widemann (2008), o mercado publicitário perde a
oportunidade de prover serviços para pessoas idosas que poderiam
se beneficiar da tecnologia.
Os pessimistas poderiam dizer que esse mercado vai acabar,
porque eles um dia se vão. Mas quando isso chegar (e olha que
teríamos de qualquer jeito 20 anos de mercado para explorar,
contando com as pessoas que estão com 60 anos hoje), já
teríamos integrado três gerações, e provido serviços para milhões
de pessoas, gerando empregos, desenvolvendo software, etc. Sem
contar que as tecnologias sempre se desenvolvem e, daqui a 30
anos, podemos ser nós mesmos os estrangeiros digitais!
(WIDEMANN, 2008, p. 67).
Assim, os profissionais da área de comunicação precisam ficar
atentos para desenvolver recursos e inserir os idosos neste
universo digital. Fazer com que a tecnologia ande a favor do social
sem desperdiçar os receptores valiosos, como os idosos, é uma
atitude inteligente.
No ―Mídia Dados 2007‖, um painel de informações e análises sobre
a mídia brasileira, o Grupo de Mídia São Paulo (2007) revela que a
155
Internet atinge 18% do público com idade superior a 50 anos e que
este grupo corresponde a 9% da população de internautas
brasileiros. O número de idosos conectados à rede se mantém
estável desde 2006, mas há estimativa de crescimento para os
próximos anos, a partir do ingresso de usuários que formarão a
nova geração de idosos.
Internet para o público idoso: Nunes (1999) descreve o
envelhecimento como o conjunto de fenômenos físicos muitas
vezes associados a limitações e fragilidades, com maior prevalência
de artrose, osteoporose, perda de audição, perda de visão, doenças
cardíacas e diminuição da memória imediata. Tais limitações
precisam ser consideradas ao se elaborar ações publicitárias na
Internet, voltadas para internautas da nova geração de idosos.
Além de disponibilizar recursos para facilitar a navegação no
universo virtual, os sites também podem oferecer informações
sobre como amenizar as doenças que atingem com mais freqüência
o idoso, como a artrose que, segundo Keiserman (2008a), é a
doença degenerativa com maior freqüência entre público idoso. As
dificuldades que esta doença acarreta nas articulações podem ser
tomadas como um empecilho ao usuário da Internet.
A doença torna-se evidente a partir dos 30 anos de idade. Segundo
Keiserman (2008a), estima-se que 35% das pessoas já tenham
artrose nesta idade em alguma articulação, sendo a grande maioria
sem sintomas. Aos 50 anos aumenta a prevalência e a partir dos
70 anos, 85% dos indivíduos terão esta alteração na cartilagem.
Keiserman (2008a) observa que localização da artrose que mais
limita o manuseio do computador pelos idosos – notadamente as
mulheres – é nos dedos das mãos, em muitos casos atingindo a
articulação abaixo do polegar. Há casos de deslocamento do
polegar para a região palmar que causa dor forte ao segurar os
objetos.
O recurso adequado para diminuir o desconforto do portador desta
doença ao navegar pela Internet seria a redução na quantidade de
cliques. Deste modo, o idoso não forçaria tão intensamente suas
articulações nas mãos. Neste sentido, Ávila (2008) recomenda que
o programador deve facilitar ao máximo o acesso do internauta às
informações dentro do site, a começar pela visibilidade dos
principais assuntos com um breve resumo na página inicial,
linkando as palavras-chaves ao endereço no qual se encontra o
assunto abordado.
Como procedimento auxiliar, Ávila (2008) sugere a inserção de um
mapa/resumo da estrutura do site, quando houver conteúdos
diversificados na página e a quantidade de seções for muito
grande. O mapa do site deve ser desenvolvido de maneira simples
e objetiva, cooperando para o entendimento imediato de como
estão dispostas as informações.
156
Outro fator que dificulta a navegação do idoso na Internet – e
também uma das mais importantes doenças associadas ao
envelhecimento – é a osteoporose, definida por Keiserman (2008b)
como a patologia que provoca a diminuição da quantidade de osso
e a desestruturação da sua micro-arquitetura, levando a um estado
de fragilidade que pode resultar em fraturas após traumas
mínimos.
Não foram identificados, nesta pesquisa, recursos para amenizar o
desconforto do idoso na navegação da Internet em relação a esta
doença, mas é coerente sugerir inserções, nos sites, de dicas de
saúde e textos de médicos discorrendo sobre esta e outras doenças
que afetam os idosos.
Dentre os problemas que causam sofrimento aos idosos, a perda
de audição é o que menos dificulta a navegação na Internet; pelo
contrário, muitas vezes ela pode conduzir à preferência deste meio,
já que ele não exige grande capacidade auditiva. Audição fraca e
surdez podem prejudicar o recebimento de sons como alarmes
(bips) que avisam sobre algum problema na página. Isto pode ser
resolvido com ―piscas‖ nas janelas da Internet que chamam a
atenção do idoso para algum problema presente na página em que
ele está navegando. Admite-se, neste caso, a possibilidade de
inserir publicidade de aparelhos para surdez e implante coclear que
podem, segundo Pretti (1991), ser úteis no tratamento de
problemas de audição leves a profundos.
Já a perda da acuidade visual é bem mais problemática. De acordo
com Farina (1990), à medida que o indivíduo envelhece, o
cristalino do olho vai perdendo a elasticidade e se torna
relativamente sólido, o que reduz sua capacidade de retomar
progressivamente a forma esférica e o poder de acomodação de
luz. Quando esta capacidade se torna praticamente nula,
geralmente entre os 45 e os 50 anos de idade, diz-se que o
indivíduo está sofrendo de presbitia, ou seja, dificuldade de visão a
distâncias inferiores a 30 centímetros.
A dificuldade de visão é um dos maiores empecilhos para a
interatividade na navegação, mas há soluções para este caso.
Queiroz (2008) enfatiza que o acesso de uma pessoa portadora de
deficiência visual acentuada ou total às páginas da Internet é
proporcionado por softwares conhecidos como "ledores de tela"
(screanreaders) associados a outros, denominados sintetizadores
de voz.
Ao elaborar um site para o público idoso, é necessário também
levar em conta que este público pode ter dificuldade de
concentração e acabar ―se perdendo‖ na página. De acordo com
Pretti (1991), esta debilidade é notada principalmente após os 80
anos e verificada freqüentemente no diálogo de um idoso.
157
Portanto, importa ponderar que o envelhecimento interfere no
relacionamento social pela linguagem, porque, como coloca Pretti
(1991), costuma envolver dificuldades na organização de tópicos e
na continuidade dos discursos. Tal situação exige, do interlocutor,
um maior grau de atenção para perceber as relações tópicas da
conversação com um idoso.
Estudos realizados por Pretti (1991) indicam que o idoso,
principalmente acima dos 80 anos, utiliza estratégias para
compensar problemas de fluência no discurso, como repetição e
autocorreções.
Estes
mecanismos
permitem
sustentar
a
continuidade da conversação. Outro aspecto observado consiste na
abordagem rememorativa no discurso do idoso, que recorre à
memória para lembrar de pessoas, lugares e outras informações
cujos referentes, não raro, estão comprometidos com o tempo
passado e, portanto, são desconhecidos da audiência mais jovem.
Segundo Pretti (1991), parece uma tendência natural do homem,
por ocasião de seu envelhecimento, agarrar-se a valores do
passado para marcar sua posição em um tempo presente, no qual
se sente marginalizado. Na luta para encontrar uma posição social,
o idoso, na maioria dos casos, acaba por acomodar-se aos padrões
sociais impostos pelos mais jovens. Mas isto não significa
diminuição das práticas comunicativas; muito pelo contrário,
quando há oportunidade de interagir naturalmente com outras
pessoas, o idoso tende a falar muito.
As dificuldades de concentração que o idoso encontra em um
diálogo podem refletir no uso da Internet, desmotivando a
navegação. Para amenizar este transtorno, Ávila (2008) recomenda
simplificar o texto, incorporando-o ao layout da página, e reter a
atenção do internauta. Um recurso sugerido para alcançar este
objetivo é a divisão do texto por assuntos, associada à criação de
colunas e de boxes de cores diferentes para destacar determinadas
informações. Outra recomendação de Ávila (2008) consiste em
explorar o recurso de ilustrações para facilitar a navegação, já que
o uso adequado de imagens confere maior nitidez referencial ao
site e favorece o desempenho do idoso.
O blog como ferramenta: A Internet revolucionou o
relacionamento entre pessoas e empresas. Inúmeras maneiras de
relacionamentos virtuais surgiram desde os primeiros anos
existência da rede. Uma das grandes revoluções do final do século
XX foi o e-mail, cujo papel na sociedade, segundo Persona (2005,
p. 56), ―foi de um impacto que só não podemos aliviar em sua
totalidade por estarmos habituados a ele‖.
Outra inovação referida por Persona (2005) é o blog, que consiste
num histórico ou diário publicado na Internet, com ênfase em
algum assunto organizado cronologicamente. ―Na verdade, o blog é
simplesmente uma página de internet muito fácil de implementar e
158
colocar no ar. Alia-se a isso o fator de que possui uma interface
agradável e simples de usar, o que abre as portas para qualquer
pessoa que não saiba os segredos da programação web‖
(CIPRIANI, 2006, p. 28).
Esta ferramenta se popularizou inicialmente entre os jovens. Na
avaliação de Cipriani (2006), o blog foi e continua sendo muito
usado por adolescentes como um diário virtual, no qual eles podem
expor momentos de sua vida para se auto-afirmarem ou
simplesmente trocar experiência, utilizando-o também como
passatempo. Mais recentemente, o blog passou a ser usado como
uma séria e importante ferramenta de comunicação de
profissionais e organizações, capaz de mediar a realização de
pesquisas, a exposição de críticas e principalmente o marketing das
empresas.
Cipriani (2006) define o blog como um catalisador de notícias da
Internet, considerando-o um canal de marketing semelhante ao
―boca-a-boca‖, pois ambos divulgam produtos ou serviços
espontaneamente e com rapidez. Em outras palavras, os blogs
corporativos podem aproximar as empresas do cliente, já que eles
estabelecem comunicação bidirecional instantânea e imprimem
velocidade às interações.
Ao abordar esta questão, Cipriani (2006) assevera que uma visão
focada no cliente é componente obrigatório na estrutura
organizacional de empresas que desejam se tornar bem-sucedidas
e, neste contexto, ganha ênfase a introdução de blogs de negócios
voltados para uma potencial clientela composta por idosos.
Cabe salientar que o blog tem grande valor agregado, notadamente
no que se refere às seguintes características listadas por Cipriani
(2006): favorece uma leitura agradável e cronológica; é fácil
desenvolvê-lo e mantê-lo; tem baixos custos; a sua navegação é
intuitiva e simples; oferece espaço para comentários dos
visitantes; disponibiliza a troca de links; é personalizado; faz parte
de um nicho especializado; demonstra o conhecimento da
empresa; permite a criação de uma comunidade. Estes itens
colocam o blog em posição de vantagem em relação aos meios de
comunicação tradicionais, principalmente em se tratando de
interatividade e maior familiaridade do público com a empresa.
Os referenciais aqui reunidos corroboram a ideia, defendida neste
estudo, de que o blog constitui suporte eficiente para a
comunicação na Internet voltada aos idosos, porque abre espaço
para compreender as necessidades deste público e alinhar pontos
de contato com ele, proporcionando uma experiência interativa
agradável tanto para os internautas quanto para os anunciantes.
Interessa ainda observar que o blog pode ser aplicado na gestão de
relacionamento com clientes a partir de uma proposta educativa,
159
desenvolvida com o objetivo de ensinar os internautas a usar
determinado serviço ou produto que a empresa oferece.
A facilidade de operacionalização, a rapidez na comunicação e os
custos relativamente baixos são atributos que dinamizam a
utilização de blogs, sem, contudo, garantir aumento no número de
leitores. Cipriani (2006, p. 56) confirma esta constatação ao
afirmar que ―o uso de blogs está em contínuo crescimento, mas o
número de leitores não acompanha esse ritmo. Esta situação
mudará com o tempo assim como o uso de comércio eletrônico
está mudando atualmente, alcançando níveis de venda e uso cada
vez maiores‖. O autor acrescenta que a idéia de desenvolver um
blog não implica substituir as ferramentas já existentes de suporte
ao consumidor, mas sim atuar paralelamente para fazer transitar
informações importantes. No entanto, se a empresa não possui um
canal de suporte, o blog pode cumprir perfeitamente esta função.
Como exemplos de blogs usados como suporte de grandes
empresas para a divulgação de notícias, podem ser citados os da
Folha de São Paulo (www1.folha.uol.com.br/folha/blogs) e do
jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/online/blogs), o Noblat do
jornal
O
Estado
de
S.
Paulo
(http://noblat1.estadao.com.br/noblat), Bastidor da Editora Abril
(http://www.abril.com.br/blog) e o blog do Programa Pânico, da
Rede Jovem Pan (http://www.jovempanfm.com.br/blog).
O sucesso destes blogs, segundo Cipriani (2006), deve-se ao fato
de que, apesar de serem escritos profissionalmente, mantêm uma
característica informalidade e o público se identifica com essa nova
modalidade de divulgação.
Recursos utilizados no blog para a nova geração de idosos:
As informações levantadas nesta pesquisa foram aplicadas na
construção de uma proposta de blog capaz de tornar a publicidade
na internet eficaz no relacionamento com o público idoso. Ele
representa um portal de propaganda com capacidade para
comportar um número significativo de inserções publicitárias.
Cumpre informar que são vários os endereços eletrônicos que
trabalham com serviços de hospedagem de blogs, mas nenhum
deles oferece suporte para inserir recursos que facilitem a
navegação pelo público idoso. Portanto, o blog desenvolvido como
resultado do estudo aqui relatado representa um novo serviço de
hospedagem de blogs.
Os recursos utilizados seguem as recomendações e sugestões dos
autores consultados e citados neste relatório e são enumerados
para facilitar a localização e o entendimento de cada item.
O perfil de público que este blog visa enaltecer é o do idoso
moderno e arrojado, que pratica esporte (como mostrado no item
4), cuida da saúde e da alimentação, tem anseios e deseja se
relacionar com outras pessoas (ver imagem no item 10). Além de
160
atingir a nova geração de idosos, pretende-se atrair aqueles mais
retraídos e sedentários, fomentando neles o interesse em
experimentar uma nova maneira de ver e viver a ―melhor idade‖.
Para amenizar o desconforto causado por dificuldades visuais,
aplicam-se dois recursos: um deles consiste no aumento o
tamanho da letra quando se passa o mouse sobre os textos e o
outro é uma ferramenta de som (item 6) para que o idoso possa
escutar ao invés de ler o texto.
Também se privilegia um espaço para relacionamento (item 5).
Este link visa oferecer ao idoso a possibilidade de trocar
informações com outros visitantes do blog, fazer amizades e até
mesmo manter encontros amorosos no ambiente virtual. Neste
aspecto, procura-se reverter um possível estado de solidão do
idoso e reaproximá-lo do convívio social.
O espaço para relacionamentos constitui um dos principais recursos
para atrair o idoso ao blog, aproveitando para expor produtos e
serviços de empresas patrocinadoras. Para obter sucesso nesta
estratégia, a página estimula o internauta a criar o seu próprio
blog. Ao clicar o link ―E aí, vovô. Vamos navegar?‖ (item 2), o
idoso visualiza um manual com orientações para a criação do seu
blog.
Após criado o blog pessoal, sugere-se que, toda vez que o idoso
efetuar o login, apareça a expressão ―Bem-vindo‖, seguida do
nome do usuário, como mostrado no item 1 da figura do blog
(―Bem-vindo, João‖). Esta estratégia se sustenta na premissa de
que a publicidade on-line pode ser personalizada, de forma a
valorizar cada indivíduo.
Além de possibilitar a visualização de outros blogs, no link de
relacionamento,
propõe-se
divulgar
sites
de
empresas
patrocinadoras (item 12), voltados para as áreas de saúde,
esporte, cultura, viagens e outros temas de interesse do público
idoso. O link ―agenda de eventos‘ (item 11) oferece informações
atualizadas sobre festas organizadas e freqüentadas pelos idosos,
como os famosos ―encontros da terceira idade‖. É mais uma forma
de incentivar o interesse em relacionar-se.
Para dar cor ao blog foram escolhidas tonalidades de roxo e lilás,
por serem elas as preferidas do público. No link ―opções‖ (item 9),
o internauta pode mudar as cores e as imagens, selecionando, por
exemplo, a versão feminina. Vale mencionar que o recurso de
mudança de cor é usado pelo site Yahoo, para tornar a página
agradável para os mais diversos perfis de clientes. Também
importante é a abertura para críticas e comentários no link
―comente aqui‖ (item 7).
A respeito dos principais links do blog (item 3), os botões são
grandes para facilitar a visualização. O link ―início‖ remete ao texto
de apresentação (item 8) que sintetiza as principias informações
161
contidas no blog – estas linkadas às páginas correspondentes –, de
forma a poupar cliques e não cansar o internauta.
Sugere-se inserir, no link ―saúde‖, matérias de profissionais da
área, que podem divulgar serviços e produtos relacionados às
doenças mais freqüentes em idosos, a exemplo de aparelhos
auditivos e tratamentos para artrose. Para o link ―dicas‖, propõe-se
a inserção de assuntos variados, como opções de viagens, eventos,
livros, tecnologia e teatro. Neste aspecto, está previsto o patrocínio
de agências de viagens e turismo, hotéis, livrarias, promotores de
cursos e de eventos, dentre outras empresas que atuam em
setores afins. Já o link ―mapa‖ foi formulado com base em
recomendações técnico-científicas que enfatizam a necessidade de
facilitar ao idoso a busca por assuntos desejados.
Considerações finais: Estamos cientes da importância que o
público idoso representa na economia; no entanto, nota-se que a
maioria dos produtos criados especificamente para esta população
desconsidera a complexidade da comunicação envolvida. São
necessários estudos sobre os consumidores que compõem a nova
geração de idosos, com ênfase em fatores psicológicos, físicos,
sociais e culturais.
O público ―da terceira idade‖ não se identifica mais com a imagem
tradicional de um idoso utilizando determinado produto. A
publicidade deve ir além, explorar inovações, provocar impactos,
causar entusiasmo. Os profissionais da área de comunicação
precisam estar atentos principalmente para duas tendências
distintas: ou o idoso se imagina mais jovem do que realmente é ou
se reconhece num processo mais avançado de envelhecimento que
envolve fragilidades e limitações.
Cabe salientar que o problema que mais inibe o idoso em relação
ao hábito de navegar pela Internet é a dificuldade de visão. Mas a
tecnologia já encontrou soluções, representadas por recursos
sonoros que possibilitam suplantar este transtorno. Outros
aspectos a serem considerados se relacionam o sentimento de
incapacidade e a solidão referida pelos idosos. Para estes casos, a
solução pode estar na possibilidade de relacionamento com outros
internautas e no acesso a informações que estimulem uma visão
otimista da vida e do processo de envelhecimento.
Importa, então, adotar estratégias que favoreçam a interação entre
indivíduos e destes com a tecnologia, de forma a socializar ainda
mais o uso da Internet num cosmo pautado por constantes avanços
nas áreas de comunicação e informática. Evidencia-se a
importância do uso de recursos audiovisuais e de interatividade
adequados ao público idoso e colocados num contexto envolvente,
atrativo, não invasivo. Inclui-se aqui a preocupação com o design
de páginas, com a linguagem de textos e imagens e com as formas
de inserção da propaganda.
162
Os estudos realizados apontam o blog como a ferramenta que mais
agrega valores e recursos necessários para uma boa desenvoltura
do idoso na internet, oportunizando a interação de uma maneira
natural com o público.
Em resposta à pergunta: ―Como a comunicação, mediada pela
Internet, pode atingir a nova geração de idosos?‖, os resultados da
pesquisa aqui relatados sinalizam que a comunicação, nesta
direção, deve aplicar recursos diferenciados para atrair a atenção
desta clientela e, ao mesmo tempo, facilitar a navegação pela rede
mundial de computadores, num exercício de inserção e cidadania.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, BRUNO de Araújo. Acessibilidade. Disponível em:
http://www.brunoavila.com.br/blog. Acesso em 12 abr. 2008.
BRETZEKE,
Miriam.
Marketing
de
relacionamento
de
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6-GABRIEL TARDE
PERTENCIMENTO
E
A
SUBJETIVIDADE
ENQUANTO
Rodrigo Sérvulo Fernandes Cunha
[email protected]
(Observações: Trabalho não apresentado. Resumo Expandido não
disponibilizado para publicação)
7 - SUBJETIVAÇÃO E TATUAGEM
Thassio Martins de Oliveira Dias
Através de nossas experiências com os acontecimentos do dia-adia vamos formando aquilo que chamamos de identidade. Podemos
164
até dizer que certos aspectos são do nosso ―gene‖, porém não há
como escaparmos da influência das dinâmicas cotidianas para a
formação de um caráter. Estas vivências são formadoras de modos
de ser, definindo-nos peculiarmente, e tomamos tais modos em
certo ponto como imutáveis, ou seja, cremos que a partir de um
dado momento das nossas vidas nossos caracteres se tornam
firmes o suficiente para denotarmos como uma identidade
fundamentada. Mas, será mesmo que nossas identidades são
firmes o suficiente para não serem afetadas pelas dinâmicas
cotidianas das quais nos encontramos?
Em busca de novas maneiras de viver, de pensar e experimentar a
realidade os sujeitos acabam por inventar maneiras de se conceber
o corpo e a idéia de si enquanto ser. Tomemos como pano de
fundo para ilustração de tais idéias uma das práticas mais antigas
da vivência humana no que diz respeito ao corpo: a tatuagem.
Veremos sua história até desaguarmos nos dias atuais desta
prática, que é uma forma de circunscrever um algo (identidade?)
específico, ou pelo menos, faz com que se pense se a identidade é
algo tão ―eterno‖ como uma tatuagem, impressa na pele/ alma das
pessoas.
Uma história tatuada na memória: A tatuagem é uma das
formas mais conhecidas de modificação corporal, juntamente com
a perfuração de partes do corpo denominada piercings. A tatuagem
se trata da inserção de tinta sob a pele com o auxilio de uma
agulha, que é friccionada sobre ela até a introdução da tinta sob a
mesma.
Não se conhece uma época específica em que a tatuagem tenha
surgido, nem a razão pela qual começou-se a utilizá-la. Algumas
hipóteses apontam que desde a pré-história marcas corporais
adquiridas em lutas e caças eram utilizadas como sinais de
coragem, e estas marcas foram motivos para diferenciação de
status.
A múmia mais antiga já encontrada no mundo, que ficou conhecida
por vários pseudônimos como Iceman, Glacierman ou Ötzi, foi
descoberta congelada em 1991 na região da Itália, e possui uma
data aproximada de 5.300 anos antes de Cristo. Foram
encontradas tatuagens ao longo de sua espinha dorsal e em outros
lugares do corpo, além de uma cruz em uma de suas coxas e
vários desenhos tribais por toda a perna, contabilizando um total
de 57 tatuagens.
Descobertas arqueológicas revelam que no antigo Egito já havia o
uso tatuagem, principalmente por sacerdotisas e princesas, que
segundo especialistas eram utilizadas de maneira simbólica em
rituais de fertilidade, proteção durante a gravidez etc. Em geral
estas tatuagens eram encontradas nas regiões do abdômen das
múmias. A tatuagem em mulheres egípcias era tida como uma
165
maneira utilizada por eles no passado de embelezamento, e visava
realçar o encanto relativo ao sexo feminino.
Vários outros povos ao longo da história também tiveram a
tatuagem envolvida nas suas vidas, como os povos orientais. Na
China por exemplo, as tatuagens eram vistas como amuletos de
proteção contra inimigos espirituais, desta forma eles tatuavam
labirintos tortuosos no corpo para confundi-los. Já no Japão feudal
a tatuagem era uma forma de punição encarada muitas vezes pior
do que a morte, símbolo de criminalidade. Na era Tokugawa,
marcada por intensa repressão da parte do governo, a
criminalidade se tornou sinônimo de resistência, força, e neste
cenário surgi a Yakuza, máfia japonesa, onde os integrantes deste
grupo tinham o corpo completamente marcado como sinal de
sacrifício e lealdade à organização, tendo como significação a
oposição ao regime vigente.
Em escritos antigos de Heródoto há citações de um povo bastante
antigo do norte da Europa que possuíam o costume de imprimir
desenhos em definitivo em seus corpos, esse povo era denominado
de Pictus. Este povo acreditava que as tatuagens lhe davam força,
e que os desenhos ficavam impressos no espírito fazendo-se assim
com que após a sua morte seus antepassados pudessem os
identificar. Os guerreiros obtinham tatuagens após realizarem atos
que demonstrassem bravura. As linhas utilizadas nos desenhos
eram entrelaçados complexos, que serviam, segundo seu povo,
para distrair os inimigos, além de representarem a interconexão
com todas as coisas sobre a Terra.
A partir de uma expedição realizada pelo capitão James Cook ao
Taiti e a costa da Nova Zelândia que começou a descrição da
técnica utilizada no processo de tatuagem. Os passos eram
anotados de forma detalhada no diário de bordo do capitão, talvez
podendo ser considerado como uma etnografia da tatuagem.
Os relatos contidos descreviam a técnica utilizada pelas tribos dos
determinados locais e se constituía a partir de vários elementos
semelhantes como alguns instrumentos utilizados, dentre eles um
fragmento de osso bastante afiado preso a uma estaca de madeira,
tinta extraída de vegetais (sementes, raízes etc.), e algum objeto
que era utilizado como uma espécie de martelo (pedras, pedaços
de madeira etc.). A ponta de osso era molhada com a tinta e então
pressionada contra a pele, em seguida começava-se a bater na
estaca com o outro objeto. Esta tribo utilizava tatuagens como ritos
para diversas ocasiões assim como também para diferenciação de
status dentro da tribo, assegurando através de determinados
símbolos o papel exercido por alguns de seus integrantes.
O nome tatuagem é uma onomatopéia utilizada pelo capitão Cook
para o som que era produzido quando se estava tatuando alguém,
um som parecido com tatau onde o capitão substituiu por tattow,
166
que depois de um certo tempo foi substituída pela palavra em
inglês tattoo.
Com a disseminação da técnica, várias pessoas passaram a se
tatuar nas áreas portuárias da Europa pois, eram os locais mais
freqüentados por marinheiros que por sua vez, eram os indivíduos
que usualmente se tatuavam. Outros freqüentadores das áreas
portuárias como prostitutas, ex-presidiários e ladrões também
começaram a utilizar tatuagens em seus corpos.
A tatuagem chegou a sua maior difusão em meados da década de
1920, se tornando comercializável, se popularizou principalmente
nos Estados Unidos e na Europa. A partir de então, surgiu uma
gama considerável de tatuadores com habilidades artísticas
ambiciosas. Nos anos seguintes, mais especificamente nas décadas
de 1950 e 1960, a tatuagem se popularizou mais ainda nos Estados
Unidos, porém, era vista como sinal das classes sócio-econômicas
mais desfavorecidas, dos militares e marinheiros, das prostitutas e
dos criminosos.
A tatuagem chegou ao Brasil em Junho de 1959 por intermédio do
dinamarquês "Knud Harld Likke Gregersen", que logo ficou
conhecido pelo apelido de ―Lucky Tattoo‖, pois dizia que as
tatuagens feitas por ele davam sorte a quem as carregassem em
seus corpos. Esta figura ficou bastante conhecida na época, e em
pouco mais de seis meses já era notícia de jornais.
O Desejo (Subjetividade): Ao falarmos de tatuagem nos
remetemos diretamente ao corpo, porém, primeiramente temos
que ter consciência de que corpo falamos, para não correr o risco
de cairmos na ambigüidade semântica que esta palavra nos
provoca. ―Nunca se viu um corpo: o quê se vê são homens e
mulheres. Não se vê corpos‖ (LE BRETON, 2006). O corpo em si é
um grande aglomerado biológico, que exerce suas funções vitais,
porém, quando falamos de homens e mulheres temos algo para
além dos fatores biológicos, e com essas palavras construímos de
inicio uma outra visão, não vemos apenas o corpo desfalecido
cercado em si próprio, mas agora temos a idéia de que existe uma
subjetividade em jogo, peculiaridades, maneiras únicas de se ver e
conceber o mundo.
A subjetivação é entendida como um processo pelo qual todas as
pessoas passam, onde elas interpretam e tomam uma posição
diante dos fatores da realidade que ocorrem cotidianamente. Esta
subjetividade, ou melhor, interpretação da realidade culmina em
um ponto maior: a identidade. Esta palavra denota um
entendimento de algo circunscrito, talvez mesmo acabado,
formando a maneira de agir do ser.
Todo este processo se dá no entrelaçar de acontecimentos do diaa-dia. Assim dito, nossas vivências são um ―entrelaçar‖, um
constante jogo de laços que são feitos e desfeitos, mas não
167
entendamos esses laços como relações estabelecidas entre
indivíduos, mas sim como a vida sendo o próprio fio, que é
dobrado, desdobrado e redobrado para se ter, enfim, o laço.
Com esta idéia nas nossas cabeças podemos observar que não se
tem uma coisa firme, estática, como se costuma pensar. Se a vida
é o fio que forma o laço, que por sua vez é feito, desfeito e refeito,
como afirmar que nossas identidades são imutáveis?
A idéia de modo de ser que temos põe em oposição às concepções
de externo e interno na vivência do ser, separando-as de forma a
uma não pertencer à outra, pensando-as como imutáveis, ou seja,
tanto os fatores externos quanto os fatores internos de uma
vivência não teriam nenhuma mudança significativa a ponto de
―interferir‖ uma na outra.
Chega-se então a hora de atentarmos estas idéias, procurando
mudar nosso olhar para poder enxergar com mais clareza algo tão
turvo como a subjetivação.
Temos que ter em mente de que existe uma constante relação
entre o externo e o interno, onde ambos são vivos, moveis, e que
não são opostos, mas sim mutuamente possíveis. Esta constante
dinâmica existente se dá entre uma atração e repulsão continua,
são indissociavelmente inconciliáveis.
O interno (ou o dentro) é uma desintensificação das forças (uma
dobra) do externo (ou o fora), que temporariamente cristaliza-se
em um ―diagrama que ganha corpo numa figura com seu
microcosmo‖ (RULNIK). O externo por sua vez é uma agitação
constante de forças que acabam por desfazer a dobra, diluindo a
figura da atual subjetividade até que outra dobra se perfile. ―O
movimento de forças é o fora de todo e qualquer dentro, pois ele
faz com que cada figura saia de si mesma e se torne outra. O fora
é um ―sempre outro do dentro‖, seu devir‖ (RULNIK).
Este lado de fora se faz ao sabor do acaso, lançando linhas de
tempo. Cada linha de tempo lançada é uma dobra, que se
concretiza, se especializando num território de existência, ou seja,
seu dentro. Este fora é ilimitado, enquanto que o dentro sempre é
limitado.
Vemos que o constante entrelaçar do fio faz os lados de dentro e
fora, tornando possível a subjetivação. Mas ―não há subjetividade
sem uma cartografia cultural que lhe sirva de guia; e
reciprocamente, não há cultura sem um certo mundo de
subjetivação que funcione segundo seu perfil‖ (RULNIK).
Marcas do Desejo: Vimos que o processo de subjetivação se dá
em uma constante relação de atração e repulsa, e de que não
existe uma separação dos universos esternos e internos. Devido a
esta relação é possível nos colocar em posição perante o mundo,
ou seja, de criamos nossa identidade.
168
Vimos também que a tatuagem é uma das práticas mais antigas
que o homem conhece no que diz respeito ao corpo, logo, também
esta ligado ao modo qual vemos o mundo e o interpretamos, sendo
assim também ligado a identidade.
A tatuagem é uma maneira de expressar um desejo latente, uma
maneira de ―se ter‖. Nas palavras do antropólogo francês David Le
Breton:
O corpo tornou-se a prótese de um eu eternamente em
busca de uma encarnação provisória para garantir um
vestígio significativo de si. Inúmeras declinações de si
pelo folhear diferencial do corpo, multiplicações de
encenações para sobre-significar sua presença no mundo,
tarefa impossível que exige tornar a trabalhar o corpo o
tempo todo em um percurso sem fim para aderir a si, a
uma identidade efêmera, mas essencial para si e para um
momento do ambiente social (2003, p. 29).
Poderíamos então, desta maneira, encarar a tatuagem como uma
tentativa de cristalização de uma identidade escolhida, ou seja,
uma tentativa de anestesiar o constante processo de subjetivação
do qual se encontram circunscritos os indivíduos, fazendo assim
com que sua atual condição lhe sirva de pedra motriz para uma
concepção daquilo que ele acredita que venha a ser sua real e
imutável identidade.
O processo de subjetivação não é algo que seja dotado de um fim,
desencadeando em uma identidade fixa. Isso pode até ser
concebível ao senso comum, porém, devemos estar cientes de que
a realidade e sua vivência são como um ―tecido vivo e móvel, feito
de forças/ fluxos que compõem os meios que habitam a
subjetividade: meio profissional, familiar, sexual etc.‖ (ROLNIK).
Esta maneira de criação de identidade é uma das inúmeras
existentes em todas as sociedades, uma maneira de ser notado, de
fazer com que haja um sentimento de existência, mesmo que seja
através de uma efêmera identidade impressa na pele.
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Claudia Sant‘ Anna Martins. 1. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.
169
ROLNIK, Suely. Uma insólita viagem à subjetividade
fronteiras com a ética e a cultura.
Dias, Thassio Martins O. Olhe em mim o eu: a tatuagem e sua
subjetivação no cenário underground de Mossoró / Thassio Martins
O. Dias. – Mossoró, RN, 2008
8-SUBJETIVAÇÃO E DOBRAS DE FORA: TRANSITANDO PELO
“FOUCAULT” DE GILLES DELEUZE
Jean Henrique Costa
[email protected]
(Observações: Trabalho não apresentado. Resumo Expandido não
disponibilizado pelo autor para publicação).
9 - MICHEL FOUCAULT E A SOCIEDADE DE CONSUMO: NOTAS
PARA GOVERNAMENTALIDADE LIBIDINAL
Alyson Thiago Fernandes Freire
Este trabalho se inscreve sob os riscos e as possibilidades de
pensar o regime de práticas da cultura de consumo sob o viés de
algumas ferramentas do aparato conceitual do filósofo francês,
Michel Foucault. Trata-se de um trabalho ainda em andamento o
qual visa explorar algumas possibilidades de reflexão e lances de
interpretação acerca da chamada sociedade de consumo, que
segundo uma gama de autores como Jean Baudrillard, Frederic
Jameson e Zygumnt Bauman se instaura, mais enfaticamente na
segunda metade do século XX até os dias que correm.
O recorte na obra foucaultiana é realizado, sobretudo, a partir dos
conceitos de biopoder e governo. Estes são os conceitos
norteadores do presente trabalho. Isto significa abordar o campo
do consumo enquanto um problema de governo das condutas de si
e dos outros, o que implica não só uma discussão teórica desses
conceitos no pensamento de Foucault, mas, principalmente,
elaborar novas articulações tendo em mira a singularidade das
políticas de subjetivação e das práticas sociais da cultura do
consumo. Para tal tarefa, este trabalho procura abordar a cultura
de consumo enquanto um modo de subjetivação singular, que, a
partir de um conjunto de signos diferenciais (BAUDRILLARD, 1995)
e suas técnicas de significação tornam os indivíduos sujeitos – na
dupla acepção da palavra. O que, pelo mesmo gesto, coloca-nos
diante de possibilidades tentadoras de pesquisa e de prementes
questões teóricas relativas à produção contemporânea de
subjetividades e suas modulações.
As influências e desdobramentos dos trabalhos de Foucault podem
ser observados e sentidos em um gama considerável de campos do
170
conhecimento; gênero e sexualidade, territorialidades, corpo e
tecnologias da saúde e etc. Todavia, muito pouco se ver sobre a
temática do consumo e as tecnologias, práticas e espaços a ele
correlacionados. De alguma maneira como já foi exposto, este
trabalho persegue incitar uma abertura desse domínio de pesquisas
ao pensamento foucaultiano.
Se assumirmos o diagnóstico de que as práticas de consumo
assumem um importante e crescente papel nas sociedades
contemporâneas a partir do pós-guerra. Ao ponto de, conforme nos
diz Baudrillard (1995), ocuparem um lugar central no mundo do
século XX, enquanto um modo ativo de relação mediado não só
pelos objetos/bens e pelos signos, mas com a realidade mesma, o
mundo da vida – Lebenswelt –, com o universo de expectativas e
projetos dos indivíduos, enfim, como um modo de relação ativo
com o mundo, uma atividade sistemática que serve como uma
importante base à nossa experiência e nossa constituição. A
penetração e a força dessa atividade estão intimamente ligadas aos
dispositivos e saberes que participam da construção imagética do
mundo, onde diversas tecnologias de poder cumprem um papel
importantíssimo na proliferação do culto à imagem, às aparências,
às modas, às marcas, aos objetos e narrativas que estetizam a
realidade com belas simbologias e mitificações: o mundo da
publicidade, da propaganda, das estrelas do entretenimento, os
artistas, os intelectuais, os famosos e etc.
Se em História da Loucura e em Vigiar Punir, temos a constituição
da sociedade moderna, como sociedade da produção e acumulação
das energias, sociedade da razão e do trabalho que disciplina os
excessos, os gastos, os dispêndios inúteis de energia econômica e
libidinal, o freio das paixões imediatas e sua concentração em
direção a um porvir; o combate aos perigos dos contágios, das
associações e fluxos desejantes que venham a minar a ordem
disciplinada dos poderes. Creio, por sua vez, que em A vontade de
saber, temos um outro movimento, o qual reinscreve aquelas
conclusões sobre um outro funcionamento e uma nova ênfase, a
saber; a exacerbação discursiva sobre a sexualidade e o sexo, a
estimulação para produzir corpos sujeitados e sempre prontos para
a confissão, escavação de si e para falar sobre a verdade de seu
desejo. Em História da sexualidade, a produtividade do poder é
cada vez mais positiva e constituinte, e não mais assentada em
categorias negativas do tipo delinqüência, loucura, os anormais. A
parcimônia e pudicícia da sociedade produtivista são deixadas um
pouco de lado em favor e para dá passo a potencialização, ao
poder que estimula, disponibiliza e que é cada vez menos negativo
e coercitivo.
A ortopedia social da disciplina já não parece mais suficiente e tão
eficaz no controle dos espaços e das populações, em virtude da
171
velocidade e acúmulos das informações, imagens, dos fluxos de
signos da realidade instantânea. A produção de identidades, que
assegura o funcionamento da sociedade e, por conseqüência, seu
controle, entra em um novo jogo de relações de poder, novas
práticas e saberes, e, talvez, novos fins são alçados tenazmente a
serviço de um novo regime de subjetivação.
É sobre esse poder de estimulação que cada vez mais procede por
formas heterogêneas, ligado à exacerbação discursiva e a
aparelhos de saber profícuos, a uma mobilização incansável da
fala, de nossa sexualidade, do testemunho e do lidar com o nosso
próprio desejo que a sociedade de consumo se ergue
paulatinamente em seu funcionamento discursivo. Não seria
justamente esse funcionamento do discurso agravado, excessivo e
de mobilização incansável de nossos desejos, expectativas, afetos
e atenção sobre nós mesmos - e ao que outros vêem em nós drasticamente estendidos pelo cotidiano de nossas vidas e em seus
espaços por mecanismos outros, uma das principais estratégias da
sociedade de consumo? E, se assim for ao menos um pouco, não
teria a obra de Foucault muito a nos dizer como um importante
referencial teórico para trabalharmos o funcionamento do discurso
e a produção da subjetividade na sociedade de consumo?
Desde meados do século XVIII, os dispositivos de poder e de saber
incidem sobre os ―processos da vida‖ e a possibilidade de controlálos, modificá-los e organizá-los. A medicina, a psiquiatria, a
política, a sociologia, a demografia, estatística e a economia, todos
esses saberes biopolíticos contribuiriam de distintas maneiras para
um mesmo propósito: trazer a vida biológica e os fenômenos das
populações para o centro dos investimentos epistemológicos,
políticos e culturais modernos (FOUCAULT, 1990). Á essa
racionalidade política Foucault cunhará o nome de biopolítica, tendo
em vista o seu principal objetivo político; a vida. A biopolítica é
formada pelos cruzamentos entre as estratégias adotadas pelo
Estado e os procedimentos ligados às ciências humanas e outros
saberes de gestão das populações.
Ela define-se sob o cruzamento entre dois movimentos; primeiro,
uma anátomo-política cujo objetivo é disciplinar os gestos e as
habilidades para a formatação de corpos economicamente úteis e
politicamente dóceis; segundo, um conjunto de investimentos
normativos de regulação e otimização da vida da população através
da quantificação reguladora e de políticas intervencionista acerca
dos seus aspectos inerentes; mortalidade, morbidade, natalidade,
longevidade, crescimento, e etc. Neste segundo movimento o
interesse é construir uma população produtivamente saudável e
um corpo social apto e seguro. Em conseqüência dos objetivos,
campos de inscrição e mecanismo distintos, Foucault denominará o
172
segundo movimento, para distingui-lo do poder disciplinar, de
biopoder (FOUCAULT, 1999).
A expansão do consumo, das imagens, do entretenimento a partir
da segunda metade do século XX, abriu um novo campo de
experiência, de afetação dos corpos e de constituição do sujeito,
exageradamente polimorfo e disperso. O ―poder de fazer viver e
deixar morrer‖ se aplicará a novos âmbitos da experiência dos
indivíduos.
A experiência do consumo está ligada ao aparecimento de novas
práticas nos domínios e gestão da vida, dos desejos, do trabalho e
do corpo. Seria, então, no interior das práticas de estimulação ao
gozo, a auto-realização, a constituição de estilos de vida via o
consumo que deveríamos buscar compreender possíveis novos
desdobramentos da racionalidade biopolítica moderna.
Na
sociedade de consumo, os saberes das ciências humanas e os
procedimentos biopolíticos adotados pela Razão de Estado se
entrelaçam a outros saberes de menos nobreza e mais
instantâneos; a publicidade, a cinematografia, cultura de massa e
suas modalidades de entretenimento e sedução. As virtuais
relações entre biopolítica e os dispositivos midiáticos do consumo
envolvem
questões
novas,
complexas,
heterogêneas
e
transversais.
Com isto, queremos chamar a atenção para o seguinte problema:
re-posicionamento e alargamento da biopolítica – tendo mira à
intensificação e surgimento de novos dispositivos e tecnologias de
poder ligadas às novas formas de subjetivação expressas nas
relações entre os indivíduos, seus desejos e as práticas e
narrativas do consumo. Considero a sociedade de consumo como
um complexo biopolítico erguido graças a novos investimentos de
poder que parecem desenhar um novo diagrama de relações do
mercado com os indivíduos, seus desejos, expectativas e a com a
própria vida, definindo através dos choques e embates dessas
relações um poder sobre a vida. O que está em disputa nesse
universo do consumo é um possível modo de subjetivação e
objetivação do sujeito o qual vige tenazmente em nossos corpos na
contemporaneidade.
Trata-se de abordar a chamada sociedade de consumo enquanto
um modo de experiência historicamente singular no qual os
indivíduos, por meio de uma congeneridade de signos diferenciais
capazes de significação e comunicação, objetivam-se como sujeitos
para si e para os outros. Isto é, de maneira análoga ao tratamento
que Foucault lançou sobre a sexualidade, trata-se de pensar o
consumo como um âmbito contemporâneo, no qual os indivíduos
são transformados em sujeitos, subjetivados em suas atitudes,
gostos, e etc.; por um lado, sujeitados a uma forma de
subjetivação e seus procedimentos de poder – publicidade,
173
marketing, mass media e etc. – codificadores do desejo. O desejo é
codificado em um sistema de signos capaz a um só tempo de
distinguir socialmente, reforçar o ―eu‖, conferir identidade e lugar
no mundo; por outro, o consumo, ou melhor, suas práticas
consistem também naquilo que Foucault (ano e obra) intitulou de
―técnicas de si‖ ou ―tecnologias do eu‖, isto é, práticas que
proporcionam técnicas de ajuste e construção de modos de relação
de si para consigo através das quais o indivíduo se constitui a si
próprio como sujeito de sua experiência.
Os signos do consumo quando desejados ou adquiridos são formas
através das quais os indivíduos olham a si mesmos, se avaliam
para constituírem-se a si mesmos como sujeitos. As práticas
consumo são uma das vias de possibilidade contemporânea na qual
os indivíduos enxergam sua realização enquanto tais. Ou seja,
possibilita descrições de si que, relacionadas a uma complexa rede
de signos, objetos e narrativas, articula o que pensamos, dizemos
e fazemos.
Em outros termos, as práticas de consumo, em virtude de suas
próprias características na modernidade tardia, implicam e
fomentam aquilo que Giddens chama de reflexividade do ―eu‖, elas
constituem mecanismos de elaboração da auto-identidade nos
quais o self é mobilizado enquanto projeto de auto-formação e
definidor, em boa medida, de estilos vida. Poderíamos pensar o
consumo, apoiando-nos nas elaborações do sociólogo britânico,
como uma dimensão do que este chama ‖política-vida‖, isto é, uma
política de auto-realização que liga - devido a inserção e
participação em um domínio ordenado reflexivamente – as
subjetividades, o self e o corpo à sistemas globais, no caso o
consumo enquanto um sistema global de signos (GIDDENS, 2002).
Com Foucault, podemos pensar a produção das subjetividades
como algo contingente, histórico, relacionado às práticas sociais e
às redes de relações e significações nas quais o sujeito está
engendrado e situado. Com Giddens, colocamos a trajetória, a
experiência do self nessas redes ressaltando o papel destas, na
contemporaneidade, para a elaboração da reflexividade, no reforço
do self, na busca por estilos de vida e etc. A nosso ver, o âmbito do
consumo é um campo contemporâneo demasiado relevante para
examinarmos a produção das subjetividades nos dois movimentos
que aqui mencionamos.
Para tratarmos dessas questões e indagarmos qual o lugar e o
papel do consumo, seu funcionamento e suas implicações com a
biopolítica e a política-vida, neste contexto analisado por
Baudrillard e outros, da sociedade de consumo, é necessário
abordá-las em termos do governo das políticas de subjetividade e
gestão da vida; de um poder sobre os seres humanos como seres
viventes e desejantes e de um poder que mobiliza reflexivamente o
174
self enquanto projeto. O poder se apossa do gozo, codifica o desejo
e a reflexividade através da codificação pelos signos midiáticos dos
estilos de vida. Á essa densidade de individuação via codificação do
desejo, característica da sociedade de consumo, eu gostaria de
definir como governamentalidade libidinal.
Por governamentalidade, utilizo a definição de Foucault (1979), um
conjunto
de
procedimentos,
táticas,
mecanismos
enfim,
racionalidades políticas cujo objetivo consiste em governar as
condutas dos outros e de si mesmo. Governar, para Foucault
(1995: 245) é estruturar o campo de ação possível dos outros e de
si mesmo. A governamentalidade é a racionalidade através da qual
se estrutura o campo de condutas. Governamentalidade em
Foucault não se restringe a instituição governo, embora esteja
fortemente ligada em suas obras ao Estado, ou ao que o filósofo
francês chama da governamentalização do Estado ocorrida no final
do XVIII e no decorrer do XIX.
Com o conceito de governamentalidade libidinal ou governo
libidinal almejo tratar o campo do consumo e suas práticas como
um governo dos comportamentos, das expectativas, dos desejos,
das disposições, gostos, enfim, estruturação do campo de ação dos
indivíduos via a codificação do desejo e da subjetividade pelos
signos, ou que Baudrillard (1972) intitula ―valor-signo‖. Este
governo das condutas se dá mediante a exposição dos indivíduos e
das populações às forças ficcionais das tecnologias de poder da
sociedade de consumo, em outras palavras, às forças do mercado e
seus aparatos; a publicidade, cinema, revistas de celebridades e
etc. Essas tecnologias de poder intensificam pelo seu poder de
ficção, isto é, de figurar o real, a facticidade do sistema de signos
do consumo através do qual os sujeitos são fisgados e
subjetivados.
Portanto, dois movimentos; primeiro, sujeição ao sistema de signos
do consumo, portanto, governo da condutas dos outros, e segundo,
o governo de si através desses mesmo sistema em sua ênfase na
auto-formação de si, elaboração do self, tendo mira estilos de vida
ofertados, produzidos pelo consumo. Não se trata de liberdade ou
liberação das potências criativas dos sujeitos, trata-se, antes, de
subjetivação em relação aos valores e objetos-signos, aos recursos
constitutivos que o mercado, que a sociedade de consumo oferece
e disponibiliza.
As questões do poder disciplinar ou da tecno-governamentalidade
consistiam em como controlar as forças, como torná-las rentáveis
ao menor custo. As questões da biopolítica ou da biogovernamentalidade concentravam-se em cuidar da população,
tratá-la, observá-la, medi-la e corrigi-la se necessário. O governo
das condutas na sociedade de consumo, ao contrário da sociedade
disciplinar, não se interessa apenas pelos corpos e suas forças
175
econômico-políticas ou pela unidade enquanto população. A sua
preocupação não é o que homens e mulheres podem fazer com os
seus corpos, contra si mesmos e contra os outros. O seu interesse
é se aponderar da subjetividade, de sua constituição. O controle e
o governo das subjetividades se instalam como desejo.
REFERÊNCIAS
BAUDRILLARD, Jean. Para uma crítica da economia política do
signo. São Paulo. Martins Fontes. 1972.
_______. A Sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70. 1995
FOUCAULT, Michel. ―A governamentalidade‖. In: Microfísica do
poder. Org. Roberto Machado. Rio de Janeiro, Graal. 1979, PP.
277-293.
_______. História da sexualidade I – A vontade de saber. Rio de
Janeiro. Graal, 1990.
_______. ―O Sujeito e o Poder‖. In: DREYFUS, H.; RABINOW, P.
Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do
estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro, Forense
Universitária. 1995, p. 231-249.
________. ―Aula de 17 de março de 1976‖. In: Em defesa da
sociedade. São Paulo, Martins Fontes. 1999, 285-315.
GIDDENS, Anthony . Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro.
Zahar. 20002.
GT3 – Momento de reflexão: pesquisas realizadas ou em
andamento - Sala F2 - Setor II
Gilcerlândia Pinheiro Almeida Nunes –
Mestranda do PPGCS-UFRN
Maria Lúcia Bastos Alves –
Profª Drª. Docente PPGCS-UFRN
Rainolenes Melo Silva –
Mestrando do PPGCS-UFRN
[email protected]
Ementa: O processo de construção do conhecimento demanda
muito de nosso intelecto, muitas vezes em momentos de profundo
isolamento. Entretanto, sendo o conhecimento como uma das
várias formas de construção social, o momento de isolamento
reflexivo apenas precede o processo de discussão teóricametodológica imanentes ao avanço científico. A proposta deste
Grupo de Trabalho é convidar os alunos sejam da graduação em
Ciências Sociais ou integrantes do PPGCS e outras áreas para
176
apresentarem seus projetos de pesquisa em qualquer fase de
andamento, ou ainda a síntese de pesquisas concluídas.
Objetivos: a) Fomentar a interação social dos alunos da
graduação e pós-graduação em Ciências Sociais; b) divulgar as
linhas teórico-metodológicas que estão sendo utilizadas; c) buscar
possíveis articulações entre projetos e objetos de pesquisa, para
além de suas especifidades, como meio de desenvolver vínculos
entre os pesquisadores.
GT3 – Momento de reflexão: pesquisas realizadas ou em
andamento - Trabalhos Aprovados Resumos Simples
01- A SABEDORIA DO INSTANTE: memórias, saberes e visões de
mundo dos poetas repentistas de Mossoró-RN
Ênio Érico Freire Segundo (bolsista/PIBIC/CNPq)
Ailton Siqueira de Sousa Fonseca (Orientador)
Jucieude de Lucena Evangelista (Co-orientador)
Resumo: Esse projeto está diretamente relacionado às linhas de pesquisa
do Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo do curso de Ciências
Sociais da UERN. O projeto está já está em andamento e pretende
compreender como os diferentes saberes se articulam e compõem o
imaginário dos poetas repentistas de Mossoró-RN a partir das histórias de
vida e da história oral desses poetas e demais sujeitos do universo da
poesia popular desse município. Trata-se, assim, de compreender qual o
sentido que os repentistas dão a sua vida e a sua ―arte do repente‖ e até que
ponto por meio desses ―repentes‖ ou dessa ―intuição do instante‖ é possível
se vislumbrar outros arranjos societais, outras formas de viver, conhecer e
criar. Como metodologia estamos empregando a história de vida, a história
oral e observações de campo. Mesmo em sua fase inicial essa pesquisa já
aponta para a possível arte de se pensar em termos de dialogia: dialogar
saber erudito e saber popular, ciência e consciências do mundo, poesia do
instante e os instantes de vida carregados de significados que merecem ser
conhecidos, estudados, analisados, compreendidos. A pesquisa já está
contribuindo imensamente para o fortalecimento do grupo de pesquisa, para
a formação dos alunos envolvidos e para o conhecimento de nossa
realidade circundante com seus diversos sujeitos e vozes societais.
177
02 - UMA ANÁLISE DOS “DISCURSOS DE MODA” NAS REVISTAS ANA
MARIA E ESTILO DE VIDA
Gilcerlândia Pinheiro Almeida Nunes
(UFRN/PPGSC-Mestranda)
Resumo: Este trabalho pretende estudar o sentido do consumo de moda
feminina, através de uma análise dos discursos de moda contidos nas
revistas Ana Maria e Estilo de Vida ambas da Editora Abril. Tentar-se-á
entender como os discursos são pensados e construídos de forma que
possam ser eficientes na sedução dos grupos de mulheres a que cada
exemplar escolhido se direciona para conseguir produzir e consolidar tipos
de gostos adequados e aceitáveis naqueles meios. Para o norteamento
dessa pesquisa, no sentido de trabalhar alguns conceitos caros ao estudo de
moda, autores como Pierre Bourdieu, Gilda de Souza Melo, Georg Simmel
entre outros serão de fundamental importância.
Palavras Chaves: Consumo de Moda, Vestimenta, Mulher, Mídia Impressa.
03-“MÃE É TUDO IGUAL”: estratégias de deslegitimação moral de
mulheres com filhas em uma instituição abrigo
Gilson Rodrigues (UFPE)
Resumo: A presente pesquisa é fruto da elaboração da dissertação de
mestrado, que tem como foco pensar sobre as estratégias de
deslegitimação, quando não legais, morais, que estigmatizam algumas
mulheres que com filhas (crianças e adolescentes) assistidas por uma ONG
de orientação católica – Escola Profissional Lar de Nazaré (LN)- em caráter
de abrigo. Neste sentido, busquei manter conversas informais com os
diferentes atores que compõe este universo: equipe que coordena o LN, juiz
e promotor da infância e juventude, técnicos sociais (psicólogos, pedagogos,
assistentes sociais), conselheiros tutelares, e algumas das referidas
mulheres. Isto tem permitido pensar sobre a construção da cidadania
moderna enquanto parte de um ―processo civilizador‖, que não ocorrendo de
forma homogênea, exaltará certos indivíduos em detrimento de outros.
Neste trabalho específico as crianças e adolescentes são percebidos como
os principais alvos desse processo, a partir de uma gramática moral
naturalizada, enquanto as mulheres, quando não correspondem aos ideais
de ―eterno feminino‖ e ―amor materno‖, são rebaixadas socialmente,
passando por um tipo de processo ―descivilizador‖.
178
04-DESAFIOS DE APRENDIZAGEM NO SISTEMA DE EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS.
Hylana Maressa de Souza Câmara (UFRN)
Resumo: Levando-se em contar que fazer pesquisa significa aprender a pôr
ordem em nossas próprias idéias. Assim, entendo que, a construção do
conhecimento é uma ação fundamentalmente relacional entre os sujeitos
envolvidos nesse processo. O presente projeto pretende analisar os
―desafios da aprendizagem‖ no contexto Educação de Jovens e Adultos,
com enfoque central, na relação dialogal para pensar a relação educador e
educando. Em razão disso, o trabalho apresentará uma breve análise sobre
a situação histórica da Educação de Jovens e Adultos-EJA, e sobre o
ensino-aprendizagem dos sujeitos inseridos nesse sistema educacional.
Através de um trabalho reflexivo que enfatiza a necessidade de restabelecer
o aceso e a continuidade do ensino a esses alunos que tem histórias
escolares e de vida marcadas por rupturas e descontinuidades.
Palavras-chave: Educação, Educação de Jovens e Adultos, Relação
dialogal.
05 - CELEBRAÇÃO DO AVESSO: O Niilismo-utópico em Augusto dos
Anjos
Iara Maria Carvalho Medeiros dos Santos
Prof. Dr. Derivaldo dos Santos (Orientador)
Resumo: A pesquisa em andamento intitulada ―Celebração do Avesso: o
niilismo-utópico em Augusto dos Anjos‖, vinculada ao Curso de Mestrado em
Literatura Comparada, constituinte do Programa de Pós-Graduação em
Estudos da Linguagem, da UFRN, objetiva realizar uma leitura da obra
anjosiana Eu (1912), de modo a identificar, no teor dialético de seus versos,
uma atitude crítica do poeta frente à realidade instituída, assumindo, para
tanto, uma postura utópica que o faz vislumbrar outras possibilidades de
existência. Como fundamentação teórica, apóia-se em Nietzsche, em cuja
obra Vontade de Poder (1884-1888) toma de empréstimo uma concepção
de niilismo díspar do fatalismo e da resignação, porque voltada para uma
negação das verdades instituídas; também baseia-se no pensamento de
Benjamin, em suas Teses sobre o conceito de história (1940), de onde é
possível enxergar no desvio revolucionário pelo passado, uma oportunidade
de construir um futuro diferente do agora. O estudo analisa alguns poemas
de Augusto dos Anjos, tomando-os como realidade criadora que mantém
pontos de contato com a realidade imediata do poeta. Até o presente
momento, deteve-se à análise interpretativa dos poemas ―O Lázaro da
Pátria‖, ―A Árvore da Serra‖ e ―Debaixo do Tamarindo‖, nos quais identificou
uma abordagem lírica rasgadora de normas, a qual, seja no campo ou na
179
cidade, legitima a voz dos oprimidos como digna de ser recordada no
espaço sempre emblemático do texto literário.
06- PEDAGOGIA DO BORDADO NARRADA PELAS MULHERES DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA MATIAS DE SERRA REDONDA – PB
Janaina Bezerra de Queiroz – UEPB
Maria Lindaci Gomes de Souza – UEPB
Patrícia Cristina de Aragão Araújo – UEPB
Resumo: Essa pesquisa é um fragmento de uma pesquisa maior
desenvolvido na Comunidade Quilombola do Matias, Serra Redonda – PB,
que estuda as práticas-culturais afro-brasileiras. Esta tendo como
importância o fato de que a tradição do bordado ser uma construção
coletiva, no qual esta prática, atualmente, está desaparecendo e que são
poucas as que dominam a pedagogia do bordado. Nesse sentido, o registro
desses fazeres se faz necessário, tendo a necessidade da releitura de tal
prática. Para a tessitura metodológica iremos abordar a história oral, no
objetivo de analisar as falas das mulheres matriarcas aquelas que fizeram do
bordado uma produção social de sustentação econômica para a família,
como também, são as mulheres da terceira idade que ainda preservam na
memória lembranças de momentos significativos do processo de construção
do labirinto que conservaram essa prática passando o conhecimento de
geração para geração através da oralidade. Após as entrevistas com as
mulheres bordadeiras dessa comunidade constatamos um fato significativo,
sendo as mulheres mais antigas que concebe o ato de bordar como uma
prática social significativa para a comunidade. Esse fato é decorrente da
desvalorização econômica porque passam os trabalhos manufaturados do
trabalho atual. Essa desvalorização é sustentada por tais fatores: a
exploração da mão-de-obra das mulheres bordadeiras, que apesar de o
produto final, ser o bordado do labirinto passou por um processo de
produção de trabalho coletivo, o mesmo é fragmentado em etapas
individualizadas quando se trata do pagamento para cada especialidade que
faz parte do bordado: desenhar; desfiar; encher; torcer; prefilar; lavar e
colocar goma para vender. Além deste fator, ainda, existem os
atravessadores que por meio de lucros exorbitantes acabam por explorar a
referida prática comercial artesanal dos quilombolas, já que esses não
repassam a quantidade devida para tal desempenho, ou seja, os lucros
exorbitante advindos de tal processo comercial, para os que realmente
produzem.
Palavras-chave: Mulheres, Economia, Pedagogia do Bordado
180
07 HANNAH AREDNT E ROSA LUXEMBURGO: CONFABULAÇÕES
SOBRE A AÇÃO POLÍTICA
José Cleyton Neves Lopes
Graduando em Ciências Sociais – UFRN
Bolsista do Programa de Educação Tutorial
RESUMO: O ensaio biográfico de Rosa Luxemburgo no livro ―Homens em
tempos sombrios‖, escrito por Hannah Arendt, já se tornou referencial para
os estudos sobre Luxemburgo. Não por acaso, a vida dessa revolucionária
fascinava Arendt que, por sua vez, também encantou tantos outros. A defesa
intransigente da liberdade, a preocupação com a despolitização das massas
e a manutenção da esfera pública, foram certamente elementos-chave para
o desenvolvimento do conceito de ação política para ambas. Todavia, o fato
de serem mulheres, judias e causticamente críticas de seus oponentes e até
companheiros intelectuais, tornaram-nas mártires de seus respectivos
contextos históricos e sobrepujadas, em certa medida, pelas principais
correntes teóricas da política ao longo do Século XX. O presente trabalho
tem como objetivo sistematizar o conceito de ação política, isto é, seu
significado e respaldo existente nas obras das duas autoras. A metodologia
empregada será de modo eminente bibliográfica, constituída por leituras,
produção de fichas, resenhas e resumos do arcabouço teórico das duas
autoras. Espera-se, com isso, que a relação proposta entre Arendt e
Luxemburgo clareie a originalidade teórica de duas mentes que
respectivamente ―iluminaram‖ os ―tempos sombrios‖ que marcaram o século
passado.
Palavras-Chaves: Hannah Arendt; Rosa Luxemburgo; Ação Política
08 A TRADIÇÃO E A REPRESENTAÇÃO DA POLÍTICA NO MUNICÍPIO
DE ANGICOS/RN
Karla Danielle da Silva Souza
Dalliva Stephani Eloi Paiva
Resumo: O presente trabalho trata-se de uma pesquisa inicial que visa
compreender as relações que sedimenta a política partidária presente no
Município de Angicos/RN. Partindo-se de uma observação in loco do
discurso dos eleitores e políticos locais como forma de apreender o
significado imbricado nas relações sociais existentes no município no que
tange a política local. Além de estar ancorado em diversos estudos
bibliográficos, objetivando-se, sobretudo, apreender os significados das
práticas locais – o Coronelismo, e por sua vez, a reciprocidade que envolve
essa prática. As reflexões iniciais provenientes da pesquisa assinalam para
uma sociedade pautada em práticas intrinsecamente ligadas a determinados
interesses e valores sociais no tocante à micro-política do referido município.
181
Palavras-Chave: Angicos/RN, Política Partidária, Coronelismo.
09 EDUCAÇÃO ESPECIAL: UMA ANALISE PARCIAL DAS ESCOLAS
PUBLICAS DA CIDADE DE CAICÓ RN.
Kelly Cristina Silva de Brito (UFRN)
Resumo: A ação educacional inclusiva visa à transformação de uma
sociedade mais justa, valorizando a integração, indistintamente, de todos os
cidadãos, e uma participação eqüitativa na melhoria das condições de vida.
Ela envolve um processo com inúmeros impasses e resistências,
relacionados a uma prática educacional historicamente segregacionista,
geradora de exclusão, que, ao invés de buscar melhorias sociais insistia na
discriminação e na exclusão de indivíduos com necessidades especiais. O
Ministério da Educação orienta a organização dos sistemas educacionais
inclusivos, que supera a organização de sistemas paralelos de educação
especial, investindo na articulação entre a educação regular e a educação
especial. Este projeto busca estudar o avanço e proliferação da modalidade
de educação especial e suas formas de implicação na rede municipal de
ensino da cidade de Caicó no estado do Rio Grande do Norte, tendo como
foco de analise alunos inseridos em três escolas de ensino médio. A
perspectiva é traçar um perfil demonstrando as principais dificuldades nestas
instituições em se adequar as normas de ensino para jovens com
necessidade especiais. A pesquisa foi realizada através de estudo descritivo
exploratório de método quantitativo e qualitativo, levando em consideração a
coleta de dados, analise de documentos internos a escola, a legislação
nacional e o estudo de autores, tais como, Gomes (2005), Mendes (2004),
Lima (2006), que tratam Educação inclusiva e igualdade social. Para
alcançar o objetivo proposto realizaram-se visitas a três escolas que
apresentam a inclusão de alunos com necessidades especiais, através de
um processo de levantamento da estrutura física das unidades de ensino e
do o currículo escolar em função do tipo de adequação na perspectiva da
inclusão. Constatamos em analises preliminares que 54% dos alunos já
estavam matriculados na rede publica do país. Consideramos a luta pelo
direito a diferença marcado pelos regimentos dirigidos as instituições de
ensino, transforma a escola na principal ferramenta para a inclusão social.
Fundamentada pela lei percebemos indícios avanços na pratica de inclusão
na educação especial na cidade de Caicó, especificamente em três maiores
instituições de ensino médio, a Escola Estadual Calpúrnia Caldas de
Amorim; o Centro Educacional Jose Augusto e a Escola Estadual Antonio
Aladim.
182
10 A ESTRELA DO SERTÃO: O feminino encontrado em Macabéa
Kenia Almeida Nunes (UFRN)
Resumo: Este trabalho tem por objetivo deixar transparecer o que se é
pretendido trabalhar na monografia, onde se almeja fazer uma discussão
teórico-empírico acerca da construção do feminino do sertão nordestino,
através de uma reflexão em torno da obra literária A Hora da Estrela de
Clarice Lispector. Desse trabalho dentre os muitos objetivos desejados é
preciso deixar límpido que a idéia central dele funda-se na tentativa de
abordar a construção do feminino do sertão nordestino a partir de uma
personagem (Macabéa) presente na obra acima citada. A pergunta de
partida diante do que já foi exposto é: que tipo de mulher é a Macabéa?
Pensando isso a partir dos vários imaginários que circunscrevem a mulher
nordestina e sertaneja. E, partindo desse pressuposto de que há várias
idéias de feminino, tem-se nesse trabalho, de certa forma, a mulher como
construção do processo migratório, dessa forma a personagem de Macabéa
do livro aqui estudado, talvez represente uma imagem produzida no Sudeste
do Brasil. Verificado isto, a partir de leituras sobre o Nordeste, surge o
problema principal desse trabalho que se configura na compreensão de
como funciona e a serviço de que relações de poder é produzida essa
imagem do feminino no sertão nordestino.
Palavras-Chaves: Mulher; ―A Hora da Estrela‖; produção do feminino;
relações de poder
11 CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS NA SESAP/RN
Raimunda de Medeiros Germano
e-mail: [email protected]
Lenina Lopes Soares Silva (UFRN)
e-mail: lenina @natal.digi.com.br
Thalita da Silva Costa (UFRN)
e-mail: [email protected]
Resumo: Propõe-se a apresentar os resultados de um estudo diagnóstico
das capacitações, cursos e eventos promovidos, organizados e apoiados
pela Secretaria de Estado da Saúde Pública do Estado do Rio Grande do
Norte (SESAP/RN), no ano de 2006, bem como das participações de seus
profissionais em eventos e cursos. O estudo objetivou mapear as
informações, no sentido de fornecer dados para a implementação de uma
política de capacitação de recursos humanos na área da saúde na
Secretaria. A problemática básica questionou se a fragilidade gerada pela
falta de uma política de capacitação de recursos humanos em saúde, na
SESAP/RN, e de um plano institucional de capacitação colaboravam para a
promoção de capacitações de forma fragmentada e pontual? A pesquisa
desenvolveu-se através de análise documental e de reuniões na
Coordenação de Recursos Humanos da SESAP/RN, de julho a dezembro de
2007. Os resultados apontam as áreas nas quais houve maior e menor
concentração e participação de profissionais em eventos, sinalizando para a
183
emergência de um plano institucional de capacitação efetivo e contínuo de
recursos humanos na SESAP/RN, bem como para a criação de uma política
de capacitação dos servidores em saúde da SESAP/RN.
Palavras-chave: Capacitação de recursos humanos; política de capacitação
em saúde; plano institucional de capacitação.
12 O CONCEITO DE DEMOCRACIA COMO VALOR UNIVERSAL NA
OBRA DE CARLOS NELSON COUTINHO
Leonardo Guedes Lins (UFRN)
Resumo: Este projeto de pesquisa pretende problematizar o conceito de
democracia, presente na obra ―A democracia como valor universal‖ de
Carlos Nelson Coutinho, analisando as suas implicações para o
desenvolvimento do programa político do partido dos trabalhadores e
também as reações a estas concepções por parte de líderes de grupos de
esquerda mais ortodoxa, procurando compreender que pontos centrais da
obra de Coutinho se contrapunham a este pensamento mais ortodoxo.
Palavras-Chaves: Democracia, Esquerda, Socialismo, Valor.
13 A IMAGEM DO OUTRO: o consumo da revista Contigo! pelo público
feminino
Marlla Suéllen de Melo Dantas (UFRN)
Resumo: O desenvolvimento dos meios de comunicação alterou de modo
indiscutível a relação do indivíduo com a sociedade, tendo em vista o poder
de coerção que exerce, determinando gostos, comportamentos e modos de
vida. Os recursos midiáticos como o jornal, a televisão e a revista, desde o
início, passaram a ser consumidos de forma descomunal e ainda hoje é
assim. Diante dessa abordagem, o projeto de pesquisa pretende investigar
uma revista que desde o seu surgimento, em 1963, vem sendo consumida
pelo público, e destaco em especial o público feminino, que é a revista
Contigo!. Buscarei relacionar o aparecimento da revista com a televisão,
pelo fato de esta ser a principal e a mais popular das mídias e, além disso,
pretendo destacar as idéias de visibilidade e espetacularização para mostrar
o quanto a imagem na sociedade atual, obteve um valor agregado à
vicariedade, ou seja, existir através da imagem do outro para, então, chegar
ao meu objeto que é o consumo da revista Contigo! na atualidade.
Palavras-chave: Mídia, Revista Contigo,Consumo, Visibilidade
184
14 PROSTITUIÇÃO MASCULINA: As relações afetivo-sexuais entre
michês e suas clientes na cidade de Natal
Mikelly Gomes da Silva (UFRN)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma pesquisa no campo da
prostituição masculina na cidade de Natal, na tentativa de identificar quais as
relações afetivo-sexuais estabelecidas entre estes homens e as suas
clientes. A pesquisa tentará responder que homem é esse que faz do seu
corpo ―mercadoria‖ assim como quem é essa mulher que procura por sexo.
Palavras-chave: Mercado do sexo; Sexualidade; Natal; Identidade; Michê;
Cliente
15 CAUSAS SOCIAIS DO NOVO MARRANISMO
Nestor Medeiros Filgueira Burlamaqui
Bacharel em Comunicação Social (UFRN) e aluno especial de mestrando do PPGCS-UFRN
Resumo: Mais de quinhentos anos após a conversão forçada dos judeus ao
catolicismo, em Portugal, algumas pessoas estão atualmente se
reaproximando do judaísmo como uma forma de adquirir a religião e a
cultura de seus antepassados judeus que foi esquecida, ao menos
parcialmente, com o passar dos séculos. Desde o início da historiografia do
Brasil os pesquisadores já sabiam a respeito da vinda dos cristão-novos
portugueses ao Brasil durante o período colonial, mas somente após
recentes pesquisas antropológicas – inclusive no Rio Grande do Norte – é
que eles começaram a constatar a existência de indivíduos que ainda
praticavam vestígios de uma cultura judaica, mas que não sabiam a respeito
dessa origem. A princípio, podemos deduzir que a divulgação da ―nova
origem‖ – proporcionada por essas pesquisas recentes, aliada ao poder de
disseminação de informações exercido pelos atuais meios de comunicação
de massa - fez com que o interesse sobre o assunto surgisse em algumas
pessoas, mesmo naquelas sem uma família com vestígios judaicos
evidentes. Porém, isso não explica satisfatoriamente a existência desse
―novo marranismo‖. Afinal, saber que se descende de judeus – mesmo que a
plena certeza de tal situação nem sempre seja possível – não significa que
alguém irá querer tornar-se um deles. Mesmo assim, eles clamam serem
judeus ao mesmo tempo em que evitam uma conversão formal junto às
instituições judaicas oficiais, pois suas famílias teriam carregado tal condição
através dos séculos. Esse tipo de atitude representa claramente um
inconformismo em relação à sua atual situação diante da sociedade ou, em
outras palavras, à imagem social que carregam: nordestinos não-judeus.
Eles pretendem romper com as leis judaicas atuais e serem reconhecidos
como judeus pelos próprios judeus mesmo sem possuírem autoridade dentro
do judaísmo oficial para tal empreendimento. Essas pretensões implicam
efeitos tanto nas esferas sociais judaicas quanto nas esferas sociais não-
185
judaicas, pois ao adquirirem condição de judeus eles elevam-se sobre sua
identidade de nordestinos comuns. Tornam-se diferentes e superiores.
Também tornam-se diferentes e superiores aos próprios judeus por
possuírem poder/direitos de ingressar no judaísmo sem consentimento
deles. Trata-se de uma identidade antiga que atualmente já não tem o
mesmo sentido, mas cujo valor simbólico continua forte: o valor do judaísmo
e de toda a sua história de sobrevivência milenar às perseguições. Assim,
nos resta procurar o que esse tipo de valor possui de importante para tais
indivíduos ao ponto de exigirem tal reconhecimento social e se empenharem
nessa busca. Devemos verificar se o sentido de ser judeu é realmente esse
ou se há outros significados para eles. Por exemplo, o sociólogo Bernardo
Sorj afirma que o Brasil, apesar de ser um país racista, não inclui os judeus
na discriminação social, pois eles são considerados integrantes da
população branca e, consequentemente, vistos como a parcela que pode
contribuir com a ideologia do branqueamento da população, segundo a qual
o negro, através da mistura racial, pode passar a ser parte do mundo
branco, melhorando seu status social. Dessa forma, a aquisição – por parte
de ―nordestinos miscigenados‖ – da identidade social judaica seria uma
forma de ascensão social.
16 ESTUDANDO A SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NA CIDADE DO
NATAL: REFLEXÕES INICIAIS.
Thayanne Érica Torres de Assis (UFRN)
Ozaias Antonio Batista (UFRN)
Resumo: Um fenômeno urbano que marcou a constituição dos modelos
citadinos brasileiros no início do século XXI foi o crescimento dos
loteamentos e condomínios fechados. Isto se deu, em sua maioria, pela
preocupação que as pessoas detinham com a segurança, designando o
conforto como aspecto secundário na aquisição de um bem imobiliário.
Diante desta realidade, o presente estudo, em seu estágio inicial, objetiva
abordar o aparecimento dos condomínios fechados – horizontais - na Região
Metropolitana de Natal, refletindo sobre as conseqüências sociais, espaciais
e econômicas do aparecimento desta forma de moradia na vida de alguns
natalenses. A princípio, tomando como base as leituras iniciais, se pode
identificar o aparecimento de áreas segregacionais (ocupadas pelos
condomínios fechados), as quais determinam a participação de um
determinado público. Antes formado unicamente por pessoas de alto poder
aquisitivo, agora composto por pessoas de classe média baixa. Entretanto,
outras reflexões e conceitos podem estar sendo agregados ao presente
estudo, tais como: os condomínios fechados como detentores de barreiras
físicas e simbólicas; a fragmentação urbana aliada à segregação social; a
condição de moradia atrelada ao status. Considerações finais não podem
estar sendo apresentadas, uma vez que a pesquisa está em seu estágio
inicial. Pretende-se, com este trabalho, apenas expor algumas impressões
iniciais a fim de partilhar o conhecimento já detido.
186
Palavras-chave: Condomínios horizontais fechados; Região Metropolitana
de Natal; segregação sócio-espacial; sociabilidade.
17 “ONDE VOCÊ MORA?”: uma pesquisa a respeito dos discursos
sobre a expansão da fronteira imobiliária na cidade do Natal, como
forma de acumulação e reprodução do capital mercantil fundiário
Rainolenes de Melo Silva (UFRN)
Resumo: Este trabalho, tem caráter de anotações preliminares e
introdutórias à reflexão a ser desenvolvida em dissertação de mestrado,
que versa sobre os discursos dos agentes políticos, econômicos e sociais,
que estiveram envolvidos no processo de expansão urbana, através do
mercado imobiliário na cidade de Natal, entre a segunda metade dos anos
de 1960 e fim dos anos 1980. Preliminarmente foram escolhidos dois bairros
da cidade de Natal como campo a serem estudados. A escolha dos bairros
de Cidade da Esperança e Capim Macio se deve sobremaneira, a forma
como representaram momentos distintos do processo de expansão urbana
capitalista, e como o Estado através das políticas habitacionais e o Capital,
através do processo de acumulação fundiária, induziram a um processo de
urbanização de forma desigual e excludente. A metodologia a ser utilizada
estará pautada em pesquisas a meios de comunicação impressa a ser
escolhida no momento oportuno e tendo como referencial teórico, leituras
pertinentes ao assundo.
Palavras-chaves: Urbanização, Expansão Urbana, Mercado Imobiliário,
Especulação Fundiária.
18 A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL AFROBRASILEIRA NO CONTEXTO DA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO
Ramon de Alcântara Aleixo (UEPB)
Patrícia Cristina de Aragão Araújo (UEPB)
Resumo: Este estudo visa à elucidação acerca do patrimônio cultural
imaterial afro-brasileiro no contexto da sala de aula do ensino médio, de
forma a possibilitar a efetivação de uma educação inclusiva, equânime e
significativa, onde os diversos sujeitos educativos possam sentir-se
representados nas práticas de leitura e escrita, bem como nos discursos
veiculados pelos livros didáticos utilizados em algumas escolas paraibanas,
mais especificamente na cidade de Campina Grande-PB, lócus de nossas
análises. Sendo assim, objetivamos, ao longo do referido texto, tecer visões
acerca das representações em que se inserem as práticas culturais afrobrasileiras, bem como os discursos que permeiam os currículos
educacionais do ensino médio vislumbrando, assim, a tessitura de um
processo de (re) significação e valorização identitária acerca dos patrimônios
culturais imateriais de negros e negras em nível nacional e estadual. Para
tal, nos aportamos no referencial teórico trilhado por CHARTIER (2004),
187
BHABHA (1998), HALL (2001), LOPES (2005), bem como no método
investigativo indiciário, GUINZBURG (1989), onde se torna possível
perceber, através de fragmentos discursivos, sinais que apontam para a
tessitura das tramas políticas e sociais que permeiam as escritas
curriculares. Os resultados preliminares nos permitem afirmar a importância
de se efetivarem políticas de inclusão racial, de forma a possibilitar a
tessitura de zonas de diálogo entre as diversas etnias que povoam
cotidianamente o espaço-tempo da escola, bem como a inserção de seu
legado cultural na historiografia nacional e local, contribuindo, dessa forma,
para evocarmos os fragmentos de memória e cultura que necessitam serem
(re) significados sob pena de se esmaecerem nas sinuosas curvas ofertadas
pela escrita da História.
Palavras-chaves: Educação Básica; Identidade Afro-brasileira; Patrimônio
imaterial negro; Práticas de leitura e escrita.
GT3 – Momento de reflexão: pesquisas realizadas ou em
andamento - Resumos Expandidos
01-A SABEDORIA DO INSTANTE: memórias, saberes e visões de
mundo dos poetas repentistas de Mossoró-RN
Ênio Érico Freire Segundo (bolsista/PIBIC/CNPq)
Ailton Siqueira de Sousa Fonseca (Orientador)
Jucieude de Lucena Evangelista (Co-orientador)
(Resumo Expandido não disponibilizado pelos autores para publicação)
02-UMA ANÁLISE DOS “DISCURSOS DE MODA” NAS REVISTAS ANA MARIA
E ESTILO DE VIDA
Gilcerlândia Pinheiro Almeida Nunes(UFRN/PPGSC-Mestranda)
Esse trabalho vem sendo desenvolvido no campo do consumo de moda e,
mais especificamente a vestimenta feminina como produto de moda. A partir
de uma perspectiva histórica, mais precisamente datada do período de
nascimento e desenvolvimento do capitalismo no Ocidente, o tema moda
está sendo discutido como um fenômeno capaz de ao mesmo tempo
estimular a imitação e propor elementos distintivos. Ou seja, por um lado, as
classes sócio-econômicas menos favorecidas tem na moda uma
possibilidade de aproximação das classes superiores – aos espaços
desejados – através da aquisição de produtos simbolicamente
representativos de status superior. Por outro lado, os grupos superiores
criam e recriam novas modas logo que sejam necessárias para se
distanciarem paulatinamente dos ―invasores‖ vindos das classes sócioeconomicamente inferiores. Dessa forma, produzem elementos distintivos
188
capazes de resguardar, seja através dos gestos, das maneiras, do vestir ou
do agir coletivo em qualquer situação uma posição privilegiada.
Sendo assim, a moda será entendida nesta pesquisa como um fenômeno de
massa cíclico, que ao nascer já traz consigo uma sentença de morte, mas
que nem por isso tem menos força nos espaços sociais por onde adentra.
Os indivíduos a ela se submetem sem um nível de reflexão capaz de
descortiná-la e percebê-la como criação humano-social, assim como
acontece com outros produtos sociais. Destarte, essa é a principal
característica dos produtos das relações humanas o fato de não permitir
grandes espaços para reflexividade e colocar-se praticamente como natural.
Todavia, mesmo compreendendo que a relação dos indivíduos com a moda
e com os meios que fazem com que ela se difunda – as mídias, por exemplo
– e se torne tão irresistível não é de nenhuma forma de igualdade, não se
nega totalmente que haja reflexão ou mesmo interação. Quem consome
supostamente possui uma explicação para o seu interesse em tal ou qual
produto, mas ainda há a própria construção social dos gostos e que permite
as diferentes escolhas. Saber que se quer consumir uma devida marca,
produto com uma assinatura específica, é dizer ao mundo que o espaço das
relações – estilo de vida – a que pertence ou gostaria de pertencer está prédeterminado. Vivenciar suas experiências estéticas e sensoriais através do
consumo de tais objetos é mais um elemento que o assegura em sua
posição diante dos seus pares.
Tentar-se-á aqui entender como se dá a formação dos gostos no consumo
de vestimentas femininas, pensando-os como um interesse comandado, em
primeira instância, pelo fator externo mídia como formadora de
subjetividades. Pretende-se entender como se dar a criação e divulgação do
que será chamado de discurso de moda na mídia impressa, ou seja, o
discurso que diz aos propensos consumidores o que é ―certo‖ ou ―errado‖
nas maneiras aceitáveis socialmente de vestir.
Dessa forma, para responder a questão de como são construídos esses
discursos na comunicação midiática, especialmente, serão pesquisados dois
títulos de revistas direcionadas às mulheres. Tendo em vista a formação das
representações de moda e a padronização dos gostos das leitoras pensouse numa análise detalhada dos discursos existentes no interior dessas
revistas, além disso, os próprios exemplares permitem a checagem de sua
eficácia em relação aos supostos direcionamentos de gostos quando publica
cartas de leitoras falando de suas dúvidas ou identificação com o que é
escrito e publicado.
Pensando apenas o discurso de moda contido nessas revistas como um
discurso construído com o intuito de persuadir as leitoras a serem ou
continuarem sendo consumidoras de determinados produtos de moda, é que
escolheu-se fazer análise de discurso textual. Os exemplares selecionados
fazem parte da mídia impressa brasileira, ambas publicadas pela Editora
Abril e são distribuídos em âmbito nacional tendo como foco a moda
feminina. Interessa saber como esses discursos são construídos para que
seja eficiente tanto no que diz respeito a sedução da leitura como na
persuasão que induz tipos de gostos capazes de separar os grupos de
classes de possuidores e não possuidores de possibilidades objetivas de
cumprir tais ou quais expectativas sociais. Entretanto, não deixando
189
indivíduos soltos à própria sorte, mas enquadrando-os em subgrupos ávidos
pelo consumo de bens que os tornará aceitos por si mesmos e pelos seus
pares. Já que é no âmbito coletivo que a consolidação dos gostos se dá, ou
seja, no encontro com o outro.
Dessa forma, o termo consumo será pensado nesse trabalho como algo que
está ligado ao desejo de possuir, a sedução dos objetos, ao prazer
hedonista em muitos momentos, mas que é dependente do olhar do outro
para sua consolidação no meio social como objeto dotado de sentido e
possibilidades de identificação e formação de identidades. Estas, por sua
vez, apresentando uma flexibilidade característica da contemporaneidade,
dando oportunidade para vários caminhos, várias escolhas de acordo com a
plasticidade percebida no espaço social atual.
Ainda sobre o sentido do consumo, pensa-se não como algo dado, mas
construído, como já foi sugerido no texto, pela pesquisa e criação do
marketing e pela divulgação das mídias, sejam elas quais forem. A mídia
impressa direcionada para o público feminino que está sendo privilegiada
nesta pesquisa é representada pelos títulos: Estilo de Vida e Ana Maria,
ambas publicações da Editora Abril como fora mencionado anteriormente.
A primeira é uma publicação que faz parte da corporação da revista In Style
americana, sua primeira edição no Brasil foi em outubro de 2002. Ela Inclui
artigos sobre moda, beleza, entretenimento entre outros e é do tipo mensal.
O padrão de apresentação dessa primeira é visivelmente diferente da
segunda em relação aos tratos dados aos assuntos, os materiais gráficos
utilizados, o papel, as chamadas, os anunciantes, as mulheres que fazem as
capas, as cores utilizadas nas capas – a aparência limpa e despoluída
visualmente. O preço cobrado, por sua vez, parece reforçar um diferencial e
constituir uma forma de seleção das leitoras. O discurso que permeia a
revista é a construção ou mesmo a manutenção de um estilo de vida
específico, como sugere o próprio título da revista.
A revista Ana Maria, por sua vez, é oferecida semanalmente em bancas de
bairro a um preço mais acessível e ainda trazem informações sobre os
capítulos das novelas que serão exibidos durante a semana. As formas de
abordagens dos temas ―femininos‖ também são bastante diferentes na
estrutura textual de ambas as revistas. As reportagens da revista Ana Maria
são em sua maioria curtas e em linguagem simples, as discussões são
comuns a cotidianidade da mulher, e sempre privilegiam a idéia de beleza,
do cuidado com o corpo, cabelos, unhas, pele, o que vestir em que ocasiões.
Receitas culinárias também são oferecidas além de discussões sobre sexo
entre outras informações direcionadas àquele ―mundo feminino‖. Sobre
moda, geralmente, trazem imagens de atores e atrizes com os figurinos
utilizados na ficção.
Ainda sobre a revista Estilo de Vida, por ser direcionada a uma camada
social diferente da revista Ana Maria trás em suas páginas referências a
grifes conhecidas e reconhecidas pelo grupo a quem se dirige. Toda a
revista dedica-se a tratar do tema moda, mas como apenas sugestão, leitura
ou discussão de uma posição social seleta. Vários figurinos são mostrados
para que de acordo com as identificações de cada leitora sejam utilizados.
Desfiles de marcas famosas são também encontradas além de tratar não
apenas do que é conhecido dentro das fronteiras nacionais, mas dos
190
grandes encontros mundiais de moda. Entretanto, essa revista como diz o
próprio título fala de uma possibilidade de ―estilo de vida‖. Ser é o ponto de
partida.
Existe também uma versão da revista eletrônica, onde podem-se ver parte
da revista on-line e alguns links que permitem descobrir o próprio estilo a
partir de alguns clicks.
Entretanto, para entender como a formação das representações de moda e
a padronização dos gostos se dão nas mulheres leitoras das revistas acima
citadas será feita uma análise de discurso textual e imagético apenas nas
páginas que tratem de moda feminina tratando-se das vestimentas. Com
isso, espera-se encontrar elementos na linguagem utilizada nos discursos
textuais e visuais de cada título pontos que suponham padronização dos
gostos do vestir para os grupos a que cada revista se direciona.
Para a feitura desse trabalho serão selecionados exemplares de cada um
dos títulos publicados no período de um ano entre junho de 2008 e junho de
2009. A intenção é avaliar o que e como foram noticiados os eventos
sazonais: outono/inverno e primavera/verão, períodos que marcam
mudanças de comportamento nos hábitos de vestir. Esse espaço temporal
permitirá o contato com as construções textuais e visuais sobre moda que
marcaram um ciclo de acontecimentos e lançamentos. Portanto, será
possível uma leitura minuciosa, mas não definitiva dos aspectos dos
discursos que foram apresentados como forma de dizer às leitoras o que é
socialmente aceito no ato do vestir, tendo em vista categorias sociais como
gênero, faixa etária, tempo (dia/noite) e espaço (público/privado) e até onde
vai a consistência desses discursos, no sentido de conseguir ou não atingir
suas propostas. Essa leitura deverá ser entendida não apenas como uma
decodificação de um texto escrito ou de imagens, mas principalmente, será
considerado a mensagem direcionada a um receptor e vice-versa.
A partir dessa leitura e organização dos dados, o segundo momento será
acionar um conjunto de teorias para dar suporte analítico à pesquisa. A visão
bourdiesiana estará diluída em toda a construção teórica da dissertação
através da articulação dos dados e análise dos conteúdos das revistas
pesquisadas. Para dar suporte à análise de discurso textual a que serão
submetidas as revistas está sendo estudado também o linguista José Luís
Fiorin que acredita-se trazer riqueza tanto à leitura dos discursos quanto a
feitura posterior dos textos.
Entretanto, mesmo que as maneiras de ler/interpretar os discursos dos
títulos pesquisados esteja permeado pelos termos e conceitos da lingúistica
é imprescindível lembrar que este trabalho tem um cunho sociológico, em
primeira instância, todavia, isso não impede que os conhecimentos de áreas
afins se encontrem e componham um todo com sentido, mas mantendo a
direção estrutural no campo das Ciências Sociais.
Portanto, não pretende-se, de forma alguma, fazer um trabalho de cunho
lingüístico, embora o conhecimento produzido por essa área seja de extrema
relevância para a realização dessa pesquisa. Pois, será possível detectar os
tons dos discursos enunciados, as intenções, os direcionamentos, como se
dirigem aos receptores, enfim como se dá a interação entre o corpo editorial
das revistas e o seu público alvo.
191
REFERÊNCIAS
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(org.) - BOURDIEU. Coleção Grandes Cientistas Sociais. no. 39. Ática, São
Paulo, 1983.
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2001.
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Perspectiva, 1987.
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Janeiro: Bertrand Brasil, 1998(Tradução Fernando Tomaz).
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Alegre, RS: Zouk, 2007
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sociedades modernas. 8. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989
(Tradução: Maria Lúcia Machado).
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hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
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ao tempo das marcas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
MELO, Gilda de Souza. O espírito das roupas: a moda no século
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SIMMEL, Georg. Filosofia da moda e outros escritos. Lisboa: Edições texto e
gráfica, 2008.
______. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio G. O fenômeno
urbano. Rio de Janeiro, Kahar, 1967.
03-“MÃE É TUDO IGUAL”: estratégias de deslegitimação moral de
mulheres com filhas em uma instituição abrigo
Gilson Rodrigues(UFPE)
(Resumo Expandido não disponibilizado pelo autor para publicação)
04-DESAFIOS DE APRENDIZAGEM NO SISTEMA DE EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
Hylana Maressa de Souza Câmara
(Graduanda em Ciências Sociais UFRN)
[email protected]
Introdução: Levando-se em contar que fazer pesquisa significa aprender a
pôr ordem em nossas próprias idéias, segundo Mirian Goldenberg (1999).
Assim, entendo que, a construção do conhecimento é uma ação
fundamentalmente relacional entre os sujeitos envolvidos nesse processo. O
presente projeto pretende analisar os ―desafios da aprendizagem‖ no
192
contexto educação de jovens e adultos, com enfoque central, na relação
dialogal para pensar a relação educador / educando.
Em razão disso, o trabalho apresentará uma breve análise sobre a situação
histórica do ensino de Jovens e Adultos - EJA, e sobre o ensinoaprendizagem dos sujeitos inseridos nesse sistema educacional.
Uma vez que no contexto histórico do Brasil, a educação de jovens e adultos
é acompanhada pela história da educação em si. No entanto as primeiras
iniciativas com relação à educação de jovens e adultos se estabeleceram
sistematicamente a partir do ano de 1930, onde a educação, tido aqui como
a oferta de ensino público primário gratuito e obrigatório, se torna direito de
todos. Após um breve percurso pelas décadas de 1930 a 1980 tendo nesta
ultima a constituição de 1988, o contexto educacional de maior relevância e
destaque na sociedade brasileira, no que se refere à Educação de Jovens e
Adultos – EJA.
Entendo que, a construção do conhecimento é uma ação fundamentalmente
relacional, entre os sujeitos envolvidos, neste caso professor e aluno. Desta
forma, o novo projeto e este relatório, pretende analisar os ―desafios da
aprendizagem‖, no contexto educação de jovens e adultos, enfocando
diretamente na relação dialogicial para pensar as relações educador/
educando.
O direito a educação: No contexto histórico do Brasil, a educação de jovens
e adultos é acompanhada pela história da Educação em si. Foi a partir da
Revolução de 1930, que a educação elementar no país iniciou seu período
de consolidação, através de mudanças políticas e econômicas, uma dessas
mudanças foi o processo de urbanização e industrialização que ocorria no
Brasil, processos que exigiam a ampliação da escolarização para jovens e
adultos.
Temos na década de 1940, a concretização de algumas iniciativas política e
pedagógicas, como: a criação do INEP, que incentivava os estudos na área;
o surgimento das primeira obras dedicadas ao n sino supletivo; o
lançamento da CEAA – Campanha de Educação de adolescentes e adultos;
dentre outras iniciativas.
A década de 50 é caracterizada pela necessidade de mão de obra em vista
do crescimento das industrias. Por isso tinha a necessidade de promover a
educação e qualificação das pessoas.
Mas foi nos anos de 1960 que o Brasil presenciou de fato uma verdadeira
efervescência no campo da educação de adultos e da alfabetização. Foi em
meados de 60 que se realizou o II Congresso Nacional de Educação de
Adultos, neste congresso, já apontava ideais de pratica educativa baseada
no diálogo como forma de diminuir barreiras invisíveis das relações
educador/educando.
Nesse contexto temos as idéias de Paulo Freire, constituem uma proposta
de mudança radical na educação e nos objetivos de ensino, onde a
compreensão de que o aluno sabe e tem o poder de transformação da sua
realidade. Portanto, o pensamento de Paulo Freire constitui uma prática que
entendia a relação entre a problemática educacional e social.
Temos na constituição de 1988, aspectos de extrema importância para a
educação de jovens e adultos, pois com a aprovação da mesma a educação
193
passa a ser um direito assistido a todos, independentemente da idade, sexo,
cor ou condições sócio-econômicas. Foi no artigo 208 da constituição de
1988, que o governo reconhece que a sociedade foi incapaz de garantir
escola básica para todos na idade adequada.
―O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I
– ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurado, inclusive sua oferta
gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria‖.
(Constituição Federal, 1988).
O Universo Da Educação De Jovens E Adultos (EJA): O universo do
aluno da Educação de Jovens e Adultos - EJA tem grande heterogeneidade
de público, imersos em situações sociais e culturais as mais variadas
possíveis desta forma observam-se que é de extrema importância a
abordagem sobre o processo dialogicial entre os professores e alunos.
Assim ensinar e aprender se torna uma prática pedagógica muito mais
relacional o que facilitaria o processo de ensino- aprendizagem.
Após, a contextualização e compreensão do tema, a pesquisa realizada com
alunos e professores da escola pesquisada e acompanhada, através da
observação do universo escolar e de entrevistas informais com os sujeitos
pesquisados, pôde-se constatar que o desemprego, os baixos salários e as
péssimas condições de vida (moradia, saúde, alimentação, etc.)
comprometem os seus processo de alfabetização.
Alem do que os déficits no ensino fundamental resultaram ao longo dos
anos, num grande número de jovens e adultos, que não tiveram acesso ou
não concluíram o ensino fundamental. O analfabetismo é a expressão maior
desse pressuposto, por esse motivo acredito que a educação de jovens e
adultos devem está condicionada as possibilidades de uma transformação
real das condições de vida do aluno.
Para tanto a linguagem usada pelos professores deve se de fácil acesso
aos alunos havendo uma aparente comunicação dialética entre professores
e alunos, além do que os professores devem respeitar as condições culturais
do jovem e do adulto analfabeto diminuindo assim a verticalização das
relações pedagógicas. Paulo Freire já nos advertiu:
[...], o diálogo é uma exigência existencial. E se ele é o encontro em que se
solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser
transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar
idéias de um sujeito no outro, nem tampouco torna-se simples troca de
idéias a serem consumidos pelos permutantes. (FREIRE, 2005, p.91).
Vejo que, as idéias de Paulo Freire constituem uma proposta de mudança
radical na educação e nos objetivos de ensino, onde a compreensão de que
o aluno sabe e tem o poder de transformação da sua realidade. Portanto o
pensamento de Paulo Freire constitui uma prática que entendia a relação
entre a problemática educacional e social.
Uma vez que o desenvolvimento da educação se dar ao longo de toda a
vida, inicia-se com a alfabetização, no entanto não basta apenas ensinar a
ler e a escrever. No exercício pleno da cidadania o educando tem que ter a
oportunidade de melhorar sua condição de vida.
Esse aspecto é de extrema importância no contexto de educação de jovens
e adultos, visto que o projeto de Freire sobre o processo educativo deveria
partir sempre de um exame crítico da realidade em que o aluno estar
194
inserido, possibilitando conseqüentemente a identificação da origem de
seus problemas e a possibilidade de superá-los.
Desafios da Educação de Jovens e Adultos: O analfabetismo é a face
mais perversa e recorrente nessa problemática, ele está diretamente ligado
aos desequilíbrios econômicos, estruturais e históricos da sociedade
brasileira, desse modo à educação parra erradicação do analfabetismo deve
está voltada para a conquista de uma cidadania que vai muito além de
ensinar a ler e escrever uma vez que o desenvolvimento afetivo, intelectual,
social e cultural deve está presente.
Desse modo é indispensável pensar em um processo contínuo de
alfabetização que inclua o reconhecimento de características afetivas, sóciopolíticos, culturais de cada grupo.
Assim, a educação deve fundamenta-se na participação da educando em
sua situação de aprendizagem, sendo assim um sentido de processo de
ensino e aprendizagem que contribua para a construção de um sujeito
cognoscente.
É indispensável pensar o mundo do trabalho dentro do universo educacional
EJA, pois é fato que seu público está interagindo com esse mundo, uma vez
que os alunos almejam entrar no mercado de trabalho. Desse modo, o nível
de escolaridade é fator determinável para o exercício de uma ocupação
profissional, ou seja, o grau de escolaridade é pré-requisito para a conquista
do emprego na sociedade contemporânea.
Outro desafio e a heterogeneidade de público, estes imersos em situações
sociais e culturais as mais variadas possíveis, na sua maioria desfavorável.
A EJA tem uma função permanente de qualificação, pois quando voltada
para o mercado de trabalho, o sujeito tem que se qualificar e se re-qualificar
visto que são exigências das sociedades contemporâneas.
Também existe a função reparadora uma vez que indivíduos que por quais
quer natureza tenha se desvinculado se sua formação educacional visa com
a entrada no sistema de ensino de Jovens e Adultos, como uma reentrada
no ‗jogo da sociedade‘, ou seja, busca restabelecer sua trajetória na
sociedade enquanto cidadão.
Considerações Finais: Nas sociedades contemporâneas que se afirmam
politicamente democráticas e cada vez mais recorrentes a busca por
qualificações educacionais e profissionais, não esquecendo que uma está
diretamente ligada à outra, sendo assim a escola passou assumir a função
de educar para a vida e para a aprendizagem do trabalho.
No universo da Educação de Jovens e Adultos não é diferente, os
participantes desde universo busca restabelecer suas funções enquanto
cidadãos pertencentes a uma sociedade. Desta forma, a educação que com
a constituição de 1988 passa a ter um caráter universalizaste, pois afirma
que ―educação é direito de todos não importando sexo, condição sócioeconômica ou cor‖ deve se entendida como uma prática à liberdade e
igualdade dos sujeitos, pressupostos estes fundamentais para a educação
de Jovens e Adultos.
REFERÊNCIAS
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195
Caxambu: ANPED, 1999, (mimeo).
_____. Estado e Educação popular: Um estudo sobre a educação de
adultos.
São Paulo: Pioneira, 1974.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do
Brasil. Brasília, DF:Senado,1988.
CUNHA, L. A.; GÓES, M. O golpe na educação. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1985.
FALSARELLA, Ana Maria. Formação continuada e prática em sala de
aula: os efeitos da formação continuada do professor. Campinas, SP:
Autores associados, 2004.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz
e
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______. Pedagogia do oprimido. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
GADOTTI, Moacir, RAMÃO, José.(0rg.) Educação de jovens e adultos:
teoria e prática e proposta.3 ed. São Paulo: Cortez. 2001.
HADDAD, Sérgio. Estado e educação de adultos (1964 - 1985). São
Paulo:
Faculdade de Educação da USP, 1991.
PINTO, A. Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo:
Cortez, 2000.
05 - CELEBRAÇÃO DO AVESSO: O Niilismo-utópico em Augusto dos
Anjos
Iara Maria Carvalho Medeiros dos Santos
Prof. Dr. Derivaldo dos Santos (Orientador)
(Resumo Expandido não disponibilizado pelos autores para publicação).
06- PEDAGOGIA DO BORDADO NARRADA PELAS MULHERES
COMUNIDADE QUILOMBOLA MATIAS DE SERRA REDONDA – PB
DA
Janaina Bezerra de Queiroz – UEPB
Maria Lindaci Gomes de Souza – UEPB
Patrícia Cristina de Aragão Araújo –
UEPB
Essa pesquisa é um fragmento de uma pesquisa maior desenvolvido na
Comunidade Quilombola do Matias, Serra Redonda – PB, que estuda as
práticas-culturais afro-brasileira. Esta tendo como importância o fato de que
a tradição do bordado ser uma construção coletiva, no qual esta prática,
atualmente, está desaparecendo e que são poucas as que dominam a
pedagogia do bordado. Esta sendo uma atividade manufaturada, geralmente
transmitida de geração para geração, possuindo grande valor histórico e
sócio-cultural. Nesse sentido, o registro desses fazeres se faz necessário,
196
tendo a necessidade da releitura de tal prática. Para a tessitura
metodológica iremos abordar a história oral, no objetivo de analisar as falas
das mulheres matriarcas aquelas que fizeram do bordado uma produção
social de sustentação econômica para a família, como também, são as
mulheres da terceira idade que ainda preservam na memória lembranças de
momentos significativos do processo de construção do labirinto que
conservaram essa prática passando o conhecimento de geração para
geração através da oralidade. Aqui tomamos como história oral sendo uma
―história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da
própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não
só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimula
professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a
história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da
comunidade. Ajuda os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a
conquistar dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e, pois, a
compreensão – entre classes sociais e entre gerações. E para cada um dos
historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um
sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em
suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente,
a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo
autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma
transformação radical no sentido social da história.‖ (THOMPSON,1992, p.
44) Após as entrevistas com as mulheres bordadeiras dessa comunidade
constatamos um fato significativo, sendo as mulheres mais antigas que
concebe o ato de bordar como uma prática social significativa para a
comunidade. Cientes de que o trabalho artesanal deveria ser visto como
uma importante fonte de renda, quer dizer, o artesanato é uma atividade
econômica diretamente relacionada com a identidade e cultura local. Esse
fato é decorrente da desvalorização econômica porque passam os trabalhos
manufaturados do trabalho atual, pois o artesanato não encontra um
mercado garantido para seus produtores em decorrência de algumas
questões ainda sem resolução como a variedade dos produtos de acordo
com as demandas do mercado atual envolvendo o design, a modelagem, e
um diferencial no que se refere a inovação e criatividade. Essa
desvalorização é sustentada por tais fatores: a exploração da mão-de-obra
das mulheres bordadeiras, que apesar de o produto final, ser o bordado do
labirinto passou por um processo de produção de trabalho coletivo, o mesmo
é fragmentado em etapas individualizadas quando se trata do pagamento
para cada especialidade que faz parte do bordado: desenhar; desfiar;
encher; torcer; prefilar; lavar e colocar goma para vender. Além deste fator,
ainda, existem os travessadores que por meio de lucros exorbitantes
acabam por explorar a referida prática comercial artesanal dos quilombolas,
já que esses não repassam a quantidade devida para tal desempenho, ou
seja, os lucros exorbitante advindos de tal processo comercial, para os que
realmente produzem.
197
07 HANNAH AREDNT E ROSA LUXEMBURGO: CONFABULAÇÕES
SOBRE A AÇÃO POLÍTICA
José Cleyton Neves Lopes
Graduando em Ciências Sociais – UFRN
Bolsista do Programa de Educação Tutorial
(Resumo Expandido não disponibilizado pelo autor para publicação).
08 A TRADIÇÃO E A REPRESENTAÇÃO DA POLÍTICA NO MUNICÍPIO DE
ANGICOS/RN
Dalliva Stephani Eloi Paiva
[email protected]
Karla Danielle da Silva Souza
[email protected]
Esse trabalho é fruto de reflexões iniciais atribuídas em torno das disciplinas
de graduação ―Oficina I de Métodos Qualitativos‖ e ―Planejamento de
Pesquisa social‖ ofertadas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Que em síntese busca a construção de objeto e a elaboração do projeto de
pesquisa, através de métodos qualitativos de análise.
Nessa perspectiva, a presente pesquisa foi realizada no município de
Angicos/ RN que está localizado na região central do Rio Grande do Norte.
Sendo mais um entre muitos que tem em suas raízes uma formação cultural
relacionada às questões políticas. Desse modo, a cidade tem características
próprias, por ser terra de conhecidos representantes políticos do estado,
como também por possuir aspectos peculiares a uma cidade interiorana, tais
como, exercício de poder de uma classe dominante, relação profunda com a
tradição, troca de favores na esfera política. Nesse estudo, visamos a
análise e a compreensão das relações que sedimentam a política partidária
presente no município, mais especificamente, o Coronelismo. Buscando
identificar as características da referida cidade, relacionando Coronelismo
com a esfera pública e privada no que se refere às práticas locais.
A referida pesquisa intitulada ―A Tradição e a Representação da Política no
Município de Angicos/RN‖ tem como método de pesquisa o estudo de
bibliografias como forma de compreensão e desenvolvimento da temática,
dentro elas destaca-se Leal (1997), que aborda as questões pertinentes ao
Coronelismo e suas formas de manifestação do poder privado. Mas que ao
mesmo tempo, significa uma troca de favores entre o poder público em
ascensão e os chefes locais, reciprocidade entre representantes e eleitores.
Outro destaque é Goldman (2006), que faz uma análise acerca das relações
entre eleitores e políticos, através de fatos do cotidiano. Acontecimentos que
aparentam ser banais, mas que ele consegue traçar uma etnografia política
do Brasil. E por fim, Palmeira e Barreira (2006), cujos estudos apresentam a
idéia de que a vida política no país é constituída através das relações
estabelecidas no espaço público da política. Dentro desses dois últimos
autores, a idéia é analisar como o público e os privados se confundem, tanto
198
entre as famílias, como também no processo de construção de carreiras
políticas e a procura por eleitores.
O estudo também está sendo desenvolvido através da observação in loco da
fala dos eleitores e políticos locais captadas através de entrevistas, como
forma de se compreender como se dão as relações no que se refere à
política local e discorrer a respeito da concepção dos eleitores e dos próprios
políticos sobre Política, objetivando apreender todo o discurso ideológico
que envolve todo esse processo.
O que vem se observando ao longo desta pesquisa é que o cargo político é
tido como um instrumento de poder. Assim, a questão do público e do
privado muitas vezes se confundem. Pois o candidato eleito acredita que
obteve um poder para usar em benefício próprio: em alguns casos ele tem
um cargo público, que deveria visar o bem comum, mas que isso não ocorre.
Exemplo que pode ser visto na construção de um espaço de lazer privado
construído no município. Ou no próprio eleitor, que acredita que
determinadas benfeitorias são provenientes da figura carismática do
candidato, ao invés, de sua obrigação política.
Torna-se importante destacar que a política partidária de Angicos não está
ligada diretamente ao partido, mas sim, ao ―lado‖, que é definida pelas cores,
uma linha que vem sendo seguida há muitos anos. Atualmente as principais
disputas estão entre as cores vermelha e verde. Analisando a história local,
pode-se afirmar que essa prática teve uma grande representatividade na
época de Aluízio Aves (filho da terra), este introduziu no estado do Rio
Grande do Norte uma forma de fazer política que predominou fortemente no
interior e que perdura até os duas atuais, mesmo que não seja tão
fortemente como antes. Sempre que há uma nova administração, o gestor
muda as cores da maioria dos prédios públicos, de acordo com o ―lado‖ em
que está. Fato que fica bastante evidente no prédio da prefeitura.
Outra questão relevante diz respeito a uma certa prática coronelista.
Destaca-se aqui que o Coronelismo não diz respeito ao observado durante a
República Velha (1889-1930) que é analisado por Nunes Leal (2006), pois
as práticas políticas tomam transformações ao longo do tempo e espaço,
possuindo configurações específicas. De qualquer maneira, é possível
observar no município de Angicos esse exercício político sob determinada
forma, pois existe uma relação de poder ligada ao prestígio social
intrinsecamente relacionada ao fator econômico. Nesse sentido, tem-se
notado que a grande maioria das pessoas entrevistadas não está
preocupada com o bem comum, no público ele vota em troca de emprego,
de uma casa, de alimentos, ou qualquer outro tipo de ―auxílio‖. É então, que
surge o espaço para que os representantes políticos façam uso das práticas
coronelistas, das trocas de favores. Dessa forma, há uma falta de
posicionamento crítico em relação à política por parte do eleitorado e um
exercício de dominação por parte dos representantes políticos.
Todas as informações aqui apresentadas consistem em reflexões prévias,
por se tratar de um trabalho inicial. Mas ao longo dos dados obtidos, vemos
que existe uma forte relação entre ocupação de um cargo político, aquisição
de poder e troca de favores. Há por trás de toda essa prática, uma tentativa
por parte dos dominantes de manter determinadas oligarquias no comando
da política local. Ou seja, percebemos elementos constituintes do
199
coronelismo na configuração política no município aqui referenciado que ao
longo da realização dessa pesquisa, poderão melhor ser aprofundados.
REFERÊNCIAS
GOLDMAN, Marcio. Como funciona a democracia: uma teoria etnográfica
da política. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime
representativo no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 3º ed.
PALMEIRA, Moacyr; BARREIRA, César (orgs.). Política no Brasil: visões
de antropólogos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006.
09 EDUCAÇÃO ESPECIAL: UMA ANÁLISE PARCIAL DAS ESCOLAS
PÚBLICAS DA CIDADE DE CAICÓ-RN
Kelly Cristina Silva de Brito
Graduanda em Ciências Sociais (UFRN)
[email protected]
Introdução: A ação educacional inclusiva visa à transformação de uma
sociedade mais justa, valorizando a integração, indistintamente, de todos os
cidadãos, e uma participação eqüitativa na melhoria das condições de vida.
Ela envolve um processo com inúmeros impasses e resistências,
relacionados a uma prática educacional historicamente segregacionista,
geradora de exclusão, que, ao invés de buscar melhorias sociais insistia na
discriminação e na exclusão de indivíduos com necessidades especiais
(GOMES, 2005).
Devido a essa forma de pensamento minimizado a sociedade tende a
subjugar aqueles que não se enquadram na mesma perspectiva da maioria,
visando essa reação foi criada e sancionada do art. 60 da Lei no 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que trata sobre a inclusão da educação especial
nas instituições regulares de ensino. Tomando como base as noções
básicas de educação que diz que toda criança deve freqüentar uma
instituição regular de ensino, a adaptação destas para o recebimento de
alunos com necessidade especiais se torna cada vez mais evidente.
O Ministério da Educação orienta a organização dos sistemas educacionais
inclusivos, que supera a organização de sistemas paralelos de educação
especial, investindo na articulação entre a educação regular e a educação
especial. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, de 2008, traduz em seus objetivos e diretrizes essa
orientação, ou seja, a garantia do acesso à escolarização na sala de aula
comum do ensino regular e a oferta do atendimento educacional
especializado complementar, aos alunos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades / superdotação. (MEC/2008)
Segundo o Ministério da Educação, a escola sujeita as adaptações para o
recebimento desses alunos, devera se mostrar preparada, possuindo mais
estrutura para o profissional e o desenvolvimento social dos alunos, tendo
também acompanhamento de profissionais especializados atentos ao
200
atendimento de alunos e professores, por isso se vê necessário não
somente uma adaptação do corpo acadêmico, mas também de toda a
estrutura escolar, como está descrito no art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996.
Baseada nesses dados, espera-se que a escola, ao oferecer oportunidades
para alunos com necessidades especiais, informe-se e oriente-se com
profissionais especializados da Educação e da Saúde sobre as
especificidades e instrumentos adequados para que o aluno encontre ali um
ambiente adequado e que lhe proporcione o maior e melhor aprendizado
possível. (RAMOS E ALVES)
Tendo essa política de protecionismo educacional o estudante com
necessidades especiais vê uma nova forma de encarar o processo de ensino
pedagógico, porem visando tornar a aplicação desse estudo mais claro e
conciso, nos desapegando da teoria imposta pelo Ministério da Educação,
voltaremos nossos olhares para a pratica do ensino nessas instituições, que
segundo o decreto deveriam ter suas estrutura modificada para o
recebimento dos alunos.
A realidade vivenciada na cidade de Caicó – RN, onde tais mudanças e
objetos de adequação do ensino não fazem parte da grande maioria das
instituições de ensino lá existentes, carregando o estigma da falta, as
escolas do interior do estado do Rio Grande do Norte, se mostram
incapacitadas ate para receber os alunos regulares da rede de ensino,
esquecida pelo programa de adequação do MEC, elas se mostram
incapazes de adaptar sua grade curricular para o recebimento de alunos
com necessidade de ensino especial.
Baseando-se nos fatos apresentados nas instituições de ensino, as
dificuldades de adaptação, formação de profissionais e estrutura do próprio
prédio; percebe-se que a implantação desse projeto na realidade acadêmica
é um pouco mais complexa do que a imposta pelo Ministério da educação, já
que nela não estão apenas os alunos envolvidos, mas todos os profissionais
que trabalham na área da educação.
Com a aparente negligência educacional apresentadas por algumas escolas,
elas se vêem incapazes de se adaptarem as normas do MEC que dizem
respeito a educação especial, através da pesquisa campo, com caráter
exploratório, pode-se enxergar as dificuldades enfrentadas pelas instituições
de ensinos e sua coordenação, a má preparação dos docentes e a ineficácia
da secretaria de educação na busca de melhoras da educação especial, são
um dos fatores mais graves no defasamento do ensino.
Justificativa: Segundo o MEC, a inclusão de alunos com necessidades
especiais está sendo feita de modo que seja pensada não a deficiência do
aluno, mas sim os espaços a serem ocupados por estes, tendo o todo o
material desenvolvido voltado para sua educação, sendo este com
direcionado para que o aluno dito como excluído seja integrado ao grupo
como participante ativo das atividades acadêmicas. Na era em que as
transformações das estruturas curriculares se mostram cada vez mais
evidentes o ministério da educação transmite as escolas a missão de
transformarem sua realidade caminhando assim para uma lado mais social,
onde a escola deve se adaptar ao aluno, não o aluno a escola.
201
No Censo realizado pelo MEC em 2008, indicou que 54% dos alunos com
deficiência já estavam matriculados na rede de ensino publica do país o que
acabou ganhando destaque como uma forma de mostrar que os
responsáveis pela escola buscam que esse complemento acadêmico. Esse
processo que implica a luta pelo direito a diferença marcado pelos
regimentos dirigidos as instituições de ensino, transforma a escola na
principal ferramenta para a inclusão social.
Fundamentada pela lei apresentada pelo ministério da educação e motivada
por motivos de observação cognitiva, admito a devida importância
direcionada para pratica da educação especial em alunos do ensino médio
na cidade de Caicó, usando como objeto de estudos as três maiores
instituições de ensino publico da cidade, a Escola Estadual Calpúrnia Caldas
de Amorim; o Centro Educacional Jose Augusto e a Escola Estadual Antonio
Aladim, sendo estás referencia em ensino publico na cidade de Caicó, será
observado a estrutura da escola, os pontos principais abordados em seu
projeto político pedagógico e se este detém de alguma forma uma
mobilização para as melhoras de acessibilidade e implantação da lei.
Recorrente a esta analise, será realizada uma visita a secretaria de
educação referente as escolas da cidade onde respostas mais
esclarecedoras referente a questão da educação para jovens com
necessidades especiais.
Partindo da idéia que o processo de educação e adaptação dos órgãos
escolares se torna algo de suam importância para o meio acadêmico, trago
de forma serie e sucinta a seguinte questão, por que no interior do estado do
Rio Grande do Norte a adaptação do estudo para jovens com necessidade
especiais ainda se encontra em estagio de experimento, ate então por dados
levantados nas referidas escolas, entre elas existem poucos profissionais
preparados para realizar a referida demanda. Tomando como base esses
principais questionamentos, procuraremos não agir de forma investigativa,
mas buscas nessa determinada região do estado a realidade vivenciada
pelas instituições de ensino.
Metodologia: Para efetivação dos objetivos propostos, a pesquisa será
realizada através de estudo descritivo exploratório de método quantitativo e
qualitativo, o qual as formas de abordagem será realizada nas escolas sobre
o ensino da educação especial em alunos de ensino médio.
Para alcançar o objetivo proposto serão realizadas visitas aos respectivos
campos de ensino, nas escolas citadas no projeto, onde haverá não só um
levantamento base da estrutura apresentada pela escola para atender
alunos com necessidades especiais, como também apresentará as
principais dificuldades que esta encontra para conseguir incluir esse tipo de
adequação na grade curricular.
Com o material recolhido será analisado sob metodologia quantitativa e
qualitativa para serem apresentados em forma de tabelas e de forma
descritiva.
Conclusão: Constatamos em analises preliminares que 54% dos alunos já
estavam matriculados na rede publica do país. Consideramos a luta pelo
direito a diferença marcado pelos regimentos dirigidos as instituições de
ensino, transforma a escola na principal ferramenta para a inclusão social.
Fundamentada pela lei percebemos indícios avanços na pratica de inclusão
202
na educação especial na cidade de Caicó, especificamente em três maiores
instituições de ensino médio, a Escola Estadual Calpúrnia Caldas de
Amorim; o Centro Educacional Jose Augusto e a Escola Estadual Antonio
Aladim.
REFERENCIAS
CANDAU, V.M. Direitos humanos, educação e interculturalidade as
tensões entre igualdade e diferença, São Paulo, 1996.
CARNEIRO, C. T.; MARQUES, L. P.; ANDRADE, J. S.; MARTINS, N. T.;
GONÇALVES, R. M. Analisando as pesquisas em educação especial no
Brasil. Disponível em:
GOMES, C. Necessidades educacionais especiais: concordância de
professores quanto à inclusão escolar. Temas sobre Desenvolvimento, São
Paulo, v. 14, n. 79, p. 23-31, 2005.
LIMA, P.A. Educação inclusiva e igualdade social. São Paulo: Avercamp,
2006.
MENDES, E. G.; ALMEIDA, M. A.; WILLIAMS, L. C. A. (Org.) Temas em
educação especial: avanços recentes. São Carlos: EdUFSCar, 2004.
PADILHA, A. M. L. Práticas educativas: Perspectivas que se abrem para a
Educação Especial. Disponível em:
RAMOS, A. S.; ALVES, L. M. A fonoaudiologia na relação entre escolas
regulares de ensino fundamental. Disponível em:
10 A ESTRELA DO SERTÃO: O feminino encontrado em Macabéa
Kenia Almeida Nunes(UFRN)
―O que é ser um homem? O que é ser uma mulher?‖ (GIDDENS, 2005, p.
102). As mudanças que são colocadas ao sexo se deparam com algumas
complicações, devido às diferenças sexuais terem uma grande influência
sobre a vida dos indivíduos, onde normalmente sequer percebe-se, pois
essa influência se configura em pequenas ações que ocorrem no desenrolar
cotidiano. ―Socialmente reproduzimos - fazemos e refazemos - o gênero em
milhares de pequenas ações no decorrer da vida‖ (2005, p.102), e assim
fazendo com que se produza e reproduza uma verdade tida como única
sobre o sexo e consequentemente sobre o gênero, categoria esta que paira
sobre a visão de produto do que se diz que o sexo é.
Essa ―verdade‖ de que existem dois corpos diferentes radicalmente e, que
devido a isto as explicações acerca dos comportamentos dos gêneros serem
diferentes estarem nesses corpos, necessitou empreender uma luta contra
outra visão sobre os corpos na renascença, o isomorfismo. O isomorfismo
pregava a existência de um único corpo, ou seja, o corpo da mulher era igual
ao corpo do homem, concebendo dessa forma a vagina como sendo um
pênis invertido, com isso a idéia central desse modelo era de continuidade
entre os sexos e não de oposição. Havia um único sexo e pelo menos dois
sexos sociais com direitos e obrigações distintos. E, a partir disso temos na
concepção de Berenice Bento:
203
Antes de nascer o corpo já está inscrito em um campo discursivo
determinado. Ainda quando se é uma ‗promessa‘, um devir, há um conjunto
de expectativas estruturadas numa complexa rede de pressuposições sobre
comportamentos, gostos e subjetividades que acabam por antecipar o efeito
que se supunha causar (BENTO, 2006, p. 87).
A história do corpo não pode ser separada ou deslocada dos dispositivos de
construções do biopoder. O corpo é um texto socialmente construído, um
arquivo vivo da história do processo de produção-reprodução sexual
(BENTO, 2006, p. 87).
Autores como Judith Butler (2003) e Berenice Bento (2006) travam uma
discussão sobre as relações de gênero buscando demonstrar que não há
uma categoria de mulher homogenia e estável. Ora, a cultura que cria em
conjunto com as manifestações e ações dos sujeitos é passível de
mudanças, e o gênero que é construído e mantido pala cultura também se
configura em ser maleável, sendo que toda e qualquer estrutura construída
culturalmente só é passível de mudanças no momento que os sujeitos as
questione e lute para que ocorram mudanças. A categoria mulher não
representa o que alguém é, pois dentro dessa categoria há outras noções
constitutivas pelas estruturas como raça, classe, religião, etnia. ―Resulta que
se tornou impossível separar a noção de ‗gênero‘ das interseções políticas e
culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida‖ (BUTLER,
2003, p. 20).
São as estruturas como raça, classe, etnia, religião dentre outras, que
produzem novas noções do que é ser mulher, em outras palavras, a idéia de
mulher não é algo para ser pensado de forma generalizante. E, embora se
questione determinadas ações dentro do que é mulher, há construções
fortes, que agem como uma marca, como algo natural. Essa é uma visão
decorrente da incorporação de um habitus construído sobre alicerces fortes
para não serem quebrados tão facilmente (BOURDIEU, 2003). ―A construção
da identidade de gênero é um processo de longa e ininterrupta duração‖
(BENTO, 2006, p. 95). Isso ocorre em primeiro caso através da estruturação
das disposições duráveis (porque é anterior ao indivíduo e não construído
por ele) na socialização primária, o que Bourdieu denominará de habitus.
Vejam-se:
Ainda que Bourdieu ao propor o conceito de habitus não o faça vinculando-o
diretamente à produção de gênero, parece-me possível falar de um ‗habitus
de gênero‘, construído na socialização primária, encontrará nas instituições
familiares, escolares e religiosas os responsáveis por este processo de
reprodução das verdades que, pouco a pouco, vão se naturalizando e sendo
incorporadas (BENTO, 2006, p.96).
A mulher traz em si uma longa história de obstruções e repressão diante de
pensamentos conflitantes, que se emaranham para além do ―que é ser
mulher‖ . Dessa maneira, a mulher não é uma categoria generalizante, a
mulher são categorias que se fixam e se fundamentam a partir das relações
sociais. Em outras palavras, é no desenrolar e na ação em determinadas
situações que a idéia de mulher foi sendo construída. É a partir dessa idéia
diversificada do que é ser mulher, que esse trabalho se dará. Será através
de uma relação de análise entre a Sociologia e a Literatura, que se tentará
fazer uma investigação teórica e bibliográfica. Para isso será utilizado a obra
204
literária A hora da estrela de Clarice Lispector, no intuito de trabalhar sobre a
construção do feminino do sertão nordestino, já que ela se utiliza da
personagem de Macabéa como um retrato de uma visão de mulher
nordestina, a qual por muitas vezes se encontra incorporada em diversos
discursos propagados pela mídia falada e escrita, o que acaba se fixando
nas mentes daqueles que pensam o sertão nordestino.
A obra literária A hora da estrela de Clarice Lispector deixa aos olhos e
ouvidos de quem a lê uma imagem da mulher presente no sertão nordestino.
Fazendo surgi dessa maneira, questões a serem pensadas, verificadas e
dissertadas sobre essa imagem percebida na obra. Então, de que forma se
apresenta a construção da personagem Macabéa no livro? Qual a relação
entre espaço (Nordeste) e gênero na produção da imagem feminina
presente no sertão nordestino, representado na obra? Ora, a categoria
gênero é fonte de uma série de difusões de idéias que produzem o que é ser
homem e o que é ser mulher. E nesse emaranhado de idéias há também
uma série de outras construções que incidem sobre cada um dos gêneros,
sendo que essas construções que se fixam nos corpos através de uma longa
história, são tratadas aqui como uma produção do feminino através da
relação entre espaço e gênero, ou seja, a mulher sertaneja é pensada como
produto do esquadrinhamento que o espaço e o gênero em conjunto
produzem, construindo corpos homens e corpos mulheres com base em
categorias espaciais, como por exemplo, o sertão nordestino, que será aqui
tratado como um espaço de construção de uma realidade de gênero, o
feminino sertanejo. Sendo visto o feminino sertanejo presente na
personagem Macabéa, sob diversos ângulos, apresentando-se na seguinte
hipótese: como produto de seu encontro ou da relação como um outro. E
esse outro se apresenta no livro através de dois personagens, a Glória (loira,
farta de carnes, carioca e etc.) o avesso de Macabéa (pobre, feia, amarela,
―assexuada‖, analfabeta, nordestina e etc.), aquela é vista como a mulher
moderna e urbana e, a Macabéa personagem sertaneja pensada como o
outro da personagem carioca Glória. Ou ainda, Macabéa como o outro do
macho, transfigurado no personagem de Olímpico, um homem brabo do
sertão da Paraíba. ―Olímpico era macho de briga‖, e Macabéa é produto
inverso da força masculina sertaneja, o que lhe dá status de mulher
submissa em relação ao homem detentor da força que protege aquela que é
passível de proteção. O principal problema desse trabalho está na forma
como é produzida essa imagem de feminino no sertão nordestino, uma
construção que mantém relação direta com as categorias espaciais, que em
conjunto com as categorias de gênero produzem uma idéia de feminino
presente no sertão nordestino dentro da obra literária.
Afinal, o Nordeste é uma invenção (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1999), e
sendo assim a mulher do sertão nordestino também o é? E como pensar
essa invenção? O Nordeste não representa uma existência natural, algo que
sempre existiu da forma como se concebe, na verdade existe toda uma série
de discursos políticos por trás dessa idéia que paira no senso comum. O
Nordeste é uma construção social, logo não está situado fora da sociedade
e, nem muito menos é um acontecimento que ocorre ou se encontra fora da
história. A noção de região é sempre ligada diretamente a uma divisão
natural de espaço, mas embora aja essa concepção bem fundada nas
205
mentes, é necessário pensar que região está diretamente ligada às relações
de poder, pois a visão estratégica desse espaço leva a um recorte analítico
que envia o sujeito a um espaço sob o domínio de um discurso que
comanda todo o pensamento, ou seja, o esquadrinhamento do espaço
produz certo tipo de saber. Dessa forma, o Nordeste faz parte de um campo
de discurso que o aprisiona como um espaço que produz relações afetivas
com maior intensidade, e que também se encontra às margens da influência
do capitalismo, pois nesse discurso ele é fundado em experiências précapitalistas. A ―região nos põe diante de uma política de saber, de recorte
espacial das relações de poder‖ (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1999, p.25). E
é em paralelo a essa visão de Nordeste construído, inventado que se põe a
visão do feminino aqui exposto a ser pesquisado e estudado teoricamente.
Em o livro A hora da estrela, a personagem Macabéa respira e transpira uma
visão de mulher do sertão nordestino: pobre, feia, suja, analfabeta,
submissa, amarela, ―assexuada‖ dentre outras características, as quais nem
ela mesma sabia, mas que a coloca sem encanto, infeliz, incompetente. Ela
não era uma flor, ela era capim. Desse entrelaçamento de características
doado e fixado nos corpos e nas mentes daqueles que pensam sobre o
Nordeste e sobre a nordestina através do esquadrinhamento do
pensamento, é que parte esse trabalho, como o objetivo de pensar sobre os
poderes que constrói essa imagem do feminino no sertão nordestino,
desnaturalizando-a, problematizando a sua invenção através da Literatura,
representada aqui como um discurso produtor de realidade e, ao mesmo
tempo produzidos em determinadas condições históricas. O que me
interessa com esse trabalho sobre a idéia de mulher nordestina fixada no
sertão é entender como funcionam e a serviço de que relações de poder se
produzem essa imagem do feminino. Não se trata de buscar uma verdadeira
representação do que é a mulher nordestina, mas tentar entender a
produção dessa mulher, que se encontra no sertão nordestino, e como ela
funciona, seja dentro ou fora de suas fronteiras.
11 - CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS NA SESAP/RN
Raimunda de Medeiros Germano
e-mail: [email protected]
Lenina Lopes Soares Silva
e-mail: lenina @natal.digi.com.br
Thalita da Silva Costa
e-mail: [email protected]
Introdução: O desenvolvimento tecnológico e a irrupção de doenças
epidêmicas têm exigido da administração pública, especialmente em países
como o Brasil, investimentos em políticas públicas de saúde. Estas políticas
muitas vezes efetivadas em forma de campanhas sazonais tentam minimizar
os impactos das transformações sociais e econômicas ocorridas nas
sociedades, em particular a demanda por atendimento e melhorias no
206
campo da saúde, intensificadas pela divisão social e técnica no mundo do
trabalho e pela crescente incorporação de tecnologias sofisticadas no
atendimento da saúde. Tudo isto, vindo aliado à diversificação e à
especialização dos profissionais dos serviços da saúde, tem provocado
preocupações em relação aos recursos humanos, no tocante não apenas ao
treinamento e aperfeiçoamento de servidores da área, mas também à
preparação e formação permanente. Todas essas transformações são
geradoras de necessidades que requerem profissionais cada vez mais
capacitados e preparados para lidar com novos instrumentos técnicos e
tecnológicos.
Este trabalho resulta de um estudo diagnóstico das capacitações, cursos e
eventos promovidos, organizados e apoiados pela Secretaria de Estado da
Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte (SESAP/RN), no ano de
2006, bem como das participações de seus profissionais em eventos e
cursos. O estudo integra a Agenda de Pesquisas do Observatório de
Recursos Humanos em Saúde, do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva,
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NESC/UFRN) e foi
desenvolvido por pesquisadores vinculados ao NESC.
No sentido de atender ao objetivo fundamental do estudo buscou-se mapear
as informações, no sentido de fornecer dados para a implementação de uma
política de capacitação de recursos humanos na área da saúde.
Os estudos preliminares apontaram para que se questionasse sobre a
fragilidade gerada pela falta de uma política de capacitação de recursos
humanos em saúde, na SESAP/RN e também sobre a não existência de um
plano institucional de capacitação de pessoal colaborando para a promoção
de capacitações de forma fragmentada e pontual? A pesquisa desenvolveuse através de estudos sobre capacitação de recursos humanos em saúde,
em Santana (2006); Castro (2006; 2007); Cavalcante (2007); Ceccim (2005)
e Castro e Santana (1999) entre outros. A análise documental e reuniões na
Coordenação de Recursos Humanos da SESAP/RN, de julho a dezembro de
2007, bem como uma coleta de dados na SESAP/RN sobre eventos e
cursos formaram a base empírica da pesquisa. Os dados foram tratados
quali/quantitativamente e foram discutidos à luz dos estudos que
fundamentaram o projeto.
Resultados e Discussões: Os resultados apontam as áreas nas quais
houve maior e menor concentração e participação de profissionais em
eventos, sinalizando para a emergência de um plano institucional de
capacitação efetivo e contínuo de recursos humanos na SESAP/RN.
Recomenda-se observar, no entanto, que na capacitação de recursos
humanos de saúde são inseridos aspectos diversificados de natureza social,
cultural, técnica, científica e tecnológica para a inserção dos servidores às
novas necessidades institucionais e administrativas de acordo com a
literatura consultada. Sendo assim, sugere-se que os planos e políticas
207
devem ser projetados tendo como parâmetro o avanço na formação dos
profissionais de todos os níveis de escolaridade, objetivando-se não apenas
a capacitação, mas formação avançada, treino e aperfeiçoamento
qualificados em nível superior e médio. Assim, no Brasil nos últimos anos,
algumas políticas governamentais de incentivo à formação profissional em
saúde vêm se destacando, dentre as quais o Projeto de Profissionalização
dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE) que foi implantado
entre 1999-2000 e a Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS:
caminhos para a Educação Permanente, em 2003 (BRASIL, 2006). Esta
última visa implementar estratégias de formação, atenção, gestão,
formulação de políticas e participação da sociedade nas decisões do setor
saúde, intensificando a formação dos profissionais dos serviços de saúde
através de práticas de ensino e de aprendizagem direcionadas ao
atendimento público em saúde. Observa-se que a SESAP/RN tem
participado ativamente dessa Política.
O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), a Associação Brasileira
de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), a Associação Brasileira
de Economia da Saúde (ABRES), a Rede UNIDA e a Associação Nacional
do Ministério Público de Defesa da Saúde (AMPASA), em 2005,
manifestando o compromisso pela saúde dos brasileiros reafirmaram seus
compromissos em defesa de ―uma agenda renovada e ampliada de
mobilização social, política e institucional pelos direitos fundamentais e pela
Saúde dos brasileiros.‖ Há no Manifesto, no item VI uma expressa
preocupação com a capacitação de pessoal conforme o que preconiza a
Reforma Sanitária Brasileira.
Hoje, mais do que nunca, é necessário resgatar os conceitos de
‗servidor público‘ e de ‗serviço público‘, desgastados nos anos 90,
para alargar e fortalecer as bases sociais do SUS. Urge o
estabelecimento de Plano de Carreira e de Cargos e Salários
para o SUS, com administração descentralizada e incentivos
inversamente proporcionais às vulnerabilidades sociais;
multiplicação das oportunidades de capacitação, progressão
funcional e educação permanente; proteção social do trabalho e
regulação dos vínculos laborais, eliminando todas as formas
precárias de emprego; adequação do aparelho formador e
regulação pública das especialidades a partir das necessidades
de saúde da população e do SUS; estabelecimento de
modalidades de cooperação entre trabalho profissional em saúde
e ações de entidades privadas não lucrativas, de caráter publico e
sob controle da direção do SUS e da sociedade civil, em benefício
da população, buscando por todos os meios evitar a
desvinculação
e
precarização
ocupacional.
(BOLETIM
INFORMATIVO DA REDE UNIDA Nº 52, 13/112/2005, grifo dos
autores).
208
Isto reforça o previsto na Constituição Brasileira de 1988: saúde como direito
numa perspectiva valorativa de atendimento público e estatal à cidadania;
consagrado na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e na legislação
que o regulamenta, bem como, nas políticas públicas para sua
implementação. É o caso da Política Nacional de Saúde atual que propõe
dentre outras diretrizes a capacitação dos diversos seguimentos que
compõem o SUS dentre os quais as Secretarias Estaduais de Saúde. Desse
modo, a partir dos achados deste estudo a SESAR/RN poderá iniciar a
implantação de uma política de capacitação para seus profissionais
sedimentada em dados concretos como aqueles que apontam os níveis de
escolarização de seus servidores sinalizados na pesquisa.
Considerações Finais: Ressalta-se que, da maneira como são
implementadas as capacitações na SESAP/RN são pouco resolutivas,
colaborando para que sejam promovidos e financiados eventos e cursos que
pouco contribuem para melhoria da formação dos profissionais e do
atendimento à saúde da população.
Aponta-se para a emergência da criação de um plano de capacitação de
pessoal ao mesmo tempo em que, fornece informações relevantes para a
implementação de uma política de capacitação de recursos humanos na
SESAP/RN.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Diretrizes operacionais dos Pactos pela Vida, em defesa do
SUS e de Gestão. Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Departamento
de Apoio à Descentralização, Coordenação-Geral de Apoio à Gestão
Descentralizada. – Brasília, 2006.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde. Cadernos RH Saúde. – v. 3, n. 1 (mar. 2006),m
Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
CASTRO, Janete Lima de; FORMIGA, Jacinta Maria Moraes Formiga;
VILAR, Rosana Lúcia Alves de (Orgs.). Política e gestão em saúde:
reflexões e estudo. Natal: Observatório RH NESC/ UFRN, 2006.
CASTRO, Janete Lima de; SANATANA, José Paranaguá de (Orgs.).
Capacitação em Desenvolvimento de Recursos Humanos de Saúde –
CADRHU. Natal: EDUFRN, 1999.
CASTRO, Janete Lima de (Org.) Gestão do trabalho no SUS: entre o
visível e o oculto. Natal: Observatório RH NESC/UFRN, 2007.
CAVALCANTE, Elisângela Franco de Oliveira. A educação no processo de
trabalho de enfermagem: o caso do hospital de ensino – Natal, RN. 99f.
Dissertação (Mestrado): Departamento de enfermagem – Programa de PósGraduação em enfermagem: Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
2007.
209
CECCIM, Ricardo Burg. Educação permanente em saúde: um desafio
ambicioso e necessário. Revista Interface comunicação, saúde, educação,
v.9, n. 16 p.161-17, set. 2004/fev.2005.
REDE UNIDA: www.redeunida.org.br/inrede/inreden54.
SANTANA, José Paranaguá de. A função de desenvolvimento de recursos
humanos do INAMPS/MPAS. Cadernos RH Saúde. – v. 2, n. 1 (0ut.dez.
1986), Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2006.
12 O CONCEITO DE DEMOCRACIA COMO VALOR UNIVERSAL NA
OBRA DE CARLOS NELSON COUTINHO
Leonardo Guedes Lins(UFRN)
(Resumo Expandido não disponibilizado pelo autor para publicação)
13 A IMAGEM DO OUTRO: o consumo da revista Contigo! pelo público
feminino
Marlla Suéllen de Melo Dantas (UFRN)
(Resumo Expandido não disponibilizado pela autora para publicação).
14 PROSTITUIÇÃO MASCULINA: As relações afetivo-sexuais entre
michês e suas clientes na cidade de Natal
Mikelly Gomes da Silva
(Graduanda Ciências Sociais-UFRN/bolsista PET)
A cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, de lindas praias e noites
confortáveis é uma das principais atrações turística nordestina, o fluxo de
pessoas a passeio por Natal é alto, férias, carnaval enfim a cidade é boa
para quem quer descansar assim como para quem procura diversão.
Pesquisas e reportagens apontam o sexo como um elemento inerente a
atividade turística, mas atividade sexual na cidade não se restringe a
população flutuante.
A prostituição masculina embora mais velada que a feminina se faz presente
na cidade, bares, boates, saunas entre outros são encontrados em jornais e
publicidades na internet como território definidos para socialização de
homens e mulheres que procuram pelo serviço. Mas o que é prostituição? A
prostituição é normalmente chamada da mais antiga profissão do mundo
―Comércio habitual das relações sexuais; uso degradante do corpo;
210
desmoralizar; sacrificar a sua honra‖ (AMORA, 1998). Enfim, consiste em
oferecer prazer sexual em troca de remuneração, porém, o termo tem
mudado, agora chamamos de mercado do sexo, e nesse ―jogo‖ de prazeres
nem sempre o dinheiro é a moeda de ―troca‖, hoje mediadas por trocas
simbólico-materiais.
A prostituição como vimos nasce com o surgimento das grandes cidades, o
modelo judaico-cristão de família monogâmica e do conceito de
normalização da fidelidade. É na figura da prostituta onde a sexualidade
insubmissa pode acontecer associada às representações da impureza, da
sujeira sexual, ―Boca de Lixo‖ , e é nestes locais onde homens vivem os
prazeres irrealizáveis, as fantasias e desejos ―proibidos‖ no território do lar. E
a mulher onde os seus desejos são realizados? O sexo na sociedade
moderna sofre sanções, vive sobre o encalce da punição dos corpos e sob
vigilância da sociedade, e é neste quadro que a prostituição o ―prazer pago‖
sucinta degradação e desmoralização.
O sexo e a sexualidade têm sido bruscamente vigiados, censurados e
reprimidos pela sociedade moderna, segundo Foucault (1998) a sociedade
capitalista tem imprimido uma vontade de saber sobre a sexualidade, como
instrumento fundamental de controle do indivíduo. Produz uma sexualidade
não apenas ―normal‖ heterossexual, familiar, mas figura do desviante sexual
seja ele mastubador, pervertido, homossexual ou garoto de
programa/michê/prostituto.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu, em sua obra ―A dominação masculina‖,
deixa claro como o comércio do sexo continua a ser estigmatizado, tanto na
consciência comum quanto no Direito, que literalmente excluí que as
mulheres possam escolher dedicar-se à prostituição como um trabalho. ―Ao
fazer intervir o dinheiro, certo erotismo masculino associa a busca do gozo
ao exercício brutal do poder sobre os corpos reduzidos ao estado de objetos
e ao sacrilégio (...)‖ (BOURDIEU, 2003, p.26).
Mas, se as mulheres são excluídas do direito de escolher e dedicar-se à
prostituição como trabalho, o que dizer quando são elas a procurarem por
este serviço? Como diz Bourdieu, a divisão entre os sexos parece estar ―na
ordem das coisas‖, como se diz por vezes para falar do que é normal,
natural, a ponto de ser inevitável. Mas no universo masculino sua virilidade é
colocada à prova em ―bons momentos‖, uma armadilha que encontra sua
contrapartida na tensão e contensão permanentes que impõem uma
afirmação em toda e qualquer circunstância, na medida em que ele tem um
coletivo submetendo-se às exigências permanentes na ordem simbólica, na
realidade um ideal. A virilidade compreendida como capacidade reprodutiva,
sexual e social, e também como capacidade ao combate e ao exercício da
violência.
Baby!
211
Dê-me o seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você
Minha profissão é suja e vulgar
Quero pagamento para me deitar
Junto de você estrangular o meu riso
Dê-me seu amor que dele não preciso...
(Garoto de aluguel- Zé Ramalho)
Durante muito tempo a atividade sexual foi limitada discursivamente a
função reprodutiva. Na modernidade o sexo deixa de ter como função
eminente a reprodução da espécie para se tornar fonte de prazer que
envolve sentidos antes ignorados como gostos, afetos, sonhos, gestos,
humor, tristezas enfim fantasias e desejos antes reprimidos pela sociedade.
O interesse pelo seguinte tema, prostituição masculina, surgiu após assistir
ao evento denominado ―Semana de gênero, sexualidade, identidade e
homossexualidade‖ realizado pela base de pesquisa Gênero e Sexualidade,
coordenada pelo professor Carlos Guilherme do Valle, na UFRN no início do
ano de 2008, onde as expositoras em comum consenso abordaram o
turismo sexual e prostituição sob discurso feminino. A fim de identificar o
perfil destas mulheres e os motivos pelos quais levaram a esta função/
profissão.
Então me veio à pergunta, e o homem não faz parte deste universo? O
homem só se serve desta mulher (prostituta), ou também é servido enquanto
prostituto? Senti falta da academia a qual pertenço o interesse pela pesquisa
do tema, diante desta ausência decidi percorrer este universo masculino tão
pouco explorado. Diante disto, se faz necessário identificar as
representações que a prostituição masculina suscita a partir das seguintes
perguntas: Quem são esses prostitutos? O que o levou fazer do seu corpo
objeto de trabalho sexual? Necessidade (física, biológica, financeira), prazer
(físico psíquico) ou desejo (imaginação, simbolização). Para que com essas
possa identificar o perfil destes homens.
O estudo propõe aprofundar a compreensão sobre as relações afetivosexuais estabelecidas entre esses agentes no contexto do mercado do sexo
na cidade de Natal. O corpo e as relações sexuais como fato sociológico do
produto sexual.
A temática gênero é muito abrangente, se faz necessário um recorte,
inclusive metodológico, os trabalhos sobre prostituição parecem sempre
apresentasse através do discurso feminino, como se esta fosse uma prática
absolutamente feminina,e quando se fala em prostituição masculina tendese a pensar no corpo masculino através dos travestis (VITELLO,2001). Mas
homens também usam os seus corpos como ―mercadoria‖, eles também
212
recorrem ao financeiro, psíquico, o prazer, o simbólico para que os outros
usufruam do seu corpo.
O trabalho trará um olhar etnográfico em especial, idas a campo para
observação de perfil físico tanto de homens quanto de mulheres, mas
quando se procura traçar o perfil, revelar uma construção do masculino se
faz necessário delimitar uma proposta teórica para que possamos através
dela ter fundamentos para averiguar como esse ato (prostituição) é
significado por eles.
Autores como Perlongher e Parker se mostram interessantes a medida que
estudam a cultura sexual, a prostituição em suas variáveis, corpo, prazer,
―sexo pago‖. Perlongher (1987) traz sobretudo a imagem do prostituto viril
para diferenciar esta variante de prestação de serviços sexuais em troca de
uma retribuição econômica, de outras formas vizinhas de prostituição
homossexual, tanto da exercida pelo travesti, quanto de outros dois gêneros
francamente minoritários: homossexual efeminado que vende o seu corpo
(chamado michê-bicha) e um tipo de transição, que parece estar emergindo
ainda timidamente: o michê-gay.
O termo michê tem dos sentidos. Um alude ao ato mesmo de se prostituir,
sejam quais forem os sujeitos desse contrato... Numa segunda acepção, o
temo michê é usado para denominar uma espécie sui generis de cultores da
prostituição: varões geralmente jovens que se prostituem sem abdicar dos
protótipos gestuais e discursivos da masculinidade em sua apresentação
perante o cliente. (PERLONGHER, 1987, p.17).
A partir de Michel Foucault (1998), identificamos a sexualidade como
controladora do indivíduo e a priori é sob esta perspectiva que ele se fará
presente na pesquisa, trará todo o arcabouço histórico da história da
sexualidade identificando como os prazeres sexuais e a busca por um
verdadeiro sexo, um sexo absoluto caminhou até o presente século. A
atividade sexual como objeto de uma preocupação moral, o indivíduo sendo
levado a se reconhecer como um sujeito moral da conduta sexual. Foucault
analisa as práticas pelas quais os indivíduos foram levados a prestar
atenção a eles próprios, a se decifrar se conhecer e confessar-se como
sujeitos de desejos, onde possam descobrir no desejo a verdade do seu ser.
O indivíduo, durante muito tempo, foi autenticado pela referência dos outros
e pela manifestação de seu vínculo com outrem ( família, lealdade, proteção)
; posterior passou a ser autenticado pelo discurso de verdade que era capaz
de ( ou obrigado a) ter sobre si mesmo. A confissão da verdade se inscreveu
no cerne dos procedimentos individualização do poder. (FOUCAULT, 1988,
p. 67).
Em Badinter (1993) será atribuído a pesquisa uma perspectiva relacional.
Ela trará para a pesquisa um olhar sob a identidade masculina, respondendo
que homem é esse, a fim de trazer embates teóricos da ―crise do masculino‖,
recorrerei a autora para identificar como a identidade de gênero interfere nos
213
efeitos da representação da prostituição. Assim como em Giddens (1993) o
tipo de sentimento que estes homens têm a oferecer as suas clientes
intercalando ou identificando estes sentimentos com os modelos de homens
que Badinter vai nos oferecer.
Pretendo também trabalhar com Francisca Souza Ilnar, ―O cliente: o outro
lado da prostituição‖, para incorporar na pesquisa os discursos deste cliente
sob análise prévia do discurso do michê.
Desta forma a pesquisa pretende identificar os motivos pelos quais esses
homens disponibilizam o seu corpo para práticas sexuais, a fim de analisar
quais as relações afetivo-sexuais estabelecidas entre estes e suas clientes
com objetivo de identificar o perfil destes agentes, refletindo que ao
construir-se a masculinidade a partir das práticas dos michês constrói-se
também (uma nova) feminilidade.
REFERÊNCIAS
BADINTER, E. XY: Sobre a identidade masculina. Tradução Maria Ignez
Duque Estrada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
FOUCALT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber, tradução
de Maria Thereza da Costa e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro:
Graal, 1998.
________. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres, tradução de
Maria Thereza da Costa e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal,
1984
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade. Tradução de Magda
Lopes. São Paulo: EDUNESP, 1993.
PARKER, R. Corpos, prazeres e paixões: A cultura sexual no Brasil
contemporâneo. São Paulo: Best Seller, 1991.
PERLONGHER, Nestor. O negócio do michê: a prostituição viril em São
Paulo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987.
SOUZA, Francisca Ilnar de. O cliente: outro lado da prostituição. Fortaleza:
Secretária da Cultura e do Desporto, 1998.
15 CAUSAS SOCIAIS DO NOVO MARRANISMO
Nestor Medeiros Filgueira Burlamaqui
Bacharel em Comunicação Social (UFRN)
Mestrando (aluno especial) do PPGCS-UFRN.
Em 1497 os judeus portugueses foram convertidos ao catolicismo, à força,
por um decreto real, como forma de tornar todo Portugal cristão, uma política
imposta pela coroa espanhola. Os judeus, inclusive, foram impedidos de
saírem do reino, sendo os portos fechados na ocasião, pois a saída de
214
tantos judeus de Portugal acarretaria um colapso econômico sério; e a
conversão forçada, juntamente com o fechamento dos portos resolveu essa
questão política entre Portugal e Espanha. A maioria desses judeus (a partir
de então conhecidos como cristão-novos), seria obrigada a freqüentar
igrejas e praticar demais atos cristãos, pois, ao serem batizados, mesmo que
forçadamente, teriam que cumprir as conseqüências desse batismo sob
pena de serem denunciados para a inquisição. Dessa forma, tais pessoas
passaram a ter um comportamento duplo, com uma vida privada, e secreta,
judaica e outra pública cristã. Iam à igreja, mas em casa recitavam as
bênçãos hebraicas. O fato é que muitos dos descendentes desses judeus
conseguiram finalmente sair de Portugal, e da rigidez inquisitorial, chegando
ao Brasil, e ajudando no processo de colonização do país logo nos primeiros
anos do século XVI.
Atualmente, mais de quinhentos anos após a conversão forçada dos judeus
ao catolicismo, algumas pessoas estão atualmente se reaproximando do
judaísmo como uma forma de adquirir a religião e a cultura de seus
antepassados judeus que foi esquecida, ao menos parcialmente, com o
passar dos séculos. Desde o início da historiografia do Brasil os
pesquisadores já sabiam a respeito da vinda dos cristão-novos portugueses
ao Brasil durante o período colonial, mas somente após recentes pesquisas
antropológicas – inclusive no Rio Grande do Norte – é que eles começaram
a constatar a existência de indivíduos que ainda praticavam vestígios de
uma cultura judaica, mas que não sabiam a respeito dessa origem. A
princípio, poderia se deduzir que a divulgação da ―nova origem‖ –
proporcionada por essas pesquisas recentes, aliadas ao poder de
divulgação de informações exercido pelos atuais meios de comunicação de
massa - fez com que o interesse sobre o assunto surgisse em algumas
pessoas, mesmo naquelas sem uma família com vestígios judaicos
evidentes. Porém, tais dados não explicam satisfatoriamente a existência
desse comportamento atual de aquisição de uma identidade judaica, ou do
que chamaremos aqui de novo marranismo. Afinal, saber que se descende
de judeus – mesmo que a plena certeza de tal situação nem sempre seja
possível – não significa que alguém irá querer tornar-se um deles. Mesmo
assim, eles clamam serem judeus ao mesmo tempo em que evitam uma
conversão formal junto às instituições judaicas oficiais, pois suas famílias
teriam carregado tal condição através dos séculos.
Alguns trabalhos tentaram elaborar uma explicação sobre o fenômeno, mas
se limitaram a relatá-lo sem pretensões de análises e, quando muito,
abordaram o pano de fundo histórico do marranismo sem aprofundar-se em
relação às suas causas sociais nos dias atuais. Logo, o objeto de nossa
pesquisa é justamente a análise das causas atuais de ordem social.
Para realizar tal empreendimento, primeiramente verificaremos, com base
em pesquisa bibliográfica e por meio de questionário, o que chamaríamos de
identidade atual dessas pessoas ou, em outros termos, qual sua autoimagem. Em seguida, analisaremos, usando o mesmo método, que tipo de
identidade judaica é essa que tais pessoas estão procurando, de forma a
realizar comparações entre as duas, pois esse tipo de atitude pode
representar um inconformismo em relação à sua atual situação diante da
sociedade ou, em outras palavras, à imagem social que carregam. Paralelo
215
a essa pesquisa, veremos qual a imagem do judeu na sociedade, supondo
que a identidade que essas pessoas buscam possui uma relação direta com
essa imagem, geralmente estereotipada, do que seria um judeu.
Como visto em trabalhos anteriores, é sabido que eles pretendem romper
com as leis judaicas atuais e serem reconhecidos como judeus pelos
próprios judeus mesmo sem possuírem autoridade dentro do judaísmo oficial
para isso, o que indica que eles não desejam ingressar dentro do mundo
judaico e tornar-se como eles, mas, ao contrário, desejam ser judeus
diferentes. Essas pretensões implicam efeitos tanto nas esferas sociais nãojudaicas quanto nas esferas sociais judaicas, pois ao adquirirem condição de
judeus eles diferenciam-se de sua identidade de nordestinos comuns,
situação que pode gerar conflitos dentro de seus antigos grupos sociais de
amigos, familiares etc. Também se tornam diferentes dos próprios judeus ao
adotarem um título de diferenciação (marranos) e ao possuírem
poder/direitos de ingressar no judaísmo sem consentimento deles. Assim,
trata-se de uma identidade única a ser analisada.
Logo, nos resta procurar o valor que essa identidade possui para tais
indivíduos ao ponto de exigirem tal reconhecimento social e se empenharem
nessa busca. Devemos verificar se o sentido de ser judeu é realmente esse
ou se há outros significados para eles.
Para realizar o levantamento do que seria o atual valor de ser judeu,
procederemos pela pesquisa bibliográfica em relação à imagem e ao
estereótipo judaico na sociedade brasileira e, em especial, na sociedade
nordestina, já que esse movimento ocorre principalmente nessa região;
também será verificado se tal movimento pode ser, ao menos, caracterizado
como algo real ou se seu aspecto – e aparente intensidade - restringe-se à
mera adoção de identidades situacionais, geralmente exibidas no ambiente
virtual das redes de relacionamento pela Internet.
Ao fim desse levantamento sobre os valores culturais e normativos
relevantes em relação ao caso, aplicaremos a teoria do comportamento
econômico, partindo da premissa de que os indivíduos agem de forma mais
econômica, para analisar os pontos positivos e negativos em relação ao
valor que a identidade judaica teria diante das preferências, necessidades ou
objetivos dos indivíduos envolvidos. Por exemplo, o sociólogo Bernardo Sorj
nos indica que a sociedade brasileira, apesar de ser um país racista, não
inclui os judeus na discriminação social, pois eles são considerados
integrantes da população branca e, consequentemente, vistos como a
parcela que pode contribuir com a ideologia do branqueamento da
população, segundo a qual a parcela negra, através da mistura racial, pode
passar a ser parte do mundo branco, melhorando seu status social. Dessa
forma, a aquisição – por parte de ―nordestinos miscigenados‖ – da
identidade social judaica seria simplesmente uma forma eficaz de ascensão
social? No entanto, há ainda a questão mais óbvia, a religiosa. O judaísmo –
junto com suas normas e simbolismos – seria mais adequado para essas
pessoas? O que o judaísmo ou o ―novo marranismo‖ pode oferecer para
elas?
REFERÊNCIAS
216
BONDER, Nilton; SORJ, Bernardo. Judaísmo para o século XXI. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
FILHO, Severino Barbosa da Silva. Marranos na ribeira do Paraíba do
Norte. Campina Grande: Gráfica Agenda, 2005.
KOLATCH Alfred J. Livro judaico dos porquês. São Paulo: Editora e
livraria Sêfer, 2001.
KOLATCH Alfred J. 2º Livro judaico dos porquês. São Paulo: Editora e
livraria Sêfer, 1998.
MEDEIROS, João Fernandes Dias. Nos passos do retorno. Natal: Edição
do autor, 2005.
NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida
privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
OLSON, Steve. A história da humanidade: desvendando 150 mil anos da
nossa trajetória através dos genes. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
WIZNITZER, Arnold. Os judeus no Brasil colonial. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1966.
16 - ESTUDANDO A SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NA CIDADE DO
NATAL: REFLEXÕES INICIAIS.
Thayanne Érica Torres de Assis
[email protected]
Ozaias Antonio Batista
[email protected]
Introdução: As reflexões deste trabalho estarão voltadas para o
aparecimento dos condomínios horizontais fechados como um fenômeno
urbano que interfere na constituição ―geoespacial‖ da cidade, uma vez que o
formato citadino vai se (re) configurando a partir do surgimento deste tipo de
moradia.
Essa modificação na constituição urbana gera uma série de implicações no
convívio social dos sujeitos, pois novos espaços restritos de sociabilidade,
gerados pela construção dos condomínios, são destinados a uma limitada
parcela da população.
Os embasamentos teóricos iniciais do presente estudo leva em
consideração os desdobramentos analíticos erigidos por D´ottaviano (2008)
em sua tese de doutorado. A mesma adotou como campo empírico a Região
Metropolitana de São Paulo, em especial o concernente ao aparecimento
dos condomínios residenciais fechados.
D´ottaviano se refere aos condomínios fechados como um tipo de moradia
acessível a pessoas de classe média, e não somente para indivíduos
possuidores de um alto poder aquisitivo.
Nesse sentido, a autora abordará constantemente aspectos voltados para o
fenômeno da segregação espacial. Separação esta não somente
relacionada com o plano físico – grades, muros, sistemas de segurança – ou
simbólico, através do status atrelado as condições de moradia. Mas também,
a segregação espacial como um processo que possibilita o domínio
econômico, político e social de uma determinada classe sobre outra, via
monopólio do espaço.
217
Esse domínio espacial pode ser visto na constituição dos diferentes bairros
de uma cidade. Geralmente na Zona Sul concentra-se moradores com alto
poder aquisitivo, enquanto na Zona Norte os indivíduos pertencem à classe
média-baixa.
Aspectos sócio-urbanos do Fenômeno dos Condomínios Fechados: As
barreiras simbólicas, impostas pelas condições econômicas, são importantes
para manter a aglomeração de uma mesma classe social em uma
determinada área da cidade. Assim, os ‗iguais‘ poderão se relacionar, e com
a manutenção de certo padrão de inquilino, o valor do imóvel continuará
rentável.
Porquanto, a autora afirma ser imprescindível, para o entendimento do
fenômeno da segregação espacial, explorar elementos relacionados com as
desigualdades sociais e econômicas, ―e a segregação residencial urbana‖
(D´OTTAVIANO, 2008, p. 53)
Os impedimentos físicos e simbólicos, impostos pelos condomínios
horizontais fechados, auxiliam na compreensão da desigualdade social,
porque as grades e muros separam os indivíduos espacialmente próximos,
mas distantes, em detrimento das diferenças econômicas e sociais.
O ―life style‖ (D´OTTAVIANO, 2008, p. 62), ‗modelo de vida‘ norte-americano
importado pelo padrão cultural brasileiro também pode ser caracterizado
como um aspecto de diferenciação simbólica, pois se remete apenas para
sujeitos que residem em condomínios residenciais fechados.
Desse modo, a segregação espacial também está relacionada com a
questão da globalização, levando em consideração adesão de um modo de
vida eminentemente europeu pelos indivíduos brasileiros.
Com o desenvolvimento das grandes metrópoles houve o adensamento de
determinados aparelhos sociais em algumas áreas da cidade. Esse fato
também é em decorrência da segregação urbana, porque a separação
espacial gera certa concentração de pessoas em localidades denominadas
como centros comerciais. Surgindo, dessa forma, necessidades econômicas,
sociais, culturais, em decorrência desta congregação humana.
Desta conjectura se pode pensar a constituição dos grandes centros
urbanos. Como, por exemplo, a cidade de São Paulo, metrópole estudada
pela autora do trabalho em questão.
Sendo neste contexto sócio-urbano presente, sobretudo a partir do século
XX, que D´ottaviano explicita o desejo de muitos inquilinos adquirirem um
bem imobiliário capaz de trazer principalmente segurança para suas posses
e familiares. Porque o conforto, em outros contextos históricos sempre
desejado ao se adquirir um imóvel, foi suplantado pela angústia de estar
sempre se protegendo da violência de outrem. Dessa forma, a segurança se
tornou uma mercadoria que estará agregando valor ao imóvel desejado.
Ou seja, o fator segurança está aliado a ―criação de enclaves fortificados‖
(D´OTTAVIANO, 2008, P. 90) - os condomínios horizontais fechados.
Nesse sentido, elementos que contribuem para privatizar a segurança
pública acabam surgindo, transformando também idéias referentes à noção
de público e privado. Porque, assim como os condomínios se apropriam de
uma área, cercando-a e restringindo a entrada na mesma por um
determinado público, a proteção, que deveria ser oferecida pelo Estado,
passa a ser responsabilidade dos cidadãos. Especialmente os localizados
218
nos condomínios residenciais fechados, que contratam algum tipo de
segurança privada.
Não obstante, esta organização condominial interna, voltada para a questão
da segurança, traz consigo um problema referente à ―... organização das
diferenças sociais no espaço urbano.‖ (D´OTTAVIANO, 2008, p. 90). Uma
vez que as áreas periféricas, na conjuntura atual, estão sendo
gradativamente ocupadas por pessoas de poderio aquisitivo médio.
Antes a periferia era estadia apenas para pessoas desprovidas
economicamente, mas em decorrência do novo modelo de urbanização
contemporâneo, pautado na ―... briga darwiniana por espaço urbano...‖
(D´OTTAVIANO, 2008, p. 44) as diferentes classes sociais acabam se
chocando. Mesmo que os indivíduos estejam separados direta ou
indiretamente (ou seja, por imposições físicas e simbólicas).
A autora defende que o fenômeno de segregação espacial não pode ser
explicado unicamente estabelecendo a distinção entre o centro rico e a
periferia pobre. Há uma série de elementos que podem contribuir para a
compreensão da constituição do espaço citadino, especialmente no tocante
ao aparecimento dos condomínios residenciais fechados.
Para pesquisar as unidades residenciais da Região Metropolitana de São
Paulo, D´ottaviano adotou como dado empírico o ―... número de banheiros, o
número de quartos e a área útil das unidades.‖ (D´OTTAVIANO, 2008, p.
134). Porque, dessa forma, se pode associar a quantidade de cômodos com
a renda familiar. Ademais, segundo D´ottaviano (2008) ―Para identificar a
tipologia residencial mais presente na RMSP, foi feito o cruzamento de
banheiros nas unidades residenciais por lançamento e por unidade...‖ (p.
144)
Consequentemente, com o tipo de amostragem escolhida pela autora para
analisar os condomínios fechados na RMSP, se pode conjecturar que a
estrutura física diz muito sobre a realidade sócio-econômicas dos moradores
em questão, pois as residências simples – ou seja, os apartamentos que
possuem uma área interna menor – estão localizados nas proximidades das
áreas periféricas. Enquanto os imóveis mais bem estruturados estão
alocados em localidades centrais dos espaços
Considerações Finais: As etapas da pesquisa desenvolvida por
D´ottaviano consistiram na análise dos anúncios de propaganda de
empresas que erigiam condomínios fechados; identificar quem são os
moradores de condomínios fechados, abarcando características sociais,
culturais e econômicas dos mesmos; e por fim a realização de entrevistas
com as construtoras.
A segregação espacial é um fenômeno social e urbano que está em
constante mudança, devendo ser analisado em várias perspectivas.
Entretanto, na realidade sócio-urbana vigente, os condomínios fechados
consistirem em ―... uma tipologia especial de moradia que indica status e um
estilo de vida contemporâneo e atual...‖ (D´OTTAVIANO, 2008, p. 213).
REFERÊNCIAS
D´OTTAVIANO, Maria Camila Loffredo. Condomínios Fechados na Região
Metropolitana de São Paulo: fim do modelo centro rico versus periferia
219
pobre? 2008 Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo.
ANDRADE, Luciana Teixeira de. ―Estudos de Vida nos Condomínios
Residenciais Fechados.‖ IN: JUNIOR, Heitor Frúgoli; ANDRADE, Luciana
Teixeira de; PEIXOTO, Fernanda Arêas (org). As Cidades e seus Agentes:
práticas e representações. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas; EDUSP: 2006.
17 ONDE VOCÊ MORA?: uma pesquisa a respeito dos discursos sobre a
expansão da fronteira imobiliária na cidade do Natal, como forma de
acumulação e reprodução do capital mercantil fundiário
Rainolenes de Melo Silva(UFRN)
Introdução: O modo de produção capitalista que se consolida no século
XIX, é marcado pelo processo de industrialização das nações do núcleo
central do capitalismo mundial a saber: Inglaterra, França, Bélgica, EUA e
Alemanha (SANTOS, 1982). Neste cenário, a cidade industrial, passa a
representar o paradigma a ser seguido a nível nacional, regional e local,
capaz de propugnar o progresso e o desenvolvimento aos países que
gradativamente, mas de formas e com funções muito distintas, vão sendo
integrados ao capitalismo mundial.
No Brasil, essa integração passar a se consolidar, através de uma
industrialização restringida (MELLO, 1986), tendo o Estado como o principal
agente econômico a partir dos anos de 1930. Entretanto a estruturação de
uma nova base produtiva industrial, não significou a superação das
pretéritas relações de produção mercantis agro exportadora, que passaram
a coexistir com o modo de produção capitalista. A expansão da rede urbana
brasileira foi marcada segundo CLEMENTINO (1995) por
uma ―
heterogeneidade estrutural‖ que resultou em processos de urbanização
bastante distintos entre as regiões brasileiras.
As especificidades do processo de urbanização, apresentada pela região
Nordeste, decorrem não apenas do momento e da maneira desigual, como
se deu o processo integração da região a expansão do capitalismo
brasileiro, uma economia nacional de caráter capitalista ―sub desenvolvida‖
e ―retardatária‖ (FURTADO, 1983; MELLO, 1986), mas em grande medida,
das
formas
como
as
frações
de
capitais
primeiramente
mercantis/endógenos e a partir dos fim dos anos de 1960, os capitais
industriais/exógenos, se articularam entre si, ―produzindo vários focos de
expansão e várias burguesias e oligarquias regionais‖(TAVARES,1999).
Dentre os Estado da região Nordeste, o processo de urbanização no Estado
do Rio Grande do Norte-RN, e mais precisamente a expansão urbana da
cidade de Natal, será abordada por este trabalho de maneira mais
específica. A pergunta inicial da presente pesquisa é, quais foram os
discursos dos agentes políticos, econômicos e sociais, que estiveram
envolvidos no processo de expansão urbana, tendo no mercado imobiliário,
a expressão materializada do discurso dominante na cidade de Natal, entre
a segunda metade dos anos de 1960 e fim dos anos 1980.
220
Preliminarmente foram escolhidos dois bairros da cidade de Natal como
campo a serem estudados. A escolha dos bairros de Cidade da Esperança e
Capim Macio se deve sobremaneira, a forma como tais bairros
representaram momentos distintos do processo de expansão urbana
capitalista, e como o Estado através das políticas habitacionais, o capital
mercantil, através do processo de acumulação fundiária e o capital industrial
através da manutenção das taxas de lucro, induziram a um processo de
urbanização.(CLEMENTINO, 1995).
A metodologia a ser utilizada estará pautada em pesquisas a meios de
comunicação impressa a ser escolhida no momento oportuno e tendo como
referencial teórico, leituras pertinentes ao tema urbanização brasileira e do
Rio Grande do Norte em espacial a obra da professora Maria do Livramento
Miranda Clementino (1995).
Para tanto, é necessário retomar de maneira sucinta os processos de
integração comercial a partir dos anos de 1930 e integração produtiva a
partir dos anos de 1960,
propostos pelo Estado brasileiro e seus
desdobramentos no processo de urbanização da Região Nordeste, e
posteriormente nos anos de 1970 no Rio Grande do Norte-RN.
O Nordeste brasileiro crescimento econômico e urbanização: O
processo de urbanização
brasileiro tem aspectos de um país
―subdesenvolvido‖ e de ―industrialização periférica‖,
temporalmente
fragmentada e ―desigual‖.(FURTADO, 1883; MELLO, 1886; SANTOS, 1982).
Tal processo está ligado a fenômenos históricos que marcaram a formação
econômica, política e social da sociedade brasileira, em decorrência das
formas como se articularam as diversas frações de capital, e como estes se
materializaram nos espaços urbanos nacional, regional e local, durante o
processo de expansão do modo de produção capitalista no Brasil.
Segundo Clementino (1995) ―no capitalismo o processo de desenvolvimento
econômico por si só, determina o processo de urbanização‖. Com o
crescimento do excedente social, resultado do modo de produção capitalista,
e nó urbano que as relações comerciais e produtivas alcançam seu ápice na
modernidade. Dessa forma o processo de urbanização Brasileiro foi
profundamente marcado pelas estruturas sócio-culturais encontradas em
cada região. Sendo assim, a região Nordeste, foi fortemente influenciada por
sua matriz rural, oligárquica, latifundiária e mercantil, tanto quanto, pela
forma como essas estruturas se articularam com a expansão do modo de
produção capitalista, deixando marcas indeléveis e materializadas em sua
formação urbana.
A partir dos anos 1930 até a década de 1960, a região sudeste passa
progressivamente por uma transição de uma economia agroexportadora a
uma economia em vias de industrialização e adensamento de sua rede
urbana. Nesse momento a constituição de um mercado interno tem no
Sudeste o centro irradiador dos processos e relações econômicas em âmbito
nacional, se transformando no principal mercado produtor e consumido do
país. Ao mesmo, tempo a região Nordeste passa a se integrar a uma divisão
regional do trabalho, como fornecedora de produtos primários, assim como,
de mão de obra à estrutura produtiva localizada em São Paulo.
Em (CLEMENTINO, 1995, p.126) ―O período que vai de 1930-1961
corresponde ao momento final do processo de constituição do capitalismo no
221
Brasil, ou seja, culmina com a formação plena de bases técnicas
indispensáveis a auto-determinação da acumulação capitalista‖. Daí decorre
um forte processo de concentração produtiva até a segunda metade do
século XX, sendo que, as relações de produção em especial no Nordeste se
mantiveram praticamente inalteradas. O processo de integração nacional
entre os anos de 1930 a 1960, fica configurado como ―integração via
circulação de mercadorias‖(CANO Apud CLEMENTINO. 1995, P.127), isso
significa, que tal integração não foi além das relações de trocas comerciais
do tipo centro periferia em âmbito nacional.
É somente na década de 1960, com as políticas desenvolvimentistas de
integração nacional pós 1964, como meio concluir o projeto burguês de
Estado, através da expansão da base produtiva e do mercado consumidor,
que passa a se estruturar o processo de descentralização da produção.
Segundo Milton Santos(1994), o processo de urbanização brasileiro, não
deve ser entendido apenas como processo de implementação de um parque
industrial, mas sim,
como o produto de uma correlação de forças
econômicas, política e sociais que são travadas em momentos distintos no
espaço territorial nacional .
―O termo industrialização não pode ser tomados em seu sentido estrito, mas
em sua mais ampla significação como processo social complexo, que tanto
inclui a formação de um mercado nacional, quanto os esforços de
equipamento do território para torná-lo integrado com a expansão do
consumo de formas diversas (...) e ativa o próprio processo de urbanização‖
(SANTOS, 1994, p. 27).
A modernização das economias locais nordestina e a criação de pólos
industriais, forneceram as bases materiais necessárias a uma
transformação nas relações de produção.
Destarte o processo de modernização econômica e urbanização através da
industrialização, foi heterogêneo e incompleto devido aos caráter tardio e
complementar da região Nordeste em um cenário nacional .
Sobre a industrialização e a rede urbana do RN: A rede urbana do Rio
Grande do Norte, atualmente é composta por 167 municípios por onde se
distribui uma população de 3.013.740 habitantes, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística- IBGE(2007). Seu território ocupa 3,41%,
do território nordestino, onde vivem 5,5%, da população regional, sendo esta
73% urbana e produzindo 10,3% da produção industrial regional
(CLEMENTINO, 2003). Sua rede urbana é caracterizada por uma
concentração econômica e produtiva em duas regiões, a micro região
metropolitana de Natal, Leste Potiguar, composta pela capital do Estado e
municípios adjacentes, e a micro região de Mossoró, no Oeste Potiguar.
Mas quais foram os fenômenos econômico e sociais pretéritos,que
marcaram o processo de concentração produtiva da rede urbana do RN? Até
que ponto o advento da industrialização se manifestou na configuração da
rede urbana? E como as relações contraditórias entre as classes sociais
ficou materializa na ―tecitura urbana‖ da Cidade do Natal, através do
mercado imobiliário?
Segundo (CLEMENTINO, 1995. p. 36), ―o Estado através de uma ação
mediadora e ao mesmo tempo contraditória[...], permitiu a convivência
pacífica do setor industrial com outras formas produtivas arcaicas‖, tendo
222
como resultado a formação de uma rede urbana desarticulada, concentrada
e excludente.
As relações de produção e divisão social do trabalho continuaram a se dar
no setor primário e a operar no interior da grande propriedade, de forma que
a supremacia do campo sobre a cidade. A principal alteração apresentada
nesse período aconteceu de forma pontual na capital do Estado, e sob a
influencia da Segunda Guerra Mundial, que proporcionou a cidade de Natal
um considerável volume de recursos devido aos esforços de Guerra que
foram aplicados na estrutura viária da cidade. (CLEMENTINO, 1995).
É apenas a partir da década de 1970, que o Estado do RN, passa por um
processo integração produtiva em escala nacional como parte dos projetos
da SUDENE. Com uma política de reorientação regional da divisão social do
trabalho na obtenção do produto nacional, através da modernização de
atividades regionais e locais já consolidadas; na desconcentração industrial
em âmbito nacional; e na expansão dos serviços do Estado.
Considerações Finais: As impressões preliminares a respeito do objeto de
pesquisa, ou seja, expansão da rede urbana do RN, e mais precisamente do
―tecido Urbano‖ OLIVEIRA(1978), da cidade de Natal, nos dão pistas de que
houve a dominação do capital mercantil, através da fronteira imobiliária
como forma de reprodução do capital. Mas também de como se deram os
processos de articulação entre o capital mercantil, o capital industrial e o
―Estado capturado‖(OLIVEIRA, 1978), que manteve intacta a estrutura
fundiária e concentradora dos interesses da fração mercantil do capital local.
O capital mercantil de caráter reacionário, subsumiu o capital industrial vindo
de fora, e através da ascensão de sua elite agro-mercantil ao controle do
Estado, este pode manter os seus interesses econômicos rentistas. O
desenvolvimento econômico, político e social do Estado, poderia representar
para as elites locais a possibilidade de manifestações de contradições
latentes entre interesses antagônicos das classes sociais imanentes ao
modo de produção capitalista. Dessa forma, o Estado a medida que
representou o principal agente econômico no processo de integração e
expansão econômica, ao mesmo tempo, representou os interesses das
elites locais de tradição mercantil, cedendo o espaço territorial à valorização
e reprodução do capital industrial externo, desde que não alterasse a
estrutura política e social local. Tal fenômeno fez com que o RN, no decorrer
dos anos de 1980, mesmo com os esforços de uma política de integração
produtiva e comercial nacional, não atingisse a maturação das relações
produtivas que engendrariam uma rede urbana mais densa, estável
economicamente e desenvolvida social e politicamente.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO. Carlos. A dimensão espacial do sub desenvolvimento: uma
agenda para os Estudos Regionais e Urbanos. Campinas: Editora Unicamp,
2003.
CASTELLS. Manuel. A questão urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
CLEMENTINO, Maria do Livramento M. Economia e Urbanização: o Rio
Grande do Norte nos anos 70. Natal: UFRN-CCHLA. 1995.
223
FARIAS. Vilmar E. Cinqüenta anos de Urbanização no Brasil: tendências
e perspectivas. Revista Novos Estudos CEBRAP. n. 29, São Paulo, 1991.
FURTADO. Celso. Teoria e politica do desenvolvimento econômico. 8 ed.
São Paulo: Editora Nacional, 1983.
FURTADO. Celso. O mito do desenvolvimento econômico. 6 ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1983.
MELLO. João Manuel Cardoso de. O capitalismo tardio. 5 ed. São
Paulo:Brasiliense, 1986.
OLIVEIRA. Francisco. Acumulação monopolista, Estado e Urbanização:
a nova qualidade do conflito de classes. In: MOISES, José Álvaro.
Contradições urbanas e movimentos sociais. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
1978.
SANTOS, Milton. A urbanização desigual: a especificidade do fenômeno
urbano em países subdesenvolvidos. Petrópolis: Vozes, 1982.
SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. 2. ed. São Paulo. Ed. Hucitec,
1994.
TAVARES. Maria da Conceição. ―Imperio, Territòrio Dinheiro‖_In: FIORI,
José Luiz. Estado e Moedas no desenvolvimento da Nações. Petrópolis:
Ed Vozes. 1999.
18 A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL AFROBRASILEIRA NO CONTEXTO DA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO
Ramon de Alcântara Aleixo.
(Universidade Estadual da Paraíba-UEPB)
Patrícia Cristina de Aragão Araújo.
(Universidade Estadual da Paraíba-UEPB)
Introdução: Em meio às discussões que versam sobre as políticas de
conservação patrimonial torna-se de primaz importância tecer discussões
com vistas a elucidar a tessitura das noções de patrimônio histórico, bem
como a sistematização de políticas de preservação que sugerem em seus
quadros estruturais uma lógica concernente à sustentação da(s) memória(s)
individual e/ou coletivas a que se pretende salvaguardar.
Dessa forma, propomos, ao longo de nossas análises, tecer discussões que
nos permitam compreender a gestação da noção de patrimônio, bem como a
sua disseminação ao longo do período histórico caracterizado sob o jugo da
modernidade, adentrando, por sua vez, nas novas formas de preservação
propostas pelas Convenções da Organização das Nações Unidas para
Educação Ciência e Cultura (UNESCO), observando, dessa forma, a sua
inserção nas atuais políticas curriculares em voga no processo educativo
nacional.
Justificativa: Compreender a gestação das noções do patrimônio no bojo
de uma sociedade pluriétnica e intercultural torna-se de primaz importância,
tendo em vista a busca de políticas de inclusão étnico-afirmativas que
possam permear os espaços-tempo sócio-educativos, dentre estes a própria
sala de aula.
Metodologia: Buscando uma sistematização mais eficaz do nosso propósito
investigativo nos aportamos no referencial teórico trilhado por CHARTIER
224
(2004), BHABHA (1998), HALL (2001), LOPES (2005), bem como no método
investigativo indiciário, GUINZBURG (1989), onde se torna possível
perceber, através de fragmentos discursivos, sinais que apontam para a
tessitura das tramas políticas e sociais que permeiam as escritas
curriculares.
Desenvolvimento: Ao analisar as origens atinentes às conceitualizações
acerca do termo Patrimônio Histórico ao longo da tessitura do processo
histórico torna-se de fundamental importância atentar para a concepção da
História como ciência, bem como a percepção da vivência humana a partir
da lógica tripartite passado, presente e futuro, contrapondo-se, assim, ao
paradigma dual escatológico característico do período historicamente
denominado como Idade Média.
Dessa forma, observa-se no significado semântico da palavra patrimônio
certa associação entre os conceitos de herança, elucidando, assim, uma
espécie de transmissão de legados dos ancestrais, de forma a possibilitar a
manutenção da memória de um dado grupo social.
O próprio conceito de monumento advém de uma modificação do termo latim
monumentum, que por sua vez, deriva de monere ―advertir, lembrar‖, ou
seja, ―trazer à lembrança de alguma coisa‖ (CHOAY, 2001).
Da íntima relação que o termo monumento resguarda de sua origem latina,
observar-se o ―despertar‖ da preocupação com as práticas materiais e
culturais das sociedades clássicas greco-romana, emergindo, assim, como
práticas ao longo da cultura instituída no período renascentista.
No que concerne à realidade brasileira, observa-se a gestação de políticas
de preservação patrimoniais a partir dos anos iniciais do século XX. Todavia,
a estruturação em torno da necessidade de se pensar uma identidade
nacional que viesse referendar as disposições políticas do governo Vargas
ao longo do período político denominado como Estado Novo ocorro com a
criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (SPHAN) na década de
1930 sobre a chefia do então Ministro da Cultura Mario de Andrade.
Desde então, o referido sistema, a partir da década de 1970 designado
como Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) vem atuando da
estruturação de políticas públicas que visam à preservação não apenas de
fachadas de casarões antigos, mas na manutenção da memória de uma
dada organização social.
Ao adentrar dos anos 2000, observa-se a estruturação do conceito de
Patrimônio Imaterial, expresso através de expressões culturais,
gastronômicas, literárias, musicais, dentre outras que abarcam em suas
manifestações as representações de diversos segmentos sociais.
Dessa forma, propomos ressaltar a importância de diversos segmentos
étnico-culturais na tessitura do processo de identidade coletiva, de forma a
possibilitar a preservação em torno do patrimônio imaterial cultural atinente
às práticas representativas da cultura afro-brasileira que durante muito
tempo tiveram, e infelizmente, ainda têm sua condição histórica negada em
vista de m projeto escriturário que se pretende ―oficial‖ a partir da
observação de sua representação CHARTIER (2004) nos currículos
escolares de circulação, evidenciados, nesse caso, pelo livro didático e a
sua inserção como importante ferramenta no trabalho a ser trilhado pelo
docente em sala de aula.
225
Considerações Parciais: Os resultados preliminares nos permitem afirmar
a importância de se efetivarem políticas de inclusão racial, de forma a
possibilitar a tessitura de zonas de diálogo entre as diversas etnias que
povoam cotidianamente o espaço-tempo da escola, bem como a inserção de
seu legado cultural na historiografia nacional e local, contribuindo, dessa
forma, para evocarmos os fragmentos de memória e cultura que necessitam
serem (re) significados sob pena de se esmaecerem nas sinuosas curvas
ofertadas pela escrita da História.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
CHARTIER, R. As práticas da escrita. In: ARIÉS, P.; CHARTIER, R. (Orgs.),
2002. História da vida privada: da renascença ao século das luzes. São
Paulo: Companhia das Letras, v. 3, 1997.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira
Machado. São Paulo: Estação Liberdade; Editora da UNESP, 2001.
DAMATTA, Roberto. O que faz o Brasil Brasil? 2 ed. Rio de Janeiro:
Rocco, 1986.
FOUCAULT, Michel. As Palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
GUINZBURG, Carlo. Prefácio à edição italiana. In: O queijo e os vermes.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
HALBWACHS, Maurice. Memória individual e Memória Coletiva. In: A
Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 3 ed. Rio de
Janeiro: DP &A, 1999.
LOPES, Alice Casimiro. O livro didático nas políticas de currículo. In:
Políticas e Práticas Curriculares. Impasses, Tendências e Perspectivas.
PEREIRA, Maria Zuleide da Costa; MOURA, Arlete Pereira (orgs.). João
Pessoa, Idéia, 2005.
ORLANDI, Eni P. Análise do discurso: princípios e procedimentos.
Campinas: Pontes, 2002.
RUSSEN, Jorn. Razão Histórica: teoria da História. Fundamentos da
ciência histórica. Brasília, UNB, 2001.
SEVCENKO. Nicolau. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões
do progresso. In: NOVAIS, Fernando A. (Coord.) / SCHWARCZ, Lília Moritz
(Org.). História da vida privada no Brasil República: contraste da
intimidade contemporânea. v. 4, São Paulo, 1998.
GT4 – Segurança Pública com enfoque no sistema
penitenciário brasileiro – Sala F3 – Setor II
Profª. Ms. Hilderline Câmara de Oliveira – UFRN/FACEX
Email: [email protected]
226
Ms. Eduardo Franco C. Cruz – UFRN/PMRN
[email protected]
Profª. Ms. Joseneide S. Pessoa dos Santos – UFRN/FACEX
[email protected]
Ementa: Este Grupo de trabalho em sua primeira edição tem por
finalidade discutir e socializar estudos, pesquisas e experiências
profissionais voltados para as áreas temáticas em relevo, visando
enriquecer o debate sobre política de Segurança Pública no âmbito
brasileiro, e em especial, trazer problematizações e contribuições
sobre a realidade da população carcerária. Procura refletir sobre a
Política de Segurança Pública Brasileira, tendo como foco central,
as questões sobre o sistema penitenciário, abordando questões
inerentes a temas como direitos humanos e cidadania relacionados
à população carcerária. Busca, portanto, evidenciar as relações
envolvidas nessa temática no atual contexto do Estado e da
sociedade, devido a vários aspectos, mais precisamente a três
fatores principais: a situação de violência que atravessa amplos
setores da sociedade civil; a fragilidade da política pública em
atenção à segurança e a precariedade da condição da população
carcerária no Brasil. São aspectos de difícil compreensão, mas que
requerem urgentemente alternativas por parte do conjunto da
sociedade, no sentido, de fortalecer as bases jurídica/legais já
existentes, que em muitas dimensões são fragilizadas e até mesmo
negadas, não podendo ser incorporadas à democraticidade da vida
social. Assim, este GT, inaugura uma temática que não é nova,
mas é pouco explorada no âmbito da Sociologia. Pode-se até
considerar que existe uma lacuna de estudos e pesquisas nesta
área nas universidades brasileiras.
Objetivos: Possibilitar aos participantes uma discussão crítica
sobre as condições da população carcerária em suas dimensões
jurídicas, legais, socioeconômicas e culturais.
GT4 – Segurança Pública com enfoque no sistema
penitenciário brasileiro – Trabalhos Aprovados Resumos
Simples
01 - UM ESTUDO DA REALIDADE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO
RIO GRANDE DO NORTE
Aelma Oliveira da Silva - FACEX - [email protected]
Karla Patrícia de Oliveira Macedo - FACEX
Francisca Francimeire da Costa Sena – FACEX [email protected]
Joana Maria Dionísio - FACEX
Marílian dos Santos Ferreira – FACEX [email protected]
227
Sinézia R. da Silva Dantas- FACEX
Resumo: O referente trabalho aborda a Segurança Pública no Brasil e no
RN, enfatizando o sistema prisional do Rio Grande do Norte. O
embasamento teórico e metodológico para elaboração do conteúdo aqui
exposto foi norteado por pesquisa de campo no Presídio Estadual de
Parnamirim-PEP, visita e entrevista com a Assistente Social do
estabelecimento, revisão bibliográfica entre outras pesquisas. Desse modo,
partimos de uma realidade macro, contextualizando a Questão Social
inerente a sociedade para visualizarmos a atual condição da segurança
pública em nível de Brasil e do RN. Objetivando, portanto, possibilitar uma
visão panorâmica dessa expressão social. A problemática da segurança
pública vem se tornando cada vez mais conflitante atualmente tendo em
vista o desdobrar de novas conjunturas, o que agrava a situação do sistema
prisional. A omissão do Estado diante disso, contribui e muito para o
alargamento, visto que aquele não se preocupa com o processo de
fiscalização e implantação de projetos, programas e políticas sociais no
âmbito profissional para buscar a regeneração do indivíduo que está
submetido ao sistema como apenado.
Palavras-cheve: Sistema penitenciário. Apenado. Segurança Pública.
02 - REINCIDÊNCIA CRIMINAL: UM ESTUDO DO COMPLEXO PENAL
DR. JOÃO CHAVES
Laudilene Gomes Davi -UFRN
[email protected]
Resumo: O presente trabalho é fruto da experiência do Estágio Curricular
Supervisionado do Curso de Serviço Social da Faculdade de Ciências,
Cultura e Extensão do RN-FACEX, realizado no Complexo Penal Dr. João
Chaves-Natal/RN, que após estudarmos a realidade institucional de forma
criteriosa e cuidadosa, podemos perceber que, entre as mais diversificadas
e graves problemáticas que perpassam o sistema prisional, particularmente
o CPJC, está a reincidência criminal. Diante dessa problemática, elaboramos
nosso projeto de pesquisa, visando investigar e analisar os determinantes
que contribuem para a reincidência criminal dos apenados do sexo
masculino que cumprem pena em regime fechado e semi-aberto. Para tanto,
utilizamos os seguintes procedimentos metodológicos: levantamento e
revisão bibliográfica; pesquisa e análise documental; observação sistemática
e assistemática registrada no Diário de campo; aplicação de entrevista semiestruturada e, por fim a análise e interpretação dos dados coletados que foi
de cunho qualitativo e quantitativo. Percebemos a partir desse estudo que,
dentre os determinantes que levam um apenado a reincidir, estão às
precárias condições do atual sistema prisional, que vive um processo de
decadência e abandono, principalmente por parte do próprio Estado, que
nem a legislação brasileira proporcionando amplas garantias para o seu bom
funcionamento, não dispõe dos meios necessários para o processo de
reinserção da população carcerária.
Palavras-chave: Reincidência criminal. Sistema Prisional. Reinserção.
228
03 - SAÚDE E TRABALHO DO AGENTE PENITENCIÁRIO: OS
TRANSTORNOS COMPORTAMENTAIS
Maria Luiza Tomaz Tavares
Resumo: O enfoque desta pesquisa mostra os impactos sofridos pelos
agentes penitenciários decorrentes da atividade laboral nas prisões. O texto
evidencia a execução de um trabalho calcado nos grandes descasos
existentes nas instituições prisionais. Mostra as peculiaridades de um
sistema desorganizado, onde as pessoas confinadas em seu espaço sofrem
as conseqüências do abandono por parte do poder público e do estigma
social. O estudo buscou conhecer e apresentar as possíveis causas dos
transtornos comportamentais apresentados pela categoria trabalhadora. A
metodologia foi articulada a partir de pesquisas à referenciais teóricos como,
Goffman, Dejours, Adorno, Minayo & Souza, entre outros. Além dos dados
pesquisados nos campos das instituições prisionais na cidade de
Mossoró/RN e em alguns órgãos da administração penitenciária do Estado
do Rio Grande do Norte. Os resultados alcançados pelas pesquisas
mostraram que a classe destes profissionais não recebem a menor
assistência ou apoio profissional. Os dados quantitativos sobre esta
categoria evidenciam muitos problemas, apesar de ter apenas sete anos de
atividade funcional. O contato com o cotidiano prisional provoca muitas
mudanças no comportamento dos agentes penitenciários por ser um
trabalho árduo e penoso. Os impactos são inevitáveis, mas surgem em
conformidade com a personalidade de cada profissional. Contudo, o ponto
mais crucial deste quadro de descasos reside na negligência por parte do
Estado.
Palavras-chave: Transtornos comportamentais. Saúde. Trabalho.
GT4 – Segurança Pública com enfoque no sistema
penitenciário brasileiro – Resumos Expandidos
01 - UM ESTUDO DA REALIDADE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO
RIO GRANDE DO NORTE
Aelma Oliveira da Silva
Karla Patrícia de Oliveira Macedo
Francisca Francimeire da Costa Sena
Joana Maria Dionísio
Mraílian dos Santos Ferreira
Sinézia R. da Silva Dantas
No Brasil, uma das ―expressões‖ da Questão Social que tem se ampliado
cada vez mais é a Segurança Pública que, marcada pela insegurança, surge
e se desenvolve a partir de questões mais profundas como: falta de
investimentos nas periferias dos grandes centros urbanos seja na geração
de trabalho e renda, seja na qualificação profissional; além da precariedade
229
da educação e da falta de acesso da população a serviços adequados de
saúde pública e habitação. Tais desigualdades, hoje, ampliam-se com a
nova roupagem da política liberal (neoliberalismo) cujas propostas no campo
das políticas sociais são claras: um Estado que se exime cada vez mais
frente as suas responsabilidades sociais e o agravamento dos serviços
sociais. A política de Segurança Pública em nosso país, embora esteja se
desenvolvendo aos poucos, de acordo com Santin (2004) sempre teve um
papel secundário em ações e programas do governo, o que contribui para
níveis alarmantes no índice de criminalidade. Em nível estadual não é
diferente, de acordo com a pesquisa divulgada pela Rede de Informação
Tecnológica Latino-Americana (Ritla), em parceria com o Instituto Sangari e
os ministérios da Justiça e Saúde, o Rio Grande do Norte é o terceiro Estado
menos violento do País e Natal a capital mais segura do Nordeste, a
pesquisa norteia-se pelos atestados de óbito dos 5.564 municípios do país e
informações fornecidas pelo Ministério da Saúde. Por outro lado a população
carcerária do RN atualmente está estimada em 4.400 presos e as condições
do sistema penitenciário estão sendo consideradas em estado grave
necessitando de soluções rápidas. E para o corregedor geral da justiça, o
desembargador João Batista Rebouças, uma possível solução seria que o
Poder Executivo decretasse estado de calamidade publica no sistema
prisional, com o objetivo de vencer a burocracia estadual existente e
construir cadeias públicas num tempo máximo de 120 dias. Além da
superlotação e má infra-estrutura nos presídios, um outro problema torna-se
grave, não há local adequado para os apenados com distúrbios mentais, já
que o Hospital de Custodia não oferece infra-estrutura satisfatória. O Infopen
(Sistema Nacional de Informação Penitenciária) registra que no RN existem
1.600 vagas no sistema prisional estadual e uma população carcerária de
4.400 presos, porém, de acordo com o Desembargador Rebolças, esses
números são relativos e poderia ser ainda pior se todos os mandatos de
prisão fossem cumpridos. Para solucionar esta situação de precariedade no
sistema prisional, está sendo construída a Cadeia Pública de Nova Cruz que
abrigará 300 presos, e será inaugurada em junho, e as de Macau e CaráMirim estão aguardando a liberação de licitações; com isso a governadora
Wilma de Faria garante que acabará com a permanência de presos em
delegacias. O Secretário Estadual da Justiça e Cidadania Leonardo Arruda,
apresentou ainda no Ministério da Justiça, projetos de construção de cadeias
públicas em Parelhas e em Lajes o que deve diminuir a falta de cadeias no
interior. Outras medidas estão sendo tomadas pelo Poder Judiciário, que
está acelerando o julgamento de processos criminais e projetos para a
ressocialização do apenado com objetivo também de conter a violência. No
1° Encontro Potiguar sobre Execução Penal e Sistema Penitenciário foi
apresentado o plano Apac (Associação de Proteção ao Apenado) vinculado
ao Programa Novos Rumos. Neste projeto os presos passam por um
trabalho de ressocialização através de ações interdisciplinares com diversos
profissionais – psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais – e
também participam de cursos profissionalizantes. Diante do exposto, vê-se
que o que deveria ser um ambiente de reeducação e de reinserção se traduz
num processo de exclusão e desumanização do ser. Essa realidade notória
deveria ser pensada, pois ainda existe preconceito por parte da sociedade
230
contra aqueles que já foram presidiários, e que por isso, passa a ser
excluído do convívio social, pois ter praticado um delito (mesmo que este já
tenha sido punido) é sempre considerado um perigo.A omissão do Estado
diante dessa problemática contribui e muito para o alargamento dessa
situação, visto que aquele não se preocupa com o processo de fiscalização
e implantação de projetos, programas e políticas sociais no âmbito
profissional para a regeneração do apenado é preciso que o sistema
carcerário seja um espaço que disponibilize atividades sócio-educativas,
laborais e de lazer. Nos dias atuais a questão da segurança pública passou
a ser considerada problema fundamental e principal desafio aos gestores do
país. A segurança ganhou grande destaque em noticiários e jornais sendo
que jamais, em nossa história recente, esteve tão presente nos debates
tanto de especialistas como do público em geral. E vários fatores, como o
aumento da sensação de insegurança, a violência policial, a ineficiência
preventiva de nossas instituições, a superlotação nos presídios, rebeliões,
fugas, corrupção, entre outros, contribuem para que a segurança pública
esteja sempre sendo enfatizada e para que as autoridades envolvidas
estejam buscando possíveis soluções para este caos, com o objetivo de
garantir o mínimo de segurança a sociedade civil.
REFERÊNCIAS
BEHRING, Elaine Rossetti. BOSCHETTI, Ivanete. Expressões da questão
social e política social no Brasil. In: Política Social: fundamentos e História.
3 ed. São Paulo: Cortez, 2007. (pág. 184-190).
_________. Radar Social. Brasília, IPEA, 2005b.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Questão Social e Serviço Social. In: O Serviço
Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 13 ed.
São Paulo, Cortez, 2007. (pág. 27-42).
Sistema Prisional Estadual. Disponível em:
http//tribunadonorte.com.br/noticias/ 110052.html . Acesso em 11/06/2009 às
14h 35min.
Violência no RN. Disponível em:
http://www.nominuto.com/noticias/policia/mesmo-satisfeitos-vamoscontinuar-combatendo-a-violencia-no-rn-diz-castim/11526/
Acesso
em
11/06/2009 às 14h 49min.
Prisões. Disponível em:
www.ctorio.org.br/textosparaapagina/prisoes/clipping/ RN,
%20NOTICIAS.pdf – Acesso em 11/06/2009 às 15h.
02 - REINCIDÊNCIA CRIMINAL: UM ESTUDO DO COMPLEXO PENAL
DR. JOÃO CHAVES
Laudilene Gomes Davi -UFRN
[email protected]
(Resumo Expandido não disponibilizado pela autora para publicação).
231
03 - SAÚDE E TRABALHO DO AGENTE PENITENCIÁRIO: OS
TRANSTORNOS COMPORTAMENTAIS
Maria Luiza Tomaz Tavares
(Resumo Expandido não disponibilizado pela autora para publicação).
GT5 – Balcão TCC REUNI: práticas e experiências na
elaboração da monografia em Ciências Sociais – Sala G1 –
Setor II
Violeta Maria de Siqueira Holanda – UFRN
[email protected]
Ementa: Nossa proposta de GT destina-se aos alunos do Curso de Ciências
Sociais/UFRN que participaram e/ou participam dos balcões/plantões de apoio ao
TCC, atividade desenvolvida desde o segundo semestre de 2008, pelas bolsistas
REUNI/PPGCS, junto à disciplina Monografia DAN 0019 e demais interessados.
Objetivamos fomentar um espaço de discussão sobre os processos de elaboração
e desenvolvimento da monografia acadêmica, que envolve a definição e
delimitação do tema, a justificativa e problematização, os procedimentos
metodológicos e os possíveis modelos de análise. Portanto, o enfoque será
projetado sobre os aspectos formais envolvidos na produção da monografia. O
GT se revela também como um espaço de sociabilização e discussão para alunos
que não estão necessariamente ligados a projetos de pesquisa institucionais,
incentivando-os a produção científica. Nesta perspectiva, acreditamos que ações
dessa natureza contribuem para a formação do discente nas instâncias
operativas, procedimentais, atitudinais e reflexivas na dinâmica que constitui o
processo de ensino-aprendizagem.
(Observação: Este GT foi cancelado pela coordenadora)
GT6 – Educação e Diversidade – Sala H7 – Setor II
Simone Cabral Marinho dos Santos
(Mestre em Sociologia UFRN/UERN)
Ana Maria Morais Costa
Especialista em Antropologia UFRN/UERN
[email protected]
[email protected]
Ementa: A sessão de comunicação oral reunirá trabalhos concluídos e/ou em
andamento, resultantes de atividades de pesquisa, ensino e extensão que tratem
da temática da educação sob a ótica da diversidade. Entendendo a prática
educativa em suas várias formas de concretização, esta sessão, pretende
garantir espaço para a discussão sobre gênero, meio ambiente, sexualidade,
geração, campo, direitos humanos e diversidade étnico-racial na educação.
Consideram-se, ainda, relatos de experiências de práticas educativas escolares e
não escolares realizadas por movimentos sociais e/ou organização da sociedade
civil nessas áreas.
232
GT6 – Educação e Diversidade – Trabalhos aprovados
Resumos Simples
01 - ESTADO E COMUNIDADES TRADICIONAIS: REVENDO OS
CONTORNOS DE ALGUMAS RELAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Paulo Santos Dantas – UERN/USP
Doutorando em Antropologia – USP e professor da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN.
02 - EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS EM ESPAÇOS ESCOLARES
E NÃO ESCOLARES: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO DE EXTENSÃO
DIREITOS HUMANOS EM TEMPOS DE DESUMANIZAÇÃO
Josefa Aldacéia Chagas de Oliveira
Ana Maria Morais Costa
Simone Cabral Marinho dos Santos
03 - ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES E O RESGATE CULTURAL E
PRODUTIVO DOS QUINTAIS
Antônia Mábia Z. de Oliveira
[email protected]
Rejane Medeiros
[email protected]
Centro Feminista 8 de Março
Relata-se uma experiência desenvolvida no projeto11 ―Igualdade de Gênero e
Soberania Alimentar: assistência técnica à mulheres trabalhadoras rurais das
comunidades dos Territórios Açu/Mossoró e do Sertão do Apodi,‖ no Estado do
Rio Grande do Norte/Brasil, coordenado pelo Centro Feminista 8 de Março, em
comunidades e projetos de assentamentos rurais das cidades de Mossoró, Apodi
e Governador Dix-sept Rosado. O objetivo do projeto é desenvolver de forma
participativa com as mulheres, um resgate cultural e o melhoramento dos
quintais de suas residências, redescobrindo e reconhecendo esse espaço como
de experiências, de diversificação da produção: local sagrado de manutenção das
sementes e plantas nativas; encontro da família, das brincadeiras, do descanso,
e principalmente como mais um dos espaços de trabalho produtivo das
mulheres, pouco, ou quase não visto pela sociedade. Este espaço é gerador de
diversificação da alimentação e da renda para completar o orçamento da família.
As atividades realizadas são assessorias técnicas à produção e a organização das
mulheres, capacitações no manejo, produção e comercialização do excedente
nas feiras da agricultura familiar e solidária, intercâmbio de experiências e
articulação com movimentos sociais locais, nacionais e internacionais. Espera-se
11
Projeto financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) sob coordenação da
Assessoria Especial de Gênero, Raça e Etnia (AEGRE).
233
que este acompanhamento contribua com as mulheres rurais para que estas se
organizem em uma luta coletiva de transformação da realidade de desigualdade
social e submissão. Trata-se, portanto, de uma experiência que busca o
reconhecimento do trabalho produtivo das mulheres, para que elas sejam
protagonistas de suas próprias vidas e que os quintais trabalhados por elas
sejam melhorados e fortalecidos, na perspectivada da diversificação de produtos
que atendam as necessidades emergenciais da existência, promovendo a
soberania alimentar da família.
Palavras-chave: organização de mulheres; quintais produtivos; diversificação
da produção alimentar.
04 O LUGAR DA CIDADANIA NA SOCIABILIDADE CONTEMPORÂNEA
Ana Maria Morais Costa – mestranda do PPGCS/UFRN
e-mail: [email protected]
Dr. José Willington Germano – orientador
e-mail: [email protected]
05 - ESCOLA DE FORMAÇÃO POLÍTICA E PROFISSIONAL PARA A
JUVENTUDE DO CAMPO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO
MUNICÍPIO DE APODI/RN
Elielma de Sousa Pereira
[email protected]
Orientadora: Simone Cabral Marinho dos Santos
[email protected]
06 - GEOGRAFIA E GÊNERO: UMA EXPERIENCIA EM SALA DE AULA
Flávia Spinelli Braga
Professora de Geografia do CAMEAM/UERN
[email protected]
07 - A SEXUALIDADE EM EXPERIÊNCIAS DE EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA – OU POR UMA OUTRA EDUCAÇÃO SEXUAL
Jéssica Cássia Barbosa
(estudante da Graduação em Ciências Sociais/UFRN)
Resumo: Partindo do pressuposto de que o corpo, na sua essência de
memória própria, ainda é bastante desconhecido pelos indivíduos, chegando
ao ápice com o pensamento de Michel Serres de que o inconsciente é o
corpo – atos que já nos são encarnados, ou prazeres que se pedem
repetição pelo próprio corpo, pretende-se contribuir com o GT através do
relato de duas tentativas de abordar o tema da sexualidade – ou de outra
234
forma de educação sexual – no programa de extensão Trilhas Potiguares
(UFRN), nos anos de 2008 e 2009. A atividade foi intitulada ―educação
sexual começa com poesia‖, na primeira experiência. Tendo na segunda
experiência ganhado um caráter interdisciplinar – o corpo na língua
sociológica, psicológica, nutricional e médica. Sendo o corpo historicamente
apropriado por diversos discursos, a educação sexual, possui, portanto,
escolas bastante polares: o cristianismo, a ciência médica e a poesia.
Palavras-chave: Corpo; Conhecimento; Sexualidade; Educação Sexual.
08 - OS PARADIGMAS EMERGENTES DA EDUCAÇÃO FÍSICA E O
DESAFIO DO PARADIGMA EDUCACIONAL EMERGENTE
Osvaldo Nonato dos Santos
FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS – FIP
[email protected]
Resumo: A pesquisa bibliográfica embasado em fundamentos teórico
científico analisa as tendências emergentes da Educação Física e o
paradigma emergente que ao poucos vem consolidando na cultura da
civilização contemporânea. Este novo paradigma aqui estudado, entendido
também como holístico provoca profundas transformações no
comportamento individual e coletivo que se observa nos atuais tempos de
paradigmáticas crises, validado por um complexo de teorias que vêm se
desenvolvendo nas últimas décadas que formam o arcabouço científico para
uma nova visão de mundo – pensamento complexo, de modo a transcender
a visão de newtoniana-cartesiana construída durante os séculos XVII, XVIII e
XIX – a metáfora do universo máquina que moldou a era industrial e que
continua a determinar o modelo de vida da humanidade atualmente. Dentro
deste modelo civilizatório de natureza excludente, predatória, autodestrutiva
não há qualquer possibilidade de emancipação humana. Numa perspectiva
de um paradigma emergente constituído de corpo, mente, sentimento e
espírito. Um novo modelo de educação – Construtivista, interacionista,
sociocultural e transcendente preocupada em formar indivíduos autônomos,
criativos, críticos, cooperativos, solidários e fraternos considerando as
diversas dimensões do fenômeno educativo em seus aspectos físicos,
biológico, mental, psicológico, cultural e social.
Palavra-chave: Tendências Pedagógicas; Educação Física: Paradigma
Emergente.
09 - A RELAÇÃO ENTRE TENDÊNCIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS
PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO 6º A0 9º ANO CICLOS DO
ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL DE IPANGUAÇU-RN
Osvaldo Nonato dos Santos
Faculdades Integradas de Patos – FIP
[email protected]
235
Resumo: O presente artigo surgiu a partir das reflexões feitas durante o
curso de Especialização do Programa de Pós-Graduação da Faculdades
Integradas de Patos – FIP. Durante o curso foram apresentadas as diversas
abordagens pedagógicas que surgiram após a "crise" intelectual que passou
a educação Física no início de 1980, afrontando os conteúdos aplicados
pelas disciplinas em sua intervenção social, na escola, buscando a
construção de um grupo de conhecimentos específicos para a área a fim de
identificar e objetivar a mesma, para que ganhasse maior caráter cientifico e
respeito social. Porém, a apresentação dessas novas abordagens, cada uma
lutando pela hegemonia do conhecimento da educação física, colaborou
para ampliar as dificuldades dos professores de Educação Física que atuam
no quadro efetivo da Secretaria Municipal de Ipanguaçu, no momento em
que os mesmos se perdem entre inúmeras teorias distintas que pouco
apresentam de exemplo para facilitar a prática do professor. É assim se que
se construiu este artigo, uma tentativa de apresentar, através de pesquisa de
campo, as discussões e as principais abordagens que dela surgiram,
culminando em uma discussão sobre o que acredito ser a especificidade da
Educação Física Escolar sua prática educativa, Pedagógica e Didática.
Palavra-chave: Educação Física escolar; Prática Pedagógica; Tendência.
10 - AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ESTRESSE DOS PROFESSORES DO
MUNICÍPIO DE IPANGUAÇU - RN
Osvaldo Nonato dos Santos
Faculdades Integradas de Patos – FIP
[email protected]
Resumo: O século XXI ressalta a importância de revermos a nossa práxis
para que possamos atuar realmente como gestores educacionais
comprometidos com as mudanças sociais. Sendo a saúde entendida como
um bem estar físico, mental, espiritual e social e a gestão numa visão mais
humanizada. Controlar o estresse do dia-a-dia vai aumentar o rendimento
dos professores e ajudá-los na preparação do organismo pra lidar com as
situações que se apresentam, sendo então uma resposta do mesmo a um
determinado estímulo, a qual varia de pessoa a pessoa.(OBJETIVO GERAL)
Este trabalho tem como objetivo contribuir, através da implantação de um
programa preventivo na área de saúde física e mental comunitária, para um
melhor desempenho do gestor de acordo com o perfil o século XXI, os
fatores que interferem neste perfil entre o estresse, a auto-estima, a
importância do trabalho corporal como estratégia e contribuição para
minimizar estes fatores.(METODOLOGIA) A pesquisa foi realizada através
da aplicação de entrevistas com os dozes professores/as da Escola
Municipal de Ipanguaçu – RN e através de estudos bibliográficos.
(RESULTADOS) A pesquisa apresentou à seguinte análise: nenhum dos/as
professores/as entrevistados apresentaram grau de estresse alto; 46,23%
dos entrevistados possuem um grau de estresse médio e 35,18% dos
236
entrevistados apresentaram de estresse baixo. (CONCLUSÃO) Além do
desafio de controlar a classe, eles enfrentam pressões dos alunos, dos pais,
dos colegas, dos políticos e dos administradores, São afetados pelos
sucessos e fracassos de seus alunos e pelas próprias exigências. O nível de
estresse médio demonstra que a necessidade dos professores/as
aproveitarem para repensar seu modo de vida e enquanto no nível de
estresse baixo pede um maior envolvimento dos professores/as no trabalho
sem se abalar pelas pressões do dia-a-dia na sala de aula.
Palavras-chaves: Estresse; Trabalho corporal; saúde; auto-estima;
Qualidade de vida
11 - DA EDUCAÇÃO RURAL À EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA
ABORDAGEM INTRODUTÓRIA
12
Simone Cabral Marinho dos Santos
José Willington Germano-Orientador
12 - EQÜIDADE SOCIAL E IGUALDADE RACIAL: HORIZONTES
DE UMA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA
Ana Maria Morais Costa
Paulo Santos Dantas
[email protected]
Resumo: Dentre os diversos problemas crônicos que envolvem o
debate acadêmico e político sobre a educação escolar, encontra-se
o acesso e a permanência nos sistemas de ensino superior dos
segmentos populacionais com histórico de escassez de recursos
econômicos, preconceitos e estereótipos raciais. Esse trabalho
apresenta reflexões sobre o projeto de extensão desenvolvido pela
UERN por meio do programa UNIAFRO – SESU/MEC, no ano de
2007, com a participação de 20 estudantes dos diversos cursos
ofertados pela instituição. A experiência desenvolvida mostra que a
natureza da complexidade da problemática situa-se para além das
iniciativas de renovação metodológica, adaptação curricular,
inovação nas práticas pedagógicas e formação/capacitação dos/as
profissionais
do
ensino
e
da
educação.
No
debate
político/acadêmico, sobre as políticas de reconhecimento e
reparação das desvantagens acumulativas da população afrobrasileira, é ainda comum perceber uma generalização com relação
às desigualdades existentes no país e os diversos grupos que
12
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da UFRN e Professora do
Departamento de Educação- CAMEAM/UERN.
237
sofrem discriminação. A visibilidade que o cenário desse debate
conquistou nos últimos anos, ampliado pela construção e
implementação de políticas públicas sociais de promoção da
cidadania e inclusão social nem sempre é recebido de forma
positiva. Tal perspectiva justifica atitudes conformistas e
despolitizadas, e fortalece o discurso ideológico, conservador e
imobilista, mantendo às estruturas políticas, econômicas e sociais
de reprodução das desigualdades sociais e raciais historicamente
presentes na sociedade brasileira.
GT6 – Educação e Diversidade – Resumos Expandidos
01 - ESTADO E COMUNIDADES TRADICIONAIS: REVENDO OS
CONTORNOS DE ALGUMAS RELAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Paulo Santos Dantas – UERN/USP
Doutorando em Antropologia – USP e professor da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN.
O movimento por reparação política que marcou a década de 1990
no Brasil, e problematizou as relações entre o Estado e as
comunidades tradicionais, tanto fez emergir novos grupos e
sujeitos, como produziu a revisão do lugar da política por direitos.
A história do país passava por um momento privilegiado, na
medida em que novos sujeitos de interesses entravam em cena. Se
de um lado tivemos o crescimento e a potencialização de ―lutas‖ já
existentes, como no caso do Movimento dos Sem-Terra, de outro,
tivemos a criação de novas figuras legais, os chamados ―direitos
insurgentes‖ (SILVA, 1994), os quais penetraram ―nosso direito
positivo através dessas rachaduras hermenêuticas que são os
‗direitos difusos‘‖. É a partir deles que as ―populações tradicionais‖
ganham espaço, sobretudo aquelas descritas como ―comunidades
remanescentes de quilombos‖, às quais se refere o ―Artigo 68‖.
(ARRUTI, 1996: 1). É curioso notar que o ―Artigo 68‖ foi aprovado
(sem
maiores
discussões)
como
uma
das
disposições
constitucionais transitórias, mais como um item a ser incorporado
nas festividades pelo centenário da abolição da escravatura, que
pelo seu valor intrínseco.
Até 1995, o ―Artigo 68‖ ficou sem qualquer proposta de
regulamentação, quando ganha importância e passa a ser alvo de
debates e reflexões em âmbito nacional, contexto no
qual é então associado às festividades pela memória de Zumbi dos
Palmares. (ARRUTI,1996: 8-9). Note-se que a despeito da
insistência dos nossos legisladores em conceituar as ―terras de
238
pretos‖ como ―remanescentes de quilombos‖, é esta última
impressão/interpretação que prevalece entre aqueles interessados
nessas discussões, seja ONGs, as próprias comunidades,
antropólogos, juristas ou o Estado. Até o final da década de 90
diversas direções poderiam, portanto, ser tomadas, a fim de
explicar o contexto do surgimento das comunidades de quilombos
como fenômeno político-social.
Discussões mais recentes sinalizam para os modos como a cultura
tem sido utilizada como recurso capaz de ser mobilizado por
comunidades, grupos sociais, instituições diversas (nacionais e
internacionais) e mesmo pelo Estado. Todos eles estariam
dispostos a conquistar benefícios, lucros e dividendos políticos
diversos. A isso Yudice (2004) chamou de ―poder cultural‖, ou seja,
uma forma a partir da qual grupos e comunidades construíram
suas reivindicações junto às esferas públicas. O poder cultural se
constitui, então, como um instrumento com o qual comunidades
tradicionais ou emergentes podem negociar com outros sujeitos
políticos, inclusive com o Estado. Um dado importante neste
processo é que o próprio Estado tem instrumentalizado a arte e a
cultura, ora para produzir um efeito positivo acerca da tolerância
multicultural e a participação cívica, ora para estimular o
crescimento econômico através de projetos de desenvolvimento
cultural. Nesse contexto de instrumentalização simbólica da arte e
da cultura como recurso, é delas solicitado algum tipo de retorno
da política cultural, o qual diz respeito não somente às exigências
de desempenho por parte de empresas, do Estado e de instituições
financiadoras, mas também a pressões sobre grupos ou mesmo
indivíduos pertencentes a minorias políticas. Esses grupos e
indivíduos devem adotar determinada identidade em função de
recursos e reconhecimento. A este desempenho exigido, Yudice
(2004) chamou de ―imperativo social do desempenho‖. Tal
imperativo descreve uma idéia de força performativa que, quando
posta em movimento por artistas e produtores culturais, produz um
efeito a partir do qual a arte e a cultura são vistas como
interessadas em ganhos econômicos e privilégios diversos. Deste
modo, na medida em que esta ―força performativa‖ pode ser
experimentada de diferentes maneiras e em sociedades distintas,
não é o ―caráter nacional‖ que produz as distinções, mas ―um
campo diferente de forças gerado por relações dispostas
diferentemente entre as instituições estatais e a sociedade civil, o
judiciário, a polícia, as escolas e universidades, a mídia, os
mercados de consumo etc.‖ (YUDICE, 2004, pp. 69-70, apud
BENEVIDES, 2009). No Rio Grande do Norte, basicamente nesta
primeira década do século 21, a Prefeitura Municipal, a partir da
cidade de Parelhas e da Comunidade Boa Vista dos Negros, vem
construindo um discurso que, podendo ser proferido lado a lado
239
com as comunidades tradicionais, parece produzir uma idéia de
sintonia política. Como é possível a produção simétrica de discursos
por parte de sujeitos cujas experiências e interesses são
historicamente distintos? Ou será a distinção discursiva um registro
interessado do analista? Recorrendo a discursos de membros de
Secretarias de Estado, de representantes da referida comunidade,
bem como através de observações empíricas realizadas na cidade
de Parelhas durante o mês de setembro de 2009, este texto
pretende tomar como objeto o contexto contemporâneos que
produziu uma prática discursiva complexa capaz de colocar em
xeque a idéia de dicotomia entre Estado e Sociedade Civil.
Pretende-se ao mesmo tempo considerar a hipótese segundo a
qual está em processo uma transformação do lugar político e
simbólico dessas novas/antigas comunidades tradicionais. Como
esses novos discursos estão se formando e para aonde eles
apontam será, portanto, o objetivo central do texto em pauta.
Palavras - chave: Estado; Comunidade Boa Vistas/Rio Grande do
Norte; Reparação Política.
REFERÊNCIAS
ARRUTI, José Maurício A. A emergência dos “remanescentes”:
notas para o diálogo entre indígenas e quilombolas. Texto
apresentado na reunião da ABA, em Salvador, 1996.
BENEVIDES, Rubens de Freitas. ―O ethos nacional - entre as
políticas da identidade e as políticas da diferença‖. In: XIV
Congresso Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho de 2009,
Rio de Janeiro (RJ).
SILVA, Dimas S. da. 1994. ―Direito Insurgente do Negro no Brasil:
Perspectivas e Limites no Direito Oficial‖. In: S. Donizete Chagas
(org.), Lições de Direito Civil Alternativo. São Paulo: Ed.
Acadêmica.
YÚDICE, George. A conveniência da cultura. Usos da cultura na
era global. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.
02 - EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS EM ESPAÇOS ESCOLARES
E NÃO ESCOLARES: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO DE EXTENSÃO
DIREITOS HUMANOS EM TEMPOS DE DESUMANIZAÇÃO
Josefa Aldacéia Chagas de Oliveira
Ana Maria Morais Costa
Simone Cabral Marinho dos Santos
Introdução: A Educação em Direitos Humanos pela amplitude de conteúdos
teóricos e práticos é um dos instrumentos mais eficazes no combate à
violação dos Direitos Humanos na medida em que sendo essa perspectiva
da educação, herdeira da educação popular, carrega uma vocação explicita
240
de construção de um projeto histórico, de uma vontade mobilizadora definida
por uma opção orientada à mudança estrutural e ao compromisso com os
setores populares, educando na/para a valorização da dignidade e nos
princípios democráticos, mediante processos em que se materializam
interações com todas as áreas do conhecimento, facilitando a explicação,
compreensão e a intervenção, marcando discrepâncias com visões
educativas neutras.
Portanto, uma educação que subjaz uma visão crítica e política, na qual
permeia o potencial crítico e transformador da realidade pedagógica, social e
institucional da realidade, a construção de novos hábitos, valores e atitudes
e, essencialmente, a formação de sujeitos de direitos. Essa perspectiva
educacional vem, paulatinamente, se intensificando no debate nacional na
atualidade. Ações e atividades vêm sendo desenvolvidas, não só por
organizações governamentais, mas principalmente não-governamentais.
Nesse horizonte, o Projeto Direitos Humanos em Tempos de
Desumanização, enquanto ação extensionista universitária, através do
convênio 284/2007 entre a Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República – SEDH/PR e Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN, através do Departamento de Educação – DE,
Campus Avançado Profª Maria Elisa de Albuquerque Maia – CAMEAM,
numa parceria com o Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos
do Rio Grande do Norte, buscou destacar o papel estratégico da educação
em direitos humanos, tida como espaço privilegiado pelos atores e atrizes
sociais e agentes institucionais que incorporam a promoção dos direitos
humanos como princípio e diretriz. Descrevemos, aqui, os processos de
desenvolvimento do referido projeto, enfatizando as atividades
desenvolvidas, resultados e contribuições sociais e uma breve avaliação.
Atividades do Projeto: A continuidade do Projeto Direitos Humanos em
Tempos de Desumanização (primeiro convenio foi realizado em 2006 e
2007), em 2008, mediante convênio com a Secretaria Especial de Diretos
Humanos da Presidência da República – SEDH/PR, foi viabilizada pela
continuação da parceria com o Comitê Estadual de Educação em Direitos
Humanos - CEEDH e, particularmente, pelas demandas de ampliação dos
processos de formação contínua de profissionais da educação e agentes
sociais que atuam ou têm interesse na área da educação em direitos
humanos, dada a emergência e a importância do tratamento dessa temática
na sociedade atual, marcada por profundas desigualdades sociais e
resistências à promoção desses direitos, mais nas regiões oeste e alto-oeste
do Rio Grande do Norte, as quais apresentam baixos níveis de acesso aos
direitos fundamentais, o que desafia a necessária problematização e
reflexão sobre a garantia dos direitos humanos. Essas demandas
manifestaram-se nas articulações e mobilizações vivenciadas no percurso
de desenvolvimento do projeto anterior, mediante convênio com
o
MEC/SECAD, particularmente nos municípios de Pau dos Ferros, Patu,
Mossoró e Caicó, através dos Grupos de Trabalho, que se formaram, em
2007, os quais congregam representantes de movimentos sociais,
Universidade, poder público e instituições públicas e sociais, realizando-se,
mediante discussões acerca da realidade local no que tange às
problemáticas locais, às condições de violação dos direitos humanos e sob a
241
coordenação de sujeitos locais, uma formação preliminar na área da
educação em direitos humanos. Em sintonia com essas demanda e
embasados numa perspectiva da extensão universitária enquanto ação que
exerce função complementar na dinâmica da vida universitária, constituindose, portanto, um elo significante das demais funções - ensino e pesquisa- e,
por sua vez, inserindo-se como atividade imprescindível à formação
universitária, o projeto, cuja vigência se deu no período de dezembro de
2008 a abril de 2009, foi conduzido, em todas as suas fases, por uma equipe
de trabalho, formada por docentes e funcionários dos Campi de Pau dos
Ferros, Mossoró, Apodi e Patu, membros do Comitê Estadual de Educação
em Direitos Humanos, discentes do Curso de Pedagogia (Departamento de
Educação/CAMEAM/UERN), Comunicação Social e Ciências Sociais
(Campus Central), bem como por lideranças comunitárias dos vários
municípios em que foram desenvolvidas as ações, com vistas à ampliação e
à consolidação das ações desenvolvidas na/pela UERN, no campo dos
Direitos Humanos.
Nesse percurso, foram desenvolvidas ações distintas, porém
interdependentes. Ações mais diretamente ligadas à qualificação em
Educação em Direitos Humanos de profissionais da Educação Básica
Pública e Lideranças Comunitárias, ao fortalecimento do CEEDH, bem
como à produção de materiais educativos.
No desenvolvimento dessas ações objetivou-se, de uma forma geral,
oferecer condições concretas para o fortalecimento institucional do Comitê
Estadual de Educação em Direitos Humanos, dar continuidade às ações de
capacitação em educação em direitos humanos voltados para trabalhadores
(as) da Educação Básica, e ainda, a ampliar a ação de capacitação para
beneficiar lideranças comunitárias, membros da sociedade civil e militantes
na área dos direitos humanos na ação de capacitação. E, de forma mais
específica: a) Capacitar na área da educação em direitos humanos os (as)
integrantes do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos; b)
Realizar reuniões com vistas a elaborar e executar um Plano Anual de
Ações do CEEDH; c) Articular os atores sociais na construção do PEEDH; c)
Fomentar a participação do CEEDH no NUEDH para fortalecer e dar
continuidade às ações de educação em direitos humanos no estado; d) Dar
continuidade ao Cadastro Institucional de experiências de educação em
direitos humanos no Estado, realizadas por instituições registradas com 5
(cinco) anos ou mais de atuação na área; e) Produzir um catálogo com
cadastro das experiências exitosas em direitos humanos no Estado; e)
Contribuir com o fortalecimento da formação continuada dos trabalhadores
(as) da Educação Básica da rede municipal e estadual de ensino; f) Ampliar
a ação de capacitação para as lideranças comunitárias e membros atuantes
da sociedade civil; g) Publicar e disponibilizar em meio eletrônico todo
material produzido durante as oficinas de capacitação.
Resultados/Benefícios Alcançados: O trabalho desenvolvido, no período
da vigência do projeto, expressa significativo amadurecimento da prática
extensionista no interior da UERN, além da perspectiva manifesta, através
do processo de organização de Grupos de Trabalho por eixos temáticos de
construção do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos – PEEDH,
de formação de uma rede de Instituições de Ensino Superior (IES) no Estado
242
Potiguar, de modo a agregar as Instituições de Ensino Superior -IES
públicas e privadas. Se for possível medir o impacto social desse projeto,
imprescindível remetermo-nos ao processo de institucionalização da
extensão como prática acadêmica que potencializa e possibilita o acesso ao
conhecimento que o ensino regular e a pesquisa ainda não realizam.
Partindo dos objetivos propostos para realização do projeto Direitos
Humanos em Tempos de Desumanização, apontamos os seguintes
resultados:
a) Continuidade da divulgação do Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos, através das atividades de formação realizadas: cursos,
seminários temáticos, audiências públicas;
b) Formação de, aproximadamente, 360 (trezentos e sessenta) profissionais
da Educação Básica Pública em Cursos de Educação em Direitos Humanos,
sendo que destes foram formados como formadores/multiplicadores dos
demais;
c) Inclusão, nos espaços de formação, mais precisamente nos Cursos, de
lideranças comunitárias e militantes da sociedade civil e política, mediante a
formação de mais de 50 (cinqüenta) lideranças comunitárias e membros
atuantes da sociedade civil em Cursos realizados em municípios, como:
Mossoró, Pau dos Ferros, Patu , Apodi e Campo Grande. d) Fortalecimento
do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos;
e) Continuidade da realização do cadastro de instituições sociais que atuam
ou tem interesse em direitos humanos no RN;
f) Mobilização do Estado do RN para a elaboração do PEEDH;
f) Contribuição nas discussões de inserção na perspectiva da educação em
direitos humanos como eixo norteador dos projetos políticos pedagógicos
das escolas.;
g) Contribuição nos processos de formação continuada de professores/as e
gestores/as da rede pública, no desenvolvimento de abordagens teóricas e
metodológicas
h) Institucionalização do Núcleo de Estudos e Práticas Extensionistas em
Educação em Direitos Humanos –NUEDH vinculado ao Departamento de
Educação (Campus Pau dos Ferrros).
i). Articulação permanente com a Unidade de Processamentos de Dados da
UERN visando a atualização de informações referentes às ações
desenvolvidas no âmbito da Educação em Direitos Humanos no Estado.
j) Realização, mediante ação conjunta entre UERN e CEEDH, de seminários
temáticos, em conformidade às áreas temáticas do PNEDH :Educação
Básica; Educação Superior; Educação Não-formal; Educação dos
Profissionais de Justiça e Segurança; Educação e Mídia.
l) Construção/formação, no processo ora vivenciado de construção do Plano
Estadual de Educação em Direitos Humanos, de uma possível rede de
Instituições de Ensino Superior (IES) no RN, de modo a agregar IES
públicas e privadas, em favor da defesa, promoção e difusão da Educação
em Direitos Humanos – EDH.
m) Produção e veiculação de materiais educativos como: Vt para televisão,
micro jornal do PEEDH/RN;
243
n ) Ampliação das articulações, em nível de UERN, no campo da extensão
universitária,com instituições da sociedade política e civil,dentre outros
atores sociais que atuam no campo da EDH.
0) Maior estreitamento nas relações acadêmico-científicas e nas ações, no
campo da EDH, com os grupos de pesquisa e de extensão no campo das
Letras e das Artes, vinculados ao Departamento de Letras dos Campi de
Mossoró e de Pau dos Ferros.
Tecendo conclusões para iniciar o debate: Em articulação com o ensino e
a pesquisa, a extensão universitária no campo dos Direitos Humanos tem se
manifestado como uma prática acadêmica universitária imprescindível, na
medida em que suas ações são direcionada a questões sociais do país e do
Estado, bem como àquelas demandadas pelas comunidades regionais e
locais, na forma de relações com os setores da sociedade civil e política e na
contribuição para a construção de um projeto de mudança social. Trata-se
de processos em que se articula Universidade e sociedade civil organizada
em ações que valorizam a transmissão e construção do conhecimento
através da participação e de ações coletivas, tanto em espaço de educação
formal quanto não-formal.
Assim, avaliamos como aspectos positivos dessa atividade:
- A articulação com segmentos organizados e o reforço do papel social da
universidade;
- Excelente material produzido durante as oficinas: poemas, músicas, textos,
planejamento de aulas, desenhos etc;
- Articulação entre os municípios do Alto-Oeste Potiguar participantes do
Projeto;
- Perspectiva entre integrantes do projeto e participantes do curso de dar
continuidade às ações em EDH.
Quanto às dificuldades, destacaram-se:
a) Burocracia no repasse de recursos e pagamento de despesas;
b) Não-disponibilidade de alguns dos formadores/multiplicadores para
facilitarem oficinas nos cursos realizados em novembro e dezembro/2008,
nos municípios de Apodi, Campo Grande, Mossoró, Patu e Pau dos Ferros
que participaram do Curso, em agosto e setembro/2008, com vistas O que
nos condicionou a buscar contribuições de muitos docentes da UERN que
têm atuação no campo da EDH, discentes do Curso de Especialização em
Direitos Humanos, dentre outros.
c) .Excesso de atividade e ações para serem executadas, em curto tempo,
no que se refere ao prazo do convênio.
d) Ausência, ainda, de uma cultura de planejamento por parte do CEEDH;
e) Dificuldades nas relações com o CEEDH no processo de execução
financeira.
Nesse contexto, diante de tudo o que vivemos e conseguimos
construir/realizar com esse Projeto, sentimos que devemos dar continuidade
às ações, buscando fortalecer as iniciativas que temos desenvolvido na área
de educação em diretos humanos em nossa Universidade. Entretanto, o
fortalecimento do Núcleo de Extensão Universitária em Educação em
Direitos Humanos – NUEDH, enquanto grupo de estudos e práticas
extensionistas, vinculado ao Departamento de Educação, do Campus
Avançado Profª Maria Elisa de Albuquerque Maia (CAMEAM), da
244
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), dentre outros
pontos, nos é posto como um grande desafio. Daí a importância de novos
editais e de novos convênios na área que incentivem tais ações no campo
dos Direitos Humanos, dentre outras ações extensionistas, que , cada vez
mais, devem ser tidas como atividades de caráter permanente e institucional
e não apenas de forma pontual e residual.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano
Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília-DF: Secretaria
Especial dos Direitos Humanos; Ministério da Educação, 2003. 52 p.
CANDAU, Vera Maria F.; SACAVINO, Susana. Educação em Direitos
Humanos. In: CANDAU, Vera Maria F.(Org.). Magistério: construção
cotidiana. Petrópolis-RJ: Vozes, 2003
CANDAU, Vera Maria et all. Tecendo a cidadania: oficinas pedagógicas de
direitos humanos. Petrópolis, RJ: Vozes, 19995.
CANDAU, Vera Maria et all. Oficinas pedagógicas de direitos humanos.
2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
CANDAU, Vera Maria. Educação em direitos humanos: desafios para a
formação de professores. In:______. Nuevamerica, n. 78, Rio de Janeiro,
julho, 1998
CARVALHO, José Sérgio et all. Formação de professores e educação em
direitos humanos e cidadania: dos conceitos àsações. In: ______. Educação
e Pesquisa, v. 30, n. 3, São Paulo, set/dez. 2004. p. 435-445.
DORNELLES, João Ricardo W. O desafio de educar para os direitos
humanos: os 50 anos da declaração universal das Nações Unidas.
In:______. Nuevamerica, n. 78, julho, 1998.
MELLO, Laura Cristina Campello do Amaral. O movimento de educadores
em direitos humanos como espaço de formação de professores. In:______.
Nuevamerica, n. 102, Rio de Janeiro, junho, 1998.
03 - ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES E O RESGATE CULTURAL E
PRODUTIVO DOS QUINTAIS
Antônia Mábia Z. de Oliveira
[email protected]
Rejane Medeiros
[email protected]
Centro Feminista 8 de Março
Introdução: A realidade vivenciada pelas mulheres trabalhadoras rurais na
região oeste potiguar é marcada por grandes dificuldades. Uma delas é
provocada pela divisão sexual do trabalho, que define na sociedade o que
são papéis masculinos e femininos, nos quais aos homens é destinado o
mundo público e as mulheres o privado. Nessa estrutura se estabelecem
relações de poder dos homens sobre as mulheres.
Na região existe experiências em curso protagonizadas por mulheres rurais
que decidiram construir uma luta coletiva de transformação dessa realidade
de desigualdade e submissão. Pode-se dizer que, a partir dessa luta, foi
245
possível conquistar o crédito específico, a titularidade conjunta,
documentação, lei de combate à violência contra a mulher e a experiência
com projetos produtivos, entre outras conquistas.
Relata-se uma experiência desenvolvida no projeto13 ―Igualdade de Gênero
e Soberania Alimentar: assistência técnica à mulheres trabalhadoras rurais
das comunidades dos Territórios Açu/Mossoró e do Sertão do Apodi,‖ no
Estado do Rio Grande do Norte/Brasil, coordenado pelo Centro Feminista 8
de Março, em comunidades e projetos de assentamentos rurais das cidades
de Mossoró, Apodi e Governador Dix-Sept Rosado. O objetivo do projeto é
desenvolver de forma participativa com as mulheres, um resgate cultural e o
melhoramento dos quintais de suas residências, redescobrindo e
reconhecendo esse espaço como de experiências, de diversificação da
produção: local de manutenção das sementes e plantas nativas; encontro da
família, das brincadeiras, da tranqüilidade, e principalmente como mais um
dos espaços de trabalho produtivo das mulheres, pouco, ou quase não visto
pela sociedade. Este espaço é gerador de diversificação da alimentação e
da renda para complementar o orçamento da família.
Portanto, se destina a expandir experiências de movimento social,
contribuindo com a organização de novos grupos de mulheres trabalhadoras
rurais e o fortalecimento da sua produção nas comunidades e
assentamentos rurais. O projeto é desenvolvido diretamente junto a 150
mulheres trabalhadoras rurais dos municípios de Mossoró e Apodi, se
expandindo para o município de Governador Dix-sept Rosado, assessorando
novos grupos de mulheres.
É importante salientar que esse trabalho é direcionado mais para mulheres
das comunidades rurais. As mulheres dessas comunidades têm maiores
dificuldades quanto a organização, quando comparado com as áreas de
assentamentos rurais. Pois, esses espaços originados da reforma agrária
têm maior acesso as políticas públicas, como assistência técnica, crédito e
os incentivos em geral voltados para a agricultura familiar, possibilitando um
maior processo de organização e luta coletiva.
Esse trabalho, também, dar acompanhamento sistemático aos grupos, tanto
relacionado ao movimento feminista, através da Marcha Mundial da
Mulheres14, como ao produtivo. Com a produção, é realizado um trabalho de
melhoramento e fortalecimento dos quintais, com a diversificação de
produtos para a soberania alimentar das famílias, com base nos princípios
da economia solidária e da agroecologia.
Os quintais representam uma unidade agrícola, e hoje estão sendo
discutidos e pensados, como uma forma de resgate cultural das práticas
agrícolas realizadas em tempos passados. Essas práticas são comuns nas
famílias sertanejas, pensando o Brasil como um país rural; é também uma
13
Projeto financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) através da coordenação da
Assessoria Especial de Gênero, Raça e Etnia (AEGRE).
14
A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento feminista, que surgiu em 2000 com uma
grande ação que reuniu mulheres de 165 países, em uma campanha contra a pobreza e a violência
sexista.
246
alternativa de convivência com o semi-árido. O trabalho no quintal realizado
pelas mulheres não pode ser visto apenas como uma extensão do trabalho
doméstico, reprodutivo, pois garante a diversificação da alimentação da
família, da renda extra, e demonstra que as mulheres participam da
economia local.
Realizar esse trabalho nos quintais tem possibilitado para as mulheres,
redescobrir e reconhecer os seus valores. Tem permitido ao Centro
Feminista 8 e Março um contato mais direto com as mulheres, em função de
ser o prolongamento de suas casas, seu espaço de trabalho, do cuidado, de
experiências, de diversificação da produção.
Metodologia: Os métodos utilizados são ações participativas, respeitando
acima de tudo, o conhecimento e a sabedoria popular de cada localidade.
Assim, busca-se contribuir com processos de formação em
acompanhamento sistemático nas comunidades participantes do projeto,
participando da construção e organização de grupos de mulheres,
fortalecendo os já existentes em suas necessidades através de visitas,
reuniões e oficinas.
Essa forma favorece o acompanhamento da produção nos quintais, na
perspectiva de iniciar o trabalho onde ainda não tem nenhuma atividade, ou
fortalecer as já existentes. Através de capacitações, visitas de intercâmbio a
experiências consolidadas, trocas de experiências entre os grupos, cursos
de ampliação da produção nos quintais na perspectiva agroecologica e
conhecimentos de novas tecnologias de produção acessíveis a agricultura
familiar.
Existem atividades individuais com cada mulher, onde plantam e criam
pequenos animais em seus quintais, a partir de sua vontade, experiência,
espaço e disponibilidade. Um caso interessante, problematizado entre
muitas mulheres é o fato de acharem que é impossível unir a atividade de
plantar com a de criar, principalmente para quem cria aves (galinha, guiné,
patos). No decorrer das visitas, conversas e as trocas de experiências, as
mulheres têm percebido que é possível criar e plantar nos quintais.
Assim, vários quintais estão sendo trabalhados e onde se encontrava a
dificuldade entre o plantar e o criar, esta sendo resolvida de diferentes
formas, proteção com telas, faxinas feitas de estacas de algumas plantas
nativas e talos de carnaúbas. Os intercâmbios são momentos ricos de
trocas de saberes e a oportunidade de visitar uma experiência consolidada.
É um momento de mostrar que é possível criar técnicas de convivência com
as diversidades, dificuldades e semelhanças encontradas no semi-árido. Os
intercâmbios vão além das trocas de experiências, pois, acontecem trocas
de plantas nativas e medicinais, modos de comercialização, receitas e
técnicas saudáveis que respeita o ambiente e as pessoas, como também, de
informações, culturas, boas energias, alegrias e estímulos que fortalecem a
organização política das mulheres e o trabalho que essas vivenciam no seu
dia-a-dia.
Resultados e Discussão: É grande o interesse por hortaliças,
principalmente o coentro e a cebolinha, as quais já são cultivadas em alguns
quintais, nas mais diferentes situações, em caixas de geladeiras, bacias,
pneus, canteiros suspensos e na forma tradicional que são os canteiros no
chão.
247
Esclarecimentos sobre as formas de plantio são feitos durante as visitas
como também nos cursos e oficinas nos quais são distribuídas sementes
das mais variadas hortaliças como coentro, cebolinha, beterraba, cenoura,
alface, berinjela, pimentão, tomate entre outras.
Outro incentivo feito é para o plantio de plantas medicinais, tentando formar
em cada quintal, uma pequena farmácia viva, com plantas nativas
medicinais da região, para que possam ser utilizadas em eventuais
―doenças‖ como dor na cabeça, febres, diarréias, enxaqueca, gripes e
inflamações. Entre as mulheres é comum a troca de plantas medicinais nos
intercâmbios, como também de conhecimentos sobre determinadas plantas.
Conclusão: O período de trabalho nos grupos permite perceber que já
aconteceram algumas mudanças substâncias nessas comunidades e
assentamentos, como formação de novos grupos de mulheres rurais
discutindo e reivindicando seus direitos, conhecendo as políticas públicas
voltadas para as trabalhadoras rurais, com capacidade de intervenção e
proposição para seu aprimoramento e acesso de acordo com suas
demandas.
O trabalho nos quintais é uma realidade, uma conquista e reconhecimento
do trabalho das mulheres. Algumas já estão produzindo para o consumo da
família, economizando para empregar o recurso que antes era voltado para
comprar hortaliças em outras necessidades. O excedente dessa produção
está sendo vendido nas feiras da agricultura familiar e solidária em seus
municípios, e na Rede Xique – Xique15 de comercialização solidária.
Trata-se, portanto, de uma experiência que busca o reconhecimento do
trabalho produtivo das mulheres, para que elas sejam protagonistas de suas
próprias vidas e que os quintais trabalhados por elas sejam melhorados e
fortalecidos, na perspectivada da diversificação de produtos, promovendo a
soberania alimentar da família.
REFERÊNCIAS
CENTRO FEMINISTA 8 DE MARÇO. Práticas feministas na região Oeste:
um olhar a partir da auto-organização das mulheres. Cadernos de 8 Março
– n° 8. IGRAMOL, 2008.
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES. Cadernos n° 1 Junho/2008.
IGRAMOL, 2008.
ANAMURI – Associação Nacional de Mulheres Rurais Indígenas (Chile);
REDES/AMIGOS DA TERRA – Programa Uruguai Sustentável (Uruguai);
SOF – Sempreviva Organização Feminista (Brasil); PROGRAMA CONE SUL
SUSTENTÁVEL. Soberania Alimentar: uma resposta às mudanças
climáticas. Janeiro/2009. Maxprint Editora, São Paulo, 2009.
15
A Rede Xique-Xique é uma rede de comercialização e economia solidária, formada por grupos
produtivos de mulheres e mistos (reúnem homens e mulheres) da agricultura familiar, dos vários
municípios do Estado do Rio Grande do Norte, e realiza diversas atividades de formação e
articulação, através de seminários, oficinas e intercâmbios.
248
04 O LUGAR DA CIDADANIA NA SOCIABILIDADE CONTEMPORÂNEA
Ana Maria Morais Costa – mestranda do PPGCS/UFRN
e-mail: [email protected]
Dr. José Willington Germano – orientador
e-mail: [email protected]
Introdução: A cidadania parece visitar todos os espaços da sociabilidade
contemporânea. Transita livremente nos vários discursos: dos grupos
políticos (de qualquer agremiação e setor social), dos empresários, dos
grupos populares, nas pautas de reivindicações dos movimentos sociais, nos
meios de comunicação de massa, nas elaborações dos planejamentos e
projetos políticos pedagógicos, nas diretrizes do Banco Mundial,
ONU/UNESCO, na proliferação de espaços locais de participação popular e
controle democrático, na produção intelectual.
No entanto, quando pensamos em cidadania relacionada à noção de
participação na esfera política registramos aspectos de uma crise revelada
no desencanto com as instituições políticas e seus integrantes, insatisfação
e denúncia de corrupção, esvaziamento dos movimentos sociais etc.
Ausência e exaltação de cidadania paradoxalmente encontram-se. Ao
mesmo tempo em que se percebe a frágil e incompleta cidadania dos (das)
brasileiras (as), percebe-se também diversas instâncias de decisões, de
mecanismos e canais de participação, numa estranha combinação de
espaços políticos formais ocupados por representantes da população e
esvaziamento político da noção de cidadania.
A presença da noção cidadania nos diferentes discursos sobre o social, o
econômico, o político, o cultural, lhe confere um status de categoria
universal, com valor comum a todo o grupo social, independentemente de
classe, gênero e etnia, e de posições teóricas, políticas, culturais e
ideológicas.
Essa forma de apresentação da noção de cidadania é presente desde a sua
origem burguesa. A cidadania relacionada ao surgimento das cidades e
organização da vida social na Polis Grega, tendo por base o exercício da
liberdade, e a capacidade dos homens livres16 exercerem seus direitos e
deveres de cidadão, é recuperada como categoria universal nos ideais da
burguesia. Com as revoluções burguesas, torna–se presente nas cartas
constitucionais, dando origem ao Estado de Direito, no qual todos os
homens são iguais ainda que perante a lei. Principio afirmado nas
constituições norte americana (1776) e francesa (1798) e reorganizado e
ratificado pela ONU em 1948, na Declaração Universal dos Direitos do
Homem.
16
Não estavam incluídos na condição de homens livres: as mulheres, as crianças, os
camponeses pobres e os escravos.
249
Embora o princípio de que todos os homens são iguais, ainda que perante a
lei, represente uma conquista importante para a cidadania universal,
representa também, de certa forma, a legitimidade da desigualdade social.
Ao expressar que os homens são iguais diante da lei, os burgueses revelam
(pela omissão), que eles não são iguais em capacidade e potencialidade de
produção dos bens econômicos e culturais, e, consequentemente, nas
condições de acesso às riquezas econômicas, políticas e culturais. A visão
de mundo burguesa é expressa inicialmente nesse silêncio, quando institui a
definição da noção de cidadania como categoria universal. Se os homens
não são iguais socialmente, a conquista de bens econômicos e culturais
pertence à esfera da individualidade e depende da capacidade de
concorrência e disputa das idéias em torno das quais se organiza a noção
de cidadania burguesa, atualizada de acordo com as exigências de cada
sociedade e período histórico e social.
Para GOHN (1994, p. 11-14), a cidadania burguesa associada à noção dos
direitos naturais e imprescritíveis do homem (liberdade, igualdade perante a
lei e direito à propriedade) é definida a partir da idéia de propriedade como
bem supremo, que garante a independência econômica, a liberdade e a
cidadania, e só o proprietário tem plena liberdade e plena cidadania. ―A
igualdade natural entre os homens seria desfeita no plano real pela
desigualdade entre cidadão-proprietário e o não-cidadão e o nãoproprietário‖. (op. cit., 12). Para a autora, esse cenário é modificado no
século XVIII. A ênfase na razão e na história constrói o sonho de modificar a
ordem social e política, os não proprietários passam a ser concebidos como
classes populares – sujeito de direitos, que através da instrução e da
consciência conquistam o estágio de sujeitos políticos, capazes de modificar
a realidade. A conquista da cidadania é intrinsecamente relacionada a uma
questão educativa.
Dessa forma, a cidadania construída no processo de ascensão do
capitalismo e consequente dominação e exploração tem a sua evolução
inscrita nas lutas políticas e sociais. O seu conteúdo é resultado de
conquistas processadas em muitos embates envolvendo diversos grupos
sociais e culturais. As infinidades de carências sofridas são transformadas
em demandas e reivindicações coletivas, e também em sistematizações
teóricas do papel do Estado e da sociedade civil, no dialético jogo do
desenvolvimento histórico. Neste sentido, afirma
MANZINE-COVRE
(2001, p. 10):
Quem detém o poder cuida de encaminhar as coisas na direção
que atenda basicamente aos seus interesses, e não ao interesse
de todos, apesar da aparência contrária (...). Só existe cidadania
se houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços,
de pugna para fazer valer os direitos de cidadão. Neste sentido, a
prática de cidadania pode ser a estratégia, por excelência, para a
construção de uma sociedade melhor. Mas o primeiro pressuposto
dessa prática é que esteja assegurado o direito de reivindicar, e
que o conhecimento desses direitos se estenda cada vez mais a
toda a população.
250
Para SEN (2000), a cidadania é um dos aspectos constitutivos do
desenvolvimento social, este relacionado à condição de agente 17 das
pessoas, construído e conquistado pela expansão da liberdade como
elemento primordial para o desenvolvimento social. Para o autor, os diversos
tipos de liberdade apresentam-se inter-relacionados e interdependentes. O
exercício de um tipo de liberdade promove outros tipos de liberdade. Desse
modo, a condição da cidadania se alicerça na conquista das liberdades
substantivas, compreendidas como capacidades de evitar todas as formas
de privações, desde a condição de escolha de viver do modo como
desejarem à participação política e liberdade de expressão.
Por outro lado, a condição de agente de cada um é
inescapavelmente restrita e limitada pelas oportunidades sociais,
políticas e econômicas de que dispomos. Existe uma acentuada
complementaridade entre a condição de agente individual e as
disposições sociais: é importante o reconhecimento simultâneo da
centralidade da liberdade individual e da força das influências
sociais sobre o grau e o alcance da liberdade individual. Para
combater os problemas que enfrentamos, temos que considerar a
liberdade individual um comprometimento social. (SEN, 2000, p.
10).
Compreende-se, diante disso, que a idéia de cidadania não é abstrata.
Como motivação e resultado da ação política, é passível de uma
multiplicidade de significados políticos e ideológicos que orientam as práticas
educativas e sociais dos grupos envolvidos na ação política/reinvidicativa, e
também, os estudos, análises e ação educativa dos intelectuais, que em
cada momento histórico e cultural buscam apreender o significado da
realidade social a partir de recortes teóricos e metodológicos adotados.
A discussão ganha maior relevância no debate educacional no Brasil a partir
da LDB 9394/96 que apresenta a formação dos professores e das
professoras como condição democrática e o exercício da cidadania e como
um dos indicadores da mudança para um ensino de qualidade. Para DEMO
(2000) é a formação do profissional formador de profissionais que permite
pensar no encontro da qualidade formal e da qualidade política como
processo interdepende da qualidade do ensino. Cremos que é essa
perspectiva que possibilita pensar a educação para a cidadania no espaço
escolar. No entanto destacamos que a produção acadêmica precisa avançar
na construção de respostas a algumas questões, tais como: Que
significações assumem a formação do profissional, formador dos
profissionais? Quais conteúdos e espaços de vivência e construção da
cidadania oportunizam a renovação das suas práticas educativas? Quais
suportes teórico-metodológicos devem estar presentes na formação do
17
SEN (2000) define agente como o indivíduo membro do público e participante de ações
econômicas, sociais e políticas. Alguém que age e ocasiona mudanças e cujas realizações podem ser
julgadas de acordo comeus próprios valores e objetivos, independentemente de as avaliarmos ou
não também segundo algum critério externo.
251
professor e da professora para que estes possam contribuir com a
recuperação do significado político da noção de cidadania?
Assumindo a perspectiva de que a aprendizagem cidadã envolve como
pressuposto a incorporação de valores como a igualdade, democracia e
justiça social e considerando a existência de várias instituições de
socialização, surge um questionamento: é a escola o espaço especializado
para a formação de valores? Se a educação para a cidadania exige a
construção de uma cultura cidadã alicerçada em valores que orientam as
atitudes e práticas, é preciso reconhecer à multiplicidade de espaços na
sociedade contemporânea que socializam e culturalizam as pessoas, como
as religiões, as famílias, a mídia, os partidos políticos e os movimentos
sociais.
Ressalta-se que os setores populares têm construído diversos espaços de
formação da cidadania coletiva, e são experiências que, pulverizadas em
todo o país, formam atores sociais, constroem identidades plurais e
personalidades democráticas, reconstruindo e reapropriando os espaços da
vida cotidiana como alternativa aos modelos de desenvolvimento social e
político, construindo novas formas de ser e viver em sociedade.
Cremos que a educação para a cidadania precisa considerar essas
experiências como espaços por excelência de formação cidadã e aproximar
tais experiências do cotidiano escolar, alimentando a reflexão teórica e
sendo alimentada por ela, num permanente exercício de construção e
reconstrução do conhecimento.
Neste sentido, apontamos o espaço dos movimentos sociais: das ONGs, dos
conselhos, das experiências comunitárias de autogestão e cooperação, das
práticas econômicas alternativas, da participação nos espaços formais de
definição das políticas públicas, do orçamento participativo, do controle dos
gastos públicos, dentre tantos outros. Compreendemos que estes, são
espaços especializados de educação para a cidadania. São espaços da
práxis, da convivência com a diferença, da formulação e condução das
reivindicações, da (re) organização do discurso, da transformação das
carências sociais dos setores excluídos em direitos, da construção de
estratégias que acionem a capacidade provedora do Estado. São espaços
permeados pela presença ativa e postura crítica com relação ao público, e
pelo sentimento da necessidade de extensão dos conhecimentos dos
direitos a camadas mais amplas da população, ensaiando a educação para
a cidadania como um novo aprendizado socioeducativo em permanente
construção.
Porém, se a educação não é o único espaço, nem talvez o mais
especializado para formar a pessoa cidadã, ela é indispensável na
construção da cidadania coletiva, conforme destaca Paulo Freire (1995, p.
74):
Não dá para dizer que a educação crie a cidadania de quem quer
que seja. Mas sem a Educação, é difícil construir a cidadania. A
cidadania se cria com presença ativa, crítica, decidida, de todos
nós com relação à coisa pública. Isso é dificílimo, mas é possível.
A educação não é a chave para a transformação, mas é
indispensável. A educação sozinha não faz, mas sem ela também
não é feita a cidadania.
252
Do mesmo modo, podemos dizer que não são os/as professores/as os
principais formadores/as da cidadania, porém sem a atuação cidadã na sala
de aula e no espaço escolar a cidadania não chegará ao estudante. Para
que ocorra tal mecanismo é necessária uma construção teórica e uma
atuação prática, apoiada nos princípios da justiça social, democracia e
compromisso social, como horizontes de uma noção de cidadania
indispensável à educação brasileira. Ou seja: a educação para a cidadania
só estará presente na formação do/a estudante se estiver presente no
professor e na professora. Presença como discurso teórico sistematizado a
partir das experiências vividas, mas principalmente como uma atitude
cidadã, que propicie o contato do estudante com a comunidade e com os
atores sociais envolvidos na construção da cidadania, do manejo crítico do
conhecimento, numa perspectiva teórica crítica e integradora das várias
abordagens que possibilitam a emancipação da pessoa humana e a
democratização da sociedade.
REFERÊNCIAS
AZEVÊDO, Alessandro Augusto de. Sem medo de dizer não: o PT e a
política do Rio Grande do Norte – 1979 – 1990. Dissertação de Mestrado em
Ciências Sociais, Natal: UFRN, 1996.
BRENSTEIN, Basil. Poder, Educación y Conciencia – sociologia de la
transmissión cultural. Barcelona: El Roure Editorial, S. A., 1990.
BOURDIEU. Pierre, O Poder Simbólico. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrad
Brasil, 2000.
DEMO. Pedro. A NOVA LDB – ranços e avanços. 10. ed. Campinas, SP:
2000.
FREIRE, Paulo. Construção de uma nova cultura política. IN: Poder Local,
Participação Popular, Construção da Cidadania. São Paulo: Fórum
Nacional de Participação Popular nas administrações municipais, 1995
(N.01).
GOHN, M.G.M. Movimentos Sociais e Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
GIROUX, Henry. Teoria Crítica e Resistência em Educação. Petrópolis:
Vozes, 1986.
MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes, O que é cidadania. São Paulo:
Brasiliense, 2001 (primeiros passos).
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo,
Companhia das Letras: 2000.
05 - ESCOLA DE FORMAÇÃO POLÍTICA E PROFISSIONAL PARA A
JUVENTUDE DO CAMPO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO
MUNICÍPIO DE APODI/RN
Elielma de Sousa Pereira
[email protected]
Orientadora: Simone Cabral Marinho dos Santos
253
[email protected]
Introdução: No debate sobre a juventude têm–se diversas orientações: as
que são dirigidas ao controle social juvenil, à formação de mão-de-obra e as
que aspiram à realização dos jovens como sujeitos de direitos. Os jovens ora
são vistos como problemas ora como setores que precisam ser objeto de
atenção. Como a juventude tem sido considerada uma fase de vida marcada
por certa instabilidade associada a determinados "problemas sociais‖, tem se
tornado objeto de estereótipos negativos, como a delinqüência e a violência.
Para a construção de uma verdadeira política pública de juventude é preciso
criar ambientes mais propícios e necessários para o surgimento de uma
cultura de participação e cooperação capaz de criar novos paradigmas para
o desenvolvimento da juventude. Para isso, é necessário promover uma
efetiva inserção dos jovens na sociedade e fomentar uma ampla participação
juvenil no processo de desenvolvimento local.
Foi sob essa perspectiva que surgiu o Projeto de Extensão Escola de
Formação Política e Cidadã realizado pela Pró-Reitoria de Extensão
(PROEX), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em
parceria com o Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC-RN). Fundamentado nas
construções identitárias e nos processos emancipatórios de pessoas e/ou
grupos que buscam a sua construção e ampliação da autonomia,
respondendo assim as necessidades de realização pessoal e coletiva, esse
Projeto foi realizado através de um curso de Formação Política e Profissional
para Jovens, especialmente, os vivem do ou no meio rural, que atuavam em
organizações sociais, políticas e religiosas nos municípios de Campo
Grande, Caraúbas e Apodi, localizados na região oeste do estado, no
período de julho de 2007 a fevereiro de 2009. Particularmente, relataremos
a experiência desenvolvida no município de Apodi-RN.
O objetivo deste curso foi fomentar a participação juvenil no processo de
desenvolvimento local sustentável, a partir de uma formação política e
profissional. É, portanto, objetivo deste texto, relatar o processo de formação
política da juventude a partir de uma ação educativa, que tentou se firmar
numa abordagem para além da reprodução conteudista das temáticas
trabalhadas, através de uma formação pautada no exercício da cidadania e
na compreensão do fortalecimento político e na organização social juvenil..
Seguindo uma orientação que primasse por uma formação cujos conteúdos
e temáticas abordados tratassem não só da dinâmica profissional, mas
política, que o Projeto de Formação Política e Cidadã procurou atender as
especificidade de seu público alvo da seguinte forma: os que tinham
interesse ou atuavam no campo, agregar o conhecimento técnico sobre as
questões rurais à vivência no mundo do trabalho e do campo, vez que a
qualificação profissional tem sido estratégica no enfrentamento da exclusão
social e diferencial no mundo do trabalho do campo; aos que se
interessavam pela vida urbana, estimular o potencial formativo de inserção
concreta do jovem no processo econômico, voltado para uma perspectiva
empreendedora da sua vida pessoal e sócio-econômica. Contudo, o
diferencial dessa formação era possibilitar e estimular lideranças juvenis,
cujas ações estivessem baseadas em estratégias de desenvolvimento
254
pessoal e social compatível com a vida prática do sujeito e de valorização do
trabalho.
O Projeto de Extensão Escola de Formação Política e Cidadã para Jovens
teve início em junho de 2008 em Apodi-RN, com financiamento do
MEC/SESu/DEPEM, firmando o Convênio Nº 161/2007. A estratégia era,
então, promover ações integradas de desenvolvimento local, formação
política da juventude e valorização dos recursos humanos, de forma que
permitisse um nivelamento das informações e respeito às diversidades
produtivas, culturais e regionais dos jovens e suas formas de organização.
Soma-se a isso, a parceria estabelecida entre a UERN e o PDHC na
realização da atividade, fortalecendo a cooperação mútua e o
comprometimento social das instituições e organizações da sociedade civil,
de forma a potencializar o trabalho, em todos os seus sentidos, e exercitar
os exigentes desafios que a cooperação implica.
Além da parceria com o PDHC, havia parceiros locais a fim de garantir a
descentralização de decisões e informações, distribuição de tarefas e
exeqüibilidade das ações. Em Apodi as parcerias locais eram: COOAFAPI,
COOPAPI, Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR's), Associações, PDA
Santa Cruz, SEAPAC e Terra Viva. A UERN e o PDHC eram responsáveis
pelo transporte, reprografia, material didático e ministrantes das oficinas e as
parceiras locais, com transportes dos alunos, alimentação, parte dos
ministrantes das oficinas, material didático e infra-estrutura. Contou-se
também com o apoio de gestores de escolas públicas desses municípios,
pois, na maioria das vezes, o curso acontecia em estabelecimentos de
ensino.
A meta era capacitar 40 jovens entre 15 e 29 anos integrantes de
organizações juvenis rurais e urbanas, propiciando um ambiente de
aprendizagem para serem responsáveis de forma ativa por suas decisões e
comprometidos com a organização e o fortalecimento dos grupos e das
comunidades onde estão inseridos. O Projeto foi realizado através de um
curso de formação política e profissional para jovens com uma carga horária
inicial de 116 h/a, ministrado através de oficinas e seminários temáticos, por
uma equipe multidisciplinar, composta por membros das instituições
proponente e parceiras. Os ministrantes eram docentes, técnicos
administrativos e discentes da UERN e militantes e educadores sociais das
instituições parceiras.
Inicialmente o curso foi dividido em duas etapas: a de formação geral, com
carga horária de 60 h/a, destinada à formação na área da participação
política, cidadania, direitos humanos e metodologia de práticas sociais, e o
de formação específica, dividida em dois blocos temáticos, com carga
horária de 56 h/a, destinada à formação mais voltada para as questões do
meio rural e a de empreendedorismo. Nessa etapa da formação, o jovem
poderia optar por um dos dois blocos ou compor o próprio bloco temático,
tomando como referência as temáticas definidas. A idéia era envolver grupos
do meio rural e do meio urbano, de forma simultânea, uma vez que um dos
pressupostos do curso era estimular a aproximação e a criação de
possibilidades de se constituírem relações de complementaridade e troca de
experiências entre os jovens.
255
Tomando por base esses referenciais, o curso discutiu no bloco de formação
geral as seguintes temáticas: Juventude e participação política, Políticas
Públicas para Juventude, Movimentos Sociais, Metodologia Popular de
Trabalho de Base, Formação de Liderança Juvenil e Educação Popular. Na
formação específica, além dos Seminários Temáticos, o bloco I era
composto pelos seguintes temas: Modelo Agrícola Brasileiro, Plano
Camponês (MST) e o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável
(CONTAG), Agroecologia e Soberania Alimentar, Gênero e Agricultura
Familiar, Educação do Campo, Mística Popular, Custos de Produção e
Comercialização e Espaço de Produção e Consumo Solidários. E no bloco II:
Empreendedorismo, Associativismo e cooperativismo, Tecnologias Sociais,
Custos de Produção e Comercialização e Espaço de Produção e Consumo
Solidários.
Em Campo e Caraúbas essas temáticas não sofreram modificações. Mas
em Apodi, não só foram acrescidas outras temáticas como os cursistas não
tiveram que optar por um dos blocos. Os parceiros locais decidiram por
unificá-los, garantindo uma formação mais ampla e diversificada para os
jovens. Assim, foram acrescidas ao bloco de formação geral as temáticas
Cidadania e Direitos Humanos e Aprender a Aprender, ficando o curso com
uma carga horária total de 128 h/a.
Quanto à procura pelo ingresso no curso, houve 152 inscritos,
majoritariamente, jovens advindos do meio rural. Tendo em vista essa
demanda, foram selecionados 80 jovens, formando-se duas turmas. Destes,
51 concluíram, quando o projeto foi encerrado em fevereiro de 2009. A sua
conclusão não dependia apenas da assiduidade e da pontualidade, mas de
uma participação efetiva nas atividades do curso que incluía não só
atividades práticas individuais e coletivas, mas a permanência em grupos
e/ou organizações.
No que se refere aos desafios de sua realização, estava a garantia de
regularidade do cronograma de atividades, a freqüência dos alunos e a
dinamicidade das oficinas, não se restringindo apenas à reprodução de
conteúdos, mas de troca de saberes e experiências. Além disso, havia
dificuldades no acompanhamento individualizado no que era proposto para
as oficinas, apesar do esforço dos ministrantes em garantir uma interlocução
entre os temas e o planejamento das atividades, e mesmo tendo havido
reuniões regulares entre os membros da equipe do projeto nos municípios
para tratar de encaminhamentos e das adversidades que ocorriam durante a
sua execução.
Obviamente, surgiram outras dificuldades e outros desdobramentos que
merecem ser avaliados no que diz respeito aos aspectos pessoais, técnicos
e didáticos do ponto de vista do aluno. Dado ao recorte e objetivo deste
texto, não trataremos, especificamente, destes aspectos. Mas podemos
concluir, que, de um modo geral, o curso significou uma oportunidade de
aproximar a Universidade do seu entorno social, por meio de uma ação
extensionista, articulando o saber técnico com o saber popular e
desconstruindo estereótipos de negação e distanciamento da relação
academia e movimentos sociais, com possibilidades de novas parcerias na
realização de projetos. Para a equipe, significou um canal aberto à novas
escutas sensíveis às demandas e problemas sociais. E para os alunos,
256
perspectivas de fortalecimento das organizações sociais juvenis, estímulo
para o ingresso no ensino superior, através da elevação da auto-estima e da
busca de superação da condição de elitização do ensino superior, bem
como, perspectivas para a continuidade de projetos sociais que possam dar
visibilidade aos jovens e suas demandas emergentes.
REFERÊNCIAS
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é participação. São Paulo: Brasiliense,
2007. (Coleção Primeiros Passos).
CARNEIRO, Maria José. O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de
jovens rurais. Disponível em: www.bibliotecavirtual.clacso.org.ar. Acesso em:
03/04/2007.
CESAP. Qualificação Comunitária e Geração de CidadaniaSistematizando uma Metodologia. Brasília: MET, PPE, DEQ, 2007.
DALLARI , Dalmo de Abreu. O que é participação política. São Paulo:
Brasiliense, 1999. (Coleção Primeiros Passos; 104)
GOHN, Maria da Glória. Teoria dos Movimentos Sociais. São Paulo:
Loyola, 1997.
06 - GEOGRAFIA E GÊNERO: UMA EXPERIENCIA EM SALA DE AULA
Flávia Spinelli Braga
Professora de Geografia do CAMEAM/UERN
[email protected]
Introdução: A ciência geográfica se destaca entre poucas que consegue ter
um dinamismo que acompanhe a velocidade das transformações do mundo
capitalista, isto se dá pelo perfil do profissional que está saindo das
instituições de formação como pelo seu avanço do conhecimento científico
dos fenômenos sociais e ambientais. Em todas as áreas que esta ciência
atua é visível o quanto sua reflexão se faz necessária. Afinal, esta
necessidade de reflexão é o mecanismo de manutenção do pensamento
sobre as transformações no mundo que são cada vez mais complexas e que
faz da geografia uma ciência dinâmica, social e popularizada.
Nas instituições de formação do profissional em geografia uma das maiores
preocupações que tenta se discutir é justamente o equilíbrio entre a teoria,
ou seja, a base conceitual, o método analítico que se adquiri e a realidade
de sua aplicação. Sendo que, um dos maiores problemas é a formulação da
teoria que se pretende aproximar da prática e assim corresponder às
funções da ciência geográfica para com o desenvolvimento e reais
necessidades da sociedade. Diante disso, o curso de Geografia do
CAMEAM/UERN tenta se qualificar cientificamente a partir de um ideário que
vislumbre a Totalidade Geográfica, ou seja, uma formação mais holística e
menos fragmentada do conhecimento geográfico, filosófico e da educação. E
foi justamente com este intuito que a disciplina de Geografia da População
teve um processo diferenciado e particular de desenvolvimento no decorrer
do semestre 2008/2. Esta disciplina foi ministrada aos alunos do 3º período
de geografia e tinha como um dos conteúdos de sua ementa a questão da
―Composição de Gênero‖, da qual o principal viés que foi norteado pela
257
professora e monitora seria a desconstrução dos mitos da fêmea e da
mulher do capitalismo, para tanto, sabia-se que um embasamento teórico e
muita disposição para o debate se fazia necessário, pois o teor do tema
remete a rupturas, choques e muitas vezes, define transformações morais e
filosóficas.
Como a disciplina se desenvolve em seis meses, durante os dois primeiros
meses foram orientadas leituras mais genéricas sobre as temáticas que
norteiam o estudo da população e sua dinâmica. Discutidas estas leituras
iniciou-se a apresentação da obra ―Mulheres: o gênero nos uni, a classe nos
divide” de Cecília Toledo. Os alunos foram orientados a tentar responder
duas questões chave durante o processo de leitura e debate, A diferença
entre exploração e opressão? E o porquê da afirmação: Mulher termômetro
da Sociedade! O debate sobre a leitura da obra se apresentou
processualmente crescente e motivante, pois partindo de um método de
ensino dialético, estabeleceu-se uma identidade da turma para com o tema e
com a Geografia. Entre as discussões mais envolventes e polêmicas
estiveram: a demonstração da importância da mulher na sociedade, à
maneira como ela vem sendo tratada ao longo do tempo, o modo como o
sistema capitalista se aproveita de um fator cultural para aumentar a sua
exploração e a maneira como essa temática vem sendo tratada pelo
marxismo.
Outra polêmica discutida a partir da obra de Cecília Toledo foi como a
mulher no sistema capitalista é vista como um ser subalterno e submisso,
onde tal concepção foi sendo construída culturalmente ao longo de nossa
história e transmitida de forma natural justificada pelo fator biológico e
sustentada pela família, religião, educação e mídia.
O estereótipo da mulher como um ser inferior por natureza serviu para
justificar a sua opressão e exploração pelo sistema capitalista. Porém, as
mulheres vêm lutando para modificar essa realidade e já conseguiram
realizações significativas como o direito ao voto, trabalhar fora e etc. Se a
opressão é algo imposto pode ser superada, por isso as mulheres devem
continuar lutando por sua emancipação, porém essa luta segundo Toledo
deve ser uma luta de classe (não de gênero), contra o sistema capitalista.
Outra polêmica tomada pelo debate em sala de aula era sobre a entrada da
mulher no mercado de trabalho que por um lado contribuiu para a sua
―libertação trabalhista‖, alem de uni-la à classe trabalhadora, mas por outro
lado, aumentou sua exploração e opressão duplicando a sua jornada de
trabalho, pois a mulher teve que trabalhar na fábrica e realizar as tarefas
domésticas. Além disso, a entrada feminina no sistema capitalista contribuiu
para aumentar o exército de reserva das fábricas, divisão sexual do trabalho,
estimulando a competição entre a classe trabalhadora, aumentando a
produção e rebaixando os salários. Abaixo estão citados os trechos do livro
que absorveu boa parte da polemização do debate. Marx apud Cecília
Toledo (2008, p. 41)
[...] a força de trabalho da mulher é uma forma de extração de
mais valia absoluta, um recurso usado pelo capital para aumentar
diretamente o lucro, assim como quando elevada a jornada de
trabalho, e, por outro, que a expansão do trabalho feminino pode
258
corresponder a uma expansão da demanda por artigos prontos,
ampliando o processo de circulação de mercadoria.
Ao longo de sua história, a corrente marxista vem se preocupando com a
situação da classe trabalhadora. No tocante a mulher, o marxismo prega que
sua opressão é um fenômeno sócio-cultural e pode ser superada. Marx apud
Toledo (2008, p. 10).
[...] a opressão da mulher está vinculada à propriedade privada
dos meios de produção e somente poderá ser superada com uma
radical transformação, capaz de eliminar a propriedade privada e
a divisão da sociedade de classes.
E, no entanto, quando se caminhava para o final desta atividade, o debate
sobre o Gênero e a Mulher começou a transcender as paredes do 3º período
que ao término da disciplina propôs junto a professora e monitora a
possibilidade de um evento que conclamasse mais a sociedade acadêmica
do CAMEAM à discussão e ao debate, visando uma maior e mais
socializada leitura sobre a questão de Gênero e suas relações culturais,
porem o mais interessante foi que a proposta feita pelos alunos tinha como
foco de análise e reflexão a Mulher do Sertão Potiguar, pois eles justificaram
a necessidade de conhecerem mais suas origens enquanto gênero e o nível
de opressão e exploração que suas mães, irmãs, vizinhas e amigas sentem.
Objetivos: Os objetivos deste trabalho desenvolvido na disciplina Geografia
e População eram inicialmente o de fomentar a discussão sobre Geografia e
Gênero; a reflexão e análise dirigida sobre uma obra literária e suas
posturas; o desenvolvimento da análise através de leituras conjuntas e
debates em sala de aula e a possibilidade da desconstrução de alguns mitos
e doutrinas que impossibilitam o profissional da educação ser mais holístico
no processo de ensino aprendizagem.
Metodologia: Para o desenvolvimento da atividade proposta em sala de
aula a principal conduta metodológica se pautou na dialógica e dialética,
com leituras dirigidas e coletivas, com produções textuais e seminários
individualizados. Para tanto, foram desenvolvidos três momentos, da qual o
primeiro consistia em uma apresentação dos conceitos gerais da teoria
demográfica, este momento tomou em média seis aulas, com a elaboração
de uma resenha como aferição de aprendizagem; o segundo momento
tratou de apresentação da obra e leitura conjunta em sala de aula, com
espaços dirigidos de discussões; e o terceiro momento tratou da
apresentação individual dos seminários da qual os alunos do 3º período
escolhiam por afinidades os temas e como processo de avaliação final foram
enumerados os pontos positivos que seriam as fortalezas e oportunidades
deste tipo de estudo disciplinar e os pontos negativos, ou seja, as fraquezas
e ameaças desta proposta de trabalho em sala de aula.
Resultados: Os resultados desta atividade proposta na disciplina de
Geografia da População ministrada no decorrer do semestre de 2008/2
tiveram como a maioria das disciplinas planejadas resultados tanto positivos
como negativos, entre os positivos, pode-se identificar a disposição dos
alunos no desenvolver dos procedimentos metodológicos como os debates
259
abertos e aprofundados, já que as leituras eram feitas em loco; outro ponto
positivo foram os seminários individuais que salutou a habilidade de cada um
em mediar uma discussão e até mesmo falar em público; alem disso, vale
salientar que os temas foram escolhidos aleatoriamente beneficiando a
todos tanto que a atividade extrapolou as fronteiras da Geografia, pois os
alunos chegaram a propor um espaço de debate mais ampliado e que
tivesse como sujeito as mulheres do Sertão Potiguar no âmbito de todo o
campus universitário.
Já os pontos negativos passam desde a falta de logística da própria
instituição e do calendário com diversas alterações à falta de tempo para
realizarmos o proposto seminário ampliado de debate, que até tema já tem:
Gênero e Geografia no Sertão Potiguar.
Considerações Finais: Considerando aqui as questões levantadas pode-se
notar a importância do estudo de Gênero na Geografia referendando sua
organização e compreensão da sociedade e do espaço geográfico. Também
se verificou a contribuição que o Marxismo deu a esta temática ao longo do
tempo e a maneira como o sistema capitalista embutiu um fator cultural para
explorar a mão de obra feminina promovendo uma segregação mais
evidente entre homens e mulheres, aumentando assim, a competição entre
eles e favorecendo na acumulação de capital pelo sistema.
Diante disso, os alunos do 3º período de Geografia do CAMEAM/UERN, ao
longo da disciplina Geografia da População, puderam aprimorar seus
conhecimentos sobre esta temática e desmistificar alguns mitos e doutrinas
referentes às questões de gênero. Isto se deu em três etapas, foram elas:
aulas expositivas e dialogadas sobre a Dinâmica Populacional; leitura
coletiva em espaços de diálogos dirigidos com debates; apresentação
individual de seminários. Isso foi fundamental para que os alunos
construíssem o seu próprio pensamento sobre o tema.
É importante salientar que a discussão dessa temática no ensino de
geografia contribuiu para uma melhor capacitação do futuro profissional da
educação geográfica, os tornando mais conscientes e atuantes na
sociedade.
Assim, fica evidente que o debate sobre gênero aprofunda o entendimento
da realidade espacial, social, política e econômica, por isso foi trabalhado
com tanta ênfase na disciplina acima mencionada. Alem do mais, é um tema
amplo e complexo, envolvendo desde conhecimentos filosóficos a
econômicos, caracterizando a formação deste profissional da geografia num
educador de visão mais abrangente e ontológica.
REFERÊNCIAS
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: Editores Associados, 2003.
DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez,
2005.
KAERCHER, N. A. Desafios e utopias no ensino de Geografia. Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2001.
LENIN, Vladimir I. Sobre a emancipação da mulher. São Paulo: AlfaOmega, 1980.
260
MARX, Karl. ―Manuscritos econômicos e filosóficos: o trabalho alienado
e a superação positiva da auto-alienação humana”. In Marx Engels, org.
Florestan Fernandes, Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática,
1989.
MELO, Adriana A. S. A Mundialização da Educação: consolidação do
projeto Neoliberal na América Latina. Maceió. EDUFAL. 2004.
MORIN, E. Os setes saberes necessários á educação do futuro. 2 ed.
São Paulo: Cortez, 2000.
TOLEDO, Cecília. Mulheres: o gênero nos uni, a classe nos divide. 2ª Ed.
São Paulo: Sundermann, 2008.
07 - A SEXUALIDADE EM EXPERIÊNCIAS DE EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA – OU POR UMA OUTRA EDUCAÇÃO SEXUAL
Jéssica Cássia Barbosa
(estudante da Graduação em Ciências Sociais/UFRN)
Introdução: Sexo é coisa simples. É como se iniciou a temática da
sexualidade com jovens dos municípios de Vera Cruz e Pureza (RN), no
projeto de extensão Trilhas Potiguares; nos anos de 2008 e 2009,
respectivamente. O Programa Trilhas Potiguares, desde 1996, tem por
objetivo propor novas formas de aplicação do conhecimento gerado na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a partir do contato
com as demandas da comunidade externa, buscando a construção sólida do
saber, voltado para o desenvolvimento sustentável das comunidades; com a
visão interdisciplinar sobre a realidade que se insere. Este projeto de
extensão possui, portanto, grande abrangência no Rio Grande do Norte e
importância para UFRN, posto que hoje abrange 17 municípios deste
estado.
A atividade foi intitulada ―educação sexual começa com poesia‖, na primeira
experiência; com auxílio de recursos lúdicos (poesia e música), pode-se falar
um pouco de corpo e sexualidade. Tendo na segunda experiência ganhado
um caráter interdisciplinar – o corpo e a sexualidade na língua sociológica,
psicológica, nutricional e médica –, a proposta que deveria assemelhar-se
com a primeira, reduz-se, modifica-se, tornando-se, no mais, interessante. O
fato é que as experiências de extensão instigam, ainda mais, a reflexão
teórica; posto que de repente se é obrigado a reconstruir as propostas
teóricas pré-concebidas.
Mas, para se compreender o sexo, o que mais se percebe, é o pouco
conhecimento sobre o próprio corpo humano. Todo o seu poder de
metamorfose. O corpo é essencial, ou melhor, indispensável na gênese do
conhecimento. Antes mesmo de mostrar ações conscientes, o bebê imita as
ações corporais dos indivíduos que o circunda.
Na verdade, vemos uma necessidade universal de se falar de sexo. O que
Foucault chama de ―monarquia do sexo‖. Enquanto em uma geração antiga
dir-se-ia ―é preciso colocar a roupa‖, hodiernamente a juventude diz ―é
preciso tirar a roupa‖, num sentido de ruptura e de liberdade sexual. No
261
entanto, até que ponto estes discursos são mesmo libertários? Foucault
ressalta, ―olhe o que ocorre em relação às crianças‖:
Muito bem, você tem certeza de que este tipo de discurso é efetivamente
libertador? Você tem certeza de que ele não aprisiona as crianças em um
tipo de insularidade sexual? (...) Se a liberdade de não ser adulto consistisse
justamente em não estar dependente da lei, do princípio, do lugar comum –
afinal de contas tão entediante – da sexualidade? Se fosse possível
estabelecer relações às coisas, às pessoas, aos corpos relações polimorfas,
não seria isto a infância? Este polimorfismo é chamado pelos adultos, por
questões de segurança, de perversidade; que assim o colorem com os tons
monótonos de seu próprio sexo. (FOUCAULT, 1979, p. 235-236)
Aliás, falar de liberdade é falar do corpo. O conceito de liberdade sempre
teve de ser reelaborado pelos diversos discursos filosóficos e políticos; como
nos fala Michel Serres, que como comumente nos esquecemos ou
desconhecemos:
Para livrar-se desse labirinto, basta partir do corpo e da singularidade da
vida. Em qualquer circunstância, todo poder deve ser contido em benefício
de sua integridade; com as mãos e os braços livres, o corpo tem o direito de
se mover de acordo com sua vontade, deve dispor de sua natureza e de sua
capacidade. Sua virtualidade se opõe a qualquer poder. A liberdade se
define pelo corpo e este por sua potencialidade. (SERRES, 1930, p.52)
Para Michel Serres, pouco se entende do corpo humano. Só este possui
flexibilidade, poder de superação, extraordinária fluorescência de formas. Os
animais conhecem o limite dos instintos. O corpo humano possui memória
própria; não mente. Portanto eu posso conhecer muito mais o outro através
do corpo, do que pela palavra; esta é persuasiva. Serres comenta sobre todo
esse caráter de poder, e, ao mesmo tempo, fala do corpo silencioso. Para a
paz é preciso uma harmonização universal; para o caos é necessário um
único diabólico. O corpo sadio não diz uma palavra; a dor única é capaz de
dominar todo o ser. Deus se define como uma totalidade; o Diabo como
individualidade. A saúde é divina; a dor é diabólica.
O que para Foucault fica bem claro é que a sexualidade serviu como uma
coberta obscura. Porque no Ocidente, através da sexualidade, foram
cobertas as mais profundas verdades do indivíduo. Como no exemplo em
seu livro Microfísica do poder quando pontua que, a partir do século XVIII, de
repente se dá uma enorme atenção à masturbação infantil; a qual será
tomada com grande perseguição e como grande peste que assola a
sociedade. Mas o objetivo não era a pura proibição sexual. ―O fim era
constituir, através da sexualidade infantil, tornada subitamente importante e
misteriosa, uma rede de poder sobre a infância‖ (FOUCAULT, 1979).
É importante agora deter-se, após estas reflexões, sobre o porquê do título
deste escrito. É igualmente importante, expor o porquê da escolha de dois
autores. Portanto, esses dois momentos – uma análise da educação sexual
e a proposta de algo mais ―verdadeiro‖; e, um breve descrito sobre Michel
Serres e Michel Foucault – dividir-se-ão em dois takes. Na verdade, a
própria apresentação inicial, faz-se explicar bem, com relação ao primeiro
ponto. Posto que oferece instrumentos para uma análise pontual do
imaginário do corpo e sexo, que se desenvolve hoje.
262
Os autores, utilizados em cena principal, são dois. Michel Serres, filósofo
francês, nascido em 1930. Cursou a Escola Normal Superior de Paris,
licenciando-se em matemática, letras clássicas e filosofia; entretanto,
considera-se um autodidata. Possui uma grande lista de produções
intelectuais, donde, dentre seus livros publicados, está Variações sobre o
corpo; do qual o discurso embasa este escrito. O segundo autor a se pontuar
é Michel Serres. De nome já bem renomado, não só nas trincheiras das
ciências sociais, como nas das outras ciências humanas e filosofia, Foucault,
também foi filósofo francês (embora, por vezes, não se autodenominasse
desta maneira), com formação em filosofia na Universidade de Sorbonne e
psicologia. Dentre toda sua produção intelectual vastíssima, reconhece-se
seu interesse pela questão do poder. Rompe com as concepções clássicas
deste, e busca uma espécie de genealogia através, por exemplo, de
preceitos como o da sexualidade. Outros autores que, por ventura,
apareçam, são invocados apenas ocasionalmente.
Sobretudo a idéia de que entender a genealogia da sexualidade é ter a
apreensão da ―verdade‖ profunda humana, é fundamental para se pensar
―uma outra educação sexual‖. Ou como mesmo se interroga Foucault:
―Como se explica que, em uma sociedade como a nossa (ocidental), a
sexualidade não seja simplesmente aquilo que permita a reprodução da
espécie, da família, dos indivíduos? Não seja simplesmente alguma coisa
que dê prazer e gozo?‖ (FOUCAULT, 1979). Se produzir conhecimento é,
antes de tudo, admitir a ignorância humana, Rubem Alves, confessa ignorar
a razão pelas quais o sexo e suas funções (reprodução, prazer) se tornaram
motivo de vergonha pelos homens. É a essa inquietação que Foucault busca
explicações.
Michel Serres inova bastante com seu entendimento do corpo. Apenas a
dedicatória do seu livro, Variações sobre o corpo, é de tom bastante
provocador, aqui cabe sua apresentação: ―A meus professore de ginástica, a
meus treinadores e a meus guias de montanhismo que me ensinaram a
pensar‖ (SERRES, 2004). A idéia é de que, justamente, enquanto não se
tomar o corpo como inteligível, os homens se desconhecerão. Como o
tempo fica gravado no corpo do mundo, posturas e experiências se
encarnam no corpo humano, sendo reproduzidas mais rapidamente do que
assimiladas. ―Quem pode computar o enorme tesouro de posturas que traz
consigo? (...) Quanto mais se dilata esse capital, esse reservatório
inconsciente – pois o inconsciente é o corpo –, menos ele pesa e mais ele se
torna leve e aéreo em virtude das adaptações conquistadas‖ (SERRES,
2004). Indubitavelmente, uma reflexão importante para se construir
parâmetros à uma outra educação sexual.
Mas ao que se opõe verdadeiramente? Verdadeiramente, não se propõe
aqui expor algo novo. Este escrito possui apenas caráter reflexivo e, caso
caiba, preâmbulos analíticos.
O interessante é que a sexualidade é permeada por muitos discursos.
Discursos estes que pretende recomendam e condicionam variações do
corpo e modelos de educação sexual. Podemos pontuar a ―escola‖ médica.
Os tratados médicos, por serem científicos, não conseguem falar de prazer e
alegria. Pode-se correlacionar este caso, com alguns filósofos acadêmicos
que desconsideram o Friedrich Nietzsche quanto pertencedor desta
263
categoria – por ser poético demais. A educação sexual não pode começar
com anatomia e fisiologia. Nesta perspectiva o corpo humano tende a
rigidez, em contradição a sua flexibilidade natural, seu poder de assumir
caráter metamórfico. Para se entender este e sua sexualidade, há que se
entender a música que ele quer tocar. Sobre isto, Freud fala que o prazer é a
música que o corpo quer tocar.
E, em se falando de restrições ao prazer e alegria, não há escola mais
contraditória que a religiosa, mais precisamente a cristã – com todo o seu
poder sempre influente na cultura ocidental. Adora-se a mulher-mãe (mãe de
Jesus), mas fazem um silêncio catedrático a respeito da mulher-amante.
Jesus, filho da mulher-mãe (Maria), não pode ter passado pelos canais de
Maria, porque o que diz esta ―escola‖ é que seu filho subitamente apareceu.
Para os seus seguidores o sexo tem apenas a função utilitária da
reprodução – não conseguem crer que Deus pudesse nos dar prazer. É
como se o sexo humano tivesse que ser como o sexo animal (de acordo
com as leis da natureza); não pensam o sexo humano como produto
histórico-cultural (portanto, demasiado humano).
O segredo, o espaço vazio que resta, o qual se questiona Rubem Alves e
que Foucault procura respostas, aparece nos escritos bíblicos: de repente,
Adão e Eva (após ingerirem a ‗fruta proibida‘) sentiram ―transformações‖ em
seus corpos, e aquilo que tinha saído lindo das mãos do Criador, torna-se,
verdadeiramente vergonhoso – cobriram-se com as primeiras folhas que
encontraram.
Há uma ―escola‖, agora, que fala por si só. O que se pode fazer, ainda, é
contemplar e receitar alguns escritos que introduzam ao seu discurso. A
―escola‖ poética demonstra que a alma sem o corpo é uma exilada infeliz.
Traduz-se em naturalizar o desejo de um corpo unir-se a outro, como belo e
bom; ou na máxima de Santo Agostinho: ―Ama e faze o que quiseres‖.
Por meio de quais palavras e de qual educação sexual se ocasionar o corpo
pode tornar-se mais apto a desenvolver-se bonito; portanto mais propício a
ser lugar de alegrias e prazer. Ou tornar-se feio, encolhido e rígido. ―A
decisão é dos educadores‖, como diz Rubem Alves.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. E aí? Cartas aos adolescentes e a seus pais. Campinas,
SP: Papirus, 1999.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
_______. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
Graal, 1985.
SERRES, Michel. Variações sobre o Corpo. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2004.
_______. Cinco Sentidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
www.wikipédia.org.br. Acessado em: 06/10/09, às 19h23min.
264
08 - OS PARADIGMAS EMERGENTES DA EDUCAÇÃO FÍSICA E O
DESAFIO DO PARADIGMA EDUCACIONAL EMERGENTE
Osvaldo Nonato dos Santos
FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS – FIP
[email protected]
O atual cenário da sociedade global, numa conjuntura educacional
paradigmática presente na prática pedagógica, problematiza a realidade
educativa e suas múltiplas relações com o objeto e o sujeito a partir da
noção da complexidade. Na crise de princípios e valores, é inquestionável
revermos nossa prática pedagógica e nossa visão de mundo
contemporâneo, como educadores comprometidos com a valorização do ser
humano. Precisamos considerar o velho modelo de ciência positivista que
pelo qual vem influenciando a Educação e conseqüentemente a Educação
Física. Para início é preciso refletir: Qual a razão de ser um paradigma
tradicional na crise atual? Qual o princípio do conceito atual de pensamento,
valores e percepções que prevalecem no mundo moderno? Este estudo tem
como objetivo evidenciar as abordagens pedagógicas da Educação Física
Escolar: metodologia do ensino aberto; crítico superadora; construtivista e
crítico-emancipadora, propondo uma aliança com o paradigma educacional
emergente. A relação entre Educação Física e o desafio do paradigma
emergente caracterizam um ambiente que leve a considerar as diversas
dimensões do fenômeno educativo e seus aspectos físicos, biológicos,
mental, psicológico, cultural e social. Na realidade a Educação Física teve
grande influência do paradigma newtoniana-cartesiana construída por
pensamento da cultura ocidental que caracterizou a ciência nos séculos
XVII, XVIII e XIX dentre elas a Revolução Científica, o Iluminismo e a
Revolução Industrial – a metáfora do universo-máquina que moldou a era
industrial. Paradigma ainda dominante, hoje na sua versão econômica, ou
seja, metáfora do universo-mercado. Os princípios epistemológicos e
filosóficos positivistas influenciaram a educação de prevalecimento de um
sistema paternalista, hierárquico, autoritário, dogmático e a presença de uma
escola que exige memorização, repetição, cópia, que dá ênfase ao
conteúdo, ao resultado, ao produto, recompensando o conformismo, a "boa
conduta", punindo os "erros" e as tentativas de liberdade e expressão.
Lembrando Edgar Morin (1987, p.15), ―a ciência criou a possibilidade de
destruir a humanidade ou manipulá-la, coisa que ninguém havia
conseguindo antes‖. Neste contexto, caberia indagar: Qual o modelo de
ciência hoje? Qual o referencial teórico capaz de nortear a busca de um
novo paradigma para a Educação Física? Que dimensões propormos refletir
sobre o impacto da história das tendências pedagogias conservadoras e
progressistas como crise de paradigmas? Tentando encontrar respostas
para essas indagações, novos referenciais teóricos na crise da educação
física na modernidade o paradigma emergente é validado por um complexo
de teorias que formam um arcabouço científico. Portanto, o paradigma
emergente reflete a necessidade de uma profunda reforma no sistema de
265
pensamento científico, para essas teorias do conhecimento foram escolhidos
Jean Piaget, Paulo Freire, Seymour Papert e Howard Gardner. Os aspectos
dessas teorias têm uma visão de totalidade e descrever a
multidimensionalidade identificado como sendo um paradigma educacional
emergente construtivista, interacionista, sociocultural e transcendente.
Compreendendo o processo como construção, ação do sujeito sobre o
objeto, reconhecendo que o sujeito e o objeto são organismos vivos, que
construí relações com o mundo físico e social. Significa ultrapassar o
conceito do nosso encaixamento no cosmo amplia a nossa consciência,
acentuando os sentimentos de humildade, fraternidade, solidariedade e
compaixão, contribuindo para a construção de um mundo mais harmonioso,
com um pouco mais de paz e felicidade que todos buscam. A produção do
conhecimento sobre a Educação Física no paradigma emergente buscar
desafiar os limites do modelo de paradigma tradicional/conservador para um
modelo de paradigma complexo e holístico. É neste sentido que buscamos:
No aluno a visão do todo, com talentos únicos (emocionais, intelectuais e
espirituais) com sensibilidade sobre o valor da vida e das relações dos seres
com a natureza numa perspectiva auto-expressão, criação, investigação,
liberdade, visão crítica e humana. No professor procure analisar e
transcender limites da antiga estrutura fragmentada buscando uma prática
pedagógica cientificamente embasada considerando o contexto social do
educando, ensinando com amor e resgatando o sentido humano. Na
metodologia educacional, a interdisciplinaridade envolvendo todas as áreas
do conhecimento contemplando um currículo flexível e de acordo com os
interesses dos alunos com autonomia e o desenvolvimento individual e
coletivo, relações dinâmicas e abertas cultivando a consciência critica. No
processo de avaliação instigar o crescimento pela troca de experiência num
processo de auto-avaliação ultrapassando a quantificação do rendimento e
contemplando uma abordagem qualitativa. E na escola como instituição
libertadora, democrática, dialógica e critica cuja função é criar ambiente
estruturado a partir de razões históricas, filosóficas, sociológicas e
ideológicas.
09 - A RELAÇÃO ENTRE TENDÊNCIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS
PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO 6º A0 9º ANO CICLOS DO
ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL DE IPANGUAÇU-RN
Osvaldo Nonato dos Santos
Faculdades Integradas de Patos – FIP
[email protected]
Este trabalho em fase de projeto, tem como objetivo de analisar e verificar as
tendências e práticas pedagógicas da Educação Física Escolar na rede
municipal da cidade de Ipanguaçu. Diante do exposto, através deste trabalho
procuraremos responder a seguinte situação problemática: No que constitui
a prática educativa, pedagógica e didática nas aulas de Educação Física? A
discussão que emoldura esta problemática envolve a compreensão das
tendências pedagógicas, o programa curricular, a relação objetivo-conteúdo-
266
método, a avaliação, planejamento escolar (plano da escola, plano de ensino
e o plano de aula), e o projeto político pedagógico. O universo de pesquisa
foi realizada nos 10 pólos da Rede Municipal de Ensino do Município de
Ipanguaçu – RN. A amostra foi composta dos professores de Educação
Física, supervisores escolares e os gestores na Rede Municipal de Ensino
do Município de Ipanguaçu – RN. A pesquisa foi realizada inicialmente a
partir de pesquisa bibliográfica ligados ao tema às tendências pedagógicas
nas abordagens da Educação Física Escolar da educação brasileira.
Utilizou-se de entrevista não estruturada, análise de diálogo com
professores, supervisores e gestores, documentos oficiais, livros e atas da
escola, a proposta pedagógica nos anos finais da Secretaria Municipal de
Educação e o projeto político pedagógico. Diferentes respostas têm sido
formuladas para tentar encontrar o "caminho" que deve seguir uma prática
pedagógica que atenda todas as necessidades da Educação Física em sua
intervenção na sociedade, bem como dê, à mesma, as margens de seu
conteúdo. Esses "caminhos" têm sido chamados de abordagens, e se
apresentam de maneiras distintas quando se refere ao conteúdo e à
identidade da Educação Física, principalmente a aplicada no ambiente
escolar. No final dos anos 70, e nos anos 80, período de denuncias, estudos,
revelações e descobertas do papel da Educação Física sobre o poder
hegemônico, dominante, determinante e opressor (MEDINA. 1990). Neste
período surgem movimentos renovadores da educação Física dito como
―humanista‖ na pedagogia, com características filosóficas em torno do ser
humano, sua identidade, valor e críticas sociais. Neste sentido que MEDINA
(1983) interpreta a existência de três concepções: convencional,
modernizadora e revolucionária. Por outro lado GHIRALDELLI JÚNIOR
(1988) classifica cinco concepções: higienista, militarista, pedagogicista,
competitivista e popular, para CASTELLANI FILHO (1988) refere-se a três
concepções: biologização, psicopedagogização e transformadora. Os
autores, em geral, concordam em classificar as tendências pedagógicas,
tomando-se base por um referencial fora da própria área, nas teorias
educacionais pautadas nas propostas de Paulo Freire, da pedagogia
libertadora, e de Dermeval Saviane e José Carlos Libânio, pedagogia
histórico-crítica. Essa crítica estabelecida nos anos 80 contribuiu bastante
para criticar o modelo de paradigma biológico conservador da Educação
Física, abrindo debates sobre outras formas de compreender a Educação
Física. Neste cenário aparece o nascimento de concepções e práticas
pedagógicas libertadoras, transformadoras, na perspectiva de uma práxis
para a construção de um corpo livre, democrático, cultural e social. Neste
período esboçam elementos no sentido de operar-se uma crítica à sua
função sócio-politica (COLETIVO DE AUTORES, 1993). Colocando em
cenas diferentes concepções: desenvolvimentista, humanista, construtivista,
fenomenológica, antropológica-cultural, histórico-crítica, histórico social,
sistêmica e crítico-superadora.
Pode-se observar algumas dessas
concepções em produções como: ―Educação Física Escolar: Uma
Abordagem Desenvolvimentista‖ (TANI et al.. 1988); ―Educação de Corpo
Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física‖ (FREIRE, 1989); ―Educação
Física Humanista‖ (OLIVEIRA, 1985); ―Educação Física Escolar: Uma
Abordagem Fenomenológica‖ (MOREIRA, 1991); ―Diretrizes Gerais para o
267
Ensino) de 2º Grau: Núcleo Comum – Educação Física e Sociedade‖
(BETTI, 1991); ―Metodologia do Ensino de Educação Física‖ (COLETIVOS
DE AUTORES, 1992). Neste contexto, a identidade da Educação Física
ganha produções de cunho filosófico, sociológico, histórico, antropológico e
pedagógico. Atualmente a Educação Física conta com quatros propostas de
destaque dentro das abordagens emergentes: metodologia do ensino aberto;
crítico superadora; construtivista e crítico-emancipadora. Tomando por base
no discurso dos professores nas escolas pesquisadas e na fundamentação
teórica, percebemos haver o predomínio de uma prática pedagógica pautada
na cultura corporal, denominada critico social, mas também com algumas
incoerências referentes às tendências conservadoras, refletindo assim uma
prática competitivista e militarista. O conhecimento interdisciplinar no projeto
político pedagógico da escola, trabalhando sua especificidade a Educação
Física Escolar tendo como objetivo contribuir na formação geral do aluno,
através do desenvolvimento das capacidades motoras, cognitivas, afetivas e
sociais.
10 - AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ESTRESSE DOS PROFESSORES DO
MUNICÍPIO DE IPANGUAÇU - RN
Osvaldo Nonato dos Santos
Faculdades Integradas de Patos – FIP
[email protected]
O século XXI ressalta a importância de revermos a nossa práxis para que
possamos atuar realmente como gestores educacionais comprometidos com
as mudanças sociais. Sendo a saúde entendida como um bem estar físico,
mental, espiritual e social e a gestão numa visão mais humanizada.
Controlar o estresse do dia-a-dia vai aumentar o rendimento dos professores
e ajudá-los na preparação do organismo pra lidar com as situações que se
apresentam, sendo então uma resposta do mesmo a um determinado
estímulo, a qual varia de pessoa a pessoa. O estresse é normal em nossa
vida. Ninguém vive sem estresse. O problema é quando ele torna excessivo
causando desequilíbrio nas funções orgânicas, emocional e mental. No
estado de tensão nossas glândulas supra renais entram em ação produzindo
adrenalina no fígado causando a gordura convertida em açúcar (energia) e a
circulação sangüínea reduza-se em alguns locais para que o cérebro e os
músculos sejam melhores irrigados se este estado torna-se crônico, a
pessoa está sensível ao infarto, derrame, hipertensão, colesterol alto, e
dores generalizada, portanto a ação prolongada do nível e estresse negativo
além da perda acentuada de qualidade de vida aumenta muito os risco de
vencer problemas de saúde física, psicológica, social e profissional. Além do
desafio de controlar a classe, os professores enfrentam pressões dos
alunos, dos pais, dos colegas, dos políticos e dos administradores. São
afetados pelos sucessos e fracassos de seus alunos e pelas próprias
268
exigências. O nível de estresse médio demonstra que à necessidade dos
professores/as aproveitarem para repensar seu modo de vida e enquanto no
nível de estresse baixo pede um maior envolvimento dos professores/as no
trabalho sem se abalar pelas pressões do dia-a-dia na sala de aula. Este
trabalho tem como objetivo contribuir, através da implantação de um
programa preventivo na área de saúde física e mental comunitária, para um
melhor desempenho do educador de acordo com o perfil o século XXI, os
fatores que interferem neste perfil entre o estresse, a auto-estima, a
importância do trabalho corporal como estratégia e contribuição para
minimizar estes fatores. A pesquisa foi realizada através da aplicação de
entrevistas com os dozes professores/as das Escolas Municipais de
Ipanguaçu – RN e através de estudos bibliográficos. A pesquisa apresentou
à seguinte analise: nenhuns dos/as professores/as entrevistados
apresentaram grau de estresse alto; 46,23% dos entrevistados possuem um
grau de estresse médio e 35,18% dos entrevistados apresentaram de
estresse baixo. A relação entre stress, auto-estima, trabalho corporal, mostra
que é necessário abrir e sair da ―caixinha‖, pessoal, profissional, tradicional,
para nova atuação que se encontra em outros contextos com pouco acesso,
mas repleto do saber da vida, da dor, do sentimento, da arte, da emoção, da
competência de viver. Entender os agentes estressores no que causa as
doenças ou contribui para que elas se manifestem requer um olhar para a
sociedade, para o sistema educacional como um todo e para a relação com
o trabalho, para isso a escola podem fazer: Fortalecer uma gestão
democrática que favoreça as relações interpessoais; Qualificar o tempo do
trabalho em equipe; Participar da gestão do aprendizado. Diretores e
coordenadores ser co-responsáveis pelos resultados educacionais;
Aproximar a família da escola; Participar da construção do currículo da rede;
Desenvolver um trabalho sistemático que discuta princípios, valores e regras
para melhorar o relacionamento entre professores e alunos e entre todos na
equipe escolar e, sobretudo avaliar constantemente as condições de
trabalho da equipe e acompanhar os casos de adoecimento.
11 - DA EDUCAÇÃO RURAL À EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA
ABORDAGEM INTRODUTÓRIA
18
Simone Cabral Marinho dos Santos
José Willington Germano-Orientador
No início da década de 1990 até os dias atuais vemos a presença marcante
de trabalhadores rurais na cena política e na pauta de reivindicações na
história de lutas do nosso país, marcando o surgimento de um projeto de
18
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da UFRN e Professora do
Departamento de Educação- CAMEAM/UERN.
269
educação protagonizado por esses sujeitos e suas organizações sociais. A
educação, como direito subjetivo19, é um direito social, organizadora e
produtora da cultura de um povo. Nesse sentido, as organizações populares,
apesar das dificuldades, têm formado sujeitos reivindicadores de seus
direitos, colocando a educação como elemento fundamental nesse processo
de formação e transformação social e humana.
A educação do campo, portanto, surge com a emergência dos movimentos
rurais na cena política, reivindicando direitos que lhes são específicos, entre
eles, uma educação que possa atender as suas demandas locais e as
exigências tecnológicas do mundo atual. A garantia dos direitos e a correção
das diferenças instituídas na esfera da igualdade é o que move o debate em
torno do direito à educação do campo, vez que se configura com uma ação
estratégica de emancipação e afirmação das relações de pertença, ao
mesmo tempo diferenciadas e abertas. O modelo que se propõe, preconiza
o respeito às diversidades culturais, além de ser uma alternativa à
hegemonia do modelo urbanizado da educação brasileira. A educação
enquanto organizadora e produtora da cultura de um povo e produzida por
uma cultura — a cultura do campo — não pode permanecer seguindo a
lógica da exclusão do direito à educação de qualidade para todos e todas.
O debate atual em torno de uma Educação do Campo não se estabelece em
oposição à Educação Rural. Na verdade, essa expressão amplia o processo
de formação humana que passa a ser construído a partir de referenciais
culturais e políticos para a intervenção dos sujeitos na realidade. Para além
de uma simples opção de terminologia, Educação do Campo tem um
significado político e histórico, pois marca um momento em que a educação,
de fato, deva assumir a identidade do meio rural, não só de forma
diferenciada, mas que seja capaz de contribuir com a emancipação humana.
Assim, o campo é aqui concebido como um espaço de criação e diversidade,
ao mesmo tempo produto e produtor de cultura, não meramente espaço de
produção econômica e lugar de atraso. Nesse sentido, ele não se identifica
com o tom de romantismo e nostalgia de um passado rural de abundância e
felicidade que subestima a evidência dos conflitos políticos e sociais,
tampouco, com a visão idealizada das condições materiais da cidade, em
face do processo de urbanização que deverá homogeneizar o espaço
nacional (BRASIL/MEC; 2002). Não se trata de ter o urbano como
parâmetro, o rural como adaptação, mas a possibilidade de dinamizar o
processo formativo dos sujeitos da educação que se pretenda
emancipatório.
A educação, portanto, poderia recriar o campo porque possibilitaria a
reflexão na práxis da vida e da organização social, no local onde ocorre.
Concebe-se, assim, a educação do campo como uma relação e uma prática
social realizada a partir dos interesses da sociedade, dos sujeitos sociais a
quem se destina, ou seja, camponeses, agricultores e extrativistas
(assentados, sem terra, ribeirinhos); trabalhadores do campo (assalariados,
19
É aquele pelo qual o titular de um direito pode exigir imediatamente o cumprimento de um
dever e de uma obrigação. Trata-se de um direito positivado, constitucionalizado e dotado de
efetividade.
270
meeiros, etc.), pescadores, quilombolas, indígenas, todos os povos da
floresta. Por isso, a luta por uma educação do campo reconhece ―o povo do
campo como sujeitos das ações e não apenas sujeitos às ações de
educação, de desenvolvimento e assumem como sua tarefa educativa
específica a de ajudar às pessoas e às organizações sociais do campo para
que se vejam e se construam como sujeitos, também de sua educação‖
(CALDART; 2004, p. 151-152, grifos no original).
Desse modo, pensar uma educação do campo expressa a necessidade que
homens e mulheres, submetidos a um modelo agrícola hegemônico,
excludente, insustentável e seletivo, dê conta da compreensão crítica dos
mecanismos que o produzem e sustentam, assim como das possibilidades
dos sujeitos produzirem mudanças nessa dinâmica. Por isso, a luta é por
uma educação no e do Campo. No: o povo tem direito a ser educado no
lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação resultante das
reivindicações dos processos formativos, vinculada à sua cultura e às suas
necessidades humanas e sociais (CALDART, 2004). Os sentimentos dos
que vivem na e da terra recriam o sentimento de pertença e reconstroem
suas identidades com a terra e sua comunidade, não excludentes, mas de
afirmação.
O desafio, pois, para a política de educação do campo está na
reestruturação do sistema de ensino no meio rural, vez que as experiências
de educação do campo tem sido mais freqüente no âmbito não-formal, a
exemplo do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(PRONERA), coordenado pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária
(INCRA), as atividades de assistência técnica e extensão rural,
desenvolvidas pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER) e as experiências das Escolas Itinerantes, idealizadas pelo
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), com o objetivo de atender
crianças e adolescentes acampadas com suas famílias, ausentes das
escolas oficiais.
Neste cenário, as pautas de reivindicações de movimentos sociais,
particularmente, de trabalhadores rurais e o envolvimento dos mais diversos
setores, incluindo os governamentais, tem contribuído decisivamente para
construir uma pauta de discussão nacional sobre a política de educação do
campo, como é o caso da Articulação Nacional por uma Educação do
Campo. Trata-se de um grupo permanente de discussão criado como
resultado da I Conferência Nacional por uma Educação do Campo, realizada
em Luziânia (GO) em 1998, com objetivo de envolver diferentes sujeitos e
entidades na mobilização e debate sobre a educação do campo no cenário
nacional.
Posteriormente, o Conselho Nacional de Educação, aprovou em 2002,
através da Câmara da Educação Básica, as Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução CNE/CEB nº 01 de 03
de abril de 2002), em consonância com o artigo 28 da atual Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96, que propõe medidas de
adequação da escola à vida do campo e às especificidades que a matéria
em educação do campo exige. A referência no corpo da legislação
educacional brasileira específica à Educação do Campo é uma reivindicação
histórica dos povos do campo, significando um passo importante no sentido
271
de priorizar políticas públicas para este setor, além de possibilitar novas
estratégias de reivindicação de lutas dos sujeitos do campo.
Ainda em 2002, por ocasião da aprovação dessas Diretrizes o Grupo
Permanente Articulação Nacional por uma Educação do Campo, realizou em
Brasília, o I Seminário Nacional de Educação do Campo, envolvendo
diferentes entidades, órgãos públicos, movimentos sociais e sindicais em
função do debate nacional sobre a implementação de uma política de
educação do campo.
Em 2004, no âmbito governamental, é criada a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), juntamente com a
coordenação de Educação do Campo, vinculada ao Ministério da Educação
(MEC). A partir desse ano são realizados seminários em vários estados
brasileiros para discutir e difundir as ações de educação do campo
realizados pela secretaria e demais entidades.
No Rio Grande do Norte, em particular, o Seminário Estadual de Educação e
Diversidade do Campo, assim chamado, foi realizado em 2005, cujo
documento final foi a elaboração da Carta do Rio Grande do Norte para a
Educação do Campo, ou mesmo, Carta de Natal, reunindo um conjunto de
medidas, ações e iniciativas a serem realizadas no Estado em favor da
educação do campo. Um outro resultado desse Seminário foi a criação do
Comitê Gestor de Educação do Campo, composto por diferentes instituições
sociais e organizações governamentais e não-governamentais.
Ainda em 2004 é realizada a II Conferência Nacional por uma Educação do
Campo, também em Luziânia (GO), reunindo 1.100 participantes, de acordo
com o documento Declaração Final da Conferência. O evento marcou um
momento importante para a educação do campo, não apenas porque reuniu
um grande contingente de sujeitos representantes das mais diversas áreas
de atuação da educação do campo, mas por provocar e incentivar a criação
de mecanismos de permanente mobilização em torno da educação do
campo, através de Fóruns e Comitês Estaduais, como foi o caso do Comitê
criado um ano depois da Conferência no Rio Grande do Norte, por ocasião
do Seminário Estadual.
Essas ações são importantes para refletirmos sobre o papel estratégico dos
sujeitos sociais em contribuir com ações e atividades que possam dar conta
das especificidades de uma política de educação do campo, rompendo
assim, com a lógica predominante do modelo hegemônico de educação
urbana. Para tanto, é preciso construir uma unidade para a tarefa que se
coloca para os sujeitos do campo: a de reafirmar o compromisso coletivo
com uma visão de campo, de educação e de política pública, superando o
ideal de escola concebida como uma invenção da cidade para preparar as
elites para governar e a camada popular para ser mão-de-obra.
Assim era vista a escola do campo, cujas ações gestavam-se a partir de um
modelo de educação urbanizador por acreditar que o desenvolvimento
industrial faria desaparecer a sociedade rural, estando o campo fadado ao
esquecimento, à superação e ao atraso econômico. Assim, a dimensão da
participação apresenta-se como fato decisivo na elaboração e definição das
políticas públicas efetivamente voltadas para a educação do campo.
REFERÊNCIAS
272
AZEVEDO, Márcio Adriano. Política de educação do campo: concepções,
processos e desafios. In: CABRAL NETO, Antonio et. al. (Org.). Pontos e
contrapontos da política educacional: uma leitura contextualizada de
iniciativas governamentais. Brasília: Líber Livro Editora, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica do Campo. Resolução CNE/CEB n. 1, de 03 de abril de
2002.
CALAZANS, Maria Julieta; CASTRO, Luis Felipe Meira de; SILVA, Hélio, R.
S. da. Questões e contradições da educação rural no Brasil. In: WERTHEIN,
Jorge; BORDENAVE, Juan Diaz. Educação rural no terceiro mundo:
experiências e novas alternativas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
CALDART, Roseli Salete. Por uma educação do campo: traços de uma
identidade em construção. In: ARROYO, M.; CALDART, R. S.; MOLINA,
Mônica C. Por uma Educação do Campo. Petrópolis (RJ): Vozes, 2004.
LEITE, C. S. Escola Rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo:
Cortez, 1999. (Coleção Questões da Nossa Época, 70).
GT7 – Imagem, Cultura e Sociedade – Sala H8 – Setor II
Prof. Dr. Itamar de Morais Nobre – UFRN
[email protected]
Ementa: O Grupo de Trabalho: Imagem, Cultura e Sociedade, em
sua primeira edição no III Ciclo de Estudos em Ciências Sociais, do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte reúne pesquisadores interessados
em partilhar o conhecimento gerado no campo do ensino, pesquisa
e extensão. Acolhe reflexões resultantes de pesquisas e
experiências vivenciadas na área das Ciências Humanas e afins,
cujo objeto tenha sido a imagem nas suas diversas linguagens:
fotografia, pintura, cinema, vídeo e televisão. Propõe-se, assim, a
ampliar os debates nas diversas áreas do conhecimento que
abordem a imagem como interface para educar, comunicar, refletir
sobre práticas socioculturais, artísticas e políticas, ambientais e
científicas, envolvendo a transdisciplinaridade, reforçando o caráter
emergencial de uma nova ciência.
Objetivos: Reunir pesquisadores interessados em partilhar o
conhecimento gerado no campo do ensino, pesquisa e extensão,
resultante de pesquisas e experiências vivenciadas na área das
273
Ciências Humanas e afins, cujo objeto tenha sido a imagem nas
suas diversas linguagens: fotografia, pintura, cinema, vídeo e
televisão.
GT7 – Imagem, Cultura e Sociedade Trabalhos Aprovados
RESUMOS SIMPLES
01 - ROUPAS PARA CORPOS MARCADOS: Identidade, corpo e
roupa no reality show estadunidense America’s Next Top
Model
Edílson Brasil de Souza Júnior
Resumo: America‘s Next Top Model (ANTM) é um reality show
estadunidense formado por jovens mulheres cujo sonho é se tornar a
próxima top model americana. Criado pela supermodelo Tyra Banks, em
sete anos, já foram produzidas treze temporadas nos EUA e mais 28
versões do programa em diferentes países do mundo, incluindo o Brasil
(Brazil‘s Next Top Model, transmitido pelo canal Sony, mesma emissora que
transmite ANTM). As 13 concorrentes que participam do reality, a fim de
alcançarem o tão almejado posto de top model, submetem-se a todo tipo de
controle e manipulação estética e corporal sugeridas durante a permanência
no reality. Assim, as modelos têm a estrutura, tamanho e cor dos seus
cabelos alterados, bem como lhes são dados conselhos de como devem
andar, falar e se vestir para que possam transmitir aos potenciais clientes e
para o público uma imagem real de modelo. A dissertação Pretty Ladies:
Identidade, corpo e roupa no reality show America‘s Next Top Model
analisará como os diversos discursos das candidatas e dos jurados do
programa em torno da conjunção perfeita entre o corpo e a roupa se
adequam às exigências mercadológicas da cultura da mídia e de que forma
esses mesmos discursos refletem questões sociais e culturais
contemporâneas ligadas à identidade, ao corpo, ao vestuário, ao gênero e à
sexualidade. No CESO, pretendo apresentar um artigo referente ao terceiro
capítulo da dissertação. Intitulado Roupas para corpos marcados, o artigo,
de maneira semelhante ao capítulo, buscará compreender como são
constituídas as representações midiáticas dos corpos femininos
considerados normais, em virtude dos padrões sócio-culturais da atualidade.
Para tanto, serão analisadas a participação no programa de uma transexual
não operada (Isis King, na 11ª temporada) e de uma modelo GG (Whitney
Thompson, na 10ª temporada). Dessa forma, objetiva-se perceber como o
ideal de corpo tem sido construído na contemporaneidade e de que forma a
roupa é útil às representações/expectativas sócio-culturais criadas em torno
da identidade corporal considerada ―normal‖ (neste caso, o corpo magro e
visivelmente heterossexual).
Palavras-chave: Identidade/ Cultura / Mídia / Corpo / Roupa
274
02 - MIDIA E IDOSO: OLHARES SOBRE A CULTURA
MIDIATICA
Janaina Bezerra de Queiroz – UEPB
Maria Lindaci Gomes de Souza – UEPB
Patrícia Cristina de Aragão Araújo – UEPB
Resumo: O mundo contemporâneo está marcado pelos avanços da
comunicação e da informática e por várias transformações tecnológicas e
científicas, como também, pelo envelhecimento populacional, assim principia
a discussão de algumas questões pertinentes à velhice na sociedade
brasileira contemporânea, transformações estas que caminha para a
homogeneização, o aprofundamento da sociedade de consumo permitiu
mudanças de hábitos, comportamentos e cultura, em que os meios de
comunicação (a televisão) possuem papel de destaque, criando e divulgando
uma ideologia. Nesse sentido, empregamos como textos publicitários
aqueles de alta circulação social e tendem a se tornar mais e mais comuns
em virtude das características da sociedade em que vivemos baseadas na
produção e no consumo de mercadorias. São textos que atuam justamente
no sentido de convencer o público a comprar determinado produto ou, ainda,
no sentido de despertar a consciência do público para a destruição do nosso
planeta, para problemas sociais, entre outros. Desse modo, o presente
trabalho objetiva refletir acerca da imagem do idoso veiculada pela mídia,
em especial pela mídia televisiva, que divulga produtos direcionados a este
público e, por ser a comunicação publicitária utilizada como indicador,
produto e reflexo dos valores culturais da sociedade. Produções estas que
reforçam estereótipos; ditam padrões de comportamento e estimulam o
consumo. Como cidadãos críticos e reflexivos identificamos que pesquisas
nestas áreas se torna essencial considerando-se que, no cenário atual,
verifica-se o envelhecimento populacional, a transformação no perfil da
sociedade e a força influenciadora das ideologias reforçadas pelos meios de
comunicação. Para a tessitura metodológica faremos uma análise sobre a
imagem do idoso na mídia televisiva, visto as significantes transformações
que têm marcado as relações de sociabilidade contemporânea. Após, a
análise constatamos que a mídia oferece uma nova constituição de
representação da imagem do idoso neste cenário, pois uma das
preocupações do século XXI é o crescimento do envelhecimento da
população, este fato merece uma atenção especial para este público.
Verificamos, também, a expansão da imagem do idoso nos meios
publicitários, ao passo que nas décadas de 70 e 80 do século XX havia
pouca participação destes e, quando sucedia enfatizava as características
negativas e desrespeitosa, por meio de estereótipos de dependência física e
afetiva, de insegurança e de isolamento. Este fato ocorria devido a cultura do
nosso país, no qual a publicidade trabalha com sonhos e idealizações numa
sociedade cuja cultura é adepta ao culto à jovialidade, a preferência por
atores jovens e bonitos. Embora, a partir dos anos 1990 houve um aumento
gradativo da participação do idoso na mídia. Constatamos que é possível
encontrar personagens em um grande número de narrativas e na
publicidade existe uma demanda de atores da terceira idade para
275
representar papéis. Esse fato pode estar relacionado ao fator econômico, o
aumento da população idosa e, consequentemente, ao aumento de
consumidores da terceira idade. Outro fato que contribui para a mudança é o
reconhecimento do idoso como potencial consumidor e essa nova imagem
está relacionada ao mercado de consumo: se antes as empresas em seus
anúncios tratavam o ―velho‖ com indiferença, a partir do momento que ele foi
considerado consumidor, passou a ter para o mercado outra importância.
(BRANDÃO, 2007) Entretanto, sabemos que a imagem do idoso veiculada
pela mídia vem carregada de estereótipos, como: expectativa negativa da
velhice, massificação da imagem. Além de perder importância e valor no
mundo da comunicação, tornando-se quase invisível na mídia, embora
representem a maior quantidade de telespectadores.
Palavras-chave: Mídia . Idoso . Sistema Capitalista
03 - COMPARTILHANDO A ANTROPOLOGIA: O vídeodocumentário como pesquisa e difusão de conhecimento
Renato Maia
Resumo: Este trabalho refere-se à construção de documentários em vídeo
como pesquisa e possibilidade de compartilhar conhecimento. A proposta é
a inversão do percurso da antropologia enquanto disciplina como
instrumento de colonização para a possibilidade de compartilhar
conhecimento abolindo a divisão clássica entre pesquisador e pesquisado
através da construção de vídeos etnográficos. O artigo inicialmente faz uma
reflexão, a partir da crítica pós-colonialista, das origens das pesquisas
antropológicas e a relação com a expansão colonialista européia. Em
seguida aborda a mudança paradigmática da antropologia com ênfase nos
trabalhos realizados por Jean Rouch e o surgimento da antropologia visual.
A segunda etapa deste trabalho direciona-se ao mapeamento de novas
possibilidades de construção e compartilhamento do conhecimento
antropológico direcionado a pesquisa e produção áudio-visual. Assim, são
analisados alguns documentários que trazem uma nova proposta de
produção e de estrutura de elaboração, tais como: Um passaporte húngaro
(Sandra Kogut, 2002), O prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento,
2003) e 33 (kiko Goifman, 2003). Também serão levadas em consideração
novas experiências da antropologia visual como o projeto Vídeo nas aldeias
onde a elaboração dos vídeos-documentários é feita pelos próprios nativos.
A parte final trata da elaboração de uma proposta de pesquisa feita através
do vídeo-documentário, a partir das experiências analisadas, buscando
novas possibilidades de realizar trabalhos acadêmicos onde o conhecimento
possa ser compartilhado, num processo de troca, de mútua
absorção/cooperação, superando o abismo que existe entre a academia e as
comunidades e grupos pesquisados. Na produção desses vídeosdocumentários todo o processo de elaboração, todas as etapas são
formuladas e concretizadas conjuntamente. Tanto as divisões clássicas da
antropologia entre pesquisador e pesquisado, quanto às hierarquias
cristalizadas na produção de documentários (diretor, produtor, personagens)
276
são rejeitadas e substituídas por relações descentralizadas, igualitárias,
polifônicas e dialógicas.
Palavras-chave: Vídeo-documentário, antropologia visual, metodologia.
04 - MEMÓRIA DE UMA LUTA PELA TERRA, PELA VIDA E POR
EDUCAÇÃO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO
Antônia Mábia Zulina de Oliveira20
Resumo: A fotografia como imagem do real carrega em si significados,
referentes próprios da realidade. Sendo assim, ela transpõe o universo das
palavras por promover reflexões que vão além do que é dito – pois se
insurge pelo olhar. Comumente as imagens provocam questionamentos,
embelezam, entristecem, produzem sentimentos, registram momentos. Para
Gico et al (2004) a fotografia ―realimenta o imaginário transpondo códigos
lineares, possibilitando a polissemia do discurso visual, tornando-se um
signo cuja indicialidade representa, de forma mais próxima, as
peculiaridades do seu referente.‖ Nesse sentido, a autora corrobora nossa
proposição de que a fotografia pode ser utilizada como representação social
da realidade ao conduzir singularidades, reproduzir instantes vividos,
espaços e tempos que serão apreendidos por outros, indo além de quem
fotografou. Dessa forma, a fotografia pode conduzir logicamente uma história
como a que narraremos adiante. Nobre et al (2006) e Nobre (2004) que
acreditam e creditam à fotografia a capacidade de narrativa visual e, é
fazendo um cotejamento de suas idéias com as de Gico, que idealizamos
este trabalho que tem como objetivo narrar a luta pela terra de alguns
movimentos sociais e a sua conquista cuja história contamos através de
fotografias que de certa forma retratam essa conquista e o processo de
organização da Agrovila Paulo Freire, no Assentamento Eldorado dos
Carajás II, em Mossoró no Rio Grande do Norte. Compreendemos que é
possível perceber pelas imagens as mudanças ocorridas na vida dos
assentados que atualmente já contam com casas para morar e com escola
para os filhos, produzem hortaliças e mel e sonham com um futuro com
menos sofrimentos e melhores condições de existência. Deriva-se este
estudo de uma experiência no Programa de Residência Agrária do Governo
Federal de junho de 2005 a abril de 2007, como vivência do Curso de
Especialização em Agricultura familiar Camponesa e Educação do Campo.
GT7 – Imagem, Cultura e Sociedade Trabalhos Aprovados
RESUMOS EXPANDIDOS
20
Engenheira Agrônoma e especialista em Educação do Campo.
277
1 - ROUPAS PARA CORPOS MARCADOS: Identidade, corpo e roupa no reality
show estadunidense America’s Next Top Model
Edílson Brasil de Souza Júnior
21
Introdução: America’s Next Top Model (ANTM) é um reality show
estadunidense formado por jovens mulheres cujo sonho é se tornar a
próxima top model americana. Criado pela supermodelo Tyra Banks, em
sete anos, já foram produzidas treze temporadas nos EUA e mais 28
versões do programa em diferentes países do mundo, incluindo o Brasil
(Brazil’s Next Top Model, transmitido pelo canal Sony, mesma emissora que
transmite ANTM).
As 13 concorrentes que participam do reality, a fim de alcançarem o tão
almejado posto de top model, submetem-se a todo tipo de controle e
manipulação estética e corporal sugeridas durante a permanência no reality.
Assim, as modelos têm a estrutura, tamanho e cor dos seus cabelos
alterados, bem como lhes são dados conselhos de como devem andar, falar
e se vestir para que possam transmitir aos potenciais clientes e para o
público uma imagem real de modelo.
A dissertão Pretty Ladies: Identidade, corpo e roupa no reality show
America’s Next Top Model analisará como os diversos discursos das
candidatas e dos jurados do programa em torno da conjunção perfeita entre
o corpo e a roupa se adequam às exigências mercadológicas da cultura da
mídia e de que forma esses mesmos discursos refletem questões sociais e
culturais contemporâneas ligadas à identidade, ao corpo, ao vestuário, ao
gênero e à sexualidade.
No CESO, pretendo apresentar um artigo referente ao terceiro capítulo da
dissertação. Intitulado Roupas para corpos marcados, o artigo, de maneira
semelhante ao capítulo, buscará compreender como são constituídas as
representações midiáticas dos corpos femininos considerados normais, em
virtude dos padrões sócio-culturais da atualidade.
Para tanto, serão analisadas a participação no programa de uma transexual
não operada (Isis King, na 11ª temporada) e de uma modelo GG (Whitney
Thompson, na 10ª temporada). Dessa forma, objetiva-se perceber como o
ideal de corpo tem sido construído na contemporaneidade e de que forma a
roupa é útil às representações/expectativas sócio-culturais criadas em torno
da identidade corporal considerada ―normal‖ (neste caso, o corpo magro e
visivelmente heterossexual).
2 - MIDIA E IDOSO: OLHARES SOBRE A CULTURA MIDIATICA
Janaina Bezerra de Queiroz – UEPB
Maria Lindaci Gomes de Souza – UEPB
21
Conhecido profissionalmente como Júnior Ratts, Edilson Brasil é Mestrando do Curso de
Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará e bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível – Capes. E-mail: [email protected].
278
Patrícia Cristina de Aragão Araújo – UEPB
O mundo contemporâneo está marcado pelos avanços da comunicação e da
informática e por várias transformações tecnológicas e científicas, como
também, pelo envelhecimento populacional, assim principia a discussão de
algumas questões pertinentes à velhice na sociedade brasileira
contemporânea,
transformações
estas
que
caminha
para
a
homogeneização, o aprofundamento da sociedade de consumo permitiu
mudanças de hábitos, comportamentos e cultura, em que os meios de
comunicação (a televisão) possuem papel de destaque, criando e divulgando
uma ideologia.
Nesse sentido, empregamos como textos publicitários aqueles de alta
circulação social e tendem a se tornar mais e mais comuns em virtude das
características da sociedade em que vivemos baseadas na produção e no
consumo de mercadorias. São textos que atuam justamente no sentido de
convencer o público a comprar determinado produto ou, ainda, no sentido de
despertar a consciência do público para a destruição do nosso planeta, para
problemas sociais, entre outros.
Desse modo, o presente trabalho objetiva refletir acerca da imagem do idoso
veiculada pela mídia, em especial pela mídia televisiva, que divulga produtos
direcionados a este público e, por ser a comunicação publicitária utilizada
como indicador, produto e reflexo dos valores culturais da sociedade.
Produções estas que reforçam estereótipos; ditam padrões de
comportamento e estimulam o consumo.
Como cidadãos críticos e reflexivos identificamos que pesquisas nestas
áreas se torna essencial considerando-se que, no cenário atual, verifica-se o
envelhecimento populacional, a transformação no perfil da sociedade e a
força influenciadora das ideologias reforçadas pelos meios de comunicação.
Para a tessitura metodológica faremos uma análise sobre a imagem do
idoso na mídia televisiva, visto as significantes transformações que têm
marcado as relações de sociabilidade contemporânea. Após, a análise
constatamos que a mídia oferece uma nova constituição de representação
da imagem do idoso neste cenário, pois uma das preocupações do século
XXI é o crescimento do envelhecimento da população, este fato merece uma
atenção especial para este público.
Verificamos, também, a expansão da imagem do idoso nos meios
publicitários, ao passo que nas décadas de 70 e 80 do século XX havia
pouca participação destes e, quando sucedia enfatizava as características
negativas e desrespeitosa, por meio de estereótipos de dependência física e
afetiva, de insegurança e de isolamento. Este fato ocorria devido a cultura do
nosso país, no qual a publicidade trabalha com sonhos e idealizações numa
sociedade cuja cultura é adepta ao culto à jovialidade, a preferência por
atores jovens e bonitos. Embora, a partir dos anos 1990 houve um aumento
gradativo da participação do idoso na mídia. Constatamos que é possível
encontrar personagens em um grande número de narrativas e na
publicidade existe uma demanda de atores da terceira idade para
representar papéis. Esse fato pode estar relacionado ao fator econômico, o
aumento da população idosa e, consequentemente, ao aumento de
consumidores da terceira idade.
279
Outro fato que contribui para a mudança é o reconhecimento do idoso como
potencial consumidor e essa nova imagem está relacionada ao mercado de
consumo: se antes as empresas em seus anúncios tratavam o ―velho‖ com
indiferença, a partir do momento que ele foi considerado consumidor, passou
a ter para o mercado outra importância. (BRANDÃO, 2007).
Entretanto, sabemos que a imagem do idoso veiculada pela mídia vem
carregada de estereótipos, como: expectativa negativa da velhice,
massificação da imagem. Além de perder importância e valor no mundo da
comunicação, tornando-se quase invisível na mídia, embora representem a
maior quantidade de telespectadores.
03 - COMPARTILHANDO A ANTROPOLOGIA: O vídeo-documentário
como pesquisa e difusão de conhecimento
Renato Maia
Este trabalho refere-se à construção de documentários em vídeo como
pesquisa e possibilidade de compartilhar conhecimento. A proposta é a
inversão do percurso da antropologia enquanto disciplina como instrumento
de colonização para a possibilidade de compartilhar conhecimento abolindo
a divisão clássica entre pesquisador e pesquisado através da construção de
vídeos etnográficos.
O artigo inicialmente faz uma reflexão, a partir da crítica pós-colonialista, das
origens das pesquisas antropológicas e a relação com a expansão
colonialista européia. Em seguida aborda a mudança paradigmática da
antropologia com ênfase nos trabalhos realizados por Jean Rouch e o
surgimento da antropologia visual.
A segunda etapa deste trabalho direciona-se ao mapeamento de novas
possibilidades de construção e compartilhamento do conhecimento
antropológico direcionado a pesquisa e produção áudio-visual. Assim, são
analisados alguns documentários que trazem uma nova proposta de
produção e de estrutura de elaboração, tais como: Um passaporte húngaro
(Sandra Kogut, 2002), O prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento,
2003) e 33 (kiko Goifman, 2003). Também serão levadas em consideração
novas experiências da antropologia visual como o projeto Vídeo nas aldeias
onde a elaboração dos vídeos-documentários é feita pelos próprios nativos.
A parte final trata da elaboração de uma proposta de pesquisa feita através
do vídeo-documentário, a partir das experiências analisadas, buscando
novas possibilidades de realizar trabalhos acadêmicos onde o conhecimento
possa ser compartilhado, num processo de troca, de mútua
absorção/cooperação, superando o abismo que existe entre a academia e as
comunidades e grupos pesquisados.
Na produção desses vídeos-documentários todo o processo de elaboração,
todas as etapas são formuladas e concretizadas conjuntamente. Tanto as
divisões clássicas da antropologia entre pesquisador e pesquisado, quanto
às hierarquias cristalizadas na produção de documentários (diretor, produtor,
personagens) são rejeitadas e substituídas por relações descentralizadas,
igualitárias, polifônicas e dialógicas.
280
04 - MEMÓRIA DE UMA LUTA PELA TERRA, PELA VIDA E POR
EDUCAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO
Antônia Mábia Zulina de Oliveira
22
Introdução: A fotografia como imagem do real carrega em si significados,
referentes próprios da realidade. Sendo assim, ela transpõe o universo das
palavras por promover reflexões que vão além do que é dito – pois se insurge pelo
olhar. Comumente as imagens provocam questionamentos, embelezam,
entristecem, produzem sentimentos, registram momentos. Para Gico et al (2004) a
fotografia ―realimenta o imaginário transpondo códigos lineares, possibilitando a
polissemia do discurso visual, tornando-se um signo cuja indicialidade representa,
de forma mais próxima, as peculiaridades do seu referente.‖ Nesse sentido, a
autora corrobora nossa proposição de que a fotografia pode ser utilizada como
representação social da realidade ao conduzir singularidades, reproduzir instantes
vividos, espaços e tempos que serão apreendidos por outros, indo além de quem
fotografou. Dessa forma, a fotografia pode conduzir logicamente uma história como
a que narraremos adiante.
Nobre et al (2006) e Nobre (2004) que acreditam e creditam à fotografia a
capacidade de narrativa visual e, é fazendo um cotejamento de suas idéias com as
de Gico, que idealizamos este trabalho que tem como objetivo narrar a luta pela
terra de alguns movimentos sociais e a sua conquista cuja história contamos
através de fotografias que de certa forma retratam essa conquista e o processo de
organização da Agrovila Paulo Freire, no Assentamento Eldorado dos Carajás II,
em Mossoró no Rio Grande do Norte. Compreendemos que é possível perceber
pelas imagens as mudanças ocorridas na vida dos assentados que atualmente já
contam com casas para morar e com escola para os filhos, produzem hortaliças e
mel e sonham com um futuro com menos sofrimentos e melhores condições de
existência.
Deriva-se este estudo de uma experiência no Programa de Residência Agrária do
Governo Federal de junho de 2005 a abril de 2007, como vivência do Curso de
Especialização em Agricultura familiar Camponesa e Educação do Campo.
Durante o período de com/vivência com as famílias assentadas procuramos
registrar os momentos que considerávamos marcantes no intuito de construir a
história da Agrovila na qual desenvolvíamos a pesquisa, por meio de fotografias
consideradas por nós como históricas e também, de conhecer outras fotografias
feitas por outros atores sociais, fazíamos também o registro em um caderno de
campo, de algumas atividades desenvolvidas pelos assentados no tocante à
educação do campo na tentativa de compreender qual o sentido que elas davam a
educação.
As fotografias contam a história de um contexto de lutas por emancipação
social no semiárido nordestino: O semi-árido nordestino caracteriza-se por solos
que durante o inverno se encharcam com as águas da chuva e que ressecam com
facilidade no verão quando há estiagem, dado o clima tropical quente com
temperatura anual de 26° C.Estas características ambientais têm gerado
dificuldades para a sobrevivência das pessoas que habitam essa região e tem
demandado inúmeras políticas sociais. A fotografia como imagem do real
carregando em si significados, referentes próprios da realidade. Sendo assim, ela
transpõe o universo das palavras por promover reflexões que vão além do que é
dito – pois se insurge pelo olhar, assim, trazemos a fotografia para contar a história
22
Engenheira Agrônoma e especialista em Educação do Campo.
281
dos assentados na Agrovila Paulo Freire, no Assentamento Eldorado dos Carajás II,
em Mossoró no Rio Grande do Norte.
Desse modo, acreditamos que a
fotografia tem aqui a capacidade de narrativa visual, fazendo o cotejamento do
antes e do depois neste trabalho que tem como objetivo narrar a luta pela terra de
alguns movimentos sociais e a sua conquista, cuja história contamos através de
fotografias que de certa forma retratam essa conquista e o processo de
organização dos assentados, conforme apresentamos a seguir.
Considerações finais: De junho a outubro de 2005, observamos o estado de
ansiedade das famílias assentadas em relação às condições de moradia, de
produção para subsistência, à educação das crianças e a sua própria educação.
Visualizamos que mesmo naquelas condições de moradia em barracas de lonas,
sem energia elétrica e sem água tratada, os adultos estudavam no próprio
acampamento, o que eles denominavam de Escola de Lamparina. Para as crianças
e jovens, havia um transporte disponível para conduzi-los à escola.
A Escola da Lamparina é uma atividade real e concreta que sinaliza para a falta de
educação do campo no Brasil desde o período colonial. Os agricultores, mesmo
necessitando da leitura e da escrita para guiar a vida profissional, até mesmo nas
vivências cotidianas, não têm esse direito assegurado, apesar de garantido por Lei.
Entendemos que: a questão agrária no Brasil pode ser compreendida observandose situações reais em qualquer parte do país e que estas podem ser analisadas
tendo como parâmetro teorias que dão sustentação a análises mais abrangentes,
no sentido em que as situações vividas pelos povos do campo não divergem umas
das outras, no tocante à falta de condições materiais de existência. Isto revela que
não lhes são assegurados os direitos e garantias fundamentais constitucionalmente
tutelados.
Assim, concluímos que é imprescindível, apesar da existência de muitas frentes de
lutas, reinventar a emancipação social com e para os povos do campo, é
necessário agir para a implementação de uma educação do campo no sentido e
significado proposto anteriormente por Molina (2006). Sobre o que deixamos para
reflexão:
Está terminando o tempo da inocência e começando o tempo da política. Os pobres
da terá, durante séculos excluídos, marginalizados, têm caminhado em silêncio e
depressa no chão dessa longa noite de humilhação e proclamam, no gesto da luta,
de resistência, da ruptura, da desobediência, sua nova condição, seu caminho sem
volta, sua presença maltrapilha, mas digna, na cena da História. (MARTINS (1996)
apud ALENCAR, 2000, p. 83).
Compreendemos que é possível perceber pelas imagens fotográficas as mudanças
ocorridas na vida dos assentados que atualmente já contam com casas para morar,
com escola para os filhos, produzem hortaliças e mel e sonham com um futuro com
menos sofrimentos e melhores condições de existência. Assim, a fotografia torna-se
uma narrativa visual como propõe Nobre (2004) pela possibilidade de mostrar a
existência de uma realidade em suas nuanças concretas; outras leituras poderão
ser feitas pelo leitor das fotografias, mas a nossa é de informa que ocorreu
mudanças qualitativas no território desses assentados.
REFERÊNCIAS
GALENO, Alexsandro. Imagens da Terra: por uma poética da Luta Política. (1996).
Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal/ Brasil: 1996.
GICO,Vânia ; NOBRE, Itamar de Moraes ; SILVA, Lenina Lopes Soares. Itinerário
Social da Medicina: a memória fotográfica em Natal. In: V Congresso LusoBrasileiro de História da Educação, 2004, Évora. Anais. Évora : Universidade de
Évora, 2004.
282
NOBRE, I. M. A Fotografia Como Narrativa Visual. In: XXII Reunião Anual da
ABA, 2004, Olinda/PE. Programa e Resumos da XXII Reunião Anual da ABA, 2004.
NOBRE, I. M; GICO, Vânia de Vasconcelos. Fotocartografia Sociocultural: uma
proposta metodológica. In: Simpósio Internacional Métodos Qualitativos nas
Ciências Sociais e na Prática Social, 2006, Recife/PE. Anais do Simpósio
Internacional Métodos Qualitativos nas Ciências Sociais e na Prática Social, 2006.
OLIVEIRA, Antônia Mábia Zulina de. Narrativas e olhares sobre o processo de
construção da vida comunitária na Agrovila Paulo Freire, no assentamento
Eldorado dos Carajás II, Mossoró/RN. Monografia (Especialização em Agricultura
Familiar Camponesa e Educação do Campo – Programa Residência Agrária) –
Universidade Federal do Ceará. Mossoró, 2007.
GT8 – Desenvolvimento, Políticas Públicas e Terceiro Setor –
Sala A4 – Setor II
Prof. Dr. João Bosco Araújo da Costa (UFRN)
Profª. Drª. Maria Ivonete Soares Coelho (UERN/UFRN)
[email protected]
Ementa: Este GT se constitui num espaço temático para a reflexão de estudos e
pesquisas que tem como enfoque os temas do desenvolvimento,das políticas
públicas e do terceiro setor. Trata-se de estudos empíricos que ampliem as
reflexões sobre os novos papéis atribuídos ao poder público local, os padrões de
interação entre poder público e atores sociais, o papel do Estado, do mercado e
da sociedade como agentes do desenvolvimento. O GT Justifica-se pela
importância e emergência desta trilogia temática e por ampliar as possibilidades
de reflexão dos temas que informam as linhas de investigação da base de
pesquisa "Poder Local, Cultura Política e Políticas Públicas‖ do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
GT8 – Desenvolvimento, Políticas Públicas e Terceiro Setor
TRABALHOS APROVADOS – RESUMOS SIMPLES
01 O SENTIDO DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
Autor: Pablo Thiago Correia de Moura.
E-mail: [email protected]
Resumo: Exporei aspectos relevantes da ampliação do campo da
representatividade para além do campo político, como fator
essencial para democratização das estruturas políticas no sentido
de paradigmas, vícios e surgimento para novos alicerces numa
visão mais horizontal e menos vertical e particular da política
partidária; onde a representação política possibilita a sociedade
civil identificar-se e influenciar a direção política do país. Também
ver que essas perspectivas de representação da sociedade civil por
283
novos atores transformam não só o campo da mesma como
modifica a noção de sociedade civil representada em substituição a
uma perspectiva de sociedade civil soberana. A representação
transforma e expande a política na medida em que não apenas
coloca os representantes ou o Estado como protagonistas das
ações decisórias, mas quando enfoca esse protagonismo para a
sociedade civil.
Palavras-chave: Democracia Representativa, Sociedade Civil,
Movimentos Sociais, Democracia Direta.
02 DESENVOLVIMENTO, ASSOCIATIVISMO E PARTICIPAÇÃO EM
ASSENTAMENTOS RURAIS
Autor: Melquisedeque de Oliveira Fernandes
E-mail: [email protected]
Resumo: Os projetos de assentamentos rurais, enquanto unidades
de produção agrícola e espaço de desenvolvimento social visam,
através da organização política dos assentados, um ordenamento
político e social cujo sentido seja, entre outros, reinventar valores e
habilitar as famílias para sociabilidade política participativa e
democrática. O espaço reservado para tal sociabilidade são as
associações de produtores rurais. Objetivamos com esse trabalho
discutir o sentido que assume o processo de reinvenção de valores
dos assentados (diante da orientação participativo-democráticas)
em 30 assentamentos de reforma agrária no RN, a partir das
situações identificadas como tensas e conflituosas, originadas da
sociabilidade política no espaço das associações.
Palavras chave: desenvolvimento,reforma agrária, assentamentos
rurais.
03 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL COMO EXPANSÃO
DAS LIBERDADES
Maria Aparecida Ramos da Silva
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais da UFRN: [email protected]
Resumo: Esta pesquisa é parte de um estudo mais amplo sobre a avaliação
da efetividade de políticas públicas de inclusão digital na rede pública de
ensino de educação básica no município de Natal/RN. Compreende-se que
a dinâmica do mundo contemporâneo mudou consideravelmente com o
advento das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC),
principalmente o computador e a internet, que provocaram significativas
mudanças nas forças produtivas, nas relações de produção e nas formas de
sociabilidade humana. Paradoxalmente, essas transformações trouxeram
em seu âmago uma nova forma de exclusão/privação social: a exclusão
284
digital, que atinge uma grande parcela da população. Assim, exclusão digital
é contemporaneamente uma nova forma de privação/exclusão social para
amplos setores da sociedade e o acesso às novas TICs têm como resultado
preponderante a expansão das capacidades e liberdades dos indivíduos.
Palavras-chave:Inclusão digital. Exclusão digital. Políticas públicas.
Avaliação de políticas públicas.
04 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO: UMA ANALISE DO
PROGRAMA DE DOCUMENTAÇÃO DA TRABALHADORA RURAL –
MDA/INCRA
Dalvanir Avelino
E-mail: [email protected]
Resumo: O artigo discute o papel das políticas públicas na
promoção do desenvolvimento a partir de uma análise acerca da
experiência desenvolvida no PROGRAMA DE DOCUMENTAÇÃO DA
TRABALHADORA RURAL, executado pelo INCRA e MDA, no estado
do Rio Grande do Norte. Parte-se do pressuposto de que o sentido
atribuído à idéia de desenvolvimento é determinante na definição
da agenda pública, bem como dos problemas que serão
enfrentados por meio destas. Buscou-se, portanto investigar a
contribuição do referido programa no processo de expansão das
liberdades das trabalhadoras rurais. Para tanto o percurso
metodológico compreendeu a realização de pesquisa documental,
bibliográfica e de campo. Na pesquisa de campo, foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas com trabalhadoras rurais que
participaram dos mutirões de execução do programa, bem como
gestores e profissionais que atuam emissão dos documentos e
articulação dos diversos parceiros que o viabilizam. O estudo indica
que o desenvolvimento poderá ser alcançado com a remoção dos
obstáculos que impedem as trabalhadoras rurais de constituírem-se
como cidadãs. O acesso à documentação constitui-se, portanto,
uma porta de entrada para outros programas e políticas públicas
que em articulação contribuem para a eliminação de privações de
diversas ordens e a conseqüente expansão das liberdades dessas
mulheres.
Palavras-Chaves: Gênero, desenvolvimento e políticas públicas.
05 ASSISTENCIA SOCIAL: TEMA DE PESQUISA E OBJETO DE
AVALIAÇÃO
285
Maria Ivonete Soares Coelho (UERN/UFRN)
E-mail: [email protected]
Resumo: Assistência Social no Brasil tem sua trajetória histórica
demarcada pelo assistencialismo, clientelismo, filantropia e ações
pontuais de governos e da sociedade. Pós 1988, com a nova
Constituição Federal, a assistência social ganha o status de política
pública componente do sistema de seguridade social. Ocorre,
portanto, uma mudança paradigmática para o campo do direito.
Este fato, por si só, insere a assistência social tema de pesquisas
de graduação e pós-graduação nas diversas áreas/campos de
saber. Outro componente deste fenômeno é a sua condição de
realizar-se localmente, leia-se municípios, exigindo basicamente
para sua existência local a formatação de conselho municipal, plano
municipal e fundo municipal. Este processo culmina com avanços
que serão identificados com criação do Sistema único da
Assistência Social – SUAS, em 2004. Neste cenário visualizamos
como perspectivas ,a partir de estudos direcionados ao processo
de doutoramento em Ciências Sociais, as necessidades de pensar
este tema aliando-o as demandas reflexivas em torno do
desenvolvimento,de nossas (e novas) institucionalidades,de
campos de disputas pela afirmação da política,paradigma em
processo de construção, e do assistencialismo,campo concreto de
realização.Neste particular ganha também significado, o sentido
dado a assistência social por seus usuários,como forma de
legitimar (ou não)as novas definições e marcos legais,induzidas
pelas percepções a partir dos efeitos/impactos em suas vidas.
Neste ambiente, ampliando o tema e consolidando-o como objeto
de avaliação, visualizamos a produção teórica no campo da
pesquisa de avaliação de políticas públicas, particularmente da
pesquisa de efetividade (ARRETCHE,2007),bem como,além de dar
conta da demanda da realidade demarcada pela ampliação de
políticas e programas sociais, possibilitar uma (re) significação da
assistência
social
e
do
desenvolvimento
em
termos
locais/municipais,buscando
identificar
e
valorar
as
efetivações(SEN,1993,2000) na vida de seus usuários.
Palavras-chave: Políticas Públicas; Avaliação de Políticas Públicas;
Asssitencia Social; Desenvolvimento.
GT8 – Desenvolvimento, Políticas Públicas e Terceiro Setor
TRABALHOS APROVADOS – RESUMOS EXPANDIDOS
286
(Resumos Expandidos não enviados pelos autores para publicação).
GT9 – Tecendo e vivenciando histórias de violência – Sala
H10 – Setor II
Drª. Teresa de Lisieux Lopes Frota (IBRAPES-UVA)
[email protected]
Ms. Adriana Aparecida de Souza (UFRN)
Ementa : Pretende-se discutir as diversas relações, visões da
violência enquanto fenômeno social, analisando destacando o modo
como a sociedade coloca, relata e nomeia as práticas violentas em
suas realidades sociais, apreendendo assim os vários significados
construídos socialmente sobre o fenômeno. Este grupo de trabalho
visa, portanto, a ampliar e a aprofundar os debates em torno da
temática proposta.
Objetivos: Promover o debate sobre a temática de violência;
Trocar idéias sobre as experiências dos pesquisadores, estudantes
e interessados na temática;
Viabilizar a socialização de áreas e/ou campos de estudos
propiciando diferentes olhares.
GT9 – Tecendo e vivenciando histórias de violência
TRABALHOS APROVADOS RESUMOS SIMPLES
01 - “TÁ LÁ O CORPO ESTENDIDO NO CHÃO”: UM ESTUDO
DO CASO DO LINCHAMENTO DE AREIA BRANCA - RN
Francisco Augusto Cruz de Araújo
Ciências Sociais – UERN
[email protected]
Resumo: Esta pesquisa baseia-se no estudo de um caso de linchamento
ocorrido no ano de 1993 na cidade de Areia Branca - RN. O objetivo deste
trabalho é reconstituir a partir de narrativas jornalísticas o cenário em que o
linchamento ocorreu, bem como perceber os fatores que influenciaram a
comunidade a praticar ―justiça com as próprias mãos‖ à revelia do poder
legal. Esta pesquisa estrutura-se a partir de narrativas publicadas em dois
jornais de circulação regional que participaram da cobertura do fenômeno:
jornal Gazeta do Oeste e o Mossoroense. O material jornalístico forneceu
informações suficientes para a reconstituição do cenário em que o
linchamento ocorreu e pôde revelar a ―justiça popular‖ como uma iniciativa
privada para a solução de conflitos cotidianos desencadeados por fatores
como o descrédito da sociedade nas instituições de segurança e justiça, o
crescente sentimento de medo e insegurança ligados à violência social,
como a exposição a situações de pobreza e miséria. As notícias analisadas
evidenciam a aceitação e naturalização de uma forma de controle social
baseada eminentemente em meios violentos, respaldadas pela mídia, que
287
constrói a idéia de ―justiça‖ e ―cidadania‖ sobrepostas até em valores como a
preservação da vida e da dignidade humana, contrapondo os direitos das
vítimas linchadas aos direitos da sociedade.
Palavras-chave: violência; linchamento; mídia; justiça popular
02 - VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E O PAPEL DO ESTADO
Autora: Adriana Aparecida de Souza
Orientador: José Willington Germano
Agência financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPQ)
Resumo: Este estudo trata da violência intrafamiliar contra
crianças e adolescentes, buscando apreender como o estado vê
esse tipo de violência bem como a sociedade. Visando
compreender como se dá essa relação no seio familiar buscou-se
elencar de que maneira são fomentados as praticas de agressão
entre mães e filhos no contexto familiar, abordando como as
relações de violência se configuram infligindo os direitos das
crianças. Assim, procurou-se analisar e discutir o papel da família e
do conselho tutelar como órgão de proteção às crianças da cidade
de natal. Em nossas análises construídas a partir de entrevistas
com conselheiros tutelares, constatamos que este órgão atua de
forma assistencialista, e ao fazer essa atuação apenas
responsabiliza a família delegando a culpa pelos problemas e
principalmente pela violência intrafamiliar enfrentados pelas
crianças como exclusivo da família, desviando assim, a
responsabilidade do estado e da sociedade.
Palavras-chave: estado; direitos das crianças; violência
intrafamiliar.
03 - TECENDO HISTÓRIAS SOBRE A VIOLÊNCIA: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA
Gleydson Rodrigues da Silva- UFRN
Resumo: Este trabalho pretende apresentar um relato de experiência fruto
do projeto de extensão ―tecendo histórias para entender a violência‖,
desenvolvido no grupo de pesquisa cultura, política e educação, do
departamento de ciências sociais, da universidade federal do rio grande do
norte. o projeto objetiva trabalhar com a temática violência, destacando o
modo como a sociedade coloca, relata e nomeia as práticas violentas em
suas realidades sociais. o presente trabalho busca assinalar o projeto em
questão como um espaço educativo por excelência. focando a discussão no
conceito de violência simbólica segundo Bourdieu.
Palavras-chave: educação; violência simbólica; Bourdieu.
288
04 - PEDAGOGIA DA PALMADA: O MESTRE ESCOLA
WITTGENSTEIN IN TRATENBACH
Mônica Gicéia Carvalho Costa
EDUCAÇÃO – FAL
[email protected]
Resumo: O episódio sobre o qual foi analisado aqui aconteceu em 1922, e
durante esse entretempo, quando Wittgenstein abandonou a filosofia e
decidiu se tornar mestre-escola em uma região pobre, mas bela, da baixa
Áustria. Quais seriam os seus motivos para atitudes pouco educativas?
Como um mestre-escola preparado formalmente para educar os pequenos
pode ter atitudes abomináveis para com uma criança? Só uma análise
minuciosa nos revela estas facetas. Esta pesquisa bibliográfica e de campo
busca revelar a formação para o magistério de um dos maiores filósofos do
sec. XX. Daí, o filósofo, conhecendo as circunstâncias históricas específicas
do gênero humano, decidiu não desprezar o que havia de eficiente nos
métodos de disciplina rígida da escola tradicional na cidade de Trattenbach.
Palavras chave: magistério, educação, violência, mestre-escola.
GT9 – Tecendo e vivenciando histórias de violência
RESUMOS EXPANDIDOS
01 - “TÁ LÁ O CORPO ESTENDIDO NO CHÃO”: UM ESTUDO
DO CASO DO LINCHAMENTO DE AREIA BRANCA - RN
Francisco Augusto Cruz de Araújo
Ciências Sociais – UERN
[email protected]
(Resumo Expandido não disponibilizado pelo autor para publicação)
02 - VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E O PAPEL DO ESTADO
Autora: Adriana Aparecida de Souza
Orientador: José Willington Germano
Agência financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPQ)
Esse trabalho visa discutir quais as conseqüências da violência
intrafamiliar para a efetivação dos direitos da criança e do
289
adolescente, assim como o Estado e a família vêem esses direitos.
Tendo como objetivo entender as conseqüências da violência
intrafamiliar aos direitos das crianças e adolescentes. Este texto é
fruto de estudos preliminares da pesquisa intitulada: Violência
intrafamiliar e suas conseqüências para o desenvolvimento da
aprendizagem das crianças .
Contextualizando o problema, entende-se que a violência
intrafamiliar contra crianças no Brasil é uma questão social
complexa que envolve questões sociais e culturais e especialmente
estatais. Entende-se que a infância tem seus direitos garantidos
pelo Estado através do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Entretanto, dados do Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada
em uma pesquisa realizada em 2005, revelam que a violência
intrafamiliar contra crianças e adolescentes ocorre em todas as
partes do país. Essa pesquisa apontou que 84,8% de 19.373 dos
chamados abrigamentos, decorrentes de decisões jurídicas que
acarretam a suspensão do pátrio poder nas quais os pais ou
responsáveis perdem o direito sobre a tutela da criança ou do
adolescente ficando estes abrigadas sobre a guarda do Estado.
Observou-se que esse total se refere a crianças e adolescentes
abrigados em instituições que sofreram violência intrafamiliar,
então, esses dados corroboram as preocupações sobre a
problemática como um problema social de conseqüências ainda não
mensuradas, ou até mesmo estudadas com finalidades voltadas
para políticas públicas.
Para que se compreenda essa realidade exige-se uma investigação
permanente sobre as situações de violência vivenciadas pelos
diferentes segmentos da sociedade. Percebe-se, no entanto, que as
práticas violentas contra crianças e adolescentes, na esfera
familiar, vêm perdendo a delimitação de espaço privado, já que
essas práticas estão sendo cada vez mostradas pela mídia e os
casos de violência intrafamiliar têm extrapolado o considerado
aceitável. Embora tais práticas sejam mais estudadas e debatidas
hoje, através de um novo olhar sobre a infância, pela mídia e a
própria sociedade, isto apenas tem dado maior visibilidade a esse
problema social, à medida que as crianças são representadas, pela
sociedade e pelo Estado como sujeitos portadores de direitos.
A trajetória da história da criança se fez à margem dos adultos,
sofrendo violência, humilhações, etc, sendo prisioneira da escola,
da igreja, da legislação, do sistema econômico, passando por
290
abandonos, vivendo situações de violências cotidianas, como
abusos sexuais, doenças, queimaduras e fraturas que sofriam tanto
no lar como no trabalho.
Atualmente, a visão da infância também sofreu alterações, a qual
se constatou que a criança possui uma diferença radical do adulto e
que todas as crianças têm oportunidades iguais. O modelo de
educação que desvalorizava e combatia o desejo das crianças,
valorizando a disciplina a obediência esta sendo duramente
criticado (Arès, 1978, Del Priore, 1991). E um novo modelo que
visa privilegiar a criatividade, a iniciativa e a cooperação entre os
indivíduos vem sendo constantemente estimulado.
Essa representação de criança que não a reconhece como sujeito
de direito, como um ser que tem função social, faz parte de um
momento histórico. Sendo assim, entende-se que as crianças são
seres sociais, e dessa forma têm uma história, e estabelecem
relações segundo seu contexto de origem. Dessa maneira, ocupam
um espaço geográfico e são valorizadas de acordo com os padrões
do seu contexto familiar e com a sua própria inserção nesse
contexto. Elas são, portanto, enraizadas num todo social que as
envolve e que nelas imprime padrões de autoridade, linguagem, e
costumes.
A valorização e o sentimento atribuídos à infância nem sempre
existiram da forma como na atualidade do século XXI são
concebidas e difundidas, tendo sido modificados a partir de
mudanças econômicas e políticas da estrutura social.
Sendo assim, atualmente a educação se propõe a promover as
condições de desenvolvimento da criança em todos os seus
aspectos, a saber, cognitivo, social, afetivo, emocional e ético. Este
pensamento é fruto de um novo olhar dado a educação em que se
acredita que o educar significa atender às necessidades da criança
como um ser complexo e multifacetado.
A partir desse novo olhar o Estado passou a interferir na vida
familiar. Bem como, impôs uma regulação sob a família que agora
se tornou a responsável pelo funcionamento econômico;
transmissão do patrimônio; procriação de crianças e pela sua
socialização, saúde e transmissão de valores do meio social.
A nova visão representativa das crianças e dos adolescentes,
possibilitou mudanças também em algumas formas enraizadas no
social da família sobre o que seria educar, entre elas a visão da
pedagogia e da psicologia que determinam que a punição corporal
291
não seria adequada para a educação de crianças e de adolescentes,
considerando
que
essas
práticas
poderiam
desencadear
exacerbações que levariam a violência física, além de outros
traumas de ordem psicológica. Essa prática que não era nem
questionada como violência começa a mudar, surgindo discussões
sobre o que seria, ou não violência intrafamiliar.
Visando proteger as crianças e os adolescentes, surgiu todo um
movimento em prol da garantia de direitos a esses seres em
formação. Essa preocupação se consolidou apenas no ano de 1980,
modificando a percepção de direito de violência sobre as crianças e
adolescentes. Dessa forma, por meio da declaração dos direitos da
criança e com o surgimento de uma vasta campanha de
questionamentos da ―política nacional de bem-estar do menor‖ e
do ―código de menores‖, surgiram também nesse período
denúncias graves sobre a situação enfrentada pela infância
brasileira, como também a constante violação de seus direitos.
As emanações da Constituição Brasileira de 1988 para as crianças e
os adolescentes vão começar a se concretizar com o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), este reúne um conjunto de
normas do ordenamento jurídico brasileiro que tem como objetivo
a proteção integral da criança e do adolescente, aplicando medidas,
e expedindo encaminhamentos. Foi elaborado na tentativa de
colocar o Brasil numa campanha nacional de reconhecimento dos
direitos da criança e do adolescente. A sua concretização foi
possível com a implantação, em 1990, sendo utilizado como
medida de proteção à vítima e prevenção do fenômeno. O Código
Penal Brasileiro também reprime os abusos correcionais ao
prescrever na (LEI Nº. 2.848/1940), no delito de maus tratos:
Art. 136 – Expor a perigo de vida ou a saúde de pessoas
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a
de alimentos ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a
a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
meios de correção ou disciplina.
Observa-se, dessa forma, que no Brasil existe toda uma estrutura
legal, isto é, leis que garantem os direitos da criança e do
adolescente, porém o que percebe-se é que a lei não está
292
garantindo o reconhecimento desses direitos, pois existe no Brasil
toda uma cultura de submissão que a criança deve obediência a
seus pais, já que são eles os responsáveis legais e ―naturais‖, e a
desobediência tem sinônimo de punição. O que acontece é que a
nossa sociedade ainda cultiva a punição corporal ou castigo físico
como um dos meios para disciplinar os seres humanos.
O controle então se dá pelo corpo, como uma forma de construção
e de controle das instituições disciplinares. Sendo assim, a família
tem o poder de definir padrões de comportamento, atos e práticas
possíveis e as proibidas, exercendo assim, um controle do corpo.
Nesse sentido, o controle do corpo vem pela punição física, o
―corpo é percebido como um campo para várias intervenções‖. De
acordo com Caldeira, os brasileiros naturalizam a inflição da dor,
como
corretivos,
e
que
essas
intervenções
não
são
necessariamente dolorosas ou violentas. ―Na verdade, algumas são
vistas como aspectos desejáveis e atraentes da cultura brasileira.‖
(CALDEIRA, 2000, p. 369-370).
Todavia, mesmo tendo seus direitos garantidos pela lei, as
crianças e adolescentes não são reconhecidos pelos pais e nem
pela sociedade como portadores de direitos, havendo necessidade
da criação de meios para que a violência sofrida por crianças e
adolescentes, dentro de sua própria família, seja denunciada e
apurada.
Entretanto, isto mostra que o Brasil, na procura de melhores
condições de vida para sua população infanto-juvenil, adotou a
doutrina da proteção integral com a edição do ECA. Busca,
também, a garantia do direito à vida, à educação, à saúde, à
convivência familiar etc., através de uma concepção extremamente
coerente que pensa a formação do homem desde sua infância para
uma vida digna a todos e um maior crescimento como nação.
Ainda que o reconhecimento da criança como sujeito de direitos
tenha surgido, essa conquista se deu principalmente através do
movimento de direitos humanos, e do discurso da psicologia,
pedagogia que visava o bem-estar da criança, ou seja, instituições
que discursavam sobre a percepção de criança, práticas
educacionais e também os problemas enfrentados por crianças e
adolescentes que são vítimas de violência. Possibilitando o
surgimento de meios legais de intervenção da violência sofrida por
crianças e adolescentes. Entretanto, esta apenas passou a ser
reconhecida assim no momento em que houve mudança na forma
293
de pensar social, ainda que não seja de forma homogênea, já que
a grande maioria da população brasileira não compreende as leis
de proteção de crianças e adolescente.
Tem-se a certeza que este pequeno artigo não dá conta de uma
problemática complexa como a que envolve a efetivação dos
direitos da criança e do adolescente principalmente, quando o
maior risco ocorre dentro contexto intrafamiliar, isto é, em âmbito
privado. Bem como o papel do Estado na garantia dos direitos das
crianças de dos adolescentes. No entanto, pontua-se aspectos que
podem ser levados em consideração em estudos com tal temática
qual seja acreditar ser uma variável fundamental, a falta de
articulação entre a família, o Estado e a sociedade, onde cada um
responsabiliza o outro. Nesse universo o Estado responsabiliza a
família pelos maus tratos, violência, negligência etc, a família
culpabiliza o Estado que não fornece as condições básicas de
sobrevivência.
Quando na realidade todos são responsáveis o Estado com a
responsabilidade de promover condições básicas de sobrevivência,
a família proporcionando os cuidados necessários à sobrevivência
de seus membros e a sociedade, fiscalizando e reivindicando
melhores condições de vida e de cidadania.
Entretanto, é de fundamental importância que se busque cada vez
mais discutir e conscientizar as diferenças entre educar, disciplinar
e de violência que coexistem por linhas bastante tênues. E que a
maior parte das pessoas não se preocupam com a força até que
esta se transforma em violência, ou seja, quando a força é usada
além de limites prescritos e mal definidos. Portanto, se a força
física é vista como eficiente na resolução de conflitos, mesmo que
esta eficiência seja temporária, é provável que a força física seja
usada para resolver o problema seguinte.
Ressalte-se que na sociedade brasileira pode-se dizer que
convivem paralelamente dois pensamentos sobre a violência contra
crianças: o que acredita que só serão considerados violência os
casos de castigos imoderados e/ou cruéis, isto é, os que deixam
marcas no corpo das crianças; e, o que acredita que todas as
medidas punitivas que atinjam o corpo da criança e/ou adolescente
podem e devem ser consideradas violência, uma vez que provoca
dor física. Este último engloba como violência, os castigos tidos
como leves, como é o caso da palmada. Vale salientar que o
segundo é fruto de discursos de instituições, como Organizações
294
Não Governamentais (Ongs) de direitos humanos, psicólogos e de
pedagogos, que foram difundidos na sociedade.
Compreende-se, por fim, que os comportamentos e os valores são
aceitos socialmente e variam de acordo com cada cultura, no
entanto, se entende-se que educar é transmitir valores,
comportamentos, isto é, fornecer modelos, deve-se também deixar
claro e expor cada vez mais a diferença entre educar e agredir
fisicamente, educar e punir como forma de disciplinamento.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História da criança e da família. Rio de Janeiro:
Zahar, 1978.
AZEVEDO, Maria Amélia. Hitting mania: domestic corporal
punishment of children and adolescents in Brasil. Viviane N. A.
Guerra e Maria A. Azevedo (Org.) São Paulo, Iglu, 2001
BRASIL. Lei 8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da criança e do
adolescente (ECA). São Paulo: IDEC, 2000.
CALDEIRA, Teresa P. do R. Cidade de muros: Crime, segregação
e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/ Edusp, 2000.
DEL PRIORE, Mary. História da criança no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991.
FALLUH, Santiago. O levantamento de informações sobre
direitos violados de crianças e adolescentes no Sistema de
Informações para Infância e Adolescência (SIPIA – módulo
I): conteúdo e metodologia. Texto para discussão nº. 1012 – IPEA,
Brasília, março de 2004.
SOUZA, Adriana A. de. Os anjos podem ferir: um estudo sobre a
violência intrafamiliar. Dissertação. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, Natal, 2009, 107
f.
03 - TECENDO HISTÓRIAS SOBRE A VIOLÊNCIA: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA
295
Gleydson Rodrigues da Silva23
[email protected]
O presente trabalho pretende apresentar um relato de experiência
fruto do Projeto de Extensão ―Tecendo Histórias Para Entender a
Violência‖, grupo de estudos integrante do Grupo de Pesquisa
―Cultura, Política e Educação‖ do Departamento de Ciências Sociais
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Esse projeto busca estreitar as relações Universidade-Sociedade.
Investigando os campos de expressão da violência enquanto
fenômeno social, analisando as suas dimensões psíquicas, sócioculturais e políticas. Seu objetivo principal é trabalhar com a
violência destacando o modo como a sociedade coloca, relata e
nomeia as práticas violentas em suas realidades sociais,
apreendendo assim os vários significados construídos socialmente
sobre o fenômeno.
Este relato busca assinalar o projeto ―Tecendo Histórias Para
Entender a Violência‖ como espaço educativo por excelência.
Colocando o referido projeto como uma instituição que promove
um processo educativo em torno da discussão sobre o conceito de
violência simbólica, segundo Pierre Bourdieu.
Pode-se dizer que violência simbólica é um ―poder invisível que só
pode se exercer com a cumplicidade daqueles que não querem
saber que a ele se submetem ou mesmo que o exercem‖ (CASTRO
apud BOURDIEU, 1998).
Esse tipo de manifestação da violência nem sempre é perceptível,
ela serve, segundo Bourdieu, como uma maneira de legitimar e
fortalecer as relações de dominação existentes em nossa sociedade
e podem ou não ser demonstrada fisicamente. Para o autor, essas
relações de dominação institucionalizam sua autoridade sem
conflitos.
Através da participação dos seminários de discussão teórica, das
palestras em instituições de ensino e outros e demais eventos
científico-acadêmicos promovidos pelo projeto em apreço, pude
apurar meus saberes cognitivos em relação as mais diversas
manifestações de violência, em especial ao conceito de violência
simbólica, como coloca Bourdieu.
Em sua obra, ―Pedagogia e Pedagogos, Para Quê?‖, o filósofo da
educação José Carlos Libâneo diz que, ―o acontecer educativo
corresponde a ação e ao resultado de um processo de formação
dos sujeitos [...]‖ (p. 72). Nesse sentido afirmo que, o processo
23
Graduando do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Bolsista
de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação do Departamento de
Ciências Sociais da mesma universidade.
296
experienciado por mim, no ―Tecendo Histórias Para Entender a
Violência‖, foi um processo educativo por excelência.
Para Carlos Libâneo o processo educativo ―corresponde à ação
educadora, às condições e modos pelos quais os sujeitos
incorporam meios de se educar‖ (2005, p.84). O autor também
coloca que, o processo educativo visa, sempre, alcançar propósitos
explícitos e intencionais. Com a intenção de promover
aprendizagem através das atividades própria dos sujeitos.
Partindo, então, dessa discussão proposta por Libâneo o projeto
―Tecendo Histórias Para Entender a Violências‖ é um agente que
promove o aprendizado em volta do conceito de violência
simbólica, e, dessa forma, pode ser visto como uma instituição
geradora da educação-processo.
REFERÊNCIAS
CASTRO, Magali de. Um estudo das relações de poder na
escola pública de ensino fundamental à luz de Weber e
Bourdieu: do poder formal, impessoal e simbólico ao poder
explícito. Rev. Fac. Educ., São Paulo, v. 24, n. 1, Jan. 1998.
FROTA, Teresa de Lisieux. Entre O Pavilhão e O Inferno:
trajetórias de meninos infratores no CEDUC/Pitimbu. João
Pessoa: Idéia, 2007.
LIBÂNEO, José Carlos. Os significados da Educação, Modalidades de
Prática Educativa e A Organização do Sistema Educacional. In:
Pedagogia e pedagogos, para quê? 8ª Edição. São Paulo:
Cortez, 2005.
04 - PEDAGOGIA DA PALMADA: O MESTRE ESCOLA
WITTGENSTEIN IN TRATENBACH
MÔNICA GICÉIA CARVALHO COSTA
EDUCAÇÃO – FAL
[email protected]
(Resumo Expandido não disponibilizado pelo autor para publicação)
GT 10 – Sociedade, Memória e Educação no Brasil - Auditório
A – CCHLA
297
Prof. Dr. José Willington Germano (UFRN)
Profa. Dra. Dalcy da Silva Cruz (UFRN)
[email protected]
Ementa: O Grupo de Trabalho Sociedade, memória e educação no
Brasil vem se consolidando desde a primeira edição do CESO e tem
como proposta básica reunir pesquisadores, estudiosos e
estudantes da pós-graduação e da graduação, visando promover o
debate de ideias, no sentido de, pensar e discutir, conjuntamente,
as relações entre sociedade e educação existentes no contexto
social e cultural brasileiro. A temática que engloba sociedade,
memória e educação articula diferentes conhecimentos, saberes,
pensamentos
e
práticas
sociais
em
uma
perspectiva
transdisciplinar. Assim, considera-se, dentre outros, como temas
importantes para esta discussão articulatória trabalhos e estudos
que tratem de relações de trabalho; de educação e trabalho;
pensamento social; memória social e institucional; memória e
história da educação; memória de professores; políticas
educacionais; pensamento militar e educação; práticas sociais
contra-hegemônicas;
história
de
movimentos
sociais;
e
pensamento religioso e educação, bem como relatos de experiência
em pesquisas científicas e de formação acadêmica. Espera-se,
assim, contribuir para a ampliação e o aprofundamento da temática
e ao mesmo tempo, oferecer um espaço de diálogo para questões
relativas às Ciências Sociais e à Educação.
Objetivo: Promover o debate de idéias entre pesquisadores em
diferentes níveis de formação no sentido de, pensar e discutir,
conjuntamente, as relações entre sociedade e educação existentes
no contexto social e cultural brasileiro.
GT 10 – Sociedade, Memória e Educação no Brasil TRABALHOS ACEITOS – RESUMOS SIMPLES
01 - HISTÓRIA VISUAL E USO DA CHARGE NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Rayane Dionisio da Silva (UERN)
e-mail: [email protected]
Resumo: Este trabalho tem como objetivo problematizar a
produção de imagens, em especial às charges, com intuito de
promover uma reflexão sobre o ensino de história. Pretendemos
revelar as possibilidades de análises referentes ao uso da imagem
no trabalho do historiador e contribuir para um diálogo entre o
estudo das imagens, o ensino e a pesquisa. Desta forma, a imagem
é um manifesto da memória e são hipercomunicativas. Estudar a
origem de uma imagem seja fotografia, pintura, cinema ou charge
298
é adentrar no imaginário contemporâneo de uma época e trazer
consigo estereótipos vistos e ditos característicos de uma
determinada sociedade. Para melhor compreensão do objeto,
utilizaremos
como
referencial
os
pressupostos
teóricometodológicos relacionados os seguintes autores: Bezerra de
Menezes (2003), Burke (2004), Benjamim (1994) dentre outros
que partilham das novas abordagens sobre os objetos da história, a
pesquisa e as fontes.
Palavras-chave: imagem, charge, ensino de história
.....
02 - TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA JUVENTUDE EM BUSCA
DO ACESSO À UNIVERSIDADE PÚBLICA
Geovânia da Silva Toscano - Departamento de Ciências Sociais
e-mail: [email protected]
Luzia Ferreira Pereira Eneas - Departamento de
Educação/UERN
Patricia Francilianne Marques Silva - Aluna de Ciências
Sociais/UERN
Resumo: A pesquisa é fruto de um projeto de extensão
desenvolvido em Campo Grande-RN, projeto este que oferece um
curso de Pré-vestibular para aqueles que em virtude de um ensino
médio deficitário não conseguem ingressar na Universidade.
Busca-se neste projeto investigar o universo daqueles que desejam
ingressar no ensino superior de uma Universidade pública,
investigando o perfil socioeconômico trilhando pela suas trajetórias
de formação quando terminam o ensino médio público naquela
cidade. Como procedimento metodológico para a investigação
sobre a juventude no percurso de sua formação elegeu-se
trabalhar com história de vida, com um público alvo de 25 jovens
aliados a questionário aplicados durante a oberservação
exploratória. Pretende-se aplicar os questionários com os alunos
oriundos do ensino médio de escola pública concluintes de 2008 e
2009. Espera-se oferecer contribuições às discussões sobre
demanda e acesso às Universidades públicas e sobre a relevância
de ações universitárias para a melhoria da formação dos jovens no
contexto contemporâneo na região do semi-árido potiguar.
03 - A PRÁTICA DO CUIDAR: UM MERGULHO NAS MEMÓRIAS
DE MÃES DA CIDADE DE NATAL
Adriana Aparecida de Souza(PPGCS/UFRN)
e-mail: [email protected]
José Willington Germano (Orientador)
e-mail: [email protected]
299
Agência financiadora:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Resumo: Este trabalho visa discutir a prática do cuidar de crianças
na percepção das mães de bairros populares da cidade de Natal/Rio
Grande do Norte. Pretende-se refletir sobre/e se, as mudanças na
organização social e nas relações sociais, bem como nos papéis e
percepções do indivíduo dentro da família trouxeram mudanças
importantes para a memória individual e coletiva das
entrevistadas. Tem como suporte empírico memórias de mães
atendidas no Conselho Tutelar da cidade, buscando-se entender o
que seria o cuidar na época em que essas mães eram crianças e se
há relação dessa prática do cuidar com as ações praticadas com
seus filhos. Procede-se do estudo inicial que ora subsidiam a
pesquisa intitulada: Violência intrafamiliar e suas conseqüências
para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças.
Palavras-chave: Palavras-chave: Memórias; Práticas de cuidar;
Aprendizagem.
04- UMA PARTE MUSICAL E MÍTICA EM LÉVI-STRAUSS
Betania Maria Franklin de Melo (UFRN)
e-mail: [email protected]
Resumo: Através do pensamento de Lévi-Strauss, diferentemente
da Música, a arte da Pintura congela a paisagem que prende a um
tempo, a música não, os sons são libertos. Embora descrito na
partitura, uma música apresentada sempre passa por um processo
de releitura que descaracteriza do real materializado. É sempre
uma nova construção, uma nova interpretação, que abrange novas
significações. Desta forma, se entende o Mito que é infinito, tem
um campo enorme de variação se organiza e se transforma. A
forma de fuga, como nas composições de John Sebastian Bach,
discorre de uma melodia que foge o tempo inteiro entre as vozes,
assim como um Mito foge no tempo. O reconhecimento do
ritornello na estrutura da obra musical norteia a volta a um
território, antes soado pelo instrumentista, e a repetição do mesmo
trecho, ou seja, passar por todos os compassos tal como foi tocado
pela primeira vez, é um diferencial significativo, que permite ter
nova interpretação. O pulo, para a casa de 2ª vez, simbolicamente
traduz igualdade, mas na pureza do território, é uma
resignificação, seja para continuar ou desfechar a obra. O Mito
opera como um ritornello tem meios, voltam, repetem,
reexperenciam, são recriados, continuam e aparentam ter um fim.
Palavras-chave: Música, Mito, Partitura
300
05 - REFLEXÕES ACERCA DA ESCOLARIZAÇÃO DOS
PROFESSORES E DESEMPENHO ESCOLAR NA REGIÃO
METROPOLITANA DE NATAL
Mércia Maria de Santi Estácio – PPGCS/UFRN
e-mail: [email protected]
Simone Cabral Marinho– PPGCS/UFRN
e-mail: [email protected]
Resumo: Este artigo tem o propósito de discutir a escolarização
dos professores que atuam no Ensino Fundamental e Ensino Médio
na rede pública municipal, estadual e federal na Região
Metropolitana de Natal. Trata-se de uma pesquisa quantitativa
cujo ponto de partida foi os micro dados do Censo Escolar de 2003.
Nosso objetivo foi investigar o processo de escolarização e
formação dos professores, premissas indispensáveis na qualificação
do ensino. Para isso, analisamos dados que retratam aspectos
centrais para o problema em questão, como: o número de
professores em exercício na sala de aula; a escolarização dos
professores; a relação entre a escolarização dos professores e as
taxas de aprovação, reprovação e abandono.
Palavras-Chave: Formação. Região Metropolitana de Natal.
Escolarização Professores
06 - A EXPERIÊNCIA DA FUNDAÇÃO CASA DO CAMINHO EM
EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADANIA
PARTICIPATIVA
Fábia Lúcia Alves de Lima Albuquerque (UERN)
e-mail: [email protected]
Resumo: Este artigo tem como objetivo Identificar e reconhecer
como os vários saberes são singularidades do processo de
escolarização. A educação deve se voltar para a formação do
sujeito em sua complexidade, em sua dimensão multidimensional.
Daí, contemplar os valores éticos e morais como atividade
transversal, reflexiva e contextualizada com determinada realidade
ser mais uma imposição curricular, trata-se de uma construção
solidária, vinculada ao desejo de emancipação daquele grupo social
como um todo. A proposta da Fundação Casa do Caminho é
resgatar o contexto histórico e cultural, com vistas em pensar a
educação informal enquanto sujeitos, espaços, prédios, ruas, lares
e cenas do cotidiano da circunvizinhança dos bairros Barrocas II e
Cajazeiras, na cidade de Mossoró/RN. Todo o projeto da FCC tem
como objetivo maior, proporcionar os mecanismos necessários à
construção de uma cidadania participativa, onde o homem, a
mulher, o jovem a criança e o idoso possam desenvolver, nos
diversos espaços, atividades sistematizadas, lúdicas, musicais,
301
esportivas e sociais, discussões sobre os problemas comuns àquela
comunidade. Dentro dessa perspectiva, as ações da Fundação são
experimentadas através de programas cuidadosamente planejados,
obedecendo a orientação pedagógica regular e descrevendo uma
rotina de dias e horários específicos para sua aplicação. Os atores
sociais envolvidos nos programas, em sua totalidade, vivem em
situação de risco e vulnerabilidade social. Por isso, a educação tem
um papel fundamental no atual estágio de desenvolvimento do
Brasil e do mundo. Ela é fator primordial na construção de cidadãos
conscientes, capazes de construir seu próprio destino. Numa
expectativa que alcance não só os saberes formais ou curriculares,
a educação complementar aplicada na FCC reafirma os propósitos
que vinculam o homem ao seu contexto social, ou seja,
implementa ações que instigam os sujeitos a pensar sobre como
ser artífice de sua própria promoção social.
Palavras Chaves: Educação. Cidadania participativa. Valores
éticos e morais. Saberes culturais
07 - O TEMPO E A MEMÓRIA SOCIAL NA AUTOPOESIA DE
MARIA DE LOURDES XAVIER
Joicy Suely Galvão da Costa (UFRN)
e-mail: [email protected]
Gleydson Rodrigues da Silva(UFRN)
e-mail:[email protected]
Resumo: Esta reflexão é fruto da pesquisa ―Memórias do Brasil:
Itinerários e Singularidades da Formação Social, Educativa e
Cultural de autores brasileiros‖, desenvolvida no Grupo de Pesquisa
Cultura, Política e Educação, do Departamento de Ciências Sociais
da UFRN. Neste trabalho, pretende-se avaliar o processo de
construção do tempo e da memória social a partir de autobiografias
compostas de poemas. Nesse sentido, encontramos nas poesias de
Maria de Lourdes Xavier uma escrita de si e de experiências
coletivas vivenciadas no passado: um registro do tempo e da alma.
Na discussão, apresentaremos a idéia da poesia enquanto rito de
recordação, além de produtora de um tempo específico, este
precisamente memorialístico e carregado de semânticas sociais.
Palavras-chave: tempo, memória social, autobiografia poética
08 - EROTISMO E CENSURA EM ODAIR JOSÉ
Joicy Suely Galvão da Costa
[email protected]
Graduanda em Ciências Sociais (UFRN)
Resumo: Este trabalho é resultado de apontamentos de meu
projeto monográfico. Nele, pretendo discutir a relação entre a
302
palavra erótica e a censura em algumas canções do artista popular
Odair José, amplamente perseguido pelos dispositivos legais de
controle das produções culturais, instituídos pela ditadura militar de
1964 no Brasil, por suas composições possuírem um caráter
conflitivo com os ideais de ordem moral e política impostos pela
ideologia da caserna a todas as esferas da vida humana, inclusive
sexual. Discutirei acerca do papel da chamada música ―cafona‖
como veículo híbrido de conformismo, estigmatização e crítica
social.
Palavras-chave: Erotismo, Ordem Moral, Odair José
09 - ENTRE SERRAS E CURVAS: AVENTURAS NAS ESCOLAS
RURAIS DE DOUTOR SEVERIANO/RN
Maria Euzimar Berenice Rego Silva (Professora do CAMEAM/UERN e doutoranda no
PPGCS/UFRN) e-mail:[email protected]
Vânia de Vasconcelos Gico (Orientadora)
e-mail: [email protected]
Leandro Trajano Santana (Colaborador) Aluno do Curso de
Pedagogia/DE/CAMEAM/UERN
Maria Elis Natália Alves Silva (Colaboradora) Aluna da Especialização em Educação
de Jovens e Adultos/DE/CAMEAM/UERN
Maria Alcione de Queiroz (Colaboradora) Aluna do Curso de
Pedagogia/DE/CAMEAM/UERN
Wandemberg Jácome de França (Colaborador) Aluno do Curso de
Pedagogia/DE/CAMEAM/UERN
Agência Financiadora: CAPES
Resumo: Relato aqui as aventuras vividas durante o período de
visita nas escolas das comunidades rurais do Município de Doutor
Severiano, Alto-Oeste do Rio Grande do Norte. Viajando nas
inclinadas ladeiras severianenses ao sabor do vento, do sol e de
uma camada fina de poeira de seu solo, às vezes vermelho outras
marrom, e guiada por um motoqueiro simples e grande conhecedor
dessas estradas, fui conhecendo alguns desafios e prazeres
vivenciados por educadores(as) em seu cotidiano escolar, bem
como hábitos e práticas das comunidades em que estes(as)
lecionavam. Dessa forma, fui conhecimento aspectos da
singularidade de suas vidas pessoais e profissionais e dos trajetos
de sua formação. A ferramenta principal utilizada, nestes
momentos, foi o diálogo, introduzido seja através da leitura do
poema Metade de Oswaldo Montenegro, durante nossa participação
na Semana Pedagógica das escolas da rede municipal em maio de
2009, seja da leitura e escuta (quando as condições dos
equipamentos das escolas permitiram) da música Passos do Saber
de Marcinha, que alimentava a conversa entre educadores(as) e
pesquisadora, tendo por base suas narrativas orais sobre
formação, vivências rurais e cotidiano escolar. Foram visitados
onze estabelecimentos de ensino rural, localizados nas seguintes
303
comunidades: Bom Sucesso, Frade, Chapada, Jardim, Merejo, Péde-Serra-dos-Correias, Guardado, Fazenda e Lagoa de Dentro. As
salas de aula dessas escolas eram compostas de modo diverso,
sendo que algumas atendiam apenas a Educação Infantil, outras o
Ensino Fundamental e as demais a Educação de Jovens Adultos/as
(EJA). Desses estabelecimentos, sete pertenciam ao Centro
Municipal de Ensino Rural, que tinha nove turmas mutisseriadas,
das quais seis adotavam a proposta da Escola Ativa. Também
visitamos cinco estabelecimentos de ensino urbanos. Destes temos
duas escolas estaduais, uma atuando no Ensino Médio e a outra no
Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e na EJA. Os três
estabelecimentos municipais urbanos compreendem uma escola de
Educação Infantil, uma escola do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental e uma escola com turmas do 6º ao 9º ano do Ensino
Fundamental e de EJA. A diversidade paisagística e institucional
das escolas colava-se às singularidades das vivências de cada
educador(a). Suas falas evocaram (JOSSO, 2004, 2006) as
heranças familiares, as experiências profissionais e pessoais vividas
no campo, que ajudaram a compor suas experiências formadoras e
a elucidar os desafios enfrentados cotidianamente, seja nas
aventuras vividas nas curvas e ladeiras de alguns percursos diários
até as escolas rurais, seja no cotidiano familiar e escolar, que na
luta por melhores condições salariais levam muitos(as)
educadores(as) a constituírem um vínculo de 60 horas semanais na
rede municipal de ensino, atuando em duas ou mais escolas, ou
mesmo atuarem tanto na rede municipal como estadual, ou ainda
lecionarem várias disciplinas numa mesma escola ou em escolas
diferentes, inclusive atuando em mais de um nível ou modalidade
de ensino, seja em Doutor Severiano ou em cidades circunvizinhas,
tais como: Encanto e São Miguel. Outra peculiaridade desse
município é a forte relação com o Estado do Ceará, em virtude de
suas fronteiras geográficas, levando alguns(as) educadores(as) a
buscar a formação superior (graduação e pós-graduação) em
instituições desse estado.
Palavras-chave: Educação do Campo. Formação dos(as)
Educadores(as). Cotidiano escolar. Memória
10 - ÉTICA E CULTURA: RASTROS DE UMA LEITURA
Lenina Lopes Soares Silva (PPGCS/UFRN)
e-mail: [email protected]
José Willington Germano
[email protected]
Resumo: A ética como fundamento e construto humano é formada
no processo auto-organizativo de interação do homem
bio/psico/social e cultural. Esta é a proposição básica destes
rastros de leitura. Segundo Morin (2005) ela pode ser interpretada
304
em sentido complexo através de estratégias metodológicas
operadas por argumentações que partem do contexto social,
histórico e cultural – enquanto todo, no/do qual o homem é
integrante – como uma das partes, da qual emergem as crises
fragmentadoras do ser e, por conseguinte, da ética. Buscamos,
neste relato de leitura, discutir os fundamentos estruturais do
pensamento complexo quais sejam: o dialógico, o de recursão e o
hologramático como instrumentos mentais com possibilidades de
unir racionalmente o indivíduo, a espécie e a sociedade e, também,
o cosmos e as culturas onde são construídos os pensamentos que
fundam, a ética, reiterando a relevância e a pertinência da
subjetividade na natureza que os totaliza e transcende e, ao
mesmo tempo, os integra. No cotejamento do corpus interpretativo
e auto-organizativo as reflexões são alinhadas ao pensamento de
Edgar Morin, particularmente no que se refere às proposições
suscitadas pela leitura do livro: ―O Método 6: ética.‖ Porto Alegre:
Sulina, 2005. Esperamos, dessa forma, trazer ao debate a conexão
entre os sujeitos e a sociedade na qual estão inseridos, como
sujeitos de sua própria história de vida, com sua linguagem,
culturas e normas, com/formadoras da ética como construto
humano, base fundante da ―humanidade da humanidade‖.
Palavras-chave: Ética; Cultura; Pensamento Complexo.
11PRÁTICAS
AVALIATIVAS
E
SUBJETIVIDADES: REFLEXÕES SOBRE
PODER NO ESPAÇO ESCOLAR
PRODUÇÃO
OS EFEITOS
DE
DE
José Gllauco Smith Avelino de Lima
[email protected]
Resumo: Este trabalho situa-se na confluência entre as Ciências
Sociais, a Filosofia e a Pedagogia, trazendo à discussão as relações
entre práticas avaliativas escolares, disciplina, poder e produção de
subjetividades. Elege como objetivo principal a análise sobre o
modo como a sistemática avaliativa se constitui num canal de
circulação
de
poder,
gerando
ações
disciplinadoras
e
potencialmente produtoras de subjetividades no espaço escolar. As
reflexões estão ancoradas em estudos bibliográficos, dos quais se
destacam as contribuições de Michel Foucault (1979; 2009), Pierre
Bourdieu (2005), Suely Rolnik (1997), Elisabeth Roudinesco (2008)
e Franco Cambi (1999). Apresenta como considerações gerais o
caráter disciplinador das práticas avaliativas escolares, em
especial, da prova. Considera, também, o fato de tais práticas
estarem presas a redes de poder e dominação que hierarquizam e
esquadrinham os indivíduos que integram o campo social que é a
escola, inserindo-os no interior de códigos lingüísticos voltados à
305
documentação dos movimentos individuais e coletivos no intuito de
controlá-los através de práticas aprobatórias.
Palavras-chave: Educação escolar; Práticas avaliativas; Poder;
Disciplina; Subjetividade
GT 10 – Sociedade, Memória e Educação no Brasil
TRABALHOS ACEITOS - RESUMOS EXPANDIDOS
01 - HISTÓRIA VISUAL E USO DA CHARGE NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Rayane Dionisio da Silva (UERN)
e-mail: [email protected]
Introdução: A pesquisa intitulada ―História Visual e o uso da
charge no ensino de História‖, tem como objetivo inicial, ao menos,
neste texto, mostrar a relevância do tema que se dá pela
importância, de demonstrar o campo da cultura visual está se
consolidando
na
historiografia;
agregando
análises
que
fundamentam o estudo das imagens, analisando aspectos formais
da linguagem imagética e problematizando a construção social.
Deste modo, o objetivo é promover uma reflexão sobre o uso da
charge na construção do conhecimento histórico no ensino de
história.
Desta forma, a produção de charges, seja em jornais,revistas e
livros didáticos que refletem o surgimento de estereótipos vistos e
ditos como características de uma sociedade com seus problemas e
choques de forças que se divergem em determinado tempo e
espaço.
As Charges no Ensino de História: As charges são discursos que
permitem a pluralidade de leituras, geralmente satirizadas sobre
um determinado acontecimento, seja, político, econômico e social,
sempre de forma irônica e engraçada, contribuindo para aquisição
dos saberes histórico. Vale ressaltar que durante muito tempo a
imagem visual, teve problemas referentes à sua historiografia, pois
as imagens eram vistas como mero meio ilustrativo, não tendo
status de historicidade, Isto é, não era explorado explicitamente
pelos historiadores como documento histórico. Em contrapartida,
os estudos voltados á utilização da imagem, se deu amplamente na
metade do séc.XIX, junto com a História da arte, Antropologia
visual e a Sociologia.
As imagens são hipercomunicativas pedem ser caracterizadas como
uma marca testemunhal na qual possuem uma escrita, leitura e
conseqüentemente uma linguagem. Segundo Agostinho (1994) a
imagem é uma memória. Vale dizer que o historiador que aplica a
imagem como documento tem quer saber indagá-las para
306
compreender, perceber e, principalmente, ouvi-las, as respostas.
Assim, como qualquer documento escrito,seja oficial ou não, a
imagem deve ser explorada rigorosamente,fazendo a crítica interna
e externa. Ampliação do estudo das imagens, conforme aponta
Burke (2004), contribuindo para a história das mentalidades. Neste
caso, as charges em particular estão inseridas, num horizonte
cultural, ou seja, elaborado a partir de uma história cultural, que
lidar, com o tratamento do cotidiano, valores, crenças, costumes e
discursos entre outras formas. Diante dessa perspectiva, traduzem
sua forma de entender e codificar o mundo em que vivem Isto é,
representá-lo.
A partir da concepção de Chatier (2003), que denomina a propor o
conceito de representação, que na acepção do autor permite ―ver
uma coisa ausente‖, a relação entre representação como imagem
de um objeto ausente, supõe conforme o autor ―a distinção radical
entre aquilo que representa e aquilo que é representado, por outro
lado, a representação como exibição de uma presença, como
apresentação pública de algo ou alguém‖. Para Chatier o conceito
de representação é ponto central da nova história cultural em que
ele é advogado dos ANNALES.
Em decorrência deste sentido, ao utilizar a charges revela-se a
relação simbólica que traz consigo a representação que constitui
um instrumento de conhecimento para a construção dos saberes
históricos, por meio de um objeto ausente, através de uma
substituição por uma imagem, capaz de representar tal como ela é
propiciando também a ―imaginação social‖ referente aos sujeitos
históricos envolvidos nem determinada charge. Procuramos
evidenciar a reflexão acerca do conhecimento histórico, presente
nas charges. Tal conhecimento não se restringir apenas o
conhecimento acadêmico, mas sim, os diversos focos de circulação
social.
Desta maneira, as charges trabalham com a mudança de ideias,
atitudes, políticas, e sociais. Sabe-se que hoje são poucos
historiadores que utilizam a imagem como documento histórico.
Entretanto, quando a utilizam não sabem explorar seu uso
corretamente e nem levantar problematizações em torno da
imagem como fonte histórica em relação ao passado.
Sendo assim, como qualquer texto escrito que possui evidência
histórica, a imagem é tida como documento, tem uma lógica,
normas, um processo, portanto, uma objetividade. Neste sentido
tem certa relatividade dependendo da visão do historiador e
demonstrar que a história não é neutra que há diferente ponto de
vistas de uma situação, dependendo da sociedade e os grupos
sociais pertencente ao lugar que ocupa em uma dada época. O
efeito deste propósito é chamar atenção para os historiadores
307
utilizarem as fontes visuais, para que possam dimensionar a
pesquisa histórica, dentro da academia e no espaço escolar.
Não pretendemos aqui demonstrar, somente a consideração das
fontes visuais, atribuídas ao século XIX, como muitos historiadores
abordam, mas sim aplicar na História recente, ou seja, do tempo
presente. Segundo Burke (2004:14) chama atenção, para os
historiadores que pretende atingir o uso das imagens no seu campo
de trabalho, com relação à forma de lidar com estas fontes que ao
mesmo tempo é objetivo e subjetivo.
As imagens não são feitas apenas para serem vistas, mas para
serem lidas e deste modo, que os historiadores culturais se
apropriam do uso das imagens para diversas necessidades e
estratégias metodológicas. A preocupação, no entanto, não é
centrada apenas numa prática pedagógica relacionada ás imagens
(apesar de facilitar na construção do conhecimento histórico
escolar), mas para definir atitudes, representações sociais,
crenças, ideias e valores socialmente reconhecidos por um grupo
ou classe social, embutida nas charges que se expressam por meio
de uma linguagem verbal e não verbal.
Considerações Finais: Como vimos, estamos diante de um tema
bastante ―vivo‖ e complexo que continua sendo importante seja
para compreender as várias facetas da produção cultural, neste
campo aberto para pesquisa e reflexões; seja para propor novas
abordagens no campo do Ensino de história que constitui um dos
objetos de pesquisa do profissional de história e mostrar que
também se aprende historia com os ―olhos‖.
REFERÊNCIAS
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução
Vera Maria Xavier dos Santos. Revisão técnica Daniel Aarão Reis
Filho. SP: Edusc, 2004.
_______. A Escrita da História: novas perspectivas. Tradução de
Magda Lopes. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
_______. O que é história cultural? Tradução Sérgio Goes de
Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zoihar Ed. 2005.
_______. A Escola dos ANNALES (1929-1989): a revolução
francesa da historiografia a terceira geração. São Paulo: Ed.
UNESCO, 1997.
MENEZES, U. T. B. de. Fontes visuais, cultura visual, história
visual. Balanço Provisório, Proposta cautelares. RBH. v. 23, n. 45,
2003.
CHATIER, Roger. A história cultural entre práticas e
representações: Tradução de Maria Manuela Galhardo. Rio de
Janeiro: Ed. Difel, 1990.
308
02 - TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA JUVENTUDE EM BUSCA
DO ACESSO À UNIVERSIDADE PÚBLICA
Geovânia da Silva Toscano - Departamento de Ciências Sociais
e-mail: [email protected]
Luzia Ferreira Pereira Eneas - Departamento de Educação/UERN
Patricia Francilianne Marques Silva - Aluna de Ciências
Sociais/UERN
(Resumo expandido não enviado pelas autoras para publicação)
03 - A PRÁTICA DO CUIDAR UM MERGULHO NAS MEMÓRIAS
DE MÃES DA CIDADE DE NATAL
Autora: Adriana Aparecida de Souza
Orientador: José Willington Germano
Agência financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq)
Introdução: Este estudo trata de uma análise das práticas de
cuidar de um grupo de mães da cidade de Natal atendidas pelo
Conselho Tutelar, visando apreender como são construídas as
relações no cotidiano das mães. Tendo como objetivo entender
como são construídas as práticas de cuidar, busca-se entender o
que seria o cuidar na época em que essas mães eram crianças e se
há relação dessa prática do cuidar com as ações praticadas com
seus filhos.
Percebe-se que a memória se modifica e se rearticula conforme
posição que ocupamos e as relações que estabelecemos nos
diferentes grupos de que participamos. Como também que a
memória está submetida a questões inconscientes, como o afeto, a
censura, entre outros. As memórias individuais alimentam-se da
memória coletiva e histórica e incluem elementos mais amplos do
que a memória construída pelo indivíduo e seu grupo. Como afirma
Ecléa Bosi (2003) a linguagem é o instrumento socializador da
memória, pois reduz, unifica e aproxima no mesmo espaço
histórico e cultural vivências tão diversas como o sonho, as
lembranças e as experiências recentes. Compreende-se que os
relatos das mães que aqui discute-se são representações vivas não
apenas de suas vivências cotidianas, mas de suas lembranças que
tomam corpo e vida em seus relatos.
Na história da Sociedade Ocidental nota-se que a relação de mãe e
filho nem sempre foi tão próxima; em alguns momentos históricos
não existiam laços afetivos entre mãe e filhos. Essa relação foi
309
sendo modificada de acordo com as necessidades dadas pela
sociedade. A partir do século XX, a mãe passou não só a ter o
papel de zelar pela saúde física de seu filho, mas também a ser
responsável pela educação deles. Essa educação ocorre na prática
do cuidado e é representada pelo discurso das entrevistadas como
sendo a mulher/mãe a responsável pela criança, verbalizada nas
palavras de uma das mães entrevistadas: ―para ser mãe você tem
que ser uma mãe muito ativa, responsável‖. Isto implica outras
responsabilidades, ou seja, o cuidar da saúde, da higiene, da
educação, da alimentação, proteção e carinho.
Esse interesse pelos filhos e a questão do cuidar, e amamentar das
mães, em sua própria casa, transformando-os em objetos de toda
a sua atenção, passou a ser uma relação tão ―natural‖ que as
mulheres absorveram como se isso nascesse com elas, não
percebendo que é algo construído social e culturalmente.
Percebe-se que na representação do que é ser mãe nos discursos
das entrevistadas, a questão do amor materno, essa mudança de
pensamento é traduzida pela fala de uma mãe quando diz: ―foram
criados aqui todos limpinhos, não deixava andar rasgado, aquele
cuidado grande‖. Esta verbalização indica que o cuidar está ligado
à higiene, mas provavelmente implica carinho e proteção, pois
também em outros momentos, a mesma relatou que ―não
consegue dormir enquanto os filhos não estão todos dentro de
casa.‖
Entretanto, a maternidade é uma experiência complexa, que pode
gerar sentimentos contraditórios, assim como o comportamento
materno que não é de forma alguma universal, para se falar aqui
em instinto materno. Como bem nos diz Badinter (1985, p.16), ―a
amamentação no seio e os gritos do recém-nascido estão longe de
provocar, em todas as mães, as mesmas atitudes.‖ O amor
materno não está inscrito na natureza feminina. Ele é apenas um
sentimento humano, que é construído socialmente e cultivado
culturalmente na relação entre mãe e filho, como tal, é incerto,
frágil, imperfeito, multifacetado, podendo ou não existir nesta
relação.
As mulheres que não conseguem realizar o papel de mãe
concretamente passaram a ser vistas pela sociedade como
imperfeitas, trazendo também para as mulheres, de forma
subjetiva, que elas apenas se completam como mulheres se elas
conseguirem realizar o papel de mãe com perfeição. Nota-se
também que a sociedade critica a mãe que não realiza seu dever
de cuidar, como destacada na fala da irmã de uma das mães, uma
das entrevistadas: ―têm meninos ai que não tem nem o que comer,
moram em barracos, mas a mãe cuida, ela não perde a guarda,
porque o negócio é cuidar‖. As que se distanciam do modelo ―ideal‖
310
de mãe podem ser acusadas de egoísmo, maldade e até de
desequilíbrio.
A percepção do papel da mulher perante a sociedade também foi
notada por Fonseca (2000) em uma pesquisa realizada numa
comunidade pobre da Cidade de Porto Alegre, na qual a imagem da
mulher girava quase exclusivamente em torno de suas tarefas
domésticas, nas quais ela deveria ser uma mãe devotada e uma
dona-de-casa eficiente.
Em alguns depoimentos das mães entrevistadas em Natal, o cuidar
refere-se ao atendimento das necessidades vitais dos filhos como
uma obrigação, algo que ―tem que ser cumprido‖. Esta afirmação
sugere que existe uma percepção de uma exigência social em
relação aos deveres dos pais que pode, ou não, estar associada ao
prazer de cuidar.
Pode-se perceber nas representações de maternidade das
entrevistadas essa dedicação no relato das entrevistadas em torno
das lembranças de suas infâncias.
Minha mãe era quem tomava conta da gente naquela época não
tinha creche, ela que tinha que tomar conta mesmo. Ela acordava
de madrugada para fazer as coisas lavar roupa, varrer casa,
colocar comida no fogo. [...] A gente estudava, meu pai trabalhava
de vigia. Tudo era mãe quem fazia, batia, brigava, reclamava, e se
brincar ainda hoje ela faz. Minha mãe não ficava na mão do filho
como eu não. A gente a respeitava.
Discussão: De acordo com esta entrevistada, as representações
dos papéis dos seus pais eram bem definidos; a mãe dedicava-se
ao cuidado do lar e dos filhos, enquanto o pai tinha o papel de
prover o sustento da casa. Esta idéia é sugestiva para o
entendimento de uma reprodução de valores associados aos papéis
do masculino e do feminino; o primeiro pelo prover, e o segundo
pelo cuidar, na percepção desta mãe. É ainda notada no discurso
das mães entrevistadas, as quais remetem que o pai não ajuda no
sustento do filho, e de que lhe caberia essa função, inclusive
alegando que o papel delas de cuidar é cumprido.
E que esse ideal da figura feminina é a de boa dona-de-casa; essa
representação foi percebida na fala de uma outra mãe: ―eu acho
que a mulher perfeita ela é honesta, vive dentro de casa, não vive
fazendo coisas erradas, uma mulher que vive só para os filhos‖.
Esta fala diz bem o que se tem como ideal de mãe, aquela que é
cheia de devoção e amor aos filhos, sem erros, perfeita, quase
sobrenatural, uma cuidadora dos filhos, segundo as representações
das entrevistadas.
Nas entrevistas, visualizamos que a idéia que se tem de mãe é
aquela que cuida, alimenta, leva à escola, ao médico. Como pode
ser percebido na fala de uma mãe: ―a mãe tem que cuidar, o
negócio é cuidar, a mãe tem que tomar zelo, cuidar dar banho,
311
comida, colocar na escola, e isso eu faço‖. As palavras de uma
outra mãe sugerem que o cuidar exprime o suprimento de
necessidades básicas. Isto não exclui, no entanto, o fato de que é
possível encontrar nas classes sociais mais favorecidas relações
entre pais e filhos que reduzem a idéia de cuidado maternal ao
suprimento das necessidades e demandas materiais.
Dessa forma, o que fica claro é que, perante a sociedade e para as
próprias mães as crianças estão sob sua responsabilidade e cabelhes se dedicarem ao máximo para cumprir este papel imposto pela
sociedade e, de certa forma, legitimado por elas. E que esse ideal
de mãe ainda esta presente não apenas nas lembranças das
entrevistas mais em seu cotidiano.
Tem-se a certeza que este pequeno artigo não dá conta de uma
problemática complexa como a que envolve a relação de cuidar de
mães para com filhos principalmente, quando isto envolve questões
emocionais.
Um dos aspectos que podem ser levados em consideração em
estudos com tal temática qual seja acreditar ser uma variável
fundamental, são as atribuições que se colocar sob a
responsabilidade das mães, o bem-estar dos filhos é sempre
responsabilidade da mãe. Nesse universo o Estado e a sociedade
responsabiliza a mãe seja por maus tratos, violência, negligência
etc.
Sendo assim, a família é vista como a detentora do papel principal,
que é a função de propiciar o cuidado, no sentido de proteção e
afetividade, disciplina e socialização; por outro lado, é por meio da
violência e do abuso que ela pode se tornar um instrumento de
maus-tratos, machucando, punindo e controlando a criança,
podendo ameaçar a integridade física e psicológica da mesma.
Considerações Finais: Evidencia-se que a representação da
educação baseia-se em suprir as necessidades vitais, como
alimentação, vestimenta e proteção. Nessa visão, educar significa
cuidar da criança, como também as dificuldades enfrentadas com a
criação dos filhos. A educação também passa por questões, como o
preparo para o futuro, repetição ou negação da própria educação e
tradição, provisão de afeto e garantia da sobrevivência da criança
pelo atendimento das suas necessidades vitais.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História da criança e da família. Rio de Janeiro:
Zahar, 1978.
BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: O mito do amor
materno. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985.
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312
DEL PRIORE, Mary. História da criança no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991.
DEL PRIORE, Mary. A família no Brasil Colonial. São Paulo:
Moderna, 1999.
FALCKE, Denise; WAGNER, Adriana. Mães e madrastas: mitos
sociais e autoconceito. Estudos de Psicologia. Natal, v. 5, n. 2,
jul./dez. 2000.
FONSECA, Claúdia. Caminhos da adoção. São Paulo: Cortez,
2006.
FONSECA, Claúdia. Da circulação de crianças à adoção
internacional: questões de pertencimento e posse. Cadernos
Pagu, nº. 26 Campinas Jan./June 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php. Acessado em Janeiro de 2007.
SARTI, Cynthia Andersen. A família como espelho: um estudo
sobre a moral dos pobres. São Paulo, Cortez, 2003.
SOUZA, Adriana A. de. Os anjos podem ferir: um estudo sobre a
violência intrafamiliar. Dissertação. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
04 - UMA PARTE MUSICAL E MÍTICA EM LÉVI-STRAUSS
Doutoranda: Betania Maria Franklin de Mélo
Orientador: Prof. Dr. Alex Galeno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
e-mail: [email protected]
Introdução: Por um período de 20 anos, a obra das Mitológicas se
tornou real para o mundo, apresentada em quatro livros, LéviStrauss registrou fatos de sua experiência onde autor e observados
se emaranhavam entre o Brasil Central e a América do Norte. Em
entrevista com Diddier Eribon, no livro De Perto e de Longe, LéviStrauss assegura que na tetralogia, as Mitológicas há consonância
entre música e mito, (2005, p.248) assim, desenvolveremos um
estudo bibliográfico mapeando os mitos e adequando a estrutura
de uma partitura musical.
Reflexões sobre uma parte musical e mítica em LéviStrauss: A partitura musical, ou um trecho de um tema está na
mente do compositor, antes de escrevê-la nos pentagramas. Ao
sistematizar as idéias melódicas, o surgimento da harmonia, se
antemiza no ser do músico que compõe. Um texto de uma partitura
musical consta de pauta, claves, notas, compassos, fraseados e
tantos outros símbolos musicais que permitem serem interpretados
e soados. Na música tonal, a tonalidade escolhida pelo compositor
com propósitos característicos dada à função, é distinguida logo no
inicio da pauta, no lugar conhecido como armadura. O intérprete
313
visualiza a quantidade de sustenidos ou bemóis, ou mesmo se
estiver isenta destes símbolos, e entende qual caminho da escala
da tonalidade descrita, sendo esta a tonalidade principal. Assim, é
o Mito. Podemos conciliar a tonalidade principal com o mito de
referência, como escreve Lévi-Strauss. Nas Mitológicas I, O Cru e o
Cozido, os Bororos do Brasil Central é o Mito referencial. Apesar de
seguir à América do Norte, depois de estudar os índios do Brasil, ou
como chama da América Tropical, o fio condutor ou o mito de
referência é considerado aos Bororos.
Este mito, Bororos, pode devido à riqueza e fecundidade se
transformar no interior dele mesmo ou em suas relações. Seguindo
a leitura, os mitos particulares de um certo eixo possuem traços de
uma população ou pertencentes a populações vizinhas. Na
seqüencia da descrição dos mitos os Bororos são citados muito
presentes até ao nº 122 dos 187 apresentados nas Mitológicas I.
Ao pensar na estrutura de uma partitura, quando escrita no
sistema tonal, como no período barroco e clássico da história da
música Ocidental, a tonalidade, que compreende o nome da tônica
da escala maior ou menor, seguia um longo trecho. Em seguida,
um novo trecho era escrito em uma tonalidade do V grau, chamada
da Dominante, esta tinha afinidade com a principal, fugindo da
tonalidade referencial primeira. Outra forma seria também passar
para a tonalidade relativa, que é a tonalidade relativa da inicial. A
estrutura como na forma sonata, passava de uma sessão para
outra após o ritornello, e seguindo então outra tonalidade. Uma
nova informação era dada, ou com os sustenidos ou bemóis para
que norteasse o intérprete para a modulação, ou seja, novo
território, ou da passagem para outra escala.
Na abertura das Mitológicas I, Do cru ao Cozido, quando LéviStrauss refere a um Mito de uma sociedade, depois de outros da
mesma sociedade, em seguida, mitos de sociedades vizinhas,
situando no mesmo contexto etnográfico e assim, depois a
sociedades afastadas, porém com ligações reais historicamente e
geograficamente justificadas entre elas, remete a teorização
musical que a partir do tom principal, os tons vizinhos, diretos e
indiretos, os tons afastados, relativos, com características de
afinidade compreendem uma estrutura no universo musical, para
uma tonalidade inicial, comparativamente aos Mitos.
Os esquemas condutores míticos podem simplificar, enriquecer, e
transformar agarrando por um duplo movimento que Lèvi-Strauss
escreve de prospectivo ou retrospectivo, seqüencias extraídas de
mitos provenientes de populações remotas ou de mitos
descartáveis por parecerem inúteis. Além, disso os mitos sofrem
margem de variação, devido a contagem dos narradores que é
enorme. Quando o esquema mítico passa por transformação esta,
314
afeta todos os seus aspectos. E, algo de ordem transparece sobre o
caos.
Enquanto Mitólogo dedica a desmontar os Mitos e não em acreditar
na análise mítica, não mostra como os homens pensam nos Mitos,
mas como os mitos se pensam nos homens, e a sua revelia.
(LÉVI-STRAUSS, 2004, p. 31) Os Mitos pensam entre si.
Entre o plano do pensamento do sensível em oposição ao plano do
inteligível, o exercício do pensamento lógico e a percepção estética,
há uma via intermediária, que é a música. A arte está no meio
entre o conhecimento científico e o pensamento mágico. As causas
profundas entre a Música e o Mito fizeram com que nas Mitológicas
as formas musicais como: Sonata, Sinfonia, Cantata, Tocata,
Invenções, Prelúdio, Fuga fossem detalhadas na divisão dos
capítulos, estas construções consideradas pelo autor como
‗análogas‘ aos Mitos, têm suas diferenciações seja nas estruturas
ou nos períodos da história, ou nos compositores. Uma sonata
clássica difere de uma sonata barroca de Domênico Scarlatti, a
forma de fuga, como nas composições de John Sebastian Bach,
discorre de uma melodia que foge o tempo inteiro entre as vozes,
assim como um Mito foge no tempo, e como outras semelhanças.
Vejamos as palavras de Lévi-Strauss: ―Antes de surgirem na
música, a forma ―fuga‖ ou a forma ―sonata‖ já existiam nos mitos‖.
(Lévi-Strauss, 2005, p.249)
Para Werneck os mitos é som, que dar-se em partituras, mito é
cor, é pássaros, é corpo celeste, fragmentos e ruínas como olhar
de um caleidoscópio.
Através do pensamento de Lévi-Strauss, diferentemente da Música,
a arte da Pintura congela a paisagem que prende a um tempo, a
música não, os sons são libertos. Embora descrito na partitura,
uma música apresentada sempre passa por um processo de
releitura que descaracteriza do real materializado. É sempre uma
nova construção, uma nova interpretação, que abrange novas
significações porque a música envolve a emoção. O duplo contínuo
na qual apresenta Lévi-Straus, o primeiro, sendo a matéria
constituída de acontecimentos históricos de onde cada sociedade
extrai para elaborar seus mitos. O segundo, sons irrealizáveis tem
seu lugar no tempo psicofisiológico do ouvinte. Este duo
levistraussiano faz aplicação a história de um mito. Como o regente
de uma orquestra e a orquestra, emissor e receptor, os mitos não
tem autor. O que é Mito nas palavras de Lévi-Strauss, em
entrevista:
Poderíamos, também, procurar definir o mito em oposição
a outras formas de tradição oral: lenda, conto... mas,
essas essas distinções nunca são claras. Talvez essas
formas não desempenhem exatamente o mesmo papel
nas culturas, mas são produzidas pelo mesmo espírito, e
315
o analista não pode deixar de explorá-las em conjunto.
[...]. É característica do mito, diante de um problema,
pensá-lo como homólogo a outros problemas que surgem
em outros planos: cosmológico, físico, moral, jurídico,
social etc e analisar tudo em conjunto.
Na primeira parte das Mitológicas I, o Canto Bororo, o Mito 1, é
apresentado pela Ária do Desaninhador de Pássaros. Se pensarmos
na música, a Ária de acordo com Allorto, é:
A composição vocal cuja característica saliente é a
expressão melódica, subordinada o acompanhamento
rítmico e harmônico. As Árias e os duetos, os núcleos de
concentração das emoções e das paixões eram e são os
trechos escutados pelo público com maior atenção, sendo
nas árias que os compositores e cantores, cada qual na
própria esfera de competência, tem ensejo de fazer
alarde de pericia, profissionalismo e maturidade
expressiva.‖ (ALLORTO, 1989. p. 22 e 23).
Em seguida, vem o Recitativo. E, Bennet explica, como: ―A linha
melódica vocal ondulava de acordo com o significado do texto, e
acompanhava de perto o ritmo da pronúncia natural das palavras,
Foi esse estilo meio cantado, meio recitado que ficou conhecido
como recitativo‖. (BENNET, 1986, p.36).
Antes da narrativa do M 2, Bororo, surge a Primeira Variação, e
Allorto indica que:
Variação é um processo e uma forma. Como forma, a
mais comum é a do tema e Variações. Um simples, tema,
as mais vezes tomado de uma obra preexistente oferece
ao músico o ensejo de compor agradáveis e habilidosas
variações. É o caso, para dar um exemplo, da melodia do
Dueto <<nel cor piu non mi sento>>, da Ópera La
molinarade Paisello, sobre o qual Beethoven escreveu seis
espirituosas variações para piano‖(ALLORTO, 1989, p.
141).
A variação é decorrente de um tema antes apresentado. Para
tanto, a variação pode ser variação 1, variação 2 e assim pó
diante, ou 1ª variação 2ª. Há sempre um tempo intercalando o
pensamento do tema e de sua transcrição. Este meio pode ser
comparado, ao espaço entre os sinais de repetição da escrita da
partitura, como é o ritornello. O reconhecimento do ritornello na
estrutura da obra musical norteia a volta a um território, antes
soado pelo instrumentista, e a repetição do mesmo trecho, ou seja,
passar por todos os compassos tal como foi tocado pela primeira
vez, é um diferencial significativo, que permite ter nova
interpretação. O pulo, para a casa de 2ª vez, simbolicamente
traduz igualdade, mas na pureza do território, é uma
resignificação, seja para continuar ou desfechar a obra. O Mito
316
opera como um ritornello tem meios, voltam, repetem,
reexperenciam, são recriados, continuam e aparentam ter um fim.
Considerações Finais: Ousada analogia, a música não existe sem
o tempo da marcação, chamado de pulsação, movimento em que o
pulso humano faz de baixo para cima e volta a marcar sua batida
subseqüente, nesta cantarola rítmica, onde tempo faz música e
música faz tempo, a alteridade descrita por Montaigne, mostra
como esta interdependência criada nas relações sociais, a noção do
outro. Esta pode se chamar de ‗outridade‘ ou naquilo que é de
completo estranhamento, quando não é do comum, apanhamos
como inteligível à música e o tempo. Criando assim o termo,
Mitúsica, a territorialização do tempo na descrição da música na
qual envolve estes elementos interdependentes. Os mitos operam
em grupos, tais como as notas soam em acordes, ou seguidas
formando um fraseado musical, uma idéia musical que reverbera
no ser do ouvinte, mesmo que tenha ou não, uma letra.
REFERÊNCIAS
LÉVI-STRAUSS & Didier Eribon. De perto e de longe. Título
original: De près et de Loin.Tradução: Léa Mello e Julieta Leite. São
Paulo: Cosac & Naify, 2005.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Crú e o Cozido. Mitológicas I. Título
original: Le cru ET Le cuit (Mitologiques I). Tradução: Beatriz
Perrone Moisés. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
MONIZ, Luis Cláudio. Mito e música em Wagner e Nietzsche.
São Paulo: Madras, 2007.
PASSETTI, Dotothea Voegeli. Lévi-Strauss, Antropologia e Arteminúsculo incomensurável. São Paulo: Edusp: Educ, 2008.
BENNET, Roy. Uma breve história da música. Tradução: Maria
Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
WERNECK, Mariza Martins Furquim. Mito e Experiência:
operadores estéticos do pensamento de Claude Lévi-Strauss. Tese
- Ciências Sociais. PUC, São Paulo. 2002. Programa de Pósgraduação em Ciências Sociais, Natal, 2009, 107 f.
05-REFLEXÕES
ACERCA
DA
ESCOLARIZAÇÃO
DOS
PROFESSORES E DESEMPENHO ESCOLAR NA REGIÃO
METROPOLITANA DE NATAL/RN/BRASIL
Mércia Maria de Santi Estácio – PPGCS/UFRN
e-mail: [email protected]
Simone Cabral Marinho– PPGCS/UFRN
e-mail: [email protected]
317
Introdução: Considerada um fator estratégico passível de
elevação da qualidade do ensino, a formação de professores tem
sido, equivocadamente, vista com o objetivo de estabelecer um
perfil desejável de profissional em um quadro de atribuições
práticas genericamente delineadas, desconsiderando os limites
demarcados pelos próprios interesses e valores que orientam os
docentes e que são inerentes à cultura das escolas. Outrossim, se
caracteriza o ―perfil profissional‖, por meio de uma listagem de
competências
cognitivas
e
docentes
que
deveriam
ser
desenvolvidas pelos cursos formadores (AZANHA, 2004).
Esses intensos debates reafirmam a necessidade de uma política de
formação de professores, que esteja pautada numa sólida
formação teórica, no contato com a realidade escolar, em novas
linguagens de interpretação e comunicação do mundo vivido e no
trabalho coletivo interdisciplinar, dentre outras. Mas é o
desempenho escolar um dos principais desafios posto ao
profissional da educação, vez que este tem sido motivo e
justificativa de cursos de formação, que se vêem com o desafio de
suprir, através de conteúdos e práticas educativas, déficits de
desempenho de aprendizagem.
Os baixos índices de desempenho escolar revelados pelo índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) têm revelado, na
verdade, grandes índices de exclusão educacional, o que exige
políticas de avaliação constante sobre o desempenho escolar,
premissa condicional para a qualidade do ensino, numa realidade
como a brasileira, cuja cultura de avaliação é recente.
Embora a avaliação seja comumente relacionada à idéia de
mensuração, fortalecendo a ênfase no aspecto quantitativo, a partir
de padrões de medida, a avaliação também abrange os aspectos
qualitativos que envolvem comportamentos, atitudes e posturas
subjetivos. Para isso, o olhar e a preocupação do pesquisador não
se reduzem aos números e as fórmulas (BRANDÃO, 2003),
embora, estas sejam fundamentais para desenhar, categorizar,
compreender e analisar o objeto de estudo.
É nesse viés que se enquadra o nosso trabalho: como os dados
estatísticos poderão fornecer elementos visíveis e compressíveis da
realidade social investigada, no nosso caso, que possam relacionar
o quadro de formação de professores com os dados de
desempenho escolar. Neste sentido, pretende-se apresentar um
quadro escolarização e formação inicial dos professores da rede
municipal, estadual e federal de ensino nos níveis do ensino
fundamental e médio da Região Metropolitana de Natal, combinado
com o índice de desempenho escolar, a partir da avaliação das
taxas de abandono, aprovação e reprovação, tomando como
referência os micro dados do Censo Escolar de 2003.
318
Escolarização dos professores e desempenho escolar na
Região Metropolitana de Natal/Rn/Brasil: Como dissemos
acima, teremos como universo de investigação a Região
Metropolitana de Natal (RMN), que, tem pouco mais de um milhão
de habitantes e 2,5 mil km². Criada formalmente em 1997 abrange
nove municípios: Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante,
Ceará Mirim, Extremoz e Macaíba, Monte Alegre, Nísia Floresta e
São José de Mipibú. Segundo Clementino e Pessoa (2008), é
considerada uma metrópole em formação, tendo em vista que a
‗consciência metropolitana‘ ainda é tímida, apesar de já ser
institucionalizada há mais de uma década.
As informações utilizadas neste artigo são provenientes do Censo
Escolar, realizado no Brasil, em 2003. Trata-se de um
levantamento de estatísticas educacionais de abrangência nacional,
realizado anualmente pelo Ministério da Educação, através do
Instituto de Estudos e Pesquisas em Educação (INEP). Esse Censo
dispõe de informações sobre as instituições escolares nos diversos
níveis e modalidades de ensino, número de matrículas, de alunos,
infra-estrutura, pessoal técnico e administrativo, características dos
docentes, entre outros. Abrangendo toda a educação básica em
seus níveis (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio) e
modalidades de ensino (ensino regular, educação especial e
educação de jovens e adultos), os seus resultados permitem obter
dados por região, unidades da federação, municípios e localização
da escola.
A análise sobre a qualificação dos professores e desempenho
escolar é baseada em 632 escolas públicas (federal, estadual e
municipal) ativas dos municípios da Região Metropolitana de Natal.
A análise é feita em dois movimentos. O primeiro faz referência à
formação e qualificação dos professores no nível fundamental e
médio, já o segundo, incorpora a esta análise indicadores de
desempenho escolar. As variáveis consideradas para a análise
estão relacionadas com a formação e escolarização dos
professores, a elas se somam indicadores do desempenho escolar
(taxas de aprovação, reprovação e abandono) nesses níveis de
ensino.
A descrição dos indicadores apresentados no texto teve,
evidentemente, um caráter introdutório, embora, possam servir
como ponto de partida para futuras e mais aprofundadas reflexões,
particularmente, às que se referem aos estudos qualitativos
quando se tratar de formação docente e desempenho escolar.
Reflexões Finais: Mas uma das conclusões possíveis a respeito
dos dados coletados é a de que a formação dos professores deve
estar articulada a sua atuação profissional, tomando a escola como
referência. No ensino médio houve concentração de professores
com formação em nível superior - licenciatura plena -,
319
diferentemente, do ensino fundamental. Porém, foi no ensino
fundamental, que a taxa de aprovação é maior nos casos em que
não há professores com esse tipo de formação, revelando
fragilidades no processo formativo docente, bem como, outros
condicionantes que afetam o desempenho escolar, não
mencionados, por limitações empíricas deste trabalho.
Neste viés, somos levados a crer que o professor com formação
superior geraria um aumento da taxa de aprovação. Porém, não
cabe creditar à sua formação tal desempenho, mas e
principalmente à relação de comprometimento que tais
profissionais estabelecem com a docência, neste ponto reside o
diferencial que promove a aprendizagem e consequentemente o
aumento das taxas de aprovação.
Também não podemos esquecer que são igualmente preocupantes
as taxas de abandono e reprovação, que se revelam em proporções
quase equivalentes tanto no ensino fundamental quanto no médio.
Se é questionável a aprovação automática, a repetência também é.
Em casos de índices de reprovação e abandono a elevação
progressiva nos níveis de desempenho escolar do aluno é tarefa
desafiadora para os profissionais da educação.
Pensamos ser necessário um aprofundamento do trabalho,
ampliando seus horizontes, bem como, identificando novas
possibilidades tanto para o avanço dos professores no que tange a
sua formação, como para os alunos e sua aprovação, reprovação
ou abandono. Apesar de estarmos nos referindo a quantidades, é
impossível esquecer que cada um dessas quantidades representa
um cidadão que é portador de uma história de vida com
perspectivas e expectativas futuras, que podem ser ampliadas e
modificadas.
REFERÊNCIAS
AZANHA, José Mário Pires. Uma reflexão sobre a formação do
professor da escola básica. Educação e Pesquisa, São Paulo,
v.30, n.2, p. 369-378, maio/ago, 2004.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A pergunta a várias mãos: a
experiências da pesquisa no trabalho do educador. São Paulo Pulo:
Cortez, 2003. (Série Saber com o Outro; v. 1.).
BRASIL. MINSTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Micro dados do Censo
Escolar de 2003. Brasília-DF: MEC/Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006.
RIOS NETO, Eduardo Luiz G.; RIANI, Juliana de Lucena R. (Orgs.).
Introdução à demografia da educação. Campinas-SP: ABEP,
2004.
CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda; PESSOA, Zoraide
Souza. Segmentação numa metrópole em formação.
320
Disponível
em:
www.cchla.ufrn.br/rmnatal/observatoriodasmetropoles. Acesso em:
15/12/2008.
06 - A EXPERIÊNCIA DA FUNDAÇÃO CASA DO CAMINHO EM
EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADANIA
PARTICIPATIVA
Fábia Lúcia Alves de Lima Albuquerque (UERN)
e-mail: [email protected]
Introdução: Este artigo tem como objetivo identificar e
reconhecer como os vários saberes são singularidades do processo
de escolarização. A educação deve se voltar para a formação do
sujeito em sua complexidade, em sua dimensão multidimensional.
Daí, contemplar os valores éticos e morais como atividade
transversal, reflexiva e contextualizada com determinada realidade
ser mais que uma imposição curricular, trata-se de uma construção
solidária, vinculada ao desejo de emancipação daquele grupo social
como um todo. A Fundação Casa do Caminho (FCC) insere-se na
classificação de entidade beneficente; portanto é uma instituição
que atua no terceiro setor do Estado. Formalmente desenvolve
suas atividades desde o ano de 2005, em sua sede situada à Rua
Marechal Deodoro, 2000, Cajazeiras, Mossoró, Rio Grande do
Norte.
A Experiência da Fundação Casa do Caminho em Educação:
Os programas desenvolvidos FCC são voltados para a assistência e
promoção social dos seus participantes, famílias que têm como
domicilio os bairros Barrocas II e Cajazeiras. O objetivo da FCC é a
promoção da educação, em valores morais e humanos, de crianças,
adolescentes, jovens e adultos, em ação integrada à família,
proporcionando-lhes condições de desenvolvimento e promoção
humana, através da aquisição de novos referenciais de vida e de
relação
com
o
mundo.
A
sistemática
é
trabalhar
concomitantemente a família toda, ou seja, em sete (07)
programas distintos a FCC atende desde a criança até o idoso. Com
um planejamento que respeita as precárias condições sociais de
cada sujeito, isto, partindo da vulnerabilidade social e do risco em
que se encontra à espreita, a instituição tem como objetivo
desenvolver seus programas de maneira que a criança possa
encontrar, em casa, um ambiente favorável à assimilação de novos
referenciais diante das adversidades.
Um programa maior – Educando - abarca outros sete projetos, a
saber: Projeto Educar, que desenvolve atividades de educação
complementar à escola formal em três dias da semana; Projeto
Motivados para Vencer, que desenvolve atividades com
321
adolescentes voltados ao preparo para o mercado de trabalho,
inserção em cursinhos preparatórios para o vestibular; Programa
Seja bem Vindo, que acompanha as gestantes das famílias
inscritas, oferecendo palestras sobre DTS, cuidados com a
gravidez, nutrição e confecciona junto com a gestante um kit
enxoval para a mãe e o bebe; Programa Renascer, destinado a
idosos, desenvolve atividades artesanais e manuais; Programa
Cultural, que trabalha a musicalidade instrumental, a dança e a
expressão corporal; e o Programa Mudança de Hábitos, direcionado
às mães com a aplicação de tarefas de sociabilização, dinâmicas de
grupo em que são trabalhados temas que se relacionam com o
quotidiano da comunidade. Todos os programas têm como fundo a
Educação em valores morais. Pelo exposto, nosso olhar se detém
nas atividades desenvolvidas por esta instituição, principalmente o
Programa Mudança de Hábitos.
O objetivo desta pesquisa foi identificar se os valores morais
incutidos no planejamento das ações incidem sobre o modo com
que as mulheres percebem sua cidadania, sobre vários aspectos. O
perfil sócioeducativo dos participantes da Fundação Casa do
Caminho aponta para a necessidade de uma ação educacional mais
próxima para a realidade em que vivem. O que deve propiciar à
criança, ao jovem, ao idoso e às famílias de um modo geral,
horizontes novos de realização pessoal e social, através de sua
valorização como elemento transformador desta realidade.
Também foi importante para esta pesquisa conhecer como,
efetivamente, acontecem as ações da Fundação Casa do Caminho,
que estatui como objetivo um ambiente diferenciado, em que
poderá ser discutida e apreendida uma educação para a cidadania,
através de instrução informal de valores morais e humanos, dentro
de um clima que traz como princípio norteador as próprias atitudes
dos sujeitos envolvidos. Pesquisar sobre o pensar democrático e
cidadão a partir de uma formação em Direitos Humanos, tendo
como referência uma experiência prática, justifica uma reflexão
acerca do papel da FCC neste processo, como forma de aprimorar o
trabalho já desenvolvido, com interesse na aplicação, utilização e
conseqüências práticas do conhecimento adquirido a partir desta
análise.
A pesquisa de campo teve como atores vinte mulheres –
correspondente a um percentual de vinte por cento do grupo -, que
participam do programa Mudança de Hábitos da fundação. Os
dados coletados foram obtidos através de entrevista escrita, no
modelo de questionário fechado, com a finalidade de identificar se
as pessoas entrevistadas reconhecem os serviços públicos básicos
e como eles funcionam em sua comunidade e, ainda, se a FCC
favorece sua participação enquanto cidadão.
322
A natureza da pesquisa segundo o nível de apresentação dos dados
é descritiva, interpretativa, analítica, pois tem como objetivo
principal a descrição das características do fenômeno proposto ao
estudo. A fonte é a própria entrevistada em seu meio ambiente
próprio. E a coleta de dados feita nas condições naturais em que os
fenômenos ocorrem, desde os levantamentos, que são mais
descritivos, até estudos mais analíticos.
A proposta da FCC é resgatar o contexto histórico e cultural, com
vistas em pensar a educação informal enquanto sujeitos, espaços,
prédios, ruas, lares e cenas do cotidiano da circunvizinhança dos
bairros Barrocas II e Cajazeiras, na cidade de Mossoró/RN. Todo o
projeto da FCC tem como objetivo maior, proporcionar os
mecanismos necessários à construção de uma cidadania
participativa, onde o homem, a mulher, o jovem a criança e o idoso
possam
desenvolver,
nos
diversos
espaços,
atividades
sistematizadas, lúdicas, musicais, esportivas e sociais, discussões
sobre os problemas comuns àquela comunidade. Dentro dessa
perspectiva, as ações da Fundação são experimentadas através de
programas cuidadosamente planejados, obedecendo à orientação
pedagógica regular e descrevendo uma rotina de dias e horários
específicos para sua aplicação.
Os atores sociais envolvidos nos programas, em sua totalidade,
vivem em situação de risco e vulnerabilidade social. Moral, ética e
política são temas recorrentes na vida comunitária. São as ações
morais que emprenham as idéias e o sentido da comunidade.
Quanto mais desenvolvidos os conceitos referentes a estes três
assuntos, mais solidariedade dar-se-á em seu meio. Por isso, a
educação tem um papel fundamental no atual estágio de
desenvolvimento do Brasil e do mundo. Ela é fator primordial na
construção de cidadãos conscientes, capazes de construir seu
próprio destino. Numa expectativa que alcance não só os saberes
formais ou curriculares, a educação complementar aplicada na FCC
reafirma os propósitos que vinculam o homem ao seu contexto
social, ou seja, implementa ações que instigam os sujeitos a
pensar sobre como ser artífice de sua própria promoção social.
Entre os indicadores fundamentais de desenvolvimento de uma
sociedade, a educação, sem sobra de dúvidas, é um forte
referencial; somam-se ao contexto desta, a expectativa de vida e o
poder de compra. O despertar de consciências é um processo
educacional.
Considerações Finais: A tradição repassa valores morais de
geração para geração; os provérbios, os adágios, a música, o
teatro, as brincadeiras lúdicas e as atividades esportivas, estão
para a sociedade como instrumento popular de saberes, regras,
costumes e conceitos. Esta gama de possibilidades formais e nãoformais de educação pode e deve ser agente potencializador em
323
defesa dos direitos do homem, favorecendo a rede de sistemas que
tem por objetivo a efetivação dos direitos humanos e
fundamentais.
REFERÊNCIAS
ALVEZ, R. Conversas sobre Educação.7 ed. São Paulo: Verus,
2007.
ARANTES, V. A. (Org.). Educação e valores. São Paulo: Summus
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Humanos:
Estudos
filosóficos
entre
cosmopolitismo
e
responsabilidade social. São Paulo: Manole, 2004.
BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos: 2007. Brasília:
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007. 76 p.
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3 ed. rev. Atual e ampli. Belo Horizonte: Prax Editora, 2006.
07 - O TEMPO E A MEMÓRIA SOCIAL NA AUTOPOESIA DE
MARIA DE LOURDES XAVIER
Joicy Suely Galvão da Costa
Graduanda em Ciências Sociais (UFRN)
[email protected]
Gleydson Rodrigues da Silva
Graduando em Ciências Sociais (UFRN)
[email protected]
Introdução: O estudo de memória é um campo relativamente
recente nas Ciências Sociais. Seus primeiros estudos foram feitos
através do trabalho de Halbwachs. Halbwachs, deu um novo olhar
para os estudos de memória. O autor desenvolveu o conceito de
memória coletiva e o aplicou em seus estudos, afirmando que o
passado é (re) lembrado nos mais diversos grupos sociais.
Argumentou em seus escritos que o gérmen das recordações
pessoais deve levar em consideração a influência que sobre estas
exercem as instituições sociais.
É exatamente através de um olhar sociológico a respeito das
recordações que podemos ressignificar a atividade de escrita de si.
Por meio de um memorial podemos identificar posturas, políticas e
visões de mundo de uma época. Nos escritos encontram-se
reproduzidos padrões sociais e até mesmo protestos a um tipo de
cultura, modo como a sociedade se organiza. Nesse contexto, a
escrita de si envolve não só uma interpretação da própria vida
como também a de outros. A memória é, assim, um exercício para
além do individuo. É um exercício individual construído
incessantemente a partir do coletivo.
É nessa perspectiva sociológica da memória que nosso trabalho
surge. Tendo suas reflexões iniciais realizadas no âmbito da
pesquisa ―Memórias do Brasil: Itinerários e Singularidades da
Formação Social, Educativa e Cultural de Autores Brasileiros‖, e
desenvolvida no Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação, do
325
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Aqui, pretendemos avaliar o processo de construção do tempo e da
memória social a partir de autobiografias compostas de poemas.
Nesse sentido, encontramos nas poesias de Maria de Lourdes
Xavier uma escrita de si e de experiências coletivas vivenciadas no
passado: um registro do tempo e da alma.
Tempo e memória social na autopoesia de Maria de Lourdes
Xavier: A poetisa Maria de Lourdes Xavier nasceu em 18 de março
de 1928, na capital do Rio Grande do Norte, numa família pobre e
humilde. Apesar das dificuldades, seus pais, José Xavier de Almeida
e Neusa de Araújo Xavier, sempre investiram na educação e no
futuro dela e de seus irmãos.
Maria de Lourdes levou uma infância simples e feliz e desde criança
teve facilidade em escrever. Estudou no colégio Imaculada
Conceição até completar o curso primário. Lá, ganhou a
oportunidade de ser aluna de Edgar Barbosa e Severino Bezerra.
Estudou também no colégio Atheneu, onde conheceu muitas
pessoas que mais tarde fariam parte da elite intelectual e
profissional da sociedade natalense.
Durante a juventude, conquistou alguns admiradores e fantasias
amorosas. Nada muito concreto, pois sempre foi muito recatada.
Ainda nessa época, o seu grupo de convivência era recheado de
pessoas importantes como Portinari, Januário Cicco e Luís da
Câmara Cascudo, com quem teve uma grande amizade.
Cursou Farmácia na Universidade de Recife com a intenção de
ajudar seu pai na educação de seus irmãos mais novos. Após ter
terminado o curso, foi premiada por ter sido a melhor aluna e
convidada para lecionar na mesma Universidade, onde ela se
tornou a segunda professora mulher.
Foi nessa temporada, em Recife, que ela conheceu Hélio Dantas
(que na época era Deputado Estadual) com quem veio a se casar.
Seu casamento foi bastante conturbado e durou vinte anos. Deste
casamento nasceram duas filhas: Evelyn e Nara.
Maria de Lourdes lecionou também no curso de Farmácia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E exerceu várias
funções administrativas, como vice-diretora da mesma faculdade,
Presidente do Conselho Estadual da Mulher do Rio Grande do
Norte, Diretora do Departamento de Serviço Social do Estado do
Rio Grande do Norte, Coordenadora do curso de Farmácia,
Presidente do Conselho de Farmácia, entre outros.
Podemos dizer que os escritos de memória de Maria de Lourdes
Xavier possuem poesias que retratam e/ou reinterpretam cenários
coletivos de uma Natal do passado, com todo o seu perfil político e
sociocultural.
326
Nesse sentido, afirmamos que a linguagem poética tem uma forte
carga de recordação. Recordamos a todo instante e isso, como já
disse Halbwachs, nos enlaça nos grupos sociais dos quais fazemos
parte. Podendo fazer, através da recordação, um resgate e uma
reconstrução de um tempo pretérito.
Através da poesia podemos reconstruir uma época e descobrir
como se davam as ralações sociais no passado. Descobrir a
história, os anseios e as preocupações de uma época.
Considerações Finais: Os relatos de Maria de Lourdes Xavier, e
mais especificamente, suas poesias estão repletas de significados
de memória. Revelam não só a própria interpretação de fatos
ocorridos no passado como também abrem caminho para que
possamos entender a época em que viveu, e como se davam as
relações sociais de seu tempo. Servindo, assim, para a sua
perpetuação para além de sua trajetória de vida e contexto
sociocultural.
REFERÊNCIAS
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Narrativas de tempo, escrituras da alma. Natal: Flecha do
Tempo, 2008.
CATROGA, Fernando. Memória, História e Historiografia.
Coimbra: Quarteto Editora, 2001.
PERALTA, Elsa. Abordagens teóricas ao estudo da memória
social: uma resenha critica. Arquivos da Memória: Antropologia,
Escala e Memória. n. 2. Centro de Estudos de Etnologia
Portuguesa, 2007.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Uma Cartografia Simbólica das
representações sociais: o caso do direito. In: A crítica da razão
indolente: contra o desperdício da experiência. 2005.
08 – 08 - EROTISMO E CENSURA EM ODAIR JOSÉ
Joicy Suely Galvão da Costa
[email protected]
Graduanda em Ciências Sociais (UFRN)
(Resumo expandido não enviado pela autora para publicação)
09 - ENTRE SERRAS E CURVAS: AVENTURAS NAS ESCOLAS
RURAIS DE DOUTOR SEVERIANO/RN
Maria Euzimar Berenice Rego Silva
327
Prof. do Dept. Educação/CAMEAM/UERN e discente do Doutorado do
PPGCS/UFRN
[email protected]
Orientadora: Vânia de Vasconcelos Gico - Profª do PPGCS/UFRN
Colaboradores(as):
Leandro Trajano Santana - Aluno do Curso de
Pedagogia/DE/CAMEAM/UERN
Maria Alcione de Queiroz - Aluna do Curso de
Pedagogia/DE/CAMEAM/UERN
Maria Elis Natália Alves Silva - Aluna da Especialização em Educação de
Jovens e Adultos/DE/CAMEAM/UERN
Wandemberg Jácome de França - Aluno do Curso de
Pedagogia/DE/CAMEAM/UERN
Agência Financiadora: CAPES
Introdução: Relato aqui algumas das aventuras vividas durante o
período de visita nas escolas do Município de Doutor Severiano,
Alto-Oeste do Rio Grande do Norte. Embora tenha visitado também
cinco estabelecimentos de ensino urbanos, destaco aqui momentos
vivenciados nas escolas das comunidades rurais. Também
visitamos cinco estabelecimentos de ensino urbanos. Destes temos
duas escolas estaduais, uma atuando no Ensino Médio e a outra no
Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e na Educação de Jovens
Adultos/as (EJA). Os três estabelecimentos municipais urbanos
compreendem uma escola de Educação Infantil, uma escola do 1º
ao 5º ano do Ensino Fundamental e uma escola com turmas do 6º
ao 9º ano do Ensino Fundamental e de EJA.
Aventuras nas Escolas Rurais de Doutor Severiano/RN:
Percorrendo as inclinadas ladeiras severianenses ao sabor do
vento, do sol e de uma camada fina de poeira de seu solo, às vezes
vermelho outras marrom, e guiada por um motoqueiro simples e
grande conhecedor dessas estradas, fui conhecendo alguns
desafios e prazeres vivenciados por educadores(as) em seu
cotidiano escolar, bem como hábitos e práticas das comunidades
em que estes(as) lecionavam. Dessa forma, fui percebendo
aspectos da singularidade de suas vidas pessoais e profissionais e
dos trajetos de sua formação.
Nesse percurso foram visitados onze estabelecimentos de ensino
rural, localizados nas seguintes comunidades: Bom Sucesso, Frade,
Chapada, Jardim, Merejo, Pé-de-Serra-dos-Correias, Guardado,
Fazenda e Lagoa de Dentro. As salas de aula dessas escolas eram
compostas de modo diverso, sendo que algumas atendiam apenas
a Educação Infantil, outras o Ensino Fundamental e as demais a
EJA. Desses estabelecimentos, sete pertenciam ao Centro Municipal
de Ensino Rural, que tinha nove turmas mutisseriadas, das quais
seis adotavam a proposta da Escola Ativa.
O contato com a comunidade educacional severianense foi
intensificado a partir de abril deste ano. Este processo deu-se
através de quatro momentos distintos: realização de um encontro
328
com equipes gestoras e pedagógicas de suas escolas e da
Secretaria Municipal de Educação; a participação em atividades
desenvolvidas pelas unidades de ensino, especialmente nos
momentos de planejamento, como a Semana Pedagógica das
escolas da rede municipal em maio de 2009; realização dos
Diálogos
Autobiográficos:
trilhas
da
formação
dos/as
educadores/as do sertão, atividade de formação cujo centro são as
narrativas sobre experiências formadoras dos(as) educadores(as)
inscritos neles; e a realização de visitas às escolas das redes
municipal e estadual desse município.
A ferramenta principal utilizada, nestes momentos, foi o diálogo.
Introduzida seja através da leitura do poema ―Metade‖ de Oswaldo
Montenegro, durante nossa participação na Semana Pedagógica
das escolas da rede municipal em maio de 2009 e realização de
visitas nas duas escolas urbanas da rede estadual de ensino, seja
da leitura e escuta da música Passos do Saber de Marcinha, que
alimentava a conversa entre educadores(as) e pesquisadora, tendo
por base suas narrativas orais sobre formação, vivências rurais e
cotidiano escolar, durante as visitas nas demais escolas.
Neste último momento, procurava observar, fotografar e filmar
aspectos internos e externos em cada escola, tais como: atividades
de discentes, cartazes, murais, organização dos espaços escolares,
as proximidades da escola, móveis e equipamentos existentes e as
vivências das salas de aula. Percorria as salas de aula e dialogava
com os(as) discentes sobre suas comunidades, relação com o
campo e a escola. Contudo, nem sempre foi possível passar em
todas as salas de aula nos três turnos. Geralmente encerrava a
visita dialogando com os(as) educadores(as) no final dos turnos
matutino e vespertino. Conforme a quantidade de turnos em
funcionamento na escola visitada.
Reflexões
Finais:
Vários
momentos
foram
marcantes,
provavelmente farão parte de minhas memórias de longa duração
ou autobiográficas (BRANDÃO, 2008), e outros restará como
possibilidade o esquecimento, o não-dito, o interdito (BRANDÃO,
2008), que juntos comporão as minhas experiências formadoras
(JOSSO, 2004; PINEAU, 2001, 2006a, 2006b) nesse doutoramento
em Ciências Sociais. Lembro-me, especialmente, da mistura de
curiosidade, expectativa ansiosa, inibição e carinhosa receptividade
das comunidades escolares rurais e ainda guardo o canto de uma
turma de crianças quando entrei na sala de aula, munida de
filmadora e máquina fotográfica: ―Como vai visitante como vai...‖.
Incentivados pela leitura/escuta de Passos do saber, cada
educador(a) presente escolhia uma parte da música que mais tinha
lhe tocado e falava de suas relações de pertencimento ao campo e
o cotidiano das escolas rurais. Um dos trechos mais destacado foi:
329
―Quantos saberes vem do viver/Quanta alegria nos traz o
saber/Educar/Saber amar/A sociedade poder transformar‖.
A diversidade paisagística e institucional das escolas colava-se às
singularidades das vivências de cada educador(a). Suas falas
evocaram (JOSSO, 2004) as heranças familiares, as experiências
profissionais e pessoais vividas no campo, que ajudaram a compor
suas experiências formadoras e a elucidar os desafios enfrentados
cotidianamente, seja nas aventuras vividas nas curvas e ladeiras
de alguns percursos diários até as escolas rurais, seja no cotidiano
familiar e escolar, que na luta por melhores condições salariais
levam muitos(as) educadores(as) a constituírem um vínculo de 60
horas semanais na rede municipal de ensino, atuando em duas ou
mais escolas, ou mesmo atuarem tanto na rede municipal como
estadual, ou ainda lecionarem várias disciplinas numa mesma
escola ou em escolas diferentes, inclusive atuando em mais de um
nível ou modalidade de ensino, seja em Doutor Severiano ou em
cidades circunvizinhas, tais como: Encanto e São Miguel.
Outra peculiaridade desse município é a forte relação com o Estado
do Ceará, em virtude de suas fronteiras geográficas, levando
alguns(as) educadores(as) a buscar a formação superior
(graduação e pós-graduação) em instituições desse estado.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Vera Maria Antonieta Tordino. Labirintos da memória:
Quem sou? São Paulo: Paulus, 2008. (Questões fundamentais da
nossa época, 7).
JOSSO, Marie-Christine. Experiência de vida e formação. São
Paulo: Cortez, 2004.
MONTENEGRO, Oswaldo. Metade. In: Oswaldo Montenegro 25
anos: ao vivo. Rio de Janeiro: Warner, 2004. 2 CD. Faixa 7 Cd 1.
Disponível
em:
<http://vagalume.uol.com.br/oswaldomontenegro/metade.html>. Acesso em: 05 out.2009.
PINEAU, Gaston. Experiências de aprendizagem e histórias de vida.
In: CARRÉ, Philippe; CASPAR, Pierre (Dir.). Tratado das ciências
e das técnicas da formação. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
p.327 - 348.
______. As histórias de vida como artes formadoras da
existência. In: SOUZA, Elizeu Clementino de; ABRAHÃO, Maria
Helena Menna Barreto (Orgs.). Tempos, narrativas e ficções: a
invenção de si. Porto Alegre, RS: EDIPUCRS; Salvador, BA:
EDUNEB, 2006a. p.41 - 59.
______. As histórias de vida em formação: gênese de uma
corrente de pesquisa-ação-formação existencial. Educação e
Pesquisa: revista da Faculdade de Educação da USP, São Paulo, v.
32, n. 2, p. 329 - 343, maio/ago. 2006b.
330
10 - ÉTICA E CULTURA: RASTROS DE UMA LEITURA
Lenina Lopes Soares Silva (PPGCS/UFRN)
e-mail: [email protected]
José Willington Germano (Orientador)
e-mail: [email protected]
Introdução: A ética como fundamento e construto humano é
formada no processo auto-organizativo de interação do homem
bio/psico/social e cultural. Esta é a proposição básica destes
rastros de leitura. Segundo Morin (2005) ela pode ser interpretada
em sentido complexo através de estratégias metodológicas
operadas por argumentações que partem do contexto social,
histórico e cultural – enquanto todo, no/do qual o homem é
integrante – como uma das partes, da qual emergem as crises
fragmentadoras do ser e, por conseguinte, da ética.
Trata-se de um relato de leitura orientada, o qual denominamos de
rastros de leitura que foram moldados na artesania dos diálogos
percorridos na disciplina ―TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DA
CULTURA,‖ ministrada pela professora doutora Maria da Conceição
Xavier de Almeida, no Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Objetivo: Buscamos discutir os fundamentos estruturais do
pensamento complexo quais sejam: o dialógico, o de recursão e o
hologramático como instrumentos mentais com possibilidades de
unir racionalmente o indivíduo, a espécie e a sociedade e, também,
o cosmos e as culturas de onde emergem os pensamentos que
fundam a ética, reiterando a relevância e a pertinência da
subjetividade na natureza que os totaliza e transcende e, ao
mesmo tempo, os integra.
Estratégias Metodológicas: No cotejamento do corpus
interpretativo e auto-organizativo as reflexões são alinhadas ao
pensamento de Edgar Morin, particularmente no que se refere às
proposições suscitadas pela leitura do livro: ―O Método 6: ética.‖
Porto Alegre: Sulina, 2005, quais sejam os três princípios básicos
do pensamento complexo: o dialógico, o de recursão e o
hologramático para pensar a ética como construto humano na/da
cultura.
Ética e Cultura em uma leitura pelos caminhos do
Pensamento Complexo: Observamos que o princípio dialógico
pode ser inserido no cerne de qualquer questão sobre ética, no
instante em que o antagonismo aparente seja superado pelo
pensar organizador e criativo que une o indissociável numa mesma
realidade.
331
De igual modo o princípio de recursão proporciona a compreensão
e a interpretação dos indivíduos – atores sociais, sujeitos,
produtores e receptores de causas e efeitos por eles produzidos
através de suas ações com os outros (ecologia da ação). Há, dessa
forma, uma conexão entre estes dois princípios e a sociedade na
qual vivem os homens, como sujeitos de sua própria história de
vida, com sua linguagem, culturas e normas. Interpretação esta
que já engloba o princípio hologramático, de acordo com Morin,
pois tais instrumentos do pensamento possibilitam religar,
compreender e sentir (ter compaixão).
Esperamos, dessa forma, trazer ao debate a conexão entre os
sujeitos e seus saberes e a sociedade na qual estão inseridos,
como condutores de vida, com sua linguagem, culturas e normas,
com/formadoras da ética como construto humano, base fundante
da ―humanidade da humanidade‖.
Para construir uma trajetória baseada nestes princípios, em sua
escrita, que não negasse o ponto de partida da ―humanidade da
humanidade‖ Morin vai deixando brechas para a fruição de um
novo caminho para os diálogos sobre ética e cultura. Tal caminho é
encontrado pela via dos operadores da complexidade (já citados),
instrumentais do pensamento, nos quais ele vai de forma dialógica
discutindo a ética. Usa-os como pontes capazes de possibilitar
travessias entre a dispersão social dos indivíduos, do próprio
indivíduo dele mesmo, da espécie, da sociedade e da cultura, entre
os saberes e as ações humanas, então, consegue religar o que é
fundamental para a humanização dos humanos, enquanto
fomentadores e construtores da ética que está em crise nas
sociedades atuais; sem descurar da cultura.
De todos os tópicos tratados no livro, sem prescindir dos demais, o
que nos deu mais segurança, para compreendermos a temática
foram às proposições levantas pelo autor na terceira parte: Autoética (p. 103-107) na qual em síntese o autor oferece um quadro
sinótico conclusivo das questões colocadas, especialmente no III
capítulo: Ética da religação. Neste capítulo são discutidos (o que
ouso chamar de guias) – os sentimentos humanos imprescindíveis
para a formação da ética. Não da ética normótica, dos manuais,
mas a ética que tem como imperativo a religação com o outro, à
comunidade, à sociedade, à humanidade. (p.104). Entretanto, se o
livro terminasse nesta parte, não saberíamos como proceder a uma
ecologia da ação com significado ético e edificante, proposta nas
partes subseqüentes a esta. Se o autor não tivesse continuado a
sua escritura não teria brindado os leitores com a proposição de
uma ética como condução de vida o que ele resume como cuidar do
outro – no amor – cuidando de si mesmo – como ser eco/ético,
posicionando-se diante do mundo, respeitando a cultura, sabendo
lidar com ela dialogicamente. Ficaria, portanto, faltando no livro o
332
sujeito/autor que opera observando-se de forma recursiva no
holograma científico, tecnológico, histórico e humano, para poder
atuar de forma recursiva social e culturalmente sem se perder de si
mesmo, de sua espécie e de sua cultura.
Reflexões Finais: Esperamos, dessa forma, ter trazido ao debate
a conexão entre os sujeitos, a sociedade e a cultura,
compreendendo os humanos como sujeitos produtores e
construtores sociais de ética, base fundante da humanidade
existente em todo e qualquer humano.
Por fim, sugerimos para a reflexão: ―a ética nunca está pronta: não
é um bem de que se possa ser proprietário; deve incessantemente
regenerar-se e o faz no circuito religação, compressão, compaixão‖
(MORIN, 2005, p.197), no seio de uma ―cultura psíquica‖, portanto,
uma cultura humana... ―Morin ainda nos diz: como toda ―medicina
é amor‖ para não tropeçar mortalmente pelo caminho, desfazendo
seus rastros singulares, ―ame para viver, viva para amar. Ame o
frágil e o perecível, pois o mais precioso, o melhor, inclusive a
consciência, a beleza, a alma, são frágeis e perecíveis‖ (MORIN,
2005, p. 202), tente auxiliar a natureza a humanizar a humanidade
latente no homem – em você.
REFERÊNCIAS
MORIN, Edgar: O Método 6: ética. Porto Alegre: Sulina, 2005.
11-PRÁTICAS
AVALIATIVAS
SUBJETIVIDADES: REFLEXÕES
PODER NO ESPAÇO ESCOLAR
E
PRODUÇÃO
SOBRE OS EFEITOS
DE
DE
José Gllauco Smith Avelino de Lima
O trabalho em pauta pretende refletir sobre as práticas avaliativas
na escola e suas implicações disciplinares, buscando discutir as
relações entre os ―discursos de verdade‖, no sentido foucaultiano,
produzidos e reproduzidos em torno da avaliação da aprendizagem,
os efeitos de poder desencadeados a partir de tais discursos e a
formação de subjetividades no espaço escolar. Dito de outro modo,
trata-se de suscitar o debate sobre o modo como o poder circula
nas malhas do tecido avaliativo escolar ―fabricando‖ e modelando
indivíduos através de práticas disciplinadoras embutidas em
atividades de cunho aprobatório.
É importante ressaltar, nesse sentido, que a análise ora delineada
não pretende uniformizar nem caricaturizar as práticas de
avaliação, entendendo-as como algo negativo por excelência.
Busca-se apenas tornar saliente o aspecto disciplinar admitido pela
333
avaliação da aprendizagem quando realizada no interior de
relações verticalizadas entre professores e alunos e como tais
práticas estão diretamente ligadas à formação da subjetividade dos
estudantes.
As reflexões aqui expostas partiram de estudos bibliográficos, dos
quais se destacam as análises de Michel Foucault (1979; 2009),
Pierre Bourdieu (2005), Suely Rolnik (1997), Elisabeth Roudinesco
(2008) e Franco Cambi (1999), além de alguns dos comentadores
da
obra
destes
autores.
Priorizou-se
uma
perspectiva
historiográfica de análise, recorrendo-se às contribuições da
História da Educação para a compreensão dos ―discursos de
verdade‖ inerentes ao ato de educar e suas implicações
disciplinares na formação dos indivíduos em quatro épocas
históricas , quais sejam: a época clássica; a época medieval; a
época moderna e a época contemporânea.
Na época clássica, centrou-se a análise nos modelos educativos das
duas principais póleis gregas, Atenas e Esparta, visando observar
como tais modelos de educação veicularam discursos de verdade
que contribuíram para o disciplinamento e a ―fabricação‖ dos
indivíduos. Na época medieval, enfatizou-se as reflexões em torno
do modelo educativo cristão e sua relação com a formação de
mentes ajustadas à moral da Igreja Católica. Nas épocas moderna
e contemporânea, buscou-se pontuar como o discurso científico em
educação possibilitou o redimensionamento da instituição escolar e
de seu ideal formativo, possibilitando a construção de novas formas
de disciplinamento por meio, dentre outros elementos, de novas
práticas avaliativas, em especial, a prova.
As reflexões construídas neste trabalho permitiram perceber a
estreita relação entre a educação, as práticas disciplinares
inerentes à instituição escolar e a produção da subjetividade. A
recorrência analítica aos ideais formativos característicos das
quatro épocas históricas tratadas nesta análise constituiu recurso
valioso para a compreensão do discurso educativo enquanto rede
de circulação do poder, de disciplinamento de corpos e mentes,
bem como espaço de produção e modelagem de uma subjetividade
ajustada a certo ―tronco‖ discursivo.
Cabe salientar, mais uma vez, que a análise aqui exposta não
pretendeu entender a totalidade das práticas de avaliação como
algo nefasto por excelência, pois se reconhece que novas ações
avaliativas de caráter mais dialógico estão sendo experienciadas
por muitas instituições de ensino, sejam elas de nível secundário
ou superior. Buscou-se pontuar o caráter disciplinar admitido pela
avaliação da aprendizagem quando realizada no interior de
relações verticalizadas entre professores e alunos, problematizando
o tom proibitivo emanado dessas relações.
334
A partir dessas análises, observou-se que as práticas avaliativas,
das quais foi destaque a prova, estão presas, por vezes, a redes de
poder e dominação que hierarquiza e esquadrinha os indivíduos
que integram o campo social. Observou-se ainda, que a escola os
insere no interior de códigos lingüísticos voltados à documentação
dos movimentos individuais e coletivos no intuito de controlá-los.
Visualizou-se, por fim, que a prova, nesta perspectiva, longe de se
constituir como um instrumento para a otimização do processo de
ensino e de aprendizagem, tornou-se um meio eficaz de
classificação e hierarquização dos alunos, transformando-se num
veículo de poder responsável não somente pelo processo educativo
destes no interior da escola, mas também por seus futuros.
Operacionalizada desta maneira, transforma-se num caminho que
conduz à docilidade e à utilidade do corpo e da mente,
determinando gestos, comportamentos e subjetividades.
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Grande do Norte (UFRN). Natal/RN, 2006.
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Autêntica, 2003.
335
NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, Cláudia M. Martins. Bourdieu
e a Educação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
PAIVA, A. Crístian S. Sujeito e laço social: a produção da
subjetividade na arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 2000.
ROLNIK, Sueli. Uma insólita viagem à subjetividade: fronteiras com
a ética e a cultura. In: LINS, D. (Org.). Cultura e Subjetividade:
saberes nômades. Campinas: Papirus, 1997.
ROUDINESCO, Elisabeth. A parte obscura de nós mesmos: uma
história dos perversos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
336
2.4 Encerramento: LÉVI-STRAUS: NATUREZA E CULTURA
Dia 09/10 (sexta-feira) 19h – Auditório Consequinho CCHLA
Mesa-Redonda: Professora Doutora Dalcy da Silva Cruz (UFRN) e
Professor Doutor Ailton Siqueira Fonseca (UERN)
2.4.1 Comunicação do Professor doutor Ailton Siqueira
Fonseca (UERN)
O PENSAMENTO POÉTICO: UM ELO ENTRE NATUREZA E CULTURA
Ailton Siqueira de Sousa Fonseca24
―Quando tudo está dito, só resta cantar‖(Leloup)
O CESO deste ano homenageia, merecidamente, o antropólogo
Claude Lévi-Strauss. Nessa mesa de encerramento eu deveria falar
sobre a relação entre natureza e cultura em sua obra. Mas não
quero aqui falar sobre o que ele falou, porque muitos já leram suas
obras e trabalham com elas em suas aulas e pesquisas. Quero falar
de algumas categorias de seu pensamento e de como essas
categorias influenciaram meu próprio pensamento.
Minha fala será dividida em três breves momentos: no primeiro,
falarei de duas categorias do pensamento de Lévi-Strauss, o
pensamento selvagem e o pensamento domesticado; no segundo,
irei refletir – como um entrelaçamento dos pensamentos anteriores
- sobre o pensamento poético e, no terceiro, irei abordar, de forma
mais específica, a expressão viva do momento anterior na poesia
de um cordelista mossoroense, poeta de grande produção
intelectual que já alcança reconhecimento nacional e estimula
pesquisas diversas em nível de pós-gradução: Antônio Francisco.
Aqui, enfoco a relação entre natureza e cultura em sua mais
recente obra Os animais têm razão (2009).
Exercitando o pensamento não ortodoxo, permitindo-me ―voar fora
da asa‖ como diria o poeta Manoel de Barros, vou mostrar como o
pensamento desse antropólogo está presente na leitura que faço
24
É professor adjunto da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Dr. em Ciências
Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, coordenador do Grupo de
Pesquisa do Pensamento Complexo – GECOM/UERN.
337
de alguns temas. É desse jeito que penso homenageá-lo: não falar
do que ele falou, mas daquilo que ele me ajuda a falar.
Com essa reflexão não pretendo responder a nada. Também não
tenho a intenção de excluir nada porque sou movido por uma
inspiração imagística e poética que me diz, nas palavras de Paul
Valery que ―a verdade e a mentira tendem para o mesmo fim‖
(Valery, 2005, p. 14); inspiração que permite enxergar a síntese
das antíteses, a complementaridade entre o sim e o não, entre o
falso e o verdadeiro; inspiração que faz os contrários dançarem
coladinho como um casal de noivos dançam a sua música nupcial.
O primeiro desafio posto a esse pensamento dialógico e sintético é
resolver ou rearticular a dicotomia entre natureza e cultura. É
importante reconhecer que essa dicotomia é apenas uma dentre
tantas outras presentes em nosso cotidiano, em nossa educação,
em nossa cultura como, por exemplo, a dicotomia entre real e
imaginário, ciência e literatura, biológico e cultural, humano e
animal.
Nossa cultura é marcada pelas apartações, fragmentações, porque
nosso pensamento é racional, linear, dicotômico e reducionista.
Não exercitamos o pensamento intuitivo, sintético, holístico e nãolinear. Falta-nos um pensar integrativo, sistêmico, complexo.
Nossa ciência acadêmica foi criada e se tornou alimentadora do
primeiro tipo de pensamento. A literatura, a arte, a poesia parece
que não ficou imune a este, mas foi possuída pelo pensamento
integrativo, complexo. Na verdade, essas duas formas de pensar
coexistem em cada um de nós, mas culturalmente privilegiamos
apenas a primeira.
Na obra O pensamento selvagem, Claude Lévi-Strauss identifica,
por meio de outras palavras e recursos, esses dois tipos de
pensamentos. É bom lembrar que essa nomenclatura ―pensamento
selvagem‖ não deve ser confundida com o pensamento do
selvagem, pois este não existe. O que existe, nesse caso, é uma
forma de pensar selvagem, porque opera por meio da aproximação
e da síntese, da intuição e da analogia, da imaginação e da
observação detalhada. Trata-se de um pensar mais metafórico,
imagística e criativo. ―Um pensamento próximo do sensível‖, nas
palavras de Lévi-Strauss (1989, p. 30).
Esse pensamento sensível se opõe ao pensamento domesticado,
àquele que se processa por meio dos métodos e teorias, das regras
e do raciocínio analítico e linear. O pensamento selvagem não
classifica as coisas para conhecê-las. Faz o contrário: conhece as
coisas para classificá-las. O primeiro chega às coisas para elaborar
seus conceitos. O segundo elabora seus conceitos para chegar às
coisas. É claro que tanto num como no outro há lógica e
sistematicidade e nenhum deles tem funções apenas de utilidade
prática.
338
Para os dois casos, há um mesmo objeto de conhecimento: o
universo circundante como meio de satisfazer suas necessidades
práticas e cognitivas, imaginárias e reais.
Associando os conhecimentos metódicos ao conhecimento
analógico, o sensível ao intelectual, o selvagem ao domesticado
têm-se uma combinação muito importante. Para mim, o
pensamento poético é essa combinação, está na interface do
pensamento selvagem com o pensamento domesticado.
Para Lévi-Strauss, ―os elementos da reflexão mítica estão sempre
situados a meio-caminho entre perceptos e conceitos‖ (LéviStrauss, 1989, p. 33). Penso que o mesmo ocorre com o
pensamento poético.
Assim como ―o gênio do pintor consiste em unir conhecimento
interno e externo, ser e devir‖ (Lévi-Strauss, 1989, p. 41), o gênio
do poeta consiste em religar natureza e cultura, sim e não, prosa e
poesia, praticando, com isso, a síntese das antíteses. É esse
pensamento sintético, ou seja, que uni o que está separado, que
bricola diferentes coisas na construção de uma nova. Como na
poesia do bricoleur, a poesia do poeta não se limita a falar das
coisas, mas por meio das coisas. Por motivos diversos, as diversas
coisas se tornam motivos de versos.
As coisas se deixam abordar tanto pela aridez das idéias como pela
suavidade do pensamento. Isso é uma forma de dizer que, na
ciência, o conceito precisa ser suavizado para que seja esclarecido;
outra maneira de insinuar que nem sempre conhecemos as coisas
pelo rigor da razão ou da cientificidade. O pensamento analítico
também tem necessidade de suavidade, necessita, portanto, do
pensamento sensível para poder se aproximar ainda mais das
coisas. Precisa ser humanizado para ficar ajudar o ser humano a
dar sentido à sua vida e motivar as suas ações.
Vejo na poesia popular a suavidade do pensamento que sabe ser
rigoroso sem ser grosseiro, ser profundo sem perder a leveza, ser
único e, ao mesmo tempo, plural; pensamento que sabe pensar em
sentir e sentir em pensar, como dizia Fernando Pessoa. As poesias
ditas populares trazem um manancial de significados e imagens
implicadas que são extremamente importantes para a ampliação do
conhecimento explicativo da ciência. É esse manancial que nos faz
tomar consciência de nossa frágil condição humana nesse planeta
tão instável.
O Pensamento Poético: Recentemente, o grupo de pesquisa que
coordeno (Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo) voltou
suas atenções para a importância da cultura popular ou, mais
especificamente, da poesia do repente. É bom esclarecer que
consideramos não haver oposição hierárquica entre poesia popular
e poesia erudita, popular e moderna, porque elas sempre
trabalham com a mesma matéria-prima, mesmo que o produto
339
seja diversificado. Pode-se mudar o linguajar, a estética, o estilo,
mas a matéria é a mesma.
Visando possibilitar a construção de um novo sujeito do
conhecimento e um novo estatuto para a ciência humanística,
conferindo a esta uma constituição mais metafórica e poética, mas
não menos rigorosa, nosso foco centra-se nos poetas repentistas
de duas grandes cidades do interior do RN: Mossoró e Açu.
Pelo contato que o grupo vem fazendo com esse ―objeto de
pesquisa‖, percebe-se que há nesses ―homens ordinários‖
(CERTEAU), uma perene memória, um inesgotável tesouro histórico
e cultural e um fecundante manancial crítico e criativo onde
partilham um desígnio comum, algo que os inspira e os sustenta.
Eles elaboraram, a partir de diferentes concepções, perspectivas ou
visões de mundo, um conhecimento e uma meditação sobre o que
estar acontecendo no mundo e, principalmente, ao seu redor. Eles
pensam e sentem o mundo de forma inteira, vêem tudo e captam o
sentido de ser das coisas. Como diz o poeta Antonio Francisco tudo
que existe tem uma razão de existir. Então que demos a elas um
sentido que ultrapasse o sentido utilitário da necessidade de
possuir.
A arte do repente popular está, pouco a pouco, desaparecendo da
nossa cultura. É uma arte muito próxima daquilo que Bachelard
chama de ―A intuição do instante‖(2007). Esse instante do repente
não se apresenta contrapondo-se ao passado das experiências, à
memória. Ao contrário, ele é um meio de juntar, em um só
momento, temporalidades diversas. O repente surge como uma
meditação do instante e se expressa em um único momento que
jamais será repetido, mas esse instante se apresenta com
memórias de muitos outros instantes.
Tudo ocorre como de fato parecem ser: as coisas não nos
pertencem. O nosso ser não é a morada delas. Elas nos visitam,
portanto, são passageiras, momentâneas, vêem de algum lugar e
vão para algum lugar; somos um caminho, uma ponte para as
coisas passarem. Apesar de ninguém conseguir construir uma casa
sobre uma ponte, a arte do repente se constitui como uma
tentativa de construir uma casa sobre a ponte por onde as coisas
passam. Por meio da intuição do instante, por meio da palavra
improvisada, o repentista tenta capturar o que passa em sua
mente, capturar de repente e num repente essas coisas que estão
passando em nossas vidas, em nossas realidades profundas;
tentativa de fazer de suas palavras a moradia dessas coisas que
aparecem já condenadas a desaparecem em seguida.
Atribuímos ao instante o ponto de partida e a base de uma
explicação compreensiva da sociedade, uma centelha da criação
que é tão necessária à poesia quanto à ciência, à cultura e à
educação dos valores humanos.
340
Os repentistas são ―exímios em captar a profundidade horizontal
das relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas‖
(SANTOS, 2008, p. 89). Em suas poesias ou repentes há um
implicado conhecimento sobre o homem, a vida, a sociedade, a
cidade e as relações humanas.
De forma geral, na poesia sempre há uma dimensão epifânica, uma
aura de mistério e revelação. No cordel, na cantiga de viola ou no
repente há ―uma reflexão profunda vivida sobre a pungência de se
estar no mundo‖, uma grande interrogação sobre o destino
humano, como percebemos no repente
Improviso sobre o fim:
Quando o céu mostra o crepúsculo
Que o dia chega ao fim
Um aperto, uma saudade
Eu sinto dentro de mim
Enquanto estou contemplando
Eu fico a Deus perguntando
Se o fim da vida é assim. (Dias; Paraibano, 2008, p.34).
Ou no poema de Antônio Francisco que diz:
A nossa vida não passa
De uma chama amarela
Num castiçal de ilusão
Tremendo em cima da vela
Com a boca do destino
Foi não foi soprando nela.
E quando o destino quer
Faz o que quer com a gente
Quem mente dia a verdade,
Quem diz a verdade mente.
O valente vira frouxo
E o frouxo fica valente. (FRANCISCO, 2009b, p. 52).
Como um bricoleur, o poeta sempre coloca na poesia alguma coisa
de si: sua indignação, suas interrogações, sua leitura de mundo,
seus valores, sentimentos, seu universo mítico e imaginário, sua
estupefaciência diante daquilo que é.
Se há uma tendência do pensamento domesticado colocar palavras
e ciência em corpos vazios de expressão para que os mesmos
possam dizer aquilo que ele deseja ouvir, o pensamento poético
escuta as vozes silenciadas que há em cada corpo aparentemente
vazio de expressão. Em cada corpo, em cada objeto, há muitas
vozes silenciadas. Ao que parece o pensamento poético trás essa
outra voz que vem do vazio e do silêncio das coisas.
Por isso que, aos onívoros literários, é necessário uma escuta
sensível do texto ou da poesia que se ler. Isto porque a poesia do
341
leitor precisa tocar a poesia do poeta para, por sua vez, sentir a
poesia do poema e assim se comunicarem entre si. Para tanto,
muitas vezes ―temos que nos libertar dos livros e dos mestres para
reencontrarmos a primitividade poética (BACHELARD, 1989, p. 44).
Isso se faz necessário porque quase sempre ―a vida literária é uma
vida demasiado escolar, demasiado fiel aos heróis da escola, um
trecho frio de eloqüência‖ (BACHELARD, 1989, p. 58).
Talvez fosse melhor não estudar e não pensar a poesia. Melhor
seria simplesmente ficar perto dela, senti-la, como um amante
sente o amor de sua amada ao estar junto dela; entregar-se a ela
para descobrir que, com toda sua riqueza, a poesia fala de coisas
que as palavras não traduzem, mas sem as palavras as coisas não
existiriam, não se comunicariam. Assim como o ser humano não
deve somente pensar porque isso o deixa insensível, assim
também ele não pode somente sentir porque o deixará flexível
demais.
Dizem que o homem está condenado a interpretar. Vou agora
interpretar um livro, um poema de Antônio Francisco, poeta
mossoroense, para mostrar como essa relação entre natureza e
cultura está presente em seu pensamento poético ou em seus
versos.
A Poesia de Antônio Francisco e a Relação Entre Natureza e
Cultura: Esse poeta é, simultaneamente, popular e erudito,
escreve como quem planta uma semente para o futuro. Faz de
suas palavras as fazedoras do amanhã. Sua escrita é uma
meditação, um grito de liberdade, um sonho a ser sonhado por
quem a ler. Como ele mesmo disse:
Escrever é meditar
Todo dia, o dia inteiro,
Fazer do vento uma escada,
Do luar um candeeiro,
Pra ver o rosto de Deus
Por detrás do nevoeiro.
É viajar dia e noite
No barco da Liberdade,
Num rio feito de versos
Pela criatividade,
Olhando pela janela
Dos olhos da humanidade.
É viver plantando sonhos
Onde mais ninguém plantou,
Sonhar colhendo a semente
Do sonho que ele sonhou,
E sugar o mel das pétalas
Da roseira que murchou. (Francisco, 2009b, p. 13).
342
Ao contrário do poeta Manoel de Barros que constrói palavras
novas escovadas de pedras antigas, este poeta não inventa novas
palavras, porque as velhas e usais palavras, quando arrumadas de
novas maneiras, dizem aquilo que nenhum neologismo ou
―ideoleto‖ pode expressar.
Em sua poesia a natureza estar cheia de surpresas e encantos
incompreensíveis:
Quem já passou no sertão
E viu o solo rachado,
A caatinga cor de cinza,
Duvido não ter parado
Pra ficar olhando o verde
Do juazeiro copado.
E sair dali pensando:
Como pode a natureza
Num clima tão quente e seco,
Numa terra indefesa
Com tanta adversidade
Criar tamanha beleza. (Francisco, 2009, p.7).
A natureza é viva, boa e encantadora. Seus escritos são exercícios
de um pensamento sensível que não ver dicotomias entre natureza
e cultura, entre homem e animal.
Como na obra de Clarice Lispector, encontramos em seus poemas
macacos-homens e homens-macacos, uma bricolagem de seres
diferentes. Diferentemente de Gôngora que ―chega a fazer de seu
poema uma grande Natureza-morta‖ (Lorca, 2000, p. 74), Antônio
Francisco faz de seu poema uma grande Natureza-viva e
comunicante. Com o recurso da ficção, ele dar voz àqueles que
jamais falarão. Ou melhor: por meio de sua voz, faz falar aqueles
que estão condenados ao silêncio, aqueles que não conhecem o
verbo: os animais. Como ocorre nos cordeis Meu sonho (2006), A
lenda da Ilha Amarela (s.d.) e Os animais têm razão (2009), os
bichos falam a língua dos homens, mas os homens não conhecem a
língua dos animais. Na boca dos animais estão as palavras que os
homens não pronunciam porque, ao se afastarem da natureza,
afastaram-se também daquele pensamento que sente e intui, que
pensa e sente as coisas a seu redor. Ao transformar a linguagem
muda da natureza na língua dos homens, é como se o poeta
dissesse que os seres humanos estão condenados a entender
somente a sua própria língua. Quase sempre nos esquecemos de
apreender o que está em nossa volta. Não percebemos que a
natureza nos diz muito mais do que somos do que nós mesmos.
Perceber e dar significado aquilo que se torna invisível diante de
olhos que não enxergam.
343
O poeta transforma tudo que sua imaginação toca em matéria de
poesia. Ele não cria a partir do nada e sim a partir das coisas
naturais, das coisas do mundo.
No poema ―Os animais têm razão‖ ele recria a natureza para a
natureza falar não de si, mas das coisas humanas e da cultura.
Percebe-se com isso que o poeta trabalha em parceria com a
natureza: a natureza faz sua parte. O homem também faz a dele. A
natureza cria o animal com cérebro, mas a imaginação do poeta
põe pensamentos nele. A natureza faz o animal com boca para
comer, o poeta põe palavras na boca do animal. A natureza dar a
comida, o homem cria as maneiras na mesa. A natureza pare o
homem nu, a cultura o veste. Talvez tenha sido isso que fez JeanYves Leloup dizer: ―O homem é uma mistura de natureza e
aventura‖ (Leloup, 2002, p. 11). Natureza, o biológico, o invariante
da espécie. Aventura, aquilo que acrescentamos ao biológico, o que
fazemos do que somos. A aventura está no fato da criatura criar a
si mesmo e o que lhes falta.
A obra Os animais têm razão é uma mistura de natureza e
aventura: o poeta não inventa os animais, porque eles já existem
na fauna nordestina. Ele dar aos animais existentes o que não
existe neles: as palavras, a razão discursiva, a sabedoria. Isso
imprime em seus versos o coração da natureza e as palavras dos
homens, versos diversos que mostram toda liberdade criacional do
seu autor. Assim, suas palavras se tornam tão naturais como é o
canto de um pássaro que canta na madrugada esperando um novo
dia nascer diante de si.
Com sua curiosidade e imaginação natas, para Antônio Francisco,
as plantas e os animais são tão familiares quanto os seres
humanos. E os seres humanos, às vezes, se apresentam tão
estranhos como animais selvagens. Os animais têm tudo aquilo que
o homem rejeita em si: o rato é acusado de ser ladrão, o porco de
ser sujo, a cobra é traiçoeira e venenosa, o burro é burro porque é
desprovido de raciocínio, o cachorro é violento. Mas nos animais
também se encontram todas as virtualidades humanas: há
indignação, princípios de igualdade de direitos, preocupação com o
planeta, com a justiça social e o sentimento de revolta.
A revolta é uma das marcas do humano. Como disse Bachelard se
referindo a Lautreamont: ―a função imediata da pessoa é revoltarse‖ (1989, p. 59). Revolta-se porque tem consciência da realidade,
das injustiças, dos problemas. Revolta é indignação. Na obra Os
animais têm razão, a revolta não acontece na esfera do labor ou da
ação social coletiva. Ocorre na esfera discursiva: a palavra é a
ferramenta de revolta e o meio de expressá-la ao mundo. Ela
denuncia a injustiça social, a violência, o medo, a ganância e a
inveja. Denuncia a frágil razão humana que nem sempre percebe
344
que o homem pertence ao meio ambiente, mas o meio ambiente
não pertence ao homem.
Nessa obra, percebemos que ao ser dada aos animais, a palavra
revolucionou a natureza, porque permitiu a cobra criticar o homem
dizendo:
É certo, eu tenho veneno,
Mas nunca fiz um canhão.
E entre mim e o homem,
Há uma contradição:
O meu veneno é na presa,
O dele no coração. (Francisco, 2009, p.22)
Diferentemente do que acontece na obra A revolução dos bichos de
George Orwell, na obra de Antônio Francisco, os bichos não fazem
uma revolução. Revoltam-se com as injustiças do mundo e
mostram por meio dos diálogos entre eles, a ilusão de si em que
vivem os humanos; revoltam-se porque tem razão. E o homem
mesmo sendo racional não tem a razão que os animais possuem:
razão crítica.
É importante ressaltar que todo diálogo entre os animais, acontece
enquanto o poeta está deitado numa rede, em juazeiro acima
deles. Entre o sono e a vigília o poeta escuta o que os bichos
conversam. Ao acordar na manhã seguinte, ele não sabe se aquilo
foi sonho ou realidade, mas sabe que tudo que foi dito é verdade.
Tudo acontece como se a razão do poeta precisasse ser suavizada
pelo sonho para poder compreender melhor outras realidades.
A reunião ou diálogo dos bichos ocorre a noite, no escuro, como se
a clareza dia não correspondesse a clareza das idéias ou como se
as idéias não fossem tão claras quanto o sol que brilha no Sertão.
Poderíamos voar fora da asa e pensar que a consciência vem
quando a mente não está alerta, vigilante. A noite insinua que a
razão precisa adormecer um pouco para fazer a consciência
despertar. Entre o sono e a vigília escuta-se a outra voz, voz da
poesia que o poeta escreve.
Na verdade, é a conversa entre os animais que faz aumentar a
consciência do homem sobre o mundo e sobre si mesmo, ao ponto
de perceber que o ser humano é um estranho animal que ainda
não tem o conhecimento de si próprio. O único animal que quer se
diferenciar dos outros, ser especial e esquece as sábias palavras do
cachorro que dizem aos demais animais:
- Amigos, todos vocês tem razão...
O homem é um quase nada
Rodando na contramão,
Um quebra-cabeça humano
Sem prumo e sem direção. (Francisco, 2009, p. 30)
345
Há, sem duvida, em sua obra um complexo da vida animal. Como
nas histórias infantis, os animais são os personagens principais,
comunicam-se não somente entre si mesmos, mas também com o
leitor e o homem, de forma geral. Antônio Francisco não chega a
fazer psicologia e nem sabedoria humana em forma de fábula
animal, a exemplo de La Fontaine.
Os animais não representam o sopro primordial da vida nem o
coração pulsante da natureza, como acontece na literatura de
Clarice Lispector: eles se mostram com razão, razão sensível sim,
mas analítica também. Em sua obra, não são os homens que
criticam os homens. Os animais cumprem esse papel revolucionário
e inquietante de crítica a humanidade como acontece no cordel ―A
lenda da Ilha Amarela‖ e em ―Os animais têm razão‖:
O porco dizia assim:
- pelas barbas do capeta!
Se nós ficarmos parados
A coisa vai ficar preta...
Do jeito que o homem vai,
Vai acabar o planeta (Francisco, 2009, p. 14)
Penso que esse poeta, escreve uma poesia selvagem para ficar
mais perto desses animais domesticados e cheios de verdades. A
fala dos animais serve para o homem conhecer o que ele não
conhecia. Os animais conhecem a sedução, o canto, as estratégias
de sobrevivência, mas não a mentira. Portanto, a fala dos animais
é tida como uma das mais verdadeiras, porque a mentira só
pertence aos homens. O ser humano é o único animal que mente
para os outros e até para si mesmo. Com isso, ao recorrer aos
animais como personagens é como se eles devolvem ao poeta, a
matéria de sua própria poesia: aquela parcela de conhecimento da
natureza, da vida e da sociedade que o homem estar perdendo e
aquela parcela de autoconhecimento que não temos.
A sabedoria dos animais não vem dos livros e sim do coração:
Já tinham lido e relido
O livro de Salomão
E como tinham aprendido
Estava no coração
E não na ponta dos dedos
Fazendo calos na mão (Francisco, s.d. p. 3).
Se a noção de sociedade foi construída em oposição à natureza,
hoje, a noção de natureza pode reconstruir a sociedade, pois esta
também é um sistema vivo como aquela da qual foi apartada.
346
Como percebemos acima, nesse aspecto, a literatura tem muito a
dizer e a contribuir.
Quando os animais têm razão, os homens deixam de ser únicos,
deixam de ser exclusivos e excluídores de sua parte animal, com a
qual luta constantemente para domesticá-la. A poesia estimula no
homem um outro olhar sobre ele mesmo e sobre o mundo em que
vive.
São as chamas da poesia que avivam as paixões humanas mais
profundas e o nos faz caminhar. É o coração ardente do poeta que
dá a poesia o mesmo fogo que faz a Sarça do deserto viver em
chamas sem nunca morrer e se queimar. São essas chamas que
me faz pensar e repensar a ciência e a minha vida. Talvez o
pensamento poético possa transformar a prosa do mundo num
princípio esperança.
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de Padua Danesi. São Paulo: Verus Editora, 2007.
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Litoral Edições. 1989.
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fim. In: Poetas do repente. Recife: Fundação Joaquim Nabuco.
Ed. Massangana, 2008.
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15, s.d.
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________. Dez cordéis num cordel só. Mossoró: Queima-Bucha,
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LELOUP, Jean-Yves. Amar... apesar de tudo: encontro com Marie
de Solemne. Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. São
Paulo: Verus, 2002.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Tradução:
Tânia Pellegrini. São Paulo: Papirus, 1989.
LORCA, Federico Garcia. Conferencias. Tradução: Marcos Mota.
Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado, 2000.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências.
São Paulo: Cortez Editora, 2008.
VALÉRY, Paul. A alma e a dança e outros diálogos. Tradução:
Marcelo Coelho. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
347
2.4.2 Comunicação da Professora Doutora Dalcy da Silva Cruz
VEREDAS DA CULTURA BRASILEIRA
Dalcy da Silva Cruz25
Abertura: A cultura como um processo de produção do conhecimento, tem
se constituído ao longo da história, num movimento dialético conectando
idéias e condições históricas, resultado da ação do homem (CRUZ,1997).
Foi sempre assim embora tenha apresentado mudanças em momentos
diferentes. No mundo antigo, expressou-se em projetos de irrigação, forma
religiosa, de educação, de objetos de arte e de uso cotidiano, a mostrar um
modo de vida. Na modernidade e na contemporaneidade, embora o
processo tenha sido o mesmo, apresentou-se com uma dualidade expressa
pelo paradigma do ―Ocidente que, além de dualizar razão – imaginação,
sujeito - objeto, liberdade - determinismo, sensível-inteligível, pensamento
selvagem – pensamento domesticado, separa, hierarquiza, distingue, exclui,
degenera o saber em concepções mutilantes e fragmentárias‖ (CARVALHO,
2003, p. 96). A cisão entre cultura cientifica e cultura humanística é
concebida de forma que quando se fala em cultura há uma suposta
classificação: cultura popular, cultura culta, cultura artística etc. Em todos os
momentos da história, o homem sempre se utilizou das forças da natureza,
dos mitos, da religião, do trabalho, da produção material, da tradição e da
ciência, da artes para explicar o mundo. Tanto que Prigogine diz que ―a
ciência é a expressão da cultura. Difícil definir suas fronteiras‖ (2009 p. 84).
Seguindo a trajetória de Edgar Morim, entendo do já falado, que a produção
do conhecimento e, conseqüentemente, da cultura, comporta, de maneira
dialógica e concomitante, tanto a humanidade como a animalidade do
conhecimento. Nesse sentido, remarco o que diz Almeida (1993) ao lembrar
que a ―pulsão cognitiva é o que funda a constituição das sociedades
humanas, sua historicidade, constitui a cultura, produz um Ser leitor,
interpretante e impressor de sentidos, vontades, desejos, produtor e
consumidor de conhecimento‖ (ALMEIDA,1993, p.35). Uso a fala de Morim
para reafirmar essa concepção:
25
Dalcy da Silva Cruz é graduada em Geografia/Universidade Federal da Paraíba e Sociologia e
Política/Fundação José Augusto, Especialista em Educação, mestra em Sociologia Rural/ Universidade
Federal da Paraíba, doutora em Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pósdoutora em Filosofia/Universidade Nova de Lisboa. Professora da UFRN, integra os Grupos de
Pesquisa Cultura, Política e Educação e Estudos da Complexidade, estuda Sociologia Rural em temas
como educação, memória, questão agrária, estudos sobre Caio Prado Júnior, pensamento social e
cultura.
348
A cultura, que é a característica da sociedade humana, é
organizada/organizadora via o veículo cognitivo que é a
linguagem, a partir do capital cognitivo coletivo dos
conhecimentos adquiridos, das aptidões apreendidas, das
experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas
de uma Sociedade. Assim, se manifestam ‗representações
coletivas‘, ‗consciência coletiva‘, ‗imaginário coletivo‘(MORIM,
1991, p. 17).
1° TEMPO: A partir desse breve percurso sobre cultura, quero lembrar como
foi abordada a cultura brasileira pelos pensadores que no século XX viram e
interpretaram o Brasil. Inicio, pois, este trajeto pelas Veredas da Cultura
Brasileira, partindo do Brasil Colônia, tomo como referência alguns
pensadores e um artigo que escrevi em 1967, denominado ―Cultura e
Intelectualidade brasileiras: da oralidade ao ensaismo,‖ apresentado em um
Seminário sobre História, Sociedade e Educação no Brasil, realizado na
UNICAMP. Em 2000 reescrevi o texto para um Congresso realizado em
Coimbra, também sobre História da educação, cujo título passou a ser
―Cultura no Brasil Colônia: o Saber oralizado‖. Em ambos, a centralidade da
discussão aponta a matriz oral que fundamentou o saber desde o Brasil
Colônia, prática reforçada pelos colonizadores lusitanos, pelos jesuítas e
reafirmada com a abertura das Escolas de Direito.
Com o propósito de apreender a trama do tecido cultural, o
estudo situa-se em três momentos da história: a prática da
oralidade no Brasil Colônia; o surgimento da crônica de religiosos
e viajantes estrangeiros e o aparecimento do ensaismo históricosociológico‖(CRUZ, 1997, 2000, p.1).
Essa periodização foi uma maneira de encaminhar a discussão e o
entendimento de como se deu a produção do conhecimento no Brasil,
posteriormente concebido como um sistema organizado que se denominou
de ―Pensamento Social Brasileiro‖. Segui as pegadas, inicialmente, de
quatro pensadores os quais apresentam características muito particulares
quanto ao assunto. LIMA (1978) que considera ter havido uma
―desarticulação da cultura nativa‖ com a chegada dos colonizadores
lusitanos admitindo que ocorreu tanto na América Latina, como no Brasil,
cuja cultura nativa, ‗embora desarticulada‖, ainda predomina sob a ―forma de
resíduos (mitos, lendas, costumes, modo de conduta, monumentos),
passíveis de entrarem como peças em novas articulações‖, mesmo
admitindo que a cultura da Metrópole tenha se colocado como imposição ―
de cima como parte de uma política de terra arrasada‖ (LIMA, 1978, p. 28).
A outra pegada é a de SODRÉ (1970), que trata de uma ―cultura
transplantada‖ como sendo uma herança assimilada com a presença dos
colonizadores portugueses. Como conseqüência, houve uma incorporação
do Brasil ao mercado internacional que, a partir daí começou a existir. ―como
nada existia aqui de interessante para o surto mercantil da época‖, os
europeus criaram uma riqueza fundamentada na única mercadoria existente:
a terra que passou a produzir para o exterior (SODRÉ, 1970, p.5). Dessa
produção agrícola - no caso - a cana de açúcar, fundou-se a empresa
colonizadora. Dessa perspectiva, ―os elementos destinados à empresa de
349
colonização, isto é, de ocupação produtiva - no caso do Brasil - provem do
exterior, são aqui transplantados tanto os Senhores – os que exploram o
trabalho alheio, como os trabalhadores – os escravos‖ (SODRÉ, 1970, p.5).
Portanto, a partir deste momento, a organização do trabalho, a força de
trabalho, o estilo das construções, a religião, a educação, a língua, foram
elementos trazidos da Europa e da África, isto é, vieram de fora (CRUZ,
2009), ―tanto os elementos humanos como os recursos materiais‖. Assim,
―numa produção transplantada e exigências externas, surge naturalmente
uma cultura também transplantada‖ (SODRÉ, 1970, p. 5 ).
Já Candido (1985; 1987) compreende que o processo cultural no Brasil se
deu a partir de uma tentativa de integração de padrões europeus, embora,
tenha prevalecido mais características da oralidade devido à estratégia
utilizada pela Igreja na prática do púlpito, da tribuna, dos saraus, do
recitativo, do teatro e do canto. Essa estratégia formou também um público
mais restrito composto pelos freqüentadores de sermões e saraus. ―A
cerimônia religiosa, a comemoração pública, foram ocasiões para se formar
públicos mais duradouros em literatura colonial, dominada pelo sermão e
pelo recitativo‖ (CANDIDO, 1985, p. 78). Além dessas características, o
entusiasmo pela ―natureza exuberante e exótica, marcou também o saber e
a cultura produzidos pelos viajantes naturalistas, transmitidos através das
crônicas e diários de viagem‖ (CRUZ, 1993, p. 146-147). Essa exaltação
pela natureza já vem de antes em ―projeções utópicas que atuaram na
fisionomia da conquista e da colonização‖ com a carta de Colombo
inaugurador do tom deslumbrante da natureza, reforçado posteriormente por
Caminha que descreveu com entusiasmo as belezas e exuberâncias das
riquezas tropicais: na terra recém descoberta ―em se plantando tudo dá‖. A
visão paradisíaca foi reforçada com a visão de Antônio Vieira, no século XVII
(CANDIDO, 1978). A literatura nos séculos posteriores vai reforçar esse
cenário com um sentimento nativista e ―um tipo de história por meio de
avaliação da mestiçagem e do contato de culturas‖,uma tensão atravessou
toda história e, com maior expressão a produção do conhecimento e da
cultura, uma vez que a literatura foi desenvolvida, tornando-se politicamente,
uma ―peça eficiente do processo colonizador‖, embora também, uma forte
expressão de libertação (CANDIDO, 1987, p. 165). A reconstituição dessa
história é para CRUS COSTA, (1962, p. 51), a ―condição inicial, e essencial
para o exame e a clara compreensão da história das idéias no nosso
continente e consideração de nossa origem colonial‖. E eu acrescentaria,
para se compreender mais profundamente a nossa cultura e o encontro do
pensamento e do pensado como lembra IANNI (2004). Há um sentimento
que a separação entre pensamento universal e realidade nacional deve ser
superada tanto que, no caso dos intelectuais com formação no espírito
europeu ―sensíveis aos desafios do presente e aos enigmas do passado,
passam a explicar como se compõe e decompõe o Brasil como nação‖
(IANNI, 2004, p. 25). Como pode-se apreender da fala do filosofo:
Ao transocianismo saudosista de uns e ao nacionalismo afoito e
ingênuo de outros, sucederia uma geração na qual aparecem
alguns homens dotados de uma formação nova e de uma técnica
intelectual mais adequada à compreensão dos problemas da
cultura e, talvez, por isso mesmo, dotados também de uma
350
compreensão mais exata do país e de nossa história (CRUS
COSTA, 1956, p. 441).
Isso vai ocorrer em 1930 com novas formulações das principais
interpretações do Brasil, trazendo o passado para visualizar o futuro por
pensadores que, imbuídos de teorias européias, sentiram desafiados a
entender e explicar a formação da sociedade, a sua cultura e o seu
pensamento. Ainda mergulhados na herança escravista criaram a metáfora
das ―três raças tristes‖. Aliás, é compreensível, uma vez que a presença do
darwinismo social, do arianismo, do evolucionismo e do positivismo,
correntes que compões o projeto civilizatório da modernidade, prevaleceu e,
talvez ainda persista não só no imaginário dos estudiosos, mas nas
pesquisas realizadas pela academia.
A acumulação desses saberes predominantes até o final do século XIX,
culminam com o aparecimento do ensaísmo nas duas primeiras décadas do
século XX expandindo em trabalhos que serviram de marco na história da
cultura brasileira, nos anos 30 com Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e
Sérgio Buarque de Holanda. (CRUZ, 1993, p. 146-147).
2° TEMPO: No inicio do século XX, no entanto, surgiu a grande corrente de
interpretadores do Brasil. Dando inicio a essa corrente, Euclides da Cunha,
empenhado em cobrir, jornalisticamente, o confronto de Canudos cujo
resultado foi o seu trabalho - OS SERTÕES - hoje um clássico, escreveu
sobre as questões do Sertanejo. Apesar de ser o pioneiro na interpretação
histórico-sociológica como diz Florestan Fernandes, sua visão não
ultrapassou os limites do Brasil e do sertão. No entanto, teve visão das
transformações em curso. Sua interpretação dos acontecimentos políticos
desembocaram numa ―visão social e histórica do memento, encontrando
uma explicação para o seu aparecimento‖ FERNANDES (1976). Com um
suporte teórico fundado no esquema da diferença de raça que habita o
litoral, o mestiço, um intruso inferior - e os que habitam no sertão - uma raça
autônoma - vai lançar uma metáfora que ainda hoje é repetida: ― o sertanejo
é, antes de tudo, um forte‖(CUNHA, 1956, p. 101). Sua visão sobre a terra é
a de um espaço de aridez, de uma flora exótica e agressiva, das trilhas
rápidas, agredidas pelo sol que queima sem piedade, dizendo que ali é o
palco de um ―terror máximo dos rudes patrícios que ali se agitam – a seca‖
(CUNHA, 1956, p. 30). Do homem lembrou sua formação étnica, conjunto
daqueles elementos índio, negro e branco. Mostra assim, em Os Sertões
uma parte desconhecida do Brasil, principalmente, uma nova maneira de
interpretá-lo (CRUZ, 2001). Euclides da Cunha abriu uma nova vereda sobre
a questão racial que outros pensadores irão seguir como Alberto Torres,
Oliveira Vianna, Manoel Bomfim, Paulo Prado, Gilberto Freyre, Caio Prado
Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, para lembrar alguns. Na opinião de Cruz
Costa (1962, p. 55) Euclides da Cunha:
Soube ver mais do que compreender, o que havia de contraditório
na paisagem intelectual do Brasil de seu tempo, o que havia de
paradoxal para não dizer de ridículo, na atitude da grande maioria
dos intelectuais de então, presos na contemplação da Europa.
Revelou em seu livro a situação dramática do homem do sertão,
mostrou aos intelectuais ‗puros‘ das margens do Atlântico,
abismados em grotesca e pasmada nostalgia de valores do
351
espírito para os quais eles não haviam colaborado e dos quais
eram meros consumidores, a tragédia do homem humilde da
terra.
Alberto Torres, um outro pensador da época que expressou em suas obras a
visão sobre a cultura brasileira, abordando questões sobre a organização
política e da sociedade, lembrando a mistura de raças, as heranças da
colonização lusitana e o problema da educação e sentimento de
nacionalidade. Considerado o ideólogo do nacionalismo suas idéias são
cheias de sentimento nacionalista rejeitando lições de ―mestres
estrangeiros‖, valorizando a visão empírica. Compreendida que faltava ao
Brasil a formação de um povo e uma consciência de nação. A favor da
mestiçagem dizia que ―não temos senão, motivos, assim, para confiar na
energia e na capacidade de nossas raças‖ (TORRES, 1972, p. 71). Sua idéia
de nacionalismo se amparava em uma exploração racional das riquezas
pelos brasileiros. Uma defesa intransigente de uma ―cultura autôctona‖,
contra ―a imitação estrangeira, ao domínio cultural e econômico‖ (CRUZ,
2000, p. 39).
Com Manoel Bomfim, o ensaio contou com um dos grandes pensadores da
década de 20 do século passado, embora também contraditório e xenófobo
como Alberto Torres. No entanto, por apresentar propostas polêmicas e
discordantes dos seus pares, seus escritos foram pouco divulgados e ele,
um pensador quase desconhecido no elenco dos interpretadores do Brasil.
Usou em suas análises sobre o Brasil alguns instrumentos da teoria marxista
e defendia um nacionalismo radical que ia da crítica aos colonizadores,
considerados ―parasitários‖, à defesa das riquezas nacionais e das raças
inferiores. Afirmava que o ―Brasil dispensado de conquistar sua
independência foi, por isso, levado a guardar a infância do Estado
portugueses, e a degradação dos seus governantes‖ (BOMFIM, 1996, p. 52).
Responsabilizava os portugueses como sendo os responsáveis pelos ―males
que parece não ter cura‖. A corrupção, os vícios intelectual, moral e políticos
foram agravados com os ―fugidos de 1808 e que repetem até hoje, a
mentalidade e os instintos com que aqueles aqui se acoitaram‖ (BOMFIM,
1996, p. 52). Para corrigir esses erros sugeria uma educação universalista, a
qual passaria a oferecer a todos o acesso à escola contribuindo para integrar
as camadas inferiores ao processo de desenvolvimento do país. (CRUZ,
2000, p. 45). Tinha a educação como um caminho para criar um espírito
público, unir a nação e prepará-la para a democracia. Portanto, a educação
eliminaria os males herdados da formação histórica, com os quais o estatus
de nação não seria alcançado: ―como estamos, não somos nem nação, nem
República, nem democracia‖ (BOMFIM, 1932, p. 43). Partindo, do conceito
de ―parasitismo‖ como herança da formação inicial, ―o brasileiro seria um
homem tornado conservador pela herança social e cultural derivada da
mentalidade expoliadora da Colônia, baseada no trabalho escravo‖
(CANDIDO, 1990, p. 13). Manoel Bomfim, mesmo fazendo parte do
ensaísmo do momento, destaca-se dos seus pares pelas suas análises
radicais e discordantes dos demais.
Nessa caminhada pelas Veredas da Cultura encontra-se um outro pensador
que também analisa, interpreta e produz um conhecimento particular sobre o
Brasil; Oliveira Vianna. Filho da aristocracia agrária esteve sempre ligado ao
352
poder, forte defensor do arianismo teve como orientação intelectual às idéias
de Gobineau, Le Play e Ratzel, defensores da superioridade racial.
Caldatário do pensamento conservador europeu e brasileiro, sempre
privilegiou o papel do Estado, sua organização e atividade, ao que conferialhe um lugar proeminentemente ―civilizador‖. Sua premissa era de que a
sociedade civil com sua fragilidade e um povo incapaz cultural e
politicamente competia-lhe a tutela do seu poder e da sua dinâmica
administrativa, ―Essa interpretação ressoa bastante no pensamento
brasileiro, em setores empresariais, políticos, militares, jornalísticos,
universitários‖ diz JANINI (2004 p. 35). Sua exaltação ao homem branco e
ao que mora no campo leva-o a afirmar que só ―a vida dos campos, a
residência nas fazendas, a feição de seu bucolismo e da sua tranqüilidade
se torna uma predileção dominante da coletividade‖ (VIANNA, 1982, p.58).
Sua defesa por um estado centralizador levou-o a considerar que às
populações rurais seriam ―as matrizes da nacionalidade, delas do seu
espírito, da sua laboriosidade, de seu afluxo humano, é que vivem as
cidades do interior ou da costa, e crescem, e se desenvolveu‖ (VIANNA,
1982, p. 43).
Foi nos anos 1920 do século que passou, que o Brasil passou por umas
transformações particularmente importantes do ponto de vista político,
econômico e cultural. Os movimentos culturais continuaram ocorrer
mostrando a dinamicidade da história que apresentou um cenário bastante
diversificado. Nesse contexto, 1922 se constitui em uma data simbólica: o
surgimento do tenentismo; da Coluna Prestes; do Centro Dom Vital,
fundação do Partido Comunista Brasileiro, culminando com a Semana de
Arte Moderna em São Paulo. Tudo era prenúncio de outra época, uma nova
era. Desse momento de efervescência emergiu outro pensador que também
expressou sua visão de Brasil do passado com vistas ao futuro. Com um
ensaio sobre a tristeza brasileira. Paulo Prado traçou um relato com suas
impressões sobre o caráter nacional, o ufanismo reinante na história oficial,
a cobiça do colonizador pelo ouro dos trópicos, a prática licenciosa da
sexualidade. Paulo Prado afirmou que ―numa terra radiosa vive um povo
triste‖. Uma tristeza originária das grandes paixões que moviam os
colonizadores: ―a ambição pelo ouro e a sensibilidade livre e infrene que,
como culto, a Renascença fizera ressuscitar‖ (Prado, 1981,p.17). as belezas
dos trópicos encantaram os colonizadores que consideravam ter encontrado
o paraíso terrestre. Mas predominou um interesse entre, além do ouro e das
pedras preciosas, uma preocupação com a liberdade:
viver livre e dominar, como único alento, a miragem que então
incendiava a imaginação do mundo inteiro de não estar longe,
mas sempre inatingível, o maravilhoso Dourado Senhor da Lagoa
de Prata de Manoa e da cidade do ouro rodeada de montanhas
reluzentes de pedrarias‖ (PRADO, 1981, p. 50).
Com essa visão controversa quanto ao caráter do colonizador que
daria origem a um povo triste, havia um outro elemento que teve influência
no caráter do brasileiro: o erotismo exagerado que resultava do clima, da
terra virgem e da mulher indígena ou negra, uma vez que:
353
Na terra virgem tudo incitava ao culto do vício sexual. Ao findar o
século das descobertas, o que sabemos do embrião da sociedade
então existente é um testemunho dos desvarios da preocupação
erótica. Desses excessos de vida sensual ficaram traços
indeléveis no caráter do brasileiro‖ (PRADO, 1981, p. 90-91).
Dessa terra de ambições e luxuria exagerada criou-se um homem
triste sem apelo ás letras, sem interesse pela leitura. Nas letras, apenas os
bacharéis eram cultuados, por isso ―não se publica livros porque não há
leitores, não há leitores porque não há livros‖. O analfabetismo corre paralelo
ao bacharelismo. Tem-se por tanto um povo sem instrução, sem cultura
intelectual, panorama mais movediço que a peste (PRADO, 1981, p. 146).
Intervalo: A partir dos acontecimentos doa anos 20 criou-se uma atmosfera
de ebulição cultural que Cândido (1987) aponta como um momento que:
foi um eixo e um catalisador; um eixo em torno do qual girou de
certo nodo a cultura brasileira, catalisando elementos dispersos
para dispô-los numa configuração nova. Nesse sentido foi um
marco histórico, daqueles que fazem sentir vivamente que houve
um ―antes‖ diferente de um ―depois‖. Em grande parte porque
gerou um movimento de unificação cultural, projetando na escala
da nação fatos que antes ocorriam no âmbito das regiões. A este
aspecto integrador é preciso juntar outro, igualmente importante:
o surgimento de condições para realizar, difundir e ―normalizar‖
uma série de aspirações, inovações, pressentimentos gerados no
decênio de 20, que tinha sido uma sementeira de grandes
mudanças‖(CANDIDO, 1987, p. 181-182, grifos do autor).
3° TEMPO: Os pensadores dos anos 30 do século XX tornaram-se
emblemáticos por surgirem com concepções novas sobre a fundação da
Sociedade Brasileira e sua cultura tornando-se grandes interpretes do Brasil.
Ao contrário dos pensadores das décadas anteriores, portavam um
pensamento moderno europeu e norte-americano, o primeiro deles Gilberto
Freyre seguindo Simmel e Boas, privilegiou como antropólogo e sociólogo e
uma veia teórica do culturalismo orientando sua interpretação sobre a cultura
como um mundo de sociabilidade superando os equívocos que
contrapunham raça e cultura. Centralizou suas análises nas instituições
sociais como a família patriarcal, como se fosse a miniatura da sociedade.
Quanto a Sérgio Buarque amparado no pensamento alemão moderno,
destacando-se Dilthey, Rickert e Weber, desenvolvem suas idéias a partir de
tipos idéias, estilos de sociabilidade e épocas. Enfatizou o papel do público e
do privado realçando o ―homem cordial‖ como uma metáfora das relações
que nasciam da família patriarcal.
A figura do homem cordial representou este aspecto conciliador
das elites, preocupadas em atrair simpatias pessoais, em reforçar
alianças de interesses particulares, oligárquicos. Através da
metáfora da cordialidade referia-se à preocupação das elites
dirigentes brasileiras de manter uma aparente harmonia, assim
como sua capacidade de reagir com violência, quando os
conchavos pessoais não bastavam (DIAS, 1998, p. 26).
354
Como o mais polêmico, mas não menos importante Caio Prado Júnior cujas
análises têm raízes no pensamento marxista, teve uma visão muito especial
sobre a formação brasileira. Partiu da produção material e relações de
produção que expropriava o escravo e o trabalho livre, mostrando a grande
desigualdade social que vai perpassar a sociedade até hoje. Com seu
segundo livro, editado em 1942, aprofundou sua interpretação de veio
marxista mostrando que o estatuto colonial nasceu da exploração capitalista,
marcando os fundamentos da Colônia; sua contemporaneidade como fruto
do capitalismo mercantil, ao mesmo tempo que expressava um atraso com o
uso da monocultura e uma força de trabalho compulsória. O Brasil, portanto,
nasceu contemporâneo com uma grande defasagem que era o escravismo.
Tanto Freyre, como Sérgio Buarque e Caio Prado, levantaram questões
pertinentes sobre a formação do Brasil e sua identidade. Caio Caracterizou
com ênfase a colonização como sendo uma grande empresa comercial
partindo do conceito ―sentido‖ da colonização que é mostrado ao longo de
sua obra como sendo a forma como foi organizada a grande empresa
comercial para explorar o novo espaço e produzir para o comércio externo.
Portanto, a colonização nos trópicos apresentou:
um acentuado caráter mercantil; será a empresa do branco, que
reúne a natureza pródiga em recursos aproveitáveis para a
produção de gêneros de grande valor comercial, o trabalho
recrutado entre raças inferiores que domina: indígenas ou negros
importados(...). No seu conjunto, é visto no plano mundial e
internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma
vasta empresa comercial(...) destinada a explorar os recursos
naturais de um vasto território virgem em proveito do comércio
europeu. (PRADO JUNIOR, 1945, p.31).
Encerramento: Nesse trajeto pelas Veredas da Cultura como tentativa de
apreender o conhecimento produzido pelo povo brasileiro e sua cultura como
expressão de sua ação, foi-me possível captar o real ou apenas as
sombras? Se o conhecimento e a cultura são resultados de acontecimentos
cognitivos que englobam processos que vão desde o bioenergético até os
pessoais, penso que tenho aqui o resultado desse processo, embora em
retalhos. Admito que o conhecimento como pensa Morin (1986) é ―um
fenômeno multidimensional no sentido em que é, de maneira inseparável, ao
mesmo tempo físico, biológico, cerebral, mental psicológico, cultural social‖
(p.15), Esse trajeto certamente, que mostrou a mobilização de todos esses
elementos que possibilitaram tecer uma trama cultural que modelou os
conhecimentos individuais e coletivos dos brasileiros construindo essa
―cultura e, via a cultura, a sociedade‖ as quais ―estão no interior do
conhecimento humano‖ (MORIN, 1991, p. 20).
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Deputados, 1982. (Biblioteca do Pensamento Político Republicano).
357
2.5 CESO EM SOCIEDADE/2009
O Ceso em Sociedade foram realizadas com a coordenação do Grupo de
pesquisa Cultura Política e Educação durante o mês de outubro de 2009.
As atividades realizadas foram as seguintes:
1- Palestra: O ato de pensar nas Memórias de Magda Soares,
proferida por Dalliva Stephani Eloi Paiva, realizada no Setor II, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte para alunos de
Graduação da UFRN e de outras instituições. Participaram 50
estudantes.
2 – Miniciclo de Cinema e Memória, organizado por Joicy Suely
Galvão da Costa, realizada na Casa do Menor Trabalhador para
alunos da Educação Básica. Participaram da atividade 49 estudantes.
358
3 RESULTADOS DO III CESO/2009
Atividades
Quantidade de
Atividades
Trabalhos
Apresentados
Ceso em Sociedade
02
02
Minicursos
04
04
Grupos de Trabalho
09
76
Mesa Redonda
02
04
Atividades Culturais
02
02
Total
19
88
Quadro 1: Resultados do CESO/2009
Fonte: Site do III CESO
3.1 COMPARATIVO DE PRODUÇÃO ENTRE O I, II E O III CESO
O número de atividades foi reduzido na comparação entre a primeira e a
segunda edição do evento, continuando a diminuir na terceira edição. Houve
uma queda pequena no índice de produtividade, quando comparamos o
segundo e o terceiro CESO.
Este índice de produtividade é a média entre as atividades desenvolvidas e
os trabalhos apresentados.
Índice de produtividade
Atividades Produção
I CESO
26
72
II CESO
22
104
III CESO
19
88
Quadro 2: Índice de Produtividade
Fonte: Site do III CESO
Produtividade
2.77
4.73
4.63
359
Gráfico: 1 – Comparativo de produção entre o I, II e o III CESO
Fonte: Relatório do I CESO, II CESO e site do III CESO
360
4 III CESO: PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO
As perspectivas de produção acadêmica/científica derivadas do III
CESO, visualizadas são as seguintes:
1 – Publicação em uma Revista da UFRN de uma das conferências de
abertura do III CESO;
2 – Publicação em uma Revista da UFRN de uma síntese do Relatório do III
CESO;
3 – Publicação dos Anais do III CESO (on line).
361
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O evento trouxe resultados positivos para todos os envolvidos na
formação stricto sensu do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais, especialmente por ter permitido que alguns pós-graduandos e
graduandos
exercitassem,
durante
a
formação,
a
capacidade
de
organização de eventos acadêmicos/científicos. Ressaltamos também a
questão da produção e apresentação de 88 trabalhos oriundos de estudos
realizados por estudantes e pesquisadores das instituições de ensino e
pesquisa que participaram do evento, a saber: Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Universidade Federal de Pernambunco (UFPE), Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
(UERN), Falculdade de Natal (FAL), Faculdade para o Desenvolvimento do
Rio Grande do Norte (FARN), Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA),
Instituto Brasil de Pesquisa e Ensino Superior (IBRAPES).
A terceira edição do CESO, a exemplo das anteriores, facilitou a
interação entre os estudantes de pós-graduação e de graduação do
Departamento de Ciências Sociais da UFRN, facilitando, desse modo, a
troca de experiências formativas. As inúmeras temáticas tratadas no interior
do evento possibilitaram a emergência de uma abordagem transdisciplinar,
contribuindo para dar resistência ao movimento contra os reducionismos
ainda em voga na academia.
O III CESO foi palco de uma formação educativa calcada na
importância do diálogo e da comunicação. Uma formação alicerçada na idéia
de que o conhecimento é construído a partir de uma co-participação ativa
dos sujeitos no ato de pensar. Salientamos, assim, o papel dialógico deste
evento no processo comunicativo entre os estudantes.
Por fim, o evento em sua terceira edição, cumpriu mais uma vez com
o seu escopo principal ao possibilitar espaços para a produção, discussão,
ressignificação, circulação e publicação do conhecimento.
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REFERÊNCIAS
CICLO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS (I). 19, 20 e 21 de setembro
de 2007. Natal/RN. Anais do I Ciclo de Estudos em Ciências Sociais.
Natal/RN. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes/UFRN. Disponível em CD-ROM.
CICLO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS (II). 02, 03 e 04 de dezembro
de 2008. Natal/RN. Website do II Ciclo de Estudos em Ciências Sociais.
Natal/RN. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes/UFRN. Disponível em <http://
www.cchla.ufrn.br/ceso/ceso2008 >. Acesso em: 28/01/2009, às 15 horas.
CICLO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS (III): 07, 08 e 09 de outubro
de 2009. Natal/RN. Website do III Ciclo de Estudos em Ciências Sociais.
Natal/RN. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes/UFRN. Disponível em http://
www.cchla.ufrn.br/ceso/ceso2009..

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